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255 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.49, n.79, p.255-320, jan./jun.2009 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT-00328-2008-000-03-00-5-AA Publ. no “MG” de 30.01.2009 AUTOR: SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE EXTRAÇÃO MINERAL E DE PESQUISA, PROSPECÇÃO, EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DO FERRO E METAIS BÁSICOS E DEMAIS MINERAIS METÁLICOS E NÃO METÁLICOS DE CONGONHAS, BELO VALE, OURO PRETO E REGIÃO RÉU: GERDAU AÇOMINAS S.A. EMENTA: ACORDO COLETIVO DE TRABALHO CELEBRADO DIRETAMENTE COM OS TRABALHADORES ATRAVÉS DA COMISSÃO DE EMPREGADOS - RECUSA DO SINDICATO À NEGOCIAÇÃO - VALIDADE. Tensões e conflitos coletivos não têm outro caminho a seguir que não seja o da negociação, que é, a um tempo, uma conquista de todo tributária das liberdades democráticas; um princípio dominante no Direito Coletivo do Trabalho, porque dele se acercou diretamente a Constituição; e um princípio de dimensão política, pela sua natureza dialógica e sua projeção na esfera do agir. Se os sindicatos (as empresas também) ocupassem, com o maior empenho possível, o amplo espaço da negociação coletiva, continuamente, em consonância com a dinâmica dos fatos econômico-sociais, por certo que ampliariam enormemente o coeficiente de legitimidade da sua extensa e relevante titularidade jurídica no campo da autonomia coletiva. A Constituição de 1988 valorizou muitíssimo a negociação coletiva e a ação sindical em vários aspectos, conectando-as logicamente, por isso que, numa de suas disposições, estatuiu a obrigatoriedade de os sindicatos participarem ativamente dela, do seu desenvolvimento, nos termos do art. 8º, VI. Mas o art. 617 da CLT, bem compreendido em seus fins e funcionamento, não desatende àquela norma constitucional; ele oferece, isso sim, uma regulação alternativa para a possibilidade de sobrevir a iniciativa direta de empregados que decidem pela celebração de acordo coletivo de trabalho. O que nessa regra constitui elemento diferencial é o poder de iniciativa dos próprios trabalhadores, que ocupam assim o centro de deflagração do processo negocial. Mas, ao fazê-lo, não põem de parte o sindicato, tanto que a este recorrem, comunicando-o da resolução que tomaram, em ordem a que ele assuma “a direção dos entendimentos entre os interessados”. À entidade de classe, portanto, tudo se reconduz, observando-se assim o preceito constitucional do art. 8º, VI. No caso, houve dupla recusa do sindicato ao pleno exercício da negociação

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.49, n.79, p.255-320, jan./jun.2009

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT-00328-2008-000-03-00-5-AAPubl. no “MG” de 30.01.2009

AUTOR: SINDICATO DOSTRABALHADORES NASINDÚSTRIAS DE EXTRAÇÃOMINERAL E DE PESQUISA,PROSPECÇÃO, EXTRAÇÃO EBENEFICIAMENTO DO FERROE METAIS BÁSICOS E DEMAISMINERAIS METÁLICOS E NÃOMETÁLICOS DE CONGONHAS,BELO VALE, OURO PRETO EREGIÃO

RÉU: GERDAU AÇOMINAS S.A.

EMENTA: ACORDO COLETIVODE TRABALHO CELEBRADODIRETAMENTE COM OSTRABALHADORES ATRAVÉSDA COMISSÃO DEEMPREGADOS - RECUSA DOSINDICATO À NEGOCIAÇÃO -VALIDADE. Tensões e conflitoscoletivos não têm outrocaminho a seguir que não sejao da negociação, que é, a umtempo, uma conquista de todotributária das liberdadesdemocráticas; um princípiodominante no Direito Coletivodo Trabalho, porque dele seacercou diretamente aConstituição; e um princípio dedimensão política, pela suanatureza dialógica e suaprojeção na esfera do agir. Seos sindicatos (as empresastambém) ocupassem, com omaior empenho possível, oamplo espaço da negociaçãocoletiva, continuamente, emconsonância com a dinâmicados fatos econômico-sociais,por certo que ampliariam

enormemente o coeficiente delegitimidade da sua extensa erelevante titularidade jurídicano campo da autonomiacoletiva. A Constituição de 1988valorizou muitíssimo anegociação coletiva e a açãosindical em vários aspectos,conectando-as logicamente,por isso que, numa de suasdisposições, estatuiu aobrigatoriedade de ossindicatos participaremativamente dela, do seudesenvolvimento, nos termosdo art. 8º, VI. Mas o art. 617 daCLT, bem compreendido emseus fins e funcionamento, nãodesatende àquela normaconstitucional; ele oferece, issosim, uma regulação alternativapara a possibilidade desobrevir a iniciativa direta deempregados que decidem pelacelebração de acordo coletivode trabalho. O que nessa regraconstitui elemento diferencial éo poder de iniciativa dospróprios trabalhadores, queocupam assim o centro dedeflagração do processonegocial. Mas, ao fazê-lo, nãopõem de parte o sindicato,tanto que a este recorrem,comunicando-o da resoluçãoque tomaram, em ordem a queele assuma “a direção dosentendimentos entre osinteressados”. À entidade declasse, portanto, tudo sereconduz, observando-seassim o preceito constitucionaldo art. 8º, VI. No caso, houvedupla recusa do sindicato aopleno exercício da negociação

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coletiva - ao não levar àassembleia a contrapropostada empresa e ao não assumir,em momento ulterior, osentendimentos como lhesolicitara a comissão deempregados. Não obstante atradição de luta do autor e a suainegável importância nomovimento sindical, faltam-lhe,no presente caso, razõesjurídicas para objetar comvantagem a legitimidade doacordo coletivo contra o qualse volta. Válido, pois, e apto aproduzir os seus efeitos oinstrumento coletivo queresultou da negociação entre aempresa e a comissão deempregados. Ação anulatóriajulgada improcedente.

Vistos etc.

RELATÓRIO

O SINDICATO DOSTRABALHADORES NAS INDÚSTRIASDE EXTRAÇÃO MINERAL E DEPESQUISA, PROSPECÇÃO,EXTRAÇÃO E BENEFICIAMENTO DOFERRO E METAIS BÁSICOS E DEMAISMINERAIS METÁLICOS E NÃOMETÁLICOS DE CONGONHAS, BELOVALE, OURO PRETO E REGIÃO,qualificado na inicial, ajuíza a presenteação anulatória em face de GERDAUAÇOMINAS S/A, pretendendo verdeclarada a nulidade do acordo coletivoreferente aos empregados da Mina deMiguel Burnier, celebrado entre a ré euma comissão representativa dostrabalhadores.

Aduz, em síntese, que asnegociações seguiam o seu cursoregular, havendo ele expressado a suarecusa à contraproposta apresentada

pela ré, que continha cláusulas ilegaise/ou destinadas a suprimir direitosassegurados em lei, quando, em umareunião realizada na Subdelegacia doTrabalho de Conselheiro Lafaiete, foisurpreendido com a notícia de que a réassinara um “acordo coletivo detrabalho” com uma comissão detrabalhadores. Afirma não terem sidosatisfeitos os requisitos do § 1º do art.617 da CLT, porquanto o sindicatoestava negociando com a empresa-ré.Sustenta a sua legitimidade ativa parapropor a presente ação anulatória e,baseando-se na exclusividade darepresentação sindical para anegociação e celebração de acordocoletivo de trabalho (inciso VI do art. 8ºda CR/88), bem assim no seu direito denão submeter à votação propostasilegais constantes de algumas cláusulasapresentadas pela ré, requer aconcessão de tutela antecipada paraque seja liminarmente decretada asuspensão do acordo coletivo detrabalho em questão, com esteio nasdisposições do art. 273 do CPC, emrazão da verossimilhança do pedido eda existência de perigo de dano degrave ou difícil reparação. Ao final,pugna pela procedência do pedido, paraque se declare a nulidade do acordocoletivo de trabalho celebrado entre aré e a comissão de empregados.

Atribui à causa o valor deR$20.000,00.

Junta procuração (f. 33) edocumentos (f. 34/141).

O pedido de antecipação datutela foi indeferido, conforme a decisãode f. 143/144.

A ré apresentou sua defesa às f.165/204, arguindo carência da ação porausência de autorização da assembleiageral, nos termos do art. 615 da CLT epor aplicação analógica do art. 859 daCLT. Argui a ilegitimidade ativa do autor

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para ajuizar ação anulatória, quecompetiria somente ao MinistérioPúblico do Trabalho, nos termos do art.83 da LC n. 75/93. Argui, ainda, carênciada ação por ausência de interesse deagir, por não deter o sindicato autorlegitimidade exclusiva para representara categoria dos mineradores da MinaMiguel Burnier na negociação coletiva2007/2009, segundo dispõe o art. 617da CLT. Alega que deu início anegociações com o sindicato autor,visando assegurar aos empregados daMina Miguel Burnier direitosequivalentes aos que mantém comoutros sindicatos, mas o autor encerrouas negociações, por isso que o acordocoletivo foi celebrado com umacomissão de trabalhadores, consoantea regra do art. 617 da CLT. Afirmou queo sindicato recusou-se a submeter acontraproposta da empresa àdeliberação dos trabalhadores,conforme ofício entregue em 12.12.07.Em 20.12.07, os empregados semobilizaram e elegeram uma comissãopara negociar o acordo coletivo detrabalho. A comissão notificou osindicato em 27.12.07, para que estereassumisse a negociação. Transcorridoo prazo de 8 dias (art. 617 da CLT), afederação foi notificada, mas recusou-se, igualmente, a assumir a negociaçãocom a empresa. Assim, os própriosempregados passaram a deterlegitimidade para negociar diretamente.Publicado o edital de convocação, fez-se a assembleia com 82 trabalhadores,de um total de 111. Realizada AGE em21.02.08, 78 empregados concordaramcom a contraproposta de ACT, que foiaprovada. Sustenta que o art. 617 daCLT foi recepcionado pela Constituição,conforme entendimento do TST. Afirmaque a vontade dos trabalhadores daMina deve ser reconhecida e respeitadae que o acordo deve ser visto como um

todo, mas tece considerações sobre ascláusulas tidas como ilegais,isoladamente. Requer a improcedênciado pedido e a condenação do autor emhonorários advocatícios.

Juntou procuração (f. 156) edocumentos (f. 205/678).

Deferida a produção da provaoral requerida por ambas as partes (f.726), foram ouvidas as testemunhasindicadas (atas de f. 752/754 e 766/769).

As partes apresentaram razõesfinais (f. 776/779 e 780/787).

Remetidos os autos à d.Procuradoria do Trabalho, estamanifestou-se às f. 790/791, em parecerde lavra da Drª Elaine Noronha Nassif,opinando pela improcedência da açãoanulatória. Exibiu cópia do PPI 1/2008,que veio a ser arquivado, f. 792/1059.

As partes tiveram vista doparecer do MPT e se manifestaram àsf. 1068/1072 e 1077/1079.

É o relatório.

VOTO

Carência da ação - Autorizaçãoda assembleia

Segundo a ré, o autor é carecedorde ação porque se faz ausente, para apropositura desta demanda, a exigívelautorização da assembleia geral, nostermos do art. 615 da CLT e, poraplicação analógica, do art. 859.

Sem-razão.O art. 615 segue na linha de

desdobramento do art. 613 (inciso VI,especialmente) e, em resumo, ambostratam do conteúdo de convenções eacordos coletivos de trabalho, inclusiveo seu processo de prorrogação, revisão,denúncia e revogação total ou parcial,deflagrado por convenentes ouacordantes. São normas, portanto, queconcernem a direitos e obrigações dos

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próprios pactuantes e a aspectos deordem formal previstos no art. 614, como qual se articulam.

No caso presente, não se tratade revogação e/ou denúncia entreacordantes ou por iniciativa de qualquerdestes, até por que o autor não é umdeles, e, antes, é quem se contrapõeao instrumento coletivo de que nãotomou parte, cuja nulidade constitui aliáso cerne da pretensão deduzida em juízo.

Se o objetivo do sindicato, emdefesa de sua alegada prerrogativa, éprecisamente o de anular o acordocoletivo de trabalho celebrado pela rédiretamente com a comissão detrabalhadores, está claro que ele age emnome e por direito próprio,independentemente de aprovação préviaem assembleia de trabalhadores. Emverdade, trata-se de simples incidência dagarantia de acessibilidade do autor àjurisdição (CR, art. 5º, inciso XXXV), à qualse somam, é certo, os amplos poderesde titularidade jurídica reconhecidos aossindicatos (CR, art. 8º, inciso III).

Na mesma esteira de raciocínio,não se há falar em aplicação analógicado art. 859 da CLT, por não se cogitarde instauração de instância em razãode dissídio coletivo, mas, insista-se, portratar-se de postulada anulação judicialde acordo coletivo celebrado sem aparticipação do sindicato, sendo, pois,inexigível a realização de assembleiaapenas para a propositura desta ação.

Rejeito a preliminar.

Ilegitimidade ativa - MinistérioPúblico do Trabalho

Rejeito.Argui o réu a ilegitimidade ativa

do autor para ajuizar ação anulatória,que competiria somente ao MinistérioPúblico do Trabalho, nos termos do art.83 da LC n. 75/93.

A legitimidade do MinistérioPúblico do Trabalho para propor açõesdessa natureza é inegável, encontrandoseu fundamento legal no inciso IV doart. 83 da Lei Complementar n. 75/93,que lhe atribui o poder jurídico de proporas ações cabíveis para declaração denulidade de cláusula de contrato, acordocoletivo ou convenção coletiva de queresulte violação às liberdadesindividuais ou coletivas ou aos direitosindividuais indisponíveis dostrabalhadores.

Mas, ao contrário do alegado,não se trata de prerrogativa exclusivado Ministério Público do Trabalho. Se oacordo afeta, em tese, a posição jurídicado autor, pelas razões por estealegadas, o seu interesse e legitimidadeinteragem desde logo,independentemente de poder concorrerum terceiro a que se outorgaram em leicondições e titularidade jurídicas parafazer atuar a tutela jurisdicional.

Na espécie, basta que osindicato se afirme titular de um dadointeresse em conflito, como resulta dapretendida nulidade do acordo coletivofirmado nos termos mencionados, paraque nele se reconheça a sualegitimação ad causam, de sorte a poderinserir-se, como parte, no processo.

Carência de ação - Ausência deinteresse de agir

Finalmente, argui a ré que oautor é também carecedor de ação porfaltar-lhe interesse de agir, uma vez quenão detém legitimidade exclusiva pararepresentar a categoria dos mineradoresda Mina Miguel Burnier na negociaçãocoletiva 2007/2009, como decorre daincidência, no caso, da disposição doart. 617 da CLT.

A matéria ora deduzida em sedede preliminar é precisamente aquela

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objeto do mérito da ação anulatória, emque será apreciada.

Rejeito.

MÉRITO

Validade do acordo coletivo detrabalho celebrado diretamente coma comissão de empregados

Como se viu do relatório, acontrovérsia concentra-se na aplicaçãodo art. 617 da CLT. Ao relatar o processon. 00163-2005-000-03-00-9-DC, entendique o seu § 1º não tivera sidorecepcionado pela Constituição de1988, dada a sua incompatibilidade coma norma do inciso VI do art. 8º, quedispõe ser obrigatória a participação dossindicatos nas negociações coletivas detrabalho. Mas esta Seção Especializadafirmou entendimento contrário,reconhecendo então àquela regra plenavigência. Hoje, melhor refletindo sobrea questão, curvo-me à posiçãovencedora, que se consolidouigualmente no Tribunal Superior doTrabalho. Estou convencido de que o §1º do art. 617 da CLT não atenta, diretaou indiretamente, contra o seuparâmetro de constitucionalidade,especificamente a citada norma dereferência de que deriva a compulsóriavinculação entre a negociação coletivae os sindicatos.

O Direito Positivo brasileiro bemse apropria - adequadamente, querodizer - dos fatos coletivos e dos sujeitosque substantivam semelhantes fatos,sujeitos que expressam livremente asvontades coletivas dos mais diversosgrupos sociais. Essa consagraçãolegislativa tem no seu vértice aConstituição mesma, no que esta, comespecial atenção, dispôs sobre asformações sociais intermediárias emsua precípua finalidade de promover a

crescente expansão dos direitosfundamentais. No contexto, estão asentidades sindicais de trabalhadores eempregadores e, como conduto naturalde toda essa dialética, a negociaçãocoletiva. Aos olhos dos juristas, na tarefaque lhes cabe sempre de construíremuma disciplina dogmática desde aordem jurídica vigente, a Constituiçãode 1988 produziu grande avanço nocampo temático do Direito Coletivo,como jamais se viu na experiênciaconstitucional brasileira.

O problema é que esse saltodogmático, passados embora vinteanos, ainda não se fez realidadeconcreta, por conta da não raradiscrepância entre norma jurídica ecomportamento regulado, entre omodelo institucionalizado e a realidadeprática. Se os sindicatos (mas asempresas também) ocupassem, com todoempenho, o amplo espaço da negociaçãocoletiva já na própria empresa e no âmbitodas categorias econômica e profissional,continuamente, em consonância com adinâmica dos fatos econômico-sociais,por certo que aumentariamenormemente o coeficiente delegitimidade da sua extensa titularidadejurídica no campo da autonomia coletiva,especialmente o seu poder legiferantepara reger as condições de trabalho.

Tensões e conflitos coletivos nãotêm melhor caminho a seguir senão oda negociação, que é, a um tempo, umaconquista de todo tributária dasliberdades democráticas; um princípiodominante no Direito Coletivo doTrabalho, porque dele se acercoudiretamente a Constituição; e umprincípio de dimensão política, pela suanatureza dialógica e sua projeção naesfera do agir.

A Constituição de 1988, com suamanifesta vontade (vontade objetivadaem seu programa normativo) de

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reconhecer cada tema relevante para opaís, de modo a permitir pelo menos quese encaminhem soluções possíveis paraproblemas estruturais, valorizoumuitíssimo a negociação coletiva e aação sindical em vários aspectos,conectando-as logicamente, por issoque, numa de suas disposições, estatuiua obrigatoriedade de os sindicatosparticiparem ativamente dela, do seudesenvolvimento, nos termos do art. 8º,VI, como já referido. Essa normarealmente não permite que se adoteuma configuração qualquer de quedecorra a exclusão do sindicato detrabalhadores no âmbito da negociação.

Mas o art. 617 da Consolidação,bem compreendido em seus fins efuncionamento, não desatende àquelanorma constitucional; ele oferece, issosim, uma regulação alternativa para apossibilidade de sobrevir a iniciativadireta de empregados que decidem pelacelebração de acordo coletivo detrabalho. O que nessa regra constituielemento diferencial é o poder deiniciativa dos próprios trabalhadores,que ocupam assim o centro dedeflagração do processo negocial,situação absolutamente normal noquadro de referência da autonomiacoletiva, a que o direito posto deuexpressão em regramento específico.

O certo é que os trabalhadoresnão agem deliberadamente à parte dosindicato, tanto que a este recorrempara que dê sequência a todo oprocesso. Convocam-no, em verdade,comunicando-o da resolução quetomaram, em ordem a que ele assuma“a direção dos entendimentos entre osinteressados”. À entidade de classe,portanto, tudo se reconduz, respeitando-se assim o preceito constitucional daobrigatória integração sindical nanegociação coletiva.

Leia-se o texto da norma:

Art. 617 - Os empregados de umaou mais empresas que decidiremcelebrar Acordo Coletivo de Trabalhocom as respectivas empresas darãociência de sua resolução, por escrito,ao Sindicato representativo dacategoria profissional, que terá oprazo de 8 (oito) dias para assumir adireção dos entendimentos entre osinteressados, devendo igualprocedimento ser observado pelasempresas interessadas com relaçãoao Sindicato da respectiva categoriaeconômica.

§ 1º Expirado o prazo de 8 (oito)dias sem que o Sindicato tenha sedesincumbido do encargo recebido,poderão os interessados darconhecimento do fato à Federaçãoa que estiver vinculado o Sindicatoe, em falta dessa, à correspondenteConfederação, para que, no mesmoprazo, assuma a direção dosentendimentos. Esgotado esseprazo, poderão os interessadosprosseguir diretamente nanegociação coletiva até final.

§ 2º Para o fim de deliberar sobreo Acordo, a entidade sindicalconvocará assembleia geral dosdiretamente interessados,sindicalizados ou não, nos termos doart. 612.

Como se vê, a disposiçãoinfraconstitucional cumpre uma funçãode simples desdobramento, à vista decircunstâncias inteiramente plausíveis,por força das quais a iniciativa danegociação para fins de acordo coletivode trabalho, num certo momento, terásido dos próprios trabalhadores, o quepessoalmente considero um ponto ótimode equilíbrio na articulação entrecategoria e sindicato. Se há superfetaçãono dispositivo em tela, identifico-a nochamamento da federação e,

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eventualmente, da confederação, etapasque consomem, sem maior sentidoprático, um tempo que poderia sematropelo algum abreviar-se em prol damais rápida obtenção do acordo.

Não se está negando ao sindicato- e seria um equívoco palmar que se ofizesse - o direito de recusar os termospropostos pela empresa, podendomesmo chegar ao impasse, mas desdeque essa recusa corresponda àverdadeira vontade da categoria, aferidaobjetivamente, após ampla discussão edeliberação. Lembre-se de que aConstituição tomou em tal ordem derelevância a negociação coletiva, quemesmo a irredutibilidade salarial já nãoostenta a sua tradicional feiçãodogmática, pois ela pode ser discutida,ponderada e, no limite, afetada emalguma medida. Por isso mesmo, todasas questões devem ser resolvidas naassembleia, não se admitindo, a bem daprópria democracia da vida sindical, queos órgãos de direção, sem ouvir acategoria, por esta decidam.

Daí por que a injustificada recusaà negociação, por parte da entidadesindical, autoriza a incidência do art. 617da CLT. Evidentemente, tal aplicação háde ser examinada de forma cuidadosaem cada caso particular submetido àapreciação judicial, de modo a que nãose oblitere a norma do art. 8º daConstituição. Risco há, é claro, de talraciocínio proceder por oposição aprincípio de Direito Coletivo do Trabalho,mas o sindicato é quem, assumindo anegociação, pode sempre evitá-lo.

No caso vertente, uma breveretrospecção dos fatos se impõe paramelhor compreensão da controvérsia.

Com efeito, as negociaçõesforam inicialmente entabuladas,realizando-se então a assembleiadestinada à elaboração da pauta dereivindicações (f. 77), que, aprovada (f.

79/93), foi enviada à ré (f. 95); esta, porsua vez, apresentou a contrapropostade f. 117/121, salientando que essa eraglobal e que a recusa, total ou parcial,importaria em sua retirada. Seguiu-se aresposta do sindicato, que não aceitoudiscutir as propostas da empresa comoum “pacote fechado” e apresentoudiscordância em relação às cláusulas5ª, 6ª, 8ª, 12ª, 23ª, 24ª, 25ª e 32ª (f. 124/125).

A ré enviou correspondência aoSindicato Metabase em 12.12.07,reiterando o requerimento de que a suacontraproposta fosse submetida àassembleia de trabalhadores (f. 127). Aresposta do sindicato, datada de14.12.07, encontra-se à f. 247 dos autos,em que afirma textualmente: “Fomosabsolutamente claros: MATÉRIA ILEGALnão pode ser objeto de votação.”

Aí teve início a reunião dosempregados visando a que seconstituísse uma comissão para decidirsobre o acordo coletivo de trabalho (f.254 e seguintes). Ao sindicato foisolicitado, através da comissão detrabalhadores eleita, que ele assumissea direção dos entendimentos com adiretoria da empresa visando aassinatura do acordo coletivo de trabalho(f. 261), isso em 26 de dezembro.

O sindicato publicou o boletim def. 269/270, em que explicou à categoriaas razões de recusar-se a assinar oacordo, mas sem submeter a decisão àassembleia.

A comissão de empregadossolicitou à Federação dosTrabalhadores nas Indústrias Extrativasdo Estado de Minas Gerais (FTIEMG)que tomasse a direção dosentendimentos com a GERDAU (f. 273),o que foi declinado como se verifica def. 284, seguindo-se a negociação diretaentre a comissão e a empresa, donderesultou o acordo coletivo de f. 344/364.

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Pois bem. Tenho que houve, nomomento decisivo, incontornável recusado sindicato em dar curso à negociação,na medida em que ele se negou aapresentar, em assembleia, acontraproposta da ré aos trabalhadores.Esse fato é para mim crucial, porqueconsidero inadmissível que osinteressados não sejam chamados adeliberar sobre condições de trabalhopróprias, que se incorporam ao repertóriodo seu cotidiano, tanto no chão da fábricacomo para muito além, e, por isso, nãose pode arrebatar-lhes uma tal decisão,que é insuprível, salvo se os mesmosinteressados, por razões de sua estritaconveniência, expressamenteentenderem de transferi-la ao sindicato,por deliberação que sempre lhes caberá.

