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EDIÇÃO ESPECIAL A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: VISÃO PRÁTICA, ARTIGOS CIENTÍFICOS E DECISÕES JUDICIAIS IMPORTANTES

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EDIÇÃO ESPECIAL A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL:

VISÃO PRÁTICA, ARTIGOS CIENTÍFICOS E DECISÕES JUDICIAIS IMPORTANTES

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL:

VISÃO PRÁTICA, ARTIGOS CIENTÍFICOS E DECISÕES JUDICIAIS IMPORTANTES

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 2 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 20133

Apresentação

A revista Panorama Legal é uma publicação semestral do Instituto de Pesquisa Gianelli Martins (IPGM) - Rua Lopo Gonçalves, 555.Cep 90050-350 - Porto Alegre/RS - Tel: (51) 3519.5355

A presente publicação originou-se do estudo e da atuação profissional dos articulistas participantes, ao longo dos últimos seis anos, no âmbito do Sistema Sindical Rural e, mais especificamente, nas discussões jurídicas acerca da Contribuição Sindical Rural (CSR). Sob a coordenação técnica da Professora Doutora Denise Fincato, o conteúdo da revista visa ampliar o conhecimento dos leitores acerca da temática em foco e prestar serviço de grande utilidade aos integrantes da cadeia do agronegócio, diretamente influenciados pelos desdobramentos econômicos e sociais da Contribuição Sindical Rural. Incialmente, a fim de uniformizar as questões conceituais relativas aos fundamentos de existência da CSR, bem como sua operacionalização e aplicação prática, foi elaborada a Cartilha Informadora, a qual, de forma didática e objetiva, demonstra o funcionamento do tributo. Assim, são respondidas questões como: o que é a CSR? Para que serve? Para onde é destinada a arrecadação? Como funciona o recolhimento? Além, de outras tantas perguntas e dúvidas frequentes, cuja complexidade técnica dificulta o entendimento da maior parte dos contribuintes e integrantes do Sistema Sindical Rural. Após, são apresentados artigos jurídicos relativos a controvérsias enfrentadas nos Tribunais quando das discussões judiciais sobre a CSR. São tratados os aspectos constitucionais, o enquadramento sindical e seus critérios e o ônus da prova nos processos de cobrança da CSR. Na seção de jurisprudência, são colacionadas diversas decisões relevantes acerca da CSR para localização do leitor no posicionamento atual do Poder Judiciário. Esperamos que a publicação sirva de ferramenta útil aos operadores do Direito e aos integrantes do Sistema Sindical Rural, elucidando dúvidas e fornecendo bases concretas de aprofundamento e enriquecimento dos debates sobre o tema.

Luciana Farias1ª Vice-Presidente do IPGM

Coordenadora da Panorama Legal

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Composição da DiretoriaPresidenteDécio Gianelli Martins

1ª Vice-PresidenteLuciana Farias

2º Vice-PresidenteDaniel Radici Jung

Coordenador AcadêmicoPedro Henrique Poli de Figueiredo

Coordenadora GeralMaria Beatriz de Figueiredo Freiberg

Conselho EditorialLuciana Farias - CoordenadoraDaniel Radici JungDécio Gianelli MartinsDenise Pires FincatoLuiz Paulo Rosek GermanoMaria Beatriz de Figueiredo FreibergPedro Henrique Poli de Figueiredo

Revista Panorama LegalEdição Especial

ProduçãoI LOVE POA SOLUÇÕES EM COMUNICAÇÃOAv. Iguaçu, 463/304Tel - (51) 3381.0319Porto Alegre/[email protected]

Jornalista ResponsávelJulia Gus Brofman (Mtb 16709)

Capa e ilustraçãoDiogo de Figueiredo Uchôa

RevisãoGabriela Seger de Camargo

Tiragem e impressão500 exemplaresGráfica ANS

ISSN 2318-0471

Sumário

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL:VISÃO PRÁTICA

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: CARTILHA INFORMADORACamila Mendes Nunes

4

5

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: ARTIGOS CIENTÍFICOS 19

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: ASPECTOS CONSTITUCIONAISCONTROVERTIDOSTie Mineoka Berberian

20

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: COMPETÊNCIA E ASPECTOS PROCEDIMENTAIS PARA FORMALIZAÇÃO DO CRÉDITOMatheus RochaCristiane Schardosim Martins

25

O ENQUADRAMENTO SINDICAL RURAL E SEUS CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃOCamila Mendes NunesTie Mineoka Berberian

34

O ÔNUS DA PROVA E A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL DOS EMPREGADORES/ EMPRESÁRIOS RURAIS.Viviane CarvalhoAlan Reis

44

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL:DECISÕES JUDICIAIS IMPORTANTES

51

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL - QUADRO INFORMATIVO FARSUL

61

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 4 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 20135

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: VISÃO PRÁTICA

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: CARTILHA INFORMADORA

1. O QUE É CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL?

A Constituição Federal, que é a lei máxima brasileira, no capítulo destinado ao Sistema Tributário, no artigo 149, confere à União a competência para instituir contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas. Regulada pelos artigos 578 a 591 da CLT, antigamente chamada de imposto sindical, a contribuição sindical é devida por todos aqueles que participam de uma determinada categoria econômica, profissional ou de uma profissão liberal, independente de filiação a sindicato.

É considerada contribuição especial, tendo em vista que o produto da arrecadação deve, necessariamente, ter destinação específica, revertendo em benefício da respectiva categoria. A Contribuição Sindical Rural, por sua vez, é uma contribuição de interesse das categorias econômicas, constituindo-se em tributo incluído no Sistema Tributário Nacional, e, por esse motivo, de natureza obrigatória. Assim, ela deve ser paga obrigatoriamente por todos os produtores rurais – pessoas físicas ou jurídicas – conforme estabelece o Decreto-Lei 1.166/71, que dita os critérios para a definição dos contribuintes.

Camila Mendes Nunes1

1 Advogada. Coordenadora da Área CNA - Judicial no Escritório Gianelli Martins Advogados (Porto Alegre/RS). Especialista em Direito dos dos Contratos e Responsabilidade Civil pela UNISINOS. Contratos e Responsabilidade Civil pela UNISINOS.

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 6 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 20137

2. SISTEMA SINDICAL RURAL

O sistema sindical rural é o sistema que defende os interesses de todos os produtores rurais do Brasil. É

constituído em forma piramidal, tendo em sua base 1.936 Sindicatos Rurais (sendo 137 no Rio Grande do Sul), que são representados por 27 Federações, organização que possui sua representação máxima na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)2 .

2 Cartilha da contribuição Sindical Rural de 2013. Site www.canaldoprodutor.com.br. Acesso em 10 de maio de 2013.

Fonte: Pirâmide extraída da Cartilha da Contribuição Sindical Rural de 2013. - Site www.canaldoprodutor.com.br.

A CNA foi criada pelo Decreto-Lei nº 53.516, de 31 de janeiro de 1964, e é a legítima representante do setor rural brasileiro. É muito importante para o produtor rural, tendo em vista que atua na defesa dos interesses dessa categoria junto ao Governo Federal e Congresso Nacional. Dessa forma, é responsável por congregar associações e lideranças políticas e rurais em todo o Brasil, e apoia a geração de novas tecnologias e a criação de agroindústrias responsáveis por aumentar a produtividade rural, dentre outras tantas ações.

3. A QUEM SE DESTINA O VALOR ARRECADADO VIA CSR?

De acordo com a lei – artigo 589 da CLT - a destinação do montante arrecadado observa a seguinte divisão: I - 5% para a CNA; II - 15% para a Federação de Agricultura do Estado; III - 60% para o Sindicato Rural; IV - 20% para Ministério do Trabalho. Como se percebe, o valor arrecadado reverte diretamente em benefício do contribuinte que tem no sistema

sindical suporte para capacitação e desenvolvimento de atividades agrícolas.

4. QUE AÇÕES SÃO REALIZADAS PELO SISTEMA SINDICAL?

É importante que os contribuintes da CSR consigam visualizar as ações realizadas em prol de seu desenvolvimento. Além dos sindicatos locais, é também preocupação das Federações e da CNA a solução de problemas pelos quais passam os produtores rurais. São algumas das tantas ações realizadas pelo Sistema Sindical Rural: a) busca de crédito rural compatível com as necessidades e características do setor; b) defesa da preservação do meio ambiente associada ao desenvolvimento da agropecuária e da produção de alimentos; c) participação intensa em negociações junto aos governos locais e Federal, bem como junto ao Congresso Nacional, para implantação de políticas estruturais e emergenciais para ajudar

os produtores rurais a superar momentos de crise; d) apresentação e acompanhamento de projetos de lei, junto ao Congresso Nacional, que visem à melhoria das condições de trabalho no campo. Além disso, a CNA disponibiliza ao contribuinte Comissões Nacionais, abertas à participação de todos, com o intuito de debater propostas e problemas de diversos segmentos do setor rural, buscando soluções adequadas. Atualmente, existem 15 Comissões: Meio Ambiente, Assuntos Fundiários, Trabalho e Previdência, Empreendedores Familiares Rurais, Bovinocultura de Corte, Bovinocultura de Leite, Equinocultura, Aquicultura, Aves e Suínos, Ovinos e Caprinos, Cereais, Fibras e Oleaginosas, Café, Fruticultura, Cana-de-açúcar e Silvicultura. Ainda, a CNA mantém relação com diversas entidades civis cooperativas ligadas a segmentos produtores, tanto em âmbito nacional, quanto internacional. Para uma visão mais concreta, abaixo seguem especificadas algumas das conquistas do sistema sindical no ano de 2012 em favor dos produtores rurais3:1 – Participação ativa nos debates sobre o novo Código Florestal (Lei 12.651/12), inclusive realizando análise jurídica sobre seus possíveis impactos no dia-a-dia do produtor rural;2 – Participação no Rio+20, com diversas atividades, dentre elas a apresentação da proposta de Adesão à APP Mundial (Área de Preservação Permanente Mundial), que havia sido proposta no Fórum Mundial da Água, na França. O objetivo é estimular o compromisso internacional para a manutenção das matas ciliares nas margens dos rios em todos os países, garantindo a qualidade da água no mundo;3 – Prosseguimento do Projeto Biomas, nos 6 biomas brasileiros, com mais de 200 pesquisadores, em pesquisas com a árvore na propriedade rural brasileira. Formação de grupo de pesquisadores para atuar no bioma Pampa, diferente de todos os outros biomas e que avança além das fronteiras do Brasil. Escolhida uma fazenda na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, foi realizada a caracterização de solos e elaboração do mapa de potencialidades e fragilidades da área experimental, que subsidiou a proposição dos experimentos pelos pesquisadores;4 – Acompanhamento no Senado Federal da tramitação da PLS 32/2008, que altera a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981);5 – Articulação junto aos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Integração Nacional, Agência Nacional de Águas e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, para a elaboração de uma nova política de irrigação para o País, com o objetivo de ampliar a área irrigada e estabelecer um conceito de produção tecnificada, com foco no aumento da produtividade, menor ocupação de áreas para cultivo e agregação de valor ao

produto;6 – Apresentação ao Governo Federal de propostas de revisão da política agrícola brasileira, com defesa da ampliação de recursos para financiamentos, redução de taxa de juros e elevação dos recursos para o seguro rural;7 - Realização de reuniões com o Banco do Brasil e com a Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a elaboração de propostas para renegociação dos saldos devedores dos produtores rurais da região Sul do País, que tiveram perdas nas lavouras por problemas climáticos. Resultou dessa medida a publicação de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), autorizando a prorrogação das datas de vencimento das operações de crédito rural, para o mês de junho;8 – Proposta que resultou na criação da agência de extensão rural, para organizar um novo sistema voltado à disseminação das melhores práticas e transferência de tecnologia para os pequenos e médios produtores rurais;9 – Atendimento de cerca de sete milhões de brasileiros do meio rural, em 2012, pelo SENAR e suas 27 administrações regionais, com cursos de formação profissional, ações de promoção social e programas especiais, sempre com atenção às principais mudanças significativas nos processos produtivos nas áreas estratégicas do agronegócio;10 - Parceria com o Ministério da Educação para levar o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) aos jovens do meio rural. Até o final do ano, o SENAR contabilizou 23 mil matrículas, nas 22 Administrações Regionais que participam do Programa. A previsão é de chegar a 50 mil alunos, em 2013. Além de outros diversos programas de capacitação desenvolvidos, como “Com Licença Vou à Luta” e o “Trabalho Decente”, dentre outros; 11 - Gestão junto às Federações da Agricultura para a regularização do registro sindical dos Sindicatos Rurais, pois se identificou grande número de sindicatos que não possuem registro sindical ativo junto ao MTE, embora constem como regulares na base de dados do Sistema;12 - Orientação e encaminhamento de credenciamentos junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) de 172 Sindicatos Rurais e 493 emissores (pessoas físicas), habilitando-os ao fornecimento da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), instrumento obrigatório nas operações de crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, na habitação e aposentadoria rurais;13 - Solicitação ao Secretário de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de revisão do Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a cultura de soja no Rio Grande do Sul, com a inclusão dos municípios de Rio

3 Cartilha da contribuição Sindical Rural de 2013. Site www.canaldoprodutor.com.br. Acesso em 10 de maio de 2013.

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 8 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 20139

Grande, Chuí, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha e Capivari do Sul. O sul do Estado possui regimes pluviométricos diferenciados e solos com alta retenção de umidade, permitindo a inserção da soja na rotação com o arroz irrigado. Esta prática vem reduzindo os danos e o impacto das plantas daninhas na cultura do arroz. Com o desenvolvimento tecnológico e novas pesquisas, as variedades foram modificadas e surgiram novos ciclos de época de plantio a maturação. Daí a necessidade de zoneamento agrícola de risco climático para a cultura, para antecipar a época de semeadura e a inclusão de municípios não contemplados. Contratada consultoria para reavaliar a Portaria 136/2012 (DOU 10/07/2012), contendo embasamento para sustentar os pleitos de alteração do zoneamento. A data de semeadura de soja foi antecipada para a região de VCU 101, localizada na metade sul do Rio Grande do Sul, a partir 21 de outubro, para a condição de solo tipo 2;14 – Muitas propostas da CNA adotadas pelo Plano Agrícola e Pecuário (PAP 2012/2013), o que representa o apoio do Governo Federal ao setor. Registra-se o planejamento de elevar a produção de grãos, fibras e oleaginosas para 170 milhões de toneladas, além da regionalização do apoio aos produtores rurais, maior apoio ao médio produtor rural, apoio às cooperativas e incentivo às culturas de baixa emissão de carbono. Entre as medidas anunciadas, destacam-se:- aumento do volume de recursos para o crédito rural;- redução dos juros nas operações de custeio e comercialização;

- aumento dos limites de financiamento;- adequação do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e aos programas de retenção de matrizes bovina, caprina, ovina e suína; e- elevação dos recursos para o seguro rural e Proagro;- aumento do limite de financiamento ao produtor rural;- elevação do limite de financiamento para comercialização;- redução da taxa de juros do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), com uma elevação no limite de financiamento e ampliação do volume de recursos disponibilizados;- modificação no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), com elevação do limite de cobertura e redução do custo de adesão, beneficiando pequenos e médios agricultores;- elevação dos recursos para a subvenção do seguro rural (somados, Proagro e PSR representam uma cobertura de 20% da área plantada no País). Essas são apenas algumas das conquistas da CNA para o produtor rural. No site da CNA - www.canaldoprodutor.com.br – estão listadas muitas outras ações destinadas à defesa dos interesses da categoria, tanto nas questões legais, de infraestrutura, logística e relações internacionais, quanto nos diversos ramos da atividade rural como produção animal (pecuária de leite e de corte, aves e suínos, caprinos e ovinos, aquicultura), e produção vegetal (café, fruticultura, silvicultura e agrossilvicultura, cana-de-açúcar, entre outros).

5. QUEM PODE COBRAR?

Hoje, a CNA é a entidade legitimada para a cobrança da CSR. Todavia, inicialmente, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) era o órgão arrecadador da contribuição, como determinado pelo Decreto-Lei 1.166/71. Em 1990, a arrecadação da contribuição ficou a cargo da Secretaria da Receita Federal. Em 1994, com a Lei 8.847, a administração da contribuição foi retirada da Secretaria da Receita Federal. Então, a partir de 1997 passou a ser da CNA a função de arrecadar a CSR, sendo desta a responsabilidade pela cobrança, seja

judicial ou extrajudicial, de acordo com o artigo 606 da CLT. É importante esclarecer que, até o exercício de 1996, a contribuição sindical rural era cobrada junto com o Imposto Territorial Rural (ITR), ou seja, o contribuinte que estivesse pagando o ITR, já pagava, no mesmo momento, a contribuição. Todavia, em 1997, em razão de sua administração ter passado para a CNA, a contribuição passou a ser cobrada separadamente. Por esse motivo, os contribuintes tinham dúvidas e muitas vezes pensavam que não precisavam pagar, pois já haviam pagado o ITR. Contudo, ITR e contribuição sindical rural são tributos diferentes, o pagamento de um não exclui o do outro, e ambos devem ser pagos pelos respectivos contribuintes.

6. QUEM DEVE PAGAR?

A CLT (arts. 578 e seguintes) determina que a contribuição sindical é tributo devido por todos que participam de uma determinada categoria econômica ou profissional. No caso da contribuição sindical rural, o artigo 1º do

Decreto-lei 1.166/71, com redação dada pelo artigo 5º da Lei nº9701/98, determina os critérios para se definir quem pode ser considerado empresário ou empregador rural, e, portanto, estar enquadrado como contribuinte da CSR. Então, de acordo com a referida lei, são três as hipóteses de enquadramento dos contribuintes da CSR:

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 10 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201311

1º) ser empregador rural (alínea “a” do art. 1º do Dec-lei 1.166/71).

EXPLICAÇÃO: nesse caso, não importa o tamanho da propriedade do contribuinte, basta que ele tenha empregados;

2º) explorar em regime de economia familiar imóvel rural (de tamanho igual ou superior a 2 módulo rural) que lhe absorva toda força de trabalho e lhe garanta a subsistência (alínea “b” do art. 1º do Dec-Lei 1.166/71);

EXPLICAÇÃO: nesse caso, o contribuinte tem que ter uma propriedade com mais de 2 módulos rurais, independente de ter ou não empregados, ou seja, será enquadrado, se tiver empregados ou não, desde que sua propriedade tenha mais de 2 módulos rurais;

3º) ser proprietário de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja igual ou superior a 2 módulos rurais (alínea “c” do art. 1º do Dec-Lei 1.166/71).

EXPLICAÇÃO: novamente, nesse caso, o proprietário não precisa ter empregados, mas, para ser enquadrado, deverá ter mais de uma propriedade que somadas resultem em mais de 2 módulos rurais.

7. O QUE É O MÓDULO RURAL?

O módulo rural é um recurso técnico adotado pelo legislador para representar uma medida territorial, que demonstre a área mínima necessária ao sustento de uma família, para caracterizar a propriedade familiar. É calculado para cada imóvel rural em separado, e o cálculo leva em consideração fatores como tipo de exploração da propriedade e zona de localização. Tem como característica a variação de acordo com a região onde se situa, pois a morfologia geológica e climática das terras rurais brasileiras é imensa, sendo que a produção rural de uma mesma atividade em regiões diversas sofrerá influência

desses fatores. O cálculo do módulo rural é feito pelo INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – com base nos dados cadastrais informados por cada proprietário. Este órgão identifica as regiões separando-as conforme a Zona Típica de Módulo Rural. Cada zona recebe uma identificação (A1, A2, A3, B1, B2, B3, C1, C2, D). Também, com base nessa identificação, o INCRA define o coeficiente da categoria de módulo rural (número de hectares que será considerado 1 módulo rural – módulo ideal - para exploração de cada atividade na região). Na tabela abaixo, tem-se a dimensão por módulo por tipo de exploração em cada zona:

Sim, basta que você tenha empregado para ser enquadrado com contribuinte.

Imóvel Inexplorado ou com Exploração

não Definida

1 A1 2 10 13 30 45 52 A2 2 13 16 40 60 103 A3 3 15 20 50 60 154 B1 3 16 20 50 80 205 B2 3 20 25 60 85 256 B3 4 25 30 70 90 307 C1 4 30 35 90 110 558 C2 5 35 45 110 115 709 D 5 40 50 110 120 100

Dimensão do Módulo por Tipo de Exploração

Código da ZTM ZTM HortingranjeiraLavoura

Permanente Lavoura

Temporária Pecuária Florestal

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 12 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201313

Assim, o INCRA estabelece o módulo rural de cada imóvel fazendo o seguinte cálculo: divisão da área aproveitável do imóvel4 pelo coeficiente da categoria de módulo atribuída a este imóvel:

Área aproveitável do imóvel Coeficiente de categoria de módulo

Exemplificando: Uma propriedade com área aproveitável de 160 hectares na zona A2-2 (em negrito na tabela), em que se planta arroz, ou seja, com tipo de exploração de lavoura temporária, terá um módulo ideal de 16 hectares. Assim, a propriedade terá 10 módulos rurais. Vejamos o cálculo:

= Módulo Rural

Área aproveitável do imóvel - 160 Coeficiente de categoria de módulo - 16

É importante referir que módulo rural é diferente do módulo fiscal. Como se viu acima, o módulo rural é calculado para cada imóvel rural. Já o módulo fiscal é calculado para cada Município, e é previamente estabelecido pelo INCRA, que fixa o critério de classificação do imóvel de acordo com a sua dimensão. A Lei nº 8.629/1993, por exemplo, determina que a propriedade que tem até 4 módulos ficais é classificada como pequena propriedade.

= 10 Módulos Rurais

4 Área aproveitável do imóvel é considerada a área total menos aquelas ocupadas com benfeitorias, florestas ou de impossível exploração.

8. COMO A CNA SABE MEUS DADOS PARA EFETUAR O ENQUADRAMENTO?

Para obter os dados e efetuar a cobrança da contribuição sindical rural, a CNA celebrou convênio com a Secretaria da Receita Federal, que ficou obrigada a fornecer as informações cadastrais e econômico-fiscais existentes na base de dados do ITR, possibilitando o lançamento e a cobrança da CSR. Então, o cadastro que a CNA utiliza para cobrar a contribuição sindical rural é repassado pela Secretaria da Receita Federal. Assim, todos os dados utilizados para efetuar a cobrança advêm de declarações dos próprios contribuintes no ITR, responsabilizando-se esses por todas as informações contidas nesse documento. É obrigação do proprietário rural apresentar anualmente a declaração de ITR, assim como também é sua obrigação informar qualquer alteração ocorrida, devendo manter os dados

sempre atualizados. Esse detalhe deve ficar bem claro: a cobrança da contribuição sindical rural é guiada única e exclusivamente pelas informações constantes das declarações feitas pelos próprios contribuintes. Por isso, é muito importante que as informações declaradas sejam prestadas da forma mais correta possível, evitando-se, assim, cobranças indevidas. E também é muito importante que, diante de qualquer alteração, ela seja informada para que não haja cobranças erradas.

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 14 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201315

9. COMO É FEITO O CÁLCULO DO VALOR A SER PAGO?

O artigo 4º do Decreto-lei 1.166/71 determina que o cálculo da contribuição sindical rural tenha bases diferenciadas para os contribuintes pessoas físicas e pessoas jurídicas.Pessoa física: a contribuição é calculada com base no Valor

da Terra Nua Tributável (VTNt) da propriedade, constante no cadastro da Secretaria da Receita Federal, utilizado para o lançamento do ITR. Pessoa jurídica: a contribuição é calculada com base na Parcela do Capital Social – PCS, atribuída ao imóvel, sendo o cálculo realizado na forma do art. 580, III, da CLT:

Classe de Capital Alíquota

Até 150 vezes o maior valor de referência 0,8% acima de 150 até 1.500 vezes o maior valor de referência 0,2%acima de 1.500 até 150.000 vezes o maior valor de referência 0,1% acima de 150.000 até 800.000 vezes o maior valor de referência 0,02%

Esse chamado valor de referência é identificado na tabela abaixo, divulgada no site CNA, com os valores vigentes a

Fonte: Cartilha da Contribuição Sindical Rural 2013 (CNA).

10 COMO E QUANDO PAGAR?

Todo o ano a CNA envia ao contribuinte a guia com o valor a ser pago, que poderá ser paga em qualquer banco até o vencimento e, no Banco do Brasil, até 90 dias após o vencimento. O vencimento, para as pessoas jurídicas, é dia 31 de janeiro de cada ano e, para as pessoas físicas, é dia 22 de maio de cada ano.

