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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6 GRUPO II – CLASSE II – Primeira Câmara TC 011.122/2003-6. Natureza: Prestação de Contas. Entidade: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - MS. Exercício: 2002. Responsáveis: Antônio Carlos da Costa Bezerra (461.746.307-06); Armando Jose de Aguiar Pires (598.512.527-00); Ary Leite de Jesus (342.777.571-20); Claudio Maierovitch Pessanha Henriques (059.514.278-86); Dulcelina Mara Said Pereira (923.172.517-34); Fernando Antônio Viga Magalhães (121.324.462- 53); Franklin Rubinstein (083.596.877-49); Galdino Guttmann Bicho (433.935.197-00); Gonzalo Vecina Neto (889.528.198-53); Jonas Roza (911.494.447-20); Jose Carlos Magalhaes da Silva Moutinho (398.005.047-53); Luis Carlos Wanderley Lima (545.176.487-53); Luiz Cláudio Meirelles (670.574.627-00); Luiz Felipe Moreira Lima (359.175.987-20); Luiz Milton Veloso Costa (124.552.536-00); Marcelo Azalim (177.349.246-20); Maria Goretti Martins de Melo (418.344.966-91); Maria da Conceição Fernandes Soares (547.006.477-87); Maria da Graça Santana Hofmeister (285.607.100-78); Moysés Diskin (162.335.656- 34); Myrtes Peinado (020.590.438-67); Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shugair (086.167.638-64); Pedro Jose Baptista Bernando (380.859.767-49); Ricardo Oliva (669.453.568-68); Silas Paulo Resende Gouveia (311.988.216-04); Walmir Gomes de Sousa (334.034.061-72) Interessado: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - MS (03.112.386/0001-11). Advogados: Pedro Raphael Campos Fonseca (OAB/DF 13.836); Lucivalter Expedito Silva 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

GRUPO II – CLASSE II – Primeira CâmaraTC 011.122/2003-6.Natureza: Prestação de Contas.Entidade: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - MS.Exercício: 2002.Responsáveis: Antônio Carlos da Costa Bezerra (461.746.307-06); Armando Jose de Aguiar Pires (598.512.527-00); Ary Leite de Jesus (342.777.571-20); Claudio Maierovitch Pessanha Henriques (059.514.278-86); Dulcelina Mara Said Pereira (923.172.517-34); Fernando Antônio Viga Magalhães (121.324.462-53); Franklin Rubinstein (083.596.877-49); Galdino Guttmann Bicho (433.935.197-00); Gonzalo Vecina Neto (889.528.198-53); Jonas Roza (911.494.447-20); Jose Carlos Magalhaes da Silva Moutinho (398.005.047-53); Luis Carlos Wanderley Lima (545.176.487-53); Luiz Cláudio Meirelles (670.574.627-00); Luiz Felipe Moreira Lima (359.175.987-20); Luiz Milton Veloso Costa (124.552.536-00); Marcelo Azalim (177.349.246-20); Maria Goretti Martins de Melo (418.344.966-91); Maria da Conceição Fernandes Soares (547.006.477-87); Maria da Graça Santana Hofmeister (285.607.100-78); Moysés Diskin (162.335.656-34); Myrtes Peinado (020.590.438-67); Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shugair (086.167.638-64); Pedro Jose Baptista Bernando (380.859.767-49); Ricardo Oliva (669.453.568-68); Silas Paulo Resende Gouveia (311.988.216-04); Walmir Gomes de Sousa (334.034.061-72) Interessado: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - MS (03.112.386/0001-11).Advogados: Pedro Raphael Campos Fonseca (OAB/DF 13.836); Lucivalter Expedito Silva (OAB/MG 91.079); José Pinheiro de Souza Sobreira (OAB/DF 25.065); Júlio César Soares de Souza (OAB/MG 107.255); Elisa Lima Afonso (OAB/DF 18.843); Douglas Fernandes de Moura (OAB/DF 24.625); Érico Joaquim da Silva Junior (OAB/DF 23.529); Kárida Coelho Monteiro (OAB/DF 6.550/E); Cláudia Marinho da Silva (OAB/DF 6.023/E); Renata Luiz Gerheim (OAB/DF 6.023/E); José Luis Wagner (OAB/DF 17.183 e OAB/RS 18.097); Sandra Luiza Feltrin (OAB/RS 35.063 e OAB/DF 2.238-A); Lilia Fortes dos Santos Wagner (OAB/RS 25.543); Paulo César Santos de Almeida (OAB/RS 38.535); Luiz Antônio Muller Marques (OAB/RS 39.450 e OAB/DF 2.358-A); Luciana Inês Rambo (OAB/RS 52.887); Felipe Carlos Schwingel (OAB/DF 24.046); Bruno Conti Gomes da Silva (OAB/DF 7.083/E); Rafael Oliveira de Freitas (OAB/DF 8.650/E); Vicente de Paula Mendes (OAB/MG 15.116); Márlia Ferreira Bicalho (OAB/MG 23.394); Vera Lúcia Soares Barbosa Campos (OAB/MG 68.215); Josiana Cláudia da Silva Mendes (OAB/MG 100.459); Patrícia Carla Miranda (OAB/MG 81.355); Lycurgo

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Leite Neto (OAB/DF 1.530-A); Eduardo Lycurgo Leite (OAB/DF 12.307); Darcílio Augusto Gomes (OAB/RJ 313-B); Rafael Lycurgo Leite (OAB/DF 16.372); Ronaldo Feldmann Hermeto (OAB/DF 10.189); Thiago Bezerra Prado Coimbra (OAB/DF 15.548); Renata Machado (OAB/DF 20.415); Alexandre Guimarães Farah (OAB/DF 14.214); Geysa Coellho Lobo de Carvalho (OAB/DF 21.823); Juliana Abranches Abelheira (OAB/DF 23.350); Camila Pires Lombardi (OAB/DF 4992/E); Ana Paula de Araújo Lima Rodrigues (OAB/DF 6691/E).

SUMÁRIO: PRESTAÇÃO DE CONTAS. ANVISA. CONTRATO DE GESTÃO. METAS NÃO ALCANÇADAS. SUPERVISÃO MINISTERIAL DEFICIENTE. DESCONTROLE ADMINISTRATIVO NA CONCESSÃO DE DIÁRIAS E PASSAGENS. CITAÇÃO. AUDIÊNCIA. ACOLHIMENTO DE RAZÕES DE JUSTIFICATIVA DE ALGUNS RESPONSÁVEIS E REJEIÇÃO DE OUTROS. DETERMINAÇÃO PARA INSTAURAÇÃO DE TCE. JULGAMENTO REGULAR DE ALGUNS RESPONSÁVEIS E IRREGULAR DE OUTROS. ACOLHIMENTO DE RAZÕES DE JUSTIFICATIVA DE ALGUNS RESPONSAVEIS E REJEIÇÃO DE OUTROS. MULTA. DÉBITO. DETERMINAÇÃO. RECOMENDAÇÃO. ARQUIVAMENTO.

Relatório

Trata-se de prestação de contas anual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autarquia sob regime especial administrada por contrato de gestão, vinculada ao Ministério da Saúde, relativa ao exercício de 2002.

2. A Anvisa foi criada através da Lei nº 9.782/1999 com sede e foro no Distrito Federal, prazo de duração indeterminado e atuação em todo território nacional. A natureza de autarquia especial conferida à Agência é caracterizada pela independência administrativa, estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira.

3. O contrato de gestão, a qual está submetida, é um documento oficial firmado com o Ministério da Saúde. O contrato estabelece que a Agência é responsável pelo controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias. Além desses, a Anvisa ainda exerce controle de portos, aeroportos e fronteiras e a interlocução junto ao Ministério das Relações Exteriores e instituições estrangeiras para tratar de assuntos de cunho internacional na área de vigilância sanitária.

4. São competências da Anvisa, respeitada a legislação em vigor, além de regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública, entre outros itens:

coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; fomentar e realizar estudos e pesquisas no âmbito de suas atribuições; estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária; administrar e arrecadar a taxa de fiscalização de vigilância sanitária; conceder registros de produtos, segundo as normas de sua área de atuação; conceder e cancelar o certificado de cumprimento de boas práticas de fabricação;

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interditar, como medida de vigilância sanitária, os locais de fabricação, controle, importação, armazenamento, distribuição e venda de produtos e de prestação de serviços relativos à saúde, em caso de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde; cancelar a autorização de funcionamento e a autorização especial de funcionamento de empresas, em caso de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde; coordenar as ações de vigilância sanitária realizadas por todos os laboratórios que compõem a rede oficial de laboratórios de controle de qualidade em saúde; monitorar e auditar os órgãos e entidades estaduais, distrital e municipais que integram o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, incluindo-se os laboratórios oficiais de controle de qualidade em saúde.

5. De acordo com os critérios estabelecidos pelo Manual de Análise de TC/PC desta Corte, foram geridos no exercício R$ 235.544.721,21 (fls. 306).

6. De acordo com a Auditora Federal de Controle Externo (AUFC) responsável pela instrução do processo, foi constatado que (fls. 310/12):

"6.1.1. O relatório de gestão do responsável contém os elementos relacionados na IN-TCU nº 12/1996;

6.1.2. A SFC acompanhou (fl. 268-272), junto à Anvisa, o cumprimento de determinações e recomendações emanadas por este Tribunal e constatou que foram acatadas, com exceção do disposto no item 8.2 da Decisão TCU nº 1641/2002 - Plenário, referente ao Processo Administrativo Disciplinar nº 25351.173841/2002-56, que encontra-se em fase final de análise. Oportunamente será encaminhado, após a liberação da autoridade julgadora, o Senhor Ministro de Estado de Saúde;

6.1.3. Em relação à Decisão TCU nº 955/1999, emanada do TC nº 011.773/1999-5, a Anvisa responde afirmando 'que a fiscalização e controle da falsificação e adulteração de alimentos é atividade realizada pelas unidades de vigilância sanitária dos estados e municípios, exercendo apenas o acompanhamento, estando incumbida de tarefas normativas e, eventualmente, aquelas de âmbito nacional, após atuação específica de um estado. Considerando a descentralização das atividades e a autonomia de estados e municípios, a Anvisa alega que não cabe a si determinar às Visa’s estaduais e municipais a forma de realizar atividades conjuntas. Atualmente, encontra-se em exame uma proposta, denominada Projeto de Ação Conjunta de Inspeções em Distribuidoras de Medicamentos, que consiste em uma ação conjunta da Anvisa, Vigilâncias Sanitárias Estaduais e as Secretarias de Saúde, Fazenda e Justiça, para realizar inspeções em todo o país. Durante a preparação desse projeto verificou-se a necessidade de elaborar uma norma, que se encontra em fase final de estudo e tem como objetivo garantir o Sistema de Controle e Fiscalização em toda a cadeia dos produtos farmacêuticos.' (fl. 269)

6.1.3.1. A nosso ver, com a evolução da Vigilância Sanitária no país, desde a criação da Anvisa, acrescido do fato que a norma objetivando garantir o Sistema de Controle e Fiscalização de toda cadeia de produtos farmacêuticos encontra-se em fase de finalização, acreditamos que o Determinado por este Tribunal foi atendido. O maior objetivo era 'implementação de ações conjuntas'. E isto está acontecendo.

6.1.4. Pela Decisão TCU nº 988/2001- Plenário, no TC nº 001.693/1999-9, foi realizada inspeção em conjunto envolvendo Anvisa, Denasus e Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo.

6.1.4.1. A Anvisa concluiu que a Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo encontrava-se em condições satisfatórias de funcionamento, não sendo possível comprovar a comercialização do plasma processado em suas instalações.

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6.1.5. O presente processo recebeu instrução em setembro de 2003, mas com a chegada de novos elementos antes de análise desse Tribunal, foi necessária a reinstrução do feito.

6.1.6. Em 25/11/2003, foi proferido o Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara, emanado do TC nº 010.511/2002-1, que versa sobre as contas do exercício de 2001.

6.1.6.1. Não houve tempo hábil para que a Anvisa adotasse providências sobre as determinações e recomendações ali expedidas e, portanto, a SFC pudesse verificar o seu cumprimento.

6.2. Pareceres de Auditoria:

6.2.1. Auditoria Interna da Entidade.

6.2.1.1. A Unidade de Auditoria Interna da Anvisa constatou que, de modo geral, foram atendidas ou estão em fase de cumprimento as recomendações e determinações encaminhadas pela SFC e pelo TCU, quando dos julgamentos das contas, e as provenientes das auditorias efetuadas na Agência.

6.2.1.2. Alegou que não houve atos de gestão ilegítimos, ilegais ou antieconômicos, mas apenas procedimentos incorretos que estão a merecer medidas corretivas de rumo, não vislumbrando existência de execução de ato que resultasse em dano ao Erário, ou que prejudicasse o desempenho da ação administrativa no cumprimento dos programas de trabalho.

6.2.1.3. Com o fato de que os atos de gestão praticados com a utilização dos recursos públicos, colocados à disposição da referida Agência, não comprometeram em grau exigível a probidade da gestão preconizada, nem causaram prejuízo à Fazenda Nacional, concluiu pela Regularidade com Ressalva.

6.2.2. Secretaria Federal de Controle – SFC

6.2.2.1. A Secretaria Federal de Controle, consoante o estabelecido nas IN-TCU nº 12/1996, e IN-SFC/MF nº 2/2000, realizou exames sobre os atos dos gestores da Anvisa, efetuando trabalhos de auditoria por amostragem nas áreas de Gestão Operacional, Orçamentária, Financeira, Patrimonial, de Recursos Humanos e de Suprimento de Bens e Serviços, bem como na área de Controles de Gestão.

6.2.2.2. Dos exames realizados constatou impropriedades e irregularidades, que foram levadas ao conhecimento do gestor, com vistas ao colhimento da sua manifestação. Após serem analisadas pelo [órgão de] controle interno, serão remetidas a este Tribunal para subsídio ao julgamento das contas. Cabe acrescentar que até o momento da realização desta análise, não tinha chegado a este Tribunal essa manifestação. Entramos em contato com a SFC, que tampouco tinha recebido a resposta do gestor.

6.2.2.2.1. Não obstante, foi encaminhado para este Tribunal, pelo Diretor Presidente Substituto, Sr. Luis Carlos Wanderley Lima, Relatório do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria nº 626, de 30/7/2003 (fls. 304/305 e vols. 3, 4 e 5), com o propósito de atender a determinação da SFC de instaurar sindicância para quantificar, qualificar e documentar os fatos relacionados com a concessão de diárias e passagens a servidores da Anvisa, que teriam sido utilizadas de forma irregular, em desobediência ao § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991.

6.2.2.3. Em razão das irregularidades encontradas por ocasião dos exames, a SFC concluiu pela irregularidade da prestação de contas da gestão 2002 da Anvisa."

7. Em seguida, o AUFC passa, em sua instrução, à análise das impropriedades e irregularidades verificadas na área de concessão de diárias e passagens que alega ter causado impacto nas contas dos gestores. O exame se baseia no relatório de auditoria de avaliação da gestão da SFC, o qual atendeu ao disposto na Decisão TCU nº 1690/2002, no seguintes termos (fls. 312/20):

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"7.1. O principal fato apontado é referente à emissão de passagens e concessão de diárias com graves irregularidades, consubstanciados pelas informações aduzidas nos termos da Nota Técnica em anexo, onde destaca-se que:

- os servidores relacionados realizaram viagens nas condições previstas na Decisão TCU nº 1690/2002 - Plenário;

- a concessão dessas diárias e passagens ferem os princípios constitucionais de legalidade, moralidade e finalidade pública;

- a Anvisa não vem atendendo ao Decreto nº 343/1991, especificamente quanto às determinações de apresentar justificativas dos motivos do deslocamento em sextas-feiras e finais de semana, a descrição objetiva do serviço a ser executado e a indicação do local onde o serviço será realizado;

- a Agência não possui ou não arquivou documentos comprobatórios da efetiva realização dos trabalhos que justificaram a realização das viagens;

- o Diretor-Presidente da Anvisa pertence ao corpo docente da Universidade de São Paulo e ministra aulas em horário incompatível com seu trabalho na Anvisa, ferindo as determinações da Lei nº 8.112/1990, e implicando que as solicitações de passagens e diárias para as viagens realizadas, com a utilização da justificativa 'reunião na Faculdade em Saúde Pública – FSP-USP', são, na verdade, para despesas de caráter particular com o intuito de ministrar aulas naquela entidade; e,

- o descontrole operacional presente na concessão de diárias e passagens na Anvisa, com servidores recebendo diárias e passagens de forma irregular e indevida, roteiros de viagens descontínuos e sem lógica operacional, sem a anexação dos bilhetes de passagens nos processos de concessão e não devolução de diárias recebidas quando não foram realizadas as viagens programadas (fl. 301, vol.1).

7.1.1. Dando cumprimento à determinação deste Tribunal, contida no item 8.3 da Decisão TCU nº 1690/2002 - Plenário, de 4/12/2002, conforme transcrito abaixo, a SFC procedeu à análise dos procedimentos de concessão de diárias dos servidores por ocasião do exame das contas anuais relativas ao exercício de 2002 da Anvisa, especialmente dos ocupantes de cargos e funções públicas.

'8.3 - determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que, por ocasião do exame das contas anuais, relativas ao exercício de 2002, dos órgãos e entidades que integram a Administração Pública Federal, analise os procedimentos de concessão de diárias por deslocamentos incluindo ou iniciando em finais de semana e feriados a servidores ocupantes de cargos e funções públicas, com enfoque especial a respeito do cumprimento ou não por parte dos gestores das disposições contidas no § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991, a fim de que o Tribunal, por ocasião do julgamento das contas, possa dar um tratamento adequado às situações irregulares apontadas nos respectivos Relatórios de Auditoria';

7.1.2. Vindo ao encontro de determinação do TCU, o Subcorregedor-Geral da União solicitou a apuração de denúncia sobre supostas irregularidades na concessão de diárias e passagens a Gerentes Gerais da Anvisa, a partir do recebimento por ele de e-mail com denúncia pública. Tal denúncia alegava a utilização indevida de passagens e diárias utilizadas pelos Gerentes Gerais da Anvisa, que moravam fora de Brasília-DF e retornavam todos os finais de semana aos seus logradouros, utilizando-se de motivos fictícios, inclusive usando o poder de coerção sobre funcionários subalternos, que, por medo de serem demitidos, não podiam questionar.

7.1.3. Os gastos com passagens, diárias e os números de viagens nos exercícios de 2001 e 2002, conforme quadros abaixo, traduzem a totalidade do que foi despendido pela Anvisa.

Quadro I – Recursos Gastos com Passagens e Diárias, em R$

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Anvisa Montante de Recursos Gastos com Passagens

Montante de Recursos Gastos com Diárias

Total

Exercício de 2001 10.043.442,91 8.053.655,07 18.097.097,98Exercício de 2002 12.774.515,36 8.531.261,58 21.305.776,94Total 22.817.958,27 16.584.916,65 39.402.874,92

Quadro II – Número de ViagensAnvisa Número de Viagens

Exercício de 2001 17.800Exercício de 2002 16.200Total 34.000

7.1.4. A SFC concentrou os seus esforços para analisar os gastos com passagens e diárias dos ocupantes de cargos em comissão e funções de confiança ocupados por diretores e gerentes provenientes de outros estados, retornando nos finais de semana para seus estados de origem, para participar de reuniões, as quais não teriam comprovação, tanto de sua realização quanto de sua necessidade.

7.1.5. Foram selecionados os exercícios de 2001 e 2002, e o grupo de servidores detentores de cargos em comissão e funções de confiança equivalentes aos de Natureza Especial – NE e aos DAS 4, 5 e 6.

7.1.6. Diminuindo o escopo da auditoria, selecionou-se dentre esses servidores, os provenientes de outros estados da federação e que poderiam ter interesse de usar o pretexto de reuniões para retornar aos seus estados de origem para passar o final de semana.

7.1.7. Chegou-se a essa informação verificando quais os servidores que recebiam auxílio-moradia, uma vez que tal benefício só pode ser concedido aos servidores de cargos comissionados DAS 4, 5 e 6 e de natureza especial ou seus equivalentes, que não possuam imóvel ou residência no DF, acrescido do fato de que tenham realizado, nos exercícios de 2001 e 2002, viagens incluindo ou iniciando em finais de semana e feriados. Esse último dado foi obtido do Sistema de Diárias e Passagens da Anvisa.

7.1.8. Com todo esse cruzamento de dados, o trabalho de auditoria propriamente dito foi analisado com base nas viagens realizadas por 21 servidores.

7.1.9. Resumindo, esses 21 servidores realizaram viagens que se enquadram nas condições informadas na denúncia, bem como nas condições de exame determinadas pela Decisão TCU nº 1690/2002 - Plenário.

7.1.10. Segundo a SFC, 'esses servidores realizaram, nos exercícios avaliados, viagens iniciando na sexta-feira ou vésperas de feriados, além de viagens com ida e volta na própria sexta-feira. Esclareça-se ainda que esses servidores são exatamente os que realizaram o maior número de viagens entre os servidores da Anvisa'. 'Outro dado esclarecedor, verificado nas análises, refere-se ao fato de que tais viagens são realizadas para a capital do estado de origem do servidor. Por outro lado, quando esse mesmo servidor viaja a serviço para outro destino, seu retorno se dá, preferencialmente, em finais de semana e segundas-feiras, passando também por seu estado de origem. Tal tipo de roteiro reforça a suspeita de que tais viagens estariam servindo, na verdade, aos interesses particulares de seus beneficiários'. (fl.289, vol.1)

7.1.11. Além da SFC, o próprio [órgão de] controle interno [a rigor, auditoria interna] da Anvisa relata que não existe justificativa apresentada nas requisições de passagens aéreas condizentes com a assiduidade das viagens rotineiras realizadas nos finais de semanas (fl. 236, vol.1).

7.1.12. O Diretor-Presidente da Anvisa encaminhou relatório contendo as justificativas das viagens realizadas, mas, a critério da equipe de auditoria da SFC, não foram suficientes os

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esclarecimentos prestados para elidir as suspeitas levantadas na denúncia, pois continha descrição apenas para o mês de dezembro de 2001, além de não serem para todos os detentores de cargos de confiança que viajaram.

7.1.13. O que se demonstra na Nota Técnica é que com a desculpa de participar de reuniões em órgãos e entidades em seus estados de origem, os 21 servidores obtiveram passagens e diárias que os favoreceram, pois poderiam passar o final de semana em suas residências.

7.1.14. Conforme verificamos na análise do [órgão de] controle interno existem graves indícios de que esses servidores estão utilizando-se de passagens aéreas custeadas pelo Erário, contrariando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, que tanto pautaram estudos do administrativista Hely Lopes Meirelles:

'Princípio da Legalidade

O administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

Princípio da Moralidade

O agente administrativo, (...) , ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. O ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, (...) , segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade da sua ação: o bem comum.

Princípio da Finalidade Pública

É vedada a prática de ato administrativo sem interesse público ou conveniência para a Administração.'

7.1.15. Embora levando em consideração a independência administrativa e a autonomia financeira da Anvisa, não podemos esquecer que o dinheiro é público e portanto os princípios constitucionais de legalidade, moralidade e finalidade pública não podem ser relegados a segundo plano.

7.1.16. Esse fato pôde ser consumado e não se tem prova sobre ele, porque o sistema de comprovação das viagens requer apenas a devolução dos bilhetes e não o dos cartões de embarque (esses últimos é que trazem a data exata do embarque).

7.1.17. Mesmo havendo um serviço que controle a concessão de bilhetes de passagem aérea, é inoperante o controle. O servidor, que quiser burlar o sistema, em posse desse bilhete, com saída e retorno na própria sexta-feira, chegando ao balcão de embarque muda a data de retorno sem que tal alteração fique registrada no bilhete aéreo. Ao chegar em Brasília, o servidor pode tranquilamente 'prestar contas' da sua viagem 'a serviço' sem deixar registro nos processos de concessão de passagens e diárias sobre as alterações das datas.

7.1.18. Dos dados abordados, o que verificamos são indícios. Para que restasse comprovada a improbidade administrativa, prevista nos arts. 10 e 11 da Lei nº 8.429/1992, atos prejudiciais ao Erário e atentatórios contra os princípios da administração pública, foi solicitado pela SFC à Corregedoria da Anvisa realização de sindicância com o propósito de comprovar e documentar cada uma das viagens irregulares, 'através da obtenção dos processos de concessão de diárias e passagens, dos documentos comprobatórios da realização ou não das reuniões alegadas, dos registros das companhias aéreas sobre a data efetiva de embarque, além de outros'. (fl. 290, vol.1):

'Art. 14 À Corregedoria compete:

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IV – instaurar, por ofício ou por determinação superior, sindicâncias e processos administrativos disciplinares relativamente aos servidores, submetendo-os à decisão do Diretor-Presidente.

Lei nº 8.429/1992

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

(...)

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;'

7.1.19. Este Tribunal, em sua Decisão TCU nº 1690/2002 - Plenário, já anteriormente citada, determinou que fosse dada especial atenção para o § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991:

'Art. 6º As diárias serão pagas antecipadamente, de uma só vez, exceto nas seguintes situações, a critério da autoridade concedente:

(...)

3º. As propostas de concessão de diárias, quando o afastamento iniciar-se a partir da sexta-feira, bem como os que incluam sábados, domingos e feriados, serão expressamente justificadas, configurando, a autorização do pagamento pelo ordenador de despesas, a aceitação da justificativa.'

7.1.20. O art. 7º do mesmo Decreto especifica os elementos essenciais para que essa justificação fosse considerada válida:

'Art. 7º São elementos essenciais do ato de concessão:

I - o nome, cargo ou a função do proponente;

II - o nome, o cargo, emprego ou função e a matrícula do servidor beneficiário;

III - a descrição objetiva do serviço a ser executado;

IV - indicação dos locais onde o serviço será realizado;

V - o período provável do afastamento;

VI - o valor unitário, a quantidade de diárias e a importância total a ser paga;

VII - autorização de pagamento pelo ordenador de despesas.'

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7.1.21. Essas 'justificativas expressas' não foram encontradas pela equipe do [órgão de] controle interno, nem nas informações constantes do Sistema de Diárias e Passagens, nem nos processos de concessão de diárias e passagens.

7.1.22. O que a equipe encontrou foram expressões padronizadas do tipo 'participar de reunião', nos mesmos teores das viagens realizadas que não se iniciaram em sextas-feiras ou em finais de semana. Não bastasse essa falta de justificação sobre a necessidade da viagem ser nesse período, não estão claros o que dispõem os incisos III e IV do art. 7º, 'descrição objetiva do serviço a ser executado' e a 'indicação do local onde o serviço será realizado'. Isso não é uma 'descrição objetiva', embora a Anvisa responda que seja. (fl. 292, vol.1)

7.1.23. Tendo sido questionada pela SFC, a Anvisa respondeu justificando que essas viagens tiveram a aceitação do ordenador de despesas e que a 'Agência possui representação em todas as unidades da federação, mantém intensa cooperação com entidades como o INPI, a Fiocruz, as Universidades Federais e suas Fundações, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, os Hemocentros, os Laboratórios Centrais de Saúde Públicos, os Procon's e outras entidades, o que requer constante deslocamento do corpo técnico e gerencial desta instituição, principalmente para o eixo Rio de Janeiro – São Paulo – Minas Gerais, onde estão localizados a maior parte do agentes (grandes laboratórios) sujeitos à fiscalização da Anvisa'. (fl.293)

7.1.24. É de entendimento da SFC, que o fato da Anvisa possuir representações em todas as unidades da federação não haveria a necessidade, a bem do interesse público, através da economia de gastos, de tantas viagens. 'Servidores da Anvisa presentes nessas unidades descentralizadas nos estados poderiam representá-la em tais reuniões, desonerando as finanças da Unidade.'

7.1.25. Em contato com o [órgão de] controle interno [a rigor, auditoria interna] da Anvisa, verificamos que a entidade não possui essas 'representações', mas sim Coordenações de Vigilância de Portos, Aeroportos e Fronteiras – CVPAF em todos os estados. Só que os servidores lotados nessas coordenações nem sempre têm competência para representá-la em reuniões. Nesses casos haveria necessidade de enviar técnicos da sede.

7.1.26. A IN-STN nº 14/1988 estipula que os bilhetes de passagens utilizados por servidores em seus deslocamentos a serviço sejam arquivados na unidade gestora, à disposição dos órgãos de controle. Tal determinação não vem sendo plenamente cumprida, mas embora o fosse, não é eficiente, pois, conforme já exposto, os servidores interessados em burlar as informações contidas nos bilhetes de viagens, alteram a data de embarque ou de retorno diretamente no balcão da empresa aérea, sem que fique configurada essa mudança.

7.1.27. A companhia aérea, modifica os registros de seus sistemas informatizados e aplica uma etiqueta adesiva, de fácil remoção, com as alterações realizadas sobre o bilhete de passagem. Quando da devolução dos bilhetes, basta ao servidor interessado em burlar o sistema, remover a etiqueta, não deixando vestígios das verdadeiras datas de embarque.

7.1.28. A única maneira viável de cruzar esses dados e verificar quais foram as datas reais das viagens, uma vez que foi impossível analisar os cartões de embarque, seria obter junto às companhias aéreas as listas dos passageiros.

7.1.29. Embora a equipe de auditoria da SFC tenha solicitado informações junto às empresas envolvidas (Eurexpress, Varig e Tam), não obteve resposta.

7.1.30. É do nosso entendimento, como também o foi da SFC, que o Sistema de Viagens e Passagens da Anvisa carece de uma revisão nos procedimentos operacionais para que a concessão de diárias e passagens obedeça os procedimentos legais estabelecidos, principalmente quanto à necessidade de apresentar justificativas adequadas dos motivos para deslocamento em sextas-feiras e feriados, e descrever clara e objetivamente o serviço a ser executado, bem como indicar corretamente o local onde o serviço será realizado.

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7.1.31. Ademais, baseados nos princípios que prezam a prudência e a transparência dos atos públicos, seria conveniente uma determinação para que sejam arquivados, junto aos processos de concessão de diárias e passagens, documentos que comprovem que o serviço para o qual a viagem se justificou foi efetivamente realizado, tais como atas de reunião, relatórios resumindo as atividades realizadas, ofícios de apresentação, cartões de embarque.

7.1.32. Esse último item está consubstanciado na Portaria nº 98/2003, que obriga o servidor a apresentar, no prazo máximo de cinco dias, contado do retorno da viagem, os canhotos dos cartões de embarque, visando compor o processo de prestação de contas.

7.1.33. Um outro dado que ajudaria a coibir tal prática seria o cumprimento do art. 7º do Decreto nº 3.892/2001, que prevê que os bilhetes aéreos emitidos venham com a informação 'A Serviço do Governo Federal':

'Art. 7º Independentemente da forma de pagamento, os bilhetes de passagem aérea poderão ser reembolsáveis somente ao órgão requisitante ou comprador, devendo neles constar a seguinte informação: 'A Serviço do Governo Federal'.'

7.1.34. A transparência desses fatos colaborará para dirimir dúvidas e separar os servidores que viajam realmente a serviço daqueles que se utilizam de subterfúgios para atender a seus próprios interesses.

7.1.35. Cabe acrescentar aqui que a crítica a essa falta de transparência na concessão de diárias e passagens a um pequeno grupo de servidores, notadamente da Gerência da entidade, não visa em nenhum momento macular o importante papel que a Anvisa representa na sociedade, ou seja, proteger e promover a saúde sanitária da população, mas sim resguardar essa missão, com o objetivo de que nenhum ato suspeito possa interferir em seu trabalho.

7.1.36. Em relação à análise da concessão de diárias e passagens no caso do Diretor-Presidente da Anvisa, fica entretanto agravada a situação, uma vez que não são apenas indícios, mas sim o fato da SFC ter obtido confirmação junto à Universidade de São Paulo (USP), de que o mesmo continuou exercendo, durante o período que esteve comandando a direção da Anvisa, as atividades de docência na Faculdade de Saúde Pública daquele centro de ensino.

7.1.37. Através de Ofício encaminhado em 24/3/2003, a Faculdade de Saúde Pública da USP respondeu que o Dr. Gonzalo Vecina Neto teria ingressado em 16/5/88 no corpo docente para exercer o cargo de Professor Assistente. Acrescentou a USP que 'o docente cumpriu no período de 1999-2002 o horário das 13:00 às 19:00, nas segundas-feiras e sextas-feiras, no Departamento de Prática de Saúde Pública.' (fl. 296, vol.1).

7.1.38. O que vinha como justificativa para as viagens realizadas – 'reunião na Faculdade de Saúde Pública – FSP – USP' – todas as sextas-feiras para São Paulo (fls. 3 a 16 do vol. 2 – anexo I) era na realidade para atender o seu próprio interesse de ministrar aulas no seu trabalho anterior, que em verdade era concomitante, uma vez que não houve desincompatibilização do cargo da referida faculdade.

7.1.39. Essa conduta não só contraria a Lei 8.112/1990, no que se refere a ausência injustificada ao serviço pelo exercício de atividades incompatíveis com o horário de trabalho, como também contraria a Lei 8.429/1992 que preceitua a probidade administrativa:

'Lei 8.112/1990

Art. 117. Ao servidor é proibido:

(...)

XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho.

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Lei 8.429/1992

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.'

7.1.40. Baseada na 'manifesta má-fé', quando justificada a solicitação de diárias e passagens com motivos comprovadamente fictícios, a SFC recomendou imediata 'instauração de Tomada de Contas Especial visando a apuração do montante do débito a ser ressarcido aos cofres públicos por quem deu causa à fraude, considerando todo o período de mandato do dirigente' (fl. 296, vol.1).

7.1.41. Dando cumprimento a essa recomendação, a Anvisa publicou a Portaria nº 626 de 30/7/2003, instituindo Grupo de Trabalho para analisar e apresentar relatório à Diretoria Colegiada sobre os fatos relacionados nos termos da Nota Técnica da SFC (Processo SFC nº 25351.012932/2003-05).

7.1.42. Uma vez que a própria [unidade de] auditoria interna da Anvisa, em seu Relatório Anual de Atividades informa que é necessário melhorar a operação de anexação dos documentos que comprovem a adequada emissão de passagens e diárias, cabe a este Tribunal determinar à Anvisa que cumpra o que consta do art. 7º do Decreto nº 3.892/2001; cumpra o Decreto nº 343/1991; melhore o Sistema de Passagens e Diárias, notadamente no que se refere à operação de anexação de documentos e na não-emissão de novos bilhetes e diárias para quem não justificou a viagem anterior.

7.1.43. Após o processo em análise ter sido instruído, esta Secretaria de Controle Externo recebeu o Ofício nº 1.891 GADIP/ANVISA com o Relatório Final do Grupo de Trabalho – GT, criado pela Portaria nº 626, de 30/7/2003, do Diretor Presidente da Anvisa (fls. 304/305, vol.1).

7.1.44. O Grupo foi instituído para dar cumprimento à Nota Técnica nº 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, que determina a instauração de sindicância para quantificar, qualificar e documentar os fatos relacionados com a concessão de diárias e passagens a servidores da Anvisa, que teriam sido utilizadas de forma irregular, em desobediência ao parágrafo 3º, do art. 6º, do Decreto nº 343/1991.

7.1.45. Analisando os documentos do GT, pode-se constatar que nem todas as 21 pessoas envolvidas apresentaram os trechos das viagens, portanto, cabe realizar inspeção à Agência para suprir tal lacuna, bem como para podermos saber os números de diárias fornecidas a essas mesmas pessoas, para o que é necessário ter em mãos as Propostas de Concessão de Diárias – PCD’s, uma vez que do Sistema Siafi não foi possível extrair-se esse dado.

7.1.46. Os itens a ser inspecionados encontram-se mais detalhados no Anexo 8 [fls. 339/46].

7.1.47. Quanto às justificativas das viagens apresentadas, as mesmas se revestem de características globais, e não específicas por viagens. Mesmo quando a especificação deveria ser por viagem, são repetidos chavões semelhantes a outros anteriormente citados.

7.1.48. Mas nada justifica as viagens serem, em sua maioria, na sexta com retorno na segunda-feira. Acrescente-se a isso o fato dos casos em que as reuniões foram agendadas pela própria Agência.

7.1.49. Em virtude do exposto, faz-se necessário questionamento à Anvisa no sentido de esclarecermos:

- Por que agendar reuniões, continuamente, na sexta e na segunda-feiras?

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- Por que os cursos ministrados eram, em sua maioria, na cidade domicílio de origem do participante no evento/reunião?

- Por que algumas pessoas ministram cursos apenas no RS e MG, não o fazendo em SP e RJ, se eram centros, segundo a própria Anvisa, que congregam maior número de público alvo?

7.1.50. Cabe acrescentar que nesse ofício encaminhado, informa-se que a Anvisa está tomando providências internas para aperfeiçoar o seu sistema de controle interno, notadamente quanto à obrigatoriedade de apresentação de Cartões de Embarque junto com os bilhetes de passagens utilizados e de relatórios de viagens."

8. Ainda no âmbito de sua instrução, a AUFC passou a examinar as ocorrências verificadas em diversas outras áreas da entidade, a saber: processos licitatórios, inventários de bens, metas do contrato de gestão, deficiências operacionais, participação da sociedade na gestão das ações de saúde sanitária, inobservância de cláusulas dos termos de ajustes e metas, composição inapropriada de equipes de licitação e concessão de diárias a colaboradores eventuais.

9. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências na área de processos licitatórios examinadas pela AUFC (fls. 320/321):

"7.2. Processos licitatórios

7.2.1. No exercício de 2002, a Gerência Logística da Anvisa, responsável pela execução dos processos licitatórios da entidade executou as despesas nas modalidades descritas no quadro abaixo.

Quadro III – Modalidades licitatórias e respectivos valores.Modalidade Quantidade % Valor (R$) %

Convite 13 9,22 218.070,92 1,46Tomada de Preço 0 0,00 0 0,00Pregão 10 7,09 1.464.268,30 9,84Dispensa 102 72,34 972.510,10 6,53Inexigibilidade 15 10,64 11.935.966,16 80,18Concorrência 1 0,71 294.911,00 1,98Total 141 100 14.885.726,48 100

Dados coletados na Gerência de Logística - GELOG

7.2.2. A SFC efetuou análise por amostragem nas modalidades convite, pregão, concorrência, dispensa e inexigibilidade de licitação, não tendo encontrado irregularidades ou ilegalidades em descumprimento das Leis nº 8.666/1993 e 9.648/1998, que norteiam as licitações e contratos da Administração Pública.

7.2.3. Embora a Gerência Geral de Gestão Administrativa e Financeira da Anvisa tenha priorizado esforços para adotar a modalidade pregão sempre que possível, ainda verificamos, como se pode observar no quadro que divide as licitações por modalidades, a discrepância entre o número de casos de utilização de dispensa e inexigibilidade em confronto com a concorrência.

7.2.4. Para acrescentar mais um dado justificando a percepção sobre o referido problema, basta citarmos o fato que do total de R$ 14.885.726,48 licitados, 86,71%, ou seja, R$ 12.908.476,26 foram gastos por meio dessas duas modalidades, ou seja, dispensa e inexigibilidade (fl. 281).

7.2.5. Sem deixarmos de valorizar o esforço da adoção do pregão, introduzindo maior transparência aos certames, além de obter economia ao Erário, pensamos na viabilidade de propor auditoria operacional de licitações e contratos, a fim de verificarmos o procedimento decisório para o tipo de modalidade. Muitas vezes as decisões já vêm prontas, restando à gerência executora pouca margem de manobra, sendo que o questionamento ocorreria só em

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caso onde se vislumbrasse claramente irregularidades/impropriedades. Nessa auditoria operacional poderíamos focalizar se a execução de despesas com dispensa e inexigibilidade de licitação poderiam ter sido executadas em outros procedimentos licitatórios.

7.2.6. Embora a nossa análise caminhasse no sentido de propor uma auditoria de natureza operacional de licitações e contratos, verificamos que o TC nº 014.506/2003-8 que trata de Acompanhamento realizado na Anvisa, na área de licitações e contratos, em cumprimento ao Plano de Fiscalizações do TCU para o segundo semestre de 2003, já vem cumprindo em parte o que se pretendia verificar.

7.2.7. Ademais, na etapa de planejamento do referido acompanhamento constatou-se que o percentual de dispensa e inexigibilidade de licitações decresceu muito. Tal fato pode ter ocorrido pela mudança de direção que ocorreu em 2003, ou por atendimento a observações do [órgão de] controle interno. O fato é que, no momento, tal proposição perde o seu objeto, uma vez que ocorreram, resumidamente, dois fenômenos: o primeiro, que em 2003 não estão sendo utilizadas, excessivamente, as modalidades de dispensa e inexigibilidade como no ano anterior; o segundo, que este Tribunal já está efetuando uma auditoria nessa área."

10. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências na área de inventário de bens examinadas pela AUFC (fls. 321/322):

"7.3. Inventário dos bens

7.3.1. Esse item já foi analisado nas contas do ano anterior, TC nº 010.511/2002-1, e transcrevemos abaixo as propostas de determinação e de recomendação.

'Determinação:

17.17. realize o inventário de todos os bens, inclusive os oriundos das doações dos Núcleos Estaduais do Ministério da Saúde e Receita Federal, que se encontram a disposição dessas Coordenações nos estados e que se faça a correta regularização desses bens patrimoniais.

Recomendação:

18.2. no que toca ao inventário de bens oriundos das doações dos Núcleos Estaduais do Ministério da Saúde e Receita Federal, que se encontram à disposição dessas Coordenações nos estados, constitua uma Comissão Mista, envolvendo a Gerência de Logística e a Gerência Geral de Portos, Aeroportos e Fronteiras da ANVISA com a Gerência de Projetos UNESCO para esse fim;

18.3.implemente o módulo de gerenciamento de bens patrimoniais junto às Coordenações Estaduais, de molde que lhes sejam disponibilizadas todas as informações necessárias, no que tange a consultas e a eventuais atualizações do acervo patrimonial da Agência.'

7.3.2. Optamos por não reiterar tais determinação/recomendações uma vez não teríamos como cobrar providências enquanto a Anvisa não receber a decisão deste Tribunal.

7.3.3. Cabe, no entanto, citar que a Comissão de Inventário Permanente e de Consumo levantou, no exercício em análise, os quantitativos e valores do acervo da Anvisa referentes a 2001 e 2002, restando efetuar o inventário dos bens localizados nas Coordenações de Vigilância Sanitária de Portos e Aeroportos nos estados, bem como efetuar o inventário dos bens adquiridos em exercícios anteriores. É de se notar que o trabalho iniciou, porém, ainda falta muito a realizar.

7.3.4. Ainda que a Anvisa não tenha recebido determinação/recomendações deste Tribunal acerca do assunto, foi recomendado pela SFC que formasse Comissão Mista, envolvendo a Gerência de Logística e a Gerência Geral de Portos, Aeroportos e Fronteiras da Anvisa com a Gerência de Projetos UNESCO, com o propósito de fazer o levantamento físico e

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inventariar todos os bens, inclusive os oriundos das doações dos núcleos estaduais do Ministério da Saúde e Receita Federal, que se encontram a disposição dessas Coordenações nos estados, e fazer a correta regularização desses bens patrimoniais. (fl. 278).'

11. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas na execução do contrato de gestão examinadas pela AUFC (fl. 322):

"7.4. Execução insatisfatória das Metas estabelecidas no Termo Aditivo ao Contrato de Gestão (apenas 65%)

7.4.1. Na análise da Gestão Operacional a SFC verificou que a Anvisa executou plenamente apenas 65% das metas previstas para o exercício de 2002, além de que essas mesmas metas não foram adequadamente definidas por ocasião da sua pactuação (fl. 262). Exemplifica com o fato de que não é relevante estabelecer como meta o aumento de acesso ao site da entidade, sem um suporte de conteúdo para isso, enquanto a agência peca por não ter uma meta de redução do índice de infecção hospitalar.

7.4.2. A SFC aponta como efetivos gargalos gerenciais de relevância para essa execução insatisfatória as deficiências em recursos humanos, as carências no tratamento de banco de dados e a definição inadequada de indicadores e metas, de que trataremos especificamente no item seguinte.

7.4.3. O desdobramento desse item se dará no seguinte; no entanto, cabe citar que só pelo fato de cumprirem as metas apenas em 65%, já caracteriza má gestão e leva a um parecer pela Regularidade com Ressalva.'

12. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas em áreas operacionais examinadas pela AUFC (fls. 323/325):

"7.5. Deficiências operacionais em três pontos principais:

7.5.1. A SFC coloca que, a seu ver, parece não surtir efeito as observações da Comissão de Avaliação do Contrato de Gestão, da [unidade de] Auditoria Interna e as recomendações da SFC sobre as decisões do Ministério da Saúde quanto à definição de parâmetros gerenciais nos termos aditivos do Contrato de Gestão celebrado com a Anvisa e que os gargalos relevantes continuam os mesmos.

7.5.2. O aperfeiçoamento dos controles internos da Anvisa poderá evitar que atos e fatos, impróprios e irregulares, voltem a ocorrer, prejudicando o Erário. Embora a referida Agência possua poucos anos de criação, esses atos e fatos vêm se repetindo desde a sua criação.

