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Inquérito n. 2013.070730-0, da Capital Relator: Desa. Substituta Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer INQUÉRITO POLICIAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. PREFEITO MUNICIPAL. COMPETÊNCIA DAS CÂMARAS CRIMINAIS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRIMES PREVISTOS NO ARTIGO 316 DO CÓDIGO PENAL C/C ART. 1º, INCISO I, DO DECRETO-LEI 201/67. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA E MATERIALIDADE QUE POSSIBILITAM, EM COGNIÇÃO SUMÁRIA, O RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA. REGULAR DESCRIÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DOS FATOS CRIMINOSOS. TIPICIDADE DOS FATOS. PRESENÇA DE JUSTA CAUSA. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ARTIGO 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DENÚNCIA RECEBIDA. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Inquérito n. 2013.070730-0, da comarca da Capital (Tribunal de Justiça), em que é indiciado Ademir José Gasparini: A Segunda Câmara Criminal decidiu, por unanimidade, receber a denúncia. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado nesta data, a Exma. Sra. Desembargadora Salete Silva Sommariva (Presidente), e o Exmo. Sr. Desembargador Sérgio Rizelo. Florianópolis, 06 de maio de 2014. Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer RELATORA

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Acórdão do TJSC que recebe denúncia contra prefeito por recusar-se a atender requisições do Ministério Público

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Page 1: Acórdão do TJSC que recebe denúncia contra prefeito por recusar-se a atender requisições do Ministério Público

Inquérito n. 2013.070730-0, da CapitalRelator: Desa. Substituta Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer

INQUÉRITO POLICIAL. FORO POR PRERROGATIVA DEFUNÇÃO. PREFEITO MUNICIPAL. COMPETÊNCIA DASCÂMARAS CRIMINAIS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRIMESPREVISTOS NO ARTIGO 316 DO CÓDIGO PENAL C/C ART. 1º,INCISO I, DO DECRETO-LEI 201/67. INDÍCIOS SUFICIENTES DEAUTORIA E MATERIALIDADE QUE POSSIBILITAM, EMCOGNIÇÃO SUMÁRIA, O RECEBIMENTO DA PEÇAACUSATÓRIA. REGULAR DESCRIÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIASDOS FATOS CRIMINOSOS. TIPICIDADE DOS FATOS.PRESENÇA DE JUSTA CAUSA. PREENCHIMENTO DOSREQUISITOS DO ARTIGO 41 DO CÓDIGO DE PROCESSOPENAL. DENÚNCIA RECEBIDA.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Inquérito n. 2013.070730-0, dacomarca da Capital (Tribunal de Justiça), em que é indiciado Ademir José Gasparini:

A Segunda Câmara Criminal decidiu, por unanimidade, receber a denúncia.Custas legais.

Participaram do julgamento, realizado nesta data, a Exma. Sra.Desembargadora Salete Silva Sommariva (Presidente), e o Exmo. Sr. DesembargadorSérgio Rizelo.

Florianópolis, 06 de maio de 2014.

Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt SchaeferRELATORA

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RELATÓRIO

ADEMIR JOSÉ GASPARINI, brasileiro, atual Prefeito Municipal deXanxerê/SC, nascido em 20.11.1958, natural de Xaxim/SC, residente na Rua JoãoFernandes Vieira 745, Aparecida, Xanxerê, foi denunciado como incurso nas sanções doartigo 10 da Lei 7.347/85 c/c artigo 69 do Código Penal, por duas vezes, em razão dosfatos abaixos descritos:

1 - Na condição de Prefeito Municipal do Município de Xanxerê, odenunciado recusou-se a encaminhar informações e dados técnicos indispensáveis àpropositura de uma ação civil pública, embora tenha sido requisitado pelo MinistérioPúblico do Estado de Santa Catarina;

2 - narra a denúncia que a 2a. Promotoria de Justiça da Comarca deXanxerê abriu Procedimento de Investigação Criminal - PIC - de número06.2013.00007458-7, o qual foi transformado em Inquérito Civil de nº06.2013.00003293-1, com a finalidade de investigar supostas irregularidades naconstrução de casas populares, as quais, sem razão aparente acabaram incendiando-sepor aparente descumprimento de normas de segurança;

