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Alterações ao longo do tempo em uma comunidade de aves em área de recomposição florestal em Rio Claro, São Paulo, Brasil. Samira Athiê a *, Manoel Martins Dias Filho b a Museu da Energia Usina-Parque do Corumbataí. Rodovia Fausto Santomauro, Km 3, Distrito de Assistência, Rio Claro, São Paulo. b Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luiz, Km 235, São Carlos, São Paulo. * Autor para correspondência: +55 19 3523 4885. [email protected] Palavras chave: Brasil, Bacia do Corumbataí, avifauna, levantamento, reflorestamento. Título abreviado: Alterações em uma comunidade de aves. ABSTRACT Birds are excellent ecological indicators therefore are of great importance in studies of environmental quality monitoring, but in Brazil there are few studies that evaluate changes in community composition of birds over time, especially in areas of forest recovery. In this 1

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Page 1: Alterações ao longo do tempo na comunidade de … · Web viewRevista Brasileira de Ecologia, 1: 81-83. Santos AMR. 2004. Comunidades de aves em remanescentes florestais secundários

Alterações ao longo do tempo em uma comunidade de aves em área de

recomposição florestal em Rio Claro, São Paulo, Brasil.

Samira Athiê a *, Manoel Martins Dias Filho b

a Museu da Energia Usina-Parque do Corumbataí. Rodovia Fausto Santomauro, Km 3,

Distrito de Assistência, Rio Claro, São Paulo.

b Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos,

Rodovia Washington Luiz, Km 235, São Carlos, São Paulo.

* Autor para correspondência: +55 19 3523 4885. [email protected]

Palavras chave: Brasil, Bacia do Corumbataí, avifauna, levantamento, reflorestamento.

Título abreviado: Alterações em uma comunidade de aves.

ABSTRACT

Birds are excellent ecological indicators therefore are of great importance in studies of

environmental quality monitoring, but in Brazil there are few studies that evaluate

changes in community composition of birds over time, especially in areas of forest

recovery. In this sense, it was aimed to study the avifauna in a reforestation area located

in São Paulo State, Brazil, comparing results with those obtained in a similar study

conducted 20 years ago in the same area. For this the qualitative survey was conducted

by transect method, which allows to know the richness and community species

composition. As a result, it was observed that the less specialized guilds of insectivores

and omnivores are still more abundant, showing that the environment provides

resources primarily for birds more generalist and opportunistic. However, there was an

increase of 84 bird species in the ecosystem, which is related primarily to density,

development and structure of vegetation and the proximity of reforestation with native

forest fragment. Thus, the recovery of degraded areas was an important element in

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maintaining populations of bird species in forest fragments and to colonization by new

species.

RESUMO

As aves são excelentes indicadores ecológicos, portanto são de grande importância em

estudos de monitoramento da qualidade ambiental; no entanto, no Brasil há poucos

trabalhos que avaliam as variações na composição da comunidade de aves ao longo do

tempo, sobretudo em áreas de recomposição florestal. Neste sentido, objetivou-se o

estudo da avifauna em um reflorestamento localizado na região centro leste do Estado

de São Paulo, comparando-se os resultados com aqueles obtidos em estudo similar

realizado 20 anos atrás na mesma área. Para tal foi realizado o levantamento qualitativo,

através do método de transectos, que possibilita conhecer a riqueza e a composição de

espécies da comunidade. Como resultado, observou-se que as guildas de insetívoros

menos especializados e onívoros continuam sendo mais abundantes, demonstrando que

o ambiente fornece recursos principalmente para as aves mais generalistas e

oportunistas. No entanto, houve um acréscimo de 84 espécies de aves no ecossistema, o

que está relacionado principalmente ao adensamento, desenvolvimento e estruturação da

vegetação, bem como à proximidade do reflorestamento com um fragmento de mata

nativa. Desta forma, a recuperação de áreas degradadas se mostrou um elemento

importante para a manutenção das populações das espécies de aves presentes em

ambientes fragmentadados bem como para a colonização por novas espécies.

