aÇÃo direta de inconstitucionalidade promovente

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1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO Sumário da Ação I - QUESTÕES PRELIMINARES I.1 - Da Legitimidade do Promovente I.2 - Do Cabimento da ADI II - INDICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS OFENDIDAS II.1 - Do Conceito e Natureza Jurídica da Participação nos Lucros e Resultados II. 2 - Do Conceito Histórico do Preceito e da evolução Histórica no Brasil II. 3 - A Participação dos Empregados na Empresa e o Direito Comparado II. 4 - Presunção de obrigatoriedade do pagamento de PLR II. 5 - Dos Preceitos Violados Propriamente Ditos

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Page 1: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

1

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

PROMOVENTE:

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO

Sumário da Ação

I - QUESTÕES PRELIMINARES

I.1 - Da Legitimidade do Promovente

I.2 - Do Cabimento da ADI

II - INDICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS OFENDIDAS

II.1 - Do Conceito e Natureza Jurídica da Participação nos Lucros e Resultados

II. 2 - Do Conceito Histórico do Preceito e da evolução Histórica no Brasil

II. 3 - A Participação dos Empregados na Empresa e o Direito Comparado

II. 4 - Presunção de obrigatoriedade do pagamento de PLR

II. 5 - Dos Preceitos Violados Propriamente Ditos

Page 2: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

2

III - INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS INCONSTITUCIONAIS

III. 1 - Lei 10.101/00, Art. 5°;

III. 2 - Decreto 3.735 de janeiro de 2001, Art. 1°, V.

III. 3 - Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012, Art. 3°, §3°e §4° e Art.

12°, incisos IV, VI, VII.

III. 4 - Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995, Art. 2°, IV e Parágrafo Único, Art.

3°, I, II, III, IV e V e Art. 5°, § 1°.

IV - DA PRESUNÇÃO DE OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DE PLR E DA

INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE EM RELAÇÃO AOS TRABALHADORES

EM EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS

V - CONLUSÃO

VI - DOS PEDIDOS

Page 3: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

3

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE

DO EXCELSO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NO

COMÉRCIO - CNTC, com sede na Avenida W5, SGAS, 902, Bloco C, Brasília, Distrito

Federal, inscrita no CNPJ sob o número 33.636.762/0001-38, conforme seu Estatuto

Social, Ata e Termo de posse anexos (docs. 01/03), vem, mui respeitosamente, por

seus advogados infra-assinados (docs. 04/05) com fundamento no artigo 102, § 1° da

Constituição Federal, perante Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

frente a notório desrespeito às disposições do artigo 5°, caput e do artigo 7°, inciso

XI da Constituição Federal de 1988 cometidos pela União e pelo Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão, conforme a seguir demonstrado e

fundamentado:

Page 4: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

4

I - QUESTÕES PRELIMINARES

I.1 - DA LEGITIMIDADE ATIVA

De acordo com o artigo 103, inciso IX da Constituição

Federal, a CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO possui

plena legitimidade para promover a presente ação constitucional.

A pertinência temática é igualmente inequívoca, haja vista

que a Confederação tem entre suas finalidades, dentre outras, discutir Projetos de Lei

e portarias, fomentando a discussão de temas relativos às relações de trabalho,

articulando o apoio de parlamentares às causas dos trabalhadores e promovendo

ampla comunicação e alinhamento de posições juntos às federações e sindicatos que

compõem seu sistema confederativo.

A Promovente é representante especificamente de

trabalhadores do comércio e de serviços, caso, por exemplo, dos empregados em

Empresas Públicas Federais ligadas ao Setor de Abastecimento e Armazenagem de

Alimentos, todos em tese, submetidos às normas inconstitucionais aqui apontadas.

I. 2 - DO CABIMENTO DA ADI

Trata-se de ação de controle concentrado principal de

constitucionalidade, para defesa de norma constitucional prevista nos artigos 5° e 7°

da Carta Magna.

A inconstitucionalidade aqui questionada se refere à

dispositivo de Lei Federal, Decreto-Lei e normas infra legais do tipo Portaria e

Resolução do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Page 5: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

5

Portanto, estamos diante de um caso claro de ato

comissivo do Poder Público que não se restringe somente a atos normativos, mas

também resultante de um dispositivo da Lei 10.101/2000, que deveria ser objeto de

regulamentação da obrigatoriedade do pagamento, e contrariamente é utilizado para

impedir a plena aplicação do artigo 7°, inciso XI da Carta Magna, a saber:

I) Lei 10.101/2000 - Art. 5º: A participação de que trata o art. 1o desta Lei,

relativamente aos trabalhadores em empresas estatais, observará diretrizes

específicas fixadas pelo Poder Executivo.

Parágrafo único. Consideram-se empresas estatais as empresas públicas, sociedades

de economia mista, suas subsidiárias e controladas e demais empresas em que a

União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a

voto.

É compreensível que o estado regule de forma especial a

gestão das empresas públicas, visando priorizar o interesse público sobre o privado,

contudo medidas que restringem ou impedem o exercício de direito fundamental são

absolutamente inconstitucionais, ainda que sob tal fundamento.

A Promovente se refere aqui à combinação do artigo 5° da

Lei 10.101/2000 com o Decreto 3.735/2001 e Portarias e Resoluções, haja vista que

referido artigo não especifica quais diretrizes devem ser tomadas pelo Poder

Executivo.

Numa breve análise sintática, a parte final do dispositivo

(“...conforme definido em lei”.) é aplicável apenas à participação na gestão da

Page 6: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

6

empresa, revelando-se uma norma constitucional de eficácia limitada - ou seja a

Participação nos Lucros ou Resultados como direito do Trabalhador por reflexo gera

uma obrigação ao Empregador.

II) Decreto 3.735 de 24 de janeiro de 2001 (combinado com o artigo 5° da Lei

10.101/2000):

Artigo 1°, V do Decreto 3.735 de 24 de janeiro de 2001 - previsão de necessária

aprovação do Ministério do Planejamento - Ausência de previsão de obrigatoriedade

- Prevalência do mandamento constitucional;

“Art. 1o Ao Ministro de Estado do Planejamento,

Orçamento e Gestão compete a aprovação dos seguintes

pleitos de empresas estatais federais, encaminhados pelos

respectivos Ministérios supervisores:

(...)

V - participação de empregados nos lucros ou resultados; “

III) Ato do Poder Público - Portaria DEST/SE/MP n° 27 de 12 de dezembro de 2012

(anexa na integra em doc.06): Neste ponto temos regulamentação de

encaminhamento de pleitos de Programas de Participação nos Lucros ou Resultados

por empresas estatais vinculadas ao Ministério do Planejamento/DEST, que dão

margem à recusa de pagamento de “PLR”, sob pretextos baseados em exigências que

contrariam o princípio ofendido, a saber:

Page 7: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

7

CAPÍTULO IV DA POLÍTICA DE PESSOAL, SALÁRIOS,

BENEFÍCIOS E VANTAGENS - Art. 3°. Além dos documentos e

informações específicos previstos nos capítulos seguintes, os

pleitos das empresas estatais de que trata o artigo 1°

deverão ser instruídos com os documentos e informações a

seguir relacionadas: §3° Em caso de insuficiência de

documentos e informações, a empresa estatal poderá ser

notificada, por meio de correspondência convencional ou

eletrônica, para complementar a instrução do pleito no

prazo de vinte dias sob pena de indeferimento. § 4° Além

dos documentos e informações previstos no caput deste

artigo e nos capítulos seguintes, o DEST poderá solicitar, por

meio de correspondência convencional ou eletrônica, outros

documentos e informações que sejam necessários para

análise do pleito, fixando um prazo para sua apresentação,

sob pena de indeferimento. - Art. 12. Além dos documentos

e informações previstos no art. 3º, os pleitos sobre

participação dos empregados nos lucros ou resultados (PLR)

deverão ser instruídos com os seguintes documentos e

informações específicos: IV - valores distribuídos de PLR nos

últimos 3 (três) anos em percentual do lucro líquido, dos

dividendos e da média de valores pagos de PLR por

empregados; VI - manifestação do conselho de

administração da empresa ou instância equivalente quanto

ao programa proposto para o período e a avaliação dos

resultados do programa anterior; VII - manifestação do

Page 8: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

8

conselho fiscal da empresa sobre a avaliação das metas,

resultados e prazos pactuados referentes ao programa de

PLR do período anterior.

IV) Artigos 2º e 3º da Resolução CCE 10/1995 - Este dispositivo revela-se limitador ao

pagamento de PLR, impondo ao trabalhador a privação ou redução de seu direito à

“PLR”, mesmo que tenha cumprido as metas estabelecidas em programa

previamente definido vejamos:

Artigo 2° A empresa estatal anteriormente à apuração da

parcela de lucros ou resultados a ser distribuída aos seus

empregados, deverá deduzir desses mesmos lucros ou

resultados os recursos necessários para atender no que

couber: IV - ao pagamento de dividendos aos acionistas.

Parágrafo Único: A parcela que trata o caput deste artigo

não poderá ser superior a 25% (vinte e cinco por cento) dos

dividendos pagos aos acionistas.

