a escola É realmente um espaÇo de desmotivaÇÃo aos...
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A ESCOLA É REALMENTE UM ESPAÇO DE DESMOTIVAÇÃO AOS
ALUNOS?
Fernanda Ferrarini1
Nilda Stecanela - Orientadora2
Lisandra Pacheco da Silva - Coorientadora3
Resumo
Há tempos está em voga uma tendência que preocupa o meio educacional. Uma espécie de mal-estar que
permeia e envolve o “fazer pedagógico” dos docentes, como um entrave, que angustia a maioria dos
profissionais da Educação, em especial, a equipe da Escola São Rafael. Revela-se sutilmente como um
esmorecer do interesse dos alunos. Depois, transforma-se e cresce, aos poucos, como um sentimento de
desmotivação, de acordo com as conclusões dos professores. Então, o questionamento crucial surge: de
quem é a culpa? Será mesmo que a desmotivação é oriunda do ambiente escolar e/ou da prática docente,
da estrutura das escolas e/ou da carência tecnológica? Assim, as angústias dos professores desvendam a
preocupação em verificar, realmente, se a Escola transformou-se em um ambiente hostil aos estudantes.
Entretanto, não basta apenas identificar os problemas ou motivos endógenos e exógenos da provável
desmotivação, mas principalmente apontar caminhos que levem à motivação, por exemplo, a utilização da
metodologia de pesquisa em sala de aula, a partir do interesse dos alunos. E, a motivação, ainda existe no
âmbito escolar? No caso específico, os alunos do noturno da Escola São Rafael, revelam que a Escola é
um espaço de socialização, no sentido da troca de experiências, de aprendizado, de “Ser Alguém na
Vida”... Portanto, as motivações são constantes, pois afirmam que gostam do cotidiano escolar. No
entanto, a realidade desses estudantes demonstra que a jornada de trabalho interfere diretamente no
aprendizado. Isso, pois o cansaço afeta a produtividade e o próprio interesse em acompanhar o
desenvolvimento das aulas. Segundo dados da pesquisa empírica realizada pelos professores com os
alunos da escola, percebe-se que há a perda da “vontade” em acompanhar as explicações, as atividades,
enfim, o processo da aprendizagem. É comum atualmente perceber-se uma espécie de universalização do
uso das tecnologias como solução para todos os problemas, inclusive na Educação. Contudo, pela visão
dos discentes existem algumas restrições a esta tendência. Para eles, o professor ainda é importante e
fundamental para orientá-los, inclusive nos valores pertinentes ao crescimento pessoal. Sentem a
necessidade da presença concreta do “mestre”, a fim de indicar os melhores caminhos a percorrer, em
busca do sucesso escolar, da realização profissional e pessoal.
Palavras-chave: Escola. Ensino Médio Noturno. (Des)motivação do aluno. Expectativas em relação a
escola.
INTRODUÇÃO
Desafiados a explicitar as inquietações sobre as problemáticas da docência na
Educação Básica, considerando o cotidiano da escola contemporânea, nós, professores
devemos voltar nossa reflexão para os aspectos que transversalizam as nossas práticas,
1 Licenciada em História pela Universidade de Caxias do Sul. Pós-graduada no curso de Especialização
em História, Cultura e Região pela Universidade de Caxias do Sul. Professora e vice-diretora da Rede
Estadual de Ensino no município de Flores da Cunha/RS. 2 Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Diretora do Centro de
Filosofia e Educação e docente do programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias
do Sul (UCS). Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul. 3 Mestre em Educação pela UFRGS. Especialista em Educação a Distância pela UCS e Licenciada em
Pedagogia pela UCS.
2
como docentes, os quais tanto dificultam quanto potencializam a relação pedagógica.
Deste modo, buscamos saber o motivo pelo qual alguns alunos estão (des)motivados, e
as reais causas disso. Por isso, torna-se fundamental escutar o que os alunos esperam da
escola e o que consideram interessante para uma aula. Será que as manifestações de
apatia e/ou de rebeldia em relação à escola são elementos que caracterizam motivação
ou desmotivação dos alunos pela escola?
No entanto, diz-se que se há desmotivação, talvez, seja necessário descobrir
quais são as causas e/ou motivos que levam os alunos, com o passar dos anos, a se
desmotivarem em relação à escola. Neste sentido, quais seriam os fatores (internos ou
externos) que levariam os jovens a se distanciar ou se aproximar daquilo que a escola
quer ensinar?
Em relação específica ao uso da pesquisa em sala de aula, acredito ser um
aprendizado concreto e pode criar um grande interesse e motivação nos alunos.
Sempre é valido aprender algo novo, como trabalhar com a pesquisa, construção de
projetos, levantamento bibliográfico e das produções dos discentes, não apenas uma
mera reprodução de conhecimentos.
Torna-se fundamental reviver as situações de aprendizagem para a
elaboração passo a passo de um projeto de pesquisa e também da própria pesquisa.
Obviamente, dificuldades, dúvidas e até surpresas, com os resultados, surgem no
momento da elaboração e aplicação das etapas da pesquisa. Vislumbrar como os
alunos vão reagir diante da proposta do uso pedagógico da pesquisa em sala de aula
parece uma incógnita, mas bem orientados haverá una compreensão da importância
dessa atividade. Assim, relega-se aos professores um compromisso e, com certeza,
um sentimento de “mais uma etapa vencida”.
Na organização dos dados recolhidos nas entrevistas de campo, realizadas com
16 alunos do Ensino Médio Noturno, algumas informações são de extrema importância
para se conhecer os alunos da Escola São Rafael, especialmente aqueles que compõem o
Ensino Médio Noturno, bem como sua realidade de mundo. Além disso, são relevantes
também as expectativas quanto à escola, aulas e até do próprio futuro, enquanto
educandos e profissionais, já inseridos no mercado de trabalho.
