gestão de acervos no museu histórico abílio barreto

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O trabalho traça um panorama da reestruturação do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), a partir de 1993, do ponto de vista da implantação de uma Política de Aquisição de Acervos. Partindo de assunção de três matrizes: conceituais (conhecimento da história da instituição, conhecimento das linhas mestras do acervo, existência de um projeto institucional de longo prazo), os autores examinam as características da instituição em sua fundação e os motivos que levaram a estagnação, decadência do patrimônio e falta de apoio político nos anos seguintes, vividos por quatro décadas. As opções teóricas e metodológicas são examinadas e levantadas as possibilidades abertas pelo processo. O enfoque da trajetória do museu é dado pela perspectiva da aquisição e gestão do acervo que passou por grandes problemas de ordem administrativa, estrutural e inclusive conceitual, mas que hoje pode contar com uma política eficaz no controle e ampliação do mesmo, o que garantiu a sua atualização frente ao desenvolvimento de Belo Horizonte.

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  • Revista CPC, So Paulo, n.3, p. 91-109, nov. 2006/abr.2007 91

    A teoria, na prtica, funciona. Gesto de acervos no Museu Histrico Ablio Barreto. Thas Velloso Cougo Pimentel*, Jos Neves Bittencourt** e Luciana Maria Abdala Ferrn***

    Resumo O trabalho traa um panorama da reestruturao do Museu Histrico Ablio Barreto

    (MHAB), a partir de 1993, do ponto de vista da implantao de uma Poltica de

    Aquisio de Acervos. Partindo de assuno de trs matrizes: conceituais

    (conhecimento da histria da instituio, conhecimento das linhas mestras do

    acervo, existncia de um projeto institucional de longo prazo), os autores examinam

    as caractersticas da instituio em sua fundao e os motivos que levaram a

    estagnao, decadncia do patrimnio e falta de apoio poltico nos anos seguintes,

    vividos por quatro dcadas. As opes tericas e metodolgicas so examinadas e

    levantadas as possibilidades abertas pelo processo.

    O enfoque da trajetria do museu dado pela perspectiva da aquisio e gesto do

    acervo que passou por grandes problemas de ordem administrativa, estrutural e

    inclusive conceitual, mas que hoje pode contar com uma poltica eficaz no controle e

    ampliao do mesmo, o que garantiu a sua atualizao frente ao desenvolvimento

    de Belo Horizonte.

    Palavra chave: Gesto de acervos. Polticas pblicas de preservao. Histria dos museusBrasil

    The theory, in practice, works. Managing collections in the Museu Histrico Ablio Barreto

    Abstract The work depicts an overview of the Museu Histrico Ablio Barretos revitalization

    process, since 1993, from the point of view of Collecting Policy. Starting with the

    acceptance of three conceptual sources (the knowledge of institutions history, the

    knowledge of the main lines of the collections and the existence of a long term

    institutional project) the authors examine the early characteristics of the Museum and

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    the main motives of its stagnation in the following four decades. The theoretical and

    methodological options are examinated and the possibilities arouse by the process

    are analyzed.

    The focus of the museums trajectory is provided by the perspective of the acquisition

    and management of the collections, which has gone through major problems of

    administrative, structural, and even conceptual orders, but today it counts on an

    efficient policy for the control and expansion of it, which garanteed its updating in

    relation to the development of Belo Horizonte.

    Key-words: Museum collection management. Public preservation policies. History of Brazilian museums

    1 Gesto de acervos: estabelecendo limites e possibilidades. Aps o final da Segunda Guerra Mundial, a adoo pelos museus de novas

    abordagens tericas e de conceitos da decorrentes, levou uma notvel expanso

    do campo museolgico e do objeto museolgico. At a metade do sculo passado,

    esses conceitos tinham amplitude bastante mais limitada. A partir da incorporao

    do conceito de documento, virtualmente todas as categorias de itens materiais

    passaram a ser considerados como de interesse para musealizao. Todo e

    qualquer artefato, independente de sua categoria, um potencial suporte de

    informaes sobre os processos sociais e comunicativos que o gerou. A chamada cultura material participa decisivamente na produo e reproduo social. [...]

    Os artefatos [...] so no apenas produtos, mas vetores de relaes sociais. [...] No se

    trata, portanto, apenas de identificar quadros materiais de vida, listando de objetos mveis

    [...] at obras de arte. Trata-se, isto sim, de entender o fenmeno complexo da apropriao

    social da natureza fsica. (MENESES, 1994, p. 12)

    Os museus tm por principal funo preservar e interpretar essa mar montante de

    artefatos, alm de introduzir, em seu ambiente, itens que se caracterizam pela no-

    RobertoRealce

    RobertoRealce

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    materialidade: prticas, falas, memrias. Toda a esfera da cultura torna-se

    virtualmente musealizvel.

