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Unidade de Tecnologias Integradas

para Conservação de Recursos Hídricos

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFCG

U58 Unidade de tecnologias integradas para conservação de recursos hídricos /

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy, Dermeval Araújo Furtado,

Paulo Roberto Megna Francisco (organizadores). ─ Campina

Grande: Epgraf, 2015.

129 p.: il. color.

ISBN: 978-85-60307-12-8

1. Recursos Hídricos. 2. Uso da Terra. 3. Tratamento de Água. 4.

Produção Agrícola. I. Baracuhy, José Geraldo de Vasconcelos. II.

Furtado, Dermeval Araújo. III. Franscisco, Paulo Roberto Megna.

IV. Título.

CDU 81’33

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4

Organizadores

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy Dermeval Araújo Furtado

Paulo Roberto Megna Francisco

Unidade de Tecnologias Integradas

para Conservação de Recursos Hídricos

1.a Edição Campina Grande-PB

Epgraf Janeiro de 2015

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5

Realização

Apoio

Livro confeccionado com recursos oriundos do CNPq referente ao Edital MCT/CNPq/CT-AGRONEGÓCIO/CT-HIDRO - Nº 27/2008

Revisão, Editoração e Arte da Capa: Paulo Roberto Megna Francisco

Créditos da imagem da capa: Silvana Fernandes Neto

1.a Edição

1ª. Impressão (2015): 1.000 exemplares

Epgraf Av. Assis Chateaubriand, 2840

Distrito Industrial - Campina Grande – PB

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I .............................................................................................. 12

ESTUDO FISIOGRÁFICO DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA

RIACHO FUNDO, PARAÍBA, BRASIL ................................................... 12

CAPÍTULO II ............................................................................................. 22

CONFLITO DE USO DA TERRA EM UMA MICROBACIA

HIDROGRÁFICA DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ................................. 22

CAPÍTULO III ............................................................................................ 34

CLASSIFICAÇÃO DO USO DA TERRA DA MICROBACIA

HIDROGRÁFICA RIACHO FUNDO/PB................................................ 34

CAPÍTULO IV ............................................................................................ 43

TRATAMENTO DE ÁGUA CINZA EM TANQUES EVAPORÍMETROS

PARA REUSO NA AGRICULTURA ....................................................... 43

CAPÍTULO V ............................................................................................. 52

TRATAMENTO DE ÁGUA DE LAVANDERIA PARA PRODUÇÃO

AGRICOLA NO SEMIÁRIDO ................................................................ 52

CAPÍTULO VI ............................................................................................ 58

UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA CONTROLADA NO SEMIÁRIDO

PARA O TRATAMENTO DE ÁGUA CINZA ............................................... 58

CAPÍTULO VII........................................................................................... 68

CULTIVO DE MARACUJÁ COM ÁGUA CINZA TRATADA PELAS

UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA CONTROLADA ................... 68

CAPÍTULO VIII ......................................................................................... 75

FLUORESCÊNCIA DA CLOROFILA a DE CULTURAS CULTIVADAS

EM TANQUES EVAPORÍMETROS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ...... 75

CAPÍTULO IX ............................................................................................ 82

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7

UMA SUB-ROTINA PARA SIMULAR REÚSO DE ÁGUA NA

CALCULADORA ESTENDIDA DA PEGADA HÍDRICA ........................ 82

CAPÍTULO X ............................................................................................. 90

PEGADA HÍDRICA CONSUNTIVA NA MICROBACIA RIACHO FUNDO-

MUNICÍPIO DE CABACEIRAS-PB ........................................................... 90

CAPÍTULO XI .......................................................................................... 103

ECO RESIDÊNCIA RURAL ..................................................................... 103

CAPÍTULO XII......................................................................................... 108

LIVROS DIDÁTICOS E A TEMÁTICA AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO NA

ESCOLA CLÓVIS PEDROSA CABACEIRAS/PB ....................................... 108

CAPÍTULO XIII ....................................................................................... 126

CARTILHA E MÍDIA DA UNIDADE DE TECNOLOGIAS INTEGRADAS PARA

CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ......................................... 126

Curriculum dos Autores e Organizadores ................................................. 127

Page 8: Acesse a obra

8

APRESENTAÇÃO

A Engenharia e a área tecnológica do país, como um todo, sempre

estiveram atentas às demandas de nossa população. Um dos mais

vertiginosos enfrentamentos da atualidade está relacionado à conservação de

recursos hídricos, tema caro aos pesquisadores e aos profissionais ligados ao

Sistema Confea/Crea. Hoje mais difundido em torno das agruras enfrentadas

pelo estado mais rico do país, o tema ainda afeta diretamente a vida de

milhões de habitantes da região Nordeste, de onde provém esta obra

abrangente, que descortina, em linguagem técnica, porém acessível, aspectos

científicos valiosos para a redução desta problemática em nosso país.

Para 2015, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea)

já tem aprovada a realização de um seminário, em que receberá alguns dos

pesquisadores presentes neste livro “Unidade de Tecnologias Integradas

para Conservação dos Recursos Hídricos”, entre outros importantes nomes

do cenário tecnológico nacional. Dessa maneira, buscamos contribuir ainda

mais com este debate essencial para a garantia de direitos elementares da

população brasileira e para o avanço da discussão em torno da

sustentabilidade.

Fruto de um projeto financiado pelo CNPq, a obra busca implantar e

disseminar técnicas multidisciplinares, sustentáveis, de baixo custo e com

ênfase no uso e conservação de solo, aproveitamento da água e da

preservação ambiental na microbacia hidrográfica do Ribeira, município de

Cabaceiras-PB, contribuindo para desenvolver um conjunto de técnicas de

convivência de uma pequena unidade rural, viabilizando a produção nas

condições do semiárido.

Um de seus organizadores e seu idealizador, o professor José

Geraldo de Vasconcelos Baracuhy, representa as instituições de ensino do

grupo Agronomia, no plenário do Confea. Portanto, tenho a honra de

conviver de perto com a experiência científica e acadêmica do professor da

Universidade Federal de Campina Grande. Sua colaboração com o Sistema

tem sido extensa, notadamente diante da Comissão de Educação e Atribuição

Profissional do Conselho e na criação e organização do Congresso Técnico

Científico da Engenharia e da Agronomia (Contecc), cuja primeira edição, no

mês de agosto de 2014, foi um dos principais méritos da Semana Oficial da

Engenharia e da Agronomia (Soea), em Teresina-PI.

Este conjunto de artigos científicos, que reúne pesquisadores, em

grande parte nordestinos e não apenas ligados à área tecnológica, originou-se

do desejo do professor e conselheiro federal de implantar e testar essas

tecnologias, trazendo a público os resultados destas pesquisas e promovendo

a integração da academia com o agricultor, o pecuarista e os demais usuários

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destas informações testadas e comprovadas. Captação, conservação e

utilização da água e conservação dos recursos naturais estão entre os temas

estudados. E com base nas análises desses pesquisadores e alunos sobre o

desenvolvimento da região semiárida brasileira, Baracuhy agregou sua

experiência acadêmica aos demais autores Dermeval Araújo Furtado, Paulo

Roberto Megna Francisco e Aline Costa Ferreira e outros pesquisadores para

compor, em 13 capítulos, um documento científico orientado para o presente

e para o futuro de nosso país.

Este livro tem o objetivo de ser divulgado livremente por meio da

internet a todos que tiverem interesse. Ao aceitar este honroso convite para

apresentá-lo, desejamos sua ampla leitura e difusão, na expectativa de que

seus conhecimentos contribuam com as novas pesquisas de tecnologias

voltadas à conservação dos recursos hídricos.

Eng. Civ. José Tadeu da Silva

Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea)

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10

INTRODUÇÃO

O nordeste brasileiro é uma região Semiárida, com 24,6 milhões de

habitantes, sendo o semiárido mais populoso do mundo. Foi uma das

primeiras regiões de colonização, cuja função foi de fornecer a alimentação e

animais de tração para a região litoral que em outrora explorava a cana-de-

açúcar. Teve, portanto, suas riquezas naturais extraídas durante

aproximadamente os últimos cinco séculos.

As metodologias usadas pelos colonizadores eram principalmente de

uma agricultura temperada e, durante todos esses anos, poucas tecnologias

foram desenvolvidas para as condições semiáridas, acarretando em um

empobrecimento do meio ambiente e, em alguns casos, na exaustão completa

do solo e de visível processo final de desertificação.

