amanhà - guia da sustentabilidade 2010

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O desafio da mudança As oportunidades e ameaças que estão alterando a agenda estratégica das empresas na nova economia do baixo carbono EXCLUSIVO Um roteiro para enfrentar o tema do aquecimento global PESQUISA Como o Brasil está se preparando para conter as emissões 80 verbetes com o essencial para uma gestão sustentável ANO III – 2010 – R$ 15,00 climática

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Uma verdadeira enciclopédia da sustentabilidade, incluindo 80 verbetes.A sustainability encyclopedia published by Amanhã Magazine.

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O desafio da mudança

As oportunidades e ameaças que estão alterando a agenda estratégica das empresas na nova economia do baixo carbono

EXCLUSIVOUm roteiro para enfrentar o tema do aquecimento global

PESQUISAComo o Brasil está se preparando para conter as emissões

80verbetes

com o essencial parauma gestão sustentável

AN

O II

I – 2

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– R

$ 15

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climática

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

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Uma nova abordagemReportagem especial mostra por que a sustentabilidade deixou de ser vista como um centro de custos para se tornar um diferencial competitivo

O Brasil na economia verdeO país tem plenas condições de assumir a liderança global em sustentabilidade –

mas para isso terá de acelerar o passo, diz Marina Grossi, presidente do Cebds

Números da sustentabilidadeEstudo mostra como as empresas brasileiras estão se preparando para explorar as oportunidades – e afastar as ameaças – do mercado global de carbono

Um roteiro para avançarAMANHÃ e PwC apresentam as perguntas

que devem ser respondidas na busca de uma gestão alinhada com a necessidade

de conter o aquecimento global

Adaptação

Agenda 21

Agronegócio e Mudanças Climáticas

Aquecimento Global

Balanço Ambiental

Biocombustíveis

Biodigestores

Biodiversidade

Calotas Polares

Camada de Ozônio

Cap and Trade

Carbon Disclosure Project

Carbon Trust

Carbono Equivalente

Carbono Neutro

CDP Supply Chain

Certi� cação Florestal

Código Florestal Brasileiro

Consumo Consciente

Convenção Quadro das Nações Unidas sobre

Mudanças Climáticas

COP15

COP16

Créditos de Carbono

Desenvolvimento Sustentável

Deserti� cação

Desmatamento e Queimadas

Dow Jones Sustainability Index World

Economia de Baixo Carbono

Efeito Estufa

El Ninõ e La Niña

Emissões de Biomassa

Emissões Diretas

Emissões Indiretas

Energias Limpas

Evolução das Temperaturas

Extremos Climáticos

Fator de Emissão

Financiamento para a Sustentabilidade

FSC – Forest Stewardship Council

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VERBETES

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Diretor-geral: Jorge [email protected]

Diretor de redação: Eugênio Esber [email protected]

Editor executivo: Andreas Mü[email protected]

Editor especial: Felipe [email protected]

Secretário de redação: Marcos [email protected]

Reportagem: Fernanda Peruzzo

Coordenador do Portal AMANHÃ: Ricardo [email protected]

Produtor grá� co: Wagner Lettnin – [email protected] Designer: Carlos André Pires – carlosandre@amanhã.com.brRevisão: Rosana Maron Fone (51) 3230.3510 Fax (51) 3230.3530

PUBLICIDADEGerente de relacionamentos:Nilo Teixeira – [email protected] de contas: Karine Cardias – [email protected] (51) 3230.3520

Núcleo de projetos especiais:Gerente: André Bersano – [email protected] Fone (51) 3230.3534

Porto Alegre/RS: Rua dos Andradas, 1001Conjunto 1402 – CEP 90160-092Fone (51) 3230.3500 – Fax (51) [email protected]

Brasília/DF: MaxxiDireto ComunicaçãoSHIS QI 11 Bloco “O”. Ed. Deck Brasil – salas 128/130CEP 71625-205 – Fone (61) 3248.3344 [email protected]

Representante na U.E.: Juan Alberto CasasEuroLatin – Business Publications GroupFone + 34 931 835 665 – www.EuroLatin-bpg.com

NÚCLEO DE RELACIONAMENTOCoordenação:Mastrângela Teixeira – [email protected] Eventos:Estela Silva – [email protected] Circulação:Ana Paula Azeredo – [email protected]

ADMINISTRAÇÃOCoordenação: Greice Ramos - [email protected]

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

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Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC)Gases de Efeito Estufa (GEE)Gerente de Mudança ClimáticaGHG ProtocolGlobal Reporting Initiative (GRI)GreenwashingÍndice de Sustentabilidade Empresarial da BovespaInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)Inventário de EmissõesISO14064Licenciamento AmbientalMarketing VerdeMecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)Medidas de Contabilização de Emissões de CarbonoMercado de Capitais e SustentabilidadeMetas de ReduçãoMinistério Público AmbientalMitigação Mudanças de Uso da TerraObservatório do ClimaOceanosPainel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCCPaíses do Anexo IPaíses do Anexo IIPecuária e o Meio AmbientePegada CarbônicaPolítica Nacional de Mudanças ClimáticasPrevisões de Mudança no ClimaProtocolo de QuiotoQualidade do ArRedução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD e REDD+)Reduções Certi� cadas de Emissão (RCE)Registro Público de EmissõesRelação com Investidores e o Meio AmbienteRelatório SternSelo VerdeSistema de Gestão Ambiental (SGA)Terceiro SetorTripple Bottom LineVapor d´ÁguaZeri

APOIO

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GUIA DA SUSTENTABILIDADEGUIA DA SUSTENTABILIDADE

Competição. Busca pelo lucro. Por muito

tempo, esses dois princípios fundamentais do

capitalismo foram vistos como catalisadores

das mudanças climáticas causadas pelo efeito

estufa. Determinadas a superar a concorrência

com resultados cada vez mais polpudos, muitas

empresas ignoravam as questões ambientais

mais básicas. Promoviam o desmatamento, co-

mercializavam produtos contendo substâncias

prejudiciais à natureza e, de uma forma ou de

outra, contribuíam para agravar a concentra-

ção de gases poluentes na atmosfera – este, sim,

o responsável direto pelas oscilações do clima

em diferentes partes do planeta.

Felizmente, essa época está fi cando para

trás. Hoje, as companhias que desprezam os

ideais do desenvolvimento sustentável são

justamente as que mais perdem poder de com-

petição. Seus produtos são deixados de lado

por consumidores cada vez mais preocupados

com as questões ambientais. Seus processos se

tornam menos efi cientes quando comparados

aos das empresas que já praticam os mantras

da produção limpa. E o pior: suas estratégias de

crescimento deixam de considerar ameaças e

oportunidades cada vez mais importantes para

quem deseja prosperar na chamada “economia

de baixo carbono”.

Trata-se de uma virada de paradigma. O

capitalismo deixou de ser somente um vilão –

agora, é um incentivador de soluções para as

mudanças climáticas. As empresas se alinham

aos conceitos da sustentabilidade não só por

idealismo, mas porque querem se tornar mais

competitivas: vender mais, obter lucro e deixar

a concorrência para trás. Nesse novo contexto,

O desa� o da mudança climáticaQUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”

QUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”

QUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE QUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE QUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”

QUARTA EDIÇÃO DO GUIA DA SUSTENTABILIDADE APRESENTA OS CONCEITOS, PRÁTICAS E TENDÊNCIAS ESSENCIAIS PARA AS EMPRESAS QUE DESEJAM TER ESPAÇO NA NOVA “ECONOMIA DE BAIXO CARBONO”

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PATROCINADORESPATROCINADORES

Na quarta edição do Guia da Sustentabili-

dade, o Instituto AMANHÃ enumera os con-

ceitos, práticas e tendências essenciais para as

empresas que desejam embarcar nesse novo

momento da economia global. O Guia reúne 80

verbetes básicos que ajudam a mapear as amea-

ças e as oportunidades das mudanças climáti-

cas. Traz uma reportagem especial sobre os

negócios que estão surgindo na esteira da

sustentabilidade ambiental e reproduz parte

de um amplo estudo realizado pela Pricewa-

terhouseCoopers sobre como as companhias

brasileiras estão se adaptando à economia de

baixo carbono. É mais uma contribuição para

as empresas e empreendedores que buscam a

excelência e um patamar de competitividade

capaz de perdurar ao longo das gerações – ou

simplesmente “sustentável”.

o caminho da sustentabilidade é mais do que

uma alternativa – é uma obrigação para quem

pretende ter espaço em um mundo cada vez

mais exposto aos sintomas do efeito estufa.

Na ONU, os países membros do Painel In-

tergovernamental sobre Mudanças Climáticas

(IPCC, na sigla em inglês) vêm costurando

um acordo para estabelecer novos limites às

emissões de gases causadores do efeito estufa.

Com isso, crescem as expectativas em torno

do mercado de créditos de carbono, uma frente

de negócios bilionária em que o Brasil tem

altíssimo potencial de penetração. Enquanto

o acordo não sai, inúmeras companhias ao

redor do mundo começam a investir em ações

de mitigação do carbono e de adaptação às

mudanças do clima. Quem ignora esses movi-

mentos está fadado a perder o trem da história.

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Sustentabilidade,mas pode chamar de competitividade

Div

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Vale

VocAção VErDE Projeto de florestamento ajuda a alinhar a Vale com o anseio de acionistas cada vez mais atentos ao “risco ambiental”

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cadas, esse tipo de produção cumpre obriga-toriamente as legislações ambientais e mais uma série de normas, entre elas a proibição do uso de fogo no manejo das pastagens, um dos maiores problemas da criação tradicional de gado no país. A pecuária orgânica no Cerrado é apoiada pela organização WWF. Desde 2003, a instituição incentiva e divulga a técnica entre produtores do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, regiões onde a pecuária vem avançando sobre esse im-portante bioma nacional, a ponto de já preocupar especialistas e também o governo. Até 2008, cerca de 47% da área original do Cerrado já tinha sido desmatada. Para conter esse avanço, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, lançado em 2010, propõe que o desmatamento da região diminua 40% nos próximos dois anos.

PARA SABER MAISLivros

Expansão e Trajetórias da Pecuária na Amazônia, de Jonas Bastos da Veiga, Jean-François Tourrand e Marie Gabrielle Piketty (UnB, 2004)

Criação Animal Orgânica – Regulamentos e Normas da Produção Orgânica, de Silvio Roberto Penteado (Via Orgânica, 2009)

Sites http://www.ilpf.com.br

http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/silpf/index.php

http://www.planetaorganico.com.br/pecorg.htm

pEGADA cArBôNIcA Toda atividade humana deixa uma marca. Al-

gumas impactam diretamente o clima por meio de suas emissões de gases de efeito estufa. Para que cada empresa e cidadão tenha consciência do volume de emissões que gera a cada ano, ou mês,

Agropecuária (Embrapa). O sistema combina atividades agrícolas, fl orestais e pecuárias num mesmo espaço e promove não só a recuperação das pastagens como também a melhoria do solo. De quebra, turbina o lucro dos agricultores, uma vez que aumenta a diversidade de produtos cultivados.

Apesar de ser executada no país, há mais de 40 anos, a ILPF ainda é desconhecida pela maioria dos produtores. A técnica consiste no cultivo de uma espécie fl orestal de interesse comercial com espaço ampliado entre cada árvore, criando espécies de corredores-canteiros nos quais são semeadas culturas como soja, milho ou feijão durante um período de dois a três anos. Passado esse prazo e feita a última colheita, os corredores então recebem uma cobertura de forrageira, como é chamada a planta que serve de alimento para o gado. Esse novo pasto alimenta os animais e ajuda a recuperar o solo até chegar o momento de cor-tar a madeira. Quando isso acontece, o produtor reinicia o ciclo de interação das culturas.

Segundo o Ministério da Agricultura, a área que utiliza esse sistema pode aumentar em 4 milhões na próxima década e ajudar a diminuir entre 18 e 22 milhões de toneladas as emissões de gases de efeito estufa.

Outra maneira sustentável de criar o gado e outros animais de corte é por meio da produção orgânica certifi cada. O sistema subentende a criação de espécies de maneira não poluidora, que não destrua e nem degrade o meio ambiente. Por ser executada apenas em fazendas certifi -

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faz-se o cálculo desse impacto e ao seu resultado dá-se o nome de pegada carbônica.

Instituições, empresas e governos divulgam suas pegadas por meio de relatórios e inventários de emissões. São esses documentos, normalmente publicados nos próprios sites de empresas e insti-tuições, que servem de base de informação aos clientes, cidadãos e consumidores. Mas as pessoas comuns também podem medir suas pegadas. Existe na internet uma centena de sites que oferecem calculadoras de pegada carbônica. Por meio de um questionário simples sobre os hábitos de consumo e transporte, o programa indica qual o volume de gases emitidos por uma pessoa ou por uma família. Junto a esse resultado, cada programa traz um guia de conscientização. Alguns indicam quantas árvores a pessoa ou a família deveria plantar para neutralizar as emissões que gerou. Outros mostram alternativas viáveis para a redução de emissões.

Foi por meio de um cálculo da pegada car-bônica que o diretor de cinema Walter Salles conseguiu neutralizar as emissões geradas pelo seu longa metragem Linha de Passe, em 2008. A produtora responsável pelo fi lme mediu em pelo menos 118.164 toneladas de CO2 equivalentes à medida de emissões resultante de todo o trabalho de gravação, edição e divulgação da película. Para compensar, três hectares de fl oresta foram planta-dos e outros dois serão preservados pela empresa.

Conta semelhante fi zeram os produtores da indústria da Champagne para descobrir que sua parcela de responsabilidade no inventário francês de emissões totaliza 200 mil toneladas cúbicas de dióxido de carbono ao ano. O trans-porte da homônima bebida é responsável pela maior parte dessa pegada, junto com as emissões resultantes do processo de fabricação das gar-rafas de vidro. Para tentar cortar essa marca, eles então decidiram modifi car suas embalagens. O peso padrão das garrafas foi reduzido de 900

gramas para 835 gramas e criou-se uma alteração em seu formato perceptível apenas aos olhos treinados dos produtores e consumidores mais fi éis. Na prática, essa transformação aparente-mente simples demandou estudos sérios. É que a pressão exercida pelas bolhas que se formam no processo de fermentação da bebida gera três vezes mais pressão do que um pneu de carro.

PARA SABER MAISSites

www.carbontrust.co.uk

http://www.iniciativaverde.org.br

poLÍTIcA NAcIoNAL DE mUDANçAS cLImáTIcAS

A lei que estabelece a Política Nacional de Mudanças Climáticas foi sancionada pelo presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009, quase duas décadas depois de ter sido proposta. Em seu texto, a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro 2009, estabelece padrões ambientais, metas de redução de emissões de gases de efeito es-tufa e programas de incentivo fi scal às ações de mitigação. No artigo 12, ela ratifi ca o compro-misso assumido durante a COP15 de reduzir as emissões nacionais entre 36,1% e 38,9% até 2020. Sua maior importância, porém, reside no com-promisso assumido pelo Brasil em adotar uma

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

nova política ambiental que conduzirá o país a uma economia de baixo carbono. Esse impulso nacional no combate ao aquecimento global foi recebido por toda a comunidade internacional como um grande avanço, uma vez que os países desenvolvidos, que fazem parte do Anexo I, ainda não apresentaram medidas semelhantes.

A Política Nacional de Mudança Climática estabelece os princípios, objetivos e instrumentos para o cumprimento dessas metas, como o Fundo Nacional de Mudança Climática, que vai assegu-rar o repasse de recursos para projetos ou estudos que visem à mitigação das mudanças climáticas e ações de adaptação. O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) será outro impor-tante coadjuvante para o cumprimento das metas de emissões, regulado pela Política Nacional que estimulará o desenvolvimento da operacionaliza-ção de créditos de carbono em bolsas de merca-dorias e futuros, bolsas de valores e entidades de balcão organizado.

A proposta da Política Nacional de Mudanças Climáticas nasceu no Rio de Janeiro, durante a ECO-92, quando o país assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Foram necessários 16 anos até que ela fosse encaminhada ao Congresso Nacional e fi nalmente sancionada.

PARA SABER MAISLivros

Politica Nacional do Meio Ambiente, de Ubiratan Cazetta, João Carlos de Carvalho Rocha e Tarcísio Humberto Parreiras Henriques Filho (Del Rey, 2007)

Sites http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12187.htm

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/com-16-anos-de-atraso-governo

prEvISÕES DE mUDANçAS No cLImA

Em seu último relatório, o Painel Intergover-namental sobre Mudança Climática avisa que a temperatura média na Terra vai aquecer entre 1,4o C e 6o C até 2100. Para os cientistas que integram os quadros de estudos voluntários da entidade, parte desse aquecimento será provo-cada pela alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, com diferentes consequên-cias em cada lugar do planeta. Enquanto alguns países sofrerão com a queda das temperaturas, outros serão castigados pelo forte calor e pela seca. O Brasil faz parte desse último grupo.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com o Centro Hadley de Meteorologia do Reino Unido, divulgada durante a COP15, mostrou que os impactos sobre o território brasileiro poderão ser ainda piores que os previstos pelo IPCC. Segundo as projeções des-sas entidades, a temperatura média brasileira fi caria 20% acima da mundial durante todo o século 21. Em alguns pontos, como na Amazô-nia, as temperaturas podem fi car até 6,6o C acima da média.

O maior impacto, porém, será no nível das chuvas. Na Bacia do São Francisco e na Bacia Amazônica, o índice pluviométrico pode cair em 47% e 40%, respectivamente. A mudança afetará o setor energético e colocará em risco as culturas agrícolas de ambas as regiões. A região sul, ao contrário, deve sofrer com o excesso de chuvas, cujo volume deverá aumentar cerca de 2%, segundo o estudo.

O Inpe mantém desde 2005 um Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas (GPMC) formado por instituições como a Universidade de São Paulo-IAG, Fundação Brasileira de

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pATrocINADorES

Desenvolvimento Sustentável, Embrapa, In-met, Fiocruz e Aneel, além de pesquisadores que trabalham nas áreas de mudanças do clima, análises de vulnerabilidade, estudos de impactos e adaptação. O objetivo do grupo é desenvolver pesquisas relacionadas à mu-dança climática, com destaque à observação e projeção de cenários climáticos que ajudem a antever os efeitos das emissões de carbono na atmosfera.

PARA SABER MAISLivros

Biologia e Mudanças Climáticas no Brasil, de Marcos S. Buckeridge (Rima, 2008)

O Reaquecimento Climático, de Robert Kandel (Loyola, 2007)

Mudanças Climáticas: Premissas e Situação Futura, de Demetrius H. Cardoso De Almeida (LCTE, 2008)

Sites http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br

http://www.ipcc.ch

proTocoLo DE qUIoTo É o principal acordo internacional sobre

mudanças climáticas do mundo. Discutido e ne-gociado na cidade de Quioto, no Japão, em 1997, ele determina que os 36 países desenvolvidos – e

listados no “Anexo I” – reduzam suas emissões de gases de efeito estufa até o ano de 2012. Além disso, o documento estabelece mecanismos que auxiliem os países a cumprir essa meta.

O protocolo é fruto de uma série de negocia-ções iniciadas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 1992. Em 1997, no Japão, a convenção reuniu mais de 10 mil delegados, observadores e jornalistas e culminou em uma decisão crucial: adotar um protocolo global que ajudasse os países desenvolvidos a chegar a 2012 com um volume anual de emissões de carbono 5% inferior àquele registrado em 1990. Assim nasceu o Protocolo de Quioto, que foi assinado em 1998, mas só entrou em vigor em 2005, após a ratifi cação da União Europeia e da Rússia. Ao todo, 36 países ratifi caram o acordo, entre eles o Brasil. Outros, como os Estados Unidos e a Austrália, recursaram-se a aderir. O então presidente norte-americano George W. Busch retirou o país das negociações sobre o protocolo em 2001, sob a alegação de que a sua implementação prejudicaria a economia americana.

Com 174 países signatários, o Protocolo de Quioto é, hoje, o grande marco na batalha da humanidade contra o aquecimento global. Mas não está livre de polêmicas. A maior delas é a visão de que cabe aos países ricos pagar a conta da busca de uma economia de baixo carbono. Afinal, foram eles que se industrializaram primeiro e, portanto, é deles a maior parte da responsabilidade pela atual concentra-ção de gases de efeito estufa na atmosfera. As reações não são sempre amistosas. Alguns governos – como o norte-americano – simples-mente refutam essa visão. Outros assumem a culpa, mas se recusam a assumir o ônus da despoluição sem uma participação efetiva dos

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

países em desenvolvimento.O Protocolo de Quioto também foi respon-

sável por instituir o mercado de créditos de carbono. Com ele, os países desenvolvidos, que não têm condições de reduzir fi sicamente suas emissões de gases do efeito estufa, podem com-prar créditos equivalentes às reduções obtidas em outras regiões do mundo – mais precisa-mente, nos países em desenvolvimento, listados no chamado “Anexo II”. A moeda de troca do mercado de carbono são as chamadas Reduções Certifi cadas de Emissões, ou RCEs (veja o ver-bete correspondente neste guia), que podem ser negociadas diretamente entre governos e empresas ou em bolsas de valores específi cas – como a Bolsa do Clima de Chicago. Cada crédito adquirido dá à ao comprador o direito de emitir a mesma quantidade de carbono ou usá-lo para abater sua própria emissão.

PARA SABER MAISLivros

Protocolo de Quioto e Seus Créditos de Carbono, de

Bruno Kerlakian Sabbag (LTR, 2009)

Protocolo de Quioto e o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo, de Werner Grau Neto

(Fiúza, 2009)

The Kyoto Protocol, de Joe McGovern (Dorrance

Publishing, 2006)

The Kyoto Protocol and Beyond: Legal and Policy

Challenges of Climate Change, editado por Wybe Th.

Douma, Leonardo Massai e Massimiliano Montini

(T.M.C. Asser Press, 2007)

Sites http://unfccc.int/kyoto_protocol/items/2830.php

http://unfccc.int/cop3/home.html

http://www.kyotoprotocol.com

http://www.mct.gov.br/index.php/content/

view/4006.html

qUALIDADE Do Ar O nível de concentração de material particulado

(poeira), dióxido de enxofre, monóxido de carbo-no, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e ozônio é o que defi ne a qualidade do ar como sendo boa ou ruim. Para cada uma dessas substâncias existem limites máximos de concentração que, quando ultrapassados, podem afetar a saúde humana, a segurança e o bem-estar da população – além de ocasionar danos ambientais. No Brasil, esses limites foram fi xados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da Resolução 03/90.

O monitoramento da qualidade do ar contabi-liza a quantidade de poluentes. Os dados obtidos são convertidos em notas de avaliação, através do cálculo dos Índices de Qualidade do Ar (IQAr). Essa ferramenta matemática categoriza as concentrações dos poluentes em uma escala de qualidade dividida em seis níveis, sendo “boa” a mais alta e “crítica” a mais baixa.

Essas avaliações permitem diagnosticar as áreas mais problemáticas do país quando o as-sunto é sustentabilidade. Elas também ajudam a identifi car as cidades que mais poluem, servindo de referência para que as prefeituras e Estados adotem políticas ambientais mais efi cientes.

Em seu relatório Indicadores de Desenvolvi-mento Sustentável, publicado em 2010, o Insti-tuto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) mostrou que as queimadas são responsáveis por mais de 75% das emissões de dióxido de carbono

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pATrocINADorES

no Brasil. Isso explica, por exemplo, por que alguns municípios de porte médio, localizados à margem de polos agrícolas, costumam estar entre os de pior qualidade do ar no país. A publicação também atenuou a má fama de São Paulo nesse quesito. O ranking mostra que a capital mais po-luída do país é Brasília – em 2008, ano da medição, a cidade atingiu mais de 1,2 mil miligramas de poluentes por metro cúbico de ar. Em segundo lugar, aparece Vitória, com 717 miligramas por metro cúbico e Curitiba, com 589 miligramas por metro cúbico. A capital paranaense, famosa em todo o país por seu marketing verde, aparece em destaque nesse ranking indesejável graças a sua grande frota de veículos. Em 2008, Paraná contava com mais de 1,09 milhão de automóveis para uma população de 1,82 milhão de habitantes – quase uma unidade para cada 1,63 habitante.

PARA SABER MAISLivros

Monitoramento da Qualidade do Ar, de Carlos Alberto Frondizzi (E-Papers, 2008)

Qualidade do Ar, de João Fernando P. Gomes (Lidel)

Poluição do Ar, de Samuel Murgel Branco (Editora Moderna, 2004)

Sites http://meioambiente.cptec.inpe.br

http://www.ibama.gov.br

http://www.mma.gov.br/conama

rEDUção DAS EmISSõES por DESmATAmENTo E DEGrADAção (rEDD E rEDD+)

Outro mecanismo de compensação fi nanceira para países em desenvolvimento, a Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação

(REDD) é um programa criado pelas Nações Unidas em 2008 com o intuito de recompensar os governos que criam programas de combate ao desmatamento e preservação de suas fl ores-tas. Serve, também, para premiar estratégias de desenvolvimento que impeçam a degradação em comunidades localizadas dentro de áreas fl o-restais (REDD+). Na prática, é um programa que oferece dinheiro em troca do não desmatamento.

Alguns especialistas afi rmam que a REDD é a solução mais efi ciente para conter as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) – pelo simples fato de que não inviabiliza a economia dos países com grandes áreas fl orestais, como o Brasil. Atual-mente, o desmatamento é responsável por quase 20% do total das emissões globais de GEEs. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a causa primária do desfl orestamento na América Latina é a conversão da mata em áreas para agricultura de larga escala.

Com a REDD, a necessidade de preservar as fl orestas deixa de ser um empecilho ao desen-volvimento e se torna uma fonte de renda. A ma-nutenção das áreas fl orestais diminui o volume de gases despejados na atmosfera e sustenta as árvores necessárias para neutralizar o carbono já emitido. Além disso, gera créditos de carbono que podem ser negociados livremente – nesse caso, o dinheiro obtido tem de ser investido na proteção das fl orestas e na melhoria das comunidades.

No Brasil, a Reserva de Juma, no Amazonas, recebe regularmente a visita de inspetores am-bientais, que vistoriam a mata e, caso confi rmem que nenhuma árvore foi derrubada, emitem um crédito de R$ 30 por mês para cada família da comunidade. A REDD pode contar, ainda, com a doação de países desenvolvidos. O dinheiro é empregado diretamente em projetos de preser-

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vação das fl orestas. A Noruega é a maior doadora desses recursos. Desde 2008, o país escandinavo já empregou mais de US$ 84 milhões em REDD em todo o mundo.

O sistema, no entanto, é cercado por críticas. A principal delas diz respeito à falta de garantia de que os recursos doados serão empregados, de fato, na preservação das fl orestas. O argumento é que alguns países com extensas áreas flo-restais estão entre os mais corruptos do mundo e, portanto, seria necessário criar sistemas de qualifi cação para evitar o desvio dos recursos destinados à REDD.

PARA SABER MAISLivros

Incentives to Sustain Forest Ecosystem Services: a Review and Lessons for REDD, de Ivan Bond, Maryanne Grieg-Gran, Sheila Wertz-Kanounniko� , Peter Hazlewood e Sven Wunder (Internacional Institute for Environment, 2009)

Tenure in Redd, da Agência Europeia de Meio Ambiente

(O� ce for O� cial Publications of the Europe, 2009)

Legal Frameworks for Redd, de John Costenbader (Island Press, 2010)

Site http://www.un-redd.org

rEDUçÕES cErTIfIcADAS DE EmISSão (rcE)

São títulos que correspondem a uma determi-nada quantidade de carbono que deixou de ser liberada na atmosfera. Popularmente conhecidas como créditos de carbono, as Reduções Certifi ca-das de Emissões, ou RCEs, são geradas por projetos de redução dos gases do efeito estufa que tenham sido implementados em países em desenvolvim-ento (veja o verbete “Países do Anexo II”). As RCEs podem ser vendidas para os países desenvolvidos

(os do “Anexo I”), de tal forma que eles consigam atingir, de forma indireta, suas próprias metas de redução de emissões de carbono.

Moeda ofi cial do mercado de carbono, insti-tuído em 1998 pelo Protocolo de Quioto, as RCEs podem ser negociadas diretamente com os países interessados ou por meio das bolsas de valores – hoje, existem contratos de RCEs à disposição na Bolsa do Clima de Chicago e na Bolsa Europeia do Clima. Por convenção, cada tonelada de dióxido de carbono corresponde a um crédito de carbono. Os demais gases de efeito estufa também são igualmente negociáveis – nesse caso, as reduções precisam ser con-vertidas, utilizando-se o conceito do carbono equivalente (veja o verbete correspondente nesta edição).

Quem compra RCEs adquire uma espécie de “permissão” para emitir uma quantidade equivalente de gases do efeito estufa. Por isso, o Protocolo de Quioto determina uma cota máxima de RCEs que os países desenvolvidos podem comprar. Mesmo assim, o mercado representa uma grande oportunidade para os países em de-senvolvimento que investem em políticas de miti-gação e de crescimento rumo a uma economia de baixo carbono. A União Europeia, por exemplo, deve demandar cerca de 3 bilhões de toneladas de CO2 até 2012 – ano em que expira o Protocolo de Quioto – para cumprir suas metas. O Japão anunciou o interesse em comprar 800 milhões de toneladas de CO2 no mesmo período.

O Brasil é o terceiro do ranking mundial de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) junto à ONU. Com 164 projetos até 2009, o país conseguiu gerar R$ 250 milhões com a comercialização de 12,6 milhões de RCEs. Com a aprovação dos projetos já registrados, a receita com o mercado de carbono poderá chegar a R$ 700 milhões.

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pATrocINADorES

O Registro Público também ajudou a con-solidar, no Brasil, o Programa GHG Protocol. Serviu de referência para a elaboração da Política Nacional de Mudanças Climáticas e permitiu que o Brasil assumisse uma posição mais assertiva ao defender metas de redução durante a COP-15, realizada no fi nal de 2009, em Copenhague.

Embora a primeira edição tenha contabili-zado apenas 4% do total de emissões geradas no Brasil, em 2005 – ano da coleta dos dados –, o Registro Público de Emissões de Gases de Efeito Estufa permitiu identifi car quais são os setores que respondem pela maior parcela do carbono jogado pelo Brasil na atmosfera. Do total de 89 milhões de toneladas de carbono equivalentes reportadas, 89% são geradas pelas empresas de transformação, especialmente as indústrias petroquímicas e de combustíveis. Em seguida aparecem as companhias de mineração, com 10% das emissões. O restante é divi-dido entre os setores de saneamento, energia, agronegócio, serviços fi nanceiros e serviços públicos.

Os dados referentes à emissão individual de cada empresa fi cam disponíveis para consulta na página do Registro Público de Emissões de Gases de Efeito Estufa do país (veja o endereço abaixo). A plataforma on-line serve como um grande banco de dados sobre as emissões brasileiras. Nos próximos anos, quando forem agregados novos relatórios, será possível às empresas, aos investidores, aos governos e aos cidadãos acessar os dados detalhados por setor ou empresa.

PARA SABER MAISSite

http://www.fgv.br/ces/registro

PARA SABER MAISLivros

Créditos de Carbono e Sustentabilidade – Os Caminhos do Novo Capitalismo, de Antonio Lombardi (Lazuli, 2008)

Precious Air: the KyotoProtocol and Pro� t in the Global Warming Game, de Alan Reed (Green Fields America, 2006)

Pricing Carbon: the European Union Emissions Trading Scheme, de A. Denny Ellerman, Frank J. Convery e Christian de Perthuis (Cambridge University Press, 2010)

Sites http://www.chicagoclimatex.com

http://www.ecx.eu

rEGISTro pÚBLIco DE EmISSõES Em 2009, 35 empresas brasileiras decidiram

divulgar, de maneira voluntária, informações detalhadas sobre o volume de gases do efeito estufa que cada uma delas emitia na atmosfera. A iniciativa deu origem ao primeiro Registro Público de Emissões de Gases de Efeito Es-tufa do país, baseado na metodologia do GHG Protocol. A publicação dessas informações foi importantíssima. Graças aos relatórios, as or-ganizações ambientais e o governo se tornaram capazes de traçar um mapa mais preciso das emissões de carbono no Brasil de acordo com cada setor da indústria.

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rELAção com INvESTIDorES E o mEIo AmBIENTE

A recente popularização do mercado de capi-tais abriu espaço para a emergência de uma nova categoria de profi ssionais altamente qualifi ca-dos: os executivos de Relações com Investidores – ou simplesmente RI. Especialistas no mercado fi nanceiro, eles normalmente são formados em cargos administrativos e fi nanceiros de grandes empresas e funcionam como os olhos, os ouvidos e a voz das companhias perante seus acionistas. São eles que observam o comportamento dos mercados e fazem as informações chegarem com transparência a todos os investidores, certifi cando-se de que nada fi que mal explicado, tampouco seja divulgado na hora errada.

Peça fundamental na governança corporativa das empresas abertas, o executivo de RI avalia os diversos cenários que pautam o potencial de valorização ou desvalorização de uma empresa. Entram na análise não só os dados fi nanceiros, mas também informações que não podem ser colocadas em um balanço patrimonial, tais como a estratégia para lidar com fatores fundamentais de mercado, táticas de preservação da reputação corporativa – e, é claro, o compromisso com a sustentabilidade. Como mostra a reportagem de capa desta edição do Guia da Sustentabili-dade, aquelas empresas que demonstram estar plenamente sintonizadas com os riscos e opor-

tunidades das mudanças climáticas ganham pontos em credibilidade e têm mais facilidade para atrair a atenção de grandes investidores.

Nas grandes empresas, os RIs trabalham cer-cados de especialistas das mais diversas áreas. O departamento é preparado para atender aos mais diversos questionamentos dos investidores. Por exemplo: qual será o impacto do vazamento de um produto químico no potencial de valorização da companhia? Ou ainda: a implantação de um novo sistema de gestão de resíduos poderá levar a uma valorização dos papéis?

Os profi ssionais da área conversam direta-mente tanto com agentes do mercado fi nan-ceiro – como corretores, gestores de fundos, etc – quanto com investidores individuais. São justamente os individuais, aliás, que respondem por grande parte das demandas de viés ambiental na lista de pendências do departamento de RI.

