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30 novembro 2018 | ESPECIAL ESPECIAL FISCALIDADE Este suplemento faz parte integrante do Jornal Económico Nº 1965 não pode ser vendido separadamente Pixabay Tudo o que vai mudar nos impostos em 2019 Nesta edição do Jornal Económico, conheça as medidas fiscais previstas no Orçamento do Estado para 2019, a nível dos impostos sobre as famílias e empresas, bem como nos impostos indiretos. Leia ainda as opiniões dos especialistas em fiscalidade.

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Page 1: EstesuplementofazparteintegrantedoJornalEconómicoNº1965n ... · IV | 30novembro2018 ESPECIAL FISCALIDADE Escalões do IRS sem atualização parao ano Em2019,nãoseráfeitaumaactua-lização

30 novembro 2018 | ESPECIAL

ESPECIAL

FISCALIDADEEste suplemento faz parte integrante do Jornal Económico Nº 1965 não pode ser vendido separadamente

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Tudo o que vai mudarnos impostos em 2019Nesta edição do Jornal Económico, conheça as medidas fiscais previstas no Orçamento do Estadopara 2019, a nível dos impostos sobre as famílias e empresas, bem como nos impostos indiretos.Leia ainda as opiniões dos especialistas em fiscalidade.

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II | 30 novembro 2018

ESPECIAL FISCALIDADE

As principaisalteraçõesnos impostosno próximo ano

Em 2019, os escalões do Impostosobre o Rendimento de PessoasSingulares (IRS) não vão ser atua-lizados. A proposta inicial do Or-çamento do Estado para 2019(OE2019) não previa essa atualiza-ção e, no âmbito da discussão naespecialidade, as propostas de alte-ração do PCP e do CDS-PP paraatualizar os escalões foram chum-badas (voto contra do PS e absten-ção do PSD). Sem a atualização dosescalões, em linha com a inflação,os contribuintes que estejam noslimites superiores dos escalões etenham aumento de salário nopróximo ano poderão saltar de es-calão e agravar assim o IRS a pa-gar, mas apenas em 2020.

Não há mexidas nos escalões,mas o prazo de entrega do IRS seráalargado. Em 2019, a declaração derendimentos terá que ser entregueentre 1 de abril e 30 de junho (an-tes era até 31 de maio). Outra alte-ração consiste nos rendimentos dehoras extraordinárias e nas remu-nerações de anos anteriores quepassam a ser objeto de retenção nafonte autónoma. Ou seja, esses va-lores deixam de somar ao salário--base do mês em que são pagospara determinar a taxa de retençãona fonte a aplicar. Mais, os cida-dãos que emigraram entre 2011 e2015 e que regressem a Portugalem 2019 ou 2020 terão acesso a umregime fiscal especial. Ao longo decinco anos, esses contribuintes te-rão isenção de IRS sobre metadedos seus rendimentos, qualquerque seja o valor em causa ou a ati-vidade exercida.

Destaque também para os bene-fícios fiscais à interioridade. Em

2019, as despesas com educação erendas de habitação no interior dopaís resultam em bónus no IRS.Na prática, as famílias que tenhamestudantes em escolas no interiorvão poder deduzir 40% das despe-sas de educação, até um limite demil euros. Os agregados familiaresque mudam para o interior tam-bém terão direito a dedução dedespesas de rendas reforçada, porum período de três anos (15% atéum limite de mil euros). E desta-que ainda para o aumento do de-nominado mínimo de existência, olimite de rendimento até ao qual seconcede isenção de IRS. Com essenovo aumento em 2019, mais con-tribuintes ficarão isentos, total ouparcialmente, do pagamento deIRS, por não terem rendimentossuficientes.

Fim da coleta mínimaNo que concerne ao Imposto sobreo Rendimento das Pessoas Coleti-vas (IRC), a partir de 2019 é elimi-nada a coleta mínima no IRC e dis-pensada a obrigatoriedade do pa-gamento especial por conta (PEC),o qual servia como adiantamentodo pagamento do IRC ao Estadopelas empresas. Ao nível do IRCtambém há um conjunto de bene-fícios fiscais à interioridade, nestecaso incentivando o investimentoem territórios de baixa densidade.A redução do IRC nessas situaçõesserá feita em função dos postos detrabalho criados, podendo chegarà coleta zero.

Espetáculos beneficiadosQuanto ao IVA, vai passar, já em ja-neiro de 2019, da taxa de 13% para6% nos bilhetes para touradas, es-pectáculos de canto, música, dança,teatro, cinema e circo, quer sejamem recintos fechados ou abertos.Excluídas desta redução ficam “asentradas em espectáculos de carác-ter pornográfico ou obsceno”, deacordo com o projeto de lei aprova-do. Os eventos desportivos, no-meadamente os jogos de futebol,também mantêm a taxa máxima de23% de IVA.

O IVA aplicado à eletricidadeserá reduzido ao longo de 2019,gradualmente, não imediatamentea partir de janeiro. O OE2019 prevêa redução do IVA de 23% para 6%na “componente fixa dos forneci-mentos de eletricidade e de gás na-tural correspondente, respetiva-mente, a uma potência contratadaque não ultrapasse 3,45 kVA (Kilo-voltamperes) e a consumos em bai-xa pressão que não ultrapassem os10.000 m3 anuais”. Na discussão naespecialidade, o BE e o PCP aindaapresentaram propostas para que o

Novo prazo de entrega do IRS, benefícios fiscais nas regiões do interior,fim do pagamento especial por conta, redução do IVA em espetáculos,entre outras novidades.

GUSTAVO [email protected]

ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2019

A partir de 2019é eliminada a coletamínima no IRCe dispensadaa obrigatoriedade dopagamento especialpor conta, o qualservia comoadiantamentodo pagamentodo IRC ao Estadopelas empresas

IVA fosse reduzido na potênciacontratada até aos 6,9 kVA, masnão chegaram a ser votadas.

Novo adicional ao IMINo Imposto Municipal sobre Imó-veis (IMI), os contribuintes quepagam mais de 100 euros poderãoliquidá-lo em três prestações, apartir de 2019. O OE2019 prevê aredução do montante - de 250 para100 euros - que tem de ser saldadode uma vez só. Mais, a cobrança doIMI começará a ser feita em maio,em vez de abril. Entretanto, na dis-cussão na especialidade foi aprova-da outra alteração: a criação de umnovo escalão do Adicional ao IMI(AIMI), com valor superior a 2 mi-lhões euros, mediante propostasdo BE e do PCP.

Na prática, os proprietários comimóveis de valor acima de 2 milhõesde euros passará a ser aplicada umataxa de 1,5%. O AIMI aplicava-se aopatrimónio com valor superior a600 mil euros (ou 1,2 milhões nocaso dos contribuintes casados). Ti-nha dois escalões: 0,7% para entre600 mil e 1 milhão de euros; e 1%para mais de um 1 milhão. A partirde 2019, mantêm-se essas duas ta-

xas e acrescenta-se uma taxa adicio-nal de 1,5% à parcela do patrimóniosuperior a 2 milhões de euros.

Novo regime de emissõesO Imposto Único de Circulação(IUC) terá novas tabelas, atualiza-das em função da inflação e ajusta-das em conformidade com o novoregime de emissões. Trata-se donovo modelo de medição de emis-sões de dióxido de carbono deno-minado como Procedimento Glo-bal de Testes Harmonizados deVeículos Ligeiros (”WorldwideHarmonised Light Vehicle TestProcedure”). O Imposto Sobre Veí-culos (ISV) também terá novas ta-belas. De forma a minorar estesdois aumentos fiscais, o Governocriou uma medida transitória du-rante 2019, aplicando um descontosobre a componente ambiental.

Ainda no que respeita aos auto-móveis, mantém-se o agravamentode 500 euros no imposto sobre veí-culos para automóveis movidos agasóleo. Este agravamento é deapenas 250 euros no caso dos veí-culos ligeiros de mercadorias, coma exceção dos veículos que apresen-tarem nos respetivos certificados de

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conformidade ou, na sua inexistên-cia, nas homologações técnicas, umvalor de emissão de partículas infe-rior a 0,001 g/km.

Aumentos variadosO imposto sobre o tabaco volta aaumentar em 2019, passando de94,89 euros para 96,12 euros pormil cigarros. Também vão ser au-mentados os impostos sobre oscharutos, cigarrilhas, tabaco aque-cido e tabaco líquido contendo ni-cotina (utilizado nos cigarros ele-trónicos). Estes aumentos estão emlinha com a inflação prevista.