INTRODUÇÃO

O estudo da avifauna é de vital importância para a manutenção e preservação

ambiental (Primack & Rodrigues, 2001). Devido ao alto grau de especificidade no que

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diz respeito a território e habitat, as aves são bastante utilizadas como indicadores

ecológicos (Guzzi, 2004); sendo importantes tanto na avaliação da qualidade dos

ecossistemas como no registro e monitoramento de alterações provocadas no ambiente

(Regalado e Silva, 1997). No entanto, para o sudeste do Brasil ainda existem poucas

informações sobre alterações da comunidade de aves de áreas florestais ao longo de

intervalos de tempo (Aleixo & Vielliard, 1995; Willis & Oniki, 2002; Antunes, 2005),

principalmente em áreas de reflorestamento ou recomposição florestal, com o

crescimento e desenvolvimento da vegetação, onde são previstas modificações na

composição de espécies que de alguma forma utilizam esses locais. Neste sentido,

objetivou-se avaliar a riqueza e a composição da avifauna em um reflorestamento misto

de Rio Claro (São Paulo, Brasil), possibilitando-se a comparação dos resultados com

aqueles obtidos por Carbonari (1990) entre os anos de 1986 e 1988, em estudo realizado

na mesma área, interpretando-se as possíveis alterações na comunidade de aves.

METODOLOGIA

Localização e caracterização da área de estudo

O município de Rio Claro localiza-se na porção centro-leste do Estado de São

Paulo, entre as coordenadas geográficas 22º05’ e 22º40’S, 47º30’ e 47º55’W, a uma

altitude média de 613 m. Segundo a classificação de Köeppen, o clima da região é do

tipo “Cwa”, ou seja, tropical com duas estações definidas, sendo uma seca, de abril a

setembro, e outra chuvosa, de outubro a março. A vegetação do município encontra-se

bastante alterada. As florestas nativas (Florestas Estacionais Semideciduais) e diversas

formas de cerrado, que constituíam a vegetação primitiva, diminuíram para

aproximadamente 0.5% da área total ocupada no município, no ano de 1986. No lugar

da vegetação natural, várias formas de uso do solo se alternaram durante os anos, tendo

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destaque as áreas de pastagens, cana-de-açúcar e monoculturas florestais (Matias,

1989).

O estudo foi realizado dentro dos limites da Usina-Parque do Corumbataí

(UPC), localizada na porção sul do município de Rio Claro. A área, que possui 44 ha, é

cortada por dois cursos d’água, o Ribeirão Claro e o Rio Corumbataí, sendo

representada por um mosaico vegetacional, onde, além de um fragmento de Floresta

Estacional Semidecidual de aproximadamente 5 ha, está presente o reflorestamento

estudado. A área do reflorestamento inicialmente apresentava 11.1 ha, no qual foram

plantadas principalmente espécies nativas, em fevereiro de 1984; mais tarde, em 2001,

novos locais foram reflorestados, sendo que atualmente a área total de recomposição

apresenta aproximadamente 27 ha (Figura 1). Dentre as espécies utilizadas no

reflorestamento, encontram-se: aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius), araticum-

bravo (Guazuma ulmifolia), jabuticabeira (Myrciaria cauliflora), jurubeba (Solanum

granulosoleprosum) e açoita-cavalo (Luehea divaricata), além de algumas espécies

exóticas, como a jaqueira (Artocarpus integrifolia) e o cinamomo (Melia azedarach).

Figura 1. Foto aérea da Usina-Parque do Corumbataí. Em vermelho, estão destacadas as áreas de reflorestamento misto e, em azul, o fragmento de Floresta Estacional Semidecidual. Fonte: Google Earth, 2008.

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Procedimentos

A identificação das aves foi visual (com auxílio de binóculos 8x40 mm) e/ou

auditiva. Para tal foi consultado Sigrist (2007), e as vocalizações gravadas em

microcassete foram identificadas com auxílio de um banco de sons do site Xeno-canto

(http://www.xeno-canto.org). A nomenclatura científica segue o Comitê Brasileiro de

Registros Ornitológicos (CBRO, 2008).

Todas as espécies registradas foram agrupadas em guildas, utilizando-se para tal

sete categorias funcionais de alimentação, adaptadas de Sick (1997) e Höfling &

Camargo (1999), como segue: carnívoros, detritívoros, frugívoros, granívoros,

insetívoros, néctar-insetívoros e onívoros. A definição dos hábitos alimentares, bem

como a classificação das espécies migratórias, seguiram Willis (1979), Sick (1997) e

observações de campo.

