desenvolvimento regional e políticas comunitárias · 2 !...
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DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS COMUNITÁRIAS
Índice
I. Evolução do conceito de Desenvolvimento Regional .......................................................................... 2
II. Definição de região e tipos de região. Sistemas produtivos regionais – hierarquia, distritos e redes ....................................................................................................................................................... 6
III. Globalização e desenvolvimento regional ....................................................................................... 13
IV. O que é a Europa e a Europa das Regiões -‐ O Continente Europeu como um caso excêntrico entre os Continentes ............................................................................................................................. 18
V. Grandes etapas da construção europeia. Portugal no processo da Integração Europeia ................ 20
VI. A União Europeia no século XXI. A Europa alargada, a reforma institucional e o financiamento das políticas .......................................................................................................................................... 22
VII. Noção de política comunitária, integração económica e social e políticas comuns ....................... 24
VIII. Génese e desenvolvimento da política regional europeia ............................................................. 28
IX. O planeamento do desenvolvimento regional. QCA e QREN. Os recursos financeiros – Fundos estruturais, fundo de coesão e iniciativas comunitárias ....................................................................... 29
X. Aproximação a um programa específico: Pólis XXI. Candidaturas, redes e parcerias como novo paradigma para o desenvolvimento urbano e regional ........................................................................ 32
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I. Evolução do conceito de Desenvolvimento Regional
1. Apresentação
Docente, alunos, disciplina, programa, avaliação.
2. Paradigmas do Desenvolvimento Regional: conceito e evolução
-‐ Decomposição da expressão Desenvolvimento Regional.
-‐ Discussão das ideias de desenvolvimento (distinto de crescimento, distinto da ideia
de “mais”).
-‐ O Desenvolvimento Regional como anseio de correção de assimetrias.
-‐ O Desenvolvimento Regional como exigência de territorialização de políticas e
desígnios nacionais – a meio caminho entre o nacional e o local.
Se praticamente sempre somos unânimes face ao conceito de desenvolvimento
(melhoria das condições de vida material das populações – habitação, saúde,
educação, segurança social, etc.) – já a forma como devemos aí chegar ou ainda
como medir o desenvolvimento foi variando historicamente ou mesmo
ideologicamente.
Conceções do desenvolvimento – décadas 50 e 60
Paradigma trickle down:
-‐ Crescimento económico rápido leva também a níveis mais elevados de
desenvolvimento social e cultural, contribuindo para a redução das desigualdades
sociais.
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-‐ O crescimento económico necessita de mais produção e de alargamento dos
mercados.
-‐ Indústria como o setor chave deste processo de crescimento.
[Autores: Simon Kuznets (1955) e Arthur W. Lewis (1954).]
Reconhecia-‐se a existência de uma visão dualista da economia – setor tradicional,
rural e um setor moderno, indústria, com grandes desigualdades iniciais mas que
diminuíram posteriormente.
Seriam necessários apoios para os países mais frágeis e liberalização do comércio
internacional.
Todavia, o fosso entre países ricos e pobres não parou de se agravar, acontecendo
que estes últimos se especializaram na exportação de matérias-‐primas ou produtos
de baixo valor acrescentado.
Surgem assim contundentes críticas a esta conceção de desenvolvimento como
função exclusiva do crescimento económico.
As primeiras reações às conceções tradicionais do desenvolvimento – anos 70
O desenvolvimento não é função do ritmo do crescimento mas sim do modelo que
garantirá maior ou menor redução das desigualdades, quer regionais quer sociais.
Tem de existir, por isso, uma política económica que conduza esse crescimento para
a satisfação das necessidades básicas da população.
Adelman e Morris (1973, 1974) mostraram que o desenvolvimento pode ser medido
através de 35 variáveis (económica, sociocultural, e política) valorizando:
-‐ Formação dos recursos humanos.
-‐ Existência de recursos naturais.
-‐ Intervenção do Estado na Economia.
-‐ Grau de dualismo.
-‐ Importância das instituições económicas.
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-‐ Grau de participação política.
Novos conceitos – anos 80
-‐ Desenvolvimento sustentável: ao mesmo tempo que permite que as
gerações atuais satisfaçam as suas necessidades de melhoria de qualidade
de vida, garante que as gerações futuras tenham -‐ pelo menos -‐ a mesma
possibilidade (Relatório Brutland, 1987).
-‐ Exige integração das preocupações ambientais e sociais no domínio da
economia.
-‐ Cooperação a nível mundial.
