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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0301/12 Data do Acordão: 23-05-2012 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: FERNANDA MAÇÃS Descritores: IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS AVALIAÇÃO FIXAÇÃO DO VALOR PATRIMONIAL CONCURSO PÚBLICO PREÇO ADJUDICAÇÃO Sumário: I - O facto de a nova redacção do art. 76º do CIMI ter entrado em vigor apenas no dia 1 de Janeiro de 2009 não constitui obstáculo à sua aplicabilidade a uma segunda avaliação, ocorrida em 21 de Dezembro de 2009, e requerida com fundamento de que o valor patrimonial atribuído na primeira avaliação não havia tido em conta o valor real de mercado do prédio urbano, pois que a norma em causa, relativa à segunda avaliação de prédios urbanos (cfr. a epígrafe do artigo 76º do Código do IMI) é de cariz procedimental e, por conseguinte, de aplicação imediata, a menos que tal aplicação prejudique garantias, direitos e interesses legítimos dos contribuintes (cfr. o nº 3 do art. 12º da LGT), o que não ocorre no caso. II - A transacção ocorrida no âmbito de um concurso público constitui um fenómeno único e irrepetível, sem padrão de referência, tendo sobretudo em conta a finalidade específica que presidiu à adjudicação do imóvel no âmbito de um concurso, pelo que, não sendo possível repetir a transacção para se poder concluir se há desfasamento entre o valor de mercado do imóvel e o preço, o valor de mercado do imóvel há-de corresponder ao preço da adjudicação. III - Só não será assim se se demonstrar que há razões concretas, objectivas, para se concluir que o preço da adjudicação está falseado, cabendo à recorrente aduzir e trazer aos autos provas demonstrativas do contrário, não bastando para esse efeito a alegação genérica de que no âmbito do concurso o preço não ser o único factor a ter em conta e daí não poder corresponder ao valor de mercado do imóvel. IV - Do disposto no nº 4 do art. 76º do CIMI resulta que o novo valor patrimonial tributário fixado em resultado da segunda avaliação com fundamento na

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0301/12

Data do Acordão: 23-05-2012

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: FERNANDA MAÇÃS

Descritores: IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS AVALIAÇÃO FIXAÇÃO DO VALOR PATRIMONIAL CONCURSO PÚBLICO PREÇO ADJUDICAÇÃO

Sumário: I - O facto de a nova redacção do art. 76º do CIMI ter entrado em vigor apenas no dia 1 de Janeiro de 2009 não constitui obstáculo à sua aplicabilidade a uma segunda avaliação, ocorrida em 21 de Dezembro de 2009, e requerida com fundamento de que o valor patrimonial atribuído na primeira avaliação não havia tido em conta o valor real de mercado do prédio urbano, pois que a norma em causa, relativa à segunda avaliação de prédios urbanos (cfr. a epígrafe do artigo 76º do Código do IMI) é de cariz procedimental e, por conseguinte, de aplicação imediata, a menos que tal aplicação prejudique garantias, direitos e interesses legítimos dos contribuintes (cfr. o nº 3 do art. 12º da LGT), o que não ocorre no caso. II - A transacção ocorrida no âmbito de um concurso público constitui um fenómeno único e irrepetível, sem padrão de referência, tendo sobretudo em conta a finalidade específica que presidiu à adjudicação do imóvel no âmbito de um concurso, pelo que, não sendo possível repetir a transacção para se poder concluir se há desfasamento entre o valor de mercado do imóvel e o preço, o valor de mercado do imóvel há-de corresponder ao preço da adjudicação. III - Só não será assim se se demonstrar que há razões concretas, objectivas, para se concluir que o preço da adjudicação está falseado, cabendo à recorrente aduzir e trazer aos autos provas demonstrativas do contrário, não bastando para esse efeito a alegação genérica de que no âmbito do concurso o preço não ser o único factor a ter em conta e daí não poder corresponder ao valor de mercado do imóvel. IV - Do disposto no nº 4 do art. 76º do CIMI resulta que o novo valor patrimonial tributário fixado em resultado da segunda avaliação com fundamento na

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distorção entre o valor patrimonial e o valor de mercado apenas releva para efeitos de IRS, IRC e IMT.

Nº Convencional: JSTA000P14194 Nº do Documento: SA2201205230301 Data de Entrada: 20-03-2012 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: A......, ,SA Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário

do Supremo Tribunal Administrativo: I- RELATÓRIO

1. A Sociedade Comercial A………, S. A., identificada nos autos, deduziu impugnação judicial, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro, da avaliação do terreno para construção inscrito na matriz predial urbana sob o artigo provisório 6560 (P-6560), ao qual foi atribuído o valor patrimonial tributário de € 7.115.970,00, que foi julgada procedente. 2. Inconformado com tal decisão, veio a Fazenda Pública interpor recurso para o TCA Norte, apresentando as seguintes conclusões das suas alegações: A. Visa o presente recurso reagir contra a douta sentença que considerou procedente a impugnação judicial deduzida por A………, S.A., visando atingir o valor patrimonial tributário atribuído ao artigo provisório P-6560. B. O objecto do presente recurso prende-se com a decisão de que o valor da avaliação do prédio não poderia exceder o montante de € 5.910.000,00, por ser esse o valor de mercado, atendendo a que se tratou do preço de aquisição do bem no âmbito de um concurso público. C. A douta sentença padece de erros de julgamento de facto e de direito, os quais acabam por inquinar toda a decisão dado que, com base em factos dados como provados, extraiu uma conclusão não alicerçada nos meios probatórios trazidos aos autos. D. Partindo de factos dados como provados (“2. O preço de aquisição referida em 1) foi de € 5.910.000,00 (cinco milhões e novecentos e dez mil euros) e foi determinado segundo as condições do concurso público aprovadas pela Câmara Municipal e Assembleia Municipal de São João da Madeira” e “15. No requerimento de segunda avaliação, a