Tal conclusão de que a negativapartiu do sindicato, e não dos própriosempregados, acha-se induvidosamentedemonstrada, seja pela carta dosindicato à ré, f. 247, recusando-se asubmeter à votação a proposta daempresa, seja pela prova testemunhalque se produziu no feito, como se vêdas declarações das testemunhas da ré,que confirmam o interesse dosempregados em celebrar com ela oacordo coletivo (f. 752/754 e 766/769).

É certo que a testemunha doautor, Edna Aparecida Campos, auditorafiscal do trabalho em ConselheiroLafaiete, informou que “recusou odepósito do acordo coletivo celebradocom uma comissão de empregados, enão com o sindicato profissional,entendendo a auditora que não hárecusa sindical em negociar, e que nãofazia sentido o argumento empresarialdo art. 617 da CLT” (f. 766), mas, comobem salientou a i. representante doMinistério Público do Trabalho, “aauditora ouvida como testemunhademonstrou desconhecimento quantoàs questões relativas a assembleias

realizadas pelo sindicato” (f. 790/791).Veja-se que a testemunha da ré,Sebastião Sousa Sales, explicitou “quepela falta de reajuste salarial e outrasquestões, partiu dos empregados ainiciativa de criar uma comissão para,cumpridas as etapas legais, negociarcom a empresa”, salientando: “depoisdo surgimento da comissão, o autor nãofez outras reuniões com osempregados” (f. 768).

Ressalto ainda que a i.Procuradora do Trabalho esclareceuque recebeu a “denúncia sobreilegalidades contidas no ACT celebradoentre a GERDAU e o Sindicato dosMetalúrgicos de Ouro Branco, mediantepetição encaminhada pelo sindicatoautor desta ação. A denúncia deu origemao PPI 1/2008, que já foi arquivadoconforme parecer final” (f. 790/791).

Portanto, neste caso o sindicatonão ocupou, como devia, o espaço queconstitucionalmente lhe é asseguradopara o pleno exercício da negociaçãocoletiva. Pode-se dizer que houve duplarecusa do autor, ambas equivocadas,ambas contrárias à negociação - a denão levar a contraproposta da ré aostrabalhadores e a de não assumir osentendimentos, em momento ulterior,como lhe solicitara a comissão deempregados.

Negociar o conflito trabalhista éir tão longe na tarefa de persuadirquanto seja isso possível e, no planointerno, ouvir a categoria (ou a fraçãoda categoria diretamente interessada,como no caso), reunindo-a emassembleia para debater e deliberar,soberana e esclarecidamente, sobre aspropostas e o modo de construir, para asituação concreta, a solução que seafigurar razoável, ainda que tal soluçãoseja o impasse.

Respeitando a tradição de luta doautor e a sua inegável importância no

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cenário sindical brasileiro, entendo que,no presente caso, faltam-lhe razõesjurídicas para objetar com vantagem alegitimidade do acordo coletivo contrao qual se volta.

Em suma, o sindicato e afederação, convocados embora aassumirem os entendimentos com aempresa ré após manifesta resolução dostrabalhadores no sentido de firmarem coma última acordo coletivo de trabalho, atanto não atenderam efetivamente, daíadvindo a celebração do acordodiretamente entabulado com oempregador pela comissão deempregados, razão por que se cumpriramregularmente as formalidades e oprocedimento instituídos no art. 617 daCLT. Válido, pois, e apto a produzir os seusefeitos o referido instrumento coletivo.

Por isso, julgo improcedente estaação anulatória.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão ordináriada Seção Especializada de DissídiosColetivos, hoje realizada, julgou opresente feito e, por unanimidade,rejeitou as arguições de carência da açãoe de ilegitimidade ativa e, no mérito,julgou improcedente o pedido. Custas,pelo autor, no importe de R$400,00,calculadas sobre R$20.000,00 valordado à causa na inicial.

Belo Horizonte, 18 de dezembrode 2008.

CAIO LUIZ DE ALMEIDA VIEIRA DEMELLO

Presidente

MARCUS MOURA FERREIRARelator

TRT-00928-2008-136-03-00-1-ROPubl. no “MG” de 11.02.2009

RECORRENTE: GERALDO ROGÉRIORAMOS

RECORRIDA: COMPANHIA DESANEAMENTO DE MINASGERAIS - COPASA/MG

EMENTA: CONTRATO APRAZO - VALIDADE - COPASA.O reclamante não só tinhaciência, mas aceitou acircunstância de que seriacontratado mediante prazodeterminado e quepermaneceria “no cadastro deconcursados aprovados, nomesmo cargo/função/região eposição de classificação”, eque ficaria assegurado o seu“direito de, a qualquer tempo,e respeitada a ordem declassificação dos candidatos,ser convocado para admissãono quadro efetivo deempregados da COPASA, deacordo com a disponibilidadede vagas e respeitado o prazode validade do Edital”.Destarte, o contrato detrabalho do reclamanteextinguiu-se por decurso doprazo, não se constatandoqualquer irregularidade apta areconhecer a alegada nulidadee consequente reintegração aoemprego.

Vistos etc.

RELATÓRIO

A Juíza Sandra Maria GenerosoThomaz Leidecker, da 36ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte, por meioda r. sentença de f. 270/274, cujo

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relatório adoto e a este incorporo, julgouparcialmente procedente a pretensãoexordial, condenando a demandada aopagamento das verbas discriminadas nodecisum.

Recurso ordinário interposto peloreclamante às f. 275/315, reiterando asseguintes questões: nulidade dadispensa imotivada e consequentereintegração ao emprego; dano moral eadicional de transferência.

À f. 320 o autor pleiteou aexecução provisória. Sobre essepedido, manifestou-se contrariamente aré às f. 323/324.

Contrarrazões, às f. 325/335.A julgadora de origem deferiu o

requerimento para início da execuçãoprovisória, determinando a formação dacarta de sentença (f. 342).

Dispensada a manifestação doMinistério Público do Trabalho.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

Presentes os requisitos deadmissibilidade, conheço do recurso edas contrarrazões.

Juízo de mérito

Nulidade da dispensa ereintegração

No concurso público realizadopela ré, conforme Edital 011/2004, oreclamante foi classificado em 70º lugarpara exercer a função “Técnica Oper.Redes de Água e Esgoto” (de acordocom o documento de f. 37 - resultadodo certame). A propósito, o Edital 011/2004 (f. 25/35) é expresso emesclarecer que aquele concurso era“destinado ao preenchimento de vagas

e à formação de cadastro de reserva noâmbito do Estado de Minas Gerais, paraos cargos de Analista de Saneamentoe Agente de Saneamento”. O obreiro foiconvocado para apresentação dedocumentos, nos termos do referidoEdital (f. 39 e 166). Nesse contexto, asdeclarações de f. 168/170 comprovamque o demandante não só tinha ciência,mas aceitou a circunstância de que seriacontratado mediante prazo determinadoe que permaneceria “no cadastro deconcursados aprovados, no mesmocargo/função/região e posição declassificação”, e que ficaria asseguradoo seu “direito de, a qualquer tempo, erespeitada a ordem de classificação doscandidatos, ser convocado paraadmissão no quadro efetivo deempregados da COPASA, de acordocom a disponibilidade de vagas erespeitado o prazo de validade doEdital”.

Sob esse prisma, adocumentação de f. 173/175 demonstraque o reclamante, quando da assinaturado pacto laboral, novamente foicientificado que o contrato de trabalhoera por prazo determinado (cláusula II.1), atingindo o termo final em03.04.2007, mesma data em que elealega ter sido dispensado injustamente.Aliás, consta na CTPS (cópia de f. 57)que a admissão se deu em 04.04.2005,no cargo de “Agente Saneamento VI”,tendo por data de saída o dia03.04.2007. O aviso de f. 176, datadode 28.03.2007, comunica ao recorrenteo término do contrato por prazodeterminado em 03.04.2007, situaçãoque também consta no TRCT de f. 73/74 e 172.

Por outro lado, a função para aqual o autor foi classificado eranominada “Técnica Oper. Redes deÁgua e Esgoto” (f. 37). Porém, pelocontrato de trabalho por prazo

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determinado de f. 173/174, o reclamantefoi admitido para cumprir as funçõesatinentes ao cargo de AgenteSaneamento VI, na especialidade“técnica em projetos e obras”. Frise-seque inexistem nos autos elementosprobatórios de que, apesar dasdenominações distintas, a funçãoefetivamente exercida pelo obreiro eraidêntica àquela para a qual foi aprovado.Já os documentos de f. 41/54 não seprestam aos fins a que se destinam,porque não há como relacioná-losdiretamente ao obreiro. Portanto, acircunstância isolada constante nocrachá de f. 58 de o obreiro ser “efetivo”não é suficiente para descaracterizartoda a documentação juntada ao feitoem sentido contrário.

Assim, ao revés do que se afirmano recurso, a mencionada contrataçãonão se deu na modalidade de contratopor prazo indeterminado em virtude daaprovação do obreiro no certame emestudo. Tanto é assim que o documentode f. 37 demonstra que o autor, noconcurso a que se submeteu, optou portrabalhar na abrangência da RMBH e naprópria inicial é narrado que odemandante jamais laborou na RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte (cf. f.10).

Note-se que o Termo deAjustamento de Conduta 470/2004,firmado pela demandada em07.12.2004 perante o Ministério Públicodo Trabalho, dispõe no item 04 que:

A contratação por prazo determinadosomente será permitida para atenderà necessidade temporária deexcepcional interesse público,observadas as disposições do incisoIX do art. 37 da Constituição daRepública.§ 1º - Admitir-se-á o recrutamento depessoal para atender às

necessidades temporárias deexcepcional interesse públicoatravés de processo seletivosimplif icado, sujeito à ampladivulgação em pelo menos um jornalde grande circulação no Estado, oumediante utilização do cadastro doscandidatos aprovados em concursopúblico da empresa.§ 2º - As contratações temporáriasserão celebradas pelo prazo máximode até 2 (dois) anos, sendo permitidauma única prorrogação, observadoo limite máximo fixado.§ 3º - Prescindirão de processoseletivo apenas as contrataçõestemporárias para atender àsnecessidades decorrentes decalamidade pública ou estado deemergência. (f. 181)

Relevante destacar a informaçãocolhida pela Juíza de origem no sítioinformatizado da reclamada no sentidode que:

A aprovação de candidatos para ocargo de “Técnico de Projetos eObras” ocorreu apenas com arealização do certame referente aoEdital 012/2005, conforme anexo I,II e III, publicado em 21.09.2005 no“MINAS GERAIS”. (f. 271)

Dessa maneira, ainda que o TACem questão tenha sido firmadoposteriormente ao resultado final doconcurso em comento, é inegável queo seu teor autoriza a contrataçãotemporária do reclamante para laborarem função distinta para a qual prestouo concurso. Além do mais, a ré utilizou-se do cadastro dos candidatosaprovados no concurso públicorealizado no início daquele mesmo ano,como explicitamente previsto no Edital011/2004.

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Destarte, o contrato de trabalhodo reclamante extinguiu-se por decursodo prazo, não se constatando qualquerirregularidade apta a reconhecer aalegada nulidade e consequentereintegração ao emprego.

Apenas como reforço deargumentação, ainda que o recorrentetivesse sido contratado em decorrência deconcurso público, o pedido exordial émesmo improcedente. Isso porque, écediço que o empregado da COPASA nãofaz jus à estabilidade, nos termos do itemII da Súmula n. 390 do TST, in verbis:

Ao empregado de empresa públicaou de sociedade de economia mista,ainda que admitido medianteaprovação em concurso público, nãoé garantida a estabilidade prevista noart. 41 da CF/1988.

Desse modo, a reintegração dareclamante não tem amparo legal, poisinexiste qualquer dispositivo que lheassegure estabilidade ou garantia deemprego. Ressalte-se que o item I daOrientação Jurisprudencial n. 247 doTST/SDI/I consigna entendimento nosentido de que a

[...] despedida de empregados deempresa pública e de sociedade deeconomia mista, mesmo admitidospor concurso público, independe deato motivado para sua validade.

Pertinente ao tema é oensinamento do constitucionalista JoséAfonso da Silva, que, discorrendo sobrea estrutura básica da administraçãopública, a partir da vigência da CartaMagna de 1988, e, em particular, sobreas paraestatais, assevera:

As empresas públicas, associedades de economia mista e

suas subsidiárias são as entidadesda administração indireta pelas quaiso Poder Público explora atividadeeconômica. Elas podem também serutil izadas para a prestação deserviços públicos. Mas a exploraçãode atividade econômica pelo PoderPúblico (federal, estadual, do DistritoFederal ou municipal) somentepoderá realizar-se por essasentidades, por força do disposto noart. 173, § 1º, ficando elas, nessecaso, sujeitas ao regime jurídicopróprio das empresas privadas,inclusive quanto às obrigaçõestrabalhistas e tributárias, e nãopoderão gozar de privilégios fiscaisnão extensivos às do setor privado,evidentemente do mesmo ramo denegócio.(Curso de direito constitucional

positivo, 5ª Edição, p. 552)

Diante do exposto, sob todos osângulos em que se examina a matéria,não há como prover o apelo obreiro.Acrescente-se, por fim, ser de todoincogitável supor a ocorrência de afrontaàs normas constitucionais einfraconstitucionais invocadas no recurso.

Desprovejo.

Indenização por dano moral

Os danos morais se relacionamcom o sofrimento, a vergonha, o receio,constrangimentos e humilhações, além daredução da qualidade de vida (ainda quetemporários). Tais sentimentos e fatosconcretos não se apagam com o tempo.

Contudo, para se amparar apretensão indenizatória por essesdanos, necessária a coexistência de trêsrequisitos na etiologia daresponsabilidade civil, consideradosessenciais na doutrina subjetivista: aofensa a uma norma preexistente ou

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erro de conduta, o dano e o nexo decausalidade do evento com o trabalho.Referida indenização, prevista no incisoXXVIII do artigo 7º da Constituição daRepública e artigos 186 e 927 do nCC(art. 159 do Código Civil de 1916),pressupõe um comportamento doagente que,

[...] desrespeitando a ordem jurídica,cause prejuízo a outrem, pela ofensaa bem ou direito deste. Essecomportamento deve ser imputávelà consciência do agente por dolo(intenção) ou por culpa (negligência,imprudência ou imperícia),contrariando, seja um dever geral doordenamento jurídico (delito civil),seja uma obrigação em concreto(inexecução da obrigação ou decontrato).(STOCO, Rui. Responsabilidade

civil. 2ª edição, ed. Revista dosTribunais)

É o ilícito ou erro de conduta doempregador ou de preposto seu,atuando como fonte geradora deresponsabilidade, devendo o agenterecompor o patrimônio (moral oueconômico) do lesado, ressarcindo-lheos prejuízos acarretados.

No caso em exame, não há nofeito prova no sentido de a demandadaou seus prepostos terem praticado atoque importasse em constrangimento ehumilhação ao obreiro, resvalando parao desrespeito com a pessoa humana,além de atitudes abusivas consistentesem perseguir o autor, pressioná-lo,depreciá-lo ou acarretar sua exposição asituações ridículas, degradando oambiente de trabalho, com acarretamentode danos relevantes à sua personalidade,dignidade e integridade física e psíquica.

Saliente-se que sequer restouevidenciada a ilicitude da contratação por

prazo determinado e a posteriordispensa, sendo, inclusive, improcedenteo pedido de reintegração ao emprego.

Assim, não restou comprovadoqualquer prejuízo sofrido pelo recorrente,o que impede a responsabilização da répelos danos vindicados (art. 818 da CLTc/c inciso I do art. 333 do CPC). Portanto,o caso em apreço não enseja areparação pretendida, eis que não sedesincumbiu o reclamante dedemonstrar a prática de ato ilícito doempregador capaz de ocasionar-lhelesão à sua dignidade pessoal, na formaprevista pelo inciso X do art. 5º da CR/88, bem como pelo art. 186 do CódigoCivil, subsidiariamente aplicado aoDireito do Trabalho, por força do art. 8ºda CLT. Não se pode olvidar daprecaução necessária quando da análisedo pedido de indenização emdecorrência de dano moral a fim de seevitar que a conquista desse direito nãoseja banalizada ou levada ao descrédito.

Destarte, não restaramcaracterizados os pressupostos do art.927 do Código Civil para deferimento daindenização por dano moral.

Nada a prover.

Adicional de transferência

O reclamante sustenta que foicontratado para trabalhar na cidade deIpatinga e de lá foi transferidoprovisoriamente para CoronelFabriciano, depois Ipatinga, NossaSenhora do Porto (de janeiro de 2005 ajulho de 2006), de novo para Ipatinga e,posteriormente, Conceição do MatoDentro (de julho de 2006 a abril de2007). Requer, via de consequência, opagamento do adicional detransferência respectivo.

A meu ver, sem-razão.O TST firmou entendimento de o

adicional em comento somente ser

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devido na hipótese de transferênciaprovisória. Nesse sentido, a OrientaçãoJurisprudencial n. 113 da SDI-I.

O contrato de trabalho de f. 173/174, celebrado em 04.04.2005, noticiaque o autor foi lotado inicialmente nacidade de Ipatinga. Os documentos de f.83 e 85, bem como a prova oralproduzida à f. 267 comprovam que oautor residiu em Coronel Fabriciano etrabalhou na Região do Vale do Aço aténovembro de 2005. Todavia, nesseperíodo não é devido o adicional citadoem epígrafe, pois é público e notório queas cidades que compõem a mencionadaRegião, notadamente Coronel Fabricianoe Ipatinga, são vizinhas e bem próximas.É certo que o fato de morar em umdesses Municípios e laborar em outronão acarreta, em absoluto, a mudançade domicílio. Logo, a situação não seenquadra na hipótese do artigo 469 daCLT, sendo pacífico na jurisprudênciaque a prestação de serviços emlocalidades próximas que não exija amudança de domicílio não enseja opagamento de adicional de transferência.

Na peça de ingresso, o autorafirma, contraditoriamente, que, apesarde ter sido admitido em 04.04.2005, teriatrabalhado em Nossa Senhora do Portoa partir de janeiro de 2005. Entretanto,em depoimento pessoal, o demandanteretificou essa assertiva dizendo:

[...] que residiu em CoronelFabriciano de abril a novembro de2005, quando então mudou-se paraSenhora do Porto, onde trabalhoupor 7/8 meses. (f. 267)

No entanto, os documentos de f.101/113 apontam que nessa cidade otrabalho foi realizado em apenas 05 diasdo mês de junho/2006, e aqueles de f.114/118 não contêm qualquer referênciaao reclamante. Registre-se que o autor

não se desincumbiu do ônus decomprovar que efetivamente se mudoupara a cidade de Nossa Senhora doPorto. Dessa maneira, compartilho doentendimento do juízo a quo de que:

Devido ao espaçamento dos dias detrabalho efetivamente comprovadosem Nossa Senhora do Porto e àproximidade entre esse município emrelação a Ipatinga (distância deaproximadamente 110 km, pelasrodovias BR 120 e MG 232), mostra-se mais verossímil a tese dareclamada, no sentido de que o autorrealizava algumas viagens a cidadesvizinhas, mediante a indenização dosgastos. Foge à ordem da lógicaadmitir que o reclamante tenhatransferido seu domicílio para outracidade, nesse curto período. (f. 272)

Quanto à transferência paraConceição do Mato Dentro, a r. sentençajá deferiu a pretensão obreira,condenando a reclamada a pagar oadicional de transferência, no importe de25% sobre o salário, durante o períodode julho de 2006 a janeiro de 2007, ereflexos em gratificação natalina de 2006e FGTS, conforme se observa à f. 274.

Desprovejo.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua DécimaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso e das contrarrazões; no mérito,sem divergência, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 28 de janeiro de2009.

DEOCLECIA AMORELLI DIASDesembargadora Relatora

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TRT-00824-2006-152-03-00-4-ROPubl. no “MG” de 27.04.2009

RECORRENTE(S): FERTILIZANTESFOSFATADOS S.A. -FOSFÉRTIL

RECORRIDO(S): MINISTÉRIOPÚBLICO DO TRABALHO (1)

SINDICATO DOS TRABALHADORESEM INDÚSTRIAS QUÍMICAS EFARMACÊUTICAS DEUBERABA E REGIÃO-STIQUIFAR (2)

EMENTA: DIREITO DE AÇÃOCOLETIVA PELO SINDICATO -DIREITO INDISPONÍVEL -IMPOSSIBILIDADE DEINSERÇÃO DE CLÁUSULAIMPEDITIVA DO EXERCÍCIODO DIREITO DE AÇÃOCOLETIVA PELO SINDICATOEM DEFESA DA CATEGORIAOU DE UM GRUPO DEEMPREGADOS. O exercício dodireito de ação coletiva pelosindicato, nos moldesprevistos no inciso III do art.8º da Constituição daRepública e nas demaishipóteses previstas nalegislação infraconstitucional,não pode ser mitigado peloprincípio da autonomiacoletiva privada e nem mesmopela concessão de outrosdireitos trabalhistas, emaplicação à teoria doconglobamento, pois sendofundamental o direito de ação(inciso XXXV do art. 5º da CR),ainda que seja facultativo oexercício desse direito, seja noâmbito individual, seja noâmbito coletivo (inciso III doart. 8º da CR), este é um direitoindisponível que não pode ser

suprimido ou renunciado peloseu titular, nem sequer pela viada negociação coletiva.Portanto, a inserção decláusula convencionalimpedindo o sindicato deexercer uma prerrogativaconferida pela Constituição,que fundamenta sua própriaexistência, a defesa judicial dedireitos e interesses dacategoria (inciso III do art. 8ºda CR), implica primeiramenteofensa a direito constitucionalindisponível (acesso à justiça)e em seguida aos princípios davalorização do trabalhohumano (caput do art. 170 daCR), da dignidade da pessoahumana (inciso III do art. 1º daCR) e ainda a efetividade de umdos princípios gerais da ordemeconômica que seconsubstancia na busca dopleno emprego (inciso VIII doart. 170 da CR). Mantém-se adecisão de origem quedeterminou que aempregadora (segundareclamada) e o ente sindicalrepresentativo da categoriaprofissional se abstenham eminserir nos instrumentosnormativos cláusulaimpeditiva do exercício dodireito de ação pelo sindicato.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário em quefiguram como recorrente(s)FERTILIZANTES FOSFATADOS S.A. -FOSFÉRTIL e, como recorrido(s),MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO(1) e SINDICATO DOSTRABALHADORES EM INDÚSTRIASQUÍMICAS E FARMACÊUTICAS DEUBERABA E REGIÃO-STIQUIFAR (2).

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I - RELATÓRIO

A r. sentença de f. 672/680,proferida pelo Juízo da 3ª Vara doTrabalho de Uberaba, exercido pelo Juizdo Trabalho Luís Augusto Fortuna,julgou procedente o pedido inicialdeduzido na presente ação civil pública,para determinar aos réus que seabstenham de inserir nos instrumentosnormativos cláusula impeditiva doexercício do direito de ação coletiva pelosindicato, sob pena de multa deR$25.000,00 (vinte e cinco mil reais) porcada inclusão indevida e para cadasignatário, a ser revertida ao Fundo deAmparo ao Trabalhador (FAT).

Opostos embargos dedeclaração pela segunda reclamada (f.681/683), estes foram julgadosimprocedentes (f. 687/688).

Inconformada, a segundareclamada interpõe recurso ordinário,renovando a preliminar de carência deação, por i legitimidade ativa doMinistério Público, por falta de interessede agir e por impossibilidade jurídica dopedido. No mérito, sustenta apossibilidade de negociação coletiva emdefesa dos direitos e interesses dacategoria, em especial sobre questõesrelativas às horas in itinere. Afirma quenão se verifica nos autos qualquersubversão à ordem jurídica com ainserção em instrumento coletivo decláusula que veda ao sindicato dacategoria profissional o ajuizamento deação coletiva para postular as horas initinere de empregados pertencentes àcategoria, em face do princípio daautonomia coletiva privada. Invoca aaplicação da teoria do conglobamento,aduzindo ter sido garantidos outrosdireitos aos empregados (f. 690/719).

Recolheu a segunda reclamadaas custas processuais e efetivou odepósito recursal às f. 720/721.

Contrarrazões do MinistérioPúblico do Trabalho, postulando amanutenção da decisão e requerendoa reforma do julgado quanto àantecipação da tutela (f. 725/749).

Realizada audiência paratentativa de conciliação, esta se mostrouinfrutífera (f. 756).

É o relatório.

II - VOTO

1 - Juízo de admissibilidade

Atendidos os pressupostosobjetivos e subjetivos deadmissibilidade, conheço do recursoordinário interposto pela segundareclamada.