Dessa forma, os dados decodificados a partir de gráficos e as referências das
respostas abertas da pesquisa empírica, conduzem a buscar compreender as situações
que motivam ou desmotivam os discentes. Diante da quantidade de alunos do Ensino
3
Médio Noturno da escola (aproximadamente 160), optou-se por uma amostra de dez por
cento (10%) do total dos alunos, portanto uma análise por amostragem.
1. Pesquisa na Escola: estratégia de motivação
Vivemos numa época em que as atividades de pesquisa na escola têm sido
valorizadas, mas, surgem questionamentos: Como tornar a pesquisa atrativa? Será que a
pesquisa seria capaz de inverter a falta de interesse do aluno na sua própria
aprendizagem?
Para Moraes (2007, p.01), o trabalho com pesquisa em sala de aula permite ao
aluno um maior envolvimento no jogo da aprendizagem. Jogar este jogo é fazer
perguntas e respondê-las, enfrentar desafios e resolvê-los. O estudioso ainda destaca
que, nesse processo, os alunos são os próprios sujeitos das transformações sociais dos
contextos em que vivem e, dessa forma, constroem conhecimento de forma mais
significativa.
Humberto Santos4 afirma que a pesquisa é uma excelente estratégia para a
autoconstrução da aprendizagem do aluno. Com isso, surge a oportunidade de
desenvolver a autonomia na construção da aprendizagem. Sabemos que é impossível à
Escola fornecer todo o conhecimento necessário. É por isso que hoje, as escolas do
século XXI, estão mais preocupadas em desenvolver nos alunos a capacidade de
aprender por si próprios, ao longo da vida, do que encher a sua cabeça com muita
informação teórica. A pesquisa também fortalece a responsabilidade do aluno para com
a sua aprendizagem.
Seria possível motivar os alunos, despertando-lhes o interesse pelo ambiente
escolar, bem como comprometê-los em alcançar bons resultados. Ainda, de acordo com
Santos (2009), a escola deve habituar os alunos, desde cedo, a pesquisar porque afinal o
mundo depende da investigação. Os avanços que alcançamos na nossa sociedade são
graças ao trabalho de pesquisa dos cientistas e investigadores. A escola não deve apenas
proporcionar a pesquisa, mas deve acima de tudo explicar a sua importância para a
aprendizagem, para a humanidade, e desenvolver o gosto pela investigação.
4
SANTOS, Humberto. A importância da pesquisa na escola. Cogito, 2009.
<http://betossanto.blogspot.com.br/2009/08/importancia-da-pesquisa-na-escola.html>. Acesso em 15
outubro 2013.
4
De outro lado, também há um descompasso entre aluno/professor/escola causado
pela relação das novas tecnologias com os envolvidos. Por isso, é necessário identificar
os problemas que circundam as dificuldades de aprendizagem. Por exemplo, no caso da
pesquisa científica,
(...) sabemos que os alunos têm a tendência de simplesmente copiar das fontes o
assunto da pesquisa e não se interessam por fazer um trabalho de tratamento da
informação. Nós os professores devemos ajudar os alunos a tirar esta ideia da
cabeça. E temos que não só ensiná-los a pesquisar, como também a selecionar as
informações mais importantes, a analisar, sintetizar e produzir um conteúdo novo a
partir das fontes originais, capaz de sentirem-se dono da sua aprendizagem, capazes
de produzir os seus próprios raciocínios. O professor deve orientar minimamente os
alunos na pesquisa, disponibilizando informações sobre o que devem pesquisar e
alguma pista bibliográfica. Hoje em dia as pesquisas se fazem principalmente
através da Internet utilizando motores de busca como o Google, ou a “Universidade
Google” como alguém já o chamou. Mas não se deve dispensar os alunos de
pesquisar nas bibliotecas, usando livros, revistas, artigos científicos, enciclopédias,
documentários e entrevistas.5
De certa forma, o professor Eduardo de Freitas6, também compartilha com a
teoria da (des)motivação. Para ele, a etapa técnico-científica informacional, que a
humanidade está atravessando, e a ascensão dos meios de comunicação têm facilitado o
acesso às informações. Entretanto, devem ser usados, como base de pesquisas, os livros,
as revistas, os artigos científicos, as enciclopédias, os documentários, as entrevistas, a
internet, entre outros materiais. A pesquisa na escola não pode ter apenas o objetivo de
ocupar o aluno, de modo que o mesmo não fique sem fazer nada em casa. Sua finalidade
é de formar pessoas curiosas acerca do que se passa no mundo, assim, por meio dessa
busca, o conhecimento será construído pelo próprio educando.
Mas, ao mesmo tempo, sabemos que os alunos têm outros interesses, mais
prioritários que os estudos como, por exemplo, as redes sociais, o trabalho, a diversão.
Nesse sentido, a escola hoje,
(...) concorre em larga desvantagem com os meios de comunicação de massa. Esses
lançam mão de recursos audiovisuais potentes para penetrar na subjetividade de seus
consumidores, atraindo a atenção em crescentes processos de adesão. Com a
televisão participando da socialização primária de crianças e jovens e, por que não
dizer, dos próprios pais, não há como negar que a escola vê-se diante de uma
imobilidade para superar o desafio da „mediatização da vida social‟ e para recuperar
seu papel socializador e legitimador. (STECANELA, 2009. p. 110).
5
SANTOS, Humberto. A importância da pesquisa na escola. Cogito, 2009.
<http://betossanto.blogspot.com.br/2009/08/importancia-da-pesquisa-na-escola.html>. Acesso em 15
outubro 2013. 6
FREITAS, Eduardo de. A importância da pesquisa na escola. Canal do Educador, s/d.