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Impugnante alegou que o valor patrimonial tributário atribuído na primeira avaliação não teve em conta o real valor de mercado do prédio urbano”), limitou-se a concluir que “precisamente por ter sido vendido por concurso público e como tal, existir uma possível enorme quantidade de interessados livremente a apresentarem ofertas de compra, tendo sido transaccionado pelo supra valor, entende o Tribunal que se deveria ter considerado como valor de mercado, o referido montante de e 5.910.000,00”. E. O valor de mercado referido no n.° 4 do artigo 76.° do Código do IMI não é determinado de forma discricionária ou arbitrária. F. Nos casos de distorção, o VPT terá de ser fixado por aplicação do método comparativo dos valores do mercado (artigo 46.° n.° 3 do CIMI), pelo que este não pode ser achado de uma forma empírica, baseada no senso comum ou nas regras da experiência. G. O valor de mercado , correspondendo ao preço praticado numa transacção, pressupondo que o comprador e o vendedor actuaram com informação plena e completa do produto e das condições do mercado, não actuaram forçados e não existe coacção em comprar e vender, ambos dispõem de tempo para a realização da transacção e o pagamento é efectuado em dinheiro ou equivalente, distingue-se do preço de mercado . H. O valor da adjudicação de um prédio no âmbito de um concurso público não reflecte necessariamente o seu valor de mercado, dado que, para a aceitação das propostas por parte da entidade adjudicante, não é unicamente levado em linha de conta o elemento preço, mas uma multiplicidade de factores — a capacidade comercial do comprador, as soluções arquitectónicas, o preço e o elemento temporal. I. A douta sentença labora em erro de julgamento de direito, ao aplicar o n.° 4 do artigo 76.° do Códig o do IMI ao caso sub judíce. J. Na verdade, para efeitos do valor patrimonial de IMI, a obtenção do referido valor de mercado não tem qualquer relevância , pelo que não poderia o douto Tribunal recorrido aplicar aquela norma, fundando na mesma a sua decisão ora posta em crise (cfr. Ac. do STA, de 25-05-2011, proc. n.° 0239/11) K. Por conseguinte, deverá o presente recurso ser julgado procedente, revogando-se a douta decisão judicial, por padecer a mesma de um erro de julgamento de facto e de direito, por violação dos artigos 76.° n.° 4, 46.° n.° 3 e 45°, todos do Código do IMI, devendo aquela primeira norma ser interpretada e aplicada no sentido de que o valor de mercado não tem qualquer relevância para efeitos de IMI, assim se fazendo JUSTIÇA.

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3. Notificada das alegações da Fazenda Pública, a Sociedade Comercial A………, S. A., veio produzir contra-alegações, das quais se extraem as conclusões: “i. O procedimento de segunda avaliação, previsto no artigo 76. do CIMI, encontra-se legalmente previsto, não meramente para aplicar fórmulas matemáticas, mas para introduzir os necessários factores de correcção e ajustamento quando dessas fórmulas resultem valores desajustados aos valores de mercado do imóvel — como é manifestamente o caso dos autos. ii. No caso em apreço, existem dados que evidenciam, objectiva e ostensivamente, esse desajustamento, porquanto, como resulta dos autos, o prédio foi adquirido no âmbito de um concurso público pelo valor de €5.910.000.00 e, em sede de segunda avaliação, foi atribuído ao mesmo imóvel o valor patrimonial tributário (VPT) de €7.115.970,00 . iii. Por via da regra 16ª. do nº. 4 do artigo 12º. do CIMT, o legislador veio afastar, para diversas situações, a regra geral de determinação do valor tributável para efeitos de IMT prevista no nº. 1 do artigo 12º. do CIMT, determinando que no caso dos bens adquiridos ao Estado ou às Autarquias Locais, o valor tributável para efeitos de IMT é o “preço constante do acto ou contrato” . iv. Se para efeitos de IMT e igualmente para efeitos de Imposto do Selo (nº. 4 do artigo 9º do respectivo código), no caso de bens adquiridos ao Estado ou às Autarquias Locais, o próprio legislador confirma como verdadeiro e inquestionável o preço constante do contrato, sendo esse o valor que corresponde o valor tributável para efeitos daqueles impostos, também para efeitos de IMI terá que ser reconhecido esse valor como o valor patrimonial tributável do terreno - pela simples razão de que, num e noutro caso, se trata da mesma realidade económica e jurídica. v. Senão decisivamente, o preço de compra e venda, quando for (e é o caso) manifestamente inferior ao VPT , deve, ao menos, ser considerado e levado em linha de conta, na determinação do valor do imóvel. vi. Após as alterações legislativas do artigo 76º. do CIMI que entraram em vigor em 01.01.2009, o procedimento de segunda avaliação passou a consagrar dois regimes distintos: - um, efectuado ao abrigo do nº. 1 do artigo 76º, a utilizar quando estiverem em causa a alteração/correcção dos elementos declarados ou dos factores dos parâmetros usados para o cálculo do VPT, método que, no entender da Recorrida, não corresponde a uma verdadeira segunda

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avaliação, na medida em que se trata de uma mera correcção de factores multiplicativos que foram declarados pelo contribuinte ou corrigidos pelos peritos avaliadores, não se justificando o recurso a peritos especializados para esse efeito; e, - outro, efectuado ao abrigo do nº. 5 do artigo 76º., a utilizar quando, não obstante não se verifiquem incorrecções ao nível dos factores multiplicativos da fórmula, o VPT apurado por essa via se desvie, para mais ou para menos, em pelo menos 15%, face ao valor de mercado — esta sim, uma verdadeira segunda avaliação, digna dessa designação, em que se torna imprescindível a análise do processo por especialistas na área da avaliação de imóveis e justificando a formação de uma comissão com poderes para fixar os VPT’s. vii. No caso em análise, a Recorrida fundamentou o seu pedido de segunda avaliação na distorção entre o VP T e o valor de mercado . viii. Sendo certo que o VPT é fixado de acordo com os “critérios objectivos” fixados nos artigos 38º. e seguintes do Código do IMI, desde a entrada em vigor da Lei nº. 64-A/2008, de 31 de Dezembro que se permite que, quando a aplicação daqueles critérios conduza à fixação de um valor patrimonial tributário que se apresente distorcido relativamente ao valor normal de mercado, o valor patrimonial tributário dos terrenos para construção possa ser fixado por aplicação do método comparativo dos valores de mercado ( Cfr. o nº. 4 do art. 76º do Código do IMI, na redacção que lhe foi conferida pelo artigo 93º da Lei nº. 64-A/2008, de 31 de Dezembro.). ix. Como ressuma da sentença sob recurso, o facto de a nova redacção do artigo 76º do Código do IMI apenas ter entrado em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009, não constitui obstáculo à sua aplicabilidade à segunda avaliação, uma vez que se trata de norma de cariz procedimental, e, portanto, é de aplicação imediata - a menos que tal aplicação prejudique garantias, direitos e interesses legítimos dos Contribuintes ( Cfr. o nº. 3 do artigo 12º da LGT.), o que no caso não ocorre. x. Bem andou o Tribunal a quo, portanto, ao decidir como decidiu, sendo esse, aliás, o entendimento da nossa Jurisprudência Superior ( Cfr. Ac. STA de 18.11.2004, dado no proc. nº. 0765/09.). xi. O Tribunal a quo julgou a impugnação procedente, por violação do disposto no artigo 76. nº 4 do CIMI, e, desse modo, absteve-se de conhecer os demais vícios invocados — o que, agora, impõe o seu conhecimento pelo Tribunal de Recurso ( Cfr. Arts. 715º nº. 2 e 726º CPC, ex vi art. 2º al. e) CPPT.). xii. Não se vislumbra em que se baseia a majoração do