A falta de condições de convivência como um fenômeno natural

denominado “seca” levou milhões de nordestinos a migrarem para as grandes

cidades.

Durante algumas décadas, os principais programas de governo sempre

tiveram a característica de combate à seca, como o que criou o principal

órgão governamental para definir e executar as políticas para o setor, que foi

o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Decerto um

fenômeno natural não pode ser vencido com obras de engenharia. Esse

paradigma também orientou pesquisas e conteúdos acadêmicos, fazendo uma

geração de profissionais longe da realidade e da possibilidade de instrumentar

um desenvolvimento sustentável.

Há apenas algumas décadas foram iniciadas, na contramão dessa

linha, pesquisas voltadas para a convivência com a seca. Algumas

universidades do nordeste, com a contribuição da EMBRAPA-CPTSA,

começaram a disponibilizar resultados do seu trabalho para uma pequena

agricultura do semiárido, como no caso particular a Universidade Federal de

Campina Grande. Essa universidade através de uma equipe multidisciplinar e

com financiamento de órgãos de fomento, como CNPQ, BNB e FUNASA,

passaram a pesquisar práticas de convivência com a seca, seja em campo,

laboratório ou na orientação de dissertações e teses.

O domínio destas tecnologias, já testadas em vários locais do Estado,

é o que se pretende reunir e aplicar em uma única bacia hidrográfica, com as

características de semiárido e habitada por pequenos agricultores.

Portanto este livro destaca as principais ações do pequeno agricultor

da região semiárida para conviver com um clima, onde o déficit hídrico é

uma regra, de forma que reunida em uma pequena bacia hidrográfica, um

conjunto de metodologias que amenizam a adversidade climática e viabilizam

uma atividade agrícola sustentável.

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11

A ênfase destes capítulos referem-se principalmente a captação,

conservação e racionalização dos recursos hídricos, tendo como principais

objetivos a aplicação de tecnologias de baixo custo, acessível a um agricultor

de uma pequena unidade rural no semiárido e por ele aplicado, e utilizado,

promovendo a sua recuperação e adequação em termos hídricos.

O livro aponta ainda o caminho para a “seca” na gestão de recursos

hídricos que assola o país e mostra a boa prática da engenharia que é o estudo

para a materialização de uma ideia, de um sonho em realidade consistindo na

arte de desenvolver cenários, formulando soluções para satisfazer

necessidades humanas respeitando o planeta.

A publicação será uma fonte de consulta para alunos da área

tecnológica e profissionais que desejem aprimorar a visão sobre as águas do

estado brasileiro.

Eng. Civil Marcelo Gonçalves Nunes de Oliveira Morais

Coordenador da CAIS (Confea)

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CAPÍTULO I

ESTUDO FISIOGRÁFICO DA MICROBACIA

HIDROGRÁFICA RIACHO FUNDO, PARAÍBA, BRASIL

Silvana Fernandes Neto

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Pedro Dantas Fernandes

Vera Lucia Antunes de Lima

Introdução

O conhecimento das características do meio físico e suas interações,

perante as múltiplas intervenções do homem sobre o ambiente, possibilitam

uma compreensão e interpretação das correlações existentes, bem como

viabilizam estudos e estratégias ou planejamentos, que direcionam a um

convívio harmônico. Deste modo, os possíveis problemas existentes e

adversidades podem ser amenizados, promovendo assim, a sustentabilidade.

Nesse sentido, uma unidade de pesquisa, gestão e planejamento, que

integra e incorpora elementos tanto naturais como sociais é a bacia

hidrográfica. Suas características físicas constituem elementos que permitem

a avaliação e compreensão de seu comportamento hidrológico. Ao se

estabelecer relações entre os elementos físicos, indiretamente podem-se

determinar novos dados, que levem a tal concepção. Christofoletti (1999)

enfatiza que as análises de aspectos relacionados à drenagem, relevo e

geologia podem levar à compreensão de diversas questões associadas à

dinâmica ambiental local.

Dentro deste contexto, o presente estudo objetiva uma caracterização

fisiográfica da microbacia hidrográfica Riacho Fundo, localizada no

município de Cabaceiras/PB, a fim de compreender os processos físicos

existentes e suas interelações, através da perspectiva quantitativa, visando o

planejamento ambiental, gestão e conservação dos recursos naturais. A

avaliação das propriedades físicas de uma microbacia pode definir a natureza

de um sistema de drenagem e com isso esclarecer questões acerca da

morfogênese e morfordinâmica da paisagem.

Materiais e Métodos

Área de estudo

A microbacia hidrográfica do Riacho Fundo, localiza-se na porção

central do estado da Paraíba, ao norte do município de Cabaceiras, na posição

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de 7º25’36” lat. Sul e 36º20’18” long. Oeste, no cariri paraibano,

mesorregião da Borborema. Distancia-se aproximadamente 66 km da cidade

de Campina Grande e 199 km da capital João Pessoa.

Figura 1. Localização geográfica da área de estudo.

Cabaceiras, por situar no semiárido do nordeste brasileiro, sofre com

questões climatológicas e é considerado o município onde ocorre menor

índice pluviométrico médio anual do país, mas com belezas naturais

exuberantes.

O clima predominante na região, de acordo com CPRM (2005), é do

tipo tropical chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa se inicia em

janeiro/fevereiro com término em setembro. O regime pluviométrico é

marcado pela irregularidade de chuvas, no tempo e no espaço, com uma

precipitação média anual de 323.8 mm (Fernandes Neto, 2013) e uma taxa de

evapotranspiração potencial (ETP) anual em 1302 mm (Leite et al., 2011).

A região é marcada por uma vegetação composta pela presença de caatinga

hiperxerófila, de porte arbóreo, arbustivo e herbáceo.

Por se tratar de uma área com relevo suave a ondulado, a pedologia

predominante é composta de associações de solos Litólicos Eutróficos,

Vertissolos e minerais ou Bruno Não cálcico, ou seja, solos pouco profundos,

com textura argilosa ou arenosa, média cascalhenta, com substrato de gnaisse

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e granito e afloramentos rochosos, principalmente em forma de lajedos. Nas

partes baixas dos terrenos, próximas a rios e riachos, também ocorrem os

Planossolos, com textura média/argilosa, imperfeitamente drenados,

moderadamente ácidos e com problemas de sais.

A microbacia do Riacho Fundo abrange uma área de 3757.89ha, sendo

afluente da sub-bacia do rio Taperoá, que desemboca no Açude Público

Epitácio Pessoa (Boqueirão), sendo este um dos principais reservatórios do

Estado, tendo suas águas, destinadas principalmente, para o abastecimento

humano.

Materiais Utilizados

O material utilizado, constou de um conjunto de dados cartográficos

obtidos a partir da carta topográfica SB.24-Z-D-III (Boqueirão), de escala

1:100.000, elaborada pela Diretoria de Serviços Geográficos do Ministério do

Exército, e do Modelo Digital de Elevação (MDE) da imagem Shuttle Radar

Topography Mission (SRTM), disponível no site

http://srtm.csi.cgiar.org/selection/listImages.asp, que serviram de base para a

elaboração do estudo da rede de drenagem e relevo. Também, o mapa

geológico da CPRM – Programa Geologia do Brasil, Folha SB.24-Z-D-III,

Boqueirão de escala 1:1.000.000 do ano de 2012. Ainda, foi utilizado a

imagem do satélite QuickBird, desenvolvido pela DigitalGlobe, com

resolução espacial de 0,61 metros, datada de set./2009, que auxiliou no

estudo da rede de drenagem, bem como na interpretação do uso atual do solo.

Esta imagem foi adquirida via projeto Edital MCT/CNPq/CT-

AGRONEGÓCIO/CT-HIDRO - Nº 27/2008-2.

Para a realização dos mapeamentos e interpolação dos dados

geográficos, provindos da carta topográfica, imagem de satélite, radar e de

campo, via Sistema de Posicionamento Global (GPS), buscou-se auxílio da

tecnologia de Geographic Information System (GIS) IDRISI for Windows,

desenvolvido pela Faculdade de Geografia da Clark University (Eastmann,

1999) e do Autodesk Map 2004.

Ainda, em todo o processo de desenvolvimento do estudo, foram

realizadas diversas visitas em campo, para coleta e convalidação de dados e

informações.

