ações coletivas e a substituição processual pelos sindicatos

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AÇÕES COLETIVAS E A SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL PELOS SINDICATOS

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Ações ColetivAs e A substituição ProCessuAl

Pelos sindiCAtos

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1ª edição — 20102ª edição — 2014

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EDUARDO DE OLIVEIRA CERDEIRAAdvogado graduado pela Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo — PUC/SP. Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo — PUC/SP. Especialista em Contabilidade Jurídica pela

Fundação Getúlio Vargas — FGV/SP.

Ações ColetivAs e A substituição ProCessuAl

Pelos sindiCAtos

2ª edição

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EDITORA LTDA.LTR®LTR® Todos os direitos reservados

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br

Março, 2014

Cerdeira, Eduardo de Oliveira

Ações coletivas e a substituição processual pelos sindicatos / Eduardo de Oliveira Cerdeira. — 2. ed. — São Paulo : LTr, 2014.

Bibliografia

1. Ações coletivas 2. Direito do trabalho — Brasil 3. Direito processual do trabalho — Brasil 4. Direitos individuais 5. Relações de trabalho 6. Sindicatos — Leis e lesgislação — Brasil 7. Tutela jurisdicional — Brasil I. Título.

14-00079 CDU-347.9:331(81)

1. Brasil : Ações coleticas e a substitução processual pelos sindicatos : Processo trabalhista : Direito do trabalho 347.9:331(81)

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Versão impressa - LTr 4973.7 - ISBN 978-85-361-2828-3Versão digital - LTr 7745.5 - ISBN 978-85-361-2937-2

Dedico este trabalho a Deus, sem o qual nada é possível; e aos meus pais,

eternos professores e amigos, que sempre propiciaram e apoiaram o estudo.

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À Professora Doutora Patrícia Miranda Pizzol que, já na graduação da PUC-SP, me permitiu compreender a importância e a grandiosidade da atividade acadêmica e que, desde então, felizmente acompanho,

aprendendo constantemente com suas inestimáveis lições e orientações.

Às minhas amadas esposa e filha Karina e Sophia por me apoiarem e por aceitarem, com compreensão e com o carinho de sempre, minha ausência

nos momentos em que me dedicava a escrever esta obra.

A todos os meus colegas e amigos do escritório (especialmente aos advogados Mauro Cerdeira, Marcelo Cerdeira, Gutemberg Rocha, Roberto Palos) pela constante compreensão, apoio, auxílio e por me propiciarem intensos debates e discussões sobre o tema deste trabalho, que na realidade

é o nosso próprio trabalho cotidiano.

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sumário

ApresentAção ....................................................................................................................................................... 13

prefácio ................................................................................................................................................................ 19

introdução........................................................................................................................................................... 21

1. os sindicAtos .................................................................................................................................................. 25

1.1. Considerações iniciais .......................................................................................................................... 25

1.2. Histórico .................................................................................................................................................... 27

1.2.1. Fases da proibição, tolerância e do reconhecimento jurídico ................................... 30

1.3. O sindicalismo no Brasil ...................................................................................................................... 33

1.4. Natureza jurídica .................................................................................................................................... 37

1.5. Finalidade ................................................................................................................................................. 39

1.6. Dissídios individuais e dissídios coletivos .................................................................................... 41

1.7. A previsão da tutela de interesses individuais homogêneos na Consolidação das Leis Trabalhistas e na Constituição Federal ......................................................................................... 43

2. direito processuAl coletivo ......................................................................................................................... 45

2.1. O direito processual coletivo e o microssistema ........................................................................ 47

2.2. Direito processual coletivo — direito processual coletivo especial e direito processual coletivo comum .................................................................................................................................... 54

2.3. Princípios específicos do direito processual coletivo comum .............................................. 56

2.3.1. Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito do processo coletivo ............................................................................................................................................ 57

2.3.2. Princípio da máxima prioridade jurisdicional da tutela coletiva ............................. 63

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2.3.3. Princípio da disponibilidade motivada da ação coletiva ............................................ 64

2.3.4. Princípio da presunção da legitimidade ad causam ativa pela afirmação do direito ........................................................................................................................................... 65

2.3.5. Princípio da não taxatividade da ação coletiva .............................................................. 65

2.3.6. Princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva comum .............. 66

2.3.7. Princípio da extensão subjetiva da coisa julgada secundum eventum litis e princípio do transporte in utilibus ..................................................................................... 67

2.3.8. Princípio da subsidiariedade, do microssistema, do devido processo legal coletivo ou da aplicação residual do Código de Processo Civil ............................... 68

2.3.9. Princípio da ampla divulgação da demanda e da informação aos órgãos competentes ............................................................................................................................... 69

2.3.10. Princípio da máxima amplitude da tutela jurisdicional coletiva comum e o princípio da máxima efetividade do processo coletivo ........................................... 70

2.3.11. Princípio da obrigatoriedade da execução coletiva pelo Ministério Público ... 71

3. interesses/direitos .......................................................................................................................................... 72

3.1. Interesse privado, interesse público e interesses transindividuais ..................................... 73

3.2. Interesses transindividuais ................................................................................................................. 79

3.2.1. Interesses difusos ...................................................................................................................... 82

3.2.2. Interesses coletivos stricto sensu ........................................................................................ 84

3.2.3. Interesses individuais homogêneos ................................................................................... 87

