ainda que sejamos infiéis

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Este livro é um romance, baseado em histórias reais, editado em 2003, onde foram colocadas varias situações como, adulterio, mentiras, roubo, em um ambiente religioso, onde a cada página podemos descobrir as consequencias na vida daqueles que servem realmente a Deus e dos que buscam seus próprios interesses.

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Se somos infiis, Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo. (II Timteo 2 :13)

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Copyright 2003 - by Roberto da Silva Rodrigues Nenhuma parte dessa obra poder ser reproduzida, guardada pelo sistema retrieval ou transferida de qualquer modo ou qualquer outro meio, seja este eletrnico, mecnico, de fotocpia, de gravao ou outros sem prvia autorizao do autor. Capa: Vicente ngelo Ferreira. Reviso: Valmir Galdino Paes da Silva Mauro Slvio Barbosa de Melo MTE/AL - 325 E-mail: [email protected] Impresso: Grfica e Editora Impacto CNPJ: Insc. Est: Endereo: Fone: FICHA CATALOGRFICA RODRIGUES, Roberto da Silva. Ainda que sejamos infiis. Roberto da Silva Rodrigues. Editora impacto, Macei(AL), 2003. xi,176 pg. Dimenso 13x22cm. I - Literatura alagoana. II - Literatura brasileira. III Romance evanglico. IV Ttulo.Direitos de publicao exclusivos do Autor, que se reserva propriedade dessa obra.

IMPRESSO NO BRASIL 2

DEDICATRIA

s memrias de Alzira Rodrigues de Melo, que me ensinou sobre a fidelidade de Deus e do Evangelista Tefilo Bezerra de Melo, que me mostrou como se edifica a casa sobre a Rocha.

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Para apresentar a verdade de Cristo, o Senhor, usaram os profetas de metforas profundas; tambm nas obras dos apstolos, eis a mesma verdade. E palavras sensatas Timteo foi aconselhado a usar. Assim como a recusar as fbulas. Mas Paulo, em nenhum lugar, probe o uso de parbolas, nas quais escondem o ouro, as preciosas pedras e prolas que minerar valem a pena, e com cuidado. As escrituras, em muitos lugares, tm semelhanas nos mtodos, posso us-los sem esconder os ureos raios da verdade, to claros como a luz do dia. Joo Bunyan.

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I

- Poderia fazer este caminho de olhos fechados. Disse o pastor Lucas, enquanto dirigia o carro em direo igreja naquela manh de domingo. H nove anos que fazia aquele mesmo percurso, quase todos os dias. Pensou em como tinha uma vida tranqila e equilibrada. Os filhos, Lvia e Lucas Jnior, no banco de trs, brincavam com o cinto de segurana, enquanto Rute, sua esposa, revisava o assunto que seria estudado na classe das senhoras, na escola dominical. Dez minutos depois e avistava-se uma praa, com algumas rvores e um playground, uma entrada esquerda e l estava a Igreja Evanglica Redeno. Era uma igreja simples, porm bastante organizada, com uma porta central de madeira; suas paredes eram pintadas com uma cor discreta; ao lado, ficava a praa e pelas janelas podia-se ver parte dela. O interior do templo era pintado de branco; os assentos, em sua maioria eram antigos bancos de madeira. Todavia, foram colocadas vrias cadeiras para que todos pudessem se sentar no domingo noite. Havia tambm, na frente, do lado direito, alguns instrumentos musicais que eram tocados pelo grupo jovem. A igreja tinha pouco mais de 25 anos de existncia. Contudo, exercia uma grande influncia na

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regio. Possua uma freqncia mdia de 400 pessoas no domingo, no culto noturno. Parou o carro em frente igreja, Rute foi a primeira a descer. Em seguida, os filhos, que foram correndo encontrar-se com os colegas. Ento fechou os olhos, respirou fundo, estava pronto para mais um dia de trabalho; desceu do carro, trancou-o, fez a volta, segurou a mo de Rute e caminharam em direo a alguns irmos que estavam entrada. Parou em frente a uma senhora de pele morena e cabelos grisalhos e disse: - Bom-dia irm Elza, as salas j esto prontas? - Sim Pr. Lucas, seu gabinete tambm j est limpo. - timo, ento vamos todos entrar, j estamos atrasados. Pela manh, o encontro comeava s 9h00, algumas msicas, uma orao e dividia-se em classes, onde ficavam at s 11h00. As classes eram divididas por idades: berrio, crianas I e II, adolescentes, jovens, homens, mulheres e novos convertidos. Ele ensinava a classe dos novos convertidos. Gostava desta classe, pois participava decisivamente na formao do conhecimento religioso das pessoas que se convertiam. Parou em frente aos alunos que aguardavam-no atentos, abriu a Bblia e disse: - Hoje vamos conversar sobre o pecado. Como todos sabem, se algum tiver alguma dvida s levantar a mo e perguntar que eu responderei. No gosto que saiam daqui com dvidas. Ento, vamos comear: o pecado que separa o homem de Deus, uma vez que Deus Santo e o pecado cria um grande abismo, entre o homem e Deus. Este abismo s pode ser atravessado atravs de Jesus, que cria uma ponte; transpondo-se este 8

grande abismo e esta ponte, temos a redeno. A atitude, em vir igreja e aceitar a Jesus, fez com que vocs participassem da redeno, juntamente, com os que se converteram em todo mundo. Fazemos parte de uma grande famlia, de um grande corpo, o corpo de Cristo que a igreja. Levantou os olhos e percebeu que algum acenava querendo fazer uma pergunta. - Pastor, o senhor disse que o pecado nos separa de Deus e Jesus nos une quando o aceitamos. Mas o que acontece quando ns pecamos depois de convertidos? - Essa fcil! A cada pecado precisamos nos arrepender para obter o perdo de Deus e mantermos a comunho com Ele. Para confirmar isto, vamos ler a 1 carta de Joo, no Novo Testamento, l no finalzinho da Bblia. Todos encontraram? Primeiro captulo, versculo oito est escrito: Se dissermos que no temos pecado nenhum a ns mesmo nos enganamos, e a verdade no est em ns. Se confessarmos os nossos pecados Ele fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustia. Tudo que temos de fazer quando pecamos nos arrepender e confessar o pecado a Deus que nos purifica imediatamente. - Pr. Lucas - perguntou novamente o irmo - se to fcil assim, ento podemos pecar vontade e nos arrepender, logo depois estaremos em paz com Deus! - Cuidado rapaz, no bem assim. Aquele que se converte de verdade no gosta de pecar; no se sente bem com o pecado, entretanto, sente-se bem com a presena do Esprito Santo em sua vida e o prprio Esprito lhe d a capacidade de vencer as tentaes que surgirem no dia a dia, pois, ningum tentado alm da sua fora, conforme 1 corntios 10:13.

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Como gosto dessas aulas!... Pensou ele. Responder quelas perguntas dava-lhe uma segurana maior da sua vocao; a certeza de que tinha escolhido a profisso certa. Tambm gostava do fato de que os novos convertidos no tinham adquirido ainda o conhecimento teolgico; no tinham lido a Bblia o suficiente para poder questionar os mistrios que ela contm, mistrios estes que ele no se preocupava, achando no interessar aos membros da igreja. Eram coisas que se aprende no seminrio e depois ficam guardadas na biblioteca, somente voltando a us-lo quando participava de congressos e encontros de pastores que queriam sempre exibir seus conhecimentos. O que importava era ensinarlhes a ser bons cristos e isto j era o suficiente. Poderiam viver tranqilamente at a hora de encontrarem Jesus no cu. Agora, fazendo o caminho de volta para casa, tinha toda a programao do dia decorada: chegar em casa, tomar banho enquanto Rute prepara o almoo; tarde, todos vo dormir, enquanto ele vai preparar a mensagem da noite. Um domingo comum, como tantos outros que j existiram em sua vida e como ele desejava que existissem por muito tempo. noite, sempre chegava pelo menos meia-hora antes do incio. Um abrao aqui, uma risada ali, e se podia ter um panorama das pessoas que visitavam e, tambm, das que faltavam. - Pastor, pastor, venha at aqui! - gritou uma jovem que estava com um pequeno grupo um pouco mais afastado da entrada principal. Ele se aproximava quando ela dizia: - Eu quero lhe apresentar a Karla, ela estuda comigo na faculdade e veio nos fazer uma visita. 10

Karla era uma moa muito bonita. Cabelos pretos at altura dos ombros, tinha pouco mais de 1,60cm. Todavia, com uma sensualidade desejvel, olhos negros e brilhantes; seu rosto era delicado, ainda com feies infantis, mas que, olhando-se bem, podia se notar um pouco de malcia naquele sorriso infantil e naqueles olhos vivos. - Seja bem-vinda Karla, quero que saiba que voc no veio aqui por acaso, Deus tem um plano especial para voc nesta noite. Cabe a voc aceitar o que Deus tem para dar-lhe, - disse o Pr. Lucas enquanto lhe apertava a mo. Ela agradeceu com um sorriso discreto e tmido. Eram 19h55 quando comearam a tocar os instrumentos musicais; todos entraram para o incio da reunio. Msica, orao, leitura bblica, orao, apresentaes especiais, avisos, msicas, dzimos, algumas msicas suaves e inicia-se a mensagem evangelstica que dura cerca de 30 minutos. Aps a pregao, Pr. Lucas pede para todos ficarem de p, fecharem os olhos num momento de extrema importncia. Abre os olhos para sondar o ambiente e v que todos atenderam sua solicitao. Aguarda um pouco enquanto os msicos tocam uma melodia branda, que inspira descanso e paz; logo aps, concentra-se e comea fazer o apelo: - Na mensagem, ns ouvimos que Deus amou o mundo de uma maneira to grande que deu seu filho. Para qu? Simplesmente para morrer e depois poder ressuscit-lo, mostrando ser poderoso? No! Ele, Jesus, morreu para que, atravs da sua morte, todos pudessem obter a salvao. Voc pode ser salvo, basta que queira esta salvao. E, para fazer isto, s precisa tomar uma 11

atitude, uma deciso perante todos. Venha at aqui, venha como est, hoje o dia, esta a hora, voc no veio aqui por acaso, mas foi guiado at aqui pelo Esprito Santo para este momento, porm a deciso , unicamente, sua. Enquanto falava, olhava diretamente para a jovem universitria que estava em um dos ltimos assentos. Percebeu que ela estava inquieta. Ele insistia. Duas outras pessoas saram de seus lugares e vieram frente, cabisbaixos. Insistiu mais um pouco, pois sabia que ela viria frente. Havia prestado ateno mensagem, mesmo com as constantes interferncias de sua colega, que ficava tentando conversar durante a pregao. - Vou chamar pela ltima vez, porm, lembrese, ningum pode prever o futuro, ningum sabe o dia de amanh; se estar morto ou vivo. Por isso devemos aproveitar as oportunidades que nos so apresentadas agora. Cristo chama-te, no endurea seu corao, entregue-se a Ele e receba de Deus a paz que excede a todo entendimento. Voc s tem esta chance, amanh, realmente, pode ser muito tarde. Parou, baixou a cabea para terminar o apelo, quando percebeu uma movimentao na igreja. Viu que ela se movimentava para vir frente, abriu um sorriso, olhou para o lado e fez sinal para que os msicos comeassem a tocar e a cantar. Como de costume, retirou o microfone do pedestal e desceu para abraar todos que ali vieram. - H uma festa no cu por estas vidas que hoje se entregaram ao Senhor; e da mesma forma, ns tambm estamos alegres por cada alma que se salva.