Procedimentos Metodológicos

Para a descrição fisiográfica da microbacia foi embasada em estudos

desenvolvidos por autores como Horton (1945), Strahler (1952),

Christofoletti (1974) e Villela e Mattos (1975), Beltrame (1994), Rocha

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15

(1997) e Baracuhy (2001). Assim, para o desenvolvimento do estudo, foram

realizados levantamentos bibliográficos e seguido um roteiro metodológico,

concomitante a cada fase de elaboração do mesmo.

A delimitação da microbacia foi determinada a partir do processo de

vetorização com o uso do menu Digitize do SIG Idrisi, sob análise do

comportamento das curvas de nível e das linhas divisoras de águas, ligando

pontos mais altos do relevo. Criou-se um plano de informação (PI) para o

vetor limite da área e posteriormente calculou-se a área e o perímetro da

mesma, utilizando-se do menu Gis Analysis –Database Query – Área e

Perím.

O diagnóstico da rede de drenagem foi obtido a partir da análise da

carta topográfica em conjunto a interpretação da imagem de satélite

Quickbird. Cabe destacar, que a época do ano (data da imagem) na região, é

considerada período de seca, onde muitos cursos d'água, açudes e barreiros,

não apresentam água. Primeiramente foi realizado um mapeamento geral de

toda a rede de drenagem existente, utilizando-se menu Digitize, sendo

armazenados, os dados vetoriais, em PIs diferenciados para posterior

processamento. Em seguida foram definidos parâmetro: hierarquia fluvial,

padrão de drenagem, coeficiente de compacidade, fator forma, comprimento

dos canais e densidade de drenagem.

O estudo geológico-geomorfológico predominante na área teve como

base o mapa geológico da CPRM (2012) em conjunto, trabalho de campo. O

mesmo apresenta os diferentes tipos de rochas e estruturas que compõem o

substrato rochoso do meio físico, em conjunto as formas de relevo

encontradas.

Quando aos usos das terras da microbacia, foi obtido a partir da

interpretação da imagem do satélite QuickBird, georreferenciada com o uso

do SIG IDRISI. Para a correção geométrica da imagem no momento do

georreferenciamento da mesma, foram utilizados pontos de controle com

coordenadas do sistema Universal Transversa de Mercator (UTM), Datum

WGS84, adquiridas em campo com equipamento de GPS.

A classificação dos usos foi realizada a partir da interpretação visual

dos alvos sobre imagem de satélite em tela do computador. Para tanto, foram

definidas as classes dos diferentes usos e coberturas, observando-se aspectos

como textura, forma, cor e brilho (Pinheiro e Kux, 2005). Através do o

módulo Digitize, foram extraídos os dados de usos em PIs diferenciados,

sendo posteriormente rasterizados no módulo Raster e quantificadas suas

áreas, a partir do menu Gis Analysis –Database Query – Área.

Em campo, com o auxílio da imagem de satélite impressa, do aparelho

de GPS e câmera fotográfica foram convalidados os dados e alvos espectrais

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de usos, registrados pontos de conferências, obtidos registros fotográficos,

entre outras observações.

Resultados e Discussão

Caracterização Hidrográfica

A microbacia hidrográfica onde foi desenvolvido o estudo, pertence à

sub-bacia do Rio Taperoá, que, por sua vez, compõe a malha hídrica da bacia

hidrográfica do Rio Paraíba, uma das mais importantes do Estado da Paraíba.

É constituída por um conjunto de 4 microbacias sequentes, denominadas a

partir da jusante a montante do Taperoá em: microbacia hidrográfica Riacho

Fundo; Ribeira; Varjota e Curtume (Figura 2).

Figura 2. Disposição da rede de drenagem que compõem a microbacia

hidrográfica Riacho Fundo.

Em conjunto, as quatro áreas que compõem a denominada microbacia

hidrográfica Riacho Fundo, drenam uma superfície total de 3.757,89 ha ou

37,58 km2, com um perímetro de 27,83 km de extensão.

A direção predominante das drenagens principais da microbacia

estendem-se no sentido SW-NE. Essa direção pode estar relacionada ao forte

controle estrutural, que provavelmente está associado às fraturas

desenvolvidas por reativações tectônicas que controlam o próprio

desenvolvimento da mesma.

Com relação ao padrão de drenagem predominante, ou seja, a

disposição espacial ou geométrica das drenagens (Cunha, 1995), a microbacia

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apresenta o tipo dendrítico-retangular. Este por sua vez, corresponde ao

conjunto de canais superficiais e vias de escoamento interno, que podem estar

submetidos ao controle estrutural e ao tipo de rocha de origem, que oferecem

resistência relativamente uniforme a erosão.

Conforme hierarquia de drenagem de Strahler, a microbacia apresenta

um grau de ramificação de 4ª ordem, levando-se em conta os cursos d'água

principais e incluindo os córregos intermitentes, marcados pela esculturação

do relevo. Considera-se que, quanto mais ramificada a rede, mais eficiente à

drenagem (Vilela e Matos, 1975).

Dos 183 canais fluviais da microbacia, 89% são efêmeros, ou seja,

163 canais, com dominância de primeira e segunda ordem, apresentando um

comprimento médio de 392.3 metros. O restante, sendo de apenas 11% são

intermitentes, dispostos no baixo curso, que em geral, escoam durante as

estações de chuvas, transportando todo tipo de deflúvio.

A determinação da densidade de drenagem (Dd) fornece uma

avaliação do potencial da microbacia hidrográfica, em permitir maior ou

menor escoamento superficial da água, consequentemente, conduz a uma

ação maior ou menor dos processos erosivos atuantes refletindo na

degradação ambiental.

A partir dessa perspectiva, identificou-se na microbacia um

comprimento total dos cursos d’água de 81651.76 metros distribuídos em

uma área de 3757.89 ha, representando uma densidade de drenagem de

21,7m/ha. Esse valor refere-se a um alto volume de escoamento superficial,

sobre um terreno de baixa permeabilidade. Christofoletti (1974) ressalta que

em terrenos onde há dificuldades para a infiltração das águas, há melhores

possibilidades para a esculturação de canais e, portanto, a densidade de

drenagem tende a ser mais elevada, como é o caso da microbacia Riacho

Fundo.

Pode-se dizer que a densidade de drenagem sofre influencia direta do

comportamento hidrológico das rochas, pois onde a capacidade de infiltração

é relativamente menor, ocorre um maior escoamento superficial,

consequentemente maior densidade. Isso gera, ainda, possibilidade de

esculturação dos canais, bem como a atuação de processos erosivos.

Analisando o coeficiente de compacidade (Kc) da microbacia, se

obteve o valor equivalente a 1.27, em conjunto ao índice de forma (Ic), de

0.61. Trata-se de uma área que apresenta características pouco propícias a

enchentes, pois com seu formato alongado, ocorre menor tempo de

concentração da água, sob o canal principal, no período chuvoso. Ainda,

aliado a uma densidade de drenagem (Dd) de 21.7 m/ha, evidencia uma área

medianamente drenada, conforme classificação de Beltrame (1994). O

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escoamento na microbacia, por estar associado a terrenos pouco permeáveis

reflete na maior ação erosiva da água.

O formato da bacia influencia o tempo de concentração, ou seja, o

tempo que a água leva dos limites da bacia para chegar à saída, seu exutório

(Vilela e Matos, 1975). Nesse caso, pode-se dizer que a tendência a enchentes

é menor, ao contrário se a microbacia apresentasse uma forma mais circular.

Caracterização Geológica-Geomorfológica

A região onde se encontra a microbacia em estudo está sobre a faixa

de Domínio da Zona Transversal, composta por rochas do embasamento

cristalino, sendo ígneas plutônicas e metamórficas. Essas rochas

caracterizam-se por sua impermeabilidade, que marcam terrenos, facilitando

o escoamento superficial, podendo originar cheias de crescimento repentino.

As rochas que compõem a microbacia são muito antigas, 88,2% de toda a

área, são do Paleoproterozóico (PP) (idade entre 2300 a 2050 Ma), da

unidade litoestratigráfica Complexo Floresta, composto basicamente por

ortognaisses TTGs (Brito Neves et. al., 2001), caracterizando a presença de

um relevo plano a suave-ondulado.

