wordpress.com...castigo, refugiando-se em «terra de infiéis» como então acontecia4• em 1611 o...

531

Upload: others

Post on 03-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • o Tombo de Damão

    1592

  • lIiIo.!!J Centro de Estudos

    Damião de Cóis

    o Tombo de Damão

    1592

    Direcção e Prefácio

    Artur Teodoro de Matos

    Transcrição

    Artur Teodoro de Matos

    Lívia Ferrão

    Luís da Cunha Pinbeiro

    Anotação

    Artur Teodoro de Matos

    João Manuel Teles e Cunha

    Índice

    Artur Teodoro de Matos

    Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses

  • Título: O Tombo de Damão - 1592 Direcção e prefácio: Artur Teodoro de Matos Transcrição: Artur Teodoro de Matos, Lívia Ferrão, Luís da Cunha Pinheiro Anotação: Artur Teodoro de Matos, João Manuel Teles e Cunha Índice analítico: Artur Teodoro de Matos

    Coordenação editorial : Fernanda Abreu Capa: Patrícia Proença Revisão: Fernanda Abreu, Luís da Cunha Pinheiro e João Manuel Teles e Cunha

    Edição: CNCDP/Centro de Estudos Damião de Góis

    Paginação: Maria da Graça Manta I mpressão e acabamento: Tipografia Lousanense, L.d, 1 .' edição: Dezembro de 200 1 ISBN: 972-787-053-8 Depósito legal n .o 173359/01

  • PREFÁCIO

  • Situada a 20° 25' N e 72° 58' E, na costa ocidental do Hindustão e à entrada do golfo de Cambaia, na embocadura do rio Sandalcalo ou Damangagá, a cidade de Damão pertencia ao reino muçulmano de Cambaia o u Guzerate, quando os portugueses chegaram à Índia . Segundo Luís Filipe Thomaz, estava muito provavelmente confiada como «feudo militar» a uma guarnição de escravos abexins guerreiros, q ue haviam sido convertidos ao islão1• Sem interesse comercial, este pequeno porto de pesca não atraiu logo o interesse português. D. Afonso de Noronha aqui naufragou em 1510 quando vinha de Socotorá e, doze anos depois, aí aportaria Diogo de Melo . Quando os portugueses entraram em guerra com o reino de Cambaia, c . de 1530, a fortaleza é incendiada, posteriormente atacada em 1533, e finalmente arrasada por Martim Afonso de Sousa no ano seguinte. Em consequência deste conflito, o rei de Cambaia enviou um embaixador ao vice-rei D. Nuno da Cunha e cedeu-lhe a cidade de Baçaim como compensação da de Damão, que continuava na sua posse .

    Apesar de posteriormente doada aos portugueses por iniciativa e acção do governador Francisco Barreto, só com D. Constantino de Bragança é que seria arrebatada pela força das armas. Com efeito, quando o crescimento económico das cidades de Baçaim e Diu era visível e, ao aperceber-se da importância de Damão na protecção dos domínios territoriais de Baçaim e contando com a neutralidade do sultão Mahud de Cambaia, o vice-rei conquistou aos a bexins a praça em 15592• É então

    I Luís Fi l ipe Thomaz, «Damão» , in Diciol/ário de História dos Descobrimel/tos Portl/gl/eses, direcção de Luís de Al buquerque, coordenação de Francisco Contente Domingues, Lisboa, Cíl"CLdo de Leitores, s.v.

    1 Sobre estes acontecimentos de natureza mi l itar, veja-se ibidelll e António Francisco Moniz, Notícias e DOCIIlllelltOS para a História de Dali/fio - AI/tiga Províl/cia do Norte, 3.' ed., Lisboa, Associação Fraternidade Damiio-Diu e Simpatizantes, 2000, J, pp. 14-24; id . , « Resumo da História de Damão», in A ÍI/dia Portl/gl/esa, 1'01. I, Nova Goa, Imprensa Nacional, 1923, pp. 1 87-193; uma pormenorizada descrição desta conquista pode ler-se na carta escrita por Luís Fróis em 24 de Outubro de 1559 aos seus Irmãos Europeus e publ icada por Joseph Wicki, DOCIIlllel/ta II/dica, vol. IV, Roma, Societatis lesu, 1956, pp. 278-282. Para os d iversos aspectos da história de Damão,

    9

  • integrada no Estado Português da Índia com todo o seu território e 25 léguas de extensão ao longo da costa e oito de profundidade, passando a constituir� com as terras de Baçaim, a «Província do Norte». Feita cidade pelo vice-rei D . Francisco Coutinho, conde de Redondo (1561-1564), receberia o foral e os privilégios da cidade de Évora, posteriormente confirmados em 161 P. Será também declarada couto de homiziados em 1610, a fim de evitar que «os culpados em alguns delitos» pudessem fugir ao castigo, refugiando-se em «terra de infiéis» como então acontecia4•

    Em 1611 o vice-rei Rui Lourenço de Távora concederá à cidade de Damão autorização para a cunhagem de bazarucos de cobre. Mas, dois anos depois , o seu sucessor, D. Jerónimo de Azevedo, suspendeu tal privilégio, a legando «inconvenientes de consideração» para o «serviço de Sua Majestade» e para o «bem comum do povo da cidade de Damão», mas reservando uma decisão definitiva para quando visitasse a fortalezas. De facto, j á no final do seu mandato, em 1617, seria de novo concedida autorização para a cunhagem de novos bazarucos e o conde de V ila Verde, em 1695, reiteraria tal l icença6. Mas o privilégio, desta feita, ficaria na exclusiva a lçada do reitor do colégio dos j esuítas. Recorde-se que as funções de vedar da fazenda nas cidades de Diu, Damão, Baçaim e Chaul haviam sido cometidas à Companhia de Jesus7• No caso de Damão, o reitor do colégio seria o administrador da cidade,

    consulte-se de A . B. de Bragança Pereira, «A Fortaleza de Damão », in Arqllivo Portllgllês Orielltal, dirigido pelo mesmo autor, t. IV, v. II, p. I I , Bastorá, 1 940. Veja-se também o que sobre o assunto se escreveu a pp . 33-34.

    3 Carta régia de 9 de Fevereiro de 1 6 1 1 , in DOCllmelltos Remetidos da Ílldia 011 LiL'roS das MOllções, publ icados sob a d irecção de Raimundo António de Bulhão Pato, t. I I I , Lisboa, Academia Real das Ciências, 1 874, p. 28 . Veja-se tam bém parte desta carta e o que sobre o assunto escreveu A. B. de Bragança Pereira em «A Fortaleza de Damão», iII lugar já cit . , pp. 6 e 286-287 .

    . , Carta régia de 1 2 de Novembro de 1 6 1 0, in DOCllmelltos Remetidos da Ílldia 011 Livros das MOllções, t. I, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1 8 80, pp. 402-403 e também em A. B. de Bragança Pereira, em « A Fortaleza de Damão » , iII lugar já cit., pp. 290-291 .

    5 Cf. Alvarás de 22 de Agosto de 1 6 11 e 1 8 de Maio de 1 6 1 3 publ icados por A. B. de Bragança Pereira , «A Fortaleza de Damão», iII lugar já cit., pp. 266-267.

    6 Provisões de 22 de Março de 1 6 1 7 e 1 8 de Junho de 1 695, cirs. por António Francisco Moniz, Notícias e DOCIIlllelltOS para a T-listória de Dalllão - A/1tiga Províllcia do Norte, vol. I, p. 24 1 . Sobre o assunto, veja-se também A. B. de Bragança Pereira, «A Forta leza de Damão», iII lugar já cit . , p . 267.

    7 Arquivo Histórico de Goa, COllselho da Fazenda, n.O 5 , « Assemo tomado sobre correr a administração das fortalezas do Norte pellos Padres da Companhia de Jesus », fI. 1 57-1 57v, cito por Maria Manuela Sobral Blanco, O Estado da Índia. Da rendição de Orlllllz à perda de Ceilão (1622-1663), vol . I, Lisboa, 1 992, pp. 263 e 368 (dissertação de doutoramento, policopiada, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).

    lO TOMBO DE DAMÀO - Isn

  • sendo abundante a troca de correspondência trocada com o senado, sobre este e muitos outros assuntoss.

    Referia um autor em 1582, que Damão tinha «pouco trato de mercadorias», mas muitos mantimentos que dali seguiam para muitas partes e, sobretudo, para Baçaim9• D ispondo de uma área territorial que se estendia por 5 7 km2, Damão encontrava-se dividido em nove praganás que agrupavam mais de 332 aldeias. Resultante de uma conquista militar, havia, por isso, necessidade de ocupar efectivamente as terras, retirando também daí o maior rendimento para a Fazenda Real e para os seus residentes. A sua defesa era problema de monta. Por isso tornava-se necessário promover a fixação de portugueses no território, garantindo-lhes condições e oferecendo-lhes incentivos.

    Escreveu Francisco Pais em 1592 que, sendo os chãos de Damão e seus termos propriedade régia, era necessário fazerem-se neles casas e hortas «pera vivenda dos moradores». Por isso, D . Constantino de Bragança encarregara o seu primeiro capitão, D. Diogo de Noronha, de «dar e repartir os chãos como lhe parecesse mais conveniente», acautelando os interesses dei-rei, mas também o «bem do povo» 10. Tal prerrogativa seria posteriormente concedida aos demais capitães da fortaleza . Acrescenta ainda o mesmo autor que, em resu ltado dessa orientaç;ão política, haviam sido dadas a «muitas pessoas, muitos chãos» , dentro e fora da fortaleza, agora transformados em casas e hortas, mas sem lhes «assentarem nem declararem nenhum foro» nem os escusarem dele, conforme havia sido explicitado na concessão inicial do vice-rei .

    Daí que tenha prevalecido o regime dos prazos, que representará a persistência da tradição de um modelo fiscal e institucional já existente, moldado a formas estatuídas pelo direito portuguêsll. Seria a manuten-

    8 Veja-se, por exemplo, a publ icada por António Francisco Moniz, Notícias e DOCIIlllel/tos para a História de Damão - Alltiga Províllcia do Norte, vaI . I, a pp. 241 -259, e vaI. II, a pp. 57--58; tam bém A. B. de Bragança Pereira, «A Fortaleza de Damão» , em l ugar já cir., pp. 267- 2:86.

    9 Cf. «Livro das cidades e fortalezas que a Coroa de Portugal tem nas partes da India e das capitanias e mais cargos que nelas ha e da importancia delles» publ icado por Francisco Mendes da Luz, in Boletilll da Biblioteca Geral da Ulliversidade de Coimbra, vaI . XXI, Coimbra, 1 953, p. 42.

    10 «Sobre os chãos da cidade de Damão», in Tombo das aldeas terras e propiedades foreiras e relidas que Sua Magestade tem lia cidade de Damão e sells termos, feito por Fral/cisco Paaez, prouedor moI' dos Comos, e pel/o colltador Diogllo Vieira. AIIIIO de 1592, adiante transcrito, fls. 1 6 1 v-1 62. Citaremos seguidamente esta fonte por TOlllbo de Dalllão.

    11 Cf. Luís Fi l ipe Thomaz, « Estrutura Pol ítica e Administrativa do Estado da índia no Século XV I " , iII II Selllillário llltemaciollal de História llldo-Portllguesa. Actas, ed. organizada por Luís de Al buquerque e Inácio Guerreiro, Lisboa, I nstituto de Investigação Ciemífica Tropical-Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1985, p . 535.

    II

  • ção das qasba muçulmanas (a ldeias rurais) , cujos nobres pagavam a título de imposto a iqta, designada no período mogol de jagil·12, logo identificada com o foro das leis portuguesas do aforamento e da el1fiteuse13•

    O aforamento das a ldeias «a pessoas de merecimento», por uma e, mais frequentemente, duas e três vidas, com obrigação de residirem na cidade de Damão com mulher e filhos foi, pois, a solução encontrada, numa lógica tradicional de ocupação e rendibilidade. Os novos titulares - muitos deles fidalgos - tinham por dever defender as terras dos inimigos, fazer as benfeitorias necessárias, «como os senhorios fazem no seu para assim eles e seus sucessores irem continuando e a dita cidade ser bem povoada na multiplicação de seus descendentes» 1 4 .