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Terminada a reunio, os que foram frente, aguardavam enquanto Rute anotava os nomes e os endereos. As outras pessoas dirigiam-se entrada da igreja, onde ficavam longos perodos comentando os acontecimentos do dia. Ele, Pr. Lucas, cumprimentando a todos, chegou a um grupo de rapazes que comentavam: - Viram como bonita aquela moa que se converteu? - Oh! E como vi. Quem ela? - Eu sei quem (disse um deles). Seu nome Karla, e estuda com a Cris. Ela tem um jeitinho meigo de falar. Parece uma menininha, no Pr. Lucas? - Rapazes, eu no olho para estas coisas. Procuro ver como Deus ver, o corao. E alm do mais, j tenho uma linda mulher para quem olhar. - Tudo bem, o senhor j tem a sua, mas que ela bonita, isso , e ns estamos solteiros, - completou o rapaz, enquanto o Pr. Lucas afastava-se para um outro grupo formado por homens.

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II

Karla sentia-se muito prestigiada com toda aquela ateno que lhe davam. Ao tempo em que a irm Rute preenchia sua ficha, vrias pessoas chegaram at Karla para parabeniz-la, como se estivesse aniversariando naquele dia. Assim que respondeu todas as perguntas feitas por Rute, foi at porta onde se encontrou com Cris e ficaram conversando. Alguns jovens aproximaram-se e um deles, com um grande sorriso no rosto, disse: - Todos estamos muito felizes por voc ter se convertido Karla; e quero lhe dizer que se precisar de alguma coisa, se tiver alguma dvida, pode me procurar. Devemos sempre ajudar aqueles que esto iniciando na f. - Se eu soubesse que era um ambiente to feliz disse Karla, - teria me convertido bem antes. - Mas eu sempre te convidei, desde que comeamos a estudar juntas, voc que nunca quis vir disse Cris, abraando a amiga. Ficaram conversando por algum tempo e depois foram levar Karla ao ponto de nibus, onde pegou o transporte para casa. Ao chegar em casa, Karla abriu a porta lentamente e sua me estava sentada ao sof assistindo TV. Enquanto trancava a porta, sua me lhe disse: 15

- Seu namorado ligou. - E a senhora falou que eu fui igreja? Perguntou Karla, sentando-se ao lado da me. - Eu no! - disse ela. - At parece que iria acreditar se eu dissesse que voc deixou de sair com ele para ir visitar uma igreja de crente. Eu disse que saiu e pronto. Se ele quiser saber aonde foi, que pergunte depois. Ficaram em silncio por alguns instantes, ao passo que Karla tirava os sapatos e afrouxava a roupa. Com um certo desdm, sua me pergunta: - E l, como foi? Karla vira-se em direo a ela e, bastante empolgada, diz: - Me, a senhora no vai acreditar, a igreja tima. Assim que cheguei fui muito bem recebida, todos vieram falar comigo, so pessoas muito simpticas. Quando comeou a reunio fiquei um pouco entediada, pensei que seria uma monotonia daquelas; mas comearam as msicas e foi a que me soltei. Eles tm todo tipo de instrumentos musicais: guitarras, baterias, saxofone e outros mais. As msicas so bastante animadas; as que so lentas tambm so bonitas; parece que nos colocam mais perto do cu. E depois foi a vez do pastor falar. Como fala bem aquele homem! - E ele, como ? - interrompeu a me. - Quando a senhora o conhecer tenho certeza que vai gostar dele-, continuou Karla. Ele um coroa muito bonito, no como estes quarentes que se vem por a, barrigudo e mal tratado. Ele alto, de ombros largos, barba bem frisada com alguns cabelos grisalhos, mas que do um certo charme.

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- E ele solteiro? - interrompe novamente a me. - No. casado. E a esposa dele, a irm Rute, uma pessoa muito legal. Ns conversamos um pouco enquanto ela preenchia minha ficha. - Que ficha? - pergunta a me surpresa. - Bem... - diz Karla procurando as palavras. Esta foi outra coisa interessante que aconteceu. Quando o pastor comeou a falar, de certa forma, aquelas palavras tocaram-me e eu senti como se ele falasse diretamente para mim. Aquilo que ele dizia era a realidade do meu interior e quando ele chamou para ir frente aqueles que queriam receber Jesus eu fui. - Poupe-me Karla! - disse sua me furiosa. Voc sai daqui para ir visitar uma igreja e cai na lbia de um pastor, pensei que fosse mais esperta. Karla, para justificar-se diz: - Mas me, tudo o que ele disse tinha a ver comigo, tocou-me no fundo da alma. - Karla, minha filha, tudo isso eles treinam para poder enganar as pessoas bestas como voc e, quando menos esperar, estar vendendo at suas roupas para dar dinheiro ao pastor. - No, me. - defende-se Karla. L no assim Eu nem os vi falarem em dinheiro; so pessoas que querem simplesmente um lugar para se encontrar, cantar algumas msicas e ouvir uma palavra do pastor. - Do jeito que est falando parece que j comearam a fazer uma lavagem cerebral em voc. - No teve nada de lavagem cerebral, eu fui, gostei, e resolvi participar por um tempo. No dia que no quiser mais, eu saio.

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- Voc quem sabe... - respondeu a me. - J est bastante crescidinha para tomar suas prprias decises; s espero que no traga nenhum problema para dentro de casa. - No se preocupe me, a senhora sabe que quando uma coisa no d para mim eu caio fora, logo. Beijou a me, levantou-se e foi deitar.

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III

Quarta-feira, para ele, Pr. Lucas, era o dia mais cansativo; passava o dia na igreja, era o dia do aconselhamento pastoral. Chegava s 8h00 da manh e s 12h00 ia para casa almoar e retornava s 13h00, ficando at noite para a reunio de orao. Fazendo assim, estava disponvel em qualquer horrio para as pessoas que quisessem procur-lo para o aconselhamento. s 18h00, quando ele terminava de atender um irmo, ao sair do gabinete, viu que Karla o aguardava. J fazia dois meses que ela havia se convertido, mas era a primeira vez que o procurava para aconselhamento. - Karla, por que no me avisou que estava a? Eu teria terminado mais cedo para lhe atender. - Tudo bem, eu venho da faculdade e no pretendo voltar para casa, pois no d tempo de ir e voltar para reunio de orao, por isso, vim agora, sei que o senhor tambm fica direto. Eles se despediram do irmo e entraram no gabinete e ele comeou dizendo: - Vamos orar para que Deus direcione tudo o que for dito aqui. Estendeu a mo, fechou os olhos e disse: - Senhor, ns te pedimos que o teu Esprito direcione esta conversa para que possamos tirar de nossas vidas aquilo que tem atrapalhado a comunho contigo. 19

Desde j, agradecemos-te em nome de Jesus, amm. Ento Karla, conte-me qual o motivo que trouxe voc at aqui? - Bem... - comeou ela. - primeiro eu queria saber o que fazer em relao a minha me, pois desde que eu comecei a freqentar a igreja ela no me deixa em paz. Diz que no h ningum na nossa famlia que crente, que j temos uma tradio religiosa na famlia e no precisamos mudar. s vezes, at tenta proibir que eu venha, vive dizendo que o pastor s quer roubar o meu dinheiro, ou ento, que eu sou muito jovem para viver entocada dentro de uma igreja, sustentando que devo aproveitar a vida enquanto sou jovem e bonita, e quando ficar velha, se eu quiser, procuro uma igreja. - Olha Karla, isso so coisas comuns que acontecem quando passamos a fazer parte de uma igreja. As pessoas no entendem o momento de nossa conversso e a maioria delas nem se esfora para entender. Na verdade, voc precisa ter pacincia, a pacincia uma qualidade, um fruto, que vem do Esprito e s desenvolvida medida que confiamos em Deus. No brigue com sua me, escute-a e depois tente mostrar os seus motivos para que entenda e aceite calmamente. Isto no acontece do dia para noite, mas o mais importante que voc comece a mostrar com os seus atos que a igreja esta lhe fazendo bem, ou melhor, est fazendo bem para as duas. Tente fazer ela enxergar que uma nova pessoa, nascida de novo e, com certeza, ela vai perceber: esta mudana que ocorreu em voc a mudana que ela tambm precisa. - , realmente, eu preciso ter mais calma com minha me. - disse Karla, com os olhos cheios de lgrimas. - O problema que, no espao de dois meses de 20

convertida, tem sido muito difcil; so atitudes que eu tenho que tomar que muitas vezes no concordo; no consigo ouvir e ficar calada quando sei que estou com a razo, e neste caso, sei que estou certa. Pois, durante estes meses, eu senti uma segurana que nunca havia sentido em minha vida; cada vez que venho igreja e ouo suas palavras, tenho a certeza de que posso vencer todas as barreiras que a vida me colocar. Ele ouvia as palavras que ela pronunciava, porm tinha a mente vagando em pensamentos diversos. J estava acostumado com estas conversas; tinha as respostas na ponta da lngua. Enquanto ela falava, ele passou a observar seus movimentos, seus gestos, seu cabelo caindo constantemente sobre o rosto e que ela retirava, com um movimento rpido, mas que envolvia todo o corpo. Os olhos negros e penetrantes que combinavam perfeitamente com a face, criando uma expresso infantil em um rosto adulto; Karla expressava uma pureza e uma simplicidade que Pr. Lucas nunca tinha observado em outra mulher, e que, de certa forma, chamavam sua ateno. - Pr. Lucas - interrompeu ela, - o senhor parece to distante! - s um pouco de cansao, mas eu ouvi tudo o que disse. Voc est no caminho certo. Como eu j falei, a pacincia um fruto do Esprito que todos ns devemos ter. Com o tempo tudo se resolve. s continuar perseverando na f que sua me perceber que Cristo vive em voc e, com certeza, ela tambm vai querer receber a paz. - Bem, agora eu queria tirar algumas dvidas em relao a fazer parte da igreja. - disse Karla, mudando de assunto. 21

- Vamos l, diga suas dvidas. - S pode fazer parte do grupo de msica quem batizado? - Karla, grupo de msica, assim como qualquer outro grupo da igreja, s pode fazer parte quem membro, e s membro quem passa pelo batismo. Mas voc no est fazendo o curso de novos convertidos? Logo chegar o seu dia de ser batizada! - E se tiver alguma coisa que a igreja seja contra e eu no consiga deixar de fazer? - Se a igreja for contra porque o melhor para voc. Por isso eu estou aqui, para ajudar a superar suas dificuldades. - O problema o meu namorado, ele tambm no gosta que eu freqente a igreja. - No sabia que voc tinha um namorado! Disse ele surpreso. - Tenho sim, ele faz o mesmo curso que eu. - E em que a sua participao na igreja atrapalha o seu namoro? - Em tudo! No podemos mais sair para shous, bares, boates, etc. - Karla, realmente estas coisas no fazem parte de uma vida crist, e se voc as pratica, no ter um bom testemunho diante da igreja e das pessoas que vivem ao seu redor. Porm como j falamos antes, tudo isso um processo e voc vai se livrando das coisas do mundo aos poucos, com pacincia e determinao. - Outra coisa que me preocupa que ele disse me que teve uma namorada que era evanglica e ela no transava com ele porque a igreja no permitia. Nesta situao, eu teria que escolher entre a igreja ou ele; e o