-‐ Mais investimento nas pessoas e menos em capital físico, como antes
sucedia (educação, formação profissional, …).
-‐ Embora já em 1990 surja o conceito de Desenvolvimento Humano
(envolvendo melhorias de acesso à saúde e educação, aumento de
rendimento, emprego, habitação e liberdade, quer no plano político quer
económico.
-‐ Reconhecimento dos diversos níveis (mundial, nacional, regional e local).
-‐ Inovação e desenvolvimento tecnológico são fundamentais.
-‐ A incerteza na economia exige então novas formas de produção, mais
flexíveis, baseadas localmente em redes de inovação, pessoal qualificado
que se preocupa mais com a qualidade de produção que com a quantidade.
-‐ A conservação destas preocupações para o desenvolvimento regional leva a
constatar que a diferença entre regiões mais desenvolvidas pode gerar o
efeito de arrastamento (alargamento de mercados, novos investimentos, …),
mas também efeitos de travão pela saída de mão de obra e fuga de
investimento.
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-‐ Há que, por via da política, atuar para promover o potencial endógeno da
região, exigindo investimentos cujo retorno não é imediatamente visível.
Políticas de Desenvolvimento Regional
cf. quadro síntese
Bibliografia:
→ J.M. Henriques; Sthoer; Simões Lopes; G. Benko; Polése
6
II. Definição de região e tipos de região. Sistemas produtivos regionais –
hierarquia, distritos e redes
1. Raízes
-‐ No século XIX e início do XX são os geógrafos que trabalham o conceito de região
(G. Benko, “A Ciência Regional”).
-‐ É a região natural que, segundo as correntes geográficas, pode ser determinista
(condicionando o quadro de vida dos habitantes que apenas se sujeitam a essas leis
naturais) ou pode ser possibilista, i.e., exige do Homem uma adaptação às
condições do meio natural fazendo emergir as suas possibilidades criativas e
tecnológicas.
Por exemplo, a civilização do granito, do barro ou da madeira.
-‐ Referir a obra maior de um “possibilista” português: “Portugal, o Mediterrâneo e o
Atlântico”, de Orlando Ribeiro (1911-‐1997).
-‐ Nos anos 50 do século XX os economistas e os geógrafos da “Nova Geografia”,
mais quantitativa e económica, irão tentar operacionalizar o conceito (Benko, idem).
A análise centra-‐se nas estruturas produtivas e fluxos.
-‐ Para dar sequência a estas novas preocupações são apontados tipos de região
possíveis de delimitar:
a) Região homogénea, assentando numa dispersão mínima de cada unidade
elementar em relação à média do conjunto (ex. Alentejo, Beira, Norte, Sul).
b) Região polarizada, de inspiração industrial (nodal region), já que segundo
François Perroux (1955) o crescimento não aparece em todo o lado ao mesmo
tempo, manifesta-‐se em pontos ou polos de crescimento de intensidade
variável; difunde-‐se através de diversos canais e com efeitos terminais
variáveis sobre o conjunto da economia – Teoria dos Polos de Crescimento ou
de Desenvolvimento.
(A região de Lisboa, a região do Porto, complexo industrial de Sines,
empreendimentos de fins múltiplos do Alqueva).
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c) Região plano (Planning Region), de inspiração programática ou prospetiva,
voltada para empresas e para a ação do Estado (Norte, Centro, Lisboa e Vale
do Tejo, …).
d) Região administrativa/estatística, que concentra órgãos desconcentrados ou
descentralizados do Estado, podendo ou não coincidir com o modelo anterior
(Distritos, Direções Regionais de Agricultura, Educação, Saúde, Justiça,
Turismo, …).
Uma síntese foi ensaiada por Lacour (1979):
-‐ A região corresponde a uma área geográfica que constitui uma entidade que
permite, simultaneamente, a descrição de fenómenos naturais e humanos, a
análise de dados socioeconómicos e a aplicação de uma política.
-‐ Funda-‐se em duas características principais: homogeneidade e integração
funcional, e resulta, ao mesmo tempo, num sentimento de solidariedade
vivida e em relações de interdependência com os restantes conjuntos
regionais e com o espaço nacional e internacional.
-‐ Finalmente a aceleração das trocas nos anos 80 e as facilidades de circulação
e trocas de informação que se operam nos anos 90 e primórdios do século
XXI introduzem alterações ao conceito de região por esta agora se poder
integrar em escalas mais amplas e até, curiosamente, desterritorializar-‐se –
Região Virtual.
Discussão: O sempre recorrente tema da Regionalização como cola com estes
conceitos de região?