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coeficiente de localização (CI) em 0,85 na avaliação em apreço, tendo em conta que, como referido, o artigo 45º CIMI não estabelece tal coeficiente para determinaç ão do VPT de terrenos para construção . xiii. Aliás, a não ser assim, verificar-se-ia uma dupla ponderação do factor “localização”, uma vez que a mesma já é considerada em 22% da percentagem do valor do terreno de implantação — como resulta claro da concatenação entre o disposto no artigo 45.º n.º 2 e 3, e artigo 42.º n.º 3 CIMI. xiv. Também não se vislumbra em que se baseia a majoração do coeficiente de afectação (Ca) em 1,20, tendo em conta que o artigo 45.º CIMI não estabelece tal coeficiente para determinação do VPT de terrenos pa ra construção , como se não entende em que se baseia a majoração do coeficiente de qualidade e conforto (Cq) em 1,00, tendo em conta que, como referido, o artigo 45.º CIMI não estabelece tal coeficiente para os terreno s para construção . xv. É entendimento da nossa Jurisprudência Superior que: «Na determinação do valor patrimonial tributário dos terrenos para construção há que observar o disposto no artigo 452 do Código do lMl, não havendo lugar à consideração de coeficientes de afectação (ca) e de qualidade e conforto (Cq) .» Sic, Ac. STA de 18.11.2009, proc. 0765/09.. xvi. Nos termos do artigo 40.º-A do CIMI (por remissão do artigo 45º n.ºs 1 e 2 do CIMI, a avaliação deveria ter respeitado o coeficiente de ajustamento de áreas aí previsto (Caj). xvii. Ao assim não ter sucedido, constata-se que a avaliação em causa incorreu em errónea quantificação da matéria tributável, por violação, nomeadamente, do disposto nos artigos 40.º-A, 42.º, 45.º e 76.º CIMI — o que, como violação de lei, acarreta a sua anulabilidade . xviii. A reunião e deliberação da comissão de avaliação que interveio na segunda avaliação não obedeceu às formalidades legais prescritas nos artigos 74º n.º 3 e 76. n.º 2 do CIMI. xix. Nos termos da lei, o perito vogal das Finanças e o representante da Recorrida, deveriam, cada um, ter emitido o respectivo laudo, limitando- se, o perito regional presidente, a emitir voto de desempate, “devendo conformar-se com um dos laudos” Cfr. artigo 74º nº. 3 do CIMI, por emissão do artigo 76º nº. 3 do mesmo diploma legal., sendo que “O presidente da comissão de avaliação não participa na primeira votação, conjuntamente com os dois vogais” Sic, Martins Alfaro, CIMI Comentado e Anotado, Áreas, 2004, pág. 514.. xx. Só nas avaliações em que intervêm simultaneamente alienante e adquirente, ou os seus representantes, é que o

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perito regional que presidir à avaliação tem direito a voto e, em caso de empate, a voto de qualidade, conforme dispõe o artigo 76º n.º 5 do CIMI — pelo que, in casu, não pode ter-se por legalmente constituída a “comissão de avaliação” a quem competia proceder à segunda avaliação, conforme previsto no artigo 76.º n.º 2 do CIMI. xxi. Nos termos do disposto no artigo 45º CIMI, o VPT dos terrenos para construção corresponde ao somatório do valor da área de implantação do edifício a construir, com o valor do terreno adjacente à implantação, pelo que, à falta de fundamentação, não se entende em que se baseia a majoração do coeficiente de localização em 0,85, tendo em conta que, como referido, o artigo 45º CIMI não estabelece tal coeficiente para os terrenos para construção. xxii. À falta de fundamentação, também não se entende em que se baseia a majoração do coeficiente de afectação em 1,20, tendo em conta que, como referido, o artigo 45º CIMI não estabelece tal coeficiente para os terrenos para construção, como se não entende em que se baseia a majoração do coeficiente de qualidade e conforto (Cq) em 1,00, tendo em conta que, como referido, o artigo 45º CIMI não estabelece tal coeficiente para os terrenos para construção. xxiii. À míngua de fundamentação nesse sentido, não se percebe por que motivo o VPT do terreno para construção em causa foi determinado de acordo com as regras aplicáveis a outros tipos de imóveis. xxiv. Embora situado dentro dos limites legais, entre 0,4 e 2, definidos no artigo 42.º n.º 1 do CIMI, não foram explicitados pela Administração Fiscal (AF) quaisqu er critérios, dentro dos elencados nas alíneas a) a d) do n.º 3 do artigo 42.º do CIMI, que terão conduzido à concreta fixação do Cl (coeficiente de localização) em 0,85 o mesmo sucedendo relativamente à Portaria n.º 1119/2009 de 30.09 que, alegadamente, fixa os coeficientes de localização, e estabelece um Cl mínimo de 0,70 e um Cl máximo de 1,40. xxv. Ao contrário do referido na douta sentença sob recurso, nada existe, no termo de avaliação. que permita à Recorrente — ou a qualquer outro Contribuinte colocado na sua posição — perceber qua l ou quais das características do imóvel foram consideradas, e em que medida, para a determinação do coeficiente de localização de 0,85 . xxvi. É que, como resulta da lei, se na fixação do coeficiente de localização, é necessário ter em conta, nomeadamente, as características de acessibilidade, proximidade de equipamentos sociais, a existência de serviços públicos de transportes e a localização em zona de elevado valor imobiliário, ao Contribuinte, como

