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OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NO BRASIL COMO MANIFESTAÇÃO DO PODER OLIGÁRQUICO

Bráulio Santos Rabelo de AraújoINTERVOZES – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Os meios de comunicação de massa no Brasil como manifestação do poder oligárquico

1. Breve evolução distórica: do direito à liberdade de expressão ao direito à comunicação.

1.1. Evolução histórica da imprensa.1.2. O direito à liberdade de expressão. Dimensão negativa e subjetiva.1.3. A crítica aos meios de comunicação de massa1.4. O direito à informação. Dimensão positiva e ojetiva.1.5. A insuficiência da auto-regulação da imprensa e do direito à informação1.6. O direio à comunicação. Dimensão positiva e objetiva.

2. A radiodifusão no Brasil. Breve evolução histórica.

2.1. A predominância do sistema privado-comercial e a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

3. Os problemas atuais da radiodifusão.

Artigo 220. Concentração, monopólio e oligopólio.Artigo 221. O não cumprimento e a não regulamentação dos princípios estabelecidos

pelo artigo 221.Artigo 223. A não complementariedade entre os sistemas público, privado e estatal. A

predominância do sistema privado.Coronelismo eletrônico.

4. As alternativas. As propostas aprovadas na 1a Conferência Nacional de Comunicação.

5. Conclusões.

A não concretização do direito à comunicação em sua 1a dimensão.A não concretização do direito à comunicação em sua 3a dimensão.O não cumprimento pela imprensa de suas funções na democracia.A necessidade de uma regulamentação que permita o controle público dos meios de

comunicação de massa no Brasil.

1.1.Evolução histórica da imprensa.

Imprensa surguiu como meio de fiscalização do poder e transmissão da reflexão pública ao Estado.

1.1.Evolução histórica da imprensa.

Cidadãos possuíam condições isonômicas para se comunicar.Tabela 5 Custo para abertura de um jornal nos Estados Unidos 1835-1850

Ano Custo para fundação de um jornal (em dólares)

Valor atualizado para o valor do dólar em 2005

Variação com base no custo de 1835

1835 500 10400 -1840 5.000 a 10.000 106.000-212.000 Aumento de 10 a 20

vezes o gasto para abertura de jornal em 1835

1850 100000 2,38 milhões Aumento de 200 vezes o gasto para abertura de jornal em 1835

Fonte: BENKLER, Yochai, The Wealth of Networks, cit., p. 188.

1.1.Evolução histórica da imprensa.

Limite principal à comunicação: Estado.

Formas de controle: Censura (licença prévia); imposição de tributos; processos criminais por difamação

Não obstante, não havia impedimento a que o Estado atuasse positiviamente, fornecendo estruturas necessárias ao espaço público.

Constituição dos Estados Unidos. Emenda I. Ratificada em 15/12/1791. O Congresso não legislará a respeito do estabelecimento de uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de expressão, ou de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus agravos. (tradução livre do autor).

Artigo I. O Poder Legislativo. Seção 8. Poderes do Congresso. Estabelecer postos e estradas para o Correio.

1.1.Evolução histórica da imprensa.

Industrialização e mercantilização da imprensa.

Imprensa antes era atividade essencialmente política. Não gerava grandes lucros e por isso não atraía o capital.

Evolução tecnológica. Máquinas de imprensa permitem a impressão de quantidades cada vez maiores de jornal.

Economia de escala. Quanto maior o volume produzido, menor o preço.

Mudança da fonte de financiamento. Introdução da publicidade. Venda de exemplares x publicidade.

Meios de comunicação, publicidade e público. Mercado de dois lados. Publicidade e meios querem um público cada vez maior e modificam o conteúdo para atrair mais público. Cidadãos, ao contrário, o importante é a cobertura de assuntos de interesse público.

1.1.Evolução histórica da imprensa.

Resultados da industrialização.

1. Concentração dos meios.

Aumento de capital necessário para a atividade de comunicação. Meios de comunicação passam a ter estrutura semelhante a outras indústrias (linha de produção mecanizada).

Necessidade de vender maior volume de exemplares para obter economia de escala. Pressão da publicidade para atingir maior público.

Redução da proporção entre o número de veículos e número de habitantes.

Não há mais condições isonômicas para que todos os cidadãos possam se comunicar. Aumento dos custos para se abrir um meio de comunicação.