3.2.4. Identificação das espécies de interesses transindividuais nas ações coletivas .. 96

4. Ações coletivAs e A tutelA JurisdicionAl dos interesses individuAis Homogêneos pelos sindicAtos (substituição processuAl) ........................................................................................................ 99

4.1. Condições da ação e pressupostos processuais ......................................................................104

4. 2. Competência ........................................................................................................................................108

4.3. Legitimidade .........................................................................................................................................115

4.3.1. Substituição processual e sindicatos ...............................................................................123

4.3.2. Autorização e rol de substituídos ......................................................................................134

4.3.3. Pertinência temática ..............................................................................................................140

4.3.4. Pré-constituição .......................................................................................................................142

4.4. Sentença .................................................................................................................................................144

4.5. Liquidação e execução ......................................................................................................................149

4.6. Coisa julgada e litispendência ........................................................................................................161

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4.7. Rito processual e ônus da prova ....................................................................................................177

4.8. Prescrição e relação com os interesses individuais .................................................................186

4.9. Continência entre ações coletivas para a tutela de interesses individuais homogêneos e ações individuais? ...........................................................................................................................192

4.10. Transação e renúncia .......................................................................................................................194

4.11. Alguns instrumentos processuais específicos da Justiça do Trabalho: dissídios co- letivos e ações de cumprimento ...................................................................................................201

conclusões ........................................................................................................................................................209

referênciAs bibliográficAs ...............................................................................................................................217

Anexos

Anexo I — Anteprojeto de Código Modelo de Processos Coletivos para Ibero-América .227

Anexo II — Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos (anteprojeto ela- borado no âmbito dos programas de pós-graduação da USP coordenado por Ada Pellegrini Grinover e Kazuo Watanabe) ......................................................................................236

Anexo III — Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos (anteprojeto ela- borado no âmbito dos programas de pós-graduação da UERJ e UNESA coordenado por Aluísio Gonçalves de Castro Mendes) .................................................................................260

Anexo IV — Anteprojeto da Nova Lei da Ação Civil Pública ........................................................279

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APresentAção

A obra que vem a lume, de autoria de Eduardo de Oliveira Cerdeira, intitulada Ações Coletivas e a Substituição Processual pelos Sindicatos, é fruto da dissertação de mestrado do autor, defendida perante a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da professora doutora Patrícia Miranda Pizzol.

Embasado em uma profunda pesquisa e dotado dos atributos de coerência, linearidade e coesão doutrinárias, o trabalho, defendido com verdadeira mestria no âmbito acadêmico, invocou naturalmente a sua apresentação na forma de livro à comunidade acadêmica e aos operadores do direito, principalmente do Direito do Trabalho, tendo sido agraciado com a concessão da honra e da satisfação de apresentar a obra ao mundo jurídico e aos cultores do Direito.

A obra insere-se no contexto da coletivização do processo do trabalho por meio da instrumentalização dos mecanismos de tutela processual dos direitos transindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos) na Justiça do Trabalho, tendo como tema principal a tutela sindical dos interesses individuais homogêneos pelos sindicatos; a qual se tornou conhecida no âmbito juslaboral como “substituição processual trabalhista”.

Entre os diversos óbices para a eliminação dos obstáculos de acesso à Justiça, não passou despercebido ao autor o fenômeno da refração psicológica dos diversos operadores do processo do trabalho à incrementação da esfera processual de proteção coletiva na Justiça do Trabalho, ao expor com suas próprias palavras, in verbis, que “É com orgulho que temos visto atualmente, mesmo diante da dificuldade dos juízos monocráticos em admitirem as ações coletivas, principalmente na esfera trabalhista, que essas ações têm sido efetivamente julgadas com análise do mérito, mesmo que muitas vezes por ordem de nossos tribunais”.

Neste mote, o autor disserta sobre a configuração da substituição processual trabalhista pelas entidades sindicais, à luz dos princípios, regras e institutos do denominado microssistema das ações coletivas, cujo núcleo é composto principalmente pela Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) e pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), e do posicionamento do Supremo Tribunal Federal, que conferiu interpretação extensiva ao art. 8º, III, da CF/88, para albergar a substituição processual

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ampla pelos sindicatos. O tema apresenta-se relevante e atual, principalmente após a revogação da antiga Súmula n. 310 do Tribunal Superior do Trabalho (pela Resolução n. 119/03) que, por meio de inadequada atividade legiferante, praticamente disciplinava a tutela dos interesses individuais homogêneos na Justiça do Trabalho, em detrimento das normas do microssistema processual coletivo.

Embora referida Súmula tenha sido cancelada no ano de 2003, seu espírito continua a viger na seara trabalhista, no pensamento de diversos operadores do Direito, fazendo--se mister um ativo movimento para a incrementação efetiva dos dispositivos do Direito Processual Coletivo na tutela dos interesses individuais homogêneos pelas entidades sindicais; movimento este no qual se insere a presente obra e o propósito do autor.

Para esse desiderato, o estudo se encontra estruturado em quatro capítulos que, distribuídos de forma coerente, didática e coesa, elucidam os principais aspectos da atuação das entidades sindicais na tutela dos denominados interesses individuais homogêneos, que, ao lado dos interesses difusos e coletivos, formam a tríade do gênero interesses transindividuais, possibilitando ao leitor uma completa compreensão da atuação das entidades sindicais nessa esfera de proteção coletiva, bem como do fenômeno da substituição processual pelos sindicatos.