11. EXISTE CERTIDÃO NEGATIVA DA CSR?

O contribuinte em dia com a CSR terá possibilidade de retirar certidão (dos últimos 5 anos) ou declaração (por exercício) de inexistência de débito da CSR, no site www.canaldoprodutor.com.br, informando seu número de CPF ou CNPJ e o número de seu imóvel (que consta da guia de recolhimento).É importante esclarecer que sem o comprovante de pagamento da CSR, o contribuinte será impedido de participar de processo licitatório (artigo 607 da CLT) e não obterá registro ou licença para funcionamento ou renovação de atividades para os estabelecimentos agropecuários (artigo 608 da CLT). Caso o contribuinte tenha participado de licitação ou caso a licença tenha sido concedida, sem a quitação da contribuição sindical rural, os atos poderão ser considerados nulos, de pleno direito (artigo 608, parágrafo único, da CLT).

12. PAGAMENTO COM ATRASO

O pagamento da CSR após o vencimento, de acordo

com o artigo 600 da CLT, terá a incidência de multa de 10% nos primeiros 30 dias, mais um adicional de 2% por mês subsequente de atraso, juros de mora de 1% ao mês e atualização monetária.

14. DÚVIDAS FREQUENTES

- SE EU NÃO RECEBER A GUIA, PRECISO PAGAR A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL?

Além de enviar a guia para o contribuinte, todo ano a CNA publica editais de notificação nos jornais de grande circulação para os contribuintes pagarem a contribuição sindical rural, especificando a data de seu vencimento. Aliás, essa é a forma de notificação legalmente exigida, pelo art. 605, da CLT. Mas, como referido, a CNA também envia as guias de recolhimento do tributo para os endereços dos contribuintes. Contudo, caso eles não venham a receber as guias, não quer dizer que a contribuição não é devida. A obrigação anual permanece mesmo se a guia não chegar até sua residência. Assim, estando o proprietário rural enquadrado como contribuinte, ele deverá independente de notificação pessoal, satisfazer a obrigação. O proprietário rural deverá, então, procurar o Sindicato Rural de seu Município ou a Federação da Agricultura do Estado, levando a cópia de seu Documento de Informação e Apuração do Imposto Territorial Rural (DIAT), e requerer a 2ª via da guia de recolhimento da CSR. Poderá, também, retirar a 2ª via pela internet (www.canaldoprodutor.com.br) até 90 dias após o vencimento.partir de 1º de janeiro de 2013 , com a qual é possível calcular o

valor que produtor rural irá pagar de contribuição sindical rural:

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 16 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201317

- MAS SE EU ENTENDO QUE NÃO SOU ENQUADRADO E RECEBO A GUIA PARA QUEM FAÇO O PEDIDO DE ALTERAÇÃO CADASTRAL?

Se o proprietário rural tem dúvida a respeito do seu enquadramento, deverá entrar em contato com a CNA, mas nunca simplesmente deixar de pagar. Ele poderá enviar requerimento, com documentação comprobatória ao Departamento de Arrecadação e Cadastro da CNA, para análise de sua solicitação. Ainda, caso queira informar alteração cadastral, o contribuinte deverá apresentar requerimento e documentação, sempre endereçando à CNA, no Sindicato Rural do seu Município ou na Federação da Agricultura de seu Estado. É importante que a documentação comprobatória esteja completa para que o requerimento seja eficaz. Por exemplo, caso tenha havido a venda do imóvel, deverá o contribuinte apresentar a escritura pública de compra e venda ou cópia completa da Declaração do ITR.

Ressalta-se que o repasse dessas informações à CNA não exclui a responsabilidade do proprietário rural de atualizar seus dados perante a Receita Federal.

- QUEM ARRENDA A PROPRIEDADE É QUEM DEVE PAGAR A CONTRIBUIÇÃO?

Se o proprietário rural arrendar sua terra, ainda assim deverá pagar a contribuição sindical rural. O artigo 40 do Dec. 59.566/64, que regulamentou os artigos do Estatuto da Terra, prevê que é de responsabilidade do arrendador pagar as taxas, impostos e toda e qualquer contribuição que incida ou venha incidir sobre o imóvel rural arrendado, se de outro modo não houver convencionado. Contudo, ainda que haja convenção entre as partes (contrato de arrendamento impondo ao arrendatário o pagamento dos tributos incidentes sobre o imóvel), essa convenção não produzirá efeito perante a Fazenda Pública, como estabelece o artigo 123 do Código Tributário Nacional e, por analogia,

também perante a CNA. Explica-se: as convenções particulares, quando realizadas, são juridicamente válidas entre as partes contratantes, todavia, não isentam o arrendador do pagamento do tributo.

Dessa forma, o arrendador não está isento do pagamento da contribuição sindical rural, ainda que, através de convenção particular tiver transferido a obrigação de pagar os impostos e contribuições incidentes sobre a terra arrendada.

- E A RESPONSABILIDADE DOS CONDÔMINOS?

Se a área rural tiver vários proprietários, ela será uma propriedade condominial rural. Esse condomínio poderá existir apenas de fato (sem regularização no Registro de Imóveis), ou pode haver um condomínio de direito (com registro da divisão da propriedade em condomínio, conforme determina o artigo 167 da Lei nº 6.015/73). Sendo o condomínio registrado ou não, todos os proprietários serão responsáveis pelo pagamento da CSR, e o seu recolhimento no valor integral poderá ser exigido de qualquer um deles. É o que determina o artigo 124 do Código Tributário Nacional.

- SE NÃO SOU FILIADO AO SINDICATO RURAL, AINDA ASSIM DEVO PAGAR A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL?

Com certeza! Não se pode confundir a contribuição sindical rural com a contribuição confederativa prevista no art. 8º da Constituição, nem com a contribuição associativa. São três

contribuições distintas:*Contribuição confederativa: prevista no art. 8º, IV, da Constituição Federal, não tem natureza tributária. Pode ser fixada pela Assembleia Geral do Sindicato, independentemente de previsão específica em lei. Em razão do princípio da liberdade sindical, tem caráter facultativo, sendo legítima a cobrança somente daqueles que se encontram filiados ao sindicato. *Contribuição associativa: prevista nos artigos 513, “e” e 548, “b” da CLT, também só pode ser cobrada de proprietários rurais filiados ao Sindicato Rural do seu Município. *Contribuição sindical: possui natureza tributária, sendo obrigatória. Assim, pode ser cobrada de todos os que pertencem a uma determinada categoria profissional ou econômica, independentemente de filiação. No caso da contribuição sindical rural, ela deve ser paga por todos os proprietários rurais enquadrados nas hipóteses do artigo 1º do Decreto-Lei 1.166/71.

- SE É UM TRIBUTO, POR QUE QUEM DEVE A CSR NÃO É INSCRITO EM DÍVIDA ATIVA?

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 18 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201319

A CNA poderia solicitar a inscrição, através do Ministério do Trabalho, do débito do contribuinte como dívida ativa, mas isso inviabilizaria sua atividade, que é produtor rural e com certeza depende de empréstimos bancários e renegociação de dívidas agrícolas. Mas não é esse o desejo da CNA. A CNA é a entidade sindical, de grau máximo, que defende, trabalha e fala em nome de todos os produtores rurais do país. Com certeza não é interesse para a CNA inviabilizar o desenvolvimento econômico dos inúmeros produtores rurais restringindo o crédito da categoria econômica que ela própria defende. Somente por esse motivo a CNA não solicita ao Ministério do Trabalho a inscrição do débito dos seus

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cartilha da contribuição Sindical Rural de 2013. Site www.canaldoprodutor.com.br. Acesso em 10 de maio de 2013.

Site www.incra.gov.br. Acesso em 22 de maio de 2013.

FREIRE, Antônio Rodrigo Cândido. Módulo Rural e Módulo Fiscal. Artigo publicado no site http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5955. Acesso em 15 de maio de 2013.

BARROS, Welington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol. I – Doutrina e Exercícios. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 1998.

contribuintes em Dívida Ativa, para não restringir o crédito dos produtores rurais o que traria imensas perdas não só para a categoria econômica rural, mas para o país inteiro, pois como bem sabemos, o setor agrícola é que movimenta a economia do nosso país. É importante sempre ressaltar: o fato da CNA cobrar a contribuição sindical rural não quer dizer que ela está contra o produtor rural; a CNA está, e sempre estará, ao lado dos produtores rurais do Brasil, caminhando com eles e por eles, e a cobrança da contribuição sindical rural serve para que esta Confederação tenha recursos para adotar todas as medidas necessárias à defesa dos interesses dessa categoria!

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: ARTIGOS CIENTÍFICOS

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 20 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201321

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: ASPECTOS CONSTITUCIONAIS CONTROVERTIDOS

Tie Mineoka Berberian1

1 Especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Advogada no escritório Gianelli Martins Advogados, de Porto Alegre/RS.2 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4ª ed. São Paulo: Saraiva 2009.p. 267.3 Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Resumo: Antiga conhecida dos produtores rurais, a Contribuição Sindical Rural – CSR – ainda é pouco entendida. Sobre ela pairam dúvidas. É um tributo que incide sobre a propriedade rural, desde que atendidos alguns requisitos legais. Atinge todos aqueles que participam de uma determinada categoria econômica. Muito se discute sobre sua constitucionalidade. O objetivo desse trabalho é esclarecer as controvérsias constitucionais relativas à CSR, possibilitando aos sujeitos passivos e ao público em geral o entendimento desse tributo tão importante ao desenvolvimento do setor rural.

Palavras-chave: Contribuição Sindical Rural. Constitucionalidade.Abstract: Old known of farmers, the Rural Union Contribution - CSR - is still poorly understood. There are doubts about it. It is a tribute that focuses on rural property, provided certain legal requirements. It reaches all those who participate in a particular economic category. There is debate about its constitutionality. The aim of this study is to clarify the constitutional controversies concerning CSR, allowing taxpayers and the general public to understand this tax, which is so important to the development of the rural sector.Keywords: Union Contribution Rural. Constitutionality.

Sumário: Introdução – 1. Natureza jurídica e a recepção de sua exigibilidade legal pela ordem constitucional – 2. O princípio constitucional da liberdade sindical e sua compatibilidade com a contribuição sindical rural – 3. A competência legal da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA – para a arrecadação da CSR – 4. A competência constitucional da Justiça do Trabalho para julgar as ações de cobrança da Contribuição Sindical Rural – Conclusão – Referências Bibliográficas.

INTRODUÇÃO

Neste estudo serão abordadas questões controvertidas, sob o enfoque constitucional, acerca da Contribuição Sindical Rural, tributo cobrado dos produtores rurais enquadrados na categoria profissional instituída pelo Decreto-Lei nº 1.166/71. A Contribuição Sindical Rural foi estabelecida pelo art. 149 da Constituição Federal, bem assim pelos artigos 578 e seguintes da Consolidação das Leis Trabalhistas. Importante arrazoar que a Contribuição Sindical Rural tem caráter compulsório, justamente por se tratar de tributo e atinge todos os participantes de determinadas categorias econômicas e profissionais, independentemente de filiação à respectiva entidade de representação sindical. Há controvérsias a propósito da ofensa da Contribuição Sindical Rural ao Princípio da Liberdade Sindical, decorrente do Princípio Fundamental da Igualdade. A liberdade sindical foi introduzida como um direito de Segunda Geração, em um momento histórico no qual o Estado Liberal fomentava o binômio direitos da autonomia pessoal x direitos sociais, como forma “refratária às expansões do Poder”2 .

Debate-se sobre a competência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA – para arrecadar o tributo em apreço, uma vez que originariamente esta atribuição foi conferida ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, pelo Decreto-Lei nº 1.166/71 e, posteriormente, à Secretaria da Receita Federal, pela Lei nº 8.022/90, quando era feita em conjunto com a cobrança do Imposto Territorial Rural. Nesta vereda, é de se salientar ainda, que com a edição da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, o juízo competente para apreciar as ações de cobrança da Contribuição Sindical Rural passou a ser o da Justiça do Trabalho, e não mais o da Justiça Estadual Comum, tendo em vista a inserção do art. 114, inciso III, na Carta Maior. Todavia, causou alvoroço jurídico a nova regra de modificação de competência, o que fez com que os juristas e, sobretudo os magistrados demorassem a consolidar um entendimento unânime sobre o assunto. Com exposições doutrinárias e referências jurisprudenciais, além das indicações da legislação aplicável, se pretende com o estudo aclarar eventuais dúvidas exclusivamente no que tange aos aspectos constitucionais da Contribuição Sindical Rural, abordando com maior profundidade a temática

ora enfrentada.

1. NATUREZA JURÍDICA E A RECEPÇÃO DE SUA EXIGIBILIDADE LEGAL PELA ORDEM CONSTITUCIONAL A Contribuição Sindical Rural – CSR encontra fundamento constitucional no art. 1493 da Carta Magna, bem como se ampara no art. 5784 e seguintes da CLT, tendo sido regulamentada pelo Decreto-Lei nº 1.166/715 , com redação dada pela Lei nº 9.701/98: O art. 149 da Constituição Federal autoriza a União a instituir “contribuições sociais de interesse das categorias profissionais ou econômicas”. Assim, a competência para instituir este tributo é da União, decorrente desse preceito constitucional. Nesse sentido, leciona Silva:

Há, portanto, duas contribuições: uma para custeio de confederações e outra de caráter parafiscal, porque compulsória estatuída em lei, que são, hoje, os arts. 578 a 610 da CLT, chamada “Contribuição Sindical”, paga, recolhida e aplicada na execução de programas sociais de interesse das categorias representadas6.

Destarte, o caráter compulsório da Contribuição Sindical Rural é intrínseco à sua natureza tributária, pois independe da filiação dos sujeitos passivos à entidade sindical arrecadadora.

4 Art. 578 - As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação do “imposto sindical”, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo.Art. 579 - A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.5 Decreto-Lei nº 1.166/71. Art. 1º Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se: I - trabalhador rural: a) a pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante remuneração de qualquer espécie; b) quem, proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime de eco-nomia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma família, indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração, ainda que com ajuda eventual de terceiros; II - empresário ou empregador rural: a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistên-cia e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;

c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região. 6 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. p. 306.7 Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição: § 2º - Até ulterior disposição legal, a cobrança das contribuições para o custeio das atividades dos sindicatos rurais será feita juntamente com a do imposto territorial rural, pelo mesmo órgão arrecadador.8 Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda nº 1, de 1969, e pelas posteriores. § 5º - Vigente o novo sistema tributário nacional, fica assegurada a aplicação da legislação anterior, no que não seja incompatível com ele e com a legislação referida nos §3º e § 4º.9 PETRY, Rodrigo Caramori. Contribuição Sindical Patronal Rural (CNA): Aspectos Polêmicos. Repertório de Jurisprudência IOB – 2ª Quinzena de março de 2013 – nº 06/2013 – Volume I, p. 221.10 PIRES, Aurélio. Contribuição Sindical Patronal Rural. Suplemento Trabalhista 078/02. São Paulo: LTr, p. 347.11 Art. 217. As disposições desta Lei, notadamente as dos arts 17, 74, § 2º e 77, parágrafo único, bem como a do art. 54 da Lei 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade: I - da “contribuição sindical”, denominação que passa a ter o imposto sindical de que tratam os arts 578 e seguintes, da Consolidação das Leis do

Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei 4.589, de 11 de dezembro de 1964. 12 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 42.13 Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Assim, todos os que participam de uma categoria econômica, ou profissional, ou das profissões liberais, filiados ou não, obrigam-se ao pagamento da contribuição sindical, em favor do sindicato representativo da categoria ou profissão (artigos 578 a 591 da CLT). O art. 10, § 2º7 , do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias confirma expressamente tal situação. Do mesmo modo, recepciona o Código Tributário Nacional, no que esse não for incompatível com o novo ordenamento constitucional (art. 34, § 5º, do ADCT8 ). Petry9 defende a recepção da Contribuição Sindical Rural pela Carta Constitucional, ao informar que a Constituição Federal de 1998 atribuiu novamente o caráter de tributo às contribuições sindicais compulsórias, recepcionando-as no art. 149, assim como no art. 8º, IV, parte final e no parágrafo único. Para Pires10 , a recepção pela Constituição de 1998 da contribuição sindical – denominação, desde o DL 27/66 ao velho imposto sindical do Estado Novo – DL n. 2.377/40 – veio ser conclusão unânime de toda a doutrina. O CTN, por sua vez, no art. 217, inciso I11 , reconhece a exigibilidade da “contribuição sindical”, substituindo por esta, a antiga denominação de “imposto sindical”, instituída no art. 578 e seguintes da CLT. Logo, atualmente é pacífico, entre os doutrinadores que abordam o tema, que a CSR possui natureza tributária, como bem ensina Paulo de Barros Carvalho12:

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Não é de agora que advogamos a tese de que as chamadas contribuições sociais têm natureza tributária. Vimo-las sempre como figuras de impostos ou de taxas, em estrita consonância com o critério constitucional consubstanciado naquilo que nominamos de tipologia tributária no Brasil. Todo o suporte argumentativo calcava-se na orientação do sistema, visto e examinado na sua integridade estrutural. Assim, outra coisa não fez o legislador constituinte senão prescrever manifestamente que as contribuições sociais são entidades tributárias, subordinando-se em tudo e por tudo às linhas definitórias do regime constitucional peculiar dos tributos.

Resta evidenciado que a CSR possui natureza tributária e que a sua exigibilidade legal foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, com previsão expressa na CLT e igualmente é reconhecida pelo CTN, que é subsidiariamente aplicado nas lides trabalhistas em razão do disposto no art. 8º da CLT13.

2.O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE SINDICAL E SUA COMPATIBILIDADE COM A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

É Importante tecer considerações quanto ao Princípio da Liberdade Sindical instituído no caput do art. 8º da CF14 , o qual preceitua que é livre a associação profissional ou sindical. Nos ensinamentos de Mendes15, os direitos sociais, chamados de Segunda Geração, como o da liberdade sindical, somente foram reconhecidos após intensas reivindicações populares que se fundamentaram na ausência do exercício, pelo Estado (Liberal), de seu papel ativo na realização da justiça social. Até então, o Estado preocupava-se somente com os alicerces da autonomia pessoal dos indivíduos, a qual se sobrepunha às expansões do Poder. Em outras palavras, o foco do Estado Liberal era o de estabelecer direitos pessoais, garantidores das liberdades dos cidadãos, com o intuito de desfocar a preocupação dos indivíduos e de refrear a expansão do Poder Estatal16. O Princípio da Igualdade, do qual decorre o da Liberdade Sindical, somente ganhou destaque com a Segunda

14 Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte.15 Ibidem, p.267 e 268.16 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva 2009.p. passim.17 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 265.18 Ibidem, p. 304 e 305.19 RE 279393 AgR, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 06/09/2005, DJ 30-09-2005 PP-00048 EMENT VOL-02207-2 PP-00300.20 Recurso Ordinário - Nº 01382.2006.089.02.007, Relatora Juíza Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva, 11ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, julgado em 22 de agosto de 2006.21 Processo nº 2005/0058541-7. Relator: Ministro Castro Meira. Órgão Julgador: S1 - Primeira Seção. Data do Julgamento: 08/06/2005.

Geração dos direitos fundamentais, chamados direitos sociais, não pelo caráter social (ligado à coletividade), mas sim em virtude do clamor pela justiça social. Idêntico posicionamento apresenta Bonavides17, quando infere que “as garantias constitucionais se tornaram uma espécie de escudo da personalidade contra os desvios do poder do Estado ou se converteram historicamente no símbolo mais positivo e prestigioso de caracterização jurídica do Estado Liberal”. Na esteira dos ensinamentos de Silva18, “a liberdade sindical emanou da árdua conquista dos trabalhadores e evoluiu como um direito autônomo, mesmo que juridicamente possa ser posto ao lado da liberdade geral de associação e reunião”. Segundo ele, a Constituição vigente erradicou as restrições à liberdade sindical. O jurista reconheceu que a contribuição sindical prevista na parte final do inciso IV do art. 8º da CF que foi instituída para o custeio da representação da categoria econômica e profissional de cada entidade e não fere a liberdade sindical dos integrantes de determinadas categorias profissionais, pois será devida, independentemente de filiação.Igualmente, a manifestação do Supremo Tribunal Federal19, pelo que importante expor a fundamentação adotada nesta decisão:

Ocorre que, embora a Constituição Federal de 1988 tenha consagrado a liberdade de associação profissional ou sindical (art. 8º, caput), proibindo à lei exigir autorização do Estado para fundação de sindicato e vedando ao poder público a interferência e a intervenção na organização sindical (art. 8º, I), bem como expressamente garantindo que ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato (art. 8º, V), permitiu – à par da confederativa, esta sim, somente exigida dos sindicalizados – a manutenção do contribuição sindical, de caráter tributário, como se depreende da ressalva contida na parte final do inciso IV do art. 8º, in verbis:Aliás, esse Supremo Tribunal Federal, analisando as disposições contidas nos arts. 8º, I, e IV, e 149, da Constituição da República, decidiu que a contribuição sindical, prevista no art. 578 da CLT não fere o princípio da liberdade sindical, havendo sido recepcionada pelo ordenamento constitucional vigente. Neste sentido destacam-se os seguintes julgados:Sindicato: contribuição sindical da categoria: recepção.

recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578 CLT e exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fine, da Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) – marcas características do modelo corporativista resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144, Pertence, RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694).’ (RE 180.745, DJ 08.05.98, MOREIRA).

Assim, conclui-se que a Contribuição Sindical Rural não fere a liberdade sindical dos indivíduos, visto que sua cobrança se reveste de autorização constitucional e legal dirigida a todos os integrantes das categorias profissionais, independentemente de sua filiação ao respectivo ente sindical.

3. A COMPETÊNCIA LEGAL DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL – CNA – PARA A ARRECADAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL - CSR A Contribuição Sindical do Empresário ou Empregador Rural é devida por todos os proprietários rurais pessoas físicas ou jurídicas que explorem atividade econômica rural, observado o enquadramento sindical estabelecido nas alíneas “a”, “b” e “c” do inciso II do art. 1º do Decreto-Lei n.º 1.166, de 15/04/1971, com nova redação dada pelo art. 5º da Lei nº 9.701, de 18/11/1998. Sob esses pressupostos legais é que a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil tem legitimidade para efetuar a cobrança das Contribuições Sindicais Rurais. Até o ano de 1990, a cobrança da CSR era feita em conjuntocom a do Imposto Territorial Rural – ITR, pelo INCRA, que detinha a competência da arrecadação por força do Decreto-Lei nº 1.166/71. Com o advento da Lei nº 8.022/90, a arrecadação do tributo ficou a cargo da Secretaria da Receita Federal. A partir do ano de 1997, conforme disposto no art. 24 da Lei nº 8.847/94, a competência para administrar o processo de lançamento, arrecadação e controle da Contribuição Sindical do Empregador Rural passou a ser exercida pelo sistema sindical rural, sendo que sua coordenação, em todo o País, é conferida à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA. E mais, a cobrança da CSR passou então, a ser dissociada e independente da exigência do ITR, tendo sido, a partir de então, modificado o entendimento do Judiciário sobre o

tema20. Ademais, corroborando a inteligência sobre o tema, o Colendo Superior Tribunal de Justiça editou, recentemente, a Súmula nº 396, que preceitua que a “Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade ativa para a cobrança da contribuição sindical rural”, superando qualquer controvérsia que ainda pairasse sobre a matéria.

4. A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAR AS AÇÕES DE COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

Com o advento da Emenda Constitucional nº. 45/04, que incluiu o texto do art.114, inciso III, à Carta Maior, transferiu-se a competência à Justiça do Trabalho, para o processamento e julgamento das ações envolvendo representação sindical entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores. Outrossim, as ações de cobrança de contribuição sindical propostas por sindicato, Federação ou Confederação respectiva, contra o contribuinte devem ser processadas e julgadas perante a Justiça do Trabalho. Logo após o início da vigência das alterações trazidas pela citada Emenda à Constituição, muitos foram os conflitos de competência suscitados perante os tribunais pátrios. Todavia, hodiernamente, a jurisprudência é uníssona quanto à competência da Justiça Especializada para o processamento e julgamento das ações envolvendo a cobrança do tributo em análise21. O entendimento pacífico do Egrégio Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que houve interpretação ampliativa do art.114, inciso III, da CF/88, e assim, a Justiça Laboral passa a deter a competência para processar e julgar não só as ações sobre representação sindical (externa - relativa à legitimidade sindical, e interna – relacionada à escolha dos dirigentes sindicais), como também os feitos intersindicais e os processos que envolvam sindicatos e empregadores ou sindicatos e trabalhadores. Assim, cediço que após a edição da EC nº45/04 a Justiça do Trabalho é o órgão competente para analisar as causas que envolvam a Contribuição Sindical Rural.CONCLUSÃO Da análise dos apontamentos apresentados neste trabalho, pode-se ultimar que a Contribuição Sindical Rural – CSR foi recepcionada pela Constituição Federal, assim como pela Consolidação das Leis do Trabalho e regulamentada pelo Decreto-Lei nº 1.166/71. Outrossim, que a CSR não fere, de forma nenhuma, o Princípio da Liberdade Sindical, que decorre do Princípio da

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004.CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Saraiva 2009.PETRY, Rodrigo Caramori. Contribuição Sindical Patronal Rural (CNA): Aspectos Polêmicos. Repertório de Jurisprudência IOB – 2ª Quinzena de março de 2013 – nº 06/2013 – Volume I.PIRES, Aurélio. Contribuição Sindical Patronal Rural. Suplemento Trabalhista 078/02. São Paulo: LTr.SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001.