Art. 3° Fica a empresa estatal impedida de distribuir aos

seus empregados qualquer parcela dos lucros ou

resultados apurados nas demonstrações contábeis e

financeiras, que servirem de suporte para o cálculo, se:

I - houver registro de recebimento, a título de pagamento

de despesas correntes ou de capital, de quaisquer

transferências, diretas ou indiretas, de recursos do Tesouro

Nacional; II - possuir dívida vencida, de qualquer natureza

Page 9: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

9

ou valor, com órgãos e entidades da Administração Pública

Federal direta ou indireta, com fundos criados por Lei ou

com empresas estatais, mesmo que em fase de negociação

administrativa ou cobrança judicial; III - tiver registrado

prejuízos de períodos anteriores, ainda não totalmente

amortizados por resultados posteriores; IV - os resultados

positivos apurados decorrem de medidas de

excepcionalização autorizadas pelo Governo; V - houver

pago aos seus empregados, a qualquer título, valores por

conta de lucros ou resultados.

Esta exposição se baseia nas lições de Alexandre de

Morais, a saber:

“Haverá Cabimento da ação direta de

inconstitucionalidade para declarar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal,

estadual, ou distrital, no exercício de competência

equivalente à dos Estados-membros, editados

posteriormente a promulgação da Constituição Federal e

que ainda estejam em vigor.” 1

E ainda, na aula Dirley da Cunha Júnior:

1 Direito Constitucional - Moraes – 31ª Ed. - Pag.760

Page 10: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

10

“Cuida-se de uma ação de controle concentrado-principal

de constitucionalidade concebida para a defesa genérica

de todas as normas constitucionais, sempre que violadas

por alguma lei ou ato normativo do poder público. Por isso

mesmo é também conhecida como ação genérica. Em face

dela, instaura-se no Supremo Tribunal federal uma

fiscalização abstrata, em virtude da qual a Corte examina,

diante do pedido de inconstitucionalidade formulado, se a

lei ou ato normativo federal ou estadual impugnado

contraria ou não uma norma constitucional. Essa

apreciação do Supremo, longe de envolver um caso

concreto, limita-se a investigar a existência da antinomia

normativa apontada. Não há lide, nem partes

confrontantes. Por meio dela não se compõe conflitos de

interesses. O seu fim é resolver a suposta

incompatibilidade vertical entre uma lei ou ato normativo

e uma norma da Constituição, sempre em benefício da

supremacia constitucional. Com a propositura de ação

direta de inconstitucionalidade se inicia um processo

objetivo destinado à eliminar do sistema jurídico a lei ou

ato normativo impugnado que contraria uma norma

constitucional.”2

Desta maneira, a Ação Direta de Inconstitucionalidade se

impõe como medida necessária a sanar a contrariedade dos dispositivos acima em

2 Dirley da Cunha Junior, Controle de Constitucionalidade Teoria e prática - 7ª Ed. - Pag. 191

Page 11: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

11

alusão, aos dispostos nos artigo 5° Caput e artigo 7°, XI da Constituição Federal de

1988.

II - INDICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS OFENDIDAS

II.1 - DO CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E

RESULTADOS

A participação nos lucros e resultados é o pagamento feito

pelo empregador ao empregado em decorrência do atingimento de metas

(resultados) ou de resultados econômicos positivos obtidos pelos Empregadores

(lucros) na exploração de atividade econômica, tratando-se, portanto de um direito

do trabalhador.

Aduz Süssekind (2004)3, que a participação nos lucros

constitui método de remuneração complementar ao empregado, com o qual se

garante a eles uma parte dos lucros auferidos pelo empreendimento econômico do

qual participa.

A importância da prática de incentivos aos empregados,

que no caso da PRL serve como instrumento de distribuição de renda, aumento do

fator motivacional, e constituem medida de alta relevância social, pois possibilitam

aos trabalhadores melhorias em suas condições sociais, de forma que estes além de

receberem seus salários complementam seus rendimentos com parte dos lucros da

empresa, além de poderem participar nos rumos da atividade empresarial.

3 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 3. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

Page 12: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

12

A Lei n° 10.101 regulamentou o art. 7°, inciso XI, da

Constituição Federal de 1988. As principais contribuições desta Lei são as seguintes:

1) definição de como deverá ser conduzido o processo de negociação da participação

nos lucros ou resultados;

2) definição da PLR como um recurso não habitual, não vinculado à remuneração do

empregado, seja substituindo-a ou complementando-a e sem qualquer incidência de

qualquer encargo trabalhista; e

3) concessão de incentivos fiscais, na forma de desconto como despesa operacional

dos valores distribuídos a título de PLR aos empregados.

No que tange a natureza jurídica, a Participação nos Lucros

e Resultados encontra-se no Capítulo II da Carta Magna, referente aos DIREITOS

SOCIAIS. O referido capítulo estabelece em seu art. 7º os direitos dos trabalhadores á

melhoria de sua condição social.

Em relação aos direitos sociais, compreende-se como

aqueles que tem por objetivo garantir aos indivíduos condições materiais

imprescindíveis para o seu bem-estar e, por este motivo, tendem a exigir do governo

intervenções na ordem social, as quais se realizam por meio de atuação do Estado

com a finalidade de diminuir as desigualdades sociais. (SILVA, 2013)4

É importante salientar que, a participação nos lucros e

resultados não integra a remuneração do trabalhador conforme o dispositivo

constitucional, bem como o art. 457 da CLT, que faz a distinção entre salário e

4 SILVA, Marcia Oliveira. Participação nos Lucros e resultados: sua obrigatoriedade. 1. Ed. São Paulo: LTR, 2013.

P. 32

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13

remuneração, estabelece que para todos os efeitos legais, integram a remuneração

do empregado o salário pago diretamente pelo empregador (salário direto) e

também as gorjetas que forem recebidas salário indireto e neste rol não está

elencado a PLR.

É o que extraímos dos ensinamentos de MARTINS (2000,

P.12)5

[...] impõe-se observar que nem todos os valores pagos

diretamente pelo empregador possuem natureza salarial.

E a distinção tem repercussões na órbita previdenciária e

fiscal, eis que somente as parcelas com natureza salarial

sofrem a incidência de contribuições previdenciárias e do

imposto de renda, além dos reflexos inerentes aos demais

direitos trabalhistas.

Ressalte-se que o artigo 621 da CLT cria a possibilidade de

verba denominada “participação nos lucros”, condicionando-a às convenções ou aos

acordos coletivos. O enunciado 251 do Tribunal Superior do Trabalho (1985)

consagrou a natureza salarial, mas acabou sendo cancelado por ser conflitante com a

art. 7º da Constituição Federal.

Como se vê, a Constituição Federal não se limitou a incluir

a participação nos lucros no rol de direitos dos empregados. Houve, também, a

preocupação no sentido de que a participação nos lucros ficasse desvinculada da

remuneração do empregado e ainda acrescentou o termo resultado, passando assim

5 MARTINS, A.; CAVALCANTI, H. A. P. Elementos de direito individual do trabalho. Porto Alegre : Síntese, 2000

Page 14: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

14

a ser participação dos empregados nos lucros ou resultados das empresas, tudo nos

termos da Lei 10.101/2001 que a regulamenta.

Portanto, a participação dos empregados nos lucros ou

resultados da empresa não substitui ou complementa a remuneração devida a

qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo

trabalhista, não se aplicando o princípio da habitualidade.

II.2 – DO CONTEXTO HISTÓRICO DO PRECEITO

Para melhor compreensão e análise do preceito

fundamental violado, qual seja o do disposto no art. 7º, XI da Constituição Federal,

faz-se necessária a exposição da evolução histórica da participação nos lucros e

resultados, de modo a relatar a importância social e política que o preceito teve

através dos tempos.

A origem da participação dos lucros e resultados deve ser

entendida ao longo da História como uma tentativa de determinadas empresas ou

empresários de compensar os seus empregados pelos resultados obtidos. Sua

inserção nas relações trabalhistas deve-se principalmente por questões de ordem

política e social.

De acordo com Martins (2009, apud SILVA, 2013)6, a mais

antiga tentativa de inserção do pagamento de PLR deu-se por volta de 1794, na

Pensilvânia através de Albert Gallant, Secretário de Tesouro de Jefferson Madison.

6 SILVA, Marcia Oliveira. Participação nos Lucros e resultados: sua obrigatoriedade. 1. Ed. São Paulo: LTR, 2009.

P. 23

Page 15: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

15

Entretanto, Paulo Sérgio João (1998, apud SILVA, 2013)7,

considera o ano de 1843 como o marco da primeira tentativa de inserção ao

pagamento de participação de lucros e resultados. Na ocasião, o industrial francês

Édme - Jean Leclaire implantou um sistema de PLR na sua fábrica de pinturas da

seguinte maneira: depois de encerrar o balanço da empresa, chamou a todos e

distribuiu parte de seus lucros na ordem de 12 mil francos em ouro.

Ainda segundo o entendimento de Paulo Sérgio João, a

participação nos lucros e resultados foi oficialmente inserida por decreto de

Napoleão Bonaparte em 15 de outubro de 1812, ao conceder aos artistas da Comedie

Française um benefício dividido em cotas: uma cota era destinada ao

embelezamento do teatro e a outra cota era destinada aos fundos de pensão. As 22

cotas restantes eram divididas entre os atores sócios.

Nos Estados Unidos, o plano mais antigo de participação

nos lucros e resultados de que se tem notícia pertence a Procter & Gamble e data de

1887, quando a empresa dividiu os seus lucros, pagando aos seus empregados de

maneira semestral.

Na Inglaterra, o pagamento de PLR deu-se a partir do

plano Eastman Kodak no ano de 1912 e também do plano Sears Roebuck em 1916.