O capítulo introdutório remete o leitor ao conhecimento dos principais aspectos das entidades sindicais, como seu conceito, evolução histórica, natureza jurídica e papel desempenhado, findando-se com a análise circunstancial dos dissídios individuais e coletivos e o exame do arcabouço normativo da tutela dos interesses individuais homogêneos na Consolidação das Leis do Trabalho e na Constituição Federal.

No passo seguinte, é apresentada uma visão panorâmica do Direito Processual Coletivo, a partir do estudo do denominado microssistema processual das ações coletivas, cujo núcleo normativo atualmente é formado pela Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 73.347/85) e pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), dentre outros diplomas normativos. Destaca-se, nesse ponto da obra, a afirmação pelo autor dos princípios do Direito Processual Coletivo, os quais constituem fontes normativas, informadoras e interpretativas dos diversos institutos da jurisdição coletiva.

No terceiro capítulo, o autor tratou dos interesses transindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos); conceituando-os, elencando suas principais características e diferenciando-os entre si, com vistas a possibilitar ao estudioso do direito uma real compreensão de cada uma dessas espécies de interesses juridicamente protegidos, principalmente dos interesses individuais homogêneos, cuja identificação nos âmbitos material e processual é pedra angular para o entendimento da denominada substituição processual pelas entidades sindicais.

Por fim, após trilhar o leitor pelas veredas das entidades sindicais e do Direito Processual Coletivo, o autor entrelaçou ambos os temas para analisar a atuação sindical na tutela dos interesses individuais homogêneos à luz do microssistema das

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ações coletivas, detalhando a condição atual da denominada substituição processual trabalhista em conformidade com a Lei da Ação Civil Pública e com o Código de Defesa do Consumidor; procedendo à análise de temas complexos como a necessidade ou não de autorização ou apresentação de rol de substituídos, a pertinência temática para a tutela sindical dos interesses individuais homogêneos, o pressuposto da pré- -constituição, bem como das peculiaridades da sentença proferida nas ações coletivas, da sua liquidação e execução, da concomitância entre lides coletivos e lides individuais versando sobre o mesmo objeto, do rito processual e de outros tópicos referentes às ações coletivas.

Entre os diversos méritos da obra, destaca-se a análise da substituição sindical sob os princípios do moderno Direito Processual Coletivo, contrapondo-os aos antigos preceitos da revogada Súmula n. 310 do Tribunal Superior do Trabalho que, embora fosse inconstitucional ou ilegal em vários aspectos, suas disposições tornaram-se os principais dispositivos regentes da substituição processual sindical na Justiça do Trabalho, sendo que, mesmo após o seu cancelamento, muitos operadores do direito continuam aplicando algumas das suas disposições, fazendo-se necessário analisar o delineamento atual da substituição processual trabalhista à luz da CF, da legislação trabalhista, da LACP, do CDC e dos posicionamentos do STF.

Evidentemente que a denominada substituição processual trabalhista constitui típico instrumento processual de tutela de interesses individuais homogêneos (já sendo admitida, em alguns casos, para interesses individuais heterogêneos) dos trabalhadores, estando, portanto, inserida no denominado microssistema das ações coletivas, cujo núcleo é composto pelas Leis ns. 7.347/85 (LACP) e 8.078/90 (CDC), de modo que, enquanto não sobrevierem normas especiais sobre a questão da substituição no processo do trabalho (como previsto no projeto de reforma sindical), a ela (inclusive à ação de cumprimento) aplicam-se as regras universais do CDC e da LACP, acrescidas das normas específicas do direito processual do trabalho e da aplicação subsidiária do direito processual comum.

O Código de Defesa do Consumidor, além de conferir contornos mais precisos ao objeto da ação civil pública, delineou uma série de conceitos cruciais para a celeridade e segurança desse universo de proteção coletiva, como a definição e a enunciação dos atributos essenciais e específicos de cada um dos interesses transindividuais (art. 81, incisos I, II e III), a previsão da tutela processual de interesses individuais homogêneos (art. 91 e seguintes), reformulação do alcance e efeitos da coisa julgada (art. 103, incisos I, II e III) e da litispendência (art. 104), etc. Contém, assim, regras genéricas e princípios jurídicos aplicáveis a todo instrumento processual de proteção de direitos transindividuais. As disposições do CDC da LACP aplicam-se todos os instrumentos processuais de tutela coletiva de direitos (mandado de segurança coletivo, mandado de injunção coletivo, substituição processual sindical, ação de cumprimento etc.) em face de determinação expressa do art. 21 da Lei n. 7.347/85 (acrescentado pela Lei n. 8.078/90).

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Ao proceder, o autor, à concatenação dos diversos institutos do microssistema das ações coletivas em derredor da substituição processual trabalhista, desempenha como jurista e cidadão um importante papel para a consolidação da atuação sindical na tutela dos interesses transindividuais e para a efetivação dos direitos sociais trabalhistas.

Lisonjeado pelo convite para apresentação desta obra, convido a comunidade jurídica à sua leitura, convicto de que contém importantes subsídios doutrinários e jurisprudenciais, que, certamente, contribuirão para a efetivação da tutela coletiva no âmbito do Judiciário Trabalhista.