    Mas se o «merecimento» era condição do aforamento, a «satisfação de serviços» e de outras «obrigações que lhes fossem impostas» decorria do facto de auferirem rendimento suficiente, não só para «sustentarem suas pessoas e família» como para cumprirem os deveres a que ficavam suj eitos ao receberem a terra. É que a defesa da cidade exigia outros encargos dos foreiros.

    Se bem que a residência com a mulher - «para estarem sempre prestes» - fosse uma exigência a que poucos se poderiam furtar, a posse da terra determinava-lhes, quase sempre, o sustento de cavalo árabe ou da terra «com que pudessem correr e defender as terras» 1 5. Registou Pietro della Valle, em 1623, que «aqui são todos cavaleiros, e possuem muitos cavalos árabes, pois são a isso obrigados para irem, quando necessário, frequentes vezes à guerra em defesa do seu território», embora na a ltura estivessem em paz16• Mas algumas outras obrigações poderiam ser-lhes impostas, cumulativamente ou não: a prestação de serviço como espingardeiro, o pagamento a sarcetas e dessa is ou de ordenados a determinados oficiais, peões e soldados, o exercício de mestre das ferrarias ou até a ajuda na manutenção do cavalo árabe do capitão de

    12 Veja-se a bibl iografia indicada por L. F. Thomaz no estudo acima citado, Alexandre LobatO, «Sobre os Prazos da Índia" , in li Semillário llltemaciollal de História l lldo-Portllguesa. Actas, pp. 460-466 e a l-listoire de I'lllde Model'11e 1480-1950, dir igida por Claude Markovits, Paris, Fayard, 1 994, p. 34.

    IJ Sobre o assunto, veja-se o que escreveu Henrique da Gama Barros na sua História da Admillistração Pública elll Portugal, 2.' ed. d irigida por Torquato de Sousa Soares, nos vols. VII e VIII, Lisboa, Sá da Costa, 1940 e 1 950.

    14 "Sobre a foramentos» , i n TOlllbo de Damão, fI . 162. 15 lbidelll, fI. 162- 162v. 16 A Ílldia el/l 1623 e 1624. Excertos das memórias do viajallte italiallo Pietro del/a "alie,

    compi lados e anotados por J. A. Ismael Gracias, Nova Goa, I mprensa Nacional, 1 91 5 , p. 1 8 .

    12 TOWIO DE DMIÀO- 1592

  • Açarim. Só a magreza de rendimento poderia escusar ou reduzir certas obrigações como aconteceu a muitos dos abexins, convertidos ao cristianismo, e a quem foram entregues terras!?

    Anote-se, também, que tendo inicialmente sido estipulada a transmissão apenas por via masculina «a respeito de sucederem quem as defendessem e granjeassem», D. Antão de Noronha, por solicitação dos damanenses, acederia, em 1560, a que a sucessão pudesse acontecer também por via feminina. Em consequência de tal deliberação, os aforamentos - escreve Francisco Pais - passaram a fazer-se «com declaração de vidas e não de pessoas» 1 8, Embora o provedor não o referisse, sabe-se que a nova herdeira ficava obrigada a casar-se no prazo de seis mesesl9•

    Registe-se que, aquando da concessão do regimento de Damão de 1565, D. Antão de Noronha quantificaria o número de pessoas que deveriam aqui residir e que tipo de serviço militar teriam de prestar. O vice-rei estabeleceu que 226 foreiros residissem permanentemente em Damão, dos quais 150 serviriam como cavaleiros, para o que teriam de manter 156 cavalos árabes, outros 37 manteriam 37 cavalos da terra (i. e. da Índia) e 39 homens prestariam serviço como espingardeiros20• Cabia ao capitão da fortaleza a manutenção de uma força militar permanente, constituída por 70 homens, entre soldados, familiares e dependentes, ajudados por soldados especializados, como os doze bombardeiros, todos pagos pela Fazenda Real, como o demonstram os orçamentos conhecidos2 1 • Tal contingente assegurava a defesa diária da fortaleza e enquadrava os foreiros em época de cerco e de expedições punitivas.

    À prestação do serviço militar, porque onerosa, resistiram os foreiros, levando D. Antão de Noronha a recorrer a medidas coercivas, traduzidas na a meaça da revogação da carta de aforamento, no caso de não cumprirem o regimento de 31 de Maio de 1565. Mas nem assim terá o vice-rei forçado o cumprimento das obrigações dos foreiros, j á

    17 A. B . d e Bragança Pereira, .. A Fortaleza d e Damão», iII lugar j á cit., p . 235. Uma síntese da legislação promulgada ao longo dos anos sobre esta matéria pode ver-se na obra de Bragança Pereira, pp. 235-236.

    I ... Sobre aforamentos » , in TOlllbo de Dalllão, fI. 162v. I; Provisão de 1 de Março ele 1 566, iII A. B. de Bragança Pereira, .. A Fortaleza ele Damão»,

    iII l ugar já c it . , p. 235. 20 " Regimento pera a fortaleza e Cidade de Damão», in Regillleutos das Fortalezas da ílldia,

    estuelo e notas por Panduronga S. S. Pissurlencar, Bastará ( Goa), 1 95 1 , p. 407. 21 Veja-se entre outros José Gentil da Si lva, « Une i mage ele l'Estado ela India au débur du

    XVII' siêcle et ses enseignements» , in Arquivos do Ceutro Cllltllral Portllgllês, IV ( 1 972), p. 273.

    13

  • que, dois anos depois, promulgava um alvará exigindo que prestassem todas as obrigações militares a que estavam sujeitos22•

    Quando é elaborado o «Tombo de Damão», em 1592, a situação era bem diferente, já que só 173 foreiros eram obrigados a viver em Damão, os quais teriam de manter 116 cavalos árabes e 33 da terra, e 54 serviriam como espingardeiros.

    Sendo uma importante zona de fronteira, a sua história militar está repleta de acontecimentos que marcaram a presença portuguesa nesta praça. Assinalem-se os diversos ataques perpetrados pelos abexins logo após a sua expulsão (1559-1562) e os infligidos pelos mogores a partir de 1565 e, com mais frequência, desde 1572, altura em que se apoderaram do Guzerate. Também alguns régulos seus vassalos castigaram por diversas vezes as forças portuguesas. Muitos desses conflitos foram originados pelo pagamento do chouto, direito a um quarto (depois apenas a um oitavo) da colheita de a lgumas aldeias, devido a certos régulos vizinhos23•

    Quando os maratas conquistaram Baçaim e as suas terras em 1739, ocuparam também parte das de Damão, que ficou reduzido à cidade e a uma pequena extensão de terra em seu redor. Não obstante as várias tentativas efectuadas pelos portugueses para a sua restituição, não mais voltariam à jurisdição do Estado da Índia . Só em 1779 acabariam por ceder aos portugueses, a título de compensação, a aldeia de Oadrá e a praganá de Nagar-Aveli, que permaneceram sob o domínio português até à sua ocupação pela União Indiana em 1954.

    A cidade de Damão, já no período muçulmano, dispunha de um pequeno forte . Todavia, ao longo do ú ltimo quartel do século XVI a cidade será totalmente protegida por grossa muralha, com fossos e baluartes ainda hoje existentes, que lhe trariam a designação de Damão Praça ou Damão Grande. Um testemunho de 1612 refere que a cidade se encontrava já «toda cercada com grandes baluartes, em distancia proporcionada para defender os muros, que já estão em altura para se

    12 A 1 6 de Outubro de 1 567. Cf. Regill/entos das Fortalezas da Índia, já cit., pp. 390-39 1 e 4 23-426.

    lJ Cholfto: do marata chalfth, do hindu eholfth ou do guzerate ehoth, por sua vez do sânscrito ehaturth, «um quarto" ; cf. Luís Fi l ipe Thomaz, «Damão ", in Dicionário de História dos Descobril/lentos Portugueses, s .v. e «Sobre o chouto que se paga ao rey dos sarcetas" , in Tombo de Dall/iio, fls. 1 60v- 1 6 1 v.

    14 Tmwo DE DAMÃO - 1592

  • poder a cidade defender a todo o poder de Cambaia»24. Acrescentava vinte anos depois António Bocarro, que os muros tinham trinta pés de altura e vinte de largo, tendo em redor dez baluartes em forma de espigã025. No seu interior viveriam quatrocentos casados, «entre portugueses e seus filhos e a lguns pretos cristãos» e, elucidava o mesmo cronista : «todos mui boa gente de armas», a que se somavam alguns escravos também de armas26. Na sua opinião, Damão era «a mais bem situada e defensável cidade» de todo o Estado da Índia, com ruas direitas que a atravessavam de muro a muro e, ordenadas de tal modo, que de todas se descobriam os muros27. Já o traçado urbanístico de Damão havia ca usado a admiração de Pietro della Valle, que observou a «boa construção» e as suas «ruas compridas, grandes e direitas», para a lém das «muralhas de boa fortificação»2s. Embora talvez não delineada e construída pelo italiano João Baptista Cairato, certamente que a sua intervenção se terá aqui feito sentir, na morfologia da cidade e na sua fortificação, como aponta Walter Rossa em inovador estudo urbanístico de Damã029. Recorde-se que este distinto técnico exerceu as funções de engenheiro-mor da Índia nos anos de 1583-1596.

    No interior da fortaleza residia o capitão, e m morada que aproveitara a lgo da anterior casa do governador muçulmano e também aí tiveram assento as casas das diversas ordens religiosas. Testemunhou o padre Manuel Godinho em 1663, que os edifícios da cidade eram «pela maior parte ba ixos» e nem era

  • ga mesquita , ora transformada em templo cristão. Se bem que os franciscanos tenham feito algumas tentativas apostólicas em Damão antes de 1559, são os jesuítas os primeiros missionários a estabelecerem-se aqui . A sua residência receberá o nome de Nossa Senhora da Purificação. Em 1567 é construída a igreja de S . Paulo e, catorze anos depois, é fundado o colégio «vasto e de boa fábrica», dedicado às Onze Mil Virgens, invocação, segundo se crê, sugerida pelo envio de um crânio de uma delas, remetido pelo geral da Companhia, Cláudio Aquaviva3 1 . U m dos jesuítas encarregar-se-á dos catecúmenos n a qualidade d e «pai dos cristãos». Recorde-se que a superintendência das obras de construção da fortaleza havia sido confiada «aos meses», a dominicanos e j esuítas que, e m momentos diferentes, se desvincularam de ta l encarg032. Mas, por insistência de Aires de Saldanha (1600-1605), reconsiderar iam a desistência, assumindo de novo os inacianos a d irecçã o das obras, j untamente com os vereadores do senado. Mas advertia o padre Sebastião Gonçalves que estes nada podiam fazer sem consentimento do reitor «como principa l agente e administrador das despesas que fazem na fortificação, pondo ele e tirando os oficiais»33 .

    Também as demais ordens religiosas logo se estabeleceram em Damão. Os franciscanos, apesar das suas tentativas de fixação em 1559, com a criação do convento dedicado ao Espírito Santo, depois mudado para a invocação da Mãe de Deus, só em 1581 se fixaram definitivamente34• Os dominicanos chegaram em 1564 e logo criaram o priorado de S. Domingos. Em 1599 são os ermitas de Santo Agostinho que aqui se instalaram. Um dos seus religiosos será o comissário permanente da inquisiç�ío de Goa35. No final de Seiscentos, duas outras ordens religiosas decidiram também fixar-se em Damão: os hospitaleiros de S. João de Deus que aí instituíram uma casa em 1693 e, dois anos depois, as religiosas de Santa

    31 A Í/ldia eJll 1623 e 1624, j á cit., p. 1 7. Sobre o estabelecimento das ordens religiosas em Damão, veja-se o elucidativo estudo de E. R. Hambye, « Damão", in Dictio/l/laire d'Histoil'e et de Géographie Ecclésiastiques, d irigido por R . Aubert e E. van Cauwenbergh, t. XIV, Paris, Letouze)' et Ané, 1960, p. 42, que aqui seguimos.