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Proposta do Governo para o estabelecimento de 8 regiões administrativas. Em 1998 a proposta foi
recusada por referendo. (Fonte: http://www.usal.es/webusal)
Discussão: Os Planos de Fomento interpretaram que tipo de região?
Abordados que foram os conceitos de desenvolvimento regional e os de região,
interessa agora operacionalizar e articular estes conceitos.
Talvez a mais importante abordagem a fazer, para já, diga respeito aos fatores de
desenvolvimento regional.
Não esquecer, porém, que os objetos do desenvolvimento regional passam, cada
vez mais, por uma melhoria da qualidade de vida e qualidade ambiental, mas o
desenvolvimento económico tem ainda uma posição destacada.
Em princípio serão as vantagens comparativas de cada região que determinarão a
especialização em determinadas atividades produtivas.
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Atenção que a fórmula não é simples, já que uma região sem atributos especiais
não teria oportunidades de desenvolvimento.
É possível classificar cada região em função dos seus fatores de desenvolvimento
(Biehl, 1990):
-‐ Situação geográfica.
-‐ Estrutura urbana ou de aglomeração (densidade de população e emprego).
-‐ Estrutura produtiva (importância da indústria e serviços no PIB regional e
no emprego).
-‐ Dotação em infraestruturas.
Todavia, nem sempre estes fatores acabam por ser coerentes com o
desenvolvimento alcançado pela região. Isto pode resultar em:
-‐ Desajustes territoriais.
-‐ Ajuste territorial positivo.
-‐ Ajuste territorial negativo.
Estratégias territoriais da Política Regional
Os extremos situam-‐se no favorecimento de polos de desenvolvimento, i.e.,
concentração espacial das ajudas ou generalizar essas ajudas a vastos territórios que
apresentem sinais de atraso, podendo a eficácia dessas ajudas diluir-‐se nessa
vastidão.
Este último extremo tem sido atualmente o mais utilizado, em especial a partir da
Política Regional Comunitária, que consegue hierarquizar os níveis de ajuda em
função da gravidade da situação.
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As estratégias territoriais podem assentar nos seguintes pilares:
-‐ Polos de desenvolvimento
São a forma mais clássica, tentando reproduzir o processo de crescimento que
ocorreu nas áreas mais desenvolvidas, mas agora de forma induzida. EFMA, Sines,
polos tecnológicos, …
-‐ Polos tecnológicos
Estes novos polos de desenvolvimento não serão concentrações industriais, mas
complexos de inovação tecnológica.
-‐ Distritos industriais
Define-‐se como uma entidade sócio-‐territorial caracterizada pela presença ativa de
uma comunidade de pessoas e de empresas num espaço geográfico e histórico
específico. (Becattini, 1992)
-‐ Eixos de desenvolvimento
Se os polos de desenvolvimento tendem a concentrar mais população e
investimentos que outras áreas com menores vantagens comparativas, um eixo de
desenvolvimento considera-‐se o encadeamento de diversos polos de
desenvolvimento.
Pode ter diversos âmbitos geográficos: se os entendermos à escala europeia
podemos falar, p. ex., da dorsal europeia onde se distinguem as capitais e o arco
alpino.
Num âmbito mais regional, faz sentido falar de eixo galaico-‐português. Ainda os
eixos de âmbito concelhio poderão fazer sentido.
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-‐ Redes
Talvez o conceito mais forte surgido nos últimos tempos na análise regional e no
ordenamento do território. Territórios com redes mais densas tendem a ter
vantagem sobre aqueles que as não apresentam ou que tendo sejam menos densas.
Uma rede pode ser entendida como um sistema técnico de infraestruturas e
equipamentos que conseguem atrair fluxos de mercadorias, energia, pessoas,
informação, investimentos, inovação, etc.
Não confundir com o princípio de rede adotado por W. Christaller (1893-‐1969), já
que agora se aponta para inter-‐relações entre lugares de natureza horizontal e não
hierarquizada, criando externalidades e economias de especialização,
complementaridade, divisão espacial do trabalho, sinergias, cooperação e inovação.
Tipo de redes
-‐ Complementaridade (centros especializados e complementares relacionados a
partir de relações input-‐output e comerciais).
-‐ Sinergia (centros de características similares com relações de cooperação). Ex.
rotas turísticas.
-‐ Inovação (centros que cooperam em projetos específicos de infraestruturas ou de
produção para alcançar mais massa crítica para a oferta e procura).
