acesso À justiÇa
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ACESSO À JUSTIÇA
O princípio do acesso à justiça está consagrado em nossa Constituição Federal em seu
artigo 5º, inciso XXXV o qual preceitua que “A lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”
O acesso à justiça está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu
artigo 2º:
“Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração,
sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política
ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além
disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou
do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou
sujeito a alguma limitação de soberania.”
E, também o encontramos no artigo 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos:
“Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os
juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais
reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja
cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.”
Para o mestre Mauro Capelletti, o conceito de acesso à justiça passou por uma evolução
importante. Inicialmente, nos estados liberais burgueses, o procedimento de acesso à
justiça era essencialmente individualista, representava apenas o direito formal de um
indivíduo propor ou contestar uma ação. Era um direito natural, mas que não
necessitava do Estado para sua proteção. Assim, no sistema “laissez faire” a justiça só
poderia ser obtida para quem tivesse condições financeiras para custeá-la, os demais
estavam condenados ao acesso meramente formal e não efetivo da justiça.
A partir do momento que a sociedade laissez faire cresceu e tornou-se mais complexa, o
coletivismo se sobrepôs ao individualismo, o que se refletiu na declaração de inúmeros
direitos e deveres sociais do governo, associações, comunidades e indivíduos. A partir
de então, o acesso à justiça foi sendo progressivamente reconhecido como de extrema
importância dentre os direitos que surgiam, requisito fundamental de um sistema
jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir e não apenas proclamar os direitos
de todos;
II- Conceituação
Para Cândido Rangel Dinamarco, Antônio Carlos de Araújo Cintra e Ada Pellegrini
Grinover1, o acesso à justiça não é a mera admissão do processo ou a possibilidade de
ingressar em juízo; é sim, a garantia de que os cidadãos possam demandar e defender-se
adequadamente em juízo, isto é, ter acesso à efetividade no processo com os meios e
recursos a ele inerentes de modo a obter um provimento jurisdicional saudável.
Já para Mauro Capelletti e Bryan Garth2, a expressão “acesso à justiça” é
reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades
básicas do sistema jurídico. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos;
segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos. Porém,
o seu enfoque sobre o acesso à justiça será primordialmente sobre o primeiro aspecto,
sem perder de vista o segundo. E concluem: “Sem dúvida, uma premissa básica será a
de que a justiça social, tal como desejada por nossas sociedades modernas, pressupõe o
acesso efetivo”.
Por se tratar de um termo vago e de difícil definição, a doutrina diverge quanto à
conceituação de acesso à justiça. Assim, conforme a doutrina de Horácio Wanderlei
Rodrigues3(1994, p.28 apud PORTANOVA, 2001, p.112) se o princípio do acesso à
justiça for interpretado como sinônimo de acesso ao Poder Judiciário, ter-se-á a
conceituação meramente formal ou objetiva. Por outro lado, se observada e considerada
a justiça em seus termos axiológicos, o acesso à justiça será tido como o acesso a uma
ordem jurídica justa, ou seja: “o acesso a ela como o acesso a uma determinada ordem
de valores e direitos fundamentais para o ser humano.” O autor optou pela segunda
significação, tanto por ser mais abrangente, como por entender que o acesso à justiça
como princípio insere-se no movimento para a efetividade dos direitos sociais.
Assim, em síntese, pode-se dizer que o acesso à justiça é o acesso a uma ordem jurídica
justa, que garanta a igualdade de acesso e a produção de resultados individual e
socialmente justos.
III- Obstáculos ao acesso à justiça
a) Custas judiciais:
A resolução dos litígios em nosso sistema judiciário requer o dispêndio de elevadas
somas, o que impõe uma importante barreira ao acesso à justiça. Dessa forma, os
litigantes precisam suportar os honorários advocatícios e as custas judiciais.
b) Pequenas causas
Devido ao custo da demanda, as pequenas causas ficam prejudicadas, por muitas vezes
exceder o montante da controvérsia ou, então, consumir o conteúdo do pedido a ponto
de tornar a demanda uma futilidade.
c) Tempo
A espera para uma decisão exequível costuma ser longa, fazendo aumentar as custas
para as partes. Assim, os economicamente mais fracos são pressionados a aceitar
acordos por valores bem menores do que normalmente aceitariam ou, então, abandonam
suas próprias causas.