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destinatário do acto avaliativo — que tem impacto na sua esfera jurídica tributária - tem de ser dado a conhecer de que modo esse coeficiente foi determinado . xxvii. O n.º 3 do artigo 42.º do CIMI, ao referir os elementos que contribuem, ou podem contribuir, para a fixação do coeficiente de localização, o faz de modo MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO , ao referir que “na fixação do coeficiente de localização, têm-se em consideração, nomeadamente ”, pelo que carece o Contribuinte de saber quais os factores que em concreto , foram considerados para a fixação do concreto coeficiente aplicado, de 0,85. xxviii. Para a fixação do coeficiente em causa terá sido considerada a acessibilidade ou proximidade de equipamentos sociais? A existência de serviços públicos de transportes? A localização em zona de elevado valor imobiliário? Foram todos esses factores conjuntamente, ou só alguns? Ou terão sido considerados outros factores? E, nesse caso, quais? Ora, nada disto consta do procedimento de avaliação . xxix. Na realidade é impossível ao Contribuinte (ou ao Tribunal) saber, com base nos elementos constantes dos autos, de que modo foi determinado o coeficient e de localização em 0,85 , xxx. Nos termos do artigo 84.º n.º 3 da Lei Geral Tributária (LGT), “A fundamentação da avaliação contém obrigatoriamente a indicação dos critérios utilizad os e a ponderação dos factores que influenciaram a determinação do seu resultado ” ( Sic, destaque nosso.). xxxi. No caso em apreço, a fixação do Cl de 0,85 é perfeitamente insindicável e imperceptível, já que não são minimamente descortináveis os motivos pelos quais f oi fixado esse coeficiente e não um qualquer outro — superior ou inferior. xxxii. É essa, de resto, a recente Jurisprudência deste Supremo Tribunal ( Sic, Ac. STA, de 10.03.2011, dado no proc. nº. 0862/10, destaque nosso.) que, por lapidar, se deixa citada: «1 - A fundamentação do acto administrativo é um conceito relativo que varia conforme o tipo de acto e as circunstâncias do caso concreto, mas que a fundamentação só é suficiente quando permite a um destinatário normal aperceber-se do itinerário cognoscitivo e valorativo seguido pelo autor do acto para proferir a decisão, isto é, quando aquele possa conhecer as razões por que o autor do acto decidiu como decidiu e não de forma diferente, de forma a poder desencadear dos mecanismos administrativos ou contenciosos de impugnação. II - Tendo sido utilizado em actos de avaliação de imóveis determinado coeficiente de localização, entre os limites fixados no ponto 1.7 da Portaria n.9 982/2004, os acto s só

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poderão considerar -se suficientemente fundamentados se se puder concluir que, com os elementos que lhe foram notificados e dos que foram fornecidos atravé s de meios electrónicos e de informação da administração tributária, o destinatário a conhecer todos os elementos que foram relevantes para a avaliação. ». xxxiii. «Na verdade, a fixação deste coeficiente FCI1 deve resultar da ponderação de vários factores , indicados no n.º 3 do art. 42.°, sendo imprescindível para os interessados poderem aperceber-se das razões da fixação de um determinado coeficiente, saber como e que cada um deles foi ponderado, pois só assim, poderão exercer eficazmente o seu direito de impugnação . Assim, não tendo sido fornecida ao Impugnante (nem sendo mesmo obtida no presente processo) informação sobre as razões que conduziram a fixação daquele coeficiente, tem de se concluir que os actos de avaliação impugnados enfermam de vício de falta de fundamentação .» ( Sic, idem, destaque nosso.). xxxiv. Assim sendo, como é, a avaliação em causa padece de falta de fundamentação, em violação do disposto nos artigos 77º n.º 1 e 2 e 84º n.º 3 da Lei Geral Tributária (LGT), e 268.º n.º 3 da Constituição da República Portuguesa (CRP) — o que, nos termos do artigo 125º n.º 2 do Código de Procedimento Administrativo (CPA), e acarreta a anulabilidade da avaliação. xxxv. A determinação do valor patrimonial tributário é feita de acordo com os chamados “critérios objectivos” previstos no artigo 38.º CIMI, de entre os quais se encontram vários coeficientes - a saber: de afectação, de qualidade e conforto, de vetustez e de localização. xxxvi. O Código do IMI, designadamente o n.º 3 do seu art. 42º, não faz qualquer referência a “valores correntes de mercado” , mas essa consideração dos valores correntes de mercado é indispensável, pelo facto de ter sido expressamente exigida pela lei de autorização dada ao Governo (Lei n.º 26/2003, de 30 de Julho). xxxvii. A violação dos sobreditos parâmetros, pelo Decreto -Lei autorizado, configura, pois, uma ofensa ao princípio constitucional da repartição de competências, originadora de violação directa da Constituição da República Portuguesa - o que vale por dizer que é organicamente inconstitucional o artigo 42º n.º 2 e 3 a), b) e c) do CIMI, por violação do artigo 10.º n.º 1 da respectiva Lei de Autorização Legislativa, n.º 26/2003 de 20.07. xxxviii. Analisada a Portaria aplicável (Portaria n.º 982/2004, de 04.08, com as alterações da Portaria n.º 1426/2004, de 25.11, da Portaria n.º 1022/2006, de 20.09 e

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da Portaria n.º 1119/2009 de 30.09), constata-se que esta não especifica os “zonamentos e respectivos coeficientes de localização ” — estabelecendo, no seu n.º 3, que os mesmos “são publicados no sítio www.e-financas.gov.pt, podendo ser consultados por qualquer interessado e em qualquer serviço de finanças.”. xxxix. Ou seja, os coeficientes CONCRETAMENTE UTILIZADOS não estão FIXADOS na lei , apenas constando de Portaria os coeficientes mínimos e máximos , pelo que tais CONCRETOS COEFICIENTES apenas serão conhecidos (e, portanto, fixados) aquando da sua “publicação” no site das finanças, não estando publicados em Diário da República . xl. Consultado o referido “site”, verifica-se que em nenhum lugar constam as “características” que terão fundamentado a fixação do concreto Cl atribuídos a cada um dos “zonamentos” dentro dos diferentes municípios, atenta a diferente destinação das edificações ( Artigo 42º nº. 2 e 3 do CIMI.), não estando explicitado, em lugar algum, se foram, e em que medida foram , atendidas as ditas características elencadas, exemplificativamente , em a), b), c) e d) do n.º 3 do artigo 42º do CIMI xli. Analisado o Anexo 1 da Portaria n.º 1119/2009, constata-se que o mesmo apenas estabelece, quanto aos coeficientes de localização, apenas os seus mínimos e máximos , e não os concretos coeficientes a aplicar nas avaliações - como é o caso do concreto coeficiente de 0.85. aplicado na avaliação em causa . xlii. Assim, não existe qualquer Portaria do Ministro das Finanças a aprovar os concretos coeficientes de localização, sendo que esse concreto coeficiente a aplicar no acto avaliativo , entre aqueles mínimo e máximo, apenas será conhecido (e, portanto, determinado) aquando da sua “publicação” no site das Finanças. xliii. A ser assim, tal significa, simultaneamente, que os concretos coeficientes não estão publicados em Diár io da República , e que os concretos coeficientes não são fixados em diploma com força de lei . xliv. Em matérias de incidência tributária, como é o caso (determinação do valor objecto de tributação, em sede de IMI), vigora o princípio constitucional da legalidade e tipicidade , e da reserva de lei formal ( Artigos 8º da LGT, 103º nº. 1 e 2, 165º nº. 1 i) e 198º nº. 1 b) da CRP.), e as normas sobre tais matérias estão subordinadas a publicação em jornal oficial , sob pena de ineficácia jurídica e consequente falta de obrigatoriedade geral e abstracta ( Cfr. artigos 5º nº. 1 do Código Civil e 119º da CRP.). xlv. Por conseguinte, a definição do VPT mediante parâmetros e coeficientes determinados e publicados de outra forma que não a legalmente prevista - em Diário da