Atendendo à riqueza deste conceito, para ler a realidade territorial também se
utiliza para a definição de estratégias territoriais da política regional:
a) Incluir as redes existentes nas estratégias territoriais de desenvolvimento,
aumentando a sua capacidade de atração e competitividade.
b) Fornecer a formação de redes para aumentar a coesão e a atratividade
territorial.
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-‐ Regiões emergentes
São regiões frequentemente alheias a estádios de dinâmica industrial ou outra.
Assim, estão livres de suportar a inércia de estratégias territoriais ultrapassadas. É o
“leapfrogging” de Castells (1991).
-‐ Imagem de síntese
Estratégias territoriais para o desenvolvimento regional.
Bibliografia:
→ O. Ribeiro → G. Benko → Simões Lopes → Polése → J. Ferrão
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III. Globalização e desenvolvimento regional
-‐ Existem transformações na esfera político-‐económica mundial que
acarretam efeitos muitas vezes contraditórios e muitas vezes dispersivos à
escala nacional e regional.
-‐ Gera-‐se discussão em torno do processo de Globalização, sendo levantadas
várias questões:
Será a Globalização um fenómeno inovador?
Em que aspetos se materializa?
Tem consequências visíveis?
Exemplos, estudos de caso, …
-‐ O fenómeno que é designado por Globalização (termo seguido por
Giddens, 1990; Featherstone, 1990; Albrow e King, 1990), também aparece
mencionado como formação global, cultura global, sistema global, cidades
globais.
Giddens define Globalização como a intensificação das relações sociais de escala
mundial, relações que ligam localidades distantes de tal maneira que as ocorrências locais
são moldadas por acontecimentos que se dão a muitos quilómetros de distância e vice-‐
versa.
Esta transnacionalização que cobre todas as faces das atividades humanas organizadas,
coloca em causa a histórica arrumação dos sistemas nacionais – Estado-‐Nação.
Esta desvalorização do sistema nacional ocorre em dois patamares: supranacional, no
que se pode designar por sistema mundo, organizado pelos grandes blocos económicos e
sistemas de governância supranacional, mas também infranacional, à escala regional ou
mesmo local.
Como afirma Boaventura Sousa Santos (2001) “a globalização das últimas 3 décadas em
vez de se encaixar no padrão moderno ocidental de globalização (como homogeneização
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e uniformização) parece combinar a universalização e a eliminação das fronteiras
nacionais por um lado, o particularismo, a diversidade local, a identidade étnica e o
regresso ao comunitarismo, por outro”.
Interage ainda com outras transformações como o aumento das desigualdades entre
países ricos e pobres, dentro de cada país, entre ricos e pobres, a sobrepopulação, a
catástrofe ambiental, os conflitos étnicos, a migração internacional massiva, a
emergência de novos Estados e a falência e implosão de outros, a proliferação de guerras
civis, o crime globalmente organizado, …
Globalização Económica
A globalização da produção conduzida pelas empresas multinacionais gerou uma nova
economia mundial:
-‐ Economia dominada pelo sistema financeiro e pelo investimento à escala
global.
-‐ Processos de produção flexíveis e multilocais.
-‐ Baixos custos de transporte.
-‐ Revolução das tecnologias de informação e de comunicação.
-‐ Desregulação das economias nacionais.
-‐ Preeminência das agências financeiras multilaterais.
-‐ Emergência de 3 grandes capitalismos mundiais: EUA (com Canadá, México
e a América Latina); Japão (com os 4 pequenos tigres: Singapura, Taiwan,
Coreia do Sul e Hong Kong); Europeu (União Europeia, com a Europa de
Leste e o Norte de África).
-‐ Assim, as empresas multinacionais passaram a integrar a estrutura
institucional, juntamente com os mercados financeiros e os blocos
comerciais transnacionais.
Estas mudanças exigiram novos locais estratégicos na economia mundial (Sassen, 1994):
-‐ Zonas de processamento para exportação.
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-‐ Centros financeiros – offshore.
-‐ Cidades globais
A prova desta globalização económica está no facto de:
-‐ Das 100 maiores economias do Mundo, 47 são empresas multinacionais.
-‐ 70% do comércio mundial é controlado por 500 empresas multinacionais.
-‐ 1% das multinacionais é responsável por 50% do investimento.
Globalização Social
Também neste domínio a globalização, longe de homogeneizar, aprofunda desigualdades.
Existem diferentes ângulos de ver a realidade, passando dos rendimentos para a saúde ou
mesmo educação.