O imposto do selo cobrado sobreas operações de crédito ao consumotambém volta a aumentar em 2019.As taxas para créditos inferiores aum ano e os descobertos bancáriospassarão para 0,128%, acima dos0,08% atuais. E o crédito entre um ecinco anos passará a ser tributado a1,6%, acima dos 1% atuais.

Mais, o açúcar nos refrigerantesterá duas novas taxas, agravando acarga fiscal sobre as bebidas commais de 80 gramas de açúcar por li-tro. E a taxa sobre o sacos plásticostambém vai aumentar, de 8 para 12cêntimos. ●

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Um orçamento feito a pensarem Portugal e nos portugueses

A aprovação do Orçamento do Es-tado para 2019 é uma boa notíciapara as famílias e para as empresas,sendo mais um marco na recupera-ção de rendimentos e na promoçãoda confiança para investir.

Os portugueses pagam hoje menosIRS. Temos um imposto mais pro-gressivo: sem sobretaxa, sem quo-ciente familiar e com deduções fixas,e com novos escalões. Temos, porisso, um imposto mais justo. No pró-ximo ano, as horas de trabalho suple-mentar vão ter retenção na fonte au-tónoma e os imigrantes de baixosrendimentos deixam de estar sujeitosa taxa liberatória. São medidas deequidade. E vamos apoiarfiscalmenteo regresso a Portugal de quem já foiresidente, diminuindo em 50% a tri-butação dos seus rendimentos de tra-balho durante cinco anos. Vamostambém apoiaras famílias que se mu-dem para o interior do País, alargan-do limites e majorando deduçõescom arrendamento e despesas deeducação. São medidas de igualdade.

As empresas continuam a contarcom estabilidade fiscal, fator essen-cial para a confiança em investir. Aestabilidade legislativa permite ummaior e melhor conhecimento dasnormas, facilitando e fomentando ocumprimento voluntário das obriga-ções tributárias. Em 2019, as PMEveem reforçada a sua capacidade dededução em IRC para lucros retidose que sejam reinvestidos, deixam deestar obrigadas à entrega do PEC, oque representa um efetivo alívio fis-cal e/ou de tesouraria. São medidasde justiça e de apoio à nossa econo-mia, que se juntam à introdução doIVA Alfandegário no OE 2017 e ato-das as medidas fiscais de apoio à capi-talização das empresas introduzidasno OE 2018. E as empresas situadasem territórios do interior vêm majo-radas as componentes regionais dosincentivos fiscais ao investimento.Estamos a trabalhar para diminuir oIRC no interior com a dedução doscustos com a massa salarial no âmbi-to do RGIC. Trabalhamos, por isso,para um País mais coeso no seu cres-cimento e desenvolvimento.

O OE 2019 promove a redução da

ANTÓNIO MENDONÇA MENDESSecretário de Esatdo dos Assuntos

Fiscais

OPINIÃO

taxa de IVA de alguns bens e servi-ços, sendo de destacar a reposiçãoda taxa reduzida dos bilhetes de en-trada em espetáculos de naturezaartística e a possibilidade de sujeitara componente fixa da eletricidade edo gás natural dos primeiros esca-lões à taxa reduzida de IVA.

No ISP, baixamos três cêntimos oimposto da gasolina, ao mesmotempo que evitamos o aumentodesproporcionado da tributação au-tomóvel pela introdução de umnovo sistema de medições de CO2.

Apostamos também na simplifi-cação administrativa e no combate àfraude e evasão fiscal. Temos umnovo sistema de notificações eletró-nicas e novos instrumentos de cola-boração entre a AT e o Banco dePortugal no âmbito da informaçãofinanceira constante da Modelo 38(transferências para offshores).

Este é um bom Orçamento paraas famílias e para as empresas. Emsuma, um Orçamento a pensar emPortugal e nos portugueses. ●

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IV | 30 novembro 2018

ESPECIAL FISCALIDADE

Escalões do IRSsem atualizaçãopara o ano

Em 2019, não será feita uma actua-lização dos escalões de IRS queservem para calcular o apuramen-to final do imposto. A medida nãoconstava da proposta de lei doOE19 e o CDS e do PCP ainda ten-taram a alteração ao Orçamentodo Estado ao propor essa actuali-zação à taxa de inflação no próxi-mo ano, mas foram chumbadasesta terça-feira, 27 de novembro,no Parlamento.

A tabela de IRS que irá vigorarem 2019 será, assim, a que se en-contra actualmente em vigor, oque poderá prejudicar os contri-buintes que tenham rendimentospróximos dos limites de cada esca-lão. Ou seja, nestes casos, aumen-tos salariais de 1,3% (ao nível dainflação prevista para 2019), arris-cam a passar para o escalão supe-rior, vendo a sua tributação agra-vada, o que na prática significauma perda do poder de comprapor via do IRS.

Nos cálculos efetuados pela con-sultora EY, um contribuinte sol-teiro, sem dependentes, que tenhaum aumento de cinco euros no seusalário bruto mensal de 1.054 eu-ros eleva o rendimento brutoanual em 70 euros para 14.824 eu-ros, acabando por pagar mais17,20 euros de imposto (mais 0,9%de imposto). Já um mesmo tipo decontribuinte com um salário de1.736 euros acabará por pagarmarginalmente mais imposto(mais 0,4% ou 20,27 euros) por terum aumento de 70 euros no seurendimento bruto anual devido ànão actualização dos escalões deIRS ao nível da inflação.

Recorde-se que este ano foiapontado como o de alívio fiscalcom o aumento o número de esca-lões de cinco para sete. E outrasmedidas como o aumento do mí-nimo de existência, que passou aestar indexado ao IAS, para9.006,9 euros. Esta última medida

abrangeu, este ano, cerca de 57 milrecibos verdes que passaram a be-neficiar do facto de, pela primeiravez, estarem abrangidos por estemínimo de rendimento livre deimpostos.

Este ano, o mínimo de existên-cia passou, assim, a proteger salá-rios mensais até 642 euros, esti-mando-se que se fixe, no próximoano, nos 654 euros o patamar sala-rial até ao qual os contribuintesnão pagam IRS – valor que tempor base a estimativa de que o mí-nimo de existência que rondará os9.150 euros face a actualização doIAS em 1,5% (considerando 14meses de remuneração).

O efeito desta medida chegaráem 2020 com a entrega da declara-ção anual do IRS, significandopara muitos contribuintes (depen-dentes e independentes) não pagarqualquer imposto e, para outros,maiores reembolsos do imposto.

Ajustes no IRSO OE19 traz alterações do IRS quesão apenas cirúrgicas com algumasnovidades centradas na data de en-trega do IRS e algumas medidasaté já tinham sido previamenteanunciadas como a redução doimposto para os emigrantes queregressem ao país. Ou ainda a novaforma de aplicar as retenções na

fonte para as horas extraordiná-rias.

Novos prazos para pagar o IRSsão um dos ajustes introduzidosneste imposto. Os contribuintes vãopassar a ter três meses, em vez dedois, para submeterem a declaraçãocom o prolongamento do prazodesta entrega de 1 de abril a 30 dejunho, independentemente de estedia ser útil ou não útil. Há tambémpequenas alterações nos prazos paraverificação e reclamação nas factu-ras das despesas gerais familiares. OFisco colocará os valores finais nosite, à disposição de cada contri-buinte, até 15 de março, atualmenteé até ao final de fevereiro. Tambéma reclamação por parte dos contri-buintes poderá ir até mais tarde: 31de março, enquanto hoje em dia olimite é 15 do mesmo mês.

Duplo bónus em 2019Em 2018, o alívio fiscal chegouatravés do aumento do mínimo deexistência e do desdobramento dosegundo e terceiro escalão.

O Governo tinha já sinalizadoquando apresentou o Orçamentodo Estado deste ano, que o alíviono IRS – de 385 milhões de euros –iria ter um impacto orçamental adois tempos: em 2018 espera-seuma perda de receita de 230 mi-lhões nos cofres do Estado, em2019, um impacto de 155 milhões,ou seja, 40% do total.

Ou seja, no próximo ano, o Go-verno prossegue com a segundafase da alteração dos escalões deIRS. Isto porque, apesar de ter de-cidido passar os escalões de IRS decinco para sete este ano, o Gover-no optou por não reflectir a totali-dade desse efeito nas tabelas de re-tenção da fonte. Assim, em 2019,pode haver um duplo bónus noIRS, através da devolução de im-posto (que foi pago a mais esteano) e de uma nova actualizaçãodas tabelas de retenção que garan-tirá aos contribuintes um maiorrendimento disponível mensal apartir do início de 2019, ano deeleições legislativas. ●

Taxas e deduções mantêm-se em 2019, sem atualizações de escalõescom a inflação. Alteração de prazos de pagamento são alguns dos ajustes.

