o maior direito da mulher · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á fiesp que re- duz em 30% os...

32
^ v/OAK e "P^e^i^o^ O MAIOR DIREITO DA MULHER ftA mão de obra custa pouco no Brasil ^As leis no lixo ^V Vicentinho, o bompelego ^Globalização expulsa mulher do trabalho ^Estado liberal ^Momento atual e as tarefas do PT Custo unitário desta edição: R$ 2,50

Upload: others

Post on 15-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

^

v/OAK e "P^e^i^o^

O MAIOR DIREITO DA MULHER

ftA mão de obra custa pouco no Brasil ^As leis no lixo ^V Vicentinho, o bompelego ^Globalização expulsa mulher do trabalho ^Estado liberal ^Momento atual e as tarefas do PT

Custo unitário desta edição: R$ 2,50

Page 2: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Folha de São Paulo -14/02/96

A mão-de-obra custa pouco no Brasil / 1 -'(1 I 1,13 1 il I , I , • S - ,1

O custo adicional de um trabalhador para a empresa é de 46% sobre o salário mensal (ou de 49%, se o abono de férias for considerado gasto em dinheiro, em vez de "tempo não-tra balhado").

Desse custo, as taxas e contribuições somam 26% e os salários indiretos, in- cluindo o FGTS, alcançam mais 20% (ou 23%, com o abono de férias).

As famosas porcentagens de 100% referem-se à comparação do gasto da empresa não com o salário, mas com a parte do salário equivalente ás horas tra- balhadas.

Ainda que os cálculos de 100% não sirvam para discutir a redução de encar- gos (pois incluem majoritariamente, be- nefícios recebidos em dinheiro pelo tra- balhador e direitos), eles servem para estimar o custo da hora trabalhada.

Para comparar o custo da mão-de- obra em vários paises, não se pode con- siderar apenas o salário mensal. É preci- so computar descanso semanal, férias, etc, para que diferentes direitos sejam reduzidos a um denominador comum.

Como se observa nas tabelas nesta página, temos que, já considerando to- dos os direitos e encargos sobre a hora trabalhada, ou seja, os 100%, o custo da mão-de-obra no Brasil é baixo; em ver- dade, muito baixo.

Trata-se de algo previsível. Afinal, o Brasil é o pais com a pior distribuição de renda do planeta, segundo o Banco Mun- dial. Seria surpreendente, isto sim, se os ganhos e os direitos do assalariado fos- sem altos.

O custo da hora industrial (vide tabe- la maior) resulta, fundamentalmente, das forças de mercado e do embate sindical e político. No Brasil, a demanda de traba- lho industrial é pequena em relação à quantidade de trabalhadores.

Ademais, só a partir da redemocra- tização os assalariados puderam reorga- nizar-se e fazer demandas políticas de modo a aumentar seu poder de barganha.

Comparando pelo salário minimo le- gal (vide tabela menor), a mão-de-obra no Brasil também custa muito pouco.

Se não incidisse nenhuma taxa ou

Demian Fiocx-g

contribuição sobre a folha, se as em- presas deixassem de pagar os salários indiretos (como o 13° , etc.) e ainda descontassem do salário o domingo e a tarde de sábado, feriados, férias, auxilio-doença e aviso prévio , custo da hora trabalhada seria R$ 0,46. Com todos os direitos e encargos, a hora custa R$0,91, ou US$0,93.

Na Argentina, de acordo com o mes- mo critério, o custo minimo da hora, in- cluídos todos os direitos e encargos é de US$ 1,48. Sobre esse valor, considerado muito baixo, tem havido protestos.

Como o real e o peso argentino estão sobrevalorizados, o poder de compra des- ses salários em dólar é ainda menor do que parece, pois aluguéis, serviços e ou- tros itens do custo de vida que não so- frem a concorrência dos importados es- tão desproporcionalmente caros, mesmo para os padrões internacionais.

Nos EUA, o salário minimo já é por hora, o que dispensa o cálculo do perío- do trabalhado. O minimo nacional paga ao assalariado é de US$ 4,25 por hora, sobre os quais incidem encargos de 7,65%.

Desse modo, o custo minimo da hora para uma empresa nos EUA é de US$ 4,58. E esse valor minimo não está entre os mais altos das nações desenvolvidas.

Essas comparações deixam claro que a redução do chamado "custo Brasil" não

deve ocorrer pela diminuição dos rendi- mentos do assalariado ou das contribui- ções para a seguridade social, sob pena de agravar uma distribuição de renda já excessivamente desigual e de desampa- rar os já pouco assistidos.

E por meio de investimentos públi- cos em educação, saúde e infraestrutura que o pais, poderá elevar seu padrão de produção.

Ainda que, atualmente, várias empre- sas estejam com margens menores - e parte delas encontrem-se mesmo em difi- culdade - devido á concorrência externa e à violenta política dejuros altos e con- tenção do crédito, existe no Brasil um desequilíbrio histórico entre lucros e sa- lários que ainda está por ser corrigido.E desejável que a contribuição das empre- sas para a Previdência deixe de ser co- brada sobre a folha de salários Isso esti- mularia a contratação Mas seria um re- trocesso social se os pagamentos á seguridade fossem meramente reduzidos.

Deve-se tranferir a arrecadação para outra fonte (faturamento, ativos, IR). Afinal, a arrecadação insuficiente da Pre- vidência é um dos grandes dramas naci- onais. Cerca de 12 milhões de aposenta- dos recebem R$ 100,00 por mês. ~l

Demian Fiocca, 27 é economista e pós- graduando do curso de Economia da Universidade de São Paulo (ÜSP).

Custo médio da mão-de-obra

Por hora trabalhada na indústria de transformação , em US$

Alemanha, Suécia Suíça Itália

RF 21,30 20,93 20,86 16,29

Grã-Bretanha Espanha Israel Grécia

12,42 11,88 7,69 5,49

França EUA Austrália Japão

15,25 14,83 12,98 12,84

Coréia Taiwan Portugal Brasil

4,16 3,98 3,57 2,79

Custo da hora trabalhada Segundo o salário mínimo de fevereiro/96, em US$

EUA 4,58 Argentina 1,48 Brasil 0,93

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 3: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Boletim Unificado n0 181 - Sindipetro -13/02/96

O que significa o fim dos encargos sociais O artigo 7o da Constituição Brasilei-

ra garante aos trabalhadores conquistas trabalhistas, impostas através das lutas no decorrer de anos. Entre as reformas pretendidas pelo plano neolibaral de FHC está o fim destas conquistas, também conhecidas como encargos sociais.

Para o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, a retirada dos encargos sociais da folha de pagamento vai aumentar a ofer- ta de empregos no pais (Jornal O Estado de S. Paulo, 04.02%).

Os direitos trabalhistas básicos do tra- balhador que o governo quer retirar são:

* direito a Previdência Pública So- cial;

* direito a indenização por acidente de trabalho;

* direito a repouso semanal remune- rado;

* direito à férias; * direito ao 13° salário; * direito a abono de férias; * direito a feriado remunerado;

* direito a carteira profissional assi- nada;

* direito as mulheres deterem licença gestante;

* direito a adicional por periculo- sidade e outros.

O desenvolvimento de novas tecnologias e novos métodos de trabalho dições para aumentar a oferta de empre- gos no Brasil. Medidas como a redução da jornada de trabalho, combinada com a ampliação dos mecanismos de prote- ção social para os setores de baixa ren- da, certamente, aumentaria a oferta de emprego. vêm impondo um desemprego estrutural em todo o mundo. Combatê-lo não passa por acabar com os já parcos encargos sociais. Ao contrário do que diz FHC e Paulo Paiva, o fim destes só aumentará a miséria num país já tão miserável.

Há outras saidas. No entanto, verbas que poderiam ser aplicadas para resol- ver o problema são destinadas, pelo go-

BcfelhiOPfc|ue^Banárío6\/lcríadaCQnqusta-BA-19(QQ6

vemo de FHC, para manter a ostentação das elites dominantes. Bilhões foram des- tinados para salvar os banqueiros do Eco- nômico e do Nacional. Os ruralistas fo- ram anistiados por FHC em suas dividas para com os cofres públicos. FHC não vacila na tentativa de fazer aprovar um projeto superfaturado como o Sivam. A turma de FHC não vacila em distribuir bilhões para eleger políticos corruptos (Pasta Rosa).

Só os bilhões que envolvem estas fal- catruas dariam para criar e construir conMas, FHC não governa preocupado com os problemas que afligem a maioria dos trabalhadores brasileiros. FHC go- vernar para manter e defender o interes- se de uma minoria de privilegiados.

Para impedir que elle e sua tropa no Congresso acabem com conquistas his- tóricas dos trabalhadores é necessário que avancemos em nossa organização e mobilização. A participação de todos, para barrar mais este golpe, é decisiva.-)

Flexibilização dos direitos trabalhistas

O governo conseguiu um grande alia- do na tentativa da implemaitação da pro- posta de "flexibilizar" os direitos dos trabalhadores assegurados pela Consti- tuição e CLT. O Sindicato dos Metalúr- gicos de São Paulo, filiado à Força Sin- dical, se uniu a FHC e fechou um acordo com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas.

O acordo prevê substituição do paga- mento do FGTS por conta bancária re- munerada (com o fim da multa de 40%); redução da contribuição à previdência e isenção das contribuições de salário-edu- cação, Sebrae e Incra. Ainda consta do acordo outros absurdos como carteira de trabalho sem assinar, contrato de traba- lho flexível; 13°, férias e descanso sema

nal proporcional à jornada de trabalho entre outros.

Já existe uma polêmica muito grande em tomo deste acordo, já que, diversos especialistas em Justição do Trabalho (en- tre eles o presidaite do TST), estão ga- rantindo que o acordo é inconstitucional.

Reação em todo o país As reações adversas a esta flexibi-

lização dos direitos trabalhistas prctaidida pelo Ministro do Trabalho, Paulo Paiva, tem acontecido pelos quatro cantos

O próprio presidente do TST, minis- tro José Ajuricaba da Costa e Silva, ar- gumentou que "no particular das férias, do descanso semanal remunerado e licen- ça-matemidade são questões de "nature- za higiênica, que renovam as forças e melhoram a eficiência no trabalho". Se

gundo ele, acabar com esses direitos (que só foram assegurados em 1949) signifi- caria um retorcesso.

A apreensão não é apenas do minis- tro. Todos os trabalhadores brasileiros temem por essa flexibilização. Além dis- so, diversos setores da sociedade, a igre- ja e segmentos políticos tem demonstra do sua preocupação com essa redução dos direitos, conquistados ao longo de anos e anos de lutas sindicais.

Não é reduzindo os direitos e a capaci- dade de compra dos trabalhadores, que o govemo vai acabar com os problemas bra- sileiros. Pelo contrário, aumentaria ainda mais a desigualdade social e as injustiças que são cometidas contra a população, sem falar no comprometimento do próprio de- senvolvimaito econômico da nação, fl

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 4: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Folha de São Paulo de 15/02/96

Mais e melhores empregos O país vai sendo rapidamente toma-

do pela questão do desemprego. Todas as pesquisas de opinião pública apontam que hoje esse é o maior problema para os brasileiros. O governo e parte da mídia tentam dizer o contrário. Afirmam que essa avaliação está equivocada e que o desemprego é setorial. A revista "Veja" (7/2/96) chegou a afirmar que o debate está confuso e emocional.

O IBGE afirma que, em 1995, a taxa de desemprego no país foi de 4,6% - "uma das mais baixas do mundo".

Já as pesquisas de emprego Seade- Dieese/SP apontam índices de 13,2% de desempregados na Grande São Paulo, 15,5% em Brasília, 10,7% em Porto Ale- gree 10,8% em Cuntiba. Ogovemo FHC apega-se aos índices do IBGE ou então pressiona descaradamente o Dieese e a Fundação Seade para mudarem suas metodologias.

Entre 1993 e 95 o PIB cresceu apro- ximadamente 13% e o emprego formal apenas 1% - uma das mais baixas rela- ções produto-emprego desde o pós-Guer- ra. Isso, além de acentuar o desemprego, acelera a precarização das condições de trabalho, provando que está certo o cida- dão quando vê no desemprego o flegelo do fim de século.

O govemo, com sua propaganda, pro- cura convaicer a sociedade de que os avan- ços tecnológicos e a globalização são os res- ponsávaspdodesempregoeque, no Brasil, a situação é agravada pela ngidez do mer- cado, das relações de trabalho e pelos ai- cargos salariais, "os maiores do mundo".

Na verdade, a introdução de novas tecnologias pode fazer avançar o desemvolvimaito da humanidade, permi- tindo crescentes reduções na jornada de trabalho. Tudo depende dos mecanismos de regu;ação e da fomia da apropriação da produtividade gerada. O Japão, que utiliza processos intensivos em tecnologia, tem baixas taxas de desemprego

Nossa visão é radicalmente oposta à do govemo e de parte do empresanado. Rejeitamos as teses de que o desemprego é fenômeno inexorável em nível interna- cional e produto dos avanços tecnológicos Nosso mercado de traba- lho é desigual e excludente por causa do padrão de desenvolvimento sócio-econô- mico brasileiro e as políticas neoliberais só tendem a agravar esse quadro.

José Dirceu

E absurda a afinnação de que em nos- so país os custos de mão-de-obra são ele- vados. O trabalhador brasileiro tem um dos mais baixos salários do mundo.

O custo da mão-de-obra no setor manufatureiro é de US$ 2,68 por hora (incluindo todos os encargos), contra US$ 24,87 na Alemanha. Além disso, os ní- veis de rotatividade são elevadíssimos, tomando o mercado de trabalho brasilei- ro um dos mais flexíveis do planeta. São 25 milhões de brasileiros que não têm qualquer direito trabalhista, não custam um centavo em encargos. Será que o go- verno e o empresariado pretendem reimplantar a escravidão?

Falar em "flexíbilizar"direítos dos tra- balhadores no Brasil, como férias, des- canso semanal remunerado e licança maternidade significa propor uma inde- cente redução dos salários, o que é um escândalo. Basta olhar para os exemplos da Argentina, Espanha e México, países que mais desregulamentaram seu merca- do de trabalho e têm hoje as mais eleva- das taxas de desemprego.

O PT propõe que se coloque a ques- tão do emprego como tema central da agenda política do país, a partir de um projeto de desenvolvimento nacional.

O conjunto da política econômica, in- cluindo as políticas industrial, tecnológica, de gastos públicos, de inves- timentos e crédito e tributária têm de objetivar a geração de empregos e a dis- tribuição de renda. Atenção especial deve ser dada à política do BNDES, que rece- be 40% dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). A política de crédito deverá perseguir dois objetivos: reduzir juros para financiar a atividade produtiva e o crádito ao consumidor e a cnação de empregos, priorizando a micro e pequena empresas.

Outra medida indispensável é a refor- ma agrána acompanhada de uma política agrícola ativa e promotora de renda e em- prego, já que 25% de nossa população ocupada ainda está no campo. Além dis- so, a retomada dos investimaitos na infra- estmtura impulsionana a geração de em- pregos e a distribuição de renda. E preci- so viabilizar recursos públicos e privados para o amplo programa de obras públicas em saneamaito e habitação, além da reto- mada de obras na área aiergética.

Para minimizar a desigualdade na re-

partição da renda nacional é preciso um reforma tributária, aliada ao aumento do salário mínimo e médio do país, e uma política de investimentos sociais em saú- de e educação. Além disso, um progra-

ma de raida mínima promoveria uma rápi- da desconcaitração da raida e o surgimai- to de um amplo mercado de consumidores.

De imediato propomos a implantação de um sistema único de emprego, reorientando o seguro-desemprego, tor- nando obrigatória a inscrição num siste- ma de recolocação profissional e ampli- ando os prazos nos casos de qualifica- ção profissional. Esse sistema único de- verá ter uma gestão tripartite (govemo, empresários e trabalhadores) e ser orga- nizado nos três níveis - municipal, esta- dual e nacional

Qualquer política de emprego, para ter um resultado imediato, deve se apoi- ar numa ampla democratização das rela- ções de trabalho, para que se possa li- vremente, em acordos coletivos setoriais e por empresa, contratar: redução da jor- nada de trabalho, inibição de horas ex- tras, demissão imotivada etc.

Acordos inovadores, como a redução da jornada pela Ford, em São Paulo, con- quistada pelo Sindicato dos Metalúrgi- cos do ABC, e medidas adotadas por várias prefeituras como o financiamento de micro e pequenas empresas de treina- mento, mostram que o país tem energias para combater o desemprego.

O PT está lançando uma ampla cam- panha por "Mais e Melhores Empregos". O projeto - que contém a maioria das propostas tratadas aqui - foi lançado pu- blicamente pela Frente Brasil Popular na campanha presidencial de 94. Vamos apresentar uma Lei do Emprego reunin- do todas as iniciativas legislativas já exis- tentes no Congresso e realizar, junto com os partidos, igrejas, organizações sindi- cais e empresariais, universidades e enti- dades civis um grande mutirão contra o desemprego.

O país precisa acordar para esse gra- ve problema. No 1° de Maio-Dia do Tra- balhador - vamos fazer uma grande mar- cha a Brasília para escrever na Praça dos Três Poderes: "Desemprego não. O Bra- sil quer emprego e dignidade!" "1

José Dirceu, 49, ach'ogaclo, é presic/en- le nacional do PT. Foi clepntado/ederal pelo PT de São Paulo (] 190-94)

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 5: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

;::::::::::::::::::v::::::::::::::::::::::::::;::::::::::::::v:::::::;::

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Jornal do DIAP - Jan/Fev/96 - N" 111

Alta de preços reduz poder de compra do Salário Mínimo

A tendência de aumento dos preços de alguns alimentos básicos acentuou-se, em dezembro, e reduziu ainda mais o poder aquisitivo do salário mínimo. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica re- velou queda em apenas duas entre as 16 capitais em que o Dieese - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos - apura a ração es- sencial mínima. O levantamento consi- dera um conjunto de 13 produtos de pri- meira necessidade, na região Centro-Sul, e de 12 do Norte e Nordeste, bem como as quantidades ideais que cada trabalha- dor deveria consumir mensalmente para suprir suas necessidades calórico- protéicas enquantoforça de trabalho.

Os maiores aumentos da cesta básica ocorreram Fortaleza (9,27%), Belém (7,02%), Aracaju (5,02%), Vitória (4,60%), Curitiba (4,35%), Flonanópolis (4,23%), João Pessoa (4,19%) e Goiânia (3,61%). Em Porto Alegre, houve queda de 1,67% e em Natal os preços apresen- taram um ligeiro recuo de 1,17%. As al- tas mais significativas foram observadas para os preços do tomate, farinha de mandioca, feijão e banana, ao contrário da carne bovina, principal componente da ração essencial mínima, que ficou mais barata, em dezembro devido ao início do período de safra, (ver tabela)

Em São Paulo, a cesta básica atingiu R$ 91,52, o maior custo do país; e em Curitiba, totalizou R$ 90,24.

A variação anual dos preços dos ali- mentos de primeira necessidade foi ain- da maior em outras três capitais: Forta- leza (13,08%), Recife (14,03%) e Natal

1 Custo e variação da ração essencial mínima em 16 capitais - dezembro de 95

Capital Valor da Cesta (R$)

Variação mensal (%)

Porcentagem do Salário Mínimo

Líquido Tempo de Trabalho

Variação no Ano %

Sâo Paulo 91,52 2.79 99,48 201 h 21 min 4.69 Curitiba 90,24 4,35 98,09 198h 32min 12,52 Florianópolis 86.18 4,23 93.67 189h 36min 6,55 Belo Horizonte 81,11 2,35 88.16 Í78h 27mln -0,49 Rio de Janeiro 80,91 0,60 87.95 178h OOmin 4.70 Belém 80,07 7,02 87,03 176h09min 2.81 Porto Alegre 80,00 -1.67 86,96 176h OOmin 1.52 Brasília 79,17 2.15 86,05 174h 10min -7,04 Aracaju 75,97 5,02 82,58 167h 08min _ Vitória 75,48 4.60 82.04 166h 03min -1.04 Natal 75,15 -0,17 81,68 165h 20min 14,49 Recife 74,36 2.75 80,83 163h 36min 14,03 Salvador 73.68 2.18 80.09 162h 06min 4,54 Fortaleza 72,73 9.17 79.05 160h OOmin 13,80 Goiânia 71,79 3,61 78.03 157h 56min 1,53 João Pessoa 70.90 4,19 77.07 155h59min 9,09

Font e: Pesquis a Nacional da Cesta Básica DIEESE 1 (14,49%). Ja as cidades de Belo Hori- zonte, com menos 0,49%, Vitória (1,04%) e Brasília (-7,04%) registraram variações negativas no mesmo período.