3 - em 19 de março de 2013 foi requisitado à Prefeitura Municipal, cópiados alvarás de construção ou habite-se das residências em questão para que fosseaferida a regularidade das construções e a necessidade de atuação na eventuallegalização da área, buscando, principalmente, evitar novos acidentes (ou atécatástrofes) no mesmo local;

4 - não obstante a gravidade dos fatos e a reiteração do pedido em 29 deabril de 2013, através do ofício de fl. 11v juntado ao procedimento 06.2013.00007458-7,até a instauração do Procedimento de Investigação Criminal _PIC - não houve respostaao órgão de execução do Ministério Público;

5 - o mesmo ocorreu em relação ao Procedimento de Investigação Criminal- PIC nº 06.2013.00008350-9, também instaurado a partir da notícia de fato encaminhadopela 2a. Promotoria de Justiça da Comarca de Xanxerê, onde informa que ocorreu ainstauração de Inquérito Civil Público de nº 06.2013.00004222-9, versando sobre aexistência de construções irregulares em área de preservação permanente;

6 - neste último caso, o representante do Ministério Público concedeu aospoluidores o prazo de 60 (sessenta) dias para a regularização de seus imóveis einformou tal fato ao denunciado, requisitando que o processo fosse acompanhado pelaPrefeitura Municipal, a fim de que as medidas administrativas cabíveis fossem tomadas,abrindo então prazo para apresentação de relatório de atividades;

7 - o referido relatório era imprescindível para o desenvolvimento dainvestigação civil, uma vez que sem as informações acerca da regularização daspropriedades ou da iniciativa da administração para tanto, não teria o Ministério Públicoelementos para agir diretamente sobre o caso concreto, inviabilizando a propositura da

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Ação Civil Pública e dando azo a continuidade do dano ambiental;8 - mesmo tendo sido deferido a prorrogação do prazo para apresentação

do relatório, quando já passados 4 (quatro) meses da primeira requisição, foi reiterado oofício original por meio do ofício nº 564/2013 de 03 de junho de 2013, com asadvertências legais em razão de seu descumprimento;

9 - mais uma vez, o ora denunciado não atendeu a referida requisição,oferecendo ao caso um atraso superior a 130 dias, chegando a resposta aoconhecimento da Promotoria de Justiça somente após a instauração de procedimento deinvestigação criminal nº 06.2013.00008350-9;

10 - a ausência desses elementos impossibilitou o Promotor de Justiça comatuação no caso de compreender integralmente a situação de fato, sem que pudesse,com isso, procurar as melhores formas e pedidos para resolução dos problemas eresponsabilização dos envolvidos, seja de forma administrativa ou judicial, obstruindo ainstrução dos Inquéritos Civis n° 06.2013.00003293-1 e 06.2013.00004222-9 edificultando a regularização dos atos sabidamente ilegais praticados no âmbito daPrefeitura Municipal de Xanxerê.

Em decorrência destes fatos o acusado foi denunciado como incurso nassanções do artigo 10 da Lei nº 7.347/85 c/c artigo 69 do Código Penal.

Apresentada justificativa para a ausência de proposta de SuspensãoCondicional do Processo (fls. VI,VII).

Acompanha a denúncia Procedimento de Investigação Criminal.Em decisão exarada à fl. 178 foi determinada a notificação do acusado, o

que restou cumprida à fl. 188O acusado apresentou defesa preliminar, através de defensor constituído

(fls. 192/200) alegando em preliminar a incompetência do Ministério Público parapromover investigações criminais ocasionando a nulidade da denúncia.

No que tange ao mérito, alegou que a requisição formulada pela 2a.Promotoria de Justiça da Comarca foi regularmente atendida, sendo que em nenhummomento houve a recusa para o fornecimento de qualquer documento, informação ouprática de ação solicitada pelo Ministério Público, tendo ocorrido em alguns casos, oatraso na resposta dos ofícios encaminhados, em razão da indisponibilidade ouinsuficiência de servidores e excesso de demandas.