Segundo o Banco Mundial, o conjunto dos países pobres, onde vive 85,2% da população,
apenas tem 21,5% do rendimento mundial.
O conjunto dos países mais ricos, com 14,8% da população mundial, detém 78,5% do
rendimento mundial.
No quinto país mais rico concentram-‐se 79% dos utilizadores da Internet.
Mas no interior dos países o problema persiste em todos os casos. Nos EUA 1% das
famílias possui 40% da riqueza do país e 20% das famílias mais ricas detinham 80% dessa
riqueza.
Na relação da sociedade com o trabalho, a tendência tem sido para liberalizar o mercado
de trabalho, descolando os aumentos salariais dos ganhos de produtividade.
No fundo, a economia é dessocializada.
-‐ Globalização Política
-‐ Globalização Económico-‐Cultural
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-‐ Globalização e Desenvolvimento Regional
O desenvolvimento regional ainda é, como se viu atrás, dependente do desenvolvimento
económico, o que faz com que as regiões sejam carentes do investimento público e
investimento produtivo.
Estando garantido o suporte financeiro público exige-‐se que se fixe a atenção e o
interesse das empresas com capacidade financeira suficiente para gerar emprego e base
económica de exportação.
Nos países ocidentais o investimento pode ser canalizado para todos os locais e, assim, há
o risco de agravar os desequilíbrios regionais, já que as zonas em crise são menos
apetecíveis.
Por isso, as regiões com problemas de desenvolvimento procuram, por um lado,
apetrechar-‐se com argumentos que lhes deem vantagens competitivas (património,
recursos humanos de qualidade, …), mas também com vantagens fiscais e até de
incentivo financeiro.
Em todo o caso, representando estas iniciativas oportunidades incontornáveis de
desenvolvimento, elas também levantam interrogações em torno dos efeitos económicos
e sociais dessa integração clara na lógica mundial.
É evidente que o local tem condicionado ligeiramente a implantação do global, mas a
lógica é a subordinação do primeiro ao segundo.
O risco também é o da banalização da oferta de cada região, pois através destes grandes
investidores passa a ser possível encontrar produtos semelhantes noutros pontos do
globo.
Bibliografia:
→ M. Castells
→ PNPOT
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→ B. S. Santos
→ LOPES, A. S., Globalização e Desenvolvimento Regional
(http://www4.crb.ucp.pt/biblioteca/GestaoDesenv/GD11/gestaodesenvolvimento11_9.pdf)
→ GIDDENS, Anthony (2000), O mundo na era da globalização, Lisboa, Editorial
Presença, ISBN 9789722325738.
→ PUREZA, José Manuel; FERREIRA, António Casimiro (orgs.) (2002), A teia global:
movimentos sociais e instituições, Porto, Ed. Afrontamento, ISBN 9723605724.
→ WATERS, Malcolm (1999) Globalização, Oeiras, Celta Editora, ISBN 9728027605.
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IV. O que é a Europa e a Europa das Regiões -‐ O Continente Europeu como
um caso excêntrico entre os Continentes
O que é um Continente?
Normalmente refere-‐se a grandes massas continentais vulgarmente envolvidas por
oceanos e habitadas. Por isso se compreende que a Gronelândia, que é maior que a
Austrália, não seja considerada Continente ao contrário da segunda.
A Europa, pela sua configuração, seria mais uma enorme península da Eurásia. Assim, os 5
Continentes foram uma enorme invenção proposta pelos europeus (povos descobridores
e colonizadores).
Mas para se destacar claramente da Ásia é necessário uma afirmação identitária e
cultural.
Aqui o Cristianismo jogou um papel nuclear na construção dessa diferença.
A ideia de ser Europeu é, desde logo, ser cristão, como reação à longa ocupação Árabe
(desde o século VIII).
As cruzadas, a Reconquista, foi sempre o cristianismo o elemento agregador de uma ideia
de Europa que se afirma contra outros.
Mais tarde e após a consolidação da frente “Sul”, foi a frente oriental (Russa e Otomana)
que forçou a identidade europeia (cf. Ferrão).
A ideia da Comunidade
Ou acompanhar a cronologia do “Dicionário dos Termos Europeus”.
A Coesão Económica e Social foi, desde sempre, uma preocupação das instâncias
comunitárias.
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O Tratado de Maastricht (1992) contempla de forma explícita a coesão social e
económica. Mas já atrás – Tratado de Roma – fazia referência à importância da redução
das desigualdades de desenvolvimento entre regiões.