Igualdade e que surgiu com a Segunda Geração dos direitos individuais, paradoxalmente em um momento histórico no qual o Estado Liberal tentava limitar a participação popular dos cidadãos, com o intuito de que esses não freassem a expansão do Poder. Resulta da análise a conclusão de que a competência para a arrecadação da Contribuição Sindical Rural é da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, tanto por delegação legal, quanto pelo reconhecimento sumular do próprio Superior Tribunal de Justiça. Quanto ao juízo competente para processar e julgar

as ações de cobrança da CSR, com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, este passou a ser o da Justiça do Trabalho, entendimento atualmente unânime entre os Tribunais brasileiros. Desta forma, a Contribuição Sindical Rural encontra amparo constitucional, conforme todo o demonstrado e não fere os princípios fundamentais a ela implexos. Tanto a competência relativa à arrecadação, quanto a forense encontram guarida na Carta Magna, superando as questões controvertidas sobre o mote.

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: COMPETÊNCIA E ASPECTOS PROCEDIMENTAIS PARA FORMALIZAÇÃO DO CRÉDITO

Matheus Rocha* Cristiane Schardosim Martins*

ResumoO presente estudo se suscita diante do constante questionamento acerca da legalidade, cobrança e formalização do crédito tributário (lançamento), em face da contribuição sindical rural. A pesquisa parte do enquadramento desta contribuição como espécie tributária, bem como das características inerentes a esse subgrupo, as quais se submetem às regras do ordenamento jurídico tributário. Neste passo, procede-se à análise das formas de lançamento do crédito, demonstrando-se, como ponto principal do estudo, as peculiaridades concernentes à formalização e cobrança da contribuição sindical rural pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para tanto, não se olvidou da jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Tribunal Superior do Trabalho, que, julgando a questão, analisaram as questões procedimentais relativas à notificação, a qual se torna válida desde que realizada em jornal de grande circulação local, por três dias consecutivos, dez dias antes do vencimento da guia de recolhimento, bem como a competência da CNA, para tal cobrança diante da interpretação das regras da Consolidação das Leis do Trabalho.

Palavras-Chave: Contribuição Sindical Rural. Tributário.

AbstractThis article wants to answer the constant questioning about the legality, collection and formalization of the tax credit before the rural sindicate contribution (tax). The research starts from the framework of this contribution as a tax type, as well the characteristics of this subgroup, wich are subjected to the rules of tax law. At this step, we proceed the analysis of the forms of the credit collection, showing up, as the main point of the study, the peculiarities concerning the formalization and collection of the rural sindicate contribution (tax) by the Confederation of Agriculture and Livestock of Brazil. Therefore, consonant to the jurisprudence set by the Superior Court of Justice and the Superior Labor Court, wich, judging the issue, examined the procedural questions related to the notification, what becomes valid if carried out in a local large circulation newspaper during three consecutive days, ten days before the expiration of the waybill, and also the competence of the CNA to such charge clashed with the interpretation of the rules of the Consolidated Laws of Work.

Key Words: rural sindicate contribution (tax). Tax Law.

Sumário: Introdução. 1 Conceito e Classificação dos Tributos. 1.1 Contribuições Especiais. 1.2 Contribuições Corporativas. 1.3 Contribuições Corporativas Sindicais. 1.3.1 Contribuição Corporativa Sindical Rural. 2. Lançamento Tributário. 2.1 Lançamento por Homologação. 2.2 Lançamento “por Declaração” e “de Ofício”. 3. Contribuição Sindical Rural e Lançamento de Ofício pela Confederação Nacional da Agricultura. Conclusão. Referências Bibliográficas.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por escopo uma abordagem tributária da Contribuição Sindical Rural. Tal contribuição tem caráter tributário, portanto, se sujeita a todo ordenamento jurídico no tocante às limitações ao poder de tributar. De todo modo, tal tributo vem suscitando questões acerca da formalização de seu crédito e de sua legalidade. Ressalta-se que este tributo há muito tempo figura na legislação. O primeiro texto a instituir a CSR (Contribuição Sindical Rural) foi o Estatuto do Trabalhador Rural, Lei 4.214 de 1963, cujo artigo 135 estabeleceu a contribuição. Atualmente seu regramento se dá pela lei 5.889 de 1973, que regula o trabalho rural e mantém em vigor, no que diz respeito a CSR, o Decreto-lei 1.166 de 1971, interpretado conjuntamente com os artigos 605 e 606 da CLT.

Até 1990 a CSR, instituída pela União e com amparo constitucional, era lançada e cobrada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A partir da publicação da lei 8.022 de 1990 transferiu-se para a Secretaria da Receita Federal a competência para o lançamento da CSR. Porém, em 1994 o Secretário da Receita Federal sancionou a lei 8.847, que estabeleceu até 1996 o prazo para recolhimento da CSR devida à Confederação Nacional da Agricultura. Assim, em 1996 foi editada a lei 9.393 que autoriza a Secretaria da Receita Federal a celebrar convênios com a CNA e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, tendo por finalidade, fornecer dados cadastrais de imóveis rurais que possibilitem a cobrança devida às entidades. Por esse motivo desde 1997 a arrecadação passou a ser de competência da CNA. Vale lembrar que, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, a parcela de 20% do arrecadado pela CNA é repassada

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anualmente para Conta Especial do Emprego e Salário gerida pelo Ministério do Trabalho. Outros 60% vão para o Sindicato Rural da localidade, 15% para a Federação da Agricultura do Estado e 5% para a CNA. Nesse contexto, traz-se pertinente o estudo, tendo por meio, primeiramente, uma abordagem acerca dos tributos e das contribuições, para, posteriormente, exaurir os questionamentos suscitados a respeito da legalidade da cobrança da Contribuição Sindical Rural.

1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS

Para o direito positivo, tributo é o nome dado à classe de objetos construídos conceptualmente que por ser palavra ambígua, pode denotar distintos conjuntos de entidades, tais como relação jurídica, direito subjetivo, dever jurídico, quantia em dinheiro, norma jurídica e, como prefere o Código Tributário Nacional, a relação jurídica, o fato e a norma que jurisdiciza o fato. Este estudo toma por foco a acepção de “tributo” com as proporções semânticas dadas a partir da Lei 5.172/66 (batizada de “Código Tributário Nacional”) e sua posterior recepção pela Constituição Federal de 1967, momento a partir do qual passa a ter eficácia de lei complementar. Nesse contexto, o Código Tributário Nacional corporifica o conceito de tributo em seu art. 3º: “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. A partir do referido conceito, por compulsoriedade se compreende a obrigação a determinado comportamento, afastando-se qualquer prestação voluntária de plano. Por consequência, essas obrigações independem da vontade do sujeito passivo, o qual deverá efetivá-las, ainda que contra seu interesse1. Essa prestação compulsória deve, ainda, ser pecuniária. Tributo é pago em moeda, não existindo mais nos sistemas tributários modernos o tributo em natureza, pago em serviços ou em bens diversos do dinheiro. Dessa forma, evidencia-se que a dívida de tributo há de ser satisfeita em moeda, sendo possível sua satisfação mediante entrega de bens outros cujo valor possa ser expresso em moeda apenas

em condições especiais2. Dispõe ainda o Código Tributário Nacional a respeito do tributo: que não constitua sanção de ato ilícito. Assim, o tributo se distingue da penalidade, por exemplo, exatamente porque esta tem como hipótese de incidência um ato ilícito, enquanto a hipótese de incidência do tributo é sempre ato lícito. Com efeito, o tributo pode decorrer de circunstâncias ilícitas, mas essas são estranhas à hipótese de incidência do tributo, e por isso mesmo irrelevantes do ponto de vista tributário3. A instituição do tributo fica condicionada à existência de lei nesse sentido. Ou seja, só lei pode estabelecer o tributo. Esse fragmento do conceito advém do princípio da legalidade, o qual determina que nenhum tributo será exigido sem que a lei o estabeleça4. Tal princípio é prevalente no Estado de Direito e está assegurado no art. 150, I, da Constituição Federal5. O Código Tributário Nacional finaliza a conceituação de tributo como sendo prestação cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Isso significa dizer que a autoridade administrativa não pode preencher com seu juízo pessoal, subjetivo, o campo de indeterminação normativa, buscando realizar em cada caso a finalidade da lei. Esta deve ser minudente, prefigurando com rigor e objetividade os pressupostos para a prática dos atos e o conteúdo que estes devem ter. Feita a decomposição analítica do art. 3º do Código Tributário Nacional, impõe-se para a melhor compreensão do tema alvo, discorrer acerca das espécies tributárias, partindo desta para uma análise mais objetiva da contribuição objeto deste estudo. A Constituição atribui à lei complementar a função de conceituar tributo e suas espécies (art. 146, III, a). O CTN, ainda na vigência da Constituição de 1946 e da Emenda nº 18/65, cuidou dessas definições, com algumas deficiências. A doutrina tem mantido acesa a polêmica acerca da natureza, tributária ou não de algumas prestações exigidas pelo Estado, designadamente os empréstimos compulsórios e certas figuras geralmente batizadas como contribuições. Tem-se discutido se, a par do imposto, da taxa e da contribuição de melhoria (arrolados no art. 5º do CTN6 como espécies de tributo), teriam ainda natureza tributária aquelas outras exações. E, quando admitida essa natureza, discute-se também se elas seriam espécies distintas ou, ao contrário, se subsumiriam em algum dos tipos nominados no citado artigo7.

O jurista Luciano Amaro segue ensinando que tal problemática ultrapassa o universo da discussão acadêmica, pois da capitulação de tais figuras como espécies tributárias8

depende sua sujeição aos princípios tributários, cuja aplicação pode modificar ou mesmo, em dadas situações, inviabilizar a sua exigência. Dessa forma, a Constituição Federal de 1988 não se preocupou em definir, nem mesmo classificar, limitando-se a arrolar as espécies tributárias , que podem ser assim especificadas:a) impostos, instituíveis pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme a partilha constante dos arts. 153 e 154 (União), 155 (Estados e Distrito Federal) e 156 (Municípios e também o Distrito Federal, ex vi do art. 147);b) taxas, instituíveis por essas mesmas pessoas políticas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição (art. 145, II);c) contribuição de melhoria, decorrente de obra pública, também instituível pelas mesmas pessoas políticas (art. 145, III);As espécies acima mencionadas são as elencadas na “pobre”9 classificação de tributo feita pelo CTN. De todo modo, continuemos a arrolar as espécies tributárias existentes na Carta Magna. Por conseguinte, diante do conceito que o próprio CTN instituiu muitas outras figuras subsumem:d) pedágio, instituível igualmente pelas pessoas políticas mencionadas em razão da utilização de vias por elas conservadas (art. 150, V);e) empréstimos compulsórios, instituíveis pela União, nas hipóteses arroladas no art. 148;f) contribuições de intervenção no domínio econômico, também instituíveis pela União (art. 149);g) contribuição para custeio do regime previdenciário de que trata o art. 40 da Constituição, em benefício dos servidores dos Estados, Distrito Federal e Municípios, instituível por essas pessoas políticas, e cobrável dos respectivos funcionários (art. 149 § 1º, renumerado pela Emenda Constitucional nº 33/2001 e com nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003); o art. 40 da Constituição (com redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003) prevê regime previdenciário

para os servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;j) contribuição para custeio do serviço de iluminação pública; instituível pelos Municípios e pelo Distrito Federal (art. 149-A acrescido pela Emenda Constitucional nº 39/2002). Nesse contexto, passemos a analisar a espécie tributária das contribuições, para, posteriormente, analisarmos a figura da contribuição que é foco do presente artigo.

1.1 CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS

Seguindo ainda a linha do ensinamento de Luciano Amaro10, o art. 149, caput, da Constituição11 agrupa três figuras rotuladas como “contribuições”: contribuições sociais, contribuições de intervenção no domínio econômico, e contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas, outorgando-as à competência da União, que deve utilizá-las como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas. Adentrando à temática, Andrei Pitten Velloso12 afirma que a categoria “contribuições especiais” é gênero do qual são espécie as contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e corporativas, referidas pelo artigo em comento. Contribuição especial é o tributo que, apesar de ter hipótese de incidência desvinculada de atuações estatais, é juridicamente afetado à realização de finalidade específica. Este conceito compreende as duas características necessárias das contribuições especiais: (i) hipótese de incidência desvinculada de atuação estatal; e (ii) afetação jurídica a finalidades específicas. Essas características servem para definir e diferenciar as contribuições especiais dos tributos que não se incluem nessa categoria tributária. Estas são características presentes em todas as contribuições especiais e não se encontram em nenhuma outra espécie tributária – ao menos não na sua integralidade. A Contribuição Sindical Rural, como abordaremos nos próximos tópicos, é integrante do rol das contribuições corporativas (subdivididas em profissionais e econômicas), que por sua vez integram a categoria das “contribuições especiais”.

1Carvalho, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método / Paulo de Barros Carvalho, São Paulo: Noeses, 2008. Pág. 374-375. 2 Martins, Ives Gandra da Silva. Comentários ao código tributário nacional / Ives Gandra da Silva Martins, coordenador. – São Paulo: Saraiva, 1998. Pág. 24-25.3 Martins, Ives Gandra da Silva, Ibidem. Pág. 26.4 Idem. Pág. 27.5 Determina a Constituição Federal de 1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;”. 6 Art. 5º do CTN: “Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.”7 Amaro, Luciano. Direito tributário brasileiro / Luciano Amaro. – 18. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012. Pág. 49.

8 Idem, pág. 509 O CTN classifica os tributos: “art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria”.10 Amaro, Luciano. Ibidem, pág. 74.11 “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contri-buições a que alude o dispositivo.”12 VELLOSO, Andrei Pitten. Constituição tributária interpretada / Andrei Pitten Velloso. – 2. ed., ver., atual. e ampl. – Porto Alegre Livraria do Advogado Editora, 2012. Pág. 174-175.

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1.2 CONTRIBUIÇÕES CORPORATIVAS

Seguindo ainda a abordagem de Andrei Pitten Velloso13, as contribuições corporativas dividem-se em profissionais e econômicas. O que as diferencia é a categoria às quais elas estão vinculadas. Ambas concernem a atividades laborais, mas, mesmo que relacionadas, não se confundem: as categorias profissionais dizem respeito ao ofício, e as econômicas, às áreas específicas de produção, comércio ou prestação de serviço. Façamos uma prévia distinção das contribuições corporativas cuja instituição é autorizada pelo art. 149, em face das contribuições confederativas previstas no art. 8º, IV, da Constituição Federal14. Esta contribuição, com finalidade de custeio do sistema confederativo, não tem natureza heterônoma, já que não decorre do poder de império estatal, mas da filiação voluntária ao sindicato15. Como não decorre do mero exercício da atividade profissional, mas da filiação voluntária ao sistema sindical, a contribuição confederativa não se qualifica como tributo, e pode ser fixada pela assembleia geral da associação sindical, haja vista não se submeter ao princípio da estrita legalidade que vige em matéria tributária (art. 150, I, da CF). Em correspondência, não pode ser cobrada daqueles que não se filiaram à entidade sindical, consoante a remansosa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal16. De outra banda, as contribuições corporativas do art. 149 são tributos, pois tem caráter heterônomo, já que sua incidência prescinde de qualquer ato volitivo do contribuinte diverso do mero exercício da atividade profissional. Estas decorrem mediatamente do desempenho da atividade profissional e imediatamente da consequente filiação compulsória à entidade corporativa. Dessa forma, o universo dos sujeitos passivos não é restrito àqueles que, por sua vontade, filiaram-se ao sindicato. De todo modo, devem ser instituídas por lei e hão de respeitar todas as demais limitações constitucionais ao poder de tributar. As anuidades cobradas pelos conselhos fiscalizadores do exercício profissional, por exemplo, são contribuições corporativas do art. 149. São qualificadas como tributos por serem compulsórias; são devidas por todos aqueles que desempenham atividades profissionais sujeitas à fiscalização,

independentemente do fato de quererem, ou não, vincular-se a tais conselhos, conforme jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça17.

1.3 CONTRIBUIÇÕES CORPORATIVAS SINDICAIS

Apesar de ostentarem natureza tributária, essas contribuições em muito se assemelham à contribuição confederativa do art. 8º, IV, da CF, haja vista também serem destinadas a financiar as atividades dos sindicatos. Conforme Andrei Pitten Veloso18, as contribuições corporativas podem ser tributárias ou não tributárias, sendo que nestas últimas se enquadram a contribuição confederativa do artigo 8º, IV, da Constituição Federal, a contribuição assistencial e a contribuição associativa. Já no primeiro tipo – as tributárias - tem-se a contribuição corporativa anual. Embora a contribuição corporativa sindical anual seja originária da Constituição Federal de 1937, que autorizou os sindicatos a cobrar as contribuições, conforme artigo 138, atualmente está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto-lei 5.452/43 – no artigo 578 e seguintes, tendo por fundamento de validade o antes citado artigo 149 da Constituição Federal de 198819. A identificação do sujeito passivo destas contribuições se extrai a partir da análise dos aludidos dispositivos que mostram serem os trabalhadores, os autônomos e os empregadores que se sujeitam ao tributo, nestes incluídas tanto a classe urbana quanto rural.

1.3.1 CONTRIBUIÇÃO CORPORATIVA SINDICAL RURAL

Como já demonstrado, a contribuição sindical rural é subespécie das contribuições de interesse de categoria econômica e profissional, sendo, portanto, tributo sujeito às regras do sistema tributário. Neste sentido, todos os elementos que compõem a hipótese de incidência (critério material, espacial, pessoal, quantitativo e temporal)20 podem ser apurados para fins de cobrança, através das regras insertas na legislação infraconstitucional que regula o referido tributo.

Um dos aspectos mais polêmicos da contribuição sindical rural encontra-se fundado na identificação do critério temporal, e nos seus desdobramentos, mais especificamente quanto ao lançamento do crédito tributário. Isto porque o Ministério do Trabalho, responsável pelo lançamento da contribuição nos termos do artigo 60621 da Consolidação das Leis do Trabalho, não efetua tal procedimento. Ante a ausência de formalização pelo Ministério do Trabalho, o Superior Tribunal de Justiça admite que o lançamento do crédito tributário decorrente da contribuição corporativa sindical rural seja feito pela própria entidade sindical, ainda que, como a seguir será demonstrado, o Código Tributário Nacional estabeleça ser da competência privativa da administração tributária lançar o crédito. O mesmo Tribunal, em contrapartida, exige que o contribuinte seja notificado por meio de publicação em jornal de maior circulação local durante três dias, dez dias antes da data do recolhimento, em observância ao artigo 60522 da Consolidação das Leis do Trabalho. Neste ponto, para melhor compreensão do tema, compete seja feita uma análise das formas de lançamento do crédito tributário, para identificar onde se enquadra aquela

pertinente à contribuição sindical rural.

2. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

A metodologia implementada pelo Código Tributário Nacional para especificar os diferentes tipos de lançamento tributário tomou forma a partir do artigo 14223 que delimita o conceito de lançamento como ato-norma jurídico administrativo24. Eurico Marcos Diniz de Santi, em lição elucidativa, define o “conceito de ‘lançamento’ como o ato-norma administrativo que apresenta a estrutura hipotético-condicional, associando à ocorrência do fato jurídico tributário (hipótese) uma relação jurídica intranormativa (consequência), que tem por termos o sujeito ativo e o sujeito passivo, e por objeto a obrigação deste em prestar a conduta de pagar quantia determinada pelo produto matemático da base de cálculo pela alíquota.” As modalidades de lançamento estão discriminadas a partir do artigo 14726 (por declaração), 148, 14927 (de ofício) e 15028 (por homologação), e para tanto considerou-se precipuamente a atividade do agente administrativo. Conforme, ainda, as palavras de Eurico Marcos Diniz de Santi, “o critério empregado dirigiu-se ao ato-fato administrativo, mais precisamente ao fato

13 PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie / Leandro Paulsen, Andrei Pitten Velloso. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. Pág. 277.14 Prevê a constituição Federal a respeito da contribuição sindical: “art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observando o seguinte: [...] IV – a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo de representação sindical respectiva, independente-mente da contribuição prevista em lei.”15 Como assinala o STF (Supremo Tribunal Federal), “o ato de associar-se ao sindicato gera o efeito necessário e suficiente para que a contribuição instituída possa ser cobrada” (Pleno, ADI 962 MC, 11.1993).16 STF, 1ª Turma, RMS 21.758, 09.1994; STF, 2ª RE 198.092, 08.1996; STJ, 1ª Turma, REsp 881.969, 11.11.2008. 17 REsp 1237410/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2011, DJe 09/05/201118 PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie / Leandro Paulsen, Andrei Pitten Velloso. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. Pág. 286.19 PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie / Leandro Paulsen, Andrei Pitten Velloso. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. Pág. 28320 Carvalho, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método / Paulo de Barros Carvalho, São Paulo: Noeses, 2008. Pág. 374-375 p. 178

21 Art. 606 - Às entidades sindicais cabe, em caso de falta de pagamento da contribuição sindical, promover a respectiva cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo como título de dívida a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho e Previdência Social.22 Art. 605 - As entidades sindicais são obrigadas a promover a publicação de editais concernentes ao recolhimento do imposto sindical, durante 3 (três) dias, nos jornais de maior circulação local e até 10 (dez) dias da data fixada para depósito bancário.23 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.24 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lançamento Tributário / Eurico Marcos Diniz de Santi. – 3ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2010. P. 114. 25 Eurico, Lançamento Tributário, p. 114/115.26 Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade adminis-trativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. § 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. § 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame serão retificados de ofício pela autoridade administrativa a que competir a revisão daquela.27 Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial. Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: I - quando a lei assim o determine; II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formali-dade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.28 Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.§ 2º Não influem sobre a obrigação tributária quaisquer atos anteriores à homologação, praticados pelo sujeito passivo ou por terceiro, visando à extinção total ou parcial do crédito.§ 3º Os atos a que se refere o parágrafo anterior serão, porém, considerados na apuração do saldo porventura devido e, sendo o caso, na imposição de penalidade, ou sua graduação.§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronuncia-do, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

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da conformação do procedimento”.29

Por conformação do procedimento quer-se dizer que o critério se dirige para uma maior ou menor colaboração do administrado para a celebração do ato que constitui o crédito. Com efeito, quando do lançamento nas modalidades “por declaração” ou “de ofício” há maior participação do agente administrativo e menor participação do contribuinte. Já quanto ao lançamento “por homologação”, o crédito se formaliza mediante apresentação de informações pelo administrado, sem que para isto seja necessária qualquer participação do agente público, que se restringirá, nestes casos, a emitir norma instrumental de formalização do crédito.

2.1. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO

No lançamento por homologação, o sujeito passivo (contribuinte) constata a ocorrência do fato gerador, calcula o valor devido e faz a arrecadação no prazo legal, cabendo, após este período, ao sujeito ativo conferir a apuração e o pagamento realizados.