d) Recursos financeiros
Quando uma das partes possui recursos consideráveis em relação ao outro demandante
cria-se um desequilíbrio. Com recursos financeiros uma parte pode fazer gastos maiores
do que a outra e assim, apresentar seus argumentos e provas de maneira mais eficiente
“dentro do prazo razoável”.
e) Aptidão das partes
Aptidão para reconhecer a existência de direito juridicamente exigível, bem como a
falta de conhecimento a respeito da maneira de ajuizar uma demanda. Procedimentos
complicados, formalismo, ambiente que intimidam, como o dos tribunais, juízes e
advogados, figuras tidas como opressoras, fazem com que o litigante se sinta perdido,
um prisioneiro num mundo estranho.
f) Litigantes “eventuais” e “habituais”
Distinção feita entre partes que possuem uma maior experiência judicial denominados
litigantes habituais dos litigantes eventuais, que possuem pouco contato com o sistema
judicial. Assim, os litigantes habituais estariam em vantagem por ter mais contato com o
direito e com os membros da instância decisora, com o sistema, por ter mais experiência
de planejamento do litígio.
g) Interesses difusos
O prêmio para o indivíduo buscar a correção à lesão de um interesse difuso é pequeno
demais para induzi-lo a tentar uma ação. Outra barreira se relaciona precisamente com a
questão dos legitimados para propor a demanda. As várias partes interessadas, mesmo
quando lhes seja possível organizar-se e demandar, podem estar dispersas, carecer da
necessária informação ou simplesmente ser incapazes de planejar uma estratégia em
comum.
IV- Soluções: “as ondas que traduzem o acesso à justiça”
Primeira onda: “Assistência judiciária para os pobres”
Propõe a assistência judiciária para os pobres e superação de fatores como a pobreza,
além da conscientização da necessidade vital desses serviços jurídicos para pobres,
sendo indispensável para que essas pessoas possam decifrar leis complexas e carregadas
de procedimentos misteriosos, os quais tornam cada vez mais distantes os cidadãos dos
juristas e do sistema judiciário, como se houvesse um abismo ente ambos. (sistema
judiciare – advogado remunerado pelos cofres públicos – combinações entre sistemas de
assistência jurídica – assistência judiciária);
“Remédios” brasileiros: defensoria pública, assistência judiciária e os juizados
especiais.
Segunda onda: “Representação dos interesses difusos”
Essa onda tem como foco a representação dos interesses difusos, devido à incapacidade
do processo civil tradicional, de cunho individualista, proteger esses direitos. A partir
dessa onda, a visão individualista funde-se à uma concepção social e coletiva para
assegurar a efetivação dos direitos públicos, com maior expressividade aos interesses
dos consumidores e os que dizem respeito a questões ambientais (estatuto do idoso)?;
Terceira onda: “Do acesso à representação em juízo a uma concepção mais ampla de
acesso à justiça. Um novo enfoque de acesso à justiça”.
Aplicação dos dois primeiros itens combinados com esse novo modelo de acesso à
justiça de garantir efetivamente os direitos proclamados. É uma onda que encoraja
amplas reformas no sistema judiciário e na solução dos litígios.
Devido à diversidade dos litígios, o ideal seria que os procedimentos fossem adequados
à sua solução, esta realizada por órgãos judiciais e parajudiciais visando o custo
benefício. Não há porque submeter litígios à juízes de direito quando, por questões
técnicas, poderiam facilmente ser resolvidas por tribunais arbitrais.
Redução das entraves burocráticas feita pelo Conselho Nacional de Justiça.
V- Novas tendências e meios alternativos
- Novas tendências no uso do enfoque do acesso à justiça:
Estudo crítico e reforma do aparelho judicial: melhorar e modernizar os tribunais e seus
procedimentos;
Atuação de juiz mais ativo (juiz compreensivo de Aristóteles)
- Meios alternativos:
Mediação: trabalho do conflito entre as partes através do uso da concepção de conflito
positivo colocada pelo mediador, buscando uma harmonização entre as partes;
Conciliação: ouve-se as partes e chega a uma solução justa, se for de desejo das partes;
Juízo Arbitral: procedimentos informais em que as partes estão sujeitas a um árbitro;
(Lei da Arbitragem).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1DINAMARCO, Cândido Rangel; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER,
Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 1993.
2CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. e Rev. Ellen Gracie
Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
3PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 4 ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
TEORIA GERAL DO PROCESSO
PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
AMANDA MATTIONI PRADO
ERICKA MELO
JULIA PIAZER SCALCON
NICOLE OLIVEIRA
SANTA MARIA
2013/02