São Paulo, janeiro de 2010.

Ronaldo Lima dos Santos Procurador do Trabalho.

Mestre e Doutor em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da USP.

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“Uma ideia torna-se uma força material quando ganha as massas organizadas.”

(Karl Marx, 1818-1883)

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PrefáCio

Fiquei muito feliz com o convite que recebi do autor Eduardo de Oliveira Cerdeira para prefaciar a sua obra Ações coletivas e a substituição processual pelos sindicatos.

Conheci o autor quando cursava Direito na PUC-SP. Estava no 3º ano do curso de graduação e já se destacava, sendo um dos melhores alunos da turma, inteligente, estudioso, interessado. O autor foi meu monitor durante a faculdade e, depois de formado, continuou auxiliando-me, como professor assistente, na Faculdade de Direito da PUC-SP. Quando ingressou no mestrado, pediu-me que o orientasse na elaboração da dissertação, o que me deixou muito honrada.

O trabalho que ora se apresenta à comunidade jurídica é uma adaptação da dissertação de mestrado submetida à defesa pública na PUC-SP, perante banca examinadora composta por mim e pelos professores Regina Vera Villas Boas e Marcelo Abelha Rodrigues, ocasião em que obteve a nota máxima, 10 (dez).

Cuida-se de obra atual, estruturada de forma precisa e clara, com amplo embasamento teórico. Além da doutrina pertinente, nacional e estrangeira, o autor não deixou de analisar, com espírito crítico, a jurisprudência existente sobre o tema, o que redundou numa abordagem completa da matéria.

Este livro se destina à análise da tutela coletiva, com enfoque para a atuação dos sindicatos na qualidade de substitutos processuais.

A obra foi dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo, o autor trata do tema dos sindicatos, abordando aspectos como o sindicalismo no Brasil, a natureza jurídica e a finalidade dos sindicatos, além de conceituar dissídios individuais e coletivos. No segundo capítulo, analisa o chamado direito processual coletivo, tratando do microssistema das ações coletivas, da classificação do direito processual coletivo em comum e especial, bem como dos princípios que informam o sistema da tutela coletiva. No terceiro capítulo, trata da classificação dos interesses/direitos em públicos, privados e transindividuais, bem como das diversas espécies de direitos transindividuais (direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos). No quarto capítulo cuida do tema central do trabalho, analisando as ações coletivas e a tutela jurisdicional dos interesses individuais homogêneos pelos sindicatos, enfrentando temas relevantes como

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competência, legitimidade, sentença, liquidação e execução, coisa julgada, litispendência, rito processual, ônus da prova, prescrição, continência, transação e renúncia.

Ressalte-se que o jovem autor percorre todo o caminho descrito, com grande maestria, procurando fundamentar todas as afirmações feitas na doutrina, mas sem perder de vista a jurisprudência pertinente, demonstrando amplo conhecimento teórico da matéria, bem como vasta experiência na área da tutela coletiva promovida pelos sindicatos.

Sem dúvida, o autor aborda o tema proposto com muita competência, seriedade e coragem. Parabenizo, assim, o autor e a LTr Editora pela presente obra que será, certamente, muito útil aos operadores do direito, advogados, professores, juízes, promotores, além dos alunos de graduação e pós-graduação.

São Paulo, fevereiro de 2010.

Patricia Miranda Pizzol Mestre e Doutora em Direito pela Faculdade de Direito da PUC-SP.

Pós-doutorada pela Universidade La Sapienza — Roma/Itália. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da PUC-SP e da Universidade

Prebisteriana Mackenzie.

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introdução

Este livro, agora em sua segunda edição revista, atualizada, e ampliada, tem por escopo o estudo teórico e principalmente prático da tutela jurisdicional dos interesses individuais homogêneos pelos Sindicatos, a denominada substituição processual.

Entre as diversas razões que nos levaram a escolher tal tema destaca-se o fato de que, infelizmente, mesmo após mais de 20 anos de vigência da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), mais de 20 anos da promulgação de nossa Carta Magna, e mais de 15 anos de vigência do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), ainda encontramos decisões (que como veremos não são poucas), que não possibilitam a efetividade da tutela processual coletiva buscada pelos entes legitimados, incluindo-se, claro, os Sindicatos.

Tais decisões parecem não levar em conta os inúmeros benefícios da tutela processual coletiva, entre os quais destacamos: a ampliação do acesso a justiça (o que evita que muitos direitos sejam deixados de lado em virtude de não representarem, individualmente e economicamente, valor considerável); a economia e a celeridade processual (as ações coletivas evitam acúmulo de processos individuais originados de fatos comuns, os quais acabam acarretando morosidade e mesmo falta de qualidade na entrega da prestação de jurisdicional); a maior segurança jurídica (que é atingida na medida em que se evitam decisões contraditórias sobre uma mesma matéria); e o maior respeito ao princípio da isonomia (que decorre do próprio fato de se evitarem decisões conflitantes para casos idênticos e do equilíbrio das partes propiciado pelo processo coletivo).