2.2. LANÇAMENTO “POR DECLARAÇÃO” E “DE OFÍCIO”

Nestas modalidades de lançamento, não há qualquer atividade por parte do sujeito passivo (contribuinte) da obrigação tributária, cabendo ao agente administrativo identificar a ocorrência do fato gerador, o sujeito passivo, calcular o montante devido, formalizar o crédito e notificar o contribuinte. O lançamento “por declaração”, nos termos do artigo 147 do Código Tributário Nacional “é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação”. A partir de informações prestadas pelo

contribuinte, o sujeito passivo apura o montante devido e formaliza o crédito. Já a modalidade “de ofício”, via de regra, se dá quando o sujeito passivo não cumpre as obrigações decorrentes do lançamento “por declaração” ou homologação, tendo, portanto, caráter supletivo.30

3. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL E LANÇAMENTO DE OFÍCIO PELA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA

Até 1996, a competência da administração da contribuição sindical rural era da Receita Federal, por força do disposto no artigo 1 da Lei 8.022/9031. Todavia, esta previsão foi revogada pelo artigo 24 da Lei n. 8.847/9432. Atualmente, o lançamento da contribuição sindical rural é realizado pela Confederação Nacional da Agricultura - CNA, tendo em vista que o Ministério do Trabalho deixou de fazer o lançamento que originalmente lhe competia. Por sua vez, a atividade da CNA encontra fundamento de validade no artigo 606 da CLT e em decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça.34

Para realizar o lançamento da contribuição sindical rural, a CNA obtém as informações através de convênio firmado junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil. Para tal cobrança ser válida, o Superior Tribunal de Justiça exige que haja notificação dos produtores rurais por edital publicado nos jornais de maior circulação local durante três dias, pelo menos dez dias antes da data fixada para o recolhimento, como aliás, prescreve, o artigo 605 da CLT.35

A notificação editalícia, conforme preconiza Paulsen, é a condição de eficácia do lançamento da contribuição, que ainda complementa: “trata-se de providência que aperfeiçoa o lançamento demarcando, pois, a formalização do crédito pelo

Fisco. O crédito devidamente notificado passa a ser exigível do contribuinte.”36

Dessa forma, no caso específico da Contribuição Sindical Rural, o art. 605 supre a notificação pessoal.37

Além disso, há entendimento na jurisprudência de que, ao ser intimado na ação de cobrança proposta na Justiça do Trabalho, o contribuinte/réu perfectibiliza a ciência do débito tributário, ou até mesmo, com a sentença, assim o faz.38

Tendo em vista que notificação editalícia realizada nos termos do artigo 605 da CLT é condição de exigibilidade das contribuições sindicais, da mesma forma constitui pressuposto para o desenvolvimento válido e regular das ações de cobrança.39 Convém destacar que o Tribunal Superior do Trabalho, ao julgar as demandas relativas à contribuição rural, reconhece a competência da CNA para promover a arrecadação da contribuição sindical rural, bem como integrar o polo ativo da demanda40, sendo este atualmente o Tribunal competente para dirimir as referidas controvérsias. Quanto à prescrição do crédito, como se trata de tributo em que o lançamento se dá de ofício, através da emissão da guia a partir de informações obtidas pela Confederação Nacional da Agricultura junto à Receita Federal do Brasil, aplica-se a regra do artigo 174 do Código Tributário Nacional, segundo o qual “a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva”. Considera-se constituição definitiva a data do vencimento da guia enviada ao contribuinte, contando-se o prazo de cinco anos a partir de tal momento.41

Para facilitar a satisfação do crédito tributário, o Estado criou através da realização de um convênio entabulado entre Banco Central do Brasil e o Superior Tribunal de Justiça42, um meio pelo qual se tornou possível o rastreamento e o consequente bloqueio de ativos financeiros depositados ou aplicados nas

29 DE SANTI, Eurico Marcos Diniz. Lançamento Tributário. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 153.30 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 12ª ed. – Porto Alegre: Livraria do Advogado. Editora: ESMAFE, 2010.31 Art. 1° É transferida para a Secretaria da Receita Federal a competência de administração das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, e para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a competência para a apuração, inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa. (Vide Lei nº 8.847, de 1994)32 Art. 24. A competência de administração das seguintes receitas, atualmente arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal por força do art. 1º da Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990, cessará em 31 de dezembro de 1996: I - Contribuição Sindical Rural, devida à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e à Confederação Nacional dos Traba-lhadores na Agricultura (Contag), de acordo com o art. 4º do Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, e art. 580 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);33 A fundamentação do Ministério do Trabalho pode ser encontrado em NOTA/MGB/CONJUR/MTE/Nº 30/2003, disponível em http://www.agu.gov.br/SISTEMAS/SITE/PaginasIn-ternas/NormasInternas/AtoDetalhado.aspx?idAto=21261834 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL.LEGITIMIDADE DA CNA PARA A COBRANÇA. NOTIFICAÇÃO. PUBLICAÇÃO DE EDITAIS. ART. 605 DA CLT. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.1. A CNA tem legitimidade para cobrar a contribuição sindical rural em razão de convênio celebrado com a Receita Federal.2. Ambas as Turmas da Primeira Seção sedimentaram o entendimento de que o art. 605 da CLT, que determina a publicação de editais de notificação do lançamento da contri-buição sindical rural em jornal de grande circulação, não foi revogado pelo Decreto-Lei 1.166/71, devendo, portanto, ser observado como condição de legitimidade da referida exação.3. Recurso especial parcialmente provido.(REsp 900.331/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ 23/08/2007, p. 227) 35 PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie / Leandro Paulsen, Andrei Pitten Velloso. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. Pág. 287.

instituições financeiras de forma célere e desburocratizada, conhecido como penhora on-line. Seguida de grande discussão a respeito da validade do referido convênio, a penhora on-line foi institucionalizada de forma explícita pelo art. 185-A do Código Tributário Nacional, acrescido pela Lei Complementar nº 118/2005, cuja aplicação restringiu-se aos processos de execução fiscal. Ao contrário do que se possa parecer, a penhora on-line longe está de configurar algum tipo ou modelo jurídico em si mesmo. Em realidade, trata-se de mera penhora, como outra qualquer, efetivada via meios eletrônicos, fruto de um poder informático recentemente estendido aos juízes com finalidade de conferir-lhes maior poder de efetivação do Direito.43

A utilização do sistema garante um processo de execução com tramitação mais célere, cumprindo, assim, o princípio da razoável duração do processo e da celeridade processual, previsto no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 198844, todavia, persistem no ordenamento jurídico diversos direitos dos devedores tributários que merecem ser respeitados na sua aplicação como os descritos nestes comentários. Com o advento da Lei Complementar nº 118/05, que, como se referiu, acrescentou o art. 185-A do CTN45 (Código Tributário Nacional), passou a vigorar regra específica a respeito da decretação da indisponibilidade dos bens e direitos do devedor tributário. Como se depreende do referido dispositivo legal, a decretação da indisponibilidade dos bens e direitos do devedor tributário, a ser implementada preferencialmente por meio eletrônico, é direcionada especialmente às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, passando a ser o fundamento jurídico da penhora on-line de ativos financeiros do executado no âmbito do processo de execução fiscal.

36 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 12ª ed. – Porto Alegre: Livraria do Advogado. Editora: ESMAFE, 2010. Pág. 1011/1012.37 AgRg no REsp 1147806/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2009, DJe 02/02/2010.38 Acórdão 0013800-94.2008.5.04.0611 RO, Relator MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA, Sétima Turma do TRT da Quarta Região, julgado em 19/10/2011.39 PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie / Leandro Paulsen, Andrei Pitten Velloso. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. Pág. 288.40 Processo: RR - 7901200-85.2005.5.09.0020 - Data de Julgamento: 24/11/2010, Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/12/2010.41 RR - 137100-14.2009.5.09.0096, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 08/08/2012, 2ª Turma, Data de Publicação: 17/08/201242 Convênio BACEN/STJ/CJF-200543 GRASSELI, Odete. Penhora Trabalhista On-line. São Paulo: LTr, 2006, p. 44.44 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)45 Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)§ 1o A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que excederem esse limite. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)§ 2o Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo a relação discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houver promovido. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 32 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201333

Porém, sua aplicação fica restrita ao esgotamento das tentativas de localização dos bens do executado, haja vista que tal medida só pode ser decretada na “hipótese de o devedor, devidamente, citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis”. Na visão do Procurador da Fazenda Nacional Eduardo Luz Gonçalves, resta axiomático que, após o surgimento da Lei nº 11.382/06, com o acréscimo do art. 655-A ao CPC (Código de Processo Civil), se estaria diante de um conflito aparente de normas. Isso porque, os dispositivos legais suso citados apresentam, em parte, “operadores opostos (...) e seus conteúdos (...) são a negação interna um, do outro” no tocante à ordem de utilização deste expediente por parte do juiz. Enquanto o art. 185-A do CTN exige o esgotamento das tentativas de localização de bens penhoráveis do executado para a determinação da indisponibilidade dos seus ativos financeiros, o art. 655, I c/c o art. 655-A do CPC determina que seja utilizada de forma preferencial.46

Na linha sustentada pelo procurador, malgrado o art. 185-A do CTN refira-se expressamente ao devedor tributário restringindo o âmbito de sua aplicação, tal elemento não tem o condão de torná-lo especial em relação ao art. 655, I, c/c o art. 655-A do CPC haja vista que a Lei nº 6.830/80, por expressa remissão, considera o Código de Processo Civil o repositório natural das normas que regem o processo de execução fiscal, ainda que de forma subsidiária, ex vi do seu art. 1º. Mesmo diante da respeitosa opinião, a linha do jurista Fernando Dantas Casillo Gonçalves parece estar em maior consonância com a matéria tributária. Segundo ele, a própria Lei Complementar 118/2005 indica as condições necessárias para o juiz determinar o bloqueio de bens e direitos de qualquer devedor tributário independentemente do tipo de tributo exigido no processo judicial47. O mesmo autor acredita que com fundamento na supracitada normatividade, o art. 185-A do CTN (Código Tributário Nacional) possui natureza de norma geral em matéria de legislação tributária, tendo sido incluído no ordenamento jurídico pela Lei Complementar nº 118/2005 com o fim de ser respeitada a competência privativa prevista no art. 146, inciso III, da Carta Maior. Nesta senda, tem-se ainda o Princípio da Especialidade, bem como o Princípio da Menor Onerosidade da Execução. Logo, somente seria possível a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação em instituição bancária, via sistema

Bacen-Jud, quando o devedor tributário tiver sido citado e não tiver pago o valor da dívida ou nomeado bem à penhora, e, caso este não tenha sido aceito por motivo justo e razoável, não terem sido encontrados outros bens penhoráveis nos termos do art. 185-A do CTN.

CONCLUSÃO

A Contribuição Sindical Rural tem natureza tributária, enquadrando-se na espécie das contribuições corporativas sindicais, motivo pelo qual está sujeita às normas fixadas pelo sistema tributário nacional, tanto para o lançamento quanto para a cobrança. No que diz respeito ao lançamento, o Superior Tribunal de Justiça firmou jurisprudência reconhecendo ser da Confederação Nacional da Agricultura, enquanto entidade sindical representante da classe dos produtores rurais, a competência para proceder ao lançamento de ofício da contribuição sindical rural, por força do artigo 606 da Consolidação das Leis do Trabalho, mediante simples extração das guias de recolhimento. Não se olvidou, todavia, o Superior Tribunal de Justiça, em fazer constar dos seus julgados a necessária observância a ser feita pela Confederação Nacional da Agricultura quanto aos requisitos do artigo 605 da Consolidação das Leis do Trabalho, no sentido de que se notifiquem os contribuintes por editais publicados em jornal de maior circulação local, durante três dias, com antecedência de dez dias da data fixada para recolhimento.Nesta senda, a prescrição obedece a regra inserta no artigo 174 do Código Tributário Nacional, e o prazo para cobrança se esgota após ultrapassados cinco anos do data do vencimento da guia de recolhimento. Conclui-se, ainda, que no art. 185-A do Código Tributário Nacional se tem o melhor embasamento para constrição de bens ou ativos financeiros para satisfação do crédito tributário. Assim, tem-se como artifício à satisfação da Contribuição Sindical Rural a indisponibilidade de bens e ativos financeiros a ser determinada pelo juiz mediante requerimento estruturado no referido dispositivo. Isso acarretará na proibição de o proprietário de bem ou de direito aliená-lo (transferir para outra pessoa a qualquer título) ou onerá-lo (dar em garantia, como nas hipóteses de hipoteca ou penhor), remanescendo para o proprietário, tão somente, a posse do bem e a percepção dos frutos, dele originados.

46 GONÇALVES, Eduardo Luz. Revista de Estudos Tributários, Porto Alegre: Síntese, IET, nº 148, ISSN 1413-7097, p.26-35. A Penhora On-line no Âmbito do Processo de Execu-ção Fiscal.47 GONÇALVES, Fernando Dantas Casillo. Revista de Estudos Tributários, Porto Alegre: Síntese, IET, nº 67, (maio, jun. 2009) p.223-235. Execução fiscal. Sistema Bacen-Jud. Penhora de dinheiro em depósito ou aplicação bancária. Artigos 655, Inciso I, e 655-A do CPC. Não Aplicação do artigo 185-A do CTN. Atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Conflito com a CF/1988 e o CTN. (Jurisprudência comentada) / Fernando Dantas Casillo Gonçalves.

Tal dispositivo se mostra aplicável diante de sua instituição ter se dado em conformidade com o art. 146, inciso III, da Constituição Federal, bem como ao atendimento aos princípios da Especialidade e da Menor Onerosidade da Execução.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008.GRASSELI, Odete. Penhora Trabalhista On-line. São Paulo: LTr, 2006.MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários ao código tributário nacional. São Paulo: Saraiva, 1998.PAULSEN, Leandro. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 12 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado/ESMAFE, 2010.SANTI, Eurico Marcos Diniz. Lançamento Tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. VELLOSO, Andrei Pitten. Constituição tributária interpretada 2. ed., rev., atual. e ampl. Porto Alegre Livraria do Advogado Editora, 2012.

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 34 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201335

Resumo A Contribuição Sindical Rural é um tributo inserido no sistema tributário brasileiro, sendo, pois, de pagamento obrigatório pelos seus sujeitos passivos. Este artigo se destina ao estudo de quem são estes sujeitos passivos, a partir da análise do Decreto-Lei 1.166/71, norma que regu-lamenta quem será considerado empregador rural para fins de cobrança da contribuição. Para tanto, serão analisados os conceitos essenciais ao entendimento do tema, como o conceito de empregador rural, bem como a definição de módulo rural.

Palavras-chave: Contribuição Sindical Rural – Sujeito Passivo – Empregador Rural – Módulo Rural

Abstract The Syndical Rural Contribution is a tribute inserted in the Brazilian tax system, it is therefore mandatory payment by taxpayers. This article is intended to study who these taxpayers, from the analysis of the Decree Law 1.166/71, the law that regulates employer who will be considered rural for purposes of payment of the contribution. For this, we analyzed the concepts essential to the understanding of the subject, as the con-cept of rural employer as well as the definition of rural module.

Keywords: Syndical Rural Contribution – Taxpayer – Rural Employer - Rural module

Sumário: Introdução – 1. Da legislação aplicável à Contribuição Sindical Rural – 2. O procedimento utilizado para o enquadramento rural – 3. O Decreto-Lei 1.166/71 e o enquadramento rural – 4. O uso de mão de obra alheia para a exploração da propriedade – 5. O módulo rural: definição da categoria a partir da dimensão da propriedade – 6. Quantificação do Módulo Rural – Conclusão.

Camila Mendes Nunes1

Tie Mineoka Berberian2

O ENQUADRAMENTO SINDICAL RURAL E SEUS CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO

INTRODUÇÃO

A Contribuição Sindical Rural é um tributo ínsito no sistema tributário brasileiro, previsto no artigo 149 da Constituição Federal de 1988 e nos artigos 578 e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho. Em sendo um tributo, seu pagamento é obrigatório pelos respectivos sujeitos passivos. Segundo a normativa supracitada, tal tributo é devido por todos os que participam de uma determinada categoria econômica. No caso da contribuição sindical rural, esta categoria econômica é a dos empregadores rurais. Resta saber, pois, quem é o sujeito passivo do tributo em questão, ou seja, quem será considerado empregador rural e, portanto, estará obrigado ao pagamento da contribuição da categoria. Este artigo destina-se a analisar as hipóteses de enquadramento sindical rural. Para tanto, serão estudadas as legislações aplicáveis à matéria, até chegar-se às hipóteses de enquadramento, entrando a fundo no estudo do Decreto-Lei 1.166 de 1971,

norma que regulamenta quem será considerado empregador rural para fins da cobrança da Contribuição Sindical Rural. Assim, serão examinados os conceitos inseridos na normativa e diretamente ligados ao enquadramento sindical rural, tais como a definição de empregador rural, e de módulo rural, para se alcançar um adequado entendimento sobre o tema.

1. DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

A Constituição Federal de 1937 foi a primeira a estabelecer a figura das contribuições sindicais no ordenamento jurídico brasileiro. Amaury Mascaro Nascimento, ao escrever sobre o tema enfatizou:

Primeira, a contribuição sindical, antes denominada imposto sindical, instituída pela Constituição de 1937, que atribuiu aos sindicatos o exercício de funções delegadas do Poder Público, o que na época justificou a tese sustentando a sua natureza tributária, foi regulamentada pelo Decreto-Lei n° 1402, de 1939, art. 3°, seguindo o Decreto-Lei n°2377, de

1940 e, finalmente, a Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943, competindo o Estado, por lei, disciplinar seu valor, a destinação e fiscalizar a sua arrecadação (CLT, arts. 578 a 610).3

O art. 3°, alínea “f” do Decreto-Lei n°1402/394 autorizou aos sindicatos a imposição de contribuições a todos aqueles que participam das profissões ou categorias representadas. Posteriormente, o Decreto-Lei n° 2377/40 ratificou a figura da contribuição sindical. Já, os requisitos para enquadramento sindical dos integrantes das categorias econômicas e profissionais referidas no Decreto-Lei n°1402/39, foram primeiramente instituídos pelo Decreto-Lei n°789/695. Atualmente, a Contribuição Sindical Rural – CSR encontra fundamento constitucional no art. 1496 da Carta Magna, bem como se ampara no art. 5787 e seguintes da CLT. Os elementos ensejadores do enquadramento sindical atualmente são regulados pelo Decreto-Lei nº 1.166/718. A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe:

Art. 579 - A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do

sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.

E segue a Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 580. A contribuição sindical será recolhida, de uma só vez, anualmente, e consistirá: III - para os empregadores, numa importância proporcional ao capital social da firma ou empresa, registrado nas respectivas Juntas Comerciais ou órgãos equivalentes, mediante a aplicação de alíquotas, conforme a seguinte tabela progressiva:

O Decreto-Lei nº 1.166/71 está em pleno vigor e foi devidamente recepcionado pela Constituição Federal de 1988, pelo que se evidencia da leitura das decisões do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região9, como exemplo a transcrita abaixo:

Contribuição sindical. Ação monitória. Confederação Nacional da Agricultura - CNA. Enquadramento do proprietário rural para efeito de sofrer a cobrança de contribuição sindical rural. Caso em que a defesa não negou

1 Especialista em Direito dos Contratos e Responsabilidade Civil pela UNISINOS. Advogada.2 Especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Advogada no escritório Gianelli Martins.

3 NASCIMENTO, Amaury Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva. 17ª ed. 2001. p. 852-853. 4 Art. 3o São prerrogativas dos sindicatos:a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses da profissão e os interesses individuais dos associados, relativos à atividade profissional;b) fundar e manter agências de colocação;c) firmar contratos coletivos de trabalho;d) eleger ou designar os representantes da profissão;e) colaborar com o Estado, com órgãos técnicos e consultivos no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a profissão;f) impor contribuições a todos àqueles que participam das profissões ou categorias representadas.5 Art. 1º Para efeito de enquadramento sindical, considera-se:I - trabalhador rural:a) a pessoa física que presta serviços a empregador rural, mediante remuneração de qualquer espécie;b) quem, proprietário ou não, trabalhe, individualmente ou regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma família indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração, ainda que com a ajuda eventual de terceiros;II - empregador rural:a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende a qualquer título atividade econômica rural;b) quem, mesmo em regime de economia familiar, e ainda que sem empregado, explora área que exceda o módulo rural ou outro limite que venha a ser fixado, para cada região, pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social.6 Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.7 Art. 578 - As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação do “imposto sindical”, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo.Art. 579 - A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.8 Decreto-Lei nº 1.166/71. Art. 1º Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se: I - trabalhador rural: a) a pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante remuneração de qualquer espécie; b) quem, proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma família, indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração, ainda que com ajuda eventual de terceiros; II - empresário ou empregador rural: a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistên-cia e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região; c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região. 9 No mesmo sentido o acórdão do Processo n°0013800-94.2008.5.04.0611, do mesmo Tribunal.

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a condição de empresária rural, defendo a tese de que a cobrança da contribuição sindical rural fere o princípio da liberdade sindical. Todavia, embora o princípio da liberdade sindical esteja insculpido no seu artigo 8º, a Constituição Federal, igualmente ratifica a contribuição sindical, de natureza compulsória e tributária, tal como prevista nos artigos 545 e 578 e seguintes da CLT e 217, inciso I, do CTN, cuja exigibilidade independe da vontade do contribuinte ou da condição deste ser filiado ou associado ao sindicato. Tem-se, ainda, que a Constituição Federal, ao conservar a organização sindical pelo sistema de categorias e o sistema confederativo, igualmente recepcionou o Decreto-Lei 1.166/71, que era aplicado no período anterior à sua promulgação concomitantemente com os artigos 511 ao 577 da CLT. Multa Moratória. Limitação. A multa moratória da contribuição sindical rural definida no art. 600 da CLT deve ser limitada nos termos do art. 412 do Código Civil, uma vez que não é razoável sua incidência de forma ilimitada, ultrapassando, inclusive, o valor devido a título da obrigação principal. Recurso da CNA parcialmente provido.(0000388-13.2011.5.04.0831 RO. Relator: Desembargador Flavio Portinho Sirangelo. Órgão Julgador: 7ª Turma. Julgado em 15/08/2012).

Esse também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal10. Não obstante a legislação superveniente ao Decreto-Lei n°1.166/71 - a Lei n°5.889/73 – esta não revogou a lei anterior, por expressa previsão no seu art. 19: “O enquadramento e a contribuição sindical rurais continuam regidos pela legislação ora em vigor”. Assim, para a Contribuição Sindical Rural o Decreto-Lei n°1.166/71 é a legislação aplicável. Por fim, cumpre esclarecer que, inserto na hierarquia das normas legais no Brasil, o Decreto-lei é um misto de decreto

e lei, originariamente oriundo de regimes de exceção (para os casos urgentes ou de interesse público relevante), com força e conteúdo de lei, mas sem a necessidade de aprovação do Poder Legislativo11. Diferentemente das demais figuras normativas previstas no art. 59 da Carta Constitucional12, as quais devem se submeter à aprovação do Legislativo. Portanto, encontra-se a “CSR” devidamente capitulada no ordenamento jurídico brasileiro. Sua natureza jurídica, inequivocadamente, é tributária e, por isso, trata-se de obrigação não facultativa imposta aos produtores e empregadores rurais, nos moldes que serão a seguir abordados.

2. O PROCEDIMENTO UTILIZADO PARA ENQUADRAMENTO RURAL

É de se esclarecer qual o procedimento utilizado para o enquadramento dos contribuintes como devedores da contribuição sindical rural e a consequente cobrança desse tributo. Com o intuito de facilitar a transmissão de dados cadastrais fornecidos pelos contribuintes para viabilizar seu enquadramento, foi firmado um convênio entre a Secretaria da Receita Federal - SRF e a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA. Para compreender o fundamento da opção das partes na celebração deste instrumento alguns esclarecimentos são necessários. O art. 4° do Decreto-Lei n°1.166/7113 legitimou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária a proceder ao lançamento e a cobrança da contribuição sindical rural e o Instituto assim seguiu na administração do procedimento até o

início dos anos 90. Posteriormente, a Lei n°8.022/90, por meio do art. 1°14, centralizou na Secretaria da Receita Federal a competência de administração da contribuição sindical rural e ainda do Importo sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR. Destarte, juntamente com a notificação de lançamento do “ITR” era também lançada a “CSR”15. Por fim, em 1994, o art. 24, inciso I da Lei n°8.84716 transferiu para a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil essa competência. A regra começou a viger a partir de 1° de janeiro de 1997. Neste diapasão, a notificação do lançamento da contribuição sindical rural passou a ocorrer de forma individual e dissociada ao lançamento do Importo sobre a Propriedade Territorial Rural. Uma vez que os dados necessários para o enquadramento sindical provinham do acervo da Secretaria da Receita Federal, que manteve a competência para administrar o “ITR”, o inciso II do artigo 17 da Lei nº 9.393/9617 autorizou a celebração do referido convênio entre as duas entidades (“CNA” e “SRF”). Barros18 ratifica o permissivo legal para a celebração do aludido ajuste:

[...] a Lei nº 9.393, através de seu artigo 17, inciso II, possibilitou a realização de convênios entre as confederações e a Secretaria da Receita Federal com a finalidade de fornecer dados cadastrais de imóveis rurais que possibilitassem a cobrança da contribuição sindical, implementado através da Instrução Normativa SRF nº 20, de 17 de fevereiro de 1998, e consubstanciado, especialmente quanto à CNA, em 21.05.98, alterado por Termo Aditivo em 31.03.99.

