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AÇUDE DE CERAíMA: ESTUDO BATIMÉTRICO E CARACTERIZAÇÃO CLIMATOLÓGICA DO MUNiCíPIO DE GUANAMBI (SA) Patrícia Maria Mitsuka' e Raoul Henry' INTRODUÇÃO A partir de 1877-79, iniciou-se a construção de açudes para arma- zenamento de água, com o intuito de minimizar os efeitos adversos que as secas impõem às populações da região sem i-árida do Brasil (Tundi- si, 1999a). Mas, devido ao número insuficiente de açudes construídos para atender a demanda regional, as conseqüências permanecem as mesmas: fome, doenças e migração (SUDENE, 1999 apud Barbosa, 2002). Nos últimos anos, o projeto do Governo Federal - Um milhão de cisternas e Articulação no Semi-Árido - tem amenizado a situa- ção carente das populações (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2003; Oliveira & Mitsuka, 2004). Mesmo sendo considerados ecossistemas aquáticos artificiais re- centes, os açudes sofrem a ação degradadora do homem, resultando em: salinização da água, elevados níveis de turbidez e assoreamento, desenvolvimento de organismos hospedeiros do vetor da esquistosso- mose, crescente eutrofização causada por esgotos doméstico e indus- trial, matadouros, resíduos sólidos, fertilizantes químicos e agrotóxi- cos (Tundisi, 2000; Vieira, 2002; Tundisi, 2003). Estudos sobre tais ecossistemas são escassos (Crispim & Watana- be, 2000; Gazin et aI., 2000; Bouvy et aI., 2003). De acordo com Espíndola et aI. (2000) e Tundisi (1999b), estes ambientes são dinâmicos e apresentam elevada variabilidade química e fisica, e diferenças qualitativas e quantitativas dos fatores bióticos. Es- tas variações podem ser induzidas pela ação de forças c\imatológicas (vento, precipitação) e também estarem relacionadas aos mecanismos operacionais da barragem e às características morfométricas do sis- tema, que levam à produção de diferenças na circulação horizontal e vertical em todo o gradiente espacial. Portanto, para a compreensão do funcionamento das represas é de fundamental importância a determi- nação da magnitude e freqüência desses eventos atuando como pulsos, que podem variar com a latitude, fatores climatológicos, dimensões da represa e fatores locais e regionais (Tundisi, 1999b). Desta forma, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar os dados c\imatológicos e o perfil batimétrico do Açude de Ceraíma. ÁREA DE ESTUDO Inserido no município de Guanambi, sudoeste do Estado da Bahia, o Açude de Ceraíma (1401TS e 42044'W) foi construído através do I Departamento de Educação - Campus XlI, Universidade do Estado da Bahia, Gua- nambi-BA. 2 Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista- UNESP, Botucatu-SP. RESUMO A construção de açudes, na região Nor- deste do Brasil tem sido uma estratégia para atender a demanda de água devido ao cres- cimento populacional, agrícola e industrial e, desta forma, diminuir os efeitos danosos provocados pelos longos períodos de seca. Do ponto de vista ecológico, as pesquisas re- alizadas nos açudes, até o momento, são es- cassas. Assim, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a caracterização geral da região do Açude de Ceraíma (Guanambi, BA), abordando aspectos hidrográficos, cli- máticos e geológicos; apresentar o mapa ba- timétrico do açude e os dados climatológicos no período de janeiro de 2000 a agosto de 2001. Através dos dados de intensidade plu- viométrica de 21 anos, foi verificada possível ocorrência de um período de seca de 10 em 10 anos. Geralmente, o período chuvoso tem início em outubro podendo se estender até março de cada ano. A amplitude de variação da temperatura do ar foi pequena e, dados de insolação, evaporação, umidade relativa e velocidade do vento apresentaram variações conforme o período seco e chuvoso. Palavras-chave: açude, batimetria, região sem i-árida, climatologia. 2007 . revista comciência 87

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AÇUDE DE CERAíMA:ESTUDO BATIMÉTRICOE CARACTERIZAÇÃOCLIMATOLÓGICA DOMUNiCíPIO DE GUANAMBI (SA)

Patrícia Maria Mitsuka' e Raoul Henry'

INTRODUÇÃOA partir de 1877-79, iniciou-se a construção de açudes para arma-

zenamento de água, com o intuito de minimizar os efeitos adversos queas secas impõem às populações da região sem i-árida do Brasil (Tundi-si, 1999a). Mas, devido ao número insuficiente de açudes construídospara atender a demanda regional, as conseqüências permanecem asmesmas: fome, doenças e migração (SUDENE, 1999 apud Barbosa,2002). Nos últimos anos, o projeto do Governo Federal - Um milhãode cisternas e Articulação no Semi-Árido - tem amenizado a situa-ção carente das populações (Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome, 2003; Oliveira & Mitsuka, 2004).