A partir do custo da cesta básica da ca- pital paulista registrado em dezembro, o Dieese estimou em R$ 763,09, o valor do salário mínimo necessário para fazer frente ' a despesa mensal de uma família de quatro pessoas - dois adultos e duas cnanças.

Com o aumento dos preços dos ali- mentos essenciais, em dezembro, o traba- lhador que ganha o mínimo gastou e tra- balhou mais para poder adquirir os pro- dutos da cesta básica. Na média das 16 capitais pesquisadas, ele comprometeu 85,55% do rendimaito líquido - R$ 92,00 após descontados 8% para a Previdên- cia. Em novembro, o gasto médio havia sido pouco menor: 81,05%.

Em termos de jornada, quando a comparação é feita em relação ao salá- rio mínimo bruto (R$ 100,00), o qua- dro também é desfavorável ao mesmo trabalhador. Em dezembro, ele preci- sou trabalhar 173 horas, em média, contra as 168 horas em novembro, ou mais cinco horas, para adquirir a mes- ma cesta básica.

Na comparação com dezembro de 1994 o poder aquisitivo do trabalha- dor remunerado por um salário mos- trou alguma recuperação. Naquele mês, ele precisou desembolsar, em média, 16,80% a mais que seu rendimento lí- quido - então de R$ 64,56, desconta- dos 7,77% da Previdência - e trabalhar 17 horas além da jornada legal (220 horas mensais) para adquirir os alimen- tos da cesta. fl

Folha de São Paulo -14/02/96

Acordo contraria leis em vigor O acordo assinado ontem entre o Sin-

dicato dos Metalúrgicos de São Paulo e oito sindicatos ligados à Fiesp tem pelo menos dois pontos ilegais, pois contrari- am leis em vigor, segundo especialistas.

Essas ilegalidades estão no não-reco- Ihimento do FGTS e no recolhimento da contribuição da empresa à Previdência Social no mesmo percentual da do em- pregado (8%, 9% ou 11%), pela lei, a empresa deve pagar 20%.

Para o professor Amauri Mascaro Nascimento, os recolhimentos ao FGTS e INSS "não são direitos restri- tos", ou seja, não envolvem apenas a empresa e o empregado. Há interesses de terceiros.

No caso do FGTS, o interessado é o governo, que utiliza o dinheiro para fi- nanciar a compra da casa própria e para saneamento básico.

No caso da contribuição previ-

denciária, o INSS precisa do dinhei- ro para pagar os aposentados.

Assim, será preciso que o Con- gresso aprove leis que permitam a re- dução dos percentuais, diz.

Goffredo da Silva Teles, profes- sor emérito da USP (Universidade de São Paulo), diz que qualquer mudan- ça que prejudique o trabalhador "será um retrocesso, um mau servi- ço á democracia". □

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 6: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Folha de São Paulo -14/02/96

Os pontos mais polêmicos

O que prevê o acordo

Não haverá depósito do FGTS (8% sobre a remuneração paga ao trabalhador).

A contribuição da empresa ao INSS será igual à do trabalhador (8%, 9% ou 11%),

A Carteira de Trabalho não terá ano- tação da relação de emprego (a relação será provada com cópia de cada contrato- Individual Flexível ou Coletivo Flexivel).

O que prevê a legislação

Este benefício está previsto no artigo 7o, inciso 11], da Constituição. Por ser um direito constitucional, sua eliminação tor- na-se difícil.

A lei determina que a contribuição da empresa seja de 20%. Neste caso, o go- verno terá de baixar uma medida provi- sória para reduzir a contribuição.

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) determina que o empregado precisa ser registrado, com anotação na Carteira de Trabalho.

Outros pontos do acordo

♦ Dois tipos de contrato de trabalho: Individual Flexivel (um trabalhador) e Coletivo Flexível (vários trabalhadores)

♦ A contratação será por tempo de- terminado - mínimo de três meses e má- ximo de dois anos.

♦ A jornada de trabalho será de 24 horas semanais ou 4 diárias (mínimo) ou 44 semanais ou 8 diárias (máximo).

♦ O salário será de acordo com as horas trabalhadas. O descanso semanal remunera- do será proporcional às horas trabalhadas.

♦ No lugar do FGTS será criado o Fundo de Garantia do Trabalhador (FGT). Será uma conta remunerada, em banco escolhido pelo empregador. A cada mês serão creditados 10% da remunera- ção do trabalhador.

♦ Ao témiino do contrato, ou a cada três meses (se a contratação superar este período) o trabalhador poderá sacar o di- nheiro da conta, sem qualquer justificativa.

♦ Na demissão antes do término do contrato, o empregador pagará multa igual ao último salário ao tra- balhador.

♦ Se o empregado, quiser deixar o emprego, deverá comunicar a empresa com 30 dias de antecedência, ou pagar multa de um salário à empresa.

♦ Nas rescisões por justa causa nem a empresa nem o empregado pagarão a multa.

♦ As empresas não recolherão as con- tribuições do saláno-educação, ao Sebrae eao Incra.

♦ Os empregados terão direito a féri- as (com mais um terço) e 13o de forma proporcional à jornada de trabalho.

♦ A contratação flexível será pro- porcional - empresa com até 50 empre- gados pode contratar 25% do efetivo re- gular; de 51 até 500,20%; acima de 500, 10% do efetivo. O

Diário Popular de 21/02/96

Metalúrgicos só querem papo com o Congresso

O presidente do Sindicato dos Meta- lúrgicos de São Paulo (da Força Sindi- cal), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, gerou polêmica com a implantação do contrato de trabalho por tempo indeterminado. O documento, assinado com oito sindicatos da Fiesp e com a Ali- ança metalúrgica, foi suspenso pelo Tri- bunal Regional do Trabalho (TRT) eso- freu críticas da CUT, metalúrgicos da Força e juristas. Apesar disso, Paulinho explica nesta entre\'ista ao repórter An- tônio Diniz que vai continuar fechando acordos e que agora a discussão não é mais com a Justiça, e sim com o Con- gresso Nacional. Ele nega também que tenha feito marketing com o contrato. ''Minha preocupação é a geração de em- pregos", frisa.

Diário Popular (DP) - O TRT sus- pendeu quatro cláusulas e um parágrafo do contrato por tempo determinado. O ministro do Trabalho, Paulo Paiva, pe- diu às empresas que não assinem esse de

contrato, enquanto a legislação não for mudada. Essas ações não inviabilizam a aplicação do contrato?

Paulo Pereira da Silva (Paulinho) - De forma alguma. Se as empresas quise- rem, vamos continuar a assinar novos contratos para gerar empregos. O TRT fêz uma coisa de louco ao impedir a ex- tensão da convenção coletiva dos meta- lúrgicos, que tem 90 cláusulas, para os trabalhadores temporários.

DP - O TRT concedeu uma espécie estabilidade no emprego aos trabalhado- res já contratados, obrigando a Aliança Metalúrgica e a Helfont a cumprir a pro- messa de admitir mais 125 empregados, com os contratos adequados à legislação. Essa decisão poderá causar medo entre as empresas, que deixarão de abrir no- vas vagas. Como você analisa esta ques- tão?

Paulinho - A impressão que eu tenho é que a decisão da Justiça foi politíca, contra o acordo. Então, em alguns mo-

mentos, também vamos fazer algumas ações políticas, que serão definidas ama- nhã, no sindicato. Essa decisão de que as empresas têm de garantir o emprego do contratado e cumprir a promessa de contratações poderá provocar o desem- prego entre os efetivos, que não têm es- tabilidade. Nào entendo a decisão do TRT, uma vez que não existe lei que obri- gue o empresário a contratar.

DP - Mas a função da Procuradoria do Trabalho égarantir o cumprimaito das leis. Para muitos juristas esse contrato é moilegal e inconstitucional.

Paulinho - Reconhecemos que há clá- usulas ilegais, mas foram três deputados do PT, que ganham R$ 8 mil por mês, que acionaram a Procuradoria. Fizeram isso porque não têm dificuldades finan- ceiras e as famílias deles não estão pas- sando fome. Por isso, eles não se preo- cupam mais com os desempregados. Mas estamos buscando formas de legalizar o contrato, iniciativa que a Procuradoria

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 7: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

w/rvX-I-IOXvIvXX-ivXvXvXvIvXvX

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

deveria ter tomado, em vez de pedir a sua suspensão, impedindo o empicgo de mi- lhares de pessoas.

DP - Seu argumento é de que o fim justifica os meios?

Paulinho - Se fosse isso ainda estaria- mos na ditadura militar, na pré-história das relações do trabalho. A sociedade rei- vindica e as leis se adaptam a essas de- mandas. Sempre foi assim. Muitos foram punidos pela ditadura porque lutavam contra leis feitas pelos militares. Essas pessoas se insurgiram e depois consegui- ram a democracia. Era proibido fazer gre- ve. O Lula (Luis Inácio Lula da Silva, ex- presidente do Partido dos Trabalhadores) fêz greve ilegal. Hoje podemos fazer gre- ve. Nosso objetivo é combater o desem- prego e legalizar o contrato. Por isso, pe- dimos aos juristas que nos auxuliem em vez de só ficar criticando.

DP - O TRT faz conciliação quinta- feira e a Procuradoria tem menos de 30 dias para entrar com ação principal pe- dindo a anulação de todo o contrato. Você continuará a fazer contratos desse tipo ou vai esperar a decisão final da Justiça?

Paulinho - Pretendemos continuar dis- cutindo com outras empresas, e chegando ao entendimento, vamos assinar os con- tratos. Vamos comparecer ao TRT até por respeito ao seu presidente (Rubens Tavares Aidar), mas a principal discus- são agora não é com a Justição, e sim com o Congresso Nacional, para encontrarmos formas de legalizar o contrato. Agora, se as empresas quiserem contratar, eu não vou impedir. Minha função é arrumar emprego e vou continuar tentando colo- car trabalhadores dentro das fábricas para poderem levar alguma coisa para os seus filhos comerem.

DP - Os seus companheiros, dirigentes dos metalúrgicos ligados à Força Sindical, também são contra o contrato. Na reunião de quinta-feira, na federação, de 36 sindi- catos presentes, 34 afirmaram que não fa- rão o acordo porque retira direitos dos tra- balhadores ou abre brechas para que futu- ramente esses direitos sejam retirados.

Paulinho - Nada foi decidido na reu- nião. Houve um grande debate e tem mui- ta gente a favor, mas o contrato causou polêmica porque botamos o dedo na feri- da. Todo mundo fala do desemprego, mas ninguém apresenta uma solução rápida. Estou pedindo um reunião com a direção da central para explicar e tirar dúvidas.

Posso garantir que a cada dia estamos ganhando mais gente para a nossa proposta. A questão é que o povo é muito conservador e reage negativa- mente quando se depara com uma pro- posta nova, o que é muito natural.

DP - Muitos sindicalistas, inclusive da Força, fizem que os trabalhadores perdem direitos com o contrato?

Paulinho - Não perdem de jeito ne- nhum. Os trabalhadores terão férias, 13° abono de férias, multa por quebra de con- trato e o FGTS depositado diretamente na conta deles, com depósitos de 10%, e não 8%. Os 2% a mais substituem a multa de 40% sobre o fundo. As empresas tam- bém não poderão fazer a rotatividade da mão-de-obra porque existe uma cláusula que proibe que a demissão de efetivos para contratar na nova modalidade. E há ainda outra cláusula que determina o percentual máxmo que a empresa pode contratar de temporários. Agarantia para o trabalhador é que o contrato é feito com o sindicato. Se a empresa demitir efeti- vos, o sindicato não assina a contratação de temporários.

DP - É possivel mudar a legislação rapidamente?

Paulinho - Conseguimos mostrar para o Paiva (Paulo Paiva, ministro do Trabalho) que o Governo, trabalhado- res e empresários ganham com o con- trato por tempo determinado. O traba- lhador terá emprego e todos os direitos; os empresários têm encargos reduzidos, podendo produzir e contratar mais, e o Governo vai aumentar a arrecadação, no caso de o desemprego diminuir.

DP - Você pretende discutir o con- trato com a CUT e com as outras cen- trais para ampliar a luta?

Paulinho - O contrato gerou uma polêmica muito grande entre nós e a CUT, que é contra. Os jornais dos metalúrgi- cos de São Bernardo (Sindicato dos Me- talúrgicos do ABC) e do Sindicato dos Bancános de São Paulo estão metendo o pau no contrato. Portanto, nessa questão não há unidade. Mas tem outras coisas importantes que temos de lutar juntos, como a redução e flexibilização da jor- nada de trabalho, exigir que o Governo entre na luta contra o desemprego, mo- dernizar a relação capital e trabalho e mudar a estrutura sindical.

DP - Você falou que há 10 empresas negociando o novo contrato, que poderão

gerar 500 novos empregos. Quais são elas? Paulinho - Decidimos que só vamos

revelar quando elas assinarem o acordo. A Helfont anunciou que ia assinar, so- freu uma pressão muito grande e recuou.

DP - Pela decisão do TRT, a Helfont vai ter de contratar os 50 empregados que tinha prometido. Você conversou com a empresa para saber se ela vai chamar os trabalhadores?

Paulinho - Não acredito que algum juiz vai obrigar uma empresa a contratar só porque ela anunciou que tinha essa intenção. Uma decisão dessa natureza seria inédita.

DP - O que ficou de positivo nessa briga toda ?

Paulinho - O mais positivo é que a questão do desemprego, que estava sen- do tratada muito timidamente pela Im- prensa, voltou às páginas dos jornais. Contra ou a favor, todos estão discutin- do. Antes do contrato, o drama do de- semprego tinha sido capa dos jornais há 13 anos, quouúo u;v.a multidão derrubou as grades do Palácio dos Bandeirantes. De lá para cá, o desemprego apareceu apenas nas estatísticas.

DP - Muita gente vem dizendo que esse contrato é uma jogada de marketing.

Paulinho - Pelo contrário. Apresenta- mos a proposta em outubro de 94, quan- do discutíamos a convenção coletiva. A idéia foi amadurecendo e cabamos fechan- do agora. O que acontece é que a propos- ta é polêmica, mexe numa coisa que está aí há mais de 50 anos (a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT). Nós metemos o dedo na fenda para modificar, mantendo os direitos dos trabalhadores.

DP - A Espanha flexibilizou a con- tratação mas não gerou emprego.

Paulinho - Não dá para comparar os dois países. A Espanha é um dos paí- ses mais pobres da Comunidade Euro- péia e teve de concorrer com a Ingla- terra, Alemanha, França e Itália - paí- ses mais desenvolvidos. A indústria da Espanha foi para o brejo causando o desemprego. A flexibilização lá serviu para evitar mais demissões. O contrato não resolve o problema, mas é uma das ações. Precisamos modificar a CLT. Proponho até uma discussão sobre o código nacional do trabalho, por meio do qual se garantiria os direitos, per- mitindo que as partes negociem mais do que está previsto no código. □

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 8: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 8 Trabalhadores

Folha de São Paulo -19/02/96

Metalúrgica quer mudar lei e manter as contratações

Liminar é inócua, diz Lúcia, o primeiro a assinar o acordo coletivo

Paulo José Lúcia, 40, principal exe- cutivo da Aliança Metalúrgica, ganhou fama na semana passada ao ser o pri- meiro - e único - empresário a assinar o polêmico contrato social com redução de encargos sociais.

Lúcia, que assumiu a Aliança há dois anos para reestruturar a empresa, acha que o acordo é a forma de viabilizar o problema do desemprego e de começar a combater o custo Brasil.

Um dia após a liminar da Justiça, que o obrigou a contratar de acordo com as regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), Lúcia deu emprego a mais 25 pessoas pelo acordo coletivo. Seus planos são chegar aos 85 empregados logo após o Carnaval.

A liminar da Justiça é inócua. Preci- samos é mudar a legislação, diz ele na seguinte entrevista.

Folha - A Aliança foi a primeira e única a assinar o acordo. Por que vocês saíram na frente?

Paulo José Lúcia - Por circunstân- cia. Há cerca de um mês, começamos a discutir a questão do desemprego com o Paulinho (Paulo Pereira da Silva, presi- dente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo) e a questão do custo Brasil estava muito em voga. Então falei que poderíamos reduzir o desemprego se hou- vesse uma forma melhor de contratar.

Folha - Mas o sindicato concordou des- de o início em reduzir encargos sociais?

Lúcia - O Paulinho já estava com essa idéia e paisamos em fazer um contrato di- feraite. Revisamos todos os itais de custo da empresa e, obviamente, o custo Brasil passa pelas conquistas sociais e pelos im- postos. Eu pago FNSS, mas, ao mesmo tan- po, taiho de dar assistência médica decai- tepara 850 trabalhadores. Vimos que exis- te muito espaço para mudar. Foi um con- trato feito a quatro mãos. Só depois os sin- dicatos patronais foram chamados.

Folha - Quais são os ganhos da Ali- ança com a contratação?

Lúcia - Falando de forma míope, muito pouco. São 85 pessoas que repre- sentam 10% do meu efetivo e que redu- zirão meus custos com encargos em 30%. A economia de custo deve representar US$ 130 mil por ano. Mas o motivo que fez a gente entrar nessa polêmica é que.

Suiana Haretti

se o Brasil inteiro entrar, se a gente con- seguir mudar a legislação, teremos uma redução de custo em cascata. E a forma que temos de ficar competitivos

Folha - Com o dinheiro que gasta- ria para contratar 74 funcionários a Aliança conseguirá contratar 85, o que dá um ganho de cerca de 15%. Vale a pena comprar uma briga por 15%?

Lúcia -Lógico que não. Mas a ques- tão não é essa. É o efeito cascata que te- remos com a adesão dos fornecedores.

Folha - Quando saiu a liminar, na quinta-feira, o senhor declarou que ela não tinha validade. Por que a decisão de enfrentar a Justiça?

Lúcia -Vou respeitar a liminar do TRT. O problema são os pontos aponta- dos pelo TRT. O juiz disse que tenho de contratar com carteira de trabalho. Qual a diferença? Isso vai contar para a Pre- vidência, porque eu desconto o INSS.

Folha - Mas como o funcionário prova que está contribuindo?

Lúcia -Dou uma declaração. O juiz também cancela a cláusula de contrata- ção temporária. Mas posso contratar por quanto tempo quiser. E inócuo o que o juiz está falando.

Folha - Com a pressão contrária, em algum momento o Senhor pensou em retroceder?

Lúcia - Não. Eu esperava que o Aidar (Rubens Tavares Aidar, presidaite do TRT) esperasse o ministro. Mas o juiz fez o previsível.

Folha - O que dá para mudar nesse contrato?

Lúcia - O contrato não pode mudar. Temos deter uma legislação guarda-chu- va, que garanta os direitos macros.

Folha - Pelo contrato, se o traba- lhador entrar na justiça a Aliança per- de. Há uma negociação com eles para que não entrem na Justiça?

Lúcia - De forma nenhuma. Folha - A metalúrgica Helfont fa-

lou que ia entrar e desistiu. A Fiesp abandonou a Aliança nesse acordo?

Lúcia - A Fiesp nunca me procurou. Quem falou comigo foi o empresário Nildo Masini, que nem sei quem é(Masini é presidente do Sindicato das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos no Estado de São Paulo).

Folha - O Senhor espera apoio da Fiesp?

Lúcia - Não. Pelo que eu aitaido, a Fiesp espera apoio meu.

Folha - Há empresas procurando a Aliança?

Lúcia - Umas dez me ligaram, com a liminar todas sumiram.

Folha - Mais alguém deve assinar o acordo?

Lúcia - Muito difícil Tem muita pres- são, muita gaite que depaide de arrecada- ção. Mas com a mudança da lei, todo mun- do vai correr atrás.