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República, e sob a forma de Lei em sentido formal e material - viola os referidos princípios e normas legais e constitucionais. xlvi. Em particular, a Portaria n.º 1119/2009, no seu ponto 3º - quando remete para o site do Ministério das Finanças ou para os Serviços de Finanças locais, a publicação de alguns parâmetros de avaliação, como é o caso do Cl — mais não faz senão determinar a criação de regras legais através de um procedimento ad hoc e ilegal, tendo em conta que não se trata apenas da publicação de tais parâmetros, dado que a essa publicação não antecede qualquer acto legislativo , em sentido formal ou material, a definir, em concreto , os coeficientes a ser “publicados”. xlvii. Nos termos do artigo 112º n.º 1 da CRP apenas «São actos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos legislativos regionais», sendo que, de acordo com o n.9 5 do mesmo comando constitucional «Nenhuma lei pode criar outras categorias de actos legislativos ou co nferir a actos de outra natureza o poder de, com eficácia externa, o poder de interpretar, integrar, modifica r, suspender ou revogar qualquer um dos seus preceitos .» ( Destaque nosso.). xlviii. Não existe qualquer norma legal que permita afastar a obrigatoriedade de publicação no Diário d a República dos concretos coeficientes em causa , e o D.L. n.º 287/2003 de 12.11, que aprovou o Código do IMI, não estabeleceu qualquer regime especial — e se o fizesse seria ilegal — susceptível de afastar as regras de publicação dos diplomas legais. xlix. O artigo 1.º n.º 1 da Lei n.º 74/98 de 11/11, que estabelece o regime de publicação, identificação e formulário dos diplomas legais, estatui que «A eficácia jurídi ca dos actos a que se refere a presente lei depende da publicação .» ( Idem.), dispondo o artigo 3º n.º 3 al. b) do mesmo diploma que as Portarias são objecto de publicação na parte B da 1ª série do Diário da República . I. No caso em apreço, resulta do preâmbulo da Portaria n.º 1119/2009, que a mesma «(...) destina-se a aprovar e a dar publicidade à actualização do zonamento com a introdução de zonas homogéneas do zonamento e à diminuição de alguns dos coeficientes de localização e da percentagem a que se refere o n.º 2 do artigo 45º do CIMI e as áreas da sua aplicação. » ( Sic, destaque nosso.). li. Em sentido contrário, é forçoso concluir que a referida Portaria não aprova, não estabelece e, portanto, nã o pode dar publicidade nem ao “zonamento”, nem às “zonas homogéneas” do mesmo, nem, tampouco, ao coeficiente de localização CONCRETAMENTE UTILIZADOS PARA DETERMINAR O VPT EM CAUSA .

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I. Constata-se, pois, que a avaliação em causa foi efectuada com base em coeficientes que não têm assento na lei , sendo que em matéria de incidência tributária - como é o caso, uma vez que se cuida de determinar o valor objecto de tributação em sede de IMI - vigora o princípio constitucional da legalidade e tipicidade, e da reserva de lei formal. II. A definição do VPT mediante parâmetros e coeficientes determinados e publicados de outra forma que não a legalmente prevista (em Diário da República e sob a forma de Lei em sentido formal e material), viola o disposto nos artigos 103º n.º 1 e 2, 165 n.º 1 i) e 198. n.º 1 b) da CRP. III. Devem ter-se como materialmente inconstitucionais , por violação do disposto nos artigos 103º n.º 2, 119º n.º 1 h), 165º n.º 1 i) e 198.º n.º 1 b) da CRP, os artigos 42º. e 62º. CIMI, quando interpretados no sentido de que não é necessário um acto legislativo que fixe zonamentos nos mesmos referidos, e o concreto coeficiente de localização a aplicar aos prédios neles localizados. TERMOS EM QUE, com a improcedência do presente recurso, deve a Douta sentença recorrida ser mantida nos seus precisos termos, assim se cumprindo a Lei e se fazendo JUSTIÇA! 4. Por Acórdão do TCAN foi decidido julgar aquele Tribunal incompetente em razão da hierarquia para conhecer do recurso, declarando competente, para tal efeito, o Supremo Tribunal Administrativo, pelo que foi ordenada a remessa dos autos ao STA. 5. O Exmo. Magistrado do Ministério Público, junto deste Tribunal, pronunciou-se no sentido de o recurso ser de improceder. 6. Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. II. FUNDAMENTOS 1.DE FACTO A sentença recorrida deu como fixada a seguinte matéria de facto: “1. A 07 de Abril de 2006, a Impugnante “A………, S.A” adquiriu ao Município de São João da Madeira a propriedade sobre o prédio urbano P 6560 da freguesia e concelho de São João da Madeira, correspondente a um lote de terreno para construção urbana; 2. O preço da aquisição da aquisição referida em 1) foi de € 5.910.000,00 (cinco milhões e novecentos e dez mil euros) e foi determinado segundo as condições do concurso