Nesta esteira, a especificação do tema decorre do fato de que, apesar de a Consolidação das Leis Trabalhistas ser um dos primeiros diplomas a trazer expressamente algumas hipóteses de tutela processual coletiva (destaquem-se os dissídios coletivos e as ações de cumprimento), encontramos na Justiça do Trabalho (indubitavelmente foro no qual é proposta a quase totalidade das ações coletivas pelos entes sindicais) certo “receio” em admitir a aplicação da legislação acima especificada que constitui um verdadeiro microssistema para a tutela processual coletiva, embora seja notável que nos últimos anos esta justiça especializada tem evoluído quanto a aplicação da legislação específica nos casos concretos.

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Tal fato (“receio na aplicação da legislação específica”) torna-se um verdadeiro entrave para a efetividade e a celeridade na entrega da prestação jurisdicional, que indubitavelmente é mais facilmente alcançada utilizando-se a mencionada e indispensável legislação quando da propositura de ações coletivas.

Ato contínuo, a especificação do tema decorre do fato de que, na Justiça do Trabalho, o instituto da substituição processual (no nosso entender natureza jurídica da legitimidade dos Sindicatos quando da propositura de ações coletivas para a tutela de interesses individuais homogêneos) parece ganhar realçado relevo, visto que é inegável que inúmeras demandas deixam de ser propostas em virtude dos trabalhadores ainda manterem relação de emprego com o empregador e temerem retaliações.

Neste sentido, a substituição processual possibilita que seja retirado, mesmo que apenas explicitamente e na fase de conhecimento, do polo ativo aquele que mantém relação direta com o empregador e que dificilmente irá acioná-lo enquanto ainda mantém o vínculo de emprego. Evita-se, assim, que a Justiça do Trabalho seja na realidade uma justiça dos “desempregados”.

Ressaltamos que o estudo do direito processual coletivo realmente não é tarefa fácil. Isto porque, inegavelmente, nossa cultura é de tutela individual de direitos. Nosso Código de Processo Civil e a própria Consolidação das Leis Trabalhistas apresentam claro cunho individualista tratando a tutela processual coletiva como exceção à regra. Alie-se a isso o fato de que poucas são as universidades que trazem como disciplina obrigatória o estudo do direito processual coletivo.

Tais aspectos terminam por dificultar a correta utilização dos institutos previstos em nossa legislação processual coletiva que, apesar de algumas críticas que serão abordadas neste trabalho, é uma das mais modernas do mundo.

Visamos com este livro destacar a importância do processo coletivo, principalmente quando discutimos direitos decorrentes das relações de trabalho, sendo nosso principal intuito levar o leitor a uma reflexão crítica a respeito de algumas questões teóricas e práticas a serem enfrentadas quando da tutela dos interesses individuais homogêneos pelos Sindicatos.

Não temos a pretensão de esgotar a matéria, e sim a pretensão de colaborar, de alguma forma, para o aprimoramento da tutela processual coletiva pelos Sindicatos, que, a nosso ver, somente será possível se conseguirmos levar o leitor a uma reflexão crítica sobre as questões teóricas e práticas discutidas neste trabalho.

Para tanto, estudaremos inicialmente o conceito de sindicalismo, sua evolução histórica e outros aspectos indispensáveis para a compreensão da função social dos Sindicatos e da razão de o legislador lhes ter outorgado legitimidade para a tutela processual coletiva (capítulo 1); estudaremos a legislação aplicável e o próprio direito processual coletivo, indubitavelmente um ramo autônomo do direito que possui princípios próprios (capítulo 2); analisaremos as modalidades de interesses transindividuais que podem ser tutelados via ação coletiva (capítulo 3); e examinaremos especificamente alguns aspectos

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gerais da tutela processual coletiva (competência, legitimidade, sentença, liquidação e execução, coisa julgada, litispendência, rito processual, ônus da prova, prescrição, continência, transação e renúncia), enfatizando, sempre que existentes, as peculiaridades desses aspectos quando estivermos diante da atuação dos Sindicatos para a tutela dos interesses individuais homogêneos (substituição processual) (capítulo 4).

Procuramos, sempre que possível, utilizar exemplos a fim de demonstrar as dificuldades enfrentadas pelos entes legitimados, em especial pelos Sindicatos, quando da tutela processual coletiva, enfatizando os casos em que se busca a efetiva tutela de interesses individuais homogêneos.

Contaremos, claro, com o auxílio constante de nossa doutrina (a qual merece nossas homenagens pela incansável dedicação ao estudo do tema), bem como da jurisprudência, visando acirrar o debate e atingir o fim a que nos propusemos: colaborar, de alguma forma, para o aprimoramento da tutela jurisdicional dos interesses individuais homogêneos pelos Sindicatos (substituição processual).

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1os sindiCAtos

Tentaremos, neste capítulo, traçar um panorama geral acerca do surgimento, evolução e da atual importância que os sindicatos possuem em nosso ordenamento jurídico.

Visamos, com esse sucinto panorama, permitir que o leitor compreenda o porquê de o legislador ter concedido aos sindicatos legitimação expressa para a tutela dos interesses transindividuais.

1.1. considerAções iniciAis

A denominação sindicato, para parte da doutrina, é de origem latina,(1) Syndicus, e significaria o ente encarregado de tutelar o direito ou os interesses de uma comunidade ou sociedade.

Para outra parte da doutrina,(2) a origem da denominação sindicato é grega, Suvidik, e significaria justiça comunitária, traduzindo a ideia de administração e atenção de uma comunidade.