Conheço das contrarrazõesapresentadas tempestivamente.

No entanto, não conheço dopedido de reforma do julgado quanto àantecipação da tutela, formulado peloMinistério Público do Trabalho emcontrarrazões, sob pena de reformatio

in pejus. Pontue-se que as medidasprocessuais próprias à impugnação dequalquer ponto controvertido parareforma da sentença hostilizada seriama interposição pela parte interessada derecurso ordinário ou de recurso adesivoe não as contrarrazões.

2 - Juízo de mérito

2.1 - Preliminar de carência deação por ilegitimidade ativa doMinistério Público do Trabalho - Faltade interesse de agir e impossibilidadejurídica do pedido

Renova a segunda reclamadapreliminar de carência de ação porilegitimidade ativa do Ministério Públicodo Trabalho, por falta de interesse deagir e por impossibilidade jurídica do

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pedido, aduzindo que a ação civilpública tem por objetivo a defesa deinteresses coletivos e difusos, e, que nocaso em comento, o MPT está adefender interesses limitados de umacategoria de empregados que lhe prestaserviços em sua unidade de Uberaba,plenamente individualizados. Aduz quenão há interesse de agir, por entenderque se trata de direito meramenteindividual, pretendendo o MPT impediro exercício da liberdade sindicalassegurada aos sindicatos, conformeestipulado no inciso III do art. 8º da CR.Aponta ainda a impossibilidade jurídicado pedido, aduzindo que o direitopostulado não encontra previsão noordenamento jurídico, pois não se estáde frente com a coexistência de umdireito difuso ou coletivo, podendo odireito buscado ser objeto de açãoindividual pelos trabalhadores que sesentirem lesados, não havendointeresse coletivo em jogo. Postula aextinção do processo, sem resolução domérito, nos termos do inciso VI do art.267 do CPC.

Como é sabido a carência deação constata-se quando nãoverificadas quaisquer das condições daação, sendo elas legitimidade daspartes, interesse de agir e possibilidadejurídica do pedido.

In casu, o Ministério Público doTrabalho ajuizou a presente ação civilpública postulando que os réus(STIQUIFAR e FOSFÉRTIL) seabstenham em inserir nos instrumentoscoletivos cláusula proibindo a entidadesindical de ajuizar ação coletivapostulando direitos dos empregados daempresa pertencentes à categoriaprofissional representada pelo sindicato-réu (f. 03/11).

Com espeque na teoria do direitoabstrato de agir, sabe-se que a ação étida como um direito subjetivo de caráter

autônomo (desconectado do direitomaterial), possuindo natureza pública,porquanto dirigida em face do Estado-Juiz, que detém o monopóliojurisdicional. Logo, o direito de ação é odireito de invocar a tutela jurisdicional eindepende do direito material deduzidoem juízo.

No presente feito, o MinistérioPúblico do Trabalho alega que osempregados da segunda reclamadaestão sofrendo prejuízo, em razão daexistência de cláusula convencionalimpeditiva do exercício do direitoconstitucional de ação coletiva pelosindicato que os representa, estando anecessitar exatamente da intervençãodo órgão jurisdicional para que,mediante provimento de mérito, possaobter (ou não) solução que lhe satisfaça,visto que o interesse processual se situanão apenas na utilidade, mas tambémna necessidade do processo comoremédio apto à aplicação do direitoobjetivo ao caso concreto.

Outrossim, no caso em espécie,encontra-se presente a condição sine

qua non da existência de um processo,qual seja, a existência do litígio, tendoa recorrente oposto - e continua a fazê-lo - resistência à pretensão do MPT, oque demonstra ter a parte autora, sim,interesse em resguardar o direito deuma coletividade de empregadosatingidos pela cláusula convencionalimpeditiva do exercício do direitoconstitucional de ação coletiva pelosindicato da categoria profissional, oque é o bastante para afastar apreliminar de carência de ação, por faltade interesse processual.

A impossibilidade jurídica dopedido verifica-se quando o pedido oua causa de pedir são vedados peloordenamento jurídico, não podendo oEstado-Juiz prestar a tutela jurisdicionalbuscada.

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Na hipótese em comento, opedido formulado na presente ação civilpública não é vedado pelo nossoordenamento jurídico, o que demonstraquantum satis a possibilidade jurídicadeste.

Aliás, a tutela pretendidaencontra-se fundamentada em normaconstitucional de direito fundamental,qual seja, o direito de acesso à justiçanão apenas de pessoa física, mastambém de pessoa jurídica, inclusive daentidade sindical em defesa dos direitosda categoria que representa (art. 5º,XXXV e art. 8º, III, ambos da CR), o quedeixa patente a possibilidade jurídica dopedido.

Quanto à arguição deilegitimidade ativa do Ministério Públicodo Trabalho, razão alguma lhe assiste,pois os direitos postulados na presentedemanda inserem-se entre aqueles quesão, ao mesmo tempo, individuaishomogêneos, coletivos e difusos.

Por outro lado, registre-se que olegislador ordinário conferiucompetência ao Ministério Público doTrabalho para promoção de ação civilpública no âmbito da Justiça doTrabalho, para defesa de interessescoletivos, quando desrespeitados osdireitos sociais constitucionalmentegarantidos, considerando a funçãoinstitucional, a competência doMinistério Público e os preceitosinscritos no caput do art. 127 e nosincisos III e IX do art. 129, ambos daConstituição da República.

Desse modo, pode-se afirmar queencontra inserida na função institucionaldo Ministério Público do Trabalho adefesa de direitos coletivos, difusos ehomogêneos dos trabalhadores, noâmbito da Justiça do Trabalho.

No caso vertente, pretende oMPT que os réus (STIQUIFAR eFOSFÉRTIL) se abstenham de inserir

nos instrumentos coletivos cláusulaimpeditiva do exercício do direito deação coletiva pelo sindicato em defesados empregados pertencentes àcategoria profissional por elerepresentada.

Como se vê, a pretensão doMinistério Público do Trabalho com apresente ação é afastar norma coletivaem desrespeito ao direito constitucionalde ação coletiva pela entidade sindicalem defesa dos interesses e direitos dacategoria por ela representada, emespecial às normas dos artigos 5º,XXXV e 8º, III, da Constituição daRepública.

De outro lado, convém ressaltarque a presente ação objetiva nãosomente resguardar direitos de atuaistrabalhadores que prestam serviços àsegunda reclamada, mas, também, defuturos trabalhadores, em potencial, ouseja, aqueles que possam ser admitidosno futuro (direitos difusos) e que estejamimpossibil itados de terem seusinteresses e direitos defendidos pelaentidade sindical por meio de açãocoletiva.

Por conseguinte, a lesãoperpetrada em instrumento coletivo pelainserção de cláusula convencionalimpeditiva do exercício do direito deação pelo sindicato em defesa dacategoria ou de um grupo detrabalhadores pertencente à categoriaalcança não apenas os direitos einteresses coletivos, mas, também, osdifusos de toda a coletividade detrabalhadores atuais e futuros.

Em face disso, o MinistérioPúblico, repete-se, acha-se legitimadopara propor a presente ação, uma vezque, como se acentuou, está em jogo adefesa de interesses difusos e coletivosvinculados a direito fundamental deacesso à justiça na órbita do DireitoColetivo do Trabalho.

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De qualquer maneira, éimportante salientar que pode haverlesão que redunde, ao mesmo tempo,em ofensa tanto aos direitos difusoscomo aos coletivos e aos individuaishomogêneos.

Assim, ao contrário do afirmadopela segunda reclamada, não se busca,nesta ação, a reparação de interessesindividuais violados pelo empregador,mas, sim, adequar o comportamento daempresa ao ordenamento jurídico, cujaefetividade é de interesse público.

Em suma, a presente demandavisa tutelar interesse coletivo, indivisívele homogêneo.

Cite-se, por oportuno, decisãosobre o tema, em que foi Relator oDesembargador José Roberto FreirePimenta (RO-00971-2002-067-03-00-1,publicado no DJMG de 19.07.03):

[...] OS DIREITOS E INTERESSESQUE NESTE FEITO SE AFIRMAMLESADOS OU AMEAÇADOS NÃOSÃO, EXCLUSIVAMENTE,INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Têmeles, simultaneamente, a naturezade direitos e interesses difusos ecoletivos em sentido estrito, emfunção da natureza coletiva da tutelajurisdicional que o Ministério Públicodo Trabalho está pleiteando napresente ação (de natureza ealcance que transcendem a esferameramente individual dostrabalhadores hoje submetidos àterceirização ilícita alegada).

Também nesse diapasão é ajurisprudência:

AÇÃO CIVIL PÚBLICATRABALHISTA - LEGITIMIDADE DOMINISTÉRIO PÚBLICO. As relaçõesde trabalho já não são vistas nos diasde hoje sob o prisma individual;

antes, despertam interesses nosaspectos globais, que dizem respeitoa todos os trabalhadores, ou a muitosdeles, pois uma única e mesmaconduta i lícita pode constituirviolação de direitos ou interesses decentenas e até milhares detrabalhadores. A orientação diretoradas reformas processuais deste finalde século aponta para auniversalização da tutela jurisdicionale para a consequente criação deinstrumentos modernos, hábeis parasolucionar os conflitos envolvendointeresses difusos e coletivos emsuas várias modalidades. Umdesses novos instrumentos é a açãocivil pública, cuja legitimidade ativaé atribuída ao Ministério Público peloart. 129, III, da Constituição daRepública. A par dessa atribuiçãoconstitucional, a Lei Complementarn. 75/93, em seu art. 83, III,estabeleceu a competência doParquet no âmbito da Justiça doTrabalho para defesa de interessesdifusos e coletivos, quandodesrespeitados os direitos sociaisconstitucionalmente garantidos aostrabalhadores. Por meio da ação civilpública o Parquet cumpre suamissão de defender a própria ordemjurídica que assegura aquelesdireitos, na tutela não somente de umgrupo específico de trabalhadores,mas também dos futuros, dosausentes, dos minoritários, dosdissidentes e dos desconhecidos, naexpressão do eminente juristaMessias Pereira Donato. É dedecisiva importância ocomprometimento do MinistérioPúblico e do Poder Judiciário, naaplicação deste instrumentoprocessual relativamente novo, queé a ação civil pública, pois permitiráextrair dela todo o seu potencial de

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virtude e eficácia, conformepretendeu o legislador.(TRT-3ª Região, RO-00921-1997-032-03-00-2, Rel. Juiz SebastiãoGeraldo de Oliveira, DJMG de20.05.2000)

Assim, detém o MinistérioPúblico do Trabalho legitimidade ativapara defesa da matéria controvertida napresente ação civil pública, estandopresentes ainda o interesse de agir e apossibilidade jurídica do pedido.

Verificadas as condições deação, legitimidade ativa ad causam,

interesse de agir do MPT e apossibilidade jurídica do pedido, rejeitoa prefacial de carência de ação.

2.2 - Cláusula convencionalimpeditiva do exercício de açãocoletiva pelo sindicato - Autonomiaprivada coletiva

Insurge-se a segunda reclamadacontra a v. sentença de origem quedeterminou que os réus se abstenhamem inserir nos instrumentos coletivoscláusula impeditiva do exercício dodireito de ação coletiva pelo sindicatoda categoria profissional. Sustenta arecorrente que a inserção de cláusulanesse sentido não afronta as normasconstitucionais, pois decorrente denegociações realizadas entre aempresa e o sindicato da categoriaprofissional, tendo sido observados osdireitos e interesses de toda a categoria,nos termos dos incisos III e VI do art. 8ºda CR. Aponta decisões proferidas peloColendo TST em que conferiu validadeà cláusula coletiva que restringiu opagamento de horas in it inere.

Argumenta que não restou verificadoqualquer prejuízo na inclusão decláusula normativa obstando apropositura de ações coletivas

pleiteando horas in itinere, já que osempregados individualizados nãotiveram obstado o direito de acesso àjustiça. Assevera que há açõesindividuais já julgadas em que a questãoda aplicação do § 2º do art. 58 da CLTjá foi decidida com trânsito em julgado,sendo, pois, vedada nova apreciação,conforme art. 471 do CPC. Invoca ateoria do conglobamento em que sãofeitas concessões recíprocas,conferindo-se nos acordos coletivoscelebrados pela empresa e a entidadesindical representativa da categoriaprofissional vantagens superiores aoslimites mínimos previstos no TextoConstitucional e na legislaçãoinfraconstitucional, não cabendo aalegação de nulidade de cláusulaconvencional em que se estabeleceu aproibição de a entidade sindical ajuizaração coletiva para defesa de direitos dosempregados por ela representados.

Primeiramente, há que pontuarque a controvérsia retratada nos autosrefere-se à possibilidade ou não de serestabelecida em instrumento coletivocláusula convencional vedando oexercício do direito de ação pelosindicato representativo da categoriaprofissional para defesa dos direitos einteresses dos empregados da empresarecorrente, conforme consta no acordocoletivo de 1984, cláusula 18ª (f. 17),que foi renovada nos instrumentoscoletivos que a este sucederam (comopor exemplo cláusula 42ª do ACT-2005/2006 - f. 136).

Portanto, as decisões proferidaspelo Colendo TST, citadas nas razões derecurso, não têm qualquer vinculaçãocom a questão debatida nos autos, poisali se discutiu a validade ou não decláusula coletiva que restringiu opagamento de horas in itinere, direitoassegurado por legislaçãoinfraconstitucional (§ 2º do art. 58 da

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CLT), enquanto na presente demandabusca o MPT assegurar o pleno exercíciodo direito de ação coletiva pelo sindicatoem defesa dos direitos e interessescoletivos da categoria, em conformidadecom o inciso III do art. 8º da CR.

Também não contribui com asegunda reclamada a existência devárias ações individuais em que oempregado ou ex-empregado buscou opagamento das horas in itinere, comdecisões transitadas em julgado, poisnão se está aqui discutindo aprocedência ou não de horas in itinere

desses empregados ou ex-empregados,ou mesmo a incidência da norma do §2º do art. 58 da CLT a um grupo deempregados da segunda reclamada,mas sim a possibilidade de negociar odireito de ação coletiva, direitofundamental.

Com efeito, o inciso XXXV do art.5º da Constituição da República, queassegura que “a lei não excluirá daapreciação do Poder Judiciário lesão ouameaça a direito”, consagrou o princípioda inafastabilidade do controlejurisdicional, segundo o qual: todoaquele que se sentir lesado ouameaçado em seus direitos terá acessoà justiça, não podendo a lei vedar esseacesso, constituindo-se tal norma emum direito fundamental de toda pessoafísica e jurídica.

Igualmente, o inciso III do art. 8ºda Constituição da República dispõeque “ao sindicato cabe a defesa dosdireitos e interesses coletivos ouindividuais da categoria, inclusive emquestões judiciais ou administrativas”,ampliando a possibil idade desubstituição processual pela entidadesindical a todos os direitos e interessescoletivos ou individuais da categoria,objetivando a proteção dos direitos decategorias de trabalhadores ou outrosgrupos identificados.

Ora, se a ação é um direitofundamental, cujo exercício não podenem sequer ser afastado por norma legal,que, se existente, seria inconstitucional,muito menos pode ser objeto denegociação coletiva, ainda que este serefira ao exercício do direito de ação porentidade sindical para defesa de direitose interesses coletivos da categoria.

Aliás, o entendimento adotadopelo Supremo Tribunal Federal é nosentido de que a autonomia privadagarantida às associações, podendo-seentender aí incluídas as entidadessindicais, encontra limites nos princípiose normas constitucionais ou legais, emespecial, aquelas relativas às garantiase direitos fundamentais expressos naConstituição da República.

Vale citar excerto de decisãoproferida pelo E. STF sobre o tema:

[...]I - EFICÁCIA DOS DIREITOSFUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕESPRIVADAS. As violações a direitosfundamentais não ocorrem somenteno âmbito das relações entre ocidadão e o Estado, mas igualmentenas relações travadas entre pessoasfísicas e jurídicas de direito privado.Assim, os direitos fundamentaisassegurados pela Constituiçãovinculam diretamente não apenas ospoderes públicos, estandodirecionados também à proteção dosparticulares em face dos poderesprivados. II - OS PRINCÍPIOSCONSTITUCIONAIS COMOLIMITES À AUTONOMIA PRIVADADAS ASSOCIAÇÕES. A ordemjurídico-constitucional brasileira nãoconferiu a qualquer associação civila possibilidade de agir à revelia dosprincípios inscritos nas leis e, emespecial, dos postulados que têm porfundamento direto o próprio texto da

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Constituição da República,notadamente em tema de proteçãoàs liberdades e garantiasfundamentais. O espaço deautonomia privada garantido pelaConstituição às associações nãoestá imune à incidência dosprincípios constitucionais queasseguram o respeito aos direitosfundamentais de seus associados. Aautonomia privada, que encontraclaras limitações de ordem jurídica,não pode ser exercida em detrimentoou com desrespeito aos direitos egarantias de terceiros,especialmente aqueles positivadosem sede constitucional, pois aautonomia da vontade não confereaos particulares, no domínio de suaincidência e atuação, o poder detransgredir ou de ignorar asrestrições postas e definidas pelaprópria Constituição, cuja eficácia eforça normativa também se impõem,aos particulares, no âmbito de suasrelações privadas, em tema deliberdades fundamentais. [...](RE 201.819-8 Rio de Janeiro, 2ªTurma. Relator para o AcórdãoMinistro Gilmar Mendes, julgamentoem 11/10/2005, DJ 27.10.2006)

Por outro lado, há que seobservar que o inciso III do art. 8º daConstituição da República, ao conferirlegitimidade extraordinária ampla aossindicatos para defesa em juízo dedireitos e interesses coletivos eindividuais dos integrantes da categoriaque representam, teve como escopoconferir uma igualdade entre as partes,ou seja, uma igualdade entre a empresae os empregados representados pelaentidade sindical, a fim de garantir umaproteção mais efetiva aos interessesdos empregados, parte hipossuficientena relação de emprego.

Sobre a questão dadesigualdade fática e a autonomiaprivada em face dos direitosfundamentais, destaca o Professor eProcurador Regional da RepúblicaDaniel Sarmento em estudo quecompõe obra organizada pelo ProfessorLuís Roberto Barroso:

O fato de que os particulares sãotambém titulares de direitosfundamentais, desfrutando de umaautonomia privada constitucionalmenteprotegida, impõe uma série deadaptações e especificidades naincidência dos direitos humanos nocampo privado. Este é um pontoreconhecido consensualmente mesmopela doutrina que advoga a tese daeficácia direta e imediata dos direitosfundamentais nas relações entreparticulares. [...]

Por tudo isso, tem-se entendidoque a fixação de limites para aincidência dos direitos fundamentaisnas relações entre particularesenvolve um problema de ponderaçãocom a autonomia privada. [...].

Firmada estas premissas,convém destacar que um dos fatoresprimordiais que deve ser consideradonas questões envolvendo a aplicaçãodos direitos fundamentais nasrelações entre particulares é aexistência e o grau da desigualdadefática entre os envolvidos. Em outraspalavras, quanto maior for adesigualdade, mais intensa será aproteção ao direito fundamental emjogo, e menor a tutela da autonomiaprivada. Ao inverso, numa situação detendencial igualdade entre as partes,a autonomia privada vai receber umaproteção mais intensa, abrindoespaço para restrições maisprofundas ao direito fundamental comela em conflito. [...].

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Portanto, a desigualdadematerial justifica a ampliação daproteção dos direitos fundamentaisna esfera privada, porque se parteda premissa de que a assimetria depoder prejudica o exercício daautonomia privada das partes maisdébeis. É assim, enfim, porque seentende que, quando o ordenamentojurídico deixa livres o forte e o fraco,esta liberdade só se torna efetivapara o primeiro. O hipossuficiente, nomais das vezes, vai acabarcurvando-se diante do arbítrio domais poderoso, ainda que, do pontode vista puramente formal, seucomportamento possa parecerdecorrente do exercício da suaautonomia privada. Foi atento a estarealizada que Pedro Vega Garcíadestacou que, diante dadesigualdade material, “[...] la

autonomia de la voluntad privada ha

dejado de ser el reino idílico donde

todos los derechos y libertades

encontrabam su realización”.O reforço à proteção dos direitos

fundamentais dos particulares maisvulneráveis em face dos poderesprivados justifica-se também dianteda constatação de que estes últimosdispõem muitas vezes de uma forçaquase incontrastável para conformaraspectos relevantes da vida humana- pense no poderio dos veículos decomunicação de massa, sobretudonum contexto de oligopolização defato, tal como o que se verifica emnosso país. [...].

Desnecessário frisar que, nocaso brasileiro, diante da nossagritante desigualdade social, estaquestão assume um relevo ímpar.Aqui, a enorme vulnerabilidade deamplos setores da populaçãojustifica, com sobras de razão, umreforço à proteção dos seus direitos

fundamentais, no âmbito dasrelações travadas com outrosparticulares mais poderosos, comoos empregadores e os fornecedoresde bens e serviços. É por issotambém que em certos domíniosnormativos, como o Direito doTrabalho e o Direito do Consumidor,que têm como premissa adesigualdade fática entre as partes,a vinculação aos direitosfundamentais deve mostrar-seespecialmente enérgica, enquanto aargumentação ligada à autonomia davontade dos contratantes assumeum peso inferior.

Na verdade, o princípio daigualdade material, que se infere daconjugação da cláusula da isonomia(art. 5º, caput, CF) com a diretrizconstitucional, apontada como umdos fundamentos da República, deredução das desigualdades sociais(art. 3º, inciso III, CF), não apenaspermite, mas antes impõe, na ordemjurídica brasileira a proteção daspartes mais débeis nas relaçõesprivadas. Isto importanecessariamente uma relativizaçãoda autonomia privada no contexto derelações não paritárias, em proveitoda proteção aos interesses da partehipossuficiente. [...].

Existe, porém, um argumentoponderável contra esta vinculaçãomais intensa dos poderes privadosaos direitos fundamentais que deveser respondido. É que, segundoJorge Miranda, “[...] se importagarantir os direitos fundamentais daspessoas no interior das instituiçõese grupos privados, também importapreservar as autonomias dessasinstituições perante o Estado”. Emrelação a algumas destasinstituições, aliás, a autonomia éexpressamente garantida pelo Texto

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Constitucional, como ocorre com asassociações (art. 5º, XVIII, CF) e ossindicatos (art. 8º, I, CF). E não hácomo negar que a incidência maisintensa dos direitos fundamentaisnas atividades destas instituiçõesprivadas acaba ensejando um maiorcontrole do Estado sobre elas, emprejuízo a sua autonomia. Valelembrar, neste particular, que asentidades desta espécie sãointegradas por indivíduos, que têmnelas, por vezes, não uma fonte deameaça, mas um verdadeiro fator deproteção dos seus direitosfundamentais.

Esta questão terá de seranalisada à luz do caso concreto,no qual se deverá atentar inclusivepara a característica específica dopoder privado que se tem em mira.Não obstante, concordamos nesteponto com o magistério de GustavoTepedino, quando destaca que osgrupos sociais não podem, apretexto do exercício da suaautonomia associativa, impor aosseus membros normas de condutadivorciadas dos valoresconst i tucionais que tutelam apessoa humana, já que “[...] ascomunidades intermediárias têm asua razão de ser e sua justificativano papel que representam para apromoção da pessoa humana,deixando de ser tuteladas nomomento em que deixem decumpri-lo”.(BARROSO, Luís Roberto(organizador). A nova interpretaçãoconstitucional: ponderação, direitosfundamentais e relações privadas.SARMENTO, Daniel, A vinculação

dos particulares aos direitos

fundamentais no direito comparado

e no Brasil. 3ª ed. revista. Rio deJaneiro: Renovar, 2008. p. 270/275)

Feitas essas colocações, não sepode afirmar, como pretende fazer crera recorrente, que as partes envolvidasna negociação coletiva (empresa eentidade sindical) se encontram emposição de plena igualdade material,pois, no caso concreto, se nem o entesindical tem força e poder, em que pesevenha solicitando há algum tempo nasnegociações coletivas (f. 211/222) paraexcluir dos acordos coletivos a cláusulacontrovertida que o impede de defendercoletivamente os interesses dosempregados da empresa pertencentesà categoria quanto às horas in itinere

perante o Judiciário, conformereconhece em sua defesa (f. 167), comoo trabalhador poderá questionarindividualmente na vigência do contratode trabalho as normas coletivaspactuadas e os direitos trabalhistasmínimos a ele assegurados pelaempregadora, se poderá ele vir a serpenalizado com a rescisão unilateral docontrato laboral, como se depreendedos depoimentos de f. 642/644.