Para o levantamento foi utilizado o método de transecto. Esse método consiste

em registrar todas as espécies encontradas no percurso de uma ou mais transecções que

cortam a área estudada, permitindo amostrar de uma vez toda a comunidade de aves,

oferecendo, portanto, possibilidades de definir a riqueza de espécies na comunidade

(Vielliard & Silva, 1990). Para o cálculo da similaridade de espécies de aves entre o

presente estudo e o levantamento realizado por Carbonari (1990), foi utilizado o Índice

de Similaridade de Jaccard. Para este índice é utilizado o número de espécies exclusivas

para cada área e o número de espécies comuns entre elas (Pozza, 2002). É dado por:

ISJ = [C/ (A + B + C)] x 100

Onde: ISJ = Índice de Similaridade de Jaccard; A = número de espécies exclusivas da

área A; B = número de espécies exclusivas da área B; C = número de espécies comuns

às áreas A e B.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 280 horas de esforço amostral, entre dezembro de 2007 e janeiro de 2009,

foram registradas 160 espécies de aves no reflorestamento (Tabela 1), enquanto

Carbonari (1990) diagnosticou 76.

Tabela 1. Espécies de aves registradas no reflorestamento misto de Rio Claro, Estado de São Paulo, seguidas pelos nomes populares e guildas alimentares.

Espécies Nomes populares GuildasTinamidaeCrypturellus tataupa inhambu-chintã FRUAnatidaeDendrocygna viduata irerê ONICairina moschata pato-do-mato ONIAmazonetta brasilianus pé-vermelho ONIPhalacrocoracidaePhalacrocorax brasilianus biguá CARAnhingidaeAnhinga anhinga biguatinga CARArdeidaeTigrisoma lineatum socó-boi CARNycticorax nycticorax savacu CARArdea cocoi garça-moura CARArdea alba garça-branca-grande CARSyrigma sibilatrix maria-faceira INSPilherodius pileatus garça-real CAREgretta thula garça-branca-pequena CARThreskiornitidaeMesembrinibis cayennensis coró-coró ONIPlatalea ajaja colhereiro CARCiconiidaeMycteria americana cabeça-seca CARCathartidaeCoragyps atratus urubu-de-cabeça-preta DETAccipitridaeElanus leucurus gavião-peneira CARAccipiter striatus gavião-miúdo CARHeterospizias meridionalis gavião-caboclo CARRupornis magnirostris gavião-carijó CARFalconidaeCaracara plancus caracará CARMilvago chimachima carrapateiro ONIMicrastur semitorquatus falcão-relógio CARRallidaeAramides cajanea saracura-três-potes ONIAramides saracura saracura-do-mato ONICariamidaeCariama cristata seriema CARCharadriidaeVanellus chilensis quero-quero CAR

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Espécies Nomes populares GuildasRecurvirostridaeHimantopus melanurusM pernilongo-de-costas-brancas CARJacanidaeJacana jacana jaçanã ONIColumbidaeColumbina talpacoti rolinha-roxa GRAColumbina squammata fogo-apagou GRAColumba livia pombo-doméstico GRAPatagioenas picazuro pombão FRUPatagioenas cayennensis pomba-galega FRUZenaida auriculata pomba-de-bando GRALeptotila verreauxi juriti-pupu FRULeptotila rufaxila juriti-gemedeira FRUPsittacidaeAratinga leucophthalma periquito-maracanã FRUForpus xanthopterygius tuim ONIBrotogeris chiriri periquito-de-encontro-amarelo FRUPionus maximiliani maitaca-verde FRUCuculidaePiaya cayana alma-de-gato INSCrotophaga ani anu-preto INSGuira guira anu-branco INSTapera naevia saci INSApodidaeChaetura meridionalis M andorinhão-do-temporal INSTrochilidaePhaetornis petrei rabo-branco-acanelado NECEupetomena macroura beija-flor-tesoura NECAphantocroa cirrochloris beija-flor-cinza NECFlorisuga fusca beija-flor-preto NECAnthracothorax nigricolis beija-flor-de-veste-preta NECChlorostilbon lucidus besourinho-de-bico-vermelho NECThalurania glaucopis beija-flor-de-fronte-violeta NECAmazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca NECAmazilia lactea beija-flor-de-peito-azul NECAlcedinidaeMegaceryle torquata martim-pescador-grande CARChloroceryle amazona martim-pescador-verde CARChloroceryle americana martim-pescador-pequeno CARGalbulidaeGalbula ruficauda ariramba-de-cauda-ruiva INSRamphastidaeRamphastos toco tucanuçu ONIPicidaePicumnus albosquamatus pica-pau-anão-escamado INSMelanerpes candidus pica-pau-branco INSVeniliornis passerinus picapauzinho-anão INSColaptes melanochloros pica-pau-verde-barrado INSColaptes campestris pica-pau-do-campo INSDryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca INSThamnophilidaeMackenziaena severa borralhara INSTaraba major choró-boi INS