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senhor sabe, ns j temos uma certa intimidade e fica muito difcil parar assim de uma hora para outra. - uma escolha muito difcil. Sempre teremos que escolher ou o Senhor ou o inimigo, a santidade ou o pecado. Nunca poder ficar com os dois. Luz e trevas no se misturam e onde brilha a luz toda e qualquer escurido desaparece. - Ento, eu devo deixar o meu namorado? - Se ele impe esta condio para voc, eu no vejo outra alternativa, a no ser que ele mude de idia. Mas, enquanto estiver com ele no poder receber o batismo e nem fazer parte de nenhum departamento da igreja. - , eu j entendi. uma escolha muito difcil para mim, pois j estamos juntos a um ano e, por outro lado, a igreja foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. - concluiu ela. - Na vida, sempre teremos que tomar decises difceis; eu mesmo j estive vrias vezes nesta situao e, em todas elas, optei por Jesus e nunca me arrependi. Quando andamos na luz sempre sabemos onde pisamos e jamais tropearemos. - Muito obrigada pastor. Esta conversa verdadeiramente ajudou-me e agora eu j sei o que fazer para resolver estes problemas. - Bem, est quase na hora da reunio de orao e eu ainda tenho que fazer um lanche, pois estou morrendo de fome. Voc no quer me acompanhar? - Claro! Vamos? Saram e, juntos, foram lanchonete que ficava na praa ao lado da igreja. - Que curso voc faz? - perguntou Pr. Lucas no momento que caminhavam para a lanchonete 23

- Estou no segundo ano de biologia. - E voc est gostando? - A princpio eu queria fazer medicina, contudo um curso muito concorrido e eu no estava preparada, ento optei por biologia. No incio foi difcil aceitar, mas agora vejo que este curso tem mais a ver comigo. Enquanto ela falava, ele fez o pedido e sentaram-se mesa. - Karla, voc falou muito de sua me, porm de seu pai no disse nada. Ele no interfere na sua vida tambm? - No, meus pais divorciaram-se quando eu tinha uns sete anos, e desde ento, a nica coisa boa que recebo dele a penso. Aparece de vez em quando para saber como estou, mas logo comea a discutir com minha me e sai irritado; passa um bom tempo sem dar noticia. Ficaram em silncio um pouco. Enquanto o garom serve os sanduches, Karla pergunta: - E o senhor, Pr. Lucas, como a vida de um homem de Deus? - Minha vida muito simples, isto que todos vem na igreja; cultos, oraes, aconselhamentos. A nica dificuldade esta luta para manter todo este povo no caminho de Deus. Entretanto, aos poucos ns vamos conseguindo fazer com que eles tenham uma vida correta diante de Deus. Se todos fossem como voc, aberta a qualquer questo, seria mais fcil. S que as pessoas escondem o que sentem e o que fazem, e isso dificulta o trabalho de transformao de cada um. Karla, com um discreto sorriso malicioso, olha para ele e pergunta: - Pastor, posso fazer uma pergunta pessoal? - Claro que sim. - responde ele. 24

- O senhor j recebeu cantada de alguma irm? Afinal de contas, o senhor muito bonito. Com o rosto corado, ele responde: - Desse jeito voc deixa-me envergonhado. J houve sim, mas contornamos a situao para que elas no fiquem decepcionadas e percam a confiana em mim. - Ficou envergonhado porque eu disse que o senhor bonito? Eu pensei que j estivesse acostumado com elogios. - Ningum se acostuma com elogios. Voc tambm deve receber vrios elogios, bem mais do que eu. J est acostumada com eles? - , tem razo, no d para se acostumar - disse ela sorrindo. Lancharam e depois ficaram conversando por alguns minutos at a hora da reunio. - Bem, Karla, os irmos j esto chegando e est na hora de ir. Gostei muito desta conversa. Sempre que voc quiser pode vir me acompanhar num lanche, antes da reunio. Ambos se levantaram e seguiram para a reunio de orao.

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IV

noite, em sua cama, as imagens do dia vinham-lhe cabea e o que mais passava pela mente no era os problemas que ouvira durante o dia nem os acontecimentos da reunio de orao, relembrava a imagem daquela jovem sua frente, aqueles cabelos, os lbios, os olhos, negros e ativos, o sorriso; e aquelas imagens fizeram-lhe perder o sono, dormindo depois de muito tempo. Enquanto dormia, sonhou que estava em um quarto escuro, quando algum abriu a porta. Era um vulto de mulher que se aproximava, lentamente; no instante em que se aproximava, ele percebeu que ela estava nua. Era algum conhecido, s que ele no conseguia identificar. Parou em sua frente e lhe estendeu as mos. Segurando-as, comearam a girar lentamente, e medida que giravam, iam subindo mais e mais at chegarem s nuvens. Uma felicidade inundava-lhe de tal forma, que poderia morrer naquele instante e morreria feliz. De repente, as nuvens comearam a escurecer dando incio a uma tempestade e giravam cada vez mais rpido. E, enquanto giravam, ela apertava as mos dele de forma que no podia se soltar. A sensao de felicidade foi se transformando em pavor. J estavam girando to rpido que quase no conseguiam respirar; as mos dela apertavam, mantendo seus braos presos. Olhou-a e viu em seu rosto um sorriso sarcstico e cruel 27

que transmitia uma sensao de pavor e medo; tentava gritar, mas no conseguia; tentou se mover, mas estava preso demais; achou que era o fim, j estava morto, ningum poderia lhe tirar daquela situao. Foi quando um nome veio sua mente. Aquele nome era a salvao para ele. Tentou falar, porm no conseguiu, pois seus lbios estavam colados. O desespero invadiu a sua alma, desta vez era o fim. Aquela mulher havia destrudo a sua alma. Contudo, aquele nome veio mais forte sua mente e ele reuniu todas as foras restantes e gritou, gritou com toda fora que possua: - JESUS. Subitamente abriu os olhos, estava sentado na cama; sua respirao estava acelerada e o corao batia numa velocidade impressionante. - O que foi isso? - Perguntou Rute meio dormindo, meio acordada. - Tive um pesadelo - respondeu ele ainda ofegante. - Deve ter sonhado com o diabo para ter gritado o nome de Jesus to alto. - Quase isso. Mas j est tudo bem, pode voltar a dormir que eu vou beber um pouco de gua. Pensou um pouco sobre o sonho, tentando encontrar algum significado, e logo adormeceu. Na manh seguinte, nem se lembrava mais do ocorrido. O domingo seguinte foi um dia de muita chuva; poucas pessoas vieram igreja e aqueles que vieram chegaram bastante molhados. Estava no interior do templo, conversando com os irmos que j haviam chegado, quando viu Karla entrar. Ela havia se molhado muito, e como estava com uma blusa de malha, esta colou em seu corpo deixando-a totalmente transparente. 28

Aquela imagem o deixou desconcertado; a sensualidade da cena tinha chamado sua ateno. Olhou para os lados para ver se algum o via, olhou novamente para Karla, dirigiu-se at ela tentando disfarar os olhos que procuravam seu seios e disse: - Que banho voc tomou! V enxugar-se para no pegar um resfriado; procure a irm Elza e pea uma toalha. - Tudo bem Pr. Lucas, eu j estou acostumada a tomar banhos de chuva; o problema a roupa, mas, espero que seque rpido - disse ela, enquanto descolava a blusa do corpo. Durante toda a manh, enquanto realizava as atividades da igreja, no conseguia se concentrar; estava constantemente olhando para Karla, onde sentava, com quem falava, seus gestos, suas palavras. Tudo o que ela fazia chamava a sua ateno. Tudo o que ela fazia o fascinava. Ela o havia cativado e ele comeava a perceber isso e deixava acontecer. Que mal um pouco de emoo poderia trazer? Era s tomar cuidado para ningum perceber, a emoo passaria e ele teria esquecido aquele momento. tarde, em casa, como de costume, entrou no escritrio para preparar a mensagem da noite. Sentou-se, abriu a Bblia e comeou a ler. Na ocasio em que lia, a sua mente divagava, e aos poucos, as lembranas de Karla chegavam sua mente. Encostou-se na cadeira esticando o corpo para trs. Ficou algum tempo organizando suas lembranas e chegou a uma concluso: estava apaixonado, sentia-se como um adolescente; s vezes pensava que nunca mais teria esta sensao; aps mais de dez anos de casamento a relao com a sua esposa j havia esfriado. No existia nenhuma emoo 29

semelhante na vida atual. Estava tudo muito rotineiro, mecnico, mas agora, havia uma mudana, uma nova sensao invadia-lhe o corao e ele estava gostando. Vagarosamente, Rute abriu a porta e disse-lhe: - Querido, j est na hora de comearmos a nos aprontar para o culto ou vamos nos atrasar. - J estou terminando, pode comear a se arrumar que eu estou indo - respondeu ele. Assim que ela saiu, pegou seu caderno e procurou por uma mensagem para reunio da noite. Sem a ler, colocou-a junto Bblia e foi se aprontar para sair. Os dias se passaram e o que ele achou que ia diminuir, ao contrrio, aumentou mais ainda. Procurava sempre um meio de estar com Karla. Observava, para encontrar uma forma de chegar at ela e demonstrar seus sentimentos, mas, suas atividades impediam de se aproximar mais. Ento, resolveu escrever uma carta e colocar no papel o sentimento que estava em seu corao. Ligou o computador, aguardou abrir os programas e parou. Lembrou-se que nunca havia escrito uma carta para Rute, pois sempre estiveram to juntos. Desde que se conheceram, quando ele trabalhava como missionrio, em todas as atividades, em todos os encontros, ela sempre esteve ali ao seu lado, dando apoio a todas as atividades que ele realizava. Era uma boa me e tambm boa dona-de-casa. No podia fazer isso. Parou novamente e comeou a sentir que j no havia amor em seu casamento. Sentia a necessidade de uma emoo mais forte; queria algum que fizesse o seu corao bater mais acelerado e j havia encontrado. Ento esticou os braos, estalou os dedos, e comeou a digitar: Quero ser livre, livre para amar, para pensar, para fazer o que vier cabea. 30

Tenho vontade de correr, de sair por a, sem destino, sem direo. Pular, correr, cantar, extravasar! Por que ser que a felicidade custa tanto? Por que ser que necessito de um amor mtuo? Sim, de um amor mtuo, no s de um, porm de ambos. As pessoas tm caminhos diferentes que se cruzam de repente no meio da caminhada da vida. A jornada, s vezes, torna-se to bela, e outras, to ruim, vazia. As pessoas no sabem cativar e no se deixam cativa; elas carregam dentro de si uma fora estranha que as move de tal forma, que as fecham, que as impossibilitam de abrir-se para algum, de entregar-se, de amarem-se verdadeiramente. Quero me entregar voc, mas estou preso. E o que peo, apenas, que espere at que eu possa me sentir livre para apresentar-me e poder lhe cativar como voc me cativou. Quando pensar em mim, pense simplesmente em algum que voc um dia ir conhecer e descobrir que sempre esteve minha procura; sou a pessoa que vai completar a sua vida definitivamente. Quando parou de escrever, olhou a carta e ficou surpreso com o que havia escrito. Imprimiu o texto e deletou o arquivo. Selou a carta e a colocou no correio sem se identificar. Sentiu-se bem por ter escrito a carta e, medida que o tempo passava, vrias outras foram

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enviadas. Aguardava por uma oportunidade em que poderia se declarar pessoalmente a ela.

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V

Os primeiros meses foram muito difceis para Karla. O rompimento do namoro, as constantes reclamaes da me, as exigncias feitas pela igreja. Tudo isso eram obstculos a superar. Mas a igreja fazia sentir-se bem, mais segura, mais limpa. E o apoio que lhe era dado, principalmente pelo Pr. Lucas, servia para reafirmar a sua condio de nova criatura. Enfim, chega o dia do batismo. Estava ansiosa, pois depois da cerimnia poderia fazer parte do grupo de msicos, participar, ativamente, das decises da igreja; poderia votar como todos os membros. Mas Karla tinha um desafio sua frente: queria que sua me viesse assistir ao batismo. Porm, isto era quase impossvel. Contudo, seguindo as orientaes do Pr. Lucas, comeou a ter atitudes diferentes com sua me. Comeou a agradla, procurava estar mais tempo com ela, o que era muito difcil, pois as duas raramente estavam em casa e, quando estavam, ficavam cada uma em seu canto. Mas, aos poucos, surgiria a oportunidade de convid-la. Numa manh de sbado, Karla levantou-se e foi at rea de servio onde sua me colocava as roupas na mquina de lavar. Chegou por trs, beijou-a na nuca e disse: - Bom-dia, me!