Considerando, assim, todos osfundamentos aqui deduzidos, conclui-seque o exercício do direito de ação coletivapelo sindicato, nos moldes previstos noinciso III do art. 8º da Constituição daRepública e nas demais hipótesesprevistas na legislaçãoinfraconstitucional, não pode sermitigado pelo princípio da autonomiacoletiva privada e nem mesmo pelaconcessão de outros direitos trabalhistas,em aplicação à teoria do conglobamento,pois sendo fundamental o direito de ação(inciso XXXV do art. 5º da CR), ainda queseja facultativo o exercício desse direito,seja no âmbito individual, seja no âmbitocoletivo (inciso III do art. 8º da CR), esteé um direito indisponível que não podeser suprimido ou renunciado pelo seutitular, nem mesmo pela via danegociação coletiva.

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Como já havia observadoanteriormente, quando da apreciaçãode recurso ordinário interposto peloMinistério Público do Trabalho, em quese acolheu a preliminar de nulidade dasentença, por cerceamento de defesa(f. 617/630), a questão controvertidanos autos não se trata de flexibilizaçãode um direito trabalhista pela via danegociação colet iva, mas desupressão de um direito fundamental- direito de ação - já que durante avigência do contrato de trabalho oempregado se vê impedido dejudicialmente questionar a condutaempresarial em não admit i r opagamento de horas in itinere, sejaindividualmente, pois poderá perder oemprego, seja coletivamente, já quea empresa impôs cláusula em acordocoletivo impedindo o ente sindical deajuizar ação coletiva em defesa dedirei tos dos empregados por elerepresentado.

Seguindo esse raciocínio, pode-se afirmar que a inserção de cláusulaconvencional impedindo o sindicato deexercer uma prerrogativa, quefundamenta sua própria existência, adefesa judicial de direitos e interessesda categoria (inciso III do art. 8º da CR),implica primeiramente ofensa a direitoconstitucional indisponível (acesso àjustiça - inciso XXXV do art. 5º da CR) eem seguida aos princípios davalorização do trabalho humano,preceitos constitucionais quecontribuem para a observância dosprincípios da valorização do trabalhohumano e da dignidade da pessoahumana (caput do art. 170 da CR), dadignidade da pessoa humana (inciso IIIdo art. 1º da CR) e ainda a efetividadede um dos princípios gerais da ordemeconômica que se consubstancia nabusca do pleno emprego (inciso VIII doart. 170 da CR).

Mantém-se a decisão de origemque determinou que a empregadora(segunda reclamada) e o ente sindicalrepresentativo da categoria profissionalse abstenham em inserir nosinstrumentos normativos cláusulaimpeditiva do exercício do direito deação pelo sindicato.

Nego provimento ao apeloempresarial.

III - CONCLUSÃO

Conheço do recurso ordináriointerposto pela segunda reclamada.Rejeito a preliminar de carência de ação.No mérito, nego provimento ao apelo.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso da segunda reclamada; semdivergência, rejeitou a preliminar decarência de ação; no mérito, por maioriade votos, negou provimento ao apelo,vencido o Ex.mo DesembargadorRevisor.

Belo Horizonte, 18 de março de2009.

JÚLIO BERNARDO DO CARMODesembargador Relator

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TRT-00347-2008-001-03-00-8-APPubl. no “MG” de 18.03.2009

AGRAVANTE: FABIANO PROCÓPIODE FREITAS

AGRAVADA: UNIÃO FEDERAL(FAZENDA NACIONAL)

EMENTA: EMBARGOS ÀEXECUÇÃO - CONHECIMENTO- GARANTIA DO JUÍZOINSUFICIENTE. Tecnicamente,não garantida integral aexecução, art. 884 da CLT, osembargos opostos nãocomportariam conhecimento.Todavia, processo não secompraz com atos inúteis. Se osembargos não são conhecidos,o dinheiro penhorado não temde imediato nenhum resultadoprático. A execução só seresolverá com a garantiaintegral da dívida, e enquantonão efetivada a importânciaarrecadada não poderá serliberada ao exequente, já quenão esgotado o prazo para osembargos. Por outro lado,conhecidos e julgados osembargos, o processo atinge asua finalidade, ainda queparcial, pois este não se limitaapenas à declaração daexistência do direito material, sóse exaure a prestaçãojurisdicional com o recebimentopelo credor dos seus haveres.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de agravo de petição,originários da 1ª Vara do Trabalho deBelo Horizonte, em que figuram, comoagravante, Fabiano Procópio de Freitas,e, como agravada, União Federal(Fazenda Nacional), como a seguir seexpõe:

RELATÓRIO

Embargos à execução rejeitadosliminarmente à ausência de garantiaintegral do juízo. Recorre o executado.Afirma que, realizada a penhora on-line,foi intimado para oferecer embargos àexecução; cabia, pois, ao juízo o seuconhecimento. Há prescrição a incidirsobre a execução, o que importa no seuconhecimento de ofício, bem como emface da impenhorabilidade de seusvencimentos.

Pede o provimento.Contraminuta, f. 184/186.Oficiou o Ministério Público do

Trabalho, opinando pelo conhecimentoe provimento do agravo, f. 189/190.

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Conheço do agravo, interposto atempo e modo.

2. Mérito

A execução monta emR$34.615,22 e encontra-se garantidapela penhora on-line de apenasR$1.277,53. Em face da insuficiência dagarantia do juízo não se conheceu dosembargos opostos pelo executado.

Tecnicamente, à vista dasdisposições consolidadas, art. 884 daCLT, a decisão agravada não mereceriareparos.

Não obstante a insuficiência daimportância penhorada e, por isso, nãoser possível a quitação integral do débitoexequendo, nada obsta sejamconhecidos e julgados os embargos,sob pena de o processo não vir a atingirsua finalidade que não se limita àdeclaração da existência do direito

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material, só se exaurindo a prestaçãojurisdicional com o recebimento pelocredor dos seus haveres.

Entender de forma diversaestariam todos, devedor, credor e aprópria Justiça, de mãos atadas namedida em que o executado, nãopossuindo mais bens, nem outrosrecursos, e nada tendo a oferecer ou darem garantia, o pouco que se apurou,decorrente da constrição mediantebloqueio incidente sobre saldo existenteem suas contas bancárias, não possaquitar o mínimo de sua dívida, nem oexequente nada vir a receber pelosimples fato de o juízo não se encontrargarantido na sua inteireza.

Com a devida vênia, como venhosustentando, uma vez que por tal razãonada obstaculiza o conhecimento dosembargos, a par de não haver vedaçãolegal a que se proceda à liquidação dasentença por partes, e mesmo assimnão vem a ser proferida a decisão pelojuízo da execução, tenho que, afastadosos impedimentos, a decisão que nãoconhece dos embargos, porinsuficiência da importância penhorada,importa na sua extinção, sem exame domérito.

Por outro lado, para não se tomaro dinheiro penhorado em ato inútil, poisa execução só se resolveria com agarantia integral da dívida, vedada a sualiberação ao exequente, à vista dasalegações postas nos embargos,ilegitimidade passiva,impenhorabilidade de seusvencimentos, extinção da dívida pelaprescrição, confisco e ausência deliquidez do título judicial pela aplicaçãoda taxa SELIC, questõesexclusivamente jurídicas, atenua-se aletra fria daquela norma legal a impor agarantia total do juízo, peloconhecimento dos embargos comoexceção de pré-executividade (mantida,

contudo, a penhora feita, até a decisãoda questão suscitada sobre aimpenhorabilidade da importânciaarrecadada) e, dessa forma, resolvidasas impugnações apontadas, ter-se-ia ocurso normal da execução.

Nesse sentido, dou provimentoao agravo para, recebendo os embargosà execução opostos pelo executado,como exceção de pré-executividade,determinar o retorno dos autos à origempara seu julgamento como se entenderde direito.

3. Conclusão

Em face do exposto, conheço edou provimento ao agravo para,recebendo os embargos à execuçãoopostos pelo executado, como exceçãode pré-executividade, determinar oretorno dos autos à origem para seujulgamento como se entender de direito.

MOTIVOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão da suaNona Turma, hoje realizada, analisou opresente processo e, à unanimidade,conheceu e deu provimento ao agravopara, recebendo os embargos àexecução opostos pelo executado comoexceção de pré-executividade,determinar o retorno dos autos à origempara seu julgamento como se entenderde direito.

Belo Horizonte, 10 de março de2009.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESDesembargador Relator

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TRT-00845-2008-019-03-00-9-ROPubl. no “MG” de 30.03.2009

RECORRENTES: GILVAN FERREIRADA COSTA E EMPRESABRASILEIRA DE CORREIOS ETELÉGRAFOS - ECT

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: ECT - DISPENSAIMOTIVADA -IMPOSSIBILIDADE. Nostermos do item II da OJ n. 247do TST, “A validade do ato dedespedida do empregado daEmpresa Brasileira deCorreios e Telégrafos (ECT)está condicionada àmotivação, por gozar aempresa do mesmotratamento destinado àFazenda Pública em relação àimunidade tributária e àexecução por precatório, alémdas prerrogativas de foro,prazos e custas processuais.”

RELATÓRIO

A juíza Maristela Íris da SilvaMalheiros, da 19ª Vara do Trabalho deBelo Horizonte, julgou parcialmenteprocedente a reclamatória, conformesentença às f. 379/398.

Recorrem ambas as partes.O reclamante, insistindo no

deferimento do pedido de declaração danulidade da dispensa e consequentereintegração no emprego; pagamentoda multa prevista no § 8º do art. 477 daCLT; pugnando pela aplicação dopercentual coletivo de 70% sobre asférias proporcionais.

A reclamada, renovando aspreliminares de inépcia da inicial ejulgamento extra petita e a prejudicialde prescrição total em relação ao

processo n. 00696-2008-019-03-00-8;no mérito, insurgindo-se contra adeterminação de incorporação dagratificação de função percebida peloreclamante; discordando da conversãoda justa causa aplicada em dispensaimotivada e pagamento das parcelasrescisórias inerentes a essa modalidadede distrato; contra a determinação defornecimento das guias pararecebimento do seguro-desemprego;condenação em honoráriosassistenciais.

Contrarrazões recíprocas às f.853/872 e 876/886.

Dispensado o parecer daProcuradoria Regional do Trabalho.

VOTO

Conheço de ambos os recursosporque próprios, tempestivos e nãosujeito a preparo o patronal, analisando-os conjuntamente. Registro que, tendoem vista a conexão entre os pedidosdeduzidos, foi determinada a reuniãodos processos n. 00845-2008-019-03-00-9-RO e 00696-2008-019-03-00-8-RO, conforme fundamentos à f. 384.

1. Inépcia da inicial

Insiste a reclamada na alegaçãode inépcia da inicial em relação aopedido de incorporação da gratificaçãode função, pois o reclamante nãoesclarece qual é a fórmula de cálculodessa gratificação, se existem tabelascom valores fixos ou se se trata depercentual do valor do salário; que apretensão de pagamento da gratificaçãode função em definitivo em face da suaincorporação ao salário no caso de serdeferida a reintegração éincompreensível, dado que nada foi ditoa respeito dessa matéria (eventualreintegração) no processo n. 00696-

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2008-019-03-00-8, impropriedades queferem o disposto no art. 286 do CPC;ressalta para o que dispõem os arts. 128e 460 do CPC.

O artigo 840 da CLT mencionaque a petição inicial deve conteressencialmente uma breve exposiçãodos fatos de que resulte o dissídio e opedido, o que possibilitará defesa útil àparte contrária, sendo certo, outrossim,que litiscontestação é formada pelainicial e defesa, aquela, composta dacausa de pedir e pedido, e esta, com asalegações fundamentadas, ou não,objetivando ilidir a ação, sendo possívelque qualquer irregularidade ocorridanaquela seja prontamente sanadaquando da apresentação desta, o queocorreu na espécie, como se vê às f.457/473.

Ademais, apesar de acolher apreliminar de litispendência arguida noprocesso n. 00845-2008-019-03-00-9em relação ao pedido de pagamento dagratificação de função de gerenteformulado na letra “c”, parte final, dopetitório de f. 10/11 (fundamentos às f.384/385), o juízo monocrático foiexpresso em afirmar que, “nos autos00845-2008-019-03-00-9, é que sedecidirá sobre a forma da rescisãocontratual” (fundamentos à f. 384),sendo certo que neste feito a questãorelativa à reintegração foisuficientemente exposta, como se vê dacausa de pedir às f. 4/8.

Já no processo n. 00696-2008-019-03-00-8, o reclamante pretende aincorporação do valor da gratificação defunção suprimida a partir doafastamento do trabalho pelo INSS noperíodo compreendido entre 24.09.2002e abril de 2005, conforme causa de pediràs f. 401/403, não havendo que se falarem necessidade dos esclarecimentosdeclinados pela reclamada.

Rejeito.

2. Julgamento extra petita

Para a reclamada não há comoprevalecer a condenação de se pagargratificação de função em razão daredução de seu valor, uma vez que nãofoi formulada causa de pedir e pedidonesse sentido, sendo o reclamanteexpresso em afirmar que, a partir de08.06.2003, houve supressão dopagamento da gratificação de função,ofendendo a sentença o princípio daadstrição consagrado nos arts. 128 e460 do CPC.

Como se infere dos fundamentoslançados às f. 393/395, o juízo de 1ºgrau utilizou-se do argumento relativo àredução da gratificação, considerandoos valores recebidos antes e depois daalta previdenciária para rechaçar aalegação de que o reclamante continuoua receber a gratificação de funçãopertinente ao cargo de gerente deagência, impedimento alegado pelareclamada cujo exame se fazianecessário para o deslinde dacontrovérsia.

Não olvide que cabe ao julgadoranalisar a controvérsia segundo asdiretrizes erigidas pelas partes para dara prestação jurisdicional almejada, nãoimplicando julgamento extra petita oexame de questão não abordada pelaspartes, entendimento que se extrai doprincípio da livre valoração da prova econvencimento motivado inscrito no art.131 do CPC.

Por outro lado, o reclamantepleiteou “o pagamento da gratificaçãode função do período de 08.06.2003 até07.05.2008, com o devido reajuste, comjuros e correção monetária” (item B, f.403), tendo sido deferido o seguinte:

Desta forma, defere-se a gratificaçãode função no valor previsto para oexercente da função de confiança

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gerente de agência nos moldes comovinham sendo pagas ao obreiro antesda supressão, com os reajustesconcedidos em cada época, noperíodo de 08.06.2003, comovindicado no petitório, autorizada acompensação de valores pagos aigual título, inclusive gratificaçõespagas no período de substituição aogerente de agência, deduzindo-seigualmente os valores recebidos atítulo de gratificação pelo exercíciode outra função de confiança. [sic, f.395]

Logo, não incorreu o juízo emjulgamento extra petita, tendo sidodeferido exatamente o postulado, sendocerto que os excessos que porventuravenham a ser identificados serãoexcluídos quando do exame do méritoda matéria em questão.

Rejeito.

3. Prescrição

Alega a reclamada que, sendorelatado na inicial que houve asupressão da gratificação de função em08.06.2003, tanto que requer opagamento da parcela a partir dessadata, é inafastável a prescrição total dodireito em questão pelo transcurso doquinquênio contado a partir doajuizamento da ação previsto no incisoXXIX do art. 7º da CR e art. 11 da CLT,impondo-se a extinção do processo n.00696-2008-019-03-00-8 comresolução do mérito; por cautela, requerseja declarada a prescrição dasparcelas anteriores a 08.07.2003 emface da data do ajuizamento doprocesso n. 00845-2008-019-03-00-9.

Como dito alhures, alitiscontestação é formada pela inicial edefesa, aquela, composta da causa depedir e pedido, e esta, com as alegações

fundamentadas, ou não, objetivandoilidir a ação, sendo possível quequalquer irregularidade ocorridanaquela seja prontamente sanadaquando da apresentação desta.

Diante disso, sustentando areclamada que o reclamantepermaneceu afastado do trabalho noperíodo de 24.09.2002 até abril/2005, enão no período indicado na inicial,conforme defesas às f. 75/76 e 457/458,alegação que restou acolhida pelo juízomonocrático com suporte no documentode f. 86 e 106 (fundamentos à f. 393),não há que se falar em prescrição totalpelo transcurso do quinquênioprescricional, considerando oajuizamento da ação na qual foiexaminada a matéria relativa àgratificação de função em 06.06.2008(processo n. 00696-2008-019-03-00-8),como decidido à f. 385.

Desprovejo.

4. Gratificação de função

Discorda a reclamada dacondenação ao pagamento dagratificação pelo exercício da função deconfiança, gerente de agência, nosmoldes como vinha sendo paga aoreclamante antes da supressão, com osreajustes concedidos em cada época,no período de 08.06.2003 até adispensa, ao argumento de que éevidente que, no período em que eleesteve afastado de suas atividades,recebendo benefício previdenciário, de24.09.2002 a abril/2005, não há que sefalar em pagamento de gratificação defunção; o afastamento previdenciáriomotivado por doença, a partir do 16º dia,é uma modalidade de suspensão docontrato, a partir do 16º dia, situação emque não se prestam serviços, não sepagam salários, não se computa otempo de serviço e sequer realizam-se

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recolhimentos vinculados ao contrato,tendo o empregado apenas a garantiade retorno ao cargo anteriormenteocupado, a teor do art. 471 da CLT, oque restou observado na espécie;quando o reclamante retornou aotrabalho, ocupou o cargo anteriormentepraticado, voltando a recebergratificação de função, o que se deu deforma ininterrupta até a sua dispensa em07.05.2008, como demonstram asportarias de designação e as fichasfinanceiras acostadas aos autos;ressalta que não houve prejuízo para oreclamante, pois somente não recebeuo valor correspondente à gratificação defunção durante o período em querecebeu benefício previdenciário, que foicomplementado pelo Instituto deSeguridade Social dos Correios eTelégrafos - Postalis, conformedocumentos adunados aos autos; nãoexiste lei determinando a incorporaçãode gratificação de função pelo exercíciode atividades comissionadas, sendoadstrita ao princípio da legalidade pelofato de ser empresa pública, nãopodendo fazer nada que não sejaexpressamente determinado por lei,conforme jurisprudência que cita;conforme já esclarecido e provadodocumentalmente, não houvesupressão da gratificação de função e,mesmo se tivesse havido, o ato doempregador não poderia ser inquinadoilegal, pois a designação e supressãoda parcela são de livre estipulação porparte do empregador, atrelada ao poderdiretivo consagrado no art. 2º da CLT;o valor do cargo manteve-se inalterado,sendo a parcela relativa à função umadendo à remuneração, a teor do art.457 da CLT, não se tratando de salário,daí ser possível o não-pagamento daparcela, quando o empregadoexercente da função de confiançareverte ao cargo efetivo, a teor do que

dispõem os arts. 450, parágrafo único,468 e 499 da CLT; deflui do exposto quea função de confiança/assessoramentoé suprimível ad nutum, pelo seu carátertransitório, a teor do art. 468 da CLT,ferindo o princípio da legalidade inscritono inciso II do art. 5º da CR adeterminação da continuidade dopagamento da parcela; a Súmula n. 372do TST não é aplicável da forma comopleiteada pelo reclamante, eis que éindene de dúvidas que, no presentecaso, o reclamante somente foiafastado de sua função gratificada nolapso de 2003 a 2005, porque nãoestava laborando, mas, sim, recebendobenefício previdenciário, ocasião emque não recebeu salários; invocando orespeito devido ao princípio daisonomia, requer, por cautela, aaplicação da tabela própria anexadacom a contestação, que éperiodicamente revista, que especificaos valores das diversas gratificaçõesde função.

A ficha cadastral acostada às f.106 e 484 informa que, no período de01.01.1991 a 23.09.2002 (data em quese afastou do trabalho por doença), oreclamante era classificado como“Chefe de Agência de Correio VI e V” e“Gerente de Agência de Correio V”, oque demonstra o recebimento dagratificação de função, como titular,correspondente a tal função por mais de10 anos consecutivos. Nesse mesmodocumento consta que, no período de16.03.2005 a 07.05.2008, o reclamantefoi classificado como “Atendente BP”,cuja gratificação, “Quebra de Caixa BP”,é inferior àquela prevista para o cargode “Gerente de Agência”, sendo certoque, no período posterior, exerceu, emcaráter eventual de substituição, afunção de “Gerente de Agência BP V” e“BP VI”, quando do gozo das férias dotitular (f. 564/567).

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Verifica-se, portanto, que agratificação de função pelo exercício dafunção comissionada de “Gerente deAgência de Correio” não foi incorporadaao salário, tendo o reclamante passadoa perceber a gratificação de função“Quebra de Caixa BP”, relativa ao cargode “Atendente Comercial II”, após a altamédica previdenciária em 01.04.2005,conforme documento à f. 563, o quebasta para rechaçar a assertiva patronalde que ele continuou a receber agratificação referente à função de“Gerente de Agência de Correio” apóso retorno ao trabalho.

O item I da Súmula n. 372 do TSTdispõe:

Percebida a gratificação de funçãopor dez ou mais anos peloempregado, se o empregador, semjusto motivo, revertê-lo a seu cargoefetivo, não poderá retirar-lhe agratif icação tendo em vista oprincípio da estabilidade financeira.

Destarte, restando demonstradaa percepção da gratif icação peloexercício do cargo comissionado degerente de correios por mais de dezanos e a supressão dessa gratificaçãoapós a alta previdenciária e o retornoao trabalho em 01.04.2005, nãoalcançando o objetivo de manutençãoda estabilidade financeira garantido peloverbete sumular em questão opagamento de gratificação diversa emvalor inferior, mantenho a sentença quedeferiu “a gratificação de função no valorprevisto para o exercente da função deconfiança gerente de agência nosmoldes como vinham sendo pagas aoobreiro antes da supressão, com osreajustes concedidos em cada época”(sic, f. 395). Não há falar em adoção detabelas emitidas pela reclamada,versando sobre o valor de tal

gratif icação, dado que deve serconsiderado o valor percebido quandoda supressão, como determinado nasentença.

Impõe-se, entretanto, excluir dacondenação o período em que oreclamante esteve afastado do trabalhopelo INSS, recebendo benefícioprevidenciário, já que, nesse lapso, ocontrato esteve suspenso, não tendohavido prestação de serviços epagamento de salários.

Salienta-se que não consta dosautos documento que comprove odireito de o benefício previdenciário sersuplementado, considerando o valorsalarial que o reclamante receberia seestivesse na ativa, fato que, emmomento algum, foi defendido por ele,como se vê da impugnação apresentadano processo n. 00696-2008-019-03-00-8 acostada às f. 782/796, sendoinsuficiente para tal fim o fato de osdocumentos de f. 559/561demonstrarem que houvesuplementação do benefício peloInstituto de Seguridade Social dosCorreios e Telégrafos - Postalis - noperíodo em questão.

Por outro lado, quando do exameda prejudicial de prescrição, o juízomonocrático fez consignar nosfundamentos que “a alegada supressãode gratificação teria ocorrido, na versãoda inicial, após o retorno do autor de seuafastamento pela Previdência Social”(sic, f. 385), o que reforça a convicçãorelativa à necessidade da exclusão detal período da condenação.

Destarte, provejo parcialmente orecurso da reclamada para excluir dacondenação relativa ao pagamento dagratificação de função pelo exercício docargo comissionado de Gerente deAgência o período compreendido entre24.09.2002 e 01.04.2005, mantendo asentença quanto ao restante.

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5. Justa causa - Reintegração

Volta-se a reclamada contra asentença que reverteu a justa causaaplicada ao reclamante em dispensainjusta, alegando que a última avaliaçãodeste foi abaixo da expectativa noSistema de Gerenciamento deCompetências e Resultados, fato que,aliado ao cometimento de falta graveapurada mediante sindicância interna(GPA n. 20.00378/08), onde foramgarantidos ao reclamante a ampla defesae contraditório, autoriza a aplicação dapena máxima; para os empregadospúblicos, para os quais a estabilidade éexceção, pois constitui direito potestativodo empregador a rescisão do contratode trabalho, basta a sindicância, quegarante a imediatidade da sançãodisciplinar, ainda mais se for garantida aampla defesa; dúvidas não restamacerca da apuração e comprovação dacondenável atitude do reclamante noexercício de seu cargo e função,furtando-se a obedecer normas decaráter geral da empresa, sendocaracterizado o mau comportamento, adesídia no desempenho das respectivasfunções e a indisciplina/insubordinação,violando-se normas cogentes, de âmbitogeral - pressupostos da boa organizaçãoprodutiva e de boas relações, cabendoa aplicação da penalidade que temrespaldo na lei e no próprio contrato detrabalho; como cediço, o contratoindividual de trabalho é regido pelafidúcia, elemento nuclear, integrante efundamental do pacto, elemento que, sedestruído, torna impossível asubsistência do vínculo empregatício,como ocorreu na espécie; no presentecaso, em que pese o passado funcionaldo reclamante, sem qualquer puniçãodisciplinar anterior, não há que se falarem dosimetria/gradação entre a falta e apunição, porque a sua atitude e escusas

foram de tal gravidade que feriram demorte o elemento essencial na relaçãode emprego - a fidúcia, o queimpossibilita a manutenção do vínculoempregatício entre as partes; é indenede dúvidas a liceidade da dispensa porjusta causa do reclamante, não sendoas frágeis e infundadas alegaçõeslançadas na inicial suficientes parajustificar a conduta irregular, ficandocaracterizado o mau procedimento, adesídia e a indisciplina e insubordinaçãono desempenho de suas funções, fatosque levaram ao rompimento do pacto porjusta causa que requer seja agoraconvalidada, excluindo-se o pagamentodas parcelas relativas à dispensa injustadeferidas na sentença; ressalta que,tendo em vista o afastamentoprevidenciário do reclamante, um novomarco inicial para a contagem do períodoaquisitivo começou a fluir em abril de2005, sendo devido o pagamento desomente 2/12 de férias + 1/3 (jáconsiderando a projeção do avisoprévio).