PARA SABER MAISLivros

Risco Ambiental para as Instituições Financeiras, de Maria de Fátima Cavalcante Tosini (Annablume, 2007)

Responsabilidade Social nas Instituições Financeiras , de Elvira Cruvinel Ventura (Campus, 2008)

Entenda o Mercado de Ações, de Leandro Rassier (Campus, 2009)

Sites http://www.ibri.com.br

http://www.bmfbovespa.com.br

rELATÓrIo STErN Trata-se de um dos estudos mais contunden-

tes a respeito do impacto das mudanças climáti-cas sobre a economia mundial. Encomendado pelo governo britânico ao economista Nicholas

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pATrocINADorES

Stern, o relatório foi publicado em 2006 e soou como uma bomba tão logo foi divulgado, gerando polêmica – e, claro, recebendo muitas críticas.

Basicamente, o levantamento reitera que o clima está mudando e prevê consequências catastrófi cas para a maioria dos países desen-volvidos. Revela, por exemplo, que a concentra-ção de gases do efeito estufa na atmosfera deverá dobrar até 2035, sujeitando toda a humanidade a um aumento médio da temperatura de mais de 2o C. Em um prazo mais longo, a possibilidade é de aumento de mais de 5o C na temperatura média do planeta. Aos cofres, isso custaria muito dinheiro: cerca de 3,7 trilhões de libras esterlinas (aproximadamente R$ 10 trilhões) até o fi nal do século, resultado de uma redução da ordem de 5% a 20% do PIB mundial. Enchentes, diminuição da oferta de água potável, redução na área de terras cultiváveis, entre outras consequências, poderiam forçar centenas de milhões de pes-soas à migração, gerando abandono de algumas economias e inchaço de algumas nações.

Embora bombástico, o Relatório Stern traz um alento: afirma que é possível evitar essa catástrofe – desde que os países concordem em investir 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mun-dial em ações de adaptação e mitigação do car-bono. O documento também confronta a velha visão de que as políticas contra o aquecimento global podem prejudicar o desenvolvimento econômico: na verdade, diz ele, o não fi nancia-mento aos programas de redução de emissões é que pode atravancar o crescimento das nações.

Em 2009, um estudo semelhante foi realizado no Brasil por especialistas de quatro universi-dades em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Intitulado “Economia das Mudanças do Clima no Brasil”, o relatório sustenta que o país pode

perder R$ 3,6 trilhões até 2050 em razão dos impactos do aquecimento global. O relatório brasileiro aponta uma série de oportunidades ligadas à emergência da chamada “economia de baixo carbono”. Uma delas é o aumento do cultivo de cana-de-açúcar para abastecer o setor de biocombustíveis. Outra é a preservação da Floresta Amazônica, que poderá render até US$ 450 por hectare para cada tonelada de carbono que deixar de ser lançada na atmosfera.

PARA SABER MAISLivros

The Economics of Climate Change: the Stern Review, de Nicholas Stern (Cambridge University Press, 2007)

Site www.sternreview.org.uk

SELo vErDE Assim são chamados os certificados que

comprovam a adoção de normas sustentáveis por empresas dos mais variados setores. Eles servem para identifi car produtos e serviços produzidos de acordo com as normas ambientais do país, res peitando a natureza e as comunidades. Itens tão diferentes quanto derivados de madeira, tecidos, alimentos, produtos de higiene pessoal e limpeza, serviços de produção de eventos e até mesmo a construção civil têm seus sistemas especiais de certifi cação.

Os selos verdes se popularizaram nos últi-mos cinco anos devido à crescente demanda

SELo vErDE

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PATROCINADORES

Houve um tempo em que a sustentabilidade era um empecilho à competitividade. Investir em produção limpa, dar a correta destinação a resíduos potencialmente danosos ao meio ambiente, buscar meios de reduzir as emissões de carbono na atmosfera – tudo era visto como custo ou, na melhor das hipóteses, como um mal necessário. Pois esse tempo, felizmente, ficou para trás. Hoje, a sustentabilidade é um valor comum às grandes empresas do mundo e, também, àquelas que mais atraem a atenção de grandes investidores. Nas bolsas de valores, as ações listadas nos índices de sustentabilidade tendem a apresentar, a médio e longo prazos, um desempenho mais consistente do que a média do mercado convencional: caem menos nas crises, sobem mais nos tempos de bonança. Nesse novo contexto, as empresas mais com-petitivas são aquelas que fazem questão de investir em meios de produção que viabilizem um crescimento saudável, sem danificar o meio ambiente. A razão é simples: agindo assim, elas acessam o capital com mais facilidade – e deixam as concorrentes para trás.

Trata-se de uma mudança de paradigma. Antes, acreditava-se que o capitalismo era ini-migo do meio ambiente. Hoje, percebe-se que é justamente por causa dos interesses do capital

que as grandes empresas estão buscando a construção de uma economia de baixo carbono. Aplicar recursos em negócios que não alterem o equilíbrio climático e nem representem riscos à sociedade é mais seguro para os grandes in-vestidores. Quanto menores forem as chances de uma empresa poluir um rio, degradar uma floresta ou esbarrar em processos judiciais que atrasem ou onerem a produção, maior será o seu lucro – e, consequentemente, seus dividendos. Índices como o Dow Jones Sustainability Index e o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (veja mais detalhes nos verbetes deste guia) ajudam a mensurar esses riscos. De quebra, apresentam aos investidores as companhias que tendem a percorrer a traje-tória mais promissora no longo prazo.

Um dos grandes exemplos dessa nova visão é o Carbon Disclosure Project (CDP), uma inicia-tiva global que estimula as empresas a calcular e divulgar seus índices de poluição. Mais do que promover a transparência e a responsabilidade social, o CDP ajuda grandes investidores a en-contrar alternativas duradouras de rendimen-to. O projeto representa os interesses de 475 investidores institucionais – a maioria deles, fundos de pensão – que administram, segure-se na cadeira, nada menos que US$ 57 trilhões

VElhOS mANDAmENTOS DA SuSTENTAbIlIDADE – COmO CONTROlAR AS EmISSõES DE CARbONO E SE ADAPTAR àS muDANçAS PROVOCADAS PElO EfEITO ESTufA – DEIxAm DE SER VISTOS COmO mEROS CuSTOS E gANhAm STATuS DE DIfERENCIAl COmPETITIVO ENTRE gRANDES EmPRESAS glObAIS. mAS AS COmPANhIAS bRASIlEIRAS AINDA PRECISAm OxIgENAR SuAS PRáTICASfernanda Peruzzo

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dos consumidores por informações sobre as políticas ambientais e processos de produção das empresas. Para muitos cidadãos, a existência do selo verde é um pré-requisito na decisão de compra. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, quatro em cada dez brasileiros estão dispostos a pagar mais por um produto com selo verde.

O mais conhecido deles é o Forest Steward-ship Council (FSC), que identifi ca produtos derivados de madeira produzidos com matéria-prima certifi cada, cultivada e cortada sem agre-dir a natureza. Presente em mais de 75 países, inclusive no Brasil, ele é reconhecido pela marca de uma árvore. Mas há outros. No Brasil, um dos mais tradicionais é o Selo Procel de Economia de Energia. Criado em 1994, pelo Inmetro, o selo ajuda o consumidor a reconhecer quais são os produtos de maior efi ciência energética. O objetivo é incentivar os fabricantes a combinar alto rendimento com o menor consumo possível de energia.

Mas nem todos os selos desfrutam de tanta credibilidade. No mercado brasileiro, ainda dominado por estratégias de greenwashing, há empresas que imprimem autodeclarações de certifi cação sem qualquer comprovação ou processo de auditoria. O consumidor também precisa aprender a identifi car os certifi cados ex-postos – muitos sequer dizem respeito a normas ambientais. Para ajudar a identifi car as empresas e produtos realmente sustentáveis, o Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getu-lio Vargas (FGV) desenvolveu um “Catálogo Sustentável”. O site www.catalogosustentavel.com.br funciona como um banco de dados da sustentabilidade, listando mais de 560 itens, entre produtos e serviços, que contam com um genuíno selo verde.

PARA SABER MAISLivros

Consumo Sustentável – Con� itos entre Necessidade e Desperdício, de Ana Tereza Caceres Cortez, (Unesp, 2007)

Certi� cation of Forest Products: Issues And Perspectives, editado por Virgilio Viana, Jamison Ervin, Richard Donovan, Chris Elliott e Henry Gholz (Island Press, 1996)

Sites http://www.akatu.org.br

http://www.inmetro.gov.br/index.asp

http://www.fsc.org.br

http://www.catalogosustentavel.com.br

SISTEmA DE GESTão AmBIENTAL (SGA)

O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é um conjunto de práticas administrativas e operacio-nais voltado a empresas comprometidas com o ideal de controlar e minimizar os impactos de suas atividades sobre o meio ambiente. Baseado na Norma Internacional ISO 14001, o SGA ajuda as companhias a estabelecer etapas de avaliação, planejamento e implementação de processos que certifi quem sua vocação sustentável.

A implantação de um SGA garante à em-presa a conformidade às legislações ambientais, a diminuição de seus riscos e também algumas vantagens econômicas – como o aumento da efi ciência produtiva, a economia de matéria-pri-ma e a redução de resíduos. Para os investidores, a adoção de um SGA é um sinal de que a empresa tem condições de minimizar riscos de acidentes ou de descumprimento de normas ambientais, mantendo-se livres de multas e de outras despe-sas capazes de prejudicar sua competitividade.

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pATrocINADorES

O processo de implantação de um SGA acon-tece em quatro fases e, para obtê-lo, é importante que a sustentabilidade já esteja arraigada à empresa. Na primeira etapa, a candidata à ob-tenção do sistema deve detalhar suas bases de implementação. Posteriormente, é realizada uma revisão ambiental, o planejamento do sistema e a implementação propriamente dita. A auditoria de uma empresa certifi cadora – que deve ser terceirizada – constitui a etapa fi nal.

Em geral, os bons sistemas de gestão ambiental vão além das diretrizes sugeridas no momento da certifi cação. A efi ciência da gestão ambiental não está relacionada apenas ao aprimoramento dos métodos de operação internos, mas também ao de-senvolvimento de uma comunicação efetiva com o público – aí incluídos consumidores, fornecedores, acionistas e outros stakeholders. Esse canal de diálogo pode trazer à empresa novas perspectivas e, com o tempo, ajudá-la a gerar seu impacto positivo na comunidade e no ambiente que a cerca.

PARA SABER MAISLivros

Glossário de Gestão Ambiental, de Maria da Graça Krieger (Disal, 2007)

Fundamentos da Gestão Ambiental, de Alexandre Shigunov Neto, Lucila Maria de Souza Campos e Tatiana Shigunov (Ciência Moderna, 2009)

Gestão Ambiental – Responsabilidade Social e Sustentabilidade, de Reinaldo Dias (Atlas, 2006)

Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental, de Jacques Demajorovic e Alcir Vilela Junior (Senac São Paulo, 2010)

Sistema de Gestão Ambiental para Empresas, de Maria Cristina Fogliatti (Interciência, 2007)

ISO 14001 – Sistemas de Gestão Ambiental, de Mari Elizabete Bernardini Sei� ert (Atlas, 2009)

Sites www.iso.org

www.abnt.org.br

TErcEIro SETor O Terceiro Setor compreende as organiza-

ções privadas sem fi ns lucrativos que atuam na busca do bem-estar social. É chamado de “terceiro setor” porque abriga empresas que não pertencem nem ao setor público (primeiro setor) e tampouco ao privado (segundo setor). Na essência, o Terceiro Setor é formado por entidades privadas com fi nalidade pública, mas que de maneira alguma tentam eximir o governo de suas responsabilidades ou agir em seu lugar – seu objetivo é complementar ou apoiar os dois primeiros setores na promoção de melhorias sociais, culturais ou ambientais.

Fazem parte do Terceiro Setor as organiza-ções não governamentais (ONGs), cooperativas, associações, fundações, instituições fi lantrópi-cas, entidades de assistência social, organizações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público. Como característica funda-mental, as empresas do Terceiro Setor jamais visam ao lucro e sempre buscam o bem-estar comum e coletivo.

Um estudo realizado em 22 países pela Universidade John Hopkins, dos Estados Uni-dos, mostra que o Terceiro Setor movimenta US$ 1,1 trilhão por ano e emprega 19 milhões de pessoas, sem contar os voluntários. No Brasil, são mais de 338 mil ONGs e fundações, segundo um levantamento realizado em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A região sudeste concentra 42,4% delas, seguida do nordeste (23,7%), sul (22,7%), centro-oeste (6,4%) e norte (4,8%).

As organizações ambientais e de proteção animal são as que mais se multiplicam no Ter-ceiro Setor – entre 1996 e 2005, elas cresceram

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mais de cinco vezes no Brasil, segundo o IBGE. Em 2005, estima-se que existiam 2.562 entidades ambientais no país.

PARA SABER MAISLivros

Organizações Não Governamentais e Terceiro Setor – Criação de ONGs e Estratégias de Atuação, de Takeshi Tachizawa (Atlas, 2010)

Um Sensível Olhar sobre o Terceiro Setor, de Eudósia Acuna Quinteiro (Summus, 2006)

E� cacia no Terceiro Setor, de Maria Cecília Roxo Nobre Barreira, (Saint Paul, 2009)

Terceiro Setor – Desenvolvimento Social Sustentado, de Ruth Cardoso e Evelyn Berg Ioschpe (Paz e Terra, 2005)

Terceiro Setor – História e Gestão de Organizações, de Antonio Carlos Carneiro de Albuquerque (Summus, 2006)

Terceiro Setor – Temas Polêmicos, de Eduardo Szazi (Peirópolis, 2004)

Sites http://www.abong.org.br

http://www.terceirosetor.org.br

http://www.� lantropia.org

http://www.rits.org.br

http://www.setor3.com.br

TrIppLE BoTTom LINE Hoje, com a sustentabilidade cada vez mais

em voga, muitos consumidores torcem o nariz para empresas cujo único objetivo seja alcan-çar o lucro. As companhias mais competitivas não se contentam apenas em gerar riquezas e empregos. Elas também olham para os lados e se preocupam com tudo o que está a sua volta: comunidades, sociedade, cultura e meio ambiente. Esse olhar abrangente constitui a

base da gestão empresarial chamada Tripple Bottom Line.

O conceito sugere um tripé formado por três pilares: o econômico, o ambiental e o social. Jun-tos, esses pilares devem nortear as estratégias de desenvolvimento das empresas. Aquelas que se mostram realmente alinhadas ao conceito de Tripple Bottom Line conferem à ética, à respon-sabilidade social e à produção sustentável a mesma importância dada a valores tradicionais como a busca do lucro, da efi ciência e da com-petitividade. Todas as decisões tomadas pela alta direção ou pelo conselho de administração passam a contemplar os três pilares de forma equilibrada.

A abordagem do Tripple Bottom Line foi pro-posta pela primeira vez em 1997, pelo britânico John Elkington, fundador e empreendedor-chefe da ONG SustainAbility. Ele afi rmava que as em-presas privadas não poderiam priorizar somente os aspectos econômicos em suas estratégias de crescimento – caso contrário, acabariam afun-dando em problemas ocasionados nos outros dois pilares da sustentabilidade.

Também conhecido como 3Ps, de People, Planet and Profi t – ou “Pessoas, Planeta e Lucro”, em tradução livre –, o Tripple Bottom Line é um dos conceitos que orientam alguns índices de sustentabilidade empresarial, como o ISE, da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o Dow

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pATrocINADorES

Jones Sustainability Index, da Bolsa de Nova Iorque. Trata-se de uma maneira de valorizar, perante os investidores, aquelas empresas que demonstram interesse genuíno em manter uma gestão sustentável, livre de riscos ambientais, sociais e econômicos.

PARA SABER MAISLivros

Triple Bottom Line, de Andrew W. Savitz e Karl Weber (John Wiley Trade, 2006)

Triple Bottom Line: does it All Add Up?, de Adrian Henriques e Julie Richardson (Earthscan, 2004)

Making Sustainability Work: Best Practices in Managing and Measuring Corporate Social, Environmental and Economic Impacts, de Marc Epstein, John Elkington e Herman B. Leonard (Berrett-Koehler, 2008)

Cannibals with Forks: the Triple Bottom Line of 21st Century Business, de John Elkington (New Society, 1998)

Establishing a Triple Bottom Line Strategy: Leading CEOs on Balancing Economic, Environmental, and Social Responsibilities, compilação de múltiplos autores (Thomson West, 2010)

Sites http://www.sustainability.com

http://www.cebds.org.br/cebds

http://www.johnelkington.com

http://www.getsustainable.net

http://www.tbli.org

vApor D’áGUA Acredite: o gás de efeito estufa mais abun-

dante na atmosfera é o vapor d’ água. Sua con-tribuição efetiva para o aquecimento global ainda é cercada de polêmicas e incertezas. Cientistas e ambientalistas garantem que o vapor pode amplificar o potencial de aqueci-

mento de outros gases de efeitos estufa – como o metano, o dióxido de carbono, o óxido nitroso e ozônio –, colaborando de maneira decisiva para as mudanças climáticas. Outros dizem que o vapor apenas estabiliza, mas não agrava o calor.

A água condensada que se acumula no ar é emitida não só pelas atividades humanas, mas também pela natureza – como na fotossíntese das plantas, por exemplo. Uma vez emitido, o vapor passa a constituir uma camada de proteção térmica que recobre a Terra e sem a qual a temperatura média do planeta seria até 30o C menor.

Em um estudo realizado em 2008, cientistas da Agência Espacial Norte-americana (Nasa) mediram os níveis de umidade em uma zona de 16 quilômetros da atmosfera e combinaram os dados às observações de alterações climáticas na mesma região. Os resultados mostraram que a alta concentração de vapor d’água coincidia com aumentos de temperatura e que esse aumento elevava ainda mais o potencial de aquecimento dos demais gases – que estimulam a evaporação de mais vapor d’água, recomeçando o processo que resulta no efeito estufa.

Para a ala dos céticos, no entanto, o vapor d’água apenas cumpre o papel de regular a temperatura do planeta. O cientista e clima-tologista Tim Ball, por exemplo, costuma citar o caso dos desertos do Oriente Médio, onde há total escassez de vapor d’água – o que leva a temperatura a variar entre -3o C à noite e 52o C durante o dia. Além disso, ele lembra que o vapor d’água exerce outras funções além de aquecer a atmosfera. A formação de nuvens e a chuva, por exemplo, influenciam a variação térmica e nada têm a ver com as emissões geradas pelo homem.

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

PARA SABER MAISLivros

Greenhouse: the 200-Year Story of Global Warming, de Gale E. Christianson (Walker & Company, 1999)

Dead Heat: the Race Against the Greenhouse E� ect, de Michael Oppenheimer e Robert H. Boyle (Basic Books, 1991)

Controlling the Greenhouse E� ect: Five Global Regimes Compared, de Joshua M. Epstein e Raj Gupta (Brookings Institute Press, 1990)

O Efeito de Estufa, de Fred Pearce (Universo da Ciência, 1990)

Efeito Estuda – Por Que a Terra Morre de Calor, de Fátima Cardoso (Terceiro Nome, 2006)

Sites http://www.grida.no

http://www.grist.org

http://www.goes.noaa.gov

zErI Sigla para Zero Emissions Research and Initia-

tives, fundação internacional criada em 1994, nos corredores da Universidade das Nações Unidas de Tóquio, por Günter Pauli, um economista belga com visão de amplo alcance sobre as questões ambientais. Funcionando como uma rede de cientistas, pesquisadores e mentes criativas que colocam todo o seu conhecimento em prol da sustentabilidade, a Zeri se propõe a desenvolver metodologias, sistemas e tecnologias capazes de reduzir o impacto ambiental das indústrias.

A ideia básica por trás do trabalho da funda-ção é a reutilização total dos resíduos gerados pelas empresas, transformando o lixo em insumo para novos produtos. Um de seus projetos mais conhecidos é o que aproveita os restos da in-dústria cervejeira para criar um novo ciclo de produção. A metodologia desenvolvida pela Zeri

propõe que as cervejarias utilizem os restos de cevada e demais grãos empregados na fabricação da bebida (trigo e arroz, por exemplo) como in-grediente para a criação de uma farinha especial e enriquecida para a fabricação de pão. Ou ainda como substrato para o cultivo de cogumelos que podem ser consumidos ou servir como parte da ração de porcos, cujo processo digestivo gera metano que pode ser usado como biogás.

Ao trabalhar em parceria com a natureza, e não contra ela, a Pauli acredita que as empresas podem não só reduzir seus impactos ambientais como também lucrar com isso. Em seu livro mais recente, A Economia Azul, ele explica como o “mercado verde”, que exige dos consumidores investimentos maiores, precisa ser substituído pelo “mercado azul”, no qual as ações de miti-gação ou de redução de impactos, como o reúso do lixo industrial, proporcionam oportunidades.

O objetivo da Zeri é propagar essas teorias no meio empresarial, científi co e também entre a população. Para isso, a fundação conta com uma rede de pesquisadores e sedes em diversos países, entre eles Estados Unidos, Brasil e África do Sul.

PARA SABER MAISLivros

Blue Economy – 10 Years, 100 Innovations, 100 Million Jobs, de Gunter Pauli (Paradigma, 2010)

Shiitake Love Ca� eine: los Shiitake Aman la Ca� eina, de Gunter Pauli (Zeri, 2007)

Upsizing – The Road to Zero Emissions, More Jobs, More Income and no Pollution, de Gunter Pauli (Greenleaf Book Group, 2000)

Avances: lo Que los Negocios Pueden Ofrecer a la Sociedad, de Gunter Pauli (Zeri, 1995)

Sites http://www.zeri.org

http://www.zeri.org.br

http://www.unam.na/centres/zeri/zeri_index.html

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em ativos em todo o globo. “Hoje, o risco deve ser a maior preocupação das empresas. Filan-tropia, cuidados com as árvores ou com o mico leão dourado são um falácia. O que importa é controlar os riscos ambientais para satisfazer o investidor”, argumenta Geraldo Soares, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relação com Investidores (Ibri). Segundo ele, o mer-cado já reconhece quais são as empresas que detêm uma estratégia de crescimento capaz de suportar e eliminar impactos ambientais e sociais – e estas tendem a ter preferência na disputa por capital. “No final das contas, tudo se resume a investir no bem da sociedade pelo bem da própria empresa”, diz ele.

“O rIScO é A mAIOr prEOcUpAçãO.

fILANTrOpIA, cUIDADOS cOm AS árvOrES OU cOm

O mIcO LEãO DOUrADO SãO UmA fALácIA. O qUE

ImpOrTA é cONTrOLAr OS rIScOS AmBIENTAIS pArA

SATISfAzEr O INvESTIDOr. TUDO SE rESUmE A

INvESTIr NO BEm DA SOcIEDADE pELO BEm DA

próprIA EmprESA“

Não é por acaso que essa transformação está em curso. Está cada vez mais difícil fazer vistas grossas às mudanças do clima e aos seus efeitos sobre a população. Os recorrentes aler-tas de instituições de pesquisa, especialmente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), deixaram de ser paranoia ambientalista e se tornaram realidade. O cli-ma saiu do escopo ecologista e se tornou um assunto estratégico – capaz de colocar tanto riscos quanto oportunidades no horizonte de cada empresa. “Os investidores estão cada vez mais conscientes de que, em pelo menos seis anos, todos eles vão adotar a sustentabilidade como principal critério de investimento”, pre-nuncia Giovanni Barontini, sócio-diretor da Fabrica Éthica Brasil, consultoria especializada em sustentabilidade e que é responsável pela redação dos relatórios do Carbon Disclosure Project no país.

A atenção que o mercado vem dando às estrepolias do clima é tanta que, neste ano, a BM&FBovespa anunciou o lançamento de mais um índice de monitoramento de empresas pelo viés ambiental. Trata-se do Índice Carbono Eficiente (ICO2), uma carteira teórica que reú-ne as 50 ações mais negociadas da bolsa e cuja função é identificar, para o investidor, quais são as companhias que geram mais receita com o menor índice de poluição. A metodologia ainda está sendo estudada, mas o princípio básico do ICO2 é bastante simples: basicamente, o indicador aponta quantas toneladas de carbono equivalente cada companhia joga na atmosfera a cada R$ 1 milhão em receita bruta. A iniciativa conta com a parceria do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES) e deve começar a operar no final do ano. O objetivo é incentivar práticas que levem à redução ou contenção do carbono – e inserir de vez o tema das mudanças climáticas na agenda das grandes empresas do país.

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Geraldo soaresvice-presidente do Instituto Brasileiro de

relações com Investidores (Ibri)

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PATROCINADORES

muITO Além DO gREENwAShINgPara a maioria das empresas, enfrentar as

mudanças climáticas é um grande desafio. Muitas ainda buscam uma forma de se encaixar nessa nova perspectiva econômica – e nem todas conseguem. No Brasil, boa parte das companhias confunde sustentabilidade com marketing ver-de. Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, esse

muDANçAS Em PAuTA Líderes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) discutem meios de conter as alterações do clima. Tendência é de que as regras se tornem mais rigorosas

IPCC

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ção

tipo de confusão é comum no Brasil. “O conceito de sustentabilidade já está se enraizando nas indústrias brasileiras. Agora, temos de passar da fase de divulgação de ações para as ações em si. As empresas precisam começar a empregar mais recursos nos projetos de sustentabilidade do que nas ações de marketing”, avalia. Para ele, o momento de virada somente virá quando as questões climáticas forem tratadas com a mes-

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ma seriedade com que as empresas encaram as finanças, recursos humanos, logística e outras áreas estratégicas.

Para isso, no entanto, é necessário outro elemento: a reação às definições públicas. “Os consumidores estão cada vez mais atentos às questões da sustentabilidade. Esse é o primeiro ciclo”, percebe Osvaldo Stella Martins, coorde-nador de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Sob pressão do consumidor, muitas companhias caíram na tentação do greenwashing, como é conhecido o esforço para parecer – e não ne-cessariamente ser – sustentável. “A partir de agora, porém, as empresas começarão a sofrer cobranças efetivas. Os consumidores vão cobrar por meio do poder de compra, e os governos, por meio de políticas de controle ambiental cada vez mais rigorosas, tais como a lei de gestão dos resíduos sólidos”, explica.

Sancionada em agosto, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos incentiva a reciclagem de lixo e obriga as empresas a recolher as embala-gens de seus próprios produtos depois da venda – criando uma cadeia de logística reversa. Com a nova lei, estima-se que a produção diária de lixo nas grandes cidades brasileiras, que atualmen-te é de 150 toneladas, diminua drasticamente. “Sempre que políticas como essa são adotadas pelos governos, as empresas se veem obrigadas a mudar suas políticas de produção e gestão e a adotar novos modelos de produção. Quanto mais rígidas são as leis ambientais, melhores são as ações da iniciativa privada. O contrário também vale”, observa Martins.

PASSo A PASSo

Trata-se de uma completa reciclagem de conceitos que, no entanto, só será completa quando envolver aqueles que realmente tomam as decisões estratégicas nas grandes corporações

AmEAçAS E oPorTUNIDADES. No HSBC, as mudanças do clima já são

analisadas na matriz de competitividade do planejamento estratégico. Visão do banco

é de que o “custo” da sustentabilidade gera vantagens competitivas

Divulgação

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PATROCINADORES

– em outras palavras, os integrantes do conselho de administração. No Brasil, ainda são poucas as empresas que encaram as ações de sustentabili-dade como assunto estratégico, digno de figurar nos planos de crescimento de longo prazo. Ao mesmo tempo, nem todas as grandes companhias parecem convencidas de que os investimentos na contenção do carbono são capazes de levar a uma operação mais eficiente e competitiva. “O custo da sustentabilidade traz ganhos financeiros. Estimular a substituição do consumo de papel numa instituição financeira, por exemplo, não só reduz os custos de consumo da matéria-prima como também diminui o consumo de tinta e de energia usada pela impressora e a necessidade de dar uma destinação aos resíduos”, exempli-fica Ariel Silva, gerente de sustentabilidade do HSBC – empresa que já está alinhada à necessi-dade de incorporar as mudanças climáticas ao planejamento estratégico.

Não é diferente a visão de Carolina Murphy, pesquisadora da Columbia University, que, há mais de uma década, estuda a aplicação prática dos conceitos de sustentabilidade no setor au-tomobilístico. Para ela, formar gestores genui-namente preocupados com a sustentabilidade é a única maneira de se promover uma mudança real de atitude entre as empresas. “Hoje, os conceitos de sustentabilidade ainda esbarram nos conselhos, onde os acionistas e os contro-ladores da empresa têm de aprovar os investi-mentos”, comenta. Como custam caro, as ações de redução de impacto ambiental, na maioria das vezes, ficam só no papel – ou são delegadas ao departamento de marketing. “Infelizmente, mais da metade dos diretores de marketing com quem conversei tende a ver a sustentabilidade como uma simples oportunidade de reinventar a marca da empresa com propaganda, embalagens novas, brindes e vendas segmentadas”, lamenta Carolina.

Pela natureza do negócio, a Vale é uma destas poucas empresas a exibir uma “vocação verde”,

com um departamento formalmente dedicado à sustentabilidade e um líder capaz de representá-la junto à mesa da diretoria. A economista e mestre em administrações de empresas Renata Araújo é quem sustenta no crachá o título de “coordenadora de nova economia e mudanças climáticas” da maior mineradora do país. Em sua

“OS CONSumIDORES ESTãO CADA VEz mAIS ATENTOS àS quESTõES DA SuSTENTAbIlIDADE. A PARTIR DE AgORA, AS EmPRESAS COmEçARãO A SOfRER CObRANçAS EfETIVAS. O CONSumIDOR VAI CObRAR POR mEIO DO PODER DE COmPRA, E OS gOVERNOS, POR mEIO DE POlíTICAS DE CONTROlE AmbIENTAl CADA VEz mAIS RIgOROSAS. quANTO mAIS RígIDAS SãO AS lEIS AmbIENTAIS, mElhORES SãO AS AçõES DA INICIATIVA PRIVADA”

OswaldO stella MartinsCoordenador de mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

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planilha, o que menos entra são ações de marke-ting. “Minha principal função é sensibilizar os diretores e apresentar projetos de oportunidade da área de sustentabilidade. Felizmente, eu consigo trabalhar e incluir ações importantes no planejamento estratégico da Vale”, comenta.

Essa atitude permeável da Vale garante que a

empresa prospecte novos negócios com um olho focado na questão ambiental – tal como acon-teceu com o projeto da Companhia Siderúrgica Ubu, no Espírito Santo. “Esse projeto já nasceu limpo. Graças aos estudos que realizamos e apre-sentamos aos diretores, a nova usina será capaz de produzir toda a energia que consumirá e mais

VISÃO DE LONGO PRAZO A fabricante de cosméticos O Boticário já tem metas de redução das emissões de carbono estabelecidas até 2013

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um excedente”, garante Renata. Com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, a unidade faz parte das metas de crescimento da Vale no setor siderúrgico e deve entrar em operação em 2014. Para contro-lar a emissão de carbono, a nova planta deverá adotar chaminés diferenciadas, equipadas com 140 filtros. Cerca de 97% de toda a água utili-zada pelo empreendimento será reaproveitada. A refrigeração dos equipamentos será realizada com água do mar.

Embora não conte com nenhum diretor formalmente dedicado ao assunto, a Ford tam-bém faz questão de incluir a sustentabilidade em seus planejamentos estratégicos. Exemplo disso foi a inauguração da fábrica em Camaçari. Inaugurada em 2002, a unidade foi concebida a partir do conceito de impacto zero. O projeto reduziu o consumo de água por veículo produ-zido em 22,5% nos últimos quatro anos. “Para nós, existem duas vertentes de sustentabilidade. Uma delas diz respeito aos nossos produtos e o impacto que eles têm no meio ambiente. A outra tem a ver com os nossos processos e com a forma como produzimos os nossos veículos”, enumera o diretor de assuntos corporativos da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb.

Outra empresa que já incorporou as mu-danças climáticas em seus planos de longo prazo é O Boticário. Com sede em Curitiba, a fabricante de cosméticos acredita que reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos pro-cessos produtivos é um vetor fundamental de competitividade. “Temos metas estabelecidas até 2013”, anuncia Malu Nunes, gerente de responsabilidade social corporativa e susten-tabilidade de O Boticário.

fóRmulA A SEguIRO conceito de sustentabilidade aplicado na

Vale permeia desde o planejamento estratégico,

NA ROTA DO CAPITAl Bancos de fomento como o BNDES já dispõem de linhas específicas para financiar projetos “limpos”

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arquitetado pelos diretores até o trabalho dos técnicos que estão em campo, coletando amos-tras de minérios ou realizando o transporte e o escoamento das cargas. Em todos os níveis, profissionais de diferentes formações pensam suas atividades a partir da redução do impacto ambiental. Para a diretora de sustentabilidade da Bovespa, Sônia Favaretto, essa verticalidade é o melhor exemplo de como a sustentabilidade pode se imbricar na rotina das corporações.

“O cONcEITO DE SUSTENTABILIDADE

DEvE SEGUIr O mESmO mOvImENTO TrILhADO

pELA qUALIDADE. A TENDêNcIA é qUE, NUm

prImEIrO mOmENTO, SEjA Um ASSUNTO rESTrITO

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ALcANçAr OS mESmOS NívEIS DE ImpOrTâNcIA

qUE OS DEmAIS cONcEITOS cOrpOrATIvOS, pASSANDO

A SEr ABSOrvIDO pOr TODOS OS SETOrES Em

TODOS OS NívEIS”

Sônia FavaretoDiretora de sustentabilidade da Bovespa

“O conceito de sustentabilidade deve seguir o mesmo movimento trilhado pela qualidade”, sugere. “Incluindo as incertezas, polêmicas e consolidação que todos viveram ao longo das últimas décadas, sobretudo quando essa ideia de qualidade foi apresentada nos anos 1980 e 1990.”

Na prática, isso significa mobilizar as em-presas de alto a baixo, designando profissionais especializados para bolar sistemas de implemen-tação – que, em uma segunda etapa, passam a contar com equipes e departamentos exclusivos. “A tendência natural é que, em um primeiro momento, a sustentabilidade seja um assunto restrito a algumas cabeças. Mas, com o tempo, deve alcançar os mesmos níveis de importância que os demais conceitos corporativos, passando a ser absorvido por todos os setores em todos os níveis”, conclama a especialista da Bovespa. Para Osvaldo Stella Martins, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), essa genuína transformação na forma como as empre-sas encaram a sustentabilidade é inevitável. “Os fatores econômicos favorecem que isso ocorra. As empresas sempre adotam o que é importante para o mercado”, diz ele. Em alguns casos, os processos de sustentabilidade já se espelham nos de qualidade. É o que ocorre, por exemplo, no campo das certificações. Hoje, a família ISO 14000 propõe padrões de conduta ambiental e estimula a transformação por uma via que já é bastante conhecida entre as empresas – a da normatização. A grande maioria das companhias que detêm um certificado ISO 14000 já passou pelo escrutínio de uma norma de qualidade da família ISO 9000.