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Espécies Nomes populares GuildasThamnophilus doliatus choca-barrada INSThamnophilus ruficapillus choca-de-chapéu-vermelho INSThamnophilus caerulescens choca-da-mata INSDysithamnus mentalis choquinha-lisa INSDrymophila ferruginea trovoada INSPyriglena leucoptera papa-taoca-do-sul INSConopophagidaeConopophaga lineata chupa-dente INSDendrocolaptidaeSittasomus griseicapillus arapaçu-verde INSLepidocolaptes angustirostris arapaçu-de-cerrado INSFurnariidaeFurnarius rufus joão-de-barro INSSynallaxis ruficapilla pichororé INSSynallaxis frontalis petrim INSSynallaxis spixi joão-teneném INSCranioleuca vulpina arredio-do-rio INSCerthiaxis cinnamomeus curutié INSPhacellodomus ferrugineigula joão-botina-do-brejo INSAutomolus leucophthalmus barranqueiro-de-olho-branco INSLochmias nematura joão-porca INSXenops rutilans bico-virado-carijó INSTyrannidaeLeptopogon amaurocephalus cabeçudo INSCorythopis delalandi estalador INSMyiornis auricularis miudinho INSTodirostrum poliocephalum teque-teque INSTodirostrum cinereum ferreirinho-relógio INSMyiopagis viridicata M guaracava-de-crista-alaranjada INSElaenia flavogaster guaracava-de-barriga-amarela ONIElaenia spectabilis M guaracava-grande ONIElaenia parvirostris M guaracava-de-bico-curto ONIElaenia chiriquensis chibum ONICamptostoma obsoletum risadinha ONISerpophaga subcristata alegrinho INSCapsiempis flaveola marianinha-amarela INSTolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta INSPlatyrinchus mystaceus patinho INSMyiophobus fasciatus filipe INSLathrotriccus euleri enferrujado INSCnemotriccus fuscatus guaracavuçu INSContopus cinereu papa-moscas-cinzento INSSatrapa icterophrys M suiriri-pequeno INSFluvicola nengeta lavadeira-mascarada INSArundinicola leucocephala freirinha INSColonia colonus viuvinha INSMachetornis rixosa suiriri-cavaleiro INSMyiozetetes similis bentevizinho-de-penacho-vermelho ONIPitangus sulphuratus bem-te-vi ONIMyiodynastes maculatus M bem-te-vi-rajado ONIMegarhynchus pitangua neinei ONIEmpidonomus varius M peitica ONITyrannus melancholicus suiriri INS