Assim, a ideia de participação nos lucros foi se espalhando

entre os países, mas sempre com atitude de iniciativa patronal, tanto pelos grandes

industriais quanto dos pequenos empresários.

A partir do momento que o instituto da participação dos

lucros e resultados tomou forma há mais de um século nos países ditos

7 _________. P. 23

Page 16: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

16

desenvolvidos, denota-se a necessidade de países como o Brasil se espelharem em

modelos já existentes em outros países.

A experiência na América Latina foi tratada pela primeira

vez em 1917 na Constituição do México em seu art. 123, inciso VI que dispunha o

seguinte:

“O salário mínimo, do qual deverá desfrutar o trabalhador,

será aquele que se considera suficiente, conforme as

condições de cada região, para a satisfação das

necessidades normais da vida do operário, a sua educação

e ao descanso e lazer convenientes, considerando-o como

pai de família. Em toda empresa agrícola, comercial,

manufatureira ou mineira, os trabalhadores terão direito a

uma participação nos a qual será regulada como é

indicado no parágrafo IX.”

Conforme revela Paulo Sérgio João (1998, apud SILVA,

2013)8, a prática de pagamento de PLR não teve sequencia, visto que o texto

constitucional não foi regulamentado, embora ele também concorde que pela

Constituição mexicana existia a obrigatoriedade imposta para as empresas agrícolas,

industriais, comerciais e de mineração.

Na Bolívia, a inserção de participação nos lucros e

resultados deu-se a partir do Decreto - lei de 27 de dezembro de 1943, que

8 8 SILVA, Marcia Oliveira. Participação nos Lucros e resultados: sua obrigatoriedade. 1. Ed. São Paulo: LTR,

2009. P. 26

Page 17: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

17

determinou uma aplicação de até 25% dos lucros como parâmetro de distribuição

para as empresas comerciais e industriais.

Destacamos também a experiência chilena que se deu a

partir do Decreto-Lei 2.200 de 1978 que determina que as empresas com fins

lucrativos distribuíssem até 30% de seus lucros com periodicidade anual.

II. 3 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL

Nos ensinamentos de Martins (2009) 9 , a ideia de

participação nos lucros tem origem quando o Estado se interessou em repartir os

lucros das empresas mediante a aplicação de impostos sobre estes lucros e também

assegurar de alguma forma a participação dos empregados nestes lucros, pois, por

meio do trabalho deles que os lucros são obtidos pela empresa.

Ainda em seus ensinamentos, Sérgio Pinto Martins nos

assevera que a experiência brasileira aconteceu primeiramente em 1919, por

intermédio de um deputado chamado Deodato Maia, sem que obtivesse sucesso.

A previsão de participação em lucros em resultados à

trabalhadores tem histórico nas Constituições Federais desde a Constituição de 1946,

sendo modificada na Constituição de 1967, e posteriormente recebida na

Constituição de 1988, sendo que seu ultimo texto tem a seguinte forme: “Art. 7° - São

direitos básicos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem a

melhoria de sua condição social ... XI - PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS , OU RESULTADOS,

desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da

empresa, conforme definido em lei.”

9 MARTINS, Sergio Pinto. Participação dos Empregados nos Lucros das Empresas. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

Page 18: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

18

A norma constitucional é notadamente incompleta, haja

vista que deixa de regulamentara a forma como deve se dar tal participação.

Não por outro motivo, no final de 1994, o Poder Executivo

propôs a Medida Provisória n° 794, lançada ainda no governo Itamar Franco. Desde

então, essa MP foi sendo reeditada a cada mês, aguardando votação. Neste período,

observou-se que o texto sofreu apenas algumas modificações, sendo finalmente

convertida a medida em Lei, em dezembro de 2000 (Lei 10.1001/2000).

A referida norma, ainda foi “atualizada” pelo advento da

Lei 12.832/2013, que veio a determinar a forma como deve ser formada uma

comissão para negociação da PRL, inclusive reforçando a presença do sindicato nas

tratativas (art. 2°,I).

É de destacar também, que a partir da reedição de

número 955, foi acrescido o artigo 5°, que trata da PLR para empregados de

empresas estatais, estabelecendo que devem ser observadas as diretrizes

especificadas pelo Poder Executivo.

II. 4 - A PARTICIPAÇÃO DOS EMPREGADOS NA EMPRESA E O DIREITO COMPARADO

Como alhures demonstrado, a participação nos lucros teve importância fundamental

ao longo da História, como perfeita tradução de distribuição de renda. Por isso,

demonstraremos neste tópico, a maneira pela qual o direito positivo de alguns países

disciplina a matéria atualmente:

1) Espanha: A Constituição espanhola, de 27 de dezembro de 1978, não faz referência

expressa à participação do empregado nos lucros da empresa. Aliás, a democracia

espanhola - depois de Franco - não incluiu, no texto da sua Lei Fundamental, muitas

Page 19: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

19

disposições sobre os direitos dos trabalhadores, tendo transferido a matéria para a

lei ordinária. O Estatuto dos Trabalhadores espanhóis, de 14 de março de 1980, não

se ocupa do tema em apreço. Contudo, os pactos coletivos não estão impedidos de

fixar o disciplinamento da participação do empregado nos lucros da empresa.

2) França e Itália: Segundo Della Rosa10, nos modelos francês e italiano, a valorização

positiva do conflito reflete o reconhecimento de certa tensão social, com a

ocorrência de greves como forma de luta na questão das modalidades de

participação nos lucros.

A experiência italiana é traduzida em sua Constituição, de

1º de janeiro de 1948, nos arts. 35 usque 38 relaciona os direitos dos trabalhadores e,

entre eles, não figura a participação nos lucros. Somente o art. 2102, do Código Civil,

estabelece como base normal para sua fixação, os lucros líquidos da empresa. E o art.

2099 admite a participação como salário exclusivo ou complementar. No primeiro

caso (salário exclusivo), se um convênio coletivo não assegura um salário mínimo ao

trabalhador, na hipótese de não haver lucro ou quando este seja inferior a certa

importância, a conclusão é que não existe contrato de trabalho, mas um contrato de

sociedade especial.

Já a experiência francesa atual se traduz pela lei n. 65.566,

de 12.07.1965, que estabeleceu medidas concretas sobre a participação nos lucros

(Emenda Vallon), mais de um século e meio depois de Napoleão haver autorizado a

participação dos empregados nos lucros da Comédie Française.

A Lei de 22.06.1967 deu permissão ao Governo para

efetivar a participação dos empregados nos lucros das empresas, o que se fez por

10

ROSA, Fernanda Della. Participação nos Lucros e Resultados: a grande vantagem competitiva. 4. Ed. São Paulo: IOB Sage, 2014.

Page 20: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

20

meio de várias ordenanças. São atingidas por essas providências apenas as empresas

com mais de 100 (cem) empregados.

Sob o comando de De Gaulle, a França afastou-se da lei

que criara as ações de trabalho. No após-guerra, até 1960, a França tendeu a

conceder favores fiscais aos empresários que dividissem seus lucros com os

empregados. As linhas básicas da Ordenança nº 67.693, de 1967, eram as seguintes:

a) a distribuição nos lucros é obrigatória nas empresas com mais de 100 empregados;

b) durante cinco anos os trabalhadores não podem transferir ou movimentar as

ações adquiridas da empresa com a sua quota nos lucros desta; c) mediante

negociações diretas, empregador e empregados discutirão as formas de gestão de

capital formado pela distribuição dos lucros; d) a norma legal procura,

deliberadamente, incentivar o diálogo entre a administração da empresa e os

empregados.

Com arrimo na Constituição de 1958, foi editada a Lei n.

73-4, de 2 de janeiro de 1973, determinando a elaboração do Código do Trabalho.

Neste, os artigos L-442 a L- 443-10 e R-442 e seguintes são dedicados ao tema em

apreço sob a denominação de “participação dos assalariados nos frutos da expansão

das empresas”. As empresas devem formar uma “reserva especial de participação

dos trabalhadores”, mas, em contrapartida, são contempladas com favores fiscais.

Um decreto do Conselho de Estado informa o critério de cálculo da redução do

imposto e fixa as supracitadas normas que se aplicam à matriz e às filiais de uma

empresa.

3) Alemanha: A Lei Fundamental da Alemanha, de 23 de maio de 1949, não dedicava

qualquer disposição à participação nos lucros. Aliás, inexistia na Alemanha a

obrigatoriedade da distribuição de lucros entre os empregados. A matéria era

Page 21: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

21

regulada pelos próprios interessados num pacto coletivo. Entretanto, Della Rosa nos

mostra que o programa de participação nos lucros e resultados é obrigatório desde

1954 para as empresas com mais de 1200 empregados. O sistema democrático

industrial permite essa prática, em que trabalhadores organizados participam da

formação de algumas decisões da empresa.

4) Japão: Nos ensinamentos de Della Rosa, a divisão dos ganhos tornou-se um

procedimento padrão, em que os salários fixos são relativamente baixos. O prêmio

pela maior produtividade em algumas empresas é a distribuição de ações da

empresa. A participação em ganhos chega a 50% da renda total de um individuo.

5) Inglaterra: os ingleses conservam a participação nos lucros na órbita das

negociações entre empresários e empregados. Della Rosa nos assevera que o

pagamento de participação nos lucros é facultativo. A empresa fixa o limite da

participação e o funcionário recebe um valor proporcional a seu salário

6) O Peru, México, Chile, Bolívia, Venezuela e Equador consagram em suas

Constituições a imperatividade da norma.

