representação de inconstitucionalidade resolução 0 14 2011 tce

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

PROCURADORIA DE JUSTIÇA CÍVEL Gabinete do 18ª Procurador de Justiça

___________________________________________________________________________________1 MPPE: FISCAL DA LEI. DEFENSOR DA DEMOCRACIA

Rua do Imperador D. Pedro II, 473 – 2º andar - salas 215/216– Santo Antônio – Recife/PE CEP 50.010-240-, Fones(81) 3182.7053 –

Fax: (81)31827054 - E-mail: sales @mp.pe.gov.br

EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA

Sirvo-me do presente para - demonstrando a minha

preocupação institucional diante da Resolução T.C. Nº 014/2011 , que dispõe sobre a formalização, no âmbito do Tribunal de Contas do Estado, de Compromisso de Ajustamento de Conduta -CAC -, requerer a Vossa Excelência que, após as devidas análises, adote as providências que entender cabíveis.

Salvo grave equívoco de minha parte, tenho que o referido ato

normativo editado pelo Tribunal de Contas do Estado carece de amparo legal e inova a ordem jurídica, ao criar um novo legitimado para tomar dos interessados (jurisdicionados) o compromisso de ajustamento de suas condutas às exigências legais.

Bem se sabe que, como método alternativo à resolução de

conflitos onde estejam presentes interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, o TAC/CAC Termo ou Compromisso de Ajustamento de Conduta pode ser realizado em procedimento extrajudicial, na fase pré-processual (PIP/Inquérito Civil), para prevenir o litígio, ou, ainda, na fase processual, quando já existe uma ACP, para pôr-lhe fim.

Esta permissão encontra amparo no art. 5º, § 6º, da Lei nº

7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública-LACP) inserido pelo art. 113, da Lei nº 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor- CDC). Assim está escrito:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

PROCURADORIA DE JUSTIÇA CÍVEL Gabinete do 18ª Procurador de Justiça

___________________________________________________________________________________2 MPPE: FISCAL DA LEI. DEFENSOR DA DEMOCRACIA

Rua do Imperador D. Pedro II, 473 – 2º andar - salas 215/216– Santo Antônio – Recife/PE CEP 50.010-240-, Fones(81) 3182.7053 –

Fax: (81)31827054 - E-mail: sales @mp.pe.gov.br

Art. 5º - A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, União, pelos Estados e Mun icípios . Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que: I – esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil; II – inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (...) § 6º. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua cond uta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Com efeito, pode-se dizer que o TAC/CAC possui, pois, as

seguintes características:

1) somente pode ser tomado por termo por um dos órgãos públicos legitimados à ação civil pública (nos termos do art. 5º da Lei n° 7.347/85), os quais não podem dispor do interesse transindividual: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista); 2) forma um título executivo extrajudicial; 3-) dispensa a homologação em juízo; 4) o órgão público legitimado pode tomar o compromisso de qualquer causador do dano; 5) deve prever sanção pecuniária para o caso de descumprimento; 6-) não pode ser celebrado em sede de ação de improbidade administrativa (art. 17,§ 1º, da Lei de Improbidade Administrativa LIA).

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

PROCURADORIA DE JUSTIÇA CÍVEL Gabinete do 18ª Procurador de Justiça

___________________________________________________________________________________3 MPPE: FISCAL DA LEI. DEFENSOR DA DEMOCRACIA

Rua do Imperador D. Pedro II, 473 – 2º andar - salas 215/216– Santo Antônio – Recife/PE CEP 50.010-240-, Fones(81) 3182.7053 –

Fax: (81)31827054 - E-mail: sales @mp.pe.gov.br

Ante estas caraterísticas e considerado que o TCE, salvo em casos de Auditorias Operacionais, sempre atua no limite do ilícito administrativo, o qual, no mais das vezes, descamba para a improbidade ou para ilícito criminal, deve ser analisada, para além da legitimação, a possibilidade mesma de o TCE vir a celebrar tais ajustes, ante a expressa proibição de que, nestes casos, os legitimados celebrem qualquer transação, acordo ou conciliação.

Tome-se por exemplo, o 1º CAC celebrado pelo TCE e o Município de Cachoerinha. Os gestores deste município, ao invés de realizar o devido concurso público, desde algum tempo vêm realizando contratações temporárias. Tais contratações temporárias, que, diga-se de passagem, transformaram-se em prática corrente das administrações – estadual e municipal – são, em sua quase totalidade, decorrentes de precárias seleções levadas a efeito simplesmente com base nos currículos dos candidatos, e podem representar, como de ordinário tem sido investigado e comprovado pelos promotores de Justiça, uma fraude ao concurso público.