O reclamante, por sua vez,insiste nos pedidos de declaração danulidade da dispensa e reintegração noemprego, argumentando, em síntese,que, sendo revertida a justa causa quelhe foi aplicada, a sua reintegração noemprego decorre do entendimentoconsagrado no item II da OJ n. 247 doTST; com a alteração da precitadaorientação jurisprudencial, a reclamadanão pode mais dispensarimotivadamente seus empregados,sendo certo que a simples instauraçãode processo administrativo que chegoua seu término sem apurar-se valoresfaltosos e, principalmente, a existênciade culpa ou dolo dele, reclamante, nãoconsubstancia motivação suficientepara a dispensa; requer a reforma dasentença para determinar areintegração, pagamento dos salários

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vencidos e vincendos, vales-alimentação/refeição, cesta, fériasacrescidas do percentual de 70%,conforme preceitua a cláusula n. 29 doACT da categoria, 13º salários,recolhimentos para o INSS e FGTS,gratificação de função de “Gerente deAgência de Correio V”, assim comotodas as vantagens advindas da lei einstrumentos coletivos, condenando areclamada em honorários no percentualde 15% da condenação bruta, multapelo descumprimento da obrigação defazer e assistência médica, hospitalar eodontológica para o reclamante e seusdependentes, tudo acrescido de juros ecorreção monetária; pugna pelodeferimento da multa prevista no § 8ºdo art. 477 da CLT e das fériasindenizadas, considerando o percentualde 70% normativo.

A justa causa pode serconceituada como todo ato faltosograve, praticado por uma das partes,que autorize a outra a rescindir ocontrato, sem ônus para o denunciante.Entrementes, nem toda infração ou atofaltoso configura justa causa para arescisão, sendo necessário que esseato seja precedido de medidaspedagógicas, que se revista degravidade e que haja proporcionalidadeentre a punição e o ato motivador dadispensa, dentre outros requisitos.

E, no dizer de Wagner D. Giglio,

[...] ao se examinar a falta cometida,há que fazê-lo sempre sob doispontos de vista: objetivamente,levando em consideração os fatos ecircunstâncias materiais queenvolveram a prática do ato faltoso,tais como o local e o momento; esubjetivamente, considerando apersonalidade do agente, isto é, osantecedentes do faltoso, seu grau decultura etc. [...].

Assim, do ponto de vista objetivo,somente haverá justa causa para adispensa do empregado quando o atofaltoso por ele praticado constituir umaviolação séria das principais obrigaçõesresultantes do contrato de trabalho. Doponto de vista subjetivo, somenteexistirá justa causa para o rompimentodo vínculo se resultar irreversivelmentedestruída a confiança votada noempregado, de tal forma que se tornevirtualmente impossível a subsistênciada relação de emprego.

Segundo Evaristo de MoraisFilho,

[...] a noção de falta grave é fluida,maleável, escorregadia comoespuma de sabão por entre os dedos.Varia incessantemente no tempo e noespaço, num verdadeiro relativismoconceitual, quase à maneira dePirandello, com a verdade de cadaum. O que é falta grave aqui, já não oé ali; o que agora parece de umagravidade imperdoável, amanhãtalvez já não mais o seja. Não oferecea lei nenhum arquétipo, eterno eimutável, para ser aplicadoautomaticamente à variedadeconstante dos fatos humanos, senãoseria fácil fazer-se justiça comcomputador eletrônico. A justa causadeve ser avaliada subjetiva eobjetivamente ao mesmo tempo, enão só de um desses dois prismas.Devem ser levadas em conta ascondições pessoais dos contratantes,o passado de ambos, o momentopsicológico em que foi cometida afalta e assim por diante. Do ponto devista subjetivo, uma falta pode sergrave, mas em relação aos méritosparticulares do empregado, com umaprestação de serviços longa,laboriosa, honesta, pode igualmenteperder esse caráter de gravidade.

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Como se extrai da comunicaçãode f. 245, o reclamante foi dispensadopor justa causa com fulcro nas alíneas“b” (mau procedimento), “e” (desídia) e“h” (indisciplina), sendo incontroversoque não há qualquer mácula anterior noseu passado funcional de quase vinte equatro anos de prestação de serviços,sendo o motivo alegado para a dispensao único ato praticado passível depunição e que culminou por ensejar aextinção motivada do pacto.

O reclamante exerceu durante opacto cargo de confiança (gerente deagência) por mais de dez anos, sendoconhecido na cidade de Capitólio/MG,localidade onde trabalhava, por “Gilvandos Correios”, segundo informaram astestemunhas Alisson Santos Almada eElias Antônio Chaves (f. 376/377).

Levando-se em conta osdissabores que a justa causa acarretaà vida profissional do empregado,podendo interferir em empregos futuros,a falta que lhe deu origem deve revestir-se de gravidade tal que autorize aadoção da pena máxima, situação quenão se caracterizou nos autos, conformefundamentos lançados às f. 387/388:

[...]Analisando o contexto dos autos,

tenho que não restaram preenchidosos requisitos da adequação entre afalta e a pena aplicada;proporcionalidade entre elas; caráterpedagógico do exercício do poderdisciplinar, com correspondentegradação de penalidades. Há que seanalisar todo o comportamento doempregado e não apenas uma únicafalta.

[...]A respeito do ato praticado pelo

autor, embora seu comportamentono particular não seja recomendável,declarou ele no termo de f. 193, que,

a princípio, achou que da forma queagiu não estaria dando prejuízo nempara a ECT e nem para a prefeitura;que somente agora depois queiniciou este processo é que percebeuque da forma que agiu, a ECT nãorecebia pelos serviços prestados [...]que sabe da gravidade da falta quecometeu mas está arrependido doque fez...

Observa-se que, nos termos docontido no Relatório de Sindicância(f. 196), o superior hierárquico doautor (chefe da agência), sr. EdgarMessias Donizete de Sousa, disseque, ao conferir o subcaixa doatendente no final do expediente,notou a sobra do valor de R$16,60,em selos; que solicitou do atendenteque efetuasse o pagamento deR$32,00, correspondente à postagemdas 5 correspondências no valorunitário de R$6,40 [...] que o atendentepagou a diferença... (f. 196).

Entendo que uma única infraçãopraticada ao longo de vinte e quatroanos de serviço, que sequer resultouem prejuízos graves para areclamada, ainda que condenável,poderia ter sido punida comadvertência e suspensão, tal comoobjetiva o direito trabalhista ou,então, poderia a reclamada despedi-lo sem justa causa, caso entendessenão mais conveniente a manutençãodo pacto laboral, nada autorizando,porém, a adoção do remédio extremoadotado na espécie.

De se ressaltar que a própriareclamada não categorizou a faltapraticada pelo obreiro como ato deimprobidade, considerando queconsta do documento de f. 245 quea dispensa motivada indica a desídia,mau procedimento e indisciplinacomo causas determinantes daruptura do pacto laboral.

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O poder diretivo do empregadornão o exime de exercê-looportunizando ao empregado queamolde sua conduta às normas daempresa. Essa oportunização não foifeita pela reclamada de formagradativa e educativa, que aplicou,incontinente, a penalidade máxima,sem proporcionar ao autor aoportunidade de analisar seucomportamento e buscar soluçõespara coibir a repetição dos erroscometidos, propiciando a ele oretorno ao caminho do zelo funcional.

[sic, ...]

Logo, mostra-se irrepreensível aleitura do acervo probatório realizadapelo juízo sentenciante, pois, apesar deter sido apurado mediante inquéritoadministrativo que o reclamante agiu emdesacordo com as normas gerais daempresa, uma única infração praticadaao longo de vinte e quatro anos detrabalho, que sequer resultou emprejuízo, como visto acima, poderia tersido punida com advertência oususpensão, medidas pedagógicas queproporcionariam ao reclamante analisarseu comportamento e retornar aocaminho do zelo funcional.

Logo, além de não ter sidoadotadas medidas pedagógicas queproporcionariam ao reclamante analisarseu comportamento e retornar aocaminho do zelo funcional, houvedesproporcionalidade entre a punição eo ato motivador da dispensa motivada,dando a ficha cadastral de f. 108 notíciade que a última avaliação do reclamanteno ano de 2007 foi satisfatória(“Desempenho aproxima-se do PadrãoEsperado”), o que contradiz a assertivapatronal em sentido contrário, decidindoacertadamente o juízo monocrático aonão convalidar a justa causa aplicada,cumprindo agora perquirir sobre o acerto

da sentença quanto ao indeferimento dopedido de nulidade da dispensa ereintegração no emprego.

Dispõe o item II da OJ 247 doTST o seguinte:

A validade do ato de despedidado empregado da Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos (ECT) estácondicionada à motivação, por gozara empresa do mesmo tratamentodestinado à Fazenda Pública emrelação à imunidade tributária e àexecução por precatório, além dasprerrogativas de foro, prazos ecustas processuais.

Quanto à impossibilidade dedispensa imotivada dos empregados dareclamada, a SBDI-I do TST vemreiteradamente decidindo:

PROC. N. TST-E-RR-106/2003-042-15-00.4ACÓRDÃOSESBDI-1

RECURSO DE EMBARGOSINTERPOSTO NA VIGÊNCIA DALEI N. 11.496/2007 - EMPRESABRASILEIRA DE CORREIOS ETELÉGRAFOS - DISPENSA -NECESSIDADE DEMOTIVAÇÃO -REINTEGRAÇÃO. É pacífico oentendimento de que a EmpresaBrasileira de Correios eTelégrafos goza dos mesmosprivilégios direcionados aosentes públicos para efeito deexecução e do disposto noDecreto-lei n. 779/1969.Conclui-se, assim, que aequiparação da empresa àFazenda Pública, em relação àimunidade tributária e àexecução por precatório, além

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das prerrogativas de foro, prazose custas processuais, devealcançar, também, as restriçõesa ela impostas quanto à formade despedida imotivada ouarbitrária. Nesse sentido, estaCorte firmou posicionamento pormeio da OrientaçãoJurisprudencial n. 247 da SBDI-1 do TST (Resolução n. 143, de13.11.2007), segundo a qual avalidade do ato de despedida deempregado da EmpresaBrasileira de Correios eTelégrafos (ECT) estácondicionada à motivação.Aplicação do disposto no art.894, inciso II, in fine, da CLT.Com relação à reintegraçãodeterminada, esta tambémencontra amparo no item II daOrientação Jurisprudencial n.247 da SBDI-1 do TST, tendo emvista a equiparação da EmpresaBrasileira de Correios eTelégrafos à Fazenda Pública, e,diante da impossibilidade dedispensa sem motivação, aconsequência fica adstrita àdeterminação de reintegração doempregado dispensado semjusta causa. Assim, afastada acontrariedade à Súmula n. 390desta Corte, ante a aplicaçãoespecífica da orientaçãojurisprudencial acima indicada àhipótese dos autos. Recurso deembargos não conhecido.[...]

1.1 - DISPENSA IMOTIVADA -ECT - POSSIBILIDADE -REINTEGRAÇÃO

A 2ª Turma, mediante o acórdãoàs f. 201-2011, não conheceu dorecurso de revista da reclamada

quanto ao tema - Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos - Despedida- Ato Administrativo - Necessidade deMotivação - Estabilidade -, porentender que este não comportamais discussão, tendo em vista aconsonância da decisão regionalcom a nova redação da OrientaçãoJurisprudencial n. 247 da SBDI-1 doTST, sendo incidente, como óbice aoconhecimento do recurso, a Súmulan. 333 desta Corte. Consignou que,realmente, o empregado da EmpresaBrasileira de Correios e Telégrafos -ECT - não detém estabil idadeprevista no art. 41 da ConstituiçãoFederal nos termos do item I daSúmula n. 390 desta Corte, todaviaa dispensa sem a devida motivaçãoreverte-se em direito à reintegração.

Nestes termos encontra-se adecisão proferida pela Turma:

1.2 - DISPENSA IMOTIVADA -REINTEGRAÇÃO -CONHECIMENTO

Sustenta a empresa que oreclamante não está sujeito aoregime estatutário, mas sim celetista,não sendo tido como funcionáriopúblico, mas sim empregado, sendoassim a estabilidade pretendida pelorecorrido é um atributo pessoal doservidor público e não dosempregados regidos pela CLT.Aponta violação dos artigos 37, II, 41,caput e 173, § 1º, II, da ConstituiçãoFederal, 11 do Decreto-lei n. 509/69,34 do Decreto n. 1.687/95,contrariedade à Súmula/TST n. 390e dissenso pretoriano.

Quanto ao tema em exame,consignou o Tribunal Regional doTrabalho, in verbis:

Não é controvertido que o

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recorrente foi admitido em18.12.1991, após aprovação emconcurso público, e dispensado semjusta causa em 09.01.2001.

A dispensa do recorrente,portanto, é nula, embora ele não sejaportador da estabilidade prevista noartigo 41 da Constituição Federal.

Ressalte-se que por desfrutardos mesmos privilégios concedidosaos entes públicos, a recorrente estáimpedida de efetuar demissão semjusta motivação, ou seja, ela nãodeve ter tratamento híbrido: ou se lhedá prerrogativa do ente público comônus do ente público, ou bem se lheconfere status de empresa privadae os deveres da atividade privada,conforme decidiu a Segunda Turmado TST no julgamento do RR 22416/2002-900-02-00.1, relatado peloMinistro Luciano de Castilho.

Os princípios constitucionaispertinentes aos atos administrativos,portanto, devem ser observados, oque não acontece, pois o ato dedispensa do recorrente não foimotivado.

Desse modo, há que serdeclarada a nulidade da dispensa dorecorrente, com sua consequentereintegração ao quadro defuncionários da recorrida, na mesmafunção, sendo devidas as parcelascontratuais como se em exercício eleestivesse, até a efetivação dareintegração.

Na apuração dos reflexosdecorrentes desta decisão seráobservado, no que couber, que adispensa foi anulada.

Na forma do entendimentomajoritário da E. 4ª Turma, ficaautorizada a compensação da multade 40% do FGTS.

Desse modo, a sentença há queser reformada quanto ao ponto em

foco, a fim de ser declarado que adispensa do recorrente é nula,determinando sua reintegração aoquadro de funcionários da recorrida,na mesma função, sendo devidas asparcelas contratuais como se emexercício ele estivesse, desde09.02.2001, considerada a projeçãodo aviso prévio, até a efetivação dareintegração (f. 171/172).

Não prospera a alegação deviolação aos artigos 41, caput, 37, IIe 173, da Constituição Federal, oumesmo divergência jurisprudencial,senão vejamos.

O tema em debate passou a sernovamente discutido na Corte, apóso Supremo Tribunal Federal terreconhecido os privilégiosassegurados à ECT quanto à formade quitar seus débitos trabalhistas,que segue o rito do precatório. A ECT,em face da norma que o instituiu eda sua natureza jurídica, tambémadquiriu o direito à imunidadetributária quanto aos depósitosrecursais.

Esses privilégios resultaram namitigação do comando inserto na OJ247 da SBDI-1 e na construção doentendimento em virtude do qual aECT não poderá mais efetuardemissão de seus empregados semjusta causa e sem motivaçãoexplícita do ato como se fosse meraempresa privada no uso do seupoder potestativo e amparada queestava nas regras do artigo 173 daCF/88.

Com efeito, o Decreto-lei n. 509/1969 assegurou à ECT privilégios,quer quanto à imunidade tributária,direta ou indireta, impenhorabilidadede seus bens, rendas e serviços,quer no concernente a foro, prazose custas processuais, equiparando-os à Fazenda Pública.

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Entendo que, na esteira doposicionamento desta Turma, foisubtraída da ECT a essência dopoder potestativo, posto que aequiparação ampla da empresa àFazenda Pública deve alcançar,também, as restrições impostas aosCorreios quanto à forma dedespedida imotivada ou arbitrária.

Destaco, ainda, que a ECT nãopode ter tratamento híbrido. Emoutras palavras: ou se lhe dáprerrogativa do ente público comônus do ente público, ou bem se lheconfere status de empresa privadae os deveres da atividade privada.

Dessa forma, é inevitávelreconhecer a equiparação da ECT àsentidades de direito público para osefeitos da vedação da dispensa deseus empregados estáveis semmotivação, sob risco de nulidade doato.

Importa considerar-se, poroportuno, que o efeito gerado peladespedida imotivada, consideradacomo ato nulo no caso da ECT,limita-se a restabelecer o contratonas condições anteriores à nulidadeconcretizada.

Sob este ponto de vista, significadizer que os empregados da ECTmantêm-se em igualdade decondições aos demais empregadosdas empresas públicas e sociedadesde economia mista, na medida emque a estabil idade não lhes égarantida, mas, apenas, a proteçãocontra despedida arbitrária, nãoresguardada pela motivação dorespectivo ato administrativo, porparte da ECT.

Ora, basta considerar-se ahipótese de que, uma vezreintegrado, seria possível à ECT,desde que motivadamente, noexercício de seu direito potestativo

de empresa pública e fazendo usoda discricionariedade que reveste osatos administrativos, despedir omesmo empregado, de maneiraperfeitamente regular. Importaconsiderar-se, assim, que aimperiosidade da motivação, pelaECT, do ato de despedir seusempregados reconhecida pelajurisprudência desta Corte nãoimplica a estabilidade deste, mas,apenas, o seu direito de serreintegrado, ante a nulidade do ato.

Este foi o entendimento destaCorte no acórdão do E-ED-RR-587/2002-006-13-00, de relatoria do Min.Vantuil Abdala, publicado no DJ -18.03.2008, ao perfi lhar ofundamento de que - uma vez queconcedidos à ECT os mesmosprivilégios concedidos à FazendaPública, esta deve observar osprincípios constitucionais pertinentesaos atos administrativos. Ainda quenão se reconheça a garantia deemprego prevista na Constituição, oato de despedida do empregado nãoestá livre de motivação, nos termosdo art. 37, da Constituição daRepública. Nestes termos, é de seobservar o item II da Súmula n. 390do TST, ao dispor que ao empregadode empresa pública ou de sociedadede economia mista, ainda queadmitido mediante aprovação emconcurso público, não é garantida aestabilidade prevista no art. 41 daCF/1988.

Vale aqui considerar, não menos,os fundamentos declinados peloTribunal Pleno desta Corte (E-ED-RR- 1138/2003-041-03-00 PUBLICAÇÃO:DJ - 22.02.2008, Rel. Min. AloysioCorrea da Veiga), que, ao apreciarincidente de uniformização dejurisprudência quanto ao tema, assimproferiu ementa:

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INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃODE JURISPRUDÊNCIA.DESPEDIDA IMOTIVADA.POSSIBILIDADE. DEBATESOBRE A INAPLICABILIDADEDA ORIENTAÇÃOJURISPRUDENCIAL N. 247 DASBDI-I À EMPRESA DECORREIOS E TELÉGRAFOS. Aimpossibilidade de demitirimotivadamente empregado deórgãos da administrativa públicadireta alcança a Empresa deCorreios e Telégrafos, na medidaem que o E. STF, em diversosprecedentes, vem assegurando àempresa pública privilégiosinerentes à Fazenda Pública, porse tratar de ...pessoa jurídicaequiparada à Fazenda Pública, queexplora serviço de competênciada União (CF, art. 21, X) . Destemodo, merecendo os Correiostratamento privilegiado emrelação a tributos fiscais, isençãode custas e execução porprecatório, conforme copiosajurisprudência, é de se vincular osseus atos administrativos aosprincípios constitucionais queregem a administração públicadireta, em especial o damotivação quando da despedidade empregado contratado porserviço público. Incidente deUniformização de Jurisprudênciaprovido para atribuir nova redaçãoà Orientação Jurisprudencial 247da C. SDI, excepcionando aEmpresa Brasileira de Correios eTelégrafos - ECT, quanto àpossibilidade de despedidaimotivada de seus empregados,cuja proposta será apresentadapela Comissão de Jurisprudênciada C. Corte a ser submetida àaprovação do Tribunal Pleno.

E ainda, em sua fundamentação:

NATUREZA JURÍDICA DOSCORREIOS - PRIVILÉGIOSCONCEDIDOS À FAZENDAPÚBLICA DECISÃO DO E. STF.

O art. 12 do Decreto-lei n. 509,de 20 de março de 1969, verbis: AECT gozará de isenção de direitosde importação de materiais eequipamentos destinados aos seusserviços, dos privilégios concedidosà Fazenda Pública, quer em relaçãoà imunidade tributária, direta ouindireta, impenhorabilidade de seusbens, rendas e serviços, quer noconcernente a foro, prazos e custasprocessuais.

O Ministro Carlos Velloso, aopacificar a jurisprudência em relaçãoà imunidade tributária e fiscal dosCorreios, ressalta:

EMENTA: IMUNIDADE EISENÇÃO. CONSTITUCIONAL.TRIBUTÁRIO. EMPRESABRASILEIRA DE CORREIOS ETELÉGRAFOS: IMUNIDADETRIBUTÁRIA RECÍPROCA: CF,ART. 150, VI, a. EMPRESAPÚBLICA QUE EXERCEATIVIDADE ECONÔMICA EEMPRESA PÚBLICAPRESTADORA DE SERVIÇOPÚBLICO: DISTINÇÃO. I. Asempresas públicas prestadorasde serviço público distinguem-sedas que exercem atividadeeconômica. A Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos éprestadora de serviço público deprestação obrigatória e exclusivado Estado, motivo por que estáabrangida pela imunidadetributária recíproca: CF, art. 150,VI, a. II. R.E conhecido. Além da

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decisão acima transcrita, ajurisprudência do E. STFreconhece aos Correiosimunidade tributária,impenhorabilidade de seus bens,rendas e serviços, além deprivilégios de foro, prazos ecustas processuais, comuns àFazenda Pública, além dopagamento de débitos,trabalhistas inclusive, por meiode precatórios. A condiçãojurídica das empresas públicase das sociedades de economiamista, não há dúvida, traduz-seem face da própria característicade pessoa jurídica de direitoprivado sob o controle do Estado.Num primeiro momento, tem-seque por expressa estipulação doart. 173, § 1º, II, da Constituição,a necessidade dessas empresasquanto a sujeição ao regimejurídico próprio das empresasprivadas, não só em relação adireitos e obrigações civis, comotambém comerciais, trabalhistase tributárias . Cabe frisar que háclara diferenciação em relação àconstituição do capital daempresa pública e da sociedadede economia mista, resumida nofato de que a lei não admite apresença da iniciativa privada nocapital da empresa pública, masnão há dúvida de que nos doislados há intervenção do Estadono domínio econômico. O quedeterminou o entendimento do E.STF, pela ampla leitura dosdebates, brilhantes, travadospelos Ex.mos Ministros, quando doleading case em que sedeterminou a execução porprecatório aos Correios, foiexatamente o fato de que a ECT,em razão de explorar serviço

postal, nos termos do art. 21, X,da CF, integra o conceito deFazenda Pública. É necessáriotranscrever a importantedistinção do Relator Ex.mo

Ministro Maurício Correia, queconduziu o entendimento damaioria: Assim, a exploração deatividade econômica pela ECT -Empresa Brasileira de Correiose Telégrafos - não importasujeição ao regime jurídico dasempresas privadas, pois suaparticipação neste cenário estáressalvada pela primeira parte doartigo 173 da ConstituiçãoFederal (“Ressalvados os casosprevistos nesta Constituição...”),por se tratar de serviço públicomantido pela União Federal, poisseu orçamento, elaborado deacordo com as diretrizes fixadaspela Lei n. 4.320/64 e com asnormas estabelecidas pela Lei n.9.473/97 (Lei de DiretrizesOrçamentárias), é previamenteaprovado pelo Ministério doPlanejamento e Orçamento -Secretaria de Coordenação eControle das Empresas Estatais,sendo sua receita constituída desubsídio do Tesouro Nacional,conforme extrato do Diário Oficialda União acostado à contracapadestes autos. Logo, sãoimpenhoráveis seus bens porpertencerem à entidade estatalmantenedora. Ante o exposto,tenho como recepcionado oDecreto-lei n. 509/69, queestendeu à Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos osprivilégios conferidos à FazendaPública, dentre eles o daimpenhorabilidade de seus bens,rendas e serviços, devendo aexecução fazer-se mediante

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precatório, sob pena devulneração ao disposto no artigo100 da Constituição de 1988. Porconseguinte, conheço do recursoextraordinário e dou-lheprovimento.