Reafirma a não ocorrência de má-fé e sim a impossibilidade imediata decumprimento do solicitado diante da existência de vários Termos de Ajustes de Condutaspendentes de cumprimento

Requereu o recebimento da defesa preliminar com a extinção do processo,acolhendo-se a preliminar suscitada ou mesmo as alegações referentes ao mérito.

Juntou documentos (fls. 201/350).O Órgão do Ministério Público, Dr. Durval da Silva Amorim, apresentou

manifestação em relação aos documentos juntados (fls. 356/369) aduzindo em apertada

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síntese:1 - Em relação a legitimidade dos membros do Ministério Público para

presidir procedimentos investigatórios, a fim de obter esclarecimentos necessários àapuração de infrações penais e com a finalidade de formar a sua convicção, é assentena jurisprudência pátria a sua competência;

2 - no tocante ao mérito, diz que os documentos juntados com a defesa sãoos mesmos que instruem o inquérito civil e os únicos novos são os referentes àsrespostas tardias da municipalidade aos ofícios emitidos pela 2a. Promotoria de Justiçada Comarca de Xanxerê e posteriores ao andamento dos inquéritos civis;

3 - nenhum documento apresentado invalida o conteúdo e a procedência daexordial acusatória e, consequentemente, não excluem a ilicitude das condutasimputadas ao denunciado;

4 - a inexistência de dolo é matéria referente ao mérito da demanda, a qualdeverá ser oportunamente analisada.

Requereu o recebimento da denúncia.

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Este é o relatório.

VOTOO feito encontra-se em fase de recebimento ou não da denúncia

apresentada.Especificamente sobre o recebimento ou a rejeição da denúncia, o

Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a decisão colegiada deveráanalisar o preenchimento dos requisitos exigidos pelos artigos 41 e 395, ambos doCódigo de Processo Penal, mediante cognição sumária dos fatos, conforme constantenas jurisprudências abaixo transcritas:

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"INQUÉRITO. APURAÇÃO DE CRIME COMETIDO POR PARLAMENTAR. ART.1, I, DO DECRETO-LEI 201/67. DELITO PRATICADO POR PREFEITO MUNICIPAL.JUSTA CAUSA PRESENTE. DOLO EVIDENCIADO. DENÚNCIA RECEBIDA. O juízoexercido no momento do recebimento da denúncia é de cognição meramente sumária,devendo-se ter cautela para "não rejeitar a acusação como se estivesse decidindodefinitivamente sobre o mérito da causa." (MARQUES, José Frederico. Elementos deDireito Processual Penal, V. II. Ed. Rio de Janeiro, Forense, 1965, p. 164 e168). A justacausa é constatada pela presença de lastro probatório mínimo a embasar a peçaacusatória, a fim de que não se submeta alguém a julgamento público ante umadenúncia sem qualquer fundamento, exonerando o parquet da produção de prova plenasobre os fatos narrados na exordial acusatória, (...) Denúncia recebida, nos termos doart. 7 da Lei 8.038/90". (Inq. N 2.588, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, j em25.08.2013).

"PENAL E PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO. PARLAMENTAR FEDERAL.DENÚNCIA OFERECIDA. ARTIGOS 89, CAPUT E 90 DA LEI 8.606/93 E ART. 1,INCISOS II E XIV DO DL 201/67, ARTIGO 41 DO CPP. INDÍCIOS DE AUTORIA EMATERIALIDADE DELITIVA. CONFORMIDADE ENTRE OS FATOS DESCRITOS NAEXORDIAL ACUSATÓRIA E O TIPO PREVISTO NO ART. 90 DA LEI 8.666/93.PRESENÇA DE JUSTA CAUSA. PECULATO DE USO (ART. 1, II, DO DL 201/67).AUSÊNCIA DE ADEQUAÇÃO TÍPICA. CORREÇÃO DA CAPITULAÇÃOEMPREENDIDA NA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE. NEGATIVA DE EXECUÇÃO DELEI (ART. 1, XIV, DO DL 201/67). CONSUNÇÃO RECONHECIDA. MANIFESTAAUSÊNCIA DE ADEQUAÇÃO TÍPICA QUANTO AO CRIME DO ART. 89 DA LEI8.666/93. RECEBIMENTO PARCIAL DA DENÚNCIA. A questão submetida ao presentejulgamento diz respeito à existência de substrato probatório mínimo que autorize adeflagração da ação penal contra o denunciado, levando em consideração opreenchimento dos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, não incidindoqualquer uma das hipóteses do art. 395 do mesmo diploma legal. A denúncia somentepode ser rejeitada quando a imputação se referir a fato atípico, certo e delimitado,apreciável desde logo, sem necessidade de produção de qualquer meio de prova, eisque o juízo acerca da correspondência do fato à norma jurídica é de cognição imediata,incidente, partindo-se do pressuposto de sua veracidade, tal como se dá na peçaacusatória (...) Denúncia recebida em parte." (Inq. 3108, Rel. Min. Dias Toffoli, TribunalPleno, j. Em 15.12.2011).

