adoção {sandra maria lisboa} - fichamento

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Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Introdução à Ciência Docente: João Timotheo Discente: Ane Ferrari Ramos Cajado LISBOA, Sandra Maria. A adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 1996. 347.633 L769a O texto acima é organizado pela autora da forma abaixo 1. É traçado um histórico da adoção, passando desde o mundo grego clássico até o Brasil atual; 2. Estabelece-se uma comparação entre a adoção tipificada no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); 3. Tentativa de elucidação do que venha a ser motivos legítimos, requisito instituído pelo ECA para a adoção; 4. Por fim, sinaliza-se para o papel desempenhado pelo magistrado nas causas envolvendo adoção, já que o juiz, nesses casos, deve sempre levar em consideração os motivos legítimos. 1. HISTÓRICO Instituto bastante antigo. Foi disciplinada no Código de Hamurabi, mas também foi conhecida no Egito, Caldéia, Palestina e Atenas. De uma forma geral, a adoção na Antigüidade visava garantir a perpetuação do culto doméstico 1 . Em Atenas a adoção visava garantir a perpetuação do culto doméstico. Em Roma além de garantir a preservação da unidade religiosa (culto doméstico), visava garantir a preservação econômica e política da família. Lá existiam duas formas de adoção, quais sejam : adoção de pater famílias (quando um indivíduo adotava um pai, o pater famílias); e a adoção de filius família (que é a adoção propriamente dita, ou seja, quando uma criança é adotada por uma família e passa a se encontrar sob a autoridade do pai) No Direito Canônico o instituto era praticamente inexistente já que a Igreja Católica tinha reservas quanto à adoção porque entendia que sua existência representava risco ao casamento e à constituição da família. 1 Era comum na Antigüidade que cada família possuísse seu próprio culto, prestando homenagem a um deus ou deusa específica que, tradicionalmente, protege os integrantes da família. Do fortalecimento do culto doméstico decorre, em certa medida, aumento do poder político da família.

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Page 1: Adoção {Sandra Maria Lisboa} - Fichamento

Faculdade de Ciências Jurídicas e SociaisIntrodução à CiênciaDocente: João TimotheoDiscente: Ane Ferrari Ramos Cajado

LISBOA, Sandra Maria. A adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 1996. 347.633 L769a

O texto acima é organizado pela autora da forma abaixo

1. É traçado um histórico da adoção, passando desde o mundo grego clássico até o Brasil atual;

2. Estabelece-se uma comparação entre a adoção tipificada no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

3. Tentativa de elucidação do que venha a ser motivos legítimos, requisito instituído pelo ECA para a adoção;

4. Por fim, sinaliza-se para o papel desempenhado pelo magistrado nas causas envolvendo adoção, já que o juiz, nesses casos, deve sempre levar em consideração os motivos legítimos.

1. HISTÓRICO

Instituto bastante antigo. Foi disciplinada no Código de Hamurabi, mas também foi conhecida no Egito, Caldéia, Palestina e Atenas. De uma forma geral, a adoção na Antigüidade visava garantir a perpetuação do culto doméstico1.

Em Atenas a adoção visava garantir a perpetuação do culto doméstico. Em Roma além de garantir a preservação da unidade religiosa (culto

doméstico), visava garantir a preservação econômica e política da família. Lá existiam duas formas de adoção, quais sejam : adoção de pater famílias (quando um indivíduo adotava um pai, o pater famílias); e a adoção de filius família (que é a adoção propriamente dita, ou seja, quando uma criança é adotada por uma família e passa a se encontrar sob a autoridade do pai)

No Direito Canônico o instituto era praticamente inexistente já que a Igreja Católica tinha reservas quanto à adoção porque entendia que sua existência representava risco ao casamento e à constituição da família.

Na Idade Média o instituto caiu em desuso por ser contrário ao sistema feudal que se baseava exclusivamente nos laços da consangüinidade.

A adoção é retomada a partir do Período Napoleônico graças a previsão no código napoleônico. Nesse código foi introduzida a figura da legitimação adotiva segundo a qual o filho adotado deixa de pertencer à família natural e passa a estar submetido a outra família, possuindo os mesmo direitos como se fosse um filho natural.

No Brasil a adoção só foi sistematizada após o Código Civil de 1916. Antes disso, havia vários preceitos legais sobre adoção. No quadro abaixo aparecem a relação de textos legais que versaram e/ou versam sobre a temática da adoção.

1 Era comum na Antigüidade que cada família possuísse seu próprio culto, prestando homenagem a um deus ou deusa específica que, tradicionalmente, protege os integrantes da família. Do fortalecimento do culto doméstico decorre, em certa medida, aumento do poder político da família.