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Ela olhou-a desconfiada como se estranhasse tanto carinho quelas horas, mas recebeu o afeto e respondeu com um bom-dia que quase no se pde ouvir. Karla sentou-se em um banquinho que estava prximo e disse: - Me, eu quero lhe pedir uma coisa. Ela pe a mquina para funcionar, vira-se para Karla e, com um olhar cnico, diz: - No tenho dinheiro. - No, me, no dinheiro que eu quero rebate Karla. algo mais simples e bem mais fcil de se conseguir, s depende da senhora. - Ento diga logo e pare de rodeios. - Eu quero que a senhora v comigo igreja, hoje. - E o que que eu vou fazer l se voc sabe que eu no gosto de igreja, e ainda mais, igreja de crente? - que hoje um dia especial, o dia do meu batismo; quero que a senhora esteja l, pois, para mim, a pessoa mais importante no mundo. - Mas voc j foi batizada na igreja catlica, no precisa se batizar outra vez. - S que este batismo diferente. Quando fui batizada era um beb, no sabia de nada. S que agora sei o que batismo: serve para demonstrar a todos que morri para o mundo e nasci para Deus. - No vou! No estou disposta a passar a noite toda ouvindo esta baboseira. - Vamos me, por favor, muito importante para mim que a senhora v. Ela hesitou um pouco, olhou diretamente para Karla, que estava com a aparncia de que iria chorar se recebesse uma resposta negativa, e disse: 34

- Tudo bem, eu vou. Mas se eu no gostar venho logo embora. S assim eu conheo este pastor de quem voc fala tanto. - Foi mais fcil do que pensei - disse Karla baixinho enquanto saa. A noite era de festa, todos bem arrumados, a igreja ornamentada com muitas flores, e a mesa, que fica em frente ao plpito, estava com a bandeja e os pes e a bandeja dos clices que seria usada na realizao da ceia. Toda a mesa encontrava-se coberta com uma bela toalha de renda que cobria os objetos da ceia e suas pontas chegavam at o cho. Karla entrou com sua me, apresentando-a aos que passavam, inclusive Pr. Lucas e sua esposa, acomodou-a em um dos primeiros bancos e foi prepararse para o batismo. Na sala de acesso ao batistrio, todos, vestidos com as batas brancas, acompanhavam o desenrolar da cerimnia que era dirigida pelo irmo Antnio Alves, aguardando a hora de serem batizados. Quando comeam a tocar os instrumentos, Pr. Lucas desce, lentamente, pelas escadas do batistrio com as palmas das mos encostadas uma na outra e, apoiando o queixo em um sinal de reverncia e santidade, chega ao meio do batistrio, vira-se para frente e pra. Os que estavam para serem batizados aguardavam enfileirados, por tamanho, a hora de serem chamados. Primeiro as mulheres, depois os homens (porque as mulheres demoram mais para se arrumar aps o batismo). Vinte e duas pessoas batizariam-se nesta noite. A msica pra de tocar. O silncio predomina na igreja. Pr. Lucas vira-se para Karla, que era a primeira da fila, e faz um sinal com os olhos. Ela compreende e 35

comea a descer lentamente as escadas, posiciona-se ao seu lado e pra. Ele segura firme suas mos, que esto com os dedos entrelaados prximo ao peito, e com a mo levantada sobre sua cabea pergunta com voz baixa: - Diga seu nome completo. Ela responde e Pr. Lucas, agora levantando a voz, pergunta: - Karla Martins Sobral, voc aceita a Jesus como nico senhor e salvador da sua vida? - Aceito! - responde, Karla, firmemente. - Ento, mediante a tua profisso de f, e autorizado por Deus e por esta igreja, batizo-te em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, Amm. E a mergulha para trs, fazendo todo o seu corpo submergir acompanhado do refro de uma msica e de vrios gritos de aleluia e glria a Deus, que s param com a entrada da segunda pessoa a ser batizada. E assim, segue com todas as vinte e duas pessoas que se batizaram naquela noite. Enquanto os batizados e o Pr. Lucas trocam as roupas molhadas, a igreja canta uma msica de celebrao pelas pessoas que foram batizadas naquela noite. Depois, entra o pastor, seguido pelos novos membros, que entram enfileirados e se sentam no primeiro banco da coluna central que lhes foi reservado. Pr. Lucas aguarda o trmino da msica, recebe o microfone do irmo Antnio Alves e comea: - Aleluia! Glria a Deus! Este um dia de festa, de extrema felicidade por todos estes que, uma vez convertidos, passam, a partir de hoje, a fazer parte do Corpo de Cristo.

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Antes de passarmos para a prxima parte da cerimnia, quero explicar, resumidamente aos nossos visitantes, o significado destes atos. Foram duas as ordenanas deixadas por Jesus quando aqui esteve, durante o seu ministrio: o primeiro deles foi o batismo; o batismo demonstrao exterior de algo que j aconteceu no interior daqueles que foram batizados, e o que foi isto? Foi a converso, a mudana de vida, pela qual cada um deles passou e o batismo, atravs da imerso, demonstra que a pessoa, quando mergulha, morre para o mundo e todas as suas concupiscncias, e quando emerge, nasce uma nova criatura para Deus. A segunda ordenana foi a ceia, que representada por estes elementos que esto na mesa, nossa frente, o po e o vinho. Atravs do batismo, quando nascemos de novo, passamos a fazer parte do Corpo de Cristo e a ceia a representao deste corpo. Na noite em que foi trado, que era uma noite de pscoa, Jesus tomou a ceia com seus discpulos e a instituiu como ordem para todo o povo de Deus. Agora, h um detalhe muito importante: para ns, cristos, estes elementos aqui presentes no so o corpo de Cristo, ns no cremos na transubstanciao, cremos que eles, apenas, representam o corpo e o sangue de Cristo. O batismo administrado somente uma vez, porque pode haver somente um comeo de vida espiritual. A ceia, por sua vez, administrada freqentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser alimentada at que Cristo volte, como Ele mesmo falou. E quem deve tomar a ceia? Toda e qualquer pessoa que, tendo sido batizado, est em comunho com Deus e sua igreja. 37

Aps as explicaes, Pr. Lucas chamou os diconos frente que descobriram a mesa, dobrando a toalha de renda lentamente. Desceu at mesa, abriu a Bblia e disse: - Vamos todos abrir nossas Bblias na primeira carta de Paulo aos Corntios, captulo 11, versculo 23. Todos de p. E os diconos comeam a distribuir o primeiro elemento da ceia, o po. Aps a entrega, ele distribui o po aos diconos e diz: - Vamos ler: Porque eu recebi do Senhor o que tambm vos entreguei. Que o Senhor Jesus, na noite em que foi trado, tomou o po, e tendo dado graas, o partiu e disse: isto o meu corpo, que dado por vs, fazei isto em memria de mim. Este po representa o corpo de Cristo que foi dado por ns e do qual ns fazemos parte. Oremos: Senhor, ns te agradecemos por ter dado a tua vida para nossa salvao. Agradecemos pelo teu sacrifcio que rasgou o vu que nos separava do Pai. Agradecemos pelo teu Esprito que nos chamou e, hoje, podemos fazer parte do teu Corpo. E, como parte deste corpo, queremos te servir cada dia mais, te amando, trabalhando em pr do teu evangelho, amando todas as pessoas que esto ao nosso redor, para que o bom perfume de Cristo seja espalhado por toda a terra. Em nome de Jesus ns te oramos. Amm! Comamos, dele, todos. E aps terem comido o po, um silncio profundo dominou o ambiente, durando alguns segundos. Comeou, ento, a distribuio do segundo elemento, o vinho. - Versculo vinte e cinco diz: Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou tambm o clice, 38

dizendo: este clice a nova aliana no meu sangue; fazei isto todas s vezes que o beberdes, em memria de mim. Porque todas s vezes que comerdes deste po e beberdes o clice, anunciais a morte do Senhor at que ele venha. Este vinho representa a comunho que temos em Jesus e, para intensificar mais esta comunho, quero que voc, agora, troque seu clice com algum que est ao seu lado, porque ns somos um corpo, temos o mesmo sangue purificador e servimos ao mesmo Senhor, Pai de todos os que o adoram. E comearam a trocar os clices uns com os outros. - Agora, parem onde esto, abrace a pessoa que est ao seu lado e, neste clima de comunho, vamos todos juntos beber deste clice, anunciando a morte e ressurreio de Jesus at que Ele volte. Bebamos todos. Aps terem bebido do clice, comearam a dar gritos de aleluia e glria a Deus, que foram seguidos por vrias msicas animadas e uma grande alegria invadiu o ambiente. Terminada a reunio, todos foram abraar os novos membros da igreja. Pastor Lucas, porta, cumprimentava aos visitantes que saam. Cumprimentou tambm a me de Karla; conversaram por alguns minutos, e as duas foram logo embora. No caminho, Karla pergunta me: - E a, me, gostou da igreja? - , foi bonzinho - disse a me no querendo transparecer que havia gostado. - Ento, desde j, eu convido a senhora para a prxima festa que o aniversrio da igreja - afirmou Karla aproveitando a oportunidade.

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- Vou pensar no seu caso - respondeu a me sorrindo e foram para casa.

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VI

Vrios meses se passaram e estava prxima a festa de aniversrio dos 26 anos da igreja, que coincidia com o aniversrio de 10 anos do Pr. Lucas como dirigente da mesma. Seria uma grande festa; vrios convidados, cantores de outras cidades e um pregador, que foi seu colega de seminrio e que pastoreava uma grande igreja na capital do estado, seria o pregador oficial deste encontro. Estavam, os membros, envolvidos com as comemoraes e, quase todas as noites, ensaiavam para a apresentao teatral e para as msicas que seriam cantadas na festa. Numa noite de quarta-feira, logo aps a reunio de orao, os jovens do grupo musical chegaram at o Pr. Lucas e disseram: - Pastor, ns queremos ficar at mais tarde para ensaiar algumas msicas que esto muito difceis. E como a festa se aproxima, no queremos deixar para ltima hora. - Tudo bem - disse o pastor. S que eu me preocupo em que hora esse ensaio vai terminar e como vocs vo fazer para retornarem s suas casas. comentou com ar de preocupado. - Bem, algumas msicas faltam ser decoradas, mas se no der tempo ns as retiramos do repertrio. retrucou um dos jovens. 41