A Consolidação das Leis do Trabalho, embora não traga explicitamente uma definição do que seriam os sindicatos, dispõe no art. 511 que se trata de lícitas associações “para fins de estudo, defesa e coordenação” dos interesses econômicos ou profissionais dos empregadores, dos empregados, dos agentes ou trabalhadores autônomos e dos profissionais liberais que exerçam “a mesma atividade, ou profissão, ou atividades ou profissões similares ou conexas”.

Thereza Cristina Nahas ensina que, por qualquer ângulo ou modo que se tente definir o que seria o Sindicato, concluiremos que se trata “de associação, agrupamento e organização” que visa “a regulamentação da profissão e a defesa dos interesses, seja

(1) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006. p. 13.(2) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas: acesso à justiça, jurisdição coletiva e tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. São Paulo: LTr, 2003. p. 28.

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em relação à coletividade que representam e atuam, seja em relação a seus membros vistos de forma individualizada”.(3)

A legislação portuguesa (Código do Trabalho)(4) define sindicato no art. 476-a como “associação permanente de trabalhadores para defesa e promoção dos seus interesses socioprofissionais”.(5) O português Antonio de Lemos Monteiro Fernandes conceitua nesse sentido, definindo os sindicatos como “associação com fins específicos predeterminados na lei: a defesa e promoção dos interesses socioeconômicos dos seus membros”, e expondo que se incluem nesses interesses não somente os coletivos “atinentes ao exercício da profissão, mas os de toda a condição social do trabalhador como cidadão, inclusive a ação sindical centrada em problemas sociais de caráter extraprofissional”.(6)

A legislação mexicana (ley federal del trabajo)(7) define os sindicatos no art. 356 como “la asociación de trabajadores o patrones, constituida para el estudio, mejoramiento y defensa de sus respectivos interesses”.(8) Para o mexicano Nestor de Buen, “sindicato é a pessoa social, livremente constituída por trabalhadores ou por patrões, para a defesa de seus interesses de classe”.(9)

Parece-nos que o correto conceito de sindicato no ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do que ocorre no México, é de associação (natureza jurídica) voltada para a defesa dos interesses do grupo profissional (empregados) ou econômico (empregadores).

Pois bem, como veremos a seguir, na análise histórica que faremos sobre os sindicatos, os homens sempre se dividiram em razão de sua religião, fortuna, raça e principalmente ofício.

Como já nos ensinava Karl Marx,(10) a divisão foi feita conforme a separação entre aqueles que possuíam os meios de produção, denominados empresários, e aqueles que possuíam a força de trabalho, chamados de trabalhadores ou proletários.

O proletário, em regra, somente possui sua força de trabalho e a aluga em troca de salário que visa atender suas necessidades próprias e de sua família. Por vezes submete-se a jornadas excessivas, estando constantemente em situação de insegurança.

O empresário é o possuidor dos postos de trabalho, aquele que será o proprietário do lucro provindo de sua mão de obra (proletário) e que possui o poder de despedir.

(3) NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho, processo de conhecimento. São Paulo: Atlas, 2001. p. 19.(4) Código do Trabalho de Portugal em vigor desde 1º.12.2003. (5) Artigo 476, a, Título III, Capítulo I, Secção IV, Subsecção I.(6) FERNANDES, Antonio de Lemos Monteiro. Direito do trabalho: relações colectivas de trabalho. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1994. v. 1, p. 66-67. (7) Ley Federal del Trabajo em vigor desde 1º.05.1970.(8) Artigo 356, Título Septimo, Capítulo II.(9) BUEN LOSANO, Nestor de. Derecho del trabajo. México: Porruá, 1977. p. 599.(10) MARX, Karl; Sant’Anna, Reginaldo (trad.). O capital: crítica da economia política: Livro I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 76.

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Com tal divisão, a unidade tornou-se indispensável para que aqueles, os quais, em regra, eram pobres, fracos e somente possuidores de sua força de trabalho (proletariado), pudessem enfrentar os outros que, em regra, eram ricos, fortes e com influências políticas (empresários).

Um proletário sozinho não poderia enfrentar os empresários, entretanto a coletividade dos proletários unidos poderia, sim, criar forças para reivindicar melhores condições de trabalho.

Surgiram então as chamadas coalizações, que inicialmente eram transitórias, passando, posteriormente, a assumir cunho definitivo e tornando-se instrumento de reação, reivindicação e de ascensão social.

Os sindicatos são oriundos dessas coalizações e surgiram sem reconhecimento do Estado e dos empresários, tendo a ideia se universalizado de forma incontida e seus principais líderes sofrido perseguições, prisão, tortura e até expulsão de seus países.

Portanto, verificamos que essas, hoje, associações de classe surgiram como instrumento de reação, tendo sido proibidas e punidas fortemente na sua fase inicial e vindo a ser, posteriormente, toleradas e legalizadas, como veremos a seguir.

1.2. Histórico

O nascimento das típicas e especiais associações que hoje denominamos de sindicatos é muito discutido pelos historiadores. Contudo, é certo que o modelo atual decorre da reação e enfrentamento ao capitalismo, o que ocorreu, principalmente, durante a primeira Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no final do século XVIII.(11)

Entretanto, é indiscutível que havia anteriormente organizações próximas, mas que na maioria das vezes possuíam fins meramente assistenciais e muitas vezes surgiam por determinação do próprio Estado.