Folha - E se a lei não mudar? Lúcia -E impossível a lei não se atuali-

zar. Se não mudar, este país não vale nada. Folha - O Senhor acha que o

Paulinho é um bom líder sindical? Lúcia - Acho que ele tem futuro. E sai-

sato, entaide a empresa e o empregado Folha - E o Vicentinho? Lúcia - Não o conheço. Minha opinião

é baseada numa certa antipatia que sinto pela filosofia da CUT.

Folha - O Senhor votou em quem para presidente?

Lúcia - No Fernando Hennque. Vota- ria de novo.

Folha - Outras providências também reduziriam o custo Brasil, como a refor- ma tributária. Por que começou com a redução de direitos dos trabalhadores?

Lúcia - Mas onde está o volume do negócio? A reforma fiscal depen- de de quem são os motivados. Como você vai arregimentar o povo contra isso, se ele não é politizado9 Mas se falarmos que vamos lutar pelo desem- prego e que o único jeito é ter encar- go mais barato, então a movimenta- ção é muito maior.

Folha - Mas também não é o mais fácil, já que o trabalhador é mais frá- gil? '

Lúcia - Não. O sindicato não abre mão das conquistas sociais, que são as fénas, o 13° salário. Vamos mexer no que a gente sabe que está um despautério, co mo o FGTS.

Folha - Onde mais dá para reduzir o custo Brasil?

Lúcia - A reforma fiscal é importan- tíssima. Mas o grande problema é a so- negação. G

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 9: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 Trabalhadores

Diário Popular - 21/02/96

Contrato incomoda os autistas O Secretárío-geral do Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC (da CUT), Carlos Alberto Grana, acredita que a propos- ta de flexibilização do contrato de tra- balho apresentada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (da Força Sindical) é ruim para os trabalhadores. Abre caminho para a retirada dos di- reitos sociais, cria uma subclasse de empregados e vai desviar o eixo dos debates sobre o emprego. Nas próximas reuniões, ele acredita que Governo e etnpresários vão sugerir que a discus- são comece pela retirada dos direitos da folha de pagamento. Em entre\'ista ao repórter Antônio Diniz, Grana disse que o contrato é uma jogada de marketing, pois são necessários inves- timentos na construção civil, saúde, educação e transporte para gerar em- prego rapidamente.

Diário Popular ( DP) - Quais as pro- postas do sindicato para gerar emprego rapidamente?

Carlos Alberto Grana - O primeiro passo é fazer um acordo nacional que reúna trabalhadores. Governo e empre- sários para estancar a avalanche de de- missões, que está ocorrendo nas indús- trias. É como a câmara setorial da indús- tria automobilistica, que estancou as de- missões, permitiu a retomada da produ- ção, a estabilização dos preços dos vei- culos e o emprego aumentou. Daí surgiu a câmara setorial automobilística que, infelizmente, foi desativada pelo Gover- no Fernando Henrique Cardoso. Não existe emprego sem produção e sem con- sumo. Qualquer proposta que não leve em conta essas variáveis é um paliativo.

DP - Mas como retomar a produção para gerar emprego?

Grana - Deve haver um ajuste no pla- no econômico, que canalize investimen- tos para a produção, mudanças na políti- ca cambial e medidas para a retomada imediata do consumo, como redução das taxas de juros, prazos mais longos para o crediário e financiamento barato para a produção.

DP- O que o sindicato propõena área trabalhista?

Grana - Reduzir e flexibilizar a jor- nada de trabalho, como ocorreu na Ford, Scania, Volkswagen e Mercedez-Benz.

Uma iniciativa dessa natureza, num pri- meiro passo, barra as demissões. Assim que a demanda aumenta, as empresas vão precisar de mais gente, e aí começam as contratações. A Volks, por exemplo, anunciou 310 contratações por seis me- ses em São Bernardo do Campo e esses trabalhadores poderão ser efetivados. E necessário ainda discutir os encargos tra- balhistas, como Sesi, Senai, Incra, que devem ser retirados da folha mas pagos sobre o faturamento. A idéia é que a em- presa que fatura mais paga mais, facili- tando as micros e pequenas indústrias, que são grandes geradoras de emprego. E uma reforma Robin Hood. Mas as fé- rias, 13°salário, descanso semanal remu- nerado e FGTS são direitos dos traba- lhadores, salário indireto, e não podem se suprimidos.

DP - Mas o sindicato não elaborou ainda medidas de impacto para gerar emprego rapidamente?

Grana - O Governo tem de investir na construção civil, que gera emprego rapidamente, além da saúde, educação, saneamento básico e transporte. Os go- vernos federal e estadual têm de termi- nar as obras inacabadas, que empregari- am muita gente. Deixar de construir tan- tos túneis e investir para a cabar com as enchentes na grande São Paulo para re- solver um grave problema social, que beneficiaria muita gente. O desemprega- do conseguiria emprego e a população estaria livre do problema.

DP - Você fala que o descanso sema- nal remunerado (DSR) é uma conquista, mas o sindicato ao aceitar a incorpora- ção do DSR aos salários dos contrata- dos na Volkswagen não está abrindo uma brecha para a retirada do benefício futu- ramente?

Grana - Não. A incorporação do DSR no salário-hora beneficia o trabalhador que, se faltar ao serviço, sofrerá o des- conto somente da shoras não trabalha- das. Além disso, a hora extra passa a valer mais.

DP - O contrato do Sindicato dos Me- talúrgicos de São Paulo (da Força Sindi- cal) com oito sindicatos patronais vem demonstrando que pelo menos abre vagas imediatamente. A Aliança, por exemplo, prometeu admitir 85 trabalhadores.

Grana - Mas foi só essa empresa que contratou, chamou apenas 10 trabalhado- res e parece que já está recuando. O con- trato não foi determinante para essas contratações, e sim a necessidade de pro- dução. Se não precisasse aumentar a pro- dução, a Aliança não contrataria. Quan- do a empresa e o Sindicato dos Metalúr- gicos de São Paulo anunciam que as ad- missões são decorrentes do contrato, eles estão fazendo marketing, querem é polemizar para propagandear o contrato.

DP - O que leva a CUT a concluir que o contrato é uma jogada de marketing?

Grana - A Força Sindical perdeu es- paço nas negociações das reformas da Previdência porque aceitou de cara as propostas apresentadas pelo Governo. Sentindo que perderia mais espaço para a CUT nas negociações com o Governo para combater o desemprego, o Paulinho (Paulo Pereira da Silva), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Pau- lo e diretor da Força Sindical) se anteci- pou, apresentando o contrato dele Não discutiu com a categoria e nem com a direção da Força. Nem os sindicatos dos metalúrgicos ligados à Força apoiaram o contrato. Nós, do ABC, submetemos a proposta da Volks de contratar por tem- po determinado à assembléia que reuniu quase todos os trabalhadores da empre- sa. E os contratados vão ganhar todos os direitos, inclusive a multa de 40% que o empresário paga sobre o saldo do FGTS, e existe a possibilidade de efetivação.

DP - Por que a CUT critica tanto o contrato?

Grana -Porque é perigoso para os tra- balhadores. Não gera emprego, substitui o emprego efetivo, deprecia as relações trabalhistas e gera uma subclasse de fun- cionário. E abre caminho para o Gover- no e os empresários retirarem os direitos dos trabalhadores. A médio prazo, o con- trato facilita a vida dos patrões, que po- derão fazer a rotatividade da mão-de-obra para baixar salários e terá um efeito da- noso na arrecadação do Estado.

DP - Que problemas poderão ocorrer por causa da implantação do contrato?

Grana - O Paulinho desviou o eixo das discussões sobre a geração de em- prego. Quando sentarmos novamente à

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 10: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 10 Trabalhadores

mesa com o Governo e empresários, eles vão dizer: queremos começar a negociar diminuindo os direitos dos trabalhadores. Na nossa visão, essa discussão, se ocor- rer, tem de fazer parte do último ponto da agenda, pois o custo da mão-de-obra no Brasil é muito baixo se comparado com os paises mais desenvolvidos. Por- tanto, o problema da competiti- vidade da empresa brasileira não passa pelo cus- to da mão-de-obra. O Pais não é compe- titivo por termos uma classe empresarial acomodada e um Estado que abre o mer- cado indiscriminadamente.

DP - Você disse que o contrato dos metalúrgicos de São Paulo tira direitos dos trabalhadores, mas o empregado tem garantido todas as conquistas obtidas ao longo dos anos.

Grana - Não é bem assim. Veja que o empregado não terá carteira assinada, que é uma grande conquista da classe traba- lhadora. A carteira é fundamental para comprovar o tempo de contribuição na

hora de se requerer a aposentadoria. DP - Por que o Governo Federal

apoia esse tipo de flexibilização da con- tratação?

Grana - O contrato vai ao encontro da linha neoliberal do Governo Fernando Henrique Cardoso, que é a linha de flexibilização de direitos e a de acabar com os sindicatos. E a postura do Paulinho e de Medeiros (Luiz Antônio de Medeiros, presidente da Força Sindical) sempre foi a de agradar e defender os em- presários e o Governo.

DP - Como você define o acordo do Paulinho?

Grana - E um retrocesso de 100 anos, porque abre a porta para a desregula- mentação do trabalho e cria uma subclasse de trabalhadores. E o que, in- felizmente, está ocorrendo na Alemanha, onde os patrões estão subdividindo a clas- se operária. Como pode ser que os mes- mos profissionais tenham salários e di- reitos diferentes9 Os sindicalistas moder-

nos têm a obngação de impedir isso. Esse contrato do Paulinho embute uma lógica caiei, pois passa a idéia de que o traba- lhador deve se sentir culpado por ter di- reito á carteira assinada, férias, 13°, FGTS e outras conquistas.

DP - O tipo de contratação feita pela Volks não é semelhante a proposta de admissão temporário dos metalúrgicos de São Paulo?

Grana - Já fizemos alguns acordos de contratação por tempo determinado, com a Brastemp, Metal Leve e Toyota, que deram certo. Primeiro, não fizemos com qualquer indústria, pois tem de ha- ver uma relação de confiança entre as partes, que se adquire depois de muito tempo de negociação. Em segundo, nos- sos contratos garantem todos os direitos dos trabalhadores, inclusive a multa de 40% sobre o FGTS. Em terceiro, os acor- dos sempre prevêem a possibilidade da efetivação dos trabalhadores, como ocor- reu na Volks. Li

Jornal do PSTU - 23/02 a 01/03/96

Pelegada abre mão de direitos Força Sindical joga no lixo carteira de trabalho

O Sindicato dos Metalúigicos de São Paulo, ligados à Força Sindical, fechou acordo com oito sindicatos patronais abrindo mão de direitos trabalhistas. O acordo pennite ás empresas contratar tra- balhadores sem registrar suas carteiras. A contratação é temporária e os empresári- os não precisam pagar multa de 40% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em caso de demissão. O próprio FGTS é substituido por um novo fundo.

Os empresários adoraram a propos- ta. A Aliança Metalúrgica foi a primeira empresa a aderir ao acordo. A empresa vai contratar 85 funcionários (10% de seus efetivos) com direitos reduzidos. Reduzindo os direitos dos trabalhadores, o dono da empresa calcula que vai eco- nomizar R$ 700 mil por ano.

FHC também gostou da idéia. Ele se declarou satisfeito com o acordo. O porta voz do presidente, Sérgio Amaral, disse à imprensa que "o presidente viu com sa- tisfação patrões e empivgados se poivm de acordo sobre medidas que possam iv- duzir o custo Brasil e criar empregos adicionais" (ioma\ da Tarde, 13/02/96).

Quem não gostou doa cordo foi o pre-

Marco Aníoitio Ribeiro

sidente do Tribunal Regional do Traba- lho de São Paulo, Rubens Tavares Aidar. Ele afirma que o acordo fere a Constituição atual. O presidente do Tri- bunal acha que os trabalhaHores vão en- trar com uma enxurrada de ações traba- lhistas reivindicando seus direitos. "Os trabalhadores vão ganhar tranqüila- mai- te essas ações", afirmou (O Globo, 13/ 02/96). Para evitar que os trabalhadores reivindiquem na justiça seus direitos, o governo já começa a pensar em editar Medida Provisória que adapta a atual legislação ao acordo.

Mão-de-obra do Brasil é barata

O acordo entre o Sindicato dos Meta- lúrgicos e os empresários é mais um pas- so na redução de direitos trabalhistas. A Força Sindical, com essa proposta, en- trou na briga com o presidente da CUT para ver quem cede mais. Vicentinho abriu mão da aposentadoria e a Força do FGTS. Nessa competição só sos traba- lhadores perdem. Perdem direitos con- quistados depois de muita luta.

O presidente do Sindicato dos Meta-

lúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, afinna que o acordo permitirá um aumaito do nivel de emprego. Para ele, o pnncipio responsável pelo desemprego é o "custo de contratação", aquilo que gover- no e empresários chamam de "custo Bra- sil". No cálculo do tal "custo", aitra tudo. Até mesmo fénas e descanso semanal são computados. Estes direitos dos trabalhado- res, "íão em sua maiona, um complemaito salarial que o trabalhador recebe todos os meses (saláno família), uma vez por ano (13° saláno e um terço das férias), ou quan- do é demitido (FGTS). Reduzir estes direi- tos é arrochar o salário.

Botar a culpa do desemprego no "cus- to de contratação" é ridiculo. O Brasil tem os trabalhadores mais baratos do mundo. Nosso salário mínimo é o pior do planeta. Segundo o professor da Uni- camp Jorge Eduardo Levi Mattoso, "o custo total da mão-de-obra industrial no Brasil, incluindo todos os encargos tra- balhistas e tributários, eram em 1994 de cerca de US$ 2,7 por hora, enquanto na Alemanha, mais de US$ 24 e no Japão e nos Estados Unidos, entre US$ 16 e US$ 17" D EstadodeSPaob, 15^2/06)^

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 11: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 11 Trabalhadores

Folha de São Paulo -14/02/96

Se é verdade que o exemplo vem de cima, estamos todos liberados para man- dar às favas, ou a outro destino mais po- pulares, as leis a que nos submetemos con- tranados. Obedecer às leis é atitude anti- ga, dos que "torcem pelo atraso", agora mais facilmente indentifícaveis por este cacoete incompatível com a modernização.

Nem os prepotentes e signatários do acordo entre oito sindicatos patronais e o Sindicato e o Sindicato dos Metalúrgi- cos de São Paulo ousaram negar que transgridem a Constituição e a Consoli- dação das Leis do Trabalho, ao estabele- cerem, por ato de sua vontade, que em- presas ficam dispensadas de recolher vá- rios encargos sociais, entre eles o FGTS, e de respeitar direitos trabalhistas. Em países fuleiros, a combinação formal e pública para descumprimento da Consti- tuição e das leis seria considerada ato criminoso e tratada como tal.

As leis no lixo Jânio de Freitas

No Brasil, já entrado na modernidade peessedebista, é o próprio presidente da República que "vê com satisfação" o ato inconstitucional e ilegal, declarando-se desejoso de que outros sigam o exemplo tão "positivo".

Talvez velessem a pena alguns pará- grafos sobre a responsabilização penal de incentivos a práticas identificadas como ilegais. Seriam, porém, lembran- ças originárias de tempos atrasados. Pode-se ficar só com o registro de que as lembranças não incluem qualquer presi- dente que chegasse a incentivar o desres- peito à Constituição e às leis. Ou seja, que incorresse neste caso de "impeachment".

Não se trata de fato isolado, porém. Há razão para deduzir que é uma postu- ra de governo. O ministro do Trabalho, Paulo Paiva, cometeu o mesmo estimu- lo. E não se contentou em fazê-lo verbal

mente. É da sua lavra uma portaria tam- bém sem precedentes, que caracteriza outra conivência com a ilicitude e não menos passível de processo penal do que a anterior.

Seria inacreditável, não estivéssemos onde estamos no tempo e no espaço: fis- cais trabalhistas estão impedidos de mul- tar as empresas que transgridem leis em função de algui.: acordo, neste sentido, com sindicatos de empregados. Como se explica que fiscais sejam forçados a fe- char o olhos diante da ilegalidade e dei- xar de cumprir a função pela qual são remunerados pelo Tesouro Nacional?

A questão pode ser interessante, mas é de toda a conveniência que seja respon- dida por políticos, jornalistas e junstas afinados com n governo e com o presi- dente. Tal como a Constituição e as leis, as verdades não fazem parte da "modernidade". □

O Estado de São Paulo -18/02/96

Metalúrgicos não querem abrir mão de direitos Pesquisa revela que 72% dos trabalhadores de SP

desaprovam redução de benefícios em acordos

A esmagadora maioria dos metalúr- gicos paulistas, que formam a base do sindicato que ensaiou o primeiro acordo trabalhista fora das regras da CLT, acha que não se deve mexer nos direitos ad- quiridos por lei. Pesquisa realizada pelo InfonnEstado, com 209 metalúrgicos em portas de fábricas na capital paulista, mostra que 72,2% gostariam que os be- nefícios legais ficassem intocados nas medidas propostas para conter o desem- prego. Aponta também que o novo con- trato, sem carteira assinada e com redu- ção de encargos sociais, é muito polêmi- co e divide em fatias praticamente iguais a opinião dos trabalhadores.

A maior parte dos operários aitrevis- tados afirmou ter nível razoável de in- formação sobre o novo contrato levado à prática pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, apesar de quase metade dos que opinaram (47,4%) não ser sindi- calizada. A maioria (43,5%) se conside-

José Roberto Campos

ra mais ou menos ciente de seus termos e 10,5% dizem estar muito bem informa- dos. Sabem pouco do assunto 28,7% e nada sobre ele 17,2% da amostra.

Discordância

Confrontados com os tennos gerais do acordo, os metalúrgicos paulistanos mos- traram um grau de divergências bem su- perior ao dos dirigentes sindicais - a CUT e a esmagadora maioria dos sindicatos do setor filiados à própria Força Sindi- cal, que preparou e negociou a nova for- ma de contratação, foram unânimes em fulminar a proposta.

São contra ela 47,4% dos trabalha- dores. São a favor 45%. As opiniões se chocam com igual intensidade diante da questão de se o entrevistado aceitaria ou não um emprego nas condições estipula- das pelo acordo - sem carteira assinada, por exemplo. Imaginando-se na situação

de desempregados, 47,4% responderam positivamente, 47,8% rejeitaram a idéia.

A aparente disparidade entre a alta porcentagem dos que acham que devem prevalecer os direitos adquindos e os que apoiam o acordo que retira parte desses direitos se explica. Ações para combater a praga do desemprego são bem vistas, especialmaite se comparadas à inação do governo nesse front.

Solução E o que os metalúrgicos esperam do

governo? Justamente, segundo a pesqui- sa do InfonnEstado, que ele diminua os impostos e encargos trabalhistas das empresas, ação que, para 43,5% dos en- trevistados, é a melhor maneira de com- bater o desemprego. Resumindo, os tra- balhadores querem que se reduza o custo do trabalho para o empregador sem que, preferencialmente, o mesmo ocorra com 33JSb3ieÊcios]sgaÉ.(ver quadro)

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 12: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N° 225 - 29/02/96 12 Trabalhadores

O acordo fere o Constituição. Mesmo assim, ele deveria valer, já que o objetivo é combater o

desemprego? Ou nao se deve mexer nos direitos

1,9% «M»*1*»7 25,8% Não sabe —

72,2% Nãosedevfc, mexer nos

direitos adquiridos

Acordo deve valer

Você se sente informado sobre o acordo de trabalho temporário feito pelo

Sindicato dos metalúrgicos?

informado-

28,7%í Pboco

informado'

Muito informado

•Í-: 43,5% Mais ou

menos informado

O que você acho desse acordo?

77% Não sabe

47,4% Cqotra

Com o acorde as demissões vão parar?

*,7% Nôo sabe 99%

Qual a melhor opção paro combater o desemprego?

1,9% Acordos como o que foi feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos de SP

19,1% Abertura e facilidades para implantação de

novas empresas, inclusive estrangeiros

fortfr; íírfwmÊjtodb

Não sabe

43,5% Oiminúição dos encargos e impostos trabalhistas

das empresas

10,5% Redução da jornada de trabalho

para contratar mais gente

4,8% Criação de mecanismos que dificultem demissões

pelo governo

18,7% Investimentos do governo

em obras que gerem empregos

Você oceitoria um emprego sem registro em carteiro e sem alguns

encargos sociais?