Mesmo sendo considerados ecossistemas aquáticos artificiais re-centes, os açudes sofrem a ação degradadora do homem, resultandoem: salinização da água, elevados níveis de turbidez e assoreamento,desenvolvimento de organismos hospedeiros do vetor da esquistosso-mose, crescente eutrofização causada por esgotos doméstico e indus-trial, matadouros, resíduos sólidos, fertilizantes químicos e agrotóxi-cos (Tundisi, 2000; Vieira, 2002; Tundisi, 2003).

Estudos sobre tais ecossistemas são escassos (Crispim & Watana-be, 2000; Gazin et aI., 2000; Bouvy et aI., 2003).

De acordo com Espíndola et aI. (2000) e Tundisi (1999b), estesambientes são dinâmicos e apresentam elevada variabilidade química efisica, e diferenças qualitativas e quantitativas dos fatores bióticos. Es-tas variações podem ser induzidas pela ação de forças c\imatológicas(vento, precipitação) e também estarem relacionadas aos mecanismosoperacionais da barragem e às características morfométricas do sis-tema, que levam à produção de diferenças na circulação horizontal evertical em todo o gradiente espacial. Portanto, para a compreensão dofuncionamento das represas é de fundamental importância a determi-nação da magnitude e freqüência desses eventos atuando como pulsos,que podem variar com a latitude, fatores climatológicos, dimensões darepresa e fatores locais e regionais (Tundisi, 1999b).

Desta forma, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar osdados c\imatológicos e o perfil batimétrico do Açude de Ceraíma.

ÁREA DE ESTUDOInserido no município de Guanambi, sudoeste do Estado da Bahia,

o Açude de Ceraíma (1401TS e 42044'W) foi construído através do

I Departamento de Educação - Campus XlI, Universidade do Estado da Bahia, Gua-nambi-BA.

2 Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Botucatu-SP.

RESUMOA construção de açudes, na região Nor-

deste do Brasil tem sido uma estratégia paraatender a demanda de água devido ao cres-cimento populacional, agrícola e industriale, desta forma, diminuir os efeitos danososprovocados pelos longos períodos de seca.Do ponto de vista ecológico, as pesquisas re-alizadas nos açudes, até o momento, são es-cassas. Assim, o presente trabalho tem comoobjetivo apresentar a caracterização geralda região do Açude de Ceraíma (Guanambi,BA), abordando aspectos hidrográficos, cli-máticos e geológicos; apresentar o mapa ba-timétrico do açude e os dados climatológicosno período de janeiro de 2000 a agosto de2001. Através dos dados de intensidade plu-viométrica de 21 anos, foi verificada possívelocorrência de um período de seca de 10 em10 anos. Geralmente, o período chuvoso teminício em outubro podendo se estender atémarço de cada ano. A amplitude de variaçãoda temperatura do ar foi pequena e, dados deinsolação, evaporação, umidade relativa evelocidade do vento apresentaram variaçõesconforme o período seco e chuvoso.

Palavras-chave: açude, batimetria, regiãosem i-árida, climatologia.

2007 . revista comciência 87

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Mitsuku, PaI 1 ciu MariaI Ienry, Rnoul

barramento do Rio Carna íba de Dentro,sub-aftuente do Rio São Francisco, decaráter intermitente (Fig. OI).

da margem e, também dados de área,volume e porcentagem cumulativa emcada estrato (Von Sperling, 1999).

não favorece a colonização de macró-fitas aquáticas, que ocorrem com maiorfreqüência em ecossistemas aquáticos