- Isso seria uma pena, porm, eu vou dar um jeito. Eu vou levar a Rute para casa e volto para lev-los tambm. - completou o pastor. - Sendo assim, ns podemos ensaiar mais tranqilos. Contudo, tenho certeza que antes da meianoite j teremos terminado. - disse o jovem j se retirando para chamar os outros com o intuito de iniciarem o ensaio. O Pr. Lucas levou sua esposa e disse a ela que voltaria para levar os jovens do grupo musical para suas residncias. Voltou igreja e sentou-se no ltimo banco, enquanto aguardava que o grupo ensaiasse as msicas. O ensaio terminou quando faltavam vinte minutos para a meia-noite; entraram no carro e ele comeou a deixar cada um em sua casa. Karla seria a ltima a ser deixada, pois a sua era a mais distante. Assim que todos desceram, ela veio para o banco da frente, virou-se para ele e disse: - Nossa, j quase uma hora da manh! A irm Rute deve estar preocupada com o senhor. - Eu tenho certeza de que ela j est dormindo. respondeu ele, enquanto dirigia. - Quando me casar - disse Karla - e meu marido tiver que chegar tarde, eu s vou dormir quando ele chegar, porque tenho um sono muito leve e, ficando preocupada, no consigo dormir. Ele respirou fundo, fez um ar de tristeza, aguardou alguns instantes e disse: -Olha Karla, eu vou lhe dizer uma coisa muito pessoal, e digo isso porque sei que voc, apesar de ser jovem, uma pessoa muito amadurecida, sensata e nos conhecemos h algum tempo. A vida de casado, aps mais de dez anos juntos, no a mesma do incio do casamento. No h mais aquele interesse de se estar 42

sempre juntos; o amor esfria e no existe essa preocupao em saber onde o outro est e nem o que est fazendo. A estas horas, ela j deve estar no terceiro sono e nem vai saber a que horas eu cheguei. - , eu sei como isso - disse Karla - quando os meus pais estavam se divorciando, eles portavam-se desse jeito; viviam juntos, mas quase no se falavam. E mesmo quando se falavam, era com um tom de voz alterado e sempre discutiam. Ento o papai passou a no fazer as refeies conosco e, dentro de pouco tempo, j no dormia mais em casa. Foi um perodo muito difcil, entretanto, depois que se separaram a situao foi resolvida. - Eu tambm j estou pensando em separar-me disse pastor Lucas - mas na minha posio um pouco mais difcil, tem que ter uma preparao maior para que haja uma aceitao da igreja; as pessoas ainda tm muito preconceito em relao ao divrcio, principalmente, entre os crentes. - Eu acho que, se duas pessoas no se amam mais no devem ficar juntas, negativo para elas e ruim para todos que esto ao seu redor. E, ainda mais, impede que a outra pessoa possa amar novamente, ter uma nova chance de ser feliz - respondeu Karla. - exatamente isto que est acontecendo - disse ele, enquanto parava o carro em frente casa dela, desligou o motor, e continuou: - Eu s tive a certeza de que no amava mais a minha esposa depois que me vi totalmente apaixonado por outra pessoa; pensei que no seria possvel amar novamente, mas fui enganado pelo meu corao. Agora, estou numa situao difcil de se resolver.

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Ela olhou para ele com um ar de curiosidade e perguntou: - E o senhor j resolveu o que vai fazer para viver o seu novo amor? - Claro! - respondeu ele entusiasmado - eu vou lutar pela minha felicidade, mesmo que para isso tenha que lutar contra tudo e contra todos. s uma questo de tempo para poder tomar algumas decises. - E essa pessoa, por quem o senhor est apaixonado, ela j sabe do seu amor por ela? - perguntou Karla, com bastante interesse. Ento, ele ficou olhando para ela fixamente por algum tempo. Enquanto Karla aguardava a resposta, ele pensou: essa a hora, tenho que aproveitar a oportunidade e saberei se tenho alguma chance. Segurou a sua mo, fez um ar de suspense, aproximou-se, lentamente, e a beijou. Foi um beijo rpido. Aps se beijarem, ficaram em silncio, por alguns instantes, olhando para frente esperando que algum retomasse a conversa. Ento, ele disse com voz quase imperceptvel. - Desculpe-me, no pude me conter. - Tudo bem - respondeu ela - foi s um beijo. - Mas este beijo significa muito para mim. disse Pastor Lucas. Ficaram novamente em silncio e de repente, como quem decifra um enigma, virou-se para ela e perguntou: - Voc j sabia? - J desconfiava - respondeu ela com frieza nas palavras. - Por causa das cartas?

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- Pelas cartas e, tambm, pela forma que o senhor me olhava. Juntei uma coisa com a outra e cheguei concluso de que era o nico que se encaixava com as caractersticas do meu amante annimo. - Mas comentou com algum ou mostrou as cartas a outras pessoas? - No! - respondeu, Karla, firmemente - estava aguardando para ter certeza, e como havia escrito pedindo segredo, no comentei com ningum. - E agora que j sabe, o que vai fazer comigo? perguntou ele com um tom de voz melanclico e como se toda a sua vida dependesse daquela resposta. - Eu no sei ainda - respondeu, Karla demonstrando novamente frieza em suas palavras. - O senhor est casado e isso atrapalha um pouco. Eu preciso de um tempo para pensar. J est muito tarde, acho que devemos ir. - E quando conversaremos novamente? perguntou ele. - Eu sei que encontrar uma oportunidade, mas no tenha pressa. Como j disse, eu preciso de tempo. Boa-noite. Saiu do carro, andou at porta, virou-se, e com um discreto sorriso mandou um beijo com a mo, entrou e fechou a porta. Assim que a porta foi fechada, ele ligou o carro e saiu lentamente. Enquanto dirigia, pensava em como teve coragem de fazer aquilo, ele que sempre fora to tmido para com as mulheres.Pois, para conseguir pedir a Rute em namoro, gaguejou tanto que pensou que ia engasgar e tremia mais do que vara verde em tempestade. Agora tivera coragem de tomar uma iniciativa daquela. Realmente estava muito apaixonado para poder ter feito aquilo. Estava feliz, mas tambm 45

havia um sentimento de culpa que rondava seu corao. Como iria contar para Rute? Talvez devesse desistir enquanto era tempo. Afinal de contas, foi s um beijo. Poderia ser esquecido facilmente, e quem sabe at, voltar a se apaixonar por Rute. E assim foi meditando pelas ruas escuras e solitrias da cidade, tentando administrar a luta entre o desejo e a conscincia, andando com o carro lentamente, esticando ao mximo o tempo que levava da casa de Karla sua casa. Quando chegou, a luz da sala estava acesa. Entrou na ponta-dos-ps, apagou a luz, foi para o quarto. Ao comear a tirar a roupa, Rute perguntou: - Que horas so? - Um pouco mais de uma hora - responde com voz baixa e trmula. - Pensei que j estivesse dormindo? - Eu tentei, mas voc sabe que eu no durmo se no estiver em casa. - Ento, j pode dormir que eu estou aqui. falou rudemente dirigindo-se ao banheiro. Tomou um banho e foi para cama. - Voc no acha que este ensaio est terminando muito tarde? - perguntou Rute, aps ele ter se deitado. - Eles tm que deixar as msicas bem preparadas, e se eu posso ajudar, claro, que vou ajudar. Durma e deixe-me dormir tambm. - respondeu ele aumentando o tom da voz na medida em que se virava para o lado. Ela estranhou o jeito rude dele a tratar, todavia achou que deveria ser o cansao. Virou-se para o outro lado e ambos dormiram. No domingo seguinte, Pr. Lucas manteve-se mais afastado de Karla, porm, sempre a acompanhando

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com os olhos. noite, aps o culto, enquanto se despediam, abraando-a, ela sussurrou em seu ouvido: - Na quarta tem ensaio. Aquele sussurro de to poucas palavras foi como jogar combustvel na chama que ardia em seu corao. Aqueles trs dias pareciam no ter mais fim de to longa que era a ansiedade que o possua. Na quartafeira seguiu a mesma rotina da semana anterior, porm com um pouco mais de pressa, e depois de deixarem o ltimo jovem em casa, seguiram em silncio at a casa de Karla. Parou em frente, desligou o carro e antes que ela pudesse esboar alguma palavra, atirou-se em sua direo e a beijou novamente. Desta vez foi um beijo demorado e apaixonante. Aps se beijarem, encostou a cabea no volante e disse: - Mais uma vez no pude me controlar. Desculpe-me novamente. - Esta sua falta de controle est ficando cada vez mais constante - disse ela com um sorriso irnico. Ele sorriu tambm, olhou para ela e disse: - a sua beleza que tira o meu controle - e beijaram-se mais uma vez.

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VII

Trs semanas se passaram e eles continuaram se encontrando, sempre s quartas-feiras. O dia da festa havia chegado e ele precisava descobrir uma outra forma de se encontrar com Karla. A festa de comemorao dos vinte e seis anos de existncia da Igreja Evanglica Redeno teve um incio de comemorao modesta, na quinta-feira, e terminando no domingo com uma grande quantidade de pessoas. Marcaram presena vrios visitantes e tambm pessoas de outras denominaes. Vrios membros tiveram a oportunidade de testemunhar qual a importncia da igreja em suas vidas e a modificao que houve depois que comearam a fazer parte dela. Quase no final da reunio, o irmo Antnio Alves, que era o dirigente da noite, chamou o Pr. Lucas frente, juntamente com Rute, virou-se para eles e disse: - Foram dez longos anos que se passaram, anos de lutas, provaes, ataques constantes do inimigo de nossas almas, anos ouvindo nossos problemas, nos aconselhando, nos mostrando qual era o caminho para salvao. Olhando para trs, parece que foram poucos dias ou parece que foi fcil termos a igreja que temos hoje.Todavia, quem est aqui desde o principio, como eu estou e alguns outros irmos, sabe que no foi fcil; muito evangelismo e, principalmente, noites e noites de 49

orao incessante; foram as duas armas essenciais que usamos para vencer esta batalha e que continuaremos a usar para prosseguir mais e mais, expandindo, assim, o reino de Deus. Com entusiasmo prosseguiu: - Pastor Lucas, o senhor foi o instrumento que Deus usou para nos fazer crescer. Antes de chegar aqui, esta igreja nunca passou de sessenta membros, sei disso porque sou um dos fundadores desta igreja e, durante os dezesseis anos que antecederam sua vinda, ns oramos muito para que Deus mandasse-nos um homem de f, que nos ensinasse a batalhar neste exrcito, exrcito da salvao, e o senhor veio e fez esta maravilhosa obra que se v hoje. No temos como lhe agradecer por todos estes anos de vida dedicados a esta igreja; no h presente que pague por dez anos de entrega total ao servio do Senhor Jesus. Por isso, ns compramos esta Bblia e nela colocamos os nomes de quase todos os que se converteram nestes dez anos de ministrio; esto aqui conosco, so duzentas e oitenta e duas assinaturas para comprovar o fruto deste trabalho, que levar consigo por onde quer que ande. Esperamos que no se v e fique conosco at se aposentar. Agora podem entrar com o bolo, e o senhor tem a palavra para fazer as consideraes finais, antes de orarmos. O Pr. Lucas olhou para o bolo que foi colocado em cima da mesa. Estava escrito: Lucas e Rute, ns te amamos. Olhou para frente, esperou um pouco e falou: - Foram muitas lutas sim, noites de sono perdidas; horas ajoelhado pedindo a Deus que endireitasse todos os caminhos tortos; preparando mensagens, pregando, visitando, mas foram todas vlidas. Eu no sei nem quantas horas h em dez anos, ou 50

quantos minutos ou segundos, porm quero que vocs saibam que cada instante foi vlido, no houve hora perdida, nem um instante sequer. No teria conseguido a no ser pela ajuda de uma pessoa, uma pessoa que por sinal tem a funo de ajudadora, que esteve comigo em cada problema, s vezes, falando, mas na maioria das vezes ficando unicamente em silncio, ouvindo minhas lamentaes, meus desabafos. A Rute, minha esposa, que dividiu comigo toda dificuldade, durante estes dez anos que se passaram. Agradeo a ela, do plpito, para que saiba que sem ela eu jamais teria conseguido cumprir a rdua tarefa que Deus me entregou. Virou-se para Rute, segurou sua mo, e olhando nos seus olhos, disse: - Rute, muito obrigado por ser quem voc , minha ajudadora, e ainda mais, uma grande amiga que eu encontrei para dividir os meus dias. Agradeo a Deus, todos os dias, por t-la colocado em minha vida, e peo que Ele te abenoe sempre. Entregou o microfone para o dirigente, abraou Rute, beijou-lhe a testa e aguardou a orao final que seria feita pelo pastor que havia sido convidado. Aps a orao, partiram o bolo e todos comeram e se confraternizaram. Rute, que, com um pedao de bolo numa das mos e um copo de refrigerante na outra, procurava um lugar para se sentar, percebeu que havia algum sozinho do lado de fora da igreja. Dirigiu-se em sua direo e percebeu que era Karla. Chegou at ela, sentou-se ao seu lado, na calada, e perguntou: - O que aconteceu minha filha, para voc estar to triste?