Reconhecendo a validade do instrumento pactuado, já se manifestaram os Tribunais Regionais do Trabalho, inclusive no voto do relator Sanvicente19, in verbis: “O convênio firmado entre a CNA e a Secretaria da

Receita Federal, como a própria recorrente informa, objetiva o repasse, pela Receita Federal à CNA, dos dados cadastrais e econômico-fiscais constantes da base de dados do Imposto Territorial Rural - ITR, referentes ao ano de 1990, atualizados. A recorrente também deixa claro que tais informações, entretanto, possuem caráter meramente declarativo, pois advém do conteúdo das informações constantes da declaração de ITR fornecidas pelo próprio contribuinte.”20 (g. n.).

Nos dizeres de Aparecido Travain Ferreira:

“nas ações ajuizadas em minha jurisdição, pelo que consta na inicial e pelo que se extrai dos documentos que com esta têm sido apresentados, a CNA sustenta o enquadramento do réu na condição de devedor do tributo cobrado, única e exclusivamente, com base nas informações cadastrais que lhe são fornecidas pela Secretaria da Receita Federal – SRF, através do convênio celebrado com aquele órgão em 18/05/1998” (...) “tudo feito na forma que lhe autoriza o art. 17, inc. II, da Lei 9.393/96”. (g. n.)

É de extrema importância frisar, finalmente, que os contribuintes ou seus sucessores devem informar à Receita Federal quaisquer alterações que suas propriedades venham a sofrer para que o cadastro esteja sempre atualizado, possibilitando o correto enquadramento e a decorrente cobrança do tributo. Portanto, evidenciada a forma pela qual ocorre o procedimento para enquadramento sindical rural dos contribuintes de determinadas categorias econômicas e profissionais, passa-se à análise do enquadramento rural e seus critérios de definição.

3. O DECRETO-LEI 1.166/71 E O ENQUADRAMENTO RURAL

O enquadramento rural do contribuinte da contribuição

10 Vistos. Cuida-se de recurso extraordinário interposto com fundamento no art. 102, III, a, da Constituição Federal, contra decisão proferida pela Quinta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que entendeu legítima a cobrança da contribuição sindical rural ajuizada pela Confederação Nacional da Agricultura - CNA. 2. Em suas razões, sustenta o recorrente, em resumo, que a decisão recorrida, ofende o artigo 8º, IV, da Constituição Federal. 3. Na conformidade da jurisprudência desta Corte, a contribuição sindical possui natureza tributária, sendo, pois, exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de filiação ao sindicato, nos termos do art. 8º, IV, in fine, da Constituição Federal. Nesse sentido, dentre outros, os RREE 198.092/SP, DJ de 11.10.1996; 176.638/SP, DJ de 29.11.1996, rel. min. CARLOS VELLOSO; 196.407/SP e 192.291, DJ de 02.5.1997, rel. min. MOREIRA ALVES,4. No que pertine à recepção do Decreto-Lei n.º 1.166/71,pela nova ordem constitucional, destaco a decisão no RE n.º 180.745/SP, rel. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de 08.5.1998:”Sindicato: contribuição sindical da categoria: recepção.A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578 CLT e exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua filiação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fine, da Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelo corporativista resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144, Pertence, RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694).”5. Do exposto, com base no art. 38, da Lei n.º 8.038, de 28 de maio de 1990 no art. 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se.Brasília, 14 de fevereiro de 2002.Ministro NÉRI DA SILVEIRA Relator. (STF - RE: 277654 SP, Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 14/02/2002, Data de Publicação: DJ 03/05/2002 P - 00079)11 FERREIRA, Pinto; Decreto legislativo, in “Enciclopédia Saraiva do Direito”, Volume 22, Saraiva, São Paulo, 1977.12 Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:I - emendas à Constituição;II - leis complementares;III - leis ordinárias;IV - leis delegadas;V - medidas provisórias;VI - decretos legislativos;VII - resoluções.13 Art 4º Caberá ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) proceder ao lançamento e cobrança da contribuição sindical devida pelos integrantes das catego-rias profissionais e econômicas da agricultura, na conformidade do disposto no presente decreto-lei.

14 Art. 1° É transferida para a Secretaria da Receita Federal a competência de administração das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, e para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a competência para a apuração, inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa.15 BARROS, Wellington Pacheco; BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 70.16 Art. 24. A competência de administração das seguintes receitas, atualmente arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal por força do art. 1º da Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990, cessará em 31 de dezembro de 1996:I - Contribuição Sindical Rural, devida à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), de acordo com o art. 4º do Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, e art. 580 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).17 Art. 17. A Secretaria da Receita Federal poderá, também, celebrar convênios com:II - a Confederação Nacional da Agricultura - CNA e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, com a finalidade de fornecer dados cadastrais de imóveis rurais que possibilitem a cobrança das contribuições sindicais devidas àquelas entidades.18 BARROS, Wellington Pacheco; BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 71.19 TRT da 4ª Região, 2a. Turma, 0013900-27.2008.5.04.0101 RO, em 13/10/2011, Juiz Convocado Raul Zoratto Sanvicente - Relator.20 FERREIRA, Aparecido Travain. Breves Considerações Sobre a “Contribuição Sindical Rural Patronal” e a sua Cobrança pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. Em periódico da Escola Superior da Magistratura, da 24ª Região, nº 8, 2006, págs. 09. Juiz Titular da Vara do Trabalho de Jardim (MS).

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 38 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201339

sindical rural obedece a regulamentação consagrada no Decreto-Lei 1.166/1971, que determina os critérios utilizados para a definição da respectiva categoria econômica. O Decreto-Lei 1.166 foi promulgado no dia 15 de abril de 1971 com o fim de regulamentar o enquadramento e a contribuição sindical rural. Nas alíneas do seu artigo 1º, inciso II, determina as hipóteses de enquadramento, definindo quem será considerado empresário ou empregador rural para a cobrança do tributo:

Art. 1º. Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se:II- empresário ou empregador rural:a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja igual ou superior a dois módulos rurais da respectiva região. (caput do artigo com redação dada pela Lei 9.701/98).

São três, portanto, as possíveis hipóteses de incidência (fatos geradores) e os possíveis contribuintes da contribuição. Assim, o artigo estabelece quem será considerado “empresário ou empregador rural” para efeito da cobrança da contribuição sindical rural, restringindo essa possibilidade a apenas três hipóteses: 1) ser empregador rural (alínea “a” do art. 1º do Dec-Lei 1.166/71); 2) explorar em regime de economia familiar imóvel rural de tamanho igual ou superior a 2 módulos rurais que lhe absorva toda força de trabalho e lhe garanta a subsistência (alínea “b” do art. 1º do Dec-Lei 1.166/71); 3) ser proprietário de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja igual ou superior a 2 módulos rurais (alínea “c” do art. 1º do Dec-Lei 1.166/71). Chama-se a atenção ao caráter positivo e taxativo das hipóteses elencadas no decreto. É uma restrição que a lei impõe de que apenas as hipóteses nela expressamente estipuladas serão hábeis a definir o sujeito passivo da obrigação tributária. Fazendo essa análise, explica Aparecido Travain Ferreira:

Não se pode inferir nenhuma outra presunção que não a de que são isentos da exação os casos não enquadrados nas hipóteses que o referido dispositivo estabelece, mormente

porque se trata de imposição tributária, sujeita, portanto, ao princípio da estrita legalidade.21

Portanto, qualquer hipótese que extrapole as previstas no supracitado dispositivo legal não poderá ensejar a cobrança da contribuição sindical rural. Diante do cenário posto, necessária a análise dos critérios trazidos pelo Decreto-Lei 1.1166/71 para a definição da categoria econômica dos empresários e empregadores rurais.

3.1. O USO DE MÃO DE OBRA ALHEIA PARA A EXPLORAÇÃO DA PROPRIEDADE

Como visto, a alínea ‘a’ do inciso II, do artigo 1º, do Decreto-Lei 1.166/71, determina como uma das hipóteses de incidência da contribuição sindical rural o fato de se explorar propriedade rural com a utilização de empregados. A própria alínea traz o conceito de empregador rural como a pessoa física ou jurídica que tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural. Assim, o produtor rural que explorar atividade rural com auxílio de mão de obra alheia será necessariamente sujeito passivo do tributo. Wellington Barros refere que deste enquadramento sobressaem dois pressupostos:

I) que alguém preste serviço eventual ou não e o faça com ou sem regime de subordinação a outrem, pessoa física ou jurídica mediante remuneração de qualquer espécie e II) que este alguém exerça uma atividade econômica rural.22

Indaga-se, quanto ao primeiro pressuposto, acerca do tipo de contratação exigida para a ocorrência do fato gerador. E não há outra conclusão a se chegar de que o artigo se refere a qualquer tipo de auxílio de mão de obra alheia, seja contratação celetista, seja prestação de serviço. Para a ocorrência do fato gerador, basta que se necessite em algum momento de auxílio de mão de obra alheia à familiar. Saliente-se que não é necessário que essa mão de obra alheia seja constante. Basta que se necessite dela, em algum momento, para a exploração da atividade rural. Como ocorre, por exemplo, com os produtores rurais que precisam de auxílio de mão de obra externa em época de plantio ou colheita.Wellington Pacheco Barros esclarece:

Para o decreto-lei, não há necessidade da existência de não eventualidade e subordinação entre o trabalhador e o empregador rural. A prestação de serviço eventual ou de safra, por exemplo, qualifica a pessoa como trabalhador rural.23

O autor ainda deixa claro que “o conceito de empregado utilizado pelo Decreto-Lei nº 1.166/71 é bem mais abrangente do que aquele estabelecido na CLT”24, justamente para explicar a desnecessidade de que seja configurada a não eventualidade e a subordinação entre o trabalhador e o empregador, sendo que o prestador de serviço também é considerado trabalhador rural. No segundo pressuposto, encontra-se uma dificuldade no que se refere à conceituação das atividades rurais, pois não podem ser confundidas com qualquer atividade econômica que possa ser explorada no campo. Isso porque só será empregador rural para fins do enquadramento sindical aquele que trabalhar com empregados para exploração de uma atividade econômica rural. Wellington Barros e Jane Berwanger destacam que o artigo 1425 do Decreto nº 55.891/65 (que regula parte do Estatuto da Terra), quando estabelece as modalidades de exploração rural para fins de determinação do módulo rural, pode ser utilizado como parâmetro para o enquadramento sindical do empregador rural26. Analisado o enquadramento sindical sob o critério do uso de empregados para a exploração de atividade rural, passa-se à análise do critério dimensão da propriedade para a definição da categoria.

3.2. O MÓDULO RURAL: DEFINIÇÃO DA CATEGORIA A PARTIR DA DIMENSÃO DA PROPRIEDADE

As alíneas ‘b’ e ‘c’ do inciso II, artigo 1º, do Decreto-lei 1.166/71 possuem outro critério para a definição da categoria econômica: o módulo rural. Passa-se à análise desse critério, registrando que o correto entendimento sobre tal disposição – trazida pelo Decreto-Lei 1.166/71 – deve partir necessariamente do estudo de como e porque surgiu a definição do módulo rural.Inicialmente, faz-se necessária diferenciação do módulo rural e do módulo fiscal. Tais medidas divergem entre si, mas muitas vezes são confundidas. O Estatuto da Terra – Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964 - inseriu no direito brasileiro as definições de módulo rural e módulo fiscal. Em seu artigo 50, §2º, refere que o módulo fiscal é expresso em hectares e será determinado levando-se em conta os seguintes fatores: a) o tipo de exploração predominante no Município; b) a renda obtida no tipo de exploração predominante; c) outras explorações existentes no Município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada. Wellington Pacheco Barros ensina que o módulo fiscal é uma espécie de módulo rural que conceitua a pequena, média e grande propriedade, servindo de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho27. Assim, enquanto o módulo rural é calculado para cada propriedade, o módulo fiscal é calculado para cada Município. Christiano Cassettari diferencia:

Módulo rural é calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de localização.Módulo fiscal, por sua vez, é estabelecido para cada Município, e procura refletir a área mediana dos módulos rurais dos imóveis rurais do Município.28

No tocante ao módulo rural, Wellington Pacheco Barros

21 FERREIRA, Aparecido Travain. Breves Considerações Sobre a “Contribuição Sindical Rural Patronal” e a sua Cobrança pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA. Em periódico da Escola Superior da Magistratura, da 24ª Região, nº 8, 2006, págs. 09. Juiz Titular da Vara do Trabalho de Jardim (MS), p.12.22 BARROS, Welington Pacheco e BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.58.

23 BARROS, Welington Pacheco e BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.56.24 BARROS, Welington Pacheco e BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.58.25 Art. 14. O dimensionamento dos módulos será feito, nos termos do art. 5º do Estatuto da Terra, para zonas típica, sendo, em cada zona, considerados os tipos de exploração de maior significação econômica que se incluam em uma das seguintes classes e subclasses:I - explorações hortigranjeiras, compreendendo os tipos de horticultura, floricultura, fruticultura anual e criação de caráter granjeiro, inclusive piscicultura, todas de ciclo curto, que admitam uma ou mais colheitas ou safras por ano, e realizadas com fins industriais ou comerciais para o abastecimento de grandes centros urbanos visando ao bem-estar e à obtenção de produtos alimentares. II - lavouras permanentes e temporárias, compreendendo os tipos de explotação vegetal não incluídos na classe I, qualquer que seja a finalidade, o ciclo de cultura (curto, médio ou longo) e a natureza do produto, de plantas herbáceas ou arbóreas mas não florestais, e independentemente da espécie, do número, da época e dos produtos das colheitas. III - pecuária de animais de médio e grande porte, compreendendo os tipos de explotação animal não incluídos na Classe I, qualquer que seja o ciclo de criação, a natureza do produto (carne, banha, leite, pele, couro, ou lã) e finalidade da criação (melhoramentos dos rebanhos, produção de leite, engorda ou abate), e independentemente da espécie, da época e do período das safras. IV - exploração de florestas naturais e cultivadas, compreendendo os tipos de exploração vegetal não incluídos nas Classes I e II, qualquer que seja o produto obtido (madeira, casca, folhas, frutos, sementes, raízes, resinas, essências ou látex), independentemente da espécie, das épocas e dos períodos das operações de explotação extrativa ou florestal.26 BARROS, Welington Pacheco e BERWANGER, Jane. Diagnose da Contribuição Sindical Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.59.27 De acordo com a Lei nº 8.629/93, considera-se: a) pequena propriedade - o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; b) média propriedade - o imóvel rural de área de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais.28 CASSETTARI, Christiano. Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 2012.p.29.

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analisa os parâmetros que foram base para a sua definição pelo Estatuto da Terra, referindo que o legislador agrário procurou criar uma medida de área

[...] que pudesse representar sua ideia de dimensionar a terra na quantidade mínima de ser possuída, o minifúndio, ou na quantidade máxima, o latifúndio, não pela exclusiva homogeneidade de seu tamanho, mas que considerasse em sua fixação a situação geográfica, geológica, climática e tipo de produção nela trabalhado.29

Em verdade, a lei não conceituou o módulo rural de maneira direta, mas o fez indiretamente no artigo 4º, da seguinte forma:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei definem-se:II - “Propriedade Familiar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;III - “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior;

Da análise do dispositivo legal, verifica-se que o módulo rural foi definido a partir do conceito de propriedade familiar. Barros interpreta a disposição legal conceituando módulo rural como

A propriedade rústica, de área contínua, qualquer que seja a sua localização, desde que se destine à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial, e seja executada, direta e pessoalmente, pelo agricultor e sua família, absorvendo-lhes toda a força de trabalho, garantindo-lhe a subsistência e o progresso social e econômico e sofrendo ainda variações pela região que se situe e o tipo de exploração que se pratique.30

Segundo Eduardo Alberto de Moraes Oliveira, o módulo rural

Trata-se de uma ficção do legislador, baseando em cálculos

aritméticos para fixar a área que segundo um critério pré-estabelecido de comparação seja o tamanho ideal da terra capaz de ser direta e pessoalmente explorada pelo agricultor e sua família, absorvendo toda força de trabalho da prole, a fim de garantir-lhe subsistência e progresso social e econômico.31

Do conceito extrai-se importante característica: o módulo rural foi considerado pelo Estatuto da Terra a área de terra possível de ser explorada pelo produtor e sua família, sem a necessidade de mão de obra externa. Silvia Opitz e Oswaldo Optiz, em análise da normativa, salientam que o proprietário que possui menos de um módulo rural não é considerado empregador rural32, apenas os que tiverem mais de dois módulos rurais. Pois bem, considerando conjuntamente todos esses fatores tentou-se uniformizar uma medida que fosse ideal.Wellington Pacheco Barros extrai seis características básicas atribuídas ao módulo rural a partir da definição recebida por lei, a saber: a) é uma medida de área; b) suficiente para absorver a mão de obra de agricultor e sua família; c) varia de acordo com a região do país; d) varia de acordo com o tipo de exploração da terra; e) deve possibilitar uma renda mínima ao homem que nele trabalha – salário mínimo; f) e lhe permitir progresso social33. É, pois, o módulo rural uma medida variável a cada propriedade, que considera os fatores específicos de cada uma delas, como seu tipo de exploração e a região onde está localizada, para determinar uma extensão de terra que pode ser considerada economicamente viável. Toda essa explanação é de suma importância para que se entenda o enquadramento sindical na categoria de empresário e empregador rural das alíneas ‘b’ e ‘c’ do inciso II, artigo 1º, do Decreto-Lei 1.166/71. E qualquer estudo sobre o tema não poderia deixar de citar o entendimento jurisprudencial34 – ainda que minoritário - que considera o critério de dimensão da propriedade inválido para a definição do enquadramento na categoria econômica dos empresários e empregadores rurais, refutando, pois, as alíneas ‘b’ e ‘c’ do inciso II, artigo 1º, do Decreto-Lei 1.166/71.35

Registra-se que o fundamento a respaldar tal entendimento é frágil, justamente pela noção correta que se

tem de módulo rural e de como e por que surgiu sua definição, conforme acima estudado. Acrescente-se a precisa lição de Wellington Pacheco Barros:

Aqui está o fator que diferencia o módulo rural de qualquer outra medida de área anteriormente estabelecida. A ausência de higidez, ao estabelecer o limite da área na capacidade laborativa do agricultor e de sua família, bem demonstra a preocupação do legislador com o homem do campo. Assim, não basta uma simples área para se ter a menor fração ideal de terra. Ela tem que ser suficiente para absorver o trabalho do homem que a detém e ainda o de sua família. Portanto, à capacidade laborativa do chefe de família, se soma a de seus familiares. Ocorre que isso é o transporte para a lei de uma realidade rural muito forte: a de que toda a família contribui com o trabalho nas lides do campo, com maior ou menor quantidade. Como a família média brasileira é de 4 (quatro) pessoas, tem-se que o tamanho do módulo rural deverá ser aquele que absorva a mão de obra desse conjunto familiar.36

É assim que a correta noção de propriedade familiar faz-se relevante, para se entender a motivação do legislador do Decreto-Lei 1.166/71 ao definir o empresário ou empregador rural com base na dimensão da propriedade. Ora, se um módulo rural é considerado a área de terra em uma família pode explorar com sua própria mão de obra, a partir de 2 (dois) módulos rurais presume-se necessário auxílio de mão de obra externa. E essa posição legislada pelo Estatuto da Terra é unânime dentre os doutrinadores da área, como se viu acima, e se reforça com o entendimento de Paulo Torminn Borges, quando conceitua o módulo rural como a área de terra que é trabalhada direta e pessoalmente por uma família de composição média e que “se revela necessária para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo ao progresso social e econômico da referida família”.37

Disso resulta que a medida de 2 (dois) módulos rurais constitui presunção legal baseada no tamanho da propriedade decorrente da pressuposição da necessidade de auxílio de mão de obra não familiar quando a propriedade ou o tipo de exploração sugerem sua exigência, quer pela via da contratação

celetista, quer pela contratação de trabalhador rural autônomo/avulso. É por isso que negar tal critério significa negar tal presunção legal e, por fim, a própria lei. O cálculo do módulo rural, como visto, é feito com base em vários fatores, como região e tipo de exploração da propriedade. Mas veja-se que o Decreto-lei faz a presunção legal de que, se a propriedade tiver mais de 2 (dois) módulos rurais, certamente será necessário lançar mão de empregados para que haja exploração eficaz, que atenda a sua função social. Certamente uma presunção adequada e razoável à realidade da categoria econômica, tanto que restou positivada. Não há como afastá-la, portanto.

3.3. QUANTIFICAÇÃO DO MÓDULO RURAL

Especificamente quanto à quantificação do módulo rural, Torminn ressalta que “na ordem prática, encontramo-lo, individualizado, no Certificado de Cadastro expedido pelo INCRA” 38. É o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – que faz o cálculo do módulo rural de cada propriedade e expede o Certificado de Cadastro do Imóvel Rural39, de acordo com os dados fornecidos pelo proprietário quando do cadastro do imóvel rural. Cassettari esclarece que essa dimensão será fixada, para cada zona homogênea, de forma distinta, pelo tipo de exploração que nela possa ocorrer. E complementa: “No caso de exploração mista, o módulo será calculado pela média ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados” 40. Portanto, a dimensão do módulo é variável de acordo com tais critérios: região homogênea, tipo de exploração e a média ponderada. Rafael Lima fala em Zona Típica41, ressaltando que o módulo será determinado de acordo com a zona em que o imóvel estiver situado42. O tipo de exploração são as atividades rurais que são desenvolvidas no imóvel rural, como: hortigranjeiras, lavouras permanentes e temporárias, pecuária, dentre outras.Assim, para cada zona típica haverá um número de módulo rural

29 PACHECO, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.1. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998 p.30.30 PACHECO, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.1. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p.30.31 OLIVEIRA, Eduardo Alberto de Moraes. O módulo e o fracionamento da propriedade rural. Juriscível do STF. São Joaquim da Barra: Legis Summa, 1977. V.55. p. 22.32 OPTIZ, Silvia e OSWALDO, Optiz. Curso Completo de Direito Agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.p.221.33 PACHECO, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.1. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998.p.31.34 Esse entendimento consiste em aplicar os artigos 2º, 3º e 4º da Lei 5889/73 para a definição do enquadramento sindical a partir da condição de empregador. Todavia, chama-se a atenção de que a mesma lei, no seu artigo 19, faz referência expressa para a contribuição sindical rural, determinando que: Art. 19. O enquadramento e a contribuição sindical rurais continuam regidos pela legislação ora em vigor; o seguro social e o seguro contra acidente do trabalho rural serão regulados por lei especial. Dessa forma, os artigos 2º, 3º e 4º da Lei 5889/73 não são aplicáveis à contribuição sindical rural.35 Exemplo dessa linha de entendimento o decisão do Recurso Ordinário 0026300-64.2007.5.04.0471, de relatoria do Desembargador Ricardo Tavares Gehling, do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região.

36 PACHECO, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. Vol.1. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998.p.31.37 BORGES, Paulo Torminn. Institutos básicos de Direito Agrário. 6.ed.São Paulo: Saraiva, 1991, p.34.38 BORGES, Paulo Torminn. Institutos básicos de Direito Agrário. 6.ed.São Paulo: Saraiva, 1991, p.34.39 Para que o INCRA possa expedir o Certificado de Cadastro, Rafael Augusto de Mendonça Lima lembra que “O imóvel rural tem que ser cadastrado no INCRA, obrigatoriamente, fato que também serve para identificá-lo”. LIMA, Rafael Augusto de Mendonça. Direito Agrário. Rio de Janeiro: Renovar, 1994. p. 215.40 CASSETTARI, Christiano. Direito Agrário. São Paulo: Atlas, 2012, 26.41 Wellington Barros registra que “Através de estudos antecedentes e gerais, o INCRA já concluiu que existem no País 242 (duzentas e quarenta e duas) regiões e sub-regiões, considerando sua homogeneidade e características econômicas e ecológicas”. BARROS, Wellington Pacheco. Contrato de Arrendamento Rural. Porto Alegre: Livraria do Advoga-do, 1998, p.28.42 LIMA, Rafael Augusto de Mendonça. Direito Agrário. Rio de Janeiro: Renovar, 1994, p. 216.