Figura 01 - Localizaçãodomunicípio de Guanambi(Bahia)à esquerda, mapa do açude de Ceraíma à direita,comesquemadatrajetória dos ventos predominantes(setas em azul), demarcaçãodas estações de amostragematravés de transectos(m: meio; e:

margemesquerda;d: margemdireita). Sendoque estes foramos pontos utilizadospara a batimetria

o relevo tem aspecto montanhosocompreendendo rochas do Pré-Cam-briano, rochas plutônicas, sob a formade batólitos, com granulação grosseira(Projeto de Irrigação, 1971). O soloapresenta grande fertil idade, devidoà sua própria característica química etambém pela contribuição do proces-so de decomposição da queda de ar-bustos e folhas secas da vegetação. Écaracterizada pela presença de florestaestacional decídua, focos de cerrado ar-bóreo aberto e predomínio de caatinga,não havendo floresta de galeria (CEI,1991).

MATERIAL E MÉTODOSPara delinear o perfil batimétrico

do Açude de Ceraíma foi utilizado umecobatímetro Data Equipment, ModeloBathy 500MF, obtendo-se dados em 37transectos distribuídos desde a entradado rio Carnaíba de Dentro no açude atéa zona da barragem. Os trabalhos fo-ram realizados em janeiro de 2001. Apartir dos perfis de topografia de fundode todo o açude foi elaborado o mapabatimétrico do reservatório usando oprograma SURFER. A seguir, foramcalculados os seguintes parâmetrosmorfométricos: perímetro, área, volu-me, largura, índice de desenvolvimento

88 revista comciência . 2007

Os dados climatológicos foram for-necidos pela CODEVASF (Companhiade Desenvolvimento do Vale São Fran-cisco e EMBASA (Empresa Baiana deSaneamento e Água). O tempo de resi-dência da água foi calculado através dafórmula TR= V/(Q x 86400) (onde: TR= tempo de residência da água em dias;V = volume igual e constante a 2, Ix I07m3 obtido através da batimetria; Q =média diária da vazão (m3/s) para cadamês; 86400 = número de segundos con-tidos em um dia).

RESULTADOS E DISCUSSÃOOS dados morfométricos do Açude

de Ceraíma, calculados para janeiro de2001 (Tab.Ol) e, dados de área, volumee porcentagem acumulativa por estratodo açude (Tab.02) são apresentados. Omapa com as isobatas de variação deprofundidade conforme o local é mos-trado na Fig. 02.

O grau de insularidade é relativa-mente elevado (20% da área total dolago) e tem importância na circulaçãoda água, visto que reduz o "fetch" (pis-ta do vento) na dependência da direçãodo vento. O açude tem formato que oaproxima de um círculo, visto que oíndice de desenvolvimento da margemtem valor próximo a 1.0. Este padrão

dendríticos. De fato, a presença dasplantas aquáticas foi limitada à áreamais rasa do açude, junto ao local dedesembocadura do Rio Carnaíba deDentro (Fig. 02). O açude tem índicede desenvolvimento da margem maiorque 1.0, o que caracteriza formato ten-dendo a côncavo (Von Sperling, 1999),com maior possibilidade de circulaçãovertical da água (obviamente, na áreado lago externa à proximidade dasilhas). Os ambientes lacustres cujasbacias apresentam um formato cônca-vo possuem a margem inicialmente es-carpada e, a seguir, com aspecto maissuave com o aumento da profundidade(Von Sperling, 1999). Esta situação nãofavorece o crescimento de macrófitasaquáticas na região litorânea de lagos,pois esses dois fatores agindo em com-binação com uma zona eufótica reduzi-da (Mitsuka, 2005), limitam o seu de-senvolvimento. Este é o caso do Açudede Ceraíma.

A Figura 03 mostra os dados men-sais de intensidade pluviométrica dejaneiro de 2000 a agosto de 2001. Operíodo chuvoso foi curto, iniciando-seem outubro/OO (30,4mm) e finalizandoem janeiro/O l (23,3mm). Novembroe dezembro de 2000 foram os mesesmais chuvosos nesta época, com 125,6

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..Mitsuku. Patricia \t1JnaI !cor). R;lOUI \(1 DI DI· ('I-i{ \1\1·\ rxnoo li \"ll\lHRICOI' CARAI 'TI"RI7..\( ~O (LI'I \rol \)(,j(:,\ DO.vIU:-:ICiI'IODEm, 'N\\-lflllll \j

TABELA 01Dados rnorfométricos do açude de Ceraima (BA),

calculados para janeiro de 200 I.