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- No foi nada, so alguns probleminhas bobos, nada que deva se preocupar - respondeu ela de cabea baixa. - Como no me preocupar? Este um dia de festa e voc est triste e acha que eu no devo me preocupar? Preocupo-me sim! Preocupo-me com cada um de vocs, eu quero que vocs estejam felizes. - No nada, pode ter certeza, s estou triste, mas no quero estragar a sua alegria com a minha tristeza - respondeu ela at ento de cabea baixa. Rute, que havia tomado um pouco do refrigerante, colocou o copo ao lado, virou-se para Karla e disse: - Eu j sei o que , os jovens s ficam assim por dois motivos: um quando brigam com os pais, mas isso no aconteceu, pois a sua me est l dentro conversando com o Lucas e eu vi vocs duas se abraando quando terminou a reunio. Ento, s resta a segunda alternativa que namorado. Acertei? Quando Rute terminou de falar, Karla levantou a cabea, olhou para ela e deu um sorriso discreto concordando com o que Rute havia dito. Rute ento comeou a falar: - Estas coisas do corao so sempre assim, por mais que se previna ningum est preparado. Quando o amor chega, ele nos toma o controle, e ns, s vezes, fazemos coisas que no queremos; se somos tentados a isso, o que se deve fazer dar tempo ao tempo e deixar nas mos de Deus para que Ele resolva. E eu lhe garanto, Ele resolve de uma maneira to maravilhosa que ns nunca imaginamos e tudo fica bem.

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- O problema que eu acho que ele no me ama como diz que me ama; acho que ele est mentindo para mim - falou Karla, voltando a baixar a cabea. - Olha Karla - respondeu Rute - o amor no uma coisa que surge do nada como algumas pessoas pensam. Ele desenvolvido medida que duas pessoas passam a ter algum tipo de relacionamento. Eu no amei o Lucas assim que o conheci. Precisei de tempo para am-lo. Primeiro, tinha que conhec-lo, estudar sua personalidade, para ento me entregar totalmente a ele atravs do casamento. Para isso que serve o namoro, para se conhecerem um ao outro, e ento, decidir se com este mesmo que quer passar o resto da sua vida. Se estiver difcil pea ajuda ao Esprito Santo, que conhece todos os coraes. Ele sabe o que melhor para cada um de ns. Ficaram em silncio por alguns instantes, ento Karla olhou para Rute e disse: - , a senhora tem razo. Somente o tempo poder dizer se ele me ama ou no, e o que eu tenho a fazer unicamente esperar o que Deus quiser. Agora, eu queria, se a senhora no ficar aborrecida, ficar um pouco sozinha. Eu gostei muito do que a senhora me falou, foi muito importante para mim, eu no quero ser maleducada e nem mal-agradecida. Apenas gostaria de ficar um pouco s, se a senhora no se importar. - Tudo bem, Karla, mas saiba que se precisar de alguma coisa, a qualquer hora, pode contar comigo, que estarei sempre pronta a lhe emprestar um ombro amigo respondeu Rute e entrou novamente na igreja. Quando Karla e sua me voltavam para casa, sua me perguntou:

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- O que foi que houve com voc, sempre to tagarela e agora est a como se estivesse com dor de barriga, sem dizer uma palavra? Karla tentou desconversar, mas no convenceu sua me e, quando chegaram em casa, ela confessou: - O Pastor Lucas e eu estamos nos encontrando. - Ai, meu Deus! - disse a me com um certo desespero. Eu sabia que neste angu tinha caroo, eu sabia que toda essa empolgao de igreja tinha alguma coisa; agora eu sei porque essa cara de jururu; o pastor elogiou a esposa na igreja e voc ficou com cimes. Pois fique sabendo que fotocpia nunca vai ser original e depois do que eu ouvi dele hoje, sei que nunca vai deixar a esposa para ficar com voc, pois ele est te usando e bom voc abrir logo esse olho, porque quando enjoar de voc ele te joga para escanteio e arruma outra. Homem tudo igual, no presta. No se lembra o que eu passei com seu pai? E agora voc se mete numa enrascada dessa? Desde j, fique sabendo que eu no concordo com isso e no me chame mais para ir igreja. L eu no ponho mais os meus ps e acho bom voc deixar tudo isso e cuidar de sua vida. No criei filha para ser amante de nenhum pilantra. Karla ouviu, calada, as reclamaes de sua me e foi para o seu quarto. Na segunda-feira, Karla saiu da faculdade e caminhava para o ponto de nibus quando foi surpreendida pelo Pr. Lucas que, parando o carro ao seu lado, pediu que entrasse. Ela entrou e seguiram para um local distante, perto da sada da cidade. - Pensei que nunca mais iria me procurar? comentou Karla enquanto colocava o cinto de segurana. - E o que levou voc a pensar isso? 54

- Depois de ontem, com toda aquela declarao de amor em pblico, pensei que estivesse decidido a restaurar o seu casamento. - Olha Karla, no porque eu no amo mais a Rute que eu no deva reconhecer todo o esforo e dedicao dela durante estes quatorze anos de casamento. O nosso casamento acabou. Entretanto, o que edificamos fica, nossos filhos, nossas experincias, tudo isso fica guardado para o resto de nossas vidas e, alm do mais, aquilo no foi uma declarao de amor, foi um agradecimento pelos anos vividos e, tambm, uma prvia de despedida, pois logo estaremos separados e o que restar ser apenas lembrana. E quero que sejam boas lembranas. Karla olhou para ele com seriedade e perguntou: - E quanto tempo mais eu tenho que esperar para que o senhor separe-se de fato? - No vai demorar muito. s esperar pelo momento certo. Agora, o que no posso deixar que voc se afaste de mim. Tenho que te ver. Preciso de voc e no posso me afastar por muito tempo, seno vou enlouquecer de tanta saudade. - E o que o senhor sugere que se faa para continuarmos nos encontrando? - perguntou Karla, com uma certa malcia no olhar. Pr. Lucas aproximou-se dela, deu um beijo lento, suave e disse: - Primeiro, eu acho que voc deveria parar de chamar-me de senhor. Esta palavra coloca uma barreira muito grande entre ns; uma barreira que no existe h algum tempo e, depois, no se preocupe com os nossos encontros. Sempre descobrirei um jeito de ver voc, 55

sempre haver um espao onde poderemos nos encontrar at desligar-me definitivamente da Rute. E assim, continuaram se encontrando...

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VIII

Mais uma noite de domingo que voltavam para casa. Como de costume, foram direto para a cozinha onde Rute prepararia uma leve refeio antes de irem para cama. Levou os filhos ao quarto, colocou-os na cama, voltou para a cozinha e aguardava enquanto Pr. Lucas terminava sua refeio. - Por que est olhando para mim? - perguntou ele enquanto, comia. - Estou esperando voc terminar de comer, quero conversar um assunto importante - respondeu ela calmamente. - J que to importante, ento diga logo retrucou ele, ainda de boca cheia. - sobre um comentrio que surgiu na igreja, e com certeza voc j deve ter ouvido a respeito desse seu excesso de cuidado com a Karla. Assim que Rute falou o nome de Karla, ele quase se engasgou; bebeu um pouco de caf, disfarou e perguntou: - E o que que se tem comentado a respeito da Karla, porque eu no estou sabendo de comentrio nenhum? - que alguns jovens esto enciumados da forma como voc a trata. Vieram me perguntar se eu no ficava com cimes pelo fato de vocs estarem sempre to 57

juntos antes e depois dos cultos. Tambm perguntaramme se voc, agora, estava fazendo acepo de pessoas, pois toda a sua ateno para ela. Ele terminou de comer, colocou o prato na pia e, encostando-se, perguntou: - E voc, o que disse a eles? - claro que eu disse que eles estavam vendo coisas demais e que tinha coisas mais importantes para me preocupar, do que ficar ouvindo besteiras. - E ento, por que quer falar comigo sobre isso se voc j disse o que eles precisavam ouvir? Perguntou ele, tentando encerrar o assunto. Rute respirou fundo, olhou para ele e disse com toda calma do mundo: - que eu tambm acho que voc est muito prximo desta menina. - Voc est desconfiando de mim? - disse ele, interrompendo-a, em um tom de voz elevado, enquanto apontava para o prprio peito. Rute levantou-se, encostou-se mesa, e de frente a ele, com a voz quase sussurrando, disse: - Fale baixo que as crianas ainda esto acordadas. No estou desconfiando de voc, s que vocs tm estado muito prximos ultimamente. As pessoas vem isso, comentam e da pode surgir vrias conversas que podem manchar sua imagem, mesmo no tendo feito o que eles dizem. Voc mesmo sabe disso, sabe que devemos fugir da aparncia do mal. - Fugir da aparncia do mal? Que mal pode haver em querer ajudar uma jovem da igreja? - indagou o Pr. Lucas enquanto se movimentava na cozinha para fugir do olhar de Rute; e continuou:

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- Quem foi que disse isso? Quero os nomes, isso no vai ficar assim, vou tomar uma providncia. Rute, que agora estava sentada, olhava ele se movimentar de um lado para outro da cozinha como se maquinasse algo. Aguardou ele se acalmar um pouco e disse: - Muito me estranha esta sua atitude. Antes, em uma situao como esta voc diria: vamos deixar que a justia de Deus resolva tudo. E agora quer tomar uma providncia. No entendo o que est havendo com voc. Est muito preocupado com um assunto muito simples de se resolver, pois s se afastar um pouco da Karla que logo todos se esquecero. Ele parou, de onde estava, virou-se para ela e disse: - O que mais me aborrece no o fato de que as pessoas da igreja faam comentrios absurdos; o que me aborrece que voc acredita neles. Voc est desconfiando de mim e, o pior, sem motivo algum! Voc, que me conhece melhor do que ningum, sabe todos os meus passos e ainda acha que posso ter alguma coisa com aquela menina, que tem idade para ser minha filha? Isso sim, o que di no meu peito. - Os seus passos ultimamente tm sido muito longos para eu poder acompanhar Lucas; no sei onde voc passa o dia todo e, s vezes, alguma parte da noite tambm. Ultimamente voc anda muito sumido. Precisamos falar com voc e no conseguimos te encontrar. Celular desligado e ningum da igreja sabe do seu paradeiro - disse ela um pouco mais exaltada. - Uma vez voc me procurou, no me encontrou e onde eu estava? Onde sempre estou, fazendo visitas como sempre fiz durante estes dez anos de ministrio e 59

voc nunca questionou, at hoje, quando resolveu dar uma de detetive e procurar perna em cobra. E sabe do que mais, estou cansado desta conversa; tive um domingo cansativo e voc ainda vem me aborrecer com desconfianas sem motivo. O melhor que eu fao ir dormir, pois amanh um novo dia e vou continuar fazendo as coisas na qual fui ordenado por Deus para fazer. Saiu da cozinha e foi direto para o quarto, deixando Rute sentada onde estava. Sentada mesa, com os cotovelos sobre a mesma e as mos apoiando a cabea, ela refletia nas palavras que foram ditas quela noite. Sentia um n na garganta, um aperto no corao que ela se esforava para no se transformarem em lgrimas. Juntando os fatos, ela chegou a uma concluso que se recusava a aceitar: estaria o Lucas me traindo? Impossvel! Apesar de estar agindo de forma estranha ultimamente, com certeza seriam os problemas da igreja. E aquela aproximao demasiada com a Karla, no era para desconfiar? No! Ela uma jovem muito carente de afeto; seus pais divorciaram-se quando ela era muito pequena. Com certeza ela v o Lucas como um substituto do pai ausente e se apegou a ele por causa da sua posio de pastor que a mesma coisa que ser pai. E toda esta preocupao em querer explicar tudo, ficando nervoso, querendo resolver o assunto de uma forma enrgica, estaria ele escondendo alguma coisa? Bem, se eu continuar pensando assim vou ficar maluca. O melhor que fao deixar que o tempo traga seus cuidados e entregar tudo nas mos de Deus. Levantou-se, virou-se para apagar a luz, ergueu a cabea. fechou os olhos e disse com voz suave: - Pai, Tu sabes todas as coisas, Tu sondas os coraes e os pensamentos e d a cada um segundo as 60