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a depender do tipo de exploração de propriedade. E, nesse contexto, Wellington Pacheco, faz interessante constatação:

Na multiplicação dos vários tipos de regiões e sub-regiões existentes vezes a possibilidade da variada atividade agrária, é encontrável 1.210 (um mil, duzentos e dez) tipos diferentes de módulo rural, sendo o menor deles de 2 (dois) hectares e o maior, de 120 (cento e vinte) hectares.43

Com base nesses critérios, o INCRA faz o cálculo do módulo rural, que, como visto, será único para cada propriedade. E, conforme o analisado nesse breve estudo, a medida do módulo rural de cada propriedade é determinante para o enquadramento sindical rural de acordo com o Decreto-Lei 1.166/71. Por esse motivo, o INCRA deve ter sempre todos os dados referentes aos imóveis rurais atualizados e completos – e isso depende do proprietário - para que o módulo rural seja quantificado de forma correta. O Decreto-Lei 1.166/71 é a legislação aplicável à matéria e definidora do enquadramento sindical rural, e encontra-se hoje em pleno vigor, na esteira do entendimento jurisprudencial majoritário44. Devem, pois, ser observados os critérios acima expostos para que se identifiquem os sujeitos passivos do tributo e o correto enquadramento sindical rural.

CONCLUSÃO

De todo o exposto, pode-se concluir que a Contribuição Sindical Rural – CSR, prevista no artigo 149 da Constituição Federal de 1988, e nos artigos 578 e seguintes da Consolidação das Leis Trabalhistas, é um tributo devido por todos que participam da categoria econômica dos empregadores e empresários rurais, sob os critérios definidos no Decreto-Lei nº 1.166/71. Referido decreto regulamenta quem será sujeito passivo da contribuição, determinando quem são considerados empregadores e empresários rurais, para os fins de sua cobrança. Assim, segundo a normativa, as hipóteses de enquadramento estão elencadas em seu artigo 1º, II, alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’. Em suma, de acordo com a alínea ‘a’ do inciso II, do artigo 1º, do Decreto-Lei 1.166/71, o produtor rural que explorar atividade rural com auxílio de mão de obra alheia, seja contratação celetista, seja prestação de serviço, será sujeito

passivo do tributo. As alíneas ‘b’ e ‘c’ do inciso II, artigo 1º, do Decreto-lei 1.166/71 possuem outro critério para a definição da categoria econômica: o módulo rural. O módulo rural é uma unidade de medida variável a cada propriedade, que considera os fatores específicos de cada uma delas, como seu tipo de exploração e a região onde está localizada. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – faz o cálculo do módulo rural de cada propriedade e expede o Certificado de Cadastro do Imóvel Rural, de acordo com os dados fornecidos pelo proprietário quando do cadastro do imóvel rural. A noção de propriedade familiar faz-se relevante, para se entender a motivação do legislador do Decreto-Lei 1.166/71 ao definir o empresário ou empregador rural com base na dimensão da propriedade. Isso porque o módulo rural é considerado a área de terra que uma família pode explorar com sua própria mão de obra, sendo que, a partir de 2 (dois) módulos rurais, presume-se necessário auxílio de mão de obra externa. Esta presunção legal é razoável à realidade da categoria - em que pese a posição jurisprudencial minoritária retro referida – e destaca, já na década de 70 do século passado, a função social da propriedade. Entende-se, ainda, que a manutenção dos critérios legais de enquadramento, além de transmitir segurança jurídica, consolida desideratos constituintes de realizarem-se funções sociais no exercício do direito de propriedade e, ainda, de estruturação de um sistema sindical forte, atuante e independente. Por isso, crê-se na total e efetiva recepção constitucional dos termos do Decreto-Lei 1.166/71. Por fim, conclui-se que o Decreto-Lei 1.166/71 é a legislação aplicável à matéria e definidora do enquadramento sindical rural, e encontra-se hoje em pleno vigor, na esteira do entendimento jurisprudencial majoritário. Assim, é a partir da ocorrência das hipóteses elencadas em seu artigo 1º, II, alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’ que serão identificados os sujeitos passivos do tributo, obrigados ao recolhimento da Contribuição Sindical Rural.

43 BARROS, Wellington Pacheco. Contrato de Arrendamento Rural. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 28.44 Ilustram esse entendimento várias decisões extraídas dos sites de diferentes Tribunais Regionais do Trabalho, conforme segue: processos de nº 0000815-47.2011.5.04.0851, 0001742-30.2011.5.04.0231 e 0053600-98.2007.5.04.0471, do TRT da 4ª Região; processos nº 01429-2009-059-03-00-8, 01083-2011-104-03-00-2 e 15444/07, do TRT da 3ª Região; e processos de nº 02839-2005-029-12-00-1 do TRT da 12ª Região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ResumoO objetivo deste artigo é abordar a disciplina infraconstitucional do ônus da prova nos processos de cobrança da contribuição sindical rural dos empregadores/empresários rurais, sua interpretação e aplicação pelos juízes na justiça do trabalho, e a teoria dinâmica do ônus proban-te. Demonstrar que, por tratar-se de exigência tributária, decorrente de informações prestadas pelo próprio contribuinte, caberá ao mesmo o ônus probatório, consoante disposto no artigo 333 inciso II do CPC. Demonstrar, ainda, que a distribuição dinâmica do ônus da prova na estruturação procedimental para a formação da decisão, deve ser aplicada nos processos que envolvam as contribuições sindicais rurais, pois possibilitará a efetiva tutela do direito em debate e a realização da justiça.Palavras chaves: Ônus da Prova; Contribuição Sindical Rural; Dinamização.

AbstractThe objective of this article is to approach the infraconstitutional discipline of the burden of proof in the process of collection of the Rural Sin-dicate Contribution (Tax), it´s interpretation and application by the Labor Court Judges, and the dynamics theory of probative onus. Also wants to demonstrate, treating about tax liability resulted from the information gave by the taxpayer, that he will be responsible to the probative onus, according to the art. 333, II, of the Civil Procedure Code. Also to prove, that the dynamic distribution of burden of proof in the formation of the judgment must be applied on the suits that discuss the Rural Sindicate Contribution, because it will enable the effective justice to the case.Key words: burden of proof; rural sindicate contribution (tax); dynamization

Sumário: Introdução. 1. A contribuição sindical rural e o ônus da prova no processo do trabalho. 1.1 – A aplicação do ônus da prova dinâmico no processo do trabalho. 2. A Súmula 126 do TST e seus contornos. Conclusão. Referências Bibliográficas.

Viviane Carvalho1 Alan Reis 2

estão obrigados ao pagamento da contribuição sindical, em favor do sindicato representativo da categoria, consoante os artigos 578 a 591 da CLT. Para que se determine a incidência ou não da contribuição em destaque, é necessário atentar para os requisitos descritos no inciso II, do artigo art.1ª do Decreto-Lei supracitado, que em síntese são: a existência de propriedade rural, sua atividade exploratória e o tamanho do módulo rural da região. Esses requisitos são investigados no processo através das provas e do procedimento probatório determinado, que determinará o conteúdo sentencial procedente ou não para a obrigatoriedade de pagar quantia a título de contribuição sindical rural. Desse modo, a distribuição do ônus da prova na estruturação procedimental para a formação da decisão é de extrema importância para os contornos do processo cuja finalidade é tutelar os direitos e realizar justiça. O artigo será divido em mais duas seções: na próxima, será analisada a sistemática do ônus probatório, o

enquadramento descrito no art. 1ª do Dec. Lei 1.166/71 e a teoria da dinamização do ônus da prova. Em seguida será abordada a Súmula 126 do TST. Por fim, com base no que foi visto nas seções anteriores serão tecidas as considerações finais. Com isto, espera-se contribuir para o enriquecimento do debate acerca da utilização da teoria da dinamização do ônus probatório e sua aplicação na matéria relativa à contribuição sindical rural.

1. A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL E O ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO DO TRABALHO.

O artigo 1º inciso II do Dec. Lei 1.166/71 estabelece as hipóteses de incidência da contribuição sindical rural da categoria empresária, conforme a seguir descrito:

Art.1 o Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se: (Redação dada pela Lei nº 9.701, de 1998) [...] II - empresário ou empregador rural: (Redação dada pela Lei nº 9.701, de 1998) a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural; b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região; (Redação dada pela Lei nº 9.701, de 1998) c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde

que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região. (Redação dada pela Lei nº 9.701, de 1998)

O enquadramento sindical do empresário/empregador rural se dá devido às informações prestadas pelo próprio contribuinte à Secretaria da Receita Federal por ocasião da Declaração Anual do Imposto Territorial Rural. Todo o ato referente à cobrança da CSR decorre de informações que são fornecidas exclusivamente pelo contribuinte, responsabilizando-se por todas as informações contidas nesse documento. Conforme o art. 6º da Lei nº 9.393/96, “O contribuinte ou o seu sucessor comunicará ao órgão local da Secretaria da Receita Federal (SRF), por meio do Documento de Informação e Atualização Cadastral do ITR - DIAC, as informações cadastrais correspondentes a cada imóvel, bem como qualquer alteração ocorrida, na forma estabelecida pela Secretaria da Receita Federal”. Ainda, determina o art. 8º da Lei nº 9.393/96 que “O contribuinte do ITR entregará, obrigatoriamente, em cada ano, o Documento de Informação e Apuração do ITR - DIAT, correspondente a cada imóvel, observadas data e condições fixadas pela Secretaria da Receita Federal”. No caso da contribuição sindical, o lançamento ocorre na modalidade de ofício, que dispensa a participação do contribuinte por determinação legal, de acordo com o artigo 1493 do Código Tributário Nacional combinado com o artigo 4º4 do Decreto-Lei nº 1.166/71 e artigo 245 da Lei nº 8.847/94. A ação de cobrança, então, será instruída com: a) cópias das guias anuais de recolhimento emitidas ao contribuinte dos

O ÔNUS DA PROVA E A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL DOS EMPREGADORES/EMPRESÁRIOS RURAIS.

INTRODUÇÃO A contribuição sindical rural está prevista no artigo 149 da Constituição Federal. Também no capítulo III do título V da Consolidação das Leis do Trabalho denominado “Da Organização Sindical”.A partir da promulgação da Emenda Constitucional n° 45 de 2004 houve a ampliação da competência da Justiça do Trabalho e os processos de cobrança dos valores devidos a título das contribuições sindicais rurais passaram a ser ajuizados nos foros trabalhistas. Desde então, amplo debate judicial e jurídico-acadêmico vem sendo travado. Dado aos contornos específicos da contribuição sindical rural e às diversas alterações legislativas ocorridas desde a promulgação do Decreto Lei 1.166/71, a Justiça do Trabalho prolata julgados distintos em suas diversas esferas, o que ressalta a importância da discussão acerca do ônus da prova. A contribuição sindical rural por seu caráter tributário atinge todos aqueles que participam de uma categoria econômica, independentemente da condição de filiado a que

3 Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos:I - quando a lei assim o determine;II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária;III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte;VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária;VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior;IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.4 Art 4º Caberá ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) proceder ao lançamento e cobrança da contribuição sindical devida pelos integrantes das catego-rias profissionais e econômicas da agricultura, na conformidade do disposto no presente decreto-lei.§ 1º Para efeito de cobrança da contribuição sindical dos empregadores rurais organizados em empresas ou firmas, a contribuição sindical será lançada e cobrada proporcional-mente ao capital social, e para os não organizados dessa forma, entender-se-á como capital o valor adotado para o lançamento do imposto territorial do imóvel explorado, fixado pelo INCRA, aplicando-se em ambos os casos as percentagens previstas no artigo 580, letra c , da Consolidação das Leis do Trabalho. § 2º A contribuição devida as entidades sindicais da categoria profissional será lançada e cobrada dos empregadores rurais e por estes descontado dos respectivos salários, to-mado-se por base um dia de salário-mínimo regional pelo número máximo de assalariados que trabalhem nas épocas de maiores serviços, conforme declarado no cadastramento do imóvel. § 3º A contribuição dos trabalhadores referidos no item I, letra b, do art. 1º será lançada na forma do disposto no art. 580, letra b, da Consolidação das Leis do Trabalho e recolhida diretamente pelo devedor, incidindo, porém, a contribuição apenas sobre um imóvel. § 4º Em pagamento dos serviços e reembolso de despesas relativas aos encargos decorrentes deste artigo, caberão ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) 15% (quinze por cento) das importâncias arrecadadas, que lhe serão creditadas diretamente pelo órgão arrecadador.

1 Especialista em Direito Público pela PUC-RS. Especialista em Direito e Economia pela UFRGS. Advogada.2 Advogado.

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respectivos exercícios devidos; b) demonstrativo de constituição do crédito tributário; c) editais publicados nos jornais de maior circulação local. As guias e o demonstrativo de constituição do crédito tributário expressam o ato declaratório da obrigação e constitutivo do crédito tributário. Portanto, face à presunção relativa de veracidade das informações lançadas nas guias e no demonstrativo, em eventual ação judicial, incumbirá ao contribuinte desconstituí-los comprovando que não se insere na categoria de empregador ou empresário rural descrita no artigo 1º6 inciso II do Dec. Lei 1166/71. A sistemática da disciplina infraconstitucional do ônus da prova está preconizada no artigo 8187 da Consolidação das Leis do Trabalho e nos artigos 3338 e 3969 do Código de Processo Civil. Destaca-se que a especificidade e a natureza da contribuição sindical rural, torna aplicável a regra do art. 333, II, do CPC, que estabelece:

“Art. 333 O ônus da prova incumbe:[...] II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.”

Assim, uma vez que as guias expressam o ato declaratório da obrigação e constitutivo do crédito tributário, os dados ali lançados possuem presunção relativa de veracidade. E por possuir tal presunção, de caráter relativo, o ônus de provar se há algum fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito em debate caberá ao réu/contribuinte, conforme artigo 333 inciso II do CPC. Nesse sentido já se manifestaram a 4ª e 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Paraná:

TRT-PR-17-08-2012 ENQUADRAMENTO SINDICAL. EMPREGADOR/EMPRESÁRIO RURAL. Os demonstrativos da constituição do crédito de natureza tributária da contribuição sindical do empresário ou empregador rural, devidamente emitidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, são dotados de fé pública e revelam o enquadramento sindical do réu como empresário/empregador rural. Os dados ali lançados para fins de contribuições sindicais rurais decorrem das informações prestadas pelo contribuinte à Receita Federal quando do pagamento do ITR, estando ao alcance dos recorrentes através de convênio firmado com a União, com base no art. 17, II, da Lei 9.393/96. Portanto, face à presunção relativa de veracidade das informações ali lançadas, incumbia ao réu desconstituir os documentos juntados aos autos, comprovando que não se inseria na denominação empregador ou produtor rural, ônus do qual não se desincumbiu. Sentença que se reforma.10

RT-PR-15-08-2008 ENQUADRAMENTO SINDICAL. EMPREGADOR/EMPRESÁRIO RURAL. Os ‘demonstrativos da constituição do crédito de natureza tributária da contribuição sindical do empresário ou empregador rural’, devidamente emitidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, são dotados de fé pública e revelam o enquadramento sindical do réu como empresário/empregador rural. Os dados ali lançados para fins de contribuições sindicais rurais decorrem das informações prestadas pelo contribuinte à Receita Federal quando do pagamento do ITR, estando ao alcance dos recorrentes através de convênio firmado com a União, com base no art. 17, II, da Lei 9.393/96. Portanto, face à presunção relativa de veracidade das informações ali lançadas, incumbia ao réu desconstituir os documentos juntados aos autos, comprovando que não se inseria na denominação empregador ou produtor rural, ônus do qual não se desvencilhou.11

No mesmo sentido, julgado recente da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul:

Contribuição sindical. Ação monitória. Confederação Nacional da Agricultura - CNA. Enquadramento do proprietário rural para efeito de sofrer a cobrança de contribuição sindical rural. Caso em que a CNA buscou a cobrança das contribuições assistenciais rurais, enquadrando o réu na alínea “a” do inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71 (referente a empregador rural), ao passo que a defesa alegou que o réu deixou de atuar como empregador desde que teve sérios problemas de saúde. Assim, o réu apresentou fato modificativo ao seu enquadramento como empregador rural e atraiu para si o ônus de comprovar tal alegação, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se desincumbiu.Honorários advocatícios. O percentual arbitrado deve ser adequado ao parâmetro usualmente utilizado nesta Justiça do Trabalho. Recurso provido em parte para reduzir para 15% sobre o valor da causa o montante arbitrado para os honorários advocatícios.12

Apresentada de forma sintética a visão geral sobre o regramento da matéria, passa-se à análise da teoria dinâmica do ônus da prova.

1.1. A APLICAÇÃO DO ÔNUS DA PROVA DINÂMICO NO PROCESSO DO TRABALHO.

O ônus da prova na CLT está disciplinado no artigo 818, o qual dispõe que o “ônus de provar as alegações incumbe à parte que as fizer”. No entanto, é usual, conforme demonstrado acima, a aplicação complementar e subsidiária da regra do artigo 333 do CPC ao processo trabalhista, entendendo-se o artigo consolidado como não suficientemente claro13. Os artigos supracitados apresentam disposição estática, geral e abstrata do ônus da prova, os quais distribuem prévia e abstratamente o encargo probatório. Esse caráter estático vai de encontro ao referencial teórico do processo na contemporaneidade o qual insere valores constitucionais14 no iter processual através do postulado formalismo-valorativo.15

Segundo Pontes de Miranda16, “o direito processual é

direito rente à vida e há de estar em contato permanente com a vida, a que ele serve, por ser, como outros ramos do direito, processo de adaptação social, porém, mais do que os outros, dinâmico”. Uma vez que, a jurisdição, no Estado Constitucional Contemporâneo, baseia-se na premissa de que a lei coaduna-se com os princípios constitucionais de justiça e de direitos fundamentais, o juiz desempenha a importante tarefa de investigar para declarar a verdade real17, ou seja, a verdade rente à realidade da vida. Líbia Pires18 declara que a “demanda trabalhista, como qualquer outro processo judicial, representa a busca de respostas a uma angústia humana”, e enfatiza que “o processo trabalhista requer uma democracia substancial” o que leva o juiz a ser um “ator ativo” na investigação das verdades processuais, bem como na promoção da igualdade processual. Segundo o artigo 339 do CPC, ninguém se exime do dever de colaborar com o poder Judiciário para o descobrimento da verdade. Portanto, a efetiva colaboração das partes com o poder judiciário, para alcançar a verdade rente à realidade da vida e formar o material de convicção do juiz, é regra que se impõe forte ao postulado do formalismo-valorativo processual. A jurisdição, através do processo, deve tornar viável a tutela prometida pelo direito daqueles contemplados no artigo 58919 da CLT, consubstanciados pelo artigo 14920 da CF. Essa viabilidade será efetivada pela dinamização do ônus da prova, pois o ônus probatório será deslocado àquele que detiver melhores condições técnicas, profissionais ou fáticas para produzir provas, independentemente da condição de autor ou de réu, de se tratar de fatos constitutivos, impeditivos, modificativos ou extintivos. O ônus da prova dinâmico flexibilizará a estaticidade do dispositivo legal, transferindo maior peso probatório à parte que possui melhores condições de produzir a prova cabal do direito em jogo, garantindo às partes a observância do direito fundamental ao processo justo (art. 5º, inciso XXXV da CF21). Nesse contexto, o juiz, ao estruturar o ônus dinâmico no processo22, fará com que se diminua a conduta oportunista das partes, na medida em que incentivará o comportamento cooperativo. Esse comportamento cooperativo na estruturação

5 Art. 24. A competência de administração das seguintes receitas, atualmente arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal por força do art. 1º da Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990, cessará em 31 de dezembro de 1996: I - Contribuição Sindical Rural, devida à Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), de acordo com o art. 4º do Decreto-Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, e art. 580 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); II - Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), prevista no item VII do art. 3º da Lei nº 8.315, de 23 de dezembro de 1991.6 Art. 1º Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se: [...]II - empresário ou empregador rural:a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistên-cia e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região.7 Art. 818 - A prova das alegações incumbe à parte que as fizer.8 Art. 333. O ônus da prova incumbe:I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando:I - recair sobre direito indisponível da parte;II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.9 Art. 396. Compete à parte instruir a petição inicial (art. 283), ou a resposta (art. 297), com os documentos destinados a provar-lhe as alegações.10 TRT-PR-02547-2011-089-09-00-7-ACO-37034-2012 - 6A. TURMA Relator: SÉRGIO MURILO RODRIGUES LEMOS Publicado no DEJT em 17-08-201211 TRT-PR-03451-2007-658-09-00-0-ACO-28600-2008 - 4A. TURMA Relator: LUIZ CELSO NAPP Publicado no DJPR em 15-08-2008

12 RO 0000815-47.2011.5.04.0851, 7ª Turma do TRT4, Relator Flávio Portinho Sirangelo. Publicado no DJRS em 18.04.2013.13 Para um aprofundamento ônus dinâmico da prova no processo trabalhista, consulte PIRES, Líbia da Graça. Teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova no processo do trabalho. Tese de Doutorado, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, 2011. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2138/tde-04052012-101854/pt-br.php> Acesso em: 30/04/2013.14 CARPES, Artur. Ônus Dinâmico da Prova. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 37.15 Para uma abordagem da distribuição do ônus da prova através do formalismo-valorativo, consulte ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.16 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1974, V. 1 p. XLVII. 17 ALVARO DE OLIVEIRA, op.cit., p.50.18 PIRES, Líbia da Graça. Teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova no processo do trabalho. Tese de Doutorado, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, 2011, p. 8.

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do procedimento probatório diminuirá a assimetria de informação no processo, o que facilitará, em termos ótimos, a produção da prova cabal para esclarecer a verdade das alegações fáticas que constituem a controvérsia jurídica. Como recurso analógico, aponta-se que o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, através da relatoria da juíza Celita Carmen Corso, lavrou acórdão no processo nº 00353-2007-009-02-00-01, discutindo o ônus dinâmico da prova na questão de pagamento de comissões em recibo, conforme segue:

(...) Por fim, tangenciando a questão da integração das “comissões” referente a todo o período do contrato de trabalho, cumpre referir que, à luz da teoria da distribuição dinâmica das cargas probatórias, positivada no art. 6º, VIII, do CDC, o ônus da prova incumbe a quem, pelas circunstâncias do caso concreto, se encontre em melhores condições para produzir a prova, visando a garantir maior efetividade à tutela jurisdicional.Neste sentido, confira-se precedente do STJ: “A teoria da dinâmica da prova transfere o ônus para a parte que melhores condições tenha de demonstrar os fatos e esclarecer o juízo sobre as circunstâncias da causa”. (STJ - REsp 316316 – excerto do voto do Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar - DJ 12.11.2001)Na espécie - considerando que o relatório de produtividade dos empregados é documento afeto à reclamada - entendo que esta possui melhores condições de comprovar que

não pagava qualquer percentual (comissões) sobre o seu faturamento, decorrente dos contratos de arrendamento celebrados pelo reclamante, bastando, para tanto, colacionar os relatórios atinentes a todo o período do contrato de trabalho. Se assim não o fez, omitindo-se deliberadamente, deve sofrer as consequências do descumprimento deste ônus processual, vale dizer, a procedência do pleito autoral. (grifo nosso)23.

A dinamização do ônus probante ante a especificidade e a natureza da contribuição sindical rural, uma vez desconsiderada a presunção de veracidade das informações contidas nas guias de recolhimento e demonstrativo de débito, é de fundamental importância para que se atinjam os fins constitucionais do processo. Em relação à contribuição sindical rural através da relatoria do juiz Cássio Colombo Filho, no processo 79021-2006-670-09-00-2 se manifesta a 3ª Turma do Tribunal Regional do Paraná:

TRT-PR-18-07-2008 CNA - Contribuição Sindical Rural. Trata-se de obrigação propter rem. Proprietários de terra - réus - têm maior aptidão para provar que a propriedade não se destina à atividade agropecuária, bem como o tamanho do módulo rural para que se determine a incidência ou não da contribuição em destaque. Não se desincumbindo de tal ônus, devida é a contribuição sindical rural. Honorários advocatícios devidos pela mera sucumbência. Ofícios ao MDA - INCRA - para apuração da utilidade e destinação

do imóvel e à Secretaria da Receita Federal do Brasil para conferência das alíquotas do imposto territorial sobre a propriedade rural (ITR).24

Importante registrar que a relativização da disciplina do ônus probante deve se conformar com a segurança jurídica, o que se dará através da atuação judicial ao estruturar critérios seguros para sua aplicação. Há discussão de que provar um fato negativo ou mesmo a posição de hipossuficiência da parte constitui-se em probatio diabolica25, que se caracteriza por ter produção extremamente difícil, ou mesmo, impossível. Nesse sentido, não se pode considerar o empregador rural hipossuficiente, através da alegação de que imputar ao mesmo o ônus de provar que não é empregador rural constituiria probatio diabolica visto que teria que provar fato negativo. Deve-se perceber que para os proprietários/empregadores rurais não há flagrante dificuldade nos esforços de prova, visto que detém a legitimidade de requerer os certificados de imóveis rurais junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e é são responsáveis pelas informações declaradas e todos os documentos referentes ao imóvel rural. Assim, a razão desaparece no caso, pois não há hipossuficiência. Ainda há de ser considerado que o lançamento da contribuição sindical rural se dá na modalidade de ofício, o que, igualmente, demonstra que não há impossibilidade de produzir prova, visto que as informações lançadas baseiam-se nas próprias declarações dos contribuintes. Por fim, importante registrar que o Projeto de Lei para o novo Código de Processo Civil – Projeto de Lei 8.046/2010, aprovado pelo Senado Federal, e já tramitando na Câmara Federal – regulamentará o ônus dinâmico da prova em seu artigo 35826, o que possibilitará uma uniformização da aplicação da teoria do ônus dinâmico ao caso específico da contribuição sindical rural.