    Nos museus ditos de histria, uma tal abrangncia traz em si seu limite: no

    possvel musealizar tudo, embora tudo seja, potencialmente, passvel de

    musealizao. O nmero de escolhas e orientaes que envolvem a prtica da curadoria de histria, na

    Gr-Bretanha, chega a ser estonteante e gera no pouca confuso. [...] os curadores de

    museus de histria tm trabalhado debaixo de diferentes formas e influncias. Assim,

    termos como vestgios, antiguidades, etnologia, etnologia regional, antropologia,

    antropologia social, antropologia evolucionria, estudos regionais, vida do povo, folclore,

    cultura material, cultura popular, histria, histria social, arqueologia histrica e industrial e,

    mais recentemente, multiculturalismo, tm tido alguma relao, ao longo do sculo XX, com

    a prtica da histria nos museus. (KAVANAGH, 1990, p. 53-54).

    So, pois, inumerveis as fontes de acervos, e limites devem ser estabelecidos, uma

    vez que as colees no so corpos estticos. Para os museus, considerados individualmente, um certo nvel de crescimento [das

    colees] necessrio, para assegurar a qualidade [...]. Mas o crescimento apresenta, para

    os museus, alguns problemas [...] quanto maior for a coleo, maior ser o atrito sobre os

    recursos do museu. [...] a adoo, por cada museu, de polticas claras de coleo um pr-

    requisito racional. Uma tendncia positiva o cuidado com que, nas ltimas dcadas, as

    equipes e diretores dos museus tm limites definidos para seus interesses de recolhimento,

    adotando estatutos formais sobre [...] aquisio e baixa de objetos. Muitos pequenos

    museus, entretanto, ainda no deram esse passo. (AMERICAN ASSOCIATION OF

    MUSEUMS, 1984, p. 36).

    Dar tal passo, que significa comear a controlar as colees, significa estabelecer,

    com segurana, uma nica pr-condio, da qual derivaro todas as outras: ... o

    museu deve ser capaz de reconhecer at que ponto um objeto relevante,

    priorizando suas escolhas (KAVANAGH, 1990, p. 97).

    Essas duas indicaes servem como marco para essa discusso: (i) desejvel que

    o acervo se expanda e, (ii), o museu deve ser capaz de estabelecer suas

    necessidades. O resultado dessas duas constataes aponta para uma poltica de

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    gesto de acervos, conceito que deriva, logicamente, das mudanas estruturais

    rapidamente introduzidas anteriormente.

    2 Poltica de Aquisio de Acervos questes para se ter em mente. Os acervos museolgicos no so conjuntos destinados a um crescimento perene:

    sua extenso fsica pode variar, tanto para cima, como para baixo, e a problemtica da aquisio de acervos ultrapassa o mero recolhimento. Isso implica na existncia

    de um conjunto de diretrizes filosficas e conceituais que, formalizado e expresso

    em documentos de ampla disseminao, orienta estratgias de ao objetiva de

    localizao, identificao, abordagem, recolhimento e tratamento de objetos

    passveis de musealizao. A existncia, o conhecimento e a aplicao dessas

    diretrizes pode ser chamada de Poltica de Aquisio de Acervos.

    Mas porque aquisio, e no gerenciamento, aparentemente mais abrangente? A

    aquisio implica no controle conceitual e tcnico, mas tambm num ato

    legalmente embasado que d ao possuidor total capacidade sobre o bem possudo.

    Adquirir entrar na posse de algum bem, atravs de contrato legal ou no; tornar-

    se proprietrio, dono, capacitando-se ao uso pleno (HORCAIO, 2006, p. 29). A

    aquisio , para alm de um ato intelectual, uma figura decorrente de um ato

    juridicamente embasado, que gera direitos plenos, enquanto o recolhimento gera

    apenas a posse. O gerenciamento, ou seja, o ato de administrar, e todos os seus

    desdobramentos - todas as atividades-fim dos museus s se torna possvel se

    antecedido pela aquisio.

    De modo geral, a concepo de Polticas de Aquisio de Acervos , no Brasil,

    considerada como ao de menor importncia, visto que os museus tm dificuldades

    em lidar com os acervos existentes e planejar suas colees (1). Iniciativas de

    gerenciamento de colees, em geral, passam a ser discutidas considerando-se, a

    priori, que os acervos j esto formados e consolidados.

    O problema que a inexistncia de diretrizes que orientem a atuao com relao

    no apenas ao recolhimento, mas tambm aos objetos j integrados aos acervos,

    coloca os museus na posio de recolhedores passivos (BITTENCOURT, 2005, p.

    150), e provoca no s o crescimento descontrolado dos acervos, como tambm a

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    incapacidade de pensar no descarte. A concepo e implantao de uma Poltica de

    Aquisio de Acervos uma forma de estabelecer linhas de gesto do acervo

    preservado.

    Um projeto deve, necessariamente, iniciar-se, tendo claras trs matrizes: primeira,

    um conhecimento bem embasado da histria da instituio, inclusive de sua histria

    administrativa; segunda, um conhecimento bem embasado (que gerado pelo

    conhecimento da histria institucional) sobre as linhas mestras do acervo, inclusive

    de suas colees nucleares; terceira, a existncia de um projeto institucional de

    longo prazo, que considere as demandas potenciais feitas pela sociedade, e todas

    as possibilidades, potencialidades e limitaes do museu (BITTENCOURT, 2005).