O restante, 11,8% da área, dominando as partes mais elevadas, as

rochas são do Neoproterozóico (NP) (idade entre 635 a 542 Ma), da unidade

litoestratigráfica Suíte Intrusiva Triunfo, com litologias compostas por

clinopiroxênio - quartzo - alcalifeldspato sienitos (Lages e Marinho, 2012),

marcando a presença de um relevo ondulado, compondo um morrote, o qual

determina o ponto mais alto da microbacia que atinge uma altitude 661

metros.

A microbacia é marcada pela presença de uma linha de falha, com

direção NE-SW, a qual caracteriza a própria Província da Borborema,

denominada de Zona de Cisalhamento Transcorrente, ou Z.C. Cabaceiras

(Lages e Marinho, 2012). Nessas falhas, ocorrem corpos de diopsídios

mármores associados à biotita-ortognaisses com intercalações de

metamáficas, granada paragnaisses e metapiroxenitos (Marinho et. al., 2008).

O Riacho Fundo, devido ao forte controle estrutural que abate a

microbacia, encontra-se encaixado nessa zona de cisalhamento. Essas falhas

são de extrema importância para a região, pois contribuem para o

abastecimento do lençol freático. Salientam Singhal e Gupta (1999) que em

rochas cristalinas, o principal meio de ocorrência de águas subterrâneas é

dado por intermédio do manto de intemperismo e descontinuidades, ou seja,

juntas, falhas e planos de foliação.

Observa-se que nas proximidades dessa linha de falha na microbacia,

possui dois poços públicos com reservatórios, que servem de fonte de

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19

abastecimento de água para a população local. Esses poços estão altamente

vulneráveis a contaminação, devido ao numero de residências, bem como de

pequenos curtumes e fabriquetas de couros existentes nas proximidades.

Figura 3. Mapa Geológico da microbacia Riacho Fundo.

O processo de saneamento nessas construções é praticamente

inexistente, os esgotos e resíduos tanto domésticos como os demais

provindos do processamento do couro das pequenas oficinas são lançados a

céu aberto ou queimados. No período das chuvas, pelo processo de

lixiviação, os dejetos acabam atingindo as partes mais baixas do terreno, as

áreas de acumulação, e com isso, podendo ocasionar a contaminação desse

pequeno aquífero, tão importante para a região.

Considerações Finais

A análise e interpretação dos dados fisiográficos da microbacia

hidrográfica Riacho Fundo permitiram concluir que a mesma possui fatores

como forma alongada, que evidenciam menor risco de cheias, em condições

normais de precipitação anual.

Mas os parâmetros de drenagem, como a densidade de 21.7m/ha,

retrataram o alto volume de escoamento superficial sobre um terreno de baixa

permeabilidade, ocasionando maior esculturação dos canais devido à ação

dos processos erosivos, provocando assim, assoreamento das drenagens nas

partes mais baixas do terreno.

A microbacia é composta por rochas muito antigas, do embasamento

cristalino, muitas vezes aflorantes e um relevo suave ondulado. Com isso, há

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20

grandes dificuldades de infiltração, o que confirmam os fatores de densidade

de drenagem alta e a ação erosiva sobre as drenagens.

O Riacho Fundo encontra-se encaixado numa zona de falha, devido ao

forte controle estrutural existente na região. Essa falha contribui para o

abastecimento do lençol freático, sendo um dos principais pontos de

ocorrência de água subterrânea da microbacia, mas que vem correndo

grandes riscos de contaminação, devido à poluição ambiental ocasionada

pelos dejetos provindos de residências e de pequenas fabricas de couro, que

são lançados a céu aberto por muitos moradores das proximidades.

A microbacia Riacho Fundo encontra-se localizada na região

semiárida paraibana, onde o regime pluviométrico é marcado pela

irregularidade de chuvas, tanto no tempo como no espaço. O cenário de

escassez hídrica baliza um forte entrave ao desenvolvimento socioeconômico

e até mesmo, à subsistência da população. Assim, é eminente a necessidade

de adoção de medidas de planejamento e gestão, tanto por parte do poder

publico, como da população em geral, que venham a contribuir com

alternativas para o desenvolvimento sustentável da região.

Referencias Bibliográficas

BARACUHY, J. G. de V. Manejo integrado de microbacias hidrográficas no

semiárido nordestino: Estudo de um caso. 2001. 297 f. Tese (Doutorado em

Recursos Naturais) Universidade Federal de Campina Grande, Campina

Grande/PB.

BELTRAME, A. V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas:

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Page 22: Acesse a obra

22

CAPÍTULO II

CONFLITO DE USO DA TERRA EM UMA

MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO SEMIÁRIDO

BRASILEIRO

Silvana Fernandes Neto

Geórgia Karênia Rodrigues Martins Marsicano de Melo

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Introdução

A questão ambiental sob diferentes condições é sem dúvida, o tema

muito discutido e polêmico da atualidade, tendo ultrapassado os limites da

comunidade científica. A forma predatória como ocorre a relação

homem/natureza tem gerado profundos debates sob o ponto de vista da

melhoria da qualidade de vida do planeta e chamado a atenção dos

planejadores, que cada vem mais, incluem em seus planos políticos medidas

de proteção ao meio ambiente.

O planejamento é o trabalho de preparação de qualquer

empreendimento humano, seja de previsão ou de solução de nossos

problemas. Nele, estabelecem-se estratégias e metas para se alcançar, superar

ou resolver determinada situação ou dificuldade (Lemos, 1999). Uma

corrente do planejamento que tem tido sua importância aumentada com a

intensificação das relações homem/meio é o planejamento ambiental.

Um instrumento de planejamento muito utilizado para manter a

qualidade ambiental como um todo, num contexto da valorização das áreas

naturais, é a delimitação espaços ambientalmente protegidos conforme dispôs

a Lei 6.938/81, no art. 9º, inciso VI, cuja criação baseia-se em geral nas

características físicas de uma determinada área. A Convenção Internacional

da Diversidade Biológica define, no seu art. 2º, área protegida como a "área

definida geograficamente, que é destinada, ou regulamentada, e administrada

para alcançar objetivos específicos de conservação" (FARIAS et al., 2013).

Tais espaços previstos constitucionalmente por força do disposto no art. 225,

§1º, III da Constituição Federal, não foram definidos de forma específica,

cabendo ao legislador infraconstitucional regulamentar o comando da Carta

Magna. Alguns destes espaços estão atualmente delimitados pelas Leis

9.985/00 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza (SNUC) e na Lei 12.651/12, através das áreas de preservação

Page 23: Acesse a obra

23

permanente, das quais trataremos com mais profundidade, tendo em vista a

relação com o objetivo do trabalho.

No Brasil a primeira tentativa de delimitar áreas de preservação surge

no final do século XIX com a proposta de criação de parques nacionais. Em

1934, com a promulgação do Código Florestal criam-se também as Florestas

Nacionais e as Florestas Protetoras.

As áreas de preservação permanente são propostas apenas em 1965

com a alteração do código florestal, que passa a delimitá-las. Em 2002 a

Resolução nº 303 do CONAMA, em seu Art. 2º e 3º dispõe sobre parâmetros,

definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.

O Código Florestal sofreu alterações mais uma vez através da Lei

12.651/12 que cuidou mais em adequar a norma jurídica a situações já

existentes e que careciam de adaptação no contexto atual. A grande

controvérsia existente se referiu justamente às áreas de reserva legal e as de

preservação permanente haja vista que o que o texto atual previu foi

regularizar situações preexistentes que conflitavam com a legislação até então

vigente. Assim, no tocante as áreas de preservação permanente, a lei nova

veio mais com o fito de regularizar a situação de quem estava em conflito

com ela. Isso ocorreu, em grande parte porque o uso e ocupação nessas áreas

sempre ocorreram de forma desordenada, causando a deterioração do meio,

fazendo surgir os chamados conflitos de uso da terra.

Ocorre, no entanto, que quando tratamos de definir as áreas de

preservação permanente de cursos d’água perenes, não há tanta dificuldade.

Contudo, quando partimos para definir essas mesmas áreas para os cursos

intermitentes esbarramos nas situações de ordem prática. Nesses cursos boa

parte do ano há seca, como, inclusive, ocorre na área objeto do presente

estudo. Associado a esse problema, existe a ocupação desordenada do solo,

cuja ação antrópica tem repercussão decisiva para o desgaste dos recursos

ambientais.