7.5.3. Carência de recursos humanos (com destaque que 'consultores' contratados por Organismos Internacionais vêm sendo utilizados em atividades administrativas, desviados dos objetivos estabelecidos)

7.5.3.1. A Anvisa possui em seu quadro 1.790 pessoas, divididas em cargos permanentes, de confiança, requisitados de outros órgãos, contrato temporário, entre outros de quantitativos nem tão expressivos. Além desses, possui uma média de 650 contratos mensais de consultores, baseados nos Acordos de Cooperação Técnica firmados pela União com organismos internacionais (PNUD/UNESCO), que a Agência vinha utilizando sua criação, em decorrência do reduzido quadro de pessoal qualificado. Com relação aos consultores de nível médio, desde 12/12/2002, estão contratados pela Patrimonial – Serviços Especializados Ltda., ganhadora do processo licitatório, na modalidade Pregão, com contrato orçado em R$ 10.403.066,04, recursos esses da Anvisa.

7.5.3.2. A SFC colocou como ponto crítico e recorrente a 'utilização intensiva de 'consultores', via PNUD, UNESCO ou outros organismos' (fl. 262, vol.1), e que esses

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'consultores' não são utilizados apenas nas atividades para as quais estavam previstas no início da proposta.

7.5.3.3. Agrega que a questão deva ser tratada como um problema de Estado e não como uma situação isolada no âmbito apenas da Anvisa, e recomenda que os gestores da entidade devem atuar junto ao MS no sentido de provocar entendimentos e discussões no núcleo estratégico do Governo em conjunto com as demais agências reguladoras.

7.5.3.4. Embora seja recorrente a utilização de 'consultores' pela Agência, não vejo como possa ser diferente no momento. A Anvisa vem sofrendo a proibição de contratar mediante concurso público em virtude da ADI nº 2310, em tramitação no STF, movida pelo [Partidos dos Trabalhadores] PT, questionando artigos da Lei 9.986/2000 (que dispõe sobre a gestão de recursos humanos nas agências reguladoras). Cabe acrescentar que o processo sobre a referida ação foi sobrestado em 27/2/2003 até julgamento da medida cautelar da ADI nº 2135.

7.5.3.5. Não é culpa da Anvisa se ela está impedida de realizar concurso público para preencher o seu quadro. Diante da importância de sua missão, não pode deixar de buscar uma solução, mesmo que não condiga com o melhor caminho, mas o possível.

7.5.3.6. Enquanto o Judiciário não se pronunciar, decidindo os caminhos a serem seguidos no preenchimento de seu quadro, a Anvisa estará engessada e necessitando utilizar-se de outros meios, como a utilização de consultores.

7.5.3.7. Apesar de todo o exposto acima, é procedente a colocação da SFC (fl. 279, vol.1) de que 'os serviços técnicos especializados e as consultorias são contratados sem a prévia comprovação de que tais atividades não possam ser desempenhadas pelos próprios servidores da Agência; as contratações de serviços técnicos especializados e consultorias carecem de cláusulas que vinculem obrigatoriamente a execução das atividades pelo profissional contratado exclusivamente ligadas ao objeto pactuado nos instrumentos de cooperação, permanecendo a possibilidade do desvio de função desses profissionais para o exercício de outras atividades na Anvisa, inclusive atividades administrativas da Agência'.

7.5.3.8. Também é procedente a recomendação de 'justificar a efetiva necessidade técnica dos serviços prestados pelos consultores e promover a adequação dos termos de contratos, a fim de garantir a realização exclusiva das atividades para as quais houve a contratação.'

7.5.3.9. Essa recomendação da SFC, ao ser implementada pela Anvisa, estaria dando subsídios técnicos para que os gestores atuem junto aos órgãos do governo que tenham competência para, em conjunto com as demais agências reguladoras, encontrar soluções para o problema.

7.5.3.10. Pelo exposto, propomos recomendar à Anvisa que justifique a efetiva necessidade técnica dos serviços prestados pelos consultores e promova a adequação dos termos de contratos, a fim de garantir a realização exclusiva das atividades para as quais houve a contratação.

7.5.4. Não implementação da Cláusula Terceira, item IV, do Contrato de Gestão:

'CLÁUSULA TERCEIRA – DAS OBRIGAÇÕES DA ANVS

São obrigações da ANVS, por este CONTRATO:

- proceder à implementação e à execução do disposto nos incisos II a VIII do art. 2º, observado o disposto nos artigos 7º e 8º, da Lei nº 9.782/1999;

- cumprir o programa de trabalho descrito na Cláusula Segunda;

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- observar, na execução de suas atividades, as diretrizes da Política Nacional de Vigilância Sanitária;

- implantar, no primeiro ano de sua instalação, e manter atualizado um sistema de informações gerenciais que possa servir de base eficaz para a avaliação de resultados e do desempenho da ANVS;

- elaborar e encaminhar ao MS os relatórios gerenciais de atividades, na forma e prazos por este estabelecidos;

- elaborar e submeter aos órgãos competentes e ao Conselho Nacional de Saúde o relatório anual da execução deste CONTRATO e a prestação anual de contas da ANVS;

- elaborar o plano anual de metas, observado o disposto na subcláusula segunda da Cláusula Segunda.'

7.5.4.1. Existe uma carência no tratamento de dados por parte da Anvisa. Essa carência se deve ao fato de que a Agência não efetivou a implantação, conforme determina a Cláusula Terceira, item IV, do Contrato de Gestão, de 'um sistema de informações gerenciais que possa servir de base eficaz para a avaliação de resultados e do desempenho da Anvisa'.

7.5.4.2. Muito já foi feito nesses poucos anos desde a criação da Agência. Porém, uma agilização na elaboração do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde traria base para avaliar os resultados e o desempenho da referida entidade.

7.5.4.3. A criação desse banco de dados possibilitaria a definição clara e segura das ações de vigilância sanitária discriminadas nos Termos de Ajustes e Metas – TAM’s, precisando informações quanto às quantidades e natureza dos estabelecimentos a serem inspecionados. Cabe acrescentar que esses quantitativos definem o volume de transferências fundo a fundo para o financiamento das ações de média e alta complexidade – MAC/VISA.

7.5.4.4. Propomos que este Tribunal recomende que a Agência implemente esforços na implantação de um sistema de informações gerenciais que sirva de base eficaz para a avaliação de resultados e do desempenho da Anvisa, conforme preconiza a Cláusula Terceira, item IV, do Contrato de Gestão, de forma que com tal sistema possa acompanhar o efetivo cumprimento das responsabilidades que transferiu a Estados e Municípios, ou mesmos das que já pertencem a esses entes federados.

7.5.5. Inadequações na definição de Indicadores e Metas da Agência;

7.5.5.1. A SFC levantou três itens principais (fl. 263, vol.1), transcritos abaixo:

- definições inadequadas das medidas e padrões para avaliação dos processos de autorizações, licenças ou registro;

- assunção de metas cujas relevâncias são, no mínimo, questionáveis;

- assunção de metas cuja consecução depende basicamente de terceiros.

7.5.5.2. Reiterou a SFC recomendação de que se definam adequadamente os Indicadores e Metas da Agência.

7.5.5.3. Não resulta a programação sem uma discussão abrangendo os vários segmentos da entidade. Só com essa discussão é que as metas poderão ser claras e exequíveis, não havendo justificativas para o seu não cumprimento. Para tanto, propomos recomendar à Anvisa que promovam uma ampla discussão, dentro da própria entidade, com os agentes comprometidos com os resultados."

13. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas na adoção de medidas para participação da sociedade na gestão das ações de saúde sanitária examinadas pela AUFC (fls. 325/6):

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"7.6. Não adoção de medidas e iniciativas que permitam a participação da sociedade na gestão das ações de saúde sanitária

7.6.1. A impropriedade não observa o que determina o art. 7º, VIII, da Lei nº 8.080/1990, verbis:

'Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:

(...)

VIII - participação da comunidade;

(...)'

7.6.2. Não foram encontradas na Agência, nos documentos apresentados à SFC, providências no sentido de cumprir o que prega a Lei nº 8.080/1990, quando trata da participação comunitária nos processos de acompanhamento e avaliação de desempenhos operacionais. 'O cumprimento do princípio da participação social na Gestão da Saúde Pública não é seguido na gestão da Agência.' (fl.266, vol.1).

7.6.3. O maior potencial de utilizar essa participação da comunidade está no monitoramento das atividades descentralizadas da Anvisa. Embora existam vários mecanismos institucionais como Conselho Nacional de Saúde, Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde – CONASS, Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde – CONASEMS, Comissão Intergestores Bipartite – CIB e Tripartite – CIT, não se verificou a efetiva participação desses grupos sociais no acompanhamento, controle e avaliação das ações desempenhadas sob responsabilidade da Anvisa. Eles poderiam ser utilizados como parceiros na fiscalização do cumprimento das execuções físicas, por parte das Unidades Estaduais de Vigilância Sanitária – VISA’s dos Termos de Ajustes e Metas – TAM’s.

7.6.4. Ainda que não seja só de responsabilidade da Anvisa a iniciativa de fomentar a participação desses grupos, é pertinente recomendar que envide esforços na articulação dessas instituições no acompanhamento e avaliação das ações descentralizadas de vigilância sanitária."

14. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas na execução dos Termos de Ajustes e Metas examinadas pela AUFC (fls. 326/7):

"7.7. Inobservância da Cláusula Sétima dos Termos de Ajustes e Metas – TAMs,

7.7.1. A cláusula em referência trata do acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados pelas Vigilâncias Sanitárias Estaduais:

'CLÁUSULA SÉTIMA – DO ACOMPANHAMENTO E DA AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

O desempenho do ESTADO na consecução do presente TERMO DE AJUSTE será avaliado por Comissão de Avaliação, com a presença de representantes do ESTADO e dos municípios, constituída pela ANVISA, que se reunirá no mínimo trimestralmente, em data previamente acordada pelas partes, para avaliar os resultados e analisar propostas de Plano Anual de Ação e Metas para o período seguinte ou suas reformulações.

Subcláusula primeira – O ESTADO apresentará à ANVISA relatórios de gestão circunstanciados, trimestrais e anual, da execução deste TERMO DE AJUSTE, comparando os resultados alcançadas com o programa de trabalho, seus objetivos e metas, estabelecidos na

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Cláusula Terceira, acompanhados das análises cabíveis e de parecer técnico conclusivo sobre o período considerado.

Subcláusula segunda – Os relatórios de gestão a que se refere a subcláusula anterior serão enviados à ANVISA, respectivamente, nos meses de abril, julho e outubro, e no mês de janeiro do ano subsequente.'

7.7.2. A SFC coloca que, 'como em exercícios anteriores, continuamos sem identificar qualquer atuação dos Conselhos Estaduais de Saúde na confirmação, por exemplo, das execuções físicas, por parte das Unidades Estaduais de Vigilância Sanitária – VISA's, dos Termos de Ajustes e Metas – TAM's.

7.7.3. Embora os Conselhos Estaduais de Saúde, e os Municipais em alguns casos, pudessem ser acionados para ajudar a Anvisa na verificação do correto cumprimento da parte executada que coube às VISAs estaduais, bem como os Termos de Ajustes e Metas – TAMs, fiscalização que sairia econômica para a Agência, uma vez que não haveria necessidade de passagens e diárias das pessoas alocadas na sede, e o controle seria eficiente, pois haveria divisão de responsabilidades e, portanto, maior número de pessoas para fazer cumprir a missão da Vigilância Sanitária nesse país, entende-se que a fiscalização de execuções físicas, por parte dos conselhos não é praticável, tendo em vista que, salvo melhor avaliação, não consta como atribuição dos conselhos de saúde efetuar esse tipo de verificação.

7.7.4. Entende-se como melhor opção que o componente estadual do Sistema Nacional de Auditoria do SUS avalie as execuções físicas.

7.7.5. Diante do exposto, propomos recomendar à Anvisa para que envide esforços na articulação dessas instituições no acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados pelas Vigilâncias Sanitárias Estaduais."

15. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas na composição de equipes de licitação examinadas pela AUFC (fls. 327):

"7.8. Composição das equipes de licitação em desacordo com a lei que instituiu a modalidade de pregão

7.8.1. O art. 3º, IV, e § 1º da Lei 10.520/2002 determinam que a maioria dos membros deve pertencer ao quadro efetivo da Anvisa, em função da carência de servidores permanentes:

'Lei 10.520/2002

Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte:

IV - a autoridade competente designará, dentre os servidores do órgão ou entidade promotora da licitação, o pregoeiro e respectiva equipe de apoio, cuja atribuição inclui, dentre outras, o recebimento das propostas e lances, a análise de sua aceitabilidade e sua classificação, bem como a habilitação e a adjudicação do objeto do certame ao licitante vencedor.

§ 1º A equipe de apoio deverá ser integrada em sua maioria por servidores ocupantes de cargo efetivo ou emprego da administração, preferencialmente pertencentes ao quadro permanente do órgão ou entidade promotora do evento.'

7.8.2. Em função da carência de recursos humanos, fica muito difícil para a Agência compor a Comissão Permanente de Licitação com maioria de membros efetivos.

7.8.3. Devemos nos lembrar que a permanência da presidência da referida comissão não pode ultrapassar um ano, portanto, acrescente a essa dificuldade a necessidade de rodízio de membros permanentes.

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7.8.4. No entanto, essa carência não pode ser justificativa para o descumprimento de um preceito legal. Tendo isso em vista, propomos recomendar à Anvisa que envide esforços para compor a Comissão Permanente de Licitação com maioria de membros efetivos."

16. Transcrevo a seguir trechos das ocorrências verificadas na concessão de diárias a colaboradores eventuais examinadas pela AUFC (fls. 327/8):

"7.9. Concessão de diárias a servidores classificados na rubrica de colaboradores eventuais.

7.9.1. Foram identificadas pela SFC a emissão de 589 ordens bancárias, apenas no período de outubro a dezembro, emitidas pela unidade gestora da Presidência, para pagamento de diárias na rubrica de colaboradores eventuais a 318 servidores.

7.9.2. Nos documentos apresentados verificamos que a Anvisa está analisando os casos para posterior providências corretivas. O desdobrar desse assunto requer atenção de nossa parte. No entanto, como houve mudança na sua administração gerencial no exercício de 2003, sugerimos determinar à SFC que, por ocasião das próximas contas, verifique qual o encaminhamento que a Agência deu para o assunto e quais as providências tomadas. Com esses dados, poderemos acompanhar, no próximo exercício, a necessidade ou não de um desdobramento no assunto."

17. Após o exame das ocorrências, a AUFC propôs a realização de inspeção para "levantar os dados das propostas de concessão de diárias de 21 servidores, incluindo-se o Diretor-Presidente, que permitam avaliar, com maior precisão, se realmente houve a ocorrência de irregularidade na concessão de diárias e fornecimento de passagens a servidores da Agência" (fl. 329). A proposta contou com a aprovação do diretor (fl. 329) e da secretária em substituição (fl. 347).

18. Por intermédio de despacho acostado à fl. 347, a secretária em substituição, ante a delegação de competência conferida pela Portaria nº 3-GM-LMR, de 25/9/2003, autorizou a realização da inspeção sugerida.

19. Transcrevo, a seguir, partes essenciais do relatório de inspeção realizada por AUFC da 4ª Secex (fls. 355/419):

"A inspeção de que ora se apresenta relatório foi autorizada pelo despacho de fls. 347 da Sr.ª Secretária de Controle Externo Substituta, com base em Portaria de Delegação de Competência nº 3-GM-LMR, de 25/9/03, e destinou-se a esclarecer pontos levantados pela Instrução de fls. 306/329.

2. Na referida instrução abordou-se aspectos irregulares abrangendo a concessão de diárias e passagens a 21 servidores detentores de cargos em comissão e funções de confiança, aspectos que foram levantados pela Secretaria Federal de Controle Interno, levantamento que decorreu da Decisão TCU nº 1690/2002 – Plenário (fls. 285 e 338, v. 1) e de denúncia acerca do mesmo tema recebida pelo Subcorregedor-Geral da União (fl. 286, v. 1). A metodologia e o resultado do levantamento estão resumidas nos subitens 7.1.4 a 7.1.11, fls. 314/315, v. 1 dos autos.

2.1. Releva observar que a [unidade de] Auditoria Interna da Anvisa, quando da apresentação da prestação de contas, referiu sobre descontrole na área de concessão de diárias e passagens, situação também caracterizada na Nota Técnica 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, de 21/5/2003 (fls. 285/299, v. 1). Nessa Nota Técnica, inclusive, houve a recomendação de que a [unidade de] auditoria interna da Anvisa realizasse auditoria operacional na área, para quantificar e qualificar tais ocorrências, apurar valores e determinar a devolução de recursos indevidamente utilizados ou não devolvidos, assim como para promover a correção de processos com formalização inadequada.

2.2. Em resposta à Nota Técnica da SFC, a Anvisa encaminhou o Ofício 1.891/GADIP/ANVISA, de 30/12/2003 (fls. 304/305, v.1) o qual tinha em anexo o Relatório do

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Grupo de Trabalho instituído pela Portaria 626, de 30/7/2003. O anexo encontra-se nos volumes 3 a 5 destes autos e foi analisado na Instrução de fls. 306/329 e respectivo Anexo 8, fls. 339/346.

3. Para coletar os dados necessários à realização da inspeção, a equipe solicitou relação dos PCD’s [Proposta de Concessão de Diárias] referentes às viagens e diárias concedidas aos 21 servidores durante o exercício de 2002. A relação fornecida pelo setor da Anvisa responsável pelos processos, retirada do sistema informatizado da entidade, já chegou com o valor das passagens e diárias, período da viagem, número de diárias, trechos da viagem, objetivo e, quando existente, justificativa (fls. 1/5, Anexo 1).

(...)

9. Com relação aos achados de auditoria, buscou-se apenas obter cópias de evidências que bastassem para fornecer comprovação suficiente das irregularidades constatadas, pois se fossem anexadas aos autos cópias de cada evidência, os autos do processo se tornariam de difícil manuseio, além de inúteis, na prática, dado o caráter repetitivo das falhas, comprováveis por simples consulta aos PCD’s. Além do mais, caso seja necessário fazer constar dos autos cópia de cada evidência, bastará apenas solicitá-las à Anvisa.

9.1. É preciso destacar que a percepção de diárias foi considerado item essencial para que a viagem fosse considerada, a princípio, como objeto de serviço. Raras são as vezes em que servidores viajam a serviço e não fazem jus a diárias; normalmente isto ocorre quando o órgão solicitante ou promotor do evento custeia as despesas de alimentação e/ou estadia, o que não foi a regra observada na inspeção. Foi verificado, também, que por vezes, os servidores viajaram com diárias, porém o interesse da Administração não restou claramente demonstrado. Nesses casos, a citação deve ser promovida para que o assunto fique esclarecido.

(...)

Detalhamento das irregularidades encontradas

13. Passa-se, de imediato, à apresentação dos dados obtidos, listados por servidor, conforme foram obtidos do exame das Propostas de Concessão de Diárias (PCD) e Requisições de Transporte (RT), por servidor, esclarecendo-se, de antemão, que em face da carência de tempo para conclusão dos trabalhos de campo, não foi possível examinar todas as concessões, embora tenha-se constatado que os processos de concessão de diárias ou de requisição de transportes limitam-se ao pedido ou requisição e à anexação, quando existente, dos bilhetes de passagem e, eventualmente, de memorando justificando a perda do bilhete (fls. 61/62, v. Anexo 1) ou comunicando a devolução de diárias/cancelamento de passagem (fls. 57/60, v. Anexo 1). Não se constatou, nos processos, quaisquer documentos outros, como fôlderes, relatórios de viagem ou de reunião, que ratificassem as viagens, objetivos e períodos.

13.1. Para alguns dos servidores julgou-se suficiente caracterizar ou quantificar a irregularidade apontada, embora seja perfeitamente possível, posteriormente, o exame de todas as propostas e requisições de transporte. Além disso, elaborou-se a Tabela de fls. 6, v. Anexo 1, a qual demonstra o percentual de viagens envolvendo o domicílio/estado de origem dos responsáveis, e que serve para demonstrar o beneficiamento dos mesmos com passagens para suas origens, algumas vezes até mesmo com diárias.

14. Antônio Carlos da Costa Bezerra - Cargo: Gerente-Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e Produtos - GGIMP - CPF: 461.746.307-06 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

14.1. Para este servidor foram emitidas 55 PCD’s/RT’s, sendo cinco delas canceladas. O exame do relatório das propostas concedidas ao responsável mostra diversas PCD’s/RT’s sem as correspondentes diárias, no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília. Das viagens realizadas

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pelo servidor, 29 tiveram por destino o Rio de Janeiro; 12 englobaram outros estados, mas com passagem pelo Rio de Janeiro; apenas 8 foram para outros estados, exclusivamente. Verifica-se, portanto, que 82% dos deslocamentos envolveram o domicílio de origem. É de se ressaltar que nos deslocamentos com destino exclusivo ao Rio de Janeiro, correspondentes a 58% do total de viagens, não foram concedidas diárias.

14.2. As principais constatações, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto, feitas em relação ao responsável são as seguintes.

a) recebimento de passagens no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, sem as correspondentes diárias a que o servidor público faz jus quando do deslocamento comprovadamente a serviço, com objetivo declarado de participar de reuniões em órgãos e entidades localizados no Rio de Janeiro, conforme as PCD’s nº 794, 966, 1.475, 1.730, 2.175, 2.388, 2.963, 3.109, 3.637, 4.491, 5.164, 7.231, 7.873, 8.404, 8.662, 10.082, 10.771, 11.488, 12.497, 13.740, 14.000, 15.478, 16.037, 16.202, 16.226 e 16.251, sem qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, previsto no art. 7º do Decreto nº 343/1991, e cujos objetivos descaracterizam as viagens e indicam concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429, de 1992;

b) alteração na passagem concedida, RT nº 1.475, originalmente programada para os dias 21 a 22/2/2002, quinta e sexta-feiras, e remarcada para 22/2/2002 a 24/2/2002, sexta-feira a domingo, saída às 18:00 e retorno às 19:46 (fls. 40/41, v. Anexo 1) sem que fosse apresentada a justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991 e evidenciando concessão e obtenção de vantagem indevida, cabendo a citação do responsável que autorizou a concessão e do responsável beneficiário direto. O fato foi verificado ainda nas RT’s 1.730, 2.175, 2.388, 5.164 e 8.404 (fls. 42/49 e 51/52, v. Anexo 1);

c) recebimento de passagem, PCD nº 10.771, no período de 29/8/2002 a 1/9/2002, que inclui domingo, sem a justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, fato também constatado nas PCD’s 14.000, 15.478, 16.037, 16.202, 16.226 e 16.251. Atentar que a PCD nº 16.202 englobou o período do Natal e a PCD nº 16.226 as festividades de Ano Novo;

d) a PCD nº 16.226 foi emitida com deslocamento para o Rio de Janeiro na sexta-feira, dia 27/12/2002, com retorno a Brasília, na quinta-feira, 2/1/2003. Não obstante, foi também concedida passagem, PCD nº 16.251, para o trecho Brasília/Rio, com saída no sábado 28/12/2002. Portanto, o responsável foi beneficiado com duas passagens, com o mesmo destino, no mesmo período;

e) a PCD nº 3.637 foi emitida concedendo passagem para que o responsável se deslocasse ao Rio de Janeiro na quinta-feira (4/4/2002), com retorno a Brasília no dia 5/4/2002, sexta-feira. Verifica-se, no entanto, na PCD nº 3.513, que no dia 7/4/2002, domingo, o responsável saiu do Rio de Janeiro com destino a Buenos Aires, o que indicaria que o Sr. Antônio Carlos passou o fim de semana naquele estado, não tendo retornado efetivamente a Brasília, ficando sem uso o trecho Rio/Brasília. A mesma situação foi verificada com relação às PCD´s 6.492 e 6.707.

f) falhas no sistema de arquivamento de processos de concessão de diárias e passagens, conforme evidência de fls. 38/39, v. Anexo 1, onde se pode constatar o arquivamento de dados de viagem de uma senhora Maria Medeiros juntamente com os documentos do Sr. Antônio Carlos da C. Bezerra, embora essa falha não seja atribuível ao responsável e já tenha sido apontada nos exames feitos pela Secretaria Federal de Controle Interno, consubstanciada em itens do Relatório nº 115.203, de Avaliação da Gestão 2002, itens nº 2.2.3 – Atuação da Auditoria Interna (fls. 273, v.1) e nº 2.2.5 – Avaliação dos Controles Internos (fls. 274, v. 1) e Nota Técnica nº 418DSSAU/DS/SFC/CGU-PR (fls. 285/299, v. 1);

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14.3. As justificativas e demais dados referentes a este servidor encontram-se às fls. 9 e 42/52 do vol. 3 e fls. 336/347 do vol. 2. Entretanto, estas justificativas limitam-se a apresentar as competências da Gerência Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e Produtos, bem como os outros dados são relativos ao exercício de 2001, não abordado nestes autos. De qualquer forma, a planilha daquele exercício só ostenta, sumariamente, os objetivos, sem maiores detalhes, o que não é suficiente para esclarecer os pontos levantados.

15. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques - Cargo: Diretor-Adjunto da Presidência - atual Diretor-Presidente da Anvisa - CPF: 059.514.278-86 - Domicílio indicado no Siape: São Paulo.

15.1. Em favor deste servidor foram emitidas, no exercício sob exame, 30 PCD’s/RT’s, uma delas cancelada. Das viagens realizadas, 79,3% envolveram o domicílio de origem e 10% foram para o estado de origem, sem concessão de diárias, indicando a existência de favorecimento ao servidor.

15.2. Eis as principais constatações, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) a PCD nº 162 foi emitida para que o responsável se deslocasse no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, nas datas de 10 a 11/1/2002, quinta e sexta-feira, para participar de reunião de acompanhamento do convênio FSP-USP; entretanto a passagem foi remarcada, conforme evidência de fl. 63, v. Anexo 1, alterando as datas de ida e retorno para 11/1/2002 e 14/1/2002, sexta e segunda-feira, nos horários respectivos de 17:30 e 11:06. Estes dados descaracterizam a motivação da viagem e desacreditam o responsável, que deverá apresentar suas razões de justificativa para o fato, por caracterizar concessão e obtenção de vantagem indevida, prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) na PCD 406, emitida para o trecho Brasília/São Paulo/Brasília (fl. 64, v. Anexo 1), nas datas de 20 a 21/1/2002, com saída prevista para um domingo e retorno na segunda-feira, o objetivo proposto era visita a materiais esterilizados do Hospital das Clínicas de São Paulo e reunião na Faculdade de Saúde Pública. O exame da proposta mostrou que a ida aconteceu no sábado dia 19/1/2002 e o retorno ocorreu às 09:16 da segunda-feira 21/1, o que desacredita o objetivo alegado para a viagem, principalmente se for levado em consideração que a justificativa apresentada para o deslocamento principiar num domingo informa sua necessidade em função do início das atividades na segunda-feira pela manhã, o que não ficou comprovado. Cabe então citar o responsável para que justifique o ocorrido, que caracteriza concessão e obtenção de vantagem indevida, prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

c) a PCD nº 1.495 (fl. 65, v. Anexo 1) concede passagem para deslocamento no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem diárias, com objetivo declarado de participar de reunião na Faculdade de Saúde Pública; entretanto a justificativa não pode ser acolhida, em função da alteração do período da viagem que aconteceu às 17:58 da sexta-feira, dia 22/2/2002 com retorno às 18:00 do domingo 24/2/2002; assim, em razão dos fatos apresentados, deve o responsável apresentar as razões de justificativa para o fato, por caracterizar concessão e obtenção de vantagem indevida, prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

d) a PCD 2.890 concedeu passagem no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, na quinta-feira dia 28/3/2002, véspera de Sexta-feira Santa. Foi paga meia diária, no valor de R$ 124,69. Entretanto, o objetivo e a justificativa apresentados não são congruentes, posto que o objetivo declarado era participar de reunião na escola de saúde pública e a justificativa era fiscalização de produtos e serviços; o mesmo fato se repete nas PCD’s nº 3.657 e 5.621, devendo o responsável apresentar as razões de justificativa para o fato, por caracterizar concessão e obtenção de vantagem indevida, prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

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e) a PCD nº 5.621 (fl. 69, v. Anexo 1) foi emitida concedendo passagem e meia diária para que o responsável se deslocasse, em 10/5/2002, sexta-feira, às 20:12 para São Paulo, retornando no domingo às 21:20, tornando irreal o objetivo declarado de reunião na vigilância sanitária local e maculando as demais informações, pelo que deve ser o responsável citado a apresentar suas razões de justificativa, ante a possibilidade de caracterização de concessão e obtenção de vantagem indevida, prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

f) o exame conjunto das PCD’s 16.153 e 16.243 revela que os objetivos propostos são fictícios, pois a PCD 16.153 concedeu passagem e meia diária, em 20/12/2002 para que o responsável participasse de reunião na Faculdade de Saúde Pública, com trecho Brasília/São Paulo/Brasília, do qual só foi utilizada a ida para São Paulo e o retorno foi devolvido, permanecendo o servidor em São Paulo. Já a PCD 16.243 tinha como objetivo declarado reunião na Anvisa com o Dr. Gonzalo, data de viagem em 26/12/2002, no trecho São Paulo/Brasília. A análise leva à conclusão de que as passagens foram concedidas para que o responsável pudesse passar o Natal em São Paulo, cidade de origem, caracterizando a concessão e obtenção de vantagem indevida, fato capitulado no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

15.3. As justificativas e demais dados referentes a este servidor encontram-se às fls. 9 e 53/59 do vol. 3 e fls. 348/361 do vol. 2. Entretanto, as justificativas não elidem os fatos apontados, pois limitam-se a apresentar os motivos lançados nas PCD’s.

16. Dulcelina Mara Said Pereira - Cargo: Gerente de Projetos - CGE IV - (Gerente do Programa de Validação de Processos de Registros de Medicamentos - Projeto Z - CPF: 923.172.517-34 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

16.1. Foram emitidas 51 PCD’s/RT’s em prol dessa servidora, nenhuma delas cancelada. Dentre as propostas, notam-se várias emitidas para o trecho Brasília/Rio de Janeiro, concedendo passagens mas não diárias. O exame da relação de propostas mostrou que até meados de setembro essas passagens eram emitidas para o trajeto Brasília/Rio de Janeiro/Brasília e após aquela data o trajeto passou a ser Rio de Janeiro/ Brasília/Rio de Janeiro. Das viagens da servidora, 94% foram para seu estado de origem e mais de 70% foram sem diárias para o local de domicílio.

16.2. As constatações são:

a) percepção de passagens no trecho Brasília/Rio de Janeiro, sem elementos comprobatórios de que o deslocamento tenha ocorrido por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991 (descrição objetiva do serviço executado e indicação clara dos locais onde o serviço foi realizado) e sem o recebimento das correspondentes diárias a que o servidor público faz jus quando do deslocamento comprovadamente a serviço, com o objetivo declarado de participar de reunião na Fiocruz, curso de mestrado ou atividades do Programa Z, conforme as PCD’s nº 426, 3.031, 3.226, 3.702, 4.562, 4.994, 5.787, 5.979, 6.631, 7.238, 8.140, 8.144, 8.386, 8.605, 8.737, 9.028, 9.281, 9.625, 9.884, 10.993, 11.119, 11.410, 11.452, 11.733, 11.803, 12.262, 12.741, 13.318, 13.649, 14.104, 14.501, 14.719 e 16.177, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pela servidora, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992. Atentar que nas PCD´s nºs 10.993, 11.119, 11.410 e 11.452 as passagens foram concedidas para que a responsável participasse de curso de mestrado.

b) percepção de passagem, pela PCD nº 4.069, para que a responsável se deslocasse de Brasília ao Rio de Janeiro no dia 16/4/2002, terça-feira, com retorno a Brasília no dia 18/4/2002, quinta-feira. Verifica-se, no entanto, na PCD nº 4.360, que no dia 21/4/2002, domingo, a responsável saiu do Rio de Janeiro com destino a Goiânia, o que indica que a Sr. Dulcelina passou o fim de semana naquele estado, não tendo retornado efetivamente a Brasília, ficando sem uso o trecho Rio/Brasília. Consoante a PCD nº 4.360, a responsável deveria retornar de Goiânia ao Rio de Janeiro na terça-feira, dia 23/4/2002. Todavia, ao que

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consta, isso não ocorreu, já que, conforme a PCD nº 4.562, no dia 24/4/2002, a responsável saiu de Brasília, com destino ao Rio de Janeiro. Situações semelhantes ocorreram com relação às PCD´s nºs 9.884 e 10.166, 11.465 e 11.733 e 14501 e 14719.

16.3. As justificativas e demais dados referentes a esta servidora encontram-se às fls. 9/10 e 60/74 do vol. 3 e fls. 233/243 do vol. 2. Entretanto, as justificativas não elidem completamente os fatos apontados, pois não foram incluídos documentos comprobatórios das atividades desenvolvidas pela servidora. A fim de sanar completamente as falhas apontadas, deveria a servidora fazer anexar Portarias, pautas de reunião e/ou suas atas, enfim, documentos que demonstrassem, sem sombra de dúvida, a participação nos processos de trabalho descritos.

17. Erna Luiza Schmitt da Silva Mello - Cargo: Coordenadora da CVSPAF-PB - CPF: 252.507.520-04 - Domicílio indicado no Siape: Florianópolis.

17.1. A relação de PCD’s dessa servidora continha apenas sete itens, o último deles cancelado. Essa servidora tem percentual zero de viagens envolvendo domicílio de origem ou sem concessão de diárias. Embora seu domicílio constante do Siape fosse Florianópolis, as seis viagens realizadas durante o exercício não passaram por essa cidade. Na verdade, cinco delas foram no trecho João Pessoa/Brasília/João Pessoa e a sexta no trecho Porto Alegre/Brasília/João Pessoa; em todas foram concedidas diárias e os objetivos são diversos e condizentes com as funções e duração da viagem. Também os horários dos vôos são pertinentes e há justificativa aceitável para o início ou término das viagens em finais de semana.

17.2. Em conclusão, considera-se que não devem ser feitos reparos em relação a essa servidora.

17.3. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 10 e 76/98 do vol. 3 e 245/251 do vol. 2.

18. Fernando Antônio Viga Magalhães - Cargo: Gerente de Qualificação Técnica em Proteção dos Alimentos - CPF: 121.324.462-53 - Domicílio indicado no Siape: Porto Velho.

18.1. O servidor tem, em sua relação de PCD’s e RT’s do exercício, 34 concessões, nenhuma cancelada. Com relação a ele, notam-se diversas viagens a Belém, no Pará, com o objetivo de reunião sobre monitoramento de alimentos na Diretoria ou na Visa Estadual, em geral no primeiro semestre do exercício, embora em apenas duas ocasiões não tenham sido concedidas diárias. O percentual de viagens envolvendo o domicílio de origem é zero, assim como o de viagens sem concessão de diárias para local de domicílio.

18.2. Os principais achados em relação a esse servidor são os seguintes, constatações que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto:

a) de acordo com a PCD 1.070 (fl. 71, v. Anexo 1), em 14/2/2002 o servidor recebeu passagem no trecho Brasília/Belém/Brasília, sem diária, com o objetivo declarado de reunião na Visa Estadual sobre alimentos. Ocorre que, segundo os dados do vôo, evidência de fls. 72, v. Anexo 1, o mesmo saiu de Brasília às 11:20, com chegada em Belém às 12:40, saída de Belém às 15:00 e chegada em Brasília às 18:19. Ora, a se aceitar os dados, o passageiro desses vôos teria ficado em Belém por 2 horas e 20 minutos. Descontando-se o tempo necessário para deslocamento do aeroporto ao local de reunião e para fazer o check in no embarque de volta a Brasília, calculado em cerca de 1 hora e 20 minutos, restaria apenas 1 hora para manter a reunião, caracterizando ato antieconômico, posto que as deliberações de reunião com essa duração poderiam ser tomadas mesmo à distância. Resta ainda lembrar que 14/2/2002 foi a quinta-feira imediata após o Carnaval, o que é mais um indício de irregularidade, ante a possibilidade de remarcação de passagens, cabendo realizar citação do responsável pelo ato, que caracterizou concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme

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previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, pela percepção de passagens sem elementos comprobatórios de que o deslocamento tenha ocorrido por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991;

b) conforme a PCD 2.123, em 6/3/2002, o servidor obteve concessão de passagem, sem diária, no trecho Brasília/Belém/Brasília, com retorno no dia seguinte, 7/3/2002, com objetivo declarado de manter reunião na Visa Estadual sobre alimentos. Cabe esclarecer porque não houve o pagamento de 1,5 diárias, consoante facultado pelo Decreto nº 343/1991, caso a viagem tenha ocorrido a serviço, como aconteceu regularmente com a PCD 1.508, em que houve o pagamento de 1,5 diárias;

c) na PCD 4.563 houve pagamento de 4,5 diárias ao servidor por um deslocamento ocorrido de quarta a domingo, 24/4/2002 a 28/4/2002, justificando-se que a reunião mantida com o Comitê Estadual de Segurança Alimentar teria se encerrado às 20 horas de sábado, dia 27/4/2002. Entretanto, considera-se irreal a justificativa de ser mantida reunião num sábado até às 20:00h, cabendo citar o responsável para que apresente suas justificativas comprovando o fato;

d) pelas PCD’s 10.843 e 11.292, foram concedidas passagens e 5,5 e 4,5 diárias, respectivamente, para deslocamentos no trecho Brasília/Fortaleza/Brasília, para participar de curso e de auditoria naquela cidade, com os seguintes períodos de deslocamentos: 1/9/2002 a 6/9/2002, domingo a sexta-feira, e 8/9/2002 a 12/9/2002, domingo a quinta-feira. O valor de cada passagem ida e volta a Fortaleza ficou em R$ 1.034,30. Entretanto, seria mais econômico para a Administração se o servidor não tivesse retornado a Brasília no fim de semana que intermediou os deslocamentos, uma vez que apenas seria paga uma diária a mais, no valor de R$ 148,44, pelo período total. Da forma como foi realizado o deslocamento utilizou-se uma passagem a mais entre Fortaleza/Brasília/Fortaleza, o que ao final resulta equivalente a R$ 1.034,30. Entretanto, entende-se que este fato não é imputável apenas ao servidor, mas também à Diretoria da Anvisa, que consentiu no fato, devendo ser feita a citação de ambos os responsáveis, o beneficiado e quem autorizou o deslocamento, este o servidor Ricardo Oliva, nos termos do art. 12 do Decreto nº 343/1991.

18.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 10 e 99/107 do vol. 3 e 252/266 do vol. 2. Entretanto, essas justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, mantendo-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora das vantagens.

19. Franklin Rubinstein - Cargo: Ouvidor - CPF: 083.596.877-49 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

19.1. Este servidor foi beneficiado, ao longo do exercício, com 48 PCD’s/RT’s, nenhuma delas cancelada. Das viagens realizadas, quase 98% envolveram o estado de origem e mais de 95% delas foram concessões para o local de origem e sem diárias. O que se destaca no exame dos documentos é o objetivo alegado, reunião com técnicos do INCQS, em quase todas elas, assim como o fato de que, com exceção de duas PCD’s, em todas as demais somente foi concedida passagem, sem diárias. Outro fato que se destaca na concessão de passagens ao responsável é que, até fins de agosto, as concessões irregulares eram sempre por 1 dia, ida e volta ao Rio de Janeiro, durante a semana, com tarifa Y, que permitia a remarcação sem qualquer ônus.

19.2. A partir do início de setembro, a sistemática mudou, junto com a variação das tarifas, que deixaram de ser Y e passaram quase que totalmente a W ou S, que exigem o pagamento de taxa de remarcação. O período abarcado também foi alterado, passando a abranger o fim de semana, com raras exceções.

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19.3. Assim, são as seguintes as constatações feitas com relação a esse responsável, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) recebimento de passagens para deslocamentos semanais e sucessivos no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, por 1 dia, sem pagamento de diárias, a que o servidor público faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com o objetivo declarado de manter reunião com técnicos do INCQS, originalmente programadas para ocorrer durante os dias úteis, mas sem qualquer outro elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público. Os fatos configuram concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, além de inobservância da justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, constatados, sem sombra de dúvida, nas PCD’s/RT’s nº 38, 160, 471, 783, 990, 1.322, 1.786, 2.124, 2.433, 2.927, 3.038, 3.705, 3.641, 4.327, 4.872, 5.493, 5.971, 6.497, 6.826, 7.118, 7.580, 7.804, 8.115, 8.445, 8.679, 8.875, 9.679, 10.017, 10.501 e 11.783. Cabe então citar o responsável para que apresente as suas razões de justificativa para as situações elencadas;

b) percepção de passagens para deslocamentos no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, abrangendo o fim de semana, sem diárias e sem justificativa, com objetivo declarado e padronizado de manter reunião com técnicos do INCQS, caracterizando concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, além de inobservância da justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, conforme constatado nas PCD’s/RT’s nº 10.804, 11.262, 11.538, 12.148, 12.517, 12.774, 13.657, 14.003, 14.154, 14.537, 15.729, 16.163 e 16.234;

c) recebimento de passagem para deslocamento de Brasília para o Rio de Janeiro, no dia 29/11/2002, só de ida, PCD nº 15.070, com objetivo declarado de manter reunião com técnicos do INCQS. No dia 1/12/2002, domingo, conforme PCD nº 15.071, há o deslocamento do Rio de Janeiro para São Paulo, com percepção de diárias, com retorno ao Rio de Janeiro na quarta-feira, dia 4/12/2002. O responsável só retornou a Brasília em 9/12/2002, segunda-feira, PCD nº 15.072, sendo alegado o mesmo objetivo, sem a justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991;

d) na PCD 13.657 foi concedida passagem no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, ida e volta dias 3/11/2002 e 4/11/2002, com objetivo declarado de manter reunião com técnicos do INCQS. Ocorre que os horários de vôos foram às 09:06 da manhã de um domingo, a ida, e às 09:08 de segunda-feira, o retorno, impossibilitando a realização de reunião conforme alegado e caracterizando concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, além de inobservância da justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991.

19.4. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 10 e 108/118 do vol. 3 e 267/286 do vol. 2. Entretanto, essas justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, mantendo-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora das vantagens.

20. Galdino Guttmann Bicho - Cargo: Chefe da Unidade de Medicamentos Controlados, Similares, Fitoterápicos e Isentos - CPF: 433.935.197-00 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

20.1. Esse servidor possui na sua relação 62 PCD’s emitidas, sendo apenas uma cancelada. Com relação a esse servidor, verificou-se várias viagens para o Rio de Janeiro iniciando na quinta ou sexta-feira, com retorno também na quinta ou sexta-feira, com o objetivo declarado de reuniões na Fiocruz ou no INCQS. Dentre suas viagens, 86,9% envolveram o local de origem e 57% foram para a origem e sem concessão de diárias. Por outro lado, verificou-se viagens a serviço feitas pelo servidor, cujo retorno não foi para Brasília,

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onde o servidor deveria estar desempenhando suas funções, mas sim para o Rio de Janeiro, local de moradia indicado no Siape.

20.2. Eis as principais constatações pertinentes ao responsável, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) na PCD 4.242 a viagem estava prevista para ser realizada no trajeto Brasília-João Pessoa-Rio-Brasília, no período de 22 a 29/4/02, segunda-feira a segunda-feira, com o objetivo declarado de verificação de avaliação técnica dos técnicos João Carlos Thomé, Joana D’Arc e Renato Lima Duarte do trabalho executado para habilitação da Reblas – Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde, acrescido da justificativa de permanência no final de semana devido à continuidade dos trabalhos. Mas houve remarcação de passagem, código YMQIS8, alterando o deslocamento, marcando o retorno para Brasília, dia 29/4/02, às 08:40. Não restou esclarecido qual o objetivo da ida ao servidor ao Rio de Janeiro, caracterizando concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, cabendo citar o mesmo para que apresente suas justificativas. Destaque-se que o servidor recebeu duas diárias a mais, referentes à estadia no Rio de Janeiro, as quais, se não acolhidas suas justificativas deverão ser recolhidas à Anvisa;

b) na PCD 5.438, a viagem foi programada para ocorrer nos dias 9/5/02 a 10/5/02, quinta a sexta-feira, no trecho Brasília-Belo Horizonte-Rio-Brasília, com o objetivo declarado de apresentação da Reblas na Funed – Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais – e reunião no INCQS, no Rio de Janeiro, com a percepção de R$ 323,60 de diárias. Conforme o bilhete de passagem anexado ao PCD, o trecho de viagem obedeceu ao seguinte horário: Brasília-Belo Horizonte, em 9/5/2002 saída às 10:32; Belo Horizonte-Rio, em 10/5/2002, saída às 17:45; Rio-Brasília no mesmo dia 10/5/2002, saída às 19:46. Vê-se que entre a decolagem de Belo Horizonte para o Rio e do Rio para Brasília, decorreram apenas duas horas, impossibilitando a participação na alegada reunião. O fato claramente indica ter havido remarcação de passagem para que o servidor passasse o fim de semana no Rio, devendo ter retornado a Brasília apenas na segunda-feira. Assim, a justificativa de reunião no INCQS não se sustenta de forma alguma e indica sobejamente a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, cabendo a citação do mesmo;

c) pela PCD 9.487, o servidor deveria participar de reunião no INCQS no dia 9/8/2002, sexta-feira, após viagem a Porto Alegre. Ele deveria sair do Rio Grande do Sul no dia do evento, às 09:20, participar da reunião e tornar a decolar do Rio em direção a Brasília às 13:11 do mesmo dia. Mas não houve tempo para essa reunião, sendo evidente a remarcação para beneficiamento do servidor, cabendo a citação do mesmo por concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

d) nas PCD’s 10.808 e 10.845, a obtenção de passagens em benefício próprio torna a ficar evidente. De acordo com a PCD 10.808, o servidor se deslocou de Brasília para o Rio e retornou a Brasília no mesmo dia, sem diárias, com o objetivo de reunião no Lacen-RJ – Laboratório Central - para discutir e elaborar modelo de implementação do controle fiscal de medicamentos, saída no dia 30/8/2002, sexta-feira, às 7:30, com retorno no mesmo dia às 19:31. Ocorre que a PCD seguinte, nº 10.845, mostra que o servidor foi participar da coordenação de curso de sistema da qualidade, com início na segunda-feira, dia 1/9/02 pela manhã; para isso, foi-lhe concedida passagem aérea no trecho Rio-Porto Alegre-Rio, com cinco e meia diárias. Isso demonstra que o servidor não retornou a Brasília pelo PCD anterior, permanecendo no Rio de Janeiro pelo final de semana. Os fatos indicam que a concessão das passagens Brasília/Rio de Janeiro/Brasília pela PCD 10.808 caracterizou concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado;

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e) na PCD 14.179, o servidor foi beneficiado com passagem aérea no trecho Brasília-Rio-Brasília, com saída em 14/11/2002, quinta-feira véspera de feriado, às 15:30 e retorno na segunda-feira, às 7:04, com o objetivo declarado de participar de reunião na empresa Control Lab; questiona-se então quando teria sido realizada a reunião e a que horas ela ocorreu. Entende-se, perante os fatos precedentes, que ocorreu a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado;

e) na PCD 14.509, o servidor foi proferir palestra em curso de especialização na Universidade Federal do Ceará. O deslocamento ocorreu numa quinta-feira, dia 21/11/2002, às 15:30, com retorno programado para o sábado, dia 23/11/2002, num vôo para o Rio de Janeiro. Interessante destacar que na justificativa para o retorno ocorrer no sábado especificou-se que tal ocorria porque o último vôo para o Rio sairia às 12:25 e a palestra iria até o anoitecer de sexta-feira. A questão, novamente, é por que o servidor deveria ir para o Rio de Janeiro, se seu local de trabalho era Brasília? Entende-se, perante os fatos precedentes, que ocorreu a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado;

f) na PCD 15.083 o servidor deslocou-se para Florianópolis numa quinta-feira, dia 28/11/2002, às 19:40, para tomar parte numa mesa redonda sobre a Reblas, retornando na sexta-feira, dia 29/11/2002, às 19:20, para o Rio de Janeiro, caracterizando novamente a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado;

g) na PCD 15.084, o servidor deslocou-se para Brasília, na segunda-feira, dia 29/11/2002, às 08:14, para participar de reunião na Control Lab. Entretanto, essa empresa fica no Rio de Janeiro [Rua Ana Neri, 416 – Benfica - Rio de Janeiro – RJ - CEP.: 20911-440 - Tel. (21) 3891-9900 - Fax (21) 3891-9901], o que descaracteriza a justificativa e demonstra a falsidade desta, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429, de 1992, c/c a inobservância do item VIII [VIII - Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da opressão, ou da mentira, que sempre aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação], Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

h) nas PCD’s 15.390 e 15.391, verifica-se situação semelhante à relatada nas duas alíneas anteriores. O servidor se deslocou para Salvador, na quinta-feira dia 5/12/2002, às 11:12, para avaliação de ensaios de proficiência, justificando o retorno no sábado à tarde, dia 7/12/2002, às 15:00, só que para o Rio de Janeiro. E na segunda-feira seguinte, dia 9/12/2002, foi para Brasília, saindo do Rio às 09:08, sob a justificativa de reunião na Control Lab para discutir teste de proficiência, justificativa que não pode ser aceita pelos motivos retro expostos, caracterizada a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429, de 1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

i) nas PCD’s 15.787 e 16.169 o servidor viajou novamente para o Rio de Janeiro. Na primeira proposta, 15.787, o deslocamento deu-se das 13:17 do dia 13/12/2002, sexta-feira, às 09:08 do dia 16/12/2002, segunda-feira, com o objetivo declarado de reunião na Control Lab para discutir teste de proficiência de água de diálise e kit de dengue em Biomanguinhos. Na segunda proposta, o deslocamento ocorreu das 11:03 da sexta-feira dia 20/12/2002 às 08:50 da segunda-feira dia 23/12/2002, para acompanhar o desenvolvimento do programa de proficiência de água para terapia renal substitutiva; ambas as justificativas não podem ser

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aceitas, pois, na situação enfrentada, a concessão de passagens caracteriza a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

j) na PCD 16.182, foi concedida passagem para acompanhamento de projeto no INCQS, das 18:00 da terça-feira dia 24/12/2002 às 09:08 da segunda-feira dia 30/12/2002, justificativa que também não pode ser aceita, por caracterizar a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado;

k) na PCD 16.225, foi concedida passagem para acompanhamento de projeto na Fiocruz, das 11:14 da terça-feira dia 31/12/2002 às 09:08 da segunda-feira dia 6/1/2003, justificativa que também não pode ser aceita por caracterizar a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado.

20.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 10/11 e 119/131 do vol. 3 e 287/294 do vol. 2. Entretanto, essas justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, pois não contêm fatos novos ou documentos comprobatórios mantendo-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora das vantagens.

21. Gonzalo Vecina Neto - Cargo: Diretor-Presidente da Anvisa - atual Secretário de Saúde de São Paulo - CPF: 889.528.198-53 - Domicílio indicado no Siape: São Paulo.

21.1. O ex-Diretor-Presidente da Anvisa tem, na sua relação de viagens a serviço, 79 ocorrências, sendo apenas duas canceladas. Das viagens realizadas, 94,8% envolveram o domicílio de origem e 68,8% foram para o local de domicílio e sem concessão de diárias. Destaca-se, em relação a ele, o fato de diversas viagens terem como objetivo reunião na Faculdade de Saúde Pública da USP, quando já se sabe que de fato Gonzalo Vecina Neto lecionava lá, conforme apurado pela SFC (fl. 296, v.1).

21.2. Assim como em outros casos dos responsáveis arrolados neste Relatório, há diversas viagens a serviço em que o Sr. Gonzalo Vecina não retornava à sede da Anvisa, mas sim ao estado de origem, São Paulo. Deve-se ressaltar, que além das falhas mais aparentes caracterizadas pela obtenção de passagem de ida e volta a São Paulo, existem ainda os fatos de razões fictícias para viagem e os dias não trabalhados em prol da Anvisa.

21.3. Eis as principais constatações a respeito, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto:

a) as PCD’s 438, 530, 756, 4.958, 6.568, 8.232, 8.446, 8.728, 9.400, 10.624 e 14.671 referem-se a viagens ida e volta do responsável para São Paulo, sem a concessão de diárias, a que o servidor público faz jus quando de deslocamentos comprovadamente a serviço, iniciando e terminando na mesma sexta-feira, com o objetivo padrão de reunião na Faculdade de Saúde Pública, sem qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo ex-Diretor-Presidente, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) da mesma forma que nos casos anteriores, a PCD 1.017 trata de viagem a São Paulo no dia 08/02/2002, sexta-feira véspera de Carnaval, para reunião na Faculdade de Saúde Pública, com retorno no mesmo dia. Entretanto, nesta proposta consta reserva eletrônica impressa alterando o deslocamento de ida para as 19:08 do mesmo dia e o retorno para o dia 13/2/2002, às 09:46. A justificativa apresentada alega reunião às 14:00hs com a diretoria da ABIPS, o que, em confronto com os dados da viagem, demonstra que a passagem foi concedida para que o beneficiado passasse o Carnaval em São Paulo, caracterizando a

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concessão e obtenção indevida de vantagem pelo ex-Diretor-Presidente, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

c) a PCD 1.198 previa outra viagem a São Paulo, dia 15/2/2002, nos mesmos moldes anteriores. Entretanto consta na PCD alteração de reserva fixando o retorno para o dia 17/2/2002, às 20:28, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo ex-Diretor-Presidente, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

d) na PCD 1.379 concedeu-se passagem e 1,5 diárias para ida a Salvador com o objetivo declarado de participar de oficina de avaliação de cursos de especialização. A viagem foi programada para os dias 21 e 22/2/2002, quinta e sexta-feira, no trecho Brasília/Salvador/São Paulo. Já na PCD seguinte concedeu-se passagem para o dia 25/2/2002, segunda-feira, no trecho São Paulo-Brasília para atender a reuniões agendadas para aquela data na Anvisa, porém o horário previsto de chegada em Brasília era 22:09, inviabilizando atividades ainda naquele dia e tornando insustentável a realização do objetivo declarado, estando caracterizada a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo ex-servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

e) na PCD 1.421, com objetivo declarado de atender reuniões agendadas na Anvisa, a passagem previa deslocamento de São Paulo a Brasília, dia 25/2/2002, com chegada no destino às 22:09, o que inviabiliza a realização de reunião, caracterizando falso objetivo, que na verdade era conceder passagem de volta a Brasília para que o Diretor-Presidente viesse trabalhar, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

f) a PCD 2.189 concedeu passagem no trecho São Paulo/Brasília no dia 11/3/2002, segunda-feira, para atender reuniões agendadas na Anvisa. Entretanto, consta alteração de reserva da passagem, alterando o trecho para Brasília/São Paulo/Brasília, ida dia 08/3/2002, sexta-feira, às 17:54 e volta de São Paulo para Brasília dia 11/3/2002, segunda-feira, às 20:58. Os fatos demonstram que foi concedida passagem para que o ex-Diretor-Presidente da Anvisa fosse passar o fim de semana em São Paulo, caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

g) em algumas ocasiões os responsáveis nem se preocuparam em atender requisitos mínimos previstos em lei, como no caso das PCD’s 2.357 e 2.360. Na primeira, com data de 15/3/2002, sexta-feira, ida e volta de Brasília a São Paulo, a reserva foi alterada para os dias 15/3/2002 a 18/3/2002, sexta a segunda-feira. A PCD 2.360, que originalmente previa deslocamento no sábado dia 16/3/2002, sem ao menos apresentar a justificativa prevista no Decreto nº 343/1991, foi alterada para os dias 19 a 22/4/2002, sexta a segunda-feira, com ida às 17:54 e retorno às 18:00, com o objetivo declarado de atender a reuniões agendadas para esta data (16/03/2002) na Anvisa. Tais fatos caracterizam a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, e § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, devendo o mesmo ser citado;

h) em algumas ocasiões, embora tenha havido a concessão de passagem, a inspeção não pôde averiguar quando as passagens foram utilizadas, embora pareça ter havido a concessão de passagens cumulativamente com alteração de reserva anterior feita para a mesma data. É o

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caso da PCD 3.549, agendada para o dia 4/4/2002 de Brasília a São Paulo, só ida; na PCD foi anexada outra reserva, mas ida e volta, para abranger o período de 4 a 8/4/2002, com saída de Brasília às 21:00 e de São Paulo às 18:00. Ocorre que a PCD 3.550 concedeu passagem de Brasília a São Paulo, também ida e volta, no dia 8/4/2002 e não há registro de que a PCD tenha sido cancelada, caracterizando dupla concessão de passagem para o mesmo local e data e obrigando à apresentação de justificativas pelo ex-Diretor-Presidente;

i) a PCD 4.003 concedeu passagem de ida e volta a São Paulo para o dia 11/4/2002, quinta-feira, às 21:00, para reunião na FSP, reserva que teve o retorno alterado para o dia 15/4/2002, segunda-feira, com retorno de São Paulo às 13:50, novamente se caracterizando a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994, devendo o mesmo ser citado;

j) as PCD’s 5.529, 5.786/5.972, 6.844, 7.556, 8.446, 9.400, 9.764, 10.825, 11.212, 11.899, 12.586 e 13.864 foram emitidas com período de viagem programado para iniciar às quintas-feiras e cujo retorno, após alterações da reserva, foi modificado para as segundas-feiras à noite, o que concederia ao ex-Diretor-Presidente as tardes de sexta e segunda-feira livres em São Paulo para as aulas na FSP, exatamente como a SFCI apontou no item E – Avaliação específica sobre a situação do Diretor-Presidente da Anvisa (fl. 296 do v.1) da Nota Técnica 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR. Tais fatos caracterizam a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o ex-Diretor-Presidente ser citado.

21.4. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 11 e 132/168 do vol. 3 e 3/16 do vol. 2. Entretanto, essas justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, pois não contêm fatos novos ou documentos comprobatórios, antes corroboram os achados, mantendo-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora das vantagens.

22. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho - Cargo: Assessor da Gerência-Geral de Medicamentos - CPF: 398.005.047-53 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

22.1. O servidor teve emitidas, em seu favor, 44 PCD’s/RT’s, das quais apenas uma foi cancelada. Das viagens realizadas, quase 98% envolveram o domicílio de origem e 93% não tiveram concessão de diárias, envolvendo o local de domicílio. Interessante observar que, como no caso do servidor Franklin Rubinstein, houve diversas viagens com o objetivo alegado de reuniões na UFRJ, Fiocruz ou UERJ, com prazo de um dia, no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, sem diárias, situação que perdurou até meados de setembro, com poucas exceções. A partir daquela época a sistemática mudou, pois o período passou a abarcar dois dias, em geral a quinta e sexta-feira, com raras exceções.

22.2. Detalha-se os achados de auditoria a seguir, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) deslocamentos no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, por 1 dia, sem pagamento de diárias a que o servidor público faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com o objetivo declarado de manter reunião na UFRJ, Fiocruz ou UERJ, originalmente programadas para ocorrer durante os dias úteis. Os fatos, sem qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, configuram benefício concedido ao servidor, constatados nas PCD’s/RT’s nº 381, 382, 770, 771, 1.122, 1.265, 1.606, 1.961, 2.585, 2.586, 3.086, 3.937, 4.837, 5.033, 6.397, 7.514, 8.405, 8.683, 9.570, 9.734, 10.138, 10.608, 10.870, 11.325 e 11.566. Deve-se destacar que o exame em algumas dessas PCD’s/RT’s revelou que o período da viagem foi alterado. Tal foi constatado nas propostas/requisições nº 1.122, 4.837, 5.033, 7.514, 9.570, 9.734 e 11.325; com exceção da PCD 1.122, nas demais o período passou a abranger a sexta-

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feira com retorno às segundas-feiras, com saída às 18:54 e retorno às 9:00, o que torna insustentável, em todos os casos, a sustentação do objetivo declarado. Cabe então citar o responsável para que apresente as suas razões de justificativa para os fatos, dado que ficou caracterizada a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

b) a PCD 11.952 foi cancelada, e por ela foram concedidas 1,5 diárias, no valor de R$ 273,13, depositados em 23/9/2002. O valor foi devolvido em 18/10/2002, sem reajuste, conforme documento de depósito código nº 253002.36212.003, constante do processo. Ocorre que a devolução não ocorreu dentro do prazo legal e portanto o valor deveria ter sofrido correção, conforme jurisprudência relativa ao assunto, a exemplo do disposto na alínea a, item 8.9 do Acórdão TCU nº 228/2002 – Plenário, Ata 22/02, e no item 8.3.1 do Acórdão TCU nº 8/2002 – Plenário, Ata 1/02;

c) percepção de passagens para deslocamentos no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, semanais e sucessivos, iniciando em regra na quinta-feira e terminando na sexta feira, sem diárias ou qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, configurando beneficiamento irregular ao servidor. Os fatos foram constatados nas PCD’s/RT’s nº 5.907, 7.189, 7.799, 12.189, 12.393, 12.433, 12.864, 13.098, 13.441, 13.686, 14.468, 15.103, 16.162 e 16.239. Destaca-se que nas PCD’s 12.393 e 12.433 o sistema registra viagens de ida e volta, mas cotejando-se ambas verifica-se que são complementares, ou seja em uma foi concedida a ida e na outra concedeu-se a volta. Ainda, na PCD 14.468 houve o trânsito por São Paulo, para participação em seminário de farmacoeconomia. De toda forma, cumpre citar o responsável para apresentar as suas razões de justificativa, ante a configuração de obtenção de benefício próprio, na forma de passagens aéreas para o estado de origem, por transgressão ao inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

d) a PCD nº 16.162 indica que o responsável teria se deslocado no trecho Brasília/Rio de Janeiro em 19/12/2002, quinta-feira, com retorno em 20/12/2002, sexta-feira. Todavia, por meio da PCD 16.239, foi autorizado o deslocamento do Sr. José Carlos, em 26/12/2002, quinta-feira, do Rio de Janeiro a Brasília, indicando que o servidor não regressou à Brasília na data indicada, restando sem utilização o trecho Rio/Brasília da PCD nº 16.162.

22.3. As justificativas do responsável estão acostadas às fls. 11 e 169/179 do vol. 3 e 202/219 do vol. 2. Entretanto, as justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, pois não apresentam fatos novos ou documentos comprobatórios, motivo pelo qual mantém-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora dos benefícios.

23. Luiz Carlos Wanderley Lima - Cargo: Diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras Internacionais - responsável pelas Gerências Gerais de Portos, Aeroportos e Fronteiras e Relações Internacionais, Comitê de Políticas de Recursos Humanos - CPF: 545.176.487-53 - Domicílio indicado no Siape: Rio de Janeiro.

23.1. Este servidor teve 73 PCD’s/RT’s emitidos durante o exercício, três delas canceladas. Dentre as viagens realizadas pelo responsável, parte foram contempladas com diárias, parte não e ainda dentre elas 92,8% envolveram o domicílio de origem e 54,2% foram para o local de domicílio sem concessão de diárias. Houve uma concentração de concessões de passagens, sem diárias, no início do exercício, concessões que depois se diluíram no restante do período examinado. Deve-se destacar que, conforme já reiterado neste relatório, a concessão de passagens sem diárias, configura, de início, a concessão de benefício em prol do servidor.

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23.2. São os seguintes os principais achados de auditoria, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) nas PCD’s 772, 847, 967, 945, 1.016, 1.225, 5.526, 7.904, 8.223, 8.224, 9.182, 9.393, 10.310, 10.311, 11.500, 11.501, 13.690, houve concessão de passagens no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, sem diárias, para retorno ao estado de origem, embora com objetivos declarados diversos, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991 e configurando obtenção de vantagem indevida. Anote-se que nas PCD’s 7.904, 9.182, 9.393, 10.311, 11.501 e 13.690, envolvendo fim de semana, não foram apresentadas justificativas, conforme preconizado no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991; em todas as PCD’s/RT’s relacionadas caracterizou-se a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) concessão de passagens no trecho Rio de Janeiro/Brasília/Rio de Janeiro, de acordo com as PCD’s 1.695, 2.122, 2.472, 6.457, 7.416, 12.143, 12.629, 13.782, 13.784, 15.799, 15.800 e 15.801, sem a concessão de diárias, por períodos diferentes. Deve-se apontar que apesar da PCD 2.472 relacionar o trecho Rio/Brasília/Rio como ida e volta, o valor da passagem indica que a passagem é de apenas ida. Fato que corrobora a conclusão pelas irregularidades indicadas é a concessão, pela PCD 2.882, de passagem e diária ao servidor, no trecho Brasília/São Paulo, no mesmo dia 21/03/2002, data da pretensa volta ao Rio de Janeiro desde Brasília. Destaca-se, ainda que na PCD 15.801, o trecho de retorno Brasília/Rio foi substituído pelo PCD 16.237, de mesma data. Configurou-se, assim, a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

c) devolução, em 29/5/2002 e sem correção, pelo documento nº 253002.36212.0032, de R$ 1.189,08, referentes a diárias recebidas em 29/4/2002, pela OB 6881, referente à PCD 4.946, em desacordo com a jurisprudência dominante;

d) concessão de passagem para o Rio de Janeiro, quando do retorno de atividade em Palmas/TO, sem razão declarada ou objetivo discriminado para a ida ao Rio de Janeiro, na PCD 7.415, em desacordo com os incisos III e IV do art. 7º do Decreto nº 343/1991, não sendo possível quantificar o valor da passagem;

e) concessão de passagens para o Rio de Janeiro, a partir de Brasília, PCD’s 8.959 e 12.876, sem diárias, às sextas-feiras, com objetivos de participar de reunião na Coordenação de PAF e reunião com as Gerências de PAF, configurando concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

f) concessão de passagem para Brasília, a partir do Rio de Janeiro, PCD 14.574, sem diárias, segunda-feira, com objetivo de participar de reunião com as Gerências de PAF, sendo Brasília o local de trabalho habitual e configurando concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

g) por meio da PCD 1.226, foi autorizado o deslocamento do servidor no trecho Brasília/Salvador/Rio de Janeiro, no dia 20/2/2002, quarta-feira. Todavia, ao invés de retornar a Brasília, o Sr Luiz Carlos viajou para o Rio de Janeiro, na sexta-feira, 22/2/2002. Da mesma forma, tendo se deslocado em 26/2/2002, terça-feira, conforme a PCD nº 1.531 de Brasília para Buenos Aires, o servidor retornou ao Rio de Janeiro, em 2/3/2002, onde permaneceu no final de semana. A mesma situação se verificou nas PCD´s nº 4.431, 5.987, 6.456, 6.706, 7.415, 9.394, 9.395, 9.963, 9.964, 11.798, 12.142, 12.143, 13.397, 13.456, 13.882, 14.503, 14.574, e 15.748 e 15.799;

h) recebimento de passagens no trecho Rio de Janeiro/Brasília/Rio de Janeiro, de acordo com as PCD’s 1.695, 2.122, 2.472, 6.457, 7.416, 12.629, 13.784, 15.799 e 15.800, sem a concessão de diárias a que o servidor público faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, possibilitando a permanência no Rio de Janeiro nos fins de semana.

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22.3. As justificativas do responsável estão acostadas às fls. 11 e 180/193 do vol. 3 e 311/335 do vol. 2. Entretanto, as justificativas não são suficientes para elidir os fatos apontados, pois não apresentam fatos novos ou documentos comprobatórios, motivo pelo qual mantém-se a proposta de citação do responsável e da autoridade concessora dos benefícios.

24. Luiz Cláudio Meirelles - Cargo: Gerente Geral de Toxicologia - CPF: 670.574.627-00 - Domicílio indicado no Siape: Brasília - Domicílio indicado no Sistema CPF: Rio de Janeiro.

24.1. Foram emitidas, em favor do responsável, 45 PCD’s/RT’s, 4 das quais quatro foram canceladas. Em todas as propostas houve concessão de diárias, aparentando regularidade nas concessões. Das viagens realizadas, 68% envolveram o domicílio de origem e em todas que envolveram o local de origem houve o pagamento de diárias. Como a ausência de diárias durante os deslocamentos está sendo considerado o principal indício de irregularidade, não haveria ressalvas a fazer, num primeiro instante.

24.2. O único achado de auditoria digno de citação refere-se a que na PCD nº 8.739 (fl. 73, v. Anexo 1), foi previsto deslocamento do responsável no trecho Brasília/Campinas/Brasília, no período de 14 a 15/7/2002, domingo e segunda-feira, com concessão de 1,5 diárias. Ocorre que o trecho de retorno foi alterado, indo o servidor, no dia 15/7/2002 para o Rio de Janeiro, às 14:35, e só voltando a Brasília no dia 16/7/2002, às 7:04. Não consta da PCD ou do processo justificativa para a alteração, que importou em beneficiamento do servidor, já que lhe possibilitou passar a tarde do dia 15/7/2002 no seu estado de origem. Configurou-se, assim, a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

24.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 11/12 e 194/225 do vol. 3 e 295/310 do vol. 2. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois se limitam a informar dados de gestão, participação em eventos e competências setoriais, sem esclarecer a contento o fato apontado, cuja pretensa justificativa está na fl. 214 do vol. 3. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

25. Marcelo Azalim - Cargo: ex-Diretor-Adjunto - CPF: 177.349.246-20 - Domicílio indicado no Siape: Belo Horizonte.

25.1. O servidor foi contemplado com 63 PCD’s/RT’s, nenhuma delas cancelada. Das viagens realizadas, 58,7% envolveram o local de origem e 11% foram sem diárias e para o local de origem. Apenas sete das concessões não envolveram o recebimento de diárias. Chama a atenção ainda o fato de que diversas viagens tiveram como objetivo principal ou secundário atividades em instituições de ensino superior, além de reuniões de monitoramento de alimentos na Fundação Ezequiel Dias – Funed, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde. Destaca-se assim o volume de atividades mantido pelo responsável no seu estado de origem, em detrimento de outros estados da Federação, situação que foi verificada também em relação a outros responsáveis.

25.2. Apesar dessa constatação, em contato mantido com o Sr. Gerson Pianetti, Diretor da Faculdade de Farmácia da UFMG, por meio de correio eletrônico (fl. 104, v. Anexo 1), foi informado que o responsável nunca teria exercido atividades profissionais nos setores de pesquisa, ensino ou extensão da Faculdade de Farmácia da UFMG. Essa declaração torna ainda mais fortes os indícios de que foram feitas alegações falsas pelo responsável ao apresentar como motivo para diversos deslocamentos ministrar palestras ou dar aulas em cursos superiores em Minas Gerais. Essas alegações, se comprovadamente falsas, implicam inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994.

25.3. Eis os principais achados de auditoria, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

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a) recebimento de passagem aérea de ida e volta, no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília, sem diárias, PCD’s nº 1.670, 13.691, 16.203, 16.235 e 16.247 com objetivo declarado de reunião na Funed. O não pagamento de diária é indício claro de concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo o mesmo ser citado para que apresente suas justificativas;

b) ausência de justificativa da viagem abranger ou iniciar e terminar em fim de semana, nas PCD’s 6.776 e 8.117, em desacordo com o § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, cabendo citar os responsáveis pela falta;

c) na PCD 13.016, envolvendo deslocamento nos trechos Brasília/Belo Horizonte/São Paulo/Belo Horizonte/Brasília, estava prevista reunião em Belo Horizonte, que segundo a justificativa seria iniciada às 08:00 do dia 21/10/2002, segunda-feira. Entretanto, a inspeção revelou que o vôo de Belo Horizonte para São Paulo foi programado para as 10:30 do mesmo dia, horário que inviabiliza a realização da reunião, cabendo então citar o responsável para que apresente suas razões de justificativa, posto que restou configurada a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

d) pelas PCD’s 691, 3.968, 11.275, 12.620, 14.159 e 14.473 foram concedidas passagens, sendo a última delas sem diárias, para que o responsável proferisse palestra ou ministrasse aulas na Faculdade de Farmácia. Ocorre que a atividade de docência não faz parte das atribuições normais de um Diretor-Adjunto da Anvisa, e portanto a concessão de passagens e diárias, como nas PCD’s mencionadas, não tem respaldo legal, acrescendo-se o fato da evidência de fl. 104, v. Anexo 1, na qual o Sr. Gerson Pianetti informa que o responsável nunca exerceu atividades profissionais junto à Faculdade de Farmácia da UFMG. Caracteriza-se, então a concessão e obtenção indevida de vantagem pelo servidor, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

e) pela PCD 15.476, foi concedida passagem, sem diárias, para que o Sr. Marcelo Azalim se deslocasse no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília para atender a reunião na Associação Médica de Minas Gerais, com saída e retorno num sábado, sem a devida justificativa. Cabe então citá-lo para que apresente suas justificativas ou recolha o valor do benefício recebido, em função da concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

25.4. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 12 e 226/237 do vol. 3 e 179/201 e 220 do vol. 2. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois se limitam a informar competências setoriais e participação em eventos, sem esclarecer a contento os fatos apontados. Destaque-se que, às fls. 233 do vol. 3 o próprio responsável admite ter trabalhado em instituições do Estado de Minas Gerais. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

26. Maria da Conceição Fernandes Soares Cargo: Assessora da Gerência-Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e Produtos - CPF: 547.006.477-87 - Domicílio indicado no Siape: Brasília - Domicílio indicado no Sistema CPF: Rio de Janeiro.

26.1. A servidora teve emitidas 26 PCD’s/RT’s no exercício, sendo duas canceladas. Das viagens realizadas pela servidora 100% envolveram o local de origem e 37,5% envolveram aquele local e não tiveram concessão de diárias. Também no caso dessa servidora, notam-se duas fases distintas. Na primeira, que vai do início do ano até fins de abril, as passagens eram emitidas em geral, por um ou dois dias, sem diárias, no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, com o objetivo declarado de participar de reunião no INCQS. Na segunda fase, o procedimento se inverte, as passagens são emitidas no trecho Rio de Janeiro/Brasília/Rio de Janeiro, abrangendo quase toda a semana, com pagamento de diárias e objetivos diversos e distintos.

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O que chama a atenção nessa fase é o número de bilhetes extraviados, 7 em 14 viagens do período, quer dizer 50% de bilhetes extraviados.

26.2. Por outro lado, cotejando-se as PCD’s/RT’s com dados de ordens bancárias do Siafi recebidas pela servidora, constata-se que ela recebeu o auxílio moradia de janeiro a abril de 2002. Isso explica o porquê das concessões de passagens, que realmente são benefícios concedidos à servidora. De maio em diante, enquanto não há mais auxílio moradia, a servidora passa a receber diárias para realizar trabalhos eventuais em Brasília.

26.3. Eis os principais achados, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do responsável beneficiário direto.

a) recebimento de passagens sem diárias a que o servidor faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com objetivo padrão de participar de reunião no INCQS, conforme PCD’s nº 1.046, 1.410, 1.740, 2.201, 2.382, 2.851, 3.146, 3.505 e 4.018, envolvendo 1 ou dois dias de viagem, no trecho Brasília/Rio/Brasília, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Cumpre destacar que a primeira PCD relacionada, nº 1.046, abrange, em verdade, mais de dois dias, de 7/2/2002 a 13/2/2002, o que envolve todo o período de Carnaval, o que desconstitui o propósito de reunião no INCQS. A PCD nº 1.410 engloba, por sua vez, o final de semana, sem a justificativa prevista no art. 6º, § 3º, do referido Decreto. Também a PCD 3.146 desconstitui o objetivo pois, sendo viagem de um único dia, o vôo de ida ao Rio saiu às 13:58 e o retorno teria se dado às 19:00. Computando-se o tempo de vôo entre Brasília e Rio de Janeiro, mais os trâmites de embarque e desembarque e trânsito para e do aeroporto, considera-se que não houve tempo para manutenção de reunião. Cabe, pois, citar a responsável para que apresente suas razões de justificativa ante a irregularidade apontada, concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) atitude antieconômica causada pela execução prolongada em Brasília de atividades da Gerência Geral de Portos, Aeroportos e Fronteiras. Computando-se as diárias e passagens pagas a partir de maio, tem-se os seguintes dados: maio: R$ 2.716,89; julho: 3.240,84; agosto: R$ 1.035,66; setembro: R$ 2.829,15; outubro: R$ 3.752,55; novembro: R$ 2.874,15; dezembro: R$ 3.006,21. Total das despesas em passagens e diárias: R$ 19.455,45. Ressalte-se que o auxílio moradia, de R$ 1.800,00, foi pago até o mês de abril. Considerando-se que continuasse a ser pago o auxílio moradia, nos oito meses restantes do ano, sem o benefício das passagens, o gasto teria sido de R$ 14.400,00, ou seja R$ 5.055,45 a menos que o realizado. Ressalte-se ainda que, entre 13/05/2002 e 20/12/2002, a servidora trabalhou o equivalente a 57,5 dias, sendo 8 em São Paulo e o restante em Brasília, correspondendo a 36,2% dos dias úteis do período. Cabe então citar tanto a servidora quanto o então Diretor Presidente da Anvisa para que apresentem suas razões de justificativa para a adoção dos atos que representaram atitude antieconômica.

c) conforme a PCD nº 4.018, a servidora teria voltado a Brasília em 11/4/2002, quinta-feira. Todavia, ao que consta tal não ocorreu, visto que, consoante a PCD nº 4.130, a servidora saiu do Rio de Janeiro para São Paulo na terça-feira, 16/4/2002, tendo regressado ao Rio de Janeiro na sexta-feira, dia 19/4/2002. Atentar que a responsável só voltou a Brasília em 13/5/2002, de acordo com a PCD nº 5.591;

d) conforme já salientado, a partir de maio a servidora deixou de receber auxílio-moradia, voltando a residir no Rio de Janeiro. De fato, a partir de 13/5/2002, a Sra. Maria da Conceição passou a efetuar deslocamentos nos trechos Rio/Brasília/Rio, no total de doze, sendo sete nos períodos de segunda/sexta-feira, um de quinta/quinta-feira, um de terça/sexta-feira, um de quinta/sexta-feira, e dois de segunda/quinta-feira, recebendo diárias para hospedagem nesta Capital e regressando para passar os fins de semana no Rio de Janeiro. Assim sendo, por meio das PCD´s nºs 5.591, 6.233, 8.248, 9.039, 10.323, 10.950, 11.413,

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12.829, 13.380, 13.427, 13.810, 14.282, 15.599 e 15.836, foi possibilitado à servidora regressar a seu estado de origem, Rio de Janeiro, nos finais de semana, sem as justificativas requeridas no art. 6º, § 3º do Decreto nº 343/1991;

26.4. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 12 e 218/253 do vol. 3 e 170/178 do vol. 2. Nessas justificativas, a servidora comprova, de acordo com sua justificativa de fl. 244, vol. 3, e pelos documentos de fls. 250/253, que freqüentou curso de pós graduação ministrado pela Fundação Getúlio Vargas, no período de maio de 2001 a junho de 2002, autorizada pela Diretoria da Anvisa. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois não elidem totalmente os fatos apontados, notadamente aqueles ocorridos no segundo semestre de 2002. Mantém-se, portanto, a proposição de citação da servidora.

27. Maria da Graça Santana Hofmeister - Cargo: Gerente de Investigação - CPF: 285.607.1000-78 - Domicílio indicado no Siape: Porto Alegre.

27.1. A servidora teve emitidas em seu nome 60 PCD’s e RT’s, duas canceladas. Das viagens efetivamente realizadas, cerca de 80% envolveram o estado de origem e 74% foram concedidas sem diárias para o local de origem. O que chama a atenção, em seu caso, além do número de viagens ao seu estado de origem, Rio Grande do Sul, é que o objetivo praticamente não se altera em nenhum PCD/RT. Outro fato é que, em determinado bilhete de passagem (PCD 5.577) está escrita a expressão diamond, deixando entrever que a servidora é portadora de cartão de milhagem, fato em si não imputável, a não ser quando se tem presente que os bilhetes de passagem, emitidos em nome do servidor, permitem que se obtenha vantagens nesses cartões de milhagem, como upgrade de categoria e outras.

27.2. As principais constatações em relação à servidora, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e da responsável beneficiária direta, são:

a) percepção de passagens (41 PCD’s/RT’s), sem recebimento de diárias a que o servidor faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, para deslocamentos semanais e sucessivos, no trecho Brasília/Porto Alegre/Brasília, com objetivo padrão de reuniões na secretaria estadual de saúde ou na UFRGS, conforme PCD’s nº 308, 518, 778, 1.056, 1.352, 2.211, 2.528, 2.924, 3.150, 3.618, 3.983, 4.439, 4.781, 5.008, 5.577, 6.515, 6.822 (só de ida), 7.612, 7.786 (alteradas as datas para abarcar o final de semana), 8.218, 8.389, 8.676, 8.987, 8.978, 9.538, 9.749, 10.088, 10.505, 10.822, 11.775, 12.174, 12.530, 12.835, 13.100, 13.460, 13.660, 13.959, 14.209 (só de ida), 15.385, 15.802 e 16.165, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, e configurando concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) nas PCD’s 1.741 e 1.742, analisadas em conjunto, percebe-se que houve a concessão de passagem para a servidora retornar a Brasília, pois o trecho inicial, da primeira PCD envolvia deslocamento Brasília/Salvador/Porto Alegre, no período de 27/2/2002 a 1/3/2002, quarta a sexta-feira, devendo o retorno ocorrer a Porto Alegre devido a reunião em Câmara Técnica naquela cidade, de 4 a 6/3/2002, segunda a quarta-feira. Contudo, a PCD 1.742 concedeu passagens e diárias, no trecho Porto Alegre/Campinas/Brasília, no mesmo período, 4 a 6/3/2002, com o objetivo declarado de participar de inspeção em indústria farmacêutica. Dada a impossibilidade de participação simultânea em dois eventos, vê-se então que a atividade do trecho que envolve Porto Alegre, na primeira PCD, constitui apenas motivação, irreal, para a concessão de passagens, devendo ser citada a responsável para que apresente suas razões de justificativa para o fato apontado, em síntese a concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

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c) conforme a PCD nº 2.840, a servidora foi para São Paulo em 21/3/2002, quinta-feira. O regresso, todavia, autorizado pela PCD nº 2.924, foi de São Paulo para Porto Alegre, no dia 22/3/2002, sexta-feira, possibilitando que a Sra. Maria da Graça passasse o final de semana no estado de origem. A mesma situação foi verificada nas PCD´s 5.867 e 5.868, pois na primeira foi concedida passagem no trecho Brasília/Fortaleza/Porto Alegre, com final em uma sexta-feira, e a segunda proposta concedeu passagem à servidora no trecho Porto Alegre/Brasília, na segunda-feira seguinte. Isso quer dizer que houve a concessão de passagem para que a responsável passasse o fim de semana em seu estado de origem, cabendo então realizar a citação pela vantagem indevidamente obtida, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

d) pela PCD nº 10.505, a responsável foi de Brasília para Porto Alegre em 22/8/2002, quinta-feira. Teoricamente, retornaria, na mesma data, a Brasília. É de se ressaltar, no entanto, que no dia 26/8/2002, segunda-feira, a servidora saiu de Porto Alegre para Belo Horizonte. Portanto, o trecho Porto Alegre/Brasília da PCD nº 10.505 não foi utilizado. A mesma situação foi verificada nas PCD´s 13.100/13.264 e 13.660/13.668.

27.3. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 12 e 254/260 do vol. 3 e 150/169 do vol. 2. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois se limitam a informar competências setoriais e participação em eventos, sem esclarecer a contento os fatos apontados. Mantém-se, portanto, a proposição de citação da servidora.

28. Maria Goretti Martins de Melo - Cargo: ex-Gerente de Normas e Registros da Gerência Geral de Medicamentos Genéricos - atual Assessora Técnica - CPF: 418.344.966-91 - Domicílio indicado no Siape: Brasília - Domicílio indicado no Sistema CPF: Belo Horizonte.

28.1. Foram emitidas 38 PCD’s/RT’s em nome da responsável, três delas canceladas. Das viagens realizadas, 80% envolveram o domicílio de origem e 51% envolveram aquele domicílio e não tiveram concessão de diárias. Na listagem de PCD’s referentes a essa servidora há diversas viagens a Belo Horizonte, cidade de origem, sem a concessão de diárias, com o objetivo declarado de participar de reunião na secretaria estadual de saúde, configurando a concessão de vantagem indevida à servidora, embora conforme já visto, mesmo a existência de diárias não configurasse garantia de legalidade plena na concessão.

28.2. Eis os principais achados de auditoria relativos a essa responsável, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e da beneficiária direta:

a) recebimento de passagens no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília, sem diárias a que o servidor faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com o objetivo padrão de participar de reunião na secretaria estadual de saúde, conforme PCD’s nº 14, 166, 241, 1.055, 1.229, 2.276, 3.224, 3.655, 4.119, 5.620, 9.778, 10.884, 11.909, 12.249, 12.578 e 15.229, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Deve-se apontar que na proposta 1.055, terminando em final de semana, não foi apresentada justificativa, conforme previsto no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, fato que também não se verificou na PCD 10.884, que abrangeu o período de sexta a segunda-feira; na proposta 4.119 o objetivo declarado era reunião na UFMG; configura-se nas PCD’s listadas a concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) conforme a PCD nº 1.055, a servidora deveria retornar a Brasília no sábado, 16/02/2002. Todavia não o fez, como demonstra a PCD nº 1.229, na qual foi emitido o trecho de retorno Belo Horizonte/Brasília, possibilitando a permanência no final de semana;

c) as PCD’s nºs 4.450, 11.298, 13.204 e 13.809 foram emitidas com diárias, mas possibilitaram a permanência da servidora no seu estado de origem em fins de semana ou feriados;

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d) conforme a PCD nº 5.620, a servidora foi autorizada a se deslocar a Belo Horizonte na sexta-feira, 10/05/2002, com retorno no mesmo dia. Tal não ocorreu, ficando o trecho sem utilização, já que na segunda-feira, 20/5/2002, ela saiu de Belo Horizonte, com destino a São Paulo;

e) na PCD 7.552 foi concedida passagem para deslocamento no trecho Brasília/São Paulo/Belo Horizonte, dia 13/6/2002, quinta-feira, quando deveria haver retorno diretamente a Brasília e não a Belo Horizonte, como feito e apesar de não existir justificativa para tanto. E na PCD seguinte, 7.553, foi concedida passagem para o retorno da responsável para Brasília, a partir de Belo Horizonte, na segunda-feira seguinte, dia 17/6/2002, possibilitando que a servidora gozasse o fim de semana em sua cidade de origem, fato que carece de qualquer amparo legal, por configurar concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

f) a PCD 8.738 previa deslocamento no trecho Brasília/Belo Horizonte/São Paulo/Belo Horizonte, de 12 a 18/07/2002, abrangendo fim de semana, sem que tenha sido apresentada a justificativa requerida pelo § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991, além do fato de contemplar o retorno a Belo Horizonte, quando deveria ser Brasília; o mesmo sucedeu na PCD 14.308; os fatos demonstram a ocorrência de concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

g) a PCD 9.305 concedeu passagens e 4,5 diárias para que a servidora se deslocasse no trecho Belo Horizonte/Brasília/Belo Horizonte, a fim de participar de reuniões na Anvisa. Isso quer dizer que a servidora recebeu passagem e diárias para trabalhar no seu local de trabalho usual, mesmo tendo recebido auxílio moradia durante todo o exercício. Configura-se, assim, a concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

h) pela PCD 11.298 foram pagas 1,5 diárias e passagens para a servidora participar de reunião na secretaria estadual de saúde de Minas Gerais, objetivo que não se sustenta, dadas as PCD’s antecedentes, que não configuram objetivos realistas; o mesmo aconteceu nas PCD’s 13.204, 13809 e 15.229; os exames indicam, assim, a concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

28.3. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 12/13 e 261/279 do vol. 3 e 130/149 do vol. 2. Dada a coerência das alegações suportadas pela citação de documentos que as embasariam, diversas justificativas foram acolhidas; entretanto, permanecem sem justificativas os fatos elencados abaixo, que devem ser alvo de citação.

(...)

Assim, são consideradas não justificadas as seguintes ocorrências:

na alínea 'a', o recebimento de passagens no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília, sem diárias, as quais o servidor faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com o objetivo padrão de participar de reunião na secretaria estadual de saúde, conforme PCD’s nº 9.778 e 15.229, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991;

na alínea c, a PCD nº 13.809 foi emitida com diárias, mas possibilitou a permanência da servidora no seu estado de origem em fins de semana ou feriados;

na alínea e, PCD 7.552, pela concessão de passagem para deslocamento no trecho Brasília/São Paulo/Belo Horizonte, dia 13/6/2002, quinta-feira, apesar de não existir justificativa para tanto. E na PCD seguinte, 7.553, foi concedida passagem para o retorno da responsável para Brasília, a partir de Belo Horizonte, na segunda-feira seguinte, dia 17/6/2002, possibilitando que a servidora gozasse o fim de semana em sua cidade de origem, fato que

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carece de qualquer amparo legal, por configurar concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

na alínea f, as PCD’s nºs 14.308 e 16.164 previam deslocamento no trecho Brasília/Belo Horizonte/São Paulo/Belo Horizonte, abrangendo fim de semana, sem que tenha sido apresentada a justificativa requerida pelo § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991, além do fato de contemplar o retorno a Belo Horizonte, quando deveria ser a Brasília; os fatos demonstram a ocorrência de concessão e obtenção indevida de vantagem, conforme previsto no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

na alínea g, a PCD 9.305 concedeu passagens e 4,5 diárias para que a servidora se deslocasse, em 5/8/2002, no trecho Belo Horizonte/Brasília, com retorno a Belo Horizonte em 9/8/2002, a fim de participar de reuniões da Anvisa. Acresça-se a esse fato que, por meio da PCD nº 9.778 foi autorizado o deslocamento Brasília/Belo Horizonte/Brasília, em 9/8/2002, existindo, portanto, duas passagens, para o mesmo destino e na mesma data, caracterizando a concessão em dobro de passagens.

(...)

29. Myrtes Peinado - Cargo: ex-Gerente de Projeto - CPF: 020.590.438-67 - Domicílio indicado no Siape: São Paulo.

29.1. Em nome desta servidora foram emitidas apenas 22 PCD, apenas uma cancelada. Das viagens realizadas pela servidora, 100% envolveu o domicílio de origem e em 66% dessas não houve o pagamento de diárias. Nas concessões feitas a essa responsável pode-se perceber, claramente, quanto a alterações de procedimentos, as referências e períodos distintos já mencionados anteriormente nos casos dos responsáveis José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Luiz Carlos Wanderley de Lima e Maria da Conceição Fernandes Soares.

29.2. Examinando-se as alterações, vê-se que até meados de julho as passagens são concedidas no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem diárias, favorecendo o usufruto do fim de semana em São Paulo. A partir daquela época, meados de julho, o procedimento se altera, passando as concessões a serem dadas durante a semana, com diárias, no trecho São Paulo/Brasília/São Paulo. Consulta ao sistema Siafi revela a causa dessa alteração: a servidora deixou de receber o auxílio moradia, o que significa que voltou a residir em São Paulo, deslocando-se para trabalhar em Brasília com a percepção de diárias. Essa mesma situação já ocorrera com a responsável Maria da Conceição Fernandes Soares.

29.3. Em relação a essa servidora, foram feitos os seguintes achados, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e da beneficiária direta:

a) percepção de passagens no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem as diárias às quais o servidor faz jus quando de viagens comprovadamente a serviço, com objetivo padrão de participar de reunião no CVS, conforme constatado nas PCD’s nº 75, 2.214, 2.526, 3.037, 3.045, 3.949, 4.357, 4.593, 4.933, 4.998, 5.534, 6.581, 7.190 e 8.606, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Destaque-se que, nas PCD’s nº 3.037, 3.045, 4.357, 4.593, 4.998, 6.581 e 7.190, que envolveram fim de semana, sequer foi apresentada a justificativa requerida pelo § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991. Os fatos descritos configuram obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, devendo ser a responsável ser citada para que apresente suas razões de justificativa;

b) como já exposto, a partir de meados de julho/2002, a servidora deixou de receber auxílio-moradia, voltando a residir em São Paulo, tendo recebido passagens para viagens no trecho São Paulo/Brasília/São Paulo, com objetivo declarado de reunião do grupo de redesenho de processos de medicamentos, com regresso nos finais de semana a seu estado de

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origem, sem as justificativas requeridas no art. 6º, § 3º do Decreto nº 343/1991, fatos constatados nas PCD’s nº 10.245, 13.021, 13.438, 13.589, 13.811, 14.343 e 14.578. Chama-se a atenção para o fato de que a responsável recebeu, além das passagens, diárias para trabalhar no seu local normal de trabalho, Brasília. Acrescente-se que, desde 19/8/2002 até 29/11/2002, a servidora trabalhou em Brasília pelo equivalente a 25,5 dias. Reforça-se o entendimento de que o recebimento das vantagens é indevido, posto que a servidora recebeu-as para exercer suas atividades no local de trabalho usual.

29.4. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 13 do vol. 3, 106/112 do vol. 2 e 02/91 do vol. 4. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois são pertinentes ao exercício de 2001. Mantém-se, portanto, a proposição de citação da servidora.

30. Moysés Diskin - Cargo: Gerente de Fumígenos - CPF: 162.335.656-34 - Domicílio indicado no Siape: Brasília - Domicílio indicado no Sistema CPF: Belo Horizonte.

30.1. O servidor recebeu, no período examinado, apenas 19 PCD’s, nenhum deles cancelado. Das viagens realizadas, 89,5% foram para o estado de origem e 21% foram para a origem e sem diárias. Observa-se que, a partir de setembro/2002, o servidor passou a efetuar deslocamentos ao Rio de Janeiro, com o objetivo declarado de “providências de mudança para o Rio de Janeiro”.

30.2. Eis as principais constatações relativas a esse responsável que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do beneficiário direto.

a) recebimento de passagens, no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília, sem diárias, às quais o servidor faz jus quando de deslocamentos comprovadamente a serviço, com objetivo declarado de manter reunião na Coordenação de Prevenção ao Câncer da SES/MG, conforme PCD’s nº 543 e 2.401, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, configurando concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) recebimento de passagens, no trecho Rio de Janeiro/Belo Horizonte/Rio de Janeiro, sem diárias, com objetivos declarados de reunião na Visa/MG e de prorrogação de atividades do Nescon, conforme PCD’s 13.117 e 15.362, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991, configurando concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

c) percepção de passagens, com recebimento de diárias, para o Estado do Rio de Janeiro, envolvendo sempre o deslocamento a Belo Horizonte, próximo aos fins de semana, nas PCD´s 383, 4.338, 10.889, 11.332, 11.429, 11.926, 12.233, 12.617, 12.967, 13.475, 14.019, 15.132 e 15.981.

30.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 13 do vol. 3, 120/129 do vol. 2 e 92/104 do vol. 4. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois são pertinentes ao exercício de 2001. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

31. Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shuqair - Cargo: Chefe da Unidade de Inspeção - CPF: 086.167.638-64 - Domicílio indicado no Siape: São Paulo.

31.1. Essa responsável teve 44 PCD’s/RT’s emitidas em seu favor, das quais duas foram canceladas. Das viagens efetivamente realizadas pela servidora, 95% envolveram o estado de origem e 52% envolveram o estado de origem sem concessão de diárias. Observa-se que a servidora tem diversas passagens emitidas para o trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem diárias, quase sempre com o objetivo de participar de reunião no CVS/SP – Centro de Vigilância Sanitária.

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31.2. Os principais achados em relação à servidora, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e da beneficiária direta, são:

a) recebimento de passagens para deslocamentos semanais e sucessivos no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem diárias, às quais o servidor faz jus quando de deslocamentos comprovadamente a serviço, quase sempre com o objetivo declarado de participar de reunião no CVS/SP – Centro de Vigilância Sanitária, conforme PCD’s nº 1.106, 1.408, 1.830, 1.929, 2.556, 3.151, 3.532, 3.859, 4.877, 5.567, 6.925, 8.694, 9.026, 9.408, 10.535, 12.593, 14.245, 15.510 e 16.253, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Anote-se que, no caso das PCD’s 1.408, 1.830 e 2.556 o horário previsto de chegada em São Paulo era 18:00h ou mais tarde, às sextas-feiras; os dados obtidos descaracterizam o objetivo declarado e configuram concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992; a PCD 1.929 tem início em um sábado, mas não apresenta a justificativa requerida pelo § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991.

b) na PCD nº 1.408 foi concedida passagem para São Paulo no dia 22/2/2002, sexta-feira, sem as justificativas previstas no § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991. O retorno foi autorizado na PCD 1.491, com saída na segunda-feira, dia 25/2/02, para Belo Horizonte. Tal procedimento possibilitou que a servidora passasse o final de semana em casa. A mesma situação se verificou nas PCD´s 1830/1929;

c) pela PCD nº 3.532 foi autorizado o deslocamento Brasília/São Paulo, na sexta-feira, dia 5/4/2002. Em seguida, por meio da PCD 3.511, foi concedida passagem para que a responsável se deslocasse a Buenos Aires, no domingo, 7/4/2002, com retorno na quinta-feira, 11/4/2002, para São Paulo. Embora conste que, por meio da PCD 3.859, a servidora regressou a Brasília no dia seguinte, 12/4/2002, sexta-feira, verificamos que a passagem foi remarcada para 15/4/2002, segunda-feira, de sorte a permitir o usufruto do final de semana no estado de origem;

d) pela PCD 8.538, foi autorizada a viagem no trecho Brasília/Salvador, em 8/7/2002, segunda-feira. Todavia, o retorno, ocorrido na sexta-feira, dia 12/7/2002, foi para São Paulo, implicando a necessidade de emissão de nova PCD, de nº 8.694, de São Paulo para Brasília, na segunda-feira, dia 15/7/2002;

e) a PCD nº 14.245 autorizou o deslocamento da servidora de Brasília para São Paulo, em 13/11/2002, quarta-feira, às 19:00 horas. A servidora passou não só o final de semana, mas também o feriado de 15/11/2002 em seu estado de origem, do qual se deslocou apenas no domingo, dia 17/11/2002, com destino ao Rio de Janeiro, conforme a PCD 14.359;

f) percepção de passagens para deslocamentos no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, com recebimento de diárias, próximos a fins de semana, nas PCD´s 534, 5.044, 6.540, 7.286, 9.620, 11.537, 12.946,13.194, 13.491, 15.212 e 16.211, possibilitando, em conjunto com as PCD´s referenciadas no item 'a', retro, que a servidora passasse o final de semana rotineiramente em seu estado de origem.

31.3. As justificativas apresentadas pela servidora estão acostadas às fls. 13/14 do vol. 3, 90/105 do vol. 2 e 105/176 do vol. 4. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois aquelas que não são pertinentes ao exercício de 2001 não esclarecem os fatos apontados. Mantém-se, portanto, a proposição de citação da servidora.

32. Pedro José Baptista Bernardo - Cargo: Gerente-Geral de Monitoramento de Preços - CPF: 380.859.767-49 - Domicílio indicado no Siape: Niterói.

32.1. Para este responsável foram emitidas 65 PCD’s, sendo três canceladas. Das viagens efetivamente realizadas, mais de 96% envolveram o estado de origem e 79% das viagens

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envolveram o local de origem e foram sem a concessão de diárias. Assim, o rol de propostas do servidor contém diversas viagens entre Brasília e o Rio de Janeiro, sem pagamento de diárias.

32.2. São as seguintes as constatações que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do beneficiário direto:

a) percepção de passagens no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, sem diárias a que o servidor faz jus quando de deslocamentos comprovadamente a serviço, com o objetivo declarado de manter reuniões com técnicos de órgãos e entidades vinculados à saúde, conforme PCD’s/RT’s nº 493, 792, 957, 1.477, 1.745, 1.748, 2.024, 2.390, 2.391, 2.857, 3.551, 4.067, 4.441, 4.796, 5.162, 5.576, 6.645, 6.859, 7.293, 7.682, 7.684, 7.867, 8.197, 8.664, 8.945, 9.188, 9.530, 9.751, 10.162, 10.772, 10.831, 11.203, 12.717, 12.771, 13.676, 13.986, 14.249, 14.479, 14.990, 15.173, 15.454, 15.889, 15.920, 16.201 e 16.248, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Chama-se a atenção para o fato de que algumas das concessões, e consequentemente das reuniões, duraram dois ou mais dias e englobaram os fins de semana, sem as justificativas cabíveis. Caso o responsável não logre comprovar que participou das reuniões, destaca-se ainda que a permanência no estado de origem, durante a semana, tem outros reflexos além da simples obtenção indevida de passagem, pois ao invés de estar no estado de origem o servidor poderia estar desempenhando suas funções na sede da Anvisa. Resta configurada a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

b) conforme a PCD nº 956, o servidor foi para Goiânia, em 7/2/2002, quinta-feira, mas regressou ao Rio de Janeiro, de onde saiu na quinta-feira seguinte, dia 14/2/2002, depois do carnaval, consoante a PCD 957. Atentar que o responsável regressou ao Rio de Janeiro para passar o final de semana, retornando a Brasília em 18/2/2002, na segunda-feira; resta configurada a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992;

c) consta da PCD nº 1.188 que o servidor se deslocou, em 19/2/2002, para Belém, com retorno a Brasília previsto para 20/2/2002, quarta-feira. Todavia, a PCD nº 1.477 aponta que o servidor, em 22/02/2002, sexta-feira, encontrava-se no Rio de Janeiro, tendo viajado a Brasília e regressado ao Rio de Janeiro na mesma data. Do Rio de Janeiro só saiu em 28/2/2002, quinta-feira, com destino a Brasília, pela PCD 1.745;

d) Conforme a PCD 2.857, o responsável se deslocou na segunda-feira, 25/3/2002, para o Rio de Janeiro, devendo retornar na quinta-feira, dia 28/3/2002, véspera da Sexta-Feira Santa. Todavia, tal fato não ocorreu, já que no dia 4/4/2002, quinta-feira, saiu do Rio de Janeiro, com destino a São Paulo (PCD 3.531), com retorno previsto para Brasília em 5/4/2002. Novamente não houve regresso a Brasília, já que, na segunda-feira, dia 8/4/2002, o servidor saiu do Rio de Janeiro para Brasília, conforme PCD 3.551 [A PCD 3.551 é emblemática da não verosimilhança das informações prestadas pois o objetivo descrito é reunião na Anvisa/RJ e Copi/RJ, enquanto o campo justificativa esclarece que o 'trecho refere-se ao retorno do Gerente-Geral a Brasília a ida foi aproveitada outra perna existente do bilhete nº 361444503 que não foi utilizado devido a mudança de itinerário' (sic). Caracterizada, pois, a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994]. Chama atenção, no entanto, que no dia 9/4/2002, terça-feira, o servidor saiu do Rio de Janeiro, para São Paulo (PCD 3.674), tendo retornado ao Rio de Janeiro na mesma data, de onde saiu apenas em 15/4/2002, segunda-feira, passando mais um final de semana em casa (PCD 4.067);

e) pela PCD 4.067, o servidor foi autorizado a se deslocar ao Rio de Janeiro no dia 19/4/2002, sexta-feira, permanecendo no final de semana. Saiu do seu estado de origem no dia 22/4/2002, segunda-feira, para São Paulo, pela PCD 4.442, com retorno ao RJ na mesma data. É de se ressaltar, no entanto, que no dia 23/4/2002, conforme PCD 4.441, o servidor

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estava em Brasília, tendo se deslocado nessa data para o RJ, com retorno a Brasília em 25/4/2002;

f) pela PCD nº 4.796, o Sr. Pedro José foi autorizado a se deslocar para o Rio de Janeiro, em 29/4/2002, segunda-feira, com retorno previsto para 30/4/2002. Tal fato não ocorreu, pois na sexta-feira, dia 3/5/2002, ele ainda se encontrava no Rio de Janeiro (PCD 5.162);

g) pela PCD nº 8.418, o responsável foi autorizado a efetuar deslocamentos a Florianópolis e Curitiba, entre 8/7/2002 e 11/7/2002. Ocorre que houve passagem pelo Rio de Janeiro, sem qualquer motivação. O mesmo ocorreu na PCD nº 15.453/15.454;

h) entre 15/7/2002 e 23/8/2002, o servidor passou a se deslocar no trecho Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, permanecendo durante toda a semana no RJ. Destaque-se que pela PCD nº 10.162, o servidor teria ido ao Rio de Janeiro, em 19/8/2002, segunda-feira, com regresso em 23/8/2002, sexta-feira. Todavia, consta da PCD nº 10.509 que, em 22/8/2002, quinta-feira, o servidor viajou de Brasília para o Rio de Janeiro, de onde partiu para Fortaleza, local em que permaneceu no final de semana. Ao que consta, teria voltado na segunda-feira, 26/8/2002, para Brasília (PCD 10.510). Mas tal não ocorreu, já que saiu do Rio de Janeiro, na mesma data, com destino a Brasília (PCD 10.772), de onde retornou ao Rio de Janeiro, em 29/8/2002, quinta-feira, permanecendo no final de semana (PCD 10.831);

i) pela PCD nº 13.149, o responsável foi de Brasília para o Rio de Janeiro, em 17/10/2002, quinta-feira, com retorno previsto para 18/10/2002. Mas tal fato não ocorreu, pois pela PCD 13.148, foi do Rio de Janeiro para Madrid, no sábado 19/10/2002;

j) pela PCD 14.479 o servidor se deslocou de Brasília para São Paulo, em 20/11/2002, com retorno para o Rio de Janeiro, no sábado, 23/11/2002. Lá permaneceu até terça-feira, dia 26/11/2002, quando retornou a Brasília (PCD 14.990);

k) pela PCD 15.889, o responsável foi autorizado a se deslocar ao Rio de Janeiro no dia 13/12/2002, sexta-feira, permanecendo no final de semana. Saiu do seu estado de origem no dia 16/12/2002, segunda-feira, para São Paulo, pela PCD 15.891, com retorno ao Rio na mesma data. Só veio a Brasília no dia 17/12/2002, terça-feira, conforme PCD 15.920;

l) pela PCD 16.201, o servidor se deslocou ao Rio de Janeiro em 20/12/2002, sexta-feira, retornando a Brasília apenas em 26/12/2002, quinta-feira seguinte. Na sexta-feira, dia 27/12/2002, voltou ao Rio de Janeiro, de onde regressou apenas em 13/1/2003, conforme PCD nº 16.248;

m) ausência da justificativa prevista no § 3º, art. 6º do Decreto nº 343/1991, constatado na PCD 792.

32.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 14 do vol. 3, 63/88 do vol. 2, 177/330 do vol. 4 e 2/332 do vol. 5. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois aquelas que não são pertinentes ao exercício de 2001 não esclarecem os fatos apontados. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

33. Ricardo Oliva - Cargo: Diretor de Alimentos e Toxicologia - CPF: 669.453.568-68 - Domicílio indicado no Siape: São Paulo.

33.1. Este servidor teve emitidas 56 PCD’s/RT’s, nenhuma delas cancelada. Assim, de todas as viagens realizadas, 78,6% envolveram o estado de origem e 62% não tiveram concessão de diárias, mas envolveram o local de origem.

33.2. Eis as principais constatações, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do beneficiário direto.

a) concessão de passagem no trecho Brasília/São Paulo/Brasília, sem as correspondentes diárias, com objetivo declarado de participar, quase semanalmente, de reunião sobre alimentos no CVS ou na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, conforme PCD’s nº 848,

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1.397, 2.361, 3.483, 4.699, 4.832, 4.988, 5.147, 5.636, 6.463 (trecho Brasília/Campinas), 6.775, 7.115, 7.411, 7.413, 7.879, 8.217, 8.689, 8.765, 9.116, 10.086, 11.526, 11.760, 12.230, 12.585, 12.809, 13.118, 13.418, 13.662, 14.089, 14.470, 14.716, 15.339, 15.338 e 16.221. Deve-se destacar que, em algumas viagens não houve sequer tempo real para participação em reunião, a exemplo da PCD 7.879, em que a ida para São Paulo foi às 08:34 e o retorno era às 11:06. Pelo exposto, caracteriza-se, além da vantagem obtida indevidamente, que houve prestação de informação falsa. Resta configurada a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

b) o exame conjunto das PCD’s 4.988 e 5.146 demonstra que o servidor permaneceu uma semana em seu estado de origem, São Paulo. A PCD 4.988 foi emitida para o trecho Brasília/São Paulo/Brasília, na data de 02/05/2002. No processo verifica-se, contudo, que a viagem de ida ocorreu em 30/04/2002, uma terça-feira, aproveitando que dia 1/5/2002 era feriado. Além disso a viagem seguinte, concedida pela PCD 5.146, programada para 06/05/2002, segunda-feira, tem origem não em Brasília, mas sim em São Paulo, local em que o servidor não deveria estar, pelo PCD anterior. Assim, cabe citar o responsável para que esclareça a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992.

c) as PCD´s 2.557 e 16.254 indicam como objetivos reuniões na Secretaria de Agricultura e na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, respectivamente. Todavia, nos dois casos houve o deslocamento de Brasília para Campinas. Merece destaque que na PCD 16.254 foi omitida a passagem do servidor pelo Rio de Janeiro, onde passou o Ano Novo. Só após o feriado o servidor foi para Campinas efetivamente.

33.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 14 do vol. 3, 41/62 do vol. 2 e 333/343 do vol. 5. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois não esclarecem os fatos apontados. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

34. Silas Paulo Resende Gouveia - Cargo: ex-Chefe de Gabinete da Presidência da Anvisa - atual Gerente Geral de Gestão do Conhecimento e Documentação da Anvisa - CPF: 311.988.216-04 - Domicílio indicado no Siape: Belo Horizonte.

34.1. Foram emitidas 72 PCD’s/RT’s em favor do servidor, apenas uma cancelada. Das viagens realizadas, 84% envolveram o domicílio de origem e 67% envolveram aquele domicílio e não tiveram a concessão de diárias. Nota-se, dentre as viagens do responsável, que a maioria delas ocorreu no trecho Brasília/Belo Horizonte, sem diárias, sempre com o objetivo declarado de participar de reunião na Secretaria de Saúde de Minas Gerais. Observa-se ainda que, no mês de janeiro, os deslocamentos a Belo Horizonte ocorreram nas sextas-feiras, com a percepção de 0,5 diária. A partir de fevereiro, sempre que se deslocava de Brasília ao seu estado de origem, o servidor passou a não receber diárias. Constata-se ainda que as datas originais agendadas foram modificadas, além dos horários serem impróprios para que se realizassem as reuniões. Esse conjunto de razões faz com que os objetivos declarados se tornem suspeitos quanto à sua verossimilhança, maculando diversos outros objetivos e justificativas.

34.2. Eis as principais constatações, que devem envolver a citação do responsável que autorizou a concessão de passagens e do beneficiário direto.

a) percepção de passagens para viagens semanais e sucessivas no trecho Brasília/Belo Horizonte/Brasília, sem diárias, às quais o servidor faz jus quando de deslocamentos comprovadamente a serviço, com objetivo padrão de manter reunião na Secretaria de Saúde, conforme PCD’s nº 175, 1.057 (saída na sexta-feira às 18:30 e retorno no domingo às 15:54), 1.221, 2.198, 2.403, 4.482, 4.859, 4.968 (saída terça-feira, dia 30/04 às 20:46 e retorno quinta-feira, dia 02/05 às 08:00), 4.983, 5.982, 6.536, 7.249, 7.579, 7.768, 8.145, 8.235, 8.450, 8.697,

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8.955, 9.195, 10.026, 10.533, 10.827, 11.284, 11.548, 11.869, 12.244, 12.860, 12.861, 13.685, 13.995, 14.270, 14.714, 15.171, 15.473, 15.862 15.975, 16.219, 16.220, 16.206 e 16.205, não restando demonstrado qualquer elemento comprobatório de que o deslocamento ocorreu efetivamente por interesse público, tais como os previstos no art. 7º do Decreto nº 343/1991. Destaque-se que, em razão da modificação nas datas originais agendadas, os horários restaram impróprios para que se realizassem as reuniões, configurando a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

b) por meio das PCD´s nºs 817 e 982, o Sr. Silas recebeu passagens e 0,5 diária para a reunião semanal na Secretaria de Saúde de Minas Gerais, ambas na sexta-feira, com retorno no mesmo dia. É de se destacar ainda que, no caso específico da PCD nº 982, estava prevista a saída às 14:00 do dia 8/2/2002, sexta-feira; entretanto verificou-se que a data do retorno foi alterada para o dia 14/2/2002, quinta-feira após o feriado de Carnaval, às 08:32. Com estas datas e horários, sexta-feira antes do Carnaval e quinta-feira após ele, a justificativa torna-se insustentável, devendo ser o responsável ser citado para que apresente suas razões de justificativa, pois restou caracterizada a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

c) pela PCD 3.122, o servidor foi autorizado a se deslocar de Brasília para Belo Horizonte em 27/3/2002, quarta-feira, estando previsto seu retorno na mesma data. Todavia, observa-se que tal não ocorreu, já que, consoante a PCD 3.123, o Sr. Silas saiu de Belo Horizonte, com destino a São Paulo, na quinta-feira, dia 28/3/2002, restando sem uso o trecho Belo Horizonte/Brasília da PCD 3.122. A mesma situação se verificou com relação às PCD´s 8.955 e 8.956; 12.244 e 12.355; 12.860, 12.861 e 13.583;

d) conforme a PCD 4.983, o responsável saiu de Brasília para Belo Horizonte em 03/05/2002, sexta-feira, permanecendo no final de semana, sem qualquer justificativa, prevista no § 3º, art. 6º, Decreto nº 343/1991. De Belo Horizonte, ele viajou, em 5/5/2002, domingo, para Fortaleza. O mesmo ocorreu com as PCD´s 8.697 e 8.698; 9.194, 9.193 e 9.195; 10.823 e 10.827; 11.548 e 11.547; 12.594 (conforme evidências de fls. 78/81, v. Anexo 1) e 12.595; 15.171 e 15.172; 16.207 e 16.220, indicando o beneficiamento do servidor com passagens para usufruir o fim de semana em seu estado de origem; caracterizada, pois, a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994;

e) saliente-se ainda, quanto à PCD 9.193, que foi concedida passagem, sem diárias, para deslocamento no trecho Belo Horizonte/Fortaleza, dias 29/7/2002 a 9/8/2002, segunda a sexta-feira da semana seguinte, para que o servidor participasse de seminário naquela cidade; a ausência do pagamento de diárias e o longo período de duração do seminário – duas semanas - tornam o ato suspeitoso, cabendo citar o responsável, por estar caracterizada a concessão e obtenção de vantagem indevida, ocorrência prevista no inciso VII, art. 10 da Lei nº 8.429/1992, c/c a inobservância do item VIII, Seção I, Capítulo I do Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171/1994.

34.3. As justificativas apresentadas pelo servidor estão acostadas às fls. 14 do vol. 3, 17/40 do vol. 2 e 344/376 do vol. 5. Entretanto, não podem ser acolhidas, pois não esclarecem a contento os fatos apontados. Mantém-se, portanto, a proposição de citação do servidor.

Outras informações

35. Em sua manifestação sobre as contas da Anvisa, a SFCI reportou que o setor responsável pelas diárias e passagens apresentava fragilidades. Tal fato já fora inclusive

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relatado pela própria Auditoria Interna da Anvisa, quando da apresentação do Relatório de Gestão (fls. 234/237, v. 1). Estas, se ainda existentes, poderiam comprometer o exame e talvez mesmo as determinações que viessem a ser expedidas pelo TCU; assim, a equipe de inspeção decidiu verificar, ainda que brevemente, dada a exiguidade de tempo, como se encontra a sistemática de propostas de concessão de diárias e passagens.

35.1. Ao iniciar os trabalhos nesse sentido, foi possível verificar que a Anvisa conta com orientações disciplinadoras da concessão de passagens e diárias, orientações que estão disponíveis na página de intranet da Agência (fls. 105, v. Anexo 1).

35.2. Para verificar como se encontra a sistemática de concessões, na prática, a equipe solicitou cópias aleatórias de três propostas que estivessem em tramitação pelo setor de diárias e passagens. Assim, vieram à equipe as propostas de fls. 82 a 100, v. Anexo 1, que se passa a examinar.

a) a primeira proposta (fls. 82/87) tem como beneficiário o Sr. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, atual Diretor-Presidente da Anvisa. De número 1.993, o trajeto contemplado é Brasília/Rio de Janeiro/São Paulo/Brasília, entre os dias 18 e 19/3/ 2004, terça e quarta-feira, com pagamento de 1,5 diárias. O processo de concessão está instruído com formulário de Solicitação de Viagem, Autorização Especial assinada por Diretor, Relatório de Viagem e canhotos dos cartões de embarque utilizados. Os canhotos conferem, no essencial, com os dados contidos na Solicitação e o Relatório de Viagem contém as atividades desenvolvidas, as quais constam do objetivo descrito na solicitação.

b) a segunda proposta (fls. 88/93) tem como beneficiário o Sr. Pedro José Baptista Bernardo, já referido. A proposta, de nº 4.118, foi emitida para o trecho Brasília/Rio de Janeiro/Fortaleza/Brasília, entre os dias 24 e 25/5/2002, segunda e terça-feira, com 1,5 diárias. O processo está instruído com requisição de transporte, duas autorizações de viagem, uma delas especial e assinada pela Chefe de Gabinete da Anvisa, Relatório de Viagem, Memorando nº 236/GGREM e canhotos dos cartões de embarque. O exame dos documentos mostra que o servidor se deslocou no dia 20/5/2002, quinta-feira, para o Rio de Janeiro, ao invés de na segunda, dia 24/5/2002. Nesse dia, deslocou-se para Fortaleza, retornando para Brasília dia 25/5/2002, conforme o programado.

c) a terceira proposta (fls. 94/100) tem como beneficiário o Sr. Pedro José Baptista Bernardo, Gerente Geral de Regulação Econômica e Monitoramento de Mercado. A proposta tem nº 4.336, emitida para o trajeto Brasília/Rio de Janeiro/Brasília, entre os dias 27 e 28/5/2004, quinta e sexta-feira, sem diárias. O processo de concessão está instruído com duas autorizações de viagem, uma delas assinada pela Chefe de Gabinete da Anvisa, com o Memorando nº 254/GGREM referente a devolução de bilhetes utilizados, com Relatório de Viagem e canhotos dos cartões de embarque. O exame desses documentos mostra que o servidor se deslocou conforme o programado, na quinta-feira 27/5/2002, mas só retornou a Brasília dia 31/5/2002, segunda-feira às 14:35.

35.3. Sobre as propostas examinadas observa-se que as três contêm uma Autorização Especial que, de acordo com seu texto, procura atender as disposições do inciso VI do art. 2º da Portaria MPOG nº 47, de 29/4/2003. Deve-se observar contudo que a Portaria 47 foi revogada pela Portaria MPOG nº 98, de 16/7/2003, embora mantendo, no inciso IX do art. 2º, o mesmo dispositivo, com pequena modificação de redação, verbis:

'Art. 2º Determinar aos órgãos e entidades da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional a redução de gastos com a emissão de bilhetes de passagem aérea e a observância dos seguintes procedimentos:

I - a viagem deve ser programada com antecedência mínima de dez dias;

...

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IX - em caráter excepcional, o Secretário-Executivo ou titular de cargo correlato, ou ainda o dirigente máximo das Unidades Gestoras descentralizadas, poderá autorizar viagem em prazo inferior ao estabelecido no inciso I deste artigo, desde que devidamente formalizada a justificativa que comprove a inviabilidade do seu efetivo cumprimento.

§ 1º A autorização de que trata o inciso IX deste artigo poderá ser objeto de delegação, vedada a subdelegação.'

35.4. Notamos ainda, especificamente no caso do servidor Pedro José Baptista Bernardo que as viagens para os locais de origem, envolvendo finais de semana, com motivos não totalmente elucidativos e que representam indícios de favorecimento continuam como prática comum na entidade.

35.5. Desta forma, entende-se conveniente alertar à entidade e seus servidores, quando do julgamento do mérito das contas da Anvisa, que a prática de proporcionar viagens aos servidores para os locais de origem, com motivos não completamente esclarecidos, não está amparada em normativos legais, sujeitando a ambos, entidade e servidor beneficiado, às penalidades previstas em lei.

36. É conveniente ainda, a título de ilustração, trazer aos autos notícia publicada na imprensa (fls. 106/107, v. Anexo 1) na mesma época em que estava sendo realizada esta inspeção, a respeito do funcionário Marcos Rogério de Souza, preso por estar envolvido em fraude na concessão de diárias. Tal fato corrobora as alegações já feitas de descontrole na concessão de diárias e passagens no âmbito da Anvisa.

37. A respeito da situação profissional dos responsáveis, é preciso esclarecer que, de acordo com o quadro de fls. 108/110, v. Anexo 1, quatro deles já não fazem parte dos quadros da Anvisa: Gonzalo Vecina Neto, ex-Diretor-Presidente, Marcelo Azalim, ex-Diretor-Adjunto e ex-Diretor-Substituto, Maria Goretti Martins de Melo, ex-Gerente de Normas e Registros e ex-Assessora do Gabinete do Diretor-Presidente, e Silas Paulo Resende Gouveia, ex-Chefe de Gabinete do Diretor-Presidente.

38. Deve-se ressaltar, ainda, que nas irregularidades verificadas, não basta solicitar as justificativas do responsável diretamente beneficiado, mas ainda do superior que autorizou a concessão, honrando-se assim, o caráter de solidariedade existente nas irregularidades, conforme já previsto no art. 12 do Decreto nº 343/1991, verbis:

'Art. 12. Responderão solidariamente pelos atos praticados em desacordo com o disposto neste decreto a autoridade proponente, o ordenador de despesas e o servidor que houver recebido as diárias.'

39. Às fls. 111/120, Anexo 1, foram acrescidos os critérios utilizados e cópia do relatório final de auditoria operacional realizado pela Auditoria Interna da Anvisa em decorrência da recomendação feita na Nota Técnica 418 da SFC.

39.1. As conclusões a que o relatório chegou são:

'- há indícios de liberalidade na concessão de passagens e diárias aos servidores comissionados da Anvisa, arrolados nesta pesquisa para deslocamentos aos seus locais de origem, sem justificativa comprovada dos respectivos objetivos, ao arrepio dos normativos vigentes específicos sobre a matéria

- confirma-se a necessidade de tornar mais frequente e sistemático o alerta preventivo às chefias e aos responsáveis pelo ordenamento de despesas, nos níveis gerenciais da organização, sensibilizando-os todos para as consequências resultantes de práticas nocivas ao interesse público, geradoras de eventuais prejuízos ao erário e comprometedoras da boa gestão, sem ressalvas, em particular no domínio de atuação da Anvisa; e

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- por fim, pode-se concluir que houve liberalidade e que os mecanismos de controle dos atos de gestão, no caso em foco, não se revelaram tão eficazes e tempestivos, fazendo-se pois imprescindível o redobrado esforço institucional para fortalecê-los, a fim de que não se repitam ocorrências dessa natureza no futuro imediato, apesar de já haver melhorias substanciais quanto ao fortalecimento desses mecanismos'."

20. A equipe de inspeção emitiu a seguinte conclusão (fls. 382/3):

"40. Embora a maioria das propostas tenha justificativa, é flagrante o recebimento de benefícios pelos servidores para realizar viagens de caráter particular.

40.1. Em outros casos, porém, não foi possível caracterizar a ilegalidade de forma contundente, apesar das frágeis justificativas.

40.2. Com relação ao servidor Luiz Cláudio Meireles nada garante, pelo fato de não se ter encontrado alterações nos dias das viagens que elas não tenham ocorrido. Há a possibilidade dessas alterações não terem sido anexadas.

41. Um dos principais fatos que caracteriza perfeitamente a obtenção de vantagem pessoal dos servidores reside, exatamente, na concessão ou não de diárias. A lógica é simples. Quando a passagem é concedida para que o servidor retorne a seu estado de origem para passar feriado ou fim de semana, não há a concessão de diárias. Quando a viagem se dá a serviço, mesmo que para a origem, concede-se as diárias correspondentes.

41.1. O fato está perfeitamente exemplificado com o próprio ex-Diretor-Presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto. Na PCD 2.356 houve concessão de 1,5 diárias para participação em seminário em São Paulo, nos dias 13 a 14/3/2002, quarta e quinta-feira. Mas na PCD seguinte, nº 2.357, para reunião na Faculdade de Saúde Pública, dia 15/3/2002, sexta-feira, não houve concessão de diárias, como seria normal se o ato fosse, ao menos aparentemente, legal. Assim como esse exemplo, diversos outros podem ser verificados nas concessões.

41.2. Entende-se, portanto, dever citar os responsáveis Antônio Carlos da Costa Bezerra, Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Dulcelina Mara Said Pereira, Fernando Antônio viga Magalhães, Franklin Rubinstein, Galdino Guttmann Bicho, Gonzalo Vecina Neto, José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Luiz Carlos Wanderley Lima, Luiz Cláudio Meirelles, Marcelo Azalim, Maria da Conceição Fernandes Soares, Maria da Graça Santana Hofmeister, Maria Goretti Martins de Melo, Myrtes Peinado, Moysés Diskin, Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shuqair, Pedro José Baptista Bernardo, Ricardo Oliva e Silas Paulo Resende Gouveia , para que apresentem alegações de defesa ou recolham as importâncias discriminadas nos demonstrativos de débito constantes do Anexo 2 destes autos, em razão das irregularidades mencionadas nas alíneas dos itens 6 a 26, bem como realizar a audiência do ex-Diretor-Presidente da Anvisa sobre as falhas relatadas nos itens relatados na alínea b do item 6.2 e alínea d do item 10.2.

(...)

43. A depender da análise das razões de justificativas a serem apresentadas pelos responsáveis, antevê-se a possibilidade de sugerir ao Plenário deste Tribunal exarar determinação no sentido de vedar, não só aos órgãos e entidades do Ministério da Saúde, como a todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal Direta e Indireta que não concedam passagens a servidores, detentores ou não de cargos em comissão ou funções de confiança, para que estes servidores retornem a seus estados de origem, sob a falsa alegação de reuniões ou outras atividades que não se comprovam, sujeitando-os, caso verificada fraude, ao ressarcimento do custo incorrido, sem o prejuízo de outras sanções cabíveis.

35. Caso as razões de justificativas a serem apresentadas não elidam as falhas apontadas, além da obrigação de devolução dos recursos utilizados indevidamente em

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benefício próprio, antevê-se, além da falta à verdade, a configuração de atos de improbidade administrativa com dano ao patrimônio público, enquadráveis nas Leis 8.112/1990 e 8.429/1992, além de poderem ser enquadrados ainda como incursos no Capítulo I do Título XI do Decreto-Lei nº 2.848/1940, com suas alterações."

21. Foi exarada proposta de encaminhamento no âmbito do relatório de inspeção no sentido de promover a citação dos responsáveis arrolados na prestação de contas e a instauração, por parte da Anvisa, de tomada de contas especial para os demais responsáveis não arrolados (fls. 383/95).

22. Em despacho datado de 29/11/2005 (fls. 420/24), o diretor da 4ª Secex divergiu parcialmente da proposta apresentada no relatório de inspeção:

"Inicialmente, cumpre situar o contexto em que se encontrava a emissão de diárias e passagens da Agência no exercício de 2002. Conforme informado na Nota Técnica nº 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR da Secretaria Federal de Controle Interno – SFC (fls. 285 a 299 do Vol. 1), de 21/5/2003, no exercício em questão os recursos despendidos com diárias e passagens tiveram um incremento de quase 18%, passando de um total de R$ 18.097.097,98, em 2001, para R$ 21.305.776,94, em 2002. Esses gastos corresponderam a 22,8% do total das despesas executadas como de apoio administrativo no ano de 2002, alcançando o número de 16.200 viagens nacionais e internacionais.

2. Relativamente aos 21 dirigentes selecionados para averiguação da regularidade de suas viagens, conforme critério estabelecido pela SFC (fl. 288 do Vol. 1), foram constatadas 962 viagens no ano de 2002, sendo que 541 (56%) estão relacionadas com a cidade de origem do servidor, sem a correta emissão de diárias e/ou abrangendo os finais de semana (fl. 6 do Anexo 1). Considerando que um ano possui, aproximadamente, 47 semanas trabalháveis, os 21 dirigentes alcançariam a média de praticamente 1 viagem por semana, sendo que, para os gestores constantes do rol de responsáveis, a média se elevaria a 58 viagens anuais, e, destas, 38 viagens, na média, estariam com indícios de irregularidades. Mas não só os dirigentes deram causa ao problema. Foram constatadas irregularidades em diversas emissões de diárias e passagens de todos os 21 gestores relacionados, conforme relacionado no relatório de inspeção (fls. 355/395 do Vol. 1). Uma possível consequência desse excesso de viagens generalizado pode ser observada no desempenho da Agência, que alcançou apenas 65% das metas estabelecidas no Termo Aditivo ao Contrato de Gestão firmado com o Ministério da Saúde, além de diversas outras ocorrências relatadas pela SFC que refletem a baixa capacidade de gerenciamento no órgão (fls. 300/301).

3. Como agravante da situação relatada, cabe assinalar que a Agência tinha ciência dos problemas relacionados à emissão de diárias e passagens. Denúncia feita à Controladoria-Geral da União (CGU) ao final de 2001 já descrevia o abuso no número de viagens e a repetida prática do deslocamento de servidores para as suas cidades de origem nos finais de semana (fl. 286 do Vol. 1). Essa denúncia originou o Processo nº 00190.001278/2001-1 na CGU e a comunicação à direção da Anvisa por meio do Ofício nº 1577/CGU/PR, de 11/06/2002, não havendo mudança de padrão na emissão das passagens mesmo após esta comunicação. Além disso, a despeito de a SFC considerar a gestão da Agência irregular no exercício de 2002, por causa dos problemas relativos às diárias e passagens, e dos sucessivos avisos e recomendações feitos à sua direção, os mesmos problemas voltaram a ser detectados nas contas relativas ao exercício de 2003 (TC 009.222/2004-2), que se encontram em instrução nesta unidade técnica.

4. Ademais, estão relacionados nos autos diversas constatações sobre a conduta dos responsáveis, que agravam a percepção das irregularidades cometidas. A começar pela atuação do Diretor-Presidente da Anvisa, Sr. Gonzalo Vencina Neto, que, durante seu período à frente da Agência, acumulou com o cargo de dirigente o exercício de docência na Universidade de São Paulo, conforme comunicado da Universidade à SFC (fl. 296 do Vol. 1), lecionando semanalmente às segundas e sextas-feiras de 13 às 19 horas durante o ano de 2002. Então, além de utilizar de passagens custeadas pela entidade para atender a interesse

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particular, afrontou a Lei nº 8.112/1990, art.118, § 2º, ao acumular cargos públicos, mesmo que em esferas diferentes, com superposição de horários.

5. Portanto, não há o que se amenizar em relação à adoção das medidas a serem tomadas como consequência ao comportamento dos responsáveis pela Anvisa. Na proposta do analista (fls. 355/395 do Vol. 1), dos 21 dirigentes relacionados às irregularidades na emissão de diárias e passagens, os 6 gestores que constam do rol de responsáveis nas contas da Agência deverão ser citados neste processo, enquanto os demais 15 deverão ser objeto de tomada de contas especial a ser instaurada pela entidade, todos com o objetivo de devolver os valores correspondentes às viagens e diárias irregulares. Destaco que o analista propõe que sejam citados os responsáveis que foram beneficiados pelas viagens irregulares, bem como, solidariamente, os responsáveis pelas suas autorizações.

6. A citação do beneficiário e do autorizador das viagens foi calçada no art. 12 do Decreto nº 343/1991 que prevê a responsabilização solidária da autoridade proponente, do ordenador de despesas e do servidor que houver recebido diárias em desacordo com o previsto no Decreto. No entanto, importa tecer algumas considerações. Primeiramente, o foco principal no caso é a irregular emissão de passagens, sendo que a grande maioria dessas viagens não foi acompanhada da necessária emissão de diárias, por isso, o recebimento indevido de diárias ocupa apenas aspecto secundário no escopo das irregularidades apontadas. E, embora possa o Decreto ser utilizado subsidiariamente, a questão deve ser tratada como ofensa direta aos princípios da moralidade administrativa e da eficiência previstos no art. 37 da Constituição Federal.

7. Quanto a instauração de tomada de contas especial visando a devolução de diárias e passagens por parte dos demais 15 responsáveis não-arrolados, cabe ponderar que seria mais adequado a determinação da apuração, pela Auditoria Interna, de todos casos de concessão de passagens e diárias eivadas de irregularidades semelhantes às apontadas neste processo, envolvendo todos os possíveis beneficiários da Agência, e a instauração dos respectivos procedimentos administrativos com vistas à devolução dos valores indevidamente desembolsados pela Anvisa, sendo que, somente após o esgotamento dessa instância, sejam instauradas as tomadas de contas especiais.

8. Também não me parece que a obrigação de restituir o valor de passagem usufruída por outro, conduza à solução mais satisfatória. Parece-me mais adequado estender ao caso o entendimento firmado no Acórdão TCU nº 1721/2004 – Plenário, onde, em sede de julgamento das contas da Companhia Nacional de Abastecimento - Conab referentes ao exercício de 1994, os gestores beneficiários de passagens e diárias para deslocamento a suas cidades de origem aos finais de semana foram citados e os responsáveis pela concessão das mesmas foram ouvidos em audiência.

9. Compartilham o mesmo entendimento descortinado acima, as propostas resultantes de inspeção realizada no Ministério da Saúde, no âmbito do processo de tomada de contas da sua Coordenação-Geral de Recursos Humanos, exercício de 2003, com o intuito de verificar a regularidade da concessão de diárias e passagens em diversas unidades do Ministério. Essa inspeção impactou diversas gestões do Ministério, conforme relação em tabela a seguir, sempre com o mesmo entendimento em relação à questão em tela. Então também existe uma necessidade de uniformização no tratamento do mérito, no âmbito desta unidade técnica, quanto a concessão indevida de passagens e diárias para viagens de responsáveis realizadas para as suas cidades de origem próximas aos finais de semana e/ou sem a devida comprovação da sua motivação.

Órgãos Inspecionados: pertencentes ao Ministério da Saúde, conforme tabela abaixo.Órgão Identificação no SIAFI (UG)

Coordenação-Geral de Recursos Humanos 250006Coordenação-Geral de Recursos Logísticos 250005

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Gabinete do Ministro 250001Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos 250007Secretaria de Gestão de Investimentos em Saúde 250007Secretaria de Atenção à Saúde 250010Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS 250098

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde 250100Secretaria de Políticas de Saúde 250100Diretoria Executiva do Fundo Nacional de Saúde 257001Coordenação-Geral de Orçamento e Finanças 250002

10. Finalmente, não entendo que deva ser ouvido em audiência o Sr. Gonzalo Vecina Neto pelo motivo da ocorrência de falhas no arquivamento de processos de concessão de diárias e passagens, uma vez que , conforme exposto pelo próprio analista, não se configurou o problema como de responsabilidade do gestor.

11. Por conseguinte, divirjo em parte da proposta do analista, concordando que deva ser realizada as citações de todos os gestores que constem do rol de responsáveis da Agência, quais sejam: Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Gonzalo Vecina Neto, José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Luiz Carlos Wanderley Lima, Ricardo Oliva e Silas Paulo Resende Gouveia para que, com fulcro no art.202 do RI/TCU, apresentem suas alegações de defesa ou recolham as quantias devidas, na forma manifestada às fls. 383/395 e fls. 396/419, referente aos valores das viagens realizadas para as suas cidades de origem próximas aos finais de semana e/ou sem a devida comprovação da sua motivação. Ainda, entendo que deva ser determinado a apuração, por parte da Auditoria Interna da Anvisa, tomando como base o levantamento já realizado no âmbito da inspeção (fls. 396/419 do Vol. 1), de todos casos de concessão de passagens e diárias eivadas de irregularidades semelhantes às apontadas neste processo, envolvendo todos os possíveis beneficiários da Agência, e a instauração dos respectivos procedimentos administrativos com vistas à devolução dos valores indevidamente desembolsados pela Anvisa, sendo que, somente após o esgotamento dessa instância, sejam instauradas as tomadas de contas especiais.

12. Como consequência da divergência acima, deverão ser desconsideradas as menções à solidariedade nos demonstrativos de débito que compõem o Anexo 2 deste processo, compondo o total do débito de cada citado a soma dos demonstrativos de débitos que tragam o seu nome como responsável principal.

13. Entendo que deva ser proposto, ainda, a realização de audiência dos responsáveis pela concessão reiterada das passagens e diárias elencadas às fls. 396 a 419, que tiveram sua emissão eivada de vícios. Tais responsáveis deverão apresentar suas razões de justificativa pela não observação aos princípios da moralidade administrativa e da eficiência previstos no art. 37 da Constituição Federal, ao autorizar repetidamente a emissão de passagens próximas ao final de semana e/ou sem as respectivas diárias para as cidades de origem dos servidores e sem a devida comprovação da motivação para as mesmas, conforme quadro apresentado a seguir.

Responsável pela autorizaçãoA

AutorizadoB

Nº de passagens de B autorizadas

por ASilas Paulo Resende Gouveia Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques 5

Gonzalo Vecina Neto 47José Carlos Magalhães da Silva Moutinho 7Luiz Carlos Wanderley Lima 46Ricardo Oliva 26Silas Paulo Resende Gouveia 3

Gonzalo Vecina Neto Luiz Carlos Wanderley Lima 2Silas Paulo Resende Gouveia 42

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14. Por fim, também deve ser ouvido em audiência o Sr. Gonzalo Vencina Neto, para que apresente suas razões de justificativa para os fatos relacionados à sua conduta, quais sejam:

a) acumulação de cargo público na Agência de Vigilância Sanitária com docência na Universidade de São Paulo sem comprovação da compatibilidade de horários;

b) recebimento de passagens pagas pela Anvisa para tratar de interesse pessoal (docência) em sua cidade de origem, São Paulo;

c) negligência por omissão frente ao elevado gasto com passagens e diárias da entidade, sendo grande parte resultante de procedimentos irregulares dos quais compartilhou e pelos quais foi beneficiado;

15. Assim, encaminho os presentes autos à consideração superior, manifestando minha concordância com a proposta do analista às fls. 378/390, à exceção da previsão de citação solidária dos responsáveis pela autorização da concessão das diárias e passagens em questão, da audiência do Sr. Gonzalo Vecina Neto pelo motivo de falhas no arquivamento de processos de concessão de diárias e passagens e da instauração de tomadas de contas especial para os demais responsáveis, acrescentando proposta de:

15.1. determinação à [unidade de] auditoria interna da Anvisa para a apuração, tomando como base o levantamento já realizado no âmbito da inspeção (fls. 396/419 do Vol. 1), de todos casos de concessão de passagens e diárias eivadas de irregularidades semelhantes às apontadas neste processo, envolvendo todos os possíveis beneficiários da Agência, e a instauração dos respectivos procedimentos administrativos com vistas à devolução dos valores indevidamente desembolsados pela Anvisa, sendo que, somente após o esgotamento dessa instância, sejam instauradas as tomadas de contas especiais;

15.2. audiência, com fulcro nos arts. 57 e 58 da Lei 8.443/1992, dos responsáveis:

a) Silas Paulo Resende Gouveia e Gonzalo Vecina Neto, para que apresentem suas razões de justificativa para a não observação aos princípios da moralidade administrativa e da eficiência, previstos no art. 37 da Constituição Federal, ao autorizar repetidamente a emissão de passagens próximas ao final de semana, com ou sem as respectivas diárias, para as cidades de origem dos servidores e sem a devida comprovação da sua motivação;

b) Gonzalo Vencina Neto, para que apresente suas razões de justificativa para os fatos relacionados à sua conduta frente a Agência de Vigilância Sanitária no exercício de 2002, quais sejam:

I. acumulação de cargo público na Agência de Vigilância Sanitária com docência na Universidade de São Paulo sem comprovação da compatibilidade de horários;

II. recebimento de passagens pagas pela Anvisa para tratar de interesse pessoal (docência) em sua cidade de origem, São Paulo;

III. negligência por omissão frente ao elevado gasto com passagens e diárias da entidade, sendo grande parte resultante de procedimentos irregulares dos quais compartilhou e pelos quais foi beneficiado."

23. O secretário, em despacho datado de 5/12/2005 (fls. 425), manifestou-se de acordo com a proposta de encaminhamento exarada pelo diretor.

24. O relator, Exmo. Sr Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, exarou o seguinte despacho, na data de 18/7/2006 (427/8):

"(...)

3. Após o exame inicial procedido pela 4º Secex (fls. 306/329, v.1), foi realizada inspeção na Anvisa, com a finalidade de examinar os indícios de irregularidades em concessões de

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diárias e passagens aéreas nos finais de semana e feriados a 21 servidores da entidade, uma vez que contrariam o disposto nos arts. 6°, § 3°, e 7°, III, do Decreto nº 343/1991.

4. Como resultado da inspeção, restou configurada, no âmbito da Anvisa, a concessão generalizada de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem de 20 servidores ocupantes de cargos comissionados na entidade, dentre os quais destaco os que constam do rol de responsáveis: Gonzalo Vecina Neto; Diretor-Presidente da Anvisa, Silas Paulo Resende Gouveia; Chefe de Gabinete da Presidência, José Carlos Magalhães da Silva Moutínho; Gerente-Geral de Gestão Administrativa e Financeira; e Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Luiz Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva; Diretores Membros da Diretoria Colegiada.

5. Observo que, de acordo com o art. 6, § 3°, do Decreto nº 343/1991, a autoridade competente somente pode autorizar a realização de despesas com diárias e passagens aéreas, com base em elementos que comprovem a correlação dos eventos envolvidos com os objetivos institucionais e desde que sejam compatíveis com as atribuições do cargo ocupado pelo servidor beneficiário.

6. Assim sendo, julgo procedente, em acréscimo à proposta do Diretor Técnico da 4º Secex, promover a audiência de todos os responsáveis pela autorização de concessão de diárias e passagens aéreas a 20 servidores (fls. 396/419, v.l), em desacordo com o art. 6, § 3°, do Decreto nº 343/1991, sem prejuízo de realizar também a audiência dos responsáveis pela irregularidade generalizada no âmbito da Anvisa, os Srs. Gonzalo Vecina Neto e Silas Paulo Resende Gouveia.

7. Com relação às citações, em que pese não ter constado da proposta final do diretor da unidade técnica, estou de acordo quanto à oitiva no âmbito do presente processo de prestação de contas apenas dos beneficiários constantes do rol de responsáveis, já identificados no item 4 retro, devendo os demais constarem de determinação para que a Anvisa adote as providências cabíveis, quando do julgamento do mérito.

8. Por último, acolho também a proposta de realizar a audiência do Sr. Gonzalo Vencina Neto para apresentar razões de justificativa acerca dos indícios de acumulação ilícita de cargo público na Agência de Vigilância Sanitária com a docência na Universidade de São Paulo, sem comprovação da compatibilidade de horários.

9. Ante o exposto, determino à 4ª Secex que promova:

a) a audiência dos seguintes responsáveis:

a.1) Gonzalo Vecina Neto, Diretor-Presidente da Anvisa, Silas Paulo Resende Gouveia, Chefe de Gabinete da Presidência, para que apresentem razões de justificativa, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da autorização pessoal e a concessão generalizada de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem dos servidores da Anvisa;

a.2) Luiz Felipe Moreira Lima, Ricardo Oliva, Luiz Carlos Wanderley Lima, Luiz Milton Veloso Costa, para que apresentem razões de justificativa, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da autorização e concessão de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de orgime dos servidores da Anvisa, conforme planilhas constantes às fls. 396/419, v.1;

b) a citação dos Srs. Gonzalo Vecina Neto, Silas Paulo Resende Gouveia, José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Luiz Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva, para que apresentem alegações de defesa, no prazo de 15 (quinze) dias, acerca da realização de viagens às suas cidades de origem, em finais de semana/feriados, ou dias próximos a estes, com ou sem a percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais e que são compatíveis

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com as atribuições do cargo que ocupam, contrariando os arts. 6º, § 3º, e 7º, III, do Decreto nº 343/1991;

b.1) alerte nos oficios de citação que os responsáveis deverão encaminhar juntamente com as alegações de defesa os COMPROVANTES da realização das viagens e da correlação destas com o interesse da entidade e com as atribuições do cargo que ocupam, ou seja, que as viagens ocorreram no interesse do serviço."

25. Os responsáveis foram regularmente citados e ouvidos em audiência, conforme determinado pelo relator.

26. A 4ª Secex examinou as respostas apresentadas. Transcrevo trechos da instrução da AUFC responsável (fls. 2.791/2.794):

"1. Preliminarmente, cabe relembrar que a presente prestação de contas recebeu parecer da Controladoria Geral da União – CGU pela irregularidade da gestão. Tal parecer deu-se em função da constatação de irregularidades no uso de diárias e passagens, sem a devida comprovação do interesse público e com indícios de que os servidores utilizavam-se dos recursos públicos para se deslocarem a seus estados de origem, em datas próximas a finais de semana/feriado, a pretexto de participarem de reuniões (fl. 302).

2. Em auditoria de avaliação da gestão do exercício de 2002, a Secretaria Federal de Controle – SFC emitiu a Nota Técnica nº 418/2002 – DSSAU/DS/SFC/CGU-PR (fls. 285 a 299), de 21/3/2003, na qual propõe a realização de Auditoria Operacional pela Auditoria Interna da Anvisa, com o fim de quantificar e qualificar as ocorrências irregulares relacionadas ao uso de passagens e diárias pelos servidores da Agência, com vistas a apurar os valores devidos, bem como determinar a devolução dos recursos indevidamente utilizados.

3. Inicialmente, a Anvisa criou um Grupo de Trabalho por meio da Portaria nº 626, de 30/7/2003. Os componentes do grupo criado foram os seguintes: José Agenor Álvares da Silva, Ailton de Lima Ribeiro e Iolanda Álvares Gomes. Vale destacar que o objetivo do citado grupo de trabalho era o de analisar e apresentar relatório à Diretoria Colegiada da Anvisa sobre os fatos relacionados na Nota Técnica nº 418 do Processo SFC nº 23351.012932/2003-05, que trata da Prestação de Contas Anual da Anvisa, referente ao exercício de 2002. A Nota Técnica nº 418/2002 – DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, por sua vez, foi elaborada em obediência à Decisão TCU nº 1.690/2002 – Plenário, de 4/12/2002, que determinou ao controle interno que 'por ocasião do exame das contas anuais relativas ao exercício de 2002, dos órgãos e entidades que integram a Administração Pública Federal, analisasse os procedimentos de concessão de diárias, para deslocamentos incluindo ou iniciando em finais de semana e feriados, a servidores ocupantes de cargos e funções públicas, com enfoque especial a respeito do cumprimento ou não por parte das disposições contidas no § 3º do art. 6º, do Decreto nº 343/1991'.

4. As conclusões dos trabalhos realizados pelo supramencionado grupo de trabalho foram emitidas em 1/12/2003 e terminaram por isentar de qualquer responsabilização todos os beneficiários das viagens e passagens anteriormente questionadas pela Secretaria Federal de Controle Interno (fls. 2 a 18, anexo, vol. 3). Os resultados chegaram à seguinte conclusão: a) foram tomadas todas as providências internas necessárias (no âmbito da Anvisa) para sanar as eventuais falhas processuais na concessão dos questionados benefícios; b) todas as justificativas das viagens foram complementadas por todos os servidores arrolados no processo de sindicância, inclusive os resultados das reuniões, que comprovam que as viagens foram realizadas em objeto de serviço; c) a alegada desobediência ao Decreto nº 343/1991 foi esclarecida com novas informações trazidas ao processo, que justificam as viagens, explicitando o serviço executado e indicando os locais onde o serviço foi realizado.

5. O resultado do Grupo de Trabalho foi apresentado à equipe de auditoria da CGU, entretanto o [órgão de] controle interno considerou insuficientes as provas apresentadas para

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o encerramento do caso, levando em conta que não foram apresentados comprovantes das reuniões supostamente marcadas para sextas-feiras. A equipe da CGU não acatou as conclusões do Grupo de Trabalho, contudo recomendou a Corregedoria da Entidade que realizasse uma investigação mais detalhada e imparcial.

6. Com base nas conclusões da SFC, que recomendou a instauração de sindicância para apuração dos fatos, a Anvisa instaurou um Processo Administrativo Disciplinar – PAD nº 25351.050312/2005-28 e criou uma Comissão de Sindicância. O PAD foi instaurado para apurar os indícios de prática de improbidade administrativa e de suspeita de acumulação indevida de cargos públicos, com má-fé por parte do então Diretor-Presidente da Anvisa o Sr. Gonzalo Vecina Neto, no período de 1999 a 2003, já a Comissão de Sindicância foi criada para apurar responsabilidades na concessão irregular de diárias e passagens aos demais dirigentes da Anvisa, no período de 2002 a 2004.

7. O Processo de Sindicância foi criado por meio da Portaria/CORGE nº 51, de 2/6/2006, publicada no Boletim de Serviço nº 24, de 12/6/2006, em continuação aos trabalhos da Comissão instituída por meio da Portaria/CORGE nº 21/2006. Já o Processo Administrativo Disciplinar – PAD foi instaurado mediante Portaria/Anvisa nº 59, de 3/2/2006, publicado no Boletim de Serviço nº 06 de 6/2/2006, prorrogada pela Portaria/CORGE nº 17, de 31/3/2006, publicada no BS nº 014, de 3/4/2006, alterada pela Portaria/CORGE nº 27, de 6/4/2006 no Boletim de Serviço nº 15, de 10/4/2006. No PAD foram investigados os seguintes indícios de irregularidades:

7.1. exercício do cargo de Professor Assistente MS2, em regime de turno parcial, com carga horária de 13 às 19h, as segundas e sextas-feiras, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em concomitância com o exercício do Cargo de Diretor-Presidente da Anvisa.

7.2. utilização irregular de recursos da Anvisa (diárias e passagens) para comparecer à Universidade de São Paulo, sob o pretexto de que estaria participando de reunião de interesse da Anvisa na Faculdade de Saúde Pública de São Paulo – FSP-USP, quando, em verdade, estaria indo àquela Universidade com o intuito de cumprir sua carga horária como professor, ministrando aulas.

8. Em virtude dos resultados dos trabalhos apresentados pelo Processo Administrativo Disciplinar, bem como pela Comissão de Sindicância, a CGU emitiu parecer, por meio das Notas Técnicas nº 894 e 895, ambas de 21/5/2007, manifestando-se acerca das conclusões dos processos instaurados. No tocante à Nota Técnica nº 894/2007, ela será analisada mais adiante nos parágrafos que tratam do exame da audiência e da citação do ex-diretor-presidente da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto. Já em relação à Nota Técnica nº 895/2007, cabe ressaltar que não houve parecer conclusivo da SFC/CGU. Contudo, após análise dos documentos da Comissão de Sindicância feita no âmbito das contas de 2003 (TC nº 009.222/2004-2), depreende-se que a comissão decidiu, por falta de provas, acatar as justificativas apresentadas pelos dirigentes da entidade e, em face da 'inexistência de base razoável' para indiciação por dolo ou má-fé, propôs investigação das práticas questionadas, caso persistam de forma reiterada, durante o exercício de 2005/2006.

9. Assim, a Corregedoria da Anvisa acolheu o Relatório Final da Comissão e decidiu arquivá-lo, após ter autuado o Processo Administrativo Disciplinar (PAD no 25351.327842/2006-51) que tratará o uso indevido de diárias e passagens a partir do exercício de 2005. Ademais, a corregedoria concluiu que todos os procedimentos de investigação asseguraram a transparência e a moralidade dos comportamentos administrativos e que as sugestões emanadas da CGU e do TCU já foram colocadas em prática para correção das fragilidades identificadas,

10. Cumpre destacar, também, que os presentes autos foram analisados por esta unidade técnica em 2004 e a instrução preliminar (fls. 306 a 329) propôs a realização de

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inspeção na Anvisa, para levantar os dados das propostas de concessão de diárias dos 21 servidores identificados pela SFC no Relatório de Auditoria de Gestão do Exercício de 2002 e na Nota Técnica nº 418/2003-GCGU, incluindo o ex Diretor-Presidente da Anvisa o Sr. Gonzalo Vecina Neto. O objetivo dessa inspeção foi avaliar, com maior precisão, a existência das irregularidades detectadas pelo Controle Interno, na concessão de diárias e passagens aos servidores constantes no rol de responsáveis da Agência.

11. Acerca da proposta de inspeção deste Tribunal de Contas, foi publicada a Portaria de Fiscalização nº 1.033, de 9/7/2004, alterada pela de nº 1.100, de 4/8/2004, designando servidores desta Corte para a realização da supramencionada inspeção. A fiscalização realizada nos procedimentos de concessão de diárias e passagens da Anvisa compreendeu todo o exercício de 2002 e tratou da responsabilização apenas dos servidores inclusos no rol de gestores responsáveis, tanto daqueles que se beneficiaram das concessões como daqueles que autorizaram o uso dos benefícios questionados.

12. De acordo com os resultados obtidos na inspeção realizada, foram identificadas as mesmas irregularidades apontadas pelo controle interno no relatório de auditoria de gestão da Anvisa do exercício de 2002. Por causa disso, no relatório final da inspeção, foi proposto que os beneficiários fossem citados pelo uso indevido de diárias e passagens e chamados em audiência os autorizadores dessas mesmas viagens.

13. Em decorrência das conclusões da inspeção realizada e em cumprimento ao Despacho proferido pelo Relator, o Excelentíssimo Sr. Auditor Marcos Bemquerer Costa, às fls. 429, foi promovida a citação dos Srs Gonzalo Vecina Neto (Ofício nº 3107/2006, datado de 18/9/2006, fls. 453 a 455), Silas Resende Gouveia (Ofício nº 3091/2006, datado de 18/9/2007, fls. 434 a 436), José Carlos Magalhães da Silva Moutinho (Ofício nº 3097/2006, datado de 18/9/2006, fls. 446 a 448), Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques (Ofício nº 3154/2006, datado de 18/9/2006, fls. 456 a 458), Luis Carlos Wanderley Lima (Ofício nº 3089/2006, datado de 18/9/2006, fls. 429 a 431) e Ricardo Oliva (Ofício nº 3096/2006, datado de 18/9/2006, fls. 443 a 445).

14. Os responsáveis, mencionados no parágrafo anterior, foram instados a se pronunciarem acerca da realização de viagens às suas cidades de origem, em finais de semana/feriados, ou em dias próximos a estes, com ou sem a percepção de diárias, sem a devida comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais e que eram compatíveis com as atribuições do cargo que ocupavam, contrariando os arts. 6º, § 3º, e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

15. Ainda, conforme o despacho supramencionado foi promovida, também, a audiência dos Srs. Luis Carlos Wanderley Lima (Ofício nº 3090/2006, datado de 18/9/2006, fls. 432 e 433), Silas Paulo Resende Gouveia (Ofício nº 3093/2006, datado de 18/9/2006, fls. 437 e 438), Gonzalo Vecina Neto (Ofício nº 3094/2006, datado de 18/9/2006, fls. 439 e 440), Ricardo Oliva (Ofício nº 3095/2006, datado de 18/9/2006, fls. 441 e 442), Luiz Felipe Moreira Lima (Ofício nº 3103/2006, datado de 18/9/2006, fls. 449 e 450), Luiz Milton Veloso Costa (Ofício nº 3106/2006, datado de 18/9/2006, fls. 451 e 452).

16. Os responsáveis de que trata o parágrafo anterior foram instados a se pronunciarem por terem autorizado repetidamente a concessão de diárias e passagens para viagens realizadas em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem dos servidores da Anvisa, contrariando o disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e por não terem observado os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública.

17. Conforme disposto no Ofício nº 3.094/2006, datado de 18/9/2006, fls. 439 e 440, o Sr. Gonzalo Vecina Neto também foi chamado em audiência por indícios de acumulação ilícita do cargo de Diretor-Presidente da Anvisa com o cargo de Professor Assistente na Faculdade de

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Saúde Pública da Universidade de São Paulo – USP, sem comprovação de compatibilidade de horários, conforme preceitua o § 2º, art. 118 da Lei 8.112/1990."

27. Transcrevo trechos da instrução da AUFC responsável no que se refere ao exame das audiências promovidas (fls. 2.794/2.803):

"18. Razões de Justificativas do Sr. Gonzalo Vecina Neto

18.1. Conforme já mencionado nos parágrafos anteriores o Sr. Gonzalo Vecina foi chamado em audiência, por meio do Ofício nº 3.094/2006, de 18/9/2006 (fls. 439 e 440), para apresentar razões de justificativas acerca das seguintes suspeitas de irregularidades:

a) autorização reiterada de diárias e passagens em fins de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para o local de origem do servidor, contrariando o disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, com a consequente inobservância aos princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública;

b) indícios de acumulação ilícita do cargo de Diretor-Presidente da Anvisa com o cargo de Professor Assistente na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – USP, haja vista não haver comprovação de compatibilidade de horários entre os cargos, conforme preceitua o § 2º, art. 118 da Lei 8.112/1990.

18.2. Em relação ao item 'a' do parágrafo anterior, o ex Diretor-Presidente da Anvisa trouxe aos autos suas razões de justificativas (fls. 1101 a 1104), alegando que, como responsável máximo pelo funcionamento da entidade, foi rigoroso no cumprimento do processo de concessão e de verificação das viagens e, dentro do razoável, discutiu com os servidores o resultado dos trabalhos motivadores das viagens. Assevera, também, que não feriu o princípio da legalidade, uma vez que cumpriu exatamente o que se exigia à época. Quanto ao princípio da moralidade, ele afirma que aceitou as justificativas dadas pelos servidores porque pareciam corretas, até porque os resultados obtidos nas reuniões e eventos realizados nessas viagens indicavam de certa maneira a razoabilidade da autorização.

18.3. No que se refere ao item 'b' do parágrafo 18 desta instrução, cabe inicialmente relembrar que o Processo Administrativo Disciplinar – PAD instaurado pela e Anvisa, conforme relatado no parágrafo 7, tratou dos seguintes indícios de irregularidades:

a) o exercício do cargo de Professor Assistente MS2, em regime de turno parcial, com carga horária de 13 às 19h, as segundas e sextas-feiras, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em concomitância com o exercício do Cargo de Diretor-Presidente da Anvisa.

b) a utilização irregular de recursos da Anvisa (diárias e passagens) para comparecer à Universidade de São Paulo, sob o pretexto de que estaria participando de reunião de interesse da Anvisa na Faculdade de Saúde Pública de São Paulo – FSP-USP, quando, em verdade, estaria indo àquela Universidade com o intuito de cumprir sua carga horária como professor, ministrando aulas.

18.4. Com relação aos indícios de acumulação ilícita do cargo de Diretor-Presidente da Anvisa com o cargo de Professor Assistente na FSP/USP, o Sr. Gonzalo Vecina afirma que é docente da universidade e na época em que era Diretor Presidente da Anvisa não ministrava aulas, apenas utilizava o espaço que tinha na Faculdade para cumprir uma agenda paulista, cujo objetivo era construir um relacionamento contínuo com os setores regulados. Alega que a faculdade cedia o espaço necessário para que ele pudesse receber empresários, cientistas, políticos e servidores para despachar e discutir os assuntos relevantes da vigilância do país, pois a Agência não possuía uma sede adequada em São Paulo. Ademais, assevera que todas as entidades não sindicais representativas do setor são sediadas em São Paulo, somando-se a isto o fato de que a seção de análise de Bioequivalência de Medicamentos Genéricos, ainda com

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sede em São Paulo, necessitava de um contato contínuo tanto por causa das demandas, como pela dificuldade que foi a implantação da política dos genéricos naquela época.

18.5. Durante a execução dos trabalhos do Processo Administrativo Disciplinar – PAD, conforme relatado no parágrafo 6 e 7 desta instrução, a Comissão chegou às seguintes conclusões:

'a) existe em legislação específica a permissão para que dirigentes da Anvisa acumulem o exercício do cargo de direção com o cargo de professor;

b) a agenda de compromissos do Sr. Gonzalo Vecina mostrou, em grande número de casos, ocorrência de eventos em São Paulo, aos quais deveria comparecer na condição de Diretor-Presidente da Anvisa, agendados para os períodos da manhã ou da noite de segundas e sextas-feiras, descaracterizando, portanto, a hipótese de que as viagens se dariam exclusivamente para satisfazer a interesse pessoal do servidor;

c) foram ouvidas 10 (dez) testemunhas residentes em São Paulo, entre funcionários da faculdade de Saúde Pública e representantes da indústria farmacêutica, e todos declararam que durante o período da investigação, correspondente à fase de implantação da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto comparecia à Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, às segundas e sextas-feiras, para presidir reuniões da própria entidade. As reuniões seriam realizadas em sala cedida pela faculdade, porque na época a Agência não dispunha de acomodações adequadas na cidade. Declararam, ainda, que, nos horários citados, o Sr. Gonzalo não ministrava aulas, uma vez que suas obrigações de Professor Assistente eram cumpridas apenas com atividades de pesquisa e desenvolvimento científico;

d) foram ouvidas, ainda, testemunhas pertencentes ao quadro funcional da entidade, as quais explicaram que as reuniões da Anvisa com os representantes da indústria farmacêutica, muito freqüente nesse período, por se tratar da fase de elaboração da nova regulamentação do setor de medicamentos e produtos farmacêuticos, eram realizadas em São Paulo devido ao fato de que naquele Estado concentram 95% das indústrias farmacêuticas sediadas no país. Informaram, ainda, que as reuniões eram agendadas para as segundas e sextas-feiras para que não houvesse interrupção dos trabalhos da entidade em Brasília durante a semana. As testemunhas afirmaram que a presença do Sr. Gonzalo nessas reuniões era imprescindível, devido ao assunto tratado (nova regulamentação do setor) e à formação profissional do servidor (médico especializado em Saúde Pública), não sendo possível fazer representar a Anvisa por algum servidor residente em São Paulo.'

18.6. Além dessas conclusões, no despacho nº 128/CORGE/ANVISA (fls 1106 a 1123), que trata do julgamento dos fatos apurados no Processo Administrativo Disciplinar – PAD, o corregedor da Anvisa inicia suas conclusões resumindo os diversos depoimentos colhidos e afirmando que todos foram unânimes em declarar que as reuniões realizadas em São Paulo, nas dependências da Faculdade, sempre foram voltadas para tratar de assuntos de interesse tanto da Anvisa quanto do setor regulado. Conclui também que, com base nos diversos testemunhos, o ex Diretor-Presidente jamais deixou de observar os princípios da Administração Pública, tampouco feriu a lisura pública desrespeitando os mandamentos constitucionais. Por fim, o julgamento do PAD concluiu por acolher o Relatório Final da Comissão e determinou o arquivamento do processo.

18.7. Posteriormente, a Secretaria Federal de Controle analisou o caso e concluiu, por meio da Nota Técnica nº 894/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, de 21/5/2007, que as evidências apresentadas, principalmente as provas testemunhais, são indicativas de que não houve por parte do servidor acumulação indevida de cargos públicos, nem prática de ato de improbidade administrativa (com relação a suspeita de aproveitar-se de passagens fornecidas pela Anvisa para tratar de interesse particular).

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18.8. Ressalte-se, também, que a Corregedoria Setorial do Ministério da Saúde/CORAS/CRG/CGU-PE, no processo 00190.01278/2001-01, analisou o mesmo PAD e chegou à conclusão de haver provas suficientes da inocência do servidor, tendo sugerido o arquivamento do referido processo.

19. Análise

19.1. Em vista dos elementos apresentados no Processo Administrativo Disciplinar, instaurado pela Corregedoria da Anvisa, e pelas conclusões a que chegaram a Corregedoria do Ministério da Saúde e a Secretaria Federal de Controle Interno, entende-se necessário endossar o posicionamento da SFC/CGU, qual seja, as evidências apresentadas foram suficientes para elidir os indícios de acumulação irregular de cargos públicos e o uso indevido de diárias e passagens pelo ex-Diretor-Presidente da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto.

19.2. No que se refere à audiência relacionada às autorizações de diárias e passagens, cabe aqui ressaltar que este assunto não foi objeto de análise do Processo Administrativo Disciplinar instaurado pela Anvisa. Assim, quanto à análise da audiência, constatou-se que as justificativas apresentadas para esta irregularidade foram vagas e generalizadas, sem comprovação documental capaz de afastar as suspeitas da má utilização dos recursos públicos. Ressalte-se que, no universo dos beneficiários investigados na inspeção realizada por esta Corte, o Sr. Gonzalo Vecina assinou 43 (quarenta e três) autorizações para o beneficiário Silas Paulo Resende Gouveia e duas para Luiz Carlos Wanderley Lima (entre os responsáveis que foram citados). Dos dois beneficiários, destaca-se que o Sr. Silas não logrou êxito em demonstrar suporte documental capaz de comprovar o comparecimento aos supostos eventos realizados fora da sede da Anvisa, tampouco trouxe evidências que esclarecesse o nexo entre as atividades que exercia e as motivações que fundamentaram as viagens realizadas. Já o Sr. Luiz Carlos Wanderley Lima conseguiu demonstrar a compatibilidade entres atribuições do cargo que exercia e os motivos que justificaram os deslocamentos. Dessa forma, resta a esta unidade técnica não acatar as razões e justificativas do Sr. Gonzalo Vecina, apenas no que se refere às autorizações reiteradas de viagens e passagens concedidas ao Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, ao tempo que propõe a esta Corte de Contas a imposição de multa ao autorizador.

20. Razões de Justificativas do Sr. Luis Carlos Wanderley Lima

20.1. Em atendimento ao Ofício nº 3.090/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 432 e 433), o Sr. Luis Carlos Wanderley Lima – ex-diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa – encaminhou suas razões de justificativas, conforme consta às folhas 1.455 a 1.468. Por meio deste documento, o então Diretor da Anvisa foi instado a se pronunciar acerca das suspeitas de irregularidades que pesam sobre a autorização generalizada de diárias e passagens a vários servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, sem a devida comprovação de que tais deslocamentos atendiam ao interesse público, contrariando o disposto no art. 6º, §3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991 e não observando os princípios da moralidade e finalidade pública.

20.2. Em seus esclarecimentos, o Sr. Luís Carlos admite que assinou vários PCD’s autorizando a concessão de diárias e passagens a vários servidores da Agência. Tal procedimento só foi possível porque, como Diretor, uma de suas competências era autorizar o pagamento destes benefícios aos servidores que se afastariam de suas atividades normais de trabalho para participar ou representar a Anvisa em eventos ocorridos em outras localidades fora de Brasília. Ele afirma que todas as PCD’s que assinou foram com base nas várias evidências que, à época, apresentavam-se em consonância com a finalidade pública, moralidade e legalidade. Alega, também, que cumpriu os mandamentos da legislação vigente na época e reconhece que não dispunha de instrumentos que garantisse o primado da onisciência, não podendo, assim, garantir que não tenha cometido enganos. Por fim, solicita que suas razões e justificativas sejam acatadas por esta Corte de Contas.

21. Análise60

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21.1. O Sr. Luis Carlos Wanderley Lima apresentou justificativas tão vagas e imprecisas quanto às descrições constantes nas propostas iniciais de concessões de diárias e passagens que receberam sua assinatura. Ele buscou sustentar seus esclarecimentos apenas no fato de que a legislação específica, à época, não exigia, expressamente, a necessidade de apresentação dos documentos nos moldes, hoje, solicitados. No entanto, cabe salientar que esse fato não é suficiente para eximir o gestor da responsabilidade pela liberalidade na concessão desse benefício, porquanto os princípios que norteiam a Administração Pública também têm valor normativo. A simples observância aos regulamentos formais não é condição única e bastante para presumir uma conduta em consonância com a moral e a ética administrativa. Os atos administrativos concebidos como legais, nem sempre estão revestidos da moralidade que deles se espera. E é exatamente no limite entre o que é legal, mas contrário à moral, que se espera uma atuação ética do administrador público, cujo objetivo seja propor soluções transparentes e capazes de afastar quaisquer dúvidas quanto à lisura dos atos administrativos originados em sua gestão, afinal, é dele, do próprio gestor público, o dever de prestar contas da boa e regular aplicação dos recursos públicos em benefício da sociedade, conforme preceitua o parágrafo único, art. 70 da CF/88.

21.2. Note-se que a conduta do servidor, ao tentar se amparar na omissão da legislação, apenas reforça a tese de afronta aos princípios da finalidade pública e, principalmente, o da moralidade administrativa. Por oportuno, cabe destacar que no universo amostral das PCD’s analisadas pela CGU e, posteriormente, em inspeção realizada por esta unidade técnica, verificou-se que Sr. Luiz Carlos autorizou uma viagem para si mesmo e 13 para a ex-Assessora da Gerência-Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e Produtos (Maria da Conceição Fernandes Soares - fls. 405 e 409). Assim, além de não ter apresentado documentação apta à comprovação da realização dos eventos da beneficiária, também não conseguiu efeito em demonstrar o liame entre as competências da servidora face às justificativas para os deslocamentos. Por esse motivo, entende-se concluir pelo não acatamento das razões de justificativas apresentadas pelo o Sr. Luiz Carlos Wanderley Lima, ao tempo que propõe a esta Corte a imposição de multa ao autorizador em questão.

22. Razões de Justificativas do Sr. Silas Paulo Resende Gouveia

22.1. Em atendimento ao Ofício nº 3.093/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 437 e 438), o Sr. Silas Paulo Resende Gouveia juntou aos presentes autos as razões de justificativas, conforme identificadas às folha 1.470 a 1.477. O Sr. Silas foi chamado em audiência para prestar esclarecimentos relacionados à concessão generalizada de diárias e passagens, para os locais de origem dos servidores beneficiários, sem a devida comprovação de que tais deslocamentos atendiam ao interesse da entidade, contrariando o disposto no art. 6º, §3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

22.2. Inicialmente, o citado traz às fls. 1470 e 1471 algumas informações sobre sua formação pessoal e outras relacionadas ao período de criação e implantação da Anvisa. Em seguida às folhas 1472 afirma que originalmente não tinha a competência para autorizar tais benefícios, entretanto tal atribuição foi-lhe delegada, oportunidade que passou a responder pelo então Diretor-presidente da Agência em casos de ausência ou mesmo por solicitação. Assim, o servidor afirma que, no exercício de sua função, nunca autorizou passagens e diárias sem que os ritos processuais, a natureza das viagens, os motivos e as alegações estivessem indicados pela chefia imediata, muito menos sem o consentimento do diretor da área.

22.3. O Sr. Silas alega que não houve ofensa ao princípio da legalidade, uma vez que todas as viagens autorizadas atenderam à legislação pertinente. Informa, ainda, que as requisições seguiam um modelo padrão (fl. 1473) para todas as viagens e que as solicitações chegavam prontas para assinatura do autorizador, após terem sido apreciadas pelo chefe do setor competente e pelo diretor da respectiva área. As justificativas eram apresentadas pelos requerentes de forma padronizada e inexistia, à época, qualquer exigência de comprovação

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documental da realização das viagens tais como: relatórios, atas, certificados ou cartões de embarque. Diante disso, o Sr. Silas solicita a improcedência da acusação, em face da inexistência de dolo ou má fé no exercício das atribuições a ele delegadas e ainda, se possível, pede autorização para acostar aos autos prova testemunhal.

23. Análise

23.1. As argumentações apresentadas pelo Sr. Silas Paulo Resende Gouveia não lograram êxito em demonstrar a finalidade pública na autorização reiterada de diárias e passagens para servidores afastarem-se da sede da entidade, a pretexto de participação em reuniões. Entre os gestores constantes no rol de responsáveis que foram chamados a apresentar defesa nesta Corte de Contas (conforme planilhas às folhas 396 a 419), todos tiveram PCD’s assinadas pelo ex-assessor da Presidência da Anvisa. São eles: Gonzalo Vecina Neto (ex-diretor-presidente), José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Luís Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva. Do universo amostral das PCD’s analisadas pela CGU e, posteriormente, por esta unidade técnica, vale destacar que apenas 3 dos 21 servidores beneficiários, analisados na inspeção, não tiveram viagens autorizadas pelo Sr. Silas, houve inclusive viagem em que ele era o beneficiário e recebeu autorização de si mesmo.

23.2. Entre os responsáveis supramencionados, cabe ressaltar que as responsabilidades imputadas ao Ex-Diretor-Presidente da Anvisa Sr. Gonzalo Vecina, ao ex-diretor adjunto da Diretoria Colegiada Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, ao ex-diretor da Diretoria Colegiada Luís Carlos Wanderley Lima e ao ex-Diretor de Alimentos e Toxicologia da Anvisa Ricardo Oliva, pelo uso de diárias e passagens em finais de semana, foram afastadas em função da proposta de acolhimento de suas alegações de defesa, relatadas mais adiante nesta instrução. Já em relação ao ex-assessor da Gerência-Geral de Medicamentos José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, cabe adiantar a análise feita no parágrafo 34 desta instrução, tendo em vista a proposta para que suas alegações de defesa sejam rejeitadas.

23.3. Além disso, as argumentações do defendente se pautaram basicamente em afirmar e reafirmar que não violou o princípio da legalidade, ou seja, que, na época, não existia legislação específica que exigisse comprovação documental necessária para prestar contas das viagens realizadas. Entretanto, cabe enfatizar que o defendente foi chamado a apresentar justificativas, também, pela afronta ao princípio da moralidade administrativa. Isso significa que a mera observância das normais legais não pressupõe a moralidade dos atos do gestor público. As ações administrativas podem revestir-se de todas as formas legais e serem eivadas de imoralidade, pois 'nem tudo que é legal, é moral'. Nesse contexto é interessante notar que o princípio da moralidade foi inserido no arcabouço jurídico da democracia de direito, ante a insuficiência demonstrada pelo regime da legalidade estrita. Não obstante, cabe repetir que a argumentação trazida pelo então assessor da Anvisa não afasta a ofensa à moralidade, uma vez que este é um importante instrumento que visa nortear os atos públicos, em especial nos casos de omissão legislativa. Da análise de todos os documentos acostados aos autos, depreende-se que os responsáveis da entidade aproveitaram-se dessa omissão na legislação específica, em detrimento do princípio da moralidade e impessoalidade.

23.4. Por todos os motivos expostos, propõe-se o não acolhimento das razões de justificativas apresentadas pelo Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, e a aplicação de multa ao autorizador, em função da liberalidade na concessão de diárias e passagens ao Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho e outros.

24. Razões de Justificativa do Sr. Ricardo Oliva

24.1 Em resposta ao Ofício de Audiência nº 3.095/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 441 e 442), o Sr. Ricardo Oliva acostou aos autos suas razões de justificativas, conforme constatado às folha 494 a 503. O então Diretor da entidade foi chamado a se manifestar em razão da autorização e concessão repetida de diárias e passagens em finais de semana sem a

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comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem dos servidores da Anvisa, contrariando o disposto no art. 6º, §3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991 e não observando ao princípios da moralidade e finalidade pública.

24.2. Preliminarmente, o ex-diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa esclarece que as autorizações de diárias e passagens que receberam sua assinatura estão todas em consonância com a legislação pertinente à época. Afirma que o Decreto nº 343/1991 conferiu ao ordenador de despesa o poder de firmar juízo de valor sobre a justificativa oferecida pelo servidor para a viagem, em razão do conhecimento das necessidades do serviço público, na respectiva área de atuação, especialmente em face de circunstância do momento, impossíveis de serem corretamente avaliadas em futuro distante. Alega, também, que o episódio serve apenas para identificar as fragilidades da legislação, não para censurar os atos havidos com estreita observância de seus termos. Assim, o ex-diretor da Anvisa solicita a esta Corte de Contas que suas justificativas sejam acatadas e afastada qualquer responsabilidade solidária a ele imputada.

25. Análise

25.1. Os esclarecimentos trazidos aos autos pelo Sr. Ricardo Oliva não foram suficientes para afastar a responsabilidade solidária pelas 81 propostas de concessão de diárias e passagens assinadas por ele, conforme planilhas acostadas às fls. 399, 401, 407, 408, 413 do presente processo. Entre os 21 servidores beneficiários das passagens, investigados no âmbito da inspeção realizada por esta unidade técnica, 5 deles receberam autorização do Sr. Ricardo Oliva, perfazendo o total de 81 PCD’s. Nenhum deles foi citado, por não estarem arrolados no rol de responsáveis.

25.2. O citado procurou fundamentar-se no dispositivo do decreto, que confere ao ordenador de despesa o poder de firmar juízo de valor sobre a justificativa, bem assim na ausência de regulamentação que disciplinasse adequadamente a matéria. Aqui, observa-se que o servidor buscou amparar seus atos na discricionariedade que o legislador conferiu ao gestor público. Entretanto, sabe-se que toda a discricionariedade (poder-dever) outorgada ao administrador público está necessariamente delimitada pelo conjunto de normas jurídicas positivadas. Em casos de lacunas nestas normas formais, resta ao gestor invocar os princípios que norteiam os atos administrativos. Nesse contexto, não cabe a alegação da inexistência de obrigatoriedade de comprovação da realização das viagens, uma vez o ordenador de despesa não pode firmar um juízo de valor que resulte em despesa pública, sem antes averiguar a presença da moralidade e, principalmente, da finalidade pública do ato, até porque este atributo não é passível de discreção administrativa. Ressalte-se que o princípio da moralidade administrativa incide justamente para aumentar o dever da boa administração. O gestor não pode estar atado a uma concepção meramente formal do princípio da legalidade, faz-se necessário que os atos públicos estejam articulados com os demais princípios. Não será moral a conduta, aparentemente discricionária, que ultrapasse os limites demarcados pelo conjunto principiológico que estão postos no ordenamento jurídico, sem os quais toda atividade pública será ilegítima.

25.3. Diante de todos os argumentos expostos, propõe-se rejeitar as razões de justificativas apresentadas pelo então Diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa, o Sr. Ricardo Oliva, porquanto foi verificada a ausência de elementos que comprovassem a efetiva realização dos eventos, bem como a compatibilidade entre as atribuições dos servidores beneficiários e as motivações dos deslocamentos. Em vista da proposta de rejeição dos esclarecimentos trazidos, propõe-se, também, a aplicação de multa ao autorizador em questão.

26. Razões de Justificativas do Sr. Luiz Felipe Moreira Lima

26.1. Em resposta ao Ofício nº 3.103/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 449 e 450), o Sr. Luiz Felipe Moreira Lima apresentou suas razões de justificativas conforme consta à fl. 968 dos

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presentes autos. De acordo com o ofício, o Sr. Luiz Felipe foi chamado a se manifestar acerca da autorização e concessão generalizada de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse dos serviços, para os locais de origem dos servidores da Anvisa, contrariando o disposto no art. 6º, §3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, bem como os princípios da moralidade, finalidade pública e economicidade.

26.2. Em seus esclarecimentos, o Sr. Luiz Felipe alega que está afastado da direção da Anvisa desde 2002 e, portanto, sem acesso aos detalhes técnicos dos arquivos relacionados às autorizações. Mesmo assim, ele afirma que no exercício de 2002 assinou 80 autorizações para emissão de passagens a servidores, sendo apenas 24 coincidentes com finais de semana. Ele declara que as atividades de vigilância sanitária estão grandemente concentradas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, neste último encontra-se o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde – INCQS, principal laboratório federal da vigilância sanitária voltado para perícia de produtos. Em São Paulo, onde o volume de exames é ainda maior, as perícias são realizadas pelo Instituto Adolfo Lutz, sempre com a supervisão da Anvisa. Por isso, a necessidade de constantes deslocamentos para essas duas localidades. Com estes argumentos, o autorizador afirma que não identificou em nenhum momento qualquer viagem que servisse simplesmente para usufruto pessoal do beneficiário.

27. Análise

27.1. Os esclarecimentos apresentados pelo Sr. Luiz Felipe Moreira Lima também foram vagos, imprecisos e difusos e não justificaram a razoabilidade individual de nenhum dos deslocamentos que autorizou, tampouco esclareceu a compatibilidade entre as obrigações dos beneficiários e as motivações que fundamentaram as viagens. Ele não trouxe aos autos quaisquer documentações que pudessem afastar os indícios de liberalidade na concessão de diárias e passagens. No universo amostral das PCD’s analisadas por esta Corte, verificou-se que trinta e uma PCD’s receberam autorizações do Sr. Luiz Felipe Moreira, distribuídas entre seis dos vinte e um servidores beneficiários investigados no âmbito da inspeção, conforme consta nas planilhas acostadas às fls. 396, 398, 401, 409, 410 e 412. Nenhum dos beneficiados que recebeu autorização do Sr. Luiz Felipe foi chamado a apresentar defesa perante esta Corte, por não estarem arrolados no rol de responsáveis.

27.2. Embora se reconheça a importância do eixo Rio-São Paulo na implementação das atividades de Vigilância Sanitária do país, tal procedimentos não é suficientes para esclarecer a verdadeira natureza dos casos investigados. Sustentar a liberalidade na concessão desse benefício apenas na importância econômica de um região é relegar a segundo plano o cumprimento dos mandamentos constitucionais, consubstanciados nos princípios que norteiam os atos administrativos à satisfação do interesse da sociedade. Ante a ausência de elementos capazes de elidir os indícios de irregularidades nas autorizações, propõe-se que não sejam acolhidas as razões de justificativas, ao mesmo tempo, seja aplicada multa ao responsável pela liberalidade nas concessões de passagens no âmbito da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

28. Razões de Justificativas do Sr. Luiz Milton Veloso Costa

28.1. Em referência ao Ofício nº 3.106/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 451 e 452), o Sr. Luiz Milton Veloso Costa apresentou suas razões de justificativas conforme constatado às folhas 987 a 992, em função de ter sido chamado em audiência por ter autorizado a emissão de passagens para viagens em fins de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem do servidor beneficiário, contrariando o disposto no art. 6º, §3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

28.2. Segundo o ex-diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa, as autorizações que receberam sua assinatura foram destinadas a viagens de apenas um servidor: o Sr. Pedro José Baptista Bernardo. No total foram 36 autorizações, sendo que 33 referem-se a deslocamentos entre Brasília e Rio de Janeiro. O autorizador afirma que todas as viagens que receberam sua

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autorização encontram-se alinhadas com o interesse público, uma vez que o servidor beneficiário, à época, era Gerente Geral de Regulação do Mercado de Medicamentos - GGREM e, subordinada a esta gerência, foi criada a Coordenação de Propriedade Intelectual – COPI/Anvisa, cuja atribuição é conceder anuência prévia aos pedidos de patentes de produtos e processos farmacêuticos, depositados junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial/INPI. Segundo o autorizador, por causa dessa atribuição, a Copi/Anvisa foi instalada no prédio do INPI no Rio de Janeiro, a fim de agilizar o trâmite e a apreciação dos processos de concessão de patentes. O autorizador alega, também, que por conveniência administrativa, desde que se concebeu a implantação da Copi, identificou a necessidade de que o titular da GGREM pudesse desenvolver parte de suas atividades de trabalho na Copi, instalada no Rio de Janeiro.

28.3. Entre as competências de Gerente, função exercida pelo beneficiário, podem ser destacadas as de supervisão, discussão e averiguação do andamento dos processos de solicitação de concessão de anuência prévia da Copi/Anvisa, além do fato de que se tratava da criação de uma unidade inteiramente nova e necessitava de um esforço inicial, com vistas a colocá-la em funcionamento. Por isso, a necessidade de que o titular da Gerência tivesse que dar expediente no Rio de Janeiro. E para que esta atividade não interrompesse a jornada semanal de trabalho em Brasília, convencionou-se que os expedientes na Copi do Rio de Janeiro deveriam ser feitos nas sextas e segundas-feiras. Alega também que após o decurso de quatro anos da ocorrência dos fatos, torna-se difícil comprovar se o Sr. Bernardo, o beneficiário das passagens, esteve e trabalhou em determinada data da Copi/Anvisa no Rio de Janeiro, até porque não há atas, nem registro de atividades cotidianas de trabalho, e mesmo que tivesse a legislação, na época, não exigia a juntada desse tipo de documentação ao processo de concessão de diárias e passagens.

29. Análise

29.1. Em face das razões apresentadas pelo então diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa, verificou-se que há certa razoabilidade na autorização das passagens concedidas ao Sr. Pedro José Baptista, uma vez que parece plausível a necessidade da presença da liderança da entidade na organização de uma unidade nova que demande serviços mais técnicos e específicos. Embora o autorizador não tenha demonstrado de forma individual documentos que comprovassem a realização de reuniões ou outros eventos que supostamente teriam motivado as viagens, há de se reconhecer que os argumentos trazidos indicam compatibilidade entre as atribuições do Gerente-Geral de Regulação do Mercado de Medicamentos – GGREM e o momento da constituição de uma coordenação nova no âmbito da Agência, responsável por uma das competências atribuídas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa pela lei de criação da entidade (Lei nº 9.782/1999).

29.2. Ante os argumentos apresentados, propõe-se pelo acolhimento das razões de justificativas apresentadas pelo ex-diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa, o Sr. Luiz Milton Veloso Costa."

28. Transcrevo trechos da instrução da AUFC responsável no que se refere ao exame das citações promovidas (fls. 2.803/2.812):

"30. Alegações de Defesa do Sr. Gonzalo Vecina Neto

30.1. Em resposta ao Ofício de Citação nº 3.107/2006 – TCU/SECEX-4, de 18/9/2006 (fls. 453 a 455), o ex-Diretor-Presidente da Anvisa foi chamado a apresentar defesa em virtude das supostas irregularidades no uso reiterado de diárias e passagens, durante o exercício de 2002, em datas coincidentes com finais de semana e feriados, cujo destino principal era sua cidade de origem, sem a devida comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais e de que as motivações das viagens eram compatíveis com as atribuições do cargo que exercia, contrariando os arts. 6º, § 3º e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

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30.2. No que se refere às supostas irregularidades no uso dessas diárias e passagens, apontadas pelo controle interno e pelo Tribunal de Contas da União, a Anvisa instaurou Procedimento Administrativo Disciplinar – PAD, para apurar o caso específico do ex-Diretor da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto. Nesse processo, foram ouvidas testemunhas de diversos segmentos do setor farmacêutico e de servidores da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, conforme explanado no parágrafo 18 desta instrução. Em vista das conclusões a que chegou a Comissão do PAD, a Corregedoria da Anvisa emitiu o julgamento isentando o Sr. Gonzalo Vecina de qualquer responsabilização no uso das viagens e passagens anteriormente questionadas. No mesmo sentido, a Secretaria Federal de Controle optou por acatar os resultados apurados, por considerar que as evidências apresentadas, principalmente as provas testemunhais, foram indicativas de que não houve por parte do servidor prática de ato de improbidade administrativa (com relação à suspeita de aproveitar-se de passagens fornecidas pela Anvisa para tratar de interesse particular).

31. Análise

31.1. Em vista dos elementos apresentados, em especial quanto aos depoimentos colhidos no Processo Administrativo Disciplinar instaurado, pela Corregedoria da Anvisa, com vistas a apurar os indícios de irregularidades que permeavam a conduta do então Diretor-Presidente da Anvisa e, ainda, em consonância com o entendimento da CGU, conclui-se, por fim, pelo acolhimento das alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Gonzalo Vecina, ao tempo que submete à apreciação a proposta, para que sejam afastadas as responsabilidades pelo uso de diárias e passagens do ex-gestor da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto (durante o exercício de 2002).

32. Alegações de Defesa do Sr. Silas Paulo Resende Gouveia

32.1. Em atendimento ao Ofício nº 3.091/2006, datado de 18/9/2007 (fls. 434 a 436), o Sr. Silas Paulo Resende Gouveia (ex-assessor da Presidência da Anvisa) acostou aos presentes autos suas alegações de defesa, conforme se verifica às folhas 1.470 a 1.477. O Sr. Silas foi instado a se pronunciar, em virtude da realização de viagens para sua cidade de origem em finais de semana/feriados, ou em dias próximos a estes, com ou sem percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais e, ainda, com ausência de evidência capaz de justificar que as motivações das viagens eram compatíveis com as atribuições do cargo que exercia, contrariando os arts. 6º, § 3º e 7º, inciso III, do Decreto nº 343/1991.

32.2. Inicialmente, o citado afirma que, durante o período em que exerceu a Assessoria de Gabinete do Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, morava com a família em Brasília (fl. 1475), não existindo nenhuma vantagem de sua parte em permanecer em Belo Horizonte nos finais de semana. Alega, também, que justificou e comprovou, junto à secretaria do Gabinete da Presidência da Anvisa, todas as viagens que realizou para sua cidade de origem, de acordo com a legislação vigente à época e as solicitações do setor competente da entidade (fl. 1474). Afirma, também, que o maior volume de atendimento presencial em Brasília ocorre sempre entre terça e quinta-feira, por esse motivo utilizavam-se preferencialmente as segundas e sextas-feiras para realização dos eventos fora da sede da Anvisa. O Sr. Silas traz aos autos o resultado do julgamento do Grupo de Trabalho (relatado nos parágrafos 3, 4 e 5) constituído pela Anvisa, com vistas à apurar o uso indevido do benefício questionado (fl. 1475), todavia cabe relembrar que as conclusões deste grupo de trabalho não forma acatadas pela CGU, por se ter sido identificada parcialidade nas investigações.

32.3. O servidor argumenta, ainda, que as justificativas apresentadas demonstram apenas a fragilidade do sistema de gerenciamento e acompanhamento dos benefícios concedidos, em consonância com a proposta de mérito proferida no âmbito do processo TC nº 010.380/2003-6 (Tomada de Conta Anual), quando este Tribunal examinou caso similar e

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concluiu que os fatos identificados não configuravam dolo na atuação, apenas falhas ou impropriedades formais. Em vista dos argumentos apresentados, principalmente pela dificuldade de produzir provas passados 4 anos, o citado solicita ao Tribunal juntar aos presentes autos prova testemunhal, com o intuito de demonstrar a improcedência da acusação (fls. 1475 e 1475).

33. Análise

33.1. O ex-assessor da Presidência da Anvisa apresentou alegações de defesa tão vagas e imprecisas quanto às descrições que aparecem em suas propostas de concessão do beneficio questionado. Não foi identificado qualquer comprovante de que de que ele residia em Brasília, como afirma em sua defesa. Ademais, se é verdade que tinha residência fixa em Brasília, como explicar que o servidor deslocou-se para sua cidade de origem em 50 viagens coincidentes com finais de semana, se o ano civil tem apenas 52 semanas? Note-se que ele buscou sustentar sua defesa, especialmente, no fato de que a legislação específica, à época, não exigia, expressamente, a necessidade de apresentação dos documentos nos moldes, hoje, solicitados. Cabe deixar claro que essa argumentação não é suficiente para isentar o beneficiário da responsabilidade pelo dano causado à Administração Pública. Como já dito anteriormente, a mera observância das normas legais não pressupõe a moralidade dos atos do gestor público. As ações administrativas podem revestir-se de todas as formas legais e serem eivadas de imoralidade, pois “nem tudo que é legal, é moral”. Nesse sentido, é interessante notar que o princípio da moralidade foi inserido no arcabouço jurídico da democracia de direito, ante a insuficiência demonstrada pelo regime da legalidade estrita. Não obstante, cabe repetir que a argumentação trazida pelo então assessor da Anvisa não afasta a ofensa à moralidade administrativa, posto que este é um importante instrumento que visa nortear os atos públicos, em especial nos casos de omissão legislativa. Da análise da defesa apresentada pelo servidor, depreende-se que ele buscou apoiar-se tão-somente no princípio da legalidade estrita, em detrimento dos outros princípios, ao passo que a própria doutrina dispõe que princípio da legalidade também precisa estar em consonância a moralidade pública. Além disso, o princípio da moralidade, também pode ser entendido como um dispositivo complementar em relação ao conjunto de normas positivadas, exigindo do administrador público uma postura ética na concretização dos fins da administração, quais sejam, a realização do interesse público primário.

33.2. Note-se que a conduta do ex-assessor, ao apoiar-se tão-somente nos regulamentes expressos, apenas reforça a tese de afronta ao princípio da moralidade administrativa, bem como ao princípio da finalidade e economicidade. Por esses motivos, propõe-se que sejam rejeitadas as presentes alegações de defesa para que o responsável recolha o débito referente às viagens, cuja motivação não restou devidamente comprovada.

33.3. Ainda, com relação à solicitação para juntar aos autos prova testemunhal, importa esclarecer que o Regimento Interno desta Casa prevê em seu art. 162 que as provas que a parte quiser produzir perante o Tribunal devem sempre ser apresentadas de forma documental, mesmo as declarações pessoais de terceiros. Já o art. 12, II, da Lei nº 8.443/1992 dispõe que, verificada irregularidade nas contas, o Relator ou o Tribunal, havendo débito, ordenará a citação do responsável para, no prazo estabelecido, apresentar defesa ou recolher a quantia devida. Assim, é nessa fase processual que o responsável deve apresentar todos os elementos julgados necessários para a apresentação de sua defesa, não existindo outra fase específica para apresentação de provas

34. Alegações de Defesa do Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho

34.1. Em resposta ao Ofício nº 3.097/2006 (fls. 446 a 448), o Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho apresentou sua defesa conforme consta às folhas 656 a 678. Por meio deste ofício o então Gerente-Geral de Gestão Administrativa e Financeira foi instado a apresentar defesa em razão de suspeitas de irregularidades na realização de viagens, para sua cidade de

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origem, em finais de semana/feriados, ou em dias próximos a estes, com ou sem percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais, contrariando o disposto nos arts. 6º, § 3º e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

34.2. Inicialmente, o citado afirma que o destino de suas viagens eram, sobretudo, para o eixo Rio-São Paulo, por ser esta a região com a maior concentração de indústrias no setor de medicamentos, bem como a principal porta de entrada para as substâncias farmacológicas (portos e aeroportos) oriundas do exterior e que necessitam de autorização da Vigilância Sanitária para serem comercializadas no país. Além dessas motivações, o beneficiário argumenta que as atribuições conferidas ao cargo de Assessor Técnico da Gerência-Geral de Medicamentos da Anvisa – GGMED (cargo que ocupou de janeiro a outubro de 2002, quando então foi nomeado para exercer a Gerência-Geral de Gestão Administrativa e Financeira da Anvisa) demandavam sua presença em eventos e reuniões que tratariam de assuntos relacionados à vigilância sanitária. Ele assegura que as competências de assessor da GGMED passavam pela coordenação, controle, supervisão e fiscalização na área de medicamentos; elaboração e proposição de normas e padrões relativos à área de medicamentos; assim como planejar, coordenar, orientar e fomentar as atividades técnicas e operacionais relativas a produtos sujeitos à vigilância sanitária; planejar, coordenar e supervisionar as atividades técnicas e normativas relativas a registro de medicamentos genéricos, medicamentos isentos, específicos, fitoterápicos, homeopáticos, opoterápicos e similares; acompanhar projetos da GGMED; realizar articulações com outras instituições; promover articulações com as demais gerências, coordenações e unidades que compõem a GGMED, com vistas a atingir os resultados propostos pela Agência, dentre outras. Além disso, afirma total pertinência das atribuições de seu cargo com a finalidade das viagens realizadas para sua cidade de origem. Ainda afirma que requereu autorização e cumpriu com rigor todos os preceitos e exigências estatuídas na legislação para usufruir das passagens aéreas utilizadas, assim como acreditava que a comprovação viria pelo resultado de seu trabalho, consubstanciadas pela implantação e implementação da Anvisa. Alega, ainda, que se houve alguma falha com relação à comprovação das despesas de viagens, esta decorreu da falta de cuidado com a legislação formal relativa à descrição dos eventos, ou seja, de negligência na formalização da prova pela falta de conhecimento, jamais de dolo ou má-fé.

34.3. A despeito de que existe unidade da Anvisa em outros pontos do território nacional, inclusive na cidade de origem do servidor, ele afirma que as funções desempenhadas pelos beneficiários não poderiam ser desempenhadas pelos servidores lotados nos estados, uma vez que as funções destes se resumiam à fiscalização dos portos, aeroportos e fronteiras, ao passo que as funções do beneficiário das passagens iam da articulação, interação, discussão com a sociedade e setor regulados até à elaboração de diretrizes e regulamentos. Diante disso, o Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho requer a esta Corte de Contas a produção de prova testemunhal, a fim de comprovar a finalidade das viagens realizadas no ano de 2002, tendo em vista a dificuldade de produção de provas, após o decurso de quatro anos.

35. Análise

35.1. A fim de afastar as suspeitas de irregularidades na utilização de diárias e passagens, o beneficiário acostou aos autos uma relação com todas as viagens realizadas em 2001 e 2002, relacionando a data do evento, o local e a justificativa para os deslocamentos (fls. 690 a 694), sem, no entanto, anexar provas documentais para tal. O servidor citado, em sua defesa, alega total pertinência entre suas atribuições e a motivação das reuniões realizadas em sua cidade de origem, entretanto cabe enfatizar que as competências mencionadas pelo defendente referem-se às competências da Gerência como um todo, segundo o regimento interno, e não às atribuições específicas da assessoria da Gerência-Geral de Medicamentos da Anvisa. Ademais, o cargo de assessor foi exercido pelo servidor beneficiário até dia 3/10/2002, época em que foi nomeado para um cargo na área administrativa e financeira, mesmo assim

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os deslocamentos para sua cidade de origem continuaram ocorrendo com a mesma frequência após ter sido nomeado para a Gerência-Geral de Gestão Administrativa e Financeira. Ante os fatos expostos, propõe-se que sejam rejeitadas as presentes alegações de defesa, a fim de que o responsável recolha o débito referente às viagens, cuja motivação não foi devidamente comprovada.

35.2. Ainda, no que se refere à solicitação de permissão para produção de prova testemunhal, cabe enfatizar que a análise feito no parágrafo 33.3 desta instrução, pode ser aproveitada no todo a este caso específico.

36. Alegações de Defesa do Sr. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques

36.1. Em atenção ao Ofício nº 3154/2006 (fls. 456 a 458), o Sr. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques apresentou suas alegações de defesa, conforme constatado às fls. 1.177 a 1.450. O Diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi instado a se pronunciar em razão da realização de viagens para sua cidade de origem em finais de semana/feriados, ou em dias próximos a estes, com ou sem percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais, contrariando os arts. 6º, § 3º e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

36.2. Inicialmente, o Sr. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques trouxe aos autos vários comprovantes de que mantém residência fixa em Brasília, juntamente com sua família desde 2001 e, por isso, as viagens realizadas para São Paulo não poderiam ser destinadas a sua cidade de origem. Além dessa argumentação, o citado trouxe aos autos documentação visando comprovar que todas as viagens foram realizadas para atender o interesse da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Entre os documentos apresentados, foi identificada uma declaração assinada pela Professora Dra. Maria Regina Alves Cardoso (fls. 1.220 a 1.221), chefe do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde de São Paulo e responsável pelo Convênio nº 047/2000 firmado entre a Anvisa e Faculdade de Saúde Pública de São Paulo – FSP/USP, cujo objeto era a Avaliação do Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar em nível de unidade federadas, municípios e estabelecimentos de saúde com internação. Segundo o Sr. Cláudio Maierovitch, em 2002, ele era Diretor Adjunto da Anvisa e coordenava a gerência responsável por controle de infecção em serviços de saúde. Assim, a chefe do Departamento de Epidemiologia da FSP assinou uma declaração, atestando a presença do beneficiário de passagens em reuniões realizadas naquela faculdade, conforme descrição do demonstrativo abaixo. Além dessa declaração, foram encaminhadas outras declarações e certificados que atestaram a presença do Sr. Cláudio Maierovitch em reuniões, palestras, congressos e outros eventos, conforme planilha abaixo:

Nº PCD Passagem Diárias Data Soma Documentos apresentados para justificar as viagens

1 162 1.024,35 268,63 10/1/2002 1.292,98 Declaração da Professora Dra. Maria Regina Alves Cardoso, chefe do Departamento de Epidemiologia

da FSP/USP (fls. 1.220 e 1.221).2 406 1.183,35 273,13 20/1/2002 1.456,48 3 1495 1.196,35 - 22/2/2002 1.196,35 4 2888 600,15 124,69 21/3/2002 724,84 Declaração da Divisão Médica de Medicina de

Reabilitação - HC/FMUSP, atestando o comparecimento do Sr. Cláudio Maierovitch no XVII

Congresso Brasileiro de Medicina Física e de Reabilitação (fl. 1290).

5 2890 1.111,35 124,69 28/3/2002 1.236,04 Declaração da Professora Dra. Maria Regina Alves Cardoso, chefe do Departamento de Epidemiologia

da FSP/USP (fls. 1.220 e 1.221).6 3657 1.196,35 124,69 5/4/2002 1.321,04 7 5621 1.056,35 124,69 10/5/2002 1.181,04 Declaração da então Diretora da Divisão Técnica de

Serviços de Saúde do CVS/SES-SP, atestando a realização de uma reunião em 11/5/2002, na qual o

Sr. Maierovitch esteve presente (fl. 1315).

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8 7191 1.216,35 273,13 7/6/2002 1.489,48 Fotos da participação do citado em evento, a hospitalar 2002, juntamente com o Presidente da

Anvisa, realizada no período de 10 a 13/6/2002 (fls. 1.322 a 1.325)

9 8012 1.206,35 273,13 23/6/2002 1.479,48 Declaração de participação, como palestrante, no curso de capacitação de gerentes de riscos sanitário

hospitalar (fl. 1.374)10 9133 1.036,35 561,01 24/7/2002 1.597,36 Declaração da Professora Dra. Maria Regina Alves

Cardoso, chefe do Departamento de Epidemiologia da FSP/USP (fls. 1.220 e 1.221).

11 9718 1.274,35 124,69 9/8/2002 1.399,04 Certificado de participação num painel de discussão sobre o Banco de Sangue de cordão umbilical -

autólogos e alogênicos/antagônicos ou complementares ocorrido no Instituto de Ens. e

Pesquisa Albert Einstein (fl. 1.389).12 9790 639,20 - 10/8/2002 639,20 Certificado de participação como coordenador de

oficina no seminário internacional tendências e desafios dos sistemas de saúde das Américas - período de 11a 14/08/2002, organizado pelo

Projeto Reforsus (fl. 1.404).13 9792 1.280,35 561,01 11/8/2002 1.841,36

14 11214 1.280,35 268,63 5/9/2002 1.548,98 Declaração de presença em visita técnica para troca de informações e conhecimentos de recursos

desenvolvidos no Banco de Sangue do Hospital Sírio Libanês em São Paulo (fl. 1.410).

15 12591 714,35 268,63 3/10/2002 982,98 Lista de presença de uma reunião realizada na sede da Febrafarma, com a participação do Sr. Cláudio Maierovitch para esclarecimentos das Res. 213 e

214 da Anvisa (fl. 1.417 e 1.418).16 16153 854,35 124,69 20/12/2002 979,04 Declaração da Professora Dra. Maria Regina Alves

Cardoso, chefe do Departamento de Epidemiologia da FSP/USP (fls. 1.220 e 1.221).

17 16243 968,20 - 26/12/2002 968,20 Sem comprovaçãoTotal 17.838,45 3.495,44 21.333,89

37. Análise

37.1. Conforme relatado no parágrafo 36 desta instrução, o Sr. Cláudio Maierovitch (ex-diretor-adjunto da Diretoria Colegiada da Anvisa) apresentou suporte documental capaz de comprovar a realização de todos os eventos para os quais foi designado a comparecer e que motivaram sua citação junto a esta Corte de Contas. Com exceção da última viagem realizada no exercício de 2002, que, pela materialidade, não seria razoável imputar débito ao responsável após decurso de quatro anos do ocorrido. Assim, propõe-se o acolhimento das alegações de defesa do Sr. Cláudio Maierovitch, haja vista a comprovação da realização das viagens feitas para seu estado de origem.

38. Alegações de Defesa do Sr. Luís Carlos Wanderley Lima

38.1. Em resposta ao Ofício nº 3.089/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 429 a 431), o Sr. Luis Carlos Wanderley Lima apresentou suas alegações de defesa, conforme consta às folhas 1.455 a 1.469. Nos presentes autos, o então Diretor da Diretoria Colegiada da Anvisa foi chamado a apresentar defesa em razão de ter se utilizado de diárias e passagens, pagas pelos cofres públicos, para se deslocar a sua cidade de origem em finais de semana/feriados, ou em dias próximos a estes, com ou sem percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimentos aos objetivos institucionais, e sem a comprovação da compatibilidade entre as motivações das viagens e as atribuições do cargo, contrariando os arts. 6º, § 3º e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

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38.2. Inicialmente, o citado buscou demonstrar a compatibilidade entre as motivações das viagens e as atribuições do cargo que exercia na Anvisa, ao juntar aos autos publicação da Portaria nº 377, de 16/8/2001, que delegou competência ao defendente para responder pela coordenação, acompanhamento, controle, avaliação e supervisão das atividades da Coordenação de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras da Anvisa localizada no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com o beneficiário, devido à falta de um corpo técnico em número suficiente, com experiência e perfil adequados a ocupar cargos e funções na área de vigilância sanitária, houve uma repartição de tarefas e responsabilidades entre os cinco diretores da Diretoria Colegiada da Agência. Nessa repartição, foram incluídas todas as etapas do processo de trabalho, desde as fases de diagnóstico de situação e de planejamento das políticas e estratégias de intervenção às de execução e avaliação das ações a cargo da entidade. Assim, como foi designado para responder pela coordenação no Rio de Janeiro ficou estabelecido, em sua rotina, que daria expediente em ambas as cidades (Brasília e Rio de Janeiro). Por esse motivo, o citado alega que a escolha do período para realização dessas viagens recaía nos dias extremos da semana, com vistas a não prejudicar as atividades que ele exercia em Brasília como Diretor da Anvisa.

38.3. Segundo o servidor, há sim compatibilidade entre as atribuições delegadas a sua pessoa e as motivações de seus deslocamentos ao Rio de Janeiro. Além de ter que se deslocar para dar expediente na Coordenação de Portos e Aeroportos do Rio de Janeiro, o citado, constantemente, era designado para representar a Anvisa em eventos realizados na Secretaria de Saúde do Estado ou do município, na Fundação Oswaldo Cruz/Escola Nacional de Saúde Pública, etc. O Sr. Luis Carlos ainda afirma que não se pode inferir que houve má fé do beneficiário, uma vez que a própria Anvisa reconhece que as PCD’s não possuíam a qualidade que delas se esperaria e que seria obrigação da entidade pelo menos exigir que o usuário anexasse documento comprobatório da realização de qualquer evento ou, ainda, do exercício das atividades de coordenador na Coordenação de Portos e Aeroportos do Rio de Janeiro. Entretanto, enfatiza o citado que tal procedimento não fora exigido pela entidade, porque não havia previsão na legislação que regia a concessão de diárias e passagens e que, somente em 2003, esta Corte de Contas fez determinação para fossem anexados documentos bastantes para comprovação dos eventos motivadores das viagens realizadas.

39. Análise

39.1. Embora o responsável não tenha demonstrado de forma individual documentos que comprovassem a realização de reuniões ou outros eventos que supostamente teriam motivado as viagens, entende-se que restou evidenciada a compatibilidade entre as atribuições conferidas ao então Diretor da Diretoria Colegiada, o Sr. Luis Carlos Wanderley Lima, e as justificativas usadas para fundamentar os deslocamentos para sua cidade de origem, qual seja, a responsabilidade para responder pela coordenação, acompanhamento, controle, avaliação e supervisão das atividades da Coordenação de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras da Anvisa localizada no Estado do Rio de Janeiro. Por esse motivo, conforme documentação acostada às folhas 1.455 a 1.469, conclui-se pelo acolhimento das alegações de defesa apresentadas pelo o Sr. Luiz Carlos Wanderley Lima.

40. Alegações de Defesa do Sr. Ricardo Oliva

40.1. Em resposta ao Ofício de Citação nº 3.096/2006, datado de 18/9/2006 (fls. 443 a 445), o Sr. Ricardo Oliva acostou aos autos suas alegações de defesa, conforme constatado às folhas 494 a 496. Por meio deste documento, o então Diretor de Alimentos e Toxicologia da Anvisa foi chamado a se pronunciar, a fim de esclarecer as motivações das viagens realizadas para sua cidade de origem em finais de semana, ou dias próximos a estes, com ou sem percepção de diárias, sem a comprovação de que tais deslocamentos ocorreram em atendimento aos objetivos institucionais e, ainda, com suspeitas de incompatibilidade entre as

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justificativas das viagens e as atribuições do cargo que ocupava, contrariando arts. 6º, § 3º e 7º, III, do Decreto nº 343/1991.

40.2. Preliminarmente, o Sr. Ricardo Oliva, em sua defesa (fls. 494 a 503), alega que a distância temporal e geográfica que separa o ocorrido de sua manifestação prejudicou o levantamento dos elementos que pudessem contribuir para a formação de convicção mais segura. Além do tempo decorrido, outro obstáculo se interpõe a sua defesa, qual seja, a renovação do quadro de dirigentes da Anvisa, por pessoas indicadas por corrente política adversária, de quem o defendente não obteve com facilidade acesso aos arquivos necessários à comprovação de suas viagens.

40.3. O citado afirma, ainda, que sua defesa torna-se bastante difícil por inexistir documento oficial nos moldes solicitados, uma vez que não havia na legislação da época a obrigação de apresentar os comprovantes, agora, solicitados. Ele alega que tal situação serve apenas para identificar as fragilidades da legislação, e não para censurar os atos havidos com estreita observância aos seus termos. Além desses fatos, o responsável ressalta a importância da região sudeste na atuação da Anvisa, com especial atenção ao estado de São Paulo, por causa do grande número de órgãos representativos de segmentos do setor produtivo empresarial relacionados às áreas de atuação da entidade. Assevera, ainda, que o benefício da dúvida seria suficiente para repelir a suspicácia, não gozassem de presunção de legitimidade os atos administrativos.

40.4. Além das argumentações apresentadas, o ex-diretor da Anvisa acostou aos autos quatro declarações, a fim de tentar demonstrar que as viagens realizadas para sua cidade de origem tiveram como motivação principal eventos relacionados às funções que exercia como integrante do quadro de diretores da Anvisa. A primeira declaração, assinada pelo diretor presidente da Fundação Butantan, comprova a realização de eventos em dez ocasiões durante o exercício de 2002 (conforme quadro abaixo). A segunda declaração comprova a realização de reuniões em cinco ocasiões, no ano de 2002. A terceira declaração trata de um documento assinado pelo então diretor, na época, do Instituto Adolfo Lutz, na qual afirma ter presenciado por diversas vezes, durante o exercício de 2002, reuniões e outros eventos realizados, de interesse da Vigilância Sanitária, sempre relacionados aos programas na área de toxicologia e alimentos. Apesar disso, o ex-diretor do Instituto Adolfo Lutz afirma que dado o tempo transcorrido e a inexistência de documentos e registros destas reuniões, não há como informar datas específicas, podendo-se apenas afirmar que, com frequência, as reuniões eram realizadas às sextas ou segundas-feiras para não atrapalhar as atividades normais do Sr. Ricardo Oliva em Brasília. A quarta declaração foi assinada pelo ex-diretor da Bireme em São Paulo, que faz afirmações nos mesmos moldes da anterior. Declara que, por diversas vezes em 2002, o Sr. Ricardo Oliva utilizou-se das instalações da Bireme em São Paulo para tratar de assuntos relacionados ao Acordo de Cooperação Técnica da Anvisa/OPAS, com interveniência da Bireme. Entretanto, dado o tempo transcorrido e a ausência de registro dessas reuniões não há como informar as datas específicas da realização de cada reunião. Diante disso, o ex-Diretor da Anvisa solicita a esta Corte de Contas que suas alegações de defesa sejam aceitas e afastadas quaisquer responsabilidades de reposição ao erário a ele imputadas.

Nº PCD Passagem Diárias Data Soma Documento apresentado1 848 1.024,35 0 1/2/2002 1.024,35 Declaração da Fundação Butantan2 1397 1.024,35 0 21/2/2002 1.024,35 Declaração da Fundação Butantan3 4988 1.056,35 0 2/5/2002 1.056,35 Declaração do Centro de Vigilância

Sanitária da Secretaria de Estado de São Paulo.

4 6775 1.056,35 0 28/5/2002 1.056,35 Declaração da Fundação Butantan5 7411 1.140,35 0 11/6/2002 1.140,35 Declaração da Fundação Butantan6 8217 1.140,35 0 27/6/2002 1.140,35 Declaração da Fundação Butantan7 9116 1.268,35 0 25/7/2002 1.268,35 Declaração da Fundação Butantan8 11526 1.198,35 0 12/9/2002 1.198,35 Declaração da Fundação Butantan

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9 12809 1.422,35 0 10/10/2002 1.422,35 Declaração da Fundação Butantan10 14470 1.490,35 0 20/11/2002 1.490,35 Declaração da Fundação Butantan11 13662 1.388,35 0 31/10/2002 1.388,35 Declaração do Centro de Vigilância

Sanitária da Secretaria de Estado de São Paulo.

12 14089 783,15 0 11/11/2002 783,15 Declaração do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de São Paulo.

13 14716 1.490,35 0 26/11/2002 1.490,35 Declaração do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de São Paulo.

14 15338 1.694,35 0 05/12/2002 1.694,35 Declaração do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de São Paulo.

15 16221 1.400,35 0 23/12/2002 1.400,35 Declaração da Fundação Butantan

41. Análise

41.1.1 No caso específico do Sr. Ricardo Oliva, cabe analisar a razoabilidade da defesa apresentada em face das ocorrências que motivaram sua citação. Ao todo, o ex-diretor da Anvisa foi citado por ter utilizado 37 passagens para sua cidade de origem. Ele buscou afastar os indícios de irregularidades acostando aos autos quatro declarações de órgãos públicos, das quais duas atestaram a presença do Sr. Ricardo Oliva em 15 ocasiões, inclusive discriminando as datas das reuniões e dos outros eventos. Nas outras duas declarações, embora sejam documentos, a priori, idôneos, as datas da realização dos eventos não foram discriminadas em razão da ausência de controle efetivo desses eventos. Em que pese à ausência de documentos suficientes para atestar a realização de todos os eventos que supostamente participou, cabe ressaltar que o beneficiário exercia a função de Diretor de Alimentos e Toxicologia da Anvisa e, segundo os argumentos apresentados, depreende-se que há razoabilidade entre as atribuições conferidas ao ex-Diretor e as motivações que justificaram os deslocamentos. Portanto, consideram-se aceitáveis as alegações oferecidas, até porque, com apenas duas das quatro declarações, ficou evidenciada a realização dos eventos em 41% dos deslocamentos. Assim, propõe-se o acolhimento da defesa apresentada pelo Sr. Ricardo Oliva."

29. A AUFC responsável pelo exame apontou, ainda, alguns aspectos relevantes, os quais transcrevo a seguir (fls. 2.812/13):

"42. Cabe, ainda, resgatar da instrução inicial os pontos abordados acerca do cumprimento insuficiente das metas estabelecidas no Contrato de Gestão. Conforme constatado às fls. 306 a 329, o [órgão de] controle interno identificou que, na gestão operacional da entidade, durante o exercício de 2002, houve cumprimento de apenas 65% das metas pactuados no Contrato de Gestão firmado entre a Anvisa e o Ministério da Saúde. Além disso, a SFC constatou que as metas estabelecidas não foram adequadamente definidas para medir o alcance dos objetivos propostos.

43. A despeito do cumprimento parcial das metas pactuadas no contrato de gestão, vale lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi constituída como uma autarquia, sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde e caracterizada pela independência administrativa, estabilidade de dirigentes e autonomia financeira. O instrumento que estabelece vinculação entre a Anvisa e o órgão supervisor é o contrato de gestão, mediante o qual a Agência desenvolve suas funções, que inclui acompanhamento e avaliação das metas e objetivos anuais previamente estabelecidos. O principal objetivo desse tipo de contrato é o de estabelecer metas a serem alcançadas pela entidade em troca de algum benefício outorgado pelo Poder Público. O contrato é estabelecido por tempo determinado, ficando a entidade sujeita a controle de resultado para verificação do cumprimento das metas estabelecidas.

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44. Ressalte-se que o propósito dessa espécie de acordo é contribuir ou reforçar o atingimento dos objetivos das políticas públicas, mediante o desenvolvimento de um programa de melhoria da gestão, com vistas a atingir uma superior qualidade do produto ou serviço prestado ao cidadão. Um contrato de gestão especifica metas (e respectivos indicadores), obrigações, responsabilidades, recursos, mecanismos de avaliação e penalidades. Por parte do Poder Público contratante, o contrato de gestão é um instrumento de implementação, supervisão e avaliação de políticas públicas, de forma descentralizada, racionalizada e autonomizada, na medida em que vincula recursos ao atingimento de finalidades públicas [BRASIL. MARE. Plano Diretor da Reforma do Estado. Presidência da República. Ministério da Administração e Reforma do Estado. Brasília, 1995. Contrato de Gestão – Organizações Sociais, um poderoso instrumento de gestão institucional. Ministério da Administração e Reforma do Estado. Brasília, 1995]. No âmbito da Reforma do Estado, o Contrato de Gestão constitui-se no principal instrumento da supervisão ministerial para a gestão estratégica da instituição e para a consolidação da administração gerencial.

45. Merece ser examinada com atenção tanto a lei de criação da Anvisa, Lei nº 9.782/1999, como o contrato de gestão firmado, os quais prevêem que a atuação administrativa da autarquia deve ser avaliada e seu desempenho medido por meio de indicadores. Os indicadores devem necessariamente aferir o grau de alcance dos objetivos propostos, bem como servir de apoio para detectar as causas e os efeitos de uma ação. Se os mecanismos que permitem mensurar o nível de atingimento da missão de uma instituição apresentam resultados aquém do mínimo esperado, faz-se necessário uma análise crítica nos métodos de avaliação, com o objetivo de esclarecer se são apenas os indicadores que não conseguem refletir o grau de alcance das metas estabelecidas ou se a instituição não está cumprindo a missão para a qual foi criada.

46. A despeito da constatação de que, em 2002, a Anvisa atingiu apenas 65% das metas estabelecidas no Contrato de Gestão firmado com o Ministério da Saúde, há que se invocar a finalidade da celebração desse ajuste, na medida em que o não cumprimento das cláusulas instituídas importa penalidade. O artigo 20 da Lei nº 9.782/99 dispõe que o descumprimento injustificado do contrato de gestão implicará a exoneração do Diretor-Presidente, pelo Presidente da República, mediante solicitação do Ministro de Estado da Saúde. A outra penalidade consiste na desoneração das obrigações contratuais pela contraparte, independente das medidas legais cabíveis, conforme disposto em cláusula do Contrato de Gestão. Ressalte-se, que as penalidades só poderão ser aplicadas se o órgão supervisor cumprir as obrigações dispostas na Lei nº 9.782/99 e no Contrato de Gestão, qual seja, a de avaliar e acompanhar a execução dos objetivos propostos para a unidade. No contrato ficou estabelecida a criação de uma Comissão de Avaliação, no âmbito do Ministério da Saúde, responsável pela elaboração de relatórios circunstanciados, cujo propósito é comparar os resultados e as metas alcançadas em consonância com o programa de trabalho, acompanhados das análises gerenciais cabíveis e de parecer técnico conclusivo sobre o período em questão."

30. Transcrevo a seguir a conclusão emitida pela AUFC em sua instrução (fls. 2.813/14):

"47. No contexto geral da vigilância sanitária do país, cumpre destacar a importante missão outorgada à Anvisa por intermédio da Lei nº 9.782/1999, qual seja, proteger e promover a saúde da população garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços. Missão esta consubstanciada nos valores do conhecimento como fonte de ação, transparência, cooperação e, principalmente, responsabilização. Além de ter que ser agente da transformação do sistema descentralizado de vigilância sanitária em uma rede, como reguladora e promotora do bem-estar social. Importa, também, destacar que a Anvisa foi criada em decorrência de exigências sociais visando ao cumprimento do direito à saúde emanado da própria constituição.

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48. Assim, se a função precípua da entidade é proteger a saúde da população por meio do controle sanitário de produtos e serviços, há de se reconhecer que existe necessidade de que essa entidade demonstre a efetividade de suas ações. O Contrato de Gestão foi firmado exatamente para aumentar a autonomia administrativa da agência e, especialmente, definir a responsabilização em caso de ineficiência na gestão. O cumprimento de apenas 65% das metas estabelecidas no contrato de gestão, durante o exercício de 2002, é certamente um indicativo ou de má-gestão ou de planejamento inadequado na elaboração dos indicadores que precisam medir o grau de eficiência da entidade.

49. As agências reguladoras (autarquias especiais) financiadas por meio de contrato de gestão foi um modelo escolhido pela Administração Pública, com o propósito de reduzir a burocracia na busca por uma administração pública gerencial e eficiente. Dessa forma, se a entidade não consegue demonstrar se foi ou não eficiente, faz-se necessário uma revisão na metodologia de avaliação de seus resultados ou ainda a aplicação das medidas cabíveis. Não sendo assim, qual a verdadeira finalidade de se adotar esse modelo de administração gerencial se, na prática, não há resultados satisfatórios?

50. Não se pode deixar de abordar a importância e o impacto que o trabalho desenvolvido pela Anvisa deve gerar no bem estar da população, haja vista que o fim perseguido pelo legislador, quando aprovou a criação da Anvisa, era a proteção da saúde da população, por meio do controle sanitário. Sendo assim, a implementação de políticas sanitárias efetivas precisa contar com uma entidade que pelo menos cumpra as obrigações pactuadas no contrato firmado. Para que isso aconteça, faz-se necessário que o órgão supervisor institua uma sistemática de acompanhamento e avaliação de desempenho capaz de verificar se o contrato de gestão foi cumprido ou não. Só assim será possível fazer uma análise gerencial capaz de criticar a metodologia existente e propor alterações que contribuam para que a unidade possa atingir seu fim social. Assim, em caso de descumprimento o órgão supervisor terá elementos suficientes e necessários para aplicar as sanções legais cabíveis.

51. Diante dos fatos, propõe-se a esta Corte de Contas determinar à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS e Agência de Vigilância Sanitária – Anvisa que implemente condições necessárias ao cumprimento do disposto no Contrato de Gestão da Anvisa, bem como no inciso I, § 1º, do art. 2º da Lei nº 9.782/1999, com vistas à realização de um efetivo acompanhamento, bem como da avaliação, semestral e anual, do cumprimento das metas pactuadas no acordo firmado, de forma a atuar preventiva e tempestivamente e, principalmente, solucionar eventuais problemas e gargalos que possam impactar os resultados esperados.

52. Adicionalmente, propõe-se determinar que, doravante, a Anvisa e a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde encaminhe, juntamente com o processo de prestação de contas anual, o parecer conclusivo da Comissão de Avaliação acerca da execução dos objetivos e diretrizes propostos para entidade, conforme disposto no Contrato de Gestão firmado."

31. Transcrevo a seguir a proposta de encaminhamento emitida pela AUFC em sua instrução (fls. 2.814/18):

"53. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:

53.1. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Sr. Silas Paulo Resende Gouveia (CPF nº 311.988.216-04) ex-assessor da Presidência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e julgar as suas contas irregulares, nos termos da alínea 'b', inciso III, art. 16, art. 19, caput e art. 23, III, da Lei nº 8.443/1992, bem como condená-lo ao recolhimento das quantias abaixo discriminadas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculados a partir da data indicada até o dia do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor, fixando-lhe o prazo de quinze dias para comprovar o recolhimento, nos termos do art. 23, III, 'a', da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 214, III, 'a', do RI/TCU, em razão da utilização de diárias e passagens em fins de semana sem a

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devida justificativa para a cidade de origem, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 32.

Ord. Nº PCD Data Passagem Diárias1 175 10/1/2002 1.458,30 - 2 365 17/1/2002 1.458,30 - 3 817 1/2/2002 828,35 124,69 4 982 8/2/2002 828,35 124,69 5 1057 15/2/2002 825,35 - 6 1221 1/3/2002 822,35 - 7 2198 8/3/2002 828,35 - 8 2403 15/3/2002 822,35 - 9 3122 27/3/2002 830,35 -

10 3123 28/3/2002 771,45 - 11 4482 19/4/2002 425,15 - 12 4749 24/4/2002 426,35 - 13 4859 29/4/2002 423,20 - 14 4968 30/4/2002 848,35 - 15 4983 3/5/2002 425,15 - 16 5982 17/5/2002 848,35 - 17 6536 23/5/2002 848,35 - 18 7249 6/6/2002 916,35 - 19 7579 14/6/2002 916,35 - 20 7768 20/6/2002 916,35 - 21 8145 25/6/2002 919,35 - 22 8235 28/6/2002 919,35 - 23 8450 4/7/2002 919,35 - 24 8697 12/7/2002 462,15 - 25 8955 19/7/2002 922,35 - 26 9193 29/7/2002 2.102,35 - 27 9195 12/8/2002 511,20 - 28 10026 15/8/2002 1.018,35 - 29 10533 22/8/2002 1.021,35 - 30 10827 2/9/2002 511,20 - 31 11284 5/9/2002 1.009,35 - 32 11548 12/9/2002 498,15 - 33 11712 19/9/2002 824,40 - 34 11869 23/9/2002 994,35 - 35 12244 26/9/2002 994,35 - 36 12594 4/10/2002 286,15 - 37 12860 11/10/2002 662,35 - 38 12861 29/10/2002 574,20 - 39 13685 1/11/2002 789,35 - 40 14270 14/11/2002 847,35 - 41 14714 22/11/2002 1.415,35 - 42 15171 30/11/2002 394,15 - 43 15473 5/12/2002 753,35 - 44 15862 11/12/2002 706,35 - 45 15975 12/12/2002 708,35 - 46 16219 18/12/2002 356,15 - 47 16207 19/12/2002 839,35 268,63 48 16220 23/12/2002 356,20 - 49 16206 24/12/2002 992,35 - 50 16205 27/12/2002 706,35 -

Soma 40.482,40 518,01

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

53.2. rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho (CPF nº 398.005.047-53) ex-Assessor Técnico da Gerência-Geral de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), julgar as suas contas irregulares, nos termos da alínea 'b', III, art. 16, art. 19, caput e art. 23, III, da Lei nº 8.443/1992, e condená-lo ao recolhimento das quantias abaixo discriminadas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculados a partir da data indicada até o dia do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor, fixando-lhe o prazo de quinze dias para comprovar o recolhimento, nos termos do art. 23, III, 'a', da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 214, III, 'a', do RI/TCU, em razão da utilização de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 34.

Ord. Nº PCD Passagem Diárias Data1 381 1.009,40 - 18/1/20022 1122 1.009,40 - 15/2/20023 2585 1.033,40 - 15/3/20024 4837 1.041,40 - 25/4/20025 5033 1.041,40 - 4/5/20026 5907 1.041,40 - 16/5/20027 6397 1.041,40 - 24/5/20028 7189 1.125,40 - 6/6/20029 7514 1.125,40 - 14/6/2002

10 7799 1.125,40 - 20/6/200211 8405 1.125,40 - 5/7/200212 8683 1.141,40 - 12/7/200213 9570 1.251,40 - 2/8/200214 9734 1.251,40 - 9/8/200215 10138 1.251,40 - 16/8/200216 10608 757,40 - 23/8/200217 10870 603,40 - 30/8/200218 11325 603,40 - 6/9/200219 11566 695,40 - 13/9/200220 12189 603,40 - 26/9/200221 12433 603,40 - 3/10/200222 12864 697,40 - 10/10/200223 13098 829,40 - 17/10/200224 13441 750,40 - 24/10/200225 14468 1.118,60 - 21/11/200226 15103 749,40 - 28/11/200227 16162 848,40 - 19/12/200228 16239 749,40 - 26/12/2002

Soma 26.224,40 -53.3. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela responsável Sr. Gonzalo Vecina

Neto (CPF nº 889.528.198-53), ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 18.

53.4. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela responsável Sr. Luis Carlos Wanderley Lima (CPF nº 545.176.487-53), ex-diretor da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 20.

53.5. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela responsável Sr Silas Paulo Resende Gouveia (CPF nº 311.988.216-04), ex-assessor da Presidência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 22.

53.6. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela responsável Sr. Ricardo Oliva (CPF nº 669.453.568-68), ex-diretor da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 24.

53.7. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela responsável Sr. Luiz Felipe Moreira Lima (CPF nº 359.175.987-20), ex-diretor da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, e não observando os princípios da legalidade, moralidade e finalidade pública, conforme relatado no parágrafo 26.

53.8. julgar irregulares as contas da responsável indicados nos itens '53.3', '53.4', '53.5', '53.6' e '53.7' deste parágrafo, com fulcro no art. 16, III, 'b' da Lei nº 8.443/1992 c/c art. 209, II, do RI/TCU, bem como aplicar aos responsáveis a multa prevista no inciso II do art. 58 da Lei nº 8.443/1992 e art. 268, II, do RI/TCU, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;

53.9. autorizar, desde já, a cobrança judicial das dívidas nos termos do art. 28, II, da Lei nº 8.443/1992 e art. 219, II, do RI/TCU, caso não sejam atendidas as notificações;

53.10. julgar regulares as contas dos demais responsáveis, dando-lhes quitação plena, com fundamento no art. 16, I, da Lei nº 8.443/1992 c/c art. 214, I, do RI/TCU;

53.11. determinar à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que implemente condições necessárias ao cumprimento do disposto na cláusula sexta do Contrato de Gestão da Anvisa, bem como o disposto no inciso I, § 1º, da Lei nº 9.782/1999, com vistas a realização do acompanhamento efetivo, bem como da avaliação, semestral e anual, do cumprimento das metas pactuadas no acordo firmado, de forma a atuar preventiva e tempestivamente e, principalmente, solucionar eventuais problemas e gargalos que possam impactar os resultados esperados;

53.12. determinar à Anvisa e à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde que, doravante, encaminhe, juntamente com o processo de prestação de contas anual, o parecer conclusivo da Comissão de Avaliação acerca da execução dos objetivos e diretrizes propostas para entidade, conforme disposto no Contrato de Gestão firmado.

53.13. Arquivar com fundamento no art. 169 do RI/TCU e no art. 40 da Resolução TCU nº 191, os presentes autos."

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

32. O diretor (fl. 2.818) e o secretário em substituição (fl. 2.837) manifestaram-se, em despacho datado de 22/11/2007, de acordo com a proposta de encaminhamento alvitrada pela AUFC que examinou o processo.

33. O MP/TCU, representado pelo Procurador Marinus Eduardo De Vries Marsico, emitiu o seguinte parecer datado de 23/4/2008, às fls. 2.838:

"Ante o que consta nos autos, aquiescemos à proposta de encaminhamento alvitrada pela 4ª Secex na instrução técnica e despachos de fls. 2.791 a 2.818 e 2.837 do Vol. 20, parecendo-nos conveniente, ainda, que seja remetida cópia da decisão que vier a ser proferida, acompanhada de relatório e voto à Procuradoria da República no Distrito Federal, para subsidiar a instrução do Processo Administrativo nº 1.00.000.005878/2004-18, haja vista a solicitação de fls. 350-A e despacho do então Relator a fls. 353 do Vol. 1.

Relativamente aos débitos imputados aos Srs. Silas Paulo Resende Gouveia e José Carlos Magalhães da Silva (subitens 53.1 e 53.2 de fls. 2.815 e 2.816), entendemos conveniente a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei nº 8.443, de 1992, sem prejuízo da multa sugerida no subitem 53.8 ao Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, com fulcro no art. 58, inciso II da mesma Lei."

É o relatório.

Proposta de Deliberação

Atuo com fundamento no art. 4º da Portaria TCU nº 313, de 18/12/2008, tendo em vista a mudança de relatoria realizada mediante sorteio.

2. Trata-se de prestação de contas anual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), referente ao exercício de 2002.

II

3. Constato que os documentos apresentados atendem ao disposto na Instrução Normativa TCU nº 12/1996, normativo que regulamentava a apresentação de contas à época do exercício financeiro de 2002.

4. O rol de responsáveis (fls. 66/7) contém a relação de todos aqueles agentes indicados no normativo supracitado. Constam do rol os seguintes responsáveis: Armando Jose de Aguiar Pires, Ary Leite de Jesus, Claudio Maierovitch Pessanha Henriques, Gonzalo Vecina Neto, Jonas Roza, José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, Luis Carlos Wanderley Lima, Luiz Milton Veloso Costa, Ricardo Oliva, Silas Paulo Resende Gouveia e Walmir Gomes de Sousa.

5. O relatório de gestão (fls. 4/64) detalha informações sobre a execução orçamentária e financeira da autarquia e sobre a atuação da unidade de auditoria interna. Em adendo (fls. 69/81), encontra-se relatório de avaliação de desempenho institucional da Agência no contexto do contrato de gestão, celebrado com o Ministério da Saúde, para o exercício de 2002. Em bloco argumentativo específico, analiso o tema da avaliação do contrato de gestão da autarquia.

6. Não obstante não ter sido consignado na instrução da unidade técnica, considero pertinente que se evidenciem alguns aspectos.

7. A análise das demonstrações contábeis da Anvisa, acostadas às fls. 140 a 152, em conjunto com informações do relatório de gestão, evidencia que a arrecadação de receitas próprias da autarquia

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

vinha apresentando incrementos significativos, tendo crescido 31% em relação ao exercício de 2001 (fls. 13).

Evolução Anual da Arrecadação de Receitas Próprias (Em R$ mil)Receita 1999 2000 2001 2002

Taxa de Fiscalização 40.995,6 91.952,6 101.279,2 128.851,4

Multas - 1.072,3 3.054,8 3.040,1

Restituições de Convênios - - 2.077,3 7.412,8

Outras Receitas - 0,4 0,1 14,8

Receita Financeira - 6.574,1 5.071,1 6.970,2

Total 40.995,6 99.599,4 111.482,5 146.289,3

Crescimento2000/199

92001/200

02002/200

1

143% 12% 31%

8. Analisando a execução orçamentária da Anvisa, constata-se que os programas com maior execução orçamentária são "Vigilância Sanitária de Produtos e Serviços" e "Apoio Administrativo" que respondem por 89% do valor total executado pela autarquia (fls. 14).

Panorama da Execução Orçamentária por Programas de Governo (Em R$ mil)Programa Despesa Liquidada

(R$)%

Qualidade do Sangue 6.478,9 3,3Vigilância Sanitária de Produtos e Serviços 81.263,8 41,4Vigilância Sanitária em Portos, Aeroportos e Serviços 8.491,4 4,4Prevenção e Controle das Infecções Hospitalares 1.504,5 0,7Previdência de Inativos e Pensionistas da União 1.105,2 0,6Apoio Administrativo 93.413,3 47,7Valorização do Servidor Público 3.625,6 1,9Total 195.882,7 100,0

9. Da análise do balanço patrimonial (fls. 145/6) destaco que, no exercício de 2002, a proporção entre valores inscritos em restos a pagar não processados vis-a-vis aqueles inscritos em restos a pagar processados era da ordem quase 6 vezes, indicando a possibilidade de ocorrência de programação orçamentária deficiente, quando substantivo percentual de despesas não é adequadamente liquidado segundo os princípios contábeis vigentes.

10. O relatório de auditoria de gestão sobre a Anvisa produzido pela Secretaria Federal de Controle Interno da Controladoria-Geral da União (SFC/CGU) consigna que os trabalhos foram realizados no período de 2/1/2001 a 20/3/2001, exclusivamente na sede da autarquia, por amostragem a partir da seleção de itens das áreas gestão operacional, controles da gestão, gestão orçamentária, gestão financeira, gestão patrimonial, gestão de recursos humanos e gestão de suprimento de bens e serviços (fl. 260).

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11. Registra, ainda, aquele órgão de controle interno que não houve restrições aos exames realizados (fl. 260).

12. A maioria das constatações observadas à época constituem ocorrências de caráter formal que já haviam sido objeto de recomendação e se encontravam em implementação no âmbito da autarquia. Destaco duas áreas para análise específica: a área de "gestão operacional" e a área de "controles da gestão".

13. A opinião da SFC sobre a área "gestão operacional" é comentada em bloco argumentativo específico no contexto da análise do relatório de avaliação da execução do contrato de gestão.

14. A área "controles da gestão" contempla assuntos relacionados à atuação do controle social, atuação do TCU, declaração de bens, atuação da SFC, atuação da supervisão ministerial, atuação da ouvidoria, atuação da unidade de auditoria interna, formalização da prestação de contas e avaliação dos controles internos (fls. 268/74). Destaco aspectos relevantes dos dois primeiros assuntos e também da atuação da unidade de auditoria interna.

15. No tocante ao assunto "atuação do controle social", a SFC entende que, apesar da existência de diversos mecanismos institucionais de controle social existentes, especialmente os diversos conselhos, não há efetiva participação dos grupos sociais no acompanhamento, controle e avaliação das ações desempenhadas sob responsabilidade da Anvisa (fls. 268):

"Ressalta-se que a articulação entre esses grupos não depende, única e exclusivamente, de iniciativa da ANVISA. Por outro lado, é de fundamental importância que haja uma colaboração efetiva, dada a complexidade das atribuições da Agência, no sentido de monitorar a execução das metas estabelecidas no contrato de gestão. Recomendamos que a Anvisa, envide esforços buscando implementar mecanismos legais que proporcionem cooperação entre os órgãos envolvidos diretamente nas ações de vigilância sanitária, resguardando assim o comprometimento social".

16. O assunto "atuação do TCU" contempla informações relacionadas ao monitoramento de deliberações expedidas por esta Corte (fls. 268/71). Tanto a SFC quanto a unidade técnica emitiram opiniões sobre os resultados alcançados em alguns itens de deliberação.

17. O quadro seguinte preparado por minha assessoria resume a situação em tela.Deliberação Opinião CGU (fls. 268/271) Análise UT/TCU

1) Decisão TCU nº 1641/2002 - Plenário (item 8.3)

Determinação à SFC para que se manifeste, nas próximas contas, sobre as conclusões do Processo Administrativo Disciplinar nº 25.351.173841/2002-56.Pendente, com indicação de que a informação seria encaminhada posteriormente.

Não emitiu opinião.

2) Decisão TCU nº 955/1999 - PlenárioTC 011.773/1999-5Item 8.18.1

Consolidação e a revisão da legislação federal de vigilância sanitária, e realização de trabalhos em articulação com os estados, com vistas a estimular a uniformização das normas e procedimentos estaduais em matéria de vigilância sanitária.

Não emitiu avaliação. Entende que o objetivo está atendido.

2) Decisão TCU nº 955/1999 - PlenárioTC 011.773/1999-5Item 8.18.2

Análise quanto à possibilidade de se adotar, como estratégia no combate à falsificação e adulteração de medicamentos e alimentos, a implementação de ações conjuntas com entidades de fiscalização de tributos federais e estaduais, conforme recomendações desta Corte de Contas.Não emitiu avaliação. Entende que o objetivo está

atendido.4) TC 008.457/2001-0 Diversas determinações relacionadas, dentre outros, às metas do contrato de gestão,

despesa com fornecimento de lanches por meio de suprimento de fundos, inscrição em dívida ativa de credores, entre outras (fls. 269/71).Opina que a maioria das determinações foram cumpridas.

Não emitiu opinião.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

Deliberação Opinião CGU (fls. 268/271) Análise UT/TCU5) TC 004.047/2002-1 Sentença proferida nos autos da Ação Ordinária nº 95.301.2694-8.

Consigna que a autarquia já comunicou as providências ao TCU.

Não emitiu opinião.

18. Posteriormente, minha assessoria obteve a informação de que o Processo Administrativo Disciplinar nº 25.351.173841/2002-56 havia resultado em suspensão de servidora por descumprimento do dever de lealdade à instituição (fl. 2.839/41).

19. Considero que a não-emissão de opinião por parte da unidade técnica sobre alguns quesitos não prejudica a análise global das contas, mas ressalto ser importante que seja feita avaliação de cada item de deliberação para viabilizar a formação de juízo e para tornar efetivo o monitoramento do seu cumprimento.

20. No tocante ao assunto "atuação da unidade de auditoria interna", com base na documentação disponibilizada pelas áreas competentes, concomitantemente com o Relatório Anual de Atividades de Auditoria Interna (RAAAI) da Anvisa, referente ao exercício 2002, foram destacadas as seguintes ocorrências (fls. 273):

"- controle de passagens aéreas e diárias deficiente;

- falta da regularidade pretendida quanto à devolução de diárias recebidas relacionadas com a inexistência da realização das atividades ou dos eventos programados;

- viagens realizadas em finais de semanas sem a prescrição de realização de resultados concretos."

21. Os auditores da SFC sugeriram aprimoramentos dos controles internos administrativos e consignaram, à fl. 284, a seguinte conclusão:

"Por fim, em face dos exames realizados, bem como da avaliação da gestão efetuada, no período a que se refere as presentes contas, constatamos a prática de atos e fatos impróprios e irregulares, alguns dos quais já apontados em trabalhos de auditoria anteriores, comprometendo a gestão dos dirigentes tratados neste processo e em prejuízo à Fazenda Nacional, conforme apontamentos registrados no corpo desta peça e da Nota Técnica em anexo."

22. Anexa ao relatório de auditoria de gestão elaborado pela SFC, encontra-se a Nota Técnica nº 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, de 21/5/2003 (fls. 285/99), elaborada por aquele órgão com o intuito de abordar, de forma destacada, os indícios de irregularidades e impropriedades na gestão dos recursos relativos à concessão de diárias e passagens aos servidores da Anvisa.

23. Consta, no texto do documento em tela, que denúncia apresentada à Controladoria-Geral da União (CGU) no final de 2001 descrevia abuso no número de viagens, na Anvisa, e a repetida prática do deslocamento de servidores para as suas cidades de origem nos finais de semana (fl. 286).

24. Essa denúncia originou o Processo nº 00190.001278/2001-1 na CGU e comunicação à direção da autarquia para adoção de providências corretivas, não tendo sido constatada, mesmo após essa comunicação, alteração de padrão de concessão de diárias e passagens no âmbito da Anvisa.

25. Esta Corte também já havia deliberado, por intermédio da Decisão TCU nº 1690/2002, sobre a necessidade de o órgão central de controle interno do Poder Executivo analisar os procedimentos de concessão de diárias nos seguintes termos:

"8.3 - determinar à Secretaria Federal de Controle Interno que, por ocasião do exame das contas anuais, relativas ao exercício de 2002, dos órgãos e entidades que integram a Administração Pública Federal, analise os procedimentos de concessão de diárias por deslocamentos incluindo ou iniciando em finais de semana e feriados a servidores ocupantes de cargos e funções públicas, com enfoque especial a respeito do cumprimento ou não por

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

parte dos gestores das disposições contidas no § 3º do art. 6º do Decreto nº 343/1991, a fim de que o Tribunal, por ocasião do julgamento das contas, possa dar um tratamento adequado às situações irregulares apontadas nos respectivos relatórios de auditoria."

26. O certificado de auditoria emitido pela SFC considerou irregular a gestão dos responsáveis tratados no processo (fls. 300/1). O dirigente do órgão de controle interno aquiesceu com a proposta (fl. 302) e o Ministro de Estado da Saúde atestou haver tomado conhecimento das conclusões contidas no relatório e no certificado de auditoria (fl. 303).

27. Destaco duas questões principais que conduziram aquele órgão de controle interno a embasar sua opinião: execução insatisfatória das metas estabelecidas no contrato de gestão, incluindo a não-implementação da cláusula terceira, item IV, do mesmo instrumento, que trata do sistema de informações gerenciais para avaliação de resultados e do desempenho e inadequações na definição de indicadores e metas da agência, e emissão de passagens e concessão de diárias com graves irregularidades (fls. 300/1).

28. Devido à relevância das questões, as examino em bloco específico desta proposta de deliberação.

III

29. Dado o modelo de gestão adotado pela autarquia, os dirigentes da entidade firmaram contrato de gestão que formalizou compromisso com os resultados previstos e suas implicações.

30. Em vigência desde 10/9/1999, o contrato de gestão é o principal instrumento de avaliação do desempenho operacional e administrativo da autarquia, conforme dispõe o art. 19 da Lei nº 9.782/1999. O referido contrato "visa o fomento e a execução de atividades na área de vigilância sanitária, com a finalidade promover a proteção da saúde da população brasileira" (fl. 72).

31. A avaliação das metas estabelecidas por meio do contrato de gestão é, portanto, primordial para formação de juízo sobre o desempenho da entidade, em consonância com o disposto na Lei nº 9.782/1999:

"Art. 19. A Administração da Agência será regida por um contrato de gestão, negociado entre o seu Diretor-Presidente e o Ministro de Estado da Saúde, ouvidos previamente os Ministros de Estado da Fazenda e do Planejamento, Orçamento e Gestão, no prazo máximo de cento e vinte dias seguintes à nomeação do Diretor-Presidente da autarquia.

Parágrafo único. O contrato de gestão é o instrumento de avaliação da atuação administrativa da autarquia e de seu desempenho, estabelecendo os parâmetros para a administração interna da autarquia bem como os indicadores que permitam quantificar, objetivamente, a sua avaliação periódica.

Art. 20. O descumprimento injustificado do contrato de gestão implicará a exoneração do Diretor-Presidente, pelo Presidente da República, mediante solicitação do Ministro de Estado da Saúde."

32. Consta dos autos (fls. 69/140) cópia do relatório anual de execução do contrato de gestão. No quadro 9 (fls. 98/99) constam os indicadores e metas do termo aditivo àquele instrumento contratual. Pelo quadro, das metas estabelecidas para os 20 indicadores pactuados, 16 foram cumpridas, 2 foram parcialmente cumpridas e 2 não foram cumpridas.

33. Contudo, a análise realizada pela SFC junto às fichas de avaliação das metas do termo aditivo ao contrato de gestão (fls. 262/63) constatou, no entanto, que das metas previstas, foram alcançadas somente 65%, conforme indicado no quadro seguinte.

Metas

(por natureza dos processos

Previsto Execução

Cumprida Cumprida Não

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internos)total parcial cumprida

Reconhecimento pela comunidade 2 1 1

Satisfação de clientes diretos 13 9 2 2

Fortalecimento do Sistema de Vigilância Sanitária

4 2 2

Desenvolvimento institucional 1 1

Totais 20 13 5 2

34. Em sua percuciente análise, a SFC ponderou que algumas metas, a despeito de a entidade considerar cumprida, estavam apenas parcialmente cumpridas, conforme os próprios documentos acostados nos autos (fls. 100/36).

35. O quadro seguinte preparado por minha assessoria resume a situação em tela.

Metas Anvisa SFC

1 - processamento de excedente de plasma de qualidade Cumprido Cumprido parcial

4 - % de hospitais sentinela encaminhando notificações de eventos adversos nas áreas de fármaco, tecno e hemovigilância

Cumprido parcial

Cumprido parcial

9 - tempo de conclusão do processo de registro de medicamentos genéricos

Não cumprido Não cumprido

10 - tempo de conclusão do processo de registro de similares Não cumprido Não cumprido

13 - tempo de conclusão do processo de registro de produtos para saúde

Cumprido parcial

Cumprido parcial

15 - avaliação toxicológica para o processo de registro de agrotóxicos

Cumprido Cumprido parcial

18 - % de avaliação técnica das metas pactuadas nos Termos de Ajuste e Metas com os estados

Cumprido Cumprido parcial

36. Não constam dos autos elementos que evidenciem haver correlação entre as metas das ações e programas constantes do orçamento da entidade e as metas estabelecidas no contrato de gestão. A ausência dessa correlação impossibilita a análise a compatibilidade da execução orçamentária e realização das respectivas metas físicas com o cumprimento das metas contratuais.

37. A esse respeito, a SFC registra em seu relatório (fl. 261) que a maior concentração das ações do termo aditivo ao contrato de gestão encontra-se no programa "Vigilância Sanitária de Produtos e Serviços", o qual representa 41% da execução total da agência e cujo percentual de execução perante a dotação autorizada alcança 96% (fl. 14).

38. Consigna, aquele órgão de controle interno, que existem problemas de conformação das medidas e padrões definidos para o programa em tela.

39. Indica, também como causas do não-cumprimento integral de metas, de maneira geral, deficiência em recursos humanos e carências no tratamento de bancos de dados (fl. 262). Para cada "ponto crítico" emitiu os seguintes comentários (fls. 262/3):

"Em relação às deficiências no quadro técnico:

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A utilização intensiva de 'consultores', via PNUD, Unesco ou outros organismos, somente agrava a situação - não podendo sequer ser considerada paliativo.

Existem 'consultores', contratados via organismos multilaterais, que estão sendo utilizados até como 'emissores de Ordens Bancárias' - no Siafi (vide resposta à Solicitação de Auditoria n" 004 e 005-0S 115203/03).

Em relação às carências no tratamento de dados:

Ressalte-se que até o final do exercício 2002 - e conclusão de nossos trabalhos de campo - a Agência Reguladora não tinha efetivado a implantação, conforme determina a Cláusula Terceira, item IV do Contrato de Gestão, de 'um sistema de informações gerenciais que possa servir de base eficaz para a avaliação de resultados e do desempenho da Anvisa.'

Em relação às definições inadequadas de Indicadores e Metas:

Definições inadequadas das medidas e padrões para autorizações, licenças ou registro

Assunção de metas cuja relevância são, no mínimo, questionáveis. Como exemplo: enquanto não são oferecidas metas para redução dos índices de infecção hospitalar, destacam-se metas como o aumento de acesso ao site da entidade.

Assunção de metas cuja consecução depende basicamente de terceiros. Como exemplo:

O cumprimento desta meta fica na dependência do cronograma de liberação dos recursos financeiros pelo Fundo Nacional de Saúde, pois o repasse se dá fundo a fundo, mensalmente, para os estados."

40. A Anvisa não foi chamada a manifestar-se sobre o cumprimento parcial das metas estabelecidas no contrato de gestão.

41. Tampouco há registro nos autos de que o desempenho da agência tenha sido submetido a avaliação por parte do órgão supervisor segundo os termos do contrato de gestão e conforme Portaria Conjunta MS/Anvisa nº 174/2000, então vigente.

42. A atuação do órgão supervisor é requisito essencial para funcionamento da cadeia de controle, motivo pelo qual proponho emissão de alerta ao Ministério da Saúde, conforme descrevo em bloco argumentativo específico desta proposta de deliberação.

43. Entendo também que, em futuros processos de contas onde se avalia a gestão da entidade, o alcance das metas e resultados institucionais contemplados no contrato de gestão deve ser objeto de exame por parte da unidade técnica.

IV

44. No tocante ao tema concessão de diárias, registro que a questão vem sendo sistematicamente tratada nos processos de prestação de contas da autarquia, desde o exercício de 2001 até o exercício 2008.

45. A SFC apresentou, em anexo ao seu relatório de auditoria de gestão (fls. 285/99), os valores gastos com passagens e diárias e os números de viagens nos exercícios de 2001 e 2002:

Quadro I – Recursos Gastos com Passagens e Diárias, em R$Anvisa Montante de Recursos Gastos

com Passagens Montante de Recursos

Gastos com DiáriasTotal

Exercício de 2001 10.043.442,91 8.053.655,07 18.097.097,98Exercício de 2002 12.774.515,36 8.531.261,58 21.305.776,94Total 22.817.958,27 16.584.916,65 39.402.874,92

Quadro II – Número de ViagensAnvisa Número de Viagens

Exercício de 2001 17.800Exercício de 2002 16.200

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Total 34.000

46. Conforme apresentado nos quadros anteriores e explicado na Nota Técnica nº 418/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR (fls. 285/299), de 21/5/2003, integrante do processo, no exercício em tela os recursos despendidos com diárias e passagens corresponderam a 22,8% do total das despesas executadas como apoio administrativo no ano de 2002.

47. Para proceder aos trabalhos na área, a SFC adotou o seguinte critério (fls. 288/90):

seleção de um grupo de servidores detentores de cargos em comissão e funções de confiança equivalentes aos de Natureza Especial (NE) e aos DAS 4, 5 e 6, nos exercícios de 2001 e 2002; seleção, dentre esses servidores, daqueles provenientes de outros estados da Federação, que auferiram auxílio-moradia e que não possuíam imóvel ou residência no Distrito Federal, e que poderiam ter interesse de usar o pretexto de reuniões para retornar aos seus estados de origem para passar o final de semana.

48. Como resultado do cruzamento de dados, foram selecionados 21 servidores que realizaram viagens que se enquadram nas condições informadas na denúncia. Segundo a SFC (fl. 289):

"(...) esses servidores realizaram, nos exercícios avaliados, viagens iniciando na sexta-feira ou vésperas de feriados, além de viagens com ida e volta na própria sexta-feira. Esclareça-se ainda que esses servidores são exatamente os que realizaram o maior número de viagens entre os servidores da Anvisa'. 'Outro dado esclarecedor, verificado nas análises, refere-se ao fato de que tais viagens são realizadas para a capital do estado de origem do servidor. Por outro lado, quando esse mesmo servidor viaja a serviço para outro destino, seu retorno se dá, preferencialmente, em finais de semana e segundas-feiras, passando também por seu estado de origem. Tal tipo de roteiro reforça a suspeita de que tais viagens estariam servindo, na verdade, aos interesses particulares de seus beneficiários."

49. Em sua instrução, a AUFC sintetizou as conclusões apostas na nota técnica anexa ao relatório de auditoria daquele órgão de controle interno (fls. 312/13):

"7.1. O principal fato apontado é referente à emissão de passagens e concessão de diárias com graves irregularidades, consubstanciados pelas informações aduzidas nos termos da Nota Técnica em anexo, onde destaca-se que:

- os servidores relacionados realizaram viagens nas condições previstas na Decisão TCU nº 1690/2002 - Plenário;

- a concessão dessas diárias e passagens ferem os princípios constitucionais de legalidade, moralidade e finalidade pública;

- a Anvisa não vem atendendo ao Decreto nº 343/1991, especificamente quanto às determinações de apresentar justificativas dos motivos do deslocamento em sextas-feiras e finais de semana, a descrição objetiva do serviço a ser executado e a indicação do local onde o serviço será realizado;

- a Agência não possui ou não arquivou documentos comprobatórios da efetiva realização dos trabalhos que justificaram a realização das viagens;

- o Diretor-Presidente da Anvisa pertence ao corpo docente da Universidade de São Paulo e ministra aulas em horário incompatível com seu trabalho na Anvisa, ferindo as determinações da Lei nº 8.112/1990, e implicando que as solicitações de passagens e diárias para as viagens realizadas, com a utilização da justificativa 'reunião na Faculdade em Saúde Pública – FSP-USP', são, na verdade, para despesas de caráter particular com o intuito de ministrar aulas naquela entidade; e,

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- o descontrole operacional presente na concessão de diárias e passagens na Anvisa, com servidores recebendo diárias e passagens de forma irregular e indevida, roteiros de viagens descontínuos e sem lógica operacional, sem a anexação dos bilhetes de passagens nos processos de concessão e não devolução de diárias recebidas quando não foram realizadas as viagens programadas (fl. 301, vol.1)."

50. Os aspectos suprarreferidos levaram a SFC a certificar a gestão da Agência como 'irregular' no exercício de 2002, por causa dos problemas relativos às diárias e passagens, e dos sucessivos avisos e recomendações feitos à sua direção. No entanto, os mesmos problemas voltaram a ser detectados nas contas relativas ao exercício de 2003 (TC 009.222/2004-2), ainda não apreciadas por esta Corte.

51. Releva observar que a agência tinha ciência dos problemas relacionados à emissão de diárias e passagens e que a unidade de auditoria interna da autarquia também se referiu ao descontrole nesta área, ao relatar que não existe justificativa apresentada nas requisições de passagens aéreas condizentes com a assiduidade das viagens rotineiras realizadas nos finais de semanas (fl. 236).

52. Em resposta às constatações da SFC, a Anvisa constituiu, com base na Portaria nº 626, de 30/7/2003, Grupo de Trabalho (GT) para analisar e apresentar relatório à diretoria colegiada sobre os fatos relacionados na nota técnica anteriormente citada.

53. Em ofício encaminhado ao Presidente desta Corte (Ofício nº 1891 GADIP/ANVISA, de 30/12/2003, fls. 304/5), o então presidente da Anvisa encaminhou o relatório do GT com as conclusões do trabalho:

"Como Vossa Senhoria poderá observar, nenhuma das concessões foi em desobediência ao Decreto nº 343/1991, como quis demonstrar o relatório apresentado, onde foram apresentadas todas as justificativas das viagens realizadas e, principalmente, a improcedência da suspeita de que estariam sendo utilizadas em benefício pessoal.

Ademais, ressalto, por oportuno, que esta agência está tomando uma série de providências internas no sentido de aperfeiçoar o seu sistema de controle interno, destacando-se a obrigatoriedade de apresentação de cartões de embarque junto com os bilhetes de passagens utilizados e de relatórios de viagens.

Solicito, dessa forma, sejam adotadas providências por parte desse Egrégio Tribunal de Contas da União, no sentido de que seja considerada regular a Prestação de Contas desta agência, relativa ao exercício de 2002."

54. As conclusões do GT foram apresentadas à CGU que considerou insuficientes as provas apresentadas para o encerramento do caso e recomendou a instauração de sindicância para apuração dos fatos. A rigor, o relatório do GT mais se limitou a rebater o trabalho da SFC, em lugar de buscar comprovações objetivas:

"6. Sobre a dúvida suscitada a respeito da 'necessidade a serviço dos deslocamentos', apesar dos esclarecimentos prestados pela Anvisa, conforme relata o item 37, persistem ainda suspeitas sobre a real necessidade desses deslocamentos e se os emsmos foram realizados por interesses particulares, nos termos da denúncia, chegando até a duvidar da capacidad do ordenador de despesas (item 39) e a afirmar que o fato de haver parcerias nos Estados diminuiria a necessidade de viagens por parte da Anvisa (item 41). Entende-se que as afirmativas dos senhores auditores não têm fundamento, por estarem no campo das suposições. (...)".

55. A Anvisa instaurou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) nº 25351.050312/2005-28 e criou uma comissão de sindicância.

56. O PAD foi instaurado para apurar os indícios de prática de improbidade administrativa e de suspeita de acumulação indevida de cargos públicos por parte do então diretor-presidente da Anvisa, o Sr. Gonzalo Vecina Neto, no período de 1999 a 2003. Já a comissão de sindicância foi criada para

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apurar responsabilidades na concessão irregular de diárias e passagens aos demais dirigentes da Anvisa, no período de 2002 a 2004. O PAD foi arquivado, conforme comentado em bloco argumentativo específico.

57. O relatório do GT foi analisado pela unidade técnica em inspeção promovida para sanear os autos, tendo sido analisadas as justificativas apresentadas pelos 21 servidores supraindicados, as quais foram acatadas pela Anvisa (fls. 355/411).

58. A situação desses servidores foi resumida em despacho datado de 29/11/2005 do diretor da 4ª Secex (fls. 420/24):

"2. Relativamente aos 21 dirigentes selecionados para averiguação da regularidade de suas viagens, conforme critério estabelecido pela SFC (fl. 288), foram constatadas 962 viagens no ano de 2002, sendo que 541 (56%) estão relacionadas com a cidade de origem do servidor, sem a correta emissão de diárias e/ou abrangendo os finais de semana (fl. 6 do Anexo 1). Considerando que um ano possui, aproximadamente, 47 semanas trabalháveis, os 21 dirigentes alcançariam a média de praticamente 1 viagem por semana, sendo que, para os gestores constantes do rol de responsáveis, a média se elevaria a 58 viagens anuais, e, destas, 38 viagens, na média, estariam com indícios de irregularidades. Mas não só os dirigentes deram causa ao problema. Foram constatadas irregularidades em diversas emissões de diárias e passagens de todos os 21 gestores relacionados, conforme relacionado no relatório de inspeção (fls. 355/395 do Vol. 1) (...)."

59. Consigno que, dos 21 dirigentes selecionados, 6 se encontram arrolados na presente prestação de contas, a saber, os Srs. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, então diretor-membro da diretoria colegiada, Gonzalo Vecina Neto, então diretor-presidente, José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, então gerente geral de gestão administrativa e financeira, Luiz Carlos Wanderley Lima, então diretor-membro da diretoria colegiada (diretor de portos, aeroportos e fronteiras internacionais), Ricardo Oliva, então diretor-membro da diretoria colegiada (diretor de alimentos e toxicologia) e Silas Paulo Resende Gouveia, então chefe de gabinete do diretor-presidente.

60. O relator original, Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, em despacho exarado na data de 18/7/2006 (fls. 427/8), acolheu proposta da unidade técnica no sentido de determinar que fosse promovida a citação dos 6 dirigentes arrolados neste processo e também que fossem determinadas providências administrativas, quando do julgamento do mérito, por parte da Anvisa, para os demais responsáveis não-arrolados neste processo.

61. Além disso, adotando posicionamento similar ao tratado no Acórdão TCU nº 1721/2004 - Plenário, de sua lavra, o relator entendeu necessário ouvir em audiência os responsáveis pela "autorização pessoal e concessão generalizada de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem dos servidores da Anvisa" (fl. 428).

62. Assim foi determinada audiência dos Srs. Gonzalo Vecina Neto, Silas Paulo Resende Gouveia, Luiz Felipe Moreira Lima, Ricardo Oliva, Luiz Carlos Wanderley Lima e Luiz Milton Ve1oso Costa, para que apresentassem razões de justificativa acerca da autorização e concessão de diárias e passagens em finais de semana, sem a comprovação do interesse do serviço, para os locais de origem dos servidores da Anvisa (fl. 428).

IV.1

63. Promovidas as citações dos 6 responsáveis arrolados neste processo, apresento, na tabela seguinte, a situação encontrada, indicando cargo, domicílio segundo o Siape ou o sistema CFF da Receita Federal do Brasil, número de viagens, percentual de viagens sob exame (divididas em envolvendo (A) o domicílio do servidor, incluindo trânsito, sem diárias, e/ou (B) próximas e/ou abrangendo finais de semana) e acolhimento ou não, pela unidade técnica, das alegações de defesa apresentadas.

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64. O quadro seguinte preparado por minha assessoria resume a situação em tela.

Nome CargoDomicílio

(1)

Viagens

(2)% Viagens

(3)% Viagens

(4)Exame da Citação (5)

Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques

Diretor-Adjunto da Presidência São Paulo 29 10 79,3 Alegações

acolhidas

Gonzalo Vecina Neto Diretor-Presidente São Paulo 77 94,8 68,8 Alegações acolhidas

José Carlos Magalhães da Silva

Moutinho

Assessor da Gerência-Geral de Medicamentos (6)

Rio de Janeiro 43 98 93 Alegações

rejeitadas

Luiz Carlos Wanderley Lima

Diretor de Portos, Aeroportos e

Fronteiras Internacionais (7)

Rio de Janeiro 70 92,8 54,2 Alegações

acolhidas

Ricardo Oliva Diretor de Alimentos e Toxicologia São Paulo 56 78,6 62 Alegações

acolhidas.

Silas Paulo Resende Gouveia

Chefe de Gabinete da Presidência

Belo Horizonte 71 84 67 Alegações

rejeitadas

Notas: (1) indicado no Siape; (2) total de viagens realizadas no ano, líquidas de cancelamentos; (3) percentual de viagens envolvendo o domicílio do servidor (incluindo trânsito), sem diárias; (4) percentual de viagens envolvendo o domicílio do servidor (incluindo trânsito) próximas e/ou nos finais de semana; (5) examinadas pela unidade técnica; (6) o responsável se tornou gerente geral de gestão administrativa e financeira no período de 4/10/2002 a 31/12/2002; (7) também responsável pelas Gerências Gerais de Portos, Aeroportos e Fronteiras e Relações Internacionais e pelo Comitê de Políticas de Recursos Humanos.

65. Aquiesço com o exame promovido pela unidade técnica e pelo MP/TCU com sua proposta de encaminhamento, acolhendo as justificativas apresentadas pelos Srs. Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, Gonzalo Vecina Neto, Luiz Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva e rejeitando as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho e Silas Paulo Resende Gouveia (fls. 2.803/12).

66. No caso do Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, destaco que suas alegações de defesa foram vagas e imprecisas (fls. 1470/84) e que, a despeito de afirmar que reside em Brasília, não acostou qualquer comprovante do fato. Além disso, o servidor deslocou-se para sua cidade de origem em 50 viagens coincidentes com finais de semana em um período de um ano (ano civil tem apenas 52 semanas) e não apresentou nenhum documento que justificasse sua situação. Reproduzo algumas das justificativas apresentadas (fls. 1472/4):

"9. As razões ou justificativas apresentadas pelos requerentes para as referidas viagens eram elaboradas de forma padronizada, o que se cumpria fielmente. Inexistia, à época, qualquer exigência de comprovação documental dos mesmos, bem como, inexistia norma interna que exigisse as comprovações de relatórios de viagens ou cartões de embarque.

(...)

10.1. Como o maior volume de atendimento presencial em Brasília ocorre sempre entre terças e quintas-feiras, utilizava-se preferencialmente as segundas e sextas-feiras para as viagens, e quando eventualmente, um servidor necessitava ficar por mais tempo (em especial no final de semana) não recebia diárias e nem o ressarcimento da multa pela remarcação de seus bilhetes. Assim o faziam em estrito cumprimento às exigências legais, uma vez que não havia sido autorizada a prorrogação de sua estada, mas também por ser mais econômico ao

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órgão, que este servidor ali permanecesse por mais tempo, objetivando a solução das pendências existentes."

67. No caso do Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, consigno que, em suas alegações de defesa, o responsável não acostou documentos capazes de comprovar a regular realização de viagem a serviço (fls. 656/809). Registro ainda que, o servidor citado, em sua defesa, alegou total pertinência entre suas atribuições na assessoria da Gerência-Geral de Medicamentos da Anvisa e a motivação das reuniões realizadas em sua cidade de origem. Contudo, o cargo de assessor foi exercido pelo servidor beneficiário até dia 3/10/2002, época em que foi nomeado para um cargo de Gerente-Geral de Gestão Administrativa e Financeira. A despeito das novas atribuições, persistiu, mesmo assim, a frequência dos deslocamentos para sua cidade de origem. Reproduzo algumas das justificativas apresentadas (fls. 674/5):

"Oras, Exas., diante de toda a situação já retratada na presente peça, e da inexistência de norma legal que impusesse ao ora Peticionário a apresentação de documentos fundamentais à correta e efetiva prestação de contas das viagens efetuadas, bem como, diante do fato de que, para o homem comum, médio, reuniões de trabalho não são geralmente secretariadas ou documentadas através de maiores formalidades, a não ser a efetiva participação das partes envolvidas, não há como se considerar as viagens fetias pelo ora Peticionário para participar de reuniões como tendo ocorrido sem a devida comprovação de que as mesmas teriam sido realizadas em atendimento aos objetivos institucionais da Anvisa.

(...)

Se houve alguma falha com relação à comprovação das despesas de viagem, esta decorreu da falta de cuidado com a legislação formal com relação à descrição dos eventos, ou seja, de negligência na formalização da prova pela falta de conhecimento; jamais de dolo ou má-fé e, jamais resultou em enriquecimento ilícito por parte do ora Peticionário.

(...)

Assim, requer o ora Peticionário a produção de prova testemunhal a fim de comprovar a finalidade das viagens realizadas no ano de 2002."

68. Ante o detalhado exame procedido pela unidade técnica, aquiesço com a proposta de encaminhamento apresentada, a qual obteve a anuência do MP/TCU, no sentido de rejeitar as alegações de defesa (fls. 2.803/12).

IV.2

69. No tocante ao exame da audiência determinada ao Sr. Gonzalo Vecina Neto, devido à autorização e concessão de diárias e passagens em finais de semana, a análise da unidade técnica, aposta no relatório precedente sumariza a questão (fl. 2.797):

"(...) Assim, quanto à análise da audiência, constatou-se que as justificativas apresentadas para esta irregularidade foram vagas e generalizadas, sem comprovação documental capaz de afastar as suspeitas da má utilização dos recursos públicos. Ressalte-se que, no universo dos beneficiários investigados na inspeção realizada por esta Corte, o Sr. Gonzalo Vecina assinou 43 (quarenta e três) autorizações para o beneficiário Silas Paulo Resende Gouveia e duas para Luiz Carlos Wanderley Lima (entre os responsáveis que foram citados). Dos dois beneficiários, destaca-se que o Sr. Silas não logrou êxito em demonstrar suporte documental capaz de comprovar o comparecimento aos supostos eventos realizados fora da sede da Anvisa, tampouco trouxe evidências que esclarecesse o nexo entre as atividades que exercia e as motivações que fundamentaram as viagens realizadas. Já o Sr. Luiz Carlos Wanderley Lima conseguiu demonstrar a compatibilidade entres atribuições do cargo que exercia e os motivos que justificaram os deslocamentos. Dessa forma, resta a esta unidade técnica não acatar as razões e justificativas do Sr. Gonzalo Vecina, apenas no que se refere às

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autorizações reiteradas de viagens e passagens concedidas ao Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, ao tempo que propõe a esta Corte de Contas a imposição de multa ao autorizador."

70. Para o responsável em tela, acolho a proposta apresentada pela unidade técnica (fls. 2.796/97), com a anuência do MP/TCU, no sentido de rejeitar as razões de justificativa apresentadas.

71. Não posso deixar de destacar que as falhas graves observadas pela Secretaria Federal de Controle e pela unidade técnica nos processo de concessão de passagens e diárias da Anvisa no exercício de 2002, maculam a gestão do seu então presidente, Sr. Gonzalo Vecina.

72. Recordo as conclusões da Secretaria Federal de Controle, expostas anteriormente:

- a concessão dessas diárias e passagens ferem os princípios constitucionais de legalidade, moralidade e finalidade pública;

- a Anvisa não vem atendendo ao Decreto nº 343/1991, especificamente quanto às determinações de apresentar justificativas dos motivos do deslocamento em sextas-feiras e finais de semana, a descrição objetiva do serviço a ser executado e a indicação do local onde o serviço será realizado;

- a Agência não possui ou não arquivou documentos comprobatórios da efetiva realização dos trabalhos que justificaram a realização das viagens;

- o descontrole operacional presente na concessão de diárias e passagens na Anvisa, com servidores recebendo diárias e passagens de forma irregular e indevida, roteiros de viagens descontínuos e sem lógica operacional, sem a anexação dos bilhetes de passagens nos processos de concessão e não devolução de diárias recebidas quando não foram realizadas as viagens programadas

73. E as da 4º Secex:

"2. Relativamente aos 21 dirigentes selecionados para averiguação da regularidade de suas viagens, conforme critério estabelecido pela SFC (fl. 288), foram constatadas 962 viagens no ano de 2002, sendo que 541 (56%) estão relacionadas com a cidade de origem do servidor, sem a correta emissão de diárias e/ou abrangendo os finais de semana (fl. 6 do Anexo 1). Considerando que um ano possui, aproximadamente, 47 semanas trabalháveis, os 21 dirigentes alcançariam a média de praticamente 1 viagem por semana, sendo que, para os gestores constantes do rol de responsáveis, a média se elevaria a 58 viagens anuais, e, destas, 38 viagens, na média, estariam com indícios de irregularidades. Mas não só os dirigentes deram causa ao problema. Foram constatadas irregularidades em diversas emissões de diárias e passagens de todos os 21 gestores relacionados, conforme relacionado no relatório de inspeção (fls. 355/395 do Vol. 1) (...)."

74. No caso dos Srs. Silas Paulo Resende Gouveia, Luiz Felipe Moreira Lima, Ricardo Oliva e Luiz Carlos Wanderley Lima, as razões de justificativa, em geral, consignam que suas condutas se baseavam na ausência de regulamentação, sem, contudo, conseguir estabelecer nexo de compatibilidade entre as atribuições dos servidores beneficiários e as motivações para os deslocamentos (fls. 2.794/803). No caso do primeiro beneficiário, houve situações em que foi, ao mesmo tempo, beneficiário e autorizador.

75. Para os responsáveis em tela, aquiesço com a proposta da unidade técnica, com a anuência do MP/TCU, no sentido de rejeitar as razões de justificativa apresentadas (fls. 2.794/803).

76. No caso do Sr. Luiz Milton Ve1oso Costa, a análise empreendida pela unidade técnica conclui haver certa razoabilidade na autorização das passagens concedidas, conforme relatório precedente, motivo pelo qual acolho as razões de justificativas apresentadas (fls. 2.802/803).

91

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IV.3

77. No tocante à situação dos 15 responsáveis não arrolados neste processo, apresento a tabela seguinte indicando cargo, domicílio segundo o Siape ou o sistema CPF da Receita Federal do Brasil, número de viagens, percentual de viagens sob exame (divididas em envolvendo (A) o domicílio do servidor, incluindo trânsito, sem diárias, e/ou (B) próximas e/ou abrangendo finais de semana) e aceitação ou não das justificativas pela unidade técnica quando da realização da inspeção.

78. O quadro seguinte preparado por minha assessoria resume a situação em tela.

Nome CargoDomicílio

(1)

Viagens

(2)% Viagens

(3)% Viagens

(4)Justificativas

(5)

Antônio Carlos da Costa Bezerra

Gerente-Geral de Inspeção e Controle de Medicamentos e

Produtos

Rio de Janeiro 50 82 58 Não acolhidas

Dulcelina Mara Said Pereira

Gerente de Projetos - CGE IV

Rio de Janeiro 51 94 70 Não acolhidas

Erna Luiza Schmitt da Silva Mello

Coordenadora da CVSPAF-PB

Florianópolis 6 0% 0% Acolhidas

Fernando Antônio Viga Magalhães

Gerente de Qualificação Técnica

em Proteção de Alimentos

Porto Velho 34 0% 0% Não acolhidas

Franklin Rubinstein Ouvidor Rio de Janeiro 48 98 95 Não acolhidas

Galdino Guttmann Bicho

Chefe da Unidade de Medicamentos Controlados

Rio de Janeiro 61 86,9 57 Não acolhidas

Luiz Cláudio Meirelles

Gerente Geral de Toxicologia Brasília (6) 41 68 68 Não acolhidas

Marcelo Azalim Diretor-Adjunto Belo Horizonte 63 58,7 11 Não acolhidas

Maria da Conceição Fernandes Soares

Assessora da Gerência Geral de

Inspeção e Controle de Medicamentos e

Produtos

Brasília

(6)24

10037,5 Parcialmente

acolhidas

Maria da Graça Santana Hofmeister

Gerente de Investigação

Porto Alegre 58 80 74 Parcialmente

acolhidas

Maria Goretti Martins de Melo

Gerente de Normas e Registros / Assessora

Técnica

Belo Horizonte 35 80 51 Não acolhidas

Myrtes Peinado Ex-Gerente de Projeto São Paulo 21 100 66 Não acolhidas

Moysés Diskin Gerente de Fumígenos Brasília (7) 19 89,5 21 Não acolhidas

Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader

Chefe da Unidade de Inspeção

São Paulo 42 95 52 Não acolhidas

92

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

Shuqair

Pedro José Baptista Bernardo

Gerente Geral de Monitoramento de

PreçosNiterói 62 96 79 Não acolhidas

Notas: (1) indicado no Siape; (2) total de viagens realizadas no ano líquidas de cancelamentos; (3) percentual de viagens envolvendo o domicílio do servidor (incluindo trânsito), sem diárias; (4) percentual de viagens envolvendo o domicílio do servidor (incluindo trânsito) próximas e/ou nos finais de semana; (5) examinadas pela unidade técnica; (6) Contudo, no sistema CPF da Receita Federal do Brasil, consta domicílio do Rio de Janeiro; (7) Contudo, no sistema CPF da Receita Federal do Brasil, consta domicílio do Belo Horizonte.

79. O acolhimento ou não da justificativa pela unidade técnica se baseou unicamente na análise do relatório do GT anteriormente referido constituído pela Anvisa para apurar o caso (fls. 355/411).

80. No que se refere aos responsáveis em tela, é relevante e oportuno trazer à colação considerações sobre a repartição de responsabilidades entre os diversos elos da cadeia de controle do gasto público, aduzidas no voto condutor do Acórdão TCU nº 3734/2009 - Primeira Câmara e também consignadas nos Acórdãos TCU nº 2594/2009 - Plenário e nº 1988/2010 - Primeira Câmara:

"A supressão de etapas de controle a cargo do gestor implica a desoneração das responsabilidades de partes dessa cadeia e, por consequência, a transferência de custos aos elos finais do sistema de controle. A responsabilidade primária dos órgãos administrativos está explicitada no Decreto nº 3.591/2000, do Presidente da República:

'Art. 17. A sistematização do controle interno, na forma estabelecida neste Decreto, não elimina ou prejudica os controles próprios dos sistemas e subsistemas criados no âmbito da Administração Pública Federal, nem o controle administrativo inerente a cada chefia, que deve ser exercido em todos os níveis e órgãos, compreendendo:

I - instrumentos de controle de desempenho quanto à efetividade, eficiência e eficácia e da observância das normas que regulam a unidade administrativa, pela chefia competente;

II - instrumentos de controle da observância das normas gerais que regulam o exercício das atividades auxiliares, pelos órgãos próprios de cada sistema; e

III - instrumentos de controle de aplicação dos recursos públicos e da guarda dos bens públicos.'

Como se vê, as ações de controle externo não devem avançar, quando não for estritamente necessário, sobre o espaço de atuação e responsabilidades das autoridades administrativas e seus órgãos de controle interno."

81. Observo que consta dos autos relatório do GT que analisou o caso em tela e que concluiu pela inexistência de irregularidades. Contudo, a SFC, a unidade técnica e o MP/TCU entenderam de forma diferente.

82. Assim concluo que, preliminarmente à atuação deste Tribunal, devem ser acionados os elos iniciais e naturais da cadeia de controle, quais sejam o próprio gestor e órgão de controle interno.

83. Portanto, a despeito das providências administrativas já tomadas, entendo que a situação é grave e determino a instauração de tomada de contas especial para apuração da situação dos demais responsáveis não arrolados nesta prestação de contas.

84. Consigno que, ao adotar as medidas suprarreferidas, deve ser considerado que o responsável pela autorização de concessão também pode ser responsabilizado solidariamente, conforme dispunha o art. 12 do Decreto nº 343/1991 (revogado pelo Decreto nº 5.992/2006, mas que contém o mesmo dispositivo em seu art. 11):

93

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"Art. 12. Responderão solidariamente pelos atos praticados em desacordo com o disposto neste decreto a autoridade proponente, o ordenador de despesas e o servidor que houver recebido as diárias."

V

85. Além da questão da concessão de diárias e passagens, constam dos autos diversas constatações sobre a conduta do Sr. Gonzalo Vecina Neto, os quais foram descritas no relatório precedente, a saber (fls. 420):

"(...) durante seu período à frente da Agência, acumulou com o cargo de dirigente o exercício de docência na Universidade de São Paulo, conforme comunicado da Universidade à SFC (fl. 296), lecionando semanalmente às segundas e sextas-feiras de 13 às 19 horas durante o ano de 2002. Então, além de utilizar de passagens custeadas pela entidade para atender a interesse particular, afrontou a Lei nº 8.112/1990, art. 118, § 2º, ao acumular cargos públicos, mesmo que em esferas diferentes, com superposição de horários."

86. A questão também foi objeto de PAD na qual foi investigada a conduta do servidor.

87. Por meio de despacho anteriormente comentado, o relator original Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa acolheu a proposta da unidade técnica de realização de audiência do responsável para apresentação das razões de justificativa acerca dos indícios de acumulação ilícita de cargo público na Agência de Vigilância Sanitária com a docência na Universidade de São Paulo, sem comprovação da compatibilidade de horários.

88. Conforme disposto no relatório precedente, tanto a Anvisa, quanto a SFC e também a Corregedoria Setorial do Ministério da Saúde concluíram pela inocência do servidor (fls. 2.794/6):

"18.6. Além dessas conclusões, no despacho nº 128/CORGE/ANVISA (fls 1106 a 1123), que trata do julgamento dos fatos apurados no Processo Administrativo Disciplinar – PAD, o corregedor da Anvisa inicia suas conclusões resumindo os diversos depoimentos colhidos e afirmando que todos foram unânimes em declarar que as reuniões realizadas em São Paulo, nas dependências da Faculdade, sempre foram voltadas para tratar de assuntos de interesse tanto da Anvisa quanto do setor regulado. Conclui também que, com base nos diversos testemunhos, o ex Diretor-Presidente jamais deixou de observar os princípios da Administração Pública, tampouco feriu a lisura pública desrespeitando os mandamentos constitucionais. Por fim, o julgamento do PAD concluiu por acolher o Relatório Final da Comissão e determinou o arquivamento do processo.

18.7. Posteriormente, a Secretaria Federal de Controle analisou o caso e concluiu, por meio da Nota Técnica nº 894/DSSAU/DS/SFC/CGU-PR, de 21/5/2007, que as evidências apresentadas, principalmente as provas testemunhais, são indicativas de que não houve por parte do servidor acumulação indevida de cargos públicos, nem prática de ato de improbidade administrativa (com relação a suspeita de aproveitar-se de passagens fornecidas pela Anvisa para tratar de interesse particular).

18.8. Ressalte-se, também, que a Corregedoria Setorial do Ministério da Saúde/CORAS/CRG/CGU-PE, no processo 00190.01278/2001-01, analisou o mesmo PAD e chegou à conclusão de haver provas suficientes da inocência do servidor, tendo sugerido o arquivamento do referido processo."

89. A par destas considerações, a unidade técnica e o MP/TCU acataram as alegações apresentadas (fls. 2.794/6). Entendo, no entanto, que não constam dos autos elementos objetivos suficientes para formar um juízo completo sobre a situação. Contudo, constato que a acumulação em tela está relacionada a um cargo na esfera federal e outro na esfera estadual (na Universidade de São Paulo) e o servidor efetivamente prestou serviços à União. Assim, se houve algum prejuízo decorrente da acumulação, incidiria sobre os cofres estaduais. Desse modo, proponho o encaminhamento das

94

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informações, relacionadas ao caso em tela ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, para adoção das medidas que aquela Corte entender cabíveis.

VI

89. No tocante às propostas de determinações e recomendações apresentadas pela unidade técnica, tenho as seguintes considerações a tecer.

90. Primeiramente, registro que a instrução final não consigna o conjunto de determinações e recomendações propostas pela unidade técnica. Encontram-se diluídas ao longo das instruções, relatórios e pareceres expedidos entre os 20 volumes do processo.

91. É imprescindível que a instrução final contenha o conjunto definitivo de propostas da unidade técnica, de forma a que os trabalhos e análises que realizou possam ser adequadamente expostos e considerados pelo relator.

92. A sistematização seguinte foi preparada por minha assessoria, a partir de provocação junto à unidade técnica, e resume a situação das propostas de encaminhamento diluídas no processo.

93. Transcrevo a seguir a proposta de determinação aposta nos itens 7.1.31 e 7.1.42 da instrução inicial (fls. 318/9):

"7.1.31. Ademais, baseados nos princípios que prezam a prudência e a transparência dos atos públicos, seria conveniente uma determinação para que sejam arquivados, junto aos processos de concessão de diárias e passagens, documentos que comprovem que o serviço para o qual a viagem se justificou foi efetivamente realizado, tais como atas de reunião, relatórios resumindo as atividades realizadas, ofícios de apresentação, cartões de embarque."

7.1.42. Uma vez que a própria [unidade de] auditoria interna da Anvisa, em seu relatório anual de atividades informa que é necessário melhorar a operação de anexação dos documentos que comprovem a adequada emissão de passagens e diárias, cabe a este Tribunal determinar à Anvisa que cumpra o que consta do art. 7º do Decreto n.º 3.892/2001; cumpra o Decreto n.º 343/91; melhore o Sistema de Passagens e Diárias, notadamente no que se refere à operação de anexação de documentos e na não emissão de novos bilhetes e diárias para quem não justificou a viagem anterior."

94. Quanto às propostas em questão, entendo que se tornaram prejudicadas, haja vista que já houve deliberação específica por meio dos Acórdãos TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara, nº 2069/2006 - Plenário e nº 2869/2008 - Plenário, sobre o tema:

"Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara (item 2.1.1)

2.1.1 adote medidas tendentes à anexação, aos processos de concessão de diárias, do cartão de embarque ou outro documento hábil a comprovar a data do efetivo retorno do servidor, bem como documentos probatórios (atas ou documentos das reuniões, palestras, seminários, congressos, encontros, etc) da realização dos eventos motivadores dos pagamentos de diárias, nos mesmos moldes previstos na Decisão TCU nº 277/2000 - Plenário c/c a Portaria Ministerial nº 47, de 29 de abril de 2003;

Acórdão TCU nº 2069/2006 - Plenário (itens 9.9.3 e 9.9.4)

9.9.3. autorize as viagens internacionais por evento, fazendo constar, nos extratos de atas da diretoria colegiada, informações de todos os servidores e/ou consultores que irão participar de determinado evento, com a indicação da matrícula Siape e o vínculo empregatício, quando servidores, e dos respectivos projetos de cooperação técnica internacional e contratos, quando consultores; o período do afastamento; a lotação do servidor; o valor das diárias e passagens, e outras informações que considerar relevantes, com o fim de aumentar a transparência das autorizações de viagens internacionais;

9.9.4. em relação ao procedimento de concessão de diárias e passagens aéreas:

95

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9.9.4.1. busque aprimorar e fortalecer o sistema de controle interno relativo aos procedimentos de concessão de diárias e passagens aéreas de forma a não possibilitar o favorecimento pessoal do servidor, do contratado ou do colaborador no recebimento de diárias e passagens;

9.9.4.2. faça constar nos processos de concessão de diárias e passagens, com o fim de atender ao disposto no item anterior e aos princípios da moralidade e da finalidade pública, além do cumprimento às exigências estabelecidas pelo Decreto nº 343, de 19.11.1991, e outros normativos afins, a comprovação do motivo da viagem, devendo a aludida comprovação se dar de forma prévia à concessão das diárias e passagens, anexando-se quaisquer documentos que justifiquem o deslocamento;

9.9.4.3. exija, do servidor, do contratado ou do colaborador, a apresentação, na prestação de contas das viagens, de quaisquer documentos que comprovem a sua participação nos eventos para os quais tenha se deslocado, tais como relatórios de atividades, certificados de participação, atas de reuniões, listas de presença, etc.;

9.9.4.4. observe o caráter de excepcionalidade estabelecido no inciso VI do artigo 2º da Portaria MP 47, de 29.4.2003, para as autorizações de viagens que não forem programadas com antecedência mínima de 10 dias;

9.9.4.5. cuide para que, no pagamento de diárias, não haja inobservância ao caráter da eventualidade ou transitoriedade de que devem se revestir os afastamentos da sede, atendendo aos princípios da eficiência e da economicidade, bem como ao disposto no artigo 58, caput, da Lei 8.112/1990, com a redação dada pela Lei nº 9.527/1997;

9.9.4.6. elabore normativo interno que regule a solicitação, a autorização, a concessão, bem como a prestação de contas referente à concessão de diárias e passagens aéreas a servidores/colaboradores da Agência, contemplando, além das exigências legais, as referidas nos itens anteriores;

Acórdão TCU nº 2869/2008 - Plenário (item 9.9.2)

9.9.2. aprimore os procedimentos de prestação de contas de diárias e passagens, com verificação das datas em que efetivamente ocorreram as viagens e nos casos em que for constatada alteração de retorno para data posterior à aprovada, faça constar as justificativas ou efetue o desconto da remuneração dos dias de afastamento ao serviço, em cumprimento ao disposto na Lei nº 8.112/1990, art. 44, I, c/c o caput do art. 58;"

95. Consigno que, em decorrência do Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara, a Anvisa informou algumas medidas adotadas acerca do assunto nas contas de 2003 (TC 009.222/2004-2) às fls. 215/216, mais as Notas Técnicas nº 9 e 32/2003 da unidade de auditoria interna (fls. 217/228 do mesmo processo), fatos que demonstram a tentativa de aprimoramento dos sistemas de controle interno, a despeito de as irregularidades continuarem a ocorrer nos exercícios seguintes.

96. Transcrevo a seguir proposta de determinação aposta no item 7.9.2 da instrução inicial (fls. 327/9):

"7.9.2. Nos documentos apresentados verificamos que a Anvisa está analisando os casos para posterior providências corretivas. O desdobrar desse assunto requer atenção de nossa parte. No entanto, como houve mudança na sua administração gerencial no exercício de 2003, sugerimos determinar à SFC que, por ocasião das próximas contas, verifique qual o encaminhamento que a Agência deu para o assunto [concessão de diárias a servidores classificados na rubrica de colaboradores eventuais – foram identificadas pela SFC a emissão de 589 ordens bancárias, apenas no período de outubro a dezembro, emitidas pela Unidade Gestora da Presidência, para pagamento de diárias na rubrica de colaboradores eventuais a 318 servidores] e quais as providências tomadas. Com esses dados, poderemos acompanhar, no próximo exercício, a necessidade ou não de um desdobramento no assunto. "

96

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97. Entendo que esse item tem relação com as proposta aposta no item 7.5.3.10 da instrução inicial (fl. 324), comentada a seguir, mas que merece atenção por parte desta Corte de Contas.

98. Transcrevo a seguir a proposta de determinação aposta no item 35.5 do relatório de inspeção (fl. 381):

"27.5. Desta forma, entende-se conveniente alertar à entidade e seus servidores, quando do julgamento do mérito das contas da Anvisa, que a prática de proporcionar viagens aos servidores para os locais de origem, com motivos não completamente esclarecidos, não está amparada em normativos legais, sujeitando a ambos, entidade e servidor beneficiado, às penalidades previstas em lei."

99. Quanto à proposta em tela, entendo que se tornou prejudicada, pois, mais que alertar, o Tribunal já vem efetivamente punindo os gestores que se enquadram na irregularidade citada, conforme Acórdão TCU nº 2869/2008 - Plenário (contas do exercício de 2004):

"(...)

9.4. com fundamento nos arts. 1º, I, 16, III, alínea 'b' e 19, parágrafo único da Lei nº 8.443/1992, julgar irregulares as contas dos Srs. Franklin Rubinstein, Cláudio Maierovitch P. Henriques, Beatriz MacDowell Soares, Luis Carlos Wanderley Lima e Nelson da Silva Albino Júnior;

9.5. com fundamento no art. 58, II, da Lei nº 8.443/1992, aplicar aos responsáveis abaixo referenciados as multas indicadas, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor:

Responsável Valor (R$)

Ricardo Oliva 25.000,00

Franklin Rubinstein 25.000,00

Beatriz MacDowell Soares 10.000,00

Cláudio Maierovitch P. Henriques 10.000,00

Luis Carlos Wanderley Lima 10.000,00

Nelson da Silva Albino Junior 10.000,00"

100. Transcrevo a seguir proposta de determinação aposta no item 7.5.3.10 da instrução inicial (fl. 324):

"7.5.3.10. Pelo exposto, propomos recomendar à Anvisa que justifique a efetiva necessidade técnica dos serviços prestados pelos consultores e promova a adequação dos termos de contratos, a fim de garantir a realização exclusiva das atividades para as quais houve a contratação."

101. Quanto à proposta em comento, entendo não ser mais necessária à vista do teor das determinações contidas no item 9.9.2 (subitens 9.9.2.2, 9.9.2.3 e 9.9.2.4) do Acórdão TCU nº 2069/2006 - Plenário supracitado.

"9.9. determinar à Anvisa que:

(...)

9.9.2. adote, no prazo de 60 dias, providências com vistas ao fiel cumprimento da legislação pertinente, promovendo o encerramento dos seguintes contratos:

97

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(...)

9.9.2.2. contratos mencionados nos subitens seguintes, tendo em vista o Termo de Ajuste de Conduta - TAC acordado entre o Ministério Público do Trabalho e a União em 2002; o disposto no § 1º do art. 4º do Decreto 5.151/2004; o ingresso de novos servidores no quadro permanente da Agência, nomeados pela Portaria nº 68, de 14/3/2005; bem como a estratégia do Projeto 914BR1000, que previu não serem mais necessárias as contratações de consultores quando houvesse o ingresso dos novos servidores concursados:

9.9.2.2.1. todos os contratos firmados com os consultores permanentes no âmbito do projeto de cooperação técnica acordado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco - Projeto 914BR1000;

9.9.2.2.2. contratações temporárias realizadas por meio do processo seletivo simplificado, Edital 1/2003, de 28/8/2003, nos termos do Decreto nº 4.748, de 16/6/2003, visto tratar-se igualmente de contratação de consultores no âmbito do projeto de cooperação técnica firmado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco - Projeto 914BR1000;

9.9.2.2.3. contratos de consultores pela modalidade produto que não atendam ao disposto nos arts. 4º e 5º do Decreto nº 5.151/2004;

9.9.2.4. contratos relacionados no quadro a seguir, tendo em vista o disposto nos §§ 6º e 7º do art. 4º e no art. 5º do Decreto nº 5.151/2004, uma vez que os produtos contratados não atendem aos objetivos elencados no Projeto 914BR1000 acordado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco, que tem por fim o treinamento de pessoal, referindo-se, na verdade, à execução de atividades típicas da Agência, previstas no Regimento Interno, Portaria nº 593, de 25/8/2000, podendo, portanto, ser desempenhadas por servidores próprios do órgão."

102. O Acórdão TCU nº 1533/2007 - Plenário considerou parcialmente implementadas as determinações prolatadas no Acórdão TCU nº 2069/2006 - Plenário e, assim, além de ter assinado prazo para o encerramento de alguns contratos, emitiu comando no sentido de que as determinações ainda não cumpridas (subitens 9.9.1, 9.9.2.2.2, 9.9.3 e 9.9.4.2 do Acórdão TCU nº 2069/2006 - Plenário) deveriam ter sua implementação informada no próximo relatório de gestão, medida que seria promovida nas contas da Anvisa, exercício 2007 (TC nº 020.378/2008-2):

"9.1. considerar cumpridas as determinações constantes dos itens 9.7, 9.7.1, 9.7.2, 9.9, 9.9.2, 9.9.4, 9.9.4.1, 9.9.4.3, 9.9.4.4, 9.9.4.5, 9.9.4.6, 9.9.4.7, 9.9.4.8 e 9.9.4.9 do Acórdão TCU nº 2.069/2006 - Plenário;

(...)

9.3. determinar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que:

9.3.1. informe, no relatório de gestão referente às próximas contas, a respeito do cumprimento das determinações contidas nos subitens 9.9.1, 9.9.2.2.2, 9.9.3 e 9.9.4.2 do Acórdão TCU nº 2069/2006 - Plenário;"

103. De todo modo, consigno que, no relatório de gestão 2009 da Anvisa recentemente encaminhado ao Tribunal, consta que:

"Com relação ao terceiro bloco, foram identificados os seguintes itens da Decisão Normativa (DN) TCU nº 100/2009 que não se aplicam à natureza jurídica da Agência ou não ocorreram no período em análise:

(...)

98

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• Relação de consultores contratados no âmbito de projetos de cooperação técnica com organismos internacionais, que corresponde ao Item 17 do Conteúdo C – conteúdo específico por unidade jurisdicionada ou grupo de unidades."

104. Transcrevo a seguir proposta de determinação e recomendação aposta nos itens 7.5.4.4 (fl. 325), 7.5.5.3 (fl. 325) da instrução inicial e 53.11 (fl. 2.818) e 53.12 (fl. 2.818) da instrução após audiência e citação:

"7.5.4.4. Propomos que este Tribunal recomende que a Agência implemente esforços na implantação de um sistema de informações gerenciais que sirva de base eficaz para a avaliação de resultados e do desempenho da Anvisa, conforme preconiza a Cláusula Terceira, item IV, do Contrato de Gestão, de forma que com tal sistema possa acompanhar o efetivo cumprimento das responsabilidades que transferiu a Estados e Municípios, ou mesmos das que já pertencem a esses entes federados.

7.5.5.3. Não resulta a programação sem uma discussão abrangendo os vários segmentos da entidade. Só com essa discussão é que as metas poderão ser claras e exeqüíveis, não havendo justificativas para o seu não cumprimento. Para tanto, propomos recomendar à Anvisa que promovam uma ampla discussão, dentro da própria entidade, com os agentes comprometidos com os resultados.

(...)

53.11. Determinar à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que implemente condições necessárias ao cumprimento do disposto na cláusula sexta do Contrato de Gestão da Anvisa, bem como o disposto no inciso I, § 1º,[do art. 2º] da Lei nº 9.782/1999, com vistas a realização do acompanhamento efetivo, bem como da avaliação, semestral e anual, do cumprimento das metas pactuadas no acordo firmado, de forma a atuar preventiva e tempestivamente e, principalmente, solucionar eventuais problemas e gargalos que possam impactar os resultados esperados;

53.12. Determinar à Anvisa e à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde que, doravante, encaminhe, juntamente com o processo de prestação de contas anual, o parecer conclusivo da Comissão de Avaliação acerca da execução dos objetivos e diretrizes propostas para entidade, conforme disposto no Contrato de Gestão firmado."

105. Quanto às recomendações, observo que houve dois comandos endereçados à Anvisa, após o período dessas contas, por meio do Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara (itens 2.1.8, 2.1.10 e 2.2.1 a 2.2.6). Em especial as determinações contidas nos itens 2.2.1 a 2.2.6, endereçadas à Secretaria-Executiva do MS (SE/MS), abrangem o teor das recomendações acima transcritas:

"Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara´

(...)

2. Determinar:

2.1 à Agência Nacional de Vigilância Sanitária que:

2.1.8 inclua, nas próximas prestações de contas os relatórios de acompanhamento de execução semestral e de avaliação de desempenho anual, a cargo da Comissão de Avaliação do Ministério da Saúde, em obediência ao art. 21, IV, da Instrução Normativa TCU nº 12/96;

(...)

2.1.10 providencie a ampla divulgação, por meios físicos e eletrônicos, dos relatórios de acompanhamento de execução e avaliação de desempenho do Contrato de Gestão a cargo da Comissão de Avaliação do MS [Ministério da Saúde], em obediência à Cláusula Décima de seu Contrato de Gestão;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

2.2 à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde que:

2.2.1 avalie, em periodicidade semestral, os resultados alcançados pela entidade, de acordo com a Cláusula Sexta da Subcláusula Quarta do Contrato de Gestão c/c os arts. 4º, II; 8º, I, e 10 da Portaria nº 174/2000;

2.2.2 intensifique esforços no sentido de garantir a ampla divulgação, por meios físicos e eletrônicos, dos relatórios semestrais e anuais de avaliação e de acompanhamento do Contrato de Gestão da Anvisa, em cumprimento ao art. 8º, XIV, da Portaria nº 174/2000;

2.2.3 utilize todos os mecanismos e/ou instrumentos necessários (art. 4º, §§ 1º e 2º, da Portaria nº 174/200), a fim de que a emissão dos relatórios de avaliação de desempenho e acompanhamento da execução do Contrato de Gestão da Agência seja tempestiva, em obediência aos ditames da Portaria nº 174/2000, arts. 10, § único e 9º, I;

2.2.4 envide esforços no sentido de implementar o indicador de efetividade e melhorar o de eficácia e eficiência, de modo a garantir uma avaliação mais próxima do real do Contrato de Gestão da Entidade, em cumprimento à Cláusula Primeira da Subcláusula Terceira do Contrato de Gestão;

2.2.5 evite, como regra, quando da formulação dos seus relatórios de avaliação de desempenho, a cópia ipsis litteris dos relatórios emitidos pela Anvisa (vide relatórios de avaliação de desempenho dos exercícios anteriores - 2000 e 2001); e

2.2.6 apresente, por ocasião das próximas prestações de contas, as atas das reuniões (ordinárias e extraordinárias, art. 9º, I e II, da Portaria nº 174/2000) de avaliação de desempenho e acompanhamento da execução do Contrato de Gestão da Anvisa."

106. A despeito de as deliberações mencionadas serem posteriores ao exercício das contas e de se ter item específico na Decisão Normativa nº 100/2009, relacionada às contas exigindo que a SE/MS apresente relatório que demonstre efetiva supervisão dos contratos de gestão firmados pelo Ministério da Saúde com a Anvisa e ANS, fato que poderia, de início, indicar serem desnecessárias novas medidas neste processo, penso que o tema é de suma importância, motivo pelo qual proponho determinação específica.

107. Transcrevo a seguir proposta de recomendação aposta nos itens 7.6.4 (fl. 326) e 7.7.5 (fl. 327) da instrução inicial:

"7.6.4. Ainda que não seja só de responsabilidade da Anvisa a iniciativa de fomentar a participação desses grupos [foi apontada a não adoção pela Anvisa de medidas e iniciativas que permitam a participação da sociedade na gestão das ações de saúde sanitária, não cumprindo, assim, o art. 7º, VIII, da Lei nº 8.080/1990] é pertinente recomendar que envide esforços na articulação dessas instituições no acompanhamento e avaliação das ações descentralizadas de vigilância sanitária.

7.7.5. Diante do exposto, propomos recomendar à Anvisa para que envide esforços na articulação dessas instituições no acompanhamento e avaliação dos resultados alcançados pelas Vigilâncias Sanitárias Estaduais. [a A SFC anotou que continuava sem identificar atuação dos Conselhos Estaduais de Saúde na confirmação acerca do acompanhamento das execuções físicas, pelas VISAs, do que fora acordado nos Termos de Ajustes e Metas – TAMs."

108. No tocante às propostas em tela, são suficientes as recomendações emitidas no Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara (itens 1.1, 2.1.11 e 2.1.12), sendo que a avaliação do cumprimento deve ser feita nos processos de contas posteriores:

"Acórdão TCU nº 2874/2003 - Primeira Câmara

(...)

1. Recomendar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária que:

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1.1. no que tange ao Plano Anual de Ação e Metas:

1.1.1. implemente mecanismos consistentes de efetivo monitoramento das metas pactuadas com os Estados, ainda assim a remessa de relatórios de execução por parte das VISAS;

1.1.2. constitua as chamadas Comissões de Avaliação, no sentido de aferir os resultados e de analise das propostas do Plano de Ação e Metas;

1.1.3. efetive a participação das Unidades da Federação na sua elaboração, pois conhecedoras de suas reais necessidades locais;

(...)

2. Determinar:

2.1 à Agência Nacional de Vigilância Sanitária que:

(...)

2.1.11. intensifique esforços no sentido de implementar o sistema de acompanhamento informatizado do Termo de Ajuste e Metas;

2.1.12. no que tange ao Programa de Infecção Hospitalar:

2.1.12.1. implemente junto aos Estados e Municípios instrumentos de pesquisa de satisfação do público-alvo;

2.1.12.2. oriente os Estados e Municípios para a elaboração de mecanismos efetivos de participação da sociedade nas Comissões de Infecção Hospitalar;

2.1.12.3. inclua metas e indicadores, em seu Contrato de Gestão, diretamente relacionados com o Programa de Prevenção e Controle de Infecções Hospitalares, tal como o fez para as notificações encaminhadas pelos hospitais sentinelas (indicador e meta nº 4 fixados para o exercício de 2003)"

109. Transcrevo a seguir proposta de recomendação aposta nos itens 7.8.4 da instrução inicial (fl. 327):

"7.8.4. No entanto, essa carência não pode ser justificativa para o descumprimento de um preceito legal. Tendo isso em vista, propomos recomendar à Anvisa que envide esforços para compor a Comissão Permanente de Licitação com maioria de membros efetivos."

110. Essa recomendação tornou-se prejudicada à vista da orientação recente emanada pela Segecex mediante a Portaria Segecex nº 9/2010.

111. Quanto à gestão do Srs. Gonzalo Vecina Neto, Luis Carlos Wanderley e Ricardo Oliva a autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, macula as contas dos responsáveis, motivo pelo qual proponho o julgamento pela irregularidade.

Ante o exposto, manifesto-me pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 18 de maio de 2010.

WEDER DE OLIVEIRA

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Relator

ACÓRDÃO Nº 2572/2010 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo nº TC 011.122/2003-6.2. Grupo II – Classe II – Assunto: Prestação de Contas.3. Interessados/Responsáveis:3.1. Interessado: Agência Nacional de Vigilância Sanitária - MS (03.112.386/0001-11).3.2. Responsáveis: Antônio Carlos da Costa Bezerra (461.746.307-06); Armando Jose de Aguiar Pires (598.512.527-00); Ary Leite de Jesus (342.777.571-20); Claudio Maierovitch Pessanha Henriques (059.514.278-86); Dulcelina Mara Said Pereira (923.172.517-34); Fernando Antônio Viga Magalhães (121.324.462-53); Franklin Rubinstein (083.596.877-49); Galdino Guttmann Bicho (433.935.197-00); Gonzalo Vecina Neto (889.528.198-53); Jonas Roza (911.494.447-20); Jose Carlos Magalhaes da Silva Moutinho (398.005.047-53); Luis Carlos Wanderley Lima (545.176.487-53); Luiz Cláudio Meirelles (670.574.627-00); Luiz Felipe Moreira Lima (359.175.987-20); Luiz Milton Veloso Costa (124.552.536-00); Marcelo Azalim (177.349.246-20); Maria Goretti Martins de Melo (418.344.966-91); Maria da Conceição Fernandes Soares (547.006.477-87); Maria da Graça Santana Hofmeister (285.607.100-78); Moysés Diskin (162.335.656-34); Myrtes Peinado (020.590.438-67); Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shugair (086.167.638-64); Pedro Jose Baptista Bernando (380.859.767-49); Ricardo Oliva (669.453.568-68); Silas Paulo Resende Gouveia (311.988.216-04); Walmir Gomes de Sousa (334.034.061-72).4. Entidade: Agência Nacional de Vigilância Sanitária - MS.5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.6. Representante do Ministério Público: Procurador Marinus Eduardo de Vries Marsico.7. Unidade: 4ª Secretaria de Controle Externo (Secex-4).8. Advogados constituídos nos autos: Pedro Raphael Campos Fonseca (OAB/DF 13.836); Lucivalter Expedito Silva (OAB/MG 91.079); José Pinheiro de Souza Sobreira (OAB/DF 25.065); Júlio César Soares de Souza (OAB/MG 107.255); Elisa Lima Afonso (OAB/DF 18.843); Douglas Fernandes de Moura (OAB/DF 24.625); Érico Joaquim da Silva Junior (OAB/DF 23.529); Kárida Coelho Monteiro (OAB/DF 6.550/E); Cláudia Marinho da Silva (OAB/DF 6.023/E); Renata Luiz Gerheim (OAB/DF 6.023/E); José Luis Wagner (OAB/DF 17.183 e OAB/RS 18.097); Sandra Luiza Feltrin (OAB/RS 35.063 e OAB/DF 2.238-A); Lilia Fortes dos Santos Wagner (OAB/RS 25.543); Paulo César Santos de Almeida (OAB/RS 38.535); Luiz Antônio Muller Marques (OAB/RS 39.450 e OAB/DF 2.358-A); Luciana Inês Rambo (OAB/RS 52.887); Felipe Carlos Schwingel (OAB/DF 24.046); Bruno Conti Gomes da Silva (OAB/DF 7.083/E); Rafael Oliveira de Freitas (OAB/DF 8.650/E); Vicente de Paula Mendes (OAB/MG 15.116); Márlia Ferreira Bicalho (OAB/MG 23.394); Vera Lúcia Soares Barbosa Campos (OAB/MG 68.215); Josiana Cláudia da Silva Mendes (OAB/MG 100.459); Patrícia Carla Miranda (OAB/MG 81.355); Lycurgo Leite Neto (OAB/DF 1.530-A); Eduardo Lycurgo Leite (OAB/DF 12.307); Darcílio Augusto Gomes (OAB/RJ 313-B); Rafael Lycurgo Leite (OAB/DF 16.372); Ronaldo Feldmann Hermeto (OAB/DF 10.189); Thiago Bezerra Prado Coimbra (OAB/DF 15.548); Renata Machado (OAB/DF 20.415); Alexandre Guimarães Farah (OAB/DF 14.214); Geysa Coellho Lobo de Carvalho (OAB/DF 21.823); Juliana Abranches Abelheira (OAB/DF 23.350); Camila Pires Lombardi (OAB/DF 4992/E); Ana Paula de Araújo Lima Rodrigues (OAB/DF 6691/E).

9. Acórdão:

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos referentes ao processo de prestação de contas anual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) relativa ao exercício de 2002.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. rejeitar as razões de justificativa e julgar irregulares as contas dos Srs. Gonzalo Vecina Neto, Luis Carlos Wanderley e Ricardo Oliva, com base nos arts. 1º, I, 16, III, 'b' da Lei nº 8.443/1992, em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991;

9.2. aplicar individualmente aos Srs. Gonzalo Vecina Neto, Luis Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva, a multa prevista no art. 58, I, da Lei nº 8.443/1992, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.3. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991;

9.4. aplicar individualmente aos Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, a multa prevista no art. 58, II, da Lei nº 8.443/1992, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.5. julgar regulares as contas dos Srs. Armando Jose de Aguiar Pires, Ary Leite de Jesus, Claudio Maierovitch Pessanha Henriques, Jonas Roza, Luiz Milton Veloso Costa e Walmir Gomes de Sousa, dando-lhes quitação plena, com fundamento no art. 16, I, da Lei nº 8.443/1992 c/c art. 214, I, do RI/TCU;

9.6. rejeitar as alegações de defesa e julgar irregulares as contas do Sr. Silas Paulo Resende Gouveia, com base nos arts. 1º, I, 16, III, 'b' da Lei nº 8.443/1992, e condená-lo ao pagamento da quantia abaixo especificada, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora calculados a partir da respectiva data até a do efetivo recolhimento, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres da Anvisa, na forma da legislação em vigor, em razão da utilização de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, conforme valores e datas abaixo discriminados:

Ord. Nº PCD Data Passagem Diárias1 175 10/1/2002 1.458,30 - 2 365 17/1/2002 1.458,30 - 3 817 1/2/2002 828,35 124,69 4 982 8/2/2002 828,35 124,69 5 1057 15/2/2002 825,35 - 6 1221 1/3/2002 822,35 - 7 2198 8/3/2002 828,35 - 8 2403 15/3/2002 822,35 - 9 3122 27/3/2002 830,35 -

10 3123 28/3/2002 771,45 -

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

11 4482 19/4/2002 425,15 - 12 4749 24/4/2002 426,35 - 13 4859 29/4/2002 423,20 - 14 4968 30/4/2002 848,35 - 15 4983 3/5/2002 425,15 - 16 5982 17/5/2002 848,35 - 17 6536 23/5/2002 848,35 - 18 7249 6/6/2002 916,35 - 19 7579 14/6/2002 916,35 - 20 7768 20/6/2002 916,35 - 21 8145 25/6/2002 919,35 - 22 8235 28/6/2002 919,35 - 23 8450 4/7/2002 919,35 - 24 8697 12/7/2002 462,15 - 25 8955 19/7/2002 922,35 - 26 9193 29/7/2002 2.102,35 - 27 9195 12/8/2002 511,20 - 28 10026 15/8/2002 1.018,35 - 29 10533 22/8/2002 1.021,35 - 30 10827 2/9/2002 511,20 - 31 11284 5/9/2002 1.009,35 - 32 11548 12/9/2002 498,15 - 33 11712 19/9/2002 824,40 - 34 11869 23/9/2002 994,35 - 35 12244 26/9/2002 994,35 - 36 12594 4/10/2002 286,15 - 37 12860 11/10/2002 662,35 - 38 12861 29/10/2002 574,20 - 39 13685 1/11/2002 789,35 - 40 14270 14/11/2002 847,35 - 41 14714 22/11/2002 1.415,35 - 42 15171 30/11/2002 394,15 - 43 15473 5/12/2002 753,35 - 44 15862 11/12/2002 706,35 - 45 15975 12/12/2002 708,35 - 46 16219 18/12/2002 356,15 - 47 16207 19/12/2002 839,35 268,63 48 16220 23/12/2002 352,20 - 49 16206 24/12/2002 992,35 - 50 16205 27/12/2002 706,35 -

Soma 40.478,40 518,01

9.7. rejeitar as alegações de defesa e julgar irregulares as contas do Sr. José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, com base nos arts. 1º, I, 16, III, 'b' da Lei nº 8.443/1992, e condená-lo ao pagamento da quantia abaixo especificada, atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora calculados a partir da respectiva data até a do efetivo recolhimento, fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento da dívida aos cofres da Anvisa, na forma da legislação em vigor, em razão da utilização de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991, conforme valores e datas abaixo discriminados:

Ord. Nº PCD Data Passagem Diárias1 381 18/1/2002 1.009,40 - 2 1122 15/2/2002 1.009,40 - 3 2585 15/3/2002 1.033,40 - 4 4837 25/4/2002 1.041,40 -

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

5 5033 4/5/2002 1.041,40 - 6 5907 16/5/2002 1.041,40 - 7 6397 24/5/2002 1.041,40 - 8 7189 6/6/2002 1.125,40 - 9 7514 14/6/2002 1.125,40 -

10 7799 20/6/2002 1.125,40 - 11 8405 5/7/2002 1.125,40 - 12 8683 12/7/2002 1.141,40 - 13 9570 2/8/2002 1.251,40 - 14 9734 9/8/2002 1.251,40 - 15 10138 16/8/2002 1.251,40 - 16 10608 23/8/2002 757,40 - 17 10870 30/8/2002 603,40 - 18 11325 6/9/2002 603,40 - 19 11566 13/9/2002 695,40 - 20 12189 26/9/2002 603,40 - 21 12433 3/10/2002 603,40 - 22 12864 10/10/2002 697,40 - 23 13098 17/10/2002 829,40 - 24 13441 24/10/2002 750,40 - 25 14468 21/11/2002 1.118,60 - 26 15103 28/11/2002 749,40 - 27 16162 19/12/2002 848,40 - 28 16239 26/12/2002 749,40 -

Soma 26.224,40 -

9.8. aplicar individualmente aos Srs. Silas Paulo Resende Gouveia e José Carlos Magalhães da Silva Moutinho, a multa prevista no art. 57 da Lei nº 8.443/1992, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.9. acatar as alegações de defesa dos Srs. Claudio Maierovitch Pessanha Henriques, Gonzalo Vecina Neto, Luis Carlos Wanderley Lima e Ricardo Oliva, em razão da utilização de diárias e passagens em fins de semana;

9.10. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Sr. Luiz Felipe Moreira Lima, em razão da autorização reiterada na concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário, contrariando do disposto no art. 6º, § 3º, e art. 7º, III, do Decreto nº 343/1991;

9.11. aplicar individualmente ao Sr. Luiz Felipe Moreira Lima, a multa prevista no art. 58, II, da Lei nº 8.443/1992, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214, III, 'a', do RI/TCU), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

9.12. acatar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Luiz Milton Veloso Costa;

9.13. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, II, da Lei nº 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas;

9.14. determinar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que instaure tomada de contas especial para apuração das ocorrências relacionadas à concessão de diárias e passagens em fins de semana sem a devida justificativa para a cidade de origem do beneficiário dos Srs. Antônio

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 011.122/2003-6

Carlos da Costa Bezerra, Dulcelina Mara Said Pereira, Fernando Antônio Viga Magalhães, Franklin Rubinstein, Galdino Guttmann Bicho, Luiz Cláudio Meirelles, Marcelo Azalim, Maria Goretti Martins de Melo, Maria da Conceição Fernandes Soares, Maria da Graça Santana Hofmeister, Moysés Diskin, Myrtes Peinado, Nur Shuqaira Mahmud Said Abdel Gader Shugair e Pedro Jose Baptista Bernando, caso as providências administrativas de recolhimento dos valores ainda não tenham sido adotadas;

9.15. determinar à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde/MS e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que implemente condições necessárias ao cumprimento do disposto na cláusula sexta do Contrato de Gestão da Anvisa, bem como na Lei nº 9.782/1999, com vistas a realização do acompanhamento efetivo, bem como da avaliação, semestral e anual, do cumprimento das metas pactuadas no acordo firmado, de forma a atuar preventiva e tempestivamente e, principalmente, solucionar eventuais problemas e gargalos que possam impactar os resultados esperados;

9.16. recomendar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que avalie a possibilidade de compatibilizar as metas apostas no contrato de gestão com aquelas definidas para os programas orçamentários da entidade;

9.17. determinar à 4ª Secex que avalie o atingimento das metas e resultados institucionais contemplados no contrato de gestão quando da avaliação dos relatórios de gestão e das contas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);

9.18. encaminhar cópia desta decisão, acompanhada de relatório e proposta de deliberação e das partes essenciais do processo, ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, para as medidas que entender cabíveis no tocante à acumulação de cargos do Sr. Gonzalo Vecina Neto;

9.19. encaminhar cópia desta decisão, acompanhada de relatório e proposta de deliberação à Procuradoria da República no Distrito Federal, para subsidiar a instrução do Processo Administrativo nº 1.00.000.005878/2004-18, haja vista a solicitação de fls. 350-A e despacho do então relator a fls. 353;

9.20. encerrar o processo e arquivar, com fundamento no art. 169 do RI/TCU e no art. 40 da Resolução TCU nº 191/2006, os presentes autos.

10. Ata n° 16/2010 – 1ª Câmara.11. Data da Sessão: 18/5/2010 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2572-16/10-1.13. Especificação do quorum:13.1. Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente) e José Múcio Monteiro.13.2. Auditores convocados: Augusto Sherman Cavalcanti e Marcos Bemquerer Costa.13.3. Auditor presente: Weder de Oliveira (Relator).

(Assinado Eletronicamente)VALMIR CAMPELO

(Assinado Eletronicamente)WEDER DE OLIVEIRA

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)JÚLIO MARCELO DE OLIVEIRA

Procurador

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