II.5 - DO PRECEITO VIOLADO PROPRIAMENTE DITO

A presente ação é ajuizada com a finalidade de ver

exasperado por este Sumo Supremo Tribunal Federal decisão declaratória e de

reconhecimento de violação dos artigos 5° Caput e 7°, inciso XI da Carta Magna, in

fine:

“Art. 5° - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

Page 22: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

22

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:”

“Art. 7°- São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,

dentre outros que visem à melhoria de sua condição social:

XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da

remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão

da empresa, conforme definido em lei;

Para tanto, a fim de contextualizar os preceitos

fundamentais aqui em comento, situaremos a matéria no ordenamento

constitucional a partir de análise jurisprudencial, visto que cabe a este Supremo

Tribunal construir e delimitar o conceito de preceito fundamental, e reconhecer for o

caso a inconstitucionalidade de normas que os afronte, por ser o intérprete e o

guardião da Constituição.

Neste esteio, trazemos à baila a definição de preceito

fundamental que o Min. Carlos Brito introduziu no julgamento da ADPF nº 33/PA, que

considera que "preceitos fundamentais" são apenas aqueles que a própria

Constituição assim denomina, ou seja, os direitos e garantias (Título II - Dos Direitos e

Garantias Fundamentais), regras que estão a serviço dos princípios fundamentais da

República (Título I - Dos Princípios Fundamentais).

Vale ainda a transcrição de trecho deste mesmo voto do

Min. Carlos Brito que nos elucida ainda melhor o conceito e contexto de preceito

fundamental disposto no art. 7º, XI:

Page 23: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

23

"Por que a Constituição chamou seu Título II de

fundamentais? Porque ali estão consignadas regras que

densificam, especificam, concretizam os princípios

fundamentais. Há uma lógica na designação dos dois

títulos. Então, tenho para mim que os artigos de 1° a 17 da

Constituição são realmente densificadores dos princípios

fundamentais, que vão do art. 1° ao art. 4° da Carta

Magna. Daí insistir muito nesta distinção. Eu restrinjo o

âmbito material da ADPF à defensa de preceitos que a

Constituição designa por fundamentais, não princípios."

Doutrina e jurisprudência não possuem um entendimento

uniforme sobre a definição de preceito fundamental. Entretanto, Nelson Nery Jr e

Angela Nery foram os autores que melhor chegaram a uma definição consoante a

posição do Supremo Federal que aqui adotamos, a saber:

“São fundamentais, entre outros, os preceitos

constitucionais relativos: ao estado democrático de direito

(CF 1.º caput); b) à soberania nacional (CF 1.º I); c) à

cidadania (CF 1.º II); d) à dignidade da pessoa humana (CF

1. º III); e) aos valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa (CF 1.º IV); f) ao pluralismo político (CF 1.º V); g)

aos direitos e garantias fundamentais (CF 5º); h) aos

direitos sociais (CF 6.º a 9.º); i) à forma federativa do

Page 24: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

24

estado brasileiro; j) à separação e independência dos

poderes; l) ao voto universal, secreto, direto e periódico.”11

Desta feita, a participação dos trabalhadores nos lucros e

resultados (art. 7°, XI da CF) é garantia social definida como preceito fundamental

consagrados no Título II da Constituição Federal, dispostas no início do texto

constitucional, conforme análise jurisprudencial e doutrinária aqui demonstrada.

Essa colocação topográfica de declaração de direitos

fundamentais no início da Constituição, seguindo modelos das Constituições do

Japão, México, Portugal, Espanha, dentre outras, difunde que todas as instituições

estatais estão condicionadas ao cumprimento dos direitos fundamentais, sendo

orientados e delimitados pelos direitos humanos.

O pleno exercício deste direito em igualdade de condições

por parte de trabalhadores os quais laboram em empresas públicas, e que em tese

estão subordinados ao Decreto, Portaria e Resolução cuja inconstitucionalidade aqui

se ataca, é igualmente preconizado dentre os direitos fundamentais da Constituição

Federal (art. 5°, caput).

Destacamos também o princípio da dignidade da pessoa

humana, no caso o princípio da dignidade do trabalhador, que é princípio basilar da

Constituição Federal. É por meio do trabalho digno que o homem se afirma e se

insere na sociedade.

11

NERY JR.; NERY. Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 2002, p. 1478.

Page 25: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

25

Além disso, é o trabalho que possibilita ao indivíduo o

acesso às condições de uma vida digna para ele e para a sua família, o que aliás,

consta na Declaração Universal dos Direitos do Homem, Artigos. 23.1, 23.2 e 23.4:

“1.Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha

do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de

trabalho e à proteção contra o desemprego; 2. Todos têm

direito, sem discriminação alguma, a salário igual por

trabalho igual; 3. Quem trabalha tem direito a uma

remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à

sua família uma existência conforme com a dignidade

humana, e completada, se possível, por todos os outros

meios de proteção social;

Referido preceito fundamental disposto no art. 7º, IX,

possibilita ao trabalhador melhorar suas condições de vida e acrescentam para a

empresa um estímulo para o aumento da produção e dos lucros e assim promover a

identidade dos trabalhadores com o objetivo da empresa.

Por se tratar de uma garantia constitucional, a atividade

empresarial também constitui um preceito fundamental, conforme definição

expressa do Min. Marco Aurélio no bojo da ADPF nº 45, a qual destacamos:

"É de ressaltar, ainda, que os preceitos tidos por violados

são essenciais à ordem constitucional vigente,

configurando princípios e fundamentos da República

Federativa do Brasil, como a livre iniciativa - comando este

previsto no art. 1°, inciso IV, inserto no Título I, da

Page 26: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

26

Constituição Federal, denominado ‘Dos Princípios

Fundamentais’, também a liberdade no exercício de

qualquer trabalho (art. 5°, inciso XIII), a livre concorrência

(artigo 170, cabeça e inciso IV) e o livre exercício de

qualquer atividade econômica (artigo 170, parágrafo

único)."

A atividade empresarial, sobretudo de uma empresa

pública estatal, deve cumprir a sua função social, visto que promove empregos

gerando renda e presta serviços desenvolvendo a economia com o desenvolvimento

da sociedade.

Adotamos aqui a posição de Andrés E. Marinakis12, que

muito bem assevera que os programas de participação nos lucros é a expressão de

um direito do trabalhador, a fim de que se distribua o resultado financeiro da

empresa, proporcional à importância do fator trabalho no valor agregado total. Dessa

forma, procura-se melhorar a renda dos trabalhadores ou dar algum benefício

adicional, especialmente aqueles cuja remuneração seja mais modesta.

Não à toa, a nossa Constituição Federal em seu art. 7º, XI,

ao dispor sobre a participação nos lucros e resultados, revela o propósito de

intervenção jurídica na ordem econômica em defesa do trabalhador e com o objetivo

de reformular a estrutura social, numa tentativa de corrigir as distorções decorrentes

da desigualdade social.

12 Marinakis, Andrés E. A Participação dos Trabalhadores nos Lucros e Resultados da Empresa no Brasil: Um

Instrumento Para Acelerar a Reestruturação Necessária. IN: RAE - Revista de Administração das Empresas. São

Paulo, v. 37, n. 4, p. 56-64. Out/Nov 1997.

Ressalte-se que referido autor é Especialista em Remunerações do Departamento de Relações Industriais da

Organização Internacional do Trabalho.

Page 27: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

27

A valorização do trabalho é um dos princípios destacados

na ordem constitucional, o constituinte reconheceu que o trabalho é um dos

instrumentos mais relevantes para a afirmação e realização da pessoa, assim, o valor

social do trabalho revela-se como princípio, fundamento e um direito social. E o

pagamento de PLR nada mais é do que a valorização do empregado perante a sua

empresa que deve reconhecer o esforço deste trabalhador em manter o bom

funcionamento com uma bonificação justa.

José Felipe Ledur 13 , assim nos ensina no sentido de

coadunar a relação do princípio da dignidade da pessoa humana com a garantia de

valorização do trabalho digno:

(...) a realização do direito ao trabalho fará com que a

dignidade humana assuma nítido conteúdo social, na

medida em que a criação de melhores condições de vida

resultar benéfica não somente para o indivíduo em seu

âmbito particular, mas para o conjunto da sociedade.

“(...) as normas que garantem os direitos econômicos

devem assegurar, de sua parte, o direito a um nível de vida

decente, como expressão e realização desse princípio

fundamental. (...) como primeiro princípio dos direitos

fundamentais, ele (o princípio da dignidade da pessoa

humana) não se harmoniza com a falta de trabalho

justamente remunerado, sem o qual não é dado às

pessoas prover adequadamente a sua existência, isto é,

viver com dignidade.”

13 LEDUR, José Felipe. A realização do direito ao trabalho. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1998

Page 28: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

28

A esse respeito, Álvares faz a seguinte observação:

“A participação nos lucros não se restringe às grandes

empresas. A utilização do sistema estaria mais vinculada à

ideologia do fundador ao acreditar que o partilhamento do

sucesso entre os empregados aumenta a produtividade e

os lucros.”14

Imperioso dizer que para a concretização da dignidade da

pessoa humana é indispensável à valorização do trabalho, por meio da efetivação das

normas trabalhistas, pois é o labor a peça fundamental de afirmação individual e

social do ser humano. O princípio da dignidade da pessoa humana e, em especial, o

seu aspecto social, ressaltado pelo valor-trabalho, devem nortear toda a produção e

aplicação normativa, a fim de garantir a interpretação das leis conforme a

Constituição, nesse caso, o pagamento de participação nos lucros e resultados

mostra-se como instrumento indispensável à valorização do trabalho e da dignidade

da pessoa humana.