4,8% Não sabe

47,4% Sim

O acordo vai aumentar o número de empregos?

5,3% Não sobe

54,5%.. Stm

Voei acha que o governo tem feito muito, pouco ou nado para

combater o desemprego?

1,9% Muito

54,5% Nada

43,5% Pouco

O Estado de São Paulo -15/02/96

Desemprego e relações de trabalho As recentes propostas de combate ao

desemprego e de transformação das re- lações de trabalho padecem de duplo equívoco. Por um lado, não atacam as causas do desemprego, favorecendo em muitos casos a ampliação da precarização das condições de trabalho. Por outro, não avançam na necessária democratização e no aperfeiçoamento das normas que ainda regulam as antiquadas relações de trabalho nacionais.

O governo oscila entre duas posições insustentáveis. Num extremo, tal qual avestruz, nega o desemprego e a crescente precarização das condições de trabalho, com base em informações do EBGE, que, defasadas metodologicamente, não cap- tam o fenômeno que pesquisas de opi- nião insistem em apontar como o maior problema nacional. Apesar do governo,

Jorse Eduardo Levi Mallnso

verifica-se que, além da elevação do de- semprego, os empregos criados são pio- res e cresce o trabalho por conta própria e sem carteira (pelo que se recebe cerca de 30% menos do que o assalariado com carteira).

No outro extremo, lança sucessivos "factóides". Num momento diz que vai investir na formação profissional e na qualificação, indispensáveis para a ele- vação da competitividade nacional, mas com escasso poder de gerar novos em- pregos. Em outro momento, afirma visar a geração de empregos por meio de in- vestimentos já anteriormente alocados e sem nenhum critério estratégico de destinação, pois dispensa um projeto na- cional, políticas industriais e definição de prioridades. Ainda em outro momento, coloca os graves problemas do desem-

prego como resultantes da rigidez do mercado de trabalho e dos elevados en- cargos trabalhistas. O Ministério do Tra- balho já não fala na constituição de um sistema nacional de emprego ou na de- mocratização das relações de trabalho. Sua ação tem se limitado a lançar ba- lões de ensaio sem nenhuma articulação ou proposta mais séria, ou a defender explicitamentem a precarização, como no caso da Portaria 865, de dezembro de 1995, pela qual orienta os fiscais a não multarem acordos que descumpram a lei.

Parcela dos empresários, na ausência de um projeto de desenvolvimento nacio- nal, segue o discurso governamental e se subordina exclusivamente à lógica da concorrência. Parece pouco se importar se a insenção subordinada, com endividamento externo, sobrevalorização

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 13: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 ■■:■■:■:■■■■■■:■»■: íííííí ííííííü; m::-i.-i: ííííííSWí; iMiiiíiii^kXimmx

13 Trabalhadores

do câmbio, altos juros, ajustes recessivos permanentementes e reestrutuiação in- dustrial entregue exclusivamente ao mer- cado, favorece um processo de substitui- ção de produção nacional por produção importada (50% de elevação apenas em 1995) e ascentua a busca empresarial por sucessivos cortes de custos e mão-de- obra. Assim, são condenados setores in- dustriais e a cada nova onda de rengeneering, downsizing ou decruiting são maiores os contingentes de desem- pregados ou de excluídos do mercado de trabalho formal.

No recente debate sobre os encargos ignorou-se que a maior parte deles faz parte dos rendimentos monetários rece- bidos pelo trabalhador, ainda que diferi- dos no tempo (sobretudo adicional de um terço de férias, FGTS, 13° e recisão contratual). Desta forma, reduzi-los se- ria cômico se não fosse trágico, dados os níveis reconhecidamente baixos dos sa- lários brasileiros. O custo total da mão- de-obra industrial no Brasil, incluindo todos os encargos trabalhistas e tributá- rios, eram em 1994 de cerca de US$ 2,7

por hora, enquanto, na Alemanha, mais de US$ 24 e no Japão e nos EUA, entre US$ 16eUS$ 17.

Em contrapartida, setores sindicais parecem admitir a fragmentação da soli- dariedade entre os trabalhadores e destes com o conjunto da sociedade (sobretudo com os excluídos), ao aceitarem que a discussão dos problemas do emprego se limite ao mercado de trabalho, como se aí estivessem as causas do desemprego. Em alguns casos chega-se ao paroxismo, aceitando-se formas de contratação ao arrepio da lei, sem encargos, com redu- ção de direitos e salários, como a recen- temente proposta feita em São Paulo. Em outros, considera-se a possibilidade de contratação coletiva exclusivamente ao nível de empresa. Em ambos os casos, os efeitos sobre a ampliação da precarização e da desigualdade do mercado de traba- lho nacional seriam enormes e um fra- casso enquanto medidas voltadas para o aumento do emprego, como já demons- trou a experiência de vários países euro- peus e latino-americanos (Espanha e Ar- gentina, por exemplo).

O efeito do enfrentamento do desempre- go e da precarização do mercado de tra- balho implica a recuperação da solida- riedade social. A constituição de nego- ciações permanentes por empresa, setoriais e nacionais conformariam um novo espaço democrático capaz de arti- cular os diferentes interesses. A consti- tuição de um projeto nacional, sob a égide da produção e do emprego, permi- tiria identificar prioridades e redefinir a nossa forma de inserção na economia mundial. Finalmente, redefinir as atuais políticas econômicas permitiria, não so- mente preservar a estabilidade, mas as- segurar crescimento numa sociedade mais justa e solidária. D

Jorge Eduardo Levi Mattoso, profes- sor do Instituto de Economia, diretor- executivo do Centro de Estudos Sindi- cais e de Economia do Trabalho (Cesit), ambos da Unicamp, é autor de A De- sordem do Trabalho, Ed Scritta, 1995, e organizador da coletânea O Mundo do Trabalho, Ed Scritta, 1994

Estado de São Paulo de 16/02/96

Sindicatos da Força rejeitam acordo Entidades da própria central não apoiam

novo contrato assinado pelo sindicato de São Paulo UlíanaPinheiro

Ameaçado por ações judiciais, o acordo para contratação temporária, com redução de encargos sociais, so- freu um segundo golpe ontem. Em reu- nião de representantes de 36 sindica- tos de metalúrgicos da Força Sindical, 35 informaram que não o adotarão. O presidente do Sindicato dos Metalúr- gicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, que propôs e assinou o acordo, está isolado em sua própria central.

A argumentação de todos os dirigen- tes foi a de que o contrato não cria em- pregos e abre precedentes para que os empresários passem a desrespeitar os direitos legais dos trabalhadores. Ape- nas o sindicato de São Caetano do Sul, que já assinou o acordo, apoiou a ini- ciativa de Paulinho. Alguns sindicatos, com de São Carlos e Mogi das Cruzes, como protesto, nem mandaram repre- sentantes e enviaram cartas condenan- do o acordo.

Paulinho tentou convencê-los, expli- cando que os direitos estão garantidos.

Não conseguiu e, no final do encontro, avisou que nem assim vai recurar. "Não tenho mais como correr disso", disse o sindicalista. "Fiz uma opção de ficar do lado dos desempregados e agora o negó- cio é enfrentar". Na sua interpretação, o acordo não foi rejeitado pelos demais. "Não houve decisão contra, apenas co- meçou uma discussão", argumentou. "Não estou preocupado com isso, tenho certeza que a Força Sindical vai discutir, conhecer e aderir à proposta."

Os sindicatos pertencem á Federação

dos Metalúrgicos, que controla 450 mil trabalhadores da Força Sindical. As principais entidades dessa base - Osasco, Guarulhos - foram as primei- ras a anunciar que não adeririam. O presidente da federação, José Firmo, afirmou que os entraves legais são sé- rios demais e os sindicatos, ao embar- car num acordo que fere a Constitui- ção, não terão meios de exigir o cum- primento das cláusulas nem na Justiça do Trabalho. "Esse contrato é perigo- so demais", disse. G

O Estudo dirige a pratica transformadora

Page 14: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 14 Trabalhadores

Estado de São Paulo de 18/02/96

Acordo escancara crise interna na Força Sindical

O acordo aitre o Sindicato dos Meta- lúrgicos de São Paulo e oito sindicatos pa- tronais da Fiesp, suspenso quinta-feira por liminar da Justiça do Trabalho, vai para o arquivo dos "acordinhos que não aitram para a história", segundo definição de um dos diretores da Federação dos Metalúrgi- cos do Estado de São Paulo, João de Sou- za Neto. Ele é também diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, do qual o idealizador do chamado contrato flexível, Paulo Pereira da Silva, é presidaite.

O contrato, que além de polêmico é ile- gal teve duas virtudes. Apnmeira, de colo- car na pauta de governo e movimaito sin- dical a discussão sobre a refonna traba- lhista. A segunda, de mostrar como o sin- dicalismo está dividido e confuso. Depois da temporada de conflitos na Central Úni- ca dos Trabalhadores (CUT), por conta da negociação da refonna da Previdâicia, foi a a vez da Força Sindical mostrar ao País suas fendas, bem mais profundas.

I.iliaiiíi 1'iiiheirii

Na central presidida por Luiz Antô- nio de Medeiros ninguém mais esconde uma cnse que existe há mais de um ano mas que agora toma contornos perigosos para sua sobrevivência. Independente- mente do prestígio político dos dirigen- tes, quem mais perdeu com o acordo de Paulinho foi a Força Sindical. Dos 45 sindicatos de metalúrgicos filiados à cen- tral no Estado de São Paulo, apenas um apoiou o contrato flexível; o de São Cae- tano do Sul. Os demais repudiaram a idéia. Nos bastidores, dirigentes recla- mam da forma como as decisões na cen- tral são tomadas.

Além disso, a Força rachou. Pelo me- nos 34 dirigentes em todo o país come- çaram a despejar por fax cartas de desfiliação, liderados pelo secretário-ge- ral da entidade, Enilson Simões de Moura, o Alemão. Por conta do racha, a central já não têm presidentes em nove Estados - Amazonas, Alagoas, Ceará,

Pernambuco, Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Espíruito Santo e Minas Gerais. Os presidentes estaduais engrossaram a lista de filiação apresen- tada por Alemão.Paulinho ganhou pu- blicidade. Isso foi considerado positivo pela direção da Força Sindical, num momento em que a CUT avançava. Mas Paulinho fez mais inimigos políticos do que amigos nessa história. Sua base não foi consultada em relação ao acordo. Nem mesmo sua diretoria, segundo João de Souza Neto.

O presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Pau- lo, José Firmo, não ameaça sair da central. Mas coloca em dúvida a for- ma como as coisas são decididas - sempre individualmente, sem consul- tas, sem debate, sem discussões. "A força Sindical vai mal sim, mas a sa- ída não é acabar com ela e sim re- construí-la", diz. n

Alquimia - Out/95 a Jan/96 - N0 6

Modelos opostos de organização CUT reafirma deliberações para se contrapor à proposta

do governo de criar sindicato por empresa

Vem aí debate sobre organização sin- dical no curso das reformas. Ainda não se tem conhecimento do conteúdo das propostas do governo. Mas, segundo Remígio Todeschini, presidente do Sin- dicato dos Químicos e Petroquímicos do ABC e tesoureiro da CUT nacional, a julgar pelas medidas provisórias que tra- tam da desíndexação salarial e da parti- cipação nos lucros e resultados das em- presas, "existe o claro propósito de ani- quilar as organizações sindicais".

Para Remígio Todeschini, "Fernando Henrique pretende implementar mudan- ças que vão de encontro com seu projeto neoliberal". O objetivo, afirma Remi, "é eliminar as entidades sindicais represen- tantes dos trabalhadores num universo, também, mas além dos locais de traba-

Dernal Santos

lho. Para isso FHC joga pesado contra a estabilidade dos dirigaites dos sindicatos e membros de comissões de fábrica nas empresas". O sindicato observa que "sub- serviaite, o governo ataide às exigências de um setor do empresariado, ao taitar implementar sindicatos por empresa".

A CUT entra nesse debate com auto- ridade. A partir da segunda metade da década de 70, quando foram retomadas grandes mobilizações sindicais no país, além das reivindicações salariais, esse movimento que deu origem á Caitral tam- bém nasceu questionando o modelo de organização sindical vigaite até hoje. Em agosto de 1983, uma das deliberações do congresso de fundação da Central foi a declaração de "guerra à estrutura sindi- cal oficial".

Democracia Ao mesmo tempo, a organização da

CUT é sinal inequívoco de rompimento com o modelo imposto pelo governo. A direção, por exemplo, é composta por integrantes das chapas concorrentes, le- vando-se em conta a proporcionalidade dos votos obtidos, em cumpnmento e res- peito à democracia interna. Através das chamadas estruturas horizontal e verti- cal, a Central tem seu próprio método de funcionamento interno e formas de liga- ção com os 18,3 milhões de trabalhado- res que representa.

A estaitura horizontal diz respeito às direções da Central em diferentes níveis (nacional e estaduais). E para arregi- mentar as diversas categorias por ramo de atividade instituiu-se a organização

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 15: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 15 Trabalhadores

vertical , definida no 2o Congresso, em 1986, como Departamento e depois trans- formada na plenária nacional, em 1992, em Confederações, CNQ, CNM, CNB e CNTV, são Confederações que reúnem químicos e petroquímicos, metalúrgicos, bancários e trabalhadores do vestuário, além de outras no setor de transporte, alimentação, servidores públicos, etc.

Atenta ás pretaisões do governo, a CUT propõe transformar as entidades filiadas em orgânicas. Isso significa "de-

sencadear um processo de unificação de sindicatos por ramos de atividade, em âmbito regional, estadual e nacio- nal, com reforço à organização por lo- cal de trabalho amparada numa legis- lação mínima", como define a resolu- ção da 7a Plenária. Segundo Remi, "esta iniciativa marca o confronto com o objetivo do governo de criar sindi- catos por empresa, como forma de fragmentar ao máximo a capacidade de mobilização dos trabalhadores".

O tesoureiro da CUT nacional ob- serva que tanto a legislação de supor- te garantindo a organização nos lo- cais de trabalho como sindicatos por ramo, organizados regional, estadual e nacionalmente são experiências já colocadas em prática em países como Itália, Bélgica, França, Espanha e Alemanha, onde as relações entre ca- pital e trabalho estão em níveis mais civilizados do que por esses lados do continente. □

Alquimia Out/95 a Jan/96 - N° 6

Propostas da CUT Rumo á implantação do Sistema

Democrático de Relações de Traba- lho, a Central apresenta as seguintes sugestões:

1) Organização Sindical Alteração do artigo 8o da Constitui-

ção, da seguinte forma: a) Inciso U - fim da unicidade sindi-

cal por lei e do enquadramento obrigató- rio por categorias;

b) Inciso IV - fim da contribuição sin- dical compulsória;

c) Acrescentar o direito à livre orga- nização, nos termos da Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Tra- balho);

d) Garantir o reconliecimento jurídi- co das centrais sindicais;

e) Direito de representação dos tra- balhadores no interior das empresas.

2) Justiça do Trabalho Os artigos 114,115, 116 e 117 da Cons-

tituição devem ser modificados prevendo: a) Fim do poder normativo da Justiça

do Trabalho; b) Competência para que a Justiça do

Trabalho possa atuar como arbitragem nos conflitos coletivos de natureza eco- nômica, mediante convocação de comum acordo entre as partes e dentro dos limi- tes por estas fixados;

c) Extinção da figura dos Juizes classistas em todos os níveis de repre- sentação.

3) Negociação Coletiva Aprovação de emenda constitucional

que acrescente os seguintes direitos: a) Vigência das atuais Convenções e

Acordos Coletivos de Trabalho por tem- po indeteminado, com alterações medi-

ante negociação da qual participe a enti- dade sindical que o assinou:

a) Vigência das atuais Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho por tem- po indeterminado, com alterações medi- ante negociação da qual participe a enti- dade sindical que o assinou;

b) Os novos contratos coletivos que vierem a ser assinados também terão vi- gência por tempo indeterminado. Suas cláusulas somente poderão ser alteradas mediante novo acordo entre as partes.

4) Legislação Ordinária Criação de uma comissão tripartite, com

representação das centrais sindicais, enti- dades patronais e governo, para elaborar uma proposta de legislação de sustaito, que abranja direitos individuais, coletivos e pro- cessuais, em substituição à CLT (Consoli- dação das Leis do Trabalho). I"l

Documento-1996

Sobre sindicato orgânico e contrato coletivo de trabalho

* Flexibilização à brasileira Osvaldo Couciola/Adusp-S.Sind.

No Brasil, a "desestabilização" do servidor público aponta, obviamente, no sentido da precarização do emprego, encampando a tendência objetiva da eco- nomia capitalista: "de 1990 para 1994 caiu de 57% para 47% o número de tra- balhadores com carteira assinada. Ou seja, mais da metade da força de traba- lho não está amparada pela legislação vigente, boa ou ruim".

Não há nada de contraditório (senão as próprias contradições do capitalismo)

em que, no Brasil, a "modernização" a passos largos do sistema industrial e fi- nanceiro (com seu desemprego de mas- sa) coexista com a (re)introdução, a pas- sos mais largos ainda, das formas ante- diluvianas da exploração do trabalho, com vistas a fazer crescer a mais-valia social no período da crise mais aguda do capital: "Nos últimos três anos, desde que o ex-presidente Fernando Collor de Mello precisou renunciar por corrupção, quintuplicou-se a mão-de-obra escrava

no Brasil. Segundo a Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica, há 490.000 crianças entre 10 e 14 anos que traba- lham ilegalmente nas zonas rurais na con- dição de escravos, e os trabalhadores na condição de escravos aumentaram de 4.883 em 1991 para 25.193 em 1994".

A proposta de "contrato coletivo" e de "Câmara Nacional de Relações do Trabalho" aliena a independência classista dos sindicatos em função de uma série de (muito hipotéticas) vantagens que

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 16: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 16 Trabalhadores

seriam obtidas apenas pelos trabalhado- res cobertos pela legislação trabalhista, isto é, que incluiria (pelo menos) 53% dos trabalhadores maiores de 18 anos, e a totalidade dos menores, o que eqüivale dizer à imensa maioria daqueles que são a base da luta contra a atual ofensiva do capital, e não é o menor dos paradoxos que esta proposta seja feita em nome da luta contra a "lógica da exclusão".

Sindicato Orgânico É nesse quadro que deve ser vista a

proposta de "sindicato orgânico", que já foi assim definida: "A expressão orgâni- ca traz consigo a idéia de que as novas entidades não estarão filiadas à CUT, e sim constituirão parte indissociável da estrutura da Central. Superaremos o du- alismo hoje existente entre estrutura ofi- cial (sindicatos filiados) e estrutura livre (instâncias da CUT), para chegarmos a um modelo em que cada sindicato e suas representações de base principal seria a centralização das finanças da CUT, exis- tentes e a fusão de sindicatos, tendo como referência os ramos de atividade". Já foi dito, no XXXI CONAD, que "caso es- sas propostas sejam implementas, pode- rá haver um processo de centralização de poder nas mãos da corrente majoritária i inibir a organização das oposições, no interior da central. Além de tudo tal pro- posta seguramente trará dificuldades imensas às bases de organização da AN- DES-SN"

É necessário ir mais longe, apontan- do não só para o processo de burocratização interna, mas também para o fato de que aquela está a serviço de uma política externa, consistente na homogeneirzação artificial "por cima" da CUT, com vistas á sua participação na Câmara Nacional de Relações de Traba- lho", uma política de conciliação de clas- ses que alguém já definiu como "sindica- lismo de resultados "autêntico"". A pró- pria Articulação Sindical estabelece essa veiculação ao concluir a sua proposta de "modelo sindical cutista", afirmando es- tar ela a serviço do "sistema de relações do trabalho com vistas à adoção do prin- cípio de liberdade e autonomia sindical, da contratação coletiva articulada e da legislação de sustento".

Contra a burocratização A critica ao caráter anti-democrático

da proposta de "sindicato orgânico" já foi realizada de diversos modos: "Sem que

nenhum dos sindicatos filiados a CUT tenha realizado uma assembléia sequer, para discutir o assunto, a Plenária apro- vou a vinculação dos sindicatos á estru- tura orgânica da CUT e abriu a discus- são para que a base defina apenas "como" vai ser tal vinculação.