LÍGIA SIMÕ[email protected]

O QUE MUDA PARA AS FAMÍLIAS

No próximo ano,os contribuintes vãosentir a segunda fasedo impacto do alíviofiscal de 2018. São155 milhões de eurosque decorrem demaiores reembolsose da atualizaçãodas taxas de retenção

EMIGRANTES COM DESCONTODE 50% DO IRS

Os ex-residentes que regressem aPortugal, entre 2019 e 2020, vãopagar IRS sobre 50% do seurendimento, durante os próximos trêsa cinco anos. A medida visaemigrantes comrendimentos de trabalho dependente,empresariais e profissionais com asituação fiscal regularizada e comresidência em Portugal antes de 31de dezembro de 2015.Além disso, não podem ter solicitadoo estatuto de residente não habitual.A medida aplica-se apenas aosrendimentos auferidos durante osanos de 2019 a 2023, cessando asua vigência após a produção detodos os seus efeitos em relação aoano de 2023. Segundo a EY, apoupança fiscal varia entre 34% a44% no IRS face aos outroscontribuintes residentes.

OUTRAS MEDIDAS COM IMPACTO NO IRSHORAS EXTRACOM NOVAS REGRAS

Para efeitos de retenção na fonte, vai serautonomizada a remuneraçãorelativa a trabalho suplementar eremunerações relativas a anos anterioresàquele em que são pagas ou colocadas àdisposição. As horas extra não podem,por isso, para o cálculo de imposto areter, serem adicionadas àsremunerações dos meses em que sãopagos. Na remuneração suplementar, ataxa de retenção a aplicar passará acorresponder à aplicável sobre osrestantes rendimentos de trabalhodependente auferidos no mesmo mês emque aquela é paga. Nas remunerações deanos anteriores, para efeitos deapuramento da taxa de retenção na fonte,o valor deverá ser dividido pela soma donúmero de meses a que respeitam,aplicando-se a taxa assim determinada àtotalidade dessas remunerações. Quandocolocados à disposição, o apuramento doimposto a reter sobre os montantes desubsídio de férias e de natal de anosanteriores é efetuado autonomamente porcada ano a que aqueles respeitam.

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GASTOS COM A EDUCAÇÃO ERENDAS NO INTERIOR DÃO BÓNUS

Em 2019, vai ser aumentado o limiteglobal das deduções de educação emsede de IRS para estudantes no interiordo País até ao limite de 1000 euros. Ouseja, o tecto máximo de 800 eurospermitido para a dedução em causa(que corresponde a 30% destes gastos)é elevado para mil euros quando adiferença seja relativa a estasdespesas. As famílias que se mudempara o interior e transfiram a suaresidência permanente terão ainda,durante três anos, um aumento nadedução das rendas de casa no IRS de502 euros para 1000 euros. Nas rendaso bónus é, assim, mais generoso doque o bónus de 200 euros para asdeduções de educação por comparaçãocom o regime que vigora para ageneralidade das famílias com o limitede dedução de 1000 euros a vigorar“durante três anos, sendo o primeiro oda celebração do contrato” no caso dosencargos resultarem “da transferênciada residência permanente para umterritório do interior”.

O Orçamentodo Estado para2019 e o impactonas famílias

Nos anos mais recentes, o Gover-no tem vindo a assumir uma linhade orientação baseada na reposi-ção dos rendimentos para as fa-mílias (através da introdução dealgumas medidas de alívio fiscalno IRS – como por exemplo, a ex-tinção da sobretaxa e o desdobra-mento dos escalões de rendimen-to –, o aumento de prestações so-ciais ou a reposição de rendimen-tos na função pública) em detri-mento do agravamento da tribu-tação indireta. Deste modo, estaproposta do Orçamento do Esta-do não surpreende, ao seguir asmesmas tendências anteriormen-te identificadas.

Ao nível do IRS, a proposta nãointroduz muitas novidades: as ta-xas e os escalões de rendimentocoletável mantêm-se inalterados,não há mudanças significativas nasdeduções à coleta e as bases de in-cidência do IRS apenas foram ob-jeto de alguns ajustes pontuais.

Como medidas inovadoras, é desalientar o novo regime fiscal apli-cável a ex-residentes, e que pre-tende incentivar o regresso deportugueses (e não só) em 2019 ou2020, que tenham sido residentesem território português antes de31 de Dezembro de 2015 e não te-nham sido considerados residen-tes em Portugal nos três anos an-teriores, ou o benefício fiscal àsáreas do interior, a qual contem-pla uma a majoração de 10% dovalor suportado a título de despe-sas de educação e formação paraestudantes que frequentem esta-belecimentos de ensino situadosem território interior, bem comoa majoração do limite da deduçãoà coleta de IRS com as importân-cias suportadas a título de rendas,dentro de determinados limites.

Em ambos os casos, estas medi-das procuram compensar as ten-

ANABELA SILVAPartner da EY

OPINIÃO

dências demográficas que se têmvindo a acentuar em Portugal, dedesertificação das áreas do interiore envelhecimento da populaçãoativa, e que importa ativamentecombater.

Ao nível da reposição de rendi-mentos, de destacar a atualizaçãoextraordinária das pensões, queem 2019 se aplicará desde o iníciodo ano, bem como a reposição derendimentos na função pública(pela possibilidade de alteraçõesobrigatórias de posicionamentoremuneratório, progressões e mu-danças de nível ou escalão, atribui-ção de prémios de desempenho atrabalhadores e gestores, em de-terminadas condições, reforço dacontração de profissionais qualifi-cados ou aumentos salariais – cu-jos moldes se encontram ainda emdiscussão).

No que respeita à tributação in-direta, salienta-se um agravamen-to muito significativo ao nível datributação que incide sobre o cré-dito ao consumo, como forma decombater o endividamento exces-sivo das famílias. ●

Como medidasinovadoras,é de salientar o novoregime fiscal aplicávela ex-residentes, e quepretende incentivaro regresso deportugueses em 2019ou 2020, que tenhamsido residentes emterritório portuguêsaté ao final de 2015

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VI | 30 novembro 2018

ESPECIAL FISCALIDADE

Fim do PEC e recuono imposto sobre carros

Em 2019, o Governo vai avançarcom o fim da obrigatoriedade da en-trega do Pagamento Especial porConta (PEC). A dispensa vai ser au-tomática. Uma medida aplaudida pe-las empresas que temiam como re-verso da medalha outras medidas deagravamento de impostos, como asubida das taxas da tributação autó-noma sobre os carros e um novo es-calão de derrama estadual. Ambas asmedidas acabaram por ficar pelo ca-minho (ver páginas 12 e 13 do cader-no principal do Jornal Económico).

Além do PEC, as boas notíciaspara as empresas vieram esta semananas votações na especialidade dasmedidas do OE19 com o Parlamentoa travar a tributação sobre as viatu-ras, com os votos do PSD e CDS quejuntaram-se ao PCP para chumbar amedida. Também um novo escalãode derrama estadual, que recai sobreas empresas com maiores lucros eque foi proposto pelos comunistas,não teve luz verde.

A dispensa do PEC para as empre-sas com a situação contributiva re-gularizada, há muito reclamada pe-las confederações patronais, tem im-pacto negativo de 100 milhões deeuros na receita do IRC. As empre-sas vão assim poder pedir a dispensado PEC junto do fisco. E poderão fa-zê-lo de forma automática, bastandopara tal que não efetuem o respetivopagamento.

Ou seja, o requisito de declaraçãoprévia para as empresas deixarem depagar PEC, previsto no desenho ini-cial do Governo para esta medida,acabou por cair, após a aprovação noParlamento de uma proposta de alte-ração do PCP. A proposta do OE/19previa esta dispensa mediante solici-tação desta dispensa no Portal das Fi-nanças, até ao final do terceiro mêsdo respectivo período de tributação.

Para a dispensa do PEC as empre-sas têm, porém, de ter cumpridas asobrigações fiscais declarativas nosdois períodos de tributação imedia-tamente anteriores. Já o requisitoque o Governo pretendia de que adispensa fosse válida por três perío-dos de tributação, caiu também. OPCP introduziu uma alteraçã noOE/2019, aprovado nesta quinta--feira, no Parlamento: a dispensa

passa a ser válida por cada período detributação, mediante os requisitosobrigatórios e a e a sua verificaçãopela AT.