Vê-se, sem dúvida, que seencaminhou no fato de que por nãohaver realização de atividadeeconômica pelos Correios, ele seequipara à Fazenda Pública,inclusive em relação às obrigaçõestrabalhistas. A decisão da CorteMaior, portanto, já acenou pelotratamento privilegiado, incumbindo,agora, saber se esse tratamentoprivilegiado alcança a observânciados princípios relacionados àessencialidade da observância dasformalidades inerentes aos atosadministrativos, a que está vinculadaa Administração Pública.

Além de vinculados à legalidadee à impessoalidade, os atosadministrativos também estãovinculados à moralidade, que, emobservância ao art. 37 da ConstituiçãoFederal, deve incidir sobre todos osatos da Administração Pública. Aoprincípio da publicidade inserido no§1º do art. 37 da Constituição Federal,veio acrescer um princípio maismoderno, o da eficiência, que setraduz na obrigatoriedade de aAdministração Pública buscar omelhor serviço, com menor custo,utilizando-se das ferramentas de quedispõe. Assim, não há dúvida de quesendo investida a Empresa deCorreios e Telégrafos de privilégiosfiscais e tributários, além da execuçãopor precatório, porque consagrada aimpenhorabilidade de seus bens, ajurisprudência sedimentada na CorteSuperior abre um novo debate,relacionado à necessidade de se

vincular o ente público, equiparado àFazenda Pública, à estrita legalidade,moralidade e impessoalidade queregem a Administração Pública.

Assim sendo, em contraponto,deve ser reforçado o objetivo contidona teoria da motivação, quedetermina que a AdministraçãoPública indique as razões dequalquer ato por ela praticado.

O que leva a jurisprudência a seinclinar nesse sentido é apenas etão-somente a solidif icação doentendimento do E. STF de concederprivilégios aos Correios que sãodirecionados apenas a ente público.Realmente, como acenado pelosMinistros daquela Corte, ajurisprudência terminou por criarvazios para se dirimir outrasquestões advindas da decisão, comoa inexistência de orçamento daUnião que pudesse fazer margem aprecatório dos Correios, e queculminou por se resolver com oprecatório informal. O Presidente dosCorreios recebia um Ofício do TRT eprocedia ao lançamento. Acontradição que surgiu, nãoexaminada pelo E. STF na ocasião,diz respeito à jurisprudência do C.TST que possibilita a despedidaimotivada do empregado de empresapública, e que se adequou àjurisprudência do E. STF paraconceder aos Correios privilégiosvinculados à Fazenda Pública, semadmitir que seus empregados nãodetêm a estabil idade dosempregados públicos. A dicotomia notratamento determina ofensa aoprincípio constitucional da igualdade.Os Correios têm a execução doscréditos trabalhistas atrelada aprecatório, mas não dão tratamentoconstitucional, conforme previsto noart. 41 da Constituição Federal, como

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os demais concursados do serviçopúblico, que estão na mesmasituação, tendo suas execuçõestrabalhistas por precatório, mas nãotêm o seu contrato de trabalhoprotegido contra demissão arbitrária.A flagrante contradição exposta tornanecessário revisar a OrientaçãoJurisprudencial 247 da C. SDI, cujanova redação se propõe, com o fimde excetuar os Correios dapossibil idade de despedidaimotivada de seus empregados. AComissão de Jurisprudência desta C.Corte, diante dos precedentescitados, apresentará proposta deredação à OJ 247, para que sejasubmetida ao Tribunal Pleno, nostermos do Regimento Interno destaC. Corte.

Quanto à estabil idade dosempregados dos Correios, todavia,o C. Tribunal Pleno entendeu, porsua maioria, que não é possívelgarantir estabilidade, entendendopela não-aplicação do art. 41 daConstituição Federal àquelesempregados, prevalecendo aredação atual contida no item II daSúmula 390 do C. TST.

Nesses termos é que foiaprovada a revisão da OrientaçãoJurisprudencial 247 da C. SDI, como fim de se garantir plena igualdadede tratamento aos servidorescontratados por serviço público pelaECT e os empregados daAdministração Pública.

Dessa forma, é inevitávelreconhecer a equiparação da ECT àsentidades de direito público para osefeitos da vedação da dispensa deseus empregados estáveis semmotivação.

Nesse sentido é a OrientaçãoJurisprudencial da SBDI-1/TST n.247, item II, a saber:

A validade do ato de despedidado empregado da EmpresaBrasileira de Correios eTelégrafos (ECT) estácondicionada à motivação, porgozar a empresa do mesmotratamento destinado à FazendaPública em relação à imunidadetributária e à execução porprecatório, além dasprerrogativas de foro, prazos ecustas processuais.

Inviável, pois, o recurso derevista, nos termos do § 4º do artigo896 da Consolidação das Leis doTrabalho c/c a Súmula/TST n. 333 ecom a Orientação Jurisprudencial daSBDI-1/TST n. 336, não havendo,portanto, que se falar em violaçãoinfraconstitucional ou mesmo emdivergência jurisprudencial.

Não conheço.Inconformada, a reclamada

interpõe o presente recurso deembargos. Sustenta, em síntese, serplenamente possível a despedidaimotivada de concursado celetista,não se havendo de falar naestabilidade prevista no art. 41 daCarta Magna, sendo indevida areintegração. Aponta violação dosarts. 37, 41 e 173 da Constituição daRepública, contrariedade ao item IIda Súmula n. 390 do TST etranscreve arestos a cotejo.

De acordo com a nova redaçãodo inciso II do art. 894 da CLT,conferida pela Lei n. 11.496, de22.06.2007, vigente a partir do dia24.09.2007, somente são cabíveisembargos quando demonstradadivergência jurisprudencial entreTurmas do Tribunal Superior doTrabalho ou entre essas e a Seçãode Dissídios Individuais.

O presente recurso de embargos

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foi interposto pela reclamada contradecisão publicada no Diário daJustiça já sob a égide da Lei n.11.496/2007.

De pronto, fica afastada averificação da mácula apontada aosdispositivos constitucionais, pois nãoalbergado pelo inciso II do art. 894da CLT o conhecimento do recursode embargos por violação dedispositivo de lei federal e/ou daConstituição.

No recurso de embargos, areclamada insiste em que, naqualidade de empresa pública, podepromover a dispensa imotivada deseus empregados, todavia,reconhece que a OrientaçãoJurisprudencial n. 247 da SBDI-1 doTST, com sua nova redação, exige amotivação da dispensa destes.Contudo, argumenta que, nãoobstante a exigência de motivaçãopara dispensa, os empregados daECT não gozam da estabilidadegarantida no art. 41 da ConstituiçãoFederal, encontrando-se a decisãoda Turma em dissonância com aSúmula n. 390 desta Corte e comjulgados que transcreve para oconfronto de teses. Mesmodestacando que o recurso somentese viabiliza por divergência, tendo emvista sua interposição sob a égide danova redação do art. 894 da CLT,conferida pela Lei n. 11.496/2007,aponta violação dos arts. 37, caput,41 e 173 da Constituição daRepública e contrariedade àOrientação Jurisprudencial n. 247 daSBDI-1 do TST.

A divergência não autoriza oconhecimento de embargos à SBDIlastreado no que se refere aoinconformismo demonstrado comrelação à necessidade de motivaçãoda dispensa, pois, no caso, o recurso

não reúne condições de se viabilizar,por se apresentar a decisãorevisanda em consonância com oitem II da Orientação Jurisprudencialn. 247 da SBDI-1 do TST, cujo teor,conferido pela Resolução n. 143, de13/11/2007, fixou o seguinteposicionamento:

SERVIDOR PÚBLICO -CELETISTA CONCURSADO -DESPEDIDA IMOTIVADA -EMPRESA PÚBLICA OUSOCIEDADE DE ECONOMIAMISTA - POSSIBILIDADE.Inserida em 20.06.2001.I - A despedida de empregadosde empresa pública e desociedade de economia mista,mesmo admitidos por concursopúblico, independe de atomotivado para sua validade;II - A validade do ato dedespedida do empregado daEmpresa Brasileira de Correiose Telégrafos (ECT) estácondicionada à motivação, porgozar a empresa do mesmotratamento destinado à FazendaPública em relação à imunidadetributária e à execução porprecatório, além dasprerrogativas de foro, prazos ecustas processuais.

Assim, superados afiguram-seos julgados trazidos que tratam dotema, sendo incidente a Súmula n.333 desta Corte como óbice aoconhecimento do recurso sob talaspecto.

Com efeito, no caso, a turma, aonão conhecer do recurso de revistada reclamada, manteve acondenação a ela imposta deproceder à reintegração reivindicadae ao pagamento, por considerá-la em

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sintonia com o entendimentopacificado nesta Corte, no sentido deque a Empresa Brasileira de Correiose Telégrafos, beneficiária dasmesmas prerrogativas inerentes àFazenda Pública, em relação àimunidade tributária e à execução porprecatório, além das prerrogativas deforo, prazos e custas processuais,deve arcar também com os encargosdessa condição, dentre os quais ode observar a motivação comorequisito de validade do ato dedispensa de seus empregados.

A reintegração foi determinada,também, com amparo no item II daOrientação Jurisprudencial n. 247 daSBDI-1 do TST, tendo em vista aequiparação da Empresa de Correiose Telégrafos à Fazenda Pública, e,diante da impossibil idade dadispensa sem motivação, aconsequência fica adstrita àdeterminação de reintegração doempregado dispensado sem justacausa. Assim, fica afastada acontrariedade à Súmula n. 390 destaCorte, ante a aplicação específica daorientação jurisprudencial acimaindicada à hipótese dos autos.

Com isso, fica também afastadaa divergência com os arestostranscritos que, por sua vez, nãoapresentam a necessáriaespecificidade com a decisãorecorrida, na medida em que tratamde forma genérica a questão de nãohaver direito à reintegração em casode dispensa sem motivação deempregado de empresa pública, nãoparticularizando a hipótese dosautos, em que o empregado écontratado pela Empresa Brasileirade Correios e Telégrafos, cujotratamento diferenciado o afasta datese geral.

Ante o exposto, não conheço do

recurso, pois não demonstrado o seuenquadramento ao disposto no art.894, inciso II, in fine, da CLT.

Não conheço.

ISTO POSTO,

ACORDAM os Ministros daEgrégia Subseção I da SeçãoEspecializada em DissídiosIndividuais do Tribunal Superior doTrabalho, por unanimidade, nãoconhecer dos embargos.

Brasília, 27 de novembro de2008.

MINISTRO VIEIRA DE MELLOFILHORelator

Logo, não sendo convalidada ajusta causa aplicada ao reclamante, nãomais subsiste a motivação necessáriapara outorgar legalidade à dispensa,conforme pacificado na OrientaçãoJurisprudencial alhures referida,impondo-se declarar a sua nulidade edeterminar a imediata reintegração doobreiro no emprego, nas mesmascondições de trabalho da data dadispensa, sob pena de multa por dia deatraso no cumprimento dessa obrigaçãode fazer de R$100,00, l imitada aR$10.000,00 (aplicação do § 5º do art.461 do CPC), com o consequentepagamento dos salários vencidos evincendos, observando-se, inclusive, aincorporação da gratificação de funçãodeferida, garantidos todos os reajustessalariais e vantagens legais enormativas, incidindo juros, correçãomonetária e os descontos fiscal eprevidenciário já determinados nasentença, devendo a reclamada retificara CTPS para anular o registro do distratoe fazer as anotações cabíveis, restando

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deferidos os pedidos formulados nasletras “B”, “C” e “E” do rol de f. 10.

Por final, sendo determinada areintegração, resta prejudicado o examedas matérias relativas à multa previstano § 8º do art. 477 da CLT, incidênciado percentual de 70% sobre as fériasindenizadas, entrega das guias pararecebimento do seguro-desemprego.

Provejo parcialmente.

6. Honorários assistenciais

Preenchidos os requisitosprevistos na Lei n. 5.584/70 e no item Ida Súmula n. 219 do TST (f. 22 e 405/406), é devido o pagamento doshonorários assistenciais no importe de15% sobre o valor bruto da condenação,conforme deferido à f. 395. Observa-seque o valor líquido a que alude o § 1ºdo art. 11 da Lei n. 1.060/50 diz, naverdade, respeito ao valor liquidado,mesmo porque o dispositivo em questãonão trata e nem poderia tratar dedescontos a título de imposto de rendae contribuição previdenciária, porquantoinexistentes à época de sua edição.Nesse sentido dispõe a recente OJ n.348 da SBDI-I do TST.

Provejo.

ISSO POSTO,

Conheço dos recursos, rejeito aspreliminares de inépcia da inicial ejulgamento extra petita e, no mérito,dou-lhes provimento parcial. Ao doreclamante, para declarar a nulidade dadispensa e determinar a sua imediatareintegração no emprego, nas mesmascondições de trabalho da data dadispensa, sob pena de multa por dia deatraso no cumprimento dessa obrigaçãode fazer de R$100,00, l imitada aR$10.000,00 (aplicação do § 5º do art.461 do CPC), com o consequente

pagamento dos salários vencidos evincendos, observando-se, inclusive, aincorporação da gratificação de funçãodeferida em 1º grau, garantidos todosos reajustes salariais e vantagens legaise normativas, incidindo juros, correçãomonetária e os descontos fiscal eprevidenciário já determinados nasentença, devendo a reclamada retificara CTPS para anular o registro do distratoe fazer as anotações cabíveis. Ao dareclamada, para excluir da condenaçãorelativa ao pagamento da gratificação defunção pelo exercício do cargocomissionado de gerente de agência operíodo compreendido entre 24.09.02 e1º.04.05. Mantenho o valor arbitrado àcondenação, por ainda compatível.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão ordináriada Quinta Turma, julgou o presenteprocesso e, à unanimidade, conheceudos recursos; sem divergência, rejeitouas preliminares de inépcia da inicial ejulgamento extra petita e, no mérito,deu-lhes provimento parcial; ao doreclamante, para declarar a nulidade dadispensa e determinar a sua imediatareintegração no emprego, nas mesmascondições de trabalho da data dadispensa, sob pena de multa por dia deatraso no cumprimento dessa obrigaçãode fazer de R$100,00, l imitada aR$10.000,00 (aplicação do § 5º do art.461 do CPC), com o consequentepagamento dos salários vencidos evincendos, observando-se, inclusive, aincorporação da gratificação de funçãodeferida em 1º grau, garantidos todosos reajustes salariais e vantagens legaise normativas, incidindo juros, correçãomonetária e os descontos fiscal eprevidenciário já determinados nasentença, devendo a reclamada retificar

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a CTPS para anular o registro do distratoe fazer as anotações cabíveis e ao dareclamada, para excluir da condenaçãorelativa ao pagamento da gratificação defunção pelo exercício do cargocomissionado de gerente de agência operíodo compreendido entre 24.09.02 e1º.04.05, mantendo o valor arbitrado àcondenação, por ainda compatível.

Belo Horizonte, 24 de março de2009.

GISELE DE CÁSSIA VIEIRA DIASMACEDO

Juíza Convocada Relatora

TRT-01183-2008-048-03-40-4-APPubl. no “MG” de 11.02.2009

AGRAVANTES: ANTONIO SADI EOUTRA

AGRAVADO: CELIO JOSÉ DA SILVA

EMENTA: FRAUDE DEEXECUÇÃO - INOCORRÊNCIA- AQUISIÇÃO REGULAR DOIMÓVEL BEM ANTES DOMANEJO DA EXECUÇÃOCONTRA OS SÓCIOS DAEMPRESA RECLAMADA -ADQUIRENTES DE BOA-FÉ.Provada pelos terceirosembargantes a regularaquisição de imóvel, que foiobjeto de penhora emexecução trabalhista, atravésde contrato de cessão dedireitos hereditários bem antesdo ajuizamento da açãotrabalhista que deu origem àexecução; e, ainda, queefetivamente o adquiriram dossócios da empresa executada,através de competenteescritura pública de compra e

venda, bem antes que fossemincluídos no polo passivo daexecução trabalhista, éinquestionável a condição deadquirentes e possuidores deboa-fé, de modo a afastar ahipótese de fraude deexecução.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de agravo de petição,originários da Vara do Trabalho deAraxá, em que figuram comoagravantes: ANTONIO SADI E OUTRA;como agravado: CELIO JOSÉ DASILVA, como a seguir se expõe:

RELATÓRIO

Inconformados com a r. decisãode f. 74 que julgou improcedentes osembargos de terceiro, interpõem agravode petição Antonio Sadi e Marília deOliveira Andrade Sadi às f. 75/81,sustentando que adquiriram o imóvelpenhorado em 10.04.2001 conformeinstrumento público de cessão dedireitos hereditários registrado emcartório, não restando evidenciada afraude de execução.

Pedem provimento.Contraminuta às f. 84/93.Dispensada a manifestação da

douta Procuradoria.É o relatório.

VOTO

1 - Admissibilidade

Preliminar de não conhecimentopor inexistência de preparo

Não há que se falar em deserçãodo agravo pelo não-recolhimento dascustas, como alega o exequente em suacontraminuta.

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Os embargos de terceiro, nasistemática processual trabalhista, têmcaráter de ação incidental à execução.É pacífico que, nessa fase processual,as custas não são exigíveis por ocasiãodo recurso (agravo de petição), devendoser suportadas ao final, sempre peloexecutado. Confira-se o tratamento legalda matéria:

Art. 789-A. No processo de execuçãosão devidas custas, sempre deresponsabilidade do executado epagas ao final, de conformidade coma seguinte tabela:[...].(g.n.)

Rejeito.Assim, conheço do agravo,

interposto a tempo e modo, eis quepresentes os pressupostos derecorribilidade.

2 - Mérito

Insurgem-se os agravantescontra a decisão de origem que,declarando a existência de fraude deexecução, deu chancela à penhorarealizada sobre bem imóvel,supostamente de propriedade dossócios da empresa executada.Sustentam que adquiriram dosexecutados o imóvel objeto da penhoraem data anterior ao ajuizamento dareclamatória através de instrumentopúblico de cessão de direitoshereditários, conforme documentos quejuntam com a inicial, e que,posteriormente, vieram a adquiri-lo deforma definitiva através de escriturapública de compra e venda, documentotambém encartado com a inicial.

É fato incontroverso que ademanda principal foi ajuizada em14.08.2001 (f. 20), e que a empresaexecutada é insolvente.

Ocorre que os agravantes,através de instrumento público decessão de direitos hereditários lavradoem cartório em 10 de abril de 2001 (f.13/14), adquiriram o lote 25, da quadra107, do Bairro Estoril, nesta Capital, dossócios da executada, Carlos RobertoLeone e Maria Beatriz Rodrigues PereiraLeone, que eram titulares do direito dedomínio sobre referido imóvel.

Mais adiante, através decompetente instrumento público decompra e venda, os agravantes, em17.06.2003, de forma definitivaadquiriram a posse e o domínio sobre oreferido imóvel.

Assim, ficou comprovado nosautos, seja pela escritura pública decessão de direitos hereditários, sejapela posterior escritura de compra evenda, que os embargantes adquiriramo imóvel, primeiro, em data anterior aoajuizamento da ação trabalhista;segundo, bem antes que os sócios daempresa, antigos proprietários doimóvel, fossem incluídos no polopassivo da execução, o que se deuapenas em 24.09.2004, conformedecisão de f. 67. Daí resulta que estácomprovada nos autos a posse edomínio sobre o imóvel, por parte dosembargantes, de um lado, antes doajuizamento da ação trabalhista que deuorigem à execução; de outro, bem antesque seus sucedidos nos direitos sobreo imóvel fossem incluídos comoexecutados no feito, em razão daexecução frustrada contra a empresaexecutada. Sobram patentes alegitimidade dos direitos de senhores epossuidores do bem e a boa-fé dosadquirentes, bem como qualquertentativa de fraude de execução. Sãoprocedentes os embargos de terceiro.

Não é possível concordar comdecisões que se proferem no âmbito daJustiça do Trabalho em nome de

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proteção de crédito de questionávelfinalidade “alimentar”, que atropelamnegócios jurídicos já há muitoconsolidados e entabulados por agentesde boa-fé, com a utilização do formalistafundamento de que somente com oregistro se opera a efetiva transferênciado bem. Se isso é certo, a verdade éque os embargos de terceiro podem edevem ser manejados pelo senhor epossuidor, e também por adquirente deimóvel que não tem relação comnegócios fraudulentos do devedor.

Sabe-se perfeitamente dadiferença abismal entre as situaçõesjurídicas da fraude contra credores e dafraude de execução, mas também esta,como prelecionam as mais abalizadasdoutrina e jurisprudência sobre amatéria, só se caracteriza quando odevedor dispõe do bem já com o objetivode não cumprir ou não executarobrigações já litispendentes. E esse nãoé o caso dos autos, pois, quando datransação de compra e venda, não sedemonstrou tenha sido essa a intençãodo devedor.

Assim, dou provimento parajulgar insubsistente a penhora de f. 18,referente ao lote número 25, quadra107, localizado na avenida EngenheiroCarlos Goulart, Bairro Estoril.

3 - Conclusão

Pelo exposto, conheço do agravode petição e, no mérito, dou-lheprovimento, para julgar insubsistente apenhora de f. 18, referente ao lotenúmero 25, quadra 107, localizado naavenida Engenheiro Carlos Goulart,Bairro Estoril.

MOTIVOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão da sua

Nona Turma, hoje realizada, analisou opresente processo e, à unanimidade,conheceu do agravo de petição; nomérito, sem divergência, deu-lheprovimento para julgar insubsistente apenhora de f. 18, referente ao lotenúmero 25, quadra 107, localizado naavenida Engenheiro Carlos Goulart,Bairro Estoril.

Belo Horizonte, 03 de fevereirode 2009.

JOÃO BOSCO PINTO LARAJuiz Convocado Relator

TRT-HC-00101-2009-000-03-00-0Publ. no “MG” de 13.03.2009

IMPETRANTE: GILMAR MOREIRA DASILVA (PACIENTE)

IMPETRADO: JUIZ DA 2ª VARA DOTRABALHO DE POÇOS DECALDAS

EMENTA: HABEAS CORPUS -DEPOSITÁRIO INFIEL -PRISÃO -INCONSTITUCIONALIDADE. OExcelso Supremo TribunalFederal alterou suajurisprudência, ao julgar osprocessos HC 87.585/TO(Relator Ministro MarcoAurélio), RE 349.703/RS (Rel.Ministro Gilmar Mendes), RE466.343/SP (Rel. Ministro CezarPeluso) e HC 92.566/SP (Rel.Ministro Marco Aurélio), emsessão realizada aos03.12.2008, cancelando aSúmula n. 619 e firmandoorientação no sentido de quea prisão civil por dívida tornou-se restrita à hipótese deinadimplemento voluntário e

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inescusável de pensãoalimentícia, conforme previstono art. 7º, 7, da ConvençãoAmericana sobre DireitosHumanos, instituída peloPacto de São José da CostaRica, a que o Brasil aderiu em25.09.92, e que goza do status

normativo supralegal (estandoabaixo da Constituição masacima da legislação interna).Entendeu-se que, com ainclusão do referido Pacto noordenamento jurídiconacional, deixaram de existirbalizas visando à eficácia doinciso LXVII do art. 5º daConstituição da República,ficando derrogadas as normaslegais definidoras da custódiado depositário infiel.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de habeas corpus, emque figuram: como impetrante, GILMARMOREIRA DA SILVA (paciente); comoimpetrado, JUIZ DA 2ª VARA DOTRABALHO DE POÇOS DE CALDAS.

RELATÓRIO

Gilmar Moreira da Silva impetrouhabeas corpus preventivo com pedidode liminar contra ato do MM. Juiz da 2ªVara do Trabalho de Poços de Caldas,alegando que foi decretada sua prisãonos autos do processo n. 00210-2008-149-03-00-1, em que foi nomeadodepositário da penhora realizada sobrefaturamento.

Sustentou não restarcaracterizada a condição de depositárioinfiel, com amparo na OrientaçãoJurisprudencial n. 143 da SDI-II doColendo TST, bem como ainconstitucionalidade da prisão civil dodepositário judicial tido por infiel.

Salientou os aspectos nocivos da prisãopor dívida e, ao final, requereu aconcessão de liminar, com expedição desalvo-conduto, de modo a evitar aconcretização da perda da liberdade delocomoção.