Assim, em relação ao caso em tela, em que é questionado

conjunto normativo no qual se insere o Art. 5° da Lei 10.101/2000 há de se levar em

consideração a portaria 27 do DEST de 12 de dezembro de 2012, a qual estão

submetidas a maioria das Empresas Públicas Federais.

O DEST (Departamento de Coordenação e Governança das

Empresas Estatais) é um órgão do Ministério do Planejamento responsável por

avaliar pleitos referentes aos planos de cargos e salários, políticas de pessoal, dentre

14 ÁLVARES, Antônio Carlos Teixeira. Participação nos Lucros Definida pelos Resultados. Revista de Administração de Empresas. v. 39, n. 4, p. 70 a 77. São Paulo: 1999. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rae/v39n4/v39n4a08.pdf>. Acesso em 14 de abril de 2015.

Page 29: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

29

outras várias atividades relacionadas às empresas estatais da União, de caráter

deliberativo, consultivo e de coordenação.

Este órgão concentra as seguintes atribuições: aprovação

das propostas de PLR, manifestações societárias e sobre projetos de lei ou matérias

de interesse das empresas estatais mais a coordenação dos orçamentos. Outras

atribuições sobre as quais o DEST atua são na governança, liquidação de empresas,

previdência complementar, contrato de gestão e política salarial em geral.

A referida norma estabelece critérios pelos quais a

empresa vinculada ao DEST e consequentemente ao Ministério do Planejamento,

deve encaminhar seus pleitos relativos à Participação nos Lucros ou Resultados.

Da análise do texto da Lei 10.101/2000, conjugado com o

decreto 3.735/2001, com a portaria 27 do DEST de 12.12.2012 e com a resolução CCE

10 de 30 de maio de 1995, extrai-se que conjunto normativo na prática podem, sem

nenhuma razoabilidade, impedir ou restringir drasticamente o exercício do direito

consagrado na Constituição Federal (Art.7°, XI), criando condições a trabalhadores

em empresas estatais que vão contra ao Princípio da Igualdade consagrado no art. 5°

da Carta Magna.

Portanto, esta ADIN revela-se imprescindível, haja vista

que o disposto no art. 7º, XI da Constituição Federal, como norma constitucional de

eficácia limitada, sendo o a presente arguição o instrumento hábil a tutelar a eficácia

social e jurídica para sanar as distorções normativas que gerem insuficiência de tutela

dos direitos sociais fundamentais e, por consequência inconstitucionalidade pela

violação de normas constitucionais de caráter fundamental.

Page 30: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

30

III - INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS INCONSTITUCIONAIS

III.1 - Artigo 5° da Lei 10.101/2000

A Constituição Federal como acima disposto preconiza o

direito dos trabalhadores à participação nos lucros ou resultados de forma

incondicional, bem como a participação de trabalhadores na gestão de empresas,

conforme definido em Lei.

Destarte, em 19 de dezembro de 2000 foi sancionada a Lei

10.101, visando em tese regulamentar a matéria conforme se extrai de seu

preâmbulo: “Dispõe sobre a participação dos trabalhadores em lucros ou resultados

de empresas e dá outras providencias”.

Em que pese a pretensa finalidade da Lei em tela não se

verifica de todos os seus termos a consagração do direito previsto no inciso XI, do art.

7° da Constituição Federal, ou seja, não em referida norma há a determinação

expressa de obrigatoriedade no pagamento de PLR.

Mais uma vez lembramos que da análise sintática do

conjunto Art. 7° e inciso XI da CF, apenas à participação na gestão se aplica a parte

final do dispositivo (“...conforme definido em lei”.) ou seja a Participação nos Lucros

ou Resultados como direito do Trabalhador e por reflexo gera uma obrigação ao

Empregador.

Enfim, destoando do quanto previsto na Constituição

Federal, a Lei se limita a dar diretrizes sobre a forma como trabalhadores e empresas

devem proceder em relação às tratativas que precedem eventual acordo não

impondo aos empregadores de uma forma geral a obrigação no pagamento de PLR -

Page 31: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

31

assim configurando descumprimento de preceito fundamental constitucional por

omissão.

Especialmente o artigo 5° da referida lei traz em seu texto

a previsão de que:

“A participação de que trata o artigo 1° desta Lei,

relativamente aos trabalhadores em empresas estatais,

observará diretrizes específicas fixadas pelo Poder

Executivo.”

Desta forma, a Lei aqui questionada além de não

consagrar o preceito indicado nesta arguição como violado (tópico I), ainda cria mais

um obstáculo ao exercício do referido direito aos trabalhadores em empresas

estatais, qual seja o do artigo 5° acima transcrito.

E ainda encontramos o agravante de que a Lei

10.101/2000 não impõe qualquer tipo de sanção ou penalidade por seu

descumprimento, ao contrário do que se verifica ao final de cada capítulo da

Consolidação das Leis do Trabalho.

Eis que se revela nesse ponto os preceitos fundamentais

aqui violados de forma maximizada, eis que a Lei 10.101/2000 não impõe qualquer

sanção ao pagamento da PLR, denotando caráter facultativo do referido pagamento,

ao passo que deveria dar o caráter obrigatório ao pagamento da PLR em consonância

a Constituição Federal; e em especial o artigo 5° da referida Lei condiciona o acesso

ao direito consagrado no inciso XI do artigo 7° da CF à “diretrizes do Poder

Executivo”.

Page 32: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

32

E mais, conforme se verificará a seguir as tais diretrizes ai

estão para possibilitar se inviabilize a distribuição de lucros, de forma absolutamente

incoerente, sem nenhuma razoabilidade, criando margens de manobra para se evitar

o referido pagamento em seus normativos.

III.2 - Decreto 3.735/2001, Art. 1°, V

Decreto 3.735/2001, art. 1°, V condiciona a participação

de trabalhadores nos Lucros ou Resultados à aprovação do Ministro do Estado de

Planejamento, Orçamento e Gestão, vejamos:

“Ao ministro de Estado do planejamento e Gestão compete

a aprovação dos seguintes pleitos de empresas estatais

federais, encaminhados pelos respectivos Ministérios

Supervisores: V - Participação nos Lucros ou Resultados.”

Os programas de PLR, nos termos da Lei 10.101/2000

dever ser estabelecidos na forma de acordos ou convenções coletivas ou através de

comissões formadas por representantes dos trabalhadores e dos empregadores com

a participação do Sindicato da categoria.

Tais programas visam otimizar o desempenho da empresa

através do estabelecimento de metas que tendem à aumentar a produtividade /

lucratividade da empresa, gerando neste sentido maior motivação ao trabalhador

que busca o alcance da meta avençada com objetivo de receber sua participação nos

lucros ou resultados, ou seja, aumentar sua renda com tal esforço.

Page 33: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

33

Ou seja, um programa é estabelecido pelas partes

diretamente envolvidas visando cada qual seu objetivo: de um alado a empresa

buscando potencializar seu desempenho; do outro o trabalhador buscando aumentar

seus rendimentos.

Portanto é pouco razoável, e inconstitucional a existência

de Decreto que condicione o exercício de direito previsto na constituição à aprovação

do ministro de estado, que distante da realidade dos empregados e da própria

empresa, pode dar uma “canetada” assim inviabilizando o exercício do direito à PLR.

No caso das empresas estatais vinculadas ao Ministério do

Planejamento ainda, por força da Portaria DEST 27 de 12.12.12, os programas

estabelecidos entre trabalhadores e empresas públicas devem ser submetidos (com

uma série de critérios a serem observados) à aprovação do referido órgão.

Os dispositivos de tal portaria em parte são

absolutamente inconstitucionais, vejamos:

III.3 - Portaria DEST/SE/MP n° 27 de 12 de dezembro de 2012

A portaria em alusão (anexa na integra em Doc.06) traz

em seu preambulo a seguinte redação: “Regula o encaminhamento e a análise de

pleitos das empresas estatais federais sobre contratação de operações de créditos de

longo prazo, patrocínio de planos de benefícios administrados por entidades fechadas

de previdência complementar e política de pessoal, salários, benefícios e vantagens.”

Observa-se, igualmente a referida norma traz uma série

de regras através das quais se criam condições para aprovação de pleitos referente à

Page 34: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

34

PLR para empresas estatais vinculadas ao Ministério do Planejamento, conforme se

extrai da leitura dos artigos 2°, inciso IV, e 12° e incisos, vejamos:

“CAPÍTULO IV DA POLÍTICA DE PESSOAL, SALÁRIOS,

BENEFÍCIOS E VANTAGENS - Art. 3°. Além dos documentos

e informações específicos previstos nos capítulos

seguintes, os pleitos das empresas estatais de que trata o

artigo 1° deverão ser instruídos com os documentos e

informações a seguir relacionadas: §3° Em caso de

insuficiência de documentos e informações, a empresa

estatal poderá ser notificada, por meio de correspondência

convencional ou eletrônica, para complementar a

instrução do pleito no prazo de vinte dias sob pena de

indeferimento. §4° Além dos documentos e informações

previstos no caput deste artigo e nos capítulos seguintes, o

DEST poderá solicitar, por meio de correspondência

convencional ou eletrônica, outros documentos e

informações que sejam necessários para análise do pleito,

fixando um prazo para sua apresentação, sob pena de

indeferimento.