O OE/17 já previa que o limitemínimo do PEC caísse para 850 eu-ros com novas reduções progressivasaté 2019. No ano passado, estimava--se que 122 mil empresas beneficias-sem dessa redução. A redução doPEC foi a alternativa encontradapelo Governo quando o corte daTSU para empresas com salários mí-nimos foi travado no Parlamento.De acordo com a lei publicada emmarço de 2017, o valor que resulta

do cálculo do PEC é reduzido em 100euros e, no montante que daqui re-sultar, há ainda um corte adicional de12,5%. O benefício era aplicado ape-nas a empresas que, ao longo de2016, tinham pago pelo menos umsalário mínimo, mas em 2018 estaúltima restrição deixa de existir, in-dica ainda a lei. Ficaram abrangidasas empresas sem dívidas às Finançasou à Segurança Social.

O Governo pretende substituir aobrigatoriedade do PEC por umconjunto de outros instrumentospara que as empresas possam cum-prir com as suas obrigações fiscais.

Novo regime simplificadoO Executivo queria implementar umnovo regime simplificado de IRCpara as empresas, a partir de 1 de ja-neiro de 2019. Mas ao contrário doque tinha sido prometido, não avan-ça já, adiando o projeto por mais seismeses. Em causa está um novo regi-me baseado em coeficientes técnico--económicos por sector de activida-de. No OE19, o Governo propõe queaté final do primeiro semestre de2019 devem ser apresentadas pro-postas para determinação da matériacoletável, com base em coeficientestécnico económicos, tendo em vistaa concretização de um novo regimesimplificado de IRC que assente nummodelo de tributação de maior apro-ximação à tributação sobre o rendi-mento real.

Os coeficientes técnico-económi-cos estão a ser definidos por comis-são de acompanhamento criada emjunho deste ano. O objectivo passapor simplificar a tributação das mi-cro e pequenas empresas, reduzindoos seus deveres fiscais acessórios, edefinir, para determinar a matériatributável, coeficientes técnico-eco-nómicos.

Reforço no apoioao reinvestimento dos lucrosAs empresas que queiram reinvestiros seus lucros, optando assim pelo fi-nanciamento interno, vão ter um re-forço do apoio fiscal existente. O OEpara 2019 prevê montante máximode dedução dos lucros retidos e rein-vestidos sobe dos actuais 7,5 milhõesde euros para 10 milhões, no âmbitodas medidas do Programa Capitali-zar. No ano passado, este montantejá tinha sido aumentado de cincopara os actuais 7,5 milhões.

O Governo mantém a regra, ins-crita no código fiscal de investimen-to (artigo 29), de que essa dedução àcolecta de IRC só pode ir até 10% doslucros retidos que sejam reinvestidosem aplicações relevantes. Ou seja,terrenos, reparação e compra de edi-fícios ou aquisição de direitos de pa-tentes e licenças. Esta dedução teráde ser feita prazo de três anos, conta-do a partir do final do período de tri-butação a que correspondem os lu-cros retidos. dedução em causa nãopode ainda exceder 25% da colectado IRC, percentagem que passa para50% se for uma micro ou pequenaempresa. ●

Empresas vão deixar de ser obrigadas a fazer o adiantamento de imposto com base na situação fiscaldo ano anterior. Dispensa vai ser automática. E agravamento de tributação sobre carros foi afastado.

LÍGIA SIMÕ[email protected]

EMPRESAS

BENEFÍCIOS FISCAISPARA O INTERIORPara as empresas haverá aindaum reforço do benefício fiscal quejá hoje permite deduzir à colectado IRC até 10% dos lucros retidose que sejam reinvestidos emdeterminadas aplicações, comoterrenos, construção de edifíciosou viaturas. Em causa está umamajoração de 20% sobre adedução máxima – passando de750.000 para 900.000 euros – doslucros retidos quesejam aplicados em investimentoselegíveis realizados em territóriosdo interior, nos termos doCódigoFiscal do Investimento. O Governofica também autorizado a criar umregime de benefícios fiscais noâmbito do Programa deValorização do Interior, aplicável asujeitos passivos de IRC emfunção dos gastos resultantes dacriação de postos de trabalho nosterritórios do interior.

PERDAS POR IMPARIDADEEM CRÉDITOSAs imparidades vão deixar de serdedutíveis, para efeitos fiscais,quando respeitantes a créditos decobrança duvidosa devido a morano seu recebimento, nos casos decréditos entre empresas detidas,direta ou indiretamente, em maisde 10% do capital pela mesmapessoa singular ou coletiva. OGoverno exceptua os casos emque o devedor tenha pendenteprocesso de execução, processode insolvência, processo especialde revitalização ou procedimentode recuperação de empresas porvia extrajudicial ao abrigo doSistema de Recuperação deEmpresas por Via Extrajudicial(SIREVE) e os casos em que os

créditos tenham sido reclamadosjudicialmente ou em tribunalarbitral.

DECLARAÇÃO MODELO 22DO IRC DE CESSAÇÃOEm caso de cessação deatividade a declaração derendimentos relativa ao período detributação em que a mesma severificou deve ser enviada até aoúltimo dia do 3.º mês seguinte aoda data da cessação (atualmenteaté ao 30.º dia seguinte ao da datada cessação), aplicando-se esteprazo ao envio da declaraçãorelativa ao período de tributaçãoimediatamente anterior, quandoainda não tenha decorrido orespetivo prazo. Este prazo será,por remissão, aplicável à IES e aoprocesso de documentação fiscal.

REGIME DE TRIBUTAÇÃODOS RESULTADOS INTERNOSPrevê-se a prorrogação para 2019do regime de tributação de 25%dos resultados internos quetenham sido eliminados ao abrigodo anterior regime de tributaçãopelo lucro consolidado, em vigoraté 2000, ainda pendentes detributação, no termo do período detributação com início em ou após1 de janeiro de 2018. Prevê-se,ainda, um pagamento por contaautónomo relativamente aoimposto daí decorrente (com taxade 21% sobre o valor dosresultados internos incluídos nolucro tributável do grupo, o qualserá dedutível ao imposto a pagarna autoliquidação de IRC domesmo período de tributação), aefetuar em julho de 2019 (ou no7.º mês do período de tributaçãocom início em ou após 1 dejaneiro de 2019).

OUTRAS MEDIDAS

REDUÇÃO DA FACTURA DA LUZO Governo vai alargar a contribuiçãoextraordinária sobre o setorenergético (CESE) às fontes deenergia renováveis que esteja“abrangida por regimes deremuneração garantida” assim comoos “aproveitamentos hidroelétricoscom capacidade instalada igual ousuperior a 20 MW (megawatts).A medida coloca um fim à isenção àprodução em regime especial (PRE),desde 2014 aplicada às grandesempresas. E, segundo o Governo,levará à redução de 3,5% na contada eletricidade para consumidoresdomésticos que só sentirão oimpacto dos preços nos bolsosapenas em 2020, dado que só podeavançar em 2019. Para reduzir afatura da luz, o Governo conta com aoutra componente: a redução doIVA da potência contratada, quepassará de 23% para 6% e queapenas incidirá sobre potênciascontratadas abaixo dos 3.45 kVA.

O QUE MUDA NO OE2019 NOUTRO

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30 novembro 2018 | VII

Orçamento do Estadopara 2019 – Impactonas Empresas

Volvido cerca de um mês e meioapós a apresentação da Proposta deLei do Orçamento do Estado para2019 (“OE 2019”) no Parlamento,tendo a mesma sido já aprovada nageneralidade e sendo expectávelque venha a ser em breve igual-mente aprovada na especialidade(cujo conteúdo final ainda podetrazer algumas novidades), poder--se-á tentar fazer um balanço se asEmpresas terão razões para consi-derar que este Orçamento agravaou não a carga tributária no próxi-mo ano.

Como nota prévia, poder-se-áafirmar com razoável certeza queeste Orçamento não traz alteraçõesde fundo ao nível da legislação fiscalque impacta diretamente as Empre-sas, nomeadamente ao nível do Im-posto sobre o Rendimento das Pes-soas Coletivas (“IRC”). Este aspeto,visto isoladamente, não deixa de serpor si positivo, pois traduz-se numaideia de estabilidade fiscal que sepassa aos contribuintes e ao merca-do em geral, o que é sempre deaplaudir.

Não obstante, existem algumasmedidas que sempre foram trazen-do algum mediatismo às discussõesque existiram a partir do momentoem que o conteúdo da referida Pro-posta de Lei se tornou conhecido.