A inicial e os documentos de f.07/14 foram apresentados por fac-símile.

Em 03.02.2009, foi deferida aliminar, ad cautelam e sem prejuízo dereexame posterior, conforme despachode f. 15/16.

O impetrante apresentou osoriginais da inicial e documentos que ainstruíram (f. 18/30), além de novascópias extraídas no processo em quefoi cominada a pena de prisão (f. 31/38).

A d. autoridade impetradasustentou que o paciente foi nomeadodepositário e não se opôs; que apenhora sobre faturamento éautorizada, conforme OJ n. 93 da SDI-IIdo TST; que não se trata de faturamentofuturo, mas de depósitos passados evencidos, que já deveriam ter sidoefetuados; e que a prisão do depositárioinfiel encontra amparo no inciso LXVIIdo art. 5º da Constituição da República(f. 39/41 e 54/56). Anexou as peças def. 42/49 (fac-símile) e f. 57/63 (originais).

Houve equívoco nocadastramento do procurador dopaciente, o que foi alegado pela petiçãode f. 50/51 e corrigido, conformedespacho de f. 52/53.

O Ministério Público do Trabalho,em parecer da lavra do Dr. EduardoMaia Botelho, opinou pela concessão dohabeas corpus (f. 64/65).

Tudo visto e examinado.

VOTO

Trata-se de habeas corpus

impetrado com o objetivo de livrar opaciente Gilmar Moreira da Silva,

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executado nos autos do processo n.00210-2008-149-03-00-1, da ameaçade prisão contida no despacho cujacópia encontra-se à f. 33 e quedeterminou a expedição de mandado depenhora sobre seu faturamento brutomensal, limitado a 20%.

A questão da constitucionalidadeda prisão do depositário infiel foi objetode intensos debates no SupremoTribunal Federal, guardião daConstituição da República, no ano de2008.

Em 12.03.2008, o Ministro CezarPeluso, na condição de Relator doprocesso n. RE 562.051-4/MT, entendeuque a questão (também objeto do Proc.n. 466.343-1, cujo julgamento estavaprestes a concluir) transcendia os limitessubjetivos da causa, cuja decisãodeveria revestir-se de repercussãogeral, o que foi acolhido pelo TribunalPleno em 14.04.2008.

Em 03.12.2008 foi realizada asessão plenária que decidiu de formadefinitiva a controvérsia, inclusive como cancelamento da Súmula 619 do STF,cujo conteúdo era o seguinte:

A prisão do depositário judicial podeser decretada no próprio processoem que se constituiu o encargo,independentemente da propositurade ação de depósito.

Nesta data, a Suprema Cortealterou sua jurisprudência, ao julgar osprocessos n. HC 87.585/TO (RelatorMinistro Marco Aurélio), RE 349.703/RS(Rel. Ministro Gilmar Mendes), RE466.343/SP (Rel. Ministro Cezar Peluso)e HC 92.566/SP (Rel. Ministro MarcoAurélio), firmando orientação no sentidode que a prisão civil por dívida tornou-se restrita à hipótese de inadimplementovoluntário e inescusável de pensãoalimentícia.

Conforme informativo n. STF531:

Entendeu-se que a circunstância deo Brasil haver subscrito o Pacto deSão José da Costa Rica, querestringe a prisão civil por dívida aodescumprimento inescusável deprestação alimentícia (art. 7º, 7),conduz à inexistência de balizasvisando à eficácia do que previsto noart. 5º, LXVII, da CF (“não haveráprisão civil por dívida, salvo a doresponsável pelo inadimplementovoluntário e inescusável deobrigação alimentícia e a dodepositário infiel”).Concluiu-se, assim, que, com aintrodução do aludido Pacto noordenamento jurídico nacional,restaram derrogadas as normasestritamente legais definidoras dacustódia do depositário infiel.Prevaleceu, no julgamento, por fim,a tese do status de supralegalidadeda referida Convenção [...].

E diversos são os julgamentosproferidos pelas duas Turmas doExcelso STF no mesmo sentido (mesmoantes da referida sessão de03.12.2008), cabendo registrar, a títuloilustrativo, a ementa extraída dojulgamento ocorrido em 11.11.2008,relativo ao HC 95.967-9/MS, em quefigura como Relatora a Ministra EllenGracie:

DIREITO PROCESSUAL. HABEAS

CORPUS . PRISÃO CIVIL DODEPOSITÁRIO INFIEL. PACTO DESÃO JOSÉ DA COSTA RICA.ALTERAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DAJURISPRUDÊNCIA DO STF.CONCESSÃO DA ORDEM.1. A matéria em julgamento nestehabeas corpus envolve a temática da

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(in)admissibilidade da prisão civil dodepositário infiel no ordenamentojurídico brasileiro no períodoposterior ao ingresso do Pacto deSão José da Costa Rica no direitonacional.2. Há o caráter especial do PactoInternacional dos Direitos CivisPolíticos (art. 11) e da ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos- Pacto de San José da Costa Rica(art. 7º, 7), ratificados, sem reserva,pelo Brasil, no ano de 1992. A essesdiplomas internacionais sobredireitos humanos é reservado olugar específico no ordenamentojurídico, estando abaixo daConstituição, porém acima dalegislação interna. O status

normativo supralegal dos tratadosinternacionais de direitos humanossubscritos pelo Brasi l tornainapl icável a legislaçãoinfraconsti tucional com eleconflitante, seja ela anterior ouposterior ao ato de ratificação.3. Na atualidade a única hipótese deprisão civil, no Direito brasileiro, é ado devedor de alimentos. O art. 5º,§ 2º, da Carta Magna expressamenteestabeleceu que os direitos egarantias expressos no caput domesmo dispositivo não excluemoutros decorrentes do regime dosprincípios por ela adotados, ou dostratados internacionais em que aRepública Federativa do Brasil sejaparte. O Pacto de São José da CostaRica, entendido como um tratadointernacional em matéria de direitoshumanos, expressamente, sóadmite, no seu bojo, a possibilidadede prisão civil do devedor dealimentos e, consequentemente, nãoadmite mais a possibilidade deprisão civil do depositário infiel.4. Habeas corpus concedido.

Vale também transcrever ementaproferida pelo Ministro Celso de Mello,a qual sintetiza voto que resultou deamplo estudo realizado sobre o tema,relativo ao HC 90450/MG julgado emsessão realizada aos 23.09.2008(publicado em 06.02.2009):

EMENTA: HABEAS CORPUS -PRISÃO CIVIL - DEPOSITÁRIOJUDICIAL - A QUESTÃO DAINFIDELIDADE DEPOSITÁRIA -CONVENÇÃO AMERICANA DEDIREITOS HUMANOS (ARTIGO 7º, n.7) - HIERARQUIA CONSTITUCIONALDOS TRATADOS INTERNACIONAISDE DIREITOS HUMANOS - PEDIDODEFERIDO - ILEGITIMIDADEJURÍDICA DA DECRETAÇÃO DAPRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIOINFIEL. Não mais subsiste, no sistemanormativo brasileiro, a prisão civil porinfidelidade depositária,independentemente da modalidadede depósito, trate-se de depósitovoluntário (convencional) ou cuide-sede depósito necessário, como o é odepósito judicial. Precedentes.TRATADOS INTERNACIONAIS DEDIREITOS HUMANOS: AS SUASRELAÇÕES COM O DIREITOINTERNO BRASILEIRO E AQUESTÃO DE SUA POSIÇÃOHIERÁRQUICA. - A ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos(Art. 7º, n. 7). Caráter subordinantedos tratados internacionais emmatéria de direitos humanos e osistema de proteção dos direitosbásicos da pessoa humana. -Relações entre o direito internobrasileiro e as convençõesinternacionais de direitos humanos(CF, art. 5º e §§ 2º e 3º). Precedentes.- Posição hierárquica dos tratadosinternacionais de direitos humanos noordenamento positivo interno do

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Brasil: natureza constitucional oucaráter de supralegalidade? -Entendimento do Relator, Min.CELSO DE MELLO, que atribuihierarquia constitucional àsconvenções internacionais emmatéria de direitos humanos. AINTERPRETAÇÃO JUDICIAL COMOINSTRUMENTO DE MUTAÇÃOINFORMAL DA CONSTITUIÇÃO. - Aquestão dos processos informais demutação constitucional e o papel doPoder Judiciário: a interpretaçãojudicial como instrumentojuridicamente idôneo de mudançainformal da Constituição. Alegitimidade da adequação, medianteinterpretação do Poder Judiciário, daprópria Constituição da República, see quando imperioso compatibilizá-la,mediante exegese atualizadora, comas novas exigências, necessidades etransformações resultantes dosprocessos sociais, econômicos epolíticos que caracterizam, em seusmúltiplos e complexos aspectos, asociedade contemporânea.HERMENÊUTICA E DIREITOSHUMANOS: A NORMA MAISFAVORÁVEL COMO CRITÉRIO QUEDEVE REGER A INTERPRETAÇÃODO PODER JUDICIÁRIO. Osmagistrados e Tribunais, no exercíciode sua atividade interpretativa,especialmente no âmbito dos tratadosinternacionais de direitos humanos,devem observar um princípiohermenêutico básico (tal como aqueleproclamado no Artigo 29 daConvenção Americana de DireitosHumanos), consistente em atribuirprimazia à norma que se revele maisfavorável à pessoa humana, emordem a dispensar-lhe a mais amplaproteção jurídica. - O Poder Judiciário,nesse processo hermenêutico queprestigia o critério da norma mais

favorável (que tanto pode ser aquelaprevista no tratado internacional comoa que se acha positivada no própriodireito interno do Estado), deveráextrair a máxima eficácia dasdeclarações internacionais e dasproclamações constitucionais dedireitos, como forma de viabilizar oacesso dos indivíduos e dos grupossociais, notadamente os maisvulneráveis, a sistemasinstitucionalizados de proteção aosdireitos fundamentais da pessoahumana, sob pena de a liberdade, atolerância e o respeito à alteridadehumana tornarem-se palavras vãs. -Aplicação, ao caso, do Artigo 7º, n. 7,c/c o Artigo 29, ambos da ConvençãoAmericana de Direitos Humanos(Pacto de São José da Costa Rica):um caso típico de primazia da regramais favorável à proteção efetiva doser humano.

A questão já chegou ao ColendoTST, que acatou o novo posicionamentodo STF e deferiu liminar requerida nosautos do HC 202401-2008-000-00-00-6, impetrado como substitutivo derecurso ordinário contra decisão do TRTdesta 3ª Região, o qual havia denegadoa ordem (decisão proferida em10.12.2008, Ministro Relator: EmmanoelPereira).

Também esta Primeira Turma jáse posicionou de acordo com a novaorientação do Supremo TribunalFederal, conforme acórdão 01739-2008-000-03-00-8 HC da lavra do MM. JuizJosé Eduardo de R. Chaves Júnior (pub.em 04.03.2009), cuja ementa tem oseguinte teor:

EMENTA: HABEAS CORPUS -PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIOINFIEL - IMPOSSIBILIDADE. Aadoção da tese da supralegalidade

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dos tratados internacionais sobredireitos humanos provoca umamudança de paradigmas em relaçãoaos padrões ortodoxos clássicos dodireito internacional, porque colocao indivíduo, e não mais o patrimônio,no centro das preocupações doEstado, enquanto agenteresponsável pela tutela esalvaguarda dos direitos humanos eliberdades fundamentais. Por isso, oSTF entendeu não mais ser possívela prisão por dívida, ressalvada ahipótese do devedor voluntário einescusável de alimentos.

Cumpre acrescentar que, nocaso em exame, trata-se de penhorasobre o faturamento bruto do executado,a qual foi determinada antes que talfaturamento estivesse concretizado,tratando-se, pois, de penhora sobrecoisa futura. Nessa hipótese, sequer sepode ter como caracterizada a condiçãode depositário infiel, conformeentendimento consubstanciado naOrientação Jurisprudencial n. 143 daSDI-II do Colendo TST:

HABEAS CORPUS. PENHORASOBRE COISA FUTURA. PRISÃO.DEPOSITÁRIO INFIEL. Não secaracteriza a condição de depositárioinfiel quando a penhora recair sobrecoisa futura e incerta, circunstânciaque, por si só, inviabil iza amaterialização do depósito nomomento da constituição do pacienteem depositário, autorizando-se aconcessão de habeas corpus dianteda prisão ou ameaça de prisão quesofra.

Com esses fundamentos,confirmo a liminar deferida e concedo,em caráter definitivo, a ordem dehabeas corpus.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua PrimeiraTurma, preliminarmente, àunanimidade, conheceu da medidaintentada; no mérito, sem divergência,confirmou a liminar deferida e concedeu,em caráter definitivo, a ordem dehabeas corpus.

Belo Horizonte, 11 de março de2009.

MARIA LAURA FRANCO LIMA DEFARIA

Desembargadora Relatora

TRT-00866-2006-018-03-00-6-ROPubl. no “MG” de 08.06.2009

RECORRENTES: JULIANA BONFIOLIFREIRE (1)ESTRADA VEÍCULOS E PEÇASLTDA. (2)

RECORRIDOS : OS MESMOS

EMENTA: PROVA DIGITAL -GRAVAÇÃO DE CONVERSAPOR UM DOSINTERLOCUTORES - LICITUDE- COMPROVAÇÃO DE ASSÉDIOMORAL. É admissível noProcesso do Trabalho, comomeio de prova válida, agravação de conversa, quandorealizada por um dosinterlocutores, consoanteentendimento dominante najurisprudência. Na espécie, oalegado assédio praticado pelareclamada, quando do retornoda autora ao trabalho após alicença-maternidade, somentepoderia ser provado pelasgravações juntadas aos autos.

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Logicamente, o registro dasreferidas conversas nãopoderia ser feito comautorização prévia dos demaisinterlocutores, pois seriasuperficial, já que osenvolvidos não falariam o querealmente estavam pensando,ou, então, ensaiariam umdiálogo, seja para seprotegerem, ou paradefenderem a autora ou aempresa, configurando aparcialidade. Sendo assim,mostra-se razoável a gravaçãoefetivada pela reclamante,sendo a forma mais viável dedemonstrar suas alegações; aorevés, estaria impedida decomprovar suas pretensões, oque caracterizaria flagrantecerceio ao direito de produçãode provas.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos em epígrafe, DECIDE-SE:

RELATÓRIO

Trata-se de recurso ordináriointerposto pela reclamante às f. 885/894, e pela reclamada, às f. 921/962,em face da v. sentença de f. 877/884,proferida pelo Juízo da 18ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte, que julgouimprocedente o incidente de falsidadesuscitado pela ré e declarou aautenticidade da gravação juntada aosautos como prova; declarou a rescisãoindireta do contrato de trabalho, a partirde 23.08.2006, e julgou parcialmenteprocedentes os pedidos articulados nainicial, concedendo à autora as verbasdiscriminadas à f. 884.

Embargos de declaração aviadospela ré às f. 896/905, parcialmenteprovidos pela decisão de f. 915/917.

Contrarrazões ofertadas às f.902/905 e 968/983.

Dispensado parecer ministerial,nos moldes do inciso II do artigo 82 doRegimento Interno deste Regional.

É o relatório.

VOTO

Conhecimento

Conheço dos recursos, próprios,regulares e tempestivos, bem como dascontrarrazões oferecidas.

Preparo comprovado às f. 919/920.

Inverto a ordem de apreciaçãodos apelos.

Nas matérias comuns, serãoapreciados em conjunto.

Preliminar de negativa deprestação jurisdicional - Reflexos daindenização substitutiva do períodode estabilidade provisória nas demaisverbas trabalhistas

A reclamada aduz que aprestação jurisdicional encontra-seincompleta, tendo em vista que omagistrado primevo não se pronunciouacerca do descabimento de reflexos daindenização substitutiva ao período deestabilidade provisória nas demaisparcelas trabalhistas, quais sejam:gratificação natalina, férias e FGTS +40%. Afirma que essa matéria foisuscitada em embargos declaratórios,não tendo o julgador se manifestado arespeito.

Não lhe assiste razão.Reportando-se à decisão de

embargos declaratórios (f. 915/917),nota-se que, ao contrário daimpugnação patronal, o juiz da Vara deorigem manifestou-se sobre a matériaora suscitada, nos seguintes termos:

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No que tange à alegada omissãorelativamente à indenizaçãoreferente à estabilidade provisória,sana-se o vício para declarar oseguinte: é óbvio que tal indenizaçãotem natureza indenizatória. Na suacomposição, porém, deverão sercomputadas todas as parcelas queseriam devidas à autora no períodode 23.08.06 a 23.10.06, salariais eindenizatórias. (f. 915/916)

Nesses termos, registra-se queo exame das argumentações dademandada pertence ao mérito eacarreta procedência ou improcedênciada pretensão, não implicando, portanto,declaração de nulidade da decisão.

Rejeito.

Preliminar de negativa deprestação jurisdicional - Incidente defalsidade

A ré afirma que, no tocante aoincidente de falsidade, a sentençadeclarou a autenticidade da gravaçãoefetivada quando, conformedemonstram os autos, o objeto doincidente não foi a gravação, mas simos documentos de f. 84/127. Assim,entende que houve evidente omissão dojulgado em examinar a autenticidadedesses, o que, suscitado através deembargos de declaração, não foiaclarado pela respectiva decisão.

Sem-razão.Compulsando-se as razões de

embargos declaratórios (f. 896/905),infere-se que a ré sequer suscitou apresente matéria, o que mostra que asentença, nesse particular, não seencontra omissa, tendo a prestaçãojurisdicional sido completa.

Saliente-se que o incidente defalsidade arguido pela reclamada às f.135/136 consubstanciou-se em

impugnação à transcrição de parte dosdiálogos gravados pela autora em pen

drive (f. 84/127), ao argumento de quehouve cancelamentos, o que teriaalterado o sentido das conversas.Pleiteou realização de perícia paraciência do real conteúdo da provagravada em formato digital e certificaçãoquanto à veracidade da transcriçãodessa gravação pela autora.

Conforme se denota da provatécnica (f. 531/653), o perito judicialtranscreveu de forma completa asconversas gravadas pela obreira, tendoesclarecido, em relação a partes dodiálogo dessa gravação, transcritos pelareclamante às f. 84/127, que “houve aabreviação ou o resumo de algunstrechos transcritos pela reclamante emrelação àqueles transcritos por esteperito, mas que não ocorreu a alteraçãoou substituição de palavras ditas pelosinterlocutores” (f. 865). Ou seja, restouclaro que a autora não adulterou partesdas conversas reproduzidas na petiçãoimpugnada pela demandada.

Destarte, se o próprio perito, queé expert no assunto, declarou que tevedificuldades para fazer as transcrições,em face da baixa qualidade dasgravações, tendo sido “necessária aoitiva dos trechos por diversas vezes atéque os diálogos pudessem serefetivamente digitados, tendo sidoutilizados equipamentos profissionais dereprodução de áudio, o que aprimoroua qualidade dos sons e auxiliou ostrabalhos periciais” (f. 862), não é crívelque se exigisse que a reclamante, quenão detém conhecimentos técnicos ecientíficos para proceder à corretatranscrição das gravações efetuadas,reproduzisse os diálogos na íntegra.Ademais, trata-se de extensa gravação,tendo o experto esclarecido que “foramnecessárias 6 (seis) horas de audiçãopara cada 1 (uma) hora de gravação

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contida nos arquivos de pen drive” (f.535).

Veja-se que o incidente defalsidade não se refere, na verdade,somente à mencionada transcrição feitapela autora, mas, sim, confunde-se como próprio conteúdo armazenadodigitalmente, que foi fielmentereproduzido pelo perito. Portanto, aindaque fosse constatada adulteração napetição de f. 84/127 (o que não ocorreu,como já explicitado), a prova técnicatraria a realidade aos autos.

Sendo assim, a irresignaçãorecursal mostra-se irrelevante,inexistindo nulidade a ser declarada.

Rejeito.

Preliminar de negativa deprestação jurisdicional - Licitude daprova digital

A reclamada aduz que asentença embargada deixou deexaminar a arguição de violação dodisposto nos incisos X e LVI do artigo5º da CR/88 e artigo 322 do CPC,apresentada após o conhecimento dointeiro teor do pen drive. Asseverou,naquele momento, que a gravação deconversas por parte da autora foi obtidade forma ilícita, sem o consentimentodos interlocutores, tendo sidodirecionada para os próprios interessesda obreira.

Sem-razão.Não se há falar em omissão da

decisão primeva, tendo em vista que aré não arguiu a ilicitude da gravação nadefesa (f. 135/178), que seria omomento adequado para esse fim. Veioa contestar a constitucionalidade daprova digital somente na impugnação àprova técnica (f. 663), quando jáconfigurada a preclusão. E nem se digaque somente nesta fase teve ciênciasobre a forma como se deu a gravação,

pois, desde o momento em que a autorareproduziu parte do diálogo gravado, areclamada já tinha conhecimento do tipode prova que havia sido produzida.

Veja-se que a situação de ciêncianão se modificou após a confecção dolaudo pericial, que somente confirmoua veracidade do conteúdo dos diálogose os reproduziu na integralidade. Ouseja, após a produção do laudoinexistiram novas informações sobre ascircunstâncias em que se deram asgravações. Portanto, a alegaçãopatronal de que só naquele momentopoderia arguir a ilicitude cai por terra.

Por outro lado, há de se salientarque o artigo 5º da CR/88, em seusincisos X e XII, garante a inviolabilidadeda intimidade e da vida privada daspessoas, bem como o sigilo dacorrespondência e das comunicaçõestelegráficas, de dados e dascomunicações telefônicas, salvo, noúltimo caso, por ordem judicial, nashipóteses e na forma que a leiestabelecer para fins de investigaçãocriminal ou instrução processual penal.Quer dizer, em regra, a violação do sigilodas comunicações sem a autorizaçãodos interlocutores é proibida.

Entretanto, necessária a devidadistinção entre a gravação obtida porinterceptação da conversação alheia -essa considerada ato ilegal e abusivo,e, portanto, meio ilícito de prova - doregistro de conversa própria. A gravaçãode conversa, quando realizada por umdos interlocutores, é admissível noProcesso do Trabalho como meio deprova válida, porque não afronta ainviolabilidade e a vida privada,revelando lícito exercício do direito dedefesa.

Na espécie, o alegado assédiopraticado pela reclamada, quando doretorno da autora ao trabalho após alicença-maternidade, somente poderia

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ser provado pelas gravações juntadasaos autos. Logicamente, o registro dasreferidas conversas não poderia ser feitocom autorização prévia dos demaisinterlocutores, pois seria superficial, jáque os envolvidos não falariam o querealmente estavam pensando, ou,então, ensaiariam um diálogo, seja parase protegerem, ou para defenderem aautora ou a empresa, configurando aparcialidade.

Sendo assim, mostra-serazoável a gravação efetivada pelareclamante, sendo a forma mais viávelde demonstrar suas alegações; aorevés, estaria impedida de comprovarsuas pretensões, o que caracterizariaflagrante cerceio ao direito de produçãode provas.