2. Mudança do conteúdo. Popularização dos meios.

Redução da cobertura da política, economia e sociedade.

Aumento da cobertura de casos policiais, violência, esportes, colunas sociais, humor, etc.

3. Censura estrutural.

Mudança das condições de concorrência (venda de exemplares x publicidade).

Meios de comunicação que contrariam interesses do capital publicitário – proveniente principalmente do empresariado e do governo – perdem espaço.

Fechamento ou redução da amplitude de veículos de comunicação de trabalhadores.

Observação: Radiodifusão percorreu o mesmo caminho. Surge como um meio possível de servir a um espaço público amplo e democrático. Condições isonômicas de participação da comunicação. Passa pela industrialização. Concentração. Chega-se assim ao mesmo cenário da imprensa escrita.

1.2. O direito à liberdade de expressão.

Séculos XVII e XVIII.

Superação da censura prévia na Inglaterra em 1695;

Reconhecimento da liberdade de expressão nos Estados Unidos pela Constituição de Virginia (Virginia's Bill of Rights, artigo 12), de 12 de junho de 1776, e pela da Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, de 1791

Reconhecimento da liberdade de expressão na França, pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789, posteriormente incluída na Constituição de 1791 (artigo 11).

1.2. O direito à liberdade de expressão.

Conteúdo: direito do cidadão de se expressar sem sofrer qualquer restrição por parte do estado. 1a dimensão dos direitos fundamentais.

Trata-se de uma proibição ao Estado de limitar de qualquer forma a expressão dos cidadãos.

Conteúdo negativo: Estado deve abster de tomar qualquer medida.

Conteúdo subjetivo: Direito do indivíduo contra o Estado.

Contexto: surgimento da imprensa política; demanda de evitar a censura e repressão por parte do Estado.

Não obstante, não havia impedimento a que o Estado atuasse positiviamente, fornecendo estruturas necessárias ao espaço público.

1.3. A crítica aos meios de comunicação de massa

Concentração dos meios de comunicação gerou críticas. Liberdade de expressão já não era de todos. Poder de fala é concentrado.

Imprensa respondeu a essas críticas com os códigos de ética da imprensa. Documento base: Relatório Hutchins.

Reconhecimento da evolução histórica, industrialização e concentração da imprensa.

Reconhecimento de que já não é mais possível que todos os cidadãos tenham o poder/direito de se comunicar.

Reconhecimento de que são poucos os que detém o poder de comunicação na sociedade do s;eculo XX.

1.3. A crítica aos meios de comunicação de massa

Solução encontrada: ao invés de alterar a estrutura, a imprensa foi reconhecida como o espaço público; como o local no qual fluem as informações e opiniões.

Por ser esse espaço, os meios de comunicação (grandes empresas) deveriam reconhecer e assumir a sua responsabilidade social.

Deveriam ser conduzidos como empresas de interesse público (“public trustees); não poderiam ser conduzidos como qualquer negócio privado.

Não se admite entretanto (Relatório Hutchins) a intervenção do Estado no sentido de regulamentar as empresas como o fazia no caso de outras empresas prestadoras de serviço público (como universalização do acesso, controle dos preços, etc).

Para assumir sua responsabilidade a imprensa deveria seguir determinadas regras. Código de ética. São vários os exemplos. Aqui destaco as cinco regras citadas pelo Relatório Hutchins:

1. Cobertura verdadeira, abrangente e inteligente dos eventos do dia, em um contexto que que demonstre o seu significado. Precisão e dever da verdade. Dever dos repórteres de buscar as fontes primáricas. Distinção de fato e opinião.

2. Fórum para a troca de comentários e críticas. Imprensa não deve ser obrigada a publicar todas as idéias, mas deve assumir a responsabilidade de publicar as idéias significativas, ou seja, incorporar e representar de forma equilibrada todos os pontos de vista e interesses relevantes da sociedade. Meios de comunicação como espaço público.

3. A projeção de uma imagem representativa dos grupos que constituem a sociedade.

4. A representação e esclarecimento dos objetivos e valores da sociedade.

5. O acesso completo à inteligência do dia, ou seja, à pluralidade de correntes de pensamento e informação de uma sociedade.

1.4. O direito à informação.

Século XX. Pós-guerra.

Contexto:

Concentração da informação e do poder de comunicação pelos meios de comunicação de massa.

Utilização dos meios de comunicação pelos Estados, ao longo da guerra, para propaganda ideológica e manipulação dos fatos.