<http://educador.brasilescola.com/orientacoes/a-importancia-pesquisa-na-escola.htm>. Acesso em 15
outubro 2013.
5
Assim, despertar a motivação dos alunos é imprescindível. No cotidiano escolar,
conclui-se que a desmotivação leva à falta de interesse, à desatenção, à inquietação e à
frustração por grande parte dos alunos.
Talvez, para uma aproximação mais estreita com a realidade vivenciada em
nossa escola, e com os nossos alunos, seria interessante ter também o olhar dos próprios
alunos e escutá-los. Conforme Moraes (2007, p. 02), quando se consegue fazer com que
os próprios alunos assumam a função de perguntar, o aprender adquire novo sentido.
Desse modo, pesquisar em sala de aula é envolver-se na formulação e resolução de
problemas dos grupos envolvidos, o que se torna uma estratégia de aprendizagem
interessante e eficaz na produção de resultados significativos e duradouros.
A partir da escuta dos alunos e de nós mesmos, professores, podemos descobrir
os elementos que mobilizam a aprendizagem e o estar na escola. Sendo assim,
precisamos descobrir estratégias de ensino que os motivem para a aprendizagem e,
quem sabe, nos mantenha motivados também. Para isso, Klebis (2010) destaca que
a relação professor-aluno é o grande motivador do professor. Se ele sente prazer
nessa relação, vai ser um professor motivado, porque vai se comprometer com
aquela criança, aquele jovem. (...) o professor tem que “vestir a camiseta” do aluno,
tem que estar do lado dele, entendê-lo (...). E o aluno percebe isso. Quando o
professor gosta do que está fazendo, ele se torna extremamente fascinante aos olhos
dos alunos. A relação “apaixonada” do professor com o que ele trabalha e a forma
generosa com que ele trabalha (...)7.
Nossas metodologias de ensino precisam ser revistas e atualizadas de modo a
atender às demandas dos novos cenários da educação contemporânea. Nessa
perspectiva, novamente Moraes (2007, p. 03) afirma que, no educar pela pesquisa, o
professor passa a ser mediador e provocador das aprendizagens e crescimentos dos
alunos. Além disso, a pesquisa em sala de aula multiplica as possibilidades de
aprendizagem quando os alunos integram-se através de grupos de Internet. Nesse
sentido, os espaços virtuais não apenas oferecem acesso a uma infinidade de
informações e dados para solucionar os problemas propostos, como também constituem
7 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,
2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-
vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.
6
espaço de intensas interações onde as produções individuais e coletivas podem ser
gradativamente aperfeiçoadas.
A exemplo do que nos diz Roque Moraes (2007, p. 03-04): ao trabalhar com a
pesquisa em aula o professor e o aluno participam de um jogo de linguagens, através do
qual, ensinamos até mesmo o que não sabemos, invertendo as regras do jogo, nas quais
entram em cena a fala, a leitura e a escrita. De acordo com o estudioso, as
aprendizagens vão se constituindo na medida em que a fala qualifica e, através da
leitura de outros autores, conseguimos expressar nossas ideias em textos cada vez mais
qualificados. Para Amaral,
(...) fazer educação é, sobretudo, fazer escolhas, fazer opções: educar é, pela própria
natureza, uma seleção de valores, (...); e pra isso se necessita de pesquisa, da busca
por novos olhares, percepções. A pesquisa elimina o conceito de educação
dominadora/tradicional, ela abre espaço para argumentação, levantamento de
hipóteses, questionamentos, enfim a pesquisa é um meio muito rico de construir
conhecimento. Portanto, entende-se como pesquisa a busca de novas ideias,
palavras, pensamentos, atitudes, ver mais além, ver com outros olhos, uma busca
para solucionar problemas e situações que ocorrem em sala de aula. Assim, a
educação, sendo um processo contínuo, deve procurar o conhecimento no íntimo de
cada ser, deve olhar por todos os ângulos, o real das coisas não pode ser captado
pelo senso comum, sem questionamentos, aceitando só um tipo de resposta. A
pesquisa envolve todos os conteúdos contribuindo na construção de uma
aprendizagem significativa, criando uma oportunidade de autoconhecimento, autoaprendizagem, de reflexão, expressão e crescimento pessoal
8.
Moraes (2004, p. 02) também afirma que o professor que assume os riscos de
utilizar a pesquisa em suas aulas se propõe a ensinar o que não sabe. A partir daquilo
que ele e seus alunos já sabem. Com isso torna-se mediador e provocador dos seus
alunos, superando o papel transmissivo e desafiando-se constantemente a utilizar as
contribuições e conhecimentos dos alunos, para encaminhar sua reconstrução e
superação.
Os resultados da pesquisa sobre nossos próprios contextos de atuação docente
podem contribuir para modificar nossas práticas de sala de aula e/ou refletir sobre as
mesmas. Ao escutar os alunos, poderemos compreender a situação, as causas da
(des)motivação e mudar a forma de ensino, confrontando e discutindo as informações
com o grande grupo.
8 AMARAL, Ana Lúcia. A importância da pesquisa na escola. In: Caderno do Professor CERP/SEE.
Belo Horizonte, n. 6. Ago/2000, <luciene-educadora.blogspot.com.br/2012/01/importancia-da-pesquisa-
na-escola.html>. Acesso em 15 outubro 2013.