"A organicidade, como é defendida pela Articulação Sindical, pressupõe con- centrar nas mãos da direção da Central o poder de decisão. Os sindicatos funionariam na realidade, como se fos- sem departamentos da CUT e estariam submetidos ás decisões da direção da CUT em todos os terrenos. A direção da Central ficaria com as mãos livres para negociar e fazer contratos, sem ter que estar dependendo das assembléias para aprovar ou desaprovar seus atos. O tex- to aprovado fala em manter as decisões das assembléias. Mas se essa promessa fosse para valer, porque é que a decisão pela organicidade não esperou por uma assembléia sequer?

"Com a organicidade a cúpula pode tudo. Até no terreno das finanças. Na me- dida em que a filiação deixa de ser ao sin- dicato e passa a ser á Central, a arrecada- ção passará a ser feita diretamaite para a CUT, que depois repassará às intâncías de base (...) A oiganicidade, se adotada, pres- supõe a exclusão de parcelas inteiras dos trabalhadores dos sindicatos".

A Direção Nacional da ANDES-SN tem se posicionado de modo claramente critico com relação á nova organicidade da CUT: "Reforça-se, de forma aguda, o processo de centralização da Central, ao mesmo tempo em que diminuí o debate interno sobre esta transformação. Presai- ciamos, via centralização de finanças, a modificação das formas de organização vertical da Central. Todo esse processo, sem que seja conhecido na sua própria essàicía e amplamente debatido, é pro-

blemático. A tese aprovada sobre mode- lo sindical cutista - o SO - não diz prati- camente nada sobre o conteúdo organizativo e suas conseqüências. É ne- cessário ampliar o debate pois isto pode trazer mais problemas que soluções para a Central. Por outro lado, a questão das finanças suscita imensas dúvidas. Qual é o déficit real da Central? Porque as fi- nanças da CUT não têm sido apresenta- das, regular e criteriosamente, sob a for- ma de balancetes mensais ou, pelo me- nos, semestrais? Porque a CUT não atua no sentido de diminuir a indimplência dos sindicatos devedores, ao invés de, como fez o governo, aumentar a taxação sobre aqueles que cumprem com suas obriga- ções políticas e financeiras? O problema está exatamente em que, no momento da transformação em SO, o sindicato de base passa a ser uma instância da CUT e, por- tanto, têm sua autonomia e liberdade li- mitadas. Aqui se coloca com clareza a questão da democracia. O processo de modificações estatutárias da CUT veio nos colocando diante de um processo complexo de pnvilegiamento das instân- cias em detrimento do controle democrá- tico das massas.

Em função desses critérios, a Direto- ria da ANDES-SN suspendeu suas con- tribuições para a CUT até a realização do XV Congresso. Da crise aberta só será possível sair reafirmando os princípios da democracia sindical, mas também os da independência de classe dos trabalha- dores, contra todas as formas de colabo- ração de classe e pacto social, por uma CUT de todos os trabalhadores, organi- zada pela base, na perspectiva de um governo anti-capitalísta dos trabalhado- res, como única solução possível para a crise brasileira. O

* Extrato do Documento

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 17: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 17 Trabalhadores

Boletim da corrente O Trabalho - n0 387 - 07 a 27/02/96

A independência dos sindicatos em questão Primeiro inscrito na DN/CUT, em 3 de fevereiro, a intervenção de Osvaldo

D'Andrade, da CUT-SP, colocou os termos do debate: o acordo éinaceitável! "aposentadorias complementares", com este Acordo; 2) A CUT recusa o geridas pelos grandes bancos; protocolo de 16 de janeiro como base

♦ ...O fim da contagem do tempo de Para a negociação; 3) A CUT exige a

"Companheiros, esta reunião realiza- se num momento crucial. FHC busca de todas as formas aprisionar a CUT num acordo que significa a aplicação dos pla- nos de ajuste.

Para cá está voltada a atenção de mi- lhares de ativistas sindicais, milhões de trabalhadores A expectativa é que esta direção rejeite a destruição da previdên- cia que FHC quer implementar.

Qual é a saída que devemos apontar? Três elementos são importantes;

PRIMEIRO, a imprensa deu destaque à festa "Noche de los Suenos" realizada em Punta Del Leste, pelo anpresário Gilberto Scarpa, gastando 2 milhões de dólares.

A ligação com a Previdência é que o patrocinador dessa festa deve 8 milhões de dólares aos cofres da União. Só com a Pre- vidâicia, Scarpa deve 350 mil dólares. Di- nheiro descontado na folha de pagamento dos trabalhadores e não repassado para a previdência. Ai está o problema do déficit da Previdência: a sonegação.

E com certeza a Reforma da Previdên- cia de FHC conta com o apoio de empre- sários como Scarpa.

SEGUNDO, se diz que a CUT tem que negociar. Certo, sindicalista como to- dos nós, tenho que negociar. Mas quando vou negociar, vou com as reivindicações da categoria. E um combate. Depende da relação de forças: às vezes ganho muito, às vezes menos. Mas não se trata disso no caso da previdência.

As "reivindicações" são as do gover- no e do mercado financeiro. Trata-se de rebaixar os direitos trabalhistas. E nós de- veríamos acompanhá-los, porque?

Se diz que há "avanços". Será que os trabalhadores acharam que é avanço?...

♦ ...A mudança de aposentadona por tempo de serviço para tempo de contribui- ção, modificando o conceito da previdèi- cia como contribuição solidária pública, para o conceito de capitalização individual privada, onde cada um tem que formar a sa "poupança" para poder se aposentar.

♦ .. .0 estabelecimento do teto da pre- vidência em 10 SM, favorecendo a privatização com o aumento do peso das

trabalho familiar, em particular do se- tor rural;

♦ ...Restrições à aposentadoria inte- gral dos servidores que, segundo o go- verno, reduziriam a 10% do contingen- te de servidores com este direito;

♦ ...A responsabilidade da CUT por uma nova revisão da previdência daqui a 5 anos, quando seriam colocados em questão todos os direitos como a apo- sentadoria especial dos professores.

Por tudo isso, este acordo é inaceitá- vel. Este acordo que está sendo propos- to e negociado, que parte da minuta de 16 de janeiro, se consumado:

- corresponsabiliza a CUT, pelo mai- or golpe já desferido por FHC Vãos tra- balhadores brasileiros,

- mancharia a independàicia da CUT, frente a este Governo.

TERCEIRO, Nem a direção, nem Vicentinho, tem mandato para fazer este acordo. Mandato que decorre da demo- cracia. Mandato é dado pelo nosso con- gresso. Congresso que tem resoluções opostas à essa, que a direção está nego- ciando, e que reduz direitos e conquis- tas realizadas pelos trabalhadores des- de a década de 40.

Por isso, não aceitamos este acor- do. Acordo que se aprovado nessa DN, não vou cumprir. Me dirigiria aos sindi- catos e aos trabalhadores para rechaçar este acordo.

Neste sentido, estou propondo a se- guinte resolução com 4 pontos:

1) A CUT não tem compromisso

retirada do projeto da previdência do Governo do congresso; 4) A CUT con- voca uma Plenária Nacional de Emer- gência para discutir a Previdência e encaminhar formas de luta contra FHC e sua reforma."

Campanha de moções na

CUT Começaram nos últimos dias as toma-

das de posição de sindicatos e instâncias da CUT, pela recusa do protocolo do acor- do como base para negociação e pela con- vocação da Plenária de Emergência.

Na convenção da CUT dos munici- pais de São Paulo por 56 a 47 votos, re- verteu-se a posição antenor da executiva do sindicato, adotando a Moção. Outros 6 sindicatos paulistas - Correios, Radia- listas, Enfermeiros, Arquitetos, Sinpro- Osasco e Afepesp - fizeram o mesmo.

Até o momento da reunião da DN da CUT, já se totalizavam as adesões de di- retorias ou assembléias de 15 sindicatos - SINDIUTE, SINDSEF E SINTUFC no Ceará, SINDSEF em Minas, Médicvos e Engenheiros em Alagoas, SINERGIA e Previdenciários em Brasília - além da importante Plenária Nacional dos Servi- dores Federais, e plenárias sindicais convocadas pelas CUTs de Alagoas, Ce- ará e Rio Grande do Sul (que integrou a saída da CUT do acordo) fl

^íá #>'

/jeErs"

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 18: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 18 Trabalhadores

Isto E/n01378-28/02/96

Vicentinho, o bompelego

Um observador implacável poderia fazer a seguinte observação a propósito de certos acontecimentos políticos do Brasil atual: quando as utopias caem, os pelegos ascendem. Vicentinho, presiden- te da CUT e novo herói ( ou anti-herói) da cultura brasileira, é um legitimo filho dos novos tempos e, ao negociar com o governo a reforma da Previdência, encon- tra legitimidade onde outros só colheram repúdio. O peleguismo de ontem é a sen- satez de hoje. Tudo é relativo. Menos a persistência absoluta do liberalismo. Sin- dicalista pós-modemo, Vicentinho repre- senta o futuro em relação a Lula por ter sabid dar nova embalagem ao passado de homens como Luiz Antônio de Medeiros: o que antes se chamava de "sindicalismo de resultados" e causava asco aos puristas agora é visto como "uto- pia possível".

Vicentinho cumpre um papel doloro- so em tempos sombrios: servir de "cor- reia de transmissão" entre o poder e o povo. Getúlio Vargas e Juan Domingos Perón ficariam encantados com um interlocutor tão valioso. Na época dos grandes projetos ideológicos, a esquerda existia para contestar governos liberais e oferecer modelos alternativos de organi- zação social. Fazia sentido que a princi-

Juremir Machado da Silva

pai organização sindical de um pais fos- se intransigente. Passado o sonho, Vicentinho brilha por ter a coragem de res- paldar os planos medíocres de um falsa social democracia acorrentada ao verdadei- ro capitalismo selvagem. Os saihores-de- engenho devem estar contentes. Ao longo da escravidão, eles tinham algum cannho pelos bons crioulos. Às vésperas do século XXI, podem admirar os bons pelegos. Indivíduo reformado, Vicentinho tem charme, chora e até admitiu que já broxou. Os revoluconários juravam não amolecer jamais, mas, no essencial, fra- cassaram. Os realistas reconhecem suas fragilidades e não estão obrigados a su- portar nos ombros a miséria existencial. Cada época tem a mitologia que conse- gue inventar. FHC agradece, enquanto o Brasil chora a perigosa vitória parcial do razoável levado ao paroxismo. O esquerdismo aprendeu a balbucia: "Sehá governo, preciso em algum momento ser a favor". O PT ainda não entendeu que estar contra FHC e Vicentinho não deve significar defesa de privilégios de funci- onário público.

Não fosse demasiado cinismo, seria possível dizer que não se trata de julga- mento moral: o peleguismo de outrora converteu-se no bom-mocismo ideológi-

co deste fim de século entregue á demsão. O que pensaria um anarco-sindicalista de coração puro, saldo da máquina do tem- po, de um lider operário que ajuda a apro- var mudanças articuladas por um presi- dente fechado com interesses dos aliados da ditadura militar? O que diria ao des- cobrir que o tal governo estuda a possi- bilidade de mexer em direitos básicos da classe operária: férias, fundo de garantia etc? O viajante virtual rotularia Vicentinho de pelego. Este poderia desqualificá-lo com um simples "anacrô- nico" e dormir embalado pelos elogios burgueses.

O desempenho de Vicentinho no cená- rio patético do Brasil pós-utópico reforça chavões carregados de verdades sobre o fim das ideologias. Quando ninguém mais diveige consistentemente, o pensamento único sacraliza o consenso mortal, a paz dos cemitérios. As oposições já não se opõem, os contestadores abdicam, petistas aplaudem velhos amigos do regime mili- tar e quase toda palavra na contramão fossiliza-se em 30 segundos. Nada disso faz dos dinossauros políticos uma espécie digna de proteção. O sim de Vicaitinho é uma confissão de incompetência, trágica incapacidade de articular um NÃO passí- vel de parir o novo. L!

Informativo d'A Classe Operária - n" 2 -1 S/02/96

CSC deixa reunião da CUT em oposição ao conchavo

A Corrente Sindical Classista retirou- se da reunião da direção nacional da CUT, ocorrida no último final de sema- na em São Paulo, no momento em que seria votada a permanência nas negocia- ções com o governo FHC e o apoio ao acordo em tomo do projeto da reforma da Previdência Social.

Essa atitude foi adotada ao lado da Alternativa Sindical Socialista (ASS) e do Movimento por uma Tendência Soci- alista (MTS), para marcar a posição de critica, oposição e independência em re- lação à postura da força majoritária na central, a Articulação Sindical, que vem impondo uma linha de ação contrária aos

interesses dos trabalhadores brasileiros. A direção nacional da CSC divulgou

nota onde fundamenta essa opinião. Diz que o acordo proposto pelo go-

verno representa um retrocesso inaceitá- vel, pois reduz e elimina direitos sociais conquistados após décadas de luta.

1 - A substituição do critério de tem- po de serviço pelo tempo de contribuição contraria os interesses de milhões de tra- balhadores, de forma geral e, especial- mente, daqueles empregados na chama- da economia informal, sem carteira assi- nada, que a muito custo conseguiam se aposentar e agora correm o risco de per- der definitivamente esse beneficio.

O trabalhador que saiu do campo para a cidade já não poderá contar com o tempo de trabalho rural para efeito de aposaita- doria e, em que pese a retónca em contrá- rio, é preciso notar que, no final das con- tas, caberá ao assalariado o ônus de com- provar o tempo de contribuição, tarefa muito mais difícil, já que as infonnações ficarão centralizadas nas mãos dos patrões.

2 - A eliminação das aposentadorias especiais fundamentadas em estudos da Organização Mundial da Saúde e admi- tidas pelas Delegacias Regionais do Tra- balho é mais um exemplo de eliminação de direitos trabalhistas em detrimento de diversas categorias assalariadas

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 19: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 19 Trabalhadores

3-0 estabelecimento de limite de ida- de e tempo de contribuição desmantela a Previdência Social para o setor público. Além disso, o projeto de FHC prevê a revisão, naturalmente para pior, dentro de dois anos, da aposentadoria especial dos professores de Io e 2ograus, a crité- rio do próprio patrão, ou seja, o gover- no, que já manifestou sua intenção de suprimir esse direito.

4 - Quem trabalha em condições pe- rigosas, insalubres e penosas, é protegi- do pela legislação atual, que lhes garante aposentadoria especial. Porém, o relator do projeto da Previdência Euler Ribeiro, com o aval de FHC, quer substituir os conceitos da legislação em vigor pelas da OIT, que estão defasadas e não satisfa- zem os interesses dos trabalhadores.

5-0 acordo proposto pelo governo federal abre caminho à privatização da Previdência Social, no rumo que vem sendo proposto pelo ministro Reinhold

Stephanes desde a época em que servia ao famigerado governo Collor, quando alardeou a idéia de que a Previdência deve ser vista como uma "empresa de seguro" , onde só participa aquele que pode pa- gar, a exemplo do que já ocorre atual- mente na área de saúde.

6 - Só por ingenuidade ou má fé pode- se deixar de enxergar a óbvia vinculação entre o projeto da Previdèicia e a política neoliberal, que aqui, com o governo FHC (sustentado pelos conservadores do PFL, PPR e PSDB), e ferozes ofaisivas do ca- pital contra o trabalho já observadas na História e vem merecaido uma firme e heróica resistência dos assalariados. As mudanças propostas estão igualmente combinadas com a supressão dos direitos sociais previstos na Constituição e a flexibilização para penmtir a contratação desonerada dos encargos sociais, sem car- teira assinada e outras responsabilidades.

Nas novas condições anunciadas pelo

ministro do Trabalho, Paulo Paiva, é pre- ciso indagar como o assalanado fará para se aposentar por tempo de contribuição.

7 - E lamentável que o presidente da CUT, Vicentinho e sua corrente. Articu- lação Sindical, estejam se rendendo aos ideários neoliberais, pois assim agindo começam a trilhar um caminho oposto aos objetivos dos assalariados no Brasil e no mundo. Aquilo que hoje chamam de avanço na posição da central não passa de retrocesso; o que interpretam como negociação é pura capitulação. Em vez de festejar a desmobilização e o abando- no da luta - em nome do diálogo e da modernidade - deveriam se mirar no exemplo dos trabalhadores franceses e belgas e ver que estão rumando na con- tramão da história. Lembremos que a CUT só se transformou em referâicia para os trabalhadores ao levantar a ban- deira da luta e da defesa dos interesses dos assalariados. D

Linha Direta - n0 253 -17 a 22/02/96

Relatório frankemtein O deputado federal Eduardo Jorge (PT/

SP), representante do partido na Comis- são de Segundade Social da Câmara, fala ao LD sobre o conteúdo do relatório da Previdência e a proposta do PT.

LD - Qual o seu parecer sobre o rela- tório do deputado Euler Ribeiro (PMDB) a ser votado no plenário da Câmara?

EJ - Esse relatório é um verdadeiro frankenstein. Na prática não passa de mera supressão de direitos. Os rurais perdem a contagenn recíproca, os servidores civis perdem a aposentadona integral sem qual- quer transição. Os trabalhadores em geral vêem a substituição do tempo de serviço por tempo de contnbuição, feita sem qual- quer preocupação em estabelecer critéri-

os mais justos para os trabalhadores de maior raida. Além disso, todos os direi- tos mantidos tomam-se precários, pois serão revistos daqui a cinco anos.LD - Haverá realmente uma Reforma da Pre- vidência?

EJ - Não existe reforma. Insisto. É um mero ajuste financeiro ás custas da supressão de direitos. O que a bancada do PT na Câmara Federal defende como reforma seria resumidamente o seguinte: reforço da seguridade social, impedindo desvios de seus recursos; gestão pública da Previdência, e não meramente estatal como hoje; sistema básico de previdên- cia entre um e dez salários minimos para todos, sem exceção; regime complemav

tar público ou privado acima de dez sa- lários minimos; transição gradual entre o sistema atual e o novo; no caso especi- fico do tempo de serviço, reformulá-lo para possibilitar o acesso ao mesmo por parte dos trabalhadores de baixa renda.

LD - O que a bancada petista pode fazer para tentar avançar em relação ao conteúdo?

EJ - O ideal seria rejeitá-lo, forçar a retirada da emenda para possibilitar uma discussão mais ampla que permi- ta uma verdadeira reforma. Outras pos- sibilidades: rediscutir tudo no Senado ou o próprio PT reapresentar nova emenda no final desse processo, rea- brindo a discussão. fl

Jornal do PSTU - n0 - 78 - 23/02 a 01/03/96

"Globalização expulsa mulher do trabalho" O problema do aborto na Europa é

tão grave quanto aqui? Por que a globalização da economia não facilita a incorporação da mulher no mercado de trabalho? Sobre esses e outros temas con- versamos com a operária Tânia Mercador, da direção do Partido Revo- lucionário dos Trabalhadores (PRT), da Espanha, que esteve visitando o Brasil

no final do ano passado. Casada há 22 anos e com um filho de 17, Tânia é mili- tante socialista desde os anos 70 e dirige a comissão de fábrica da Magneti-Moreili, em Barcelona, multinacional do grupo Fiat-Mafra, onde ela trabalha há 20 anos. Foi nessa empresa qie ocorreu, nos anos 80, a pnmeira luta na Espanha pela igual- dade salarial aitre homens e mulheres.

PSTU - Primeiro queria que você fa- lasse dessa luta pela igualdade salarial9

Tânia - As leis na Espanha proibem a discriminação salarial quando se exerce a mesma função. Nós, em todos os con- ceitos, ganhamos igual que os homens. Mas de forma camuflada, ganhamos maios. E a empresa quem determina qual trabalho cabe aos homens e qual cabe às

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 20: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N° 225 - 29/02/96 20 Trabalhadores

mulheres. Naquela luta pudemos demons- trar que, de forma solapada, a empresa pratica a desigualdade salarial. Nós ga- nhávamos quase nove mil pesetas a me- nos que os homens ( cada dólar vale 120 pesetas). Foi importante demonstrar que, mesmo que sejam trabalhos diferentes, formam parte de uma mesma categoria e, portanto, devem ser pagos igual. Passa- mos a ganhar o mesmo que os homens, abrindo um precedente importante no país.