As primeiras associações de que se têm registro são as denominadas corporações de Roma, criadas por Numa Pompilio (736-671 a.C.), as quais não atuavam como instrumentos de defesas de direitos coletivos, mas sim eram formas de distribuir o povo conforme sua profissão (artesãos, sapateiros, oleiros, joalheiros, forjadores de cobre, carpinteiros...).(12)

Essas corporações ou colégios, como também eram denominadas, eram de caráter público ou privado conforme o ofício. As de caráter público referiam-se a ofícios necessários para a segurança do Estado e a sobrevivência do povo (açougueiros, padeiros...) e usufruíam de alguns benefícios, como a isenção de pagar impostos municipais, a isenção de prestar serviço militar, entre outros.(13)

(11) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 14.(12) Ibidem, p. 14.(13) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas, cit., p. 31.

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Foram criadas para dividir o povo e os dividia em três classes de hierarquias distintas: mestres, companheiros e aprendizes.

Somente com muito esforço se passava de uma classe para outra, havendo quem diga que esse poderia ser o “embrião do sindicato patronal”,(14) já que os mestres eram verdadeiros patrões.

No século VII, noticia-se o desenvolvimento na Inglaterra e na Alemanha das chamadas Guildas (instituições similares aos colégios romanos, mas que possuíam caráter mutualista e beneficente, aparentando ser verdadeiros grêmios).(15)

Na Espanha, surgiram corporações que assumiram, também, as formas de grêmios e em Portugal, a forma de ofícios. No Brasil, foram criados grêmios, entretanto com objetivos menores (participação de festas religiosas) e seguindo o modelo da metrópole.(16)

A partir do renascimento (séculos XI e XII), desenvolveram-se, com o comércio e a indústria manufatureira artesanal, as cidades. Um novo espírito, pós-feudalismo, com trabalhadores livres dos feudos em aldeias e vilas, possibilitou ainda mais o florescimento de ideias de união e de associação que acabaram anteriormente sendo sufocadas pelo regime feudal. Surgiram, então, as denominadas corporações de ofício.(17)

Tais corporações, principalmente em razão de causas internas (contraposição de interesses entre os seus membros) e externas (advento de uma economia industrial que superou a então predominante economia artesanal; e criação de leis que as proibiam — Prússia — 1731, Toscana — 1770, Inglaterra — 1776 e França — 1791), entraram em declínio.(18)

Com a primeira Revolução Industrial(19) e o enaltecimento de discussões relativas a questões sociais (discutiam-se os baixos salários, as longas jornadas de trabalho,

(14) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 15.(15) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas, cit., p. 31.(16) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 15.(17) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas, cit., p. 32.(18) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas, cit., p. 32.(19) Regina Vera Villas Boas e Carine Valeriano Damascena expõem que a eclosão dos sindicatos se deu no contexto da Revolução Industrial e que o movimento sindical foi um dos propulsores da “nova ordem coletiva”: [...] a revolução das máquinas realizou expressiva modificação da realidade social mundial, implicando aglomeração de pessoas nos grandes centros urbanos. Verifica-se a transformação de uma sociedade essencialmente comercial e agrícola para uma sociedade em que a manufatura industrial tornava-se o modo dominante de organização da vida econômica. Isso exigiu um novo modelo de produção apto a suportar as transformações sociais que começavam a ocorrer. Iniciou-se a substituição do homem pela máquina com o escopo de socorrer o crescimento da demanda de produtos e serviços para um número sempre crescente de pessoas. Surge, nesse contexto, a produção em série nas indústrias, cuja escala inaugurada a partir de modelos previamente concebidos permite a diminuição dos custos, ao mesmo tempo em que propicia o desemprego em massa. Configurada, pois, a sociedade de massas [...]. Afirma-se, nessa conjuntura, que o principal erro dos idealizadores do Estado Liberal consistiu no seu desconhecimento da possibilidade de se concretizar a Revolução Industrial que, ao produzir o desemprego em massa, paralelamente mitigou

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a concentração de renda, as péssimas condições de vida nas cidades), surgiram, primeiramente, reuniões e coalizões temporárias, tendo posteriormente surgido organizações duradouras e com finalidades bem definidas.(20)

A greve passou a se tornar instrumento de pressão para melhores condições. Conflitos em todo o mundo entre a classe empresária e o proletariado tomaram proporções jamais vistas.

Em meio a tanta pressão, o Trade Union Act reconheceu, em 1871 na Inglaterra, as associações profissionais. Posteriormente, em 1884, as associações também foram reconhecidas na França por meio da Lei Waldeck Rousseau.(21)

Amauri Mascaro Nascimento afirma que o tradeunionismo, que se formou com a união de operário londrinos em associações reivindicando melhores salários e limitações de jornada pode ser considerado o sindicalismo mais antigo do mundo. Afirma, ainda, que já era existente desde 1720, vindo a ser reconhecido realmente em 1824 e sendo somente reforçado pela Lei em 1871.(22)

A partir de então, as grandes potências da época foram obrigadas a admitir essas associações como instrumentos para defesa de melhores condições para os empregados.