NOvOS TíTULOS, NOvAS fUNçõESAlém da Vale, do HSBC, de O Boticário e de

outras ilustres exceções, poucas empresas con-tam com gerentes, coordenadores ou analistas de mudanças climáticas em suas respectivas

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SuSTENTAbIlIDADE Em AlTA Nas principais bolsas de valores do mundo, como a Bovespa, já existem índices que medem o desem-penho de empresas alinhadas com as melhores práticas de gestão ambiental

folhas de pagamento. A criação desses cargos, porém, tende a se tornar imperativa nos próxi-mos anos. Afinal, as empresas terão de contratar pessoas capacitadas para elaborar inventários de emissões de carbono, divulgar relatórios de sustentabilidade e preencher enormes questio-nários. “Só na Vale, o trabalho de elaboração do inventário das mais de 100 unidades operacio-nais consome um ano inteiro”, destaca Renata Araújo. Sem uma equipe formada para atender à área climática, a empresa não teria tempo livre

para formular projetos como o da usina de Ubu, por exemplo.

Para os especialistas da área de mudanças climáticas, em pouco tempo será impossível para uma empresa sobreviver sem uma diretoria ou gerência de sustentabilidade. “Haverá cada vez mais empecilhos ambientais ao crescimen-to, especialmente por meio de novas normas e leis. A necessidade de declarar as reduções de impacto ambiental só vai aumentar”, acredita Martins, do Ipam. A mudança pode assustar à

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primeira vista, mas é especialmente promissora para profissionais com formação em questões ligadas ao meio ambiente, mas que também contam com qualificação em administração. No Brasil, algumas universidades já instituíram cursos de pós-graduação com ênfase em gestão ambiental. Uma delas é a Fundação Getulio

Vargas, que desde o início deste ano oferece o curso de extensão Gestão para o Baixo Carbo-no, com 60 horas/aula. Outra é a Estácio de Sá, que lançou o curso de pós-graduação em Gestão Ambiental em oito cidades do país, incluindo Rio de Janeiro, Salvador, Vitória, Vila Velha e Belo Horizonte. “As universidades americanas

PRESSÃO POR UMA ATITUDE Militantes do Greenpeace protestam contra a imobilidade dos países desenvolvidos na busca de uma solução para as mudanças climáticas

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saíram na frente na formação de profissionais na área de sustentabilidade. Desde 1980, a Columbia oferece uma série de concentrações e cursos nessa área”, destaca a pesquisadora Carolina Murphy.

PROblEmA DE TImINg“Apesar dos bons exemplos na redução dos

impactos ambientais, as empresas brasileiras ainda não despertaram para as ameaças das mudanças climáticas”, analisa Rachel Biderman, coordenadora adjunta do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVCES). Segundo ela, são raras as companhias que realmente se preparam para enfrentar os novos fenômenos meteorológicos – como tem-pestades, ondas de calor, enchentes etc. Em um país como o Brasil, que depende fortemente da agricultura para fazer girar a economia, esses fenômenos representam uma alteração drástica de cenário. Em compensação, Rachel garante que as empresas brasileiras já estão atentas às oportunidades que se abrem no mercado de créditos de carbono. “A rápida regulamentação desse mercado é essencial para as empresas que estão investindo no baixo carbono.”

Em 2010, o país deu o primeiro e mais impor-tante passo nesse sentido, com a aprovação de uma lei federal que determina metas de redução de gases de efeito estufa para o Brasil entre 36,1% e 38,9% até 2020. A lei toma como base de com-paração o volume de carbono gerado pelo Brasil em 1990 e determina padrões que devem ser seguidos pelos Estados e empresas. “Os Estados Unidos não têm nenhuma lei semelhante – e não terão tão cedo. Aqui, nós temos. Se ela vai pegar ou não, é outra questão. O importante é que isso nos coloca na posição de liderar as negociações com as demais nações em desenvolvimento”, festeja Carlos Nobre, do Inpe. “Em contraparti-da, não temos nada efetivo quando o assunto é

“AquI, NóS TEmOS umA lEI [quE ImPõE mETAS DE REDuçãO DOS gASES ESTufA]. SE ElA VAI PEgAR Ou NãO é OuTRA quESTãO. O ImPORTANTE é quE ElA NOS PERmITE lIDERAR AS NEgOCIAçõES COm AS DEmAIS NAçõES Em DESENVOlVImENTO. Em CONTRAPARTIDA, AINDA NãO TEmOS NADA EfETIVO quANDO O ASSuNTO é ADAPTAçãO – DIfERENTEmENTE DO quE OCORRE NOS PAíSES DESENVOlVIDOS”

CarlOs nObrePesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

adaptação – diferentemente dos países desenvol-vidos, que não querem assumir compromissos de redução, mas já estão trabalhando em ações de adaptação. A Holanda, por exemplo, que vive sob a aflição de ficar submersa em um cenário mais radical de mudanças climáticas, tem projetos de adaptação para os próximos 100 anos”, destaca Nobre. Certo, mesmo, é que ninguém mais pode ficar alheio à economia de baixo carbono.

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Está mais claro do que nunca: os complexos desafios inseridos na questão climática, tanto no âmbito global como local, só serão vencidos por meio de uma sólida, transparente e bem estrutu-rada parceria público-privada. Por isso, durante a 16ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP16), em Cancún, no México, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) promoveu um evento pa-ralelo intitulado Desafios e Oportunidades para a Sustentabilidade de Futuros Megaeventos no Brasil. Nesse encontro, foi promovido um debate entre governo e representantes do setor privado sobre a necessidade de um planejamento relativo à sustentabilidade dos grandes eventos esportivos programados para o Brasil.

Os megaeventos esportivos que serão realiza-dos nos próximos anos, como a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, representam uma oportuni-dade única para que os setores chave da socieda-de – especialmente governos e empresas – sejam capazes de eliminar históricas diferenças e crises de desconfiança e passem a trabalhar juntos em benefício de todos. Nesse evento paralelo da COP16, o Cebds, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro, lançou uma publicação com recomendações sobre como aproveitar a oportu-nidade dos megaeventos para implementar ações de mitigação e adaptação às mudanças do clima,

analisando também experiências e preparativos de eventos esportivos em outras regiões do plane-ta – como a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, e os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

A COP16, de Cancún, aconteceu em um mo-mento histórico para o Brasil. Não exatamente pela posse da nova presidente da República, Dilma Rousseff, mas também pelas perspectivas do país no campo da sustentabilidade a médio e longo prazos. O World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), institui-ção global à qual o Cebds está vinculado, lançou recentemente um documento intitulado Vision 2050, com informações da ONU e colaboração de consultores, especialistas e colaboradores de múltiplos setores. O relatório coloca o Brasil em posição de vantagem em relação a grandes econo-mias globais – desde que, é claro, sejamos capazes de fazer a nossa parte.

O Vision 2050 projeta cenários para as pró-ximas quatro décadas e faz um alerta: se manti-vermos os atuais modelos de negócios e padrão de desenvolvimento, chegaremos em 2050 precisando de recursos naturais equivalentes a 2,3 planetas iguais ao nosso. Como os ativos ambientais disponíveis – água, ar, regulação do clima, alimentos etc – estão limitados ao nosso único planeta, os autores do relatório preveem uma aceleração nas nossas mudanças de hábito rumo à chamada “economia verde”.

Se, por um lado, o Brasil tem plenas condições

vocAção vErDE

Uma potênciado baixo carbono?Por Marina Grossi,presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

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“DEvIDAmENTE PRECIfICADO, O vAlOR DO PATRImôNIO gENéTICO DO BRASIl SuPlANTA AS PREvISõES mAIS OTImISTAS DAS RESERvAS DE ólEO E gáS DO PRé-SAl”

de se adaptar a um modelo de desenvolvimento de baixo carbono, por outro tem caminhado de forma ainda muito tímida nessa direção. Outros países muito dependentes de combustíveis fósseis – Estados Unidos, China e Rússia, por exemplo – orientam suas políticas de investi-mentos para inovações capazes de superar essa condição. Velhos e novos players como a União Europeia, a Índia e o Japão potencializam seu capital humano porque pretendem fazer valer as vantagens comparativas de economias baseadas no conhecimento e na excelência educacional. Já o Brasil carece de iniciativas mais contundentes.

Não deixa de ser um desperdício. Entre todas as potências, velhas e ascendentes, somos nós que temos a matriz energética mais limpa. Também dispomos de áreas para plantio e sol o ano inteiro. Conquistamos posição de liderança em setores decisivos como energia, agricultura, mineração e contamos com uma instituição como a Embrapa, essencial para se alimentar um mundo como o de 2050 – quando a população global já terá chegado a 9 bilhões de pessoas. Nosso potencial de crescimento se baseia justamente em nossos ativos ambientais.

O Brasil pode reduzir o volume de suas emis-sões de gases de efeito estufa sem necessaria-mente promover uma revolução em sua matriz energética. Para isso, precisa conter a destruição de florestas, coibir de forma eficiente a prática de queimadas, reconfigurar seu modelo de transpor-te e transformar o saneamento e o tratamento de

resíduos sólidos em prioridade. A adoção dessas medidas não pode ser consi-

derada uma despesa, e sim um investimento. O acervo da biodiversidade brasileira, o maior do mundo, representa uma vantagem sem prece-dentes – conforme ficou claro durante a COP10, a Conferência das Partes da Biodiversidade, rea-lizada em outubro de 2010, em Nagoya, no Japão. Devidamente precificado, a valor do patrimônio genético do Brasil suplanta as previsões mais otimistas das reservas de óleo e gás do pré-sal.

A exploração do pré-sal pode se consolidar como uma fonte de riqueza para o país, gerando novos investimentos em educação, saúde, sanea-mento e cultura em consonância com o desen-volvimento sustentável. O Cebds faz parte de um grupo de trabalho montado com a Petrobras e outros parceiros para formatar um modelo de governança capaz de assegurar a exploração e a utilização das reservas dentro dos padrões da sustentabilidade.

O êxito diante de tantos desafios vai depender da capacidade de entendimento entre os diferen-tes setores da sociedade. Líderes governamentais, empresariais e das instituições civis precisam es-tar afinados. Foi com esse espírito que a delegação brasileira chegou a Cancún no final de novembro. Juntos, temos condições de adiantar a agenda e os compromissos que deverão culminar em um novo acordo global pela manutenção do clima e da nossa biodiversidade.

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Números dasustentabilidadeESTUDo moSTrA como AS EmprESAS BrASILEIrAS ESTão SE prEpArANDo pArA ExpLorAr AS oporTUNIDADES Do mErcADo GLoBAL DE cArBoNo

Em 2009, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a Price-waterhouseCoopers e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) se aliaram na realização de um amplo estudo sobre o mercado de carbono e o potencial de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Ao todo, foram analisa-das 166 organizações – entre empresas privadas, instituições financeiras, associações e cooperati-vas – de médio e grande porte. O estudo trouxe algumas conclusões interessantes sobre como elas lidam com as oportunidades de negócios associadas à sustentabilidade ambiental.

Uma delas é o fato de que, hoje, as empresas já reconhecem a importância do tema para o mundo dos negócios – 94% delas monitoram os impactos das mudanças climáticas em seus pla-nos estratégicos. Entretanto, nem todas as com-panhias conseguem traduzir essa preocupação em ações práticas – cerca de 60% jamais realizou inventário de emissões de gases de efeito estufa (ou GEE). Na maioria das vezes, a importância estratégica das mudanças climáticas se mani-festa em ações paliativas, tais como monitorar as práticas de gestão ambiental de concorrentes internacionais no mercado de carbono – caso de 80% das companhias pesquisadas.

Nas próximas páginas, AMANHÃ reproduz os resultados mais importantes obtidos entre as empresas brasileiras que responderam ao estudo – 123, no total. Os gráficos reforçam a visão de que o tema da sustentabilidade já faz parte da agenda corporativa, embora nem todas as companhias tomem medidas para combater e se adaptar aos impactos do efeito estufa.

Mesmo assim, quando analisadas em perspec-tiva, as estatísticas sugerem que há uma evolução em andamento. O Brasil, hoje, detém a terceira co-locação entre os países que mais realizam projetos de MDL. No total, o país conta com 397 projetos aprovados que, juntos, podem conter a emissão de 350 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Os números só não são maiores por efeito da crise financeira global, que provocou uma queda na produção industrial e, consequentemente, na quantidade de carbono emitida ao redor do mundo. Com isso, reduziu-se também a demanda por créditos nos mercados de carbono. A expec-tativa agora recai nos painéis de negociação da COP, que buscam renovar as metas do Protocolo de Kyoto, e nas políticas de mitigação de GEE que devem ser adotadas pelo Japão e parte dos países europeus. Quando a recuperação ocorrer, as empresas retratadas nos gráficos a seguir serão as primeiras a sentir os benefícios.

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PATROCINADORES

ATIvIDADES DE COmPENSAçãO DE EmISSõES DE CARbONO Ao todo, 27% das empresas pesquisadas realizam compensações voluntárias de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE). Outras 25% desenvolvem atividades de florestamento e reflorestamento, enquanto 2% adquirem créditos de carbono em mercados voluntários. Entretanto, 58% das empresas que participaram da pesquisa declararam não realizar nenhum tipo de atividade de compensação das emissões de GEE.

CONhECImENTO SObRE OPORTuNIDADES DE mDL NO SETOR Seguindo uma tendência identificada em edições anteriores da pesquisa da PwC, o nível de conhecimento sobre oportunidades de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) tem aumentado: hoje, 80% das empresas consultadas afirmam conhecer as oportunidades existentes no Brasil ou no exterior.

REALIzAçãO DE PROjETOS DE mDL O conhecimento sobre oportunidades de MDL nem sempre redunda em ações: ao todo, apenas metade das empresas pesquisadas realiza projetos na área.

quEm DESENvOLvE OS PROjETOS DE mDL A maioria das empresas (68%) pesquisadas prefere desenvolver projetos de MDL com uma equipe interna ajudada por um consultor externo.

42%

36%

20%

2%

Não

Sim, no BrasilSim, nas concorrentes internacionaisSim, no Brasil e nas concorrentes internacionais

Conhecimento sobre oportunidadesde MDL no setor

2%

15%

58%

25%

NãoSim, atividade de �orestamento ou re�orestamento

Sim, compra de créditos de carbono em mercados voluntários Não responderam

Atividades de compensaçãode emissões

50%

50%Sim

Não

Realização de projetos de MDL

19%

68%

13%

Equipe interna e consultor externo

Equipe internaConsultor externo

Quem desenvolveu o projeto de MDL.

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RELEvâNcIA Do mERcADo DE cRéDIToS DE cARBoNo Questionadas sobre a importância do mercado de carbono para o futuro das empresas, 41% dasempresas consultadas consideram esse instrumento econômico “estratégico” e 38% o qualificaram como “relevante”. Apenas 17% encaram o mercado de carbono como “pouco relevante para sua atividade.

UTILIzAção DAS LINhAS DE fINANcIAmENTo pARA pRojEToS DE mDL A grande maioria das empresas pesquisadas (71%) ainda banca seus projetos de MDL com recursos prórios, sem recorrer a nenhuma das linhas de financiamento disponíveis no mercado.

4%

41%17%

38%

EstratégicoRelevantePouco relevante

Insigni�cante

Relevância do mercado decréditos de carbono

UTILIzAção DA RENDA ADvINDA DoS pRojEToS DE mDL A pesquisa mostra que 46% das empresas aplica a receita oriunda de créditos de carbono em novos investimentos. Outras 14% utilizam esses recursos para mitigar os riscos associados às mudanças climáticas e 2% reinjeta o dinheiro em projetos socioambientais.

38%

46%

14%2%

Viabilizar projetos de investimentos

Investimentos socioambientaisMitigar riscosNenhuma das anteriores

Utilização da renda advindados projetos de MDL

71%

3%

10%

16%

Sim, na fase de elaboração (concepção, validação, registro) Sim, na fase de implementação(equipamentos, despesas operacionais)

Sim, nas fases de elaboração e implementação

Não

Utilização de linhas de �nanciamento para projetos de MDL

ImpAcTo DA mUDANçA GLoBAL Do cLImA Para 94% das empresas pesquisadas, a mudança global do clima é um assunto a ser tratadocomo “estratégico” ou “relevante”.

4%

57%

37%

2%

Estratégico

Relevante

Pouco relevante

Insigni�cante

Impacto da mudança globaldo clima.

Page 47: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

31

PATROCINADORES

Aspectos regulatórios

Custos elevados Falta de conhecimento técnico

Falta de divulgação Indefinições em relação ao regime pós-2012

Aspectos tributários

FATORES quE lImITAm O DESENvOlvImENTO DE PROjETOS DE mDl As figuras abaixo apresentam a opinião das empresas consultadas em relação aos fatores consideradoslimitantes ao desenvolvimento de projetos de MDL no Brasil – e o impacto desses fatores em suas atividades.

42%

10%

31%

17%

1 - Impacto baixo

2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio

4 - Impacto alto

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

26%

7%

36%

17%

0 - Não se aplica

1 - Impacto baixo

2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio

4 - Impacto alto

14%

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

27%

2%

26%

7%

0 - Não se aplica1 - Impacto baixo2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio4 - Impacto alto

38%

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

24%

3%

31%

11%

31%

0 - Não se aplica1 - Impacto baixo2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio4 - Impacto alto

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

25%

7%

20%

28%

20%

0 - Não se aplica1 - Impacto baixo2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio4 - Impacto alto

Fatores que limitam odesenvolvimento de projetos de MDL

24%

3%

31%

11%

31%

0 - Não se aplica

1 - Impacto baixo

2 - Impacto razoável

3 - Impacto médio4 - Impacto alto

Page 48: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

32

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

REALIzAção DE INvENTáRIo DE EmISSão DE GEE Empresas que não realizam inventário de emissões somam 62% da amostra. Mesmo assim, a quantidade de empresas que realiza inventários de emissões tem grande relevância, uma vez que tais inventários fornecem subsídios essenciais para a identificação de possíveis projetos de MDL.

INvENTáRIoS DE EmISSão DE GEE REALIzADoS DE foRmA voLUNTáRIA No total, 86% das empresas que realizam inventários de emissão de GEE o fazem voluntariamente.

62%

38%

Sim

Não

Realização de inventário deemissão dos GEE

ImpAcToS ESpERADoS NAS EmpRESAS cASo o BRASIL vENhA A TER mETAS DE REDUçãoDE EmISSão DE cARBoNo No fUTURo As opiniões se dividem quando as empresas são colocadas diante de um novo cenário: e se o Brasil assumir metas de redução nas emissões de carbono no futuro? Para 36% das empresas, esse cenário traria uma oportunidade – de comercializar créditos de carbono. Já 9% acreditam que essa hipótese geraria um problema – um aumento de preços. No total, 35% não têm opinião formada sobre o assunto.

20%

36%

35%

9%

Um problema, pois elevará os custos de produção

Uma oportunidade, pois possibilitará avenda dos créditos excedentes no mercado

Não sabemos, pois não avaliamos essa questão

Nenhuma das anteriores

Impactos esperados nas empresas caso o Brasil venha a ter metas de reduçãode emissão de carbono no futuro

opçõES qUE poDEm SER coNSIDERADAS como vANTAGENS compETITIvAS Para quase metade (46%) das empresas pesquisadas, as mudanças climáticas trazem oportunidades para se estabelecer vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Outras (32%) entendem que essas vantagens podem ser buscadas pela implementação de projetos de MDL.

20%

32%

2%

46%

Aspectos relacionados às mudanças climáticas

Implementação de projetos de MDLCapacitação em projetos de MDLAtuação no mercado de carbono

Opções que podem ser consideradascomo vantagens competitivas

2%12%

86%SimNãoNão responderam

Inventários de emissão de GEErealizados de forma voluntária

Page 49: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

33

PATROCINADORES

* Em número de ocorrências

PRINCIPAIS mOTIvAçõES PARA REAlIzAçãO DE INvENTáRIOS DE EmISSãO DE GEE A identificação de oportunidades de redução da emissão de gases de efeito estufa e de melhoria da eficiência energética, assim como o aumento da competitividade e diferenciação em mercados estrangeiros ou nacionais, foram apontadas pelas empresas como as principais motivações para se realizar inventários de emissão de GEE.

16

14

4

6

8

10

12

0

2

3

18

1

17

7

1

4

7

2 2

4

1

Estabelecer um ano-base para medir o desempenho ao longo do tempoResponder a questionamentos de investidoresIdenti�car oportunidades para redução de GEEIdenti�car oportunidades para melhoria de e�ciência energéticaFacilitar participação em mercados de carbonoPublicar relatório a respeito das emissões de GEEAumentar competitividade e diferenciação em mercados estrangeiros ou nacionaisMelhorar imagem corporativaAdquirir experiência técnica em contabilização e gestão de GEENenhuma das anterioresNão responderam

Principais motivações para realização de inventários de emissão de GEE

mETODOlOGIAS uTIlIzADAS PARA A REAlIzAçãO DE INvENTáRIOS DE EmISSõES DE GEE

2%

47%

10%

27%

14%

GHG Protocol Corporate StandardNorma ISO 14064Metodologia IPCC*

*Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

Metodologia própriaNão responderam

Metodologias utilizadas para arealização de inventários deemissões de GEE

2%

47%

10%

27%

14%

GHG Protocol Corporate StandardNorma ISO 14064Metodologia IPCC*

*Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

Metodologia própriaNão responderam

Metodologias utilizadas para arealização de inventários deemissões de GEE

O GHG Protocol Corporate Standard é a metodologia mais utilizada pelas empresas brasileiras ao realizar inventários de emissões de GEE – com 47% dos casos. A segunda mais utilizada é a do IPCC (27% dos casos), seguida pela ISO 14064 (10%). Há, ainda, aquelas empresas que utilizam metodologias próprias de inventário, que representam 14% do universo pesquisado.

Page 50: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

34

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

DIvULGAção DoS rESULTADoS DoS INvENTárIoS Quase metade (46%) das empresas que realizam inventários de emissão de GEE divulgam seus resultados para os públicos interno e externo. As restantes divulgam basicamente para o público interno – ou não divulgam.

4%

4%

20%

46%

16%

Sim, somente para a direção da empresaSim, para público interno e para alguns segmentos do público externoSim, para públicos interno e externoNãoNão responderam

Sim, somente para público interno da empresa

10%

Divulgação dos resultadosdos inventários

AvALIAção Do ImpAcTo DE EmISSão DE GEE, INcLUINDo A cADEIA DE forNEcImENTo Um terço das companhias pesquisadas pela PwC monitora os impactos socioambientais de suas emissões de GEE – incluindo-se as emissões oriundas da cadeia de fornecedores.

33%40%

27%

Sim

NãoNão responderam

Avaliação do impacto de emissão de GEE, incluindo a cadeia defornecimento

prINcIpAIS foNTES DE EmISSão DE GEE Entre as maiores fontes de emissão de GEE está o consumo de combustíveis – indicado por 47% das companhias pesquisadas. Entretanto, a participação dos combustíveis como fonte de gases do efeito estufa caiu em relação ao resultado apurado em 2008 – quando 58% das empresas apontaram a queima do insumo como grande responsável pelo GEE.

6%

47%

4%

22%

2%

Queima de combustívelDisposição de resíduos (industriais, agrícolas)Transporte

Não tenho conhecimentoNenhuma das anteriores

19%

Uso de solventes

Principais fontes de emissão de GEE

6%

47%

4%

22%

2%

Queima de combustívelDisposição de resíduos (industriais, agrícolas)Transporte

Não tenho conhecimentoNenhuma das anteriores

19%

Uso de solventes

Principais fontes de emissão de GEE

Page 51: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

35

PATROCINADORES

MAIORES DESAfIOS PARA uM CENáRIO DE bAIxO CARbONO NO fuTuRO Embora estejam entre as ações mais relevantes para a redução das emissões de GEE, os projetos de eficiência energética são apontados por 56% das empresas como o maior desafio a ser superado na busca de uma economia de baixo carbono.

OPçõES PARA PRODuçãO DE ENERgIA PRóPRIA A biomassa é o principal insumo utilizado pelas empresas para a geração própria de energia. Além de barata, essa tecnologia abre oportunidades para o desenvolvimento de projetos de MDL no mercado de carbono.

PROjETOS DE MITIgAçãO DE gEE O uso de eficiência energética, de fontes de energia renovável e a introdução de modificações em processos produtivos são, por ordem, os projetos mais utilizados pelas empresas para mitigar os gases do efeito estufa.

Page 52: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

36

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

AmANhã E prIcEwATErhoUSEcoopErS AprESENTAm AS pErGUNTAS qUE AS compANhIAS DEvEm rESpoNDEr NA BUScA DE UmA GESTão DUrADoUrA

Um roteiropara avançar

1) Qual dos setores abaixo melhor define a principal atividade de sua empresa?

( ) Serviços - Ex: atacado, software, telecomunicações, transporte, varejo, etc.

( ) Indústria - Ex: automobilística, bens de capital, bens de consumo, eletroeletrônico, farmacêutico, construção, indústria digital, química e petroquímica, têxtil, etc.

( ) Setor de base - Ex: mineração, siderurgia, metalurgia, etc.

( ) Agricultura - Ex: grãos, alimentos, celulose, etc.

( ) Energia - Ex: geração e distribuição, hidrelétrica, termelétrica, termonuclear, etc.

( ) Setor financeiro - Ex: bancos, operadoras de cartões de crédito, seguradoras, operadoras de saúde, etc.

2) A receita bruta de sua empresa em 2009 foi de:

( ) Até r$ 50 milhões

( ) De r$ 50 milhões a r$ 100 milhões

( ) De r$ 100 milhões a r$ 200 milhões

( ) De r$ 200 milhões a r$ 500 milhões

( ) mais de r$ 500 milhões

As perguntas que aparecem nas próximas páginas não oferecem um diagnóstico sobre como a sua empresa está preparada para enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Elas são, antes disso, uma espécie de roteiro – uma lista de questionamentos cujas respostas devem estar na ponta da língua dos gestores preocupados em atender às novas demandas da sustentabilidade. Elas formam, ainda, uma pequena amostra do questionário que AMANHÃ e PricewaterhouseCoopers deverão aplicar a partir de janeiro de 2011 para mapear as práticas de gestão ambiental adotadas no sul do país. O estudo AMANHÃ-PwC de Disclosure Climático contará com a participação de centenas de empresas da região – e a sua pode estar entre elas. Acesse o hotsite www.amanha.com.br/gestaoambiental, responda às questões e participe.

Page 53: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

37

PATROCINADORES

3) No mais alto nível de sua empresa, o tema das mudanças climáticas é de responsabilidade:

( ) Do presidente

( ) De um vice-presidente ou diretor especí� co

( ) Do Conselho de Administração

( ) De um gerente

( ) A responsabilidade não é atribuída a nenhum executivo ou instância gerencial da organização

4) Em relação a gases de efeito estufa (CO2, metano, etc), sua empresa:

( ) Já realiza inventário de emissões há mais de um ano

( ) Realizou o primeiro inventário de emissões em 2009

( ) Realizou o primeiro inventário de emissões em 2010

( ) Realizará o primeiro inventário de emissões em 2011

( ) Ainda está avaliando a decisão de realizar inventário de emissões

5) De qual modo o inventário de sua empresa é contabilizado?

( ) Como um inventário de emissões corporativo, somente para divulgação interna

( ) Como um inventário de emissões corporativo, para divulgação interna e externa

( ) Como parte do relatório de sustentabilidade

( ) Como parte do relatório anual da empresa

( ) Outro modo

6) Qual a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa em sua empresa?( ) Queima de combustível

( ) Disposição de resíduos (industriais, agrícolas)

( ) Transporte

( ) Uso de solventes

( ) Expansão da fronteira agrícola

( ) Outra

( ) Não tenho conhecimento

7) Sua empresa conhece o Programa Brasileiro GHG Protocol?( ) Sim

( ) Sim, e inclusive participa do programa

( ) Não

8) Sua empresa divulga um relato público de suas emissões de GEE? Por qual meio?( ) Não

( ) Sim, pela internet

( ) Sim, pelo relatório de sustentabilidade da companhia

( ) Sim, pelo relatório anual da companhia

9) O inventário foi assegurado por uma auditoria ou agente de veri� cação externa? ( ) Sim

( ) Não

Atenção: Para responder às próximas questões (10 a 15), considere os seguintes conceitos:

Âmbito 1 do GHG ProtocolEmissões diretas: são aquelas emitidas por atividades de controle da empresa a partir de equipamentos de combustão, queima de combustível, transporte sob controle da empresa e processos físicos e químicos.

Page 54: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

38

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

Âmbito 2 do GHG ProtocolEmissões indiretas I: são aquelas causadas por compra de energia, tais como eletricidade, vapor, frio ou calor.

Âmbito 3 do GHG ProtocolEmissões indiretas II: são outras emissões geradas como consequência das atividades da empresa.

10) O inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de sua empresa contempla as emissões diretas de acordo com o Âmbito I do GHG Protocol?

( ) Sim

( ) Não

11) Qual o volume de C02eq emitido nas atividades do Âmbito 1: Em 2009:

Variação (%) sobre 2008:

Meta de redução (%) para 2010:

Meta de redução (%) para 2011:

12) O inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de sua empresa contempla as emissões indiretas de acordo como o Âmbito II do GHG Protocol?( ) Sim

( ) Não

13) Qual o volume de C02eq emitido nas atividades do Âmbito 2:Em 2009: Variação (%) sobre 2008:

Meta de redução (%) para 2010:

Meta de redução (%) para 2011:

14) MWh de energia comprada em 2009:

Variação (%) sobre 2008:

Estimativa de variação para 2010:

Estimativa de variação para 2011:

15) Percentual de MWh de energia de fontes renováveis comprada: Em 2009: Em 2008:

Meta de percentual para 2010:

Meta de percentual para 2011:

16) O inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de sua empresa contempla as emissões indiretas de acordo como o Âmbito III do GHG Protocol?( ) Sim

( ) Não

17) Qual a principal fonte geradora de emissão de gases de efeito estufa em seus processos:( ) Queima de combustível

( ) Disposição de resíduos (industriais, agrícolas)

( ) Transporte

( ) Uso de solventes

( ) Expansão da fronteira agrícola

( ) Outra

( ) Não tenho conhecimento

18) Sua empresa investe ou tem planos de investir em produtos e serviços desenvolvidos para minimizar ou adaptar-se aos efeitos das mudanças climáticas? Se sim, por favor explique. Se não, existe uma justi� cativa?

19) Sua empresa possui uma meta de redução das emissões de gases de efeito estufa? Caso possua, quais são as ações que ela pretende implementar para alcançá-la?

Page 55: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

39

PATROCINADORES

20) Entre os parâmetros de avaliação de desempenho e remuneração variável dos principais executivos da companhia, consta algum indicador relacionado a metas de redução de emissões de GEE? Quais?

21) A companhia adota uma política de compras que inclui critérios socioambientais na seleção e desenvolvimento de fornecedores de bens e serviços? ( ) Sim

( ) Não

22) Sua empresa realiza alguma avaliação de impacto em termos de emissão de GEE, incluindo sua cadeia de fornecimento?( ) Sim, mas não estabelecemos metas de

redução de emissões para os fornecedores

( ) Sim, e há metas de redução de emissões estabelecidas para nossos fornecedores

( ) Não

23) A empresa possui uma política ambiental documentada capaz de nortear todas as suas atividades?( ) Sim

( ) Não

24) A empresa possui procedimentos sistemáticos e regulares para divulgar sua política ambiental entre os colaboradores, de forma a conseguir uma maior conscientização e o efetivo comprometimento com as práticas previstas na política ambiental?( ) Sim

( ) Não

25) A empresa mantém conselhos, comitês ou grupos responsáveis pelas questões ambientais?( ) Sim

( ) Não

26) Em relação às principais operações ou processos produtivos, a empresa possui certificação do sistema de gestão ambiental (ISO 14001)?( ) Sim

( ) Não

27) A empresa dispõe de normas para identificação e avaliação dos impactos de novas operações, inclusive ampliação ou realocação de parques produtivos, no uso dos recursos hídricos?( ) Sim

( ) Não

28) A empresa detém uma política de atualização ou mudança do padrão tecnológico com o objetivo de reduzir a utilização de água no processo produtivo?( ) Sim

( ) Não

29) A empresa adota algum sistema de monitoramento que permita comparar suas práticas e indicadores com os adotados por outras empresas do setor consideradas como benchmark no uso dos recursos hídricos?( ) Sim

( ) Não

30) Em relação ao desempenho ambiental dos fornecedores considerados críticos, são feitas exigências superiores àquelas estabelecidas na legislação?( ) Sim

( ) Não

Page 56: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

Produzir energia sempre traz algum impacto. Encontrar soluções para diminuir esses impactos é um dos nossos desafios. Pronto. Você acaba de conhecer melhor nosso trabalho.

Ainda não dá para produzir energia sem impacto ambiental. É por isso que, além de levar energia para mais de 18 milhões de pessoas, a CPFL trabalha na busca de soluções que conciliem energia com natureza. Porque é possível pensar em energias alternativas a partir de empreendimentos eólicos e usinas de biomassa, apostar na pesquisa e no desenvolvimento de carros elétricos e gerar créditos de carbono, por exemplo. No fim das contas, distribuir energia em 569 municípios brasileiros é só parte do nosso trabalho. A outra parte é produzir inovação. Que, no nosso caso, é encontrar soluções para desafios tão grandes como esse. Conheça as outras ações de sustentabilidade da CPFL no www.cpfl.com.br.

A energia de biomassa de cana já representa 6% da energia vendida pelo Grupo CPFL.

Sucesso no leilão de energia eólica: sete parques geradores, com 94 torres e capacidade instalada de 188 MW.

www.cpfl.com.br

Acionistas Controladores

Page 57: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

Produzir energia sempre traz algum impacto. Encontrar soluções para diminuir esses impactos é um dos nossos desafios. Pronto. Você acaba de conhecer melhor nosso trabalho.