    J1 Segundo o padre Sebastiam Gonçalves, «sentindo-se a Companhia agravada com esta carga a largou em tempo do viso-rey Mathias d'Alboquerque» ( 1 59]-1 597); cf. 0&. cit., I I, pp. 3 65-366.

    JJ PriJlleira Parte da História dos Religiosos da COJllpa/lhia de jesus, ed. já cit . , p . 366 . J � Também conhecido por convento de S. Francisco de Assis. Sobre o assunto, veja-se de pa

    dre frei Paulo da Trindade, CO/lquista Espiritual do OrieJ1te, introdução e notas de F. Félix Lopes O . F. M., II parte, Lisboa, Centro de Estudos H istóricos Ultramarinos, 1 944, pp. 86-90.

    J5 « Memórias da Congregação Agostiniana na índia Orienta l » , in DOCl/llleJ1tação para a História das Missões do Padroado Português do Oriellte. ÍJ1dia, coligida e anotada por António da Si lva Rego, vol. XII, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1 958 , pp. 21-22.

    1 6 TmlBO D E D"�IAo - 1.192

  • Mónica . Aos primeiros seria entregue o hospital da Misericórdia de Damão em 1695, que ficará a dispor de duas dezenas de camas36•

    Na outra margem do rio, a norte, na zona conhecida por Damão Pequeno, mais antiga, maior e bem mais populosa , por iniciativa do vice-rei D. Jerónimo de Azevedo (1612-1616), foi construído entre os anos de 1614 e 1627 o forte de S . Jerónimo, «para efeito de terem onde se recolher e acoutar os portugueses e cristãos quando desta banda brigassem com os mouros em defesa das nossas terras que por aqui temos»37. É que as frequentes acometidas de Choutéa, rei de Ramnagar, vassalo do Mogor, aos portugueses eram frequentes e exigiam uma adequada resposta . Desenhado em forma de triângulo por Júlio Simão, discípulo de João Baptista Cairato, esta fortaleza albergava uma pequena guarnição que garantia a sua defesa e dos que a l i se acolhessem. O seu comando seria sempre confiado a um fida lgo de confiança , já que dele dependia a «defesa da terra»38.

    Território rico em arroz, «que é o fruto destas aldeias» e, na informação de Bocarra, porque «sobeja muito do que é necessário para a sustentação da cidade e dos mais habitadores das terras», era exportado para diferentes destinos e muito especialmente para Baçaim. Mas também Goa era anualmente abastecida por este cereal, segundo atesta Pyrard de Lavaj39.

    Em Damão de Cima, vizinho de Damão Praça e povoação de mouros, gentios e alguns cristãos, havia várias tendas de tecelões, ourives e

    36 Bibl ioteca Nacional, Lisboa, « Rellação do catalogo dos conventos e hospitaes que tem na India Oriental a Religião de S. J oão de Deos: quem forão seus fundadores, e o anno em que foy fundado cada hum dos d itos conventos», códice 1 77, fI . 372-372v. Em 1 7 1 3 o convento e hospital de Damão contava apenas com quatro religiosos; cf. AHG, MOllções do Reillo, I . 79, « Lista dos conventos e hospitaes que admin istra a Ordem de São João de Deos no Estado da lndia O rientai . . . ", fi. 349 . Veja-se também E. R . Hambye, « Damão», in Dictiolllwire d'Histoire el de Géographie Ecclésiastiques, art. já cit.

    37 António Bocarro, « Livro das plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da lndia Orienta l " , ed. e vol . já cit . , pp. 1 3 3- 1 34 . Sobre a fortaleza de Damão e o forte de S. Jerónimo, veja-se de Wa lter Rossa, Cidades llldo-Portuguesas, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, ' 1 997, pp. 77-79.

    3S Instituto dos Arquivos NacionaisrTorre do Tombo, DOCIIII/elltos Rell/etidos da ílldia ou Livros das MOllções, n.O 1 7, carta do conde da Vidigueira ao rei, Goa, 25 de Março de 1 623, também cit. por M. Ivlanuela Sobral Blanco, O Estado da Ílldia . . . , p . 33 .

    3 9 Viagell/ de Frallcisco Pyrard de Lavai . . . , versão portuguesa de Joaquim Hel iodoro da Cunha R ivara, edição revista e anotada por A. de Magalhães Basto, vo l . II, Porto, Livraria Civi l i zação, 1 944, p. 1 93 .

    1 7

  • «oficia is de todo o serviço mecânico». Teciam-se aí canequins40, tafeciras

  • remo, transportava-se betre, cocos e areca, produtos sobretudo oriundos de Baçaim, que se trocavam por vários tipos de tecidos .

    Para Diu seguiam sobretudo mantimentos e arroz, «que é o que Diu tem falta». E, nos meses de Outubro a Dezembro ou, eventualmente em Abril, navegava-se para Mascate, levando arroz e roupas vindas de Cambaia. A viagem podia depois continuar até Baçorá. Pela mesma altura partiam os navios para a costa de Moçambique levando sobretudo tecidos e trazendo marfim, âmbar e escravos48•

    Por provisão de 19 de Março de 1591 o rei ordenara a Matias de Albuquerque que se elaborasse na Índia um tombo de todas as a ldeias, terras e outras propriedades que pertenciam à Fazenda Real e delas eram foreiras, sobretudo as das fortalezas do Norte49• O vice-rei encarregará dessa m issão o competente e impoluto Francisco Pais, conferindo-lhe alçada de vedor da Fazenda . É que haviam sido denunciadas à Coroa a lgumas situações irregulares, tanto na cobrança dos foros como na posse indevida de terras. O exagerado número de aldeias e outras propriedades com foros «muito pequenos» ou mesmo «forras», o parco rendimento de tal imposto e o usufruto de algumas por nominais donos «que as trazem por tanto suas que nem os foros delas querem pagar» levaram a Coroa a corrigir tais situações. É que, no seu entender, corria-se até o perigo de «perpetuarem-se na posse delas de maneira que haja depois dificuldade em se requerer contra eles justiça»50. A ameaça de que «se podem seguir sonegarem-se» era real . Daí a ordem para que se fizesse «sem d ilação a lguma» um tombo. Nele seriam registadas todas as «aldeias, terras e propriedades» pertencentes à Fazenda Real e que delas eram «foreiras», declarando-se as «pessoas que as trazem e os foros que delas pagam». A circunstância da doação e o nome do seu autor teriam de ser assinalados. As confrontações também deveriam ser averbadas «para se não poderem desencaminhar em tempo algum» e, achando-se algumas «sonegadas», deveriam ser postas em «arrecadação» e lançadas no tombo com as respectivas confrontações.

    Com a colaboração do contador Domigos Vieira e, por certo, beneficiando já da experiência adquirida em Diu, Francisco Pais inicia a

    48 lbidelll, p. 1 56 . 4 9 Veja-se a provisão a fI . 2-21'. 50 lbidelll, fI . 2.

    19

  • tarefa pelo registo dos rendimentos da alfândega de Damão, a que se seguirá o das praganás. Em cada uma delas averbou, uma a uma, as aldeias que as integravam, os nomes dos seus antigos e actual proprietários, o modo como fora efectuada a sucessão, as obrigações do foreiro, bem como o tipo de rendimentos devidos à Fazenda Real provenientes maioritari amente da posse da terra, mas não SÓS]. É um autêntico cadastro da propriedade rural de Damão, a lém de repositório de incalculável riqueza para a sua história agrária, financeira e até social em finais de Quinhentos. Termina com algumas explicações acerca da moeda a utilizar pelos foreiros na satisfação das suas obrigações tributárias, de certas imposições - como é o caso do chouto e do um por cento -- da natureza jurídica dos chãos de Damão, dos aforamentos, dos foros de determinadas terras e, finalmente, a sua defesas2.

    Em relação às fontes utilizadas, o seu autor não foi tão explícito quanto o havia sido no tombo de D iu. Todavia, não deixa de referir-se amiudadas vezes ao Foral das terras de Dmnão e do rendimento delas, a um antigo tombo, que poderá ou não ser o Foral que bastas vezes alude. Refere ainda diversas provisões e títulos que lhe foram presentes, decerto pelos detentores das terras53•

    Alguns registos foram efectuados após o termo do trabalho feito por Francisco Pais e Domingos Vieira. Todos eles são do início do século XVII e, porque constam do tombo, também aqui se editam.

    Não cabe nesta ocasião fazer o aproveitamento do seu conteúdo, sobretudo para o tema a que ele mais directamente respeita: a história económico-financeira. Aliás, Lívia Ferrão, em elucidativa comunicação apresentada ao VII Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa analisou, com profundidade e rigor, os principais aspectos para os quais o Tombo de Damão é fonte essencial, sintetizando até os aspectos mais significativoss4•

    Todavia, não poderemos deixar de anotar a efectiva contribuição de Damão para o orçamento do Estado da Índia. Se considerarmos os anos de 1571 a 1718, verificamos que ela se situa entre os 3,6% e os

    51 Registe-se a título de exemplo a renda das medidagcns de Maim, a fI. 154v ou a de jall/e-te, a fI. 157v.

    52 TOII/bo de Da/lião, fls. 1 60v- 1 64 . 5 3 Por exemplo a f1s . 4 , 1 61 e 163 . . H Veja-se este estudo in Mare Libe/'lllJ1, 9 ( 1 995) , pp. 139-148. Na mesma revista foram pu

    blicadas todas as comunicações apresentadas ao VII Seminário I nternacional de História Indo-Portuguesa realizado em Goa de 20 a 24 de Janeiro de 1994.

    20 TO,\IBO DE DA�IÀO - 1592

  • 13% , sendo a média de 7,8%55. E se observarmos a natureza das receitas de 1 635 - ano em que se apresentam discriminadas - verificamos que 80% são provenientes dos foros das aldeias da j urisdição de DamãoSG• Será oportuno também notar que, de 1571 a 1635, tal percentagem apenas atinge os 6,5% nos anos de 1574, 1581 e 1588. Se prosseguirmos no tempo e atingirmos os anos de 1688 e 1709, através do exame das receitas cobradas no Estado da Índia, constataremos que a contribuição de Damão se situa nos 12,6% . Todayia, agora as cobranças não são já , ma ioritariamente, provenientes dos foros. Estes, embora continuassem a constituir o maior rendimento em 1688, não ultrapassam os 32% . É que as actividades económicas haviam-se diversificado e as cobranças provinham também de outras rendas, como p. e. a do tabaco ou a do sal que, em conjunto, quase alcançavam metade das receitas57•

    A transcrição deste tombo foi efectuada a partir de um microfilme cedido pela Filmoteca Ultramarina Portuguesa do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga do Instituto de Investigação Científica Tropical, cuja gentileza agradecemos. Na longa e por vezes difíci l tarefa da transcrição do códice contámos com o trabalho competente e dedicado dos Drs. Lívia Ferrão e Luís da Cunha P inheiro, que tivemos o privilégio de serem nossos colaboradores. A primeira, no Instituto de Investigação Científica Tropical e, o segundo, no Centro de Estudos Damião de Góis. A Dr." Lívia Ferrão efectuou uma primeira transcri-

    55 Consideramos aqui apenas os anos para os quais recolhemos orçamentos, ou seja, relatórios de receita e despesa: 1571, 1 574, 1581, 1588, 1607, 1609, 1 620, 1 635, 1678, 1 688, 17'09 e 171 8 . A i ndicaçào pode ver-se no nosso estudo "A situação financeira do Estado da Índia no período fi l ipino ( 1 5 8 1 - 1 635) >> , in Na Rota da íl/dia. Estlldos de História da Expallsão Portugllesa, Macau, Instituto Cultural de Macau, 1 994, pp. 6 1 - 8 1 ; Orçalllellto do Estado da ÍlIdia (1 574), ed. de Águeda de Ol iveira, Lisboa, Tribunal de Contas, 1960, pp. 21-37 e 1 58-159; O Orçamel/to do Estado da ÍI /dia - 1571 , dir. e prefácio de Artur Teodoro de Matos, Lisboa, Centro d,� Estudos Damiào de Góis-Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999, pp. 1 9 e 3 6-47; I ANrrT, COl/vel/to da Graça de Lisboa, t. 3E (ex. 6), " Li vro de contas que escreve a Sua Magestade D. Rodrigo da Costa, capitão governador general da India nos annos 1 686, 1687, 1688,, ; AHG, Feitorias, n .o 2 3 1 6, fI. 27; AHG, Monções do Reino, I. 74 A, f I . 54 e AHG, I. 84A, f I . 200.