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público aprovadas pela Câmara Municipal e Assembleia Municipal de São João da Madeira; 3. A 07 de Março de 2006, o Município de São João da Madeira apresentou a declaração modelo 1 de IMI, com vista a inscrever o referido artigo na matriz; 4. Da declaração referida em 3), resultou o valor patrimonial tributável de € 7.115.970,00 (sete milhões e cento e quinze mil e novecentos e setenta euros); 5. O valor patrimonial referido em 4), apenas foi notificado ao Município de São João da Madeira; 6. A matriz foi actualizada a 02 de Julho de 2007, dando origem à liquidação adicional de IMT n°2006 1284082 , no valor de €78.388,05 (setenta e oito mil e trezentos e oitenta e oito euros e cinco cêntimos); 7. A liquidação adicional de IMT referido em 6) foi anulada por falta de notificação da Impugnante; 8. A 15 de Maio de 2008 a Impugnante foi notificada do valor patrimonial atribuído ao prédio urbano referido em 1) 9. A 26 de Maio de 2008, a Impugnante requereu a 2ª avaliação do artigo urbano referido em 1); 10. A comissão de peritos avaliadores, constituída para o procedimento de segunda avaliação, reuniu a 21 de Dezembro de 2009; 11. Consta do Termo de avaliação datado de 21 de Dezembro de 2009 “(...) o avaliaram, com a inteira observância de todas as formalidades legais (dentro das limitações informáticas com que esta comissão se deparou), conforme esta descrito na ficha de avaliação n° 2970760 do prédio com o artigo 6560, freguesia de São João da Madeira.” 12. Consta do Termo de Avaliação, em declaração do perito da parte “eu, B………, constatei que existe uma impossibilidade objectiva no sistema informático, impossibilitando a aplicação da última parte do n° 4 do artigo 76° do CIMI e da regra 16° do artigo 12° do CIMT não se dando por isso cumprimento à lei e à vinculação da Comissão às normas referidas, mantendo-se os parâmetros da fórmula do artigo 38° do CIMI”; 13. Foi mantido o valor patrimonial tributário atribuído ao prédio em sede de primeira avaliação; 14. Foi fixado o valor de € 5.910.000,00 (cinco milhões e novecentos e dez mil euros) para efeitos de IMT; 15. No requerimento de segunda avaliação, a Impugnante alegou que o valor patrimonial tributário atribuído na primeira avaliação não teve em conta o real valor de mercados do prédio urbano. Factos não provados Para a decisão da causa, sem prejuízo das conclusões ou alegações de matéria de direito produzidas, de relevante, nada mas se provou.

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2. DE DIREITO 2.1. Questões a apreciar e decidir Resulta da matéria dada como provada que a

recorrida, “A Sociedade Comercial A………, SA”, adquiriu, no âmbito de um concurso público, ao Município de São João da Madeira, a propriedade de um prédio urbano correspondente a um lote de terreno para construção urbana, pelo preço de € 5. 910.000,00, determinado segundo as condições do concurso público aprovadas pela Câmara Municipal e Assembleia Municipal de São João da Madeira (pontos 1 e 2 do Probatório). Tendo a recorrida sido notificada do valor patrimonial tributável atribuído ao imóvel de €7.115.970,00, requereu, em 26 de Maio de 2008, a 2ª avaliação, alegando que o valor patrimonial atribuído na primeira avaliação não havia tido em conta o real valor de mercado do referido prédio urbano (cfr. pontos 4, 9 e 15). A comissão de peritos reunida em 21 de Dezembro de 2009 manteve o valor tributário atribuído na primeira avaliação. Inconformada, a recorrida deduziu impugnação no Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro, alegando, entre o mais, que o valor de mercado do prédio era bastante inferior, que a decisão de avaliação incorreu em errónea quantificação do facto tributário, vício de procedimento, falta de fundamentação, violação de lei e violação do princípio da legalidade, terminando com o pedido de anulação da avaliação. Por sentença de 15 de Junho de 2011, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro julgou procedente a impugnação, com base, no essencial, na seguinte fundamentação: • Face ao art. 76º do CIMI “existem dois regimes distintos para o procedimento da segunda avaliação: Um, quando está em causa a correcção dos elementos declarados ou dos factores dos parâmetros usados para o cálculo do valor

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patrimonial tributários e outro, quando não obstante não existirem correcções a efectuar ao nível dos factores multiplicativos da fórmula, o valor patrimonial tributário apurado, se desvie, em pelo menos 15% face ao valor de mercado • (…), precisamente por ter sido vendido por concurso público e como tal, existir uma possível enorme quantidade de interessados livremente a apresentarem ofertas de compra, tendo sido transaccionado pelo supra referido valor, entende o Tribunal que se deveria ter considerado como valor de mercado, o referido montante de € 5.910.000,00 (cinco milhões e novecentos e dez mil euros). • Assim sendo, considerando tal montante e o valor patrimonial atribuído ao prédio em questão - € 7.115.970,00 (sete milhões e cento e quinze mil e novecentos e setenta euros) — verifica-se existir uma diferença superior a 15% entre eles. • O valor de mercado representa uma baliza material à referida aplicação cega das fórmulas matemáticas constante do CIMI. • Como tal, sempre que exista uma distorção superior a 15% entre o valor de mercado e o valor patrimonial tributário, algo estará errado neste. • Porém, para além de tal situação estar prevista no próprio Código, na presente situação temos que a Impugnante adquiriu em concurso público o prédio em questão — não havendo, como tal, qualquer manipulação do respectivo valor. • Assim sendo, atendendo às regras sobre a aplicação da lei no tempo, nada impede que aquando da segunda avaliação, já fosse atendido tal parâmetro, quanto mais não fosse, por uma questão de equidade. • Atenta, desde já, a procedência do pedido, abstém-se o Tribunal de apreciar as restantes matérias alegadas pela Impugnante”. Não se conformado com esta decisão dela recorre a Fazenda Pública começando por argumentar, em síntese, que deve distinguir-se entre valor de mercado e preço de mercado e que o valor da adjudicação de um prédio no âmbito de um concurso público não reflecte necessariamente “o seu valor de

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mercado, pelo que a douta sentença labora em erro de julgamento de direito, ao aplicar o n.° 4 do art igo 76.° do Código do IMI ao caso sub judíce. Na verdade, para efeitos do valor patrimonial de IMI, a obtenção do referido valor de mercado não tem qualquer relevância , pelo que não poderia o douto Tribunal recorrido aplicar aquela norma, fundando na mesma a sua decisão ora posta em crise (cfr. Ac. do STA, de 25-05-2011, proc. n.° 0239/11)”. Em face das conclusões da recorrente que, nos termos do disposto nos arts. 684º, nº 3, e 685º-A/1, do CPC, delimitam o objecto do recurso, a questão central objecto do presente recurso jurisdicional consiste em saber se a sentença recorrida padece de erro de julgamento na parte em que julgou procedente a impugnação, por entender que o preço pelo qual o prédio foi adquirido no âmbito do concurso público corresponde ao seu valor de mercado e serem aplicáveis os nºs 4 e 5 do art. 76º do CIMI aquando da realização da 2ª avaliação. 2.2. Da análise do erro de julgamento 2.2.1.Da aplicabilidade do disposto no art. 76º, nºs 4 e 5, do CIMI Segundo JOSÉ MARIA F. PIRES, desde a entrada em vigor do Código do IMI, o sistema fiscal português adoptou, na determinação do valor de riqueza dos prédios urbanos, “o valor de mercado como referencial fundamental”, por se considerar que é o que melhor reflecte o valor de riqueza dos bens imóveis. Com efeito, ainda nas palavras do mesmo Autor, “O actual sistema de avaliação de imóveis assenta num conjunto de seis coeficientes de avaliação que são idênticos aos que relevam na actividade económica para a formação do preço dos bens imóveis urbanos, tentando assim o legislador aproximar o valor patrimonial tributário do valor de mercado dos imóveis urbanos”. Não obstante o objectivo das fórmulas matemáticas enunciadas no art. 38º ss. do CIMI visarem apurar ou determinar o valor de mercado dos imóveis