Com efeito, se é certo que a aplicação de eventuais sanções

previstas na LIA independe da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal de Contas (art. 21 , da LIA), não menos certo a tomada do compromisso de ajustamento de condutas -CAC), reduzirá enormemente as chances de condenação pela prática de ato de improbidade e, pois, vulnera a efetividade da própria LIA.

Demais disso, o CAC-TCE poderá vir a a prejudicar os

interesses individuais homogêneos dos terceiros que, tendo prestado concurso público, estejam litigando com a Administração Pública para serem imediatamente nomeados aos cargos vagos cujas funções estejam sendo exercidas pelos contratados temporariamente.

De outra parte, a LOTCE-PE não prevê a possibilidade de

formalização de CAC, dentro do exercício de sua competência de fiscalização e julgamento dos seus jurisdicionados, tanto assim que os redatores da Resolução nº 014/2011, tangenciando esta questão, previram que ele, o CAC, seria formalizado como processo de Auditoria Especial.

A LOTCE-PE, repita-se, enumera as modalidades de

processos, dentro dos quais o TCE-PE exerce as suas competências, assim : Art. 21. Para o exercício de sua competência de fiscalização e julgamento serão formalizadas junto ao Tribunal de Contas as seguintes modalidades de processos:

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Fax: (81)31827054 - E-mail: sales @mp.pe.gov.br

I - Prestação de Contas; II - Prestação de Contas Especial; III - Relatórios de Gestão Fiscal; IV - Auditoria Especial; V – Destaque; VI - Registro de Atos e Admissão de Pessoal; VII - Atos de Aposentadoria, Pensão e Reforma; VIII – Recurso; IX - Pedido de Rescisão; X – Denúncia; XI – Consulta; XII - Auto de Infração. Demais disso, diferentemente do que afirmado na Coluna

Jornalistica do TCE (Diário de Pernambuco - matéria anexa), não pode a legislação estadual criar um novo título executivo extrajudicial -CAC, tampouco, em face do seu descumprimento, um novo fato gerador de multas, além daqueles previstos no art. 73, da LOTCE-PE.

Neste mesmo giro, tenho que o Ministério Público de Contas

não tem permissão constitucional, tampouco legal, para, fora das modalidades dos processos do art. 21 da LOTCE-PE e além da sua função de custos legis, requerer, ao próprio TCE, a celebração do compromisso de conduta.

Nestes processos do art. 21, a LOTCE-PE dispõe que: Art. 114. Compete ao Ministério Público de Contas, além de outras atribuições estabelecidas no Regimento Interno, as seguintes:

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___________________________________________________________________________________5 MPPE: FISCAL DA LEI. DEFENSOR DA DEMOCRACIA

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§ 1º Os membros do Ministério Público de Contas somente se pronunciarão ou solicitarão vista de processos, no Pleno e nas Câmaras, durante a fase da respectiva discussão.

§ 2º Os membros do Ministério Público de Contas somente poderão interpor recursos ou propor pedido de rescisão nos processos em que atuaram. Por fim, cabe referir que o Ministério Público de Contas do

Estado do Tocantis tentou propor um TAC com o governo daquele Estado acerca da mesma matéria – concurso público, pelo que foi desautorizado publicamente pela própria Presidente do TCE do Tocantis, Conselheira Doris de Miranda Coutinho. Esta, em ofício dirigido à Procuradoria da República naquele Estado (Of. nº 1019, de 1º de setembro de 2008), chegou a qualificar a propositura como “esdrúxula ”, conforme faz prova a matéria jornalística que faço anexar.

Ante tais fatos e entendendo que os dispositivos legais citados

pelo TCE – arts.70, 71 e 75 da Constituição da República, arts. 30 e 33 da Constituição Estadual e o art. 2º da Lei estadual 12.600/2004 (LOTCE-PE) - não servem de fundamento de validade para a edição do referido ato normativo, requeiro a Vossa Excelência que, após estudos mais aprofundados a serem feitos pela Assessoria da Procuradoria Geral de Justiça, analise a constitucionalidade da Resolução TC nº 0014/2011 e adote as providências a seu cargo.

P. deferimento.

Recife, 16 de agosto 2011

Francisco Sales de Albuquerque 18º Procurador de Justiça Cível

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