Em 1916, no México, ocorreu a constitucionalização do direito do trabalho, tendo o art. 123, frações XVI a XIX, regulado o direito de associação de operários e patrões; as formas de resolução de conflitos econômicos; e o direito de greve. Posteriormente, em 1919 foi a vez da Constituição de Weimar, da Alemanha, contemplar, no art. 159, o direito a coalização para a defesa de melhores condições de trabalho, declarando nula qualquer medida para impedi-la.(23)

Com a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918, ocorreu um verdadeiro entrave ao desenvolvimento do sindicalismo. Entretanto, após o encerramento do conflito, o Tratado de Versalhes (1919) incluiu nas suas disposições a criação de uma organização internacional com a participação das representações dos trabalhadores e

o valor do trabalho humano, potencializou o conflito entre as classes patronais e operárias e acentuou muito mais o desequilíbrio social. Nesse contexto, inevitável a eclosão dos sindicatos que se formam para combater o imenso poder industrial e as péssimas condições de vida que assim exsurgem. Na expressão utilizada por Mauro Cappelletti, ressurgem os corpos intermediários entre o indivíduo — isolado de um lado —, e o Estado, do outro. Mancuso esclarece que a nova estrutura das relações sociais, tratada como a ‘a nova ordem coletiva’, manifesta-se em virtude da Revolução Industrial, da massificação da sociedade e do movimento sindical [...]”. VILLAS BOAS, Regina Vera; DAMASCENA, Carine Valeriano. Aspectos relevantes da história dos direitos difusos e coletivos. Revista Direito & Paz, Lorena, ano 6, n. 11, p. 94-95, 2004. (20) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 16.(21) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 16.(22) NASCIMENTO, Amauri Mascaro; SOUSA FILHO, Georgenor de (coord.). Origens históricas e natureza jurídica dos sindicatos. Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 37.(23) AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical, cit., p. 16.

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empregadores (parte XIII — arts. 387 a 417), sendo criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT).(24)

Não podemos deixar de mencionar, neste breve histórico, que o conceito de sindi-calismo revolucionário e ideologizado deveu-se, também, ao “manifesto comunista” de Karl Marx e F. Engels, de 1848,(25) sendo que em 1891, com a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, houve o estímulo do sindicato assistencialista, de parceria.(26)

Portanto, é nítido que o movimento sindical percorreu um longo caminho(27) até ser reconhecido, cabendo aqui mencionar e descrever, como ensina Ronaldo Lima dos Santos, que são três as fases principais com características nítidas e próprias,(28) o que será visto a seguir.

1.2.1. fAses dA proibição, tolerânciA e do reconHecimento Jurídico

Inicialmente, insta salientar que as fases sabiamente ilustradas por Ronaldo Lima dos Santos não ocorreram rigorosamente na ordem em que serão descritas tendo sido sistematizadas como forma de propiciar uma visão ampla da evolução dos sindicatos, e sendo classificadas como fase da proibição, fase da tolerância e fase do reconhecimento jurídico.(29)

(24) Sobre a Organização Internacional do Trabalho assim escreve Celso Antônio Pacheco Fiorillo: “[...] A rigor, a OIT é um organismo possuidor de personalidade jurídica internacional, na forma do que estabelece o art. 39 de sua Constituição, gozando de autonomia. Destina-se a OIT, basicamente, a universalização de normas vinculadas às relações que envolvem empregados e empregadores, sejam públicos ou privados, sempre dentro de um critério iluminado por parâmetros estabelecidos pelos Direitos Humanos. Desde 30.5.46, as Nações Unidas reconhecem a OIT como ‘organismo especializado competente para empreender a ação que considere apropriada, de conformidade com o seu instrumento constitutivo básico, para cumprimento dos propósitos nele expostos’ tendo realizado, desde sua fundação em 1919 até os dias de hoje, inúmeras Conferências através das quais foram adotadas várias Convenções. Embora dependam de ratificações dos Estados soberanos, entendemos, de qualquer maneira, importante examinar algumas de suas convenções, especialmente aquelas adaptadas ao conteúdo de nossa tese, em face de sua importância como fonte de direito admitida amplamente pela doutrina. [...]”. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Os sindicatos e a defesa dos interesses difusos no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 1995. p. 20. (25) José Carlos Arouca destaca que “em janeiro de 1848 foi publicado pela primeira vez o Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels. Desde então, o comunismo tornou-se uma referência indissociável do movimento sindical e da chamada questão social”. AROUCA, José Carlos. O sindicato em um mundo globalizado. São Paulo: LTr, 2003. p. 35.(26) Ibidem, p. 40-46.(27) Celso Antonio Pacheco Fiorillo, ao escrever sobre a evolução histórica dos sindicatos, ensina que “[...] A organização dos grupos profissionais portanto confunde-se com a própria história da sociedade civil na medida que os principais fatos ocorridos durante o período antes referido têm, de alguma forma, ligações com o aparecimento das Associações Profissionais e mais tarde com os Sindicatos. É fundamental verificarmos, por via de consequência, a estrutura jurídica destes entes vez que os mesmos chegam a se entrelaçar com a sociedade civil sendo, até hoje, porta-voz dos anseios de determinados agrupamentos e, ao que tudo indica, perfeitamente adequados para a defesa dos interesses difusos conforme tentamos demonstrar [...]”. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Os sindicatos e a defesa dos interesses difusos..., cit., p. 20.(28) SANTOS, Ronaldo Lima. Sindicatos e ações coletivas, cit., p. 36.(29) Ibidem, p. 36.

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