1.4. O direito à informação.

Conteúdo: o direito à informação é o direito de ter acesso às informações acerca do exercício do poder estatal e dos temas de interesse público.

Ayrton Seelaender o define como:

“a salvaguarda jurídica do interesse dos que se encontram sob o poder, de que se lhes participe como tal poder está sendo utilizado. Consiste, dessa forma, em um direito subjetivo à recepção de informações – em um 'direito à informação verídica sobre os acontecimentos públicos'”1.

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1.4. O direito à informação.

Conteúdo positivo: Direito de ter acesso à informações. Corresponde não apenas à uma posição negativa do Estado (não intervenção). Estado deve fornecer informações sobre o exercício do poder ao cidadão e meios de comunicação privado devem informar adequadamente os cidadãos. Dever da verdade, da ampla cobertura e da representação correta e equilibrada dos grupos sociais.

Não obstante, o direito à informação afirma ainda um caráter submisso do cidadão. Vejam: direito “dos que se encontram sob o poder de que se lhes participe com como tal poder está sendo utilizado”. Quem informa e quem exerce o poder não é o cidadão. Reconhece que o poder de fala é concentrado nos meios de comunicação e no Estado.

3a dimensão dos direitos fundamentais.

1.5. A insuficiência da auto-regulação da imprensae do direito à informação

Insuficiência das auto-regulação da imprensa. Habermas e Chomsky e Hermann.

Chomsky e Hermann: Comunicação manipulada, comunicação como propaganda é mais facilmente identificável em países em que há censura oficial e a mídia é controlada pelo Estado. Não obstante, os autores afirmam que os sistemas de mídia comercial são instrumentos de manipulação e propaganda.

1.5. A insuficiência da auto-regulação da imprensae do direito à informação

Chomsky e Hermann: Manipulação da comunicação é mais facilmente identificável em países em que há censura oficial e a mídia é controlada pelo Estado. Não obstante, os sistemas de mídia comercial também funcionam como instrumentos de manipulação e propaganda.

5 elementos centrais que permitem o controle e a filtragem do conteúdo da imprensa pelos atores que controlam e financiam a mídia:

1. O porte, a concentração da propriedade, a fortuna dos proprietários e a orientação para o lucro das empresas que dominam a mídia de massa.

2. A propaganda como principal fonte de recursos da mídia de massa.

3. A dependência da mídia de informações fornecidas pelo governo, por empresas e por 'especialistas' financiados e aprovados por essas fontes primárias e agentes do poder. Predomínio das “fontes oficiais”.

1.5. A insuficiência da auto-regulação da imprensae do direito à informação

4. A “bateria de reações negativas como forma de disciplinar a mídia”. Refere-se à grande capacidade que o governo e o setor privado têm para contestar e pressionar a mídia contra notícias e pontos de vista que sejam contrários a seus interesses.

5. . O anticomunismo como religião oficial e mecanismo de controle. Depois da queda da União Soviética, os autores entendem que essa ideologia foi substituída pelo apoio à ideologia do mercado como a instituição adequada para promover o bem estar e a democracia.

Por ser instrumento de manipulação, a mídia de massa não é capaz de cumprir suas principais funções dentro do espaço público, quais sejam (i) a de informar devidamente o público acerca dos assuntos públicos de relevância, (ii) a de controlar o poder estatal e o poder privado, e (iii) a de oferecer uma estrutura de comunicação na qual os cidadãos tenham condições equilibradas para se comunicar.

1.5. A insuficiência da auto-regulação da imprensae do direito à informação

Chomsky e Herman não pressupõe que esses elementos estruturais exerçam uma dominação homogênea. Os autores reconhecem que as organizações da mídia e os indivíduos que dela fazem parte possuem uma autonomia relativa e que há valores profissionais e individuais que informam o trabalho e que, em conjunto, permitem a cobertura de fatos e a inclusão de opiniões contrárias aos interesses dos atores que controlam e financiam a mídia. Na verdade, essa falta de homogeneidade serve para legitimar e assim fortalecer o sistema. Permite a existência de um pequeno espaço para a cobertura de uma diversidade de fatos e opiniões, mas os mantém em uma posição marginal, que não ameaça a preponderância das notícias, pautas e pontos de vista da agenda oficial. Da mesma forma, o modelo não pressupõe a existência de uma política de controle da mídia estabelecida formalmente, nem administrada de forma centralizada pelos atores que a controlam e a financiam. Sustenta, ao contrário, que a estrutura da mídia privada e concentrada permite que o governo e o setor privado exerçam uma influência predominante sobre o seu conteúdo sem praticarem uma censura direta.