Analisando a denúncia de forma pormenorizada, verifica-se que a mesmapreenche os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, pois descreveminuciosamente a conduta do acusado e os crimes, em tese, por ele perpetrado,observando-se a presença do dolo, embora em sua forma genérica.

As condições da ação, requisito indispensável para o recebimento dadenúncia também se fazem presentes, eis que há possibilidade jurídica do pedido, umavez que a imputação lançada ao acusado é considerada como fato criminoso, a teor do

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contido no artigo 43, I, do CPP.O interesse de agir está evidenciado na necessidade da existência do

devido processo legal para se apurar os fatos apontados na denúncia, assim como aadequação, já que se trata de ação penal pública incondicionada, a qual é pertinente,nos moldes procedimentais eleitos pelo Código de Processo Penal, além da existênciade prova pré-constituída.

Há legitimidade da parte nos dois pólos da demanda, além de legitimidadepara a causa e para o processo, o que nos remete à existência das condições deprocedibilidade.

Cabe gizar que essa análise não implica em um juízo indevido deantecipação de mérito, mas tão somente o cumprimento no disposto no artigo 93, IX, daConstituição Federal, que exige do Poder Judiciário a fundamentação de todas as suasdecisões.

Em relação aos indícios de materialidade e autoria necessários, para nesseprimeiro momento, dar-se início a uma ação penal cabe registrar que restou a primeiravista demonstrado nos autos, que o denunciado apenas apresentou os documentosrequisitados pela 2a. Promotora de Justiça da Comarca de Xanxerê quando dainstauração dos Procedimentos Investigatórios Criminais, caracterizando, a princípio, otipo penal previsto no art. 10 da Lei 7.347/85 por duas vezes e levando, emconsequência, o atraso de quase 4 meses nas investigações.

Observa-se que o tipo penal em comento além de descrever a conduta derecusa, também descreve a de retardamento e omissão de dados técnicos, o que semostra pertinente no caso em concreto (retardamento).

Por outro lado, a ocorrência ou não de dolo por parte do denunciado ésituação que se confunde com o mérito da demanda, não podendo neste momentoprocessual ser decidida.

Já em relação a preliminar de nulidade da denúncia, diante da ilegitimidadedo Ministério Público comandar investigação criminal, cabe de plano ser rechaçada.

É remansosa a jurisprudência no sentido de que o Ministério Público detémcompetência para realizar investigações de fatos considerados criminosos.

HABEAS CORPUS - ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA - INOCORRÊNCIA- OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS FIXADOS PELO ART. 41 DO CPP - PEÇAACUSATÓRIA QUE ATENDE, PLENAMENTE, ÀS EXIGÊNCIAS LEGAIS - FALTA DEJUSTA CAUSA - NECESSIDADE DE INDAGAÇÃO PROBATÓRIA - INVIABILIDADE NAVIA SUMARÍSSIMA DO -HABEAS CORPUS- - RECEBIMENTO DE DENÚNCIA -AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO - ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 93, IX, DACONSTITUIÇÃO - INOCORRÊNCIA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DO PODERINVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - JURISPRUDÊNCIA (SEGUNDATURMA DO STF) - INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL - RECURSO DEAGRAVO IMPROVIDO. (HC 107066 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda

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Turma, julgado em 12/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-233 DIVULG26-11-2013 PUBLIC 27-11-2013)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CRIMINAL.HOMICÍDIO QUALIFICADO. ARTIGOS 121, § 2º, I E II, C/C 29 E 62, I, TODOS DOCÓDIGO PENAL. COMPROVAÇÃO DE AUTORIA E MATERIALIDADE. PRELIMINARFORMAL DE REPERCUSSÃO GERAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ARTIGO543-A, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL C.C. ART. 327, § 1º, DO RISTF. 1. Arepercussão geral como novel requisito constitucional de admissibilidade do recursoextraordinário demanda que o reclamante demonstre, fundamentadamente, que aindignação extrema encarta questões relevantes do ponto de vista econômico, político,social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos da causa (artigo 543-A, § 2º,do Código de Processo Civil, introduzido pela Lei n. 11.418/06, verbis: O recorrentedeverá demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação exclusiva do SupremoTribunal Federal, a existência de repercussão geral). 2. A jurisprudência do Supremotem-se alinhado no sentido de ser necessário que o recorrente demonstre a existênciade repercussão geral nos termos previstos em lei, conforme assentado no julgamento doAI n. 797.515 - AgR, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Dje de28.02.11: -EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO RELATIVA ÀPRELIMINAR DE EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIACONSTITUCIONAL INVOCADA NO RECURSO. INTIMAÇÃO DO ACÓRDÃORECORRIDO POSTERIOR A 03.05.2007. De acordo com a orientação firmada nesteTribunal, é insuficiente a simples alegação de que a matéria em debate no recursoextraordinário tem repercussão geral. Cabe à parte recorrente demonstrar de formaexpressa e clara as circunstâncias que poderiam configurar a relevância - do ponto devista econômico, político, social ou jurídico - das questões constitucionais invocadas norecurso extraordinário. A deficiência na fundamentação inviabiliza o recurso interposto-.3. O momento processual oportuno para a demonstração das questões relevantes doponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interessessubjetivos das partes é em tópico exclusivo, devidamente fundamentado, no recursoextraordinário, e não nas razões do agravo regimental, como deseja a recorrente. Incide,aqui, o óbice da preclusão consumativa. 4. In casu, o acórdão recorrido assentou:-RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA. PRELIMINARES.Preliminar de inépcia da denúncia insubsistente, porque nela arrolada as infraçõespenais, com a indicação dos fatos pertinentes. Preliminar de nulidade absolutadecorrente de dispensa de testemunha sem anuência da defesa. Inteligência do artigo404 do CPP: -As partes poderão desistir do depoimento de qualquer das testemunhasarroladas, ou deixar de arrolá-las, se considerarem suficientes as provas que possamser ou tenham sido produzidas, ressalvado o disposto no art. 209. Nulidade das provascolhidas pelo Ministério Público. O Ministério Público, conforme preceitua o artigo 129,IX, da Constituição Federal, e as Leis números 75/90 e 8625/03, tem legitimidade parapromover investigações visando à formação da -opinio delicti-. Preliminar decerceamento de defesa. Inocorrência. Inteligência do artigo 407 do Código de Processo

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Penal: -Decorridos os prazos de que trata o artigo anterior, os autos serão enviados,dentro de 48 (quarenta e oito) horas, ao presidente do Tribunal do Júri, que poderáordenar as diligências necessárias para sanar qualquer inquirição de testemunhas (Art.209), e proferirá sentença, na forma dos artigos seguintes-. Não há nulidade porcerceamento de defesa, quando o Magistrado, ao formar sua convicção quanto àmaterialidade do fato e autoria do delito, considera suficientes as provas colhidasdurante a instrução. PRELIMINARES REJEITADAS. 3. MATERIALIDADE DO FATOCOMPROVADA. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. A pronúncia é juízo deadmissibilidade acusatório, logo, após a instrução penal criminal, se existiremelementos, mesmo indiciários, a apontar a autoria, provada substancialmente aexistência do crime, cabe ao Juiz remeter a acusação a exame dos Jurados.PRONÚNCIA MANTIDA. 5. RECURSO IMPROVIDO.- 5. Agravo regimental nãoprovido.(AI 856553 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em19/03/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-068 DIVULG 12-04-2013 PUBLIC15-04-2013).