Nesta perspectiva, o presente trabalho tem por objetivo realizar um

mapeamento do uso e ocupação da terra, das áreas de preservação

permanente e a das áreas de conflitos de usos da microbacia hidrográfica

Riacho Fundo, que se localiza no município de Cabaceiras/PB, região do

semiárido do nordeste brasileiro. Para tanto, será levado em consideração o

Novo Código Florestal que estabelece parâmetros, definições e limites

referentes às APP’s subsidiando dessa forma, posteriores ações que levem à

fiscalização e o monitoramento ambiental dessas áreas.

Page 24: Acesse a obra

24

Materiais e Métodos

Caracterização geral da área

A microbacia hidrográfica Riacho Fundo encontra-se situada no

município de Cabaceiras, Estado da Paraíba, a 66 km da cidade de Campina

Grande, e 199 km da capital João Pessoa entre as coordenadas de 7º25’42” a

7º29’20” de latitude Sul e 36º20’12” a 36º24’20’’de longitude Oeste de

Greenwich, no Cariri paraibano, mesorregião da Borborema.

Cabaceiras, por situar no semiárido do nordeste brasileiro, sofre com

questões climatológicas e é considerada o município onde ocorre menor

índice pluviométrico médio anual do país, mas com belezas naturais

exuberantes. O clima predominante na região, de acordo com CPRM (2005),

é do tipo tropical chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa se inicia em

janeiro/fevereiro com término em setembro. O regime pluviométrico é

marcado pela irregularidade de chuvas, no tempo e no espaço, com uma

precipitação média anual de 323.8 mm (Fernandes Neto, 2013) e uma taxa de

evapotranspiração potencial (ETP) anual em 1.302mm (Leite et al., 2011).

A região é marcada por uma vegetação composta pela presença de

caatinga hiperxerófila, de porte arbóreo, arbustivo e herbáceo. Por se tratar de

uma área com relevo suave a ondulado, a pedologia predominante é

composta de associações de solos Litólicos Eutróficos, Vertissolos e minerais

ou Bruno Não-cálcico, ou seja, solos pouco profundos, com textura argilosa

ou arenosa, média cascalhenta, com substrato de gnaisse e granito e

afloramentos rochosos, principalmente em forma de lajedos. Nas partes

baixas dos terrenos, próximas a rios e riachos, também ocorrem os

Planossolos, com textura média/argilosa, imperfeitamente drenados,

moderadamente ácidos e com problemas de sais.

A microbacia do Riacho Fundo abrange uma área de 3757.89 ha,

sendo afluente da sub-bacia do rio Taperoá, que desemboca no Açude

Público Epitácio Pessoa (Boqueirão), sendo este um dos principais

reservatórios de água do Estado, com uso destinado principalmente para o

abastecimento humano.

Materiais Utilizados

O material utilizado, constou de um conjunto de dados cartográficos

obtidos a partir da carta topográfica SB.24-Z-D-III (Boqueirão), de escala

1:100.000, elaborada pela Diretoria de Serviços Geográficos do Ministério do

Exército e da imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM),

disponível no site http://srtm.csi.cgiar.org/selection/listImages.asp, que

Page 25: Acesse a obra

25

serviram de base para a elaboração do estudo da rede de drenagem e do

relevo. Também, o mapa geológico do Programa Geologia do Brasil, folha

SB.24-Z-D-III, Boqueirão de escala 1:1.000.000 do ano de 2012.

Ainda, foi utilizado a imagem do satélite QuickBird, desenvolvido

pela DigitalGlobe, com resolução espacial de 0,61 metros, datada de

set./2009, que auxiliou no estudo da rede de drenagem, bem como na

interpretação do uso atual do solo. Esta imagem foi adquirida via projeto

Edital MCT/CNPq/CT-AGRONEGÓCIO/CT-HIDRO - Nº 27/2008-2.

Para a realização dos mapeamentos e interpolação dos dados

geográficos, provindos da carta topográfica, imagem de satélite, radar e de

campo, via Sistema de Posicionamento Global (GPS), buscou-se auxílio da

tecnologia de Geographic Information System (GIS) IDRISI for Windows,

desenvolvido pela Faculdade de Geografia da Clark University (Eastmann,

1999) e do Autodesk Map 2004. Ainda, em todo o processo de

desenvolvimento do estudo, foram realizadas diversas visitas em campo, para

coleta e convalidação de dados e informações.

Procedimentos Metodológicos

Mapeamento do Uso da Terra

Quando aos usos das terras da microbacia, foram obtidos a partir da

interpretação da imagem do satélite QuickBird, georreferenciada com o uso

do SIG IDRISI. Para a correção geométrica da imagem, foram utilizados

pontos de controle com coordenadas do sistema Universal Transversa de

Mercator (UTM), Datum WGS84, Fuso 24, adquiridas em campo com

equipamento de Sistema de Posicionamento Global (GPS).

A classificação dos usos foi realizada a partir da interpretação visual

dos alvos sobre imagem de satélite em tela do computador. Para tanto, foram

definidas as classes dos diferentes usos e coberturas, observando-se aspectos

como textura, forma, cor e brilho (Pinheiro & Kux, 2005).

Através do o módulo Digitize, foram extraídos os dados referentes

aos usos separadamente em PIs diferenciados, sendo posteriormente

rasterizados no módulo Raster e quantificadas suas áreas, a partir do menu

Gis Analysis – Database Query – Área.

Os usos com suas características individualizadas foram: Vegetação

rala: caatinga hiperxerófila rala, composta por vegetação herbácea e

arbustiva; Vegetação densa: caatinga densa, composta por vegetação

herbácea, arbustiva e arbórea; Corpos d'água: laminas d'água, sendo

açudes/barreiros; Área agrícola: áreas com a presença de algum tipo de

agricultura, ou preparadas para o cultivo; Área erodida: áreas com presenças

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26

de processo erosivo e ravinas; Afloramento rochoso: presença de material

rochoso em superfície; Edificações: áreas com algum tipo de construções;

Estradas: vias de acessos, sendo estradas/caminhos.

Em campo, com o auxílio da imagem de satélite impressa, aparelho de

GPS e câmera fotográfica foram convalidados alvos espectrais de usos,

registrados pontos de conferências, obtidos registros fotográficos, entre

outras observações.

Mapeamento das Áreas de Preservação Permanentes (APP’s)

Consoante dispôs o art. 3º, II da Lei 12651/12 são áreas de

preservação permanente “áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação

nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,

a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e

flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.” As

áreas de preservação permanente são as que a própria lei dispõe ou aquelas

que sejam declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder

Executivo, consoante disposto nos artigos 4º e 6º desta Lei.

Dentro da classificação prevista na lei atual para as áreas de

preservação permanente, temos no art. 4º, inciso I que são APP’s as faixas

marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos

os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

(a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de

largura; (b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10

(dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; (c) 100 (cem) metros, para os cursos

d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; no

topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)

metros e inclinação média maior que 25°.

No Código Florestal anterior, Lei 4771/65, a classificação era a

mesma, exceto no que se refere ao nível através do qual seria calculada a

medição da APP, tendo em vista que a lei anterior previa a partir do nível

mais alto, enquanto a atual estabelece desde a borda da calha do leito regular.

Para determinar as áreas de preservação permanente na microbacia, foi

seguida as determinações da legislação ambiental vigente, já descritas neste

estudo.

Para a elaboração do mapa das áreas de APP’s foi utilizado apenas a

rede de drenagem, composta basicamente por cursos intermitentes, pois a

área apresenta relevo plano a suave ondulado, salvo na porção a montante

que possui um morrote, cuja altitude atinge 661 metros, mas que suas

vertentes não ultrapassam a 20% de inclinação.

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27

Em torno da rede de drenagem, foi delimitada uma faixa marginal

contínua (buffer) de 30 metros para ambos os lados e de 50 metros nas

nascentes e açudes. Esses limites encontram-se fundamentados na Lei

Federal nº 12651 de 2012, que delibera o Novo Código Florestal (NCF) e

define Área de Preservação Permanente (APP)

Mapeamento das Áreas de Conflitos de Usos

De acordo com Oliveira (2003), conflitos de uso da terra são “todas as

formas de uso em desacordo com sua real aptidão, fazendo com que ocorra

alteração sensível no meio natural, causando prejuízo ao rendimento

produtivo deste”. Normalmente, as bibliografias especializadas no assunto

costumam salientar que esses conflitos são provenientes do uso indevido da

terra, gerado por problemas como: poluição, devastação das matas, uso de

encostas íngremes, erosão e alteração do clima.