    5 6 Bibl ioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, Res. 2 - maço 3, 4 , " Livro de toda a receita e despeza do Estado da India . . . , por Pero Barreto de Rczende", fI . 28v.

    57 Exactamente 47,5%: da renda do tabaco 1 9,7% e da do sal 27,8 % ; d. " Livro das contas . . . 1 6 8 8 " , doc. já cito

    2 1

  • ção. o Dr. Luís da Cunha Pinheiro procedeu a revisões, tarefa que também efectuámos, por duas vezes, no Arquivo Histórico de Goa, perante o original, que já se encontra num estado de deterioração avan

  • até por vezes a lguns elementos. Uma tabela da equivalência das moedas e de medidas utilizadas elucidará o estudioso sobre matéria nem sempre acessível . Nesta tarefa também João Manuel Teles e Cunha se mostrou imprescindível.

    É nosso desejo que esta edição contribua para um melhor desenvolvimento da história de Damão - ainda tão mal conhecida - e possa suscitar algum interesse pelo seu estudo. E as suas gentes, sobretudo as que ainda teimam em fazer do português a sua língua materna, bem o merecem, pois não conhecemos ninguém que tenha mais amor a Portugal e se orgulhe tanto das suas tradições como os damanenses .

    Lisboa, Dezembro de 2000.

    ARTUR TEODORO DE MATOS

    23

  • TOMBO DE DAMÃO ( 1 5 92 ) ':'

    ,. Arquivo Histórico de Goa, códice 7599.

  • A r a b i a n

    S e a

  • Tombo das aldeas, rendas e propiadades que

    Sua Magestade tem nas terras de Damão I

    Pragana Naher.

    Praga na Poarym.

    Pragana Callana .

    Praga na Loaçã .

    Pragana Sangens .

    Pragana Barem.

    Pragana Danum.

    Pragana Tarapor.

    Pragana Maym.

    fI . 4

    fI. 21

    fI. 42

    fI . 5 8

    fI . 6 8

    fI. 91

    fI. 96

    fI. 101

    fI. 131 II

    I Para efectuarmos esta transcição, servi mo-nos também da cópia microfilmada existente na F i lmoteca Ultramarina Portuguesa do Centro de Estudos de História e Cartografia Ant iga do I nstituto de Investigação Científica e Tropical , com a cota 1 -3-8 .

    27

  • IfI. 2J Tombo das aldeas terras e propiedades foreiras e ren

    das que Sua Magestade tem na cidade de Damão

    e seus termos, feito por Francisco Paaez, prouedor

    mar dos Contos, e pelIo contador Dioguo Vieira

    Anno de 1 5 92

    Françisquo Paaez, prouedor moor dos contos que ora vim a estas fortalezas do Norte2 com poderes de vedor da fazenda de Sua Magestade, per mandado do Ilustrissimo Senhor Mathias d 'Alboquerque3, viso rey da Yndia, faço saber, que no regimento que pello dito senhor me foi dado, está huum capitolo de que ho treslado he o seguinte.

    Leuais huma prouisão de Sua Magestade, per que manda fazer hum liuro de todas as rendas foros, e propiadades que pertençerem a sua fazenda o qual fareis nas fortallezas de Chaul4, Baçaim5, Damã06, e Di07 e no principio do dito l iuro se tresladara a dita prouisão e a fareis registar nas feitorias das ditas fortalezas, pera daqui em diante, se carreguarem em receita per cabeça aos feitores todas as ditas rendas e não se poderem em alguum tempo perder nem emmlhear e o treslado da prouisão de Sua Magestade de que este capitolo faz menção hé o seguinte.

    Eu el rey faço saber a vos meu viso rey e gouernador das partes da Yndia que ora sois e ao diante fordes que sendo eu jmformado que nas ditas partes há muitas aldeas, terras e outras propiadades que pertemçem a minha fazenda principalmente nas fortalezas do Norte . E que humas são dadas d'arrendamento e outras em fatiozim com foros muito pequenos con-

    2 Designação geográfica que abarcava as fortalezas e localidades portuguesas a norte de Goa e que incluía Diu, Dalllão, Baçailll, Chaul e anexas.

    j Vice-rei do Estado da Índia de 1 59 1 a 1 597. < Chaul, localidade e fortaleza portuguesa a 1 8° 33' N e 72° 55' E. j Baçailll, localidade e fortaleza portuguesa a 1 9° 2 1 ' N e 72° 50' E. 6 Dalllão, localidade e fortaleza portuguesa a 20° 25' N e 72° 57' E. 7 Diu, localidade e fortaleza portuguesa a 20° 43 ' N e 70° 48 ' E.

    29

  • tra fOl'ma de meus regimentos, e em perda e dano de minha fazenda de que tambem resulta averem nas, as peçoas que as trazem por tanto suas que nem os foros dellas querem paguar, de que se pode seguir sonegaremsse e perpetuaremsse na posse dellas de maneira que aja depois deficuldade em se requerer contra elles j ustiça. E querendo nisso prouer como cumpre a meu seruiço, ey por bem e vos mando que tanto que este

    [f I . 2v J virdes façais loguo fazer com effeyto II e sem dilação alguma huum tombo per hum desembarguador das ditas partes a que ho cometereis em que se lamcem todas as ditas aldeas, terras e propiadades que pertencerem a minha fazenda e forem foreiras a ella, com declaração das peçoas que as tfél'zem, e foros que dellas pagão e quando e como lhe forão dadas. E por quem e com todas as mais comfrontaçõis necessarias pera se não poderem desemcaminhar em tempo a lguum e fareis verifficar se andão a lgumas sonegadas e as fareis pôr em arrecadação e lançar no dito tombo com as ditas comfrontaçõis . E outrosy mando que todas as a ldeas, terras e propiadades que estiuerem vaguas por aforar, e as que ao diante vaguarem ou se adquerirem por guerra ou por qualquer outro titolo em caso que se aforem não valhão os tais aforamentos nem serão metidas de posse dellas as peço as que se fizerem sem primeiro terem comfirmação minha. E o treslado do dito tombo autemtico me emviareis por vias depois de feito. Noteficouollo assy e mando que na maneira que se nesta minha prouisão comthem a cumpraes e guardeis e façais comprir e guardar j nteiramente sem duuida a lguma per que assy o ey, por meu seruiço a qual se registara nos liuros dos registos dos Contos das d itas partes pera se saber que o tenho assy mandado. E va lerá como carta comessada em meu nome, e passada polia minha chancelaria, posto que por ella não passe sem embarguo da ordenação do 2° l i uro titolo 20 - que o contrario dispoem. João d'Araujo a fez em Lisboa a desanoue de Março

    30 TOMBO DE DA�IAo - 1592

  • [fi. 3] 11em

    de mil e quinhentos nouenta e huum. E eu o secretario, Dyoguo Velho a fiz escreuer. O Cardea l .

    Provizão per que Vossa Magestade ha por bem que se faça na Jndia hum tonbo de todas as aldeas, terras e propiadades que pertemcem a fazenda de Vossa Magestade e são foreiras a ella e pela maneira asima declarada e que valha como carta . Pera Vossa Magestade ver. Registada. Pero de Paiua. Registada no liuro xbiij dos registos da Casa da Jndia fI . 276 , em vinte seis de Março de nouenta e huum. Lopo d'Abreu. II

    o mandouym de Damão

    O mandouym8 da cidade Damão que he alfandega del la corre pela fazenda de Sua Magestade per

    8 Alfândega no Concão e em Cambaia. O termo provém do sânscrito lIIalldapa, « barracão, ramada» , designa o edifício onde as fazendas pagavam d ireitos, passou ao guzerate, concani e ao marata (d. S. R . Dalgado, Glossário LI/so-Asiático, s.v.). Para além do mandovim de Damão havia, ainda, o de Couleca, o de Umbarcari (d. fI. 22v), o de Chel (d. fi . 37) , o de Sangens (d. fI . 68) , o de Barem (d. fI. 9 1 ) , o de Tarapor (d. fI . 1 01 ) e o de Maim (d. fI. 1 3 1 ) . Os mandovins tanto podiam ser objecto de arrendamento anual, bienal ou trienal, ou de aforamento, como estipulou o regimento concedido pelo vice-rei D . Antão de Noronha a Damão em 1 5 65 (veja-se Panduronga S. S . Pissurlencar, Regil/lelltos das (ortalezas da Ílldia, Bastorá, 1 95 1 , p. 378) . Só o mandovim de Chel foi objecto de a foramento, sendo os outros arrendados. Os mandovins eram eficazes na cobrança dos direitos dos bens transaccionados por Damão e praganás adstritas, os quais eram, na sua maioria, compostos por mantimentos como notou o autor do « Livro das cidades e fortalezas que a coroa de Portugal tem nas partes da Índia » , escrito c. 1 580: «Tem pouco trato de mercadorias, mas muitos mantimentos que deli a vão para muitas partes como de Baçaim» (d. Francisco Paulo Mendes da Luz [Ed . ] , «Livro das cidades, e fortalezas, que a Coroa de Portugal tem nas partes da Índia, e das capitanias, e mais cargos que nelas há, e da importância deles» , in Stl/dia, 6-1 960, fI. 26v). A alfândega de Damão era um dos braços da de Diu, a par da de Gogolá (Gogh la), sendo as suas receitas contabil izadas fora deste tombo e incorporadas dentro daquele que Francisco Pais elaborou, em 1592, para Diu (d. Artur Teodoro de Matos l Ed . ] , O Tombo de Dil/ - 1 592, Lisboa, 1 999, p . 8 1 ) . Em 1 592 a receita aduaneira de Damão variava de 2000 a 2500 pardaus anuais. A instalação de uma a lfândega em Damão foi objecto de um renovado interesse durante a década de 1 590, quando, em 1 5 9 1 , Fi l ipe I pediu a Matias de Albuquerque que enviasse para o Reino o seu parecer sobre a matéria. Para cumprir o desiderato, o rei perguntou se seria necessário manter uma armada permanente entre Damão e Diu, qual seria o preço da sua manutenção e se essa despesa seria justificada, tendo em conta a receita esperada. Fil ipe [ perguntou, ainda, se a instituição da alfândega em Damão não iria prejudicar as de Diu e ele Chaul, em fase de estabelecimento e que só entraria em funcionamento em 1 5 92 (veja-se Boletim da Filmoteca Ultramarina Portugl/esa, n.o 2, Lisboa, 1 955, «Carta de Fil ipe I para Matias de Albuquerque», ? - 1 -1 5 9 1 , p. 3 1 1 ) . Passados três anos, em 1 594, Filipe I voltou a pedir informações a Matias de Albuquerque sobre essa insta lação (d. Boletim da Fill1loteca Ultramarina Portl/gl/es":. n.o 2, «Carta de Filipe I para Matias de Albuquerque» , 1 5-2-1 594, p. 41 6) . As notícias enviadas ao Reino pelo vice-rei devem ter s ido confusas ou falsas, porque, em 1 595, Filipe I felicitou Matias de

    3 1

  • aremdamento que se fáz em cada tres annos yuntamente com o mandou im de Coulequa9 , e o de Vmbarçarym que são dous rios que estão auante de Damão por serem ramos anexos a esta alfandega com outras pertenças declaradas no foral. E tem esta alfandega jurisdição em quatro praganas 1 0 scilicet -

    Albuquerque pela instituição da aduana em Damão (d. Boletilll da Filllloteca Ultralllaril/a Port/lg/lesa, n." 3, Lisboa, 1 955, «Carta de Filipe I para Matias de Al buquerque», 27-2-1 595, p. 4 1 6) . Dois anos após as manifestações de agrado régio pela instalação da aduana, o soberano v oltou a insistir com o novel vice-rei, D. Francisco da Gama, conde da Vidigueira, para a sua instituição defin i t iva (d. Boletilll da Filllloteca Ultralllaril/a Port/lg/lesa, n.O 3, " Carta de Filipe I para o conde da Vidigueira » , 5-2- 1 597, p. 446). Só que até 1 634 não há notícia de um ramo a l fan degário próprio em Damão. O orçamento do Estado da índia de 1 607 não faz qualquer referência a uma aduana em Damão (cf. José Gentil da Silva, «Une image de l'Estado da Ílldia au début du XVII' siêcle et ses enseignements », in Arq/livo do Cel/tro C/llt/lral Portug/lês, vol . IV, Paris, 1 972, p. 252) . António Bocarro não mencionou também a existência de uma aduana independente em Damão: « A alfandiga desta cidade de Damão não esta arrendada, e he ramo d'alfandiga de Dio » (d. O livro das plalltas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Ílldia Orielltal, vol. II, Lisboa, 1 9 92, p. 89) .