7
2. Conhecer o aluno para compreender a (des)motivação
A fim de conhecer melhor os estudantes da Escola São Rafael, especialmente
das turmas do Ensino Médio Noturno, foram estabelecidos alguns percentuais para a
realização da análise do cotidiano escolar, por meio empírico. A começar, pela
quantidade determinada (10%) de entrevistas realizadas com os alunos. Sendo seis
turmas no total (duas de cada nível ou série do Ensino Médio), através dos cálculos,
obtemos a quantidade exata de 16 entrevistas. Em seguida, foi importante verificar o
total dos 160 alunos, para dividi-los por sexo. Por coincidência, obteve-se uma paridade,
conforme demonstra o gráfico.
Gráfico 01 – Divisão Sexual
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Em seguida, foi dividido o número de entrevistas que seriam realizadas em cada
turma, tomando cuidado também com a quantidade, conforme a divisão sexual.
Portanto, foram oito entrevistas com alunos e oito, com alunas, distribuídas nas seis
turmas do Ensino Médio.
O Ensino Médio noturno possui uma tradição de agregar alunos que já trabalham
fora de casa, 50% dos entrevistados possuem essa atribuição, inclusive com regime de
trabalho de mais de 40h e com carteira assinada. Aqueles que não se enquadram na
legislação dos direitos trabalhistas, alegam que ainda são menores de idade, trabalham
com familiares ou na propriedade rural da família, portanto fora dos padrões legais
(legislação trabalhista). E, por tudo isso, constatou-se que a faixa etária é maior,
percebendo-se facilmente que são mais velhos do que os que estudam no diurno. Assim,
a maioria dos alunos possui no mínimo 16 anos, lembrando que alguns deles estão
apenas no 1° ano. Mas, também, enquadram-se nesse modelo, os que já completaram a
maioridade (18 anos), conforme demonstra o gráfico a seguir.
Masculino 50%
Feminino 50%
Sexo
8
Gráfico 02 – Faixa Etária
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Nas questões específicas sobre Educação, Escola, formação e estudo,
percebemos que 36% dos alunos entrevistados estudam na Escola São Rafael há, pelo
menos, três anos. Já, 19% há um ano e outros 19%, menos de um ano, ou seja, esse
índice é gerado pelas constantes transferências que recebemos de outras escolas do
estado ou do país.
Gráfico 03 – Tempo na Escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Como já foi mencionado anteriormente, conhecer a realidade, o cotidiano dos
discentes pode revelar muito da personalidade, da estrutura familiar e formação dos
mesmos. Apesar, de a faixa etária ser maior, de trabalharem fora, enfim, sustentarem-se,
Entre 13 e 15 anos 0%
Entre 16 e 17 anos 87%
Entre 18 e 20 anos 13%
Entre 21 e 25 anos 0%
Entre 26 e 30
anos 0%
Entre 31 e 35 anos 0%
Entre 36 e 40 anos 0%
Mais de 41 anos 0%
IDADE DOS ALUNOS
19%
19%
6% 38%
0% 6% 0%
6%
0% 0% 0%
6%
0% 0%
Tempo de Escola São Rafael Menos de 1 ano 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos
10 anos 11 anos 12 anos mais de 12 anos
9
a maioria ainda vive com os pais e o estado civil é de solteiros(as). Essa tendência foi
verificada em praticamente a totalidade de entrevistados (quinze entre os dezesseis).
Acredito que a convivência com a família, mesmo por objetivo econômico,
(“rachar” despesas), explica o fator de renda familiar ultrapassar o valor de dois mil
reais mensais. Porém, chama a atenção que existem famílias ainda que vivem com
menos de quinhentos reais, o que implica uma situação de pobreza. Surge dessa forma a
comprovação que a Região Colonial Italiana, historicamente considerada rica ou de
padrão superior às demais regiões do estado, também possui uma parcela da população
que passa por dificuldades econômicas. Esta informação serve para a nossa Escola,
demonstrando, assim, que a realidade é mais alarmante daquilo que o Grupo Discente e
Gestor, da nossa instituição de ensino, imaginava ser.
Gráfico 04 – Renda Familiar
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
No entanto, na estrutura familiar existe uma relação de convívio que foge da
considerada padrão, ou seja, existem aqueles que vivem apenas com a mãe ou em uma
união matrimonial. Entretanto é comum aos jovens dividirem a moradia com outras
pessoas, como amigos, conhecidos e até companheiros(as), de acordo com o dado do
gráfico, em que esta informação se refere a “outros”.
6%
12%
19%
19%
44% 0%
Renda Familiar
Menos de 500,00 reais De 500,00 a 999,00
De 1.000,00 a 1. 499,00 reais De 1.500,00 a 2.000,00 reais
Mais de 2.000,00 reais Não sei
10
Gráfico 05 – Estrutura Familiar
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Conforme Stecanela (2009, p.102), a reconfiguração das famílias, organizadas
na sua grande maioria tendo as mães como as provedoras da casa, exige a participação
dos filhos na economia doméstica. Isso dá-se quase sempre através do trabalho precário,
requerendo dificuldades de adaptação na escola ou, em casos mais críticos, provocando
o seu abandono.
3. A origem da (des)motivação: a escola ou o cotidiano profissional?
Sabe-se que a motivação é interna, desencadeada pelo professor como agente de
mediação, na busca do conhecimento. E é corrente a opinião entre os professores que o
meio social, familiar, cultural determinam a motivação. Desta forma, a realidade
vivenciada pelos alunos é um dos fatores que os distanciam do mundo da escola ou o
contrário, encontrando na escola um espaço acolhedor? E, os alunos, em especial, do
Ensino Médio Noturno da Escola São Rafael, afinal gostam ou não do ambiente
escolar?