Page 2: Adoção {Sandra Maria Lisboa} - Fichamento

HISTÓRICO LEGISLAÇÃO

As ordenações Livro II/Título 35,/§12Livro III/ Título 9°/§2°

A Consolidação das Leis Civis de Teixeira de Freitas

Art.217

A Nova Consolidação das Leis Civis por Carlos de Carvalho

Arts 1.635 e 1.640

Código Civil 1916 Arts 368 a 378Lei 3.133 de 08.05.1957 Alterou os artigos acimaLei 4.655 de 02.06.1965 Dispôs sobre legitimação adotiva forma especial de

adoção com a qual se procurou equiparar quase que totalmente o adotado ao filho natural.

Lei 6.697 de 10.10.1979 Suplantou a lei anterior, incluindo duas inovações: Eliminação da legitimação adotiva Criação de duas formas de adoção para menores: a

simples e a plena.Lei 8.069 de 13.07.1990Estatuto da Criança e do Adolescente

Capítulo III/Seção III/ Subseção IV/ arts 39 a 52. “Tratou da adoção como forma de colocação em

família substituta para satisfação do direito da criança e do adolescente à convivência familiar e comunitária.” (pp.2)

Passou a reger a adoção dos menores de 18 anos, restando ao Código Civil reger apenas a adoção dos maiores de 18 anos.

2. CÓDIGO CIVIL versus ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

REQUISITOS PARA A ADOÇÃOCódigo Civil ECA

Adotante deve ter no mínimo 30 anos de idade e, em sendo casado, o casamento deve ter mais de cinco anos

O adotando deve ter no máximo 18 anos, salvo se já estiver sob guarda/tutela dos adotantes;

Adotante deve ter no mínimo 21 anos, independentemente do estado civil.

Idade adotante menos idade do adotado = (no mínimo) 16 anos

Idade adotante menos idade do adotado = (no mínimo) 16 anos

É necessário consentimento do adotado É necessária a manifestação pessoal do consentimento do adotado se esse tiver 12 anos ou mais;

Se o adotado for menos de 12 anos, deve haver consentimento dos pais/representante legal, a não ser que esses sejam desconhecidos.

Adoção deve trazer vantagens para o adotando e se fundamentar em motivos legítimos;

Sempre produz efeitos a partir do trânsito em julgado, menos no caso de morte do adotante que obriga os efeitos retroagirem à data do óbito.

É irrevogável, a morte do adotante não restabelece o poder pátrio do pai natural

O adotado desliga-se totalmente da sua família natural, menos em relação aos impedimentos matrimoniais.

Adoção deve ser feita através de escritura pública

Adoção deve ser feita por meio de sentença judicial que deve ser inscrita no Registro Civil mediante mandado.

Page 3: Adoção {Sandra Maria Lisboa} - Fichamento

3. MOTIVOS LEGÍTIMOS

A autora manifesta a preocupação em clarificar o conceito de motivos legítimos. Segundo ela, o ECA , apesar de mencioná-lo como requisito para a adoção, não define seu contorno. Essa imprecisão gera um temor de que o juiz não tenha parâmetros para fundamentar sua decisão, disso decorre a necessidade de precisar o conceito. Abaixo está expresso graficamente a problematização em torno da motivação.

A autora informa que o legislador brasileiro não leva em consideração a causa como elemento integrativo do negócio jurídico. Se assim é, porque aparece no ECA como requisito para adoção os motivos legítimos?

Além disso, não é possível entender, a partir do esquema acima, o conceito de motivos legítimos, dificultando a atuação dos juízes nas ações de adoção já que ele deve cumprir um requisito que não está claro.

4. PAPEL DO MAGISTRADO NAS CAUSAS DE ADOÇÃO

O papel do magistrado nas ações de adoção é referido pela autora como fundamental para o sucesso do instituto. Esse papel, entretanto, não é bem definido já que, como se afirmou anteriormente, o juiz deve ser fiel a um conceito que é obscuro. Apesar dessa nebulosa conceitual, a autora elenca algumas preocupações que devem orientar as decisões dos magistrados, quais sejam: A adoção não deve ser motivada por fins lucrativos ou por expectativas de direitos

sucessórios; Não deve criar sentimentos amorosos entre o adotante e o adotado ou entre esse

último e os filhos naturais do primeiro; Não deve servir para que se criem fraudes à lei ( fraudes fiscais, por exemplo) ou

para regularizar a filiação natural.

MotivaçãCausa

Ligada à vontade Elemento essencial para formação de um

contrato ou negócio jurídico

2

Objetivista a causa é elemento objetivo do contrato: “(...) fundamento da proteção legal concedida à vontade dos contraentes.” (pp.57-58)

Subjetivista a causa é o motivo

Motivos: “todas as circunstâncias cuja representação intelectual determina o sujeito a querer o ato” (pp.58)