1.6. O direito à comunicação

Contexto: crítica aos meios de comunicação de massa. Insuficiência do direito à liberdade de expressão e do direito à informação.

Direito de comunicar não se resume ao direito de receber comunicação ou de ser informado. Comunicação é processo bidirecional, cujos participantes individuais ou coletivos devem ter condições de manter um diálogo democrático e equilibrado. Idéia de diálogo contraposta à de monólogo. Comunicação como fluxo bidirecional.

Necessidade de ampliar o poder de fala aos cidadãos. Cidadãos ou, ao menos, os diversos grupos sociais devem ter possibilidades isonômicas de se comunicar.

Definição: Direito à comunicação é o direito do cidadão de participar com igualdade de condições no processo de comunicação pública.

Conteúdo positivo: Estado tem a obrigação de atuar positivamente para garantir condições estruturais à realização desse direito. 3a dimensão dos direitos humanos.

1.6. O direito à comunicação

Relatório MacBride

Reconhecimento da existência de limites evidentes e não evidentes ao direito à comunicação.

Limites evidentes:

Dimensão negativa do direito à comunicação. 1a dimensão dos direitos fundamentais. Limites que resultam da interferência do Estado sobre o direito de expressão do indivíduo.Censura.Tributação.Perseguição a jornalistas.Falta de autonomia dos meios de comunicação.

1.6. O direito à comunicação

Limites não evidentes. Estruturais.

Concentração da propriedade.Predomínio da comunicação comercial em prejuízo da comunicação pública não estatal.Comunicação não é mercado. Comunicação é um direito humano. É um direito fundamental.

2. A radiodifusão no Brasil. Breve evolução histórica.

Primeira emissão ocorreu em 1922, no centenário da independência brasileira.

Primeira estação de rádio. Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Fundada por Roquete Pinto e Henry Morize no Rio de Janeiro em 1923.

No início, radiodifusão voltava-se a finalidades educativas e culturais.

Financiamento: formação de clubes e pagamento de mensalidades. Situação financeira precária.

2. A radiodifusão no Brasil. Breve evolução histórica.

Predomínio da sociedade civil. Não atraía grande capital nem o governo.

Desinteresse do governo. A falta de disposição do Estado brasileiro em considerar a comunicação como uma atividade relevante é ilustrada pelo caso do padre brasileiro Roberto Landell de Moura, que desenvolveu e chegou a patentear nos Estados Unidos aparelhos telegráficos e radiofônicos mas, em 1904, teve seu pedido de auxílio negado pelo presidente Rodrigues Alves, além de ter sido taxado de “louco” (DANTAS, 2002, p. 131; 135; RODRIGUES, 2009, p. 163).

Não obstante, desde o início identifica-se a relação próxima entre empresários radiodifusores e Estado:

Rádio Sociedade foi aberta com equipamento importado do governo. Outra rádio também assim o fez. Houve auxílios governamentais para a montagem de rádios e importação de equipamentos.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

1930. Novo Contexto.

Centralização do Estado. Fim das oligarquias regionais.

Desenvolvimento do aparelho estatal de intervenção no domínio econômico, social e na segurança pública (liberdades individuais – aparelho de repressão estatal).

Estado centralizado: cresce o interesse sobre a radiodifusão.

Surge uma nova regulamentação da radiodifusão. Decretos 20.047/1931 e 21.111/1932.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

O modelo comercial

Surge uma nova regulamentação da radiodifusão. Decretos 20.047/1931 e 21.111/1932. Posteriormente, decreto 24.655/1934.

Sistema adotado: modelo privado comercial, rigidamente controlado pelo Estado.

Financiamento: publicidade.

O Decreto 16.657/1924 (primeira norma que regulamentou a radiodifusão) permitia a veiculação de publicidade apenas mediante a autorização do governo.

Decreto 21.111/1932 permitiu 10% do tempo da programação em publicidade. Decreto 24.655 aumentou para 20%.

Forte desenvolvimento da radiodifusão. Crescimento do número de rádios.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

O modelo comercial

Televisão seguiu o mesmo rumo. Desde o início se estabeleceu sob o modelo privado e comercial.