Assim, diante da comprovação do cumprimento de todos os requisitosexigidos para o recebimento da denúncia e o afastamento da preliminar arguida, outrocaminho não resta a não ser recebê-la e instaurar a competente ação penal.

Para ilustrar cita-se jurisprudências pertinentes ao caso:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE PRATICADO PORPREFEITO MUNICIPAL. UTILIZAÇÃO, INDEVIDA, EM PROVEITO PRÓPRIO DERENDAS E SERVIÇOS PÚBLICOS. ART. 1º, II, DO DECRETO-LEI 201/67.PUBLICAÇÕES EM INFORMATIVO MUNICIPAL QUE AUTO-PROMOVIAM O AGENTEPÚBLICO. PRELIMINARES. OFENSA AO ART. 129 DA CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO CONDUZIRINVESTIGAÇÃO CRIMINAL. QUESTÃO AMPLAMENTE DEBATIDA NOS TRIBUNAISSUPERIORES. ATUAL ENTENDIMENTO PELA POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃOPELO PARQUET NOS CASOS DE CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.ENTENDIMENTOS DO STF, STJ E DESTA EGRÉGIA CORTE. PREFACIALAFASTADA. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 29, V, DA LEI N. 8.625/93.ALEGAÇÃO DE QUE SOMENTE O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇACOMPETENTE PARA OFERECIMENTO DE DENÚNCIA NESTE CASO. NÃOACOLHIMENTO. PORTARIA DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA QUEDELEGOU A PROCURADORA DE JUSTIÇA PARA EXERCER AS SUAS FUNÇÕESTOCANTE AO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE QUALQUERIRREGULARIDADE. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE NÃO COMPROVAÇÃO DAMATERIALIDADE DO CRIME, ATIPICIDADE DA CONDUTA, INEXISTÊNCIA DOCRIME E AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DOLO E DA PARTICIPAÇÃO DOACUSADO. TESES RECHAÇADAS. RÉU QUE SE UTILIZAVA DE RENDA PÚBLICAPARA FAZER CONSTAR PUBLICAÇÕES E FOTOGRAFIAS QUE O PROMOVIAMCOMO PREFEITO EM INFORMATIVO MUNICIPAL E JORNAL LOCAL. NEGATIVA DEAUTORIA NÃO DEVIDAMENTE COMPROVADA. DIRETOR DE UM DOS JORNAIS

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QUE AFIRMOU, COM VEEMÊNCIA, NAS DUAS FASES, QUE CONTRATOUSERVIÇOS COM A ASSESSORIA DE IMPRENSA DA PREFEITURA. ADEMAIS, FOISOLICITADO QUE ASSINASSE DOCUMENTO DANDO CONTA DO RECEBIMENTODO DINHEIRO EM NOME DE TERCEIRO, NA TENTATIVA DE EVITAR FUTURACONDENAÇÃO DO ACUSADO. SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE DEVE SERMANTIDA. DOSIMETRIA. PEDIDO PELA FIXAÇÃO DA PENA NO MÍNIMO LEGAL.AFASTAMENTO DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS RELATIVAS A CULPABILIDADE,CONDUTA SOCIAL E PERSONALIDADE DO AGENTE. CULPABILIDADE NORMAL AESPÉCIE. AÇÕES PENAIS EM ANDAMENTO QUE NÃO PODEM SERVIR PARAELEVAÇÃO DA PENA-BASE (SÚMULA 444 DO STJ). AUSÊNCIA DE LAUDOPERICIAL E DEMAIS ELEMENTOS PARA AUFERIR A PERSONALIDADE DOACUSADO. MANUTENÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. PENA-BASEMINORADA. CRIME COMETIDO EM CONTINUIDADE DELITIVA. PUBLICAÇÃO DASMATÉRIAS DE AUTOPROMOÇÃO POR VINTE E UMA VEZES. MANUTENÇÃO DOREGIME INICIAL NO SEMIABERTO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC,Apelação Criminal n. 2012.032332-1, de Itapema, rel. Des. Cinthia Beatriz da SilvaBittencourt Schaefer, j. 12-12-2013).

