acesso À justiÇa

11
ACESSO À JUSTIÇA O princípio do acesso à justiça está consagrado em nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXXV o qual preceitua que “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” O acesso à justiça está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo 2º: “Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.” E, também o encontramos no artigo 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.” Para o mestre Mauro Capelletti, o conceito de acesso à justiça passou por uma evolução importante. Inicialmente, nos estados liberais burgueses, o procedimento de acesso à justiça era essencialmente individualista, representava

Upload: amanda-prado

Post on 08-Feb-2016

11 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ACESSO À JUSTIÇA

ACESSO À JUSTIÇA

O princípio do acesso à justiça está consagrado em nossa Constituição Federal em seu

artigo 5º, inciso XXXV o qual preceitua que “A lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito”

O acesso à justiça está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu

artigo 2º:

“Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração,

sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política

ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além

disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou

do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou

sujeito a alguma limitação de soberania.”

E, também o encontramos no artigo 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos:

“Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os

juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais

reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja

cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.”

Para o mestre Mauro Capelletti, o conceito de acesso à justiça passou por uma evolução

importante. Inicialmente, nos estados liberais burgueses, o procedimento de acesso à

justiça era essencialmente individualista, representava apenas o direito formal de um

indivíduo propor ou contestar uma ação. Era um direito natural, mas que não

necessitava do Estado para sua proteção. Assim, no sistema “laissez faire” a justiça só

poderia ser obtida para quem tivesse condições financeiras para custeá-la, os demais

estavam condenados ao acesso meramente formal e não efetivo da justiça.

A partir do momento que a sociedade laissez faire cresceu e tornou-se mais complexa, o

coletivismo se sobrepôs ao individualismo, o que se refletiu na declaração de inúmeros

direitos e deveres sociais do governo, associações, comunidades e indivíduos. A partir

de então, o acesso à justiça foi sendo progressivamente reconhecido como de extrema

importância dentre os direitos que surgiam, requisito fundamental de um sistema

jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir e não apenas proclamar os direitos

de todos;

Page 2: ACESSO À JUSTIÇA

II- Conceituação

Para Cândido Rangel Dinamarco, Antônio Carlos de Araújo Cintra e Ada Pellegrini

Grinover1, o acesso à justiça não é a mera admissão do processo ou a possibilidade de

ingressar em juízo; é sim, a garantia de que os cidadãos possam demandar e defender-se

adequadamente em juízo, isto é, ter acesso à efetividade no processo com os meios e

recursos a ele inerentes de modo a obter um provimento jurisdicional saudável.

Já para Mauro Capelletti e Bryan Garth2, a expressão “acesso à justiça” é

reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades

básicas do sistema jurídico. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos;

segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos. Porém,

o seu enfoque sobre o acesso à justiça será primordialmente sobre o primeiro aspecto,

sem perder de vista o segundo. E concluem: “Sem dúvida, uma premissa básica será a

de que a justiça social, tal como desejada por nossas sociedades modernas, pressupõe o

acesso efetivo”.

Por se tratar de um termo vago e de difícil definição, a doutrina diverge quanto à

conceituação de acesso à justiça. Assim, conforme a doutrina de Horácio Wanderlei

Rodrigues3(1994, p.28 apud PORTANOVA, 2001, p.112) se o princípio do acesso à

justiça for interpretado como sinônimo de acesso ao Poder Judiciário, ter-se-á a

conceituação meramente formal ou objetiva. Por outro lado, se observada e considerada

a justiça em seus termos axiológicos, o acesso à justiça será tido como o acesso a uma

ordem jurídica justa, ou seja: “o acesso a ela como o acesso a uma determinada ordem

de valores e direitos fundamentais para o ser humano.” O autor optou pela segunda

significação, tanto por ser mais abrangente, como por entender que o acesso à justiça

como princípio insere-se no movimento para a efetividade dos direitos sociais.

Assim, em síntese, pode-se dizer que o acesso à justiça é o acesso a uma ordem jurídica

justa, que garanta a igualdade de acesso e a produção de resultados individual e

socialmente justos.

III- Obstáculos ao acesso à justiça

a) Custas judiciais:

Page 3: ACESSO À JUSTIÇA

A resolução dos litígios em nosso sistema judiciário requer o dispêndio de elevadas

somas, o que impõe uma importante barreira ao acesso à justiça. Dessa forma, os

litigantes precisam suportar os honorários advocatícios e as custas judiciais.

b) Pequenas causas

Devido ao custo da demanda, as pequenas causas ficam prejudicadas, por muitas vezes

exceder o montante da controvérsia ou, então, consumir o conteúdo do pedido a ponto

de tornar a demanda uma futilidade.

c) Tempo

A espera para uma decisão exequível costuma ser longa, fazendo aumentar as custas

para as partes. Assim, os economicamente mais fracos são pressionados a aceitar

acordos por valores bem menores do que normalmente aceitariam ou, então, abandonam

suas próprias causas.