Ainda não dá para produzir energia sem impacto ambiental. É por isso que, além de levar energia para mais de 18 milhões de pessoas, a CPFL trabalha na busca de soluções que conciliem energia com natureza. Porque é possível pensar em energias alternativas a partir de empreendimentos eólicos e usinas de biomassa, apostar na pesquisa e no desenvolvimento de carros elétricos e gerar créditos de carbono, por exemplo. No fim das contas, distribuir energia em 569 municípios brasileiros é só parte do nosso trabalho. A outra parte é produzir inovação. Que, no nosso caso, é encontrar soluções para desafios tão grandes como esse. Conheça as outras ações de sustentabilidade da CPFL no www.cpfl.com.br.

A energia de biomassa de cana já representa 6% da energia vendida pelo Grupo CPFL.

Sucesso no leilão de energia eólica: sete parques geradores, com 94 torres e capacidade instalada de 188 MW.

www.cpfl.com.br

Acionistas Controladores

Page 58: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

42

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

ADApTAção O termo se refere ao conjunto de ações

necessárias para adaptar certas atividades aos efeitos das mudanças climáticas. Com a adaptação, busca-se viabilizar a continuidade de operações como o abastecimento de água, a geração de energia, o transporte, a habitação e a agricultura, mesmo sob condições climáticas adversas – tais como o alagamento de grandes áreas urbanas, secas prolongadas, desertificação e outras intempéries.

O Painel Intergovernamental sobre Mu-danças Climáticas (IPCC) sugere uma série de estratégias que podem ser adotadas pelos países para enfrentar o efeitos negativos das mudanças climáticas. Entre elas, destacam-se a ampliação de culturas agrícolas que possam ser irrigadas apenas com a água das chuvas, técnicas de armazenamento, conservação e reúso da água, readequação dos períodos de plantio, realoca-ção das plantações, construção de barreiras contra tempestades e obras para proteger as cidades contra o aumento do nível dos oceanos, reforço das dunas e criação de áreas alagadas como forma de minimizar enchentes. Isso sem contar a realocação de rotas de transporte, o uso de fontes renováveis de energia e a redução da dependência sobre uma única fonte ener-

gética, entre outras medidas. Da Holanda, país que tem 26% do seu ter-

ritório abaixo do nível do mar, vêm os melhores exemplos de investimentos em ações de adapta-ção. Após uma série de estudos, o governo holan-dês descobriu que seu sistema de contenção de alagamentos apresentava falhas consideráveis. Em resposta, lançou um pacote de medidas de correção que deve consumir cerca de 741 milhões de euros até 2015. Entre as ações planejadas está a ampliação das dunas e das praias da Holanda. Residências também vêm sendo adaptadas para resistir a uma eventual invasão do mar. Desde 2005, a construtora Dura Vermeer investe na criação de casas flutuantes. Erguidas sobre palafitas, elas são capazes de boiar em casos de alagamento. A cidade de Maasbommel, ao norte, já conta com 32 unidades. O novo “bairro anfíbio” não foi testado na prática, mas a fabri-cante garante que os moradores dessa área não seriam afetados pelas enchentes.

A Convencão-Quadro sobre Mudanças Climáticas da ONU (UNFCCC) acredita que os países ricos devem exercer um papel central no desenvolvimento de estratégias de adaptação e, também, de mitigação (veja o verbete). Além de desenvolver seus próprios planos de contingên-cia, eles devem ajudar os países mais pobres a

coNfIrA, Em 80 vErBETES, oS coNcEIToS E TENDêNcIAS qUE ESTão NA AGENDA DAS EmprESAS ALINhADAS à BUScA DE SoLUçõES pArA AS mUDANçAS cLImáTIcAS

o dicionáriodo baixo carbono

Page 59: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

43

pATrocINADorES

arcar com os custos de adaptação aos efeitos negativos das mudanças climáticas. Essa ajuda se dará a partir de recursos depositados pelos países ricos em um fundo internacional estabelecido pelo Protocolo de Quioto. A arrecadação será proveniente de uma taxa de 2% sobre todos os investimentos dos países ricos em projetos de energia limpa nas regiões mais pobres. A forma de utilização desse dinheiro foi defi nida durante a 14ª Conferência das Partes da Convenção do Clima, realizada em 2008, quando foi acertado que os países pobres terão acesso direto aos valores desse fundo, com recursos previstos de US$ 80 milhões ao ano, podendo ser ex-pandido até US$ 300 milhões em 2012. Até o momento, no entanto, o fundo ainda não foi colocado em operação.

PARA SABER MAISLivros

Adaptação de Edi� cações e Cidades às Mudanças Climáticas, de Sue Roaf, Fergus Nicol e David Crichton (Companhia Bookman, 2009)

Adaptation to a Climate Change: A Spatial Challenge, de Rob Roggema (Springer, 2009)

Sites http://www.duravermeerbusinessdevelopment.nl/uk/home.asp

http://www.pbl.nl/en/index.html

http://www.onu-brasil.org.br

AGENDA 21 Trata-se de um plano de ação das Nações Uni-

das para o desenvolvimento sustentável. A ideia é que governos e membros da sociedade civil ajudem a colocá-lo em prática ao longo deste século, em todos os setores em que a atividade humana gere impactos nocivos sobre a natureza

– sejam eles locais, nacionais ou globais. Resultado de um trabalho conjunto de dois

anos envolvendo governos e representantes de 179 países, a Agenda 21 foi ofi cialmente criada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO 92), há 18 anos. Dividido em 40 capítulos, o documento prevê ações concretas a serem implementadas pelos governos, empresas, ONGs e toda a socie-dade civil, sempre com foco na sustentabilidade. Entre as ações estão o comprometimento com políticas de combate à pobreza, a conservação e gerenciamento dos recursos para o desen-volvimento, a luta contra o desmatamento, a desertifi cação e a seca.

Para cumprir o acordo, cada país fi cou encar-regado de elaborar e implementar sua própria Agenda 21 Nacional, conforme suas particulari-dades socioambientais e econômicas. No Brasil, esse trabalho foi realizado entre 1996 e 2002 e contou com o envolvimento de cerca de 40 mil pessoas de todo o país. Sob a coordenação da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sus-tentável e Agenda 21 (CPDS), a agenda funciona como um instrumento de planejamento par-ticipativo para o desenvolvimento sustentável. Entre as principais atribuições está o estímulo ao progresso com justiça social, crescimento econômico e conservação ambiental.

Para cada país, o documento prevê, ainda,

Page 60: AMANHÃ - Guia Da Sustentabilidade 2010

44

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

a criação da Agenda 21 Local, uma espécie de

fórum participativo, composto pelos governos

locais e pela sociedade civil, que tem como ob-

jetivo debater e propor soluções aos problemas

ambientais, sociais e econômicos de cada micror-

região. Um exemplo é o Projeto Novo Goiabinha,

implantado em Betim, Minas Gerais. Por meio

de ações educativas e da união da comunidade, a

iniciativa conseguiu recuperar as margens do rio

Goiabinha e transformá-lo em uma importante

área de lazer da região. Em 2009, o Ministério

do Meio Ambiente realizou a primeira pesquisa

com todos os processos de Agendas 21 Locais do

país para identifi car e avaliar os resultados alcan-

çados por cada uma delas. Os dados ajudarão o

Brasil a avançar em sua Agenda 21 Nacional e

também renderão dois produtos – um fi lme e

um livro, que ajudarão a difundir boas práticas

de sustentabilidade no país.

PARA SABER MAISLivros

Comunicação e Mobilização na Agenda 21 Local, de Desirée Cipriano Rabelo (Edufes, 2003)

Agenda 21 & Challenges for Asia & The Paci� c (Bernan, 1998)

Agenda 21: the Earth Summit Strategy to Save Our Planet, de Dan Sitarz (EarthPress, 1993)

Cidade, Ambiente e Política: Problematizando a Agenda 21 Local, de vários autores (Garamond,, 2006)

Uma Sustentável Revolução na Floresta: Notas sobre a Governabilidade e Agenda 21 no Amapá, de Domingos Leonelli (Viramundo, 2000)

Sites www.mma.gov.br

www.agenda21local.com.br

www.ecolnews.com.br

www.aguaonline.com.br

http://www.enn.com

AGroNEGÓcIoS E mUDANçAS cLImÁTIcAS

A relação entre o agronegócio e as mudan-ças climáticas é uma via de mão dupla. O uso de agrotóxicos, adubos químicos e organismos geneticamente modifi cados provoca impactos ambientais graves, como a desertifi cação e a escassez de água. Essas mudanças, é claro, não só prejudicam o setor agrícola como também obrigam os produtores a conviver com incertezas cada vez maiores para seus negócios.

Um estudo produzido pela Embrapa em parceria com a Unicamp em 2008 mostra como o impacto do aquecimento global poderá afetar as plantações brasileiras nos próximos 70 anos. Os números dão conta de prejuízos acima dos R$ 7 bilhões nas safras de 2020 – e que podem chegar aos R$ 14 bilhões em 2070. Além disso, preveem uma profunda alteração da geografi a agrícola do país.

De acordo com o estudo, áreas que hoje são consideradas férteis poderão se tornar estéreis no futuro. Culturas tradicionais sofrerão com a variação das temperaturas e das chuvas a ponto de serem abandonadas ou realocadas. A soja será a cultura mais afetada. Até 2070, haverá uma diminuição de 41% das áreas considera-das de baixo risco de plantio do grão em todo o território brasileiro, o que obrigará muitos produtores a abandonar essa cultura. Situação inversa será vivida pelos produtores de mandioca e cana-de-açúcar, que verão as áreas quentes e aptas ao cultivo de suas lavouras aumentarem e se tornarem representativas até mesmo na região sul.

Como resposta a essas previsões, 14 entidades representativas do agronegócio, fl orestas planta-das e bioenergia se uniram para discutir e tentar encontrar soluções tecnológicas capazes de reduzir

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pATrocINADorES

o impacto do aquecimento global no curto prazo. Responsáveis por 28% da matriz energética no país e 16% das exportações, essas entidades formaram, em 2009, a Aliança Brasileira pelo Clima, cujo ob-jetivo é contribuir com propostas concretas para as negociações ligadas à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Entre seus pilares, destaca-se a reforma que simplifi ca o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a reestruturação da REED, que passa a garantir que os incentivos fi nanceiros alcancem diretamente os agentes responsáveis pela redução de emissões, e a adoção de iniciativas direcionadas ao desen-volvimento de uma economia de baixo carbono (veja mais detalhes nos verbetes correspondentes neste guia).

PARA SABER MAISLivros

Agricultura Sustentável, de Ana Primavese (Nobel, 1992)

Dilemas do Cerrado: entre o Ecologicamente (In)Correto e o Socialmente (In) Justo, vários autores (Terra Mater, 2002)

Sustentável Mata Atlântica: a Exploração de Seus Recursos Florestais, de Luciana Lopes Simões e Clayton F. Lino (Ed. Senac, 2003)

Sites www.climaeagricultura.org.br

http://www.embrapa.gov.br

www.mudaclima.org.br

www.canalrural.com.br

http://www.agrisustentavel.com

AqUEcImENTo GLoBAL Fenômeno ligado às mudanças climáticas, a

expressão designa o aumento da temperatura média dos oceanos e da superfície do planeta.

Sua origem está diretamente relacionada à concentração de gases na atmosfera, cujo efeito é a retenção de calor –o chamado efeito estufa.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o aumento de temperatura verifi cado nos últimos 50 anos alcançou re-cordes absolutos e vem apresentando uma sucessão de anos cada vez mais quentes desde 1995. A última década (entre 2000 e 2010) foi a que registrou as temperaturas mais altas desde que os cientistas começaram a fazer registros meteorológicos, em 1850. A taxa de aumento entre os anos 2001 e 2005 chegou a 0,95o C. A OMM estima que 2010 poderá entrar para a história graças a uma série de altas recordes registradas em todo o globo, combinada com o número elevado de queimadas e incêndios fl orestais. No Paquistão, por exemplo, os ter-mômetros marcaram 53,5o C em maio, enquanto a Rússia registrou 44o C no mês de julho – período em que a média histórica costumava ser de 30o C.

Os números corroboram os dados do mais recente relatório do Painel Intergovernamen-tal para as Mudanças Climáticas (IPCC), que indicam um aumento médio global das tem-peraturas entre 1,8o C e 4o C até o fi nal deste século. No pior dos cenários, esse aumento pode chegar a 6,4o C, caso a população e a economia não adotem políticas efetivas de diminuição da emissão de gases de efeito estufa. O sinal mais evidente do aumento de temperatura, segundo o IPCC, será a alteração na frequência e na intensidade dos eventos climáticos extremos, como ondas de frio e calor, tempestades violen-tas, enchentes e secas.

Para o Brasil, o cenário é de um aumento médio de 2o C a 8o C entre 2071 e 2100, o que poderia provocar a desertifi cação de 15,7% da

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região nordeste e a redução de até 60% das áreas aptas ao plantio de soja nas regiões centro-oeste e sul.

Em seu relatório “Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Mudança Climática”, o Banco Mundial afi rma que o aquecimento global pode levar à extinção da floresta amazônica e a uma escassez de água que afetará 77 milhões de pessoas na América Latina e Ca-ribe, até 2020. O impacto mais desastroso será sobre a Amazônia, que corre o risco de se trans-formar em uma imensa “savana”, com vegetação rala e grandes descampados. A Cordilheira dos Andes também está ameaçada – os cientistas do Banco Mundial acreditam que parte das gelei-ras poderá derreter, provocando a escassez de água para toda a população andina. A extinção dos arrecifes do Caribe e a maior incidência de furacões no Golfo do México são outros efeitos apontados pelo relatório da instituição.

PARA SABER MAISLivros

O Ambientalista Cético, de Bjorn Lomborg (Campus, 2002)

Aquecimento Global?, de Kenitiro Suguio e Shigenori Mauyama (O� cina de Textos, 2009)

Alternativas ao Aquecimento Global, de Le Monde Diplomatique (Instituto Paulo Freire, 2007)

A Fraude do Aquecimento Global, de Geraldo Luiz Lino (Capax, 2009)

Aquecimento Global – O Que Podemos Fazer!, de José Maria Fleury (Kelps, 2009)

Sites www.sciencemag.org

www.ncdc.noaa.gov

www.wmo.int

www.ipcc.ch

www.ibama.gov.br

BALANço AmBIENTAL É uma publicação elaborada anualmente por

uma empresa ou organização com o objetivo de divulgar suas ações de responsabilidade am-biental para públicos externos. O documento também funciona como uma ferramenta útil para a tomada de decisões na gestão ambiental das companhias e entidades, já que reúne o maior número possível de informações referen-tes ao impacto que a atividade causa no meio ambiente, incluindo os pontos positivos e os negativos.

De maneira geral, os demonstrativos de-vem conter informações que quantifi quem os prejuízos gerados pelo negócio no meio am-biente, num período determinado, que pode ser um ano, um biênio ou um triênio. Entram nessa conta a geração de efl uentes e a emissão de gases do efeito estufa durante o processo de produção, desmatamentos, uso ou descarte de material tóxico ou qualquer outro resíduo potencialmente danoso que tenha sido gerado pela empresa. A quantidade de gases emitidos pelos automóveis utilizados pelos funcionários e colaboradores, a energia elétrica consumida, o gás, a água e todas as outras formas de consumo também devem constar na prestação de contas do balanço ambiental.

As aplicações em meios patrimoniais ou fi -nanceiras que são revertidas para a preservação

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pATrocINADorES

ou recuperação de áreas naturais, como reservas e bosques, máquinas e sistemas antipoluição ou ações comunitárias, por exemplo, entram nessa contabilidade como ativos ambientais. Já o pagamento de multas ou penalidades im-postas pela contaminação do meio ambiente aparecem como passivos ambientais. A con-taminação do solo está entre os passivos mais comuns, normalmente decorrente de derrama-mentos de substâncias tóxicas na natureza, e que costumam render a aplicação de multas onerosas por parte das entidades fi scalizadoras ambientais. Um exemplo é a petrolífera British Petroleum (BP), que terá de arcar com multas de mais de US$ 20 bilhões devido ao vazamento de óleo que atingiu a região do Golfo do México, em abril de 2010, e que lançou no mar mais de 4,9 milhões de barris de petróleo.

PARA SABER MAISLivros

Contabilidade e Meio Ambiente: Considerações Teóricas e Práticas sobre o Controle dos Gastos Ambientais, de Benedito Albuquerque da Silva (Annablume, 2003)

Introdução à Gestão, Auditoria e Balanço Ambiental para Empresas, de Peno Ari Juchem (FAE/CDE, 1995)

Organizações Sustentáveis: Utopias e Inovações, de Tania Margarete Mezzomo Keinert (Annablume, 2007)

BIocomBUSTÍvEIS São fontes de energia de combustão obtidas

a partir do processamento de insumos de ori-gem não fóssil – como vegetais, lixo e outros elementos. As fontes mais comuns são a soja, o milho, a mamona, o dendê, o cânhamo e a cana-de-açúcar. Os primeiros resultam no chamado biodiesel, enquanto a cana é a matriz principal do etanol.

O Brasil foi o primeiro país no mundo a

adotar um combustível de origem renovável como fonte de alimentação para a sua frota de veículos ainda nos anos 1970. Entre os anos 1985 e 1986, 75% de todos os veículos motorizados fabricados no país eram abastecidos com álcool. Houve um momento em que cerca de 90% dos carros de passeio eram movidos a álcool. Ainda que a tentativa de substituição em larga escala dos combustíveis derivados do petróleo por outros de origem vegetal tenha fracassado, ela serve hoje como exemplo para as grandes nações consumidoras, sobretudo a China e os Estados Unidos, que já estão investindo na produção de biocombustíveis.

Recentemente, o Brasil fechou uma parceria com a China para fabricar biocombustíveis na África. A produção deve ser totalmente voltada ao mercado chinês, que pretende emitir crédi-tos de carbono para compensar sua alta emissão de gases. Em contrapartida, a África ganhará investimentos importantes no que diz respeito ao desenvolvimento agrícola, econômico e so-cial. A iniciativa também aponta ao mundo uma solução para o problema da falta de disponibi-lidade de áreas cultiváveis.

Atualmente, diversos estudos buscam iden-tifi car novas matérias-primas para o biodiesel. Nos Estados Unidos, o pesquisador bioquímico do departamento de agricultura Michael J. Haas conseguiu extrair combustível de restos de manteiga. A experiência, inédita no mundo, ensinou aos envolvidos na pesquisa que as fazendas de laticínios são fontes potenciais de materiais que podem ser transformados em biodiesel. Já o município de São Francisco, em São Paulo, inaugurou uma fábrica de biodiesel que usa as gorduras marrons provenientes dos óleos de cozinha usados por restaurantes. A capacidade de produção é de 1,25 mil litros de biodiesel por dia.

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

PARA SABER MAISLivros

Biocombustíveis, a Energia da Controvérsia, de Ricardo Abramovay (Senac São Paulo, 2009)

Biocombustíveis – Fonte de Energia Renovável?, de José Rubens Morato Leite (Saraiva, 2010)

Sites http://www.alternative-energy-news.info

http://biofuel.org.uk

www.biodieselbr.com

www.ipef.br

BIoDIGESTorES Biodigestores são câmeras especiais onde

acontece a transformação de dejetos orgânicos em biogás e biofertilizantes. Geralmente construí-das sob aterros sanitários e em propriedades rurais, essas estruturas são compostas por uma câmara de digestão e de um gasômetro sob uma estrutura plástica de PVC fl exível. O despejo dos dejetos se dá por tubulações especiais, que separam o gás e o biofertilizante.

A transformação ocorre devido ao processo da digestão anaeróbia. Trata-se de um processo que transforma compostos orgânicos complexos em substâncias mais simples – como o gás metano e o dióxido de carbono – por meio da ação de dife-rentes microorganismos que atuam na ausência de oxigênio, sobretudo bactérias. Da digestão dos dejetos à produção do gás, são necessários entre 20 e 90 dias. O metano (CH4) é o gás resultante dessa decomposição. Sua queima produz uma energia limpa e de baixo custo, capaz de atender a quase todas as necessidades básicas no meio rural, incluindo a geração de energia e o uso do-méstico. Bem explorado, esse mesmo gás é capaz de gerar energia para abastecer municípios do

país. De acordo com um estudo de mais de dois anos do Ministério do Meio Ambiente, os aterros sanitários de 91 cidades brasileiras armazenam um valioso estoque de biogás. Até 2015, haveria potencial para se gerar 440 megawatts com os dejetos que, atualmente, jazem sob a terra.

O Aterro Bandeirantes, em São Paulo, considerado um dos maiores do mundo – com recepção diária de 7 mil toneladas de lixo –, é a maior usina de biomassa do país: sozinho, tem capacidade para produzir 170 mil megawatts-hora de energia elétrica, sufi ciente para abas-tecer uma cidade com 400 mil habitantes. O aproveitamento dos gases gerados no aterro tendem a reduzir em 8 milhões de toneladas a emissão de gás carbônico nos próximos 15 anos, contribuindo para a mitigação do efeito estufa.

A indústria da suinocultura também tem ti-rado proveito dos biodigestores. Recentemente, a Sadia obteve aprovação do Comitê Executivo da Organização das Nações Unidas (ONU) para instalar biodigestores em suas granjas de suínos e, assim, vender créditos de carbono. Na etapa ini-cial, os biodigestores serão construídos em apenas três granjas próprias. Mas o projeto da companhia é implantar câmaras para a digestão de biomassa em granjas de pelo menos mil produtores inte-grados, com capacidade para gerar 6 milhões de toneladas de metano em dez anos.

PARA SABER MAISLivros

Biodigestores, de Paulo Barrera (Icone, 2003)

Biodigestores Rurais, Modelos Indianos e Chineses, de Antonio Francisco Ortolani e Mario Benincasa (Unesp, 1991)

Sites www.biogas-ambiental.com.br

www.ibam.org.br www.biodieselbr.com

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pATrocINADorES

em Nagoia, no Japão, e serviu para contemplar

dois objetivos: avaliar os resultados das ações

tomadas há oito anos e defi nir novas metas para

a preservação da biodiversidade.

O Brasil é o país com maior biodiversidade

do planeta. De cada cinco espécies animais ou

vegetais do mundo, uma pode ser encontrada em

território brasileiro – o que também explica por

que o país tem assumido uma série de compro-

missos junto à CDB. O mais importante deles é

a proteção de 30% da Amazônia e 10% de cada

um dos demais biomas brasileiros, como a Mata

Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e os

Pampas. Para a Mata Atlântica, por exemplo, o

acordo prevê que toda a área remanescente deve

ser protegida do desmatamento. Atualmente,

restam apenas 7% dos 1,2 milhão de quilômetros

quadrados da mata original. Mesmo assim, o

bioma abriga cerca de 20 mil espécies únicas em

todo o mundo.

PARA SABER MAISLivros

Biodiversidade e Repartição de Benefícios, de Patrícia

Amorim Rego (Juruá, 2010)

Interações Ecológicas e Biodiversidade, de Maria

Lisiane Tissot-Squalli (Unijuí, 2009)

Regime Global de Biodiversidade – O Caso

Mamiraurá, de Cristina Yumie Aoki Inoue (UNB, 2007)

Biodiversidade Tropical, de Marcio Martins (Unesp, 2010)

Sites http://www.cbd.int/2010/welcome

www.sosmatatlantica.org.br

www.rma.org.br

www.jbrj.gov.br

www.ima.al.gov.br

www.terramirim.org.br

BIoDIvErSIDADE O termo signifi ca “diversidade da vida” e é

comumente empregado no sentido de descrever

a riqueza e a variedade de fauna, fl ora e recursos

naturais. É, também, o foco das preocupações

dos ambientalistas e entidades internacionais,

que há anos vêm divulgando os efeitos nocivos

da destruição da biodiversidade sobre o futuro

do planeta. Estudos da União Internacional para

a Conservação da Natureza (UICN) revelam

que 17 mil espécies de plantas e animais estão

ameaçadas de extinção. Por dia, estima-se que

até 150 espécies deixem de existir no mundo. A

taxa de perda é 100 vezes maior que a da extin-

ção natural.

Para chamar atenção para esses fatos, a Or-

ganização das Nações Unidas (ONU) declarou

2010 o Ano Internacional da Biodiversidade. A

iniciativa também reforça a Convenção sobre

Diversidade Biológica (CDB), que em 2002

propôs uma série de metas a serem alcançadas

até o fi nal deste ano. Na convenção, dezenas de

países – entre eles, o Brasil – se comprometeram

a ampliar a rede de unidades de conservação e

aprofundar o conhecimento sobre as espécies

que abrigam. Em outubro, os países signatários

voltaram a se encontrar na 10º Conferência das

Partes da Convenção sobre Diversidade Biológi-

ca (COP10/CDB). Dessa vez, a reunião aconteceu

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

cALoTAS poLArES As calotas polares são grandes massas de terra

cobertas por gelo nos polos da Terra. A principal delas é a Antártica, no Pólo Sul, com 90% de todo o gelo do planeta. Sua superfície chega a ter 14 milhões de metros quadrados durante o verão. No inverno, praticamente dobra de tamanho. A cobertura de gelo no continente antártico tem uma espessura média de 2 a 4 quilômetros e abriga cerca de 70% de toda a água potável do mundo. Se por alguma razão as temperaturas – que por ali se mantêm entre 30 e 90 graus negativos – subissem e todo esse gelo derretesse, o nível dos oceanos subiria 60 metros e provocaria o desaparecimento de cidades como Nova Iorque e até de países in-teiros, como a Holanda.

Do outro lado, no Polo Norte, o Ártico apre-senta características bem distintas. Apesar de ter uma superfície maior, apresenta uma massa de gelo menos espessa. De acordo com a Nasa, a espessura média das geleiras sazonais do Ártico é de 2 metros, enquanto as massas de gelo mais antigas têm 3 metros.

Nos últimos anos, pesquisadores de todo o mundo vêm registrando o derretimento acelerado dessas grandes extensões glaciares, principalmente no hemisfério norte. Em 2003, 62% de todo o volume de gelo no Ártico estava armazenado em geleiras antigas e apenas 38%, nas sazonais de primeiro ano. Em 2008, a situação se inverteu e 68% do gelo passou a ser contido em geleiras novas.

O derretimento do gelo é atribuído ao aumento dos níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmos-fera e ao consequente aquecimento global. Estu-dos mostram que, há 20 mil anos, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre era 30% menor do que a atual. Ao queimar com-bustíveis, o homem injeta por ano 20 bilhões de toneladas de gás carbônico no ar. Outras 7 bilhões

de toneladas vêm do desmatamento. O resultado dessa diminuição das calotas po-

lares são as imagens de grandes icebergs fl utuando ao léu pelos mares do sul e do norte. Icebergs são grandes pedaços de geleiras que se desprendem das massas de terra e caem no oceano. A elevação da temperatura é o que favorece essa separação ao criar rachaduras e enfraquecer os glaciares. Em agosto de 2010, um bloco com 259 quilômetros quadrados – quatro vezes maior do que a ilha de Manhattan – se desprendeu da geleira Petermann, no Mar Ártico. Trata-se do maior pedaço de gelo a se desprender do Polo Norte desde 1962, quando um bloco de 600 quilômetros quadrados se soltou ao mar. A geleira Petermann é a mais setentrional do planeta e também a que vem sofrendo mais com os efeitos do aquecimento global. Nos últimos anos, dois outros blocos menores se desprenderam dela, um com 88 quilômetros quadrados, em 2001, e outro com 26 quilômetros quadrados, em 2008.

PARA SABER MAISLivros

Abaixo da Convergência – Viagens em Direção à Antártica (1699-1839) – Alan Gurney (Companhia das Letras, 2001)

Os Senhores do Clima, de Tim Fridtjof Flannery (Record, 2007)

As Sete Maiores Descobertas Cientí� cas da História e Seus Autores, de David Eliot Brody e Laura Teixeira Motta (Companhia das Letras, 2006)

O Tema Quente, de Gabrielle Walker e Sir David King (Objetiva, 2008)

Sites http://antartica.cptec.inpe.br

http://www.coolantarctica.com

http://arctic-council.org

http://arcticcircle.uconn.edu

www.antarctica.ac.uk

www.nasa.gov

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pATrocINADorES

cAmADA DE ozôNIo O primeiro sintoma perceptível das ativi-

dades predatórias do homem foi a redução na camada de ozônio. Em 1985, os cientistas Joseph Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, do British Antarctic Survey (BAS), constataram que em uma área sobre a Antártica a média de concentração de ozônio estava baixa demais. A descoberta, publicada em 1985, na revista Nature, e prontamente apelidada de “buraco na camada de ozônio”, levou líderes de todo o mundo a assinar um acordo internacional para proibir o uso de compostos químicos que destroem o ozônio. O Protocolo de Montreal, criado em 1987, é hoje uma das provas de que a ação conjunta das nações é capaz de reverter os abusos cometidos contra a natureza.

O ozônio é o principal gás atmosférico. De coloração azul-escura, ele se concentra na estra-tosfera, em uma faixa entre 20 e 40 quilômetros de altitude. Com cerca de 15 quilômetros de espessura, atua como um filtro para a radiação ul-travioleta da luz solar, que provoca inúmeros males ao ser humano – do câncer de pele a cataratas.

A molécula de ozônio é formada por três átomos de oxigênio. O ozônio é gerado quando a radiação ultravioleta rompe as moléculas de oxigênio, mas é destruído quando entra em contato com substâncias químicas como o cloro e o bromo, emitidos na atmosfera por produtos

que utilizam clorofluorcarbono (CFC) e hidro-carbonetos halogenados. Aparelhos de ar-condi-cionado de parede, centrais e de automóveis utilizam o CFC como agente de resfriamento.

Nos anos 1980, o CFC era amplamente utilizado como agente de resfriamento dos refrigeradores e como propelente de aerossóis e extintores. Nessa época, cerca de 500 mil tonela-das de CFC eram emitidas a cada ano – o que fez com que o volume acumulado na atmosfera che-gasse a 30 milhões de toneladas, de acordo com dados da Unidade de Coordenação de Pesquisa do Ozônio na União Europeia. Hoje, passados 25 anos da descoberta da redução da camada de ozônio, os países signatários do protocolo comemoram o retardamento dos impactos das mudanças climáticas graças à eliminação gradual dos CFCs. Os cientistas afirmam que a espes-sura da camada de ozônio sobre a Antártica se recuperará e até 2080 ela deverá retornar aos níveis de 1950.

A redução da camada de ozônio é conhecida desde os anos 1970. Apesar de não terem par-ticipado da publicação da descoberta, foram os cientistas Paul J. Crutzen, Mario J. Molina e F. Sherwood Rowland que deram o primeiro alarme sobre a destruição do ozônio pelas rea-ções com compostos como os CFCs utilizados nos aerossóis e refrigerantes. Por suas pesquisas, os três receberam o Nobel de Química em 1995.

Alguns cientistas, no entanto, acreditam que o buraco na camada de ozônio sobre a Antártica é resultado das condições típicas da meteorologia local. O frio extremo durante o inverno aumenta a produção de cloro e bromo e, quando chega a luz da primavera, a perda de moléculas de ozônio se acelera. Para calcular seu tamanho, a Nasa executa um cálculo médio das áreas com baixa concentração de ozônio durante os dias 21 e 30 de setembro. Desde a sua descoberta, a maior

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

extensão já registrada do buraco de ozônio sobre o continente branco foi em 2006, com 28 milhões de metros quadrados.

PARA SABER MAISLivros

Desaquecimento Global – Faça Acontecer, de Vilmar Aparecido Baltazar (Biblioteca 24x7, 2008)

Desenvolvimento e Meio Ambiente: Estratégias de Mudanças da Agenda 21, de José Carlos Barbieri (Vozes, 2000)

Guia para o Planeta Terra: para Terráqueos de 12 a 120 Anos, de Art Sussman (Cultrix, 2000)

A Grande Transformação Ambiental: uma Cronologia da Dialética Homem-Natureza (Garamond, 2008)

Sites http://www.antarctica.ac.uk/index.php

http://www.theozonehole.com

http://ozonewatch.gsfc.nasa.gov

http://www.ozonelayer.noaa.gov

cAp AND TrADE Cap and Trade é o sistema sobre o qual está

fundamentado o mercado de carbono. A ex-pressão é usada para denominar um sistema de comércio de emissões no qual há limites para as emissões de gases para um determinado setor ou grupo. Quem regula o mercado é o governo, com legislações específi cas. Do ponto de vista teórico, o Protocolo de Quioto seria um sistema desse tipo, uma vez que limita as emissões dos países do Anexo B e permite a negociação de “permissões de emissão” – ou seja, a compra e venda de créditos de carbono do mercado.

A negociação das “permissões de emissão” é a base do sistema Cap and Trade. As empresas que apresentam taxas de emissão acima daquelas determinadas pela legislação de seu país são

obrigadas a comprar permissões em quantidade sufi ciente para se enquadrar nos limites con-siderados adequados. Já as empresas que fi cam abaixo das quotas de emissão ganham o status de vendedoras de permissões e podem negociar esse excedente com as poluidoras. Do ponto de vista comercial, o sistema Cap and Trade funciona como um estímulo fi nanceiro para as empresas poluírem menos.

O sistema também é democrático. Os gover-nos criam metas de redução global, e não para cada empresa ou setor em particular. Com isso, as companhias podem decidir entre investir em programas de redução ou de adequação – que levem a uma queda nas emissões de carbono – ou então investir na compra de permissões geradas por aquelas empresas que já estão alinhadas ao paradigma do desenvolvimento sustentável.

A maioria dos países desenvolvidos já conta com diretrizes de Cap and Trade. A União Europeia divulgou as suas em 2005, e a Nova Zelândia, em 2009. Canadá e Austrália pre-tendem lançar suas diretrizes ainda em 2010. O Japão, que até então vinha estimulando os compromissos voluntários de redução, lançou seu sistema de Cap and Trade há poucos meses. O plano entra em vigor em 2011 e prevê que aproximadamente 1,33 mil escritórios, edifícios e fábricas – que respondem por um quinto das emissões de Tóquio – reduzam suas emissões entre 6% e 8% até 2014. Até 2020, a meta é re-duzir em 25% as emissões na capital japonesa. Os Estados Unidos também divulgaram neste ano suas metas ofi ciais de redução de gases do efeito estufa e criaram sua legislação para o mercado de carbono. A meta norte-americana é reduzir as emissões em 17% até 2020.

O Brasil participa do sistema de Cap and Trade como um dos principais fornecedores de

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pATrocINADorES

créditos de carbono. Entretanto, o país ainda não dispõe de uma regulamentação própria para o assunto.