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Espécies Nomes populares GuildasTyrannus savana M tesourinha INSMyiarchus ferox maria-cavaleira INSMyiarchus tyrannulus maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado INSTityridaeTityra cayana anambé-branco-de-rabo-preto FRUPachyramphus polychopterus caneleiro-preto INSVireonidaeCyclarhis gujanenis pitiguari INSVireo olivaceus M juruviara ONICorvidaeCyanocorax cristatellus gralha-do-campo ONIHirundinidaePygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena-de-casa INSStelgidopteryx ruficollis andorinha-serradora INSProgne tapera andorinha-do-campo INSProgne chalybea andorinha-doméstica-grande INSTachycineta leucorrhoa andorinha-de-sobre-branco INSTroglodytidaeTroglodytes musculus corruíra INSTurdidaeTurdus rufiventris sabiá-laranjeira ONITurdus leucomelas sabiá-barranco ONITurdus amaurochalinus sabiá-poca ONIMimidaeMimus saturninus sabiá-do-campo ONICoerebidaeCoereba flaveola cambacica ONIThraupidaeSchistochlamys ruficapillus bico-de-veludo ONINemosia pileata saíra-chapéu-preto ONIThlypopsis sordida saíra-canário ONITrichothraupis melanops tiê-de-topete ONIHabia rubica tiê-do-mato-grosso ONITachyphonus coronatus tiê-preto ONIRamphocelus carbo pipira-vermelha ONIThraupis sayaca sanhaçu-cinzento ONIThraupis palmarum sanhaçu-do-coqueiro ONITangara cayana saíra-amarela ONIDacnis cayana saí-azul ONIConirostrum speciosum figuinha-de-rabo-castanho INSEmberizidaeZonotrichia capensis tico-tico GRAEmberizoides herbicola canário-do-campo GRAVolatinia jacarina tiziu GRASporophila lineola bigodinho GRASporophila caerulescens coleirinho GRAArremon flavirostris tico-tico-de-bico-amarelo GRACardinalidaeSaltator similis trinca-ferro-verdadeiro ONIParulidaeParula pitiayumi mariquita INSGeothlypis aequinoctialis pia-cobra INSBasileuterus hypoleucus pula-pula-de-barriga-branca INS

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Espécies Nomes populares GuildasBasileuterus flaveolus canário-da-mata INSIcteridaeIcterus cayanensis encontro ONIGnorimopsar chopi graúna ONIChrysomus ruficapillus garibaldi ONIMolothrus bonariensis vira-bosta ONIFringillidaeEuphonia chlorotica fim-fim ONIEuphonia violacea gaturamo-verdadeiro ONIEuphonia cyanocephalaM gaturamo-rei ONI

*Guildas: CAR=carnívoro; DET=detritívoro; FRU=frugívoro; GRA=granívoro; INS=insetívoro; NEC= néctar-insetívoro; ONI=onívoro; M Indica espécie migratória.

Confrontando-se a listagem da avifauna com aquela obtida por Carbonari

(1990), a similaridade entre a comunidade atual e a observada 30 anos atrás é de apenas

33.91%, isto porque, quando o levantamento anterior foi realizado, o reflorestamento

ainda se encontrava em estágio inicial de desenvolvimento, com predomínio de

vegetação de pequeno porte, comportando principalmente espécies de aves comuns em

áreas abertas. Segundo Twedt & Cooper (2005), as áreas de recuperação são muitas

vezes dominadas por gramíneas e herbáceas por até uma década após o plantio. Com o

desenvolvimento da vegetação lenhosa, aumenta a estruturação vertical, o que

possibilita a ocupação gradual por espécies de aves presentes nos ecossistemas

florestais.

O menor número de diagnósticos de espécies ocorreu em março (n=73) e,

enquanto o maior número ocorreu no mês de novembro (n=98), como mostra a figura 2.

Não foi observado um padrão sazonal bem definido no número de espécies

diagnosticadas ao longo do ano, havendo variações dentro de todas as estações, no

entanto houve um sensível aumento na riqueza de espécies nos períodos pré-reprodutivo

e reprodutivo (outubro e novembro), o que se deve à maior atividade das aves nessa

época, tornando-as mais conspícuas e à presença de espécies migratórias, de acordo com

Aleixo e Vielliard (1995).

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Meses

Núm

ero

de E

spéc

ies

Figura 2. Variação temporal no número de espécies registradas ao longo do período de estudo.

As famílias mais representativas foram Tyrannidae, Thraupidae e Furnariidae,

com respectivamente 32 (20.0%), 11 (6.9%) e 9 (5.6%) espécies. No estudo de

Carbonari (1990), as famílias mais representativas foram, respectivamente, Tyrannidae

(n=14), Thraupidae (n=7), Trochilidae e Emberizidae (n=6). A maior representatividade

da família Tyrannidae é comum em estudos sobre aves terrestres no Brasil, já que

compreende mais de 18% dos Passeriformes na América do Sul, correspondendo à

maior família de aves do hemisfério ocidental. É também notável a grande plasticidade

dessa família, cujas espécies habitam diferentes tipos de paisagens e ocupam todos os

estratos das matas (Sick, 1997). Foram registradas tanto espécies de tiranídeos típicas de

formações abertas (por exemplo: Myiozetetes similis, Pitangus sulphuratus, Tyrannus

melancholicus) como de ambientes florestais (Myiornis auricularis, Platyrinchus

mystaceus, Leptopogon amaurocephalus, dentre outros).