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urbanos, considerando que mesmo assim se poderiam gerar situações de apuramento de valores patrimoniais tributários injustos porque distorcidos em relação à realidade económica, o legislador veio prever um mecanismo de uma segunda avaliação sempre que exista uma distorção superior a 15% entre o valor de mercado e o valor patrimonial tributário. Neste sentido, a Lei 64-A/2008, de 31 de Dezembro, veio alterar o regime de avaliação dos prédios urbanos, com repercussões, no que ao caso interessa, na nova redacção do art. 76º do CIMI, cujo nº 4 passou a dispor que, para efeitos de segunda avaliação (nos termos do nº 2 do mesmo preceito), “desde que o valor patrimonial tributário, determinado nos termos dos artigos 38º e seguintes, se apresente distorcido relativamente ao valor normal de mercado, a comissão efectua a avaliação em causa e fixa novo valor patrimonial tributário que releva apenas para efeitos de IRS, IRC e IMT, devidamente fundamentada, de acordo com as regras constantes do nº 2 do artigo 46º, quando se trate de edificações, ou por aplicação do método comparativo dos valores de mercado no caso de terrenos para construção e dos terrenos previstos no nº 3 do mesmo artigo”. Por sua vez, segundo o nº 5 do mesmo preceito, “o valor patrimonial tributário considera-se distorcido quando é superior em mais de 15% do valor normal de mercado, ou quando o prédio apresenta características valorativas que o diferenciam do padrão normal para a zona, designadamente a sumptuosidade, as áreas invulgares e a arquitectura, e o valor patrimonial tributário é inferior em mais de 15% do valor normal de mercado”. Temos, assim, que se da aplicação das fórmulas consagradas no art. 38º e ss. do CIMI resultar um valor patrimonial superior em mais de 15% do valor de mercado, a comissão deve fixar novo valor patrimonial tributário que releva apenas para efeitos de IRS, IRC e IMT. No caso em apreço, a primeira questão que se coloca é a de saber se este dispositivo normativo poderia ser convocado para a situação, uma vez que o procedimento relativo à 1ª avaliação terminou em

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15 de Maio de 2008, antes da entrada em vigor do preceito em causa. Não obstante o exposto, ponderou a Mmª Juíza “a quo” que “atendendo às regras de aplicação da lei no tempo, nada impede que aquando da segunda avaliação, já fosse atendido tal parâmetro, quanto mais não fosse, por uma questão de equidade.” Afigura-se que a decisão não merece censura, porquanto, na data em que ocorreu a 2ª avaliação já estava em vigor o preceito em causa. Ora, de acordo com a jurisprudência vazada, entre outros, no Acórdão do STA, de 18/11/2008, “o facto de a nova redacção do artigo 76.º do Código do IMI ter entrado em vigor apenas no dia 1 de Janeiro de 2009 não constitui obstáculo à sua aplicabilidade à segunda avaliação que venha a ser efectuada na sequência da anulação da sindicada nos presentes autos, pois que a norma em causa, relativa à segunda avaliação de prédios urbanos (cfr. a epígrafe do artigo 76.º do Código do IMI), é de cariz procedimental”, e, por conseguinte, de aplicação imediata, a menos que tal aplicação prejudique garantias, direitos e interesses legítimos dos contribuintes (cfr. o nº 3 do art. 12º da LGT), o que não ocorre no caso. Assim sendo, não assiste razão à recorrente quanto alega não ser aplicável ao caso sub judice o nº 4 do art. 76º, uma vez que “para efeitos do valor patrimonial de IMI, a obtenção do referido valor de mercado não tem qualquer relevância”. Se bem se entende o alcance da sentença recorrida, não se pode extrair da mesma tal conclusão. O que resulta da sentença recorrida é que o nº 4 do art. 76º do CIMI deve ser aplicável à 2ª avaliação porquanto: “atendendo ao supra citado artigo 76º do CIMI, ou seja, aquando da realização da 2ª avaliação, existindo uma diferença superior a 15% entre o valor de mercado e o valor patrimonial tributário, deve tal diferença ser considerada e devidamente ponderada e, atingido um novo valor patrimonial tributário devidamente fundamentado. É verdade que aquando da primeira avaliação, o supra referido normativo legal (artigo 76º do CIMI) tinha outra redacção, a qual não referia como atendível o valor de mercado (…) atendendo às regras de aplicação da lei no tempo, nada impede que aquando da

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segunda avaliação, já fosse atendido tal parâmetro, quanto mais não fosse por uma questão de equidade”. Por conseguinte, a Mmª Juíza “a quo” limita-se a concluir pela aplicabilidade ao caso em apreço do regime do art. 76º do CIMI, nºs 2 a 5, o que implica tão-só a repetição da referida avaliação, sendo certo que em conformidade com o fixado na última parte do nº 4 do art. 76º do CIMI, o novo valor patrimonial tributário releva apenas para efeitos de IRS e IRC e IMT. E ainda que por aplicação do método comparativo dos valores de mercado se venha a concluir que o valor patrimonial não pode deixar de corresponder ao preço da adjudicação, tal decisão encontra-se reservada à competência exclusiva da comissão de avaliação. Assim sendo, tendo em conta o sentido que se retira da sentença “a quo” não assiste aqui razão à recorrente. 2.2.2. Do valor de mercado de um imóvel adquirido no âmbito de um concurso público, para feitos da aplicação do art. 76º, nºs 4 e 5, do CIMI A outra questão que se coloca está em saber se andou bem a sentença recorrida quando considerou que o preço da aquisição do terreno devia corresponder ao seu valor de mercado, para efeitos da aplicação dos nºs 4 e 5 do art. 76º do CIMI. Como vimos, a recorrida adquiriu o imóvel no âmbito de um concurso público, argumentando a recorrente, contra o decidido pela sentença “a quo”, que o valor da adjudicação “não reflecte necessariamente o seu valor de mercado, dado que, para a aceitação das propostas por parte da entidade adjudicante, não é unicamente levado em linha de conta o elemento preço, mas uma multiplicidade de factores — a capacidade comercial do comprador, as soluções arquitectónicas, o preço e o elemento temporal”. Vejamos. O valor de mercado não é “um dado com existência fixa e ontológica” dependendo de múltiplos factores incluindo a vontade e condição subjectiva e individual dos intervenientes em cada uma das