Neste contexto, importa destacaro agravamento, em sede de IRC,que se irá registar ao nível das taxasde tributação autónoma incidentessobre os encargos com viaturas li-geiras de passageiros ou de merca-dorias, em que se assiste ao incre-mento da taxa de 10% para 15%, nocaso de viaturas cujo o custo deaquisição seja inferior a €25.000, ede 35% para 37,5%, no caso de via-turas cujo o custo de aquisição sejaigual ou superior a €35.000. Man-tém-se o nível de tributação autó-noma (i.e. 27,5%) para as viaturascujo o custo de aquisição seja igualou superior a €25.000 e inferior a€35.000 (aparentemente, a versãofinal do OE 2019 poderá ainda con-templar alterações a este nível). Asviaturas movidas exclusivamente aenergia elétrica continuam excluí-

LUÍS MARQUESCountry Tax Leader EY Portugal

das desta incidência tributária espe-cial. Posto isto, será que este agra-vamento fiscal que o Governo pre-tende implementar tem por baseuma política de sustentabilidadeambiental? Pode ser que sim, mas ocaminho a percorrer a esse nível éainda longo.

Outra medida a destacar consistena possibilidade de as empresas po-derem solicitar a dispensa do paga-mento especial por conta, situaçãoque tem de se requerida e aprovadaexpressamente pela AdministraçãoTributária, desde que observadasdeterminadas condições (tambémaqui podem ainda existir alteraçõesno texto da versão final do OE).Esta medida pode, em algumas cir-cunstâncias, traduzir-se efetiva-mente num desagravamento fiscal,o que não deixa de ser um aspetopositivo que o OE 2019 irá trazer aotecido empresarial.

Existem ainda algumas medidasque visam incrementar o nível debenefícios fiscais aplicáveis a PME’sque se instalem no interior do País,dando assim continuidade a umapolítica que o Governo pretendeimplementar no sentido de reduziras assimetrias que registam aindaem Portugal. Curiosamente, a EYefetuou um Survey a vários empre-sários e gestores, previamente àapresentação da Proposta de Lei doOE 2019 exatamente sobre esta te-mática e constatou-se que mais de90% considera este tipo de medidaspositiva, sendo que, contudo, ape-nas 30% ponderaria efetuar umamudança para o interior do País. Aconclusão lógica é que a via fiscal,podendo ajudar, não é a única viaque promove uma diminuição des-tas assimetrias que o Governo pre-tende colmatar. Talvez aqui o OE2019 tenha ficado aquém do que se-ria esperado.

O que ficou por tratar? Desdelogo, manter a trajetória de descidada taxa nominal do IRC (atualmen-te fixada em 21%) prevista do proje-to de Reforma Fiscal do IRC de2014, o que poderia permitir liber-tar mais recursos para atividades deinvestimento do setor privado.Uma eventual revisão do regime daDerrama Estadual, dado que as con-dições de excecionalidade que a jus-tificaram ab initio já não se verifi-cam.

Em suma, estamos perante umOrçamento que pode ter ficadoaquém de algumas expetativas, sen-do que o facto de não trazer refor-mas de fundo até pode ser vistocomo algo positivo numa ótica deestabilidade fiscal. ●

OPINIÃO

Cris

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Ber

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OS IMPOSTOSIVA A 6% NAS TOURADAS,CINEMAS E FESTIVAIS

As bancadas do CDS, PSD e PCPaprovaram a redução do IVA para 6%nas touradas, em espetáculos de canto,dança, música, teatro, cinema e circo (queo PS pretendia apenas recintos fixos deespetáculo. O PS apresentou umaproposta de alteração do IVA para os 6%apenas para a Tauromaquia (contrária doGoverno que mantinha o IVA nos 13%). Aproposta do Governo apontava Julhocomo data para a entrada em vigor do IVAreduzido em espectáculos, mas com estaaprovação, a alteração produz efeitos já apartir de 1 de Janeiro. A proposta doGoverno custava nove milhões de euros,um valor de de perda de receita fiscalque irá agora aumentar. Já o BEpretendia que a redução do IVA fosseaplicada a espetáculos fora de recintosfechados, mas com as touradas fora daredação, uma vez que o objetivo dopartido era que a taxa para estesespetáculos fosse de 23%.

NOVO ESCALÃO DE AIMI PARA IMÓVEIS ACIMADE DOIS MILHÕES. TAXA AGRAVADA PARA1,5%

No próximo ano, vai haverum novo escalão de 1,5% parao património imobiliário global acimados dois milhões de euros. Umamedida que vai garantir aos cofresdo Estado mais 30 milhões de eurose que deu seguimento às propostasdo BE e do PCP de agravaro imposto que recai sobre os imóveisde elevado valor.O AIMI foi criado em 2017 porproposta do BE incidindo sobre aspessoas singulares que detenhampatrimónio imobiliário acima de 600mil euros. Entre esse valor e ummilhão de euros, é aplicada uma taxade 0,7%. Acima desse valor a taxasobe para 1%. Com a aprovação danova proposta do PCP e do BE, ataxa de 1% será aplicada apatrimónio imobiliário com valor entreum e dois milhões de euros,montante acima do qual os partidos

de esquerda querem passar a aplicaruma taxa de 1,5%.O adicional ao IMI também é devidopelas empresas que, atualmente,pagam 0,4% sobre a totalidade dovalor patrimonial tributário do conjuntodos imóveis que detenham. Nestecaso, a taxa mantém-se inalterada.Também as taxas de IMI vão manter--se inalteradas no próximo ano, depoisde o PCP e o Bloco terem apresentadoduas propostas para reduzir a taxamáxima de IMI de 0,45% para 0,4%,enquanto o PSD apresentou umaproposta para que fosse reduzida ataxa mínima, de 0,3% para 0,25%. Astrês propostas foram chumbadas. JáoCDS/PP tentou garantir a isenção doIMI das casas dos idosos comreduzidos rendimentos que mudem asua morada fiscal para a casa dosfilhos. A iniciativa foi chumbada peloPS, PCP e BE.

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VIII | 30 novembro 2018

ESPECIAL FISCALIDADE

“Novo escalão do AIMI deveráter repercussão nas rendas”

Em termos genéricos, quebalanço faz do Orçamento doEstado (OE) para 2019 no quetoca à fiscalidade sobre asempresas e as famílias?Em termos gerais, diria que é umOrçamento que pelo menos nãopenaliza muito as empresas namedida em que não traz altera-ções de fundo e por isso dir-se-iaque é positivo haver aqui um sinalde estabilidade fiscal. As famíliaspoderão contar com medidas ex-trafiscais (como por exemplo, agratuitidade de manuais escola-res, a subsidiação de passes so-ciais) que terão certamente umimpacto positivo no seu dia a dia.Constata-se que há uma certaneutralidade de todas as medidasnuma perspetiva combinada e tal-vez seja aqui a crítica que por ve-zes se faz a este Orçamento, poisfica uma ideia de uma certa frus-tração uma vez que se entendiaque se poderia ter ido mais além.A peso da carga fiscal face ao PIBvai continuar em níveis elevados(à volta dos 35% do PIB) e isso épraticamente certo.

Era possível ir mais longe noque diz respeito à redução dacarga fiscal sobre as empresas,para além do fim do PEC?Pelas contas que se conhecem, oGoverno não teria muita folga or-çamental para ir mais além. Con-tudo, medidas como a descida dataxa nominal do IRC, fixada atual-mente em 21% (em consonânciacom as linhas programáticas defi-nidas no processo de Reforma doIRC de 2014), e a revisão dos esca-lões da Derrama Estadual, na me-dida em que já não se verificam ascondições de excecionalidade que ajustificaram ab initio, seria algo quetalvez pudesse ter sido tomado emlinha de conta neste Orçamento.

A não actualização dosescalões de IRS significa umaumento encapotado dosimpostos sobre as famílias?Conceptualmente, todos os con-tribuintes que tiverem aumentos

salariais em 2019 superiores à taxade inflação, irão ter algum agrava-mento fiscal. Não será significati-vo, mas existe. Contudo, não creioque estejamos a falar de valores ede uma magnitude significativaque nos leva a apelidar esta medidacomo uma forma ardilosa de se au-mentar impostos. Não é por aquique o Governo irá certamente ob-ter receita fiscal adicional signifi-cativa.