De forma mais ou menos clara esse desígnio foi surgindo nos documentos europeus – por
ex. no Ato Único Europeu.
Não é por acaso que a Política Regional, expressa designadamente através dos Fundos
Estruturais e de Coesão, foi a 2.ª maior rúbrica orçamental da União Europeia no III QCA
(Quadro Comunitário de Apoio) 2000-‐2006.
O novo tratado, que busca estabelecer uma nova constituição para a Europa, propõe o
acrescento da dimensão territorial – Coesão Territorial – juntando-‐se à Coesão Social e
Económica.
O acesso a serviços e bens tem de ser tendencialmente semelhante em todo o território
da UE.
Visa assim corrigir as disparidades territoriais, cooperação entre regiões,
desenvolvimento policêntrico, integração territorial, etc
Bibliografia:
→ J. Ferrão
→ C. Cavaco
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V. Grandes etapas da construção europeia. Portugal no processo da Integração Europeia
Os fundamentos que deram origem a todo o processo em marcha para os Estados Unidos
da Europa são mais visivelmente económicos. Todavia, desde cedo (senão em
simultâneo), as questões sociais e políticas ganharam um destaque que a economia
jamais poderia dispensar.
Grandes etapas:
1957 CEE Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Holanda.
1973 CEE Com 9 países: Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
1981 CEE Com 10 países: Grécia.
1986 CEE Com 12 países: Portugal e Espanha.
1992 UE Tratado de Maastricht, que criou a União Europeia juntando as três Comunidades (Euratom, CECA, CEE). A CEE passou a designar-‐se por CE.
1995 UE Com 15 países: Áustria, Finlândia e Suécia.
2004 UE Com 25 países: Malta, Chipre, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Eslovénia e Hungria.
Portugal tem contribuído ativamente no processo de integração europeia, assumindo as
suas responsabilidades.
Por um lado, assumindo por 3 vezes a presidência da União Europeia (1992, 2000 e 2007),
sendo que em dezembro de 2007 foi assinado – entrando em vigor dois anos depois – o
Tratado de Lisboa, que corresponde a uma versão simplificada da Constituição
referendada nos países da UE em 2004.
-‐ Os Tratados.
-‐ Os Acordos.
21
-‐ Estratégia de Lisboa.
Fonte: Comunidade Europeia
Bibliografia:
http://europa.eu/abc/12lessons/lesson_2/index_pt.htm
http://www.europepolycentrique.org/constructioneuropeenne.htm
22
VI. A União Europeia no século XXI. A Europa alargada, a reforma institucional e o financiamento das políticas
Será necessário, como já nos referimos atrás, que a Europa precise de continuar a
afirmar-‐se pela oposição a algo? Seja do comunismo, seja da religião?
Huntington, em 2001, num livro publicado pela gradiva – “O choque das civilizações e a
mudança na ordem mundial” – acha que no lado oriental a fronteira/limite assenta na
distinção religiosa, opondo os cristãos ocidentais – católicos e protestantes – aos
muçulmanos e ortodoxos.
Todavia, o Tratado de Roma (1957) afirma no seu artigo 237 que todo o Estado Europeu
pode solicitar a sua adesão à UE.
Ora surgem então as fontes de um problema recorrente que é como tratar o pedido de
adesão da Turquia?
Ou como responder às questões formuladas por Carminda Cavaco (2004):
-‐ Os critérios de admissão serão culturais e económicos?
-‐ Pode a UE alargar-‐se continuamente mantendo o seu projeto inicial?
-‐ Porque razão alguns estados não aderem (Suiça, Islândia e Noruega)?
-‐ Com que fundamentos poderá a UE recusar a entrada depaíses como os
dos Balcãs (Sérvia, Macedónia e Albânia)?
-‐ Poderá jogar-‐se entre a integração política e a integração económica?
-‐ A descontinuidade territorial faz sentido?
Estas questões e outras suscitaram a necessidade da UE se interrogar sobre o seu futuro,
criando a Convenção sobre o Futuro da Europa, onde se debateria a estrutura interna e a
correção das assimetrias numa Europa a 25.
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Culminando com o Tratado de Lisboa
Onde consta o 3.º pilar da Coesão Europeia – Coesão Territorial
Consequências por avaliar
Um dos sinais é o aumento do protagonismo da política de cidades em detrimento da política regional
Bibliografia:
→ http://europa.eu/abc/12lessons/lesson_12/index_pt.htm
24
VII. Noção de política comunitária, integração económica e social e políticas comuns
1. Políticas Comunitárias
As Políticas Comunitárias, ou Políticas Comums, transformaram-‐se nos instrumentos
de concretização de parte dos principais objetivos da União Europeia.