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transacções. Na verdade, nas palavras de JOSÉ MARIA F. PIRES ( Cfr. Lições de Impostos sobre o Património e do Selo, Almedina, Coimbra,

2010, p. 39.), a ocorrência de “uma determinada transacção a um determinado valor pode ter sido o resultado da conjugação de uma variedade de factores que é irrepetível noutras transacções, tornando também o preço diferenciado por cada uma delas.” A determinação do valor de mercado depende, em última análise, do funcionamento do próprio mercado e, no caso dos imóveis, só se pode determinar com rigor, caso a caso, quando um determinado bem é transaccionado. Por conseguinte, o preço de um bem transaccionado num mercado aberto corresponde ao seu valor de mercado. Em determinadas circunstâncias, podem, porém, as partes ter interesse em sobrevalorizar ou subavaliar o preço das transacções, neste caso com reflexos fiscais negativos, impondo-se, em caso de desfasamento entre as duas variáveis, recorrer às transacções de bens similares para corrigir e aferir o preço e retirar conclusões sobre o real valor de mercado. Acontece que o acabado de expor não é transponível para o caso de venda de um bem imóvel por concurso público. Se é verdade que o concurso público é, por essência, um procedimento que faz apelo à concorrência, na medida em que se abre a uma pluralidade de interessados, sendo os admitidos a contratar necessariamente em número indeterminado ( Cfr. MARGARIDA OLAZABAL CABRAL, O Concurso Público nos Contratos Administrativos, Almedina, Coimbra, 1997,

pp. 82-83.). Sobre a importância nuclear do princípio da concorrência, referem MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA /RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA que “(…) quanto mais pessoas se apresentarem perante a Administração, como eventuais futuros contratantes, quanto mais pessoas quiserem negociar com ela, no mercado administrativo, melhor : maior será o leque de ofertas contratuais - e o leque de escolha da Administração - e mais procurarão os concorrentes optimizar as suas

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propostas”. Por outro lado, constituem manifestações do princípio da concorrência outros princípios basilares, tais como, o da igualdade, da publicidade e da transparência ( Cfr. MÁRIO ESTEVES DE

OLIVEIRA /RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, ob. cit., pp. 102 ss.). Por conseguinte, um concurso público propicia um espaço de negociação num mercado administrativo no âmbito do qual os candidatos concorrem entre si procurando optimizar as suas propostas. No entanto, o objectivo fundamental das entidades públicas é alcançar a satisfação do interesse público que lhes está confiado e que as obriga a dispender dinheiros públicos, ceder bens ou utilidades administrativas da forma mais vantajosa, o que nem sempre passa pela escolha do mais baixo preço. Dito por outras palavras, o que melhor serve ao interesse público do caso concreto pode nem sempre corresponder ao mais baixo preço. O circunstancialismo apontado transforma a transacção ocorrida no âmbito de um concurso um fenómeno único, irrepetível, sem padrão de referência, tendo sobretudo em conta a finalidade específica que presidiu à adjudicação do imóvel no âmbito do concurso. Neste contexto, não sendo possível repetir a transacção para se poder concluir que há desfasamento entre o valor de mercado do imóvel e o preço, não há termo de comparação, logo, não se pode deixar de concluir que o valor de mercado do imóvel corresponde ao preço da adjudicação. Só não será assim se se demonstrar que há razões concretas, objectivas, para se concluir que o preço da adjudicação está falseado porque, por exemplo, houve conluio entre adjudicante e adjudicatário. Ora, no caso dos autos, como refere a Juíza “a quo”, tendo a recorrida adquirido o imóvel no âmbito de um concurso público, em princípio não haverá, em como tal, “qualquer manipulação do respectivo valor”. Cabia, pois, à recorrente, aduzir e trazer aos autos provas que demonstrassem o contrário, não bastando para o efeito, a alegação genérica de que no âmbito de um concurso público o preço não ser o único factor a ter em conta e por esse facto não poder corresponder ao valor de mercado do imóvel.

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Não havendo, pois, razões para não fazer coincidir o valor da adjudicação com o valor de mercado do imóvel, tendo sido atribuído um valor patrimonial de €7.115.970,00 e sendo o preço da adjudicação na ordem dos €5.910.000,00, verifica-se existir uma diferença superior a 15% entre eles, devendo considerar-se o valor patrimonial tributário distorcido, segundo o nº 5 do art. 76º do CIMI, com vista a justificar uma segunda avaliação nos termos e para os efeitos do estatuído no nº 4 do mesmo preceito. Finalmente, também não assiste razão à recorrente quando alega que a sentença recorrida vai contra a jurisprudência vazada no Acórdão deste Supremo Tribunal de 25/5/2011, proc nº 0239. Com efeito, a situação sobre que versou o citado Acórdão é muito diferente, desde logo, porque aí não havia sido alegado em momento algum que o valor patrimonial tributário se apresentava distorcido relativamente ao valor de mercado. Neste sentido pode ler-se que “Não faz sentido chamar à colação a nova redacção do artigo 76º, nº 4, do CIMI, introduzida pela Lei nº 64-A/2008, de 31 de Dezembro, que só entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2009, e que se aplica ao caso em apreço, já que o impugnante, ora recorrido, em momento algum alegou que o valor patrimonial tributário se apresentasse distorcido relativamente ao valor de mercado, apenas se cingindo à discordância do coeficiente de localização aplicado, …”. Por tudo o que vai exposto, afigura-se não subsistirem razões para nos afastarmos do sentido da sentença recorrida, que deve ser mantida, ficando prejudicada a análise das demais questões. Deve, desta forma, julgar-se improcedente o recurso, mantendo-se a sentença recorrida, ainda que com distinta fundamentação, com a procedência da impugnação e, consequentemente, anulação do acto de avaliação. III- DECISÃO Termos em que acordam os Juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso, confirmando-se a sentença recorrida, ainda que com

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distinta fundamentação, julgando-se procedente a impugnação, com a consequente anulação do acto de 2º avaliação. Custas pela recorrente. Lisboa, 23 de Maio de 2012. - Fernanda Maçãs (relatora) - Casimiro Gonçalves - Lino Ribeiro.