agenda 21 – estaÇÃo de coleta de resÍduos sÓlidos: … · importância do trabalho em equipe...
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AGENDA 21 – ESTAÇÃO DE COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS:
TEORIA E PRÁTICA PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO
MELHOR
BALESTRIM, Fernanda Viana1 - UEL
Grupo de Trabalho: Educação e Meio Ambiente
Agência Financiadora: Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência/CAPES
Resumo O presente trabalho tem como finalidade relatar experiências obtidas a partir de um projeto
que vem sendo desenvolvido junto aos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Prof. Olympia Morais Tormenta, localizado na cidade de Londrina – Paraná, que
tem como tema e finalidade a conscientização ambiental através da construção de uma estação
de coleta de resíduos sólidos. As atividades desenvolvidas proporcionam aos alunos a
oportunidade de entrarem em contato com a educação ambiental de maneira didática e
diferenciada, articulando conhecimento científico, através de aulas expositivas - de modo a
incentivar a contribuição e participação significativa dos discentes, um dos maiores
obstáculos encontrados na execução das atividades, devido à pouca expectativa por parte dos
estudantes de que seus esforços sejam realmente relevantes para a preservação do meio
ambiente - com práticas cotidianas contando com o auxílio de recursos didáticos variados
(vídeo, música, produção de cartazes, histórias em quadrinhos, visitas ao entorno da escola,
dinâmicas de grupo, etc.). O projeto vem sendo desenvolvido com a participação de alunos da
graduação do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina de 1º e 4º anos e
conta com a orientação da Prof.Dra. Jeani Delgado Paschoal Moura, da Universidade
Estadual de Londrina e a Prof. Romilda Castelar, do Colégio Olympia Morais Tormenta.
Além dos benefícios para os alunos e funcionários do referido colégio – que varia desde a
redução dos resíduos orgânicos lançados na natureza, até a possibilidade de levar esses
conhecimentos à comunidade, esta prática oferece aos graduandos um contato direto com a
realidade escolar, experiência na área da educação e, conseqüentemente, uma formação
diferenciada.
Palavras-chave: Composteira. Orgânicos. Coleta seletiva.
1 Graduanda do 4º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina – Bolsista do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
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Introdução
As constantes inovações nas técnicas de produção pelas quais a sociedade passou,
proporcionou, além do conforto e das facilidades no transporte, na comunicação e nas trocas
de informação, problemas de ordem ambiental.
Sabe-se que para a produção de bens materiais há a necessidade dos recursos naturais
e, sua escassez coloca em risco o desenvolvimento das gerações futuras, além de gerar
problemas de saúde
Com base nesta preocupação surge a necessidade de mudança de mentalidade por
parte da população como um todo que, passa a ter a preservação do meio ambiente, aliada ao
desenvolvimento que é uma qualidade intrínseca do ser eventos estabelecendo metas e
procedimentos de se reduzir a emissão de poluentes na natureza.
O presente trabalho nasce de uma dessas estratégias, que visa a educação ambiental
dentro do ambiente escolar, para sua disseminação e aplicação na comunidade na qual está
inserida e contém alguns resultados obtidos e relatos das impressões e expectativas dos
participantes.
O projeto “Estação de coleta seletiva” e suas múltiplas implicações
O projeto vem sendo desenvolvido com os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental
do Colégio Estadual Prof. Olympia de Morais Tormenta e abrange cerca de 90 alunos,
divididos em 3 turmas do período vespertino. Tem sido aplicado desde o dia 18 de Março de
2013 e conta com a participação de outros 3 alunos graduandos do 1º ano do curso de
Geografia da Universidade Estadual de Londrina sob orientação da Prof. Dra. Jeani Delgado
Paschoal, da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Prof. Romilda Castelar, do
Colégio Estadual Prof. Olympia Morais Tormenta.
O projeto atende à implementação da Agenda 21 escolar, documento integrante da
Agenda 21 brasileira, que consiste em um instrumento de planejamento para o
desenvolvimento sustentável a partir da preservação ambiental. O documento, ao reconhecer a
importância da escola quanto a disseminação de cultura para a comunidade em geral, busca
incentivar os alunos na adoção de práticas cotidianas que vislumbrem o cuidado com o meio
ambiente.
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Agregando a necessidade de implementação da educação ambiental, prevista na Lei
9795 de 27 de Abril de 1999 que coloca tal conteúdo como essencial e permanente em todas
as modalidades e níveis de ensino é que este projeto vem sendo implementado dividido em 3
partes: planejamento, implementação e manutenção, tendo data prevista de término no mês de
Junho de 2013, com a implementação e manutenção de uma composteira, com materiais
disponíveis no próprio colégio, como: madeira, restos de tijolos e o material orgânico gerado
durante as refeições que são oferecidas.