A distribuição das espécies em guildas alimentares se mostrou próxima ao

estudo realizado por Carbonari (1990): os insetívoros corresponderam à guilda mais

representativa, seguida dos onívoros. Os detritívoros e néctar-insetívoros foram menos

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freqüentes, enquanto Carbonari (1990) observou uma menor representatividade dos

frugívoros, além dos detritívoros (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição percentual das espécies de aves do reflorestamento misto em guildas alimentares.

Local Referência Guildas* (%)CAR DET FRU GRA INS NEC ONI

Reflorestamento Presente estudo 13.1 0.7 5.6 5.6 41.9 5.0 28.1Carbonari (1990) 4.0 1.3 1.3 13.3 41.3 8.0 30.7

*Guildas: CAR=carnívoro; DET=detritívoro; FRU=frugívoro; GRA=granívoro; INS=insetívoro; NEC= néctar-insetívoro; ONI=onívoro.

O predomínio das guildas de insetívoros e onívoros tem sido observado com

freqüência nos estudos realizados em áreas impactadas, representadas principalmente

por espécies de hábitos generalistas (Aleixo & Vielliard, 1995; D’Angelo Neto et al.,

1998; Pozza, 2001; Santos, 2004; Piratelli et al., 2005). Os "pequenos insetívoros de

borda" e "pequenos onívoros" são característicos de ambientes em estágios iniciais de

sucessão, de matas pequenas demais, degradadas ou que sofrem intensa ação de

caçadores furtivos (Willis, 1979; Aleixo e Vielliard, 1995), devido a esses hábitos

alimentares funcionarem como “tampões” contra as flutuações no suprimento alimentar

em áreas que restringem a ocorrência de frugívoros e néctar-insetívoros, além dos

insetívoros mais especializados (Willis, 1979).

Os insetívoros de solo, emaranhados e taquarais são as espécies menos aptas a

cruzar áreas abertas (Willis, 1979), porém, algumas delas foram diagnosticadas com

freqüência na área, como Mackenziaena severa, Conopophaga lineata, Synallaxis

ruficapilla, Todirostrum poliocephalum e Basileuterus flaveolus, as quais estavam

presentes vinte anos atrás na Usina-Parque do Corumbataí, porém apenas no fragmento

florestal de 5 ha (Carbonari, 1990), e até então não se extingüiram localmente. Essas

espécies, dentre outras que apresentam dificuldade de atravessar matrizes contrastantes,

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colonizaram o reflorestamento misto, adjacente ao fragmento, fato que pode ser

explicado pela grande proximidade entre os dois ecossistemas e pela permeabilidade da

breve matriz que os separa, a qual é bastante arborizada. A ocupação de novos nichos

no reflorestamento se mostra bastante positiva no sentido de manutenção das

populações dessas e de outras espécies mais sensíveis à exposição a áreas abertas e que

ainda não haviam sido extintas do fragmento florestal. Além das espécies supracitadas,

insetívoros de solo não diagnosticados por Carbonari (1990) foram registrados na área

de estudo: Pyriglena leucoptera, Lochmias nematura e Corythopis delalandi.

CONCLUSÕES

A recuperação de áreas degradadas se mostrou um elemento importante para a

manutenção das populações das espécies de aves presentes em áreas fragmentadas bem

como para a colonização por novas espécies, com o desenvolvimento e estratificação da

vegetação. Portanto, é uma medida que pode contribuir para reduzir o contraste

existente entre fragmentos e suas matrizes, facilitando o deslocamento das aves ao

longo da paisagem.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade

Federal de São Carlos; ao CNPq pela bolsa de Mestrado concedida à primeira autora. À

Fundação Patrimônio Histórico da Energia e Saneamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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