d) Recursos financeiros

Quando uma das partes possui recursos consideráveis em relação ao outro demandante

cria-se um desequilíbrio. Com recursos financeiros uma parte pode fazer gastos maiores

do que a outra e assim, apresentar seus argumentos e provas de maneira mais eficiente

“dentro do prazo razoável”.

e) Aptidão das partes

Aptidão para reconhecer a existência de direito juridicamente exigível, bem como a

falta de conhecimento a respeito da maneira de ajuizar uma demanda. Procedimentos

complicados, formalismo, ambiente que intimidam, como o dos tribunais, juízes e

advogados, figuras tidas como opressoras, fazem com que o litigante se sinta perdido,

um prisioneiro num mundo estranho.

f) Litigantes “eventuais” e “habituais”

Distinção feita entre partes que possuem uma maior experiência judicial denominados

litigantes habituais dos litigantes eventuais, que possuem pouco contato com o sistema

judicial. Assim, os litigantes habituais estariam em vantagem por ter mais contato com o

direito e com os membros da instância decisora, com o sistema, por ter mais experiência

de planejamento do litígio.

Page 4: ACESSO À JUSTIÇA

g) Interesses difusos

O prêmio para o indivíduo buscar a correção à lesão de um interesse difuso é pequeno

demais para induzi-lo a tentar uma ação. Outra barreira se relaciona precisamente com a

questão dos legitimados para propor a demanda. As várias partes interessadas, mesmo

quando lhes seja possível organizar-se e demandar, podem estar dispersas, carecer da

necessária informação ou simplesmente ser incapazes de planejar uma estratégia em

comum.

IV- Soluções: “as ondas que traduzem o acesso à justiça”

Primeira onda: “Assistência judiciária para os pobres”

Propõe a assistência judiciária para os pobres e superação de fatores como a pobreza,

além da conscientização da necessidade vital desses serviços jurídicos para pobres,

sendo indispensável para que essas pessoas possam decifrar leis complexas e carregadas

de procedimentos misteriosos, os quais tornam cada vez mais distantes os cidadãos dos

juristas e do sistema judiciário, como se houvesse um abismo ente ambos. (sistema

judiciare – advogado remunerado pelos cofres públicos – combinações entre sistemas de

assistência jurídica – assistência judiciária);

“Remédios” brasileiros: defensoria pública, assistência judiciária e os juizados

especiais.

Segunda onda: “Representação dos interesses difusos”

Essa onda tem como foco a representação dos interesses difusos, devido à incapacidade

do processo civil tradicional, de cunho individualista, proteger esses direitos. A partir

dessa onda, a visão individualista funde-se à uma concepção social e coletiva para

assegurar a efetivação dos direitos públicos, com maior expressividade aos interesses

dos consumidores e os que dizem respeito a questões ambientais (estatuto do idoso)?;

Terceira onda: “Do acesso à representação em juízo a uma concepção mais ampla de

acesso à justiça. Um novo enfoque de acesso à justiça”.

Aplicação dos dois primeiros itens combinados com esse novo modelo de acesso à

justiça de garantir efetivamente os direitos proclamados. É uma onda que encoraja

amplas reformas no sistema judiciário e na solução dos litígios.

Page 5: ACESSO À JUSTIÇA

Devido à diversidade dos litígios, o ideal seria que os procedimentos fossem adequados

à sua solução, esta realizada por órgãos judiciais e parajudiciais visando o custo

benefício. Não há porque submeter litígios à juízes de direito quando, por questões

técnicas, poderiam facilmente ser resolvidas por tribunais arbitrais.

Redução das entraves burocráticas feita pelo Conselho Nacional de Justiça.

V- Novas tendências e meios alternativos

- Novas tendências no uso do enfoque do acesso à justiça:

Estudo crítico e reforma do aparelho judicial: melhorar e modernizar os tribunais e seus

procedimentos;

Atuação de juiz mais ativo (juiz compreensivo de Aristóteles)

- Meios alternativos:

Mediação: trabalho do conflito entre as partes através do uso da concepção de conflito

positivo colocada pelo mediador, buscando uma harmonização entre as partes;

Conciliação: ouve-se as partes e chega a uma solução justa, se for de desejo das partes;

Juízo Arbitral: procedimentos informais em que as partes estão sujeitas a um árbitro;

(Lei da Arbitragem).

Page 6: ACESSO À JUSTIÇA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1DINAMARCO, Cândido Rangel; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER,

Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 1993.

2CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. e Rev. Ellen Gracie

Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.

3PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 4 ed. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2001.

Page 7: ACESSO À JUSTIÇA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

TEORIA GERAL DO PROCESSO

PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA

AMANDA MATTIONI PRADO

ERICKA MELO

JULIA PIAZER SCALCON

NICOLE OLIVEIRA

SANTA MARIA

2013/02

Page 8: ACESSO À JUSTIÇA