Que balanço faz a nível dosimpostos indirectos?Penso que esta tem sido uma áreade grande enfoque no Governo eonde provavelmente se tem pro-curado mais receitas fiscais quecompensem algum do efeito deri-vado da redução da tributação di-reta.Ao nível do IVA não existem alte-rações de grande relevo, aindaque muito se tenha discutido jun-to da opinião pública a temáticada aplicação da taxa reduzida de6% aos espetáculos tauromáqui-cos, por razões extrafiscais, dadoque o impacto desta medida serárelativamente marginal, o que

mais se nota foi o aumento signi-ficativo na tributação incidentesobre as bebidas açucaradas e ain-da um aumento do imposto doselo nas operações de crédito aoconsumo.Penso que o Governo tenta poresta via induzir algum tipo demudança comportamental nos ci-dadãos visando a adoção de políti-cas de maior sustentabilidade. É adenominada fiscalidade compor-tamental.

Qual o comentário que lhemerece a solução encontradapara a redução da factura daeletricidade?É uma alteração mais emblemáti-ca do que substantiva, na medidaem que afetará apenas uma partenão muito significativa da popu-lação. Talvez possa existir aquialgum aproveitamento político àvolta da mesma, em que por umlado, o Governo quererá passaruma ideia de reposição de rendi-mentos (em linha com medidasadotadas em anos anteriores) e,por outro lado, a oposição diráque será uma medida claramente

eleitoralista em face de este serum Orçamento apresentado emano pré-eleitoral e com isso obterdividendos políticos. É uma dis-cussão que certamente daria paralongas conversas.

Partilha da opinião de que onovo escalão do AIMI podelevar a um aumento dasrendas das casas e constituirum entrave ao investimentona reabilitação urbana?Será mais um custo de contextoque terá de ser considerado pelosproprietários. Ou seja, na defini-ção dos preços a praticar nas ren-das futuras os proprietários terãode tomar isso em consideração eportanto quanto mais custos decontexto tiverem de suportar, talfacto implicará, em última análi-se, que exista uma repercussãodesses mesmos custos no valordas rendas a praticar. Quer istodizer, que o mercado de arrenda-mento pode ser afetado e por issodecisões de investimento na áreade reabilitação urbana poderãoser igualmente afetadas ou mes-mo reequacionadas. ●

Novo escalão do AIMI será custo de contexto que proprietários e investidores terão de ter em conta, com impacto nas rendas,defende Luís Marques. “Decisões de investimento na reabilitação urbana poderão ser afetadas ou mesmo reequacionadas”, diz.

FILIPE ALVES E LÍGIA SIMÕ[email protected]

ENTREVISTA LUÍS MARQUES Country Tax Leader da EY em Portugal

A descida da taxanominal do IRC e arevisão dos escalõesda Derrama Estadual,na medida em que jánão se verificam ascondições que ajustificarem, seriamalgo que talvezpudesse ter sidotomado em contaneste Orçamento

Cris

tina

Ber

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X | 30 novembro 2018

ESPECIAL FISCALIDADE

ORÇAMENTO QUE SEGUE TENDÊNCIA DOS ANTERIORES

O OE2019 não agravará de formasignificativa a tributação dasempresas no que respeita aosimpostos sobre os lucros (i.e. IRC),mas também não se irá sentir umalívio da carga fiscal. Aliás, é possívelpoder concluir que os efeitoscombinados das medidas propostastenderá a ser neutro. Existem,contudo, algumas alterações queagravam a fatura fiscal das empresas,sendo a mais emblemática a queenvolve o acréscimo das taxas detributação autónoma incidentes sobre

O Jornal Económicoouviu as opiniõesde de quatroespecialistas, arespeito do Orçamentodo Estado para 2019.

NUNO ALVES E LUIS MARQUESSenior Manager e Tax leader da EY

A proposta inicial do OE2019 éanódina. Não tanto no sentido de“inofensiva” ou de “sem importância”,mas – mais - de se tratar de umaespécie de medicamento quepretende anestesiar a dor fiscal quetem sido sentida desde 2011.Pretende garantir, ao nível dasfamílias, alguma reposição derendimento e, às empresas, algumaestabilidade fiscal. Resta, agora,saber se o resultado final, com maisde 900 propostas de alteraçãoapresentadas na assembleia darepública, não se trasvesteintegralmente na versão finalaprovada. O certo é que, em termosrelativos, todas as receitas fiscaisaumentam, com excepção do impostosobre o tabaco. Em 1% o IRC e oIRC, em 4,3% o IVA, em 2,3% o ISV,em 6,8% o Imposto do Selo e em9,1% o IUC, aqui com a justificaçãode um “expectável crescimento doparque automóvel”, difícil de severificar e bem pouco saudável aonível da nossa balança comercial.Mas o que é choca verdadeiramenteneste domínio é o aumento da rubrica“outros” impostos directos, em 24%.Aqui se inclui, designadamente, oalargamento às energias renováveisda contribuição (dita) extraordináriasobre o sector elétrico. Para alémdesta, é mantida toda uma panópliade tributos e de contribuições, numa(para) fiscalidade sobre as empresasque “não ousa dizer o seu nome”,mas que tem natureza coactiva e

ROGÉRIO FERNANDES FERREIRASócio Fundador da RogérioFernandes Ferreira&Associados

Quando o Professor Vítor Gasparanunciou o “enorme aumento deimpostos”, percebemos que, pormuito boas intenções que se tenha, arealidade (que é uma maçada) falasempre mais alto. Não havia tempopara trabalhar do lado da despesa: asituação desesperada exigiamedidas drásticas do lado da receita,pelo que, estando quase esgotada amargem de manobra no IVA, restavarecorrer à outra cash cow doOrçamento: o IRS. Que, se já não serecomendava enquanto tributoordenado, deixou de ser, na prática,aquilo que a Constituição exigia: umimposto único, progressivo epersonalizante. Mergulhados nacrise, perguntaram-me então qualseria a próxima tábua de salvaçãoorçamental; não sendo especialistaem Finanças Públicas, respondi que,provavelmente, veríamos um mix deaumentos pontuais de impostosindirectos, taxas e taxinhas, e acriação de novos tributos. Algunsanos depois, proclamado o fim dacrise e da austeridade (?!), estaria naaltura de reverter o estado deemergência fiscal. Mas, o quemudou?Ouço louvar os orçamentos da‘geringonça’ por promoverem aestabilidade fiscal, a qual, verdadeseja dita, poderia ser uma virtude.Sucede que a estabilidade não é umfim em si mesmo. Se a estabilidadesignifica a manutenção/reforço de umambiente fiscal em que quase todo orendimento disponível é extorquidoaos contribuintes (seja pelosimpostos directos seja, sobretudo,pelos indirectos – mais umamanifestação de que o calculismoprevalece sobre a ideologia), poucosobra para poupança. E, se bem merecordo, a equação fundamental daeconomia é S = I, ou seja, sempoupança, não há investimento. Ora,

JOÃO ESPANHAPartner da Espanha e Associados

O OE2019, na versão à dataconhecida, revela-se, numa primeiraanálise, como uma lei “amiga” dasfamílias e, no lado das empresas, daestabilidade e competitividade fiscalde que Portugal há muito temcarecido. Não obstante, e analisandomais a fundo a proposta do OE2019apresentada em outubro e, bemassim, os desenvolvimentosentretanto difundidos pelacomunicação social, deparamo-noscom pontos menos positivos eincertezas, cujo alcance e relevânciapoderá vir a determinar umaconclusão bem diferente.Do lado das famílias, o alcance e“bondade” da “joia da coroa” desteOE (o regime especial de tributaçãoaplicável a “ex-residentes”) poderásair significativamente prejudicado seo OE2019 se apresentar, em outroscampos da fiscalidade não tãomediáticos, desfavorável às famíliasportuguesas, como será o caso aonível do IS, no âmbito do qual aproposta do OE2019 propõe umagravamento significativo das taxasincidentes sobre o crédito aoconsumo (suportadas pelas famíliasportuguesas).Do lado das empresas, o OE2019prima pela estabilidade. mantendo,em traços gerais, os regimes emvigor no ano de 2018.Contudo, esta opção, muito bem

JOÃO PEDRO RUSSOConsultor na TFRA - Teixeirade Freitas, Rodrigues & Associados,SP RL

QUE BALANÇO FAZDO OE2019, A NÍVELDA FISCALIDADESOBRE AS FAMÍLIASE DAS EMPRESAS?