    3 Administrando acervos em Belo Horizonte. A implantao de uma Poltica de Aquisio de Acervos no Museu Histrico Ablio

    Barreto (doravante, MHAB) levou em considerao todos os itens apresentados

    acima. Essa iniciativa esteve vinculada ao chamado processo de revitalizao

    (PIMENTEL, 2004, p. 8), conjunto de aes que comearam a ser concebidas e

    desenvolvidas em 1993, visando, sem tirar a instituio de seus limites a cidade de

    Belo Horizonte ajust-la aos novos paradigmas que, desde os anos 1970 vinham

    mudando o panorama dos museus no Brasil. O processo de revitalizao, bem

    como a administrao do MHAB, no perodo que se seguiu ao encerramento do

    mesmo, em 2003, tem se revelado um laboratrio de polticas de gesto museal de

    valor inestimvel. Examinaremos, em seguida, como se aplicam essas matrizes

    quando lanadas sobre um museu de verdade.

    A criao, expanso e problemas que o MHAB viveu ao longo de seus mais de 60

    anos de existncia reproduzem, em escala concomitante cidade de Belo

    Horizonte, a trajetria dos museus em nosso pas, ao longo do sculo passado. A

    capital mineira contava apenas 50 anos desde sua fundao, quando o historiador e

    jornalista Ablio Velho Barreto, chefe da diviso de arquivo da Prefeitura de Belo

    Horizonte, convenceu o prefeito Juscelino Kubitschek de que era chegada a hora de

    se criar um museu histrico (ALVES, 2003, p. 9-11; PIMENTEL, 2004, p. 14). Barreto

    j era reconhecido, na poca, como uma espcie de historiador oficial da cidade,

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    autor de uma grande memria sobre seus antecedentes e origens, ainda hoje muito

    consultada: Belo Horizonte: memria histrica e descritiva, em dois volumes. (2)

    A criao do Museu Histrico de Belo Horizonte denominao original da

    instituio deu-se em 1941. A nova capital j se encontrava, ento, bastante

    diferente da cidade, inaugurada em 1897. Embora seu plano original permanecesse

    na essncia o mesmo, seu patrimnio edificado tinha sido bastante modificado, j

    nas primeiras dcadas de instalao dos novos habitantes e servios. A

    originalidade de seu planejamento e processo de construo tinha se perdido no

    tempo, mas restava a memria do processo, em um importante acervo documental

    produzido pela Comisso Construtora da Nova Capital, nos primeiros anos, e

    guardado nas instituies criadas pela administrao pblica para este fim.

    Barreto foi encarregado de identificar e organizar uma coleo que retratasse as

    condies e circunstncias nas quais foi instituda a nova capital. Sua disposio

    era, de fato, a de contar, para as futuras geraes, a histria que ele chamou

    antiga e mdia de Belo Horizonte. Para tal, reuniu artefatos para compor o acervo

    de um futuro museu.

    Belo Horizonte passava, ento, por amplo processo de expanso, horizontal e

    vertical. Outros equipamentos modernos, como o complexo arquitetnico da

    Pampulha, foram implantados na cidade, como a sugerir novos modos de vida que

    viam como antigos os traos da capital, criada em fins do sculo XIX. A

    modernidade, entretanto, tinha duas faces: uma, apontava o futuro, inteno no

    escondida pelo prefeito Kubitschek; outra buscava preservar o passado, por meio da

    conservao de relquias da histria da cidade, o que no deve ser considerado

    contraditrio, pois [o] inusitado de Belo Horizonte dispor de uma instituio para a

    guarda de relquias histricas [...] seria difundido pela imprensa local como obra do

    esprito empreendedor e progressista do prefeito JK. (CNDIDO, 2003, p. 10).

    A criao do Museu, e sua viabilizao, resultaram na juno improvvel de trs

    atores diversos: JK, Barreto e os modernistas do Sphan. Essa curiosa associao,

    entretanto, nunca foi tranqila: a comear pelo Casaro da Fazenda do Leito,

    edificao remanescente do desaparecido Curral del Rei, e destinada para sede do

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    Museu, no foram poucas as discordncias entre Barreto e o Sphan. A imposio de

    um partido de restaurao que enfatizava o aspecto casa mineira em detrimento da

    funo, que comprometia a eficcia do circuito de exposio (BITTENCOURT,

    2004b, p. 45) foi apenas o primeiro problema. Ao longo dos anos seguintes, embora

    diversos diretores tenham enfatizado a necessidade de expanso fsica do Museu,

    essas propostas esbarraram sistematicamente na oposio do Sphan, e na falta de

    apoio por parte de Prefeitura.

    Assim, aps um incio promissor, o MHBH rapidamente encarou a estagnao, pois

    o apoio poltico foi-se com a retirada de JK da cena belo-horizontina. Cada vez mais

    acanhado, em seu pequeno prdio inadequado s funes que dele eram

    pretendidas, a instituio no conseguiu tornar-se protagonista da histria da cidade,

    como inicialmente imaginaram Kubitschek e Barreto.

    Nos primeiros 50 anos de existncia, o Museu acompanhou, distncia, as

    transformaes da capital. A histria contida no acervo, sua compreenso expressa

    nas exposies e a noo de memria que permeava toda a ao institucional

    faziam do museu um lugar para poucos, ainda que geraes e geraes de

    estudantes o tenham visitado e guardem boas recordaes da experincia. Talvez a

    tranqilidade reinante nas salas de exposio, em contrapartida agitao da

    metrpole, impedisse que se notasse que o acervo reunido por Barreto e que, em

    1993, ainda continuava sendo base das exposies, constitua um problema.

    Ainda que no explicitamente, a poltica de acervos do MHAB foi implantada antes

    mesmo da criao da instituio, e teve no Regulamento do Museu Histrico de

    Belo Horizonte, documento redigido pelo diretor em 1942, e nunca implantado

    oficialmente, sua primeira norma. Estabelecia a transferncia, para o Museu, de

    obras de arte, objetos, livros, documentos, folhetos, existentes em todas as

    reparties da prefeitura, a juzo do Diretor, com autorizao do Prefeito.

    (BARRETO, 1942, apud CNDIDO e TRINDADE, 2004, p. 144)

    Segundo uma listagem fornecida pelo diretor ao Sphan, em 1942, o acervo era

    distribudo por categorias como mobilirio, numismtica, armaria, telas, plantas,

    documentos e fotografias, e dividido em trs sees: a primeira, relacionava

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    artefatos provenientes do Arraial do Curral del Rei; a segunda, itens datados da

    inaugurao de Belo Horizonte em diante; a terceira, itens relacionados com Minas

    Gerais e com o Brasil (SANTOS e COSTA, 2006, p. 219). A diviso, proposta do

    organizador do Museu, seguia, de modo geral, a organizao tradicional de um

    museu de histria. Tambm de forma tradicional, os objetos foram, quando da

    inaugurao do MHBH, expostos em sua totalidade, enfatizados os bens que,

    independente da raridade e/ou excepcionalidade, testemunhassem a cultura do

    antigo Curral del Rei e da capital, em sua forma plural, prescrio que se

    materializava na variedade do acervo recolhido na fase inicial do MHAB...

    (CNDIDO e TRINDADE, 2004, p. 145)

    Em resumo, embora Barreto mostrasse uma concepo de objeto museolgico, para

    a poca, bastante original, com sua idia de considerar o Casaro como artefato

    musealizvel (3) e no privilegiar (como era o caso de Gustavo Barroso) o objeto

    raro ou precioso, sua poltica de acervos no diferia, basicamente, de outras ento

    praticadas na poca.

    Designado, em 1946, para a secretaria do gabinete do prefeito, Barreto foi

    substitudo pelo jovem intelectual Mrio Lcio Brando, que permaneceria no cargo

    por 13 anos. Observa-se, no perodo, algumas tentativas de expanso do Museu, a

    mais original delas a proposta de levar a exposio para o prdio modernista da

    Igreja de So Francisco de Assis, na Pampulha, proposta que no mereceu maior

    ateno da prefeitura (BITTENCOURT, 2004b, p. 47; CNDIDO e TRINDADE, 2004,

    p. 146). No est claro se essa ao significaria o abandono da sede do bairro

    Cidade-Jardim ou a instituio de um museu de mltiplas sedes, iniciativa que teria

    sido bastante avanada, na poca. Mesmo sem maiores esclarecimentos, pode-se

    entrever, na proposta do ento diretor, uma possvel tentativa de ligar a instituio, j

    encarando o esvaziamento, memria modernista da cidade, o que poderia ter

    resultado em significativa modificao na poltica de aquisio de acervos.

    Mas a poltica de aquisio do MHBH continuou a ser aquela formulada por Barreto,

    baseada em doaes de particulares e transferncias feitas pela prefeitura. Dois

    objetos de grandes propores so, nesse perodo, significativos: o elevador, do

    prdio do Conselho Deliberativo, e o bonde, atualmente duas importantes peas do

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    acervo, incorporadas ao Museu, respectivamente, em 1965, e em 1968. Eram

    ambas identificadas como importantes para a histria da cidade, mas recolhidas sem

    que a instituio tivesse condies adequadas de guarda e exposio.

    Nas dcadas de 1960, e 1970, o Museu, agora j chamado MHAB, passou da

    estagnao decadncia, e a Prefeitura pareceu, pura e simplesmente, desistir de

    seu museu de histria. Num prdio, desde os primeiro tempos, inadequado para a

    funo que se pretendia dele, o estado de conservao do acervo era o grande

    problema: Os documentos sob a guarda da Instituio estavam armazenados precariamente, [...] em

    funo do espao fsico restrito do Museu e da inadequao das suas instalaes. Os

    cmodos e os jardins do Casaro, ento sede do MHAB, abrigavam todo o acervo, sendo

    que grande parte dele se encontrava em estado avanado de deteriorao. Alm disso, as

    atividades administrativas tambm eram desenvolvidas nesse espao. (ALVES et al.

    2004, p. 93)

    O estado do prdio comprometia o acervo e, embora tenham chegado a ser feitos

    projetos de anexos, esses nunca chegaram a ser realizados. At 1993, portanto, o

    acervo museolgico era um corpo inerte, visto que quaisquer tentativas de

    implementar uma reformulao museolgica da instituio (palavras de uma

    diretora do MHAB, em meados dos anos 1980) esbarrariam nos limites fsicos e

    institucionais do Museu.

    Atualmente, examinando a histria da instituio (a primeira matriz), observa-se que

    no Museu havia um projeto de longo prazo: contar para as futuras geraes, atravs

    da reunio de relquias, a histria antiga e a histria mdia de Belo Horizonte. Em

    funo desse projeto, foi implantada uma poltica de aquisio de acervos: a

    transferncia, para o Museu, de obras de arte, objetos, livros, documentos, folhetos,

    existentes em todas as reparties da prefeitura, a juzo do Diretor e com

    autorizao do Prefeito. A segunda matriz o conhecimento do acervo pode ser

    encontrada nessa formulao, e ela nos indica dois importantes vetores: o Museu

    sabe, por intermdio de seus servidores (o Diretor), o que adquirir, e o faz,

    contando com o apoio poltico necessrio (o Prefeito).

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    uma soma perfeita. O problema que a Instituio perdeu o apoio poltico (o que

    mostram as inumerveis solicitaes do diretor, no atendidas) e, junto, sua

    capacidade de buscar acervos, tornando-se recolhedor passivo, o que indicam as

    transferncias, por exemplo, do elevador, e do bonde. O resultado foi a perda

    paulatina da capacidade de contar as histrias antiga e mdia de Belo Horizonte.

    Passados quase 100 anos, desde a fundao da cidade, e quase 50, desde a

    criao do Museu, este no conseguia mais articular as histrias antiga e mdia,

    com a contemporaneidade em que se encontrava. O acervo no qual a cidade

    deveria se ver era um corpo cada vez mais carente de sentido.

    4 Revitalizao, 1993, ou aplicando matrizes para reviver o Museu. Os desafios da construo da democracia em nosso pas, aliados a uma nova

    compreenso do processo histrico, estimulada pelos debates acadmicos,

    trouxeram, ao final dos anos 1980, novas idias para a conduo do museu de

    histria, de Belo Horizonte. Iniciado em 1993, o chamado processo de revitalizao

    reuniu diversas aes museolgicas, elaboradas em moldes que tentavam levar em

    conta as novas tendncias dos museus. Essa ao teve como base um documento

    que consolidou as diretrizes estabelecidas em uma reunio conhecida, desde ento,

    como Frum de discusso e elaborao de propostas para o Museu Histrico Ablio

    Barreto, acontecida em maro daquele ano. Essa reunio, em que estiveram

    presentes especialistas universitrios e da rea de preservao do Patrimnio

    Histrico, aponta trs grandes eixos de recomendaes: o primeiro, relacionado ao

    espao fsico, cuja proposta geral era a de reordenar a destinao e os usos das

    reas externas e internas; o segundo, tratava da questo do acervo, notadamente o

    estabelecimento de uma poltica de acervos para o Museu; o terceiro, tratava do

    aspecto conceitual do Museu. Como possvel notar, os trs eixos abordavam trs

    grandes problemas que inviabilizavam o MHAB, dois deles objetivos (o primeiro e o

    segundo), e um deles terico (o terceiro), mas os trs estreitamente relacionados.

    E um quarto problema, que poderia ser considerado como decorrente da

    convergncia dos trs anteriores: qual o projeto do Museu, a longo prazo?

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    At ento, continuava sendo contar para as futuras geraes, atravs de relquias,

    a histria antiga e a histria mdia de Belo Horizonte coisa que nem o Museu,

    nem sua exposio, faziam mais.

    A primeira providncia a tomar seria, pois, a abordagem do problema terico:

    introduzir no MHAB conceitos que o colocassem na esteira das concepes

    museolgicas mais atualizadas. A atualizao conceitual do MHAB pressups a realizao de uma ao imediata relativa

    conservao e documentao do acervo ou seja, uma proposta de gesto de acervos.

    Nesse sentido, no primeiro semestre de 1993, todo o acervo tridimensional foi conferido,

    identificado com um novo cdigo de registro e classificado segundo o thesaurus adotado.

    Paralelamente, deu-se incio ao trabalho de imunizao, higienizao e acondicionamento

    provisrio desse acervo, o que possibilitou a elaborao de listagem, contendo peas com

    prioridade de restaurao. (CNDIDO, 2003, p. 24)

    A retomada do controle do acervo foi posta como prioridade, uma vez que qualquer

    iniciativa museolgica teria tal condio como pressuposta.

    Curiosamente (pelo menos a princpio), esta iniciativa revestiu-se, tambm, de um

    carter comemorativo. O ano de 1993 era o do cinqentenrio do MHAB, no

    momento em a cidade iniciava uma experincia poltica que se revestia de novidade:

    o governo da Frente Popular. Um diagnstico de sua situao no momento do jubileu, alm da elaborao de um plano

    diretor para a instituio foram as formas de comemorao encontradas por aqueles que,

    naquele momento, assumiam responsabilidade de gerir este espao pblico. (PIMENTEL,

    2004b, p. 77)

    O aspecto comemorativo buscou dar ao Museu visibilidade diante das autoridades

    municipais recm-constitudas, e que eram tambm suas mantenedoras. Ou seja

    recuperar o apoio poltico necessrio para que o processo de revitalizao se

    consolidasse. Tratava-se da gnese de um projeto de longo prazo, que viria a

    reinstituir a terceira matriz, uma vez que, ao recuperar o controle do acervo, a

    segunda j havia sido recolocada. E com a recolocao da segunda matriz, a

    primeira seria, necessariamente, trazida baila: a pesquisa museolgica acionada

    para a constituio da documentao do acervo, que estava em curso, exigiu que o

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    conhecimento sobre a histria da Instituio fosse recuperado. A emergncia do

    Museu, da forma como atualmente est organizado aconteceu, portanto, em torno

    das trs matrizes.

    Mas a recolocao da segunda matriz no significou, de imediato, a instituio de

    uma Poltica de Aquisio de Acervos, ainda que tivesse significado sua sada da

    posio de recolhedor passivo em que se encontrava, desde os anos 1950.

    5 Adiante da revitalizao: a Poltica de Aquisio de Acervos, de 2003 at hoje. O perodo entre os anos de 1994 e 1998 (4) testemunhou uma autntica

    reestruturao fsica e institucional do MHAB. Contando com o apoio, tanto da

    Prefeitura de Belo Horizonte, quanto da sociedade civil, a partir de 1994,

    eficazmente representada pela Associao de Amigos do MHAB, a Instituio

    superou limitaes de infra-estrura e de equipe tcnica. A partir de 1998, finalmente

    contando com instalaes adequadas, o Museu pde, ento, iniciar o que poderia

    ser considerada uma segunda fase do processo de revitalizao: a elaborao de

    uma poltica de acervos que recolocasse a instituio no tempo presente.

    Em 2006, no momento em que este texto est sendo concebido, a questo do

    acervo, no MHAB, poderia ser dividida em dois momentos. O primeiro tem como

    marco o ano de 1993, quando foi elaborado o projeto emergencial de tratamento,

    que se desdobrou, a partir de 1995, por um lado, num projeto de inventrio, e, por

    outro, na adoo de normas de documentao do acervo baseadas em experincias

    anteriores realizadas em outras instituies, j consolidadas. Foram seguidas as

    experincias do Museu Histrico Nacional e do Museu Paulista. Deste, foram

    levadas em considerao as indicaes tericas sobre os usos de museus de

    histria, j divulgadas em textos de ampla circulao (MENESES, 1992); do

    primeiro, as opes metodolgicas, expressas em um amplo projeto de

    documentao iniciado na primeira metade dos anos 1980, do sculo XX, baseado

    na utilizao de terminologia controlada relacionada em um thesaurus,

    especificamente concebido para utilizao em museus. (5) No MHAB, as

    recomendaes do thesaurus sofreram algumas adaptaes, com a diviso do

    acervo em quatro categorias: Objetos, Fotogrfica, Acervo Textual e Iconogrfico, e

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    Acervo Bibliogrfico. O controle do acervo foi um processo paulatino, envolvendo

    tambm a criao de infra-estrutura, expressa na construo do anexo e,

    posteriormente, na instalao de Reservas Tcnicas especializadas.

    Esta pode ser considerada uma primeira fase da Poltica de Aquisio de Acervos.

    Entretanto, essa primeira fase operou basicamente com a categoria de acervos

    cartorial, quer dizer, o conjunto de documentos inventariados, registrados, e sob a

    guarda de um museu na terminologia que adotamos, adquiridos.

    No entanto, conforme avanava o trabalho de adequao conceitual e tcnica em

    torno do acervo cartorial do MHAB, uma pergunta se tornava cada vez mais

    presente, entre os envolvidos no processo: at que ponto aquele montante de

    objetos, que passava a ser melhor conhecido, dava realmente conta da cidade?

    Essa pergunta aprofundou-se na medida em que as atividades elaboradas em torno

    do novo edifcio foram se organizando e consolidando. Tornava-se evidente que o

    Museu buscava um novo lugar na cidade, caracterizando-se como um

    Museu/Centro Cultural, idia referenciada na concepo de museu como um

    espao de articulao das relaes que se estabelecem entre o homem e o objeto

    [...] mediados pelos procedimentos de Ao Cultural. (LACERDA, FERRON,

    ARAJO, 2004, p. 104). A noo de museu de histria daria conta dessa

    articulao? Certamente no, caso a orientao do MHAB continuasse presa a

    contar para as futuras geraes, atravs de relquias, a histria antiga e a histria

    mdia de Belo Horizonte (ainda que adaptada). Mas se a histria passasse a ser

    parte, e no fundo, de uma abordagem que tomasse a cidade (do passado, do

    presente e do futuro) [como] objeto de conhecimento infinitamente mais amplo e

    complexo do que qualquer acervo ou documentao que possa referenci-lo

    (MENESES, 2004, p. 258) o Museu teria, enfim, se descolado de seu passado,

    colocando-se como objeto de suas prprias aes.

    A resposta era, pois, a migrao de um museu para outro. No mais o museu de

    histria da cidade, mas o museu da cidade. O Museu/Centro Cultural revelou-se, por volta de 2002-2003, uma forma embrionria. Dele sairia o museu de cidade

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    na sua condio de organismo emprico, vivo e histrico. Assim, no museu de cidade, ser

    conveniente distinguir uma dupla relao com a cidade, mediada, de um lado, por um

    acervo, digamos cartorial, organizando intramuros e constitudo por tudo aquilo que remeter

    cidade e a seus atributos e, de outro lado, por um acervo operacional, extramuros, a

    cidade sobre a qual agir o museu, o espao urbano ele prprio, na sua diversidade e

    dinmica. (MENESES, 2004, p. 258)

    Em todos os sentidos, a migrao temtica e conceitual de um museu para outro,

    amplamente discutida na Instituio como opo conceitual, fundadora deste

    momento, apresenta alguns pressupostos fundamentais. A cidade, como objeto de

    atuao do Museu, passa a ser vista como mltipla e complexa, artefato criado e

    recriado como campo de foras e campo de significaes. Cidade que, ao abrigar

    diferentes prticas, comportamentos e interesses, gera diferentes significados

    sociais. Cabe ao museu de cidade explicitar esses diferentes significados, expressos

    nas mltiplas formas de apropriao dos espaos e representaes, criadas pelos

    habitantes na cidade.

    Essa nova abordagem implica na re-interpretao de todo o acervo cartorial, e, para

    alm, na construo de novos acervos, alguns totalmente novos e inusitados,

    mesmo para os profissionais envolvidos no processo. Acervos que levantem e

    problematizem as questes urbanas, e que sejam ponto de partida do Museu em

    suas diversas aes: gerenciamento da informao, programa de exposies,

    pesquisa, projetos educativos e de comunicao.

    Mesmo a poltica de acervos, implantada em 1993, se mostrou insuficiente. O

    estabelecimento da atual Poltica de Aquisio de Acervos se d no momento em

    que, em 2003, quando da comemorao dos 60 anos do Museu, uma exposio

    obrigou o MHAB a repensar seu acervo, quela altura j totalmente controlado. O

    Museu, agente ativo na cidade, fora de seus muros, passaria a confrontar-se com

    duas situaes: primeiro, a negociao com cidados individuais, como doadores e,

    segundo, a clivagem da cidade como acervo. A essas duas situaes somaram-se

    outras, no totalmente novas: primeira, a negociao com rgos da Prefeitura de

    Belo Horizonte no sentido da incorporao de objetos desativados, que poderiam

    ser, aps exame, considerados de interesse para a memria da cidade e, segunda,

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    a regularizao da documentao comprobatria da posse do acervo um aspecto

    da gesto de acervos at ento no totalmente regularizado. Essas situaes

    levaram criao da Comisso Permanente de Poltica de Acervo (CPPA/MHAB),

    oficializada em 2003.

    Para a CPPA passou a caber, desde ento, a coordenao da Poltica de Aquisio

    de Acervos do MHAB, em todos os aspectos. rgo deliberativo superior, a CPPA

    solicitou, logo em sua primeira reunio, um diagnstico da situao do acervo com

    relao possibilidade de comprovao de posse, para que fossem identificadas

    pendncias relativas documentao. Ao mesmo tempo, recolheu, junto equipe

    do Museu, sugestes sobre aquisio e ampliao dos itens preservados.

    Como resultado dessas duas aes, surgiu um documento que, basicamente, fazia

    duas recomendaes: resoluo das pendncias apontadas, e ampliao do acervo

    preservado. Essas duas recomendaes constituem, desde ento, as diretrizes da

    Poltica de Aquisio de Acervos do Museu.

    A resoluo das pendncias implicou na adoo de rigorosa poltica de inventrio

    do acervo, ou seja, a introduo de prticas visando a administrao patrimonial do

    acervo. Foi estabelecido que nenhum objeto permaneceria sem documentao que

    comprovasse sua posse. Paralelamente, foram estabelecidas prticas de

    relacionamento com os possuidores originais, fossem eles cidados privados, ou

    agentes oficiais da prefeitura. Essa poltica teve como conseqncia a instaurao

    de prticas arquivsticas totalmente ajustadas Poltica de Gesto de Arquivos da

    Prefeitura.

    Essa diretriz tambm abriu a possibilidade de que fossem experimentadas prticas

    de baixa de acervos, por meio da identificao de objetos considerados no

    concomitantes s linhas temticas adotadas pelo MHAB, ou que estivessem em

    estado de conservao que no justificasse o investimento de recursos em

    restaurao.

    A ampliao do acervo, a segunda diretriz, ainda experincia em curso. Uma

    poltica de acervos operacionais, ou seja, de abordagem da cidade como artefato,

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    pela via da clivagem, foi implantada. Essa no era uma idia nova, no MHAB, j

    tendo sido proposta em 1995, com o nome de Circuitos de Memria (CNDIDO e

    TRINDADE, 2004, p. 162), que, por diversos motivos, no se concretizou ento. Em

    2003, uma primeira experincia comeou a ser realizada, abordando a Praa Sete

    de Setembro, importante logradouro pblico belo-horizontino, e, desde ento, tem

    resultado em diversos produtos, em termos de bancos de dados, acervo, exposies

    e publicaes. A essa ao dever, em 2007, juntar-se uma segunda, abordando a

    regio da Pampulha.

    Todas essas aes testemunham, aps trs anos de atuao da CPPA/MHAB, o

    amadurecimento dos trabalhos. O estabelecimento efetivo de uma Poltica de

    Aquisio de Acervos aponta o estabelecimento do MHAB na condio de

    recolhedor ativo, no que diz respeito incorporao de acervos tradicionais ou

    cartoriais: exemplo disso o trabalho desenvolvido atualmente junto a diversas

    instncias da Prefeitura de Belo Horizonte.