2. A SÚMULA 126 DO TST E SEUS CONTORNOS.

19 Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho:I - para os empregadores:a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente; b) 15% (quinze por cento) para a federação;c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; ed) 20% (vinte por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário’; II - para os trabalhadores:a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;b) 10% (dez por cento) para a central sindical; c) 15% (quinze por cento) para a federação;d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e e) 10% (dez por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário;§ 1º O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a que estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação dos créditos previstos neste artigo.§ 2º A central sindical a que se refere a alínea b do inciso II do caput deste artigo deverá atender aos requisitos de representatividade previstos na legislação específica sobre a matéria.20 Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União.§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo:I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços;III - poderão ter alíquotas:a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro;b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. § 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei.§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez.

As discussões travadas no juízo primário quanto à disciplina do ônus da prova é comumente finalizada nesse mesmo juízo, visto que os recursos de revista interpostos para obter posicionamento do Tribunal Superior quanto à interpretação de norma aplicável ao caso, não são recebidos em virtude do disposto na Súmula 126 do TST. A súmula 126 do TST dispõe que é incabível reexaminar questões de prova em sede recurso de revista ou embargos. Reexaminar questões de provas significa reapreciar matéria fática. No foco desse estudo, não se trataria de rediscutir a prova e, tampouco, a matéria fática. Mas de debater quais são os documentos necessários para instruir a demanda e qual a estruturação do ônus da prova que, no caso da contribuição sindical rural, atende os fins processuais e constitucionais da controvérsia em tela. Em uma apreciação ponderada dos artigos 578 e seguintes da CLT, é possível vislumbrar que os documentos para instrução da ação de cobrança são os únicos previstos e exigidos em lei para o processamento da demanda. O §1º do art. 583 combinado com o art. 587, ambos da CLT, referem que o recolhimento da contribuição sindical dos empregadores/empresários obedecerá ao sistema de guias. Logo, a guia de recolhimento é documento exigido em lei e a sua juntada com a inicial é fundamental para a formação do conceito de prova. Os artigos 580 e 581 da CLT apresentam a necessidade e a modalidade da constituição do cálculo da contribuição sindical rural. Deste modo, o demonstrativo de constituição do crédito tributário é outro documento essencial à formação da prova. Finalmente, o art. 605 da CLT dispõe sobre o documento que, derradeiramente, configura o conceito de prova da notificação que cobra a contribuição sindical rural, qual seja, o edital concernente ao recolhimento do imposto sindical. Desse modo, nos recursos de revista seria viável a análise da norma aplicável ao caso, a definição do seu alcance

21 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:[...]XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;22 E não se diga que o juiz do trabalho não possua tal prerrogativa. O artigo 765 da CLT o autoriza a conduzir o processo, prescrevendo que “os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas”.23 TRT-SP- RO 00353-2007-009-02-00-01- 18ª Turma. Publicado no DJSP em 25-08-2010.24 TRT-PR-79021-2006-670-09-00-2-ACO-26105-2008 - 3A. TURMA. Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO. Publicado no DJPR em 18-07-2008. 25 CARPES, Artur. op.cit., p.90.26 Art. 358. Considerando as circunstâncias da causa e as peculiaridades do fato a ser provado, o juiz poderá, em decisão fundamentada, observado o contraditório, distribuir de modo diverso o ônus da prova, impondo-o à parte que estiver em melhores condições de produzi-la.§ 1º Sempre que o juiz distribuir o ônus da prova de modo diverso do disposto no art. 357 deverá dar à parte oportunidade para o desempenho adequado do ônus que lhe foi atribuído.

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ou conteúdo, especialmente por se tratar, in casu, de “matéria adstrita” ao instituto da presunção de veracidade juris tantum (artigo 334, inciso IV, do CPC).27 Portanto, é necessária a releitura dos recursos de revista interpostos no caso da contribuição sindical rural, abordando a matéria dos documentos e da disciplina do ônus probante, visto que não se trata de mero revolvimento dos fatos probatórios. Resulta da análise a necessidade de olhar cuidadoso aos Recursos de Revistas decorrentes de processos em que se busca o pagamento da Contribuição Sindical Rural. Discutir-se, nestes, o rol de documentos necessários à prova e, ainda, a disciplina do ônus probante, são conteúdos técnicos, matéria de direito e não ensejam, de forma alguma, revolvimento de fatos e provas.

CONCLUSÃO

Este artigo abordou a disciplina do ônus da prova nos processos de cobrança da contribuição sindical rural dos empregadores/empresários rurais, demonstrando que o direito processual tem o dever de responder à realidade da vida. Para que se alcance essa realidade, o juiz desempenha a importante tarefa de investigar para declarar a verdade para o que deve estruturar o procedimento probatório mais eficiente ao caso concreto. Inicialmente demonstrou-se a relevância do estudo no seio jurídico frente aos diversos julgados existentes na esfera

27 Art. 334 - Não dependem de prova os fatos: [...] IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

trabalhista. Na segunda parte, demonstrou-se a natureza sindical, o enquadramento do empresário/empregador rural, a disciplina infraconstitucional do ônus da prova e a teoria dinâmica do ônus probante. Partilha-se do entendimento de que a natureza jurídica da contribuição sindical rural invoca a aplicação do artigo 333, II do CPC, levando o réu ao encargo de demonstrar fatos impeditivos, modificativos e extintivos ao direito do autor (CNA) em forçar o cumprimento de seu direito (CSR). Nesse contexto, uma vez não considerada a presunção relativa de veracidade das informações contidas nas guias de recolhimento e demonstrativo de débito, entende-se que a dinamização do ônus probante na estruturação procedimental para a formação da decisão é a melhor técnica para a garantia da observância dos fins constitucionais do processo. Por fim, abordaram-se os contornos da súmula 126 do TST e sua inaplicabilidade frente aos recursos de revista interpostos nos casos de discussão acerca do ônus da prova nas hipóteses de enquadramento ou outros fatos que tornem o conteúdo das guias e do demonstrativo de débito da CNA como ponto de partida. Com o texto, procurou-se contribuir para o debate acerca da estruturação da disciplina infraconstitucional do ônus da prova nos processos de cobrança da contribuição sindical rural dos empregadores/empresários rurais perante a Justiça do Trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 1. 24ª ed. São Paulo: Altas, 2013.______________________ Lições de Direito Processual Civil. Vol. 2. 24ª ed. São Paulo: Altas, 2013.CARPES, Artur. Ônus Dinâmico da Prova. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.PIRES, Líbia da Graça. Teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova no processo do trabalho. Tese de Doutorado, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, 2011. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de processo civil. V. 1Rio de Janeiro: Forense, 1974.VELJANOVSKI, Cento. Economics Principle of Law. New York. Cambridge University Press. 2007.

A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL: DECISÕES JUDICIAIS IMPORTANTES

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 52 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201353

ACÓRDÃO: 0000815-47.2011.5.04.0851 RO Fl. 1DESEMBARGADOR FLAVIO PORTINHO SIRANGELOÓrgão Julgador: 7ª TurmaRecorrente: ALDO PEREIRA GIUDICE FILHO - Adv. Edinara Teixeira de enezesRecorrido: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL - CNA - Adv. Luciana Farias Origem: Vara do Trabalho de Sant’ana do LivramentoProlator da Sentença: JUÍZA TATYANNA BARBOSA SANTOS KIRCHHEIM

E M E N T A: Contribuição sindical. Ação monitória. Confederação Nacional da Agricultura - CNA. Enquadramento do proprietário rural para efeito de sofrer a cobrança de contribuição sindical rural. Caso em que a CNA buscou a cobrança das contribuições assistenciais rurais, enquadrando o réu na alínea “a” do inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71 (referente a empregador rural), ao passo que a defesa alegou que o réu deixou de atuar como empregador desde que teve sérios problemas de saúde. Assim, o réu apresentou fato modificativo ao seu enquadramento como empregador rural e atraiu para si o ônus de comprovar tal alegação, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se desincumbiu. Honorários advocatícios. O percentual arbitrado deve ser adequado ao parâmetro usualmente utilizado nesta Justiça do Trabalho. Recurso provido em parte para reduzir para 15% sobre o valor da causa o montante arbitrado para os honorários advocatícios.

A C Ó R D Ã OVistos, relatados e discutidos os autos.ACORDAM os Magistrados integrantes da 7ª Turma do TribunalRegional do Trabalho da 4ª Região: preliminarmente, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso quanto à arguição de contradição da sentença que condenou a CNA ao pagamento das contribuições sindicais e o réu em custas e honorários assistenciais, por ausência de objeto. No mérito, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso do réu para reduzir para 15% sobre o valor da condenação o montante arbitrado para os honorários advocatícios.Intime-se.Porto Alegre, 10 de abril de 2013 (quarta-feira).

R E L A T Ó R I OO réu recorre da nova sentença que, após o retorno dos autos à origem com determinação de exame do mérito do pedido, julgou procedente em parte a ação ordinária de cobrança ajuizada pela CNA.Preliminarmente, invoca contradição da sentença que condenou a CNA ao pagamento das contribuições sindicais e o réu em

custas e honorários assistenciais.No mérito, busca a absolvição da condenação ao pagamento de “contribuições sindicais rurais especificadas nos demonstrativos de débito e guias de recolhimento juntados com a petição inicial, referentes aos anos de 2007, 2008 e 2010, com acréscimo de juros e multa na forma do artigo 2º, I, II e parágrafo único, da Lei 8.022/90, afastada a aplicação do artigo 600 da CLT”. Sustenta a irregularidade da cobrança por meras “guias de recolhimento”, sem a observância dos requisitos legais estabelecidos para o lançamento e constituição do crédito tributário. Quanto ao seu enquadramento na condição de empresário rural, alega que desde 2006 deixou de explorar sua propriedade rural. Por fim, pretende a reversão da obrigação ao recolhimento de custas e pagamento de honorários advocatícios.Com contrarrazões da CNA, vêm os autos a este Tribunal para julgamento.É o relatório.

V O T ODESEMBARGADOR FLAVIO PORTINHO SIRANGELO (RELATOR):Preliminarmente.O réu invoca contradição da sentença que condenou a CNA ao pagamento das contribuições sindicais e o réu em custas e honorários assistenciais.Sem objeto a arguição.Verifico que, embora as partes não tenham oposto embargos declaratórios à sentença, meio processual adequado para sanar defeito de “contradição”, o juízo a quo já corrigiu de ofício o erro material ora apontado, nos termos do despacho da fl. 174, verbis:“Vistos, etc. ... Com base no que preceitua o art. 897-A, parágrafo único da CLT, “ex-offício” corrijo erro material configurado no “decisum” da sentença da fl. 157 para que, onde consta: “no mérito, julgo PROCEDENTE EM PARTE o pedido, para condenar CNA - CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL a pagar a ALDO PEREIRA GIUDICE FILHO (réu)” passe a constar “no mérito, julgo PROCEDENTE EM PARTE o pedido, para condenar ALDO PEREIRA GIUDICE FILHO (réu) a pagar a CNA - CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL...”., mantendo-se os demais termos do decisum.Intimem-se as partes.Em 22/11/2012.”Assim, não conheço do recurso no aspecto.No mérito.1. Irregularidade da cobrança. Ausência de lançamento.O réu renova a alegação, não apreciada pela sentença, de irregularidades da cobrança por meras “guias de recolhimento”, sem a observância dos requisitos legais estabelecidos para

o lançamento e constituição do crédito tributário. Diante da omissão da sentença, requer o pronunciamento deste juízo ad quem sobre o tema.A matéria não comporta mais discussão.A controvérsia relativa às irregularidades envolvendo o lançamento e as guias de recolhimento já foi solucionada pelo acórdão anterior que, a par da regra geral do art. 145 do CTN, segundo o qual o lançamento é convalidado deveria passar diretamente para o exame do enquadramento ou não do réu na condição de empresário rural, uma vez que compareceu à audiência e apresentou contestação à pretensão de constituição da dívida.Portanto, a sentença foi pronunciada dentro dos limites da matéria devolvida, descabendo novo pronunciamento sobre matéria já decidida.De resto, a legalidade da constituição do crédito passa pela análise do enquadramento do réu no inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/7, tema a ser apreciado na sequência.Nego provimento.2. Enquadramento sindical.O réu busca a absolvição da condenação ao pagamento de “contribuições sindicais rurais especificadas nos demonstrativos de débito e guias de recolhimento juntados com a petição inicial, referentes aos anos de 2007, 2008 e 2010, com acréscimo de juros e multa na forma do artigo 2º, I, II e parágrafo único, da Lei 8.022/90, afastada a aplicação do artigo 600 da CLT”.A sentença considerou ser “incontroverso que o requerido é proprietário de imóvel rural com mais de um módulo rural e o só fato deste não ter atuado como empregador rural, conforme alegado na defesa, ou seja, a alegação de que não possui empregados, não lhe exclui a obrigação de responder pela contribuição sindical rural, em face do que estabelece o art.1º do Decreto Lei nº 1.166/71”. Complementou no sentido de que: “O fato gerador da contribuição sindical rural, deste modo é o enquadramento do empregador rural definido de conformidade com os incisos I e II do artigo 1º do referido Decreto-Lei nº 1.166/71, acima destacado. Presentes os referidos requisitos, verifica-se a responsabilidade tributária do empregador/empresário rural, sendo certo que o fato gerador da contribuição sindical rural está atrelado ao exercício da atividade econômica rural, sendo irrelevante se o sujeito que desenvolve tal atividade é ou não proprietário do imóvel. Também o fato do embargante possuir imóveis arrendados para terceiros não lhe afasta a condição de contribuinte, tendo em vista que também os arrendamentos são forma de exploração da atividade econômica rural.O embargante não fez prova das atividades efetivamente desenvolvidas em suas glebas e o fato do lançamento da contribuição sindical ter sido procedido com base nas

informações prestadas pela Secretaria da Receita Federal, pelosdados da declaração anual do Imposto Territorial Rural, torna presumível que o embargante implementa os requisitos que lhe habilitam como sujeito passivo do tributo, nos termos do Decreto n.º 1.166/71, mormente quando o este sequer comprovou eventual equívoco da Secretaria da Receita Federal. Além disso, pelas declarações juntadas com a defesa, vê-se que nos anos de 2007 e 2008 o requerido declarou uma propriedade de 1.017,8 hectares, com áreas utilizadas na atividade rural (fls.90/103). No ano de 2010, foi declarada uma área de 551,0 hectares, igualmente com parte da propriedade utilizada na atividade rural (fls.104/110). De tal modo, resulta procedente a presente ação de cobrança, porquanto embasas nos dados informados à Receita Federal pelo próprio contribuinte.”Em seu recurso, o réu alega, em síntese, que desde 2006 deixou de explorar sua propriedade rural. Sustenta que tampouco possui mais de uma propriedade rural, o que inviabiliza o seu enquadramento na alínea “c” do inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71. Afirma ser do arrendatário a responsabilidade pela contribuição sindical rural da parte da propriedade que arrendou.A questão a ser resolvida, portanto, é saber se a situação do réu se enquadra nas hipóteses do inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71 e se existem provas das alegações postas em contestação ora renovadas.Inicialmente, destaco que, em inúmeros julgamentos proferidos por esta Turma, tem-se adotado tese no sentido de que incumbe à CNA demonstrar o enquadramento do réu como produtor, empresário ou empregador rural, a fim viabilizar a cobrança da contribuição sindical rural por ela buscada. No caso, contudo, verifico que a CNA buscou a cobrança das contribuições assistenciais rurais dos exercícios de 2007, 2008 e 2010, enquadrando o réu na alínea “a” do inciso II do artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71 (referente a empregador rural), conforme evidenciam as guias de recolhimento juntadas às fls. 05/07. Ao seu turno, a defesa alegou que o réu “deixou de atuar como empregador desde que teve sérios problemas de saúde, desde o início de 2006”.Assim, o réu apresentou fato modificativo ao seu enquadramento como empregador rural e, dessa forma, atraiu para si o ônus de comprovar tal alegação, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se desincumbiu.Inexiste prova no sentido de que o réu deixou de explorar economicamente a terra, pessoalmente ou através de preposto, com a utilização de empregados, após 2006.Nada obstante tenha comprovado pela “nota de alta” da fl. 89 que esteve internado por 20 dias entre maio e junho de 2006,

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 54 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201355

nas declarações de imposto sobre a propriedade rural referentes aos exercícios de 2007 e 2008, fls. 93 e 100 respectivamente, declarou a utilização de 100% da propriedade de, inicialmente, 1.017,8 hectares, na atividade de pecuária. O mesmo ocorre em relação ao exercício 2010, embora em área menor que a anterior, pois, em setembro de 2010, o réu vendeu a metade da área, conforme contrato de promessa de compra e venda das fls. 68/71.A prova de recolhimento de contribuição previdenciária pelo réu na condição de contribuinte individual é posterior, pois abrange apenas o período de dezembro de 2010 a maio de 2011, fls. 111/117. Por fim, assinalo que a parte do imóvel que esteve arrendada pelo curto período de 10.03.2010 a 27.09.2010, conforme retrata o “Distrato de contrato de arrendamento de imóvel rural” juntado às fls. 78/79, é a mesma que foi vendida em setembro de 2010. Inexiste prova de arrendamento no período anterior. Ora, tendo em vista que a contribuição sindical rural do exercício de 2010 foi calculada somente sobre a parte que permaneceu sob o domínio do réu, 551,0 hectares, é irrelevante a discussão sobre quem seria o responsável pelo pagamento referente à parte arrendada. Desse modo, a sentença recorrida deve ser mantida, ainda que por diversos fundamentos.Provimento negado.3. Custas e honorários advocatícios.O réu insurge-se contra a condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios, estes arbitrados em 20% sobre o valor da condenação.Mantida a condenação principal, permanecem sob a responsabilidade do réu os ônus sucumbenciais em título.Saliento que os honorários advocatícios são devidos nos termos do art. 5º da Instrução Normativa n. 27/2005 do TST: “Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência” (sublinhei).Contudo, o percentual arbitrado deve ser adequado ao parâmetro usualmente utilizado nesta Justiça do Trabalho. Dou parcial provimento para reduzir para 15% sobre o valor da condenação o montante arbitrado para os honorários advocatícios.______________________________PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:DESEMBARGADOR FLÁVIO PORTINHO SIRANGELO (RELATOR)DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRADESEMBARGADORA TÂNIA REGINA SILVA RECKZIEGEL

0000026-87.2013.5.04.0104 RO - Sumaríssimo DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS Órgão Julgador: 10ª TurmaRecorrente: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL - CNA - Adv. Daniel Radici JungRecorrido: PAULO BRETANHA RIBEIRO - Adv. Carlos Jorge Padilha OliveiraOrigem: 4ª Vara do Trabalho de PelotasProlator da Sentença: JUIZ NIVALDO DE SOUZA JUNIORCERTIFICO e dou fé que, em sessão realizada nesta data no Tribunal Regional do Trabalho da 4a. Região, sob a Presidência do Exmo. Desembargador EMÍLIO PAPALÉO ZIN, presentes os Exmos. Desembargadores WILSON CARVALHO DIAS e JOÃO PAULO LUCENA e o(a) Exmo(a). Procurador(a) do Trabalho, MARIA CRISTINA SANCHEZ GOMES FERREIRA, sendo relator o Exmo. Desembargador WILSON CARVALHO DIAS, decidiu a 10ª Turma, por maioria, vencido o Desembargador João Paulo Lucena, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DA AUTORA para condenar o réu ao pagamento de contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2008 até 2011, com acréscimo de multa, de juros de mora e de correção monetária, conforme se apurar em liquidação, observado o disposto na Lei 8.022/90; além dos honorários advocatícios, revertidos ao réu, de 15% do valor bruto da condenação. Custas de R$ 60,00, calculadas sobre o valor de R$ 3.000,00, arbitrado provisoriamente à condenação, sujeitas à complementação, revertidas ao réu.