Apenas se aplicam quando os domínios a que se referem são competência exclusiva
ou partilhada com os Estados Membros.
Podem ter, pelo menos, dois objetivos – correção das disparidades regionais em
vários domínios; atuação sobre domínios específicos para aprofundar, melhorar ou
corrigir esses campos.
2. Integração Económica e Social (e Territorial)
No fundo, a segunda pretensão relaciona-‐se com a integração social e económica.
A primeira relaciona-‐se com a “integração europeia territorial” que viu, com o
Tratado de Lisboa (cf. Secção 3, Tratado de Lisboa, p.177 e Dic. Termos Europeus,
p.54), consagrada a sua importância – fazendo agora parte da coesão social e
económica dos grandes princípios da UE.
A adoção da moeda única, dos acordos de Schengen, das diretivas comunitárias,
etc., são medidas que reforçam a ideia de integração.
3. Políticas Comuns
Apesar da UE ser uma das regiões do mundo mais desenvolvidas, as assimetrias no
seu interior são muito significativas.
A Europa a 25 veio aprofundar ainda mais esta característica europeia, já que
aumentou brutalmente a diferença entre os mais ricos e os mais pobres.
Surgem assim 2 objetivos nucleares da UE:
-‐ Desenvolvimento harmonioso da União.
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-‐ Coesão Económica e Social revelando a solidariedade com as regiões menos
desenvolvidas.
Os fundos existentes (308 biliões de Euros) para a política de coesão e fundos
estruturais ficam, no período 2007-‐2013, mais facilitados tendo mesmo sido criados
3 novos instrumentos:
-‐ JASPERS (Joint Assistance in Supporting Projects in European Regions).
Link: http://ec.europa.eu/regional_policy/funds/2007/jjj/jaspers_en.htm
-‐ JESSICA (Join European Support for Sustainable Investment in City Areas).
Link: http://ec.europa.eu/regional_policy/funds/2007/jjj/jessica_en.htm
-‐ JEREMIE (Join European Resources for Micro to Medium Enterprises).
Link: http://ec.europa.eu/regional_policy/funds/2007/jjj/jeremie_en.htm
Os fundos estruturais visam:
a) Convergência
Este é um novo objetivo destinado a regiões com fracos níveis de emprego e PIB
abaixo dos 75% da média UE em 2000-‐2002.
Representam 100 regiões com 35% da população dos 27.
O objetivo é acelerar o crescimento, bem como os fatores favoráveis a uma
convergência efetiva entre Estados Membros e regiões menos desenvolvidas.
b) Competitividade regional e emprego
Este objetivo aplica-‐se ao resto da União – 168 regiões com 65% da população.
c) Cooperação territorial europeia
Facilitar a cooperação interregional ou transfronteiriça entre as autoridades
locais e regionais – onde vivem 37,5% da população da UE (181,7 milhões).
Estes objetivos cobrem, por um lado, o Fundo Europeu de Desenvolvimento
Regional e por outro o Fundo Social Europeu.
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Os Fundos de Coesão contribuem para as intervenções nos domínio do ambiente e
das redes de transporte.
Apoia os Estados Membros com um produto nacional bruto de 90% do PNB
Comunitário (envolvendo todos os Estados Membros de entrada recente, Grécia,
Portugal e Espanha a título transitório).
Exemplos de Políticas Comuns:
-‐ Política Comum das Pescas (PCP).
-‐ Política Externa e de Segurança Comum (PESC).
-‐ Política Agrícola Comum (PAC).
-‐ Política Comum de Transportes (PCT).
-‐ Política Comercial Comum (PCC).
Programas de Iniciativa Comunitária (PIC):
São programas específicos que visam constituir respostas para algumas
problemáticas no território da UE. Dirigem-‐se, sobretudo, para as áreas de objetivos
da Coesão Económica e Social e são financiados pelos Fundos Estruturais.
Em 2000-‐2006:
a) INTERREG III
Fomentar a cooperação transfronteiriça, transnacional e interregional.
394 M €
b) URBAN II
Luta contra os problemas económicos, ambientais e sociais urbanos.
18 M €
c) LEADER +
Apoiar as estratégias originais para o desenvolvimento das zonas rurais.
163,2 M €
d) EQUAL
27
Eliminar fatores que estão na origem das desigualdades e discriminação no
acesso ao mercado de trabalho ou na sociedade em geral.