Na primeira etapa, que consistiu na conscientização, buscamos dar um sentido ao
trabalho que seria desenvolvido com as turmas. Dar significado ao conteúdo a ser abordado é
importante porque, somente através da percepção da importância daquele saber para seu
cotidiano que faz com que o aluno, mais que aprenda, mas sim apreenda o que está sendo
exposto.
O aspecto cognitivo atribuído à função escolar torna-se mais completo e complexo
na medida em que são considerados os conhecimentos significativos para a vida dos
sujeitos. O importante é saber as coisas e saber o que fazer com elas ou, melhor,
transformá-las em ferramentas para compreender o mundo e conduzir a própria vida.
(CALLAI, 2010, p. 28)
Dessa forma, nesta etapa, apresentamos o projeto aos alunos, como ele seria aplicado e
qual a sua relevância para a vida de cada um que ali estava. O primeiro contato, como
mencionado anteriormente se deu no dia 18 de Março de 2013, e foi marcado por uma
atividade bem dinâmica: limpeza das carteiras.
Essa atividade promoveu uma ótima integração entre os alunos e fez com que eles
percebessem como o ambiente fica diferente com uma atitude simples. Foi mencionado a
importância do trabalho em equipe e que, quando todos cumprem com a sua parte, a tarefa
não fica cansativa.
Porém, durante a realização das atividades foi questionado o fato de outros alunos
utilizarem aquela mesma sala e a possibilidade de novas pixações e degradações colocando
todo o trabalho da sala em desperdício. Essa foi uma questão realmente difícil de ser
solucionada, já que o projeto estava sendo desenvolvido com as turmas do período vespertino
e os alunos do matutino e do noturno não terem cuidado em manter as carteiras limpas.
Aconteceu que, na semana seguinte, ao retornarmos para as salas de aula, as carteiras estavam
sujas, riscadas e depredadas como encontramos anteriormente.
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Damos continuidade à etapa de conscientização, com a confecção de cartazes com
regras de convivência e manutenção da limpeza das salas de aula - elaboradas pelos discentes
- , com as cores referentes aos diferentes resíduos sólidos gerados no colégio e distribuição de
lixeiras para a separação do papel seco e de outros resíduos encontrados: plásticos, latas,
rejeitos, etc. As lixeiras distribuídas - conforme apresentadas na Figura 1 - foram
confeccionadas pelos próprios alunos do colégio durante oferta de oficinas realizadas por
alunos integrantes do PIBID no ano de 2012.
Figura 1 - Lixeira distribuída nas salas de aula.
Nestas atividades práticas os alunos, na sua maioria, participaram e declararam estar
satisfeitos com as atividades, conforme pode ser observado na Figura 2.
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Figura 2 - Alunos participando ativamente da confecção de cartazes.
Um fato, porém, que chamou a atenção foi que, na limpeza das carteiras, na
distribuição das lixeiras (realizada em todas as salas da escola) e na confecção dos cartazes, os
alunos que prontamente participaram foram aqueles que, geralmente, apresentam problemas
de comportamento em sala de aula. São alunos que conversam, são indisciplinados, se
recusam a realizar as atividades propostas pela professora regente, entre outros.
Durante a aplicação do projeto, solicitamos algumas atividades para serem realizadas
em casa, como: pequenos relatos de quais atitudes foram tomadas para tornar o mundo um
lugar melhor, tabela de quantidade aproximada e tipo de lixo gerado na residência do aluno,
produção de histórias em quadrinho, entre ouras.
O objetivo era mostrar aos alunos que os problemas tratados em sala de aula, ocorriam
em suas próprias casas, no sentido de transferir aos seus familiares, o que estava sendo tratado
em sala de aula. Entretanto, em todas as turmas houve baixíssima produtividade, mesmo
quando mencionado que as atividades teriam algum valor na nota bimestral.
Do total de alunos participantes do projeto, apenas 15 realizaram pelo menos 1 das
atividades propostas como tarefa de casa. Houve casos em que, ao solicitarmos a um aluno
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que copiasse a atividade que estava no quadro, ele respondeu: “Ah, professora, nem vai fazer
diferença eu copiar, porque quando eu chegar em casa eu nem vou abrir o caderno”.
Essa foi uma outra postura negativa para o andamento do projeto, tendo em vista que a
principal fonte de disseminação dos conteúdos e aprendizagens oportunizados pelas
instituições de ensino é o educando.
Porém, mesmo que, quantitativamente as expectativas não estavam sendo
correspondidas, qualitativamente os trabalhos que chegaram até as nossas mãos – casos
também excepcionais – estão fazendo a diferença e nos dando motivação. Um exemplo pode
ser observado na Figura 3.
Figura 3 - Modelo de história em quadrinho produzida por aluna com muito capricho.
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Com relação às dinâmicas desenvolvidas com os alunos, foi reservado um dia para que
fossem recolhidos lixos espalhados pelo colégio para que, posteriormente, fossem separados
de acordo com o conteúdo trabalhado durante os encontros.