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DA LEI 8.666/95 E QUADRILHAOU BANDO. (1) UTILIZAÇÃO DO WRIT SUBSTITUTIVO QUANDO POSSÍVEL AINTERPOSIÇÃO DO RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL, OU, MESMO, ORECURSO ESPECIAL, DADO O JULGAMENTO DA APELAÇÃO. (2) MINISTÉRIOPÚBLICO. PODERES INVESTIGATÓRIOS. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. (A) VIOLAÇÃODO ATO NORMATIVO 314-PGJ/CPJ E DA RESOLUÇÃO 13 DO CONSELHONACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIPLOMAS POSTERIORES AOPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO ADVERSADO. ILICITUDE. NÃO OCORRÊNCIA.(3) AUSÊNCIA DE ELEMENTOS MÍNIMOS A SUPORTAR O RECEBIMENTO DADENÚNCIA. ACÓRDÃO HOSTILIZADO QUE APONTA A NECESSIDADE DESIGNIFICATIVO APROFUNDAMENTO NA PROVA. ILEGALIDADE NÃORECONHECIDA. (4) INÉPCIA FORMAL. DESCRIÇÃO SUCINTA, MAS SUFICIENTE.AMPLA DEFESA. VIOLAÇÃO. AUSÊNCIA. 1. Segundo a compreensão do PretórioExcelso (HC 109956, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em07/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC11-09-2012), sufragada por esta Corte, é imperioso prestigiar-se o emprego do recursoordinário constitucional, em vez do habeas corpus substitutivo, que somente seráconhecido em casos de patente ilegalidade, o que não se verifica na hipótese. 2. Acompreensão firmada no seio desta Corte é que não há ilegalidade na investigaçãocriminal encetada pelo Ministério Público (ressalva de entendimento da relatora).Ademais, da alegação de impropriedade da investigação criminal empreendida peloParquet, não há falar em violação do ato normativo 314-PGJ/CPJ e da Resolução 13 doConselho Nacional do Ministério Público, diplomas posteriores ao procedimentoadministrativo adversado. 3. Não se mostra ilegal o acórdão que, diante da necessidadede revolvimento de material fático-probatório, denega a ordem no atinente à ausência desuporte probatório mínimo para o recebimento da denúncia. Precedentes. 4. A denúncia

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que, mesmo sucinta, descreve a conduta do paciente, no contexto de suposta quadrilhavoltada à prática de crimes contra a Administração Pública, não agride o princípio daampla defesa. É evidente que ninguém pode ser responsabilizado pelo que é, mas, sim,pelo que faz - prevalência do direito penal fato sobre o do autor. Na espécie, o Parquetnão acusou o paciente simplesmente de ser amigo do falecido ex-Prefeito de SantoAndré. Antes, narrou que, em razão de tal proximidade, teria, em tese, logradoengendrar um esquema de manipulação de licitações. Como "eminência parda", teriacoordenado a disposição das peças de um amplo tabuleiro de xadrez delitivo. Adenúncia, em suas 44 laudas, desnuda o indigitado esquema, desde a fase dainabilitação dos concorrentes da sociedade PROJEÇÃO, até a lavratura de aditamentosilegais que teriam levado à contratação de tal pessoa jurídica, que conduziu àdesvantagem para a Administração de mais de cinco milhões de reais. 5. Ordem nãoconhecida. (HC 127.667/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,SEXTA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 12/12/2012).

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PREFEITO MUNICIPAL. CRIMEPREVISTO NO DECRETO-LEI N.º 201/67. AFASTAMENTO CAUTELAR DO CARGO.ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. LEGALIDADEDEMONSTRADA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A decisão que determina oafastamento do Prefeito de seu cargo deve ser concretamente fundamentada, a teor doart. 2º, II, do Decreto-Lei n.º 201/67, já que não é conseqüência obrigatória dorecebimento da denúncia. Precedentes desta Corte. 2. No caso, restou justificado, comdados válidos e concretos do processo, a necessidade do afastamento da Paciente,vislumbrando-se, dessa forma, a legalidade na imposição da medida. 3. Quanto àalegação de nulidade do afastamento pelo fato de um dos corréus ser deputado federal,o que tornaria o Supremo Tribunal Federal competente para processar a ação penal,verifica-se que o STF "declinou da competência e encaminhou o processo ao Tribunalde Justiça do Estado do Rio de Janeiro, uma vez que o acusado Charles Cozzolino,eleito Deputado Federal para a 53.ª legislatura, na condição de suplente, não estáinvestido da função parlamentar".4. Habeas corpus denegado. (HC 181.536/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTATURMA, julgado em 02/08/2012, DJe 13/08/2012).