    9 Coileque, rio a norte de Damão que desagua a 20° 27' N e 73° 03' E, junto ao qual fica a localidade homónima, a 20° 28 ' N e 73° 03' E.

    10 Praganás (mais usual) ou parganás (mais correcto), designa a «comarca, parte de um distrito » , do marata-hindustânico pargallâ (d. S. R . Dalgado, Glossário Luso-Asiático, s .v. ) . A terceira edição de The Oxford Hilldi-EI/glish Dictiollary (Oxford, 1 998) , s.v., atribuiu a raiz da palavra ao persa IJargalla, «região, distrito» , mas o termo provém do sânscrito pra-ga!l, «calcular, contar", que se tornou usual na índia muçulmana para designar um grupo de aldeias ou a subdivisão de um distrito (serkâr) (d. Henry Yule & A. C. Burnell, 1-10bsOIl-JobsOIl, S.V. [perg/lJlllah l , e C. Collin Davies, " Pargana>', in Ellciclopédie de I'lslalll, vaI. VIII, p. 278) . Na índia, o termo apareceu só com a dinastia Tughluq de Deli e foi o cronista Shâms al-Dln-i Sirâj eAfif (séc. XIV) quem o registou pela primeira vez na Ta'rlld1-i Flríiz Shâhl, a crónica do sultão Firuz Shâh Tughluq (r. 1 35 1 - 1 388 ) , e, a partir dessa centúria, substituiu progressivamente a designação árabe qasaba (da qual derivou alcáçova em português), mas que denominava uma realidade administrativa indiana mais antiga (d. C. Collin Davies, art. cit . ) . A praganá veio substituir um termo indiano anterior - tappâ, que designava a divisão administrativa composta por uma ou mais aldeias, ou a divisão de uma região cujo rendimento era recolhido sob uma única fonte ou, como no Noroeste da índia, a cidade principal com aldeias e terras dependentes ou, ainda, um grupo de a ldeias que reconhecia a supremacia de uma e que formavam uma espécie de corpo corporativo, com d ireitos c deveres desiguais (cf. H. H. Wilson, A Glossary of Judicial alld Reven/le Terllls, Delhi, 1 968 , s .v. ) . Para Hiroshi Fukazawa, a praganá apareceu no Decão com a expansão dos Tughluq e passou a designar uma real idade administrativa anterior, as tappâs, conforme comprovou em dois formões, passados pelo sultanado de Bijapur com três dias de intervalo, no qual o primeiro designa os mesmos três locais como tappâs e o segundo como praganás (d. The Medieval Deccan. Peasants, Social Systems alld States. Sixtee/lth to eighteenth Ce/ltlll'ies, Delhi, 1 998, pp. 6-7). Outra prova dessa alteração reside na continuação da estrutura de administração e de exploração da terra - o dessaiado (cf. ibidem, pp. 7-8). Tal fenómeno ocorreu, também, nas praganás de Damão, visto que a maioria dos foreiros era obrigada a pagar tenças aos dessais das aldeias, os q uais corriam hereditariamente com o governo local, descendendo de um dessa i que originalmente administrava todas as localidades da praganá e que lhe dera coerência geográfica, e cujas aldeias foram divididas por gerações sucessivas (d. B. H. Bedan Powell, The Land Syslelll of British TI/dia, Nova Delhi, 1 98 8 , reimpressão da edição de 1 892, vol. III, p. 203 ) .

    32 TO�IBO D E DAMAo - 1592

  • Naer em que está a cidade de Damãol j - e Poarym e Ca lanã, e Loaçã, das quais todas as fazendas e mantimentos são obrigatorios ao desposto da dita alfande-

    I I Damão pertencia ao sultanado de Guzerate quando foi conquistada pelos portugueses em 1559 pelo vice-rei D. Constantino de Bragança, como corolário de um processo iniciado pelo seu antecessor no governo do Estado da !ndia, Francisco Barreto. Mas Damão tinha já feito a sua entrada na história da presença portuguesa na Ásia com as incursões devastadoras levadas a ca bo durante a primeira metade da década de 30 com as expedições comandadas por António da Si l veira, em 1 530, por António de Saldanha em 1 53 3 e por Mart im Afonso de Sousa em 1534. Como Damão era zona fronteiriça do sultanado de Cambaia, o distrito fora dado em iqrâ' a abexins convertidos ao islão. Os detentores da iqrâ' eram, na década de 5 0, " Cide Bofafa » , «Cide Rana» e ,

  • ga . E assi lhe pertemçe maIs os direitos dos aniz '2, theadas13, e coton ias14 de Cambaya 1S que uem a este porto aonde pagão na alfandega a seis por çento de direitos, como acentou, o conde viso rey Dom Luis d'Atayde16 •

    Está ora arrerndada esta alfandega 17 por tres annos acabados no fim de Dezembro de mil e quinhentos nouenta e dous, por onze mil duzentos e secenta mamudes 1 8 por ano.

    Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1 997, pp. 1 50 e segs . ) . Couto, na versão portuguesa, a fi rmou que Damão e as suas praganás foram concedidas aos portugueses por um formão (do persa ou turco femlâll, originalmente designou comando para traduzir, posteriormente, o édito ou documento emitido pelo monarca, cf. J. van Lent e P. J. Bearman, The Ellciclopedia of 15-Iam. Glossar)' & IlIdex of Tecll11ical Temls to Volumes l-VIII, Leida, 1 997, s .v. ) . Essa carta de doação, cujo paradeiro o cronista não encontrou nos arquivos indianos, foi fei ta por « timâd KJlân, em nome de Ahmad Shâh III , a instâncias de D . Diogo de Meneses, e dirigida a Francisco Barreto, mas quem acabou por empreender a tarefa de tomar a cidade foi o novel vice-rei D . Constantino de Bragança ( 1 558-1561 ) (cf. Couto, Década 7.", VI, i i i; J . Burton Page, « GuQjarât», in Ellciclopédie de /'IS/ai/I, vol. II, Leida-Paris, 1 965, p. 1 1 55) . Face ao poder mi l itar português, os três chefes a bexins desocuparam a cidade e o distrito de Damão, pelo que os portugueses se viram senhores de uma considerável extensão de terreno com 25 léguas de comprimento ao longo da costa e 8 para o interior. D. Constantino aproveitou o vazio para iniciar a «colonização» da área sob a égide da Coroa portuguesa com a atribuição de foros a abexins cristãos e a portugueses, sem quebrar parte do status quo anterior, pelo que manteve os tributos versados aos dessa is e ao Sarceta (veja-se Luís Filipe Thomaz, « Damão», iII Luís de Albuquerque e Francisco Contente Domingues [Eds. ] , Diciollário de História dos Descobrimelltos Portugl1eses, vol. I, Lisboa, 1 994, pp. 334-335).

    1 2 Entenda-se anil, a IlIdigofera tirlctoria, L., uma planta tintureira da família das Leguminosas uti lizada na i ndústria têxtil para tingir de azul os tecidos.

    I J Teadas são panos de algodão cru, cf. S . R. Dalgado, Glossário Ll1so-Asiático, S.v. 14 Têxteis de algodão, l inho, cânhamo e seda, s imples ou de mistura de fibras. Cotonia tam

    bém designava o pano empregue para o velame das embarcações. Yule e Burnell deram uma origem persa à palavra, kl1ffâll, « pano de cânbamo ou de l inho» . Para Dalgado a palavra chegou ao português por via do á ra be, ql1tll/)'a (d. Henry Yule e A. C. Burnell, Hobsoll-Jobsoll, S .V. ; S . R. Dalgado, Glossário Luso-Asiático, s.v. ) .

    1 5 Cambaia, Cambay/Kambâyat, a 22° 22' N e 72° 38' E, foi o principal porto do Guzerate até finais do século XVI, razão pela qual os portugueses designaram o sultanado pelo nome do porto.

    1 6 Vice-rei do Estado da índia por duas vezes, a primeira de 1568 a 1 571 e a segunda de 1578 a 1 5 8 1 , já com o título de conde da Atouguia .

    1 7 O a foramento dos mandovins de Damão começou a ser dado a fidalgos pouco depois da sua i nstitu ição, pelo que os « velhos servidores» protestaram pela perda dessa fonte de receitas. Assim, Fi l ipe I pediu ao vice-rei D. Duarte de Meneses que não aforasse mandovins a fid.algos ou outra gente, reservando a sua concessão a pessoas que se tivessem distinguido na índia ao serviço da Coroa e só por três vidas. Na mesma altura, em 1 5 88, o rei avisou o vice-rei que podia arrendar as a l fâ ndegas a quem mais pagasse, incluindo nesse grupo os gentios, desde que não t ivessem i mpedimentos (cf. Bo/etim da Fill/loteca U1tramarilla Portl/gl/esa, n.o 2, «Carta de Fi l ipe I para D. D uarte de Meneses», 1 -3 - 1 588, p. 276).