PARA SABER MAISLivros

Beyond Kyoto: a New Global Climate Certi� cate System, de Lutz Wicke (Springer, 2005)

Carbon Tx and Cap-and-Trade Tools: Market-Based Approaches for Controlling Greenhouse Gases, de Nelson E. Burney (Nova Science, 2010)

Emissions Trading: Principles and Practice, de Thomas H. Tietenberg (Resources for the Future, 2006)

Sites http://www.epa.gov

www.fbds.org.br

www.carbonobrasil.com

cArBoN DIScLoSUrE proJEcT (cDp) O Carbon Disclosure Project (CDP) é o melhor

exemplo de como o conceito de sustentabilidade empresarial pode caminhar alinhado aos in-teresses do mercado fi nanceiro. Uma das maio-res iniciativas mundiais pela adoção de sistemas de produção e gestão que gerem menor impacto ambiental, o CDP é formado por 475 grandes investidores institucionais, a maioria fundos de pensão, que administram recursos da ordem de US$ 57 trilhões em ativos de 3,7 mil corporações. Empresas que queiram atrair o interesse dessa monumental coalizão de investidores precisam calcular e informar ao CDP suas emissões de gases de efeito estufa, publicando relatórios que sigam uma metodologia específi ca, criada pela própria entidade. Essa exigência fez do CDP o maior banco de dados sobre as emissões de gases de efeito estufa geradas pelas maiores empresas do mundo.

O CDP nasceu em Londres, em 2000. No início, o projeto contou com recursos da or-ganização do governo britânico Carbon Trust e apoio do ex-primeiro-ministro Tony Blair. Atualmente, além do monumental ativo, o fundo administra escritórios em Nova Iorque, Berlim, Paris, São Paulo, Estocolmo e Tóquio.

Desde o início, o objetivo principal do CDP foi identifi car e dar visibilidade a empresas que mantêm políticas claras de sustentabilidade. Para isso, criou uma metodologia que ajuda as companhias a calcular e informar o volume de suas emissões de carbono. Assim, o CDP passou a exercer um papel fundamental junto aos investidores ao oferecer uma análise única sobre como as grandes empresas do mundo estão respondendo às mudanças climáticas. A iniciativa não só fortaleceu as políticas climáti-cas entre as companhias como também ajudou a tornar mais transparentes as medidas de pre-venção e redução de impactos ambientais entre as empresas.

Todos os anos, o CDP envia questionários a companhias de todo o mundo. Em 2009, 3,7 mil empresas foram convidadas a informar seus dados. Entre as 500 maiores, 409 responderam à CDP. No Brasil, foram 62 empresas, o que repre-senta uma adesão de 78% em relação ao número de questionários enviados. Essa participação coloca o país entre as nações mais ativas no CDP, com 11% do total dos relatórios globais.

Os organizadores do fundo que comanda o CDP já anunciaram a criação de um novo crité-rio de sustentabilidade capaz de refl etir outro aspecto das empresas participantes: a pegada de água. Lançado em 2010, o CDP Water Disclosure Project vai auxiliar os investidores institucionais a entender, mensurar e avaliar os riscos e opor-tunidades associados à escassez de água. Foram convidadas a participar da primeira consulta as

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300 maiores corporações mundiais que utilizam água de maneira intensiva – como as dos setores químico, de bebidas e alimentos. “Esse projeto vai mostrar aos investidores como as indústrias tratam e benefi ciam seus recursos hídricos. Em breve, ele também deve marcar o mercado e pas-sar a determinar os investimentos, como vem acontecendo com o carbono”, antevê Giovanni Barontini, sócio-diretor da Fabrica Éthica Brasil, consultoria especializada em sustentabilidade e que é responsável pela redação dos relatórios do Carbon Disclosure Project no país.

PARA SABER MAISLivros

Carbon Finance: The Financial Implications of Climate Change, de Sonia Labatt e Rodney R. White (Wiley, 2007)

Climate Capitalism: Global Warming and the Transformation of the Global Economy, de Peter Newell e Matthew Paterson (Cambridge University Press, 2010)

Sites www.cdproject.net

http://www.fabricaethica.com.br

cArBoN TrUST Organização sem fi ns lucrativos criada pelo

governo britânico em 2000, a Carbon Trust conta com orçamento público, mas tem gestão privada. Sua missão é pesquisar e estimular tec-nologias e políticas que insiram a Grã-Bretanha em uma economia de baixo carbono. Para isso, a organização coloca seus funcionários à dis-posição das empresas e do setor público e as auxilia a calcular e reduzir sua pegada carbônica e seu consumo energético – o que resulta, muitas vezes, em boas economias de dinheiro.

O braço mais conhecido da Carbon Trust é a Carbon Trust Footprinting Company (CTFC), responsável por emitir certifi cados da pegada de carbono de empresas dos mais variados setores. Esse certifi cado, chamado “The Carbon Reduction Label”, fi ca estampado nos rótulos dos produtos e funciona como uma fonte de informações para o consumidor – que pode avaliar o impacto ambiental do que está levando para casa. O selo tem a forma estilizada de um pezinho e só pode ser impresso depois que a empresa passa por uma pesquisa rigorosa, na qual a CTFC analisa as taxas de emissão geradas em todo o processo de produção e então fornece uma chancela válida por dois anos. Durante esse tempo, a empresa se compromete a reduzir suas emissões como condição para renovar o selo.

O selo identifi ca quantos gases-estufa foram emitidos na produção de cada produto desde o início da cadeia produtiva e em todo seu per-curso até a prateleira da loja, passando pelo uso e com a perspectiva do descarte fi nal. Na Inglaterra, o primeiro produto a aparecer com a pegada de carbono foi um salgadinho da Walkers. Pelo site da empresa, www.carbon-label.com, os consumidores também conseguem calcular suas pegadas de carbono e recebem orientações sobre como diminuir seu impacto ambiental.

Desde 2008, a Carbon Trust também emite o Carbon Trust Standart (CTS), uma certifi cação que garante que a empresa implementou um regime de manejo e redução anual das emissões. O CTS utiliza metodologias reconhecidas inter-nacionalmente para medir o volume de carbono despejado pelas empresas na atmosfera. Entre essas metodologias está o GHG Protocol Cor-porate Standard, do World Resources Institute (WRI) e do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), e a ISO14064-1.

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pATrocINADorES

A Carbon Trust ainda fi nancia investimentos de pequenas e médias empresas que desejam adquirir equipamentos de baixo impacto ambiental. Atualmente, o orçamento anual da organização é de 105 milhões de libras. O dinheiro é repassado pelo governo, mas quem decide onde e como ele será aplicado é um conselho independente.

A Carbon Trust representa a principal frente do governo britânico na empreitada de reduzir 80% de suas emissões até 2050, conforme um compromisso fi rmado em 2008, quando a Grã-Bretanha criou um plano nacional sem preceden-tes no mundo – o Climate Change Act – para combater os efeitos do aquecimento global.

PARA SABER MAISSites

www.carbontrust.co.uk

www.carbon-label.com

www.carbontruststandard.com

www.theccc.org.uk

cArBoNo EqUIvALENTE É a medida métrica estipulada pelo Protocolo

de Quioto para calcular e comparar as emissões dos gases do efeito estufa de cada país. O objetivo é facilitar a mensuração, padronização e compa-ração dos impactos ambientais de cada região do planeta. Sem o carbono equivalente, seria prati-camente impossível saber quem polui mais ou menos – cada um dos gases estufa afeta de forma diferente o clima. O carbono equivalente (CO2e) permite somar as emissões de vários gases em um único número. Para obter esse valor, utiliza-se um fator de equivalência chamado potencial de aquecimento global (GWP).

O GWP é baseado na efi ciência radioativa e

na meia-vida de uma mesma quantidade de gás. O valor nunca é absoluto, e sim relativo ao CO2 – que nesse índice é sempre defi nido como 1. O GWP do metano, outro importante gás do efeito estufa, é 21. E do óxido nitroso, 310.

O valor de CO2e é obtido pela multiplicação da quantidade de emissões de um determinado gás pelo seu GWP. Por meio dessa lógica, cada molécula de metano lançado no ar tem o mesmo efeito sobre o clima que 21 moléculas de CO2. Num inventário internacional, a emissão de 1 milhão de toneladas de metano aparecerá como 21 milhões de toneladas de carbono equivalente.

Entretanto, nem todos aceitam a conven-ção do carbono equivalente. Muitos cientistas discordam do cálculo de equivalência e da importância numérica atribuída ao metano, por exemplo. Considerado o segundo gás mais relevante para as mudanças climáticas, ele acaba ganhando um peso menor do que deveria nos cál-culos de emissões. A equivalência deveria ser da ordem de 1 para 5. Para eles, a diferença se deve à falta de capacidade do GWP em medir com mais precisão quanto as moléculas dos diferentes gases são capazes de contribuir para o aumento das temperaturas do planeta no longo prazo.

Na tentativa de corrigir essa falha, o cientista Keith Shine, do Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, propõe a adoção de uma métrica alternativa, conhecida como “potencial de mudança de temperatura global (GTP)”. Diferente do GWP, essa medida de equivalência calcula a infl uência de cada gás sobre o fenômeno das mudanças climáticas. Nele, o fator de conversão do metano fi ca entre 4 e 7.

No Brasil, o inventário nacional de gases do efeito estufa não utiliza a medida CO2e. A listagem de emissões de cada gás é citada separadamente.

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

tipo de emissão de gases causadores do efeito estufa, desde aqueles gerados por indústrias e empresas até os oriundos de plantas industriais e do transporte das mercadorias. Ações pontuais como shows, reuniões, conferências e até pro-moções também podem ser neutralizadas.

Recentemente, por exemplo, a banda britâni-ca Coldplay contratou uma empresa para plantar 10 mil mangueiras em uma região da Índia para neutralizar a poluição gerada na produção e dis-tribuição de seus CDs. Em 2009, a mesma banda promoveu um show “carbono neutro” em Abu Dabi, nos Emirados Árabes. Três anos antes, no Brasil, a banda carioca O Rappa fez o mesmo e neutralizou um show para 6 mil pessoas realizado em São Paulo. O trabalho desenvolvido pela Car-bonoNeutro®, consultoria da MaxAmbiental, calculou a emissão de CO2 que a viagem dos 17 integrantes do grupo geraria, o consumo de en-ergia e a quantidade de lixo que seria descartada pelo público. Resultado da conta: 7,63 toneladas de carbono. A neutralização foi feita por meio do plantio de 38 árvores na região de Resende, no Estado do Rio. Em média, cada tonelada de carbono emitida exige o plantio de cinco árvores para ser neutralizada.

O ápice do conceito de neutralização, que é o status “carbono neutro”, acontece quando uma empresa consegue compensar completamente o seu impacto ambiental. Um exemplo é a Celulose Irani, empresa da região sul que, em 2010, foi considerada carbono neutro. A companhia foi auditada pela consultoria BRTÜV, de acordo com a norma internacional ISO 14064, de 2006. A auditoria revelou que a Irani retira mais gases estufa da atmosfera do que emite. Em 2009, por exemplo, a companhia absorveu 662.971 tonela-das de CO2e (carbono equivalente). No mesmo período, as emissões de gases do efeito estufa (GEE) foram de 20.055 toneladas de CO2e.

PARA SABER MAISLivros

Legislação Internacional, de Ricardo Seitenfus (Manole, 2004)

Para Mudar o Futuro: Mudanças Climáticas, Políticas Públicas e Estratégias Empresariais, de Jacques Marcovitch (Edusp, 2006)

Sites http://www.opencarbonworld.com

www.ieta.org

cArBoNo NEUTro Uma empresa que utiliza veículos, consome

energia elétrica e descarta embalagens emite gases que agravam o aquecimento global, certo? Tudo bem: pelo conceito de neutralização do carbono, essa empresa pode “neutralizar” o impacto ambiental de suas atividades a partir de ações de compensação – tais como a compra de créditos de carbono ou o fi nanciamento de projetos de produção de energia limpa, como fazendas de energia eólica ou a instalação de biodigestores em qualquer lugar do planeta. A forma mais simples e direta de neutralizar o carbono é o plantio de árvores em número capaz de absorver o mesmo volume de gases gerados nas atividades do dia a dia.

Os adeptos do “carbono neutro” acreditam que é possível compensar e neutralizar qualquer

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pATrocINADorES

PARA SABER MAISLivros

A Economia Verde, de Joel Makower (Gente Liv, 2009)

Desenvolvimento com Menos Carbono, de John Nash, Pablo Fajnzylber e Augusto Torres (Campus, 2010)

Globoconscientização: por um Desenvolvimento Sustentável, de Alexandre Wernek (Biblioteca24x7, 2009)

Sites www.carbononeutro.com.br

www.irani.com.br

www.zerocarbonhouse.com

www.carbonzero.co.nz http://www.carbonzero.ca

cDp SUppLY chAIN Enquanto o CDP Project identifi ca as empre-

sas comprometidas com a redução do impacto ambiental, o CDP Supply Chain tem o objetivo de apresentar relatórios de sustentabilidade das cadeias de fornecedores daquelas companhias consideradas líderes em gestão de carbono den-tro de suas áreas de atuação. A partir dessa lista, que é pública, tanto o CDP quanto as empresas sensibilizam a cadeia de fornecedores para a im-portância de adotar medidas de gestão ambiental para se manterem competitivas.

Em 2009, 44 dessas empresas-referência que constam nos ativos do CDP convidaram 710 fornecedores a responder ao questionário do CDP Supply Chain. De acordo com a met-odologia empregada, elas tiveram de relatar suas emissões de gases de efeito estufa, metas de redução, governança e avaliação dos riscos e oportunidades associados às mudanças climáti-cas. Participaram da iniciativa companhias do calibre de Bank of America, Carrefour, Dell, Google, IBM, Johnson & Johnson, PepsiCo,

Procter & Gamble, Sony e Vodafone, entre outras.

O relatório publicado em 2010, a partir dos dados coletados nesses questionários, também mostrou a importância da gestão ambiental no meio corporativo. Das empresas líderes participantes do CDP Supply Chain, 89% afi rmaram estar engajadas em sensibilizar seus fornecedores para as questões climáticas e para a necessidade de reduzir emissões de carbono. A maioria também relatou o objetivo de se des-ligar de fornecedores que não adotam hábitos de gerenciamento de carbono.

PARA SABER MAISLivros

Essentials of Supply Chain Management, de Michael H. Hugos (Wiley, 2006)

Supply Chain Management Best Practices, de David Blanchard (Wiley, 2010)

Guide to Supply Chain Management: How Getting it Right Boosts Corporate Performance, de David Jacoby (Bloomberg Press, 2009)

Sites https://www.cdproject.net

https://www.cdproject.net/CDPResults/CDP-Supply-Chain-Report_2010.pdf

cErTIfIcAção fLorESTAL A certifi cação é um instrumento de mercado

voluntário que assegura que toda a matéria-prima originária de uma fl oresta é obtida de maneira responsável – ecológica, social e eco-nomicamente. Critérios como as condições de trabalho, o respeito às comunidades nativas e o uso racional dos recursos fl orestais são avaliados por auditores independentes, que então emitem os chamados selos verdes. Para as empresas, a

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certifi cação é uma maneira de se diferenciar no mercado e agregar valor aos seus produtos. Já para o consumidor, é o atestado de que a empresa não provoca a degradação ambiental.

O selo FSC, da sigla Forest Stewardship Council (ou “Conselho de Manejo Florestal”, em tradução livre), é o sistema de certifi cação com maior credibilidade em todo o mundo, atuando diretamente em mais de 79 países. A instituição já certifi cou mais de 103 milhões de hectares, ou 8% do total das fl orestas existentes do mundo. Mas ele não é o único. Criado em 1999, o PEFC (sigla para “Programa para o Reconhecimento dos Esquemas de Certifi cação Florestal”, em inglês) é responsável por mais de dois terços das áreas fl orestais certifi -cadas do mundo. De acordo com os números mais recentes, o sistema já certifi cou 223 milhões de hectares e concedeu mais de 7 mil certifi cados para empresas de todas as partes do planeta.

No Brasil, além do FSC, existe o Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor), um sistema de certifi cação criado pela Sociedade Brasileira de Silvicultura. No Cerfl or, os padrões são prescritos conforme as normas elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação e Conformidade (Sbac) e ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Quali-dade Industrial (Inmetro). Diferente do FSC, que apresenta cinco padrões genéricos para orientar o processo de auditoria fl orestal, o Cerfl or possui

normas objetivas que devem ser seguidas à risca. Em 2009, o total de áreas de manejo fl orestal certifi cadas pelo Cerfl or era de 942,6 mil hectares.

PARA SABER MAISLivros

Posse Agroecológica e Manejo Florestal, de José Heder Benatti (Jurua, 2003)

Forest Certi� cation: Roots, Issues, Challenges and Bene� ts, de Kristiina A. Vogt (CRC Press, 2000)

Forest Certi� cation in Sustainable Development: Healing the Landscape, de Chris Maser e Walter Smith (Lewis Publishers, 2001)

Sites www.ci� orestas.com.br

http://painel� orestal.com.br

http://www.pefc.org

www.sbs.org.br

www.fsc.org.br

cÓDIGo fLorESTAL BrASILEIro O Novo Código Florestal Brasileiro propõe

uma legislação para impedir que o avanço de atividades econômicas comprometa a existência e a preservação das fl orestas nativas do país. Sua aprovação é o centro de uma grande polêmica nacional. De um lado, ambientalistas garantem que as alterações sobre o Código Florestal em vigor, que data de 1965, podem abrir brecha para uma verdadeira onda de desmatamentos. Do outro, os ruralistas asseguram que o projeto garante o equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação.

No centro da polêmica estão três alterações. A primeira diz respeito à exigência da reserva legal e que isenta as propriedades de até 400 hectares a preservar parte de sua área. Atualmente, todas as propriedades são obrigadas a respeitar os limites impostos pela legislação, que são de 20% para as

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pATrocINADorES

propriedades na Mata Atlântica, 35% no Cerrado e 80% da Amazônia – salvo as áreas consideradas de agricultura familiar. Pelo novo código, apenas os grandes proprietários fi cam obrigados a manter reservas legais. A segunda está relacionada à anistia de multas e sansões em áreas devastadas até julho de 2008. De acordo com o novo código, proprietários de terras que desmataram encostas de morro e nascentes ou qualquer outra área de preservação ambiental fi cam livres de pagar multas pelo estrago.

A mais polêmica, no entanto, é aquela que reduz de 30 para 15 metros as áreas de proteção permanente nas margens dos riachos com até cinco metros de largura – que formam 90% da malha hidrográfi ca nacional. Com a alteração, as plantações podem se aproximar do leito dos ria-chos, causando um impacto considerável sobre a fauna, uma vez que as matas que fi cam na beira dos rios constituem o habitat de inúmeras espécies de insetos, répteis e anfíbios. A partir da entrada em vigor do Novo Código Florestal também se torna possível desmatar áreas acima de 1,8 mil metros.

O projeto determina, ainda, que cada Estado terá autonomia para decidir sobre o uso da terra e sobre a parcela que deverá ser preservada. Assim que a lei entrar em vigor, as unidades da federação terão um prazo de cinco anos para identifi car suas reservas fl orestais. Durante esse período, as autorizações para novos desmatamentos fi carão suspensas.

PARA SABER MAISSites

www.greenpeace.org/brasil/pt

www.ambientebrasil.com.br

www.mma.gov.br

www.wwf.org.br

www.mudancasclimaticas.andi.org.br

www.ipam.org.br

www.oc.org.br

coNSUmo coNScIENTE As empresas e os governos têm a obrigação

de adotar sistemas de produção mais limpos e efi cientes, além de diminuir os impactos ambientais de suas atividades. E o consumidor, que papel tem? É aí que entra o conceito de consumo consciente. O termo se refere ao ato de comprar somente produtos que, claramente, não repre-sentam ameaça ao equilíbrio ambiental – como é o caso dos produtos recicláveis ou reutilizáveis. Certifi car-se de que a fabricante é sustentável ou utilizar equipamentos que demandam menos energia são outras obrigações do “consumidor consciente”.

A ideia que permeia o consumo consciente é di-minuir o impacto ambiental gerado pela compra de mercadorias e serviços. A questão não é consumir menos, e sim consumir de maneira sustentável. Por exemplo: em vez de carregar as compras em sacos plásticos, o consumidor consciente utiliza sacolas reaproveitáveis. Na hora de comprar um aparelho de micro-ondas, ele não se preocupa apenas com a sua potência: verifi ca também o seu consumo de energia.

Para facilitar a vida desses consumidores, muitas empresas brasileiras vêm apostando em ações de estímulo ao consumo consciente. O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, adotou um programa de reciclagem pré-consumo chamado

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

Caixa Verde. O programa oferece aos clientes a

possibilidade de descartar, ainda no supermer-

cado, todas as embalagens de plástico e papel

que compõem os envoltórios de muitos produ-

tos, como pastas de dente e caixas de bombom.

As urnas especiais estão instaladas em 40 lojas

da bandeira Pão de Açúcar e em mais 12 da rede

Extra. Até junho de 2010, 780 mil embalagens

foram coletadas e encaminhadas para centros

de reciclagem. O grupo também oferece a seus

clientes pontos para a entrega voluntária de

materiais recicláveis, incluindo papel, plástico,

metal, vidro e óleo de cozinha usado. As Esta-

ções de Reciclagem estão presentes em 110 lojas,

em 31 municípios do país. Desde sua criação,

em 2001, elas já arrecadaram 32 mil toneladas

de materiais recicláveis. Todo o material é

destinado a cooperativas de coleta e reciclagem

e parte dele é transformado em papel cartão

– utilizado na confecção das embalagens de

produtos da marca Taeq, que também pertence

ao Pão de Açúcar.

PARA SABER MAISLivros

Saving the Planet: how to Shape an Environmentally Sustainable Global Economy, de Lester Borwn, Christopher Flavin e Sandra Postel (Earthscan, 1992)

Eco-Economy: Building an Economy for the Earth, de Lester Brown (Earthscan, 2003)

Consumo Consciente Comércio Justo – Conhecimento e Cidadania como Fatores Econômicos, de Elias Fajardo (Senac, 2010)

Sites http://www.akatu.org.br

www.economiasolidaria.org/consumo_responsable

www.greenpeace.org.br/consumidores

www.terrazul.m2014.net

www.consumidorconsciente.org.br

coNvENção qUADro DAS NAçÕES UNIDAS SoBrE mUDANçAS cLImÁTIcAS

Tratado internacional identifi cado pela sigla UNFCCC – do inglês United Nations Frame-work Convention on Climate Change. Foi es-tabelecido em maio de 1992, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, e aberto para assina-tura no mesmo ano, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro – e que fi caria conhecida como “Cúpula da Terra”. Inicialmente, a Convenção foi assinada por 154 países. Hoje, no entanto, conta com a participação efetiva de 194 nações.

A convenção estabeleceu um compromisso geral entre os países pela redução da emissão de gases do efeito estufa. Não instituiu me-tas objetivas de emissão, mas lançou alguns princípios que sedimentariam futuros acordos com essa fi nalidade. Entre eles, o reconheci-mento por parte de todos os países de que existe um problema global relacionado ao aumento das temperaturas e suas possíveis implicações. Embora possa parecer óbvia nos dias de hoje, essa constatação foi fundamental para que os países desenvolvessem planos de ação para minimizar de fato o impacto do desenvolvi-mento econômico sobre o clima. A convenção também ajudou a difundir o objetivo de estabi-lizar as concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera e sugeriu a obrigatoriedade do desenvolvimento de programas nacionais para atenuar a mudança do clima e incentivar as pesquisas científi cas sobre esse tema.

Sua principal contribuição para o mundo, porém, foi a atribuição de cotas maiores de responsabilidade aos países ricos na luta contra as mudanças climáticas. Pelo tratado, fi cou deter-minado que, por deterem a maior parte da força

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pATrocINADorES

industrial do planeta, os países ricos também teriam de arcar fi nanceiramente com a maior fatia dos investimentos contra o aquecimento global.

Assim como o Protocolo de Quioto, a UNFCCC conta com o apoio de outras instituições para ser implementada. Uma delas é Conferência das Partes (COP/MOP), que reúne regularmente os representantes de todos os países que assinaram e ratifi caram a convenção.

PARA SABER MAISLivros

Sequestro Florestal de Carbono no Brasil: Dimensões Políticas, Socioeconômicas e Ecológicas, de Chang Man Yu (Annablume, 2004)

Legislação de Consumo no Âmbito da ONU e da União, de Aguinaldo Allemar (Juruá, 2004)

Sites http://unfccc.int

http://www.onu-brasil.org.br/doc_clima.php

www.ipcc.ch

cop15 – coNvENção DE copENhAGUE

A COP15 foi a 15ª convenção dos países sig-natários da Convenção Quadro sobre Mudança Climática das Nações Unidas, um acordo inter-nacional criado durante a Eco-92. Realizada em Copenhague, na Dinamarca, a COP15 tinha como principal objetivo a defi nição de novas metas de redução dos gases do efeito estufa para o segun-do período de vigência do Protocolo de Quioto, a partir de 2013. A primeira meta de redução da história foi estabelecida em 1997, na COP3, por meio do Protocolo de Quioto. Ela determinou que os países desenvolvidos (e que constam no Anexo 1 do Protocolo) diminuíssem em média

5% das emissões de gases do efeito estufa entre

os anos de 2008 e 2012. A meta, porém, jamais

foi cumprida.

Na COP15, os países signatários tentaram

chegar a um novo acordo, mais realista, para

reduzir o despejo de carbono na atmosfera. Mas

não houve consenso e a convenção foi considerada

fracassada. O fi asco só não foi completo porque

uma declaração de intenções foi assinada entre

os países participantes. O chamado “Acordo de

Copenhague” não estabelece nenhuma meta,

mas pelo menos reconhece a necessidade de se

implementar medidas para cumprir dois obje-

tivos: evitar que a temperatura global suba

mais do que 2o C e estabilizar as emissões

provenientes do desmatamento e da degrada-

ção de florestas.

Elaborado pelo Brasil, China, Índia, África

do Sul e Estados Unidos, o documento também

prevê a doação de bilhões de dólares para que os

países mais vulneráveis às mudanças climáticas

consigam implantar programas de adaptação e

de mitigação das emissões de carbono. O obje-

tivo é que as doações totalizem US$ 130 bilhões

até 2020. As contribuições virão, principalmente,

de potências como Estados Unidos, Japão e União

Europeia. Dos 193 países presentes, 111 expres-

saram seu apoio ao acordo e 75 incorporaram

metas voluntárias de redução ou estabilização

de emissões até 2020. Entre eles, China, Índia e

Estados Unidos.

PARA SABER MAISSites

en.cop15.dk

www.cop15brasil.gov.br

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/0,,17816,00.html

unfccc.int

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62

GUIA DA SUSTENTABILIDADE

cop16 – coNfErÊNcIA DE cANcUN A Convenção de Copenhague, ou COP15,

recebeu um número recorde de participantes. Ao todo, 193 países se fi zeram presentes por meio de 10,5 mil delegados e com um público superior a 45 mil pessoas. Mas a convenção não trouxe resultados efetivos no combate às mudanças climáticas.

Assim, não foi surpresa o fato de que, meses antes de ser realizada, a Convenção de Cancún, ou COP16, despertava pouco interesse e quase nenhuma expectativa. Agendada para os dias 29 de novembro até 10 de dezembro de 2010, a convenção tinha o objetivo de dar andamento às negociações do “Acordo de Copenhague”, docu-mento que foi elaborado – mas não aprovado – na última convenção anterior, a COP15. O acordo reconhece que o aumento das temperaturas na Terra não pode ultrapassar 2o C, mas não deter-mina como cumprir esse objetivo.

A discussão sobre as metas do segundo perío-do de Quioto, que se inicia em 2013, também foi pauta da COP16. Enquanto a maioria dos países prefere manter 1990 como a data de referência para a redução de emissões de gases do efeito estufa, Canadá e Japão sugerem 2006 ou 2007 como períodos de comparação.

Antes da convenção, especialistas e a própria ONU admitiam que seria difícil chegar a um acordo sobre metas de emissão capazes de substituir o Protocolo de Quioto. A maioria

deles apostava que a COP16 serviria apenas para esclarecer e defi nir pontos complexos e, assim, aumentar as chances de elaboração de um novo tratado em 2011, durante a COP17, marcada para a África do Sul.

Como país-sede, o México também trabalha diplomaticamente para conquistar as assinatu-ras de países que se recusaram a assinar o Acordo de Copenhague por se sentirem excluídos das negociações, como Malásia, Paquistão, Nica-rágua, Equador, Peru, Bolívia e Chile. Outra missão é estabelecer uma parceria com países africanos e envolvê-los nas discussões.

PARA SABER MAISSites

http://cc2010.mx

http://unfccc.int

www.observatorioeco.com.br

http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/1441

crÉDIToS DE cArBoNo Um dos principais dispositivos do Proto-

colo de Quioto, os créditos de carbono são um mecanismo econômico que permite aos países desenvolvidos atingir suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa a partir da compra de certifi cados de redução de emissão emitidos por países em desenvolvimento. Dessa forma, uma empresa brasileira que tenha imple-mentado um projeto de redução de emissões ganha o direito de vender aos países ricos a poluição que deixou de causar. Cada tonelada de carbono equivalente (CO2e) não emitida se transforma em um crédito que pode ser ne-gociado diretamente entre as empresas ou por meio da Bolsa de Valores.

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pATrocINADorES

Países que não precisam diminuir suas emissões ou que não assinaram o Protocolo de Quioto também podem negociar créditos de carbono – nesse caso, o mercado é chamado voluntário. De acordo com um relatório divul-gado pela organização americana Ecosystem Marketplace, o mercado voluntário de carbono movimentou algo em torno de US$ 705 milhões em 2008. O preço médio de cada crédito volun-tário negociado no mercado de balcão (OTC) foi de US$ 7,34 por tonelada de CO2e. Em 2007, o valor era 22% menor – cerca de US$ 6 por tone-lada de CO2e.

Todo esse dinheiro, é claro, despertou a ambição de grandes investidores. Tanto que o mercado de crédito de carbono já passou por seu primeiro revés. Em agosto de 2010, a Organiza-ção das Nações Unidas descobriu 19 indústrias chinesas suspeitas de fraudar o mercado de carbono. As empresas dedicadas à destruição do HFC23, um gás de efeito estufa usado em equi-pamentos de refrigeração, podem ter vendido créditos sem a equivalente redução de emissões. A descoberta do esquema colocou em xeque a credibilidade do sistema e levou à suspensão da venda dos créditos de HFC23 emitidos por essas empresas.

PARA SABER MAISLivros

Mercado de Carbono e Protocolo de Quioto, de Mari Elizabete Bernardini Sei� ert (Atlas, 2009)

Mercado de Carbono e Protocolo de Quioto, de Gabriel Sister (Campus Jurídico, 2008)

Sites http://www.carbonobrasil.com/#mercado_de_carbono

www.bloomberg.com

http://www.ecosystemmarketplace.com

http://www.zeroemissions.com

DESENvoLvImENTo SUSTENTávEL Qualidade em vez de quantidade. Essa é

máxima por trás do conceito de desenvolvi-mento sustentável, segundo a qual o crescimento econômico não pode se dar às custas do meio ambiente. Para ser sustentável, o desenvolvi-mento deve estar calcado no princípio de que os recursos naturais são limitados e que, para garantir a sobrevivência das populações futu-ras, é necessário ser responsável e racional hoje. Essa consciência deve determinar a escolha das empresas, governos e consumidores por ações sustentáveis, como a redução do uso de matérias-primas e o aumento da reutilização e da reciclagem.

A defi nição de desenvolvimento sustentável foi apresentada pela primeira vez em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em Estocolmo, na Suécia. Seus autores, Maurice Strong e Ig-nacy Sachs, conceituaram o ecodesenvolvimento como sendo o desenvolvimento sustentável que atende às exigências do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras fazerem o mesmo.

Passados 38 anos, a noção de desenvolvimento que não esgota os recursos permeia boa parte das ações diárias das pessoas, como o simples ato de fechar a torneira ao escovar os dentes e assim economizar água. Ou a separação do lixo orgânico daquele que pode ser reciclado – para evitar, assim, a sobrecarga dos aterros ou a contaminação da terra e dos rios por materiais que demoram séculos para se decompor. En-tre as empresas, as medidas de diminuição do impacto ambiental ganharam status de ações de marketing, ajudando-as a se diferenciar no mercado e agregar valor a seus produtos. A Coca-Cola Brasil, por exemplo, lançou uma em-

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balagem PET feita a partir da cana-de-açúcar. A PlantBottle tem origem parcialmente vegetal: 30% de sua composição leva etanol no lugar do petróleo. Além de diminuir o uso de recursos não renováveis, a nova embalagem diminuirá em até 25% as emissões de CO2 da empresa.

Em agosto de 2010, a Organização das Na-ções Unidas anunciou a criação de um grupo de pesquisa que vai se debruçar exatamente sobre a problemática de como retirar as pes-soas da pobreza e assegurar o desenvolvimento econômico em sintonia com o combate às mu-danças climáticas. O “Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global” é composto por 21 países e encabeçado pelos presidentes Tarja Halonen, da Finlândia, e Jacob Zuma, da África do Sul.PARA SABER MAIS

Livros Sustentabilidade e Geração de Valor – a Transição para o Século XXI, David Zylbersztajn e Clarissa Lins (Campus-Elsevier, 2010)

Desenvolvimento Sustentável – o Desa� o do Século XXI, de José Eli da Veiga (Garamond, 2005)

Saneamento, Saúde e Ambiente – Fundamentos para um Desenvolvimento Sustentável, de Arlindo Philipi Junior (Manole, 2004)

Sites http://www.fbds.org.br

www.institutococacola.org.br

www.ecossistemas.net

DESErTIfIcAção O nome já diz tudo – trata-se da trans-

formação de um ecossistema ou de uma área originalmente fértil em deserto. Diversos fatores podem desencadear um processo de desertificação. Os mais comuns são decorren-tes da ação humana, como o desmatamento,

a poluição e até mesmo a caça predatória – o que desequilibra os ecossistemas e pode levar à extinção de animais que são fundamentais para a polinização. Mais recentemente, porém, outro fator vem ganhando importância no ranking das principais causas da desertifica-ção: o aquecimento global.