Seriam as (des)motivações em níveis diferentes, consoante as características das
idades, dos níveis, dos turnos da escola? Antes de qualquer hipótese, Klebis (2010)
acredita que uma pergunta deve ser respondida pelas escolas, com sinceridade e clareza:
“Quem é o aluno"? Esta deve ser feita não só de forma genérica, mas em cada sala de
aula, em cada região do país, em cada realidade social diferente, pois essas pessoas são
diferentes. Às vezes, os próprios materiais didáticos de ensino não se questionam sobre
isso. Muitas vezes percebe-se que há um descompasso entre o que a escola oferece e o
que de fato é a cultura, com a qual esses jovens estão mais em contato. Não se pergunta
do que ele gosta, o que ele escuta, enfim, quem ele é.
50%
37%
0% 0% 0% 0%
0%
13%
Convívio Familiar
com os pais com a mãe
com tios com pais e irmãos
com a família com pais , irmãos e vó
com pais , irmãos e sobrinho outros
11
De acordo com Dayrell (2003, p. 44), existe, a necessidade de analisarmos o
ambiente onde o jovem vive, sua diversidade, suas condições sociais (classes sociais),
culturais (etnias religiosas, valores), de gênero e também das regiões geográficas em
que vive. Dentre outros aspectos, estes, implicam diretamente no comportamento social
de cada estudante. Para Stecanela (2009, p. 107), o modelo de socialização com
centralidade nos processos educativos escolares pode ser um dos elementos
responsáveis, entre tantos outros, pelos fatores endógenos (internos) da exclusão
escolar. Pela sua incapacidade ou até intolerância às novas configurações sociais da
contemporaneidade, a escola passa a ter suas estruturas e certezas abaladas ou, melhor
dizendo, a assistir à instalação daquilo que muitos autores denominaram de “crise da
escola”. Assim,
(...) existem certos problemas no ambiente escolar que são praticamente impossíveis
de não ocorrer, sendo a desmotivação do aluno um dos mais preocupantes, fato
rotineiro que ocorre com profissionais de todas as áreas da educação e em diferentes
níveis de ensino. Ressalta-se que os pais, os colegas e o grupo social no qual este
jovem se relaciona, também contribuem para a sua desmotivação. Determinados
alunos apresentam grande dificuldade em interagir com certas atividades, outros
apresentam resistência total no sentido de adquirir conhecimentos, se isolando dos
demais colegas, negando-se a participar das atividades propostas, bem como não
apresentando interesse qualquer em realizar algo que se refere à aprendizagem.9
Ainda, conforme os estudos da pedagoga Elen Campos Caiado10
, o professor
deve ficar atento ao comportamento de seus alunos. Tanto daqueles mais agitados,
quanto dos desligados e inquietos. No sentido de ajudar o aluno desmotivado, o
professor deve se preocupar com o ambiente escolar, em especial a sala de aula, mas
também com o desenvolvimento das atividades e o próprio processo avaliativo, além da
relação professor/aluno.
Em relação ao noturno, ainda é notável que uma parcela dos alunos justifica a
falta de motivação pelo cansaço e pelo desinteresse em prosseguir com seus estudos. O
aluno vive, em conflito, entre o tempo de estudar e trabalhar, conforme destaca Dayrell
(2003, p.50), em sua pesquisa. Ainda, em muitos, prevalece o mito da ascensão social
em convivência com a necessidade de certificação imposta pela concorrência no
mercado de trabalho.
9
CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.
<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.
htm>. Acesso em 15 outubro 2013. 10
Idem, Ibidem.
12
Outro grupo de alunos questionado, porém da mesma região do estado,
acreditava que “(...) para ser alguém na vida, tem que estudar, mas é também frequente
o reconhecimento de que é difícil trabalhar o dia inteiro no pesado, puxando concreto, e
depois ir pra escola estudar, de noite.” (STECANELA, 2009, p. 106-107). Os fatores
exógenos relacionados à estrutura social de uma cidade, que vê seu cinturão de pobreza
aumentar cotidianamente, em virtude de seu potencial polo gerador de empregos, e
elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), provocam o insucesso escolar e o
ingresso precoce no mundo de trabalho. Este, quase sempre em caráter precário, como
estratégia de sobrevivência adotada para a ampliação da renda familiar. Portanto, esses
são elementos que nos levam a concluir que, de certa forma, a escola não atende às
expectativas dos alunos.
Associado a isso, práticas de avaliações antiquadas tem provocado
desmotivações, mágoas pelas constantes reprovações e conflitos com professores. Se a
escola não consegue envolver o aluno, o estudo acaba tornando-se uma obrigação
necessária, que ele apenas suporta. Além disso, a escola mostra-se insensível à realidade
vivenciada pelos alunos fora da escola. Um segundo ponto é destacado por Stecanela:
(...) as mudanças transcorridas no mundo do trabalho estão na raiz dos fenômenos de
exclusão social e afetam profundamente a instituição escolar, promotora, nas últimas
décadas, de aceso massivo à escolarização, como forma de oportunizar a igualdade
(...): por um lado, ocorre um acesso mais democrático a níveis cada vez mais
elevados de escolarização, mas, por outro, acontecem desigualdades sociais cada vez
mais acentuadas. Tais fatores, entre outros, resultam na necessidade de
reequacionamento do papel da educação e da escola, diante de um quadro que é
produto da modernização, do progresso e de novas formas de regulação social.
(STECANELA, 2009. p. 104).
Contudo, os índices de reprovação e abandono (94%) na Escola São Rafael, no
turno da noite, em alguma etapa da vida escolar revelam as barreiras existentes no
estudo noturno. Estas preocupam, bem como, a diversos autores e pesquisadores da
educação, que se mostram perplexos com essa triste realidade.
13
Gráfico 06 – Percentual de Reprovações
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Assim, cabe a nós educadores, avaliar os motivos para os elevados índices de
reprovação. Um dos mais observados, através da análise empírica, é a quantidade
excessiva das faltas. Dos dezesseis entrevistados, 14 deles costuma faltar às aulas,
principalmente nas sextas-feiras. Apesar, de todos concordarem que as faltas prejudicam
a aprendizagem. Estas são frequentes, pois alegam que estão muito cansados para vir à
escola ou acompanhar o andamento das aulas e atividades propostas.
Com efeito, é importante frisar que muito da desmotivação ocorre devido à falta
de perspectivas de futuro, o cansaço advindo da longa jornada de trabalho, além do
sistema de avaliação classificatória. Dessa forma, “nem sempre as motivações para estar
ou retornar à escola são de ordem interna ou por escolha própria. Os sentidos da escola,
são um misto de obrigação – por vezes sofrimento e invasão cultural(...)”.
(STECANELLA, 2009, p.106).
Desse modo, percebe-se, de um lado, que a cada ano existe uma falta de
interesse dos alunos pela escola e que muitos apenas frequentam por obrigação. Assim,
na maioria dos casos, isso é considerado como um problema de difícil resolução. Logo,
para Caiado,
(...) é fundamental que o professor compreenda o que vem a ser a motivação e como
ela se constrói. Geralmente a falta de motivação é originada das características
próprias do aluno e do ambiente escolar como um todo, fazendo com que o aluno
passe a ter medo do próprio fracasso escolar e de como lidar com ele11
.
Já, para Stecanela, o insucesso escolar é provocado tanto por fatores externos, ou
exógenos, como por fatores internos ou endógenos, à escola. No conjunto dos fatores
11
CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.
<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.
htm>. Acesso em 15 outubro 2013.
56% 13%
25%
6% Quantidade de reprovações
Apenas uma vez Duas vezes Três vezes
Mais de três vezes Nunca reprovei
14
exógenos, destacam-se “(...) o abandono da escola pela necessidade de colaborar com a
família no cuidado dos irmãos menores ou nas tarefas domésticas (...); a conjugalidade;
a impossibilidade de conciliar a trajetória escolar com o início da trajetória profissional”
(STECANELA, 2009, p.102). Estes são verdadeiramente os fatores que conduzem aos
altos índices de reprovações e evasões escolares. Os dados construídos no campo de sua
pesquisa indicam que muitos jovens fizeram suas transições para a vida adulta pela
profissionalização precoce, interrompendo a escolarização ao ingressar no mundo do
trabalho. Ainda, de acordo com a pesquisadora, o sonho de concluir a escolarização
obrigatória ou avançar em direção ao Ensino Superior foi abandonado e retomado por
várias vezes, porém nunca realizado.
Obviamente, sempre encontraremos, ao longo da vida escolar, aqueles alunos
que não traçaram seus objetivos ou ainda não amadureceram. Dificilmente
compreendem que a escola é um espaço de socialização, mas não de simples ou mero
encontro com os amigos.
Os espaços de lazer devem ser diferentes do espaço escolar, pois este último,
sempre permeia situações de aprendizagem. Nesse ponto, os dados empíricos, nos
relevam que, muitas vezes, o próprio ambiente de sala de aula, no sentido de interação
entre os colegas, ou seja, nas relações entre os alunos, causam alguns pontos de atrito (e
talvez desmotivação?).
Fora do ambiente escolar, alguns de nossos estudantes dedicam-se a atividades
esportivas, físicas e/ou de expressão corporal, como danças. Contudo, 57% não se
envolvem com a participação extraclasse, em nenhuma outra atividade. Dessa forma, a
escola passa a ser seu espaço de socialização.
Gráfico 07 – Atividades fora da Escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
57%
0%
31%
6%
6%
Participação em atividades extraclasse
Não participo. Grupo cultural Grupo social
Grupo esportivo Grupo de dança Grupo de jovens
Grupo comunitário Grupo religioso Trabalho voluntário
Clube de mães Outro Comentários
academia
15
Em especial, os nossos alunos da Escola São Rafael, revelaram que gostam do
ambiente escolar, de acordo com a visão empírica da pesquisa, principalmente quanto à
estrutura (a biblioteca), bem como a organização da Escola e do corpo discente. Os
dezesseis entrevistados confirmam essa posição.
A partir das informações obtidas através das entrevistas, existe motivação de
nossos alunos em vir à Escola. Sendo que a maioria concorda que a missão
fundamental, como estudantes, é a de adquirir conhecimentos e/ou aprender (36%),
seguida do interesse em obter uma certificação (25%) e, subsequentemente, “Ser
Alguém na Vida” (22%). Lembrando que, são objetivos de alunos do noturno, o que
confronta com uma visão geral e simplista de que estudar a noite é “apenas um faz de
conta”, que não há o desejo de aprender, mas apenas fingir que se aprende.
Gráfico 08 – Motivação para ir à Escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Com o objetivo de auxiliar os professores, que muitas vezes, no exercício da
profissão apresentam um verdadeiro interesse em ajudar o aluno desmotivado, existem
algumas sugestões, baseadas em estudos da área. Estas sugestões sempre são bem-
vindas e aceitas pela maioria dos docentes da Escola São Rafael, que buscam construir
“o seu fazer pedagógico”, de forma diversificada e diferenciada. Os próprios alunos
reconhecem essa postura em seus professores. Das dezesseis entrevistas, onze
confirmam que as aulas na turma são regulares. Porém, quando questionados a respeito
da condução das aulas, das explicações, ou seja, o fazer pedagógico dos professores,
eles revelam que estas ações correspondem às suas expectativas.
5% 25%
36% 6%
6%
22%
Motivação Escolar
Melhorar meu salário Ter o diploma
Adquirir conhecimentos/aprender Realização pessoal
Pressão da família Conselho tutelar
Ser alguém na vida Outros.
16
Grata surpresa que os dados pesquisados revelam uma importância fundamental
dada pela maioria dos entrevistados, que concordam que a escola é importante (69%).
Além disso, que contribui para melhorar a qualidade de vida e expectativa para o futuro
(81%).
Dez entrevistados definem que adquiriram conhecimentos, as notas são altas e os
conceitos são bons (Ensino Médio Politécnico). Ainda, afirmaram que a maioria deles
participa das discussões em aula e, por consequência, tornam-se focados nos objetivos.
Por consequência, utilizam os aprendizados vivenciados na escola, transferindo-os para
o cotidiano, para o trabalho e nas suas vivências pessoais e/ou familiares.
Mas, então qual será o grande problema que afeta nossos alunos, quanto às
constantes faltas e sucessivas reprovações? Nesse ponto residem muitas das angústias
dos professores que acreditam ser sua prática, a origem da desmotivação dos discentes.
Gráfico 09– Qualidade e expectativa de vida por causa da Escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Nesse sentido, Caiado12
afirma que motivar o aluno independente da disciplina
ou série em que se encontra, abrange algumas táticas como aplicar o conteúdo com
entusiasmo, evitando aulas “mecânicas”, fazendo com que o aluno compreenda o que
está sendo ensinado, ao invés de apenas memorizar. Também se deve buscar sempre
relacionar os conteúdos com fatos da atualidade e elaborar atividades que possam
detectar a evolução do aluno. Além de estabelecer um ritmo de aula, de forma que todos
possam acompanhar o que exige o conteúdo, e quando o aluno apresentar dificuldades,
12 CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.
<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.
htm>. Acesso em 15 outubro 2013.
0%
2000%
ConcordaConcordaem parte
Discorda
59% 14% 0%
13
3
Melhoria da qualidade e expectativa de vida pela escola
Freq. Relativa Freq. Absoluta
17
criar pistas proporcionando oportunidades para superá-las, fazendo com que ele exerça
seu próprio raciocínio.
Enfim, ao iniciar a aula, se deve esclarecer metas e objetivos, porém, baseados
no ritmo da turma. Deve-se ainda, combinar regras para que não seja desviado o
objetivo da aula. E, no momento da avaliação, o ideal é que o professor evite
comparações, ameaças, ou seja, adote condutas negativas que possam vir a refletir
maleficamente na autoestima dos alunos.
O professor deve compreender que é necessário saber o que pretende do aluno,
as habilidades que devem ser adquiridas, os valores e as competências que pretende
desenvolver. Em suma, é nossa missão buscar compreender qual o grande empecilho
para que os alunos frequentem a escola, já que gostam de ler e escrever, assistir às aulas,
participar dos projetos.
Gráfico 10 – Interesses dos alunos na escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Na realidade, as nossas dúvidas quanto à desmotivação, acabaram sendo
reveladas pelos próprios alunos, nas entrevistas. O grande problema que origina as
faltas, as evasões, reprovações é o cansaço e, por consequência, a falta de vontade. A
jornada de trabalho da maioria é de quarenta horas ou mais. Por isso, chegam à escola,
cansados demais, para acompanhar os estudos, e desanimam.
22%
21%
11%
21%
4% 21%
Interesses dos alunos
Ler e escrever Fazer atividades artísticas
Praticar esportes Assistir a vídeos ou a filmes
Participar de passeios Participar de projetos
18
Gráfico 11 – Formas como o aluno se sente durante a aula
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Portanto, não seria exatamente uma desmotivação causada pelas aulas ou
propostas e sistemas de avaliação dos professores, ou pela estrutura da escola. Isso, pois
a maioria, treze (59%) dos dezesseis entrevistados consideram boas as suas aulas.
Expuseram que estas são planejadas e as explicações dos professores, condizentes com
aquilo que esperam. Afirmaram que os discentes são motivados e com propostas
diversificadas e criativas.
Gráfico 12 – Desenvolvimento das aulas pelos professores
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Ainda, 62% dos entrevistados relatam que participam das atividades em sala de
aula, realizam as atividades extraclasse, questionam e são comprometidos/as com a
própria aprendizagem. Aliás, onze, dos dezesseis alunos questionados, revelam que
frequentam a escola para aprender e adquirir conhecimentos. De acordo com eles
mesmos, as melhores formas para conquistarem esses objetivos são copiando a matéria
50%
19%
25% 6%
Como se sente durante a aula
Cansado (a) Aceito(a) pelo grupo Motivado(a) Discriminado(a) Outro.
13
59%
3
14%
Freq. Absoluta Freq. Relativa
Concorda com a forma dos professores desenvolverem a aula
Sim. Não.
19
e ouvindo as explicações dos professores. Ou seja, as “antiquadas” aulas expositivas,
consideradas ultrapassadas por muitos.
Muitas vezes, acredita-se que o simples uso das tecnologias ou as “aulas
diferentes”, sejam o desejo dos nossos jovens e “tecnológicos” discentes. No entanto,
pela visão empírica, observa-se que o professor e suas aulas “expositivas”, pelo menos
na nossa Escola, no Ensino Médio Noturno, não se tornaram obsoletos e as tecnologias
não se transformaram nas únicas fontes de aprendizado.
Gráfico 13 – Formas de aprender na escola
Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael
Apesar de tudo o que foi exposto acima, as tecnologias são consideradas
importantes, pelos alunos, diante da realidade vivenciada no cotidiano, no mercado de
trabalho e até nas relações pessoais (Facebook). Porém, o professor não é considerado
descartável.
No entanto, o uso da tecnologia no espaço escolar deve ser considerado, mesmo
porque, não deixaria de ser uma atribuição ou função da escola. Isso significa que,
enquanto profissionais da educação, devemos também auxiliá-los na compreensão,
quanto há melhor forma, para a utilização consciente e correta dos equipamentos e
meios tecnológicos.
Assim, conforme Nilda Stecanela, dá-se o “ponto de partida, considerando a
realidade concreta, tanto dos sujeitos quanto do objeto de conhecimento e do contexto
em que se dá a ação pedagógica” (STECANELA, 2004, p. 183). Então, a aproximação
entre esta realidade e a escola é importante. Dessa forma, Klebis13
afirma que a
singularidade do ser humano está expressa em qualquer faixa etária. É preciso que
professores e escolas procurem definir melhor de que maneira abordar a cultura desse
13 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,
2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-
vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.
69% 31%
Melhor forma de aprender na escola
Copiando Ouvindo No Datashow Cantando, dançando Outra.
20
jovem e como usar isso para construir pontes entre aquilo que a escola pretende e aquilo
que o sujeito deseja ou espera da escola.
Ainda, segundo o mesmo estudioso, na maioria das vezes, no Ensino Médio,
temos uma sensação de que é possível aprender quase tudo, e o jovem se percebe como
alguém que ainda não sabe muita coisa, mas que é capaz de aprender, desde que tenha
acesso a isso e se interesse. Mas os interesses são muitos. E quando a escola "descola",
quando ela se separa da vida cultural dessas pessoas, ela se torna um espaço artificial. A
ideia insere-se em trabalhar conhecimentos que são percebidos pelos jovens como
conhecimentos que se conectam com a sua vida cotidiana ou com o seu universo de
interesses, de expectativas.
As percepções como docentes, embora vinculadas ao fazer pedagógico e à
experiência, refletem a parcialidade do olhar, do lugar do professor. Dessa forma,
Klebis14
declara que se a Educação é decisiva para os rumos de qualquer sociedade, o
seu agente principal, o(a) professor(a), merece atenção especial. Com apoio, valorização
e infraestrutura seria bem mais fácil enfrentar os desafios que batem à porta dos
mestres, numa sociedade em constantes e aceleradas mudanças.
Nesse conjunto de reflexões, percebe-se que a escola faz uma leitura superficial
das motivações e delega aos fatores externos, as causas dos problemas, pois os alunos
têm preferências por determinada disciplina ou professor e agem de modos diferentes,
com motivações diferentes. Nesta linha de raciocínio, o autor acima citado, sugere que
se a equipe de professores se fortalece, num comportamento acomodado ou insatisfeito,
quando aparece um professor que mantém o entusiasmo e começa a puxar um e outro,
isso começa a se tornar positivo e contagia os demais. Em qualquer relação social,
quando encontramos uma pessoa que produz ideias, que se envolve com as coisas, que
“faz e acontece”, nos empolgamos também e procuramos assumir uma postura de apoiar
e de ajudar. Dessa forma, a prática docente se fortalece e perpassa aos alunos, a união e
o desejo dos seus professores de que haja o sucesso escolar e a realização pessoal e
profissional. Embora, a realidade seja dura, o trabalho árduo, o senso e a ética do “dever
cumprido”, devem prevalecer sempre no “sagrado” ambiente da Educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,
2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-
vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.
21
Por fim, percebe-se que, em muitas situações vivenciadas no cotidiano escolar,
os docentes e equipes diretivas e pedagógicas preocupam-se com a infrequência, a
evasão escolar e com os elevados índices de reprovação, principalmente dos alunos do
noturno. Dessa visão, também compartilham muitos pesquisadores da Educação. Todos
envolvidos com as angustias de se imaginarem impotentes diante de desmotivação dos
discentes.
Na maioria dos casos, os profissionais da Educação acreditam que agregam, ao
seu fazer pedagógico, muitas barreiras, que impedem o avanço ou sucesso dos alunos.
Porém, verificamos, através do estudo empírico que nem sempre a culpa (se existe
algum culpado) é dos professores ou da Escola. Ou ainda, do próprio aluno, que adentra
o espaço escolar com uma carga, muitas vezes, extenuante de um dia de trabalho
exaustivo ou de problemas familiares e/ou pessoais. Para muitos deles, às vezes, o único
ambiente que percebem que há alguém que se preocupa, é a Escola, através da equipe
de gestores, pedagogos e professores. Uma forma de tornar a aprendizagem mais
atrativa pode ser a introdução de temáticas para pesquisas, de acordo com o interesse
dos alunos, desde que, bem orientados e conscientes da relevância do assunto
escolhido.
Acredito que, a partir da pesquisa empírica com os alunos do noturno da
Escola São Rafael, muitas dificuldades e problemas podem e devem ser superados.
Ou então, ao menos, tornar as relações, entre alunos e professores, amistosas e
produtivas.
Surpreende a importância das informações contidas nas entrevistas, da
sinceridade com que as respostas foram escritas. Assim, através desses
instrumentos pode-se conhecer a realidade dos nossos alunos, bem como, suas
expectativas em relação à escola e ao próprio futuro.
Enfim, os alunos do noturno da Escola São Rafael revelaram, através das
entrevistas, que gostam do ambiente escolar, da maneira como é organizada a estrutura
das aulas, do cotidiano escolar. Bem como, do encontrar-se com os colegas e
professores, da troca de experiência, do aprender...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Ana Lúcia. A importância da pesquisa na escola. In: Caderno do Professor CERP/SEE.
Belo Horizonte, n. 6. Ago/2000. Disponível em: <luciene-
22
educadora.blogspot.com.br/2012/01/importancia-da-pesquisa-na-escola.html>. Acesso em 15 de outubro
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KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,
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