Da dinâmica envolvida no processo de aprovação de

pleitos, nos termos dos artigos acima, extrai-se que, se por qualquer razão a empresa

estatal envolvida na negociação de PLR faltar com o envio de documentos,

descumprindo o quanto estabelecido no referido normativo, o pleito restaria

indeferido.

Page 35: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

35

Como consequência os trabalhadores ficariam obstados

do exercício de seu direito constitucionalmente previsto (art. 7°, XI da CF), ou sejam

receberiam tratamento desigual em absoluto desrespeito ao quanto previsto no

artigo 5° caput da Constituição Federal.

Ainda se destaca a inconstitucionalidade do dispositivo

em seu artigo 12° incisos IV, VI e VII, a ver:

Art. 12. Além dos documentos e informações previstos no

art. 3°, os pleitos sobre participação dos empregados nos

lucros ou resultados (PLR) deverão ser instruídos com os

seguintes documentos e informações específicos: IV -

valores distribuídos de PLR nos últimos 3 (três) anos em

percentual do lucro líquido, dos dividendos e da média de

valores pagos de PLR por empregados; VI - manifestação

do conselho de administração da empresa ou instância

equivalente quanto ao programa proposto para o período

e a avaliação dos resultados do programa anterior; VII -

manifestação do conselho fiscal da empresa sobre a

avaliação das metas, resultados e prazos pactuados

referentes ao programa de PLR do período anterior.”

Ou seja, referida portaria impõe que sejam prestadas

informações sobre valores distribuídos a titulo de PLR nos (3) três anos que

antecedem o pleito, bem como seja remetida ao DEST manifestação do Conselho de

Administração da Empresa e ainda manifestação do Conselho Fiscal sobre avaliação

de metas, resultados e prazos pactuados referentes ao PLR do ano anterior.

Page 36: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

36

Desta forma em tese, se a empresa que venha a

apresentar seu pleito não disponha das informações relativas aos indicadores

propostos nos últimos três anos (ainda que os tenha em relação ao ultimo ano, ou

aos dois últimos) tal qual da unidade de medida e fonte de verificação, se torna

inviável a apresentação do pleito e por consequência ficam impedidos os

trabalhadores do exercício do direito preconizado no preceito violado (Art. 7°, XI).

Ainda emerge do texto, se analisado literalmente, que a

empresa pleiteadora deve apresentar relação de valores distribuídos a título de PLR

no triênio antecedente ao pleito, inviabilizando o pleito na hipótese de não existir

este histórico.

Em absoluto se pode verificar na redação do caput do

artigo 12° da portaria DEST 27 de 12/12/12 a ausência de complemento do tipo “se

houver”, ao final da frase, o que leva à conclusão de ser indispensável à instrução do

pleito aludidas informações e critérios dos incisos IV, VI e VII, possibilitando as

empresas ao DEST vinculadas se valerem de tal subterfúgio, em tese, e ainda que em

afronta à Constituição Federal, para recusar o pagamento de PLR.

Mas e se a empresa nunca distribuiu lucros, ou ainda não

o fez nos últimos 3 (três) anos, como é o caso, na presente data, por exemplo da

Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo - CEAGESP ?

Estariam os trabalhadores daquela empresa inseridos em

um círculo vicioso no qual não se pode pagar por não haverem informações

pretéritas e não havendo pagamento não serão geradas informações, logo os

pagamentos dos anos seguintes também estariam comprometidos, uma verdadeira

aberração jurídica!

Page 37: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

37

Em tese tal situação impede o cumprimento do quanto

estabelecido no artigo 12° da Portaria em tela, o que enseja o indeferimento do

pleito referente ao Programa de PLR, ou seja, inviabiliza o pagamento de PLR

contrariando o quanto disposto no art. 7°, inciso XI da Constituição e ainda, por

tratar-se de norma que impões tratamento desigual a trabalhador vinculado à

empresa estatal, contraria igualmente o quanto dispositivo constitucional do art. 5°,

Caput.

Denota-se do “conjunto” Lei 10.101/00, Decreto

3.735/2001 e Portaria DEST/SE/MP n° 27 de 12 de Dezembro de 2012, que para um

empregado de uma empresa estatal exercer seu direito à “PLR”, previsto em cláusula

pétrea da Lei Maior, este tem que submeter à um conjunto normativo que em ultimo

na análise não obriga o pagamento de participação em lucros ou resultados.

Portanto, se pode olvidar que a norma constitucional deve

prevalecer, haja vista que nenhum ato ou norma jurídica inferior devem afrontar a

Carta Magna. A participação nos lucros ou resultados não é só um direito, é uma

garantia constitucional acima de todas as demais normas jurídicas.

Destacamos aqui os ensinamentos da Dra. Marcia Oliveira

Silva que elucida brilhantemente essa questão:

“(...) pois se existe a lei maior garantindo o direito, uma lei

inferior não pode extinguir determinada garantia - e não

extingue; a lei deve ser cumprida e ponto final, caso

contrário, busca-se judicialmente referido direito

constitucional.”

Page 38: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

38

III. 4 - Resolução CCE n° 10 de 30 de maio de 1995

Em referência neste tópico a normativo emanado pelo

extinto Conselho de Coordenação e Controle das Empresas Estatais - “CCE”, instituído

por intermédio do artigo 29, inciso II da Medida Provisória n° 994 de 11/05/1995,

inicialmente vinculado a SEST - Secretaria de coordenação e controle das Empresas

Estatais - e cujas atribuições foram transmitidas ao DEST.

A Resolução CCE 10 de 30 de maio de 1995 (doc.07)

dispõe sobre diretrizes a serem observadas nos programas de PLR dos trabalhadores

das empresas estatais. Cumpre salientar em considerável parcela, como se verá

adiante, as suas disposições podem ser excepcionalizadas, o que colide frontalmente

com o mandamento constitucional do art. 7º, XI.

Esta Resolução estabelece regramentos sobre a matéria,

de forma bastante genérica, abrindo espaço para o exercício de discricionariedade

em detrimento aos interesses do trabalhador.

Faremos aqui a análise pormenorizada da

inconstitucionalidade dos Artigos 2°, IV e Parágrafo Único; Artigo 3º I, II, III, IV e V e

Artigo 5° §1°, como limitadores ao direito do trabalhador de receber a sua

participação nos lucros e resultados.

“Artigo 2° A empresa estatal anteriormente à apuração da

parcela de lucros ou resultados a ser distribuída aos seus

empregados, deverá deduzir desses mesmos lucros ou

resultados os recursos necessários para atender no que

couber: IV - ao pagamento de dividendos aos acionistas.

Parágrafo Único: A parcela que trata o caput deste artigo

não poderá ser superior a 25% (vinte e cinco por cento) dos

dividendos pagos aos acionistas.”

Page 39: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

39

Pois bem, através do Decreto n° 2.673/1998, a

remuneração mínima que as empresas estatais deverão distribuir aos acionistas foi

fixada em 25% do lucro líquido. Dessa forma, se observado o piso normativo, a

parcela de PLR dos empregados seria equivalente a, no máximo, 6,25% do lucro

líquido.

A título de comparação, recente projeto de lei do governo

obriga as empresas privadas a distribuírem no mínimo 5% do seu lucro líquido a título

de PLR (Basile, 2010). É inaceitável e afronta o artigo 5° da CF, norma que estabeleça

ao trabalhador, somente por ser vinculado a uma estatal, que este receba a título de

PLR valores tão discrepantes em relação ao trabalhador da esfera privada.

O critério mostra-se inconstitucional, vinculando o ganho

de um ao do outro. Tendo em vista que os indicadores e metas que trabalhadores

devem cumprir não guardam qualquer relação ao ganho acionário.

É importante aqui destacar que a PLR se não

necessariamente se refere a lucro, podendo haver metas individuais ou

departamentais que guardem sincronismo com o desempenho da empresa e com a

motivação dos trabalhadores, fazendo assim o viver espírito da norma do artigo 7°,

XI, da CF.

E por razões outras que fogem ao cumprimento de metas

pelos empregados de empresas estatais, como a corrupção, o superfaturamento de

obras, dentre outros descalabros infelizmente verificados no cotidiano de diversas

empresas federais, um trabalhador tenha sua participação reduzida.

Referida norma claramente põe interesses especulativos

acima do direito do trabalhador previsto na cláusula pétrea de artigo 7°, inciso XI.

Que Pais é este?!

Page 40: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

40

A inconstitucionalidade e discrepância da busca por

diminuição das desigualdades e defesa dos interesses sociais é latente!

Já caput do art. 3° prevê genericamente hipóteses de

impedimentos à distribuição de PLR, sendo que seus incisos pormenorizam tais

hipóteses vejamos:

“Art. 3° Fica a empresa estatal impedida de distribuir aos

seus empregados qualquer parcela dos lucros ou

resultados apurados nas demonstrações contábeis e

financeiras, que servirem de suporte para o cálculo, se:

I - houver registro de recebimento a título de pagamento

de despesas correntes ou de capital, de quaisquer

transferências, diretas ou indiretas de recursos do Tesouro

Nacional;

O inciso I do referido artigo determina que se houver

registro de recebimento, a título de pagamento de despesas correntes ou de capital,

de quaisquer transferências, diretas ou indiretas, de recursos do Tesouro Nacional a

empresa fica impedida de distribuir PLR.