Comprimento máximo-Cmax 2.673,11 m

Comprimento máximoefetivo (sem passar porI ilhas) - Ce

Largura máxima - Lmax 2.442,34 m

Largura máxima efetiva I_ Lê 1.346,17 m

Largura média 915,74m

Profundidade máxima I 18,58m

Profundidade média 9,76 m

Área total do lago -A 2.783,707,70 m'

Área do lago (excluindoárea das ilhas) - a

Área da ilha grande

Área da ilha pequena

Perímetro do lago

Perímetro da ilha grande

Perímetro da ilhapequena

Índice de desenvol vi-mento de margem

Índice de desenvolvi-mento de volume

2.538,49 m

2,236.552,39 m'

497.934,70 m'

49.220,61 m'

9.315,5 m

2.707,23 rn

1826,19 m

1,76

e 388,7mm, respectivamente, Nota-seainda na figura que os demais mesessão desprovidos de chuva, com raríssi-mas exceções.

No que diz respeito à vazão totaldo Açude de Ceraíma, pequenas osci-lações foram observadas, não havendodiferenças marcantes entre os períodosseco e chuvoso. Em março de 2000, foiregistrado o menor valor (0,85m3/s) e,emjulho de 2001, o maior (0,88m3/s).

Analisando os dados totais anuaisda intensidade pluviométrica em 21anos - 1982 a 2003 (Fig.04), pode-severificar que os anos de 1986 (186,0mm), ] 993 (224,0 mm) e 2003 (275,2mm) foram os que apresentaram meno-res precipitações.

Quanto aos dados das tempera-turas, médias mensais mínimas e má-ximas, o mesmo padrão de variaçãosazonal ao longo do período foi cons-tatado. No mês de julho/OO foi registra-da a menor temperatura média mensalmínima (18,80C) e, em fevereiro/OO amaior (21,90C), sendo a amplitude de

TABELA 02Dados de área, volume e porcentagem acumulativa por estrato

do açude de Ceraíma (BAl em janeiro de 200 I.

0-2 0,0 168646 2236552 100,0 4404124 21818622 100,0

2-4 11,1 229093 2067906 I 92,5 4794669 17414498 79,8

4-6 22,2 228296 1838813 82,2 2587790 12619829 57,8

6-8 33,3 234817 1610517 72,0 2990234 10032039 46,0

8-10 44,4 270966 1375700 61,5 2493032 7041805 32,3

286405 49,4 1899180 4548773 20,8

66,7 265560 818328 36,6 1358338 2649593 12,1

24,7 889538 1291255 5,9

1,8

ac. = acumulado

--FIGURA 02 - Mapa do Açude de Ceraíma (BA)mostrando as isobatas, em janeiro de 200 I,Áreasclaras no interior do lago correspondem a ilhas.

variação de 3,10C (Fig. 05).Com relação à temperatura média

mensal máxima, o valor de 28,3°C foio menor, em julho de 2000, enquantoque, em outubro de 2000 registrou-seo maior (33,4°C). A diferença foi, por-tanto, de 5,loC. No decorrer dos mesesanalisados, pode-se verificar ainda quehouve diferenças significativas entre osvalores das temperaturas médias míni-mas, assim como, entre os valores dastemperaturas médias máximas.

A freqüência e intensidade plu-viométrica e a temperatura são osprincipais fatores que caracterizam oclima da região, que de acordo com oCEI (1991), é do tipo climático semi-árido. Em estudos mais detalhados daPLANER (Planejamento e Engenharia

Rural, 1998), o clima regional enqua-dra-se como tropical de Savana, cominverno seco e verão chuvoso confor-me a classificação de Kõppen, sendoque o mês mais frio apresenta tempera-tura superior à ] 8°e. Da mesma forma,segundo critérios de Gaussen, a regiãoclassifica-se como tropical quente deseca e de inverno.

De janeiro de 2000 até agosto de200 I, os dados obtidos de insolaçãomédia mensal mostram valores quevariam entre 2,6 (condições de nebu-losidade) e 10 horas. Em novembro edezembro de 2000 e, março de 200 Iforam encontradas as menores médiasmensais com 6,41; 4,63 e 2,60 horas,respectivamente. Contudo, nos mesesde agosto de 2000, janeiro e fevereirode 2001 foram encontradas as médiasde insolação mais elevadas, com os se-guintes valores 10,21; 9,46 e 9,34 horas(Fig.06).