As projeções dos meteorologistas revelam que, à medida que for aquecendo, o planeta terá novos padrões climatológicos. Áreas que hoje são ocupadas por florestas tropicais – como a Amazônia – tendem a perder umidade e se tornarem imensas áreas de savana, com vegetação rala e poucas árvores, tal como ocorre na região do Cerrado. Da mesma forma, regiões que hoje já convivem com a escassez de chuvas correm o risco de secar por completo, favorecendo a emergência de um mais solo arenoso e dando origem a autênticos desertos.

A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertifi cação (UNCCD, na sigla em inglês) estima que um terço da superfície terrestre está sujeita à desertifi cação causada ora pela ação direta do homem, ora pelos efeitos das mudanças climáticas. O processo pode forçar cerca de 2,6 bilhões de pessoas a buscar abrigo em regiões mais propícias à vida. A maioria delas se localiza ao sul do deserto do Saara, área que já concentra os grandes bolsões de miséria e fome da África.

No Brasil, a região mais vulnerável à de-sertificação fica justamente no semiárido, no interior do nordeste, em uma faixa já cas-tigada pelas precárias condições sociais da população. O governo brasileiro está tomando medidas para conter a desertificação em al-gumas cidades da região. Em julho de 2008, por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente lançou a Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD), que atuará como um

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órgão consultivo na elaboração de uma política nacional de prevenção à desertificação. A CNCD também buscará ações de mitigação dos efeitos da seca e promoverá debates que levem à recuperação da Caatinga – bioma mais afetado pela desertificação no país.

Embora ocorra em regiões específicas, a desertifi cação gera efeitos colaterais que prejudi-cam todo o sistema econômico. O ressecamento de alguns biomas força a migração de parte da população, o que acelera o êxodo rural e agrava as tensões sociais nos grandes polos urbanos. Ao mesmo tempo, provoca alterações no mapa agrícola e obriga os produtores a buscar novas variedades de plantio ou, em casos extremos, abandonar o campo.

PARA SABER MAISLivros

Deserti� cação – Sinais, Dinâmica e Sociedade, de Victor Louro (Editora Piaget)

Mudanças Climáticas e Deserti� cação no Semiárido Brasileiro, de Francislene Angelotti, Iêdo Bezerra Sá, Eduardo Assis Menezes e Giampaolo Queiroz Pellegrino (Embrapa)

Sites http://www.unccd.int

http://www.mma.gov.br

DESmATAmENTo E qUEImADAS O Brasil é destaque absoluto de qualquer de-

bate que envolva a preservação ou a destruição de fl orestas. Além de abrigar a maior parte da Floresta Amazônica, o país é recordista mundial em desmatamento. De acordo com um estudo divulgado em março de 2010 pela Food and Agriculture Organization of the United Na-tions (FAO), o Brasil foi o país que mais perdeu

áreas fl orestais entre 2000 e 2010. Durante esse período foram desmatados 2,6 milhões de hectares de floresta a cada ano. O segundo colocado nesse ranking foi a Indonésia, com 1,9 milhão de hectares por ano.

A maior parte do desmatamento brasileiro é causado pelo agronegócio, que converte fl orestas em áreas aptas ao cultivo de soja e à produção de biocombustíveis e carnes. No Brasil, o costume de atear fogo para preparar o pasto para o gado é cultural e coloca a atividade pecuarista como responsável por boa parte das queimadas e des-matamentos. Só no Mato Grosso, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram um aumento de cerca de 890% das queimadas em 2010. No mês de agosto foram registrados 65,5 mil focos de calor. Em todo o país, os focos somaram 260 mil. Ainda que o sistema de monitoramento identifi que fontes que não são provenientes de queimadas, o número é alto.

Outro dado preocupante com relação às fl o-restas brasileiras é a migração do desmatamento da região amazônica para o Cerrado. Informa-ções do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e do Ministério do Meio Ambiente alertam para a destruição de 7,94 mil quilômetros quadrados de matas nativas em áreas de assentamento, reservas indígenas e unidades de preservação.

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Mesmo com dados pessimistas, a FAO comemora em seu último relatório a diminuição do desmatamento em todo o mundo. Comparado com os 16 milhões de hectares devastados durante os anos 1990, os 13 milhões de hectares desmata-dos nessa década soam como uma boa notícia. Para a FAO, as políticas de refl orestamento e a atual obsessão pela neutralização de carbono parecem estar fazendo bem ao planeta. Somente os programas de plantio de árvores da China, Índia, Estados Unidos e Vietnã, combinados à expansão natural das fl orestas, aumentam a área fl orestal do planeta em mais de 7 milhões de hectares por ano. Atualmente, ela é de 4 bilhões de hectares, o equivalente a 31% do total de terras no mundo. Para o levantamento, a FAO analisou 178 países.

PARA SABER MAISLivros

Meio Ambiente e Florestas, de Emilio F. Moran (Senac São Paulo, 2010)

O Valor das Florestas, de Rubens Garlipp, Roberto Cavalcanti e Marco Antonio Fujihara (Terra das Artes, 2010)

A Conservação das Florestas Tropicais, de Sueli Furlan e João Carlos Nucci (Atual, 1999)

Desmatamentos, Grilagens e Con� itos Agrários no Amazonas, de José Barbosa de Carvalho (Valer, 2010)

Sites www.fao.org/forestry/fra/fra2010/en

www.fao.org

http://forests.org

http://wwf.panda.org/about_our_earth/about_forests

http://www.un.org/esa/forests

www.globalforestwatch.org

http://www.cnpf.embrapa.br

www.� orestasdofuturo.org.br

DoW JoNES SUSTAINABILITY INDEX WorLD

Lançado em 1999, o Dow Jones Sustainability Index World (DJSI World) constitui o primeiro índice global que monitora a performance econômica das empresas engajadas na preser-vação do meio ambiente. O índice avalia as gestões sustentáveis das principais companhias do mundo a partir de critérios econômicos e dos níveis de envolvimento ambiental, cul-tural e social das empresa. Por ano, cerca de 2,5 mil companhias de 57 setores econômicos se candidatam a uma vaga no índice. Todas elas passam pelo crivo da SAM Group, que audita o DJSI World, mas apenas 10% são aprovadas em média. A seleção é rigorosa e feita com base nas respostas das companhias a um questionário sobre estratégias para diminuir o impacto sobre as mudanças climáticas, consumo de energia, governança corporativa, gerenciamento de risco, gestão da marca, padrões da cadeia de suprimentos e práticas trabalhistas.

Fazer parte dessa lista de empresas é como receber um atestado de boas práticas empresariais. A inclusão gera benefícios não só para a imagem institucional das companhias, mas também para o preço de suas ações. O índice abre um mercado potencial superior a US$ 4 trilhões provenientes de fundos direcionados a empre-sas ambientalmente responsáveis. Em 2010, 316 empresas conseguiram compor o DJSI. Juntas, elas somam um capital total de 6,82 bilhões de euros. A maioria delas, 27,2%, é norte-americana. O Brasil está representado com sete empresas: Aracruz, Bradesco, Cemig, Itaú-Unibanco, Itaúsa, Petrobras e Redecard.

Não existe garantia de permanência no DJSI. A lista de componentes é revisada anualmente e qualquer deslize no quesito sustentabilidade

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pode levar à exclusão da empresa. Foi o que aconteceu com a British Petroleum (BP), companhia responsável pelo derramamento de mais de 4,9 milhões de barris de petróleo na costa do Golfo do México, o pior desastre ambiental da história dos Estados Unidos.

Além do DJSI World, o Dow Jones mantém subcarteiras teóricas com empresas susten-táveis na Europa, Ásia e Estados Unidos. Em 2001, a instituição criou o Dow Jones STOXX® Sustainability Index, dedicado aos países da Europa – e que, atualmente, conta com 84 componentes. O Dow Jones Sustainability North America Index surgiu em 2005 e contabi-liza 123 empresas na carteira. Já o Dow Jones Sustainability Asia Pacifi c Index, o mais novo deles, lançado em 2009, é constituído por 130 companhias.

PARA SABER MAISLivros

The World Guide to CSR: A Country-by-Country Analysis of Corporate Sustainability and Responsibility, de Wayne Visser e Nick Tolhurst (Greenleaf Publishing, 2010)

Sustainability – The Library of Corporate Responsibilities, de Tom Campbell e David Mollica (Ashgate, 2009)

The Sustainability E� ect: Rethinking Corporate Reputation in the 21st Century, de Arlo Kristjan O’Brady (Palgrave Macmillan, 2006)

Earth Capitalism: Creating a New Civilization through a Responsible Market Economy, de Patrick Petit e Bill Gates (Transaction Publishers, 2010)

Sites www.sustainability-index.com

www.djindexes.com

www.wbcsd.org

http://inspiredeconomist.com

EcoNomIA DE BAIXo cArBoNo As empresas criam sistemas e adotam políticas

de redução das emissões dos gases do efeito es-tufa. A agricultura passa a adotar novas técnicas de manejo e adquire máquinas e veículos com maior efi ciência energética. Energia, aliás, que é produzida a partir de fontes renováveis, como sol, vento, água e etanol, para abastecer consumidores preocupados com suas “pegadas carbônicas”. De certa forma, esse é o ciclo da chamada economia de baixo carbono, um conceito cada vez mais disseminado pelas organizações ambientais – e que prevê uma verdadeira transformação nas atividades econômicas, reduzindo suas emissões dos gases do efeito estufa na atmosfera e, conse-quentemente, os riscos de alterações climáticas.

Fundamentada no conceito do desen-volvimento sustentável, a economia de baixo carbono é a única saída para a humanidade reduzir os níveis de carbono na atmosfera e ter alguma chance de atenuar o impacto do desen-volvimento sobre o planeta. Exemplos de como realizar isso começam a surgir em todo o mundo graças aos esforços de entidades e governos. A Grã-Bretanha implantou um plano nacional de transição para a economia de baixo carbono, que prevê uma diminuição nas emissões de gases do efeito estufa em 80% até 2050. Até 2020, a meta é tornar as emissões 18% inferiores às registradas em 2008. Para cumpri-lo, o governo vem estimulando as empresas e consumidores a adquirir hábitos sustentáveis. A França, que também assumiu metas ambiciosas para 2050 – quer reduzir a poluição à metade até lá –, criou uma espécie de “imposto sobre carbono”. A taxa incidirá sobre o consumo de combustíveis fósseis e custará 17 euros por tonelada de emissão. Para não pesar no bolso da população, a arrecadação será totalmente devolvida aos cidadãos por meio

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da dedução de impostos convencionais ou do envio de um cheque para contribuintes isentos.

No Brasil, lançou-se o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) que vai liberar até R$ 2 bilhões em novos empréstimos para que os agricultores possam recuperar áreas e pastagens degradadas, implantar sistemas de integração entre lavoura, pecuária e fl orestas, criar e manter fl orestas comer-ciais ou ações de recuperação de reservas legais. O limite de empréstimos para cada agricultor é de R$ 1 milhão por ano-safra. Metade do orçamento do projeto virá do Banco Mundial de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES) e outro bilhão será liberado pelo Banco do Brasil.

PARA SABER MAISLivros

Harnessing Farms and Forests in the Low-Carbon Economy: How to Create, Measure, and Verify Greenhouse Gas O� sets, de Zach Willey e Bill Chameides (Duke University Press, 2007)

Innovation For a Low Carbon Economy: Economic, Institutional and Management Approaches, de Timothy J. Foxon, Jonathan Kohler e Christine Oughton (Edward Elgar, 2008)

The Burning Question: Is the UK on Course for a Low Carbon Economy, de Catherine Mitchell (Institute for Public Policy Research, 2004)

The Three Secrets of Green Business: Unlocking Competitive Advantage in a Low Carbon Economy, de Gareth Kane (Earthscan Publications, 2010)

Sites www.lowcarboneconomy.com

www.theccc.org.uk/reports

EfEITo ESTUfA Considerado o grande vilão do aquecimento

global, o efeito estufa é, na verdade, um fenômeno natural importante para a manutenção da vida na Terra. Sua ação sobre a irradiação solar, garantindo

que a dispersão do calor não retorne ao espaço, mantém o planeta aquecido a uma temperatura amena. Sem essa proteção, a temperatura média da superfície terrestre se manteria na casa dos 15o C negativos – e todo o planeta estaria coberto de gelo.

Durante todo o dia, a áreas cobertas por terra e os mares absorvem a irradiação solar, aquecem-se e passam a emitir calor. Os gases do efeito estufa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e vapor d’água) formam uma espécie de escudo defl etor que evita que esse calor emitido retorne ao espaço, mantendo assim uma situação de equilíbrio térmico. O efeito estufa só se torna um problema de fato quando a concentração desses gases na atmosfera aumenta e o efeito isolante se potencializa, gerando desequilíbrios.

A descoberta do fenômeno se deu ainda no século 19, quando cientistas de diferentes países perceberam que os gases presentes na atmos-fera conseguiam infl uenciar na temperatura do planeta. Na virada do século, o sueco Svante Arrhenius divulgou que as emissões geradas pela indústria poderiam impactar no clima. Em 1938, G.S. Callendar, um inventor e engenheiro britânico, lançou o alerta de que os níveis de dióxido de carbono cresciam e que isso poderia aumentar a temperatura do globo. Mas tanto Arrhenius quanto Callendar passaram desper-cebidos. Foram necessários mais 12 anos para que os cientistas fi nalmente admitissem que o

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aquecimento global era um fenômeno possível. Em quase um século, a temperatura média do

planeta cresceu numa constante de 0,4% a cada ano. As previsões indicam um aquecimento entre 2o C e 6o C nos próximos 100 anos, o que elevará o nível dos oceanos e infl uenciará de maneira deter-minante a vida de centenas de milhões de pessoas, especialmente as populações das áreas costeiras.

Agora, os cientistas buscam saídas para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa e evitar que essa sequência de eventos climáticos comprometa a vida na Terra. O esforço é antigo. No 240º Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, a equipe liderada pelo professor Andrew Cooper apresentou um estudo inédito sobre a proprie-dade da “água seca” de absorver e armazenar dióxido de carbono e metano de forma efi ciente. A substância, composta por 95% de água e por um tipo de sílica modifi cada que impede que as gotículas se recombinem, foi descoberta em 1968. Desde então, é utilizada pela indústria cosmética.

PARA SABER MAISLivros

Queimadas Na Amazônia e Efeito Estufa, de Volker Kirchho� (Contexto, 1992)

Efeito Estufa – Por Que a Terra Morre de Calor, de Fátima Cardoso (Terceiro Nome, 2006)

The Greenhouse E� ect: Webster’s Timeline History, 1886 – 2007, editado por Philip M. Parker (Icon Group, 2009)

Controlling the Greenhouse E� ect: Five Global Regimes Compared, de Joshua M. Epstein e Raj Gupta (Brookings Institution Press, 2009)

The Greenhouse E� ect: Warming the Planet, de Darlene R. Stille (Compass Point Books, 2006)

Sites www.mundoquente.com.br

http://www.ucar.edu/learn/1_3_1.htm

http://www.aip.org/history/climate/co2.htm

EL NIÑo E LA NIÑA O El Niño é um fenômeno atmosférico-

oceânico gerado pelo aquecimento anormal das águas na linha tropical do Oceano Pacífi co, que afeta o clima regional e acaba infl uindo sobre os eventos meteorológicos de todo o planeta. O “menino” costuma vir acompanhado por ventos fora de padrão e chuvas acima da média, especial-mente no sul da América do Sul e no sudeste dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, gera secas no nordeste brasileiro, na África central, no sudeste Asiático e na América Central, além de provocar tempestades tropicais no centro do Pacífi co.

Um dos componentes do sistema climático é a interação entre a superfície dos oceanos e a at-mosfera. Nos episódios clássicos de El Niño, que acontecem em intervalos entre três e cinco anos e têm duração de nove a 12 meses, observa-se a diminuição da intensidade dos ventos na região leste do Pacífi co, que modifi ca o movimento natural de circulação das águas, impedindo que as correntes mais frias subam – o que natural-mente leva a um aquecimento da superfície.

Até hoje, o evento registrado entre 1997 e 1998 é considerado o mais devastador da história. As mudanças climáticas registradas nesse período mataram aproximadamente 2,1 mil pessoas em todo o mundo, principalmente vítimas de enchentes.

A expressão El Niño faz referência à presença de águas quentes na costa do Peru, durante o período de Natal. Os pescadores da região chamam esse aquecimento de Corriente de El Niño em homenagem ao Niño Jesús, ou Menino Jesus, em espanhol.

O fenômeno La Niña é o exato oposto do El Niño. Também responsável por alterações climáticas signifi cativas, o La Niña se caracteriza pelo esfriamento anormal nas águas do mesmo

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ponto tropical do Pacífi co. Assim como El Niño, afeta os países da América Latina, a Austrália e o leste da Ásia com chuvas abundantes e insta-bilidades climáticas.

PARA SABER MAISLivros

O El Niño e Você – o Fenômeno Climático, de Gilvan Sampaio de Oliveira (Transtec, 2001)

The El Niño-Southern Oscillation Phenomenon, de Edward S. Sarachik e Mark A. Cane (Cambridge University Press, 2010)

El Nino: Unlocking the Secrets of the Master Weather-Maker, de J. Madeleine Nash (Grand Central Publishing, 2003)

Currents of Change: Impacts of El Niño and La Niña on Climate and Society, de Michael H. Glantz (Cambridge University Press, 2001)

Sites http://enos.cptec.inpe.br

http://www.elnino.noaa.gov

http://elnino.wr.usgs.gov

http://sealevel.jpl.nasa.gov

EmISSÕES DE BIomASSA Produto da decomposição da matéria orgâni-

ca, o metano é um dos gases de efeito estufa mais prejudiciais ao meio ambiente. Diferente do dióxido de carbono (CO2), que pode per-manecer na atmosfera por um século, o metano persiste por apenas uma década, mas seu poder de aquecimento é 21 vezes maior que o CO2.

Os aterros sanitários e lixões constituem uma das fontes de emissão do metano. Estima-se que, em todo o mundo, eles sejam responsáveis por 27% das emissões. Só que o metano também é combustível. E do tipo renovável, capaz de ser utilizado em motores de combustão interna e,

assim, gerar eletricidade. No Brasil, as 170 mil toneladas de biomassa despejadas a cada dia nos aterros sanitários e lixões podem gerar cerca de 1 milhão de metros cúbicos de gás natural, ou biogás, por dia. Quantidade sufi ciente para atender 200 postos de combustível com gás natural veicular ou acionar uma usina termoelé-trica de 100 megawatts. Um relatório realizado em 1999 pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), em parceria com o Minis-tério de Ciências e Tecnologia, calculou que os aterros brasileiros têm capacidade para gerar en-tre 303 e 578 milhões de m3 de gás metano por ano.

A mais importante fonte geradora de meta-no, porém, vem do campo – e não pode ser reaproveitada. De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricul-tura e Alimentação (FAO), de 2006, a atividade pecuária contribui com 18% das emissões globais do gás. No Brasil, onde o rebanho bovino é de 205 milhões de animais, a fermentação provocada durante o processo digestivo dos ruminantes gera quase 70% do total de emissões de metano do país.

De acordo com o professor da Universidade da Califórnia, Frank Mitloehner, uma vaca saudável é capaz de expelir entre 90 e 180 quilos de metano por ano. Como eliminar os animais ou diminuir as populações não é uma possibili-dade, os pesquisadores agora tentam encontrar

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pATrocINADorES

formas de diminuir a emissão de gases do gado bovino. Um estudo realizado pela Stonyfi eld Farm, fabricante norte-americana de iogurtes que faz parte do Grupo Danone, conseguiu reduzir em 18% a liberação de metano do seu rebanho com uma simples alteração na dieta dos animais. Em vez de soja e milho, o gado foi alimentado com alfafa e linho, espécies que imitam as gramas de primavera. Mais rica em ácidos graxos-ômega 3, essa “salada” ajuda a melhorar o trato digestivo, formando menos gases.

PARA SABER MAISLivros

Biomassa para Energia, de Luis Cortez e Edgardo Olivares Gomez (Unicamp, 2008)

Biomassa – A Eterna Energia do Futuro, de Gilberto Felisberto Vasconcellos (Senac São Paulo, 2002)

Uso da Biomassa para Produção de Energia na Indústria Brasileira, organizado por Frank Rosillo-Calle, Harry Rothman e Sérgio Bajay (Unicamp, 2008)

Biomass to Biofuels: Strategies for Global Industries, de Alain Vertes, Nasib Qureshi, Hideaki Yukawa e Hans Blaschek (Wiley, 2010)

Sites www.abiec.com.br

www.gestaoderesiduos.com.br

http://www.iclei.org

http://homologa.ambiente.sp.gov.br/biogas

EmISSõES DIrETAS O termo emissões diretas de gases do

efeito estufa serve para classificar todas as emissões originárias dentro dos limites orga-nizacionais das empresas, incluindo a queima de combustíveis, processos de fabricação ou transporte que tenham infl uência direta do

processo produtivo. O termo é fundamental para diferenciar as emissões geradas dentro da empresa daquelas emitidas por empresas parceiras ou terceirizadas – veja mais detalhes no verbete seguinte, que trata das emissões “indiretas”.

No primeiro semestre de 2010 foi divul-gado o primeiro Registro Público de emissões de gases do efeito estufa do país durante um evento de avaliação do Programa Brasileiro GHG Protocol, coordenado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCES). Ao todo, 35 empresas brasileiras participaram do registro enviando seus relatórios de emissões de gases do efeito estufa de maneira voluntária – entre elas, gi-gantes como Petrobras, Vale, Bradesco, Ambev e Souza Cruz.

O documento mostrou que as emissões di-retas dessas empresas totalizaram 89 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente. Com base em um inventário nacional preliminar divulgado pelo Ministério da Ciência e Tecno-logia em novembro de 2009, esse volume repre-senta 4% do total de emissões registradas no Brasil, em 2005. Se forem excluídas as emissões da agricultura e da mudança no uso de terras e fl orestas, o volume aumenta para 20% do total.

Para neutralizar suas emissões, essas empre-sas teriam de plantar 356 milhões de árvores. Boa parte delas fi caria a cargo das empresas do setor de transformação – que, pela análise dos inventários, são as maiores responsáveis pelas emissões do país, com 89% do total. Em segun-do lugar aparecem as empresas de mineração, com 10%. Os setores de saneamento, energia, agrícola e serviços fi nanceiros somam 1% das emissões. Com tais informações, as companhias podem estabelecer planos mais efi cientes de redução de emissões.

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PARA SABER MAISLivros

Greenhouse Gas Protocol: The GHG Protocol for Project Accounting, do World Business Council on Sustainable Development (World Resources Institute, 2006)

The Greenhouse Gas Protocol: Guidelines for Quantifying GHG Reductions from Grid-Connected Electricity Projects, de Derik Broekho� (World Resources Institute, 2007)

Harnessing Farms and Forests in the Low-Carbon Economy: How to Create, Measure, and Verify Greenhouse Gas O� sets, editado por Zach Willey e Bill Chameides (Duke University Press, 2007)

Sites http://www.ghgprotocol.org http://www.ghgprotocolbrasil.com.br

http://www.ctsbrasil.org

EmISSÕES INDIrETAS Sempre que uma empresa faz seu inventário

de emissões, ela torna pública sua cota de respon-sabilidade sobre o aquecimento global. É por isso que esse relatório é tão importante. Mas, para se obter um documento justo e transparente, as metodologias empregadas para a realização dos inventários devem levar em conta o setor e o tipo de trabalho realizado pela empresa. Por exemplo: uma companhia cuja função essencial seja o transporte de cargas vai con-tabilizar as emissões a partir de sua própria atividade fim. Ou seja: a emissão gerada pelos veículos – e não pelas refinarias que os abastecem.

Assim, as classifi cações das emissões são di-vididas em três diferentes níveis de abordagem, ou escopo. O primeiro inclui as emissões dire-tas – que, no caso da transportadora, incluem o dióxido de carbono que sai dos escapamentos

dos veículos de carga. Já o segundo e o terceiro escopo, chamados de “emissões indiretas”, dizem respeito às emissões geradas pela produção de energia elétrica e por todas as atividades que não pertencem ou não estão sob controle da empresa, tais como a produção de materiais ou matérias-primas compradas de terceiros e a utilização de produtos ou atividades terceirizadas. No caso da transportadora, as emissões geradas pela refi nadora de combustível, pela fabricante do veículo, das autopeças e dos acessórios entrariam em seu inventário como emissões indiretas. Já um fabricante de cosméticos que contratou a transportadora para distribuir seus produtos incluiria as emissões geradas pelo transporte como indiretas.

PARA SABER MAISLivros

Atmospheric Chemistry and Physics – From Air Pollution to Climate Change, de John H. Seinfeld e Spyros N. Pandis (John Wiley & Sons Inc., 1998)

Sites www.cbmet.com

www.ghgprotocol.org

http://www.wri.org

ENErGIAS LImpAS Basicamente, são todas as fontes de en-

ergia que não utilizam matéria-prima fóssil, como o carvão e o petróleo. O vento, o sol, a água, a biomassa e os biocombustíveis con-stituem as fontes mais limpas e conhecidas. Mas há estudos recentes que apontam o mar como uma possível matriz energética. Um grupo de cientistas da Austrália divulgou, em 2010, uma pesquisa sobre a capacidade das

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pATrocINADorES

ondas do mar em fornecer energia elétrica. De acordo com os oceanógrafos Mark Hemer e David Griffi n, da Organização de Pesquisa da Comuni-dade Científi ca e Industrial (Csiro), a energia das ondas que arrebentam na costa australiana tem potencial para gerar 1.329 terawatt-horas por ano, cerca de três vezes o total da capacidade instalada da Austrália, cuja matriz principal é o carvão. O país, aliás, é um dos grandes emissores de carbono do mundo. Parte dessa responsabilidade vem exatamente das termelétricas, que geram 80% da eletricidade do país.

O Brasil, ao contrário, é exemplo mundial no uso de energias limpas. Segundo o relatório “Tendências Globais de Investimentos em Energias Sustentáveis 2009”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), cerca de 46% de toda a energia consumida no país é proveniente de fontes limpas. Além disso, 90% dos carros brasileiros são equipados com motores bicombustíveis, capazes de rodar com gasolina ou álcool. O país também é o líder global em fi nanciamento de energias limpas. De acordo com o Pnuma, mais de 90% dos novos investi-mentos registrados na América Latina ocorreram no Brasil.

Mesmo com toda essa eficiência, o Brasil apresenta um sério problema com relação a sua matriz energética: a falta de diversifi cação. Se-gundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE),

do Ministério de Minas e Energia, quase 83,7% da eletricidade produzida no país em 2009 veio das usinas hidráulicas. Enquanto a biomassa colaborou com 5,9%, a energia eólica teve 0,3% de participação. No caso da energia solar, ela sequer foi indicada – o que revela um grande desperdício.

O Brasil é o país de maior extensão territorial nos trópicos. Para se ter uma ideia do seu enorme potencial energético solar, o pesquisador Enio Bueno Pereira, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), afi rmou que se os 2,36 mil quilômetros quadrados da usina hidrelé-trica de Balbina, no Amazonas, fossem cobertos por painéis fotovoltaicos, a energia gerada seria de 500 terawatt-horas por ano. Atualmente, o consumo nacional de energia elétrica é de 450 TWh por ano.

PARA SABER MAISLivros

Energia Solar e Fontes Alternativas, de Wolfgang Palz (Hemus, 1995)

Energia Eólica, de Ricardo Aldabo (Artliber, 2002)

Energias Alternativas, de J. A. Dominguez (Equipo Sirius, 2004)

Clean Energy Common Sense: An American Call to Action on Global Climate Change, de Frances Beinecke e Bob Deans (Rownan & Little� eld, 2009)

Crossing the Energy Divide: Moving from Fossil Fuel Dependence to a Clean-Energy Future, de Robert U. Ayres e Edward H. Ayres (Wharton School, 2009)

Sites www.csiro.au

www.energia.org

www.iea.org

www.energiahoje.com

www.mme.gov.br/mme

www.epe.gov.br

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

EvoLUção DAS TEmpErATUrAS O aquecimento global é resultado do lançamen-

to excessivo de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente de dióxido de carbono. A alta con-centração desses gases, que têm a função primor-dial de impedir que o calor das irradiações solares escape para o espaço, está na base das alterações climáticas. Desde a Revolução Industrial, quando a queima do carvão se tornou parte essencial da atividade econômica, a temperatura média global aumentou 0,7o C. Os cientistas preveem que, até o fi nal deste século, as temperaturas subam ainda mais – entre 2o C e 6o C em todo o mundo.

O aumento não atingirá todos os países de forma homogênea. Algumas regiões sofrerão mais impacto do que as outras, principalmente os polos e as zonas tropicais, onde o Brasil se inclui. As previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para o país são alar-mantes. Na região norte, a projeção é que as tem-peraturas aumentem entre 4o C e 8o C. Na melhor das hipóteses, com um cenário de baixas emissões, o aumento oscilaria entre 3o C e 5o C. No nordeste, o clima poderá esquentar entre 2o C e 4o C, mesmo aumento previsto para a região sul. Já no sudeste e centro-oeste, o aumento seria de 3o C a 6o C.

Os impactos mais evidentes da elevação das temperatura serão sentidos pela população da Amazônia, que verá de perto o processo de savani-zação da fl oresta. Por todo o país, as chuvas fi carão mais esparsas, com exceção dos Estados do sul, que sofrerão com um aumento de até 10% das chuvas.

As previsões, que não são unânimes nem passíveis de prova, sempre geraram debates calorosos entre cientistas, ambientalistas e cé-ticos, principalmente depois de 2006, quando foi lançado o documentário Uma Verdade Incon-veniente, do norte-americano Al Gore. Mas os recentes eventos climáticos parecem ter mudado

a opinião de muitos membros da ala contrária. Enquanto as enchentes devastavam o Paquistão e uma onda de calor paralisava a Rússia, o mais famoso dos céticos saiu a público para pedir a criação de um fundo mundial de US$ 100 bilhões para pesquisas que solucionem o problema das mudanças climáticas. Apesar de nunca ter ne-gado o papel do homem no aquecimento global, o estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg sem-pre argumentou que tal assunto não deveria ser prioridade dos governos.

Entre as ações que ele criticava estão as políticas para o cumprimento das metas de redução de 5% das emissões de gases do efeito estufa estabelecidas pelo Protocolo de Quioto para os países desenvolvi-dos entre os anos de 2008 e 2012 em relação aos níveis registrados em 1990.

PARA SABER MAISLivros

Smart Solutions to Climate Change: Comparing Costs and Bene� ts, de Bjorn Lomborg (Cambridge University, 2010)

Cool it: the Skeptical Environmentalist’s Guide to Global Warming, de Bjorn Lomborg (Alfred A. Knopf, 2007)

The Great Global Warming Blunder: How Mother Nature Fooled the World’s Top Climate Scientists, de Roy W. Spencer (Encounter Books, 2010)

Global Warming: Understanding the Forecast, de David Archer (Wiley-Blackwell, 2006)

Unstoppable Global Warming: Every 1,500 Years, de S. Fred Singer e Dennis T. Avery (Rowman & Little� eld, 2007)

Global Warming: The Complete Brie� ng, de John Houghton (Cambridge University, 2009)

Sites http://www.meto� ce.gov.uk

http://www.wmo.int

http://www.ipcc.ch

http://www.aquecimentoglobal.com.br

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pATrocINADorES

EXTrEmoS cLImáTIcoS De acordo com o Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas (IPCC), toda ob-servação de um evento climático raro em uma época específi ca do ano ou em uma região atípica é chamado “evento extremo”. Obviamente, a defi nição do que é “raro” pode variar. Mas, em geral, entende-se que todo e qualquer fenômeno que tenha apenas 10% ou menos de probabili-dade de acontecer em uma determinada região e tempo é raro. Um exemplo prático: nos anos 1970, a cidade de Curitiba registrou uma pre-cipitação de neve – o que nunca mais se repetiu.

Em 2010, quatro eventos climáticos extremos simultâneos em pontos distintos do planeta fi zeram soar o alarme e levaram muitos cientistas a admitir que tais eventos não são apenas fenô-menos raros, mas possíveis sinais de que as alte-rações climáticas estão começando a se agravar. Durante três semanas consecutivas, a capital da Rússia, Moscou, registrou temperaturas médias de 40o C. A onda de calor foi comparada à do Verão de 2003, quando 20 mil pessoas morreram. A esse evento se somam os índices elevados de precipitação na Alemanha e na Polônia, as chuvas intensas na China e as inundações no Paquistão. Ao todo, mais de 15 milhões de paquistaneses foram afetados e pelo menos 2 milhões fi caram desabrigados por causa das enxurradas.

No início do ano, durante o inverno europeu, a situação foi oposta. O Reino Unido registrou o período mais prolongado de frio desde 1981 e intensas nevascas foram registradas em diversos outros países, entre eles Alemanha, França, Polô-nia e Rússia. Antes disso, em 2007, o problema foi a seca, que favoreceu a ocorrência de mais de 170 focos de incêndio na Grécia.

Ao longo desta década, eventos climáticos considerados raros foram sentidos em todo o

mundo. De acordo com o Relatório de Desen-volvimento Humano 2007-2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), no período de 2000 a 2004 cerca de 262 milhões de pessoas foram afetadas de alguma maneira por desastres climáticos a cada ano. O documento revela que 98% delas vivem em países em desenvolvimento. Com o aquecimento global, a tendência é de que os “extremos climáticos” se tornem cada vez mais frequentes em todas as partes do mundo.

PARA SABER MAISLivros

História do Clima, de Maria José Aragão (Interciência, 2009)

Estudos do Clima no Brasil, de João Afonso Zavattini (Alínea, 2004)

The Change in the Weather: People, Weather, and the Science of Climate, de William K. Stevens (Delta, 2001)

We Are the Weather Makers: The History of Climate Change, de Tim Flannery (Candlewick, 2010)

Sites http://www.wmo.int

http://www.extremosclimaticos.com.ar

http://www.weather.gov

http://www.inmet.gov.br

http://www.climatempo.com.br

http://www.weather.com

fATor DE EmISSão Trata-se de um indicador matemático criado

para medir a quantidade de gases emitida para a atmosfera por uma determinada fonte de ener-gia poluidora. O fator de emissão é obtido por um cálculo simples: divide-se todo o carbono equivalente da fonte pelo total de energia que

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ela gera. O resultado indica qual é a quantidade de carbono emitido, em toneladas, para cada megawatt de energia gerada.

Uma planta geradora de energia baseada em combustível fóssil têm fator de emissão de dióxido de carbono de 0,765 kg por kWh gerado. A sistemática do cálculo foi estabelecida pelo Protocolo para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), em 2006. Suas orientações se referem a uma hierarquia de abordagens de cálculo e técnicas, desde a aplicação de fatores de emissão genéricos até o monitoramento direto.