JPSTU - Como são os movimentos feministas hoje na Espanha?

Tânia - O movimento feminista na Espanha teve um auge de 70 a 78, duran- te a transição da ditadura à democracia. Agora em que a maiona das reivindica- ções democráticas, ainda que formalmen- te, foram resolvidas pela burguesia e os governos da social-democracia, o movi- mento feminista ficou muito reduzido. As reivindicações hoje são mais pela promo- ção da mulher a cargos de direção nas empresas, contra o assédio sexual nos lo- cais de trabalho, que hoje ocorre mais en- tre a pequena burguesia que na classe ope- rária, e pela legalização total do aborto.

JPSTU - E como é a questão do abor- to no seu pais?

Tânia - Na Espanha há três casos em que o aborto é legal: por má formação do feto, quando a mãe corre perigo de vida, tanto física quanto mentalmente, e por violação. Isso facilita que haja muitos abortos legais. Porque se uma mulher não quer ter um filho, é evidente que está transtornada emocionalmente, e por ai, pode fazer o aborto legalmente.

O número de abortos clandestinos que se faziam nos anos 80 hoje diminuiu muito. Isso porque há uma rede pública de controle da natalidade, ou seja, a mulher vai ao médico com muita freqüência; o uso dos anticoncepcionais está na ordem do dia; em qualquer disco- teca e outros lugares públicos você en- contra máquinas de preservativos, como camisinhas. Tudo isso faz com que os jovens tenham relações sexuais muito mas controladas por eles mesmos. E, portanto, isso facilita para que não haja gravidez não-desejada. Por isso, o abor- to não é mais uma questão primordial.

JPSTU - Na sua opinião, quais seri- am as grandes reivindicações da mulher trabalhadora hoje, a nível mundial?

Tânia - Elas variam de cultura para cultura. Por exemplo, no mundo árabe, a

principal reivindicação é que a mulher seincorpore à vida social. Em outros pa- íses, passa pelas questões democráticas e até de direitos à vida. Na China, é proi- bido ter mais de um filho por casal. Quan- do nasce uma menina, ela é assassinada ou escondida em casa para que o casal possa tentar ter um menino. Em outros países, a luta é pela incorporação total da mulher ao trabalho produtivo.

Por isso, uma reivindicação geral, que unifique todas as mulheres em nível mun- dial, é difícil. Para não ficarmos no ter- reno meramente democrático, passam ao primeiro plano todas as reivindicações socialistas, e não as meramente femini- nas. Porque é uma questão de classe, a liberação da mulher não poderá se dar no terreno do capitalismo.

JPSTU - Mas a luta pelo fim da dis- criminação sob o capitalismo não unifi- ca as mulheres trabalhadoras?

Tânia - Mas não é só o problema da mulher. Há países nos quais a burguesia pode incorporar questões democráticas para a mulher e em outros não. Porque nesses países nem os homens têm essas liberdades democráticas. Portanto, a questão da mulher não é um problema separado. E parte da batalha contra o capitalismo. Em todos os tipos de reivin- dicação, a mulher pode jogar um papel importante. Mas não há uma reivindica- ção que unifique a todos, homens e mu- lheres, que são as batalhas pelas liberda-

des democráticas em geral e, em particu- lar, da mulher, e as reivindicações socia- listas, por uma sociedade que traga a emancipação total da mulher.

JPSTU - Dentro da chamada globalização da economia, existe mais espa- ço para a mulher no mercado de trabalho?

Tânia - A globalização destrói forças produtivas. Está expulsando milhões de pessoas do mercado de trabalho. Isto sig- nifica que se destrói também o trabalho que a mulher possa realizar. Ou seja, não é que a globalização facilita uma maior incorporação da mulher ao trabalho. Por exemplo, na Espanha, todas as medidas da globalização e reestruturação produ- tiva estão atingindo a classe trabalhado- ra, porque onde antes trabalhavam mil pessoas, agora trabalham quinhentas, sejam homens ou mulheres. Há menos trabalho; a mulher passa a fazer um trabalho de meia jornada, mas os homens também, e sobretudo os jovens que bus- cam um primeiro emprego. Não só a mulher.

Portanto, é falso dizer que a globalização facilita a incorporação da mulher ao trabalho. Ela destrói postos de trabalho! Um homem, quando não tem emprego estável, consegue um em tempo parcial. Os jovens homens também. A mulher, por causa da mentalidade de que sua primeira obrigação é cuidar da casa, está sendo enviada à casa e não a outros ttabahoe. □

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 21: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 21 Economia

Análise Semanal de Conjuntura Econômica -13 de Maio NEP - 22/02/96

Estado Liberal O Estado está mais forte do que nunca no Brasil.

O resultado é uma ininterrupta transfusão de sangue dos trabalhadores para decadentes famílias de parasitas.

O Banco Central está calculando que o rombo do Banco Nacional já chega a R$ 5,5 bilhões. O levantamento ainda não terminou, o que quer dizer que o rombo pode ser ainda maior. E será. "Além dos R$ 5,8 bilhões injetados até agora, o Ban- co Central vai colocar mais dinheiro do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer) no Nacional, ou seja a parte podre do banco que ficou sob a sua administração. Embora se recusem a re- velar o volume do novo empréstimo sub- sidiado, os técnicos do BC confirmam que 'a quantia é considerável.' "O Estado de S.Paulo, 21/02/96 (pg. BI).

O governo vai cobrir todos estes rom- bos provocados pela família Magalhães Pinto - proprietária do banco - da qual um das principais herdeiras é nora do atual presidente da República. As "no- bres famílias" estão por toda parte. Vo- lumes iguais ou maiores daqueles do Nacional também estão sendo drenados dos cofres públicos para "reestruturar, estimular e fortalecer" o Econômico, o Banespa, o Banerj etc, etc.

"Os trabalhos da comissão de inqué- rito continuam no Nacional e devem de- morar. Até agora o BC já sabe que pode- rá levar os controladores do Nacional à Justiça, mas por responsabilidade civil. 'Nós acreditamos que houve crime, mas ainda não podemos confirmar nada', afir- ma." O Estado de S. Paulo, 13/02/96. Do mesmo modo que a "família" mineira do Nacional, as "nobres famílias" baianas, paulistas, cariocas, etc, dificilmente se- rão importunadas com processos, prisões e outras medidas que já teriam sido to- madas em países capitalistas plenamente civilizados. E muito menos devolverão as suas fortunas surrupiadas dos cofres pú- blicos. No Brasil, elas certamente terão como provar que tudo que possuem in- clusive os maiores cargos da República - foi conseguido com "muito esforço", "muito trabalho". Terão principalmente os ideólogos liberais ( os ortodoxos e os recentemente convertidos) para defendê- las como as sagradas representantes do livre mercado e puras encamações da eficiência da iniciativa privada deste imenso país tropical, muito próximo das últimas fronteiras do mundo (abaixo dele

José Martins

só tem a Argentina e a África do Sul, antes de se chegar ao fim do mundo).

Seria interessante consultar o Dr. Roberto Campos - decano dos liberais no Brasil - para saber se toda essa sangria do dinheiro público para estimular, en- gordar e reproduzir os capitalistas pri- vados também deve ser contabilizada na conta daquele "Estado perdulário e ineficiente" de que ele tanto fala. Pode- se também aproveitar a mesma consulta para pedir-lhe a receita para se dar conta de tanto estatismo neoliberal. Com um sorriso velhaco, ele apenas responderá que continua válida e suficiente a sua velha receita; privatização líquida de Telebrás, Eletrobrás, Petrobrás e Vale do Rio Doce, de hora em hora, durante o dia e, ao se deitar, dez comprimidos de um composto de Bresser Pereira, Vicentinho, Boris Casoy e Medeiros com- batendo sem tréguas os "privilegiados" funcionários públicos e milhões e milhões de velhinhos sacanas que querem ficar ricos com o dinheiro da Previdência.

Uma estimativa conservadora, para se usar a linguagem dos economistas, indi- ca que o famigerado Proer deverá provo- car um impacto de pelo menos R$ 20 bi- lhões sobre as contas públicas, apenas no corrente ano ( seja na forma direta, seja principalmente pelos efeitos de au- mento da dívida pública e dos juros). Isto corresponderia a aproximadamente 3% do PIB (R$ 650 bilhões). Quer dizer, grande parte da chamada "poupança pú- blica" será esterilizada nos circuitos do Proer, essa maravilha do parasitismo nacional, que nenhum economista libe- ral ousa denunciar como mais uma "in- tervenção indevida do Estado ineficiente no livre funcionamento do mercado".

Quando eles afirmam que o Estado é um obstáculo inaceitável à economia de mercado e à iniciativa privada, eles es- tão se referindo àquele Estado que desti- naria uma parte dos seus recursos fiscais para amenizar as reais condições de exis- tência e de reprodução da população tra- balhadora. E o caso de recursos para melhoria das condições de habitação e urbanismo. As catástrofes das enchentes provocadas pelas chuvas vão aumentar, na exata medida da diminuição daquela parte da "poupança pública" que poderia

ser destinada a essa área. É o caso, tam- bém, de recursos públicos que evitariam a destruição da agricultura de alimentos.

"Sob o lema 'Povo organizado cons- trói um novo Estado', 40 mil pessoas, na sua maioria pequenos agricultores gaú- chos, participaram ontem em Santa Rosa (536 km da capital) da 19a Romaria da Terra. O evento foi organizado pela Co- missão Pastoral da Terra (CPT). Um dos coordenadores, Elvino Bohn Gass, disse que o objetivo maior é abordar o proble- ma da agricultura familiar, 'em extinção devido à falta de uma política governa- mental séria'.

"Para Bohn Gass, a única maneira dos pequenos agricultores permanecerem no campo e continuarem produzindo alimen- to é o governo intervir e auxiliar o pe- queno produtor rural, principalmente em casos de calamidade, como a última seca, quando cerca de 200 mil famílias perde- ram quase tudo.

"Os colonos reclamaram dos recur- sos do crédito rural, que atingem apenas 16% dos produtores. 'Justamente os gran- des proprietários é que menos precisam'. A reforma agrária foi outra bandeira que apareceu na Romaria, com diversos agri- cultores portando faixas pedindo terras para trabalhar". O Estado de S. Paulo, 21/02/96, pág.B5.

O estado ideal dos liberais é aquele que na economia aumente a "poupança pública" ás custas dos trabalhadores para que sobrem recursos para as "empresas competitivas", os "eficientes" exportado- res e importadores, as oligarquias políti- cas regionais, os monopolizadores da mídia e dos meios de comunicação, os banqueiros, os especuladores das bolsas de valores e dos títulos da dívida públi- ca, os latifundiários que detêm não ape- nas o poder sobre a terra mas também sobre a justiça e a alta burocracia gover- namental, a alta classe média consumi- dora de bens de luxo e de modernos com- plexos viários urbanos, os ideólogos do sistema encrustados nas estruturas ofici- ais de caridade e de "cidadania", etc, etc.

O Estado liberal existe para dar livre curso à acumulação capitalista. E o Proer é apenas um dos muitos instrumentos para que esta acumulação não seja inter- rompida. □

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 22: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 22 Economia

Folha de São Paulo - 25/02796

A visão por uma fresta A opacidade do governo transparen-

te, aplicada com capricho para encobrir os aspectos sem precedentes que com- põem o caso do Banco Nacional, sofreu uma perfuração pequena, mas bastante para vazar um absurdo monumental; não satisfeito com os R$ 5,8 bilhões que já aplicou em socorro ao Nacional, o go- verno está na iminência de novos socor- ros capazes de chegar a R$ 11 bilhões.

A dimensão da ajuda já concedida pode ser avaliada por comparação com a recusa do governo á correção salarial, na data-base de janeiro, dos funcionários civis e militares: a correção aumentaria os gastos governamentais, neste ano, em quase R$ 4 bilhões (o equivalente a 69% do socorro).

O gigantismo da nova ajuda em pers- pectiva demonstra-se pela soma de todos os investimentos previstos pelo governo, e inscritos no Orçamento, para o decor- rer de 96: R$ 8 bilhões ( o equivalente a 72,7% do novo socorro).

A fenda aberta no sigilo governamen- tal pelos repórteres Ivanir José Bortot e Cláudia Safatle, com algumas diferenças

Jânio de Freitas

irrelevantes entre os dados utilizados por ambos, repõe questões que já se iam per- dendo nas nebulosidades. A primeira de- las é a impossibilidade de que o Banco Central não houvesse constatado, em tem- po hábil, a situação gravíssima do Naci- onal, com rombo tão grande. Constatou- a. Mesmo que não tivesse números pre- cisos do buraco, ainda agora apenas pro- visórios, pôde constatá-la pelo volume dos empréstimos de socorro tomados pelo Nacional, inclusive no Banco do Brasil e na Caixa Econômica. Todos os razoavel- mente informados sabiam do estado agônico do Nacional. E nessas situações apresenta-se um problema insolúvel no jornalismo: publica-se a informação, com risco de provocar uma corrida que feche o banco talvez ainda salvável, ou deixa- se de informar os milhares que nele têm seu dinheiro?

O Banco Central evitou as providên- cias convencionais. Uma circunstância particular, que liga a família do presiden- te à dos donos do Nacional, levou-o a pri- meiro articular a venda do banco. Às con- dições especiais do negócio, que entrega-

ram ao comprador a parte boa do Nacio- nal e deixaram o rombo por conta do go- verno, somou-se a demora necessána, com o agravamento dos prejuízos que consu- miram os R$ 5,8 bilhões governamentais e avançam para outro tanto.Já teríamos, só aí, o suficiente para um escândalo imensurável se o fato se desse no governo de Samey ou de Itamar Franco. Mas, além disso, prosseguem as diferenças tão gran- des entre o tratamaito dado ao Nacional e a outros bancos postos sob intervenção. A lei e as normas, também neste caso, deixaram de ser as mesmas para todos.

As operações especiais entre o Naci- onal e o governo não atingem só os co- fres do Banco Central. O Tesouro, que é cofre público tão alegadamente empobre- cido para suprir necessidades importan- tes e coletivas, arca com parte expressi- va dos bilhões servidos ao Nacional. Por essas e muitas outras, epor mais que isso soe como coisa pessoal contra o governo e o presidente, é que não se pode engolir o pretexto da falta de recursos para fins decentes. Nem que a saída esteja nos ar- remedos de reforma constitucional. □

Folha de São Paulo - 24/02/96

Déficit público em 95 é o maior da década O pnmeiro ano do governo Femando

Hainque Cardoso registrou o maior défi- cit público da década de 90. Juntos, União, Estados, municípios e estatais gastaram R$ 32,224 bilhões acima de suas receitas.

Esse valor, divulgado oficialmente on- tem, supera as previsões mais pessimistas feitas pela equipe do Plano Real ao longo do segundo semestre do ano passado.

Previa-se um déficit de 4% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos no país).

O rombo, divulgado oficialmente ontem pdo Banco Central, foi de 4,95% do PIB, gerado principalmente pdo aumaito das des- pesas com juros da dívida e com pessoal.

O resultado é desastroso se compa- rado aos anos anteriores.

A década de 90 foi marcada por uma drástica redução dos gastos públicos, ba- seada no diagnóstico de que o desequilíbrio do setor era a causa principal da inflação.

Em 1993 e 1994, no governo Itamar Franco, houve superávits de, respectiva mente, 0,25% e 1,34% do PIB. Em 1992, déficit de 2,2% do PIB. E em 1991, go- verno Collor, superávit de 1,4%.

Segundo o Banco Central, não há estatís-

(lustavo Patit

ticas comparáveis anteriores a 91 devido a mudanças na metodologia de seus técnicos.

Segundo dados que o lesp (Instituto de Economia do Setor Público) credita ao BC, o déficit é o maior desde 1989.

Nos números referentes ao ano passa- do, observa-se que o desempaiho do go- verno federal foi prejudicado principalmai- te pela alta explosiva dos juros da dívida interna, enquanto Estados e municípios so- freram mais com os gastos com pessoal.

Descontados os gastos com juros, o governo federal teria superávit de R$ 4,116 bilhões. Entretanto, gastou R$ 14,9 bilhões com juros e teve rombo de R$ 10,875 bilhões.

Os números desmentem afirmativas dos economistas do governo, que atribu- em aos Estados e municípios a responsa- bilidade quase exclusiva do déficit.

Até julho de 95, o setor federal res- pondia por apenas 4% do déficit público.

No resultado final do ano, respondeu por 33,4% do rombo, aiquanto Estados e municípios diminuíram sua participação.

Segundo os dados do BC, Estados e municípios tiveram déficit de R$ 15,807 bilhões, e as estatais, de R$ 5,632 bilhões.

Os primeiros resultados de 1996 tam- bém são desanimadores para a equipe do ministro Pedro Malan (Fazenda), que prometeu ser este o ano da "virada" em termos de déficit público.

A dívida em títulos federais deu novo salto em janeiro: passou de R$ 108,581 bilhões em dezembro/95 para R$ 117,001 bilhões em janeiro - outro valor recorde.

O crescimaito de 7,7% superou a taxa de juros do período.

Explica-se: mesmo sem Orçamento aprovado pelo Congresso, o Tesouro Nacional teve déficit de R$ 2,8 bilhões, o que resultou em emissão de moeda de R$ 2,4 bilhões.

Para tirar esse excesso de dinharo da eco- nomia, foram vendidos mais títulos federais.

Perto da dívida federal, a estadual e municipal manteve-se estável. SubiudeRS 39,512 bilhões, em dezembro, para R$ 40,531 bilhões-2,6%.

No fim do ano passado, foi fato um acer- to entre o governo federal e alguns Estados.

O ajuste seria feito com a troca de li- nhas de crédito federais por cortes nos gastos com funcionalismo e privatizações de empresas estatais estaduais. □

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 23: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 23 Nacional

PT/ON - Resolução 20 e 21 de Janeiro/96

Momento atual e as tarefas do PT 1-0 presidente FHC completa seu

primeiro ano de mandato recebendo uma avaliação extremamente positiva por par- te da mídia, o que se reflete nas pesqui- sas que mantém alta credibilidade do governo junto à opinião pública.

Indicadores econômicos favoráveis - redução drástica da inflação para 23% (cifra ainda elevada) e o crescimento das reservas internacionais para mais de 50 bilhões de US$ - são, no entanto, contra- balançados pela:

(1) - recessão em que se vê mergulha- do o país a partir do segundo semestre do ano passado;

(2) - degradação do comércio exteri- or (déficit de US$ 3,2 bi) e das contas externas em geral;

(3) -juros mais altos do mundo; (4) - enorme crescimento da dívida

interna e déficit público; (5) - aceleração do desemprego. Não obstante estes elementos -

reveladores de uma profunda transforma- ção conservadora porque está passando o país - prestígio de FHC se mantém qua- se inalterado, como resultado do impac- to que tem sobre a opinião pública e es- tabilização da moeda.

Repete-se no Brasil, a adesão popu- lar á estabilidade, antes verificada em outros países da América Latina e que foi responsável pela vitória do PRI no México e pelas reeleições de Menen na Argentina e de Fujimori no Peru.

2-0 impacto da redução da inflação foi tal que neutralizou a repercussão de escândalos como os do S1VAM, do "grampo", da Pasta-rosa, ou do PROER que, em condições normais, teriam tido conseqüências muito maiores.

Associada a este clima tnunfalista em que vive o governo, grande parte da mídia veicula a tese de que o país está "sem opo- sição", particulamiaite que o PT se encon- tra "perplexo" e Lula "sem perspectiva".

Esta imagem contamina muitas vezes setores próximos ao partido e até parte de nossa base partidária.

A mesma imprensa que denunciava o "radicalismo oposicionista" do PT e da CUT no primeiro semestre, e que escon- de as ações da oposição no legislativo, nos movimentos sociais e na vida

cotidiana do país, hoje aponta a "parali- sia" das esquerdas.

3 - A imagem de passividade da opo- sição, para além da construção feita pela mídia reflete dificuldades objetivas que as esquerdas e o PT enfrentam e expres- sam problemas de fundo, alguns dos quais de condução política.