A inconstitucionalidade deste limitador é clara no sentido

de que o trabalhador de empresa estatal pode ser penalizado e por não receber seu

PLR como que lhe garante a Constituição Federal, em razão de aporte de

transferência de recursos do Tesouro Nacional, ainda que tenha cumprido as metas

estabelecidas, em clara afronta ao art. 5° da CF.

Page 41: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

41

Um eventual aporte pode ser motivado por questões

como má gestão e incompetência dos seus administradores (na maioria indicados

pelo governo), ou até mesmo eventual necessidade extraordinária decorrente de

expansão dos negócios, ou seja, motivos que nada tem haver com o desempenho do

trabalhador..

Igualmente, se a empresa por algum motivo, em hipótese

uma expansão, contrata obra, pessoal ou loca equipamento para a referida finalidade

(despesa corrente), em despesa que foge ao seu orçamento ordinário, e o tesouro faz

aporte à atender tais necessidades, pelos ditames do inciso I do artigo 3° ficaria a

empresa impedida de distribuir lucros aos seus empregados, afrontando o quanto

disposto no art. 7°, XI da CF.

Por óbvio um aporte do Tesouro Nacional pode significar

desempenho precário da Empresa, más não o é necessariamente, tampouco

representa baixo desempenho dos trabalhadores de tais empresas, o que demonstra

um total descabimento e falta de razoabilidade da norma em alusão, ainda que para

fins de planejamento.

Ainda, o inciso II do mesmo artigo 3° da Resolução em

tela, cria outro impedimento à distribuição de lucros, assim dispondo:

II - Possuir dívida vencida, de qualquer natureza ou valor,

com órgãos e entidades da Administração Pública Federal

direta ou indireta, com fundos criados por Lei ou com

empresas estatais mesmo que em fase de negociação ou

cobrança judicial;

Page 42: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

42

Notadamente o inciso II do artigo 3º da resolução em

questão dispõe que caso a estatal possua dívida vencida, de qualquer natureza ou

valor, com órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta ou indireta,

com fundos criados por Lei ou com empresas estatais, mesmo que em fase de

negociação administrativa ou cobrança judicial, o PLR não será pago.

Este inciso também é um limitador de natureza

inconstitucional ao direito ao recebimento do PLR! As dívidas da empresa não devem

ser vinculadas ao resultado do exercício corrente, devendo em última análise serem

abatidas, mas jamais devem sem usadas como subterfúgio para obstar o pagamento

de PLR!

Desgraçadamente a dura realidade das empresas públicas,

completamente aparelhadas e ocupadas por pessoas indicadas pelos governos

(muitas vezes sem critério técnico ou de mérito) permite que absurdos ocorram no

âmbito da administração na mesma. Como consequência uma eventual dívida

vencida com órgãos integrantes da Administração Pública Federal direta ou indireta,

fundos criados por Lei, ou com empresas estatais podem ser (e geralmente são) fruto

de má gestão, incompetência ou simplesmente descaso por parte de seus gestores.

O trabalhador vinculado à estas empresas que tenha uma

meta a cumprir e a tenha alcançado efetivamente, nos termos do inciso em questão,

ficaria obstado do respectivo recebimento de PLR em razão de dívida vencida, não

paga por razões absolutamente alheias à seu desempenho, notadamente em afronta

aos princípios fundamentais insculpidos nos artigos 5°, caput e 7°, XI da Constituição

Federal.

Page 43: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

43

Da mesma forma, o impedimento criado pelo inciso “III”

do artigo 3° da norma em questão se demonstra absolutamente dissonante do

quanto estabelecido pela Constituição, conforme critério abaixo:

III - tiver registrado prejuízos de períodos anteriores, ainda

não totalmente amortizados por resultados posteriores;

Em relação ao inciso III, o limitador encontra-se no fato de

que se a estatal tiver registrado prejuízos de períodos anteriores, ainda não

totalmente amortizados por resultados posteriores, a PLR também não poderá será

paga. Mais uma vez a inconstitucionalidade é latente, pois resultados de exercícios

anteriores não devem ser limitador ao pagamento de PLR.

Neste ponto é importante ressaltar que a PLR tem como

referencia para qualquer empresa o resultado de um ano exercício específico. Ora,

por que razão em relação aos trabalhadores em empresas estatais, prejuízos em

exercícios anteriores serviriam de motivo para o impedimento no pagamento. Tal

situação configura não só afronta ao quanto disposto no artigo 7°, XI da Constituição

Federal, quanto obviamente ofensa ao artigo 5°, caput da CF.

Ainda, o inciso IV da Resolução em tela igualmente cria

margem para manobra que inviabilize o pagamento de PLR, a ver:

IV - os resultados positivos apurados decorrem de medidas

de excepcionalização autorizadas pelo governo;

Page 44: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

44

A inconstitucionalidade do inciso IV que dispõe que se os

resultados positivos apurados decorrem de medidas de excepcionalização

autorizadas pelo Governo, se revela verdadeiro limitador ao pagamento de PLR.

Mais uma vez temos um possível impedimento por

motivos completamente estranhos ao cumprimento das metas pelo trabalhador.

Medidas propostas pelo Governo que não guardem

qualquer relação com o desempenho e alcance de metas dos empregados de estatais

não podem balizar o pagamento de PLR.

A discricionariedade do Governo em valer-se de medidas

excepcionais, se aplicada na hipótese deste inciso, viria a penalizar o trabalhador de

forma injusta desigual e inconstitucional (art. 5°), impedindo o exercício de direito

fundamental do trabalhador (art. 7°, XI).

Assim, o inciso V do art. 3°, da Resolução em comento,

preconiza outro critério para “barrar” o pagamento de PLR, com a seguinte condição

limitadora:

É importante destacar que Lucro, em termos simplórios é

lucro auferido durante o exercício de uma atividade econômica e Resultado tem por

definição ser: o que resulta - consequência de uma ação - para efeito de PLR

notadamente, consequência do alcance de uma meta.

Ou seja, os incisos I, II, III, e IV acima guardam relação com

aspectos financeiros da gestão da empresa, e ainda assim geram, em seus termos

reflexos em direito do trabalhador que pode ser exclusivamente vinculado à alcance

de meta operacional (individual ou departamental), de forma que, para qualquer

trabalhador, exceto os de empresas públicas, ainda que não haja lucro ou superávit

Page 45: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

45

no exercício, é devido o pagamento de PLR nos termos de um programa elaborado

pelas partes envolvidas conforme Lei 10.101/2000:

V - houver pago a seus empregados, a qualquer título,

valores por conta de lucros ou resultados;

Este inciso revela-se como verdadeiro atentado ao direito

do trabalhador em receber aquilo que lhe é devido a título de PLR, uma vez que

permite a empresa pagar qualquer quantia, ainda que irrisória sob a denominação de

Participação nos Lucros e Resultados, “isentando-se” assim do pagamento efetivo

conforme o disposto do mandamento constitucional do art. 7°, XI.

Ou seja, se o trabalhador de empresa estatal federal ao

final de um mês recebe seu holerite e lá tem discriminado pagamento de R$ 1,00 (um

mísero real), a empresa fica impedida de distribuir lucros, ou seja, referido normativo

é absolutamente paradoxal e fere o princípio da igualdade.

Referido inciso além de absolutamente inconstitucional,

contraria a própria Lei 10.101/2000, art. 3°, §3°, que diz:

“Todos os pagamentos efetuados em decorrência de

planos de participação nos lucros ouo resultados, mantidos

espontaneamente pela empresa, poderão ser

compensados com as obrigações decorrentes de acordos

ou convenções coletivas de trabalho atinentes à

participação nos lucros ou resultados.”

Page 46: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

46

Conclusão: Para qualquer trabalhador, se houver o

recebimento de valores a titulo PLR por iniciativa da Empresa, tais valores podem ser

compensados do quanto devido de fato, mas para o trabalhador em empresa estatal

federal tal pagamento significa que o mesmo passa a não mais poder gozar de PLR!

Mais uma vez estamos diante de norma que trata de

forma desigual, sem qualquer razoabilidade, o trabalhador em empresa estatal

federal afrontando claramente o artigo 5° da Constituição Federal.

Portanto, extraímos o entendimento a partir da simples

leitura do Artigo 2° IV e Parágrafo Único, do Artigo 3º, incisos I, II, III, IV e V do Artigo

5°, §1° da Resolução CCE 10 de 30 de Maio de 1995, que o referido normativo vem

para inviabilizar e dar margem as estatais ao descumprimento do dispositivo

constitucional do artigo 7°, inciso XI.

IV - DA PRESUNÇÃO DE OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DE PLR E DA

INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE EM RELAÇÃO AOS TRABALHADORES

EM EMPRESAS ESTATAIS FEDERAIS

A Constituição Federal como acima disposto em seu art.

7º, XI, preconiza o direito dos trabalhadores à participação nos lucros ou resultados

de forma incondicional, bem como a participação de trabalhadores na gestão de

empresas, conforme definido em Lei.

Extraímos o art. 5º da Constituição Federal como corolário

ao art. 7º, XI que nos contempla com o Princípio da Igualdade, no qual aqui

destacamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

Page 47: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

47

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: (grifos nossos).

O conjunto normativo apontado como fator de

impedimento ou limitação ao exercício pleno do direito à PLR (7°, XI da CF) como

consequência de tratamento diferenciado imposto pela Lei 10.101/2000, art. 5°,

pode ser traduzido como distorções absurdas e sem nenhuma razoabilidade ao

princípio da igualdade previsto no art. 5°, caput da Constituição Federal.