Publicidade das redes de rádio e televisão foi importante para a industrialização e para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil = Formação de mercado consumidor.

Data da mesma época a entrada das grandes agências de publicidade no país.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Havia na década de 1930 a intenção de se instalar um sistema estatal. Decretos falam sobre a criação de uma rede nacional de radiodifusão.

Lembrar da inclinação de Vargas pelos regimes fascistas, onde havia controle estatal da radiodifusão.

Não obstante, a iniciativa estatal limitou-se(i) ao programa nacional - “A Hora do Brasil”;(ii) à obrigação das emissoras de transmitirem em rede nacional quando solicitada pelo governo.querendo ser modelo estatral; e (iii) ao rígido controle das emissoras privadas.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

O rígido controle das emissoras privadas

Censura: de 1930 a 1988.

De 1930 a 1945, especialmente na época do Estado Novo, censura era forte.

A partir de 1946: Mesmo com a Constituição mais liberal, a censura deixou de se aplicar às transmissões ao vivo e à programação jornalística, mas continuava a se aplicar sobre outras produções de radiodifusão como novelas.

Na época da ditadura a censura voltou a se realizar.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

O rígido controle das emissoras privadas

Concessionárias de radiodifusão poderiam ter o serviço suspenso por prazo indeterminado sem pagamento de indenização. Poderiam também ser desapropriadas a qualquer momento.

Prazo das concessões era de no máximo 10 anos, ou seja, não havia prazo fixo definido.

Até 1962, não havia garantia nem critérios de renovação. A renovação ou não submetia-se ao juízo do governo.

Até 1962, a regulamentação da radiodifusão era feita mediante decreto.

Jânio Quadros. Decreto n. 50.840/1961. Redução do prazo das concessões de no máximo 10 anos para no máximo 3 anos.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

1962. O Código Brasileito de Telecomunicações.

1962. Código Brasileiro de Telecomunicações. Unificação da regulamentação da radiodifusão e das telecomunicações no Brasil. Vitória dos empresários da radiodifusão.

Prazo fixo de 10 anos para rádio e de 15 anos para televisão.

Garantia de renovação mediante o atendimento às normas aplicáveis à radiodifusão.

Poucas regras contra a concentração da propriedade. Inexistência de regras contra a formação de redes.

Limite de publicidade vai a 25%.

Inexistência de estímulo à produção regional e independente.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Persiste a proximidade e a influência do Estado.

Até 1996, outorga de concessões e permissões de radiodifusão não era precedida de licitação.

Pior: Havia edital para apresentação das propostas e o Ministério das Comunicações (antes o Contel) emitia parecer classificando as propostas conforme determinados critérios, v.g., o volume de serviço noticioso.

Não obstante, o Presidente podia escolher livremente a proposta vencedora.“Art. 16. Findo o praz do Edital, o CONTEL verificará quais as proposta que satisfazem os requisitos constantes do mesmo, ea) em se tratando de concessão, o CONTEL emitirá parecer sôbre as condições de execução do serviço, indicando, para a livre escolha do Presidente da República, as pretendentes que atenderam às exigências do Edital;”

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Persiste a proximidade e a influência do Estado.

Mesmo após 1.996, para as concessões de radiodifusão educativa, não há necessidade de licitação.

Resultado: Instrumentalização política das outorgas pelo Estado.

Outorgas de radiodifusão:

(i) são distribuídas aos preferidos do governo; e(ii) são utilizadas como moeda de troca de favores políticos

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Instrumentalização política das outorgas pelo Estado.

Sociedade mais liberal que se formou a partir da Constituição de 1946 permitiu que camadas populares, setores nacionalistas e partidos de oposição tivessem acesso aos meios de radiodifusão. Amorim (AMORIM, p. 58-59) relata , por exemplo, que

“emissoras de rádio importantes, por sua colocação geográfica, prestígio e potência, como a Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, e a Marconi, em São Paulo, mantinham uma orientação progressista. Mesmo emissoras de televisão, cuja sobrevivência hoje [o texto data de 1983] dentro de uma linha editorial próxima da ideologia oficial, estiveram na década de cinqüenta nas mãos de diferentes facções partidárias”(grifo nosso)2.

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2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Instrumentalização política das outorgas pelo Estado.

Após 1964, no entanto, o sistema se fecha e se concentra em torno da burguesia radiodifusora aliada ao Estado ditatorial.

