acesso á água no semiárido: garantia de soberania e segurança alimentar

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1382 Setembro/2013 Na comunidade de Riachão, situada a 7 km da sede do município de Malhada de Pedras, sudoeste da Bahia, moram 30 famílias. Uma destas se destaca visivelmente em meio às outras pela grandeza do seu quintal produtivo e canteiros agroecológicos. A frente dos trabalhos diários uma mulher, Arminda Souza Ribeiro, conhecida como Dona Rôxa. Dona Rôxa, de 77 anos, é viúva e tem duas filhas. Cinha, de 48 anos, Rosita, de 52 anos, e o filho Bia, de 44 anos. Dona Rôxa, mesmo com a idade avançada, assume o papel de mulher chefe de família, coordenando os trabalhos diários durante os períodos de longa estiagem que a região está sofrendo. Mesmo com a situação tem sabedoria e muito otimismo para enfrentar e conviver com este cenário que para muitos é tido como desolador. Dona Rôxa e seus filhos conduzem com sabedoria e muito otimismo a propriedade. A lida começa cedo. Bia, o filho, às vezes com a ajuda de um sobrinho que mora vizinho a sua casa, cuida da pequena quantidade de animais; Cinha, a filha, na cozinha e arrumação da casa; Dona Rôxa e Rosita, (a filha mais velha), dos canteiros de hortaliças e do quintal produtivo. Com muita satisfação, a agricultora fala que tudo começou há três anos com os primeiros contatos que teve com a ASA, através de capacitações que incentivaram a família a busca por melhores condições de vida e trouxeram um aprendizado muito rico, garantindo assim, a conquista do acesso à água e segurança alimentar. Acesso à água no Semiárido: garantia de soberania e segurança alimentar Malhada de Pedras Cisterna Conquistada em 2010 Quintal produtivo em 2011

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Page 1: Acesso á água no Semiárido: Garantia de soberania e segurança alimentar

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1382

Setembro/2013

Na comunidade de Riachão, situada a 7 km da sede do município de Malhada de Pedras, sudoeste da Bahia, moram 30 famílias. Uma destas se destaca visivelmente em meio às outras pela grandeza do seu quintal produtivo e canteiros agroecológicos. A frente dos trabalhos diários uma mulher, Arminda Souza Ribeiro, conhecida como Dona Rôxa. Dona Rôxa, de 77 anos, é viúva e tem duas filhas. Cinha, de 48 anos, Rosita, de 52 anos, e o filho Bia, de 44 anos. Dona Rôxa, mesmo com a idade avançada, assume o papel de mulher chefe de família, coordenando os trabalhos diários durante os períodos de longa estiagem que a região está sofrendo. Mesmo com a situação tem sabedoria e muito otimismo para enfrentar e conviver com este cenário que para muitos é tido como desolador. Dona Rôxa e seus filhos conduzem com sabedoria e muito otimismo a propriedade. A lida começa cedo. Bia, o filho, às vezes com a ajuda de um sobrinho que mora vizinho a sua casa, cuida da pequena quantidade de animais; Cinha, a filha, na cozinha e arrumação da casa; Dona Rôxa e Rosita, (a filha mais velha), dos canteiros de hortaliças e do quintal produtivo. Com muita satisfação, a agricultora fala que tudo começou há três anos com os primeiros contatos que teve com a ASA, através de capacitações que incentivaram a família a busca por melhores condições de vida e trouxeram um aprendizado muito rico, garantindo assim, a conquista do acesso à água e segurança alimentar.

Acesso à água no Semiárido:

garantia de soberania e segurança alimentar

Malhada de

Pedras

Cisterna Conquistada em 2010 Quintal produtivo em 2011

Page 2: Acesso á água no Semiárido: Garantia de soberania e segurança alimentar

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

A filha Cinha relata, sempre com algumas interferências de Dona Rôxa: “- Antes era muito difícil, água por aqui era muito raro, até para beber, imagine para plantas e hortas? Faltava além de tudo, um reservatório para coletar e armazenar água. Ainda não tínhamos, mesmo com a experiência de minha mãe, não tínhamos uma maneira correta de usufruir deste líquido precioso com cuidado e usá-la corretamente. Depois da capacitação, para conquista da cisterna-enxurrada, começamos a plantar árvores frutíferas, hortaliças e até plantas ornamentais. Tá aí esta beleza, que

todos ao se aproximarem de casa veem”, concluiu.No quintal produtivo da família podem ser encontrados diversos tipos de cultivos como: laranja, mexerica, mamão, banana, manga, goiaba, acerola, limão, pinha, abacate, coqueiro e tem até cana com moinho pronto para extrair garapa. Plantas medicinais, entre elas, hortelã, malva santa e capim santo. Nos canteiros agroecológicos cultivam alface, couve, pepino, cenoura, beterraba, cebola, pimentão e tomatinho. As plantas ornamentais têm roseira, samambaia, crisântemos e outras. “Antes aqui não tinha nada, nós comprávamos tudo na feira e não tinha a mesma qualidade”, ressalta Dona Rôxa.Tudo é produzido de forma orgânica, distribuídos entre os familiares e até visitantes, garantindo assim a soberania e segurança alimentar. Vale a pena ressaltar que toda essa diversidade produtiva é mantida com uma pequena quantidade de água por dia. Entre as conquistas da família estão uma cisterna de consumo humano, construída pelas irmãs Beneditinas da Paróquia de Malhada de Pedras no ano de 2009, uma Cisterna-enxurrada conquistada através do Projeto Cisternas, um Barreiro-trincheira através do Projeto Aguadas, ambos executados pela UGM Associação Divina Providência no ano de 2010.Dona Rôxa e seus três filhos demonstram na prática que viver e conviver com escassez de água é possível contrariando assim o que historicamente foi produzido pelos meios nacionais de comunicação: “Que seria quase impossível sobreviver no Sertão Nordestino”. O quintal produtivo da família é de fato um pedacinho verde e produtivo, no Semiárido baiano.

Realização Patrocínio

D. Rôxa e Cinha colhendo hortaliças D. Rôxa e Bia coletando garapa de cana

Quintal produtivo de D. Rôxa em 2012