RAZÕES DE DECIDIR1. Ação de cobrança. Contribuição sindical rural. EnquadramentoA autora insurge-se contra o indeferimento das contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2008, 2009, 2010 e 2011, fundamentado na origem na ausência de prova de que o réu estivesse enquadrado na categoria de empregador ou empresário rural. Alega que o réu está enquadrado na hipótese do art. 1º, II, “c”, do Decreto-Lei 1.166/71 e que este enquadramento é feito pelo próprio réu à Secretaria da Receita Federal por ocasião da Declaração Anual do Imposto Territorial Rural. Refere que as informações utilizadas pela autora para lançamento e constituição do crédito são prestadas pelos próprios contribuintes ao Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais (CAFIR), administrado pela RFB e repassado à recorrente em razão de convênio. Em relação a essa autorização, invoca o art. 17, II, da Lei 9.393/96, a Instrução Normativa 20/98 da RFB e a cláusula segunda do convênio com esta firmado. Discorre sobre a forma de enquadramento, concluindo que as propriedades do réu no município de Arroio Grande/RS totalizam a área que representa mais de dois módulos rurais. Defende que o ônus

de provar fato modificativo ou extintivo é do réu, pois este tem obrigação de manter atualizado seu cadastro, assim, não constando nos autos os CCIRs correspondentes a todas as áreas, não há razão para desenquadrar o réu da hipótese do art. 1º, II, “c”, do Decreto-Lei 1.166/71. Invoca, ainda, o art. 818 da CLT e o art. 333 do CPC.Examina-se.A controvérsia a ser dirimida respeita ao pretendido enquadramento do réu na categoria econômica representada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA e ao respectivo recolhimento da contribuição sindical rural. Inicialmente, ressalta-se que o art. 149 da Constituição Federal, inserido no Capítulo do Sistema Tributário Nacional, revela a natureza de tributo da contribuição sindical:Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos artigos 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no artigo 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. Segundo o art. 142 do Código Tributário Nacional: Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.Em vista desse caráter tributário, a contribuição sindical rural é compulsória e devida pelos integrantes da categoria profissional e econômica da agricultura. Dispõe o art. 1º do Decreto-Lei 1.166/71, com redação dada pela Lei 9.701/98, que o fato gerador da contribuição sindical rural é o exercício de atividade profissional ou econômica sobre o imóvel rural: Art. 1º Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se:I - trabalhador rural:a) a pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante remuneração de qualquer espécie;b) quem, proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma família, indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração, ainda que com ajuda eventual de terceiros;II - empresário ou empregador rural:a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em

regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região.Desse modo, a pessoa física, proprietária de um ou mais imóveis rurais, pode enquadrar-se como: trabalhador rural, empresário ou empregador rural, dependendo da atividade exercida, do número de módulos dos imóveis rurais e da manutenção de empregados.É importante esclarecer que o Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964), no seu art. 4º, III, define o conceito de módulo rural e os critérios para determinação e aplicabilidade pelo Decreto 55.891/1965 e Instruções Normativas editadas pelo INCRA. A Portaria 32/1989 e a Instrução Especial nº 50/1997, ambas editadas pelo INCRA, definem as dimensões dos módulos por categoria e tipo de exploração, para cada região.Neste sentido, há um cálculo para cada imóvel, considerando sua área total e a área passível de exploração de atividade rural, observada a região em que se encontre a propriedade.Diferentemente do que apregoa o réu na defesa, não se identifica, neste contexto, afronta aos princípios e aos dispositivos lá invocados, dentre os quais o de liberdade sindical (CF, 5º, XVII e XX, e 8º, V), cumprindo examinar, apenas, se ele se enquadrava como trabalhador rural (Decreto-Lei 1.166/71, art. 1º, inciso I) ou como empresário ou empregador rural (II e III).A conclusão, no caso, é favorável à autora.Verifica-se que o réu era proprietário de mais de um imóvel rural com soma das áreas superior a 2 (dois) módulos rurais (item “c” do citado inciso II).Com efeito, o réu não nega que seja proprietário dos 4 (quatro) imóveis indicados na fl. 15, nos exercícios de 2008 até 2011, sequer tendo impugnado este documento em sua defesa, fls. 62-80. O réu alega em sua defesa, apenas, que a propriedade dos imóveis se dá em comunhão com seis filhos, fl. 70, e que tais imóveis são utilizados exclusivamente para fins de lazer, não havendo exploração econômica, circunstâncias não demonstradas.Os imóveis indicados totalizam 109,70 hectares (56,3 + 7,5 + 25 + 20,9) nos exercícios de 2008 até 2011, representando 2,72 módulos rurais, fl. 15, não tendo sido questionado pelo réu, também, a dimensão do módulo por tipo de exploração, nem as guias de recolhimento da contribuição juntadas pela autora, fls. 16-19. Nesse caminho, cumpre referir que o art. 6º do Decreto-Lei 1.166/71 dispõe que “As guias de lançamento da contribuição sindical emitidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) [atualmente, pela

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CNA] na forma deste decreto-lei, constituem documento hábil para a cobrança judicial da dívida nos termos do artigo 606 da Consolidação das Leis do Trabalho”.Na sua defesa, em verdade, o réu questiona apenas a legalidade do tributo e o seu não enquadramento como empregador rural por não possuir empregados, o que, inclusive, foi retificado quando da audiência inicial, quando afirmou “empregar um funcionário na condição de caseiro”, sem atentar para o fato de que é enquadrado no item “c” do inciso II do art. 1º do Decreto-Lei 1.166/71, por ser proprietário de imóveis que representam mais de 2 (dois) módulos rurais. Consequentemente, resta demonstrado o fato gerador da contribuição sindical rural cobrada nos autos (Decreto-Lei 1.166/71, art. 1º, inciso II).Registra-se, por oportuno, não haver inconstitucionalidade no enquadramento em conformidade com os módulos rurais, nem é caso de bitributação, tratando-se de fatos geradores distintos a propriedade de cada imóvel rural e o enquadramento legal como empresário ou empregador rural. Prejudicados, ainda, ante o já exposto quanto à extensão dos imóveis rurais as arguições alusivas à imunidade e à isenção.Em casos semelhantes ao dos presentes autos, envolvendo o citado enquadramento no item “c” do inciso II do Decreto-Lei 1.166/71, assim tem decidido esta 10ª Turma, a exemplo dos seguintes julgamentos: Proc. 0000604-38.2011.5.04.0551 RO, em 11.10.2012, Desembargador Wilson Carvalho Dias - Relator. Participaram do julgamento: Desembargador Emílio Papaléo Zin, Desembargadora Denise Pacheco; Processo 0000702-73.2011.5.04.0211 RO, em 11.10.2012, Desembargador Wilson Carvalho Dias - Relator. Participaram do julgamento: Desembargador Emílio Papaléo Zin, Desembargadora Denise Pacheco. Desse modo, são devidas à autora as contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2008 até 2011, com acréscimo de multa, de juros de mora e de correção monetária. Em relação à pretendida observância do art. 600 da CLT, porém, adota-se o entendimento firmado pelo TST na sua Súmula 432, assim redigida: CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. AÇÃO DE COBRANÇA. PENALIDADE POR ATRASO NO RECOLHIMENTO. INAPLICABILIDADE DO ART. 600 DA CLT. INCIDÊNCIA DO ART. 2º DA LEI Nº 8.022/1990. - Res. 177/2012, DEJT divulgado em 13, 14 e 15.02.2012O recolhimento a destempo da contribuição sindical rural não acarreta a aplicação da multa progressiva prevista no art. 600 da CLT, em decorrência da sua revogação tácita pela Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990. Diante desse quadro, dá-se provimento parcial ao recurso para condenar o réu ao pagamento de contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2008 até 2011,

com acréscimo de multa, de juros de mora e de correção monetária, conforme se apurar em liquidação, observado o disposto na Lei 8.022/90. Reverte-se ao réu o encargo das custas. 2. Honorários advocatíciosA autora pretende a condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios.Frente ao decidido no item precedente, e não versando a presente lide sobre relação de emprego, mas, sim, sobre contribuição sindical, a qual possui regulação específica, não é caso de adoção do entendimento firmado nas Súmulas 219, I, e 329 do TST. Aplicáveis ao presente caso, o princípio da sucumbência e o disposto no art. 5º da Instrução Normativa 27 do TST, o qual introduziu normas procedimentais aplicáveis ao processo do trabalho em razão da ampliação da competência desta Justiça Especializada, com o advento da EC 45/2004, estabelecendo que “Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência”.Neste sentido, aliás, o item III da Súmula 219, introduzido pela Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011: “III - São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.” (sublinha-se). Desse modo, também reverto ao réu a condenação referente aos honorários advocatícios, devidos no mesmo percentual fixado, de 15%, a ser calculado sobre o valor bruto da condenação. Porto Alegre, 04 de julho de 2013 (quinta-feira).Geraldo Cruz Teixeira,Secretário

DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENOÓrgão Julgador: 7ª TurmaRecorrente: EVALDO LEMES DA SILVA - Adv. Thiago Tadeu Souza BiteloRecorrido: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL - CNA - Adv. Luciana FariasOrigem: 1ª Vara do Trabalho de GravataíProlator da Sentença: JUÍZA BARBARA SCHONHOFEN GARCIA

E M E N T A: RECURSO ORDINÁRIO DO RÉU. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. O demonstrativo que indica que o réu é proprietário de mais de um imóvel rural com área superior a dois módulos rurais da respectiva região justifica a procedência parcial da ação ordinária de cobrança das contribuições sindicais rurais postuladas. Sentença mantida.

A C Ó R D Ã OVistos, relatados e discutidos os autos.ACORDAM os Magistrados integrantes da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: preliminarmente, por maioria de votos, vencida a Relatora, conhecer do recurso ordinário do réu. Preliminarmente ainda, por unanimidade de votos, não conhecer dos documentos juntados com o recurso às fls. 142-3, por extemporâneos. No mérito, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso ordinário do réu.Intime-se.Porto Alegre, 31 de outubro de 2012 (quarta-feira).

R E L A T Ó R I OInconformado com a sentença de parcial procedência das fls. 119-21, complementada à fl. 128, o réu recorre às fls. 131-41.Insurge-se contra a condenação ao pagamento de contribuições sindicais rurais, acrescidas de juros e multa.Com contrarrazões às fls. 175-81, sobem os autos para julgamento.É o relatório.

V O T ODESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENO (RELATORA):

PRELIMINARMENTE.1. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. DESERÇÃO.Esta Relatora entende pelo não conhecimento do recurso ordinário do réu em razão da deserção, tendo em vista que o benefício da Justiça Gratuita (art. 790, §3º, da CLT) que lhe foi deferido na sentença (fl. 121) estaria limitado à isenção

do pagamento das custas processuais, não abrangendo o depósito recursal. Nesse sentido, diversas decisões do TST acerca do tema: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA - DESCABIMENTO. EMPREGADOR. JUSTIÇA GRATUITA. DEPÓSITO RECURSAL. NÃO ABRANGÊNCIA. DESERÇÃO DO RECURSO DE REVISTA. Prevalece, nesta Corte, o posicionamento no sentido de que a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita ao empregador não alcança o depósito recursal, que não tem a natureza jurídica de despesa processual a que alude o art. 3º da Lei nº 1.060/50, mas de garantia do juízo da execução. Precedentes. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (Processo: AIRR - 27100-17.2006.5.02.0008 Data de Julgamento: 14/03/2012, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/03/2012). AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. EMPREGADOR. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA. ISENÇÃO DO DEPÓSITO RECURSAL. DESERÇÃO DO RECURSO DE REVISTA. CARACTERIZAÇÃO. A Lei nº 1.060/50 assegura o benefício da assistência judiciária aos que afirmarem não ter condições de arcar com as despesas do processo. Entretanto, na Justiça do Trabalho, esse benefício abrange apenas as custas, emolumentos e honorários periciais. Tratando-se de empregador, o benefício não alcança o depósito recursal, que não ostenta natureza de taxa ou emolumento judicial, mas de garantia do juízo, visando à satisfação do débito.Agravo de instrumento a que se nega provimento. (Processo: AIRR - 332-54.2010.5.03.0083 Data de Julgamento: 14/12/2011, Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/12/2011). AGRAVO DE INSTRUMENTO. RITO SUMARÍSSIMO. RECURSO DE REVISTA DESERTO. JUSTIÇA GRATUITA. EMPREGADOR. DEPÓSITO RECURSAL. NÃO RECOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE GARANTIA DO JUÍZO. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que os benefícios da justiça gratuita extensível ao empregador não compreende o depósito recursal, o qual constitui garantia do juízo, à luz do artigo 899, § 1º, da CLT e da Instrução Normativa nº 3/93, I, deste Tribunal. Assim, ainda que se concedesse ao reclamado o benefício da justiça gratuita, ausente o depósito recursal, tem-se por deserto o recurso de revista. Precedentes da SBDI-1. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (Processo: AIRR - 102300-37.2008.5.15.0060 Data de Julgamento: 09/11/2011, Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT18/11/2011). RECURSO DE REVISTA. DESERÇÃO DO RECURSO ORDINÁRIO. EMPREGADOR PESSOA FÍSICA. DISPENSA DO DEPÓSITO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. Embora cabível a concessão de assistência judiciária gratuita ao empregador doméstico, desde que comprovada, nos termos da

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lei, a sua miserabilidade jurídica, é certo que referido benefício se limita às custas, que são despesas processuais, não alcançando o depósito recursal, que visa à garantia do juízo de execução. Não recolhido o depósito, na forma do art. 899, § 1º, da CLT, impõe-se o reconhecimento da deserção do recurso ordinário. Recurso de revista conhecido e provido. (Processo:RR - 85700-38.2010.5.13.0023 Data de Julgamento: 19/10/2011, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/10/2011).Contudo, prevalece neste Colegiado o entendimento de que a concessão do benefício da Justiça Gratuita abrange tanto as custas processuais, como o depósito recursal, tendo em vista o que dispõe o artigo 3º da Lei nº 1.060/50, cuja redação foi alterada pela Lei Complementar nº 132, de 07 de outubro de 2009. Assim sendo, considera-se que a assistência judiciária garante a isenção das taxas judiciárias (inciso I do artigo 3º da Lei nº 1.060/50) e dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório (inciso VII do art. 3º da Lei nº 1.060/50). Por tal motivo, concedido ao réu o benefício da Justiça Gratuita, não é deserto o recurso ordinário por este interposto, sem o pagamento das custas processuais ou efetivação do depósito recursal.Nessa senda, vencida a Relatora, cumpre conhecer do apelo do réu.

2. DOCUMENTOS JUNTADOS COM O RECURSO. NÃO CONHECIMENTO.Tem razão a autora ao requerer, em contrarrazões (fls. 175v-6), o não conhecimento dos documentos das fls. 142-3 (declaração e registro junto ao sindicato dos trabalhadores rurais), juntados com o recurso ordinário do réu, conforme entendimento pacificado na Súmula nº 08 do TST, visto que sequer justificada a sua juntada extemporânea aos autos.

MÉRITO.RECURSO ORDINÁRIO DO RÉU. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. ENQUADRAMENTO SINDICAL. Assim consta da sentença (fls. 119-21): O sindicato autor junta demonstrativo de débito da contribuição sindical (fl. 04) e guias de recolhimento dos exercícios de 2007, 2008, 2009 e 2010 (fls. 05/08).Os editais publicados no Diário Oficial da União e jornais com circulação na região em que se situam os imóveis (fls. 12/43) comprovam a convocação dos proprietários de imóveis rurais para recolherem a contribuição sindical em tela.É incontroverso que os imóveis situados nas cidades de Gravataí e Glorinha localizam-se na zona rural. Conforme demonstrativo apresentado, o reclamado possui ao total 14,54 módulos rurais, fato confirmado na contestação às fls. 59.

Também restou incontroverso que o reclamado é proprietário rural, em regime de economia familiar. A soma das áreas das propriedades ultrapassa o limite de dois módulos na respectiva região e, sendo o reclamado proprietário rural, incide a CSR nos termos do art. 1º, I e II do Dec. Lei 1160/71.Assim, considerando que não foi comprovada a quitação nem sendo caso de isenção, defiro o pagamento das contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2007, 2008, 2009 e 2010.O réu recorre alegando que, ao invés do referido na sentença, é possuidor de 14,54 módulos “fiscais” e não “rurais”. Discorre acerca das diferenças entre os módulos rurais e fiscais, postulando a “declaração de inexistência do processo ou extinção sem julgamento do mérito pelos fundamentos”.Argumenta acerca das disposições do art. 1º, inciso II, do Decreto-Lei nº 1.166/71 e do art. 511 da CLT, defendendo a liberdade sindical, conforme art. 8º, I e II, da Constituição Federal, sustentando que não subsiste o enquadramento sindical baseado apenas na dimensão do imóvel rural, afrontando o conceito jurídico de categoria. Sustenta os documentos acostados pela autora foram emitidos unilateralmente, inexistindo notificação pessoal e obrigatória, assim como não há amparo legal a embasar a cobrança dos valores originais e das multas consideradas abusivas e sem previsão normativa. Destaca o disposto no art. 145 do CTN quanto à necessidade de notificação pessoal do sujeito passivo. Alega que os editais publicados sequer são lidos pelos trabalhadores urbanos ou rurais, destacando que a autora poderia ter efetuado a cobrança direta e não pela via judicial. Considera que a autora não comprovou o enquadramento sindical, ônus que lhe incumbia, conforme disposição do art. 818 da CLT, afirmando que a cálculo do módulo rural deve ser efetuado conforme a produção do imóvel, conforme determinado pela legislação, e não pela produção da microrregião. Alude que não houve inscrição em dívida ativa. Finalmente, considera terem sido aplicadas multas e juros abusivos, pois nunca cientificado do prazo do vencimento das obrigações e pagamentos respectivos.Decido.É certo o direito das entidades sindicais de exigir contribuição sindical compulsória (imposto sindical), nos termos do artigo 149 da Constituição Federal, combinado com o artigo 217, I, do Código Tributário Nacional e com os artigos 578 e 579 da CLT. Da mesma forma, caso não ocorra o oportuno e voluntário pagamento, após a publicação dos editais referidos no artigo 605 da CLT, é conferido à entidade sindical o direito de postular judicialmente o recolhimento da contribuição nos termos do artigo 606 do mesmo Diploma legal, verbis: Às entidades sindicais cabe, em caso de falta de pagamento da contribuição sindical, promover a respectiva cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo como título de dívida a certidão

expedida pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho e Previdência Social.§ 1º O Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio baixará as instruções regulando a expedição das certidões a que se refere o presente artigo das quais deverá constar a individualização de contribuinte, a indicação do débito e a designação da entidade a favor da qual será recolhida a importância de imposto, de acordo com o respectivo enquadramento sindical.§ 2º - Para os fins da cobrança judicial do imposto sindical, são extensivos às entidades sindicais, com exceção do foro especial, os privilégios da Fazenda Pública, para cobrança da dívida ativa.Tratando-se de contribuição rural, o enquadramento sindical é dado segundo a definição encontrada nas alíneas do artigo 1º, inciso II, do Decreto-lei n.º 1.166/71, com a redação dada pela Lei n.º 9.701/98, que dispõe: Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do Trabalho, considera-se: (...) II - empresário ou empregador rural:a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende,a qualquer título, atividade econômica rural;b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em área superior a dois módulos rurais da respectiva região;c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região.Logo, conquanto cediço que a CNA, por força do disposto no artigo 24, I, da Lei nº 8.847/94, é titular do direito à contribuição sindical rural outrora devida ao INCRA e, posteriormente, à extinta Secretaria da Receita Federal, não pode se furtar do dever de instruir o pleito de cobrança, quando feito por meio de ação monitória ou de ação de cobrança, com todos os elementos que demonstrem não apenas a regularidade da contribuição vindicada, mas, também, a qualidade de agente passivo da contribuição na pessoa do demandado. No caso, observo que a autora ajuizou ação ordinária de cobrança das contribuições sindicais rurais dos exercícios de 2007, 2008, 2009 e 2010.Conforme consta do demonstrativo de débito da fl. 04, a cobrança se embasa na alínea “c”, II, do art. 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71, considerando que o réu é proprietário de três áreas que perfazem o total de 89,1 hectares, equivalendo a 14,54 módulo rurais. Em sua contestação, o réu afirma (fl. 59):O DEMANDADO como pequena produtora rural é proprietária de uma área aproximada de 89,0 há ou 14,54 glebas neste município de Glorinha, e a exploração econômica sempre foi de

regime de economia familiar, sem a utilização de empregados. (sic) Como se vê, conforme destacado na manifestação sobre a defesa da fl. 108v e conforme referido na sentença, o recorrente não referiu ser proprietário de 14,54 módulos “fiscais” como sustentado no recurso. Ao contrário, confirmou ser proprietário de 14,54 “glebas”, o que consiste, segundo o dicionário Aurélio, em “área de terra não urbanizada”, não tendo impugnado, especificamente, a identificação de 14,54 módulos “rurais” constante do demonstrativo da autora. Assim, portanto, não restou controvérsia a ser dirimida no decorrer da instrução quanto a tal fato.Ademais, segundo a tabela transcrita pela autora à fl. 108, com base na zona típica de módulo rural (ZTM) da região das propriedades em questão (A1 - segundo a autora), o fato de o réu ser proprietário de mais de um imóvel rural com área aproximada de 89,0 hectares, conforme restou incontroverso, justifica o seu enquadramento como empresário ou empregador rural em conformidade com a alínea “c”, II, do art. 1º do Decreto-Lei nº 1.166/71. Quanto à possibilidade de enquadramento sindical com base na dimensão do imóvel, a presunção legal baseada no tamanho da propriedade decorre da pressuposição da necessidade de auxílio de mão de obra não familiar quando a propriedade ou o tipo de exploração sugerem sua exigência, quer pela via da contratação celetista, quer pela contratação de trabalhador rural autônomo (artigo 12, V, “g”, da Lei n.º 8.212/91).Além disso, foram juntados, com a petição inicial, editais de cobrança em jornais de grande circulação (fls. 12-43), restando cumprida a disposição do art. 605 da CLT. Em relação à notificação prévia, esta Turma tem entendido que, na hipótese de ação monitória, o reconhecimento da dívida ou sua ciência sem oposição é requisito exigível, sob pena de extinção da ação, pois a ação monitória forma título executivo com fase preambular de cognição sumária, sujeita a ser “embargada” pela parte adversa. Já a ação de cobrança, caso dos autos, tem por objeto a declaração da própria existência do crédito, com cognição ordinária, contestação e ampla produção probatória. Dessa forma, não é exigida a notificação prévia do devedor, sendo o crédito constituído pela sentença e não pelo lançamento.Nesse sentido, a seguinte decisão: CNA. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO. A contribuição sindical rural pode ser cobrada pela CNA, possui natureza tributária, foi recepcionada pela Constituição Federal e não está sujeita à regra da vedação à bitributação. NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR. Na ação de cobrança, não se exige a notificação prévia do devedor da contribuição sindical rural, pois o crédito será constituído pela sentença e não por “ato de lançamento”. ENQUADRAMENTO DO CONTRIBUINTE. Não tendo a ré se manifestado na defesa a respeito do enquadramento na alínea “c”, art. 1º, inciso II, do

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Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 2013 60 Panorama Legal - Edição Especial - Contribuição Sindical Rural - Agosto 201361

Decreto-lei nº 1166/71, é incontroverso o fato de que possui imóveis cuja soma é superior a dois módulos rurais, o que acarreta seu enquadramento como contribuinte da contribuição sindical rural, pelo que se impõe a procedência do pedido. MULTA MORATÓRIA DO ART. 600 DA CLT. A multa moratória do art. 600 da CLT não é aplicável por não ter sido recepcionada pela Constituição Federal, conforme decisões proferidas pelo STF e TST. (TRT da 4ª Região, 7a. Turma, 0001614-77.2010.5.04.0511 RO, em 26/10/2011, Desembargador Marcelo Gonçalves de Oliveira - Relator. Participaram do julgamento: Desembargador Flavio Portinho. Sirangelo, Desembargador Marçal Henri dos Santos Figueiredo) Ademais, observo que o réu, mediante a presente ação, foi notificado, apresentando contestação, restando, pois, superado o alegado óbice da ausência de notificação. Por outro lado, como bem observado na origem, a constituição em dívida ativa não é de interesse do réu, podendo causar-lhe prejuízo de acesso a crédito, não sendo requisito imprescindível para o ajuizamento de ação ordinária de cobrança.Finalmente, tendo em vista que deferidos juros de 1% ao mês, aplicado sobre o principal, e multa limitada em 20% não cumulável, não se constata a condenação ao pagamento de multa e juros abusivos conforme referido no recurso, tendo em vista que a sentença observou o entendimento pacificado na Súmula nº 432 do TST, não aplicando a disposição do art. 600 da CLT, mas as disposições da Lei nº 8.022/90: CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL. AÇÃO DE COBRANÇA. PENALIDADE POR ATRASO NO RECOLHIMENTO. INAPLICABILIDADE DO ART. 600 DA CLT. INCIDÊNCIA DO ART. 2º DA LEI Nº 8.022/1990 - Res. 177/2012, DEJT divulgado em 13, 14 e 15.02.2012 - O recolhimento a destempo da contribuição sindical rural não acarreta a aplicação da multa progressiva prevista no art. 600 da CLT, em decorrência da sua revogação tácita pela Lei nº 8.022, de 12 de abril de 1990.Nessa senda, impõe-se negar provimento ao recurso ordinário do réu.

PREQUESTIONAMENTO.Diante do ora decidido, tenho por analisado o prequestionamento dos dispositivos legais e constitucionais invocados pelas partes, ainda que não expressamente mencionados, de acordo com a Orientação Jurisprudencial nº 118 da SDI-I do TST, cumprindo registrar, de qualquer sorte, que a presente decisão observa o disposto no art. 1º, inciso II, do Decreto-Lei nº 1.166/71, nos arts. 511 e 818 da CLT, no art. 8º, I e II, da Constituição Federal, no art. 333, I e II, do Código de Processo Civil e no art. 145 do CTN.______________________________PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENO (RELATORA)DESEMBARGADOR MARÇAL HENRI DOS SANTOS FIGUEIREDO DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA

Está contribuição existe desde 1943 e é cobrada de todos os produtores rurais-pessoa física ou jurídica –conforme estabelece o Decreto –Lei n° 1.166,de 15 de abril de 1971,com a redação dada pelo artigo 5° da lei 9.701,de 18 de novembro de 1998:O cálculo da Contribuição Sindical rural é efetuada com base nas informações prestadas pelo proprietário rural do cadastro Fiscal Rurais (CAFIR), administrado pela Secretaria da Receita Federal. PESSOA FÍSICA:A contribuição é calculada com base no valor da terra nua tributável (VTNT) da propriedade, constante no cadastro da Secretaria da Receita Federal, utilizado para lançamento do Imposto sobre a propriedade Territo-rial Rural (ITR). PESSOA JURÍDICA:A contribuição é calculada com base na parcela do capital social –PCS, atribuída ao imóvel. Desde o exercício de 1998,está sendo lançada uma única guia por contribuinte, contemplando todos os imó-veis de sua propriedade declarados a Receita Federal.Para a pessoa jurídica, o valor base de cálculo corresponde à soma das parcelas do VTN tributável de todos os seus imóveis rurais no país ,conforme declaração feita pelo próprio produtor à Secretaria da Receita Fede-ral.A partir de 1997, com publicação da Lei n° 8.847/94 quem faz a cobrança é confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), represente do Sistema Sindical Rural .A CNA envia ao produtor rural uma guia bancária, já preenchida, com o valor da sua contribuição Sindical Rural.Até data do vencimento, poderá pagá-la em qualquer agência bancária. Depois dessa data, deverá procurar uma das agências do Banco do Brasil para fazer o pagamento da sua contribuição, no prazo máxi-mo de até 90 dia após o vencimento. Para a pessoa jurídica o vencimento é 31/01/2013 e para pessoa física 22/05/2013.

José Alcindo de Souza Ávila Coordenado do Departamento Sindical

Contribuição Sindical Rural - Quadro Informativo FARSUL

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