107 M €
Bibliografia:
http://europa.eu/abc/12lessons/lesson_12/index_pt.htm
28
VIII. Génese e desenvolvimento da política regional europeia
1. Artigo 158.º e seguintes do Tratado que constitui a Comunidade Europeia.
Art. 158.º: A fim de promover um desenvolvimento harmonioso do conjunto da
Comunidade, esta desenvolve e prossegue a sua ação no sentido de reforçar a
sua coesão económica e social.
Em especial, a Comunidade procura reduzir a disparidade entre os níveis de
desenvolvimento das diversas regiões e o atraso das regiões e das ilhas mais
desfavorecidas, incluindo as zonas rurais.
2. O desenvolvimento da política regional europeia em Portugal
3. Disposições gerais 2007-‐2013
O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) é atualmente o mais
importante. Apoia, desde 1975, a realização de infraestruturas e investimentos
produtivos geradores de emprego, nomeadamente destinados às empresas.
O Fundo Social Europeu (FSE), instituído em 1958, apoia a inserção profissional
dos desempregados e das categorias da população desfavorecidas, financiando,
nomeadamente, ações de formação.
Bibliografia:
→ http://europa.eu/pol/reg/index_pt.htm
29
IX. O planeamento do desenvolvimento regional. QCA e QREN. Os recursos financeiros – Fundos estruturais, fundo de coesão e iniciativas comunitárias
Programação
1989-‐1993 1994-‐1999 2000-‐2006 2007-‐2013 2014-‐2020 Programa de Desenvolvimento Regional
Quadro Comunitário de Apoio QREN
Programas Operacionais – PO Complementos
de Programação
Programas de Iniciativa
Comunitária – PIC
O QCA III apresentava a seguinte estrutura:
a) 12 Programas Estruturais Sectoriais:
-‐ Educação.
-‐ Emprego, formação e desenvolvimento social.
-‐ Ciências e inovação 2010.
-‐ Sociedade do conhecimento.
-‐ Saúde.
-‐ Cultura.
-‐ Administração Pública.
-‐ Agricultura e desenvolvimento rural.
-‐ Pescas.
-‐ Economia.
-‐ Acessibilidades e transportes.
30
-‐ Ambiente.
b) 5 PO regionais do Continente:
-‐ Norte.
-‐ Centro.
-‐ Lisboa e Vale do Tejo.
-‐ Alentejo.
-‐ Algarve.
c) 2 PO regiões autónomas
-‐ Açores.
-‐ Madeira.
d) 1 PO assistência técnica
O QREN 2007-‐2013:
a) 3 PO temáticos:
-‐ Fator de competitividade.
-‐ Potencial humano.
-‐ Valorização teritorial.
b) 5 PO regionais do Continente:
-‐ Norte.
-‐ Centro.
-‐ Lisboa e Vale do Tejo.
-‐ Alentejo.
-‐ Algarve.
c) 4 PO Regiões Autónomas:
-‐ Açores (FSE, FEDER).
-‐ Madeira (FSE, FEDER).
d) 3 PO cooperação territorial:
-‐ Transfronteiriça.
-‐ Transnacional.
-‐ Interregional.
31
e) 5 Prioridades Estratégicas:
-‐ Promover a qualificação dos portugueses.
-‐ Promover o crescimento sustentado.
-‐ Garantir a Coesão Social.
-‐ Assegurar a qualificação do território e das cidades.
-‐ Aumentar a eficiência da governação.
Princípios estruturantes para o QREN e PO’s
1. Concentração operacional.
2. Seletividade nos investimentos e nas ações de desenvolvimento.
3. Viabilidade económica e sustentabilidade financeira das operações.
4. Coesão e valorização territoriais.
5. Gestão e monitorização estratégica das intervenções.
cf. Orientações Estratégicas Comunitárias para a Coesão (determinam o quadro europeu
de referência para os instrumentos nacionais e regionais de programação).
Apresentação dos PO’s Temáticos e Regionais.
Bibliografia:
→ http://www.qren.pt
32
X. Aproximação a um programa específico: Pólis XXI. Candidaturas, redes e parcerias como novo paradigma para o desenvolvimento urbano e regional
A política de cidades Pólis XXI visa dotar as cidades portuguesas de características
fundamentais para o seu desenvolvimento e qualidade, através do cumprimento
de objetivos operativos:
• Qualificação e coesão
• Competitividade e projeção nacional e internacional
• Integração na região envolvente
• Inovação nas soluções
Bibliografia:
→ http://www.dgotdu.pt/pc/
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