    1 8 Mamudes eram moedas de prata que corriam no Guzerate e na Pérsia, de onde a palavra teria a sua origem, segundo Dalgado, de I/Iahol/ll/di, « louvado» (cf. S . R. Dalgado, Glossário LI/50-Asiático, s.v. ) . Uma das autoridades citadas por Dalgado, John Fryer, um médico inglês que

    34 TO�1Il0 DE DAMÀO - 1592

  • A renda da durupagem 1 9 que são os percalços que tem os pezadores do pezo e aual iação que se fazem nesta alfandega de Damão, e se pagua por cada cem mamudes da avaliação de todas as fazendas dez ducaras20 dos ditos percalços. E da madeiraz l e pescado de cada cem mamudes hum conforme ao foral, e ramo desta alfandega de Damão e se arremdaua juntamente com ella .

    visi tou a Índia na segunda metade do século XVII, referiu que os ma mudes só corriam em Surrate e partes adjacentes, e que o seu câmbio com a rupia variava consoante a abundância ou a raridade dessa últ ima (d. John Fr)'er, A New Accoullf of East II/dia al/d Persia Beil/g Nil/e Years' TraI/eIs 1 672- 1 6 8 1 , vaI. II, Londres, 1 9 12 , pp. 1 25 - 1 26) . O editor da obra de Fr)'el; Wil l iam Crooke, deu a sua versão da origem do numisma, o qual proviria do nome do sultão do Guzerate Mahmud I Begrâ ( r. 1458-1 5 1 1 ) , que teria s ido o primeiro a cunhá-lo (d. op. cit, vaI. I I I , Londres, 1 9 15 , p . 200; Lotika Varada rajan, « A Note on the Currenc)' and Mensuration of Sura t and Ahmadabad D uring the Late Medieval Period » , in lI/dica, March 1 9 77, vaI. 14, n.o 1, p. 2 1 ) . A moeda era desconhecida para António Nunes, que não a menciona para as praças ribeirinhas do golfo de Cambaia, Diu e Baçaim (d. Rodrigo José de Lima Felner, Subsidias para a Historia da ll1dia Port/lg/leza, Lisboa, 1 868, pp. 28-30 ) . No «Tombo de Damão" elaborado por Francisco Pais o mamude equivalia a $080, como se pode comprovar pelo foro da aldeia de « Dabel la» ( fI . 47 v.) onde o pardau de ouro vale quatro mamudes e meio. Como o pardau de ouro foi fixado a $360 por todo o lado, logo o mamude, pelo menos em Damão, valeria $080. Contudo, Dalgado manifestou ou tra opinião ao cotar o mamude a $450 e ao atribuir- lhe câmbios d i ferentes consoante o tipo, e.g. o chapari, «selado», era mais valioso que o chalani, «corrente» . Francisco Pais, no «Tombo de Damão» tão-só fez referência aos mamudes chaparizes, como moeda argentina corrente em Cambaia, cujo valor era superior ao das tangas larins; d. n. 1 60v. Mas a autoridade c itada por Dalgado foi António Bocarro, na edição que Cunha Rivara fez de partes do seu Livro das plalltas de todas as fortalezas no n.O 3 da revista goesa O Chrol1ista de Tissuary, p. 75, a partir de um dos originais guardado no Arquivo e B ib lioteca Pública de Évora. Dalgado fez uma má lei tura do texto: « Tril1ta e h/llll pardaos de 1I1alllfldes q/le vai cada pardao h/llll xerafilll e meio de Goa, q/le são quatroel1tos cillcoellta reis, e alelll disso o telllpo q/le alldalll elllbarcados se dá a cada hUIll lia I/Ião dos se/ls capitães dezoito I/Ial/l/ldes que cada l/Iallll1de telll 110vellta reis. » Dalgado colocou um ponto de interrogação no fi nal da citação, prova cabal que fez uma leitura apressada e errônea da fonte. De facto, o documento estabeleceu, em 1 634, um novo câmbio para o pardau de ouro - $450, ou seja, uma vez e meia o valor do pardau xerafim de Goa, com uma cotação estab i l izada em $300 desde o século anter ior. O malllude, por sua vez, passou a ser corado a $090, em vez dos $080 usuais no «Tombo de Damão», e a equivalência passou a ser de cinco mallludes para um pardau de ouro, em vez dos quatro e meio habituais em 1 5 92. Essa a l teração deveu-se, provavelmente, à profunda crise económica que assolou a costa ocidental indiana após as fomes de iníc io da década de 1 630, com particular i ncidência no Guzerate e que a fectou as fortalezas portuguesas, Goa incluída.

    I ' Va riante de drupo (d. Artur Teodoro de Matos [Ed.] , op. cit, pp. 80-8 1 , 97 ) . No caso de Diu, o drupo era o peso do algodão, correndo a pesagem por um ju iz que cobrava quatro jala las por baar. No caso de Damão, a renda eram os percalços cobrados sobre as mercadorias em trânsito, recebendo o rendeiro da a lfândega dez ducaras ( $400) por cada 1 00 mamudes ( 8 $000) de mercadoria, na realidade os d ire i tos aduaneiros eram de 5%.

    l O A ducara va lia $040 el1l 1 5 92 (d. Anur Teodoro de Matos IEd. ] , idelll, p. 46) . 2 1 Quando D. Constantino de Bragança instituiu o primeiro regimento da feitoria, c. 1 560, a

    madeira ficou reservada para a Coroa em monopólio, proibindo-se o seu abate ao capitão da for-

    35

  • Foy aforada a Belchior Ferreira pello viso rey Dom Antão22 em duas vidas pera paguar de foro a contia em que estaua arendada, com mais as rendas das canas23 e cairo24 de Tarapor25 e a renda catrabagã26 de Mahim27 pello em que estauão arrendadas. E assy com a renda do a lgodão28 de Tarapor com foro

    taleza e ao tanadar-mor_ Cinco anos após o regimenro bragantino de Damão, D. Antão de Noronha concedeu um novo à cidade, a 5 de A bril de 1 5 65, onde voltou a reservar a madeira de teca para a Coroa, proibindo o capitão e o tanadar-mor de a mandarem cortar e de a comerciarem. D . Antão de Noronha reinstituiu o monopólio régio sobre o abate e venda da madeira, a q ual era um materia l estratégico para a construção e reparação naval necessária para o funcionamento de uma r ibeira das naus local. Ao estabelecer o monopólio da madeira em 1 565, D. Antão de Noronha a briu as portas à sua concessão e arrendamento a particulares que a explorariam consoante os pedidos e necessidades do Estado da Índia. O vice-rei ressalvou as necessidades dos moradores e foreiros, os quais podiam cortar madeira desde que a uti lizassem para constrLIir ou reparar as suas casas. Um ano depois de instituir o regimento, D. Antão aforou a renda da madeira a Belchior Ferreira (d. Panduronga S . S . Pissurlencar, op. cil, pp. 389-390). O comércio feito com a madeira de Damão era muito apetecido pelas receitas daí advenientes, pelo que no governo seguinte, o de D. Luís de Ataíde, a Câmara de Goa protestou contra a forma como os vice-reis davam a exploração da madeira nas terras de Damão. O comércio da madeira deve ter ficado nas mãos de poucos fidalgos e homens de posse, com destaque para o capitão da fortaleza, excluindo do negócio os mercadores goeses. D . Sebastião respondeu agastado às queixas da edil idade goesa que proveria como lhe parecesse melhor serviço (cf. J. H. da Cunha Rivara, Archivo Porluguez Orie/1tal, fase. l -I, Goa, 1 877, doe. n.O 43, " Carta de D. Sebastião para a Câmara de Goa » , 1 6-3-1 5 69, p. 7 1 ) . D e qualquer forma parece q u e o r e i sempre conseguiu afastar o capitão de Damão do comércio directo da madeira, o que o levou a lançar novos impostos na aduana local , para desespero dos mercadores que a exportavam para Cambaia mediante o pagamento de 1 % de direitos alfandegários reais. Em 1 5 9 1 , Fil ipe I ordenou a Matias de Albuquerque que colocasse termo a essa forma encapotada dos capitães interferirem no comércio de teca (cf. Boletim da Filllloleca Ultramarina Port{(guesa, n .o 2 , " Carta de Fi l ipe [ para Matias de Albuquerqu e » , ? - 1 -1 5 9 1 , p . 3 1 0) .

    2 2 D . Antão de Noronha, vice-rei de 1 564 a 1 5 6 8 . l.l Talvez o bambu, uma d e várias espécies d e Balllbusa, d a família das Gramíneas, entre

    as quais B. v{(lgaris (Schrad. ) , B. arll/ldillacea (Wil ld . ) , B. balllbos (L .), com diversas ut i l izações (veja-se S . R . Dalgado, Glossário Luso-Asiático, S.v.; D . J . Mabberley, The Plant-Book. A Portable Dictiollary of the VasCIIlar Plal/ts, Cambridge, 1 997, s.v. ).

    l4 O mesocarpo ou fibra da casca do coco, Cocos lIocifera L., utilizado na fabricação de esteiras, cordas, as quais eram muito procuradas dada a sua incorruptibil idade pela água do mar. A palavra provém do malaiala kâyar e do tâmul kâyâm, com o significado de « torcido» , i .e . corda (d. Henry Yule e A . C. BurneIl, Hobson-Jobsoll, s.v.) .

    2S Um porto a sul de Damão, Tarapur a 19° 52' N e 72° 4 1 ' E, no distrito de Taná (Thana), no actual estado indiano de Maharashtra.

    26 Sentido não identificado. 27 Maim, Mahim, tanadaria com sede na localidade homónima a 19° 35' N e 72° 44' E. 2S A renda não seria tanto na p lanta, da espécie GossypiulII da família das Malváceas, da

    qual havia, no século XVI, duas variedades no subcontinente indiano, o G. arborellll/ L., cult ivado no vale do Indo desde 1 800 a.c. e de onde se espalhou para o Médio Oriente no primeiro mi lénio a.c., e o G. herbaell/l1 L., oriundo da África Oriental e que mediante os contactos comerciais entre a Índia e essa região podia ter chegado ao subcontinente. A renda recaía sobre a fibra que

    36 TO,'IBO DE DAMÁO - 1592

  • de cento e trinta mamudes por anno em que estaua [ fI . 3\'] arremdada das quaes duas vidas II elle seria a primei

    ra e por sua morte nomearia a 2' com obriguação de viuer em Tarapor pera seruir quando comprir e com declaração que o feitor de Damão passaria certidão nas costas da carta deste a foramento das contias per que estauão arrendadas as ditas rendas per carta feita em vinte sete de Nouembro de sesenta e seis.

    O prouedor da fazenda Francisco Velho declarou per sua certidão que a renda da catrabagã com a renda a sir surretor29 estauão arrendadas em quatrocentos e simcoenta mamudes por anno scilicet catrabagã em cento simcoenta mamudes, e sir surretor em trezentos, e que tantos avia de paguar o dito Belchior Ferreira de foro por anno destas duas rendas, das quais não pertemçe a esta parte mais que a renda catrabagã comforme a carta que apresentou na qual não trata da renda a sir surretor que paresse que per descuido tratou della o dito prouedor da fazenda mas a parte a possue sem apresentar outro titolo. E polla renda da durupagem paga de foro trezentos mamudes como declara huma verba posta no foral . E as rendas das canas e cairo de Tarapor não possue esta parte polias possuir Aluaro Vaaz Couttinho, mas possue as mais declaradas neste asento das quais pagua de foro juntamente oitocentos e oitenta mamudes por anno. E as possue oje em dia na primeira vida.

    Iliij' Lxxx manudcs

    era exportada para centras textêis, entre os quais se encontrava Damão. Em 1 634, António Bocarro mencionou a existência de uma indústria têxtil com tradição em Damào de Cima e que chegou a contar com 200 tecelões, desaparecidos tragicamente em 1 631 com a fome que assolou aquela parte da Índia, os quais teciam canequins, tafeciras, «sueins» e teadas (cf. António Bocarra, op. cit., vol. II, p. 96) .

    2 9 Sentido não identificado.

    37

  • I fl . 4 J NaerJO .lrcm o casa beJ 1 de Damão de Sima32 foi aforado a Si-

    mão de Souza Pereira pello viso rey Dom Antão pera paguar de foro a contia em que o d ito cassabe andaua de arrendamento, de que o feitor de Damão passarya certidão. E elle dito Simão de Sousa seria a primeira vida e por sua morte nomearia a 2a em macho. O qual aforamento lhe fez o dito viso rey pera possuir este cassabe juntamente com a aldea Dabel de que era foreiro por a dita a ldea remder pouco e não bastar pera as obriguaçõis que com ella tinha. E que teria huma cousa e outra com as mesmas obriguaçõis do aforamento da dita a ldea que está na praga na Calanã, com declaração que as não poderia vender emIhear nem partir sem licença per carta feita em uinte seis de Março de sesenta e seisJ3.

    E no tombo de Damão folha no titolo deste cassabe esta huma verba que diz assy. Este cassabe de Damão he a forado a Simão de Sousa Pereira em duas vidas pera paguar de foro em cada hum anno dous mil e quatrocentos mamudes. E comessará a paguar de tres de Yaneiro de sesenta e sete em diante. xbij p"rdaos

    E tem outra verba que diz assy - este cassabe com todas as suas pertenças pertemçe a Sua Alteza com a renda do setyJ4 e passo de Nauly. São aforadas

    30 Os l imites da praganá de Naer abarcaria as zonas l imítrofes das duas margens do Damanganga tanto a sul, em volta de Damão Praça (fi. 3), como a norte, em redor de Damão de Cima (fI. 4 ) .