A campanha pela reforma agrária, intensificada a partir de setembro, dimi- nuiu seu ímpeto.

A crise social que se agrava, especi- almente o incremento do desemprego, tem um efeito desagregador sobre a combati- vidade dos movimentos sociais.

O movimento sindical não foi capaz até agora de levantar com maior força uma ofensiva contra os efeitos da política recessiva, sobretudo no que se refere à reconversão produtiva e ao desemprego.

Os setores da indústria e da agricul- tura mais atingidos pela crise não são capazes - como sempre ocorre - de vertebrar uma mínima oposição ao go- verno preferindo buscar soluções "que- bra-galho" nos balcões dos ministérios em Brasília.

No plano parlamaitar, a ações das es- querdas, além de estarem limitadas pela pequena bancada oposicionista, obtém pou- ca ou nenhuma repercussão na imprensa.

O partido, com reduzidos recursos, enfrenta dificuldades em estaiturar uma oposição mais massiva e consistente, não dispondo dos meios necessários para as campanhas de denúncia e mobilização que o momento exige.

4 - Ainda que o modelo neoliberal em aplicação no país não disponha do mes- mo vigor político que apresentava inter- nacionalmente há um ano, é evidente que o pensamento conservador se mantém na ofensiva, o que traduz concretamente no fato de que ele ainda define a agenda po- lítica do país.

E certo que a crise mexicana e o "efei- to tequila" na América Latina abalaram o prestígio do paradigma neoliberal. Da mesma forma, os resultados das eleições na Polônia e na Rússia, para citar dois casos, refletiram um significativo descon- tentamento como o "neoliberalismo real- mente existente" na Europa central e do leste. Finalmente, os recentes movimen-

tos na França mostraram que há impor- tantes reações sociais às tentativas de ajuste.

No plano nacional, a partir do segun- do semestre, o PT desenvolveu um gran- de esforço para articular o Fórum de par- tidos de oposição e entidades democráti- cas, iniciou a discussão com a CUT, a CGT, a CONTAG, o MST e outras enti- dades para dar maior consistência à mobilização social no país, buscou con- tatos com setores do PMDB, assumiu com vigor a campanha pela RA com o objetivo de alterar a relação de forças no país e criar um quadro mais favorável para a oposição.

Todos estes acontecimentos, que come- çaram a produzir algum efeito no debate ideológico, não foram no entanto capazes de reverter a ofensiva neoconservadora no bojo da qual Fernando Henrique chegou à presidâicia.

Aprofunda cnsefiscal coloca muitos estados e municípios à beira da falência, degrada ao máximo os serviços públicos, especialmente os relacionados com a saú- de, estimula a hostilidade da população em relação ao Estado e alavanca teses privatistas e propostas de redução do ta- manho do Estado. Os programas de de- missões de funcionários, de tercenzação de serviços essenciais tem ganho apoio na opinião pública. Um subproduto não desprezível da crise dos estados é o nível de dependência política em que se encon- tram hoje os governadores em relação ao poder central em Brasília, o que contri- bui para as dificuldades da oposição.

5 - Todos estes problemas que vivem as oposições e o PT eram previsíveis:

a) a vitória de FHC demonstrava a vontade e a capacidade das classes do- minantes no país de dar sua solução à longa crise que atravessava o modelo nacional-desaivolvimaitista instaurado a partir dos anos 30 e com isto impedir a alternativa democrático-popular repre- sentada pela candidatura Lula;

b) apesar dos progressos que realiza- mos na elaboração programática, há um longo caminho para construir uma ver- dadeira alternativa ao nacional- desenvolvimentismo em crise e ao neoliberalismo ascendente.

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 24: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 24 Nacional

Prisioneiros, muitas vezes, de discus- sões ideológicas, somos incapazes de compreender as profundas transforma- ções porque passam o mundo e nosso pais. Como nos falta um pouco de clare- za sobre o futuro do Brasil, temos difi- culdades, às vezes, de visualizar o futu- ro do PT. FHC e os neoliberais têm con- seguido impor sua agenda, terreno no qual lhes é fácil nos derrotar.

c) a sociedade brasileira mudou mui- to nestes 15 últimos anos. A longa crise dos 80 e começos dos 90 impôs uma di- nâmica central de resistàicia aos movi- mentos sociais que sobreviveram, o que não ajudou a pensar globalmente alter- nativas novas. O PT ficou muitas vezes insistindo em uma idéia de sociedade que correspondia ao periodo de seu nascimen- to e primeiros anos. Mas esta sociedade se modificava rapidamente.

d) a estrutura e as práticas partidári- as envelheceram nos últimos anos. O PT perdeu o dinamismo militante dos primei- ros anos e não compensou esta mudança nem mesmo com uma maior profissionalização de suas estaituras. A incompreensão destes fenômenos acen- tuou muitas vezes lutas internas estéreis. Estimulou por outra parte fenômenos como o carreinsmo, o eleitoralismo ou a fonnação degmpos que obedeceram mais a interesses do que as idéias. Dezenas de milhares de petistas se encontram afas- tados da vida partidária ou descontentes no partido.

6 - Estamos confrontados com um duplo desafio: de um lado fazer já uma denúncia global do modelo que vem sen- do implementado por Fernando Hennque mostrando suas conseqüências no plano nacional, social e político, mas, ao mes- mo tempo, encontrar uma forma de con- ter a ofensiva neoliberal, quebrar sua ló- gica interna, realizar os primeiros con- tra-ataques para, mais tarde, passar para a ofensiva.

O aifrentamaito frontal e global com o neoliberalismo tem hoje a função de mar- car posição, sinalizar para o futuro nossa radical oposição ao projeto atualmente implementado, alertar o país hoje para suas trágicas consequâicias no futuro.

Sendo necessária, esta atitude não é suficiente.

Se ficarmos apenas na denúncia e na apresentação de um modelo alternativo (no qual teremos de trabalhar muito ain-

da), levaremos a luta para o terreno do grande confronto de idéias, desfavorável, na medida em que nos encontramos hoje em uma situação basicamente de defen- siva. Será fácil para o presidente, como o foi para o candidato FHC, jogar na nossa cara a queda da inflação, que se revelou aqui e lá fora um elemento sufi- cientemente forte, pelo menos até agora, para neutralizar as conseqüências soci- almente perversas da estabilização, fenô- meno sobre o qual uma percepção frag- mentada.

Precisamos assim mudar a agenda do debate político no país. Deslocá-la para as questões sociais e políticas.

Ao mesmo tempo trata-se de mostrar que o social não pode ser um elemento complementar da política econômica, administrável através de políticas com- pensatórias (como a fracassada Comu- nidade Solidária) mas deve ser um com- ponente constitutivo de qualquer política alternativa, o que expressamos em 1989 e 1994 sob a fórmula "crescer, distribu- indo ou distribuir crescendo".

Insistir nos temas sociais - terra, em- prego, salário, por exemplo - pode ser uma forma de abrir uma brecha na forta- leza neoliberal e iniciar um processo de reversão da situação atual de defensiva.

7-0 enfrentamento global com o pro- jeto FHC tem como eixo a denúncia da desconstrução nacional e social em curso e dos riscos políticos que ela aigendra.

Ao eleger a estabilização monetária como meta à qual todos demais objetivos devem ser sacrificados, o governo adotou políticas que provocam uma sobrevalorização do Real (ancoragem cambial) que dificulta as exportações e toma as importações mais abundantes. A abertura que a manipulação cambial pro- voca é complemaitada pela redução drás- tica de alíquotas. A conjugação dos dois fatores - mibição das exportações e facili- dade das importações - tem um forte efei- to negativo sobre a produção agrícola e provoca surtos desindustrializantes que começaram pelo têxtil, vestuário e sapa- tos e agora se arrastam para outros seto- res como os brinquedos, autopeças, etc.

Não bastara a existência destes fato- res recessivos, adota-se uma política de juros (a taxa mais alta do mundo desti- nada a atrair capitais para reforçar as reservas internacionais) que aprofunda a recessão, em alguns casos com conse-

qüências irreversíveis para ramos da in- dústria. O país bateu todos os recordes de falências, concordatas a partir de um fenômeno de generalização da inadimplência.

A política de abertura, funcional ao projeto de estabilização monetária, além dos efeitos recessivos apontados, corrói o comércio exterior. Os déficits comerci- ais, somados a outros encargos, como os da dívida externa, comprometem a s con- tas internacionais colocando-nos em uma posição semelhante á do México em vés- peras da crise de dezembro de 1994. As abundantes reservas não são garantia só- lida na medida em que boa parte delas - como reconheceu o governo brasileiro junto a OMC - é composta de capitais de curto prazo (hot money) que podem reti- rar-se do pais a qualquer sinal de perigo.

Conseqüência deste conjunto de po- lítica é a onda de desemprego que se alastra pelo país e que o governo quer minizar apresentando-a como um fenô- meno "regional".

O desemprego brasileiro, fruto essen- cialmente de uma recessão que deverá aprofundar-se em 96, combina-se peri- gosamente com fatores internacionais.

Já se viu como a política macroeco- nômica faz com que o Brasil exporte empregos. A isto se somam os fatores da chamada reconversão produtiva.

A forma servil pela qual o Brasil se insere na globalização faz com que mui- tos empregos estejam sendo aqui defini- tivamente fechados. Este é o caso, por exemplo, de um setor fundamental, como o de autopeças, crescentemente monopo- lizado internacionalmente.

Por outro lado, o desemprego deixou de ser função dos períodos recessivos. Ao contrário, ele cresce inclusive em perío- dos de expansão.

Para enfrentar a competitividade que a globalização aprofunda, as empresas introduzem crescentemente modificações nos processos produtivos (sobretudo de trabalho) e gerências que acarretam em- presas enxutas, com um número alamian- temente pequeno de trabalhadores.

Muitos dos investimentos internacio- nais anunciados e festejados em várias cidades e regiões do pais, criarão de 1 a 2 postos de trabalho por milhão de US$ investido.

Em setores mais tradicionais da eco- nomia, verifica-se um processo de "infor-

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 25: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 25 Nacional

malização" crescente do trabalho. Os sa- lários continuam reduzindo seu papel na renda nacional. As múltiplas formas de "flexibilização" do trabalho, significam em realidade precarização do emprego e são apresentadas como a solução para resolver o "custo Brasil" que impedina nossa maior competitividade.

Fábricas fecham, empregos são supri- midos e o trabalho é flexibilizado sem que o governo minimamente se mova. O Mi- nistério do Trabalho tranfonnou-se em ministério do capital.

Esta desconstrução nacional e social ameaça o futuro do pais e antecipa um Brasil com uns 30 ou 40 milhões de ha- bitantes vivendo em padrões de "Primei- ro Mundo" enquanto que o resto será re- legado para o "terceiro" ou "quarto".

A ausência de qualquer preocupação social no modelo econômico e inclusive a falácia das políticas compensatórias, contrasta com a magnanimidade do go- verno para com os poderosos.

Mais alán de qualquer retórica, o Proer mostrou ser este o governo mais servi! ao capital financeiro dos últimos anos. As concessões a banqueiros, grandes fazai- deiros e aos poderosos, constrastam com o descaso revelado com os trabalhadores airais e desempregados e a instransigàicia demonstrada para com todos aqueles que resistem a este projeto.

Arrogante intelectual e politicamen- te, o governo tenta desqualificar as opo- sições. Chafurda nas práticas clientelis- ticas que, para garantir-lhe base parla- mentar, transformou o Congresso Naci- onal em uma bolsa de valores.

Há um processo de descaracterização dos partidos, já bastante frágeis no Bra- sil. O Blocão criado pode vir a estimular uma vocação bonapartista que outros governos neoliberais revelaram (Argen- tina, Bolívia, etc.) recorrendo a procedi- mentos autoritários como o recurso sem precedentes a Medidas Provisórias, ou a utilização de militares contra os petro- leiros na greve de maio-junho.

8 - Ao lado desta denúncia global e frontal do governo, que tem um efeito essencialmente de tomada de posição, propagandistica, o Partido dos Trabalha- dores deve organizar-se taticamente para romper com a ofensiva neoliberal e reto- mar a iniciativa política.

A luta pela Reforma Agrária, que re- cebeu um impulso importante a partir da

tragédia de Coaimbiara e de novas mo- vimentações sociais no campo, colocou o governo parcialmente em cheque, na medida em que havia banido, inclusive de sua retórica, a questão da terra que, demagogicamente, agitara na campanha eleitoral.

O PT, os movimentos sociais rurais e a sociedade brasileira devem intensificar a pressão sobre o governo, no sentido de que sejam atendidas suas reivindicações.

O outro eixo de nossa intervenção em tomo de questões sociais capazes de for- çar uma mudança na agenda política do pais passa pelo enfrentamento dos pro- blemas do emprego e salário.

O PT lançará uma grande mobiliza- ção - articulada com os sindicatos - para colocar os problemas do emprego e do salário (especialmente do salário mínimo) como questões fundamentais capazes de exigir soluções estarturais, que são incom- patíveis com a atual lógica da política econômica e pedem um outro modelo.

Tanto nas questões da terra, como as do emprego e do salário exigirão um du- plo esforço do partido:

- formular e impulsionar políticas de curto e médio prazos capazes de produ- zir resultados e provocar grande mobilização.

- sofisticar nossa reflexão sobre os temas, realizando seminários e debates (nacionais e internacionais) que contri- buam para a constituição de uma alter- nativa de longo prazo ao projeto neolibe- ral justamente nestes pontos onde ele se revela mais vulnerável.

A batalha pelo emprego e pelo salá- rio ganhará uma explosividade muito grande no setor estatal. A reforma admi- nistrativa anuncia demissões massivas na União, estados e municípios e a política de equilíbrio fiscal (um dos calcanhares de Aquiles do Estado Brasileiro) aponta para um aumento-zero dos salários do funcionalismo nos próximos três anos.

O Partido dos Trabalhadores tem de explicitar para a sociedade sua proposta de refomia do Estado, associá-la a nossa pro- posta de refomia fiscal, denunciando, ao mesmo tempo, a incapacidade do governo de aifraitar este último problema taido em vista seus múltiplos compromissos.

Associada a esta dimensão social de nossa política de constituição de uma al- ternativa, está também a questão da re- forma previdenciária.

A Executiva Nacional definiu passos para a retomada da campanha pela RA, discutiu a proposta de campanha por emprego e salário e tomou encaminha- mento para a articulação do Fórum das oposições e para a disputa com o gover- no em tomo da reforma da previdência.

9 - Estas campanhas nas quais o Par- tido aparece articulando propostas alter- nativas, deve combinar-se com campa- nhas de denúncias específicas, que mos- trem a cara mais vulnerável do governo.

Bancos: denúncia do PROER com cartazes que mostrem quanto está sendo transferido para o sistema financeiro e o que poderia ser encaminhado em termos sociais com este dinheiro. Mobilização nacional de coleta de assinaturas para criação de uma CPI dos bancos

Sivam: denúncia dos custos e maracutaias. Centrar a atividade no par- lamento, com a produção de matenais que mantenham os quadros partidános infor- mados e, portanto, com capacidade de reprodução aas ueuúiicias.

Presença localizada nos pontos mais agudos da crise: selecionar regiões onde a crise esteja sendo mais aguda e prepa- rar com os DRs e DMs concernidos ações específicas.

10 - Um momento privilegiado para a ação de denúncia/proposição será a cam- panha eleitoral.

A crise brasileira se dá concretamen- te nos municípios. Neles, a denúncia não aparece como algo abstrato e/ou doutri- nário, mas como reflexo da experiência vivida por grande parte da população. O PT pode denunciar a realidade global do país em suas formas concretas de apari- ção na vida social local e, ao mesmo tem- po, apresentar suas respostas para resol- ver parte dos problemas, enfatizando que outras questões exigem soluções globais, nacionais.

E necessário formular um documento específico e que a articulação destas rea- lidades nacional e locais possa aparecer.

A credibilidade eleitoral do PT virá tanto das denúncias que façamos (do^ problemas gerais e de suas formas espe- cíficas) quanto do fato de associarmos o partido a três fatores:

- "Bom governo", no sentido de com- petente, eficaz, uma imagem que muitas de nossas administrações já projetam nacionalmente, especialmente a partir de suas inovações administrativas (orçamen-

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 26: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 26 Nacional

tos participativos, renda mínima-educa- ção, saúde, etc);

- Governo para os pobres; - Governo honesto. Para isso é fundamental importância que

o partido faça um grande esforço de divul- gação e valorização de suas experiências degovemo, que muitas vezes têm ocupado um lugar maior em nossa propaganda.

11-0 desenvolvimento desta ativida- de de oposição imediata ao governo e de construção no longo e médio prazo de uma alternativa a partir de uma reflexão aprofundada sobre as mudanças em cur- so no Brasil e no mundo, e sobre as pers- pectivas que se abrem, não podem ser um esforço solitário do PT. Exigem, ao mes- mo tempo, uma reconstrução do partido, que se encontra hoje incapaz de responder aos desafios do momento e do futuro.

O primeiro aspecto aponta para a ne- cessidade de um grande esforço de alian- ças, que recomponha o campo tradicio- nal das esquerdas, aprofunde paciente- mente laços com o PDT e se abra para politicas regionais de composição com partidos e/ou facções de partido ou per- sonalidades que se oponham ao neoliberalismo.

Uma política de frente tem de combi-

nar alianças politicas com alianças soci- ais, com centrais sindicais, movimentos sociais e populares, ONGs, entidades da sociedade civil, intelectuais, etc.

No plano interno, além de um esforço sustentado de reconstrução partidária, impõe-se o estabelecimento de um novo trato partidário, que enfatize os temas da ética petista, revalorize experiências e práticas que foram responsáveis por nos- sos melhores momentos no passado e afaste definitivamente de nosso convívio situações localizadas onde se manifestam o que de pior um partido pode produzir.

12-0 DN decide colocar na pauta do debate e da mobilização social o tema das comunicações. Não é possível cons- truir a democracia, nem mesmo enfremtar a disputa política e ideológica sem equacionar a questão das comunicações no país, esta é uma verdadeira ditadura. Pôr isto o DN cria uma comissão de tra- balho a ser indicada pela Executiva Na- cional para no prazo máximo de 30 dias apresentar um plano de ação que inclua:

- Debate amplo na sociedade sobre o tema.

- Campanha nacional de denúncia do monopólio e da manipulação dos meios de comunicação pôr grupos oligárquícos.

- Iniciativa de criar meios de comunica- ção alternativos e incentivar os já existentes.

- Campanha pela instalação imediata do Conselho Nacional de Comunicação Social, nos termos propostos pela Cons- tituição e já regulamentado.

13-0 momento atual, de defensiva, é um momento difícil. Pode conduzir ao adesismo, à passividade, ao conformis- mo ou até ao abandono da política, com expressão aguda de ceticismo.

Pode por outro lado levar ao simplis- mo na análise, ao príncípismo dos que acre- ditam que, não havendo nada a fazer hoje, devemos nos preparar para os embates fu- turos apenas com denúncias e o refinamento de nosso horizonte estratégico.

O Partido necessita paciência, o que difere de passividade.

Tem de exercitar ao máximo a vonta- de política, sem cair no voluntarismo.

Tem de ser sobretudo perspectiva his- tórica para entender o momento atual como um momento superável desde que tenhamos a inteligência, a coragem, a determinação e a vontade de mudar. □

20 e 21 de Janeiro de 1996. Diretório Nacional

Partido dos Trabalhadores

Folha de São Paulo - 26/01/96

Um balanço do primeiro ano de go- verno FHC pode ser positivo para quem assume suas premissas programáticas, contidas na mesma página do programa "Mãos á obra": "A abertura da econo- mia, a desregulamentação e a privatização" (pág.21). É uma ótica neoliberal, malgrè lui.

Pode-se também cobrar do governo o que ele prometeu e não fez: "Redução dos custos financeiros da dívida interna" (pág. 22), "eleger a criação de empregos como a forma mais efetiva e duradoura de distri- buição de renda" (pág. 11), rejeitar "qual- quer ação delíberadamente recessiva" (pág. 137), "colocar o povo em primeiro lugar" (pág. 275), "dar à população mais empregos, melhor educação, saúde, habi- tação e alimentação" (pág. 300).