HABEAS CORPUS. PREFEITO MUNICIPAL. DISPENSA IRREGULAR DELICITAÇÃO.SESSÃO DE JULGAMENTO PARA RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.AUSÊNCIA DO NOME DO ADVOGADO DO PACIENTE NA ATA DE PUBLICAÇÃO DAPAUTA. DETERMINAÇÃO DE NOVA INCLUSÃO DO FEITO EM PAUTA PARADELIBERAÇÃO ACERCA DA NULIDADE ABSOLUTA DO JULGAMENTO, QUECULMINOU COM O NOVO RECEBIMENTO IMEDIATO DA DENÚNCIA. SURPRESAPARA A DEFESA. RECONHECIMENTO DA NULIDADE. FALTA, ADEMAIS, DEINTIMAÇÃO PESSOAL DO ACUSADO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA.PRECEDENTES DO STJ. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM.ORDEM CONCEDIDA PARA ANULAR O ACÓRDÃO DE RECEBIMENTO DA PEÇAACUSATÓRIA, DETERMINANDO A CORRETA INTIMAÇÃO DO PACIENTE

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(PESSOALMENTE) E DOS SEUS DEFENSORES, PARA A REALIZAÇÃO DE NOVASESSÃO DE JULGAMENTO. 1. No caso concreto, a primeira sessão convocada paradeliberar sobre o recebimento da denúncia é nula porque ausente o nome do Advogadoconstituído do paciente na pauta da sessão de julgamento. Alertado o Tribunal Estadualdessa circunstância por meio de petição, o Relator chamou o feito à ordem e solicitounova inclusão do feito em pauta para decidir acerca da nulidade absoluta do julgamentorealizado que recebeu a denúncia contra o denunciado, ocasião em que, mais do queafastar ou convalidar a nulidade arguida anteriormente, houve, novamente, orecebimento da denúncia. 2. A forma como redigida a determinação constante doreferido despacho do Relator da Ação Penal originária deixa dúvida quanto à sua realfinalidade - se apenas para decidir acerca da nulidade absoluta do julgamento realizadoanteriormente - ou também para ratificar ou reapreciar a denúncia ofertada, com aretificação da publicação. 3. Dentro desse contexto, é entendível a perplexidade dadefesa, que se viu novamente impedida de participar adequadamente dos debates emPlenário, porque é certo que a publicação da primeira pauta omitiu o nome do Defensorconstituído do acusado, razão porque é inválida; assim, esta circunstância já seriasuficiente para o acolhimento da presente impetração. 4. Ademais, esta Corte possuientendimento de que implica nulidade absoluta, por cerceamento de defesa, arealização de sessão em que se delibera acerca do recebimento ou rejeição dadenúncia, nos casos de ação penal originária, sem a prévia intimação regular doacusado e de seu defensor. (HC 58.410/PE, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJUde 14.05.2007). 5. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 6. Ordem concedida,para anular o acórdão de recebimento da peça acusatória, determinando a corretaintimação do paciente (pessoalmente) e dos seus defensores, para a realização de novasessão de julgamento, a ser redesignada pelo Colendo Tribunal de Justiça do Estado doMaranhão. (HC 184.585/MA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTATURMA, julgado em 10/05/2011, DJe 20/05/2011).

Ante o exposto, comprovada a materialidade e existente indícios de autoria,voto no sentido de receber a denúncia, determinando-se, desde já, a citação do acusado,nos termos do artigo 7º da Lei 8.038/90, para apresentar defesa no prazo de dez dias,adequando o procedimento da Lei 8.038/90 ao novo regramento do CPP, instituído pelaLei 11.719/08, a qual, segundo remansosa jurisprudência é mais benéfica aos acusados.

Este é o voto

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