Vejamos o que diz Morais15 sobre o tema:

“A Constituição federal de 1988 adotou o princípio da

igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão,

uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os

cidadãos tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em

consonância com os critérios abrangidos pelo

ordenamento jurídico. Dessa forma o que se veda são as

diferenciações arbitrárias, as distorções absurdas, pois, o

tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em

que se desigualam é exigência tradicional do próprio

conceito de justiça, pois o que realmente protege são

certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio

constitucional quando o elemento discriminador não se

encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito,

15

Moraes, Alexandre, Direito Constitucional, 31ª Ed., Pag. 35 e ss.

Page 48: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

48

sem que se esqueça porém, como ressalvado por Fábio

Conder Comparato, que as chamadas liberdades matérias

tem por objetivo a igualdade de condições sociais, meta a

ser alcançada não só por meio de leis, más também pela

aplicação de políticas ou programas de aplicação estatal.

A igualdade se configura como uma eficácia

transcendente, de modo que toda situação de

desigualdade persiste a entrada em vigor da norma

constitucional deve ser considerada não recepcionada, se

não demonstrar compatibilidade com os valores que a

Constituição, como norma suprema, proclama. O princípio

da igualdade consagrado pela Constituição opera em dois

planos distintos. De uma parte, frente ao legislador ou ao

próprio executivo, na edição respectivamente de Leis e de

Atos normativos e Medidas Provisórias, impedindo que

possam criar tratamentos abusivamente diferenciados a

pessoas que encontram-se em situações idênticas. Em

outro plano, na obrigatoriedade ao intérprete,

basicamente a Autoridade Pública de aplicar a Lei e Atos

Normativos de maneira igualitária sem estabelecimento de

diferenciações em razão de sexo, religião, convicções

filosóficas ou políticas, classe social. A desigualdade na lei

se produz quando a norma distingue de forma não

razoável ou arbitrária um tratamento específico à pessoas

diversas. Para que as diferenciações normativas possam

ser consideradas não discriminatórias, torna-se

Page 49: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

49

indispensável que exista uma justificativa objetiva e

razoável, de acordo com critérios e juízos valorativos

genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se em

relação à finalidade e efeitos da medida considerada,

devendo estar presente por isso uma razoável relação de

proporcionalidade entre os meios empregados e a

finalidade perseguida, sempre em conformidade com os

direitos e garantias constitucionalmente protegidos.

Assim, os tratamentos normativos diferenciados são

compatíveis com a Constituição Federal quando verificada

a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional

ao fim visado. Importante, igualmente, apontar a tríplice

finalidade limitadora do principio da igualdade - limitação

ao legislador, ao intérprete / Autoridade Pública e ao

Particular. O Legislador no exercício de sua função

constitucional de edição normativa não poderá afastar-se

do princípio da igualdade, sob pena de flagrante

inconstitucionalidade. Assim normas que criem

diferenciações abusivas, arbitrárias sem qualquer

finalidade lícita serão incompatíveis com a Constituição

Federal”.

Ainda a estrutura criada por Kelsen consagra a supremacia

da Norma Constitucional e estabelece uma dependência entre as normas

escalonadas, já que a norma de grau inferior sempre será válida se, e somente

fundar-se nas normas superiores.

Page 50: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

50

No positivismo Kelsiano, a norma fundamental (como as in

casu ofendidas) é o ápice de uma pirâmide de relações normativas. Onde há

hierarquia, há interdependência de normas, onde há interdependência entre normas,

a validade da norma inferior é extraída da norma superior, e assim até a última

norma, a norma fundamental.

A partir disso, invocamos a hermenêutica do dispositivo

constitucional que prevê a obrigatoriedade do pagamento de PLR a todos os

trabalhadores urbanos e rurais sem qualquer distinção. A Constituição Federal ao se

referir ao programa como forma de melhoria na condição social do trabalhador, não

traz em momento algum a facultatividade quanto ao direito da Participação nos

Lucros e Resultados.

Sobre o tema, trazemos trecho do Parecer do Dr. Rogério

Ramires, publicado na Revista Dialética de Direito Tributário - RDDT n° 93, de junho

de 2003, intitulado: “Isenção - Participação nos Lucros e Resultados: Possibilidade de

adoção por Entidades sem Fins Lucrativos”:

“Garantido aos trabalhadores urbanos e rurais, no nosso

entendimento, o direito em tela é garantido de forma

indistinta a todos os trabalhadores urbanos e rurais,

porque não há determinação constitucional que disponha

sobre a diferença de tratamento ou quaisquer restrições. E

isto se justifica por duas razões. A primeira, porque em

nosso direito pátrio vigora o princípio da isonomia, que

determina igualdade de tratamento entre aqueles que se

encontrarem na mesma situação (art. 5° da CF); e a

segunda, porque não faz sentido algum estabelecer

Page 51: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

51

diferença de tratamento entre trabalhadores que se

empenharam para obtenção de um mesmo resultado

positivo (lucro/superávit) nas respectivas entidades

empregadoras, além de ser, inclusive, vedado pela própria

Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 3°. Assim

qualquer diferença de tratamento entre trabalhadores ou

restrições à seus direitos, mesmo que dispostos em Lei,

serão passíveis de arguição de inconstitucionalidade.”...

“Nossa interpretação levou em consideração a

impossibilidade de uma lei ordinária vedar o pagamento

de participação nos lucros ou resultados por entidade sem

fins lucrativos a seus empregados, sob pena de ofensa

direta ao texto constitucional, mais especificamente aos

Direitos e Garantias Fundamentais apresentados no Título

II da CF, definidos como cláusula Pétrea (art. 60, § 4°,

inciso IV da CF), que não podem sofrer qualquer tipo de

restrição.”

V - CONCLUSÃO

A nossa sociedade deve seguir em busca da redução das

desigualdades na relação Capital x Trabalho. A igualdade entre a exploração do

trabalho e a recompensa pecuniária devidamente valorizada sobre todo o esforço do

trabalhador, em contexto no qual empresa depende de mão de obra para funcionar,

se desenvolver, e se fazer reconhecer, é o espírito na norma Constitucional presente

no artigo 7°, inciso XI da Constituição Federal vigente.

Page 52: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

52

A igualdade de Direitos como corolário de uma sociedade

justa, nos termos do artigo 5° da Constituição Federal, está cabalmente em estado de

desacato em relação aos trabalhadores de empresas públicas federais vinculadas ao

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em razão da vigência dos

dispositivos inconstitucionais nesta causa apontados.

VI - DOS PEDIDOS

Diante de todo exposto requer:

1. Preliminarmente, o conhecimento, apreciação e recebimento da presente Ação

Direta de Inconstitucionalidade, estando notadamente legitimada a Promovente nos

termos do art. 103, IX da Constituição Federal, trazendo à apreciação desse Supremo

Tribunal Federal notável flagrante desrespeito à Constituição Federal in casu, art. 5°

caput e art. 7°, XI, instaurando-se a competente instância constitucional;

2. A citação prévia da União Federal através de sua Advocacia-Geral, nos termos do

§3°, do art. 103 da Constituição Federal;

3. A intimação do senhor Procurador Geral da República para acompanhar a presente

ADIN e pronunciar-se oportunamente a seu respeito;

Page 53: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

53

4. Seja ao final após o devido processo legal, julgada procedente a demanda, para

decretar-se a inconstitucionalidade dos dispositivos enfocados, abaixo

individualizados, cassando-lhes em definitivo a eficácia:

4.1 - Artigo 5° da Lei 10.101/20000;

4.2 - Artigo 1°, inciso V do Decreto 3.735 de janeiro de 2001;

4.3 - Artigo 3°, §3° da Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012;

4.4 - Artigo 3, §4° da Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012;

4.5 - Artigo 12°, inciso IV, da Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012;

4.6 - Artigo 12°, inciso VI, da Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012;

4.7 - Artigo 12°, inciso VII, da Portaria DEST/SE/MP nº 27 de 12 de dezembro de 2012;

4.8 - Artigo 2°, IV da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.9 - Artigo 2°, Parágrafo Único da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.10 - Artigo 3°, I da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.11 - Artigo 3°, II da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.12 - Artigo 3°, III da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.12 - Artigo 3°, IV da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.13 - Artigo 3°, V da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995;

4.13 - Artigo 5°, § 1° da Resolução CCE n° 10 de 30 de Maio de 1995

Page 54: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROMOVENTE

54

5. Embora, em princípio, trata-se apenas de questão de direito, para qualquer

eventualidade protesta-se pela produção de provas por todos os meios em direito

admitidos, que serão acaso necessários, oportunamente especificados.

6. Prova o alegado pelos documentos que instruem a inicial, os quais constituem

cópias fiéis, assim declaradas pelos procuradores que subscrevem esta petição, sob a

responsabilidade pessoal e para os fins de direito (CPC/art. 365, IV e VI).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Brasília/DF, 04 de novembro de 2015.

CÉLIO RODRIGUES NEVES OABMG 36.184

THIAGO LEAL RESENDE OABDF 31.263

LEONARDO GIL PEDROSA OABDF 44.647

HERMANO DE MOURA OABSP 307.650

BÁRBARA GONÇALVES OLIVEIRA DOURADO

OABSP 316.400

MAICON ANDRADE MACCHADO OABSP 235.327