No entanto, não se pode negar que, do ponto de vista de seus objetivos programáticos, foi um sucesso o primei- ro ano da presidência de FHC. Confor-

PT, cadê você? Emir Sader

me os critérios definidos por Perry Anderson ("Pós-neoliberalismo", Ed. Paz e Terra, 1995), conseguiu-se frag- mentar de forma mais acentuada a socie- dade, com a intensificação do trabalho informal, da perda de carteira assinada por parte dos trabalhadores (17% somai- te no primeiro ano do Plano Real, segun- do o Seade), o enfraquecimento dos mo- vimentos sociais organizados.

Conseguiu-se passar a idéia de que não há alternativa ao amargo remédio do ajuste fiscal, embora os países que assu- miram a vanguarda mundial - Japão e Alemanha no Primeiro Mundo, Coréia do Sul no Terceiro - trilharam outro cami- nho. O monopólio dos meios de comuni- cação foi suporte fundamental nessa ope- ração propagandística.

Conforme o mesmo critério de Anderson, a prometida retomada do cres- cimento econômico por parte do neoliberalismo tropeça na desregulamen-

tação econômica que, no nosso caso, apoiada na mais alta taxa de juros do mundo, atraí capitais especulativos eleva o Estado à falência, nas mãos dos que faziam dele o vilão da crise e prometiam saneá-lo. E o preço da estabilização da moeda, o único mandato real de FHC e ao qual ele subordina tudo.

Porém há um outro elemento para avaliar o desempenho do governo FHC: a atuação da oposição. O movimento so- cial, sob forte pressão econômica e go- vernamental - até mesmo repressiva, como se vê no caso dos sem-terra - resis- tiu até onde pôde e como pôde.

Não se pode dizer que se saiu mal: brecou e levou à reformulação da con- tra-reforma da Previdência; mesmo der- rotado, como na greve dos petroleiros, não teve sua espinha dorsal quebrada, como desejava o presidente. E os sem- terra, por sua vez, se constituíram no grande avanço democrático dos anos 90,

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 27: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 27 Nacional

afirmando suas reivindicações contra a lei e contra a criminalização com que se pre- tendia desqualificá-los,

O que esteve essencialmente ausente foi a oposição politica, num quadro que não somente deixou espaço essencial para ela quanto solicita desesperadamente essa oposição. As bancadas de oposição - es- pecialmente a mais numerosa e mais atu- ante, a do PT - cumpriram com a função de minona opositora, apesar do erro de ter facilitado as coisas para o governo no primeiro semestre, ao não apresentar pro- jetos alternativos.

Os govemos do PT e das outras forças opositoras apresentam, em diferaites niveis, formas de governo alternativas ao neoliberalismo reinante, privilegiando o social, embora às voltas com crise finan- ceira que muitas vezes não conseguem compatibilizar com essa onentação central.

Quanto ao PT, a pnncipal força de opo- sição, primou pela ausàicia. Cadea daiún- cia sistemática, cadê a indignação reitera- da, cadê o apoio direto às forças sociais que resistem, ao estendido descontaitamai- to popular - não-captado pelas pesquisas jornalísticas, mas escancarado aos olhos de quem quiser auscultá-lo aitre os desempre- gados, os infonnalizados, os devedores, os falidos, os descontaites em geral com a iniséria multiplicada no pais e o desmonte do setor público? Cadê o PT?

Quando o governo FHC tropeçou - salvo nos casos indicados - foram nas suas próprias pernas, na clientelista política de alianças em que se sustenta, no pessoal sem espírito público com que governa, não

numa oposição política que mude a agaida nacional em direção aos princi- pais problemas do país.

Escândalos como o Proer, o financi- amento dos bancos às campanhas dos ministros e outros políticos govemistas, o Sivam, a privatização do Estado em geral, o desamparo da maioria da popu- lação jogada na economia informal - não têm sido repercutidos devidamente pela direção do PT.

As condições sociais e políticas para a construção de um projeto opositor antineoliberal estão dadas. O potencial de oposição social e o espaço para a or- ganização de um bloco alternativo são multiplicados diariamente pela açãogo- vemamaital, que vira as costas para um país escandalosamente miserável, cujas condições sociais se deterioram - con- forme apontam todos os levantamentos estatísticos - ao longo do primeiro ano de governo FHC.

Cadê o PT? Cadê o partido que sou- be representar as classes subalternas, a intelectualidade insubmissa, os estudan- tes rebelados, os trabalhadores organi- zados, as minorias políticas, as mulhe- res em luta pela sua liberação, os ne- gros, os índios, os homossexuais, os deficientes fisícos, enfim todas as víti- mas do bloco no poder que se reproduz ao longo de seus pactos de elite?

O maior elemento de força do gover- no FHC é a debilidade política e ideoló- gica da oposição. Um projeto nacional alternativo, junto com os meios de sua difusão, são alavancas fundamentais.

mas elas têm de ser impulsionadas e catalisadas por uma força opositora de- cidida e corajosa, sem medo de remar contra a corrente nem de receber os petardos furiosos dos que querem fazer passar a idéia do "ou eu ou o caos".Uma oposição digna de ser alternativa de po- der de constrói com capacidade política, qualificação teórica, força social, mas também com caráter, indignação, com presença constante em todos os espaços possíveis. Uma alternativa de poder se constrói desde a oposição, sem o que o país fica abandonado à pilhagem de suas riquezas e às "verdades" bastardas de suas elites no poder.

O PT vive o seu momaito de pior de- sempenho desde sua fundação, não por- que outras forças roubaram seu progra- ma, derrotaram social e moralmente seus argumentos, levaram-no à discórdia e à divisão. O que falta é, antes de tudo, von- tade política de protagonizar essa oposi- ção, para o que as condições estão dadas.Mais além do calendário eleitoral de 1996, o lugar e a hora de uma oposi- ção superadora do neoliberalismo pedem uma força política com o potencial que o PT continua a ter. Cadê o PT9 Cadê sua militância, cadê seus dirigentes, para as- ajm ir esa função? G

Emir Sader, 52, professor cio Departa- mento de Sociologia da USP e autor de "Anjo Torto - Esquerda (e Direita) no Brasil" (Ed. Brasiliense, 1995), entre outros livros.

Ponha o seu tijolo na construção da Escola Socialista

Companheiro (a) Socialista! Estamos dando os primeiros passos para fundar um Instituto / Escola de Fonnação Socialista em nosso pais. Uma reunião com

40 companheiros an São Paulo, em dezembro de 1995, decidiu fundar o IES - Instituto de Fonnação e Estudos Socialistas. Nosso objetivo será proporcionar cursos e outras atividades de formação e capacitação àquela parcela dos trabalhadores

conscientes e da militância que continua reivindicando a perspectiva socialista revolucionária, se negando à colaboração de classes e acreditando em um futuro belo, de igualdade e solidariedade para os povos e a humanidade.

Como pretaidemos construir um instituto independente, dependemos apenas das contribuições dos trabalhadores e militantes socialistas honestos, especialmente daqueles que acreditam que sem estudo, sem teoria revolucionária, não há prática consequentemente revolucionária.

Neste momento, para podermos iniciar nosso funcionamento, precisamos de recursos para alugar uma pequena sala e telefo- ne, por alguns meses, como para imprimir os folhetos, anunciando a todo o movimento a nova escola e os cursos que oferecerá.

Por isso, queremos pedir sua contribuição, que com certeza será importantíssima para a fundação do IES. Ela será, com certeza, um investimento - com retomo certo - no futuro dos trabalhadores e do socialismo em nosso país.

Deposite sua contribuição na conta: 57.725-6 do BANCO ITAÚ - AGÊNCIA 0081 Endereço Provisório: Rua Dr. Nicolau de Souza Queiroz, 189 - 04105-000 - São Paulo (SP) Comissão Organizadora

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 28: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 28 Internacional

Análise Semanal de Conjuntura Econômica -13 de Maio - NEP - 08/02/96

"Qualquer que seja a taxa de salá- rios, alta ou baixa, a condição do tra- balhador deve piorar à medida em que se acumula o capitai Trata-se de uma lei que estabelece uma correlação fatal entre a acumulação de capital e a acu- mulação de riqueza em um polo é igual à acumulação de pobreza, de sofrimen- to, de ignorância, de embrutecimento, de degradação moral, de escravidão no polo oposto, no lado da classe que pro- duz o próprio capital" Marx (K) O Ca- pital Livro I, i/i Oeuvres, Ed LaPléiede, Paris, 1965, pg. 1163.

"Nós temos uma escravidão encober- ta aqui nos Estados Unidos" declarou enfurecido o gentil intelectual e secretá- rio do Trabalho dos Estados Unidos, Robert Reich, segundo relato do Jornal Financial Times de 4 de dezembro de 1995. A equipe de investigação do seu ministério tinha descoberto na cidade de EL Monte, Califórnia, uma fábrica de roupas onde 72 imigrantes tailandeses trabalham 18 horas por dia em "condi- ções subhumanas" para fornecer merca- dorias para algumas das maiores com- panhias varegistas dos Estados Unidos. A fábrica de El Monte era apenas mais uma das chamadas sweatshop (setores da indústria e comércio que exploram os empregados com muito trabalho e pagan- do um salário de fome).

Reich acabava de descobrir que o seu país está cada vez mais parecido com Brasil, China, Malásia, ou qualquer ou

O mundo gira José Martins

tra infeliz região mundial integrada na- quilo que ele mesmo chamou de "teia glo- bal" das corporações nacionais, onde "ati- vidades padronizadas de larga escala são executadas em qualquer parte do mundo onde o trabalho for mais barato".

A sabedoria liberal não encontra uma justificativa para a proliferação das sweatshop, esta é a última novidade da luta pela eficiência e competitividade da economia mais poderosa do mundo. Ape- nas contabilizam a novidade: "Jeff Hennason, da Union of Needle Trades, Industrial, and Textile Emploeyees (UNITE), afirma que as "sweatshop" es- tão se tomando uma regra e não mais a exceção. Um relatório feito em 1994 pelo General Accounting Office (Escritório Geral de Contabilidade) observou que a atual situação do setor de vestuário dos E.U.A difere pouco daquela observada na virada do século". Financial Times / Gazeta Mercantil, 4 de dezembro 1995.

O que fazer? Reich limita-se a pro- meter uma "lista branca" daquelas em- presas que "estão se esforçando honesta- mente" para acabar com esse problema. E espera que a midia americana divulque em seguida, por dedução, uma "lista ne- gra" das outras, esperando com isto um boicote dos consumidores para os pro- dutos originados dessas empresas que se utilizam de trabalho escravo. Mas esse tipo de resposta ao problema parece mui- to mais apropriado a gente como Gilber- to Dimensteim e outros colaboradores da Folha de São Paulo, e não a uma pessoa

inteligente e séria como o autor de O Tra- balho das Nações.

A impotência do professor Reich frai- te às explosões da modernidade capita- lista não diz respeito apenas a uma difi- culdade política pessoal, á sua condição de alto burocrata e de ideólogo da sofis- ticada (e cada vez mais escravagista) classe empresarial americana. Parece tra- tar-se de uma irremovível limitação teó- rica frente as afirmações como aquela do prático Sr. Hermanson, de que as sweatshop estão se tomando uma re- gra e não uma exceção, ou do fno rela- tório da General Accounting Office de que a atual situação do setor de vestu- ário dos E.U.A é muito parecida àque- la observada na virada do século.

O problema é enfrentar o que está re- almente na base de fenômenos como globalização (ou "teias globais, para se utilizar a inovação do prof. Reich) reestatturação produtiva, mundialização, etc. Assim se poderia esclarecer porque tanta coisa nova não passa de um remake (refazer com novas formas, novo visual) de velhos procedimentos capitalistas. Com muito maior profundidade é claro E, o mais importante, porque tanta coisa nova acaba se transformando em explo- sões que só poderiam ser patrocinadas pelo livre desenvolvimento do mercado?

Uma investigação nos próprios dados publicados pelo Departamento do Traba- lho dos Estados Unidos, onde está atual- mente o prof. Reich, pode ajudar na elucidação daquele problema.

ESTADOS UNIDOS - Evolução da produção, emprego, produtividade e salários na indústria - 19050-1988

( % anual média)

Item 1950-60 1960-70 1970-80 1980-88 Produção 3,86 4,12 2,76 3,71 Emprego 0,98 1,43 0,44 0,0 Produtividade 1,96 2,41 2,09 3,76 Salário 3,33 1,82 0,74 0,48

Notas: Produção = valor das mercadorias produzidas no período, a preços constantes. Emprego = horas trabalhadas na produção. Produtividade = variação da produção por unidade de trabalho. Salário = remuneração por homem, em termos reais, incluindo salários diretos e contribuições.

Fonte dos dados: Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, "Monthly Labor Review", vários números.

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 29: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 29 Internacional

A gênese da síndrome de El Monte encontra-se na história real da economia americana. Alguns dados sobre a evolu- ção da indústria daquele país nos últimos cinqüenta anos ilustram aquela história.

O que se supõe no pensamento liberal, e também na maior parte dos novos mar- xistas, é que o aumento da produção é uma condição favorável à criação de em- pregos e, como conseqüência, de melhoria das condições de existência dos trabalha- dores. Os dados da tabela acima mostram exatamente o contrário desta idiotice dos economistas: a evolução ascentente da produção industrial amencana, no longo prazo, não foi acompanhada de um cor- respondaite aumento de emprego e dos salários. O que se verifica é exatamente o contrário. O aumaito da produtividade foi acompanhado de uma persistente redução de emprego e dos salános.

Já verificamos que, frente a esta rea- lidade da acumulação, os economistas são obrigados a inventar uma suposta dimi- nuição da produção e, principalmente, da produtividade. Os dados mostram uma gigantesca expansão da produtividadade da força de trabalho nos períodos inves- tigados. A produtividade é a chave para se compreender a fatal correlação entre produção do capital e condição de exis- tência dos trabalhadores. Na medida em que os trabalhadores aumentam a pro-

dução de capital, eles não produzem ape- nas mercadonas. Produzem também con- dições técnicas superiores que permitem enormes reduções da quantidade de tra- balho utilizada na produção. Nisto con- siste a possibilidade de aumento da pro- dutividade, de uma quantidade maior de mercadorias que se transfonnam em uma quantidade maior de capital e de lucros. Verifica-se, então, nos Estados Unidos, que o aumento da produtividade alcan- çou seu nivel mais elevado nos anos 80 (3,76% ao ano), e o emprego e os salári- os ficaram simplesmente estagnados.

Outra idiotice econômica muito co- mum é se imaginar que pelo menos parte deste aumento da produtividade poderia se transformar em aumento de salários. A repartição deste aumento da riqueza já é decidida no momento em que uma par- te da força de trabalho é transformada em população excedentária ás necessida- des da valorização do capital. Isso acon- tece quando se estabelecem as condições gerais de produção de capital e à qual os trabalhadores são submetidos. A partir de então, os trabalhadores produzem continuamente as condições para sua própria expulsão do processo da produ- ção (aumento da produvidade). Do ou- tro lado, o aumento da super-população relativa se transforma em aumento de lucros e de capital.

A compreensão desta relação entre produção de capital e da reprodução da população poderia evitar as fantasias dos oportunistas que não cansam de pregar aos trabalhadores a possibilida- de de umajusta adequação entre o nú- mero de trabalhadores e a produção de capital (política de emprego, combate ao desemprego, etc). Essa adequação acaba sendo realizada, de qualquer modo, pelo próprio movimento da acu- mulação, através dos ciclos periódicos que sempre desembocam em uma situ- ação de super-produção e crises soci- ais. E a repetição destes períodos de expansão e interrupções da valorização do capital produz, ela mesma, um ras- tro cada vez mais congestionado de pobreza, de sofrimento, de embrutecimento, de degradação moral e ... de escravidão.

Os números sobre a produção, em- prego, produtividade e salários na in- dústria na economia americana repre- sentam fatos que estão determinando o futuro da economia mais poderosa do planeta. E o que está acontecendo em El Monte, Califórnia, é a pré-fi- guração daquele futuro, de uma uto- pia grosseira do livre desenvolvimen- to do capital (globalização, mundialização, reestruturação produ- tiva ... liberalismo). D

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 30: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 30 Cultura

tyVhfà u m mucho owallo t/ ^IMCíúI.

Ijtti Jvomm...

kòUúo

k mico

con máhi n íulium,

wn ^t^tt j| mtimUnto...

cmivatuio mi mtnk imcrnáo mi tíMio,

U mftU k âknlo U mito y Umo

a mvás de tu v'm

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 31: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

Quinzena N0 225 - 29/02/96 31 Divulgação

Veja abaixo alguns livros e vídeos sobre mulher disponíveis no CPV.

Livros: OLGA Fernando Morais, Ed. Cia das Letras, R$ 20,00.

A vida de Olga Benário Prestes, judia comunista entregue a Hitler pelo governo Vargas.

REBELDIA E SUBMISSÃO Estudos Sobre Condição Feminina, de Albertina de Oliveira Costa e Cristina Bruschini (orgs), Ed. Vértice, R$ 16,00.

Os artigos deste livro integram uma linha de pesquisa que têm no gênero centro de sua reflexão e que procuram compreender a condição feminina dentro de uma conjuntura histórica e insenda numa trama de relações sociais concreta.

CORPO, MULHER E SOCIEDADE Elaine Romero (org), Ed. Papirus, R$ 30,00

Dividida em três partes, esta coletânea tem por objetivo discutir a questão do corpo feminino, relacionando-a com o conheci- mento e a sociedade.

Vídeos: ACORDA RAIMUNDO, ACORDA! Alfredo Alves, RJ, 1990, 15 min., Betacam

A violência familiar e o machismo vistos pelo dia-a-dia de uma familia operária, vivendo num mundo em que tudo acontece ao contrário. Elenco: Eliane Giardini, Paulo Betti, Zezé Motta e José Mayer.

ABORTO: FATOS DA VIDA Jacira Melo e Márcia Meirelles, SP, 1996, 24 min., Hi-8/U-Matic. O vídeo tem como argumento um programa de rádio sobre o aborto, apresentando depoimentos de várias mulheres sobre o

tema e suas experiências. Aborda aspectos morais, éticos, religiosos, a necessidade de uma politica de planejamento familiar e de atendimento público ao aborto, além da atuação do movimento feminista pela discriminalização e legalização.

ELE NÃO DEIXAVA EU RIR Kátia Klock, SC, 1992, 18 min., U-Matic.

O que pensa uma mulher que sofre violência psicológica ou física dentro de sua própria casa? O que acontece para que a pessoa desejada passe a ser inimiga em determinados momentos? As mulheres, várias vezes, tomam-se passivas, mas há uma grande angústia latente.

O Boletim QUINZENA divulga textos, artigos e documentos produzidos pelos movimentos. Caso você queira divulgar algum documento no QUINZENA, basta em'iar-nos. Pedimos, dentro do possível, ater-se a S laudas. Textos

que ultrapassem este limite estarão sujeitos a cortes, por imposição de espaço.

£<- Ficha de Assinatura

( ) Semestral R$ 25,00 ( ) Anual R$ 50,00 ( ) Exterior - Semestral US$ 60,00 ( ) Exterior - Anual US$ 120,00 Nome completo Endereço N Bairro C. Postal Cidade Estado Profissão/Categoria TRABALHO QUE FAZ NO MOVIMENTO: Assinatura: Data:

bloco Fone ( ). ..Cep

Apto

O pagamaito deverá ser feito em nome do CPV - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro em cheque nominal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA BELA VISTA - CEP: 01390-970 Código da Agàicia 403.300

QUINZENA Publicação do CPV - Caixa Postal 65.107 - Cep: 01390-970 São Paulo, Fone: (011) 285-6288

O Estudo dirige a prática transformadora

Page 32: O MAIOR DIREITO DA MULHER · 2013-02-02 · com sindicatos filiados á Fiesp que re- duz em 30% os encargos trabalhistas das empresas. lização O acordo prevê substituição do

CPV J CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA VERGUEIRO

Rua Prof. Sebastião Soares de Faria, N" 27 - 2" Andar - CEP: 01317-010 Caixa Postal 65.107 - CEP: 01390-970

BELA VISTA - SÃO PAULO - SP - BRASIL FONE: (011) 285-6288

OSSBUdWI