Oposição ou as camadas populares não tiveram mais acesso à radiodifusão, exceto como convidados de programas ou como personagens de noticiários3.

Outorgas de concessões foi largamente utilizada pelo Executivo como forma de uniformizar a orientação no sistema de radiodifusão brasileiro4.

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2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

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5 LOBATO, Elvira. FHC distribuiu rádios e TVs educativas para políticos. Folha de São Paulo, 25.08.2002. Disponível em: [http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp280820025.htm] Acesso em: 10.04.2010.

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

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2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

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Período de redemocratização. Entre 1985 e 1988, o governo José Sarney distribuiu 91 outorgas de radiodifusão diretamente a deputados e senadores constituintes (MOTTER, 1994, p. 89-115). Dos 559 constituintes, 146 parlamentares, ou 26,1% do total, eram controladores de empresas prestadoras do serviço de radiodifusão (MOTTER, 1994, p. 89-115).

O governo Fernando Henrique Cardoso distribuiu 357 outorgas de radiodifusão educativa, entre as quais ao menos 23 foram direta ou indiretamente para políticos (LOBATO, 2002).

O Governo Lula, por sua vez, havia distribuído, até agosto de 2006, 110 outorgas de emissoras educativas, entre as quais ao menos 7 canais de TV e 27 de rádio foram distribuídos a fundações ligadas a políticos (LOBATO, 2006).

2.1. A predominância do sistema privado-comerciale a instrumentalização política das outorgas pelo Estado

Instrumentalização política das outorgas pelo Estado.

Lima e Lopes apontam que das 2205 rádios comunitárias autorizadas pelo Ministério das Comunicações de 1999 a 2004, 1106 (50,2%) tinham vínculos políticos (LIMA; LOPES, 2007, p. 40).

Na atual legislatura, 52 deputados (10,15%) e 18 senadores (22%) são sócios ou associados de pessoas jurídicas concessionárias, permissionárias ou autorizatárias de radiodifusão (TRANSPARÊNCIA BRASIL, 2011).

Objetivo da imprensa é controlar a conduta dos que exercem o poder Estatal. Radiodifusão é o principal órgão de imprensa no Brasil. Como pode a imprensa controlar quem a controla?

3. Os problemas atuais da radiodifusão

A falta de concretização das normas constitucionais.

Concentração do mercado de radiodifusão. Rede Globo concentra 74,5% das verbas publicitárias. Principais redes comerciais concentram 99.1%. Monopólio ou, ao menos, oligopólio (Art. 220 da CF).

Concentração geográfica da produção. Falta de estímulo à produção regional (art. 221 da CF).

Concentração empresarial da produção. Falta de estímulo à produção independente (art. 221 da CF).

Falta de complementariedade dos meios de radiodifusão (artigo 223 da CF). Sistemas público, privado e estatal. Predomínio do sistema privado. Carência do sistema público. Perseguição ao sistema comunitário.

Violação aos direitos humanos. Má e sub representação dos grupos sociais (art. 221 e outros da Constituição).

4. As alternativas.

As propostas aprovadas na 1a Conferência Nacional de Comunicação.

5. Conclusões

O direito à comunicação é fruto de uma evolução das demandas sociais e das mudanças no espaço público (tecnologias, mercado, Estado e sociedade civil).

Direito à liberdade de expressão: direito de se expressar sem intervenção do Estado. 1a

dimensão.

Direito à informação: direito à receber informações corretas sobre os acontecimentos sociais relevantes. 3a dimensão.

Direito à comunicação: direito de participar com igualdade de condições no processo de comunicação pública. 3a dimensão.

5. Conclusões

No Brasil, os principais desafios referem-se à dimensão estrutural do direito à comunicação:

Necessidade de regulamentação.Controle da propriedade.Fortalecimento do sistema público.Fortalecimento da radiodifusão comunitária.Controle público dos meios de comunicação privados.

Não obstante, sequer realizamos a 1a dimensão do direito à comunicação. Não há autonomia dos meios de comunicação perante o Estado.

5. Conclusões

A não concretização do direito à comunicação em sua 1a dimensão.

A não concretização do direito à comunicação em sua 3a dimensão.

O não cumprimento pela imprensa de suas funções na democracia.

A necessidade de uma regulamentação que permita o controle público dos meios de comunicação de massa no Brasil.

Referencias bibliográficas

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