O levantamento do uso da terra em determinado espaço é de interesse

fundamental para a compreensão dos padrões de organização espacial.

Atualmente, há um interesse crescente com relação às informações sobre o

uso da terra e do solo, para atender à necessidade de expansão e melhoria das

obras de infraestrutura e planejamento do meio sócio espacial.

Dessa forma, as informações para um planejamento do espaço

requerem a atualização constante dos registros de uso da terra e suas

tendências. O desenvolvimento tecnológico, relacionado com os avanços

proporcionados pela informática, especialmente na cartografia, propicia a

elaboração de documentos cartográficos e sensoriais, ampliando em ritmo

acelerado a obtenção de dados referentes a fenômenos ocorrentes na

superfície terrestre e à distribuição espacial dos elementos e variáveis de

interesse para a análise ambiental (Lohmann & Cassol, 2002).

À partir do cruzamento das informações das áreas de preservação

permanente e dos usos da terra da microbacia, obteve-se a definição das áreas

de Usos Conflitantes de acordo com a legislação vigente.

Os conflitos de uso da terra são provenientes da utilização em

desacordo com a capacidade da área, ou seja, uso incorreto, conforme

legislação vigente. Para identificação das áreas de conflito de uso, realizou-se

a técnica da classificação cruzada, disponível no SIG IDRISI. Para tanto, com

o uso do módulo Overlay, foi possível realizar o cruzamento dos dados,

obtendo-se as áreas que estão sendo utilizadas em desacordo com a

legislação.

As áreas ocupadas com mata nativa, açudes (lâmina d’água) e

drenagens (córregos), foram considerados como área em de uso adequado. As

áreas ocupadas com solo exposto, agricultáveis, estradas e edificações, foram

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28

consideradas com uso conflitante, ou seja, em desacordo com a legislação

vigente.

Resultados e Discussão

Uso da Terra

A vegetação da caatinga, na região semiárida do Nordeste brasileiro,

vem enfrentando sérios problemas, em virtude da exploração da lenha para o

abastecimento de padarias, carvoarias, olarias, fábricas em geral, madeireiras,

consumo doméstico, limpezas de áreas para cultivo e exploração pecuária.

Esses problemas, aliados à deficiência hídrica e a conflitos de usos existentes,

acabam agravando, ainda mais, a vulnerabilidade natural do ambiente, como

no caso da microbacia em estudo.

A microbacia Riacho Fundo apresenta uma área total de 3.757,89

hectares, distribuídos em oito classes de usos: vegetação rala e densa, áreas

agrícolas e erodidas, corpos d'água, afloramentos, edificações e estradas,

conforme representação no mapa de uso e ocupação das terras da microbacia

(Tabela 1).

Tabela 1. Quantificação do uso da terra na microbacia Riacho Fundo

Classificação Área (ha) %

Vegetação Rala 1990.20 52.96

Vegetação Densa 1499.66 39.91

Corpos d'água 32.81 0.87

Área agrícola 88.15 2.35

Área erodida 31.96 0.85

Afloramento rochoso 88.46 2.35

Edificações 2.87 0.08

Estradas 23.80 0.63

Total 3757.89 100.00

A área coberta por vegetação (rala e densa) corresponde aos

fragmentos florestais nativos da região e ocupa 92.87% da área total da

microbacia, distribuídas predominantemente na porção do médio e alto curso.

O predomínio dessa vegetação nessas áreas pode ser devido a baixa

densidade de população residente e também por possuir uma grande

propriedade rural particular que utiliza suas terras para criação extensiva de

gado.

Salienta-se o papel importantíssimo para o ambiente, que é da

cobertura vegetal, pois permitem a proteção dos solos contra a ação dos

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29

processos erosivos, diminuindo a velocidade do escoamento superficial,

facilitando a infiltração das águas, entre outros fatores.

No baixo curso da microbacia, há o predomínio da ocupação com

atividades agrícolas, pois as áreas pertencem a pequenos produtores rurais

que utilizam suas terras para cultivos de subsistência. Ainda é nesse setor que

concentra parte dos açudes existentes, devido às formações geológicas

predominantes, que são de rochas cristalinas. Esses açudes, em período de

estiagem prolongada, comum na região, secam por completo.

Áreas de Preservação Permanente (APP’s)

As áreas de preservação permanente foram estabelecidas a partir do

Novo Código Florestal, com o objetivo de identificar a existência de usos

inadequados que podem estar causando danos drenagens da microbacia.

A área, por estar inserida na região mais seca do Brasil, onde a media

anual das chuvas atinge apenas 323,8 mm, sobre terrenos cristalinos, que a

infiltração das águas é prejudicada, ocasionando maior fluxo de escoamento

superficial e ação dos processos erosivos, reflete na rede de drenagem,

composta por uma densidade de 21,7 m/ha, o que retrata um alto volume de

escoamento superficial. Isso ocasiona maior esculturação dos canais, devido à

ação dos processos erosivos, provocando assim, assoreamento das drenagens

nas partes mais baixas dos terrenos.

A rede de drenagem predominante na microbacia e também na região

é constituída basicamente por canais efêmeros e intermitentes, com nascentes

não perenes. Isso justifica o porquê não foram calculadas as áreas de

preservação nas nascentes, pois tanto pela antiga Lei 4771/65 como pelo

Novo Código Florestal, Lei 12651/2012, não prevê APP em nascentes que

não sejam perenes. Assim, temos um impasse na Lei, talvez por ser

generalizada para um país que possui sete biomas e 78 eco regiões - unidade

básica para o planejamento das prioridades de conservação da biodiversidade

nacional (IBAMA, 2003), e que não foram consideradas suas particularidades

para definição da nova Lei.

Assim, levando em consideração a Lei 4771/65, as áreas definidas

como de preservação ambiental levavam em consideração "as faixas

marginais de qualquer curso d’água natural", ou seja, incluía todos os cursos.

Pela nova Lei, a 12.651/2012, temos que considerar áreas de APP’s "as faixas

marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos

os efêmeros".

Nesse particular, Antunes (2013), critica o tratamento dado na

proteção das APP’s nas margens dos cursos d’agua intermitentes, haja vista

que, segundo esta autora a inexistência de um modelo específico para a

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30

proteção das áreas de preservação permanente ao redor destes cursos d’água

que têm um regime hídrico peculiar, vêm acarretando muitos problemas de

ordem jurídica já que os órgãos de controle ambiental têm aplicado sanções

pela ocupação das margens mesmo no período de estiagem.

Assim, é possível observar que em nossa microbacia de estudo e

região, praticamente não se tem área de preservação ao longo das drenagens,

ou reduziu significativamente, como pode ser observado na Tabela 2, Figura

1 e 2 que seguem.

Tabela 2. Quantificação das áreas de preservação permanentes conforme

Leis ambientais

APP Lei 4.771/1965 Lei 12.651/2012

Área (ha) % Área (ha) %

30m ao longo das drenagens 464.95 12.37 101.21 2.69

50m ao redor dos açudes 47.62 1.27 47.62 1.27

100m ao longo do Rio 50.63 1.35 50.79 1.35

Total 563.20 14.99 199.62 5.31

Figuras 1 e 2. Redução das Áreas de Preservação Permanente conforme

legislação ambiental.

Levando-se em consideração a legislação federal atual, apenas 5,31%

da área total da microbacia que é de 3757,89 hectares, são consideradas Área

de Preservação Permanente. Destas áreas a maior parte, 152,00 hectares estão

ao longo dos cursos d’água e rio e 1,27%, ou seja, 47,65 hectares pertencem

às áreas ao redor dos açudes.

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31

A classificação das áreas de APP’s, mesmo que ocupando uma porção

restrita da microbacia, apresenta significativa importância para a conservação

do solo, da água e da biodiversidade da mesma, conforme enfatiza Pinto et al.

(2005).

Conflitos de Uso da Terra

As informações obtidas a partir do cruzamento dos dados referentes ao

uso e ocupação das terras e das áreas de preservação permanentes

possibilitaram a identificação das áreas que estão sendo ocupadas

inadequadamente, sendo estas denominadas áreas de conflitos de uso

conforme Tabela 3.