Para já é difícil anteciparmos o queserá a Lei de Orçamento do Estadopara 2019. Como é do conhecimentopúblico, foram submetidas 993propostas de alteração à proposta de

PEDRO PAIS DE ALMEIDASócio da Abreu Advogados

vinda e consensualmente aceitepelas empresas portuguesas, poderávir a ser prejudicada por um conjuntode medidas que continuam ainda emcima da mesa e que preveem,designadamente, a adição de umnovo escalão de tributação em sedede derrama estadual, o qual viráacentuar a carga fiscal (já elevada)incidente sobre os sujeitos passivosque atinjam elevados volumes delucros tributáveis.Em suma, perante tanta incerteza, eparafraseando um já célebredesportista, prognósticos relativosaos impostos a pagar em 2019, sóno fim do jogo.

num país pobre como o nosso,continuar nesta senda de sugar orendimento da sociedade civil paraalimentar o Estado e as suasclientelas (pois é disso que se trata –tirar a todos para dar aos queeleitoralmente interessam) é,deliberadamente, condenar Portugalao atraso que não merecemos. Peloque, em minha opinião, esteOrçamento não é bom nem para asfamílias nem para as empresas.Não muda o que devia mudar, e opouco que inova ou é inútil (como oregime fiscal dos ex-residentes) ou éperigoso (como sucede com asmedidas cedidas à extrema-esquerdae que dão a habitual notícia aosinvestidores de que não se podeconfiar no Estado). Este Orçamentoé, tão só, o retrato do país que temos,em crise, atrasado, atascado, e que,deslumbrado com o turismo, com arenovação urbana e com ashabilidades de quem nos pastoreia,aplaude a orquestra enquanto obarco lentamente se afunda.

unilateral como nos restantesimpostos especificamente autorizadospela assembleia da república:contribuição sobre sacos de plástico,contribuição para o audiovisual,contribuição para o sector bancário e,agora, uma nova contribuição especialpara exploração de recursos florestaise uma (velha) contribuição municipalde protecção civil e que, ao queparece, terá sido entretanto tambémjá rejeitada. De positivo, para asfamílias, temos as novas regras deretenção na fonte sobre rendimentosde anos anteriores e do trabalhosuplementar e os incentivos para osestudantes nas zonas do interior, anão retenção na fonte aos nãoresidentes até ao valor do saláriomínimo, uma autorização legislativaem matéria de mais-valias naafectação de bens do patrimónioempresarial/profissional ao pessoal(alojamento local) e, embora maldesenhado e desarticulado, o novoregime dos “ex-residentes”. Negativaé a não atualização dos escalões emfunção da inflação e que acumula,agora, com situações idênticas deanos anteriores.Ao nível das empresas, já pareceirrelevante a propalada dispensa doPEC, aliás formulada em termosconstitucionalmente duvidosos, e queé contrária à mensagem devida aoscontribuintes incumpridores, sendodesenhada em termos contraditóriosao proposto aumento da tributaçãoautónoma (ao que parece já rejeitadotambém). Os “coeficientes técnico--económicos” para novo regimesimplificado é, por seu turno, um déjà--vu errado e sem sentido, como ficoujá comprovado há cerca de 15 anos.As novas regras, por último, relativasàs notificações e citações, quer paraas famílias, quer para as empresas,representam novo atropelo informáticoàs garantias dos contribuintes, quecada vez mais necessitam deprotecção e de serem (re)colocadosno centro do sistema fiscal, … emprimeiro lugar.

os encargos suportados com viaturasligeiras de passageiros, que passamde 10% para 15%, no caso deviaturas com custo de aquisiçãoinferior a 25.000 euros, e de 35% para37.5%, no caso de viaturas com custode aquisição superior a 35.000 euros.Será uma medida que visa promovera utilização de viaturas elétricas, asquais não estão sujeitas a esteagravamento? Pode ser que sim,mas há ainda um longo caminhoainda a percorrer a esse nível. Poroutro a lado, a possibilidade conferidaàs empresas de poderem passar aestar dispensadas de efetuar opagamento especial por conta, emdeterminadas condições, poderepresentar algum nível dedesagravamento fiscal. Por último,importa ainda mencionar as medidaspropostas de desagravamento fiscal,através da maximização de benefíciosfiscais, para as PME’s que se instalemno interior do País. Em matéria deIRS, o OE2019 não propõe impactosrelevantes para a generalidade dasfamílias, uma vez que as taxas e osescalões de rendimento coletávelmantêm-se inalterados, não hámudanças significativas nas deduçõesà coleta e as regras de incidência doIRS apenas foram objeto de algunsajustes pontuais. Não obstante,existem três medidas que julgamosimportante destacar: em primeirolugar, o novo regime fiscal aplicável aex-residentes, e que pretendeincentivar o regresso de portugueses(e não só) em 2019 ou 2020. Outramedida a salientar consiste naautonomização do trabalhosuplementar e dos rendimentos dosanos anteriores, para efeitos deretenção na fonte. Salientamostambém o benefício fiscal às áreas dointerior, a qual contempla (i) amajoração de 10% do valor suportadoa título de despesas de educação eformação para estudantes quefrequentem estabelecimentos deensino situados em território interior,bem como (ii) a majoração do limiteda dedução à coleta de IRS com asimportâncias suportadas a título derendas, dentro de determinadoslimites. Obviamente que não sãoestas medidas de caráter fiscal umfator decisivo para a fixação de jovensno interior. No entanto, mesmo que deefeito limitado, são medidas desaudar.

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30 novembro 2018 | XI

Sendo o OE aprovado num contextoeconómico favorável, seria deesperar um alívio da carga fiscal dasfamílias, bem como a inclusão deincentivos ao investimento por partedas empresas. A proposta de leificou, no entanto, aquém doesperado. Do lado das empresasreconhece-se que o OE mantém, emgeral, a ‘estabilidade fiscal’, notando--se, contudo, a quase ausência demecanismos de promoção deinvestimento e competitividade.Como factores positivos refiram-se o‘chumbo’ do aumento das tributaçõesautónomas na especialidade, queimpediu um aumento significativo dacarga fiscal sobre as empresas, bemcomo o reforço da dedução doslucros retidos e reinvestidos (DLRR)e o aumento do limite doinvestimento elegível para efeitos deRFAI. Já quanto ao PEC, a ‘técnicalegislativa’ adotada oferece-nosdúvidas, acabando tal pagamentopor consubstanciar uma ‘sanção’aplicável ao incumprimento deobrigações declarativas. Oferecem--nos igualmente dúvidas as normasde i) exclusão da dedutibilidade deperdas por imparidade em créditosentre entidades relacionadas, naparte em que se refere à

MAFALDA ALVESResponsável pela áreade prática de Fiscal na SLCM

A proposta de OE pautou-seessencialmente pelo diapasão daestabilidade. No bom e no mau; i.e.,tanto ao prosseguir o cumprimentodos critérios relativos à consolidaçãoorçamental, como ao manter osaumentos extraordinários dosimpostos que a troika nos legou eque se impunha rechaçar de vez oueliminando progressivamente a taxaadicional de solidariedade e oescalão superior de 48% ao nível doIRS e, bem assim, a derramaestadual e as contribuiçõesextraordinárias sectoriais quetombaram sobre as empresas.Verifica-se assim que a receita paraas finanças continua a ser,realmente, alguma contenção, masessencialmente forte tributação.Não obstante as promessas feitas

FRANCISCO DE SOUSADA CÂMARASócio da Morais Leitão, GalvãoTeles, Soares da Silva&Associados

Tratando-se de um orçamento emúltimo ano de legislatura emcondições económicas favoráveis,esperava-se alguma descompressãofiscal, tanto para as empresas comopara as famílias.Porém, a linha seguida foi deconsolidação de medidasanteriormente implementadas, o que,na prática, se traduz, até, em algumaumento de tributação.

JOÃO MARICOTO MONTEIROSócio da SRS Advogados,responsável pelo departamento deDireito Fiscal.