suas medidas. Confio no teu poder e no h nada de oculto que no venha a ser revelado.Obrigada por resolver mais esta questo em minha vida. Amo-te Pai! Em nome de Jesus, amm! Apagou a luz, seguiu para o quarto dos filhos, ajeitou os lenis, beijou cada um e foi para o seu. Trocou de roupa, deitou-se. Lucas j estava dormindo e, tambm, procurou dormir. Durante a semana que se passou no falaram no assunto, seguindo a rotina normalmente at chegada do prximo domingo. noite, chegaram na igreja cedo, como de costume, porm Pr. Lucas foi diretamente para o gabinete, no falando com ningum. Quase no incio da reunio, ele abriu a porta e pediu a um jovem, que estava prximo, que chamasse o irmo Antnio Alves at o gabinete. Ele chegou, entrou e sentou, e o pastor disse: - Eu sei que est um pouco em cima da hora, mas eu gostaria que o irmo dirigisse a reunio hoje; eu gostaria de fazer somente a mensagem. possvel? Ele respondeu com firmeza - Claro pastor! O bom soldado de Cristo deve estar sempre preparado para o momento em que for necessrio. Ambos sorriram rapidamente e o Pr. Lucas completou: - Ento, aqui est a programao da noite, j est pronta. Vamos logo, est na hora. Entregou-lhe o papel e ambos saram da sala A reunio teve incio e o irmo Antnio Alves seguia toda a programao risca, enquanto o Pr. Lucas permanecia sentado. Alguns estranharam que estivesse to quieto. Ele, que era to alegre e ativo durante as

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reunies, permanecia sentado mesmo quando todos se levantavam para cantar. Na hora programada o irmo Antnio Alves passou-lhe a palavra. Levantou-se calmamente, dirigiu-se at o plpito, colocou a Bblia ao lado, respirou fundo enquanto olhava para todos e comeou: - Sei que alguns esto se perguntando porque eu estou to quieto e cabisbaixo. Talvez algum pense que estou doente, mas no isto; no estou doente, no fisicamente; no entanto, h uma ferida que foi aberta recentemente e que di muito, porm Deus fiel, Ele quem sara todas as nossas feridas e tem me restaurado. Todavia esta ferida levou-me a fazer uma introspeco, a fazer uma anlise de todo o meu ntimo, fazer um julgamento do meu interior e mudar aquilo que no est de acordo com a vontade de Deus. A Palavra de Deus diz em 1 Corntios 11:31 que se ns julgarmos a ns mesmos, no seremos julgados e isso fiz; julguei e retirei o que no estava de acordo com a vontade de Deus. Mas, meus irmos, o diabo muito astuto, usa as coisas que no so e as faz parecer que so, para usar aqueles que so mais fracos na f para tentar destruir os irmos e principalmente os lderes, porque abalando a base mais fcil para que o edifcio caia. Contudo, ns estamos edificados na rocha eterna que Jesus e no seremos abalados. Amm, irmos? Todos confirmaram o amm, mas percebia-se uma certa expectativa na igreja. E ele continuou: - Mas a ferida foi aberta e di. Di porque foi feita por aqueles que amamos, aqueles em quem confiamos, os que esto mais ligados, mais prximos. Assim como Jesus, que na noite em que foi preso foi trado por Pedro, que fazia parte do grupo de amigos 62

ntimos juntamente com Tiago e Joo. Pedro, que disse que estava pronto para morrer se fosse preciso; que arrancou a orelha de Malco de um s golpe; Pedro, que andou sobre as guas com Jesus. Este mesmo Pedro traiu Jesus, negando-o por trs vezes, quando ele mais precisava de um amigo ao seu lado. Sem contar o prprio Judas, que o entregou aos sacerdotes por trintas moedas de prata. Da mesma forma, hoje em dia, irmos tm trado com a lngua. A fofoca a arma que Satans mais tem usado para destruir a igreja, usando os irmos uns contra os outros. Isso inadmissvel! Como podemos usar de algo to malfico contra aqueles que vo estar conosco eternamente no cu? Se que, estes que so usados pelo diabo vo para o cu! Graas a Deus que ns temos aprendido que o amor tudo suporta e assim ns oramos e entregamos nas mos do Senhor para que ele tome conta. Mas tm um porm. Uma vez que a fofoca foi feita, nunca mais ser esquecida; no se pode apagar da memria o que foi dito. como pegar um travesseiro de penas e abri-lo no alto de uma montanha, fazendo com que as penas sejam levadas pelo vento; ainda que se arrependa, nunca mais poderemos recolher todas as penas de volta. Uma vez feita a fofoca, ela fica para sempre. E aquele que foi acusado, injustamente, tem que passar a vida tentando se justificar para provar que inocente. Isto muito srio! Isto tem que acabar dentro da igreja! No podemos permitir que vidas sejam destrudas por causa da falsidade de alguns que, fingindo ser cordeiros, na verdade so lobos vorazes que querem nos destruir! Mas Deus quem sonda os nossos coraes, Ele quem nos conhece, como est escrito no livro de J, cap. 31, dos versculos 4 ao 6. Vamos abrir nossas Bblias.

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No v Ele os meus caminhos, e no conta todos os meus passos? Se eu tenho andado com falsidade, e se o meu p se tem apressado aps o engano, pese-me Deus em balanas fiis, e conhea a minha integridade. Ele, amados, conta todos os nossos passos, conhece nossos caminhos, Ele, e s Ele que pode nos julgar, porque conhece tudo sobre nossas vidas, e nos retribui segundo as nossas medidas, como est escrito em Jeremias 17:10: Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o corao; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas aes. Por isso, no julgue a seu irmo, no julgue o Pastor, no julgue nem aqueles que no so crentes, pois s Deus pode fazer isto. Quer algum para julgar? Julgue a voc mesmo, e desta forma vai se corrigir antes que o Senhor corrija-o. Amados, ns precisamos nos amar, e muito, pois s desta forma poderemos ajudar a todos aqueles que vierem at aqui precisando de um auxlio, de uma segurana na vida, de um Deus que resolva todos os seus problemas. Como poderemos ajudar aos outros se no conseguimos resolver nossos prprios problemas!? Eles nunca acreditaro em Deus se no for atravs de nossas vidas transformadas e restauradas pelo Senhor! Temos que ser santos! Temos que andar em novidade de vida! Temos que mostrar ao mundo que Deus verdadeiro! E para isto, temos que aprender a perdoar uns aos outros, pois perdoando que seremos perdoados por Deus. Ser que h em ns algo que precisa ser perdoado? Ser que precisamos pedir perdo a algum? Ser que h alguma mgoa escondida dentro de ns? Como saberemos? S Deus, atravs do Seu Santo Esprito, pode nos dizer o que precisamos perdoar ou a quem precisamos perdoar. Quero que vocs baixem suas cabeas, fechem os olhos; 64

o grupo musical vai tocar uma msica bem suave, enquanto eu vou ler um trecho da Bblia. Escutem repetindo estas palavras no seu ntimo, tomando-as para si, para que possam escutar a voz de Deus no seu interior. Baixem as cabeas e fechem os olhos. Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra no me chegou lngua, e tu, Senhor, j a conhece toda. Tu me cercas por trs e por diante, e sobre mim pes a tua mo. Tal conhecimento maravilhoso demais para mim; sobremodo elevado, no o posso atingir. Para onde me ausentarei do teu Esprito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos cus, l ests. Se fao a minha cama no mais profundo abismo, l ests tambm, Se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares; ainda l me haver de guiar a tua mo e a tua destra me suster. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobriro, e a luz ao redor de mim se far noite, at as prprias trevas no te sero escuras: as trevas e a luz so a mesma coisa. Pois Tu formaste o meu interior, Tu me teceste no seio de minha me. Graas te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras so admirveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos no te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substncia ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nenhum deles havia ainda. Que preciosos para mim, Senhor, so os teus pensamentos! E como grande

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a soma deles! Se os contasse, excederiam os gros de areia: contaria, contaria sem jamais chegar ao fim. Terminado de ler o texto, Pr. Lucas deu uma pausa de alguns minutos e continuou: - Neste momento em que voc abre o seu corao, o Esprito Santo lhe sonda e traz tona coisas que voc havia esquecido, problemas mal resolvidos que Deus quer deixar bem resolvidos definitivamente. Ele lhe sonda e traz sua mente aquele perdo que voc no quis dar, agora voc vai liberar este perdo porque o Senhor est revelando que voc tem que fazer isto, e s assim voc ser perdoado por Deus. Continue com a sua cabea baixa e os olhos fechados, que ns vamos falar com o Pai. Repita comigo: Pai, Tu me sondas e me conheces, por isso nesta hora eu quero liberar o perdo para esta pessoa a quem eu tenho negado a tua bno, eu libero o perdo agora e te agradeo porque Tu, tambm, tem me perdoado. Obrigado pelo teu amor. Em nome de Jesus. Amm! Agora vamos colocar em prtica aquilo que acabamos de orar. Eu quero que, aqueles que sentirem o desejo de, nesta hora, aproveitando o momento em que o amor de Deus mais forte em ns, perdoar algum, que o faa agora. Que voc se levante, dirija-se at pessoa que voc magoou e lhe pea perdo. Um de cada vez. Quem o primeiro a mostrar que est apto a perdoar o outro? Quem o primeiro a mostrar a mudana que Deus fez em sua vida? Ento, um homem levantou-se no meio da igreja e disse: - O Senhor Jesus modificou o meu corao e me mostrou que eu devo pedir perdo ao irmo Antnio Alves, pois ele me repreendeu numa falta que eu tive e eu achava que ele queria ser mais santo que os outros. Somente hoje, percebo que ele estava coberto de razo. 66