Tabela 3. Quantificação das áreas de usos conflitantes, conforme Legislação

ambiental.

Usos

APP Dren

(30m)

(ha)

APP

Açudes

(50m)

(ha)

APP

Rio

(100m)

(ha)

Uso

em

APP

(ha)

% do

Total

Área

Vegetação Rala 41,01 37.90 20.26 99.17 2.64

Vegetação Densa 47.96 6.38 12.17 66.51 1.77

Áreas agrícolas 3.87 1.78 17.08 22.73 0.60

Áreas erodidas 5.74 0.07 0.10 5.91 0.16

Afloramento rochoso 2.39 1.36 0.88 4.63 0.12

Edificações - - 0.12 0.12 0.00

Estradas 0.24 0.13 0.18 0.55 0.01

Total 101.21 47.62 50.79 199.62 5.31

É possível observar que a ocupação conflitante predomina ao longo

dos cursos d’água, ou seja, em 101,21 hectares, que deveriam predominar

apenas a presença de vegetação ou mata ciliar, ocorre também a áreas

cultivadas (agrícolas), erodidas, afloramentos rochosos, edificações e

estradas. A presença da mata ciliar ao longo das drenagens contribui de forma

significativa para a contenção dos solos, evitando processos erosivos e

assoreamentos de açudes e drenagens nos períodos chuvosos.

O cultivo agrícola nessas áreas é comum, pois a presença de solo de

aluvião e com certa umidade, tornam atrativo para o cultivo, em se tratando

de uma região semiárida.

As áreas erodidas, também são feições marcantes na microbacia,

ocupando 5,74 hectares ao longo das áreas destinadas a preservação,

refletindo o problema ambiental existente, ocasionado tanto por questões

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32

naturais, pelo processo de lixiviação no período das chuvas, como pela ação

antrópica, quando cultivadas sem uso do manejo correto do solo.

Os resultados demonstram o não cumprimento da Legislação referente

ao uso e ocupação do solo, em 0,89% da microbacia, evidenciando assim a

necessidade de elaboração de um plano de recomposição da vegetação dessas

áreas, uma vez que o uso incorreto do solo reflete diretamente na quantidade

e qualidade de água encontrada na microbacia hidrográfica, bem como no

combate a ação dos processos erosivos.

Conclusões e Recomendações

O estudo do uso do solo a partir da imagem de satélite de alta

resolução permitiu uma visão ampla e ao mesmo tempo detalhada da área. A

vegetação nativa, devido a exploração de madeira, muito comum na região

para fabricação de carvão, vem sofrendo alterações ao longo dos anos,

deixando o solo cada vez mais descoberto, vulnerável a ação dos processos

erosivos.

A área de preservação permanente total representa 5.31% da área total

da microbacia onde, 0.89% encontram-se sob usos conflitantes. De acordo

com esses dados, evidencia-se o descumprimento da legislação e a

necessidade de recomposição florestal dessas áreas com vegetação nativa.

Sendo assim, é evidente a importância de se realizar estudos que

visem à identificação, recuperação das áreas destinadas a preservação, pois as

mesmas são de suma importância para manutenção de espécies e preservação

e conservação da vida. Salienta-se ainda, que deveriam permanecer

reservadas, sem implantação de lavoura ou qualquer outro tipo de atividade,

favorecendo a manutenção dos ecossistemas.

Referencias Bibliográficas

CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de

abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do município de

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Page 34: Acesse a obra

34

CAPÍTULO III

CLASSIFICAÇÃO DO USO DA TERRA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA RIACHO FUNDO/PB

Silvana Fernandes Neto

Pedro Dantas Fernandes

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Introdução

O conhecimento das características do meio físico e suas interações,

perante as múltiplas intervenções do homem sobre o ambiente, possibilitam

uma compreensão e interpretação das correlações existentes, bem como

viabilizam estudos e estratégias ou planejamentos, que podem direcionar a

um convívio harmônico. Deste modo, os possíveis problemas existentes e

adversidades podem ser amenizados, podendo assim promover a

sustentabilidade.

Há existência de um crescente interesse às informações de uso e

ocupação das terras, para atender às necessidades de melhorias e

planejamento do meio sócio espacial. Dessa forma, as informações para um

planejamento do espaço requerem a atualização constante dos registros de

usos da terra e suas tendências.

Os avanços proporcionados, principalmente pelas tecnologias de

geoprocessamento, propiciam a elaboração de documentos cartográficos e

sensoriais, ampliando em ritmo acelerado a obtenção de dados referentes a

fenômenos ocorrentes na superfície terrestre e à distribuição espacial dos

elementos e variáveis de interesse para a análise ambiental.

Neste contexto, o presente estudo tem por objetivo realizar um

mapeamento do uso e ocupação da terra na microbacia hidrográfica Riacho

Fundo, localizada no município de Cabaceiras/PB, a fim de compreender os

processos físicos existentes e suas interelações, através da perspectiva

quantitativa, visando o planejamento ambiental, gestão e conservação dos

recursos naturais.

Materiais e métodos

A microbacia hidrográfica do Riacho Fundo, localiza-se na porção

central do estado da Paraíba, ao norte do município de Cabaceiras, na posição

de 7º25’36” lat. Sul e 36º20’18” long. Oeste, no cariri paraibano,

Page 35: Acesse a obra

35

mesorregião da Borborema, distando aproximadamente 66 km da cidade de

Campina Grande e 199 km da capital João Pessoa.

O município de Cabaceiras, por situar no semiárido do nordeste

brasileiro, sofre com questões climatológicas e é considerado o município

onde ocorre menor índice pluviométrico médio anual do país, mas com

belezas naturais exuberantes.

Cabaceiras, devido suas peculiaridades é conceituado como um dos

principais roteiros turísticos do Estado e conquistou espaço de destaque no

cinema nacional, servindo de cenários para gravações de inúmeros

documentários e filmes, atraindo turistas do Brasil e do exterior para a região.

O clima predominante na região, de acordo com CPRM (2005), é do tipo

tropical chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa se inicia em

janeiro/fevereiro com término em setembro. O regime pluviométrico é

marcado pela irregularidade de chuvas, no tempo e no espaço, com uma

precipitação média anual de 323,8 mm (FERNANDES NETO, 2013) e uma

taxa de evapotranspiração potencial (ETP) anual de 1302 mm (LEITE et al.,

(2011).

A região é marcada por uma vegetação composta pela presença de

caatinga hiperxerófila, de porte arbóreo, arbustivo e herbáceo.

Por se tratar de uma área com relevo suave a ondulado, a pedologia

predominante é composta de associações de solos Litólicos Eutróficos,

Vertissolos e minerais ou Bruno não-cálcico, ou seja, solos pouco profundos,

com textura argilosa ou arenosa, média cascalhenta, com substrato de gnaisse

e granito e afloramentos rochosos, principalmente em forma de lajedos. Nas

partes baixas dos terrenos, próximas a rios e riachos, também ocorrem os

Planossolos, com textura média/argilosa, imperfeitamente drenados,

moderadamente ácidos e com problemas de sais.

A microbacia do Riacho Fundo abrange uma área de 3.757,89ha,

sendo afluente da sub-bacia do rio Taperoá, que desemboca no Açude

Público Epitácio Pessoa (Boqueirão), sendo este um dos principais

reservatórios do Estado, tendo suas águas, destinadas principalmente, para o

abastecimento humano.

O material utilizado para o estudo constou da imagem do satélite

QuickBird, desenvolvido pela Digital Globe, com resolução espacial de 0,61

metros, datada de set./2009, a qual auxiliou no estudo da rede de drenagem,

bem como na interpretação do uso atual do solo. Esta imagem foi adquirida

via projeto Edital MCT/CNPq/CT-AGRONEGÓCIO/CT-HIDRO - Nº

27/2008-2.

Para a realização dos mapeamentos e interpolação dos dados

geográficos, provindos da imagem de satélite e de campo, via Sistema de

Posicionamento Global (GPS), utilizou-se a ferramenta de Geographic

Page 36: Acesse a obra

36

Information System (GIS) IDRISI for Windows, desenvolvido pela Faculdade

de Geografia da Clark University (Eastmann, 1999) e do Autodesk Map

2004. Ainda, em todo o processo de desenvolvimento do estudo, foram

realizadas diversas visitas em campo, para coleta e convalidação de dados e

informações.