Pode-se verificar que os dados deinsolação média mensal apresentamuma relação inversa com os de precipi-tação e umidade, sendo que os maioresvalores médios mensais foram observa-dos nos meses de novembro e dezem-bro de 2000 e, março de 200] .

De forma geral, as médias mensaisde evaporação (mmldia) apresentaramum padrão de variação semelhante aosde insolação (Fig. 07). Observa-se queocorreu um aumento progressivo naevaporação em 2000, de 4,27mm/diaem janeiro para 5,48 mmldia em agosto

2007 . revista comciência 89

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·\(UDI DLCLR·\I\1 \ ts rtoo fj \TI\! ElHICO l. C \R.\CTIRIZ·\Ç' \0 CLl\L\lOLCXW \ DO\IL"I( IPIODI' U! ;.\,\ \\Hlllll,\iMit-uku. Patr ICla Maria

I Ienry, Raoul

450

400 0.98

350 0.96

3000.94

0.92.250

0.9 I200

0.88150

0.88

1JO 0.84

50 0.82

0.8

FIGURA 03 - Intensidade pluviométrica (mm) da região (acumulado mensal em barras) e vazão

(mvs) (média mensal ???) da Represa de Ceraíma (BA), de janeiro de 2000 a agosto de 2001.

1400

I --- I •I I I I I

1200

1000

800

600

400

200

'1182 'S83 sa4 118.5 '&86 '987 988 1189 1190 1}9, 992 'IU13 tl94 'Il95 1196 '991 1198 999 200020012002 2003

FIGURA 04 - Valores da precipitação pluviométrica (acumulado anual em mm) na região da

Represa de Ceraíma (BA), total anual de 21 anos - de 1982 a 2003.

28.

~ 25.

22.

lV,O

e.c

13.0

Çl •• oJ n~ _ )!rI/01 r"" nw ar mi j.n

FIGURA 05 - Temperatura média mensal mínima e máxima do ar na região da Represa de Ceraíma

(BA) durante o periodo de janeiro de 2000 a agosto de 200 I.

até 6,23 mm/dia em outubro. Em no-vembro e dezembro, houve uma queda,com os menores valores médios de 4,15e 2,96 mm/dia. Logo em seguida, pode-se observar um aumento da evaporaçãonos meses de janeiro e fevereiro de2001. Os dados da evaporação tambémmostraram relação inversa com os da-

dos de precipitação e umidade relativa,com os menores valores nos meses denovembro e dezembro de 2000.

O padrão de variação da umidaderelativa média do ar mostra semelhançacom fatores acima mencionados, prin-cipalmente com a precipitação, pois,as maiores médias da umidade relativa

90 revista comciência . 2007

do ar correspondem aos maiores índi-ces de precipitação do mesmo período(Fig.08). As maiores médias foram en-contradas em janeiro, fevereiro e mar-ço de 2000, com os respectivos valores64,5; 59,9 e 61,8%; enquanto que, asmenores médias foram registradas nosmeses de agosto e outubro de 2000,com 46,7 e 44,5%, respectivamente.

A Figura 09 mostra o padrão devariação diário da velocidade do ven-to (m/s) para o período estudado. Osdados diários de velocidade variaramdesde o valor Ona escala corresponden-do a ventos com velocidades menoresque 0,55 até valor 12,50m/s. Verifica-se ainda que os meses correspondentesao período seco (junho, julho, agosto,setembro e até outubro) são caracte-rizados por ventos fortes. Os maioresvalores foram registrados em julho/OO(8,42m/s), setembro/OO (8,33 m7s) eagosto de 2001 (10,22 rn/s). A direçãopredominante do vento é de

Durante o período estudado, o tem-po de residência da água do Açude deCeraíma apresentou um padrão homo-gêneo (282,6 dias) e, aparentemente,não sofreu alterações em relação aosperíodos de maior precipitação. Re-servatórios com tempo de residênciamaior que 200 dias favorecem o desen-volvimento de estratificação térmica(Straskraba et al., 1993), desde que naausência de episódio de ventania.