Nesse sentido, diversasjurisprudências deste Regional, do TSTe STF reiteram a licitude da gravaçãode conversa feita por um dosinterlocutores, como se constata dastranscrições a seguir:

EMENTA: COMUNICAÇÃOTELEFÔNICA - INTERCEPTAÇÃO -VIOLAÇÃO DO SIGILO - MEIO DEPROVA INADMISSÍVEL NOPROCESSO DO TRABALHO -EXCEÇÃO. Nos termos dos artigos818 da CLT e 333, I, do CPC, competeao Autor a demonstração daocorrência dos fatos controvertidos,que dão origem ao direitoreivindicado. [...] No contexto daressalva contida na parte final doinciso XII, assim como no art. 1º, daLei n. 9.296/96, combinados com oart. 332, do CPC, não se afigurapossível a interceptação telefônicapara outros fins - inclusive trabalhistas- que não os previstosexpressamente: investigação criminale instrução processual penal. Assim,seja na origem, seja por derivação de

investigação criminal, eventualinterceptação não pode perpassaraquela seara, posto que, embora aárvore não esteja contaminada, osseus frutos estariam. Todavia, emalguns casos, diferentemente dainterceptação, a gravaçãoclandestina, que é a gravação deconversação diretamente por um dosinterlocutores, partícipe da conversa,deve ser admitida. Se não houver aparticipação ou a interceptação deterceiro, ainda que com oconhecimento de apenas um dosinterlocutores, a ilicitude sedespotencializa, porque é o própriointerlocutor gravando diretamenteconversa da qual é agente. Apesar debastante restritiva, essa exceção deveser admitida, pois várias empresas jáadotam esse método, apesar dacomunicação ao interlocutor que aconversa está sendo gravada.(Quarta Turma, 00035-2008-077-03-00-3 RO, Relator: DesembargadorLuiz Otávio Linhares Renault,publicado em 08.07.2008)

EMENTA: MANDADO DESEGURANÇA - DEFERIMENTO DEPROVA - TRANSCRIÇÃO DEGRAVAÇÃO DE CONVERSA FEITAPOR UM DOS INTERLOCUTORES -LICITUDE. Conforme estabelece o art.131 do CPC, cabe ao juiz, verificandoa pertinência, a adequação e alegitimidade da prova, decidir sobre anecessidade de sua produção para aformação de sua convicção pessoalacerca da lide. Assim, não fere direitolíquido e certo dos réus o ato judicialque determina a transcrição, por umperito, de fita magnética contendogravação telefônica feita por um dosinterlocutores da conversa, figuranteno polo passivo da relação processual.Na espécie, não se verifica a violação

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a princípio legal sobre prova, conformejurisprudência firmada pelo STF.(1ª Seção Espec. de DissídiosIndividuais, 01068-2006-000-03-00-3 MS, Relatora: Juíza ConvocadaAdriana Goulart de Sena, publicadoem 24.11.2006)

EMENTA: GRAVAÇÃO TELEFÔNICA.A aceitação no processo Judiciário doTrabalho, de gravação de diálogotelefônico mantido pelas partes eoferecida por uma delas, como provapara elucidação de fatoscontrovertidos em juízo, não afrontasuposto direito líquido e certo da outraparte, a inviolabilidade do sigilo dascomunicações telefônicas, porqueessa garantia se dá em relação aterceiros e não aos interlocutores.Recurso ordinário a que se negaprovimento, para ser confirmado oacórdão regional, que negou asegurança requerida.(TST-SDI-I ROMS n. 11134/90,Relator: MINISTRO ERMES PEDROPEDRASSANI, decidido em17.09.1991, publicado no DJ de27.09.1991, PG 13394)

EMENTA: CONSTITUCIONAL -PENAL - GRAVAÇÃO DECONVERSA FEITA POR UM DOSINTERLOCUTORES - LICITUDE -PREQUESTIONAMENTO - SÚMULA282-STF - PROVA - REEXAME EMRECURSO EXTRAORDINÁRIO -IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 279-STF. I. - A gravação de conversa entredois interlocutores, feita por um deles,sem conhecimento do outro, com afinalidade de documentá-la,futuramente, em caso de negativa,nada tem de ilícita, principalmentequando constitui exercício de defesa.II. - Existência, nos autos, de provasoutras não obtidas mediante

gravação de conversa ou quebra desigilo bancário. III. - A questão relativaàs provas ilícitas por derivação - the

fruits of the poisonous tree - não foiobjeto de debate e decisão, assimnão prequestionada. Incidência daSúmula 282-STF. IV. - A apreciaçãodo RE, no caso, não prescindiria doreexame do conjunto fático-probatório, o que não é possível emrecurso extraordinário. Súmula 279-STF. V. - Agravo não provido.(AI-AgR 503617/PR. Relator: Min.Carlos Velloso, Julgamento:01.02.2005, Segunda Turma,publicação: DJ 04.03.2005)

Portanto, rejeita-se.

Mérito

Rescisão indireta - Assédiomoral - Danos morais

A reclamada aduz que as faltasempresariais apontadas pelo juízoprimevo como justificadoras da rescisãoindireta, ainda que existentes, não serevestem da gravidade necessária quedemande a ruptura de um contrato detrabalho com supedâneo no artigo 483da CLT.

Alega que a reclamante foi lotadaem outra sala, totalmente equipada,apenas em virtude de ampla reformaque se encontrava em andamento nasdependências da ré. Assevera que aSra. Sílvia foi contratada na qualidadede supervisora de recursos humanos,cujas atividades nunca foram realizadaspela demandante, o que demonstra queaquela não foi admitida para realizar asmesmas tarefas desta. Assim, concluique a autora não foi rebaixada defunção, tampouco sofreu qualqueralteração lesiva em seu contrato detrabalho.

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Afirma que a alegação exordialde que não foram passadas atividadesà reclamante, após o retorno da licença-maternidade, sequer foi demonstrada.

Pretende, enfim, que sejajulgado improcedente o pedido derescisão indireta e, consequentemente,seja declarado o abandono de empregoou, em última instância, a ruptura docontrato por pedido de demissão.

Por outro lado, a reclamadaassevera que também não foicaracterizado o assédio moral queserviu de base para o deferimento deindenização por danos morais,inexistindo prova da alegadaociosidade, constrangimento ou coaçãopor parte da reclamada.

Sem-razão.Na peça de ingresso, a

reclamante relatou que, desde queentrou de licença-maternidade, veiosofrendo pressão psicológica,humilhação e desrespeito por parte daempregadora, sendo resumidos daseguinte forma: houve pedido pelogerente para que participasse deprocesso seletivo no Hospital da Baleia;o gerente informou que já havia outrapessoa em seu lugar e que nãoretornasse mais à empresa; no retornoao trabalho havia outra funcionária denome Sílvia em seu lugar, laborando emsua sala; seus pertences pessoais e detrabalho estavam acondicionados emduas caixas de papelão dentro da salade treinamento; foi transferida para outrasala provisória, sem que lhe fossempassadas atividades específicas; foi-lhesugerido que fizesse acordo paradispensa, abrindo mão de verbastrabalhistas.

A defesa, por sua vez, asseverouque a reclamante é que não estava maisinteressada na manutenção do emprego,chegando até mesmo a pleitear umavaga em outra empresa do grupo sem o

conhecimento de seus superioreshierárquicos. Impugnou todas asalegações exordiais, aduzindo que aautora jamais foi submetida a qualquercalvário, nem humilhação por parte deseus prepostos, tendo a empresa sidoaté mesmo condescendente, pois,quando do retorno da licença-maternidade, ela apresentou diversosatestados particulares, não lhe tendo sidodescontado um dia sequer de trabalhoou aplicada qualquer punição. Afirmouque a autora começou a criar umasituação de assédio moral no ambientede trabalho a tal ponto que surgiu aproposta de rescisão do contrato sempagamento do aviso prévio, o que foirecusado pela empregada. Negouqualquer conduta abusiva contra aempregada e argumentou as mesmasteses aduzidas nas razões recursais.Contou que a reclamante, após o retorno,não mais compareceu regularmente àempresa, como nos dias de jogos doBrasil durante a copa do mundo. Assim,ela foi advertida por escrito em28.07.2006, tendo sido enviadotelegrama solicitando seu retorno. Diantedisso, sugeriu declaração de abandonodo emprego, ou ruptura do contrato porpedido de demissão.

Examina-se.A rescisão indireta do contrato de

trabalho merece aplicação cautelosa,preservando-se o vínculo de emprego,quando ocorrerem faltas patronais demenor monta e passíveis derecomposição.

De conformidade com o dispostono art. 483 da CLT, o empregado poderáconsiderar rescindido seu contrato detrabalho e pleitear a respectivaindenização quando o empregadorincorrer em uma das faltas ali previstas.No entanto, por considerar falta graveimputada ao empregador, necessárioque se comprove a gravidade do fato

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por este praticado, de maneira que setorne impossível ou desaconselhável acontinuidade do vínculo empregatício.

Logo, a fim de se caracterizar arescisão indireta do contrato de trabalho,as faltas patronais devem decorrer deatos dolosos do empregador, devendo,também, revestirem-se de naturezagrave para inviabilizar a manutenção dovínculo laboral, visto que os atospassíveis de correção judicial nãoautorizam o reconhecimento da rescisãoindireta, que pressupõe a demonstraçãode gravame por parte do empregador,suficiente para tornar insustentável amanutenção do vínculo laboral.

A exemplo da justa causa, a faltado empregador a ensejar a rescisãoindireta prevista na alínea “d” do artigo483 da CLT deve ser grave a ponto dese incompatibilizar com a continuidadeda relação de emprego, pois, em direito,há isonomia de tratamento e os mesmosrequisitos exigidos do empregador paraacatamento de uma falta graveconfiguradora de justa causa para adispensa dentre as previstas no artigo482 da CLT são também exigidos doempregado, quando queira enquadrara conduta patronal nas hipóteses doartigo 483.

Assim, o Direito do Trabalhodistingue-se por empenhar-se pelacontinuidade do vínculo empregatício,decorrente do princípio da preservaçãoda relação laboral.

Todavia, a situação concreta quese evidenciou nestes autos não deixoudúvida de que a manutenção do contratode trabalho seria impossível, tendo sidodemonstrados atos gravosos por parteda reclamada que justif icam amanutenção da rescisão indiretareconhecida em primeira instância.

Restou incontroverso nos autosque a reclamante esteve de licença-maternidade e que, no retorno de suas

atividades laborais, ao se deparar comsituações imprevistas e novo ambientede trabalho, as relações dela com seussuperiores hierárquicos tornaram-setensas.

O exame da instruçãoprocessual permite aferir que ademandante, antes da licença-maternidade, exercia cargo decoordenadora de RH, com diversasatribuições e também comsubordinados. Ao retornar da referidalicença, deparou-se com uma realidadecompletamente diferente, desde oambiente físico até a forma comopassou a ser tratada, bem como asatribuições que deixaram de serrepassadas a ela.

Seus pertences pessoaisestavam guardados em duas caixas depapelão dentro da sala de treinamento,o que foi confirmado pela reclamada(vide fotos às f. 45/46, não impugnadas).Havia outra funcionária laborando emsua sala, de nome Sílvia, que era novana empresa, e que assumiu cargotambém novo, denominado supervisorade RH que, dentre várias outrasfunções, passou a exercer as tarefas daautora. Esta ficou completamentedeslocada, tendo sido lotada em umasala improvisada, junto aoDepartamento de Vendas para Frotistas,sem qualquer privacidade, já que o localera utilizado pelos funcionários devendas para frotistas (vide fotos à f. 48,não impugnadas pela ré).

Com efeito, a testemunhaindicada pela reclamada, a Srª LilianFátima Gaia, declarou que

[...] a depoente estava subordinadaà reclamante que era coordenadorade RH; que Sílvia Cristiane foiadmitida em fevereiro/2006, quandoa reclamante estava usufruindo delicença-maternidade para exercer o

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cargo de supervisora de RH, cargoinexistente antes na empresa; queSílvia Cristiane ocupou a sala que aautora ocupava anteriormentequando era coordenadora; que,como ia haver uma reforma no andardo RH, Sílvia Cristiane ocupou a salaque a reclamante ocupava antes dalicença-maternidade comocoordenadora de RH e a autora foipara o andar de baixo [...] que aautora, como coordenadora,anteriormente só efetuava a logísticadas atividades supramencionadas;que a reclamante ficou subordinadaà Sílvia, assim como a depoente,porque Sílvia reformulou todos osprocessos do RH [...]. (f. 855)

A testemunha ouvida a rogo dareclamante, através de carta precatória,o Sr. Pedro Ladeira Neto, informou que

[...] prestou serviços para areclamada, tendo trabalhado com areclamante entre 2005 e 2006; que,quando o depoente deixou o serviço,a reclamante permaneceutrabalhando, em sua função deencarregada de RH; que, nesseperíodo, a reclamante se afastou dosserviços para gozar de licença-maternidade; que, quando retornouao trabalho, a reclamante verificouque havia outra pessoa trabalhandoem seu lugar; que, a partir de então,o depoente permaneceu na empresapor aproximadamente 2 meses; quea reclamante foi colocada em outrasala, em um setor relacionado avendas diretas, sem que, no entanto,a mesma tivesse qualquer atividadeespecífica [...]. (f. 850)

A reclamante foi forçada a umasituação de ociosidade, não lhe tendosido definidas funções a serem

cumpridas, ou seja, não tinha maisatividade específica para desenvolver.Assim passou a solicitar,constantemente, à Sílvia, tarefas aserem realizadas, no que não foiatendida, pois a nova funcionária sequersabia quais atividades poderiam serentregues a ela. Nesse diapasão, aautora, sem funções, sem sala, e semprestígio, passou a perambular peloscorredores da empresa, à espera dealguma utilidade.

Isso é que se infere claramenteda reprodução das gravaçõesrealizadas pelo perito judicial, como sedenota dos seguintes trechos:

Conversas entre Sílvia ereclamante:

11: Sílvia. É. Tudo bom? Tem algumacoisa para eu fazer?18: Por enquanto eu ainda não deiuma olhada não. Deixa eu só daruma olhada aqui e aí eu te falo. Aindanão conversei com a Lílian aindanão. Quando eu cheguei ela tavafazendo uma admissão. Deixa euconversar com ela e vê aqui asminhas coisas.11: Tá. Esse aí é treinamento que tátendo é de que?[...]18: Comunicação aplicada aotrabalho.11: Eu não vou ter...pra nenhumdeles, não?18: Por enquanto não. Que a gentetá mexendo com um monte de coisasaqui e aí eu verifico pra você pratentar te incluir em algum. (f. 691)

13: [...] o Zé Paulo me falou que nãotenho te passado nada, então euquero registrar isso tudo pra falar queeu estou passando sim, porque táacontecendo isso tudo, né.[...]

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13: [...] Então eu vou passar, queroregistrar, quero que vocês duasanotem pra depois num falar que, praeu num ser chamada a atençãofalando que eu num tô passando,então eu tô falando, eu vou querermostrar o que tá sendo feito, e voucobrar também, então, já que é praser assim, uma coisa certa pra todosos lados, então vou fazer também aminha parte. (f. 593)

O intuito de levar a reclamanteao ostracismo, e o total descaso com amesma já vinha sendo construído desdeo início da gravidez; é o que se denotada afirmação aposta em defesa nosentido que “a autora, desde o início dasua gravidez, já não estava conseguindodesenvolver todas as atividadespróprias do seu cargo” (f. 144).

Resta evidente a alteraçãounilateral lesiva do contrato de trabalhoda autora, que passou a não ter maisfunção específica, sendo que as novascondições de trabalho que lhe foramimpostas trouxeram prejuízos, o que évedado pelo ordenamento jurídico(artigos 9º e 468, ambos da CLT). Aempregadora abusou do seu poderdiretivo, extrapolando os limites legais,agindo arbitrariamente. As alegadasfaltas ao trabalho, justificadas pela autoraatravés de atestados médicos (f. 61/62e f. 64) e as faltas esporádicas em diasde jogo do Brasil na copa do mundo sãoinsuficientes para configuração dadesídia, que acarretaria a justa causapretendida pela ré em reconvenção.Coerente, portanto, a capitulação pelojuízo de origem da justa causa cometidapela empregadora como sendo a previstana alínea “d” do artigo 483 da CLT.

Porém, não é só.A reclamada não só agiu

arbitrariamente, como praticouverdadeiro assédio moral contra a

autora, no intuito de forçá-la a pedirdemissão, ou fazer acordo abrindo mãodo aviso prévio no valor de R$1.500,00,através da assinatura de vale no valorequivalente (conforme documento à f.51, não impugnado pela demandada),o que demonstra também aimpossibilidade de continuidade dovínculo e a conduta antijurídica dolosapatronal. A própria defesa confessa essaatitude, sob alegação de que a obreiraera detentora de estabilidade provisóriapor ser membro da CIPA e já iria receberindenização correspondente a trêssalários (defesa, f. 141).

Veja-se que o assédio moral,também conhecido como psicoterrorlaboral ou mobbing, consiste emcomportamento arbitrário, abominável ereprimido pelo ordenamento jurídico eimplica a existência de ação reiterada,insistente, prolongada no tempo,traduzida em ataques repetidos evexatórios para a vítima, oudiscriminatórios e constrangedores, ouseja, resumindo, um verdadeiro“terrorismo” psicológico, mas com oobjetivo, ainda que velado, dedesestruturar a vítima, desestabilizá-la,para, no fundo, forçar-lhe a vontade,como, por exemplo, para levá-la a pedirdemissão, transferência, remoção,aposentadoria precoce etc.

Assim, tende a acarretar dano àdignidade ou à integridade física oupsíquica do trabalhador, causando adegradação do meio ambiente detrabalho.

Conforme a melhor doutrina, sãocaracterísticas do assédio moral: a) aabusividade da conduta; b) a naturezapsicológica do atentado à dignidadepsíquica do indivíduo; c) a reiteração daconduta; d) a finalidade de exclusão.

Vale acrescentar que, sendoinegável o valor social do trabalho(princípio fundamental da República

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Federativa do Brasil, conforme inciso IVdo artigo 1º da CF/88), qualquer fato queconduza à diminuição da sua utilidadepara o ser humano implica frustração,angústia e ansiedade. Por outro lado,tanto a higidez física como a mental,inclusive emocional, do ser humano sãobens fundamentais de sua vida, privadae pública, de sua intimidade, de suaautoestima e afirmação social e, nessamedida, também de sua honra. Sãobens, portanto, inquestionavelmentetutelados, regra geral, pela Constituição(artigo 5º, V e X). Assim, agredidos emface de circunstâncias laborativas,passam a merecer tutela ainda maisforte e específica da Carta Magna.

A pressão e coação para que areclamante fizesse acordo de rescisãocontratual, abrindo mão da quantia deR$1.500,00 equivalente ao aviso prévio,foi comprovada pelos diálogos gravadospela obreira, como se denota de trechostranscritos a seguir.

Conversa entre reclamante e ofuncionário José Paulo:

11: Am ham. Tá. A primeira vez quea gente conversou você me mostrouas contas, né?119: As contas, tudo mais.11: Tinha aquela questão do vale.119; Que eu até expliquei prá você:olha, Juliana, o Luiz está te fazendouma proposta. Não concordou...nãode você estar pedindo mais um avisode cerca de R$1.500,00 e tal. Tábatendo isso aqui, você teria queassinar um vale. Tô batendo arescisão, porque já está teindenizando os outros meses. Táachando que não seria viável pagarmais e tal, foi isso mesmo que tefalei, não foi?11: Foi. Você falou assim: ou vocêaceita dessa forma, aqui, NÉ, essascontas ou então.

119: Isso, isso.11: Ou então você fica aí até outubroe depois, NÉ?119: Essa foi a nossa primeiraconversa.11: Exatamente. Aí, você saiu deférias, tudo bem.119: Não, mas nós voltamos depois.Aí você pegou aquelas cópias darescisão, levou prá um advogado. Eleolhou, analisou...11: Ele falou que os cálculos estavamcorretos. A única coisa que nãoestava correta era aquela questão dovale, que era de direito meu me daraquele aviso prévio. Ok.11: Ok. Aí você até falou que o Luiz,que você tinha tentado com elevárias vezes, e ele tinha batido o pé,que não aceitava, que não queria.119: E disse que se você briga eletambém briga. (f. 704)

119: Então, o Ju, eu vou falar comvocê o mesmo conselho que te dei.Conselho se fosse bom, a gente nãodava. A gente vendia, né? Naprimeira conversa nossa, que nóstivemos, naquela vez, oh Juliana, euacho que deveria chegar na Strada,fazer um acordo...eu não esperavajamais a coisa chegar numaproporção desse tamanho.[...]119: Principalmente, Jú, se vai brigar,você sabe como é que é. Tá brigandocom uma pessoa. Nós somospequenos, a empresa é grande. Tácerto. Então, você quer brigar, vaibrigar é quatro anos, três anos,entendeu? Então são coisas assim.Ah. Eu vou receber todos os meusdireitos, vou receber mais isso, maisaquilo, vou reclamar mais isso, maisaquilo, então fazer o seguinte, vairecorrendo, vai enrolando, vairecorrendo, vai enrolando. Então eu

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acho, Jú, que não é vantagem pravocê brigar por isso. Você tem queentender minha opinião. Você távendo que a empresa se propôs apagar o que tem que pagar. Se eufosse você, eu punha a mão nessedinheiro. Isso é opinião minha. JoséPaulo. Põe a mão nesse dinheiro. Tôfalando pela Strada, por mim e porvocê. Se eu fosse você eu punha amão nesse dinheiro. (f. 715)

Por todo o exposto, e pelaconstatação de que a reclamante sofreuconstrangimentos em seu ambiente detrabalho, e esteve sujeita a atosantijurídicos dolosos e gravespraticados pelos prepostos da ré, aponto de serem justif icadores darescisão indireta mantida nestainstância revisora, mormente a pressãopsicológica para se demitir, configurado,claramente, o assédio moral ao qualesteve sujeita. E esse, obviamente,causou danos morais à obreira,abalando sua dignidade, causando-lhetranstornos emocionais e repercussõeslesivas no âmbito profissional e pessoal,pelo que plenamente cabível aindenização por danos moraisconcedida na origem.

Dessa forma, não há nada aprover.

Quantificação dos danosmorais / matéria comum a amboslitigantes

A reclamada discorda doquantum indenizatório a título de danosmorais no importe de R$50.000,00,aduzindo que o respectivo valor deveser calculado com base na últimaremuneração e de acordo com aduração do contrato de trabalho e,consequentemente, jamais poderáultrapassar a quantia de R$5.000,00.

A reclamante, por sua vez,pleiteia majoração do valor daindenização em tela, ao argumento deque a quantia arbitrada não alcançou onecessário e indispensável caráterpedagógico que deve revestir taisindenizações.

Com razão, em parte, areclamada.

A “quantificação” do dano moralsofrido por alguém é sempre uma árduatarefa que se afigura aos magistrados.É necessário ter em mente a sua função“educadora/corretiva”, imposta aoofensor, no sentido de evitar que novosdanos se concretizem. Por outro lado,na visão do ofendido, é impossível quese estabeleça uma compensaçãoaritmética, ou matematicamentemensurável. O que se busca é tão-somente uma contrapartida ao malsofrido, daí denominar-se“compensação por danos morais”.

A fixação dessa “compensação”deve levar em conta, ainda, o grau deculpa do empregador, a gravidade dosefeitos do dano, a situação econômicadas partes, além da função acimacitada.

Sopesando todos esses fatores,dá-se provimento parcial ao recurso daré para reduzir a indenização por danosmorais para a importância deR$35.000,00.

Limite da condenação

A reclamada pretende que todae qualquer parcela deferida à autora,seja a título salarial ou a título deindenização, fique restrita ao períodoposterior à data da propositura dademanda, qual seja, 23.08.2006, emvirtude da inércia da demandante nabusca da prestação jurisdicional.

Não há interesse recursal, tendoem vista que a rescisão indireta do

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contrato de trabalho considerou a datade propositura da ação, qual seja,23.08.2006, erro material devidamenteretificado pela decisão de embargosdeclaratórios (f. 915/917).

Nada a prover.

Indenização pelo período deestabilidade - Reflexos emgratificação natalina, férias e fundode garantia

A ré alega que não se há falarem incidência da indenização peloperíodo de estabilidade em gratificaçãonatalina, férias e FGTS, pois acondenação, nesse particular, teveapenas caráter indenizatório, sendoindevidas as repercussões deferidas nasentença.

Em relação às férias, acentuaque tal pedido atrai o disposto no incisoIII do artigo 133 da CLT.

Sem-razão.A sentença combatida, ao

declarar a rescisão indireta do contratode trabalho, concedeu à autoraindenização pelo período deestabilidade provisória como membro daCIPA. Em decisão de embargosdeclaratórios, esclareceu que “é óbvioque tal indenização tem naturezaindenizatória. Na sua composição,porém, deverão ser computadas todasas parcelas que seriam devidas à autorano período de 23.08.06 a 23.10.06,salariais e indenizatórias” (f. 915/916).

Portanto, não se trata dereflexos, mas de pagamento dasparcelas devidas no período.

Nada a prover.

Honorários periciais -Quantum

Por fim, a reclamada impugna ovalor arbitrado a título de honorários

periciais no importe de R$6.000,00, namedida em que o perito não executounenhum trabalho complexo. Afirma queé de conhecimento de quem éfamiliarizado com as novas técnicas deinformática que, no caso, o peritoapenas liga dois computadores, lado alado, sendo um deles para a reproduçãodos arquivos de áudio, e o outro, para aefetiva transcrição dos diálogos.

Com razão.Considerando o princípio da

razoabilidade e os valores normalmentearbitrados nesta Especializada ao títuloem comento, bem como o efetivotrabalho realizado pelo perito judicial, éforçoso concluir que os honoráriospericiais foram excessivos, devendo serreduzidos. Assim, dá-se provimento aorecurso da ré para fixar os respectivoshonorários em R$3.000,00.

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão da suaSexta Turma, hoje realizada, àunanimidade, conheceu dos recursos,sem divergência, rejeitou aspreliminares eriçadas; no mérito, semdivergência, negou provimento aorecurso da reclamante, e deu parcialprovimento ao recurso da reclamadapara reduzir a indenização a título dedanos morais, fixando-a emR$35.000,00, e também reduzir oshonorários periciais, arbitrando-os emR$3.000,00. Arbitrou a condenação emR$45.000,00, com custas, pela ré, noimporte de R$900,00.

Belo Horizonte, 25 de maio de2009.

JORGE BERG DE MENDONÇADesembargador Relator