Irmo Antonio, sempre quis lhe pedir perdo, mas nunca tive coragem, porm agora, Deus me encorajou e eu posso lhe dizer: me perdoe por ter falado mal do senhor. - V at ele! - disse o Pr. Lucas - Mostre o quanto voc o ama dando-lhe um abrao bem apertado. Mais algum quer manifestar o seu perdo publicamente? - Eu quero! - exclamou uma irm sentada no banco da frente. - Quero pedir perdo a irm Elza, pois um dia eu cheguei, encontrei a igreja suja e comentei com vrias irms que ela no estava fazendo um bom trabalho na zeladoria da igreja e merecia ser chamada ateno. No domingo seguinte, eu descobri que ela no havia limpado a igreja naquele dia porque tinha ido visitar uma irm que estava doente e aproveitou para fazer uma limpeza na casa desta irm, pois ela morava sozinha e estava sem condies de limpar a prpria casa. Irm Elza, perdoe-me em nome de Jesus. - Isto irm, assim que devemos fazer, retirar todo lao de nossas vidas para que possamos receber as bnos de Deus. Mais algum quer falar? Ento, alguns jovens que estavam juntos se levantaram e um deles falou: - Ns queremos pedir perdo ao senhor, pastor, porque na semana passada ns fizemos alguns comentrios irm Rute que no foram muito agradveis; no deve ser comentado aqui para que no se espalhe como as penas da montanha de que o senhor falou. Mas o fato que ns falamos mal do senhor; queremos que o senhor perdoe-nos por isso, pois estamos arrependidos do que falamos e queremos esquecer o assunto. - Meus filhos - disse o Pr. Lucas - eu os amo demais e no h nada que vocs faam que v diminuir 67

este amor. claro que eu perdo vocs. No sei nem o que vocs disseram, mas isto no importa mais. O que importa que vocs esto liberados para receber as bnos de Deus, porque vocs liberaram o perdo que estava retido nos seus coraes. Venham c me dar um abrao. O Senhor nos fez um corpo, e, como um corpo, unido e bem ajustado, ns devemos viver. Vrias outras pessoas tambm se levantaram para pedir perdo, prolongando, assim, um pouco mais a reunio. No carro, enquanto voltava para casa, ele assobiava uma cano, enquanto Rute, sria, olhava para frente. - Voc est muito feliz, como quem conseguiu uma grande vitria! - falou Rute, virando-se para ele. - E voc est muito ranzinza, como quem precisa liberar perdo. - Liberar perdo para quem? - perguntou Rute surpresa. - Liberar perdo para mim. Voc tem me tratado com muita frieza ultimamente e muito desconfiada tambm; e reclama demais! - O que!? - disse ela com a voz alterada. - Voc mal fala comigo e diz que eu que lhe trato com frieza!? Voc desaparece sem dizer onde est e eu que sou desconfiada!? Voc no acha que est distorcendo um pouco as coisas? - Desse jeito no d nem para conversar com voc. J est gritando; vai acabar assustando as crianas. melhor eu ficar calado porque com voc no tem dilogo que resista. - disse Lucas com um pouco de cinismo e ambos se calaram.

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IX

Uma semana depois, numa quarta-feira, quando voltou do almoo, o irmo Antnio Alves j o aguardava. - Boa-tarde, irmo Antnio, que bom v-lo aqui, em que eu posso ajud-lo? - perguntou o Pr. Lucas enquanto entravam no gabinete pastoral. - Bem, eu vim aqui para ns termos uma conversa de homem para homem. - respondeu o irmo Antnio com um tom de muita seriedade. Pr. Lucas encostou-se na cadeira como quem toma uma posio defensiva e disse: - Ento fale, para que possamos colocar o assunto, seja ele qual for, em pratos limpos. - O senhor sabe que eu tenho um carinho muito grande pela sua pessoa, assim como tambm pela sua famlia e peo a Deus todos os dias pela sua sade; bem como pela sua felicidade e a felicidade de todos os seus entes queridos. Fui um daqueles que solicitou ao seminrio o seu nome para pastorear esta congregao; levei a igreja a aceit-lo como pastor; passei-lhe toda a histria da mesma desde a sua fundao at o dia em que tomou posse. Sempre lhe apoiei, mesmo quando alguns no o queriam mais como pastor porque achavam que devia mudar sua posio doutrinria; ns lutamos juntos e conseguimos mostrar a eles que queramos apenas viver a verdade de Deus nesta igreja. Bem, nestes dez anos, 69

juntos, sinto-me com a liberdade de chegar at o senhor para questionar e at mesmo para exortar em algum assunto que se torne necessrio. Tenho o senhor como um dos meus filhos e, me colocando na condio de pai, no posso ver um filho indo por um caminho errado sem adverti-lo para que mude de direo. Somente espero que o senhor, como homem sensato que , entenda a minha posio e o porqu de estar fazendo isso. - claro que eu estou disposto a lhe ouvir; tambm tenho o senhor como um pai para mim, sei que quer me ajudar. Agora, se no disser qual o problema como vou saber? - Pois bem, depois daquele domingo, quando aqueles jovens levantaram para lhe pedir perdo por algo que eles haviam dito, eu sabia o que eles haviam comentado. At a minha filha caula, a Cris, estava entre eles e foi ela que me contou que, vrias vezes, viu o senhor na faculdade para dar carona para aquela menina, a Karla. Quando eu disse que a conversa era de homem para homem, porque o assunto srio. No que eu esteja dizendo que o senhor tem adulterado com aquela menina; no quero julgar ningum, quem julga Deus, mas que as atitudes falam por si s e as suas atitudes para com ela tm sido um tanto quanto adiantadas demais. O senhor tem protegido muito aquela menina e os jovens, que no medem as conseqncias do que falam, ficaram enciumados e comearam a falar demais. E eu me pergunto: at onde, o que eles falaram, verdade? Pergunto isso porque, apesar de ser um velho, sou homem como o senhor e tenho carne como o senhor tambm tem e sei que o diabo tenta a todos. O rei Davi era o homem segundo o corao de Deus e nem por isso ele escapou da tentao quando viu Bate-Seba 70

tomando banho na casa dela. Por isso pastor, vigie! A Bblia diz que: Aquele que est em p cuide para que no caia. Aquilo que aconteceu no domingo noite foi bom, foi muito bonito, mas o que vale o dia a dia, a cada instante. A cada tentativa do diabo de destruir-nos, temos de estar preparados para vencer, pois a nossa vida depende disso e, mais ainda para as pessoas que esto nesta igreja, o senhor o exemplo. A afirmao da f de cada uma delas depende do seu comportamento; estas vidas esto sobre a sua responsabilidade. - Irmo Antnio, falando desse jeito at parece que o senhor acredita que eu tenha me envolvido com a Karla. O senhor acha que eu seria capaz de trair a Rute, a quem eu tanto amo, com quem estou casado a quase quinze anos por causa de uma menina que tem quase a idade de ser minha filha? claro que no! E alguma vez, nestes dez anos, aqui, eu j lhe dei motivo para desconfiar de mim? O senhor realmente acha que eu seria capaz de fazer uma coisa desta natureza? - Pastor, esta questo de idade no importa mais nos dias de hoje; existem muitos casamentos em que h uma diferena de mais de vinte anos de um para o outro. E eu no estou achando nada, eu falo do que sei e, como j lhe disse, o senhor tem carne como todo homem tem, e a carne fraca. No estou dizendo que o senhor est envolvido com a Karla. Se continuar desse jeito, vai acabar caindo na armadilha do inimigo e difcil sair dela. Como eu disse logo no comeo, no posso deixar de advertir-lhe do perigo que est correndo. Eu quero o bem para o senhor e quero o bem para esta igreja. Saiba que pode contar comigo no que for necessrio para que este problema seja logo solucionado. Porm, saiba que, se vier algum escndalo por causa deste assunto, vou ser o 71

primeiro a propr a sua eliminao para que o pecado no contamine toda a igreja, porque est escrito: que aquele que traz o escndalo para dentro da igreja melhor que lhe amarrem uma pedra no pescoo e atirem no fundo do mar. - Calma, irmo Antnio! Desse jeito o senhor j est me julgando e condenando. Eu estou lhe garantindo que estou limpo diante de Deus e saiba que eu tenho vigiado, e muito, para ser o pastor que esta igreja merece. - Bem pastor, para finalizar, quero lhe dizer que alguns dos lderes vieram conversar comigo, pedindo que eu esclarecesse esta histria com o senhor para que a situao no se complique mais ainda. Por isso, que estou aqui; alguns deles at falaram em fazer uma reunio para discutir sobre o assunto, mas eu disse que no era necessrio, pois no havia nada para ser discutido e que eles estavam fazendo uma tempestade em copo de gua. Porm, agora, que eu tenho a sua confirmao de que nada est acontecendo, isso que eu vou dizer para aqueles que esto com alguma desconfiana. Vamos colocar uma pedra em cima disso tudo e caminhar para frente. J disse o que tinha para dizer; chegou a hora de ir embora; at noite. - At noite irmo, e no se preocupe com nada, a situao est totalmente sob controle.

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X

Manh de sbado, e Rute se preparava para ir feira. Os filhos haviam ido passar o dia na casa de um amigo da escola e Pr. Lucas estava no seu escritrio, lendo. Ela aproximou-se da porta do escritrio e disse: - Lucas, j estou indo feira e vou demorar um pouco; se for sair, deixe recado. Ele, olhando por cima das lentes dos culos de leitura, meneou a cabea afirmando que havia escutado o aviso. A feira ficava perto de sua casa, por isso Rute poderia ir andando; ela at achava bom fazer aquela caminhada. De quinze em quinze dias, ia feira para fazer as compras de verduras e frutas; chegava l, chamava um carregador, que a acompanhava por toda a feira, e levava as suas compras at em casa. Neste dia, porm, assim que parou na primeira barraca, descobriu que havia deixado o dinheiro das compras em casa. Dispensou o carregador e voltou imediatamente. Enquanto abria a porta, indagava consigo mesma: - Onde ser que eu deixei o dinheiro? Ah, J sei! Deixei em cima da cama enquanto trocava de roupa. Dirigiu-se para o quarto, passou pela porta do escritrio e viu que Lucas discava um nmero telefnico. Subitamente parou, encostou-se na parede e aguardava

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ouvir para quem seria esta ligao. Alguns segundos de espera e ele comeou a falar. - Oi, sou eu! O que voc est fazendo agora? - Se voc quiser, eu estou livre. - Na igreja. - No, no, a irm Elza est viajando. - Ela foi para feira, vai passar a manh toda por l. - Daqui a meia hora est bom para voc? - Ok, no se atrase. Assim que ele desligou o telefone, Rute voltou rapidamente para a porta de entrada da casa e a abriu. Depois fechou com fora, avisando que havia chegado. Suas pernas tremiam e sentiu como se estivesse lhe faltando o cho. Lucas do escritrio gritou: - Rute, voc? Ela, aproximando-se dele, respondeu com a voz trmula: - Sim, sou eu. Voltei para pegar o dinheiro que esqueci em cima da cama. - Vou ter que sair. - disse ele enquanto se dirigia ao quarto para tomar banho. - E vai para onde? - perguntou ela como se no soubesse de nada. - Vou fazer uma visita a um irmo que est com um problema; ele acabou de ligar me pedindo para ir sua casa com urgncia. Enquanto tomava banho, ela foi ao escritrio. Suas pernas ainda estavam trmulas; sentia como se o seu peito houvesse diminudo e faltasse espao dentro dele para que o pulmo pudesse se expandir livremente; sentia o seu corao, apertado, bater a uma velocidade incrvel, a ponto de querer saltar pela boca. Contudo, ela precisava 74

ter a certeza; no podia jogar tudo em cima dele. Ele iria arranjar uma desculpa e ficaria o dito pelo no dito. Mas ela sabia o que fazer. Parou em frente ao telefone, tirou-o do gancho, respirou fundo e apertou a tecla REDIAL. Aps o nmero ser re-discado, atendeu uma mulher, sua voz parecia ser conhecida, todavia Rute no pde identific-la. - Al. - Al! Lucas voc? Pronto, era a certeza que ela queria. Desligou o telefone e saiu do escritrio. Suas pernas ainda estavam trmulas; o peito ainda apertado e agora se esforava ao mximo para impedir que as lgrimas descessem pelo rosto. Encostou-se porta do quarto onde Lucas j estava se arrumando e, sem que ele visse o seu rosto, disse: - J estou indo. Se voc chegar para almoar e eu no tiver chegado ainda, tem almoo pronto na geladeira. s colocar no microondas. No precisa me esperar. Ela saiu, foi em direo feira, porm parou assim que virou a esquina e aguardou o momento em que Lucas sasse. Assim que ele saiu, ela voltou em direo casa e foi para a outra esquina onde passava uma avenida. Chegando l, tomou um txi e pediu para que o motorista, sem pressa, fosse em direo Igreja Evanglica Reden