O fator de emissão, junto com os inven-tários de emissão, constitui uma das mais importantes ferramentas para determinar a manutenção da qualidade do ar em uma região, cidade ou país. Isso porque nem sem-pre é possível medir as emissões de gases do efeito estufa por meio do monitoramento da concentração e da taxa de fluxo de uma fonte poluidora. Ele também é de extrema importância para os governos, indústrias e empresas, uma vez que ajuda a determinar a aplicabilidade de programas de controle e estratégias de mitigação adequadas para cada setor da economia.

PARA SABER MAISLivros

Environmental Calculations: A Multimedia Approach, de Robert G. Kunz (Wiley-Aiche, 2009)

State and Federal Standards for Mobile-Source Emissions, do Conselho Nacional de Pesquisa (National Academy Press, 2006)

Pricing Carbon: The European Union Emissions Trading Scheme, de A. Denny Ellerman, Frank J. Convery e Christian de Perthuis (Cambridge University Press, 2010)

Sites http://www.mct.gov.br

http://www.ipcc.ch

fINANcIAmENToS pArA A SUSTENTABILIDADE

Atualmente, as instituições fi nanceiras ofe-recem linhas de crédito especiais para empresas que desejam investir em projetos de sustentabi-lidade. São opções de fi nanciamentos com taxas de juros diferenciadas, ofertadas para custear os mais variados empreendimentos e obras. Para as pessoas físicas, as opções vão desde os simples planos de economia doméstica – como a con-versão de veículos para gás natural e a instalação de painéis fotovoltaicos para a captação de ener-gia solar – até ideias que podem benefi ciar toda a comunidade, como a criação de uma unidade de preservação ambiental. Para as empresas, os créditos podem cobrir parte das despesas com a compra de áreas para refl orestamento, imple-mentação de sistemas de fi ltragem de resíduos industriais ou instalação de biodigestores, entre várias outras iniciativas.

As instituições públicas, como a Caixa Econômi-ca Federal e o Banco do Brasil, as agências de fo-mento e os bancos multilaterais, como o BNDES e

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pATrocINADorES

o Banco Mundial, também apoiam investimentos assim. Essas instituições costumam facilitar a con-cessão do crédito para empresas, ONGs e para o próprio governo quando o projeto em questão está ligado às áreas de agroecologia, gestão de resíduos, economia de energia e infraestrutura.

Em 2010, por exemplo, o BNDES lançou uma linha de crédito com recursos da poupança rural do Banco do Brasil para fi nanciar práticas de agricul-tura de baixo carbono. Cerca de R$ 2 bilhões serão disponibilizados a cada ano-safra para viabilizar a recuperação de áreas de pastagens degradadas, a implantação e manutenção de fl orestas comerciais, a recomposição de reservas legais e a implementa-ção de projetos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. A linha oferece crédito a juros de 5,5% ao ano, com carência de um a seis anos e prazo de pagamento variável entre oito e 12 anos.

PARA SABER MAISLivros

Agroecologia e Sustentabilidade no Meio Rural, de Paulo Emílio Lovato e Wilson Schmidt (Argos, 2006)

O Bom Negócio da Sustentabilidade, de Fernando Almeida (Nova Fronteira, 2002)

Em Busca de uma Arquitetura Sustentável, de Oscar Corbella e Simos Yannas (Revan, 2009)

Sites www.worldbank.org

http://www.bndes.gov.br

http://www.anabbrasil.org

fSc – forEST STEWArDShIp coUNcIL

É uma organização internacional e sem fi ns lucrativos que promove práticas sustentáveis de manejo de fl orestas em todo o mundo. As empresas que detêm certifi cados do FSC uti-

lizam insumos em conformidade com critérios ambientais e sociais, observam as regularizações fundiárias, obedecem à legislação trabalhista e fi scal e, principalmente, respeitam o direito dos povos indígenas e populações que dependem da fl oresta. O FSC também atesta a rastreabilidade da cadeia produtiva – uma forma de garantir que o produto só passou por empresas sustentáveis até chegar ao consumidor.

O FSC emite dois tipos de selos. Um deles assegura que o material é 100% certifi cado. O outro, conhecido como “selo misto”, revela que 70% do produto é certifi cado. Para o consumi-dor, o carimbo do FSC na embalagem é a prova de que a empresa fabricante está contribuindo para a conservação do meio ambiente e para a inclusão social de milhares de comunidades.

O processo de certifi cação é conduzido por uma empresa que avalia as operações de manejo fl orestal ou cadeia de custódia e audita as opera-ções conforme as exigências do FSC. No Brasil, as certifi cadoras autorizadas pelo FSC são a Bu-reau Veritas, o Instituto de Mercado Ecológico, a Rainforest Alliance, a SCS, a CGS e a SKAL.

Atualmente, o país possui a quinta maior área de fl orestas certifi cadas pelo FSC no mundo, com 5,2 milhões de hectares. Cerca de 40% dessas fl orestas se encontram nas regiões sul e sudeste do país, principalmente na área da Mata Atlântica; 9% estão em áreas de plantações fl orestais na Amazônia e 23%, em propriedades dedicadas à produção de madeira em escala industrial. Outros 30% estão em “comunidades tradicionais”, como são chamadas as reservas indígenas. Uma delas é a Comunidade Kayapó da Terra Indígena do Baú, com mais de 1,5 milhão de hectares certifi cados. Apenas 1% das certifi ca-ções se referem a áreas de extração de madeira.

A Suécia foi o primeiro país a aprovar os padrões nacionais do FSC, em 1998. Lá, todas

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

as empresas fl orestais certifi cam suas fl orestas por esse sistema. A área total certificada do país cobre mais de 9 milhões de hectares, o que representa aproximadamente 40% das fl orestas produtivas do país.

PARA SABER MAISLivros

Setting the Standard: Certi� cation, Governance, and the Forest Stewardship Council, de Chris Tollefson, Fred Gale e David Haley (University of British Columbia Press, 2009)

Forest Stewardship Council (FSC) Controlled Wood Standards: Implications for Sustainable Forest Management in Ghana, de Elikplim Dziwornu Agbitor (VDM Verlag, 2009)

Governing through Markets: Forest Certi� cation and the Emergence of Non-State Authority, de Benjamin Cashore, Graeme Auld e Deanna Newsom (Yale University Press, 2004)

Forest Certi� cation in Sustainable Development: Healing the Landscape, de Walter Smith e Chris Maser (CRC Press, 2000)

Sites www.fsc.org.br

www.fsc.org

fUNDo NAcIoNAL SoBrE mUDANçA Do cLImA (fNmc)

Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MME), o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) foi criado em 2009 com duas fi -nalidades: fi nanciar projetos ou empreendimen-tos que visem a mitigar as alterações do clima e estimular ações de adaptação às alterações pro-vocadas pelo aquecimento global. Resultado da compilação de quatro projetos, o fundo constitui o instrumento fundamental para a viabilização do Plano Nacional sobre Mudança do Clima,

proposto em 2007 e ainda à espera de aprovação no Congresso. Entre outras coisas, o plano serve como instrumento de combate ao aquecimento e prevê o aumento da área de plantio de árvores de 5,5 milhões para 11 milhões de hectares até 2020.

Um comitê gestor vinculado ao Ministério do Meio Ambiente é responsável por administrar o fundo, que tem como agente fi nanceiro o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Até 60% dos recursos vêm da participação especial do petróleo. O restante é oriundo de leis orçamentárias e outras fontes, incluindo doações de empresas privadas nacio-nais e internacionais.

Para que o fundo fosse viabilizado, foi ne-cessária uma alteração na Lei nº 9.478, conhecida como a Lei do Petróleo, que limita a liberação de recursos dos royalties do petróleo ao Ministério do Meio Ambiente em 10%. Até então, a lei só permitia o uso desses recursos em caso de desastres ecológicos. A mudança fl exibilizou essa questão e ampliou as possíveis destinações do dinheiro. Agora, a lei também permite a uti-lização das receitas provenientes da exploração e da produção do petróleo na redução dos danos ambientais causados por essas atividades. Com isso, o FNMC se tornou o primeiro fundo do mundo a utilizar os recursos do petróleo em projetos de mitigação ou adaptação às mudanças climáticas. O orçamento total do fundo poderá

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chegar a R$ 1 bilhão por ano. Para 2011, o FNMC já tem assegurados

R$ 200 milhões, dinheiro que será empregado em projetos para reduzir o desmatamento e a degradação fl orestal. As regiões mais vulneráveis às alterações do clima, como a região semiárida e o litoral, deverão receber as maiores parcelas de investimento.

PARA SABER MAISLivros

Who Will Pay?: Coping with Aging Societies, Climate Change, and Other Long-Term Fiscal Challenges, de Peter S. Heller (International Monetary Fund, 2003)

Sites http://www.mma.gov.br

http://www.observatorioeco.com.br

GASES DE EfEITo ESTUfA (GEE) Apesar da má fama, os chamados “gases

de efeito estufa” não são vilões. Eles formam uma camada em torno da terra que estabiliza as temperaturas em níveis propícios ao desen-volvimento da vida. O que realmente prejudica o equilíbrio climático do planeta é a alta con-centração desses gases – que são consequência direta das atividades humanas. Quanto maior é a concentração deles na atmosfera, maior é a retenção de calor.

Vapor d’água, dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e ozônio são os gases que respondem pela maior parte do aquecimento global. O vapor d’água é o GEE mais abundante e o único que não apresenta capacidade de retenção térmica. Já o dióxido de carbono (CO2) é responsável por 63% do efeito estufa. Sua importância no fenômeno é

tanta que se convencionou criar uma unidade de medição única tendo o carbono como referência de equivalência, o chamado carbono equivalente. O dióxido de carbono é, também, o gás mais emitido pelo homem. Suas principais fontes de origem são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento das fl orestas. Na atmosfera, o CO2 tem meia-vida de 105 anos. O que não signifi ca que suas moléculas desaparecem após esse tempo. Na prática, os gases emitidos hoje podem levar até mil anos para desaparecer por completo.

O metano (CH4) é igualmente danoso devido a sua alta capacidade de reter calor. Estima-se que cada molécula de CH4 tenha potencial de aquecimento 21 vezes maior que o CO2. Embora o metano seja emitido por proces-sos naturais, como a decomposição de matéria orgânica, cerca de 60% de sua concentração atual advém de fontes antropogênicas, como as queimadas, o cultivo de arroz, os aterros sanitários e a atividade pecuária. O óxido ni-troso (N2O) é outro gás com alto potencial de aquecimento – é 310 vezes mais potente que o carbono. Sua concentração na atmosfera au-mentou 19% desde o início da era industrial. O tratamento de dejetos, o uso de fertilizantes, a queima de combustíveis fósseis e alguns proces-sos industriais constituem as principais fontes de emissão do gás.

Os demais gases causadores do efeito estufa são criações do homem. Trata-se dos halocar-bonos – que incluem os clorofluorcarbonos (CFCs), os hidrofl uorocarbonos e os perfl uo-rocarbonos. Criados para proporcionar o res-friamento em aparelhos de ar-condicionado e também para propulsionar líquidos em sprays, eles apresentam potencial de aquecimento até 7 mil vezes maior do que o carbono.

Reduzir o volume de emissões desses gases e

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manter sua concentração na atmosfera estável é o ponto central dos principais acordos climáti-cos assinados nas últimas décadas. O primeiro deles foi o Protocolo de Montreal, elaborado em 1987, que determinou o fi m do uso dos CFCs até 2010. Além de favorecer o aquecimento global, os CFCs apresentam a peculiar propriedade de reagir com o ozônio e eliminá-lo – o que provoca a destruição da camada de ozônio, que protege o planeta da radiação dos raios ultravioletas. Depois, seguiu-se o Protocolo de Quioto, que prevê a redução de 5% das emissões dos países desenvolvidos até 2012. O Acordo de Copenhague, elaborado em 2009 e que não é de cumprimento obrigatório, sugere que, até 2020, as nações industrializadas reduzam suas emissões de GEE para níveis entre 25% e 40% inferiores aos daqueles registrados em 1990.

PARA SABER MAISLivros

Greenhouse Gases, de Ronnie D. Lankford (Greenhaven, 2008)

Ethanol Economics and Ethanol’s Impact on Food Prices and Greenhouse Gas Emissions, de Darlene E. Marshall (Nova Science, 2010)

Non-CO2 Greenhouse Gases: Scienti� c Understanding, editado por J. van Ham, A.P.M. Baede, L.A. Meyer e R. Ybema (Springer, 2000)

Carbon Capture and Greenhouse Gases – Climate Change and Its Causes, E� ects and Prediction, editado por Imrus Juhasz e Gyorgy Halasz (Nova Science, 2010)

Primer on Greenhouse Gases, de Donald J. Wuebbles e Jae Edmonds (CRC Press, 1991)

Sites http://www.epa.gov/climatechange/emissions/index.html

http://www.ghgonline.org

http://www.ncdc.noaa.gov/oa/climate/gases.html

GErENTE DE mUDANçA cLImÁTIcA Trata-se do novo cargo dos sonhos dos pro-

fi ssionais especializados em gestão ambiental e sustentabilidade corporativa. Apesar de ainda ser rara nas empresas, a posição de “gerente de mudança climática” – e outras nomenclaturas equivalentes – tende a se tornar estratégica na hierarquia empresarial.

O cargo acomoda uma série de responsabi-lidades e obrigações referentes à inserção dos conceitos de sustentabilidade no dia a dia das empresas. Sua função é coordenar a elaboração de inventários e relatórios de emissão de gases de efeito estufa. “No caso de uma empresa do tamanho da Vale, só isso já é trabalho para um ano inteiro”, admite Renata Araújo, que ocupa um cargo semelhante na Vale – o de coordena-dora de nova economia e mudanças climáticas. Esse trabalho inclui o levantamento de todas as informações pertinentes, a orientação para os profi ssionais de cada área quanto ao preenchi-mento dos questionários, o acompanhamento das auditorias e a divulgação dos documentos. Além disso, cabe ao profi ssional da área incluir as mudanças climáticas no planejamento estra-tégico das empresas, apontando aos diretores quais são e onde estão as oportunidades na área da sustentabilidade.

Em quase todo o mundo, a existência de pro-fi ssionais que atuam exclusivamente nesse setor

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ainda é uma novidade. A maioria das empresas possui áreas dedicadas à sustentabilidade ou à responsabilidade social, as mais comuns. Mas, com a crescente importância de projetos de redução de emissões e minimização de impactos ambientais, é natural que as empresas passem a abrir novos cargos para combater o aqueci-mento global.

A diferença entre ter um gerente de mudança climática e um de sustentabilidade é crucial. Primeiro, porque cada função tem atribuições diferentes. Segundo, porque a existência de um ou de outro pode agregar mais ou menos valor à imagem corporativa. Para os investidores, as companhias que criam grupos de trabalho para li-dar com as questões sustentáveis tendem a reduzir seu impacto ambiental – atenuando os riscos para o desenvolvimento dos negócios no longo prazo.

PARA SABER MAISLivros

Gestão Ambiental e Responsabilidade Social –Conceitos, Ferramentas e Aplicações, de José de Lima Albuquerque (Atlas, 2010)

Gestão Ambiental na Empresa, de Denis Donaire (Atlas, 1999)

Governança Corporativa – Conselhos Que Perpetuam Empresas, de Herbert Steinberg (Gente, 2008)

Sites http://www.ghgprotocolbrasil.com.br

http://www.globalreporting.org

GhG proTocoL Trata-se da metodologia mais utilizada por

governos e empresas em todo o mundo para realizar inventários de emissões. A ferramenta permite identificar, quantificar, entender e gerenciar as emissões de gases do efeito estufa.

O GHG Protocol foi desenvolvido pelo World Resources Institute (WRI) em parceria com o World Business Council for Sustainable De-velopment (WBCSD).

A metodologia é compatível com as normas ISO e com as metodologias de quantifi cação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). As informações geradas em seus inventários podem ser aplicadas em outros relatórios e questionários de controle e identi-fi cação de ações de sustentabilidade, como as iniciativas Carbon Disclosure Project (CDP), o Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Global Reporting Initiative (GRI).

O GHG Protocol também oferece aos países em desenvolvimento – que não têm obrigações formais de reduzir as emissões – a oportunidade de desenvolver ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, abastecendo-os com informações cruciais sobre o assunto. Nesses casos, a iniciativa privada participa de maneira voluntária da elaboração dos inventários.

Até hoje, apenas seis países no mundo con-tam com programas nacionais de análise de emissões baseados no protocolo GHG. Estados Unidos, Índias, Filipinas, China, México e Brasil compõem essa “elite” sustentável. O Brasil foi o terceiro país no mundo a adotar uma metodo-logia própria baseada no GHG. O Programa Brasileiro GHG Protocol foi lançado em 2008, a partir de uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, a Fundação Getúlio Vargas, o World Business Council of Sustainable Development e o World Resources Institute.

A primeira etapa do programa contou com a participação voluntária de 22 empresas, respon-sáveis por 4% das emissões do país. Em 2009, foi divulgado o maior inventário nacional de

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emissões baseado no GHG Protocolo, com 35 empresas, responsáveis por 89 milhões de tone-ladas de dióxido de carbono equivalente.

Para as empresas, fazer parte desse grupo signifi ca ir além do simples ato de divulgar seu volume de emissões de carbono. É, também, uma oportunidade de receber uma série de treinamen-tos e informações para incorporar a questão das mudanças climáticas em suas estratégias.

PARA SABER MAISLivros

Greenhouse Gas Protocol: The GHG Protocol for Project Accounting, de World Business Council on Sustainable Development e World Resources Institute (World Resources Institute, 2006)

The Greenhouse Gas Protocol: Guidelines for Quantifying GHG Reductions from Grid-Connected Electricity Projects, de Derik Broekho� (World Resources Institute, 2007)

Sites http://www.ghgprotocolbrasil.com.br

http://www.ghgprotocol.org

GLoBAL rEporTING INITIATIvE (GrI) Global Reporting Initiative (GRI) é o nome

de uma ONG holandesa responsável por desen-volver o modelo de relatório de emissões de car-bono mais respeitado e utilizado por empresas e governos ao mundo – o modelo GRI. O grande diferencial desse modelo é a padronização: com ele, é possível comparar o efeito de diferentes ações de mitigação dentro de um mesmo setor.

A Global Reporting Initiative desenvolve e difunde globalmente diretrizes para a elabora-ção de relatórios de sustentabilidade. O con-junto de diretrizes e indicadores do relatório no modelo GRI proporciona comparabilidade,

credibilidade, periodicidade e legitimidade da informação na comunicação do desempenho social, ambiental e econômico de cada organiza-ção. O relatório estabelece os princípios que as empresas devem usar para medir e relatar seu desempenho, levando em conta não só os fatores relacionados a mudanças climáticas, mas também aqueles que dizem respeito à responsabilidade so-cial – tais como o respeito aos direitos humanos e o engajamento nos Objetivos de Desenvolvim-ento do Milênio, criados pela ONU. Atualmente, cerca de 1,5 mil organizações no mundo todo adotam as diretrizes GRI para elaborar seus relatórios de sustentabilidade. Pelo menos 70 são brasileiras.

A popularidade do modelo se deve ao esta-belecimento de um padrão único de inventariar as informações, permitindo que os relatórios sejam comparados, exatamente como acontece com os balanços fi nanceiros. Na prática, a com-paração permite que as empresas identifi quem pontos defi citários de sua gestão e percebam que suas concorrentes estão investindo muito mais em áreas específi cas, como a cultura, por exem-plo. Essa normatização agrada aos investidores e administradores de fundos de investimento, que conseguem identifi car com precisão quais são as empresas mais ou menos engajadas na busca de uma economia de baixo carbono. Não por acaso, a adoção do GRI é pré-requisito para as empresas que pretendem fazer parte da carteira do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (veja o verbete Dow Jones Sustainability Index World).

A elaboração de um relatório com base nas di-retrizes do GRI envolve a análise de um manual de mais de 200 páginas e a especifi cação de 79 indicadores econômicos, sociais e ambientais, que incluem desde o consumo de energia ao volume de emissões de gases de efeito estufa, composição racial e de gênero das diretorias e

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quantidade de acidentes de trabalho. Essa lista de indicadores, somada às considerações do modelo GRI – conhecidas como “Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade” –, é constan-temente revisada por voluntários e empresas. Cada participante envia suas considerações e sugestões, ajudando a estabelecer diretrizes mais abrangentes e efi cientes. Hoje, o modelo GRI está na sua terceira versão.

PARA SABER MAISLivros

Sustainability Accounting and Reporting – Eco-E� ciency in Industry and Science, de Stefan Schaltegger, Martin Bennett e Roger Burritt (Springer, 2006)

Sites http://www.globalreporting.org/Home

GrEENWAShING A empresa X lança uma ampla campanha

publicitária para encobrir os danos que suas atividades causam ao meio ambiente. Já a com-panhia Y utiliza argumentos de apelo ecológico para justifi car medidas que, na verdade, servem apenas para reduzir custos de produção. Isso sem contar a marca Z, que costuma adotar um discurso perfeitamente alinhado com os valores essenciais da sustentabilidade – mas jamais os cumpre na prática. Se você conhece ou já ouviu falar de casos como esses, então você sabe qual é o verdadeiro signifi cado de greenwashing.

O termo foi utilizado pela primeira vez em 1986, em um ensaio publicado pelo ambientalista norte-americano Jay Westerweld. No texto, ele analisava uma prática comum nos grandes ho-téis – a de pedir que os hóspedes reaproveitem

as toalhas para evitar o desperdício de água e reduzir os danos ambientais decorrentes dos produtos de limpeza. Westerweld percebeu que, na verdade, a medida era utilizada unicamente para reduzir os custos de higiene desses hotéis. Não havia um interesse genuíno de se preservar a natureza. A maioria dos empreendimentos, aliás, sequer contava com procedimentos básicos de sustentabilidade, como a coleta seletiva de lixo ou a reciclagem de materiais. Tudo que eles queriam era economizar – mesmo que para isso tivessem de apelar para um discurso falsamente ecológico.

Hoje, o greenwashing é praticado por quase todos os tipos de empresas, especialmente aquelas que estão na alça de mira das ONGs ambientalistas, como é o caso das montadoras de veículos e das indústrias de exploração de petróleo. Um exemplo clássico é o da British Pe-troleum, mais conhecida pela sigla BP. Há cerca de dez anos, a companhia fechou uma parceria com a National Wildlife Federation (NWF), uma das mais atuantes ONGs de proteção dos animais em extinção dos Estados Unidos. Ao todo, a BP pagou cerca de US$ 113 mil pelo direito de estampar o logo da NWF em seus produtos e postos de combustíveis, em uma clara tentativa de se mostrar sintonizada aos valores da ecologia. Na mesma época, a companhia lan-çou uma campanha de marketing que associava a sigla BP à expressão “Beyond Petroleum” – ou “Além do Petróleo”. A iniciativa talvez tenha ajudado a melhorar a imagem institucional da empresa, mas não chegou nem perto de reverter os danos ambientais provocados pela exploração e processamento do petróleo.

Hoje, a BP é protagonista de um dos mais trágicos acidentes ambientais da história. Devi-do à quebra de uma tubulação, a companhia deixou vazar milhões de barris de petróleo no Golfo do

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México, o que causou perdas irreparáveis ao ecossistema da região. Já a NWF se alinhou às ONGs que agora exigem uma penalização exem-plar da BP e uma mudança drástica nas políticas de exploração de petróleo em águas profundas.

Na internet, diversas organizações têm se organizado para combater o greenwashing. Uma delas é a consultoria de marketing ambiental TerraChoice, que recentemente lançou um por-tal dedicado ao assunto. No site (veja o endereço abaixo), a empresa lista os “sete pecados do greenwashing”, que são os seguintes:

Acobertar os trade-offs ambientais: não adianta propagandear os ganhos ambientais de uma determinada iniciativa se, nas demais ativi-dades, a empresa continua adotando práticas que não são sustentáveis.

Não apresentar provas: muitas companhias fazem alarde em torno de seus investimentos ambientais, mas não apresentam qualquer outro tipo de informação que comprove os benefícios desses investimentos.

Utilizar termos vagos: é comum as empre-sas lançarem campanhas de marketing com expressões que remetem aos princípios da sus-tentabilidade. Um exemplo são os produtos “to-talmente naturais”. Substâncias como mercúrio, arsênico, formaldeído e urânio são “totalmente naturais”, mas provocam graves danos ao meio ambiente.

Exibir falsos selos verdes: alguns produtos utilizam selos, bottoms e outros ícones que imitam selos verdes e passam a falsa impressão de que são comprovadamente inofensivos ao meio ambiente.

Supervalorizar ganhos irrelevantes: certas empresas dão amplo destaque a medidas que, embora sustentáveis, são irrelevantes ou óbvias. Um exemplo são os produtos “livres de CFC” – o uso de CFC já é proibido por lei.

Distrair o consumidor: há produtos que realmente representam uma evolução em termos de sustentabilidade, mas que não necessaria-mente deixam de ser prejudiciais ao meio am-biente. Veículos híbridos, por exemplo, podem até poluir menos do que os convencionais – mas isso não apaga o fato de que são poluentes.

Mentir: algumas empresas e até governos afi rmam adotar práticas de sustentabilidade que jamais existiram.

PARA SABER MAISLivros

Greenwash: The Reality Behind Corporate Environmentalism, de Jed Greer e K. Bruno (Editora Apex Press)

Sites http://sinsofgreenwashing.org

http://www.greenwashingindex.com

http://terrachoice.com

íNDIcE DE SUSTENTABILIDADE EmprESArIAL DA BovESpA (ISE)

O Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo mede o desempenho de ações de empresas brasileiras com reconhe-cido comprometimento com a responsabilidade social e sustentabilidade ambiental. Pioneiro na América Latina, o índice foi lançado em 2005,

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com metodologia desenvolvida pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), e contou com apoio fi nanceiro do International Finance Corporation (IFC).

Desde o seu lançamento, o ISE tem sido visto como uma referência de gestão de sus-tentabilidade entre as empresas brasileiras. A seleção das empresas que compõem a carteira é rigorosa. Para ser aceita, a companhia deve apresentar relatórios socioambientais baseados nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). Uma equipe de avaliação analisa os indicadores sociais, ambientais, econômico-fi nanceiros e a governança corporativa de cada candidata. Para a composição da carteira em 2010, o Conselho do ISE pediu às pretendentes que preenchessem um questionário específi co sobre mudanças climáticas e ações de mitiga-ção. Outra mudança incorporada ao processo de seleção foi a ampliação da quantidade de empresas convidadas a participar do ISE – as donas das 200 ações mais comercializadas na Bovespa receberam convite.

A atual carteira do ISE é composta por 43 ações de 34 companhias que, juntas, somam R$ 730 bilhões em valor de mercado. São elas: Brasil, Bradesco, BRF Foods, Braskem, Cesp, Cemig, Coelce, CPFL Energia, Copel, Dasa, Duratex, Eletrobras, Eletropaulo, Embraer, Energias BR, Even, Fibria, AES Tietê, Gerdau, Gerdau MET, Itausa, Itaú-Unibanco, Light S/A, Natura, Re-decard, INDS Romi, Sabesp, Suzano Papel, Tim, Telemar, Tractebel, Usiminas e Vivo.

PARA SABER MAISSite

http://www.bmfbovespa.com.br

INSTITUTo NAcIoNAL DE pESqUISAS ESpAcIAIS (INpE)

Criado em 1961 por um decreto do presidente Jânio Quadros, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é o grande centro de estudos meteorológicos do país. Sozinho, o Inpe executa pesquisas científi cas, desenvolve tecnologias e ca-pacita recursos humanos nos campos da Ciência Espacial e da Atmosfera, das Aplicações Espaciais, da Meteorologia e da Engenharia e Tecnologia Espacial. O instituto também é responsável pelos modelos operacionais de previsão de tempo e clima utilizados no Brasil, além de manter parce-rias e cooperação com diversos países no estudo e desenvolvimento de satélites. Graças ao Inpe, o Brasil é um dos 16 países que atuam diretamente na construção da Estação Espacial Internacional. No tema das mudanças climáticas, o Inpe exerce um papel fundamental – o de monitorar os des-matamentos e as mudanças de uso e cobertura da terra por meio de imagens de radar.

Os sistemas de monitoramento do desmata-mento da Amazônia utilizados pelo Inpe são considerados os melhores do mundo. O Prodes, operado desde 1988, cobre os 4 milhões de quilô-metros quadrados de fl orestas e mostra a extensão dos desmatamentos de toda a Amazônia brasilei-ra. A frequência do monitoramento é anual e seus relatórios servem para orientar a formulação de políticas públicas para a região. Além disso, o Inpe conta com o Sistema de Detecção de Des-matamento em Tempo Real (Deter), que utiliza sensores com alta frequência de observação, ca-pazes de fornecer dados imediatos para os órgãos de controle ambiental. Com esse sistema, o Inpe consegue divulgar mapas de alerta mensais dos desmatamentos com mais de 25 hectares. Esses mapas indicam com precisão as áreas devastadas e aquelas que estão em processo de degradação.

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O instituto conta, ainda, com o sistema Degrad, que detecta as áreas que estão começando a ser desmatadas, mas cuja cobertura fl orestal não foi totalmente removida. Tanto o Degrad como o Prodes utilizam imagens dos satélites Landsat e Cbers. A área mínima mapeada por eles é de 6,25 hectares.

Em 2010, o Inpe transferiu para Belém (PA) a sede do Centro Regional da Amazônia (CRA) e, em breve, passará a responder pelo centro de monitoramento da Amazônia, que atualmente funciona em São José dos Campos (SP).

PARA SABER MAISLivros

Política Espacial Brasileira, de Edmilson Costa Filho (Revan, 2002)

O Inpe na Antártica, de Ênio B. Pereira (Transtec, 1992)

Emerging Space Powers: The New Space Programs of Asia, the Middle East and South-America, de Brian Harvey, Henk H. F. Smid e Theo Pirard (Springer Praxis, 2010)

Sites http://www.obt.inpe.br/deter

http://www.obt.inpe.br/prodes

http://www.obt.inpe.br/degrad

INvENTÁrIo DE EmISSÕES Trata-se de um relatório detalhado que uma

empresa, grupo de empresas, setor econômico, cidade, Estado ou país elabora para determinar quais são suas fontes de gases de efeito estufa. O inventário também mostra qual é a quanti-dade de gases emitidos para a atmosfera em um período determinado. A contabilidade é base-ada em padrões e protocolos preestabelecidos, tais como o sistema GHG, o Carbon Disclosure Project ou os Protocolos do Painel Intergover-

namental sobre Mudanças Climáticas. O primeiro inventário brasileiro de emissões

de carbono foi divulgado em 2004 e englobou o período de 1990 a 1994. O documento revelou que, nesse período, o Brasil emitiu cerca 1,5 milhão de toneladas de carbono. O desmatamento e as mudanças de uso da terra e fl orestas responderam por 59% dessas emissões. O segundo inventário, que vai cobrir o período de 1990-2000, deverá ser publicado no início de 2011.

Em 2009, o GHG Protocol, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, organizou o primeiro Registro Público de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil. Diferentemente do inventário nacional, o documento mostra o volume de emissões de 35 empresas privadas que divulga-ram seus números voluntariamente. Entre outras coisas, o registro serviu para estimar quais são os setores que mais contribuem para o aquecimento global a partir do Brasil.

Os inventários nacionais permitem às en-tidades internacionais identifi car onde estão as concentrações de emissões de gases de efeito estufa e constituem um importante documento para o estabelecimento de políticas de adaptação às mudanças climáticas e mitigação dos seus efeitos. A iniciativa também reforça a posição do Brasil como país comprometido com a adoção de uma economia de baixo carbono – apesar de não ter a obrigação de reduzir suas emissões, conforme o Protocolo de Quioto.

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Já os inventários corporativos ajudam a manter as empresas alinhadas com conceitos básicos de transparência e responsabilidade so-cial. Servem, ainda, como um instrumento capaz de assegurar a idoneidade dos negócios – o que é cada vez mais importante para atrair investi-mentos e conquistar a lealdade de clientes.

Em linhas gerais, a elaboração de um inven-tário inclui a coleta de dados de todas as atividades que resultem na emissão de gases de efeito estufa, o cálculo dessas emissões e os planos adotados para reduzi-las. Um bom inventário também deve conter planos de ações relacionadas à sustentabilidade ambiental, tais como a compra de créditos de car-bono e a substituição de fornecedores poluentes. O padrão GHG Protocol e a Norma ISO 14064-1 determinam cinco princípios indispensáveis para que um inventário seja bem-sucedido. São eles: relevância, integralidade, consistência, transparência e exatidão.

PARA SABER MAISLivros

African Greenhouse Gas Emission Inventories and Mitigation Options: Forestry, Land-Use Change, and Agriculture, editado por John F. Fitzgerald, Barbara V. Braatz, Sandra Brown, Augustine O. Isichei, Eric O. Odada e Robert J. Scholes (Springer, 1996)

Air Pollution Emissions Inventory, de H. Power e J. M. Baldasano (WIT Press, 1998)

Greenhouse Gas Emission Inventories: Interim Results from the U.S. Country Studies Program, editado por Barbara V. Braatz, Bubu P. Jallow, Sandor Molnar, Daniel Murdiyarso, Martha Perdomo e John F. Fitzgerald (Springer Netherlands, 2009)

Sites http://www.geiacenter.org

http://www.ceip.at

http://www.ghgprotocol.org

http://www.ib� orestas.org.br

ISo 14064 Norma criada em 1996 pela International

Organization for Standardization (ISO), que regula e padroniza a contabilização de gases de efeito estufa e o estabelecimento de procedimen-tos para a redução ou remoção de gases. A ISO 14064 pertence à família de normas sobre gestão ambiental ISO 14000 e fornece a governos e em-presas uma efi caz metodologia de identifi cação e contabilização voluntária de emissões de gases de efeito estufa. Pode ser utilizada em programas de redução de emissões e também no comércio de créditos de carbono. Além disso, a norma orienta a produção de relatórios de mitigação que, posteriormente, podem ser utilizados em inventários e projetos. A versão brasileira da norma foi preparada pelo Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/ CB-38) e só foi lan-çada em novembro de 2007.