    O prximo passo do MHAB so os projetos que visam chamar a ateno dos

    habitantes para a cidade, e para a diversidade e dinmica em que esto inseridos,

    tirando-os de seus locais de vida cotidiana e trazendo-os at o Museu. Algumas

    experincias de notvel sucesso j foram feitas, colocando a Educao Patrimonial

    tambm na trilha da Poltica de Aquisio de Acervos: trata-se da ao intitulada

    Onde mora minha histria, na qual o MHAB sai de seus muros e leva todas as

    funes museolgicas para uma regio escolhida com antecedncia, escolhendo

    uma escola como base. Pensamos que talvez seja este o futuro.

    6 Concluso: a teoria, na prtica, funciona. O atual MHAB produto de um longo processo, que conjugou oportunidade,

    vontade poltica e qualidade profissional. A deciso, tomada em 2003, de encerrar o

    processo de revitalizao, e a assuno pela equipe, de que os mtodos

    desenvolvidos j se haviam tornado parte do cotidiano institucional, foram a

    comprovao final de que as opes tericas feitas em determinado momento

    tinham tido sucesso, e que a prtica do controle do acervo, independente do nome

    que receba, funciona e abre novas possibilidades para a instituio.

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    A experincia do Museu, nos ltimos anos, garantiu sua passagem da condio de

    um acanhado museu de histria para a de importante museu de cidade, condio

    consolidada, tanto no panorama local, quanto no brasileiro. A eficcia do processo

    atestada pela sucesso de projetos que, nos ltimos anos, tm sido propostos e

    aprovados, o que amplia enormemente o flego institucional. Uma equipe de

    profissionais bem formados e engajados, o apoio fundamental da Prefeitura e da

    sociedade civil, representada pela AAMHAB, fazem da Poltica de Aquisio de

    Acervos uma ferramenta eficaz de gesto museal, e nos permite dizer que nossa

    experincia deu certo, e pode perfeitamente ser repetida.

    Notas (1) Recentemente, o Departamento de Museus e Centros Culturais (DEMU) do Iphan tem feito esforos de

    coordenao que resultaram numa Poltica Nacional de Museus. Trata-se de uma poltica pblica voltada para

    os museus brasileiros, [visando] estabelecer o debate necessrio sobre a questo com os diversos segmentos

    culturais que tratam do assunto, buscando travar um dilogo com pessoas e entidades vinculadas museologia,

    meio universitrio, profissionais da rea e secretarias estaduais e municipais de cultura. (BRASIL, Ministrio da

    Cultura, 2005). O documento em questo refere-se, em seu item 7, Gesto e Aquisio de Acervos Culturais.

    O Decreto 5264, de 5 de novembro de 2004, que institui o Sistema Brasileiro de Museus, tambm se refere

    aquisio de bens, embora de maneira extremamente genrica.

    (2) Lanada em 1936, a obra se dividia em dois volumes: o primeiro, Histria Antiga; e o segundo, Histria

    Mdia. Baseado em extensa pesquisa documental, Barreto mirava-se no exemplo de Diogo de Vasconcelos,

    tido como fundador da historiografia mineira e que em 1901 publicara a primeira verso da Histria Antiga das

    Minas Gerais e, em 1918, a Histria Mdia das Minas Gerais. (FARIA, 1995, v.1, p. 28)

    (3) No possvel estabelecer com clareza como Barreto concebia essa questo. Segundo o exame de um

    documento datado de abril de 1943, a idia estaria relacionada possibilidade, nunca realizada, de construo

    de um anexo, cuja visitao seria precedida pela visitao ao Casaro. (BITTENCOURT, 2004b, p. 41).

    (4) Ainda no ano de 1993 foi iniciado o planejamento fsico e financeiro da reestruturao do stio da Fazenda

    Velha do Leito, cujo principal aspecto era a construo de um novo prdio, ento tratado como anexo. Esse

    prdio foi pensado como sede das atividades museolgicas do MHAB, enquanto o Casaro, restaurado,

    passaria a ser sede exclusivamente de exposies. O novo prdio foi inaugurado em dezembro de 1998.

    (5) Trata-se do Thesaurus para acervos museolgicos (FERREZ e BIANCHINI, 1987). Trata-se do instrumento

    tcnico que, ao longo dos ltimos vinte anos se tornou a ferramenta bsica de trabalho dos especialistas em

    documentao museolgica, tendo sido base de todas as experincias tentadas no Brasil. O Thesaurus foi

    produto de uma experincia pioneira, em nosso pas: criar um vocabulrio controlado que permitisse a

    uniformizao das bases de dados geradas pelo tratamento tcnico de acervos. Para termos de tratamento

    documental, os objetos so divididos em categorias, classes e subclasses.

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    * Historiadora. Doutora em Histria. Diretora do Museu Histrico Ablio Barreto.

    ** Historiador. Doutor em Histria. Pesquisador do IPHAN.

    *** Historiadora. Coordenadora de ao cultural do Museu Histrico Ablio Barreto.

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