Em comparação aos outros sis-temas, pode-se dizer que o tempo deresidência da água determinado foielevado. Por exemplo, o Lago MonteAlegre (Ribeirão Preto - SP) apresentatempo de retenção de aproximadamen-te 45 dias (Arcifa, 1999); a Represa deSalto Grande (Americana - SP) possuitempo médio de residência de 20 a 90dias (Calijuri et al., 1999) e do Reser-vatório de Itaipu de 40 dias (Agostinhoet aI., 1999). O alto tempo de retençãodo açude de Ceraíma pode ser explica-do pela vazão baixa (menor 1,0 m3/s),para prevenção da falta d'água, devidoa um trabalho de racionamento da águado município de Guanambi.

CONSIDERAÇÕES FINAISDurante o período de estudo no

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•Mitsuka. Pamcia !\bndl lenry. Raouí I,\(1 DI DI' CI·I{ \I~I·\ LSTI'f)t) ln 1I~IF nuco I' (' IIt.\CTFRI7 '<' \0 ( U\I·\l'Ol oo« I DO \11. ,,,e11'10DI: GU-11\,\\181 (1),\)

Açude de Ceraíma, foram observadasnítidas mudanças c1imatológicas e davegetação marcando o período seco(agosto e setembro de 2000, fevereiroa julho de 2001) e chuvoso (novembrode 2000 a março de 2001). Portanto,a água atua como fator limitante naregião, devido ao pequeno volume deprecipitações e irregularidade na distri-buição, A análise dos resultados mostraas relações entre as variáveis climatoló-gicas: precipitação pluviométrica, tem-peratura, insolação, evaporação, umi-dade relativa e velocidade do vento.

Analisando ainda os dados clima-tológicos de precipitação e velocidadedo vento do presente estudo, observa-se que o período seco (agosto a outu-bro de 2000 e de abril ajulho de 2001)foi marcado por elevada velocidade dovento em relação aos demais meses, quecompreenderam o período chuvoso,

A menor temperatura máximaocorreu em dezembro de 2000 (280C)e a maior, em outubro do mesmo ano(33,90C). Enquanto que, a menor tem-peratura mínima foi observada emagosto de 2000 e julho de 2001 (180C)e, a maior temperatura mínima, em fe-vereiro e março de 2000 e 2001.

A vegetação local também apre-sentou alterações entre os períodosseco e chuvoso. No primeiro, a vege-tação apresentava-se esbranquiçada,seca e, muitas espécies haviam perdi-do suas folhas e, no segundo, a mesmamostrou um crescimento das folhas eadquiriu coloração esverdeada. Devidoàs características químicas do solo edo processo antrópico - desmatamen-to e cultivo marginal, que favorecem amaior entrada de material alóctone noperíodo chuvoso, o açude de Ceraímaapresentou alteração da cor da água demarrom amarelado para marrom aver-melhado.

AGRADECIMENTOSAgradecemos à CODEVASF e

EMBASA pelo fomecimento de in-formações valiosas sobre o Açude deCeraíma; ao Sr. Hércules José Procópio(MEC) e Escola Agrotécnica FederalAntônio José Teixeira de Guanarn-bi, por disponibilizar o laboratório de

12

,

IFIGURA 06 - Dados de insolação média mensal (horas) na região da Represa de Ceraíma (8A)

durante o período de janeiro de 2000 a agosto de 200 I.

nOo' d!2 jwll01 fw rt1I" rt:r mi j.rI

FIGURA 07 - Dados de evaporação média mensal (mm/dia) na região da Represa de Ceraima

(8A) durante o período de janeiro de 2000 a agosto de 200 I.

80

70

60

I50

'0

30

20

;tI/OO ffN nw ••• 1M tJ1

FIGURA 08 - Dados da umidade relativa média mensal (%) do ar na região da Represa de

Ceraíma (BA) durante o período de janeiro de 2000 a agosto de 2001.

química; à CAPES e CNPq pelo apoioconcedido na realização deste traba-lho e, ao auxiliar acadêmico HamiltonA. Rodrigues (UNESP) e amiga NelcíL. Stripari pelo auxíl io na fase inicial

deste trabalho. Ao Reitor da UNEB,Lourisvaldo Valentim da Silva, peloapoio dado à este trabalho e à outrosdesenvolvidos pelo GAMA - Grupo deApoio ao Meio Ambiente.

2007 . revista comciência 91

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FIGURA 09 - Padrão de variação diária da

velocidade do vento na região da Represa de

Ceraima (BA) no período de janeiro de 2000 aagosto de 200 1.

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