Para criar uma ferramenta de cálculo e veri-fi cação que pudesse ser usada como padrão por empresas de diferentes setores e governos em todo o mundo, a ISO embarcou em uma longa jornada de pesquisas e estudos que durou cerca de três anos e envolveu 175 especialistas. Ao todo, 11 empresas internacionais e organizações ligadas ao meio ambiente ou desenvolvimento participaram ativamente da formulação da metodologia.

Diferentemente do GHG Protocol, que tem diretrizes específi cas para as ferramentas e mé-todos que devem ser usados na contabilidade das emissões, a ISO 14064 apenas dá orienta-ções gerais sobre o que deve ser declarado – e como. Por exemplo, a ISO sugere que a adicio-nalidade precisa ser considerada e informada, mas não determina qual instrumental deve ser utilizado para isso.

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O processo normativo se dá em três partes. Na primeira, chamada ABNT NBR ISO 14064, a empresa ou governo deve quantifi car e infor-mar seu volume de emissões e de remoções de gases. A segunda parte se concentra em projetos e ações de mitigação, práticas não poluentes e participação no mercado de carbono. A parte três foca a validação e a verifi cação das de-clarações relativas aos gases de efeito estufa, incluindo descritivos dos procedimentos de avaliação.

PARA SABER MAISLivros

Qualidade Ambiental ISO 14000, de Cyro Eyer do Valle (Senac São Paulo, 2010)

Como Se Preparar para as Normas ISO 14000, de Cyro Eyer do Valle (Thompson Pioneira, 2000)

Sites http://www.iso.org

LIcENcIAmENTo AmBIENTAL No Brasil, empreendimentos potencialmente

poluidores ou que possam representar alguma ameaça ao meio ambiente devem obter uma licença especial, baseada na elaboração de um es-tudo detalhado desses impactos e mediante um relatório ambiental. Estes documentos precisam ser aprovados por uma junta especializada. Não raro, também têm de passar por uma consulta popular.

Essa determinação, chamada licenciamento ambiental, obedece a uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 1986 defi nida pela Política Nacional do Meio Ambiente. Apenas atividades com potencial altamente po-luidor precisam passar por esse processo de au-

torização, como construção de estradas, usinas, indústrias, obras hidráulicas, aterros sanitários e projetos urbanísticos maiores que 100 hectares (cerca de um quilômetro quadrado).

A autorização só é concedida com a entrega de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de um Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (Rima). Os documentos devem ser feitos por equipes multidisciplinares capazes de avaliar todas as implicações do empreendimento. Os riscos de impacto não devem se concentrar apenas sobre a potencial degradação da natureza em si, mas também sobre o patrimônio cultural e histórico do lugar. No caso de obras especial-mente polêmicas ou que possam trazer danos à comunidade ou aos demais empresários locais, é possível que os órgãos reguladores requeiram audiências públicas.

O licenciamento é essencial também para a obtenção de fi nanciamentos ou empréstimos junto a órgãos de fomento do governo, como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi-co e Social ou, ainda, as agências estaduais de fomento.

PARA SABER MAISLivros

Licenciamento Ambiental Municipal, de Jeferson Nogueira Fernandes (Juruá, 2010)

Licenciamento Ambiental, de Curt Trennepohl e Terence Dornelles Trennepohl (Impetus, 2010)

Licenciamento Ambiental – Aspectos Teóricos, de Talden Farias (Forum, 2010)

Aspectos Jurídicos do Licenciamento Ambiental, de Daniel Roberto Fink (Forense Universitari, 2004)

Sites http://www.ibama.gov.br/licenciamento

http://www.mma.gov.br

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mArKETING vErDE O marketing verde, ecológico ou ambiental,

como também costuma ser chamado, inspira o novo discurso de vendas das empresas. Hoje, é quase imperativo para a sobrevivência no mer-cado que companhias dos mais variados setores incluam em seus planejamentos de marketing uma boa dose de ações eco e socialmente conscientes, que vão de campanhas publicitárias até ações pontuais, como a troca de embalagens por outras recicláveis, por exemplo. O desafi o agora é provar ao mercado, e especialmente ao consumidor, que tal discurso não é vazio. Afi nal, o “consumidor verde” já não se deixa enganar por simples slogans. As empresas que não compro-vam na prática seu discurso sustentável perdem pontos em sua reputação pública.

Atualmente, ser verde abrange a administra-ção de uma dezena de etapas produtivas calcadas efetivamente na sustentabilidade. Esta escala vai da fabricação com métodos menos poluentes ao uso de matérias-primas certifi cadas, envolvendo, ainda, a redução de geração de efluentes, a redução de consumo de energia e papel, a relação transparente com os fornecedores e a criação de ambientes de trabalho saudáveis do ponto de vista físico e psicológico. Quem fala, deve imple-mentar sistemas de gerenciamento socioambien-tal ou investir em projetos do gênero e, assim, provar sua conduta por meio de certifi cações auditadas. Os selos de garantia sustentável, que atestam que o produto ou serviço é produzido em conformidade com as exigências ambientais, são o melhor marketing verde na opinião de 36% dos brasileiros, segundo uma pesquisa realizada pela Market Analysis em 2010. O Monitor de Responsabilidade Social Corporativa constatou que os consumidores acreditam que um selo ou identifi cação na embalagem é a melhor maneira

de uma empresa comunicar suas práticas ambientais.

Passado o tempo em que bastava a inclusão de termos como “biodegradável” ou “reciclável” nos rótulos, as empresas que adotam políticas verdes de verdade e que provam suas ações por meios de certifi cados, relatórios e inventários públicos concentram-se agora na conscientização de toda a sua cadeia de fornecedores e colaboradores. O caminho é natural e prova a evolução do processo de enraizamento da consciência socioambiental nas corporações. Na nova geração do discurso verde, afi rmar “eu faço” deve ser substituído por “todos nós fazemos e provamos”.

PARA SABER MAISLivros

Marketing Ecológico, de José Vicente Calomarde (Pirâmide, 2000)

Marketing Ambiental, de Reinaldo Dias (Atlas, 2007)

The Green Marketing Manifesto, de John Grant (Wiley 2007)

Greenwash: The Reality Behind Corporate Environmentalism, de Jed Greer e K. Bruno (Apex Press, 2007)

Site http://www.marketing.com.br

mEcANISmo DE DESENvoLvImENTo LImpo (mDL)

É o mecanismo que viabiliza o mercado de carbono. Quando assinaram o Protocolo de Quioto, em 1997, os países desenvolvidos (dos Anexos I e II) assumiram o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 5%, em média, em relação aos níveis regis-trados em 1990. Para conseguirem cumprir tal meta, cujo prazo vence em 2012, o documento

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autorizou aos países algumas alternativas caso não consigam reduzir suas próprias emissões. A mais importante delas é a possibilidade dada a empresas e governos dessas nações ricas de investir em pro-jetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) nos países em desenvolvimento. Em troca, eles recebem créditos de carbono que podem ser usados para abater parte de suas metas. Os projetos devem ser baseados exclusivamente na produção de energia renovável, de efi ciência e conservação de energia ou ainda no refl orestamento.

Países que não têm compromisso de redução, caso do Brasil, também podem participar desse mercado, recebendo projetos de MDL de empre-sas e governos estrangeiros e também incenti-vando projetos próprios. Os créditos de carbono são contabilizados em tonelada de “CO2 equiva-lente” e negociados no mercado. Dessa forma, além de estimular o desenvolvimento sustentável e permitir reduções adicionais nos níveis de emissão, o mecanismo garante benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo para a mitigação dos efeitos da mudança do clima.

Para serem incluídos no MDL, os projetos devem ser aprovados e registrados pelo Con-selho Executivo do MDL, órgão vinculado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que supervi-siona o mecanismo. Já os créditos certifi cados, para serem emitidos, dependem da aprovação pela Autoridade Nacional Designada, que no Brasil é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC).

Atualmente, as atividades de projetos de MDL em estágio de validação, aprovação ou registro em todo o mundo somam um total de 6.513 projetos, dos quais 2.311 já estavam registrados e 4.202 se encontravam em alguma outra fase do ciclo, segundo o relatório emitido pela CQNUMC em agosto de 2010. O Brasil é responsável por 457, ou

7% desses projetos, terceiro melhor desempenho entre todos os países. Encabeçando a lista, apare-cem China e Índia, com 2.470 (38%) e 1.752 (27%), respectivamente. Em termos de reduções efetivas, esses números representam mais de 5 bilhões de toneladas de carbono equivalente (tCO2e). Só o Brasil foi responsável por 393.254.484 tCO2e, o que corresponde a 5% do total mundial.

PARA SABER MAISLivros

Viabilização Jurídica do MDL no Brasil, de Flávia Witkowski Frangetto e Flávio Ru� no Gazani (Peirópolis, 2003)

The Clean Development Mechanism, de Dave V. Wright (VDM Verlag, 2007)

Renewable Energy Project Development under the Clean Development Mechanism: a Guide for Latin America, de Elizabeth Lokey (Earthscan Publications, 2009)

Sites http://cdm.unfccc.int

http://www.mct.gov.br

mEDIDAS DE coNTABILIzAção DE EmISSÕES DE cArBoNo

Para negociar os créditos certificados de redução de emissão de carbono, é necessário falar em grandezas. Por convenção, a unidade de medida usada pelos governos, empresas e mer-cados é a tonelada de carbono equivalente, ou qualquer uma de suas correspondentes – quilo, gramas, miligramas.

A utilização prática dessa convenção, porém, não é nada simples. Como cada atividade possui uma maneira específi ca de gerar emissões, a con-tabilidade delas precisa levar em conta fatores como tempo, peso e deslocamento. É exatamente

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nesse cálculo detalhado que a confusão começa. Porque as referências para os cálculos po-

dem ser pessoas, energia gerada ou quilômetro rodado, por exemplo. No caso dos transportes, a contabilização deve ser feita a partir do uso do veículo. Ou seja, as emissões por quilômetro percorrido por um carro ou veículo de transporte de passageiros têm como base de cálculo a uni-dade gramas por passageiro por quilômetro (g/pkm). Quando se trata de caminhões de carga, a unidade passa a ser gramas por tonelada por quilômetro (g/tkm). O processo de produção de eletricidade, por sua vez, sempre resulta em uma determinada quantidade de emissão de CO2 por kWH gerado. Daí sua unidade ser CO2/kWH gerado. Quem consome essa eletricidade deve então considerar a quantidade de CO2 gerado a cada kWH e multiplicá-la pelo tempo em que a energia foi usada.

PARA SABER MAISSite

http://lipasto.vtt.� /indexe.htm

mErcADo DE cApITAIS E SUSTENTABILIDADE

Engana-se quem pensa que a maneira como as empresas avaliam seus impactos ambientais é coisa que interessa apenas a cientistas e ambien-talistas engajados na onda verde. Um dos mais

fervorosos fãs do conceito de sustentabilidade empresarial é o mercado de capitais. Pode até parecer um contrassenso, mas o novo capi-talismo está calcado na produção e no consumo consciente.

A premissa básica do mercado de investi-mentos é o lucro. Mas numa realidade em que as legislações e os acordos internacionais punem ações prejudiciais ao meio ambiente e premiam as iniciativas saneadoras, os investidores passam a valorizar a liderança corporativa preocupada com a sustentabilidade. Afi nal, certifi cações, selos verdes e sistemas de gestão ambiental asseguram ao mercado a sustentabilidade da empresa e do negócio como um todo. Também representam a diminuição dos riscos de perdas, uma vez que essas companhias costumam apre-sentar pequenas chances de provocar acidentes ambientais que gerem multas onerosas e custos de reparação dos danos, por exemplo.

O modo como as empresas lidam com as variáveis ambientais é tão importante que hoje norteia boa parte do mercado. Os índices de sustentabilidade empresarial, como o da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ou Dow Jones Sustainability Index, da Bolsa de Nova Iorque, são exemplos dessa preocupação. Ao medir o desempenho sustentável das empresas, eles inserem outros padrões de avaliação de papéis além daqueles meramente fi nanceiros e chamam a atenção dos investidores, sejam individuais ou não, para a importância dos me-canismos de redução dos impactos ambientais como algo que transcende a mera dimensão ecológica e é determinante para toda a con-tinuidade do negócio.

A busca do lucro, claro, está incorporada a esse conceito e hoje é possível faturar com as chamadas ações verdes. Só para se ter uma ideia, o primeiro fundo sustentável do mercado

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

brasileiro, o Ethical, acumula um rendimento cerca de 20% superior ao do Ibovespa. Criado pelo ABN Amro em 2001 e atualmente adminis-trado pelo Santander, ele é composto apenas por ações de empresas que mantêm políticas sustentáveis. Seu portfólio lista 29 empresas e compreende um patrimônio de R$ 407 milhões.

PARA SABER MAISLivros

Experiências Empresariais em Sustentabilidade, de Fernando Almeida (Campus, 2009)

Sustentabilidade dos Negócios no Setor Financeiro, de Victorio Mattarozzi e Cássio Trukl (Annablume, 2008)

Sustentabilidade no Setor Financeiro – Gerando Valor e Novos Negócios, de Victorio Mattarozzi e Cássio Trunkl (Senac São Paulo, 2008)

Presença Estratégica – O Fator Da Vinci e a Sustentabilidade do Processo de Gestão, de Luiz Fernando da Silva Pinto (Senac Brasília, 2008)

Sites www.bovespa.com.br

www.sustainability-index.com

http://www.portaldoinvestidor.gov.br

http://www.ibmec.org.br

mETAS DE rEDUção O primeiro acordo em nível mundial a es-

tabelecer metas de redução de gases de efeito estufa foi o Protocolo de Quioto, em 1997, pelo qual os países desenvolvidos deveriam reduzir suas emissões em 5% em relação aos níveis regis-trados em 1990. De lá para cá, além de pressionar para o cumprimento dessas metas, entidades e ambientalistas esperam ansiosos pelo próximo documento que irá substituir, reforçar ou reiterar as determinações do protocolo, que expira em 2012. O Acordo de Copenhague foi o mais perto

que já se chegou disso. Elaborado em 2009, ao fi nal da COP15 realizada

em Copenhague, o acordo propôs limitar o au-mento médio da temperatura global a 2o C acima dos níveis registrados na era pré-industrial, sugeriu a liberação de US$ 100 bilhões em ajuda climática a países em desenvolvimento a partir de 2020 e ainda pediu aos 193 países presentes ao evento que enviassem de maneira voluntária suas metas de emissão para o período de 2012- 2020 até a data limite de 31 de janeiro de 2010. Mesmo sem qualquer obrigatoriedade, 75 países responderam ao apelo e, na data, encaminharam suas propostas de diminuição da geração de gases de efeito estufa.

A maioria dos governos, porém, só reiterou as metas que haviam traçado antes do evento da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com esses parâmetros, a União Europeia reduziria 20% de suas emissões em relação aos níveis de 1990 ou aumentaria a meta para 30% caso outros países também ampliassem as suas reduções. Os Estados Unidos cortariam 17% das emissões em relação aos níveis de 2005. E a China diminuiria entre 40 e 45% de suas emissões até 2020.

O Brasil, ao contrário, não só apresentou à ONU a sua sugestão de meta dentro do prazo como criou uma lei que fi xa a meta de reduzir as emissões entre 36,1% e 38,9% até 2020 em

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relação aos níveis de 1990. Essa é a primeira lei federal do gênero a ser criada e aprovada no mundo. Para cumprir o compromisso, 80% do desmatamento da Amazônia deverá ser redu-zido. A degradação da fl oresta é a maior fonte brasileira de poluição.

PARA SABER MAISSites

http://www.denmark.dk/en/menu/Climate-Energy/COP15-Copenhagen-2009

http://www.denmark.dk/en

mINISTÉrIo pÚBLIco AmBIENTAL Apesar do nome, o Ministério Público Federal

(MPF) não é como um ministério em si, que pode ser criado, extinto ou ter sua estrutura modifi -cada. Órgão do Poder Executivo da União, ele tem autonomia institucional e independência funcional garantidas pela Constituição. Sua principal atribuição é agir nos casos de ameaça aos direitos previstos na Constituição e nas leis, seja por iniciativa própria ou quando acionado por qualquer cidadão. É por isso que, quando ingressa com ações, ele o faz em nome da sociedade.

As ações movidas pelo MPF podem assumir a defesa dos direitos sociais ou individuais, obje-tivar a fi scalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público, ou ainda, assegurar a proteção do meio ambiente. Quando age nesse sentido, ele passa então a ser chamado Minis-tério Público Ambiental e suas ações passam a ser regidas pelos códigos e leis ambientais. Sua atuação é particularmente relevante em questões envolvendo o licenciamento para obras e em-preendimentos que gerem signifi cativo impacto ambiental, o combate à biopirataria e ao tráfi co

de animais silvestres, a preservação de áreas protegidas e o combate à poluição.

Muitas vezes cercadas de polêmica, as ações do MPF na área ambiental têm o poder de desencadear ações que visam a interditar empresas, obras e atividades que não obedeçam às normas de segurança ambiental; proibir o uso de agrotóxicos e também responsabilizar judicialmente agentes públicos ou particulares por danos ao meio ambiente. Assim como acon-teceu em 2009, quando 21 fazendas de gado no Pará foram embargadas após uma denúncia do Greenpeace e a abertura de uma ação judicial do MPF. O motivo: o desmatamento de partes da Floresta Amazônica para abrir espaço para o pasto.

Normalmente, o MPF consegue sanar ir-regularidades ambientais sem a necessidade de entrar com uma ação na Justiça. Ao invés disso, os responsáveis pelo dano ou incorreção assinam um ajustamento de conduta e se comprometem a regularizar a situação. No caso da carne do Pará, os pecuaristas e também 13 frigorífi cos que compravam carne dessas fazendas foram proces-sados pelo MPF por julgar que ambas cometeram danos ambientais graves.

PARA SABER MAISLivros

Ministério Público e Suas Investigações Independentes, de José Reinaldo Guimarães Carneiro (Malheiros, 2007)

Temas Atuais do Ministerio Público, de Nelson Rosenvald, Leonardo Barreto Moreira Alves e Cristiano Chaves (Lumen Juris, 2010)

Dicionário de Ministério Público, de Edilson Santana Filho e Edilson Santana (Conceito Editorial, 2009)

Site http://www.pgr.mpf.gov.br

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GUIA DA SUSTENTABILIDADE

mITIGAção Toda mudança tecnológica ou intervenção

humana que tenha como fi nalidade a diminu-ição das emissões de gases de efeito estufa ou sua eliminação completa é chamada mitigação. Defi nida assim pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, as medidas de mitigação são fundamentais para o processo de desaceleração do aquecimento global. Em geral, sempre que essas ações são citadas, elas vêm acompanhadas pelo termo adaptação. Essa cu-riosa simbiose se deve à simples matemática de que quanto maior forem os esforços de mitigação menores serão os impactos no meio ambiente e, portanto, menor será a necessidade de ajustes e adaptações da vida humana às novas condições climáticas e seus efeitos colaterais.

A ideia é básica e simples mas, ainda assim, a única maneira efi ciente de estimular tais ações por parte dos governos e, indiretamente, das em-presas, foi por meio da determinação de normas e obrigações – como no Protocolo de Quioto.

É que a mitigação envolve diretamente o caixa das instituições públicas e privadas, que para controlar suas emissões precisam de investi-mentos pesados em tecnologia e pesquisa tanto quanto em desenvolvimento de novas estratégias sustentáveis e adoção de políticas de monitora-mento mais rígidas. Até o momento, o Brasil foi o único país no mundo a dar às metas de mitiga-ção o caráter de lei. Os Estados Unidos, um dos maiores responsáveis pelas altas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, ao lado da China, ainda não aprovaram lei semelhante. Por lá, a proposta encaminhada pelo presidente Barack Obama é de reduzir em 17% as emissões em relação aos níveis de 2005, o que na prática resulta em uma diminuição da ordem de apenas 4%, uma vez que a maioria dos países, e a própria

ONU, consideram um período bem mais limpo como referência: 1990.

Para conseguir cortar os volumes de gases despejados na atmosfera a cada ano, a Conven-ção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática ressalta que três condições são es-senciais. Primeiro, é necessário tomar atitudes o mais cedo possível para que os ecossistemas consigam se adaptar ao novo clima de maneira natural. Depois, a produção de alimentos não pode ser ameaçada pela mitigação. Por fi m, o desenvolvimento econômico deve sempre se basear na sustentabilidade.

PARA SABER MAISLivros

Air Pollution: Measurement, Modelling and Mitigation, de Jeremy Colls e Abhishek Tiwary (Routledge, 2009)

Climate Change 2007: Mitigation of Climate Change, do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2008)

Natural Hazard Mitigation: Recasting Disaster Policy And Planning, de David Godschalk, Timothy Beatley, Philip Berke, David Brower e Edward J. Kaiser (Island Press, 1998)

Sites http://unfccc.int/methods_and_science/mitigation/items/3681.php

http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/mitigacao

http://www.portaldelmedioambiente.com

mUDANçAS DE USo DA TErrA Queimadas, desmatamentos, refl orestamen-

to, manejo fl orestal. A princípio díspares, essas ações têm em comum o fato de modifi carem o uso da terra e estarem relacionadas de modo efetivo às questões climáticas, seja atuando como fonte de emissões ou como sumidouros

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pATrocINADorES

de carbono. Um terço das emissões mundiais provém da soma da agricultura (que constitui o uso propriamente dito da terra e é fonte de 14% do total de gases lançados na atmosfera) e do desfl orestamento (responsável por 17%). No Brasil, cerca de 52% dos gases de efeito estufa são gerados pelo desmatamento, incluindo aí as queimadas e a degradação de fl orestas para abrir espaço para lavouras e pecuária.

A lei brasileira de redução, que estabelece o corte entre 36,1% e 38,9% das emissões durante a próxima década, determina que a mitigação deve acontecer exatamente nas áreas fl orestais, com a redução de 80% do desmatamento da Amazônia. Tal redução tem um peso de 21% da meta total assumida pelo governo. Coincidência ou não, desde 2009, ano de aprovação da lei, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) vem registrando os menores índices de perda de fl orestas. Em 2010, a apuração da taxa anual de desmatamento da Amazônia realizada pelo Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempos Real (Deter), do Inpe, contabilizou 5 mil quilômetros quadrados de área desmatada. Número bastante inferior ao registrado em 2009, quando foram cortados 7.464 quilômetros quadrados de fl oresta.

A pecuária, grande responsável por essa degradação, terá de responder por três quartos dos esforços de mitigação para que o país con-

siga cumprir suas metas. Até 104,5 milhões de toneladas de CO2e podem deixar de ser emitidas com a recuperação das pastagens. Um pasto mais rico e saudável é capaz de fi xar carbono, alimentar mais bois e ainda acelerar o processo de engorda deles, o que diminuiria seu período no campo e, consequentemente, suas emissões pela fermentação resultante da digestão dos ani-mais e responsável por 93% do metano liberado nos anos 2000 e 2005.

PARA SABER MAISLivros

Mudança Climática, de Stephan Faris (Campus, 2009)

O Atlas da Mudança Climática, de Kirstin Dow (Publifolha, 2010)

Economics of Rural Land-Use Change – Ashgate Studies in Environmental and Natural Resource Economics, editado por Kathleen P. Bell, Kevin J. Boyle e Jonathan Rubin (Ashgate Publishing, 2006)

Land Use Changes in Tropical Watersheds, de Ian Coxhead e Gerald E Shively (CABI, 2005)

Sites http://www.avisar2.cnptia.embrapa.br

http://www.is.cnpm.embrapa.br

http://lcluc.umd.edu

oBSErvATÓrIo Do cLImA É uma rede que congrega iniciativas voltadas

ao tema das mudanças climáticas globais. É formada por 36 organizações da sociedade civil brasileira e coordenada atualmente por André Ferretti, da Fundação O Boticário.

Fundada em 2002, a rede promove discussões com especialistas e a articulação das mais diver-sas entidades da sociedade para pressionar o governo por ações contundentes de mitigação e adaptação.

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O Observatório do Clima (OC) tem como objetivo promover interlocuções com os cidadãos, propor e acompanhar a defi nição de políticas públicas e normas que visem a evitar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, promover debates e amplas consultas públicas, acompanhar a implementação de projetos de mitigação e adaptação e participar de forma qualifi cada de fóruns e encontros nacionais ou internacionais que tenham as mudanças climáticas como tema.

Entre as suas mais importantes campanhas es-tão o processo de consulta pública aberto em 2008 para gerar contribuições a uma Política Nacional sobre Mudanças Climáticas, que acabou sendo sancionada pelo presidente Lula em dezembro de 2009 e mobilizou entidades, ambientalistas e cidadãos de todo o país. No mesmo ano, o OC apresentou o Manifesto por Outro Plano Nacional de Mudanças Climáticas, um documento no qual a entidade exigia do governo a proposição de uma meta de redução das emissões dos gases de efeito estufa que fosse contundente e colocasse o Brasil numa posição relevante no cenário internacional. Foi o que, de fato, acabou acontecendo, com o anúncio pelo governo brasileiro do compro-misso voluntário de reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões do país, tendo como base o volume registrado em 1990.

Atualmente, representantes do OC participam de reuniões ofi ciais como a Comissão Executiva do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM) e a Estratégia Nacional de REDD para assim abrir um novo diálogo com o governo sobre a diminuição do desmatamento, pilar da meta de redução ofi cial do país.

PARA SABER MAISSite

http://www.oc.org.br

ocEANoS É para que as águas não rolem sobre a terra

que boa parte das atuais políticas e esforços mundiais de contenção do aquecimento global foram criadas. Motivos para isso não faltam. No século 20, o aumento de 0,7o C na temperatura média na Terra teria provocado um aumento do nível do mar entre 15 e 20 centímetros, segundo um estudo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

Em 1995, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deixou a comuni-dade científi ca e os cidadãos de todo o mundo em alerta ao publicar um relatório que continha inúmeras projeções catastrófi cas sobre as alterações no nível dos oceanos até 2100. De acordo com o documento, esse aumento poderia chegar a 50 centímetros em consequência da expansão térmica das águas oceânicas e também do der-retimento das geleiras e calotas polares. Dois anos mais tarde, em 2007, o IPCC aumentou a projeção em nove centímetros e lançou o sinal de perigo para as cidades costeiras.

As pesquisas divulgadas pelo IPCC afi rmam que os oceanos têm absorvido 80% do aumento da temperatura, elevação que se propaga a pro-fundidades de até 3 mil metros, e que pode ser a causa mais provável do aumento do nível do mar a uma média de 1,8 mm por ano, de 1961 a 2003, e de 3,1 mm entre 1993 e 2003.

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pATrocINADorES

Um estudo da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, detectou importantes modifi cações no nível do mar em 2010. A par-tir da análise de medições de até 50 anos, os pesquisadores puderam constatar que muitas ilhas do Oceano Índico apresentaram aumento do nível do mar. Porém é no Pacífi co que se en-contra a maior candidata à Atlântida moderna: a pequena Tuvalu, a segunda menor nação do mundo, atrás apenas do Vaticano. Formada por nove atóis e com uma população de 11 mil habitantes, o pequeno arquipélago onde não existem indústrias – e onde a geração de gases de efeito estufa é menor que em qualquer pequena cidade norte-americana – pode desaparecer sob as águas. Em 2008, o primeiro-ministro do país, Apisai Ielemia, fez um apelo na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática em nome de todos os tuvaluanos para que o mundo ajudasse o povo da ilha a não afundar com os efeitos do aquecimento global.

PARA SABER MAISLivros

As the Oceans Rise: Meeting the Challenges of Global Warming, de Chuck Tremper (Sustainable Planet, 2008)

Sites http://www.epa.gov/climatechange

http://www.ipcc.ch

pAINEL INTErGovErNAmENTAL SoBrE mUDANçAS cLImáTIcAS – Ipcc

O Painel Intergovernamental sobre Mudan-ças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) é a principal referência mundial em pesquisa sobre

temas ligados ao aquecimento global. Criada em 1988 pela Organização das Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial, a instituição reúne cientistas e especialistas do mundo inteiro. Os colaboradores do IPCC avaliam toda a literatura científi ca produzida em um determinado período sobre a mudança do clima, seus efeitos sobre a população e a economia e as medidas capazes de diminuir a emissão de gases de efeito estufa e seus impac-tos ambientais. A partir dessa análise, elabora relatórios que compilam as descobertas e lançam projeções futuras sobre as mudanças climáticas.

Até hoje, o IPCC publicou quatro relatórios. O mais recente deles foi lançado em 2007 e trouxe projeções de cenários de mudança do clima de acordo com o nível de aumento da temperatura no planeta. Entre outras coisas, o documento revelou que um aumento da tem-peratura da Terra acima de 2o C terá efeitos devastadores e com impactos sociais graves. O texto também consolidou a visão de que existe, sim, uma relação de causa-efeito entre as ações do homem e o aquecimento global, com um “grau de certeza” – termo utilizado pelo próprio IPCC – de 90%, bem superior ao do primeiro relatório, que era de 50%.

A repercussão do quarto relatório foi tão grande que a entidade acabou sendo contem-plada com o Prêmio Nobel da Paz, ao lado do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore – por seu trabalho de conscientização das co-munidades internacionais para o problema do aquecimento global. No entanto, algumas das projeções contidas no relatório arranharam a credibilidade da instituição em 2010. Uma delas, por exemplo, revelava que as geleiras do Himalaia poderiam desaparecer até 2035. Na verdade, os cientistas acreditam que o der-

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retimento só poderia ocorrer de fato em 2350. Em outra, o IPCC superestimou o risco de inundações da Holanda pelas águas do mar, confundindo a abrangência de áreas ameaçadas pelos rios Reno e Meuse. O próximo relatório do IPCC deve ser lançado entre 2012 e 2013.

PARA SABER MAISLivros

O Atlas da Mudança Climática, de Thomas Downing

e Kirstin Dow (Publifolha, 2007)

Climate Change 2007 – The Physical Science

Basis: Working Group I Contribution to the Fourth

Assessment Report of the IPCC, do Intergovernmental

Panel on Climate Change (Cambridge University

Press, 2007)

Climate Change 2007 – Impacts, Adaptation and

Vulnerability: Working Group II Contribution to

the Fourth Assessment Report of the IPCC, do

Intergovernmental Panel on Climate Change

(Cambridge University Press, 2008)

Climate Change: Signi� cance for Agriculture and

Forestry: Systems Approaches Arising from an IPCC

Meeting, editado por David H. White e S. Mark

Howden (Springer Netherlands, 2009)

Climate in Peril: a Popular Guide to the Latest IPCC

Reports, de Alex Kirby (United Nations, 2009)

Site www.ipcc.ch

pAíSES Do ANEXo I Assim são identifi cados os países desen-

volvidos e que, de acordo com o Protocolo de Quioto, têm metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. A lista compreende 40 países, mais a Comunidade Europeia.

Pelo protocolo, fi cou acertado que até 2012 todas as nações pertencentes ao Anexo I deve-riam reduzir suas emissões de gases de efeito

estufa em 5,2% com relação aos níveis de 1990. O documento também previu os meios pelos quais esses países poderiam atingir suas me-tas de redução e, além das ações de políticas públicas e regulamentações, deu a eles três mecanismos de flexibilização: o comércio de emissões, o mecanismo de desenvolvi-mento limpo e a implementação conjunta. Esse último é um mecanismo exclusivo de compensação de emissões permitido apenas entre as nações do Anexo I. Por meio desse dispositivo, uma nação desenvolvida, como a França, por exemplo, pode implementar pro-jetos que levem à redução de emissões em um outro país desenvolvido, como a Grécia, onde os custos operacionais sejam mais baixos. As reduções seriam então contabilizadas em favor da França.

Os países do Anexo I também são obriga-dos a elaborar e divulgar relatórios periódicos de emissões. As informações contidas nesses documentos ajudaram o Secretariado da Con-venção do Clima, em parceria com o Google e com o governo da Dinamarca, a criar um mapa interativo e público em que é possível visuali-zar os dados das emissões de todos os países desenvolvidos.

Os países que fazem parte do Anexo I são Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Bielo-Rússia, Bulgária, Canadá, Comunidade Europeia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Federação Russa, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, República Tcheca, Romênia, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia e Estados Unidos.

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pATrocINADorES

PARA SABER MAISLivros

Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), de Werner Grau Neto (Fiúza Editores, 2007)

IPR and Environmental Sound Technology Transfer: the Contestation between China and Annex I Countries, de Yuqing Cui (Lap Lambert Academic Publishing, 2010)

The Economics of Climate Change Mitigation: Policies and Options for Global Action beyond 2012 by OECD Organisation for Economic Co-Operation and Development (OECD, 2009)

Sites http://maps.unfccc.int/di/map

http://unfccc.int/parties_and_observers/items/2704.php

pAÍSES Do ANEXo II Essa relação de 26 países incluída na Conven-

ção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) se diferencia do Anexo I pela fi nalidade. Ao invés de metas de redução, a convenção determina que os países que fa-zem parte do Anexo II devem sair em socorro às nações em desenvolvimento, ajudando-as a implementar ações que diminuam suas emissões de gases de efeito estufa por meio de auxilio financeiro e transferência de tecnologias e contribuindo assim para o seu aprimoramento. Também faz parte de suas obrigações dar toda a assistência às nações em desenvolvimento na elaboração de seus relatórios de emissões.

Fazem parte do Anexo II todas as nações desenvolvidas da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE). São elas Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Comunidade Europeia, Dinamarca, Espanha,

Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxem-burgo, Noruega, Nova Zelândia, Holanda, Por-tugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Suécia e Suíça.

Os países não Anexo I são uma terceira categorização criada pela UNFCCC. Nessa lista aparecem todos os países em desenvolvimento. Eles não têm objetivos de redução e tampouco se espera deles que auxiliem outras nações. Mesmo assim, países que façam parte dessa lista podem agir voluntariamente, seja assumindo metas, negociando certifi cados no mercado de carbono ou mesmo transferindo tecnologias que ajudem a cortar emissões, como faz o Brasil.

PARA SABER MAISLivros

The International Climate Change Regime: a Guide to Rules, Institutions and Procedures, de Farhana Yamin e Joanna Depledge (Cambridge University Press, 2005)

Sites http://unfccc.int

http://unfccc.int/ttclear/jsp/index.jsp

pEcUárIA E o mEIo AmBIENTE Considerada a grande vilã das mudanças

climáticas no Brasil, responsável por um quarto das emissões, a atividade agropecuária pode ter sua carga de geração de gases de efeito estufa diminuída com a adoção de sistemas inteligentes e economicamente sustentáveis. Exemplo deste novo modelo é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) defendida pelo Ministério do Meio Ambiente e ensinada aos interessados por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa