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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.745/2011-1

GRUPO II – CLASSE V – PLENÁRIOTC-000.745/2011-1 Natureza: Relatório de AuditoriaUnidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DnitResponsáveis: Alfredo Soubihe Neto (CPF 020.109.818-04), Cristiane Subtil de Oliveira (CPF 560.479.321-34), Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira (CPF 306.587.481-49) e Octacílio Oliveira Cunha (CPF 551.820.038-20)Advogados constituídos nos autos: Tathiane Vieira Viggiano Fernandes (OAB/DF 27.154) e outros

SUMÁRIO: RELATÓRIO DE AUDITORIA. OBRAS DA BR-060 TRECHO ABADIA DE GOIÁS/GO - JATAÍ/GO. CONSTATAÇÃO DE SOBREPREÇO NOS SERVIÇOS DE TERRAPLENAGEM CONSTANTES DO PROJETO LICITADO DECORRENTE DE QUANTITATIVO EXCESSIVO DOS SERVIÇOS. OITIVAS. AUDIÊNCIAS. REJEIÇÃO DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA. NÃO DESCARACTERIZAÇÃO DA SUPERAVALIAÇÃO DO VOLUME DE SERVIÇOS. DETERMINAÇÕES. RECOMENDAÇÃO.

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secob-2 (peça 118), aprovada pelos dirigentes da unidade técnica.

“Trata-se de análise às oitivas e audiências exaradas pelo Acórdão 1.467/2011-TCU-Plenário, referentes à auditoria realizada no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit com o objetivo de verificar a consistência das informações constantes das seções transversais de terraplenagem utilizadas no projeto da obra de adequação de trecho rodoviário na BR-060/GO, em cumprimento à determinação prolatada pelo Acórdão 3.405/2010-TCU-Plenário.

HISTÓRICO2. Em decorrência de auditoria realizada nas obras de adequação rodoviária da

BR-060/GO, trecho compreendido entre as cidades de Abadia de Goiás/GO e Jataí/GO, a equipe de fiscalização constatou que as seções de aterro que fundamentaram o quantitativo dos serviços de terraplenagem licitados apresentam áreas superiores às obtidas a partir da topografia primitiva (levantamento topográfico inicial do terreno) que subsidiou a elaboração do projeto base da licitação, o que resultou em um sobrepreço global estimado de R$ 34.223.689,02 no valor total contratado, conforme detalhado no achado ‘sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’ constante do Relatório de Auditoria 20/2011 (peça 42).

3. Destarte, por intermédio do Acórdão 1.467/2011 – TCU – Plenário, este Tribunal determinou à 2ª Secob que realizasse a oitiva do Dnit e dos consórcios contratados para execução das obras – Construmil/CCB/Cetenco, Queiroz Galvão/Via, Trier/Goiás/Etec, Delta/JM/Cbemi e Egesa/Emsa –, assim como a audiência dos Srs. Cristiane Subtil de Oliveira, Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira e Octacílio Oliveira Cunha, na qualidade de membros da Comissão responsável pela aprovação do Projeto Executivo base do Edital 832/2009-Dnit/GO, para que se manifestassem acerca do sobrepreço apontado.

4. Em resposta às oitivas e audiências, o Dnit, as empresas construtoras e os responsáveis pela aprovação do projeto apresentaram suas manifestações, a seguir examinadas.

EXAME TÉCNICOAnálise das respostas às audiências e às oitivas relativas ao achado ‘sobrepreço decorrente

de quantitativo inadequado’

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 000.745/2011-1

I. Oitiva do Dnit5. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 59), foi comunicada, na pessoa de seu Diretor-

Geral, a oitiva do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit, para que se manifestasse acerca do sobrepreço no valor de R$ 34.223.689,02 apurado nos Contratos 727/2010-00, 729/2010-00, 730/2010-00, 731/2010-00 e 739/2010-00, devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas a partir da topografia primitiva.

I.1. Resposta:6. Em expediente do dia 5/7/2011 (peça 93), o Dnit apresentou sua manifestação em

resposta à oitiva. Em síntese, argumentou que as áreas superiores constatadas nas seções apresentadas no relatório de fiscalização decorrem da desconsideração, pela equipe de fiscalização, das áreas provenientes da remoção da camada vegetal, da conformação do canteiro central, do escalonamento dos taludes e da redução do acostamento junto ao canteiro central.

7. Inicialmente, o defendente expôs, no que tange ao tópico ‘remoção de camada vegetal’, que o volume de material proveniente da limpeza das áreas de corte não deve ser utilizado na confecção dos aterros, visto que, devido ao alto teor de matéria orgânica, o solo deveria ser destinado a bota-fora.

8. Entendeu que a consideração feita pela equipe de auditoria – ‘caso a limpeza da camada vegetal ainda não houvesse sido considerada, a camada vegetal proveniente das seções em corte teria como destino os aterros, visto que não houve desconto do volume oriundo da camada vegetal das seções em corte para aplicação nos aterros’ – não traz nenhum acréscimo à matéria em pauta, visto que, a seu ver, a efetivação de desconto do volume oriundo da camada vegetal das seções em corte no calculo do volume de terraplenagem traria benefício aos contratados.

9. Acrescentou que as seções apresentadas pela projetista, em reposta ao relatório preliminar, evidenciaram que não foi considerada a camada vegetal no levantamento topográfico originário. Assim, entendeu que ficou demonstrada a necessidade de se considerar a área proveniente da camada vegetal no levantamento de área de aterro.

10. Em relação ao tópico ‘conformação dos canteiros centrais’, a citada Autarquia argumentou que os volumes necessários para a conformação dos canteiros centrais não foram considerados no cálculo de volume efetuado pela equipe de auditoria. Complementou que nas seções analisadas pela equipe de auditoria as linhas de talude não se interligam com as linhas do terreno natural na direção do canteiro central, tornando-se, assim, impossível a obtenção dos volumes provenientes da conformação do canteiro central.

11. No que se refere ao ‘escalonamento dos taludes existentes’, justificou que, para execução dos degraus no talude, necessita-se de operação de escavação, carga e transporte do material, mesmo que haja a reutilização do material no corpo de aterro. Acrescentou que após o serviço de escavação, faz-se necessário preencher os degraus formados pelo escalonamento do talude, com o consequente espalhamento e compactação do material. Diante das considerações, afirmou que essa foi a premissa utilizada no projeto, visto que não se trata de majoração de aterro, mas de compatibilização da utilização desse material na apropriação do custo de volume de aterro.

12. Ademais, argumentou que os degraus apresentados nos taludes decorrentes do arrasamento estão em conformidade com as dimensões máximas definidas no projeto de execução, sendo que qualquer discrepância, por ser mínima, não influiu no cálculo do volume final de aterro.

13. No que tange ao tópico ‘redução do acostamento’, a defendente não aduziu maiores justificativas para demonstrar a necessidade de se executar novos serviços de terraplenagem no aterro existente.

14. Diante das justificativas expostas, o Dnit concluiu que não se sustentam os indícios levantados pela equipe de auditoria referentes ao sobrepreço no serviço de terraplenagem decorrente de quantitativo inadequado. Nesse sentido, considerou que a exatidão na execução e medição dos serviços será garantida ao se observar suas normas de serviços pertinentes à matéria na fase de

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execução das obras, visto que a Autarquia, por intermédio de empresa supervisora, acompanha a execução da obra.

15. O defendente ainda apresentou, com o objetivo de ratificar suas considerações, em anexo a sua manifestação, resposta do consórcio supervisor da obra ao questionamento feito a respeito da adequabilidade das seções transversais de terraplenagem apresentadas no projeto. O referido consórcio informou, tendo por base a terraplenagem que já foi executada, que as diferenças apresentadas tornam-se irrelevantes em relação ao volume de terraplenagem do projeto executivo.

16. Por fim, o Dnit encaminhou peças gráficas (peça 93, p. 17), produzidas pela projetista, com o intuito de confirmar os volumes apresentados no projeto.

II. Oitiva do Consórcio Egesa / Emsa17. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 58), foi comunicada, na pessoa de seu

representante legal, a oitiva do Consórcio Egesa / Emsa, detentor do Contrato 739/2010-00, para que se manifestasse, se assim o desejasse, acerca da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

II.1. Resposta:18. Em expediente do dia 22/7/2011 (peça 97), o mencionado consórcio apresentou sua

manifestação em resposta à oitiva.19. O manifestante declarou que já executou serviços de terraplenagem em cerca de 14 km

de extensão nos corpos de aterro, o que atestaria, assim, a conformidade dos quantitativos constantes do projeto executivo.

20. Acrescentou que estudos levados a efeito por seus técnicos indicaram que escalonamentos de taludes deveriam compor as áreas de aterro na quantificação dos serviços de terraplenagem. Nesse sentido, considerou que tais escalonamentos implicam na execução dos procedimentos de escavação, carga e transporte, assim como reduzem a produtividade das equipes mecânicas, tornando mais oneroso o aterro nesta situação.

21. Complementou que os degraus foram projetados com dimensões apropriadas, visto que estão dimensionados para atender as necessidades técnicas e operacionais de construção.

22. Por fim, observou que os quantitativos finais são apurados no momento da execução, com o devido acompanhamento do Dnit e da supervisora.

III. Oitiva do Consórcio Construmil / Ccb / Cetenco 23. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 52), foi comunicada, na pessoa de seu

representante legal, a oitiva do Consórcio Construmil / Ccb / Cetenco, detentor do Contrato 727/2010-00, para que se manifestasse, se assim o desejasse, acerca da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

III.1. Resposta:24. Em expediente do dia 28/6/2011 (peça 85), o consórcio apenas informou que estava

analisando os quantitativos do projeto de terraplenagem.IV. Oitiva do Consórcio Delta / JM / Cbemi25. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 51), foi comunicada, na pessoa de seu

representante legal, a oitiva do Consórcio Delta / JM / Cbemi, detentor do Contrato 731/2010-00, para que se manifestasse, se assim o desejasse, acerca da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

IV.1. Resposta:26. Em expediente do dia 27/6/2011 (peça 80), o mencionado consórcio apresentou sua

manifestação em resposta à oitiva.27. O manifestante declarou que tendo executado parcialmente em torno de 5 km de

extensão de corpos de aterro, ficou clara a propriedade dos volumes constantes do projeto

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executivo, uma vez que os quantitativos aferidos e medidos até o momento muito de aproximaram dos valores constantes naquele projeto.

28. Acrescentou que a execução dos escalonamentos de taludes implica em operação de escavação, carga e transporte. Ademais, fez considerações que os volumes que estão sendo escavados na execução dos escalonamentos estão sendo reaproveitados na confecção dos corpos de aterro.

29. Por fim, considerou que os degraus projetados foram concebidos com dimensões apropriadas, exatamente conforme seções-tipo constantes do projeto de execução e em conformidade com sua real implantação na obra.

V. Oitiva do Consórcio Trier / Goiás / Etec 30. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 55), foi comunicada, na pessoa de seu

representante legal, a oitiva do Consórcio Trier / Goiás / Etec, detentor do Contrato 730/2010-00, para que se manifestasse, se assim o desejasse, acerca da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

V.1. Resposta:31. Em expediente do dia 1/7/2011 (peça 99), o mencionado consórcio apresentou sua

manifestação em resposta à oitiva.32. Inicialmente, a manifestante argumentou que a diferença no quantitativo de

terraplenagem apontada no relatório de auditoria adveio da desconsideração, pela equipe de fiscalização, das operações de compactação do fundo do terreno primitivo, bem como dos volumes de escavação, carga e transporte decorrentes do escalonamento dos taludes. Acrescentou que tais operações são fundamentais e imprescindíveis para garantir a qualidade do aterro.

33. Nesse sentido, ressaltou que o processo de escalonamento do aterro existente, embora não importe acréscimo de volume, obviamente implica em volume de terra movimentado, que, apesar das distâncias curtas, devem ser quantificados no projeto.

34. Salientou que o projeto se limitou a considerar as áreas referentes aos escalonamentos apenas nas áreas das seções de aterro, indicando que os volumes escavados na execução dos escalonamentos estão sendo reaproveitados na confecção dos corpos de aterro.

35. Por fim, considerou que as seções de cálculo apresentadas pela empresa projetista especificam, de maneira clara, quais são as parcelas de áreas que formaram cada seção de cálculo.

VI. Oitiva do Consórcio Queiroz Galvão / Via 36. Em ofício datado de 3/6/2011 (peça 57), foi comunicada, na pessoa de seu

representante legal, a oitiva do Consórcio Queiroz Galvão / Via, detentor do Contrato 729/2010-00, para que se manifestasse, se assim o desejasse, acerca da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

VI.1. Resposta:37. Em expediente do dia 27/6/2011 (peça 82), o mencionado consórcio apresentou sua

manifestação em resposta à oitiva.38. Primeiramente, o manifestante registrou que a suposta irregularidade apontada pela

equipe de auditoria não caracteriza nenhum sobrepreço/superfaturamento no contrato firmado pelo consórcio, na medida em que nada havia sido medido ou faturado.

39. Nesse sentido, salientou que eventual divergência entre as áreas das seções transversais dos trechos em aterro e as áreas da topografia primitiva que subsidiou a elaboração do projeto não enseja, por si só, prejuízo ao erário, haja vista tratar-se de contrato cujo regime de execução é o de empreitada por preço unitário, sendo pago apenas os serviços efetivamente executados.

40. Por fim, registrou que os serviços de terraplenagem estavam sendo executados e medidos de acordo com a realidade em campo e com as instruções e normas de medição aplicáveis ao caso.

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VII. Análise das oitivas41. Preliminarmente, mostra-se oportuno rememorar que o projeto foi aprovado sem que as

peças gráficas relativas às seções transversais de terraplenagem por estaca tivessem sido apresentadas pela projetista (Spazio Urbanismo e Engenharia). Nesse sentido, após solicitação deste Tribunal, os gráficos das seções de terraplenagem que supostamente teriam fundamentado o cálculo das movimentações de terra no projeto foram encaminhados para análise deste órgão de controle (peças 29, 30, 31, 32 e 33). Ato contínuo, a equipe de fiscalização, tendo por base comparações efetuadas entre as seções extraídas do levantamento topográfico da primitiva que subsidiou a elaboração do projeto e as seções utilizadas no projeto para cálculo das movimentações de terra (peça 42, p. 49/69), constatou que as seções de aterro utilizadas para cálculo do volume de movimentação de terras possuíam áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

42. Outrossim, recorda-se que, diante do percentual de acréscimo verificado na amostra selecionada, a equipe de auditoria, mediante extrapolação, calculou o volume total superestimado de aterro para os cinco lotes de construção da rodovia, conforme dados apresentados no Quadro 1.

QUADRO 1 – Superestimativa de volume

Lote Trecho (Estacas)

Amostras selecionada

(Estacas)Seção (Tipo)

Superestimativa amostra (%) Aterro contratado (m³) Superestimativa

total (m³)

Lote 1 0-2.550 93-105 e 2.079-2.100 Aterro 24,00 1.792.709,38 346.976,01

Lote 2 2.550-5.025 4.498-4.500 Aterro 27,85 2.434.544,84 530.325,18Lote 3 5.025-7.500 5.376-5.380 Aterro 26,22 2.763.361,86 574.040,15Lote 4 7.500-10.133 8.084-8.085 Aterro 18,43 2.127.260,28 331.042,87Lote 5 10.883-14.374 13.083-13.090 Aterro 25,23 2.210.674,33 445.383,00

Fonte: Relatório de Fiscalização 20/2011 (peça 42, p. 8-9 e 17)

43. Em face da superestimativa verificada, o Dnit e as empresas construtoras apresentaram suas manifestações no sentido que tais áreas superiores constatadas nas seções decorreriam das áreas provenientes da remoção da camada vegetal, da conformação do canteiro central, do escalonamento dos taludes e da redução do acostamento. Ou seja, argumentam que a área das seções de projeto deveriam considerar, além da área calculada pela equipe de auditoria, as áreas provenientes dos serviços supracitados.

44. Nesse sentido, o Dnit, em sua manifestação, encaminhou peças gráficas, produzidas pela projetista, com o objetivo de ratificar os volumes apresentados no projeto (peça 93, p. 17-75). Assim, utilizando como amostra as mesmas seções analisadas pela equipe de fiscalização, tentou demonstrar – pela soma das áreas provenientes do programa Topoghaph, da remoção da camada vegetal, da conformação do canteiro central, do escalonamento dos taludes e da redução do acostamento – a pertinência das áreas constantes dos quadros de quantificação dos materiais (quadros de cubação) apresentados no projeto.

45. Destarte, mostra-se apropriado nesta instrução, além de analisar a pertinência das considerações apresentadas pelas manifestantes, aumentar a amostra que fundamenta a superestimativa apontada no quantitativo de movimentação de terras.

VII.1. Das considerações apresentadas pelas manifestantes:46. As manifestantes argumentam, consoante já exposto, que as áreas superiores

constatadas nas seções apresentadas no relatório de fiscalização decorrem da desconsideração das áreas provenientes da remoção da camada vegetal, da conformação do canteiro central, do escalonamento dos taludes e da redução do acostamento. Dessa forma, analisa-se a pertinência das considerações apresentadas.

47. No que tange a ‘remoção da camada vegetal’, quando se compararam as cotas apresentadas nos marcos planialtimétricos constantes do projeto geométrico (peça 111, item 1 – Projeto Executivo, volume 2, TOMO I) com as cotas dos mesmos marcos constantes do

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levantamento topográfico da primitiva que subsidiou o cálculo do volume de movimentação de terras (peça 111, item 4) ficou evidenciado que as cotas do citado levantamento já haviam sido reduzidas em 0,20m, provavelmente para considerar as operações de limpeza, consoante demonstrado no Quadro 2. Ademais, a própria nomenclatura dos arquivos do referido levantamento topográfico fazem referência à redução em 0,20m: ‘Est 0 a 2550 -0,20m.dwg’, ‘Est 2550 a 5025 -0,20m.dwg’, etc. Destarte, deduz-se que a área decorrente da remoção da camada vegetal já havia sido considerada no relatório de auditoria.

QUADRO 2 – Cotas Marcos PlanialtimétricosLote Marcos Projeto

Geométrico Levantamento Topográfico Diferença (m)

Lote 1

M-02 773,071 772,871 0,20

M-03 764,65 764,450 0,20

M-06 740,398 740,198 0,20

M-07 743,235 743,035 0,20

M-18 551,152 550,952 0,20

M-19 555,321 555,121 0,20

Lote 2M-36 521,9 521,700 0,20

M-37 512,34 512,140 0,20

Lote 3M-44 510,886 510,686 0,20

M-45 514,796 514,596 0,20

Lote 4

M-66 555,318 555,118 0,20

M-67 557,419 557,219 0,20

M-80 698,466 698,266 0,20

M-81 700,828 700,628 0,20

Lote 5

M-104 754,7260 754,526 0,20

M-105 764,3340 764,131 0,20

M-106 829,9120 829,712 0,20

M-107 837,7460 837,544 0,20

Fonte: Projeto Executivo Duplicação BR-060/GO (peça 111, item 1)

48. No que se refere a ‘conformação dos canteiros centrais’, em análise dos gráficos das seções de terraplenagem utilizadas no projeto para cálculo das movimentações de terra (peças 29, 30, 31, 32 e 33), percebe-se que, nada obstante as linhas de talude constantes das citadas seções não se interligarem com as linhas do terreno natural na direção do canteiro central, a inclinação do talude no bordo interno da pista projetada possui declividade muito menos acentuada que a prevista no bordo externo, provavelmente para considerar a conformação dos canteiros centrais. Consequentemente, a área decorrente de tal conformação já havia sido, caso não na totalidade devido à falta de interligação com a linha do terreno, em sua grande maioria, considerada no relatório.

49. Quanto ao ‘escalonamento dos taludes’, consoante preceituado no item 5.3.6 da Especificação de Serviço Dnit 108/2009-ES, o volume proveniente do arrasamento do aterro existente será novamente aplicado no aterro, completando-se somente após, com material importado, toda a largura da seção. Ou seja, todo o material escavado para a execução do escalonamento deverá ser reutilizado na mesma seção de aterro.

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50. Ocorre que, em análise do quadro de distribuição dos materiais constante do projeto (peça 111, item 1 – Projeto Executivo, Volume 3, TOMO I, fls. 222/281), verifica-se que a origem dos materiais a serem compactados em trechos nos quais está prevista a realização do escalonamento do talude, incluindo as áreas decorrentes do próprio escalonamento, são cortes distantes ou empréstimos, mas não o próprio material proveniente do escalonamento que deveria ser reutilizado.

51. A título de exemplo, explicita-se o aterro compreendido entre as estacas 94 a 106 da pista esquerda, no qual se verifica, por meio do quadro de distribuição dos materiais constante do projeto, que, apesar de terem sido apresentados escalonamentos nas peças gráficas ora encaminhadas (peça 93, p. 17-75), todo o material do aterro provém de cortes executados entre as estacas 111 a 147, 151 a 173 e 190 a 233 (peça 111, item 1 – Projeto Executivo, Volume 3, TOMO I, fl. 225). Ou seja, se realmente houvesse sido previsto no projeto escalonamento de taludes neste trecho, parte do material de aterro seria proveniente do próprio trecho compreendido entre as estacas 94 a 106.

52. Ademais, nada obstante o Dnit tentar justificar que os degraus foram projetados com dimensões apropriadas, em simples observação das peças gráficas ora encaminhadas (peça 93, p. 17-75), tendo-se por base a malha retangular do desenho, percebe-se que os degraus decorrentes do arrasamento do talude não estão em conformidade com as dimensões máximas definidas no projeto (peça 111, item 1 – Projeto Executivo, Volume 2, TOMO I, fls. 309/310).

53. Diante do exposto, conclui-se que, embora seja necessário realizar operações de escavação e compactação de material ao se executar degraus nos taludes, tal escalonamento não justificativa a superestimativa apontada pela equipe de fiscalização.

54. A respeito da ‘redução do acostamento’, nada obstante o Dnit não ter esclarecido a razão do impacto desse serviço no acréscimo do volume, vale lembrar que o objeto licitado incluía a restauração da pista existente, contemplando serviços específicos para tratamento do pavimento. Ademais, não se vislumbra qualquer necessidade de substituição do material que compõe o aterro existente devido à redução do acostamento.

55. Ressalta-se, em relação às áreas superiores constatadas nas seções apresentadas no relatório de fiscalização, que em exame procedido nas peças gráficas apresentadas na manifestação do Dnit (peça 93, p. 26), a título de exemplo cita-se a seção referente à estaca 96, percebeu-se que a área constante da legenda é superior a área medida graficamente. Por exemplo, enquanto o somatório das áreas constantes da legenda monta a 395,10 m², referente à área total de aterro, medindo-se graficamente a respectiva área alcança-se apenas 352,66 m² (peça 111, item 8, diferença área_Est 96). Cumpre explicitar que quando maior a área obtida nas seções, maior será o volume de terraplenagem.

56. Finalmente, insta salientar que, após a equipe de fiscalização constatar que a topografia primitiva do terreno constante das seções encaminhadas dava ensejo a volumes de terraplenagem superiores aos obtidos pela topografia primitiva que subsidiou a elaboração do projeto, a empresa projetista passou a utilizar, em suas manifestações (peças 17 e 93), a topografia primitiva que subsidiou o projeto. Ou seja, implicitamente reconhecendo que a topografia primitiva constante nas seções inicialmente apresentadas não estava correta. Por último, tentou justificar que a diferença apontada decorreu de imprecisões do programa utilizado (peça 93, p. 11), conforme a seguir transcrito, quando se sabe que o sistema Topograph, por si só, não modifica a topografia do terreno:

(...) as seções de cálculo de volumes são meras representações gráficas de quantidades, que o programa utilizado [Topograph] gera a partir das áreas resultantes do somatório de todas as contribuições acima descritas [as áreas provenientes da remoção da camada vegetal, da conformação do canteiro central, do escalonamento dos taludes e da redução do acostamento], mas o faz de maneira disforme, mantendo inalterados os pontos ‘sólidos’ da nota de serviço (off-sets e eixo), sendo pouco representativa da realidade da seção efetiva a ser implantada em campo;

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57. Destarte, tais fatos induzem à suspeita de que a topografia primitiva do terreno nas seções de terraplenagem apresentadas pela projetista (Spazio Urbanismo e Engenharia), em cumprimento ao subitem 9.1.2 do Acórdão 2.501/2010-TCU-Plenário, foi modificada com o intuito de justificar os volumes superestimados de movimentações de terra constantes do projeto executivo que subsidiou a licitação.

VII.2. Da superestimativa no quantitativo:58. Cumpre relembrar que o projeto de engenharia ora analisado consiste na duplicação de

rodovia e restauração da pista existente, sendo que nos três primeiros lotes a pista duplicada será executada do lado esquerdo da pista existente, e nos demais lotes, do lado direito.

59. A composição do volume de terraplenagem, conforme consta no projeto, é exposta no quadro 3.

QUADRO 3 – Composição de volume

Lote Trecho (Estacas)

Pista Esquerda Pista Direita Retornos/Vias Laterais Volume total (m³)

Corte Aterro Corte Aterro Corte Aterro Corte Aterro

Lote 1 0-2.550 595.090,5 1.602.873,1 169.840,6 161.095,8 16.201 28.740,5 781.132,1 1.792.709,4

Lote 2 2.550-5.025 471.988,04 2.346.086,76 134.301,20 70.763,89 11.718,00 17.694,10 618.007,2 2.434.544,75

Lote 3 5.025-7.500 1.008,03 2.589.211,10 37.531,48 137.933,63 6.984,20 8.465,80 45.523,70 2.735.610,53

Lote 4 7.500-10.133 38.003,85 334.708,51 22.344,4 1.767.699,59 4.864,75 25.036,9 65.213,0 2.127.445,0

Lote 5 10.883-14.374 35.004,76 66.851,1 129.604,24 2,104.294,92 7.262,7 11.723,88 171.871,7 2.182.869,9

Fonte: Projeto Executivo Duplicação BR-060/GO (peça 111, item 1)

60. Considerando que a maioria do volume de terraplenagem será executada na pista a ser duplicada, nesta etapa processual selecionaram-se esses trechos, cujas movimentações de terra são mais significativas, para aprofundar o exame referente à superestimativa de quantitativos.

61. Esclarece-se que para esses trechos foram disponibilizados pelo Dnit arquivos compatíveis com o software ‘Topograph’, que possibilita, utilizando-se dos elementos do projeto geométrico e de terraplenagem, calcular o volume de movimentação dos materiais.

62. Destaca-se, conforme mencionado no relatório de fiscalização, que o arquivo com a extensão ‘.stq’, referente ao traçado horizontal no software ‘Topograph’, foi encaminhado à equipe de auditoria com a ausência de todos os vértices e elementos de curva, dificultando assim o cálculo dos volumes de movimentação de terras para todo o trecho onde será executada a pista duplicada. Ressaltou-se, no relatório de fiscalização, que em cópias padrão tais elementos acompanham o arquivo principal, induzindo à ilação de que tais elementos tenham sido omitidos intencionalmente.

63. Ante tal obstáculo, procurou-se, neste momento, com os arquivos disponíveis, uma alternativa técnica para se calcular os volumes em toda a pista a ser duplicada.

64. Então, utilizando-se dos arquivos encaminhados com a extensão ‘.sec’, referente às seções, que possuíam a topografia primitiva do terreno, conseguiu-se gerar o projeto geométrico. Ato contínuo, calcularam-se os volumes de terraplenagem para a pista a ser duplicada (peças 112, 113, 114, 115 e 116) por intermédio da área das seções transversais (peça 111, item 8).

65. Salienta-se que, devido à ausência de consideração da conformação do canteiro central nas seções-tipo de terraplenagem constantes dos arquivos compatíveis com o software ‘Topograph’ disponibilizados pelo Dnit, calculou-se o volume decorrente de tal conformação do canteiro fazendo-se uso do sistema ‘AutoCAD’.

66. Nesse sentido, selecionaram-se amostralmente os gráficos das seções a cada quatrocentas estacas, desenhou-se nas seções a área decorrente do canteiro central, para assim calcular o percentual médio de acréscimo do volume de terraplenagem decorrente de tal área para cada lote (peça 117).

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67. Os volumes resultantes da análise ora empreendida são apresentados no quadro 4.QUADRO 4 – Volume TCU

Lote Trecho Estacas

Volume (m³) Percentual de acréscimo - canteiro (%) Volume Total (m³)

Corte Aterro Corte Aterro Corte Aterro

Lote 1 0-2.550 519.470,49 1.210.475,22 6,38 10,02 552.612,71 1.331.745,53

Lote 2 2.550-5.025 395.918,56 1.724.426,27 0 12,15 395.918,56 1.933.990,71

Lote 3 5.025-7.500 716,060 1.892.503,63 0 8,31 716,060 2.049.853,03

Lote 4 7.500-10.133 21.445,717 1.318.831,42 0 10,31 21.445,717 1.454.831,01

Lote 5 10.883-14.374 114.716,23 1.527.231,51 0 7,66 114.716,23 1.644.257,76

Fonte: Análise TCU (peça 111, itens 7 e 8)

68. Assim, considerando os dados obtidos na análise empreendida nesta instrução, obtiveram-se os seguintes percentuais de superestimativa no volume de terraplenagem:

QUADRO 5 – Superestimativa de volume

Lote Trecho Estacas

Pista Selecionada Volume Projeto (m³) Volume TCU (m³)

Superestimativa (m³) Superestimativa (%)

Corte Aterro Corte Aterro Corte Aterro Corte Aterro

Lote 1 0-2.550 Pista Esquerda 595090,50 1.602.873,1 552.612,71 1.331.745,53 42.477,79 271.127,57 7,69 20,36

Lote 2 2.550-5.025

Pista Esquerda 471.988,04 2.346.086,76 395.918,56 1.933.990,71 76.069,48 412.096,05 19,21 21,31

Lote 3 5.025-7.500

Pista Esquerda 1.008,03 2.589.211,10 716,060 2.049.853,03 291,97 539.358,07 40,77 26,31

Lote 4 7.500-10.133 Pista Direita 22.344,4 1.767.699,59 21.445,717 1.454.831,01 898,683 312.868,58 4,19 21,51

Lote 5 10.883-14.374 Pista Direita 129.604,24 2.104.294,92 114.716,23 1.644.257,76 14.888,01 460.037,16 12,98 27,98

Fonte: Análise TCU (peça 111, itens 7 e 8)

69. Esclarece-se, para um melhor entendimento da questão, que no projeto em análise, devido aos volumes de corte e aterro não serem compensados no próprio trecho, sendo os volumes de aterro muito maiores do que os de corte, fez-se necessário prever a obtenção de materiais em empréstimos para compensar a deficiência de cortes no próprio trecho. Dessa forma, quanto maior o volume de aterro, maior será também o volume de corte, principalmente os decorrentes de empréstimos, geralmente com maiores distâncias de transporte.

70. Nesse sentido, como o volume de terraplenagem, no caso em questão, é principalmente definido pelo volume de aterro, compararam-se apenas os percentuais de superestimativas de aterro ora obtidos com os percentuais apontados no relatório de auditoria, conforme demonstrado no quadro 6.

QUADRO 6 – Superestimativa de volume9

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Lote Trecho (Estacas)

Seção (Tipo)

Relatório de Fiscalização Esta InstruçãoAmostra

selecionada (Estacas)

Superestimativa amostra (%)

Pistas selecionadas

Superestimativa (%)

Lote 1 0-2.550 Aterro 93-105 e 2079-2100 24,00 Pista Esquerda 20,36

Lote 2 2.550-5.025 Aterro 4498-4500 27,85 Pista Esquerda 21,31Lote 3 5.025-7.500 Aterro 5376-5380 26,22 Pista Esquerda 26,31Lote 4 7.500-10.133 Aterro 8084-8085 18,43 Pista Direita 21,51

Lote 5 10.883-14.374 Aterro 13083-13090 25,23 Pista Direita 27,98

71. Diante da comparação dos percentuais, cumpre explicitar as metodologias utilizadas em cada fase:

a) a época da fiscalização, o volume superestimado restringiu-se a diferença observada nas primitivas do terreno (seções utilizadas no projeto versus seções extraídas do levantamento topográfico). Assim, conforme exposto no subitem precedente, os volumes decorrentes da remoção da camada vegetal e da conformação do canteiro central já haviam sido consideradas no cálculo do volume superestimado;

b) nesta instrução, o volume superestimado foi obtido fazendo-se uso do sistema ‘Topograph’, utilizado para se calcular o volume com a seção-tipo de terraplenagem, e do ‘AutoCAD’, utilizado para se calcular amostralmente o volume decorrente do canteiro central. Assim, nesta etapa processual, considerando que as cotas do levantamento topográfico da primitiva do terreno já haviam sido reduzidas em 0,20m, provavelmente para considerar as operações de limpeza, os volumes decorrentes da remoção da camada vegetal e da conformação do canteiro central também foram considerados no cálculo do volume superestimado.

72. Cumpre salientar que os volumes decorrentes do escalonamento de talude e da redução do acostamento, pelos motivos expostos no subitem precedente, não foram considerados no cálculo dos volumes de terraplenagem em nenhuma das fases suprarrelacionadas.

VIII. Audiência dos Srs. Cristiane Subtil de Oliveira, Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira e Octacílio Oliveira Cunha

73. Em ofícios datados de 3/6/2011 (peça 54, 56 e 53), foram comunicadas as audiências dos Srs. Cristiane Subtil de Oliveira, Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira e Octacílio Oliveira Cunha, na qualidade de membros da Comissão responsável pela aprovação do Projeto Executivo base do Edital 832/2009-Dnit/GO, para que apresentem as razões de justificativa acerca do sobrepreço no valor de R$ 34.223.689,02 nos contratos originados pelo referido Edital, decorrente da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva.

VIII.1. Resposta:74. Em expedientes com teores semelhantes (peças 76, 94, 71 e 77), os responsáveis

apresentaram suas razões de justificativa.75. Inicialmente, os responsáveis apresentaram cópia das documentações pertinentes à

aprovação do projeto de adequação rodoviária da BR-060/GO - Portarias 244/2009 e 009/2010, assim como cópia da Instrução de Serviço/DG 13/2008, que define diretrizes para aprovação de projetos.

76. Ato contínuo, manifestaram-se que suas atuações na aprovação do projeto ocorreram conforme as determinações do Dnit e demais Instruções de Serviço referentes à matéria.

77. Confirmaram que as peças gráficas relativas às seções transversais de terraplenagem não foram apresentadas pela projetista na fase de análise e aprovação de projeto, tendo sido encaminhadas apenas quando da solicitação de informações efetuada pela equipe de fiscalização do

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TCU no interesse do TC-008.198/2010-1. De outro modo, argumentaram que os valores das áreas das seções encontravam-se na documentação aprovada.

78. Ademais, complementaram que a aprovação do projeto ocorreu dentro dos limites das informações prestadas, na medida em que o Dnit não dispõe de equipamentos topográficos e sistemas computacionais (AutoCAD, Topograph, etc.) para conferir as áreas das seções transversais de terraplenagem.

79. Dessa forma, concluíram que a constatação das inconsistências pela equipe de auditoria foi possível em virtude do levantamento topográfico efetuado por consultora da fiscalização.

80. Por fim, argumentaram que o sobrepreço apontado no relatório de fiscalização decorreu de extrapolação da amostra analisada, sendo que na época da obra as seções serão devidamente levantadas pelas empresas supervisoras.

IX. Análise das audiências81. Consoante às razões de justificativa apresentadas, os responsáveis fundamentam que a

aprovação do projeto ocorreu em conformidade com a Instrução de Serviço/DG 13/2008-Dnit (peça 94, p. 11-14), que estabelece diretrizes para avaliação e aprovação de projetos de infraestrutura de transportes.

82. Cumpre transcrever os incisos V e VI do art. 1º e inciso I do art. 2º, da citada instrução:art. 1. Para efeito desta Instrução de Serviço, definem-se:(...)V – avaliação de projeto: avaliação conceitual das soluções adotadas e verificação da

existência de todos os itens constantes da cada uma das disciplinas do projeto, de acordo com o que for especificado no edital e termo de referência correspondente, cabendo, tão somente, aos avaliadores, verificar se todos os itens exigidos estão contidos no projeto, se as normas utilizadas são as especificadas e vigentes e se os dados respeitam essas normas.

VI – aprovação de um projeto: ato formal através do qual é declarada a aceitação das informações constantes do projeto, decorrente da ‘avaliação do projeto’.

art. 2. A partir desta Instrução de Serviço instituem-se as seguintes diretrizes: (...)I – são de total responsabilidade da consultora e dos projetistas os levantamentos, dados,

estudos (de campo, de laboratório e de escritório), a correta aplicação das metodologias adotadas, procedimentos de cálculo, quantitativos e orçamento, bem como a apresentação de detalhes consistentes dos diversos itens do projeto, que venham a ser detectadas na obra, inclusive pelos reflexos financeiros provocados por tais falhas;

83. Assim, com os fundamentos acima expostos, e considerando ainda que o Dnit não possui sistemas computacionais (AutoCAD e Topograph) para conferência dos dados apresentados, os responsáveis tentam se eximir de qualquer responsabilidade pelas inconsistências verificadas no projeto.

84. A Lei 8.666/93, no entanto, define no art. 6º, inciso IX, alínea ‘f’, que o orçamento detalhado do custo global da obra deve estar fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados.

85. Percebe-se, então, nada obstante as definições constantes da citada Instrução de Serviço do Dnit, que os quantitativos dos serviços, conforme a Lei de Licitações, devem ser propriamente avaliados.

86. Cita-se, também, que o projeto foi analisado e aprovado sem que as peças gráficas relativas às seções transversais de terraplenagem por estaca tivessem sido apresentadas pela projetista, contrariando assim o estabelecido no item 4.2 da IS-209/Dnit: ‘Instrução de Serviço para Projeto de Terraplenagem’. Ressalta-se que a análise de tais seções mitigaria o risco de se aprovar o projeto com as deficiências apontadas pela equipe de fiscalização.

87. Ademais, na própria Instrução de Serviço/DG 13/2008 preceitua-se no art. 2º, inciso V (peça 94, p. 14):

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V - a efetiva execução dos trabalhos de campo e de laboratório, pelas consultoras, necessários para o desenvolvimento dos diversos estudos e do próprio projeto, serão atestados pelo Engenheiro Fiscal do serviço de elaboração do projeto, sendo este designado pelo respectivo superintendente em portaria específica; o atestado deverá constar no processo de avaliação do projeto.

88. Ou seja, no caso em apreço, como os responsáveis aprovaram o projeto sem que o atestado validando os trabalhos de campo e de laboratório constasse do processo de avaliação do projeto, assumiram o ônus pelas inconsistências nos estudos de campo apontadas no relatório de fiscalização.

89. Destarte, as razões de justificativa dos responsáveis pela aprovação do projeto devem ser rejeitadas.

90. Por fim, considerando que a irregularidade em exame foi praticada com grave infração à norma legal e/ou regulamentar, bem como que tal irregularidade pode ensejar medições a maior durante a execução da obra, com o consequente prejuízo ao Erário, propõe-se aplicar aos responsáveis a multa prevista no art. 58, inciso II, da LOTCU.

CONCLUSÃO91. Em análise empreendida em amostra com representatividade superior a 90% do volume

de aterro constante no projeto, manteve-se a superestimativa de quantitativos nos serviços de terraplenagem, inclusive com percentuais muito próximos aos apontados à época da fiscalização, conforme demonstrado no Quadro 6.

92. Assim, considerando a gravidade dos fatos apontados e o receio de grave lesão ao Erário, torna-se oportuno determinar ao Dnit que, durante a execução da obra, caso entenda necessário fazer uso de volumes de aterro na nova pista além dos relacionados no quadro 7, encaminhe a este Tribunal, no prazo máximo de quinze dias, a contar da efetivação de cada medição, estudo detalhado que fundamente tal decisão.

QUADRO 7 – Volume de terraplenagem

Lote Trecho (Estacas) Pista Volume (m³)

AterroLote 1 0-2.550 Pista

Esquerda 1.331.745,53

Lote 2 2.550-5.025 Pista Esquerda 1.933.990,71

Lote 3 5.025-7.500 Pista Esquerda 2.049.853,03

Lote 4 7.500-10.133 Pista Direita 1.454.831,01

Lote 5 10.883-14.374 Pista Direita 1.644.257,76

93. Ademais, no que se referem às respostas as audiências, considerando que a irregularidade em exame foi praticada com grave infração à norma legal e/ou regulamentar, bem como que tal irregularidade pode ensejar medições a maior durante a execução da obra, com o consequente prejuízo ao Erário, propõe-se aplicar aos responsáveis a multa prevista no art. 58, inciso II, da LOTCU.

94. Rememora-se que a falta do atestado validando os trabalhos de campo, como por exemplo dos estudos topográficos, contribuiu significativamente para que o projeto fosse aprovado com as inconsistências apontadas no relatório de fiscalização.

95. Por fim, devido principalmente à suspeita que a topografia primitiva do terreno nas seções de terraplenagem apresentadas pela projetista (Spazio Urbanismo e Engenharia), em cumprimento ao subitem 9.1.2 do Acórdão 2.501/2010-TCU-Plenário, foi modificada com o intuito

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de justificar os volumes superiores apresentados no projeto, propõe-se encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida ao Ministério Público Federal no Estado de Goiás, para adoção das medidas que entender cabíveis.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO96. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior propondo:a) rejeitar os argumentos apresentados pelo Diretor-Geral do Dnit em resposta à oitiva

acerca da irregularidade ‘sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’ registrada no relatório de auditoria 20/2011;

b) rejeitar os argumentos apresentados pelos consórcios Construmil/Ccb/Cetenco, Queiroz Galvão/Via, Trier/Goiás/Etec, Delta/JM/Cbemi e Egesa/Emsa, responsáveis respectivamente pelos contratos 727/2010-00, 729/2010-00, 730/2010-00, 731/2010-00 e 739/2010-00, em resposta às oitivas acerca da irregularidade ‘sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’ registrada no relatório de auditoria 20/2011;

c) rejeitar os argumentos apresentado pelos Srs. Cristiane Subtil de Oliveira, Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira e Octacílio Oliveira Cunha, em resposta às audiências acerca da irregularidade ‘sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’ registrada no relatório de auditoria 20/2011;

d) aplicar aos Srs. Cristiane Subtil de Oliveira (CPF 560.479.321-34), Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira (CPF 306.587.481-49) e Octacílio Oliveira Cunha (CPF 551.820.038-20), ante a aprovação do Projeto Executivo com quantitativos dos serviços de terraplenagem impropriamente avaliados, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/92, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar da notificação, para que comprovem, perante este Tribunal, nos termos do art. 214, III, alínea ‘a’, do Regimento Interno do TCU, o recolhimento da referida importância aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente acórdão até a data do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

e) determinar, com fundamento no art. 45 da Lei 8.443/1992, ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit que, no decorrer das obras, caso entenda necessário fazer uso de volumes de aterro na nova pista além dos referenciais indicados no quadro a seguir, encaminhe a este Tribunal, no prazo máximo de quinze dias, a contar da efetivação de cada medição, estudo detalhado que fundamente tal decisão, contemplando as seguintes informações necessárias para a verificação completa da conformidade dos quantitativos dos serviços de terraplenagem:

e.1.1) estudo de todas as seções de terraplenagem, definindo as que necessitam conformar o canteiro e quantificando os respectivos volumes;

e.1.2) demonstração analítica dos quantitativos de terraplenagem decorrentes do escalonamento dos taludes, caso o ente evidencie que a quantificação de tal volume faz-se necessário e encontra respaldo em suas especificações técnicas e critérios de medição, indicando as seções de terraplenagem que os necessitem;

e.1.3) todas as medições de terraplenagem já realizadas no trecho rodoviário em análise, com as respectivas memórias de cálculo e levantamentos topográficos que as fundamentam, compatíveis com os formatos nativos do software Topograph, nas extensões ‘M21’ e ‘DSO’, com todas as funcionalidades ativadas e georreferenciadas, inclusive com indicação das coordenadas e das cotas dos marcos topográficos utilizados;

e.1.4) quadros de cubação e de distribuição dos materiais atualizados;

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Lote Trecho (Estacas) Pista Volume (m³)

Aterro

Lote 1 0-2.550 Pista Esquerda 1.331.745,53

Lote 2 2.550-5.025 Pista Esquerda 1.933.990,71

Lote 3 5.025-7.500 Pista Esquerda 2.049.853,03

Lote 4 7.500-10.133 Pista Direita 1.454.831,01

Lote 5 10.883-14.374 Pista Direita 1.644.257,76

f) encaminhar cópia do presente acórdão, acompanhado das peças que o fundamentam, ao Ministério Público Federal no Estado de Goiás, para adoção das medidas que entender cabíveis em seu âmbito de atuação.”

É o relatório.

VOTO

Em análise nesta etapa processual as respostas às oitivas das empresas contratadas e do Dnit, bem como as razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis acerca da constatação, em auditoria realizada por este Tribunal, de sobrepreço decorrente da superestimativa dos serviços de terraplenagem nas obras da Rodovia BR-060, no trecho compreendido entre as cidades de Abadia de Goiás/GO e Jataí/GO. O mencionado sobrepreço foi apurado em auditoria realizada no âmbito do Fiscobras/2010, atuada no TC-008.198/2010-1. Por meio do Acórdão 3405/2010-TCU-Plenário, prolatado naqueles autos, foi determinado à Secob-2 que realizasse inspeção com vistas a verificar em campo a consistência das informações constantes das seções transversais de terraplenagem utilizadas no projeto da obra, fornecidos pelo Dnit. Em cumprimento a esse comando, foi autuado o presente processo a partir dos elementos coligidos na mencionada inspeção. Como resultado do trabalho da Secob-2, nestes autos foram ajustados os cálculos da superestimativa dos serviços de terraplenagem no trecho em foco das obras da BR-060. A partir das conclusões da unidade técnica, foram determinadas, por meio do Acórdão 1.467/2011-TCU-Plenário, as oitivas e audiências ora em análise, nos seguintes termos:

“9.1. determinar à 2ª Secob que:9.1.1. realize a oitiva do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit

para que se manifeste, no prazo de quinze dias, acerca do sobrepreço no valor de R$ 34.223.689,02 apurado nos Contratos 0727/2010-00, 0729/2010-00, 0730/2010-00, 0731/2010-00 e 0739/2010-00, decorrentes do Edital da Concorrência 832/2009-Dnit/GO, em razão da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva, contrariando assim os termos estabelecidos no art. 6º, inciso IX, alínea ‘f’, da Lei 8.666/93, conforme detalhado no Achado ‘Sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’;

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9.1.2. realize a oitiva dos consórcios Construmil/Ccb/Cetenco, Queiroz Galvão/Via, Trier/Goiás/Etec, Delta/JM/Cbemi e Egesa/Emsa, para que se manifestem, se assim o desejarem, no prazo de quinze dias, acerca dos sobrepreços apurados nos respectivos contratos decorrentes do Edital da Concorrência 832/2009-Dnit/GO, em razão da utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido ao emprego, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva, contrariando assim os termos estabelecidos no art. 6º, inciso IX, alínea ‘f’, da Lei 8.666/93, conforme detalhado no Achado ‘Sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’;

9.1.3. realize, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/92 c/c o art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, a audiência dos Srs. Flávio Murilo Gonçalves Prates de Oliveira, Cristiane Subtil de Oliveira e Octacílio Oliveira Cunha, na qualidade de membros da Comissão responsável pela aprovação do Projeto Executivo base do Edital 832/2009-GO, para que apresentem, no prazo de quinze dias, razões de justificativa em relação ao sobrepreço no valor de R$ 34.223.689,02 nos contratos originados pelo Edital da Concorrência 832/2009-Dnit/GO, decorrente de utilização de quantitativos inadequados nos serviços de terraplenagem devido à utilização, nos quadros de cubação do projeto, de áreas superiores às obtidas pela topografia primitiva, contrariando assim os termos estabelecidos no art. 6º, inciso IX, alínea ‘f’, da Lei 8.666/93, conforme detalhado no Achado ‘‘Sobrepreço decorrente de quantitativo inadequado’ ‘ do Relatório de Fiscalização elaborado pela equipe de auditoria da 2ª Secob, transcrito no relatório que fundamenta este acórdão;”

Conforme apontado no relatório precedente, as justificativas apresentadas em resposta às oitivas procuram descaracterizar o excesso do volume de terraplenagem apontado pela unidade técnica, alegando que nos cálculos realizados pela Secob-2 não teriam sido considerados os seguintes fatores: áreas provenientes da remoção da camada vegetal, conformação do canteiro central, escalonamento dos taludes e redução do acostamento junto ao canteiro central. Quanto às áreas provenientes da remoção da camada vegetal, a unidade técnica verificou que a alegação não prospera, uma vez que a comparação das cotas apresentadas nos marcos planialtimétricos constantes do projeto geométrico com as cotas dos mesmos marcos constantes do levantamento topográfico da primitiva, o qual subsidiou o cálculo do volume de movimentação de terras, evidencia que as cotas do citado levantamento já haviam sido reduzidas em 0,20 m, o que seria suficiente para considerar a operação de limpeza do terreno. Quanto à conformação dos canteiros centrais, a Secob-2 avaliou que embora as linhas de talude constantes das seções transversais não se interliguem com as linhas do terreno natural na direção do canteiro central, a inclinação do talude no bordo interno da pista projetada possui declividade muito menos acentuada que a prevista no bordo externo, provavelmente para considerar a conformação dos canteiros centrais. Dessa forma, conclui que a área decorrente de tal conformação já havia sido, pelo menos em sua grande maioria, considerada no cálculo efetuado pela unidade técnica. Quanto ao escalonamento dos taludes, concluiu que embora seja necessário realizar operações de escavação e compactação de material ao se executar degraus nos taludes, tal escalonamento não justifica a superestimativa nos quantitativos de serviços apontada pela equipe de fiscalização. Por fim, quanto à redução do acostamento, não foi apontado pelo Dnit ou pelos consórcios chamados em oitiva de que forma esse serviço impactaria o volume de terraplenagem. Não obstante a Secob-2 não ter encontrado nas respostas às oitivas elementos que justificassem a superestimativa dos volumes de terraplenagem apurados na obra, aquela unidade técnica efetuou o recálculo dos volumes questionados, bem como do valor do sobrepreço estimado, tendo em vista os novos dados obtidos nas oitivas. Dessa forma, chegou aos seguintes quantitativos de aterro admissíveis para os vários trechos da obra:

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Lote Trecho (Estacas) Pista Volume (m³)

AterroSobrepreço

Terraplenagem

Lote 1 0-2.550 Pista Esquerda 1.331.745,53 3.624.995,66

Lote 2 2.550-5.025

Pista Esquerda 1.933.990,71 5.998.335,09

Lote 3 5.025-7.500

Pista Esquerda 2.049.853,03 9.569.851,54

Lote 4 7.500-10.133

Pista Direita 1.454.831,01 5.444.865,26

Lote 5 10.883-14.374

Pista Direita 1.644.257,76 6.113.732,96

Total 30.751.780,51

Ante essas conclusões, propõe que seja determinado ao Dnit que, durante a execução da obra, caso entenda necessário fazer uso de volumes de aterro na nova pista além dos relacionados no quadro acima, encaminhe a este Tribunal, após a efetivação de cada medição, estudo detalhado que fundamente tal decisão. Entendo não caber reparos à análise empreendida pela unidade técnica, a qual incorporo às minhas razões de decidir, ao mesmo tempo em que acompanho a proposta de encaminhamento formulada. Verifico que por se tratar de serviço cuja mensuração exata previamente à execução da obra é tarefa extremamente árdua e sujeita a imprevistos, o encaminhamento proposto é o mais adequado, uma vez que não impede que a obra seja executada com eventual extrapolação dos volumes estipulados na tabela acima. Contudo, tendo em vista que os volumes de aterro calculados pela Secob-2 representam estimativa tecnicamente mais bem embasada que aqueles apresentados no projeto licitado pelo Dnit, faz-se necessário que aquela autarquia justifique eventuais acréscimos nos volumes de serviço em relação àqueles calculados pela unidade técnica. Ademais, por se tratar de contratação por preço unitário, o superfaturamento somente se concretizará caso as medições não correspondam aos serviços efetivamente executados. Por essa razão, além da providência proposta, entendo também cabível determinar à Secob-2 que faça o acompanhamento visando à avaliação das medições dos mencionados serviços. Quanto à análise das razões de justificativa apresentadas em resposta às audiências endereçadas aos responsáveis para que justificassem o sobrepreço apurado nos serviços de terraplenagem da obra, as alegações apresentadas mencionaram basicamente que:

a) a atuação dos responsáveis na aprovação do projeto ocorreu em conformidade com as determinações do Dnit e demais Instruções de Serviço referentes à matéria;

b) a aprovação do projeto ocorreu dentro dos limites das informações prestadas pela projetista, na medida em que o Dnit não dispõe de equipamentos topográficos e sistemas computacionais (AutoCAD, Topograph etc.) para conferir as áreas das seções transversais de terraplenagem;

c) o sobrepreço apontado no relatório de fiscalização decorreu de extrapolação da amostra analisada, sendo que na época da obra as seções serão devidamente levantadas pelas empresas supervisoras. A unidade técnica propõe que sejam rejeitadas as razões de justificativa apresentadas, tendo em vista que os responsáveis aprovaram o projeto licitado sem a sua devida avaliação, além de terem descumprido normas do próprio Dnit quanto à avaliação dos referidos projetos. Dessa forma, propõe a apenação dos responsáveis com a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992. Lamento por discordar da unidade técnica quanto à apenação dos responsáveis, embora esteja de acordo que suas razões de justificativa devam ser rejeitadas. Nesse sentido, considero alguns fatores como mitigadores das suas condutas. A uma, ainda não ocorreu efetivamente o superfaturamento dos serviços, já que o pagamento dependerá das medições efetuadas durante a

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execução da obra, as quais corroborarão ou não os volumes de serviço constantes do projeto aprovado; a duas, a possibilidade de que fatores imprevisíveis podem eventualmente influir no volume de serviços calculado; e, a três, a alegação de que os responsáveis não teriam tido acesso a ferramentas computacionais adequadas para o cálculo mais preciso dos volumes de terraplenagem do projeto analisado.15. Aliás, em razão dessa última alegação, entendo pertinente recomendar ao Dnit que adote providências, inclusive no campo normativo, se necessário, no sentido de prover as ferramentas computacionais e o devido treinamento no uso das mesmas aos seus técnicos responsáveis por análise de projetos de terraplenagem, exigindo-se deles o uso desses recursos como meio de aferição dos projetos analisados. Por fim, acolho a proposta de encaminhamento de informações ao Ministério Público Federal do Estado de Goiás para, se assim entender, averiguar a suspeita de que a topografia primitiva do terreno nas seções de terraplenagem apresentadas pela empresa projetista teria sido modificada com o intuito de justificar os volumes superestimados de movimentações de terra constantes do projeto executivo que subsidiou a licitação.

Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 13 de junho de 2012.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI Relator

ACÓRDÃO Nº 1474/2012 – TCU – Plenário

1. Processo TC-000.745/2011-1. 2. Grupo: II – Classe de assunto: V – Relatório de Auditoria.3. Responsáveis: Alfredo Soubihe Neto (CPF 020.109.818-04), Cristiane Subtil de Oliveira (CPF 560.479.321-34), Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira (CPF 306.587.481-49) e Octacílio Oliveira Cunha (CPF 551.820.038-20).4. Unidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit.5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade técnica: Secob-2.8. Advogado constituído nos autos: Tathiane Vieira Viggiano Fernandes (OAB/DF 27.154) e outros.

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria realizada no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit, objetivando verificar a consistência das informações constantes das seções transversais de terraplenagem utilizadas no projeto da obra de adequação de trecho rodoviário na BR-060,

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. Flávio Murilo Gonçalves de Oliveira, Octacílio Oliveira Cunha e Cristiane Subtil de Oliveira;

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9.2. determinar, com fundamento no art. 45 da Lei 8.443/1992, ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit que, no decorrer das obras, caso entenda necessário fazer uso de volumes de aterro na nova pista além dos referenciais indicados no quadro abaixo, encaminhe a este Tribunal, no prazo máximo de quinze dias, a contar da efetivação de cada medição, estudo detalhado que fundamente tal decisão, contemplando as seguintes informações necessárias para a verificação completa da conformidade dos quantitativos dos serviços de terraplenagem:

Lote Trecho (Estacas) Pista Volume (m³)Aterro

Lote 1 0-2.550 Pista Esquerda 1.331.745,53Lote 2 2.550-5.025 Pista Esquerda 1.933.990,71Lote 3 5.025-7.500 Pista Esquerda 2.049.853,03Lote 4 7.500-10.133 Pista Direita 1.454.831,01Lote 5 10.883-14.374 Pista Direita 1.644.257,76

9.2.1. estudo de todas as seções de terraplenagem, definindo as que necessitam conformar o canteiro e quantificando os respectivos volumes;

9.2.2. demonstração analítica dos quantitativos de terraplenagem decorrentes do escalonamento dos taludes, caso o ente evidencie que a quantificação de tal volume faz-se necessário e encontra respaldo em suas especificações técnicas e critérios de medição, indicando as seções de terraplenagem que os necessitem;

9.2.3. todas as medições de terraplenagem já realizadas no trecho rodoviário em análise, com as respectivas memórias de cálculo e levantamentos topográficos que as fundamentam, compatíveis com os formatos nativos do software Topograph, nas extensões “M21” e “DSO”, com todas as funcionalidades ativadas e georreferenciadas, inclusive com indicação das coordenadas e das cotas dos marcos topográficos utilizados;

9.2.4. quadros de cubação e de distribuição dos materiais atualizados;9.3. determinar à Secob-2 que realize o acompanhamento nas obras da BR-060, no trecho

compreendido entre as cidades de Abadia de Goiás/GO e Jataí/GO, seja no âmbito de futuras fiscalizações no empreendimento, ou de outra forma que entender mais adequada e tempestiva, objetivando verificar a adequação das medições dos serviços de terraplenagem dessa obra, no período em que forem executados esses serviços;

9.4. recomendar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes que adote providências, inclusive no campo normativo, se necessário, no sentido de prover as ferramentas computacionais e o devido treinamento no uso das mesmas aos seus técnicos responsáveis por análise de projetos de terraplenagem, exigindo-se deles o uso desses recursos como meio de aferição dos projetos analisados;

9.5. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como das peças que o fundamentam, ao Ministério Público Federal do Estado de Goiás para que aquele Parquet adote as providências que entender cabíveis quanto à suspeita suscitada pela Secob-2 de que a topografia primitiva do terreno nas seções de terraplenagem apresentadas pela empresa projetista (Spazio Urbanismo e Engenharia Ltda.) teria sido modificada com o intuito de justificar os volumes superestimados de movimentações de terra constantes do projeto executivo que subsidiou a Concorrência 832/2009-Dnit/GO;

9.6. dar ciência desta deliberação ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit e aos consórcios Construmil/CCB/Cetenco, Queiroz Galvão/Via, Trier/Goiás/Etec, Delta/JM/Cbemi e Egesa/Emsa, e

9.7. arquivar o presente processo.

10. Ata n° 22/2012 – Plenário.11. Data da Sessão: 13/6/2012 – Ordinária.

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12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1474-22/12-P.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (na Presidência), Valmir Campelo, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, José Jorge e Ana Arraes.13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator).13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO NARDES

(Assinado Eletronicamente)AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI

Vice-Presidente, no exercício da Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)PAULO SOARES BUGARINProcurador-Geral, em exercício

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