Nesta etapa, a participação não foi tão efetiva, tendo em vista que muitos alunos se
recusavam a colocar a mão no lixo. Entretanto, alguns alunos participaram e demonstraram
interesse e entusiasmo com a atividade realizada fora da sala de aula. Durante a separação,
além de papéis, plásticos e restos de alimentos, foram encontrados objetos inusitados, como:
cadeado e pedaços de carteira, o que denunciava o alto grau de vandalismo praticado no
interior do colégio.
Partimos para a última parte da primeira fase do projeto com a exibição de um vídeo
que trata de 4R’s (Reduzir, reciclar, recusar, reutilizar, recusar e repensar ). O vídeo mostrava
como algumas pessoas ganham dinheiro através da confecção de artesanatos a partir de
garrafas PET, latinhas, restos de cerâmica, mostrando que com criatividade e consciência
ambiental, pode-se criar muitos adornos e dar novas finalidades ao material que seria jogado
no lixo evitando que a natureza sofra com seu acúmulo.
A proposta é que, a partir do lixo orgânico produzido pela escola, com os materiais
disponíveis e colaboração dos alunos, possamos construir uma composteira a fim de mostrar
como é fácil a sua instalação e posterior manutenção. O resultado – adubo orgânico – é de
ótima qualidade, podendo ser utilizado em hortas dos mais variados tipos, vasos de plantas e
flores.
Considerações finais
Implementar este projeto tem proporcionado aos alunos, uma oportunidade de aula
diferenciada, prática e abrangente, além de possibilitar uma maior aproximação entre os
saberes científicos e os saberes adquiridos com o cotidiano dos alunos.
Pode-se notar que, em determinadas turmas, problemas de relacionamento e de falta de
respeito tem sido minimizados através das dinâmicas e das atividades em grupo, o que vem
tornando o trabalho extremamente gratificante.
Este fato contribui inclusive para um melhor desempenho nas atividades de outros
professores, de outras disciplinas, possibilitando trabalhos diferenciados, onde o aluno possa
envolver-se mais no processo ensino - aprendizagem, como: trabalhos em equipe, em duplas,
organização de peças de teatro e outras dinâmicas.
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Foi possível compreender e perceber as principais dificuldades encontradas pelos
professores em desempenhar um trabalho de qualidade com seus alunos. Problemas de
comportamento, desinteresse por parte dos alunos que acabam desmotivando os professores,
falta de estrutura física das instituições, etc.
Profissionalmente, atuar neste projeto tem contribuído para o entendimento da
necessidade de se planejar o conteúdo a ser abordado em sala de aula, delimitando objetivos,
estratégias, recursos e métodos a serem utilizados, contemplando possíveis imprevistos de
forma que estes sejam contornados e o objetivo principal – que é ensinar – seja atingido.
Outro ponto fundamental é a troca de experiências ocorridas entre os professores e os
graduandos que fazem parte do projeto. Durante o desenvolvimento das aulas, contribuímos e
recebemos contribuições no sentido de colaborar com métodos e recursos diferenciados que
podem ser aplicados na sala de aula pela professora regente ao mesmo tempo que nos são
dadas dicas de como proceder em determinados casos com os alunos.
Estamos observando de perto as dificuldades, os obstáculos enfrentados pelos
professores da rede pública de ensino, que muitas vezes contam com o improviso na
elaboração de material devido à má qualidade destes bem como da estrutura da escola.
Isso sem contar o problema da burocracia em conseguir elaborar um trabalho
diferenciado, como um trabalho de campo ou uma visita a museus, parques, etc.
Entretanto, é com relação ao trabalho desempenhado em equipe que o projeto tem
oferecido maior aprendizagem. Pensar uma educação voltada para a formação do cidadão
capaz de pensar criticamente e atuar na transformação da sociedade na qual está inserido, é
pensar conteúdos carregados de significado e que seja articulado com a realidade do aluno.
Nesse sentido, é que a interdisciplinaridade – tão requerida nos currículos
educacionais – atinge sua maior importância. E somente a partir de um trabalho em conjunto é
que ela pode ser alcançada.
Sabe-se que, a tarefa de educar requer tempo, persistência e confiança na possibilidade
de se atingir tal objetivo. Daí que, reconhecer que os resultados aparecerão a médio e longo
prazo e que, infelizmente, não serão todos os alunos que abraçarão a idéia, em alguns
momentos desencoraja a continuidade do trabalho.
Entretanto, é quando nota-se que, entre tantos percalços, obstáculos e imprevistos,
existem aqueles que estão dispostos às mudanças, como foi possível perceber com as
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atividades realizadas com tanto capricho e carinho, renovam-se as forças e enchem de
expectativa e esperanças a possibilidade de tornar o nosso mundo um lugar melhor.
REFERÊNCIAS
CALLAI, Helena Copetti. Escola, cotidiano e lugar. In: BRASIL. Ministério da Educação.
Geografia: ensino fundamental. Brasília, DF: Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 25-42.