    3 1 Cassabé ou caçabé, era a sede da praganá, com origem no árabe qa�aba, que designava o centro de uma região ou cidade, evoluindo depois para designar a parte antiga da urbe, com o mesmo sentido que al-II/adllla (medina) e terminou por descrever a residência acastelada da autoridade. Por via da forma dia lectal usada no Magrebe, qa�ba, «cidadela » , a palavra passou ao português «alcáçova» (cL S. R. Dalgado, Glossário Lllso-Asiático, S .v. ; J . v. Lent e P. J. Beraman, The Ellcylopedia of Islall/. Glossar)' & IlIdex of Teclmical Terll/s lo lIollIlI/es 1- VIII, Leida, 1 997, s.v. ) .

    32 Segundo António Bocarra esta aldeia era habitada por h indus, muçulmanos e a lguns cristãos: «em Damão de Sima, povoação de mouros e gentios e a lguns christãos distante de cidade [Damão] trezentos passos geometricos. São os mais delles officiais de todo o serviço macanico, porque dentro dos muros de Damão não vivem mais que os homens de armas, o que fas não paracer tanto cidade e povo » . Ficaria distante de Damão Praça pouco mais do que meio qui lómetro; cL A. Bocarra, Livro das /J /alltas . . . , já cit., t. IV, v. II, p . I, p . 1 54 .

    3 3 No final d a l inha que s e encontra com u m risco estão escritas a s palavras «ate aqui» . 3 � Sentido não identi ficado.

    3 8 TmlBO D E DA�IÀO - 1592

  • I fl . 4v)

    nouamente ao dito Simão de Sousa Pereira per carta patente do viso rej Dom Antoni035 pera pagar de foro em cada huum anno de tudo juntamente duzentos pardaos36 d'ouro e começa o aforamento de noue de Junho de setenta e dous em diante.

    Por parte de Luis de Mendonça que ora possue este cassabe com as ditas pertenças foi apresentado huma carta do viso rey Dom Duarte3? feita em treze de Janeiro de oitenta e seis na qua l se comtem que o dito Luis de Mendoça emuiou dizer que o viso rej Dom Antão per carta feita em derradeiro de Abril de setenta e tres fez merçe a Simão de Sousa Pereira de lhe aforar em tres vidas este cassabe com a renda do setj e passo de Nauly com trinta parda os d'ouro de foro por anno com obriguação de ter hum homem em Damão com huma espinguarda a sua custa pera ahi rezidir e seruir quando comprir sem uençer II soldo, moradia nem mantimento como se comtinha na carta que apresentaua. E que por faleçimento do dito Simão de Sousa ficara o dito cassabe e ramos a Dona Luiza d' Abreu sua molher na 2" vida à qual o vendera a elle dito Luis de Mendonça auendo o viso rej por bem per escretura feita em catorze d' Agosto de oitenta e simco

    35 D . António de Noronha, vice-rei de 1 57 1 a 1 573.

    xxbj pardaos i malllude

    xbi i j ducaras

    36 Moeda de metal precioso, de prata com o valor de $300 e de ouro com o valor de $360, que corria no Estado da índia, cujo nome derivou da corrupção de uma inscrição existente numa espécie aúrea do reino de Bisnaga (Vija)'anagara), denominada lIarahâ ou lIarâ, «java l i » em sânscrito, cuja imagem aparecia num dos seus lados e no outro tinha uma legenda pratâpa, « majestade, eSplendor» , a l terado pelo uso vernáculo para partâp ou pardâp, que deu «pardau» em português (cf. S . R. Dalgado, Glossário Lllso-Asiático, s .v . ) . No «Tombo de Damão» há referência ao pardau de ouro, de tangas ( prata) e de brins (prata ), de câmbio variável . Quando a fortaleza foi tomada, D. Constantino ordenou que os pagamentos fossem feitos em pardaus de ouro, cujo valor foi f ixado a $300. Em 1 565, D . Antão de Noronha verificou que essa ordem prejudicava a Fazenda Real por o pardau de ouro valer $360, ficando os rendeiras e foreiras com a diferença. Foi por essa razão que o vice-rei decidiu fixar a cotação oficial dos pardaus de ouro em $360 e a dos pardaus de tanga, que eram xerafins de tanga, em $300 (cf. Panduronga S. S. Pissurlencar, op. cit., pp. 386-387 ) . Francisco Pais, no «Tombo de Damâo» ( fI . 1 60v) deixou registado mais uma vez que os foreiros faziam os seus pagamentos em pardaus de ouro, que valiam $360 ou quatro mam udes e meio. O fora podia ser pago em pardaus de quatro mamudes ( $320) ou de quatro larins, de valor inferior (aproximadamente $073 ) . Em 1 634 o valor do pardau de ouro era de $450, segundo a cotação fornecida por António Bocarra, veja-se supra nota 1 8 .

    3 7 O vice-rei D . Duarte d e Meneses governou d e 1 584 a 1 5 86 .

    39

  • [fI . 5 ] ]tem

    e que polla dita carta avia por bem de comfirmar a d ita venda pera o dito Luis de Mendoça pessuir o dito cassabe em duas uidas com o dito foro e obriguaçõis de que elle seria a primeira e per sua morte nomearia a derradeira sem o poder uemder, emlhear nem partir sem licença, e andara em huma só peçoa ficando de fora o que se pagua aos sarçetas, e as terras dadas de tença aos desaiz38, e outras peçoas comforme ao foral . E que lhe fosse' dado posse amostrando a nomeação que o dito Simão de Sousa féz na dita sua molher.

    E sobre os ditos aforamentos e declaraçõis se não apresentou cousa que mais constasse.

    O gouernador Manoel de Sousa Couttinh039 féz merçe ao d ito Luis de Mendonça de mais huma uida pera com as duas que tinha serem tres sem a primeira que nel la s uceder ser obriguado a paguar mais a quarta parte d o foro comforme a regimento por quanto sem embarguo delle e de outra qualquer deffeza o releuar da dita obriguação per carta feita em treze de Setembro de oitenta e ojto. E o dito Luis de Mendonça pessue este cassabe oje em dya . II

    A renda das medidagens de Damão Esta renda tem sua jurisdição nas quatro praga

    naz Naer, Poarym, Calana e Loacã; foi aforada a Paullo de Queiroz pello viso rej Dom Antão (sendo renda per sy e correndo pella fazenda dei rej nosso se-nhor ) em duas vidas com oitoçentos mamudes de bi i j ' mamudes foro por anno que he a comtia que remdiam. E elle serya a primeira vida e per sua morte nomearya a 2" em macho e com obriguação de viuer em Damão per carta feita em onze de Feuereiro de sesenta e sete.

    3S Ou seja, dessa is, os chefes ou administradores da praganá, do sânscrito deçâdhipafi, de deça « região, distrito» e adhipati «senhor» , , i .e . senhor da região, que deu dexâi em marata e desây em concani . O cargo era hereditário e o seu detentor foi frequentemente recompensado com concessões de terra (d. S . R . Dalgado, Glossário Luso-Asiático, S.v.; 1-1. 1-1 . Wilson, A G/ossary of judicial al1d Revellue Terms, Nova Delhi, 1 968 , s.v. ) .

    39 Governador do Estado da Índia de 1 5 8 8 a 1 5 9 1 .

    40 Tmmo DE DA�·Ic\O - 1592

  • [fI . 5vJ Jtem

    o dito Paullo de Queiróz vendeo esta renda a João d'Andrade por licença do dito viso rey per escretura feita em vinte e noue de Janeiro de sesenta e oito. E por o dito João d'Andrade comprar tambem à renda das medidagens de Maim, o viso rej Dom Antonio lhe passou carta em sete de Abril de setenta e dous per que comfirmou as ditas vendas pera o dito João d' Andrade as possuir como erão aforadas em duas vidas de que elle seria a primeira e per sua morte nomearia a 2" sem as poder uender emlhear nem partir sem licença, e amdarião em huma só peçoa e que per o dito João d'Andrade ter obriguação de viuer em Damão, e os ditos Paullos de Queiróz e Gaspar do Basto terem a dita obriguação seria obriguado a poor hum homem em cada huma das ditas rendas pera seruirem suas obriguaçõis.

    O d ito João d'Andrade vendeo a renda das medidagens de Maym a Simão da Cunha e ficou com a renda das medidagens de Damão e diz que com l icença, e que tinha em Goa carta do viso rej Dom Francisco Mascarenhas e não apresentou cousa que mais constasse. II

    A aldea Adacary

    Foi aforada a Paulo Pirez abexim40 pello conde do Redond04 1 viso rey em duas uidas com oito par-

    ·10 Natural da Abissínia. Houve um grande comércio de abexins entre o mar Vermelho e a Índia, onde eles eram empregues como mercenários ao serviço de vários sultanados, tanto o do Guzerate como os do Decão. Damão, por exemplo, foi um iqtâ< atribuída a " Cicie Bofatá" Miftâh Sayf al-Mulk ( ? ) , que tinha uma hoste de três mi l homens, entre abexins e turcos (cf. Diogo do Couto, Década 7.", VI, iii) . Ele e os seus companheiros Cide Rana e Carnebec, eram os chefes dos abexins que andavam no sultanado de Cambaia, os quais excediam quatro mil em 1 55 9 (d. Couto, Década 7.", VI, v). Este mesmo Cide Bofatá, depois da derrota de Damão em 1 559, passou ao serviço do sultanado de Ahmadnagar, onde, em 1 5 8 3 , recebeu uma iqtâ< em Tavia. Por ocasião da expedição que Manuel de Saldanha, capitão de Baçaim, Marti m Afonso de Melo, capitão de Damão, e D. Jerónimo Mascarenhas comandaram contra o Cole, com a ajuda cle Râmanatha Rânâ, Cide Bofatá ofereceu três mi l cavaleiros para a campanha (cf. Couto, Década 1 0.", lll, xi). Após a conquista de Damão, em 1 559, D. Constantino de Bragança viu-se na obrigação de aforar as a l deias das praganás para garantir a presença de um grupo de homens que prestassem serviço mi l i tar à fortaleza e povoassem a localidade. Como o nlllnero de portugueses era insuficiente para o objectivo do vice-rei, D. Constantino teve que lançar mão aos abexins aí residentes e que fossem cristãos para a forar as aldeias (cf. Couto, Década 7.", VI, v i ) .

    4 1 D . Francisco Coutinho, governou de 1 5 6 1 a 1 564 .

    4 1

  • daos d'ouro e quatro mamudes de foro por anno de que elle seria a primeira e por sua morte nomearia a 2" e a 2" a 3" sem a poderem uen der emlhear nem partir sem licença e andara em h uma só peçoa com obriguação de viuer com molher em casa em Damão e ter sempre huma espimgarda a sua custa pera seruir quando comprir sem vemçer so ldo moradia nem mantimentos ficamdo de fora o que se pagua aos sarçetas e as terras dadas de tença aos deçais e outras peçoas comforme ao foral per carta feita em vinte e oito de Setembro de sesemta e huum.

    O d ito Paullo Pirez vendeo esta aldea a Basteão da Palma per escretura feita em trinta de Agosto de sesenta e sete e o viso rey Dom Antão passou carta em simco de Novembro do dito anno per que comfirmou a dita venda e o dito Bastião da Palma a pessuir nas ditas tres vidas com o dito foro e obriguaçõis.

    O dito Basteão da Palma a vendeo a Francisco Diaz per licença do viso rei Dom Antonio e per escretura feita em dezoito de Junho de setenta e dous de que lhe foi passado carta pello dito viso rei em vinte de Feuereiro de setenta e tres pera a possuir nas ditas tres vidas com o dito foro e obriguaçõis.

    O dito Francisco Dias per seu faleçimento nomeou na 2a vida per verba de testamento a Luzia Fernandez sua molher.

    A qual a vemdeo a Antonio da Costa com humas palitas42 que possuhia em fatiota per escretura feita em uinte e tres d'Outubro de nouenta e h uum. A aldea por mil e çem pardaos de quatro larins43 e as pa-

    ·12 Veja-se nota 1 7 1 .