O OE2019, debatido no parlamento,consistiu no último exercícioorçamental da presente legislatura. Odocumento final aprovado tem omérito de promover uma estabilidadee consolidação da política fiscal quevem sendo perfilhada em anterioresanos, e por diferentes Governos,assente, no entanto, numa tambémcontinuada e dificilmente sustentávelelevada pressão fiscal. Não sevislumbram, pois, quaisquer medidascorretivas de relevo que ponham emcausa a continuada asfixia tributáriaa que empresas e famílias têm vindoa ser sujeitas.Do lado das empresas há quesublinhar a possibilidade que passa aser concedida de se comunicar àAutoridade Tributária a dispensa derealização dos PagamentosEspeciais por Conta, caso os sujeitospassivos tenham tempestivamenteentregue a Modelo 22 e a IES nosdois exercícios anteriores. Estamedida permitirá melhorar a liquidezde muitas PME. Igualmente de referirque se procedeu à introdução demedidas mais benéficas no RFAI eDLRR.No plano social, destaque para oapoio às famílias e empresas queforam afetadas pelos incêndiosmerece particular destaque, com acriação de fundos específicos e umconjunto de benefícios fiscais. Poroutro lado, intensificam-se asmedidas punitivas paraincumpridores na gestão da florestae promovem-se medidas preventivaspara os bombeiros e proteção civil,sendo também criados benefíciosfiscais para fixar populações nasregiões do interior.O regime simplificado deixa de tercomo limiar de matéria coletávelmínimo os 60 % do valor anual daretribuição mensal mínima garantida,perspetivando-se a sua reformulaçãoaté final do primeiro semestre de2019 com a apresentação depropostas para determinação damatéria coletável com base emcoeficientes técnico-económicos.Ao nível do IVA, a medida que geroumaior controvérsia reside noalargamento da descida do IVA de13 para 6% em relação a todos osespetáculos.Por último destacaríamos que seconsagram, em certos casos, osdescontos para a Segurança Socialquando seja acumulado o exercíciode atividade independente comatividade profissional por conta deoutrem.

JORGE PIRESCoordenador do Comité TécnicoFiscal do grupo Moneris

lei entregue pelo Governo naAssembleia da República.Em termos de perspetivasmacroeconómicas, o crescimento daeconomia portuguesa diverge damaioria dos países membros daUnião Europeia. As últimas previsõesdo Banco de Portugal apontam paraum crescimento em 2019 de 1,9% emPortugal, enquanto a média dospaíses da zona Euro crescem, 1,8%.Acresce, o facto, mais preocupante,que 20 países da União Europeia(Irlanda, Malta, Polónia, Eslovénia,Roménia, Hungria, Eslováquia,Bulgária, Chipre, Estónia,Luxemburgo, Letónia, Lituânia,República Checa, Espanha, Holanda,Áustria, Finlândia, Croácia e Suécia)crescerão em 2019 mais do quePortugal.Neste quadro, defendo que oorçamento de Estado para 2019 deviaincentivar o investimento produtivo,baixar as taxas de IRC (anteriormenteobjeto de um pacto entre o PS e oPSD-PP) e criar novos incentivos aoinvestimento, mas nada disso iráacontecer. Do lado, das famílias asnotícias não são melhores. Palavrasleva-as o vento e por cumprir ficará oprometido desagravamento fiscal deIRS. Pelo contrário, a generalidadedas famílias terá um agravamento doIRS, na medida em que não sãoatualizados os escalões de IRS, tendoem conta a inflação. Os impostossobre o património também serãoagravados, refiro-me concretamente àaberração jurídica que é o Adicionalao IMI, o qual passará a contar comum novo escalão que tributarápatrimónio imobiliário com um valortributável superior a dois milhões deeuros com uma taxa agravada de1,5%. Os deputados que viabilizaramtais medidas devem ficar conhecidoscomo especialistas em dar tiros no pé.Seguramente, estão esquecidos quea dinamização do mercado imobiliárioe a atração para Portugal de pessoasde elevado rendimento e de grandepropensão para o consumo écontraditória com esta medida agoraanunciada e desencoraja estemovimento. No meio de tantaincerteza com maiorias negativas epositivas à mistura, uma coisa é certa,este será o orçamento dasoportunidades perdidas.

No que respeita às empresas,saliente-se o agravamento das taxasde tributação autónoma dosencargos com viaturas (que tambémabrange os profissionaisindependentes com contabilidadeorganizada) e a limitação de deduçãode certos encargos de empresasrelacionadas. Por outro lado,esperava-se a extinção dopagamento especial por conta e,afinal, teremos apenas uma dispensado seu pagamento por três períodosde tributação, desde que aAutoridade Tributária o autorize.Em sentido contrário, o apoio fiscal aempresas do interior e às PME´s, noque respeita à dedução de lucrosretidos e reinvestidos, no primeirocaso duplicando a dedução máxima(de 10% para 20%) e no segundoaumento o montante máximo dededução de 7,5 milhões de eurospara 10 milhões de euros. É pouco,de facto.Para as famílias, nenhuma boanotícia: os escalões de IRS mantêm--se inalterados tal como as deduçõesà colecta (com excepções poucorelevantes, porque de universo muitorestricto).Saliente-se a medida inovadora dodenominado “Programa Regressar”,para os emigrantes que regressem aPortugal em 2019 e 2020 tendoestado fora do país nos três anos eque terão um incentivo fiscalconsistente na exclusão detributação de 50% dos seusrendimentos profissionais (querempresariais, quer de trabalhodependente).Muito pouco, sem dúvida. Esperava--se que às melhorias apresentadasna economia do país correspondesseum aliviar do esforço fiscal dasempresas e das famílias, mas…ainda não foi este ano.Fica para uma próxima oportunidade.

aquando da reforma do IRC de 2014,as empresas continuam a sofrer umapressão fiscal inusitada no contextointernacional, o que as fragilizasignificativamente num plano deconcorrência internacional, mesmoconsiderando os aumentos doslimites do investimento elegível paraefeitos dos regimes, RFAI e DLRR(regime fiscal de apoio aoinvestimento e da dedução por lucrosretidos e reinvestidos).Mas, bem pior que a ausência deestímulos às empresas ou as másmedidas, que se podem reverter, sãoas péssimas medidas assumidas porum Estado Leviatã. Vem isto apropósito da proposta apresentadapelo BE no sentido de permitir que oBanco de Portugal ceda ainformação de quem aderiu àsamnistias fiscais (RERTs) ao Fisco,quando as leis passadas do Estadoasseguraram a confidencialidadeabsoluta dessa informação,garantindo as regularizaçõestributárias a coberto dessapromessa. Obviamente, tais regras, aser aprovadas, são manifestamenteinconstitucionais por violação devários princípios base da LeiFundamental, mas só a possibilidadede assistir à sua aprovaçãoparlamentar mina definitivamente aconfiança no Estado de um modoirreversível. A lei é sempre, pornatureza, reversível. A perda deconfiança, não!

percentagem de capital de 10%; e deii) exclusão de dedução dadepreciação de ativos intangíveisadquiridos a partes relacionadas,quanto à aplicação apenas a activosadquiridos a partir de 2019. Quantoaos benefícios previstos para osterritórios do interior, impõe-se-nosapenas a dúvida quanto àefectividade e timing da medida,atendendo a que estão sujeitos alimites de minimis e dependentes de‘negociação’ a nível europeu. Dolado das famílias a proposta de leiaponta para um aumento datributação. Para esse resultadoconcorrem:- A não actualização dos escalões edas deduções de IRS de acordo coma taxa de inflação, o que conduz aum aumento ‘encapotado’ do IRS.- O aumento no IUC, ISV, crédito aoconsumo, bebidas mais açucaradase tabaco, e a manutenção doadicional ao ISP no gasóleo,impostos a que poucos portuguesesconseguem ‘escapar’.- A criação um novo escalão de AIMI,à taxa marginal de 1,5%, aplicável aquem tenha património imobiliárioacima dos � 2 milhões (ou o dobrodeste valor para sujeitos casados ouunidos de facto).- A exclusão do valor dos apoiosconcedidos pelo Estado, dos quaisresulte a valorização de um bemimóvel, na determinação do valor deaquisição do mesmo para efeitos demais-valias.Não sendo, no entanto, tudonegativo, encontramos na Propostade Lei medidas que terão umimpacto positivo nas famílias: i) oregime dos ex-residentes, que, aindaassim, nos suscita dúvidas quanto aoprazo de residência (“antes de 31 deDezembro de 2015”), à sua‘articulação’ com o regime dosresidentes não-habituais e à eventualaplicabilidade da taxa adicional desolidariedade a este regime, ii) osincentivos à interioridade e iii) aredução da taxa do IVA na cultura.Por fim, refira-se a coexistência noOE de normas que comprometem acoerência em matéria de políticafiscal, como o agravamento do IUC edo ISV - assente numa política dedescarbonização que aplaudimos -,face ao alargamento da CESE àsenergias renováveis, que, de facto,não cabe em tal objectivo. Ou aindaa inclusão, pelo terceiro anoconsecutivo, da autorizaçãolegislativa relativa à aplicação dataxa intermédia do IVA àgeneralidade das bebidasconsumidas na restauração.

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