    "i i i pardaos -i i i j l1l.ílllludes

    43 Larim, moeda de prata de forma pecul iar corrente no gol fo Pérsico e no Índico durante os séculos XVI e XVII cujo nome derivou do local onde foram cunhados pela primeira vez, a cidade de Lara (Lâr), capital do Lâristân. O nome lâri ou lâril/ indica isso mesmo, «de Lara» . O seu valor variava, de acordo com Dalgado, de $060 a $ 1 00. Assim, durante o século XVI a sua cotação parece ter-se f ixado em $060, mas quando o «Tombo de Damão» foi compilado, em ·' 592, o seu vaIar era, aproximadamente, de $073 (cf. f I . 1 06v), tendo subido a $080 nas duas primeiras décadas do século XVII, segundo o testemunho de Fr. João dos Santos (cf. Etiópia Oriel1tal e vária história das co/lsas /lotáveis do Oriwte, Lisboa, 1 999, livro IV, cap. I I , p. 597) . Em 1 634, n'O livro das piaI/tas de António Bocarra, a sua cotação era de $090 (cf. S. R . Dalgado, Glossário L/lso-Asiá-

    42 Tmwo DE DMIÃO - 1592

  • [ fI . 6J

    Jrelll

    J rel11

    jtem

    Irem

    litas por trezentos avendo o viso rej por bem. E o dito Antonio da Costa pessue esta aldea por bem desta uenda. II

    A aldea Devapaladim A aldea Talauará A aldea Nagauaz. Todas tres deste [sic] pragana

    As aldeas de Chalauará e Saca vara, e Analá da pragana Poary forão aforadas a Simão Aluarez pello conde do Redondo viso rey scilicet as ditas duas a ldeas primeiras deste praganá com mais a a ldea Davapaladim em duas vidas com dous pardaos d'ouro e hum mamude e meio de foro por anno de que elle seria a primeira e por sua morte nomearya a 2a sem a poderem vender emlhear nem partir sem licença e andarão em huma só peçoa com obriguação de viuer com moIher e casa em Damão e ter sempre huma espimgarda a sua custa sem vençer soldo, moradia, nem mantimentos, ficamdo de fora o que se pagua aos sarcetas. E as terras dadas de tença aos deçais e outras peçoas comforme ao foral, per carta feita em dez de Setembro de sesenta e tres, na qual esta huma postilla do dito conde feita em trinta de Setembro do dito anno, que diz assj : porquanto a aldea Davepaladim he dada ey por bem em lugar della de aforar a aldea Nagaváz da pragana Naer e assy as aldeas Chalavará, e Sacavará, e Anallá, que estão na pragana Poary das quais e das outras duas, pagara de foro de todas dez pardaos d'ouro e quatro mamudes e as tera e possuira em duas vidas com as mesmas condiçõis e obriguaçõis.

    O dito Simão Aluarez trespassou as seis aldeas, açima em Andre d' Azeuedo per escretura feita em noue de Setembro de sesenta e seis e o viso rej Dom Amtão passou carta em dezoito d'Outubro do dito ano per que cornfirmou a dita venda por ser feita per sua pro-

    x pardaos -i i i j mallludes

    lico, S.v.; J . van Lent e P. J. Berman, The Enc)'c1opedia of Is/mil. C /assar)' & Indexes of Technica/ Terllls lo VO/llmes l - VIII, s.v. ) .

    4 3

  • ulsao e l icença e as aforou ao dito Andre d ' Azevedo nas ditas duas vidas com o dito foro e obrigaçõis.

    O d ito Andre d' Azeuedo per seu fa lecimento nomeou na 2a vida a Francisco d 'Azeuedo seu filho segundo emformação mas não se apresentou a dita nomeação. O conde de Villa d 'Orta44 féz merçe ao dito Francisco d ' Azeuedo de mais huma vida pera com a que possuhia serem duas, pagando quem nellas subcedesse mais a quarta parte de foro per carta feita em sete de Janeiro de oitenta e quatro.

    O dito Francisco d 'Azeuedo per seu falecimento nomeou na dita vida acrecentada a Margarida da Costa sua molher per verba de testamento a qual II

    [fI . 6v] cazou com Pascoal Goméz Bocarro a quem o conde de Villa d 'Ona viso rej passou carta em vinte de Outubro de oitenta e quatro pera possuir elle estas a ldeas em duas vidas, huma que tomou a dita sua molher e outra de que lhe nouamente féz merçe com o dito foro e mais a quarta parte que a dita sua molher auia de paguar de que elle seria a primeira vida e per sua morte nomearia a 2a pagamdo quem sucedesse na derradeira acrecentada mais a quarta parte do foro e com as mais obriguaçõis do prymeiro afforamento.

    O d ito Pascoal Goméz Bocarro e a dita sua molher venderão estas aldeas a João Gomez Suejro por trezentos e o itenta pardaos de quatro larins per escretura feita em dezacete de Dezembro de nouenta avendo o viso rej por bem.

    O d ito João Goméz Suej ro as vemdeo a Pero de Carualho per escretura feita em vinte e simco d 'Outubro de nouenta e huum auendo ho viso rey por bem e foi comfirmado as ditas vendas por carta do viso rey Mathias d'Alboquerque feita em vinte hum de Feuereiro de nouenta e dous com declaração que as pessuyria nas ditas duas vidas não tendo outra obriguação d 'aldea nas terras de Damão pagamdo o dito foro e mais a

    H D. Francisco de Mascarenhas, governou de 1 5 8 1 a 1 584 .

    44 TO�11l0 DE DM'IÁO - 1592

  • i iI . 71 Jrem

    quarta parte polla vida em que sllcedeo Margarida da Costa e mais outra quarta parte polla em que sucedeo Pascoal Goméz e nestas duas uidas será sempre a primeira a dita Margarida da Costa emquanto for viua e per seu falecimento ficarão na 2" vida ao dito Pero de Carualho comforme a ordenação.

    E declarou o dito Pero de Carualho que não POSSllhia hum a destas aldeas chamada Analá polla possuhir Baltezar de Menezes ferreiro filho de Louremço de Me-neses per sentenca que ouue. E assy pagão estas a ldeas xbij p.rdaos de foro com as ditas quartas partes acrecentadas. II

    A aldea J amapor45

    Foi aforada a João Aluarez pelio conde do Redondo viso rej em tres vidas com vinte e seis parda os d'ouro hum mamude dezoito ducaraz de foro por anno de que elle seria a primeira uida e per sua morte nomearya a 2" e a 2a a 3" sem a poderem uender emlhear nem partir sem licença e andara sempre em huma só peçoa com obriguação de viuer com molher e caza em Damão, e ter sempre huma espimgarda a sua custa pera com ella seruir quando comprir sem vençer soldo moradia nem mantimento ficando de fora o que se pagua aos sarcetas, e as terras dadas de tença aos deçais e a outras peçoas comforme ao foral per carta feita em vinte huum de Outubro de sesenta e huum.

    O dito João Aluarez vemdeo esta a ldea a Dyoguo da Guama por escretura feita em sete d' Agosto de oitenta e dous por mil e oitenta e seis parda os de quatro mamudes o pardao. E foi comfirmada a dita venda por carta do conde viso rej Dom Francisco Mascarenhas per que ouue por bem que o dito Dioguo da Gama pessuisse esta aldea nas ditas tres vidas com o dito foro e mais obriguaçõis e a dita carta he feita em quatro de Outubro de oitenta e dous. E por bem della a pessue oje em dia .

    xxbj p.rd.os i mamude

    xbiij ducaras

    4; Na margem esquerda do fólio estão escritas, com letra diferente, três anotações i legíveis devido ao restauro do documento.

    45

  • JtCI1l As aldeas Doler e Danulym46 Forão a foradas a João Phelipe bombardeiro pello

    conde do Redondo viso rey em tres vidas com doze pardaos d'ouro hum mamude e oito ducaras de foro por anno de que elle seria a primeira e por sua morte nomearia a 2' e a 2' a 3" sem a poderem vender emlhear nem partir sem licença e amdara em huma só peçoa com obriguação de viuer com molher e caza em Damão e seruir sempre de bombardeiro47, sem vençer soldo nem mantimento nem quintaladas, assy elle como os que lhe subcederem ficando de fora o que se pagua aos sarçetas, e as terras dadas de temça aos deçais, e outras peçoas comforme ao foral per carta feita em nove de Outubro de sesenta e huum.

    O dito João Felipe per seu falecimento nomeou na 2a vida per verba de testamento a Ysabel da Cunha sua molher.

    O viso rey Dom Antão féz merçe destas aldeas II [fI. 7v] aforando lhas em duas vidas com o dito foro e com

    obriguação de viver em Damão e seruir quando comprir por respeito do dito João Phelipe não deixar herdeiro e em satisfação de duzentos e sincoenta pardaos de que lhe era feito merçe pello dito viso rej per aluara de lembrança em quaisquer fazendas que vagassem per carta feita em quatro de Janeiro de sesenta e sete. E auendo leti jo com a dita Jsabel da Cunha sendo casada com Jorge Rodriguez bombardeiro ouue sentença contra o dito Fernão de 50liz e ficou em posse das d itas aldeas por bem da dita semtença .

    O viso rej Dom Antonio lhe féz merçe que ella e o dito seu marido fossem ambos huma vida e o que derradeiro fa leçesse nomeasse a 2" per carta feita em catorze de Março de setenta e tres . E ella he falecida e o dito Jorge Rodriguez as pessue.

    xij parelaos i mal11uclc 8 ducaras

    ·1(, Na margem esquerda do fólio está escrita com letra d i ferente uma anotação que não foi possível transcrever devido ao restauro do documento.

    47 Como João Fi l ipe era bombardeiro, o serviço mi l itar que tinha que prestar na fon'aleza de Damão seria neSSa capacidade e não com UI11 espingarda ou com um cavalo.

    46 TO�IBO DE DA�IAo - 1592

  • Jlem As aldeas Davepaladim Grande e Borolay48

    Ifl. 8]

    Forão aforadas a Per o Pinto pello conde do Redondo viso rey em tres vidas com trinta e oito pardaos d'ouro hum mamude e dezoito ducaras de foro por anno de que elle seria a primeira e per sua morte nomearia a 2a e a 2a a terçeira sem as poderem vender emlhear nem partir sem licença e andarão em huma só peçoa com obrigação de viuer com molher e casa em Damão e ter sempre huma espimgarda a sua custa pera com ella seruir quando comprir sem vemçer soldo, moradia, nem mantimento ficamdo de fora o que se pagua aos sarcetas e as terras dadas de tença aos deçais e outras peçoas comforme ao foral per carta feita em treze de Outubro de sesenta e huum.

    Estas aldeas vagarão per falecimento do dito Pero Pinto e o dito conde viso rey as afforou a Francisco Sapico nas ditas tres vidas com catorze parda os d'ouro, e dous mamudes de foro por anno com obrigação de viuer em Damão com molher e caza, e ter cauallo arabio e com as mais declaraçõis no aforamento per carta feita em vinte de Janeiro de sesenta e tres. II

    O dito Francisco Sapico per seu faleçimento nomearia na 2a vida per verba de testamento a Jsabel Aluarez sua molher que as pessue oje em dia .

    Jtem A aldea de Naulym Foi aforada a Fernão Barre [i]ros pello conde do

    Redondo viso rey em tres uidas com trinta e dous pardaos d'ouro hum mamude e q[u] inze ducaras de foro por anno de que elle seria a primeira e por sua morte nomearia a 2a e a 2a a 3" sem a poderem vender em Ihear nem partir sem licença e andara em huma só peçoa

    xi i i j pardao�) i j m31lludes

    xxxij pardaus i ma mude xb ducaras

    ·'8 Na margem d ireita do fólio encontra-se escrito com letra diferente: « Hul11a parte desta aldea denominada Devaparery por estar a outra por nome Borolay em poder do maratha foi encabeçada em D. Brites Caetana Correa da Fonceca per carta de 5 de Novembro de 1 757, e ultimaI11ente lhe succedeo Antonio Francisc