O mapeamento dos usos das terras da microbacia, foi obtido a partir

da interpretação da imagem do satélite georreferenciada com o uso do SIG

IDRISI. Para a correção geométrica da imagem, foram utilizados pontos de

controle com coordenadas do sistema Universal Transversa de Mercator

(UTM), Datum WGS84, Fuso 24, adquiridas em campo com equipamento de

Sistema de Posicionamento Global (GPS). A classificação dos usos foi

realizada a partir da interpretação visual dos alvos sobre imagem de satélite

em tela do computador. Para tanto, foram definidas as classes dos diferentes

usos e coberturas, observando-se aspectos como textura, forma, cor e brilho

(Pinheiro e Kux, 2005). Através do o módulo Digitize, foram extraídos os

dados referentes aos usos separadamente em PIs diferenciados, sendo

posteriormente rasterizados no módulo Raster e quantificadas suas áreas, a

partir do menu Gis Analysis –Database Query – Área.

Os usos com suas características individualizadas foram: Vegetação

rala: caatinga hiperxerófila rala, composta por vegetação herbácea e

arbustiva; Vegetação densa: caatinga densa, composta por vegetação

herbácea, arbustiva e arbórea; Corpos d'água: laminas d'água, sendo

açudes/barreiros; Área agrícola: áreas com a presença de algum tipo de

agricultura, ou preparadas para o cultivo; Área erodida: áreas com presença

de processo erosivo e ravinas; Afloramento rochoso: presença de material

rochoso em superfície; Edificações: áreas com algum tipo de construções;

Estradas: vias de acessos, sendo estradas/caminhos. Em campo, com o

auxílio da imagem impressa, aparelho de GPS e câmera fotográfica foram

convalidados alvos espectrais de usos, registrados pontos de conferências,

obtidos registros fotográficos, entre outras observações.

Resultados e discussão

A vegetação da caatinga, na região semiárida do Nordeste brasileiro,

vem enfrentando sérios problemas, em virtude da exploração da lenha para o

abastecimento de padarias, carvoarias, olarias, fábricas em geral, madeireiras,

consumo doméstico, limpezas de áreas para cultivo e exploração pecuária.

Esses problemas, aliados à deficiência hídrica existente, acabam agravando,

ainda mais, a vulnerabilidade natural do ambiente, como no caso da

microbacia em estudo.

Page 37: Acesse a obra

37

Na microbacia Riacho Fundo, foi possível definir e quantificar oito

classes de usos da terra sendo: vegetação rala e densa, áreas agrícolas e

erodidas, corpos d'água, afloramentos, edificações e estradas, conforme

representação no mapa de uso e ocupação das terras da microbacia (Figura 1).

Figura 1. Mapa de Uso/Ocupação da Microbacia.

Classe de uso I, caracterizada pela presença de vegetação rala ou espalhada,

compostas por plantas hiperxerófilas, herbáceas e arbustivas, com porte

baixo, de caráter seco e resistente a grandes períodos de estiagem, típicas de

solos pedregosos, rasos e de pouca fertilidade. Dentre as espécies de

vegetação herbáceas e arbustivas, mais comuns encontradas, destacam-se:

Marmeleiro (Croton sonderianus); Pinhão bravo (Jatropha molissima);

Catingueira (Caesalpinia pyramidalis). Ainda, variedades de cactáceas:

Coroa-de-frade (Melanocactus brasiliensis); Facheiro (Pilocereus sp);

Mandacaru (Cereus jamacaru); Xique-xique (Pilocereus gounellei);

Palmatória de espinho (Opuntia palmadora) e, também é frequente a

presença de algumas bromeliáceas Caroá (Neglaziovia variegata) e

Macambira (Bromelia laciniosa), típicas de áreas com déficit hídrico, entre

outras espécies. Essa vegetação ocupa 52,96% da microbacia, ou seja,

1.990,20ha, concentrada, basicamente na porção central ou no médio-baixo

curso. Talvez o predomínio dessa vegetação nessas áreas, é devido à

Page 38: Acesse a obra

38

influência da ocupação ser mais intensa nas mesmas, pois na região, uma das

características marcantes, ao longo dos tempos, tem sido a criação de gado e

também a exploração da madeira, como fonte de renda. A substituição da

vegetação nativa por áreas de pastagens, limpeza de roçado e também a

extração de madeira para produção de carvão, ainda são atividades presentes

na região da microbacia. Essa problemática ambiental vem se repetindo,

desordenadamente ao longo dos tempos, desde o séc. XVII, no semiárido

nordestino, conforme evidenciam Alves et. al. (2009) onde os criadores de

gado usavam a queima do pasto, para facilitar o brotamento, colocando

grande quantidade de animais (bovinos, caprinos e ovinos) nas áreas.

Classe de uso II, caracterizada pela presença de vegetação densa, composta

por três estratos típicos da caatinga: herbáceo, arbustivo e arbóreo, com

predomínio de espécies de pequeno e médio porte, densa e resistente a

períodos de estiagem. Dentre as espécies classificadas, tem-se além das

herbáceas e arbustivas, sendo o Marmeleiro, Pinhão bravo, Catingueira,

Coroa-de-frade, Facheiro, Mandacaru, Xique-xique, Palmatória, Caroá,

Macambira, entre outras; também, as arbóreas, sendo: Angico

(Anadenanthera columbrina); Aroeira (Myracrodruon urundeuva); Baraúna

(Shinopsis brasiliensis); Craibeira (Tabebuia caraíba); Jurema preta (Mimosa

tenuiflor.); Pereiro (Aspidosperma pyrifolium.); Juazeiro (Zizyphus joazeiro)

e; Umbuzeiro (Spondias tuberosa). Essa vegetação recobre uma área de

1.499,66ha, ou seja, 39,91% do total da microbacia, situadas principalmente

nas áreas com maiores altitudes, concentrando-se na porção a montante e

também próximo às drenagens, como no caso das Algarobas (Prosopis

juliflora). A ocorrência dessa vegetação densa na microbacia, talvez seja por

sua grande maioria estar localizada em uma área particular, pouco explorada

pelo seu proprietário, ou também por estar em área de difícil acesso, com

declividades acima de 13%, com presença de afloramentos de rochas, que

servem de proteção dessas espécies e, ainda, por estarem próximas às

drenagens. Salienta-se que a algaroba é uma espécie exótica, originária do

Peru e que se adaptou e expandiu ligeiramente na região. É considerada

planta invasora, e foi introduzida no nordeste brasileiro com a finalidade de

forragem, em época de escassez, e sua dispersão vem ocorrendo tanto pela

própria regeneração natural, como pela dispersão por sementes pelos animais

(OLIVEIRA, 2006). Apesar de a algaroba ser boa produtora de forragem e

lenha, causa alguns receios, pois sua disseminação é rápida, principalmente

junto às drenagens, e isso causa impactos, que talvez possam representar um

problema maior para a conservação da biodiversidade da caatinga. Duque

(2004) destaca que a caatinga é um complexo vegetativo sui gênesis, é um

laboratório biológico de imenso valor, que urge ser preservado como fonte de

Page 39: Acesse a obra

39

espécies botânicas para estudos e aproveitamento futuros em benefício da

humanidade.

Classe de uso III, definida como corpos d'água, representa as lâminas d'água

dos açudes e barreiros. Essas áreas são pouco expressivas e recobrem apenas

32,81 ha, ou seja, 0,87% da microbacia. Os açudes e barreiros localizam-se

nas porções do médio e baixo curso da microbacia, talvez dado pela

concentração de residências nessas áreas. As águas dos mesmos são

utilizadas, em sua totalidade, para dessedentação animal, pois para irrigação

de culturas agrícolas, que são muito poucas, utilizam-se águas provindas de

alguns poços perfurados nas residências rurais ou de cacimbas construídas na

margem do Rio Taperoá. Salienta Galvíncio (2006) que no semiárido, se os

corpos d'água não forem suficientemente profundos, perdem água pela

evaporação potencial, exaurindo em poucos meses após o final das chuvas. A

porção de água da chuva que se infiltra no solo, em parte é protegida da

evaporação. Depois de uma precipitação forte, a água se mantém na

subsuperfície, por semanas e até meses, favorecendo algumas plantas que,

através de suas raízes, beneficiam-se dessa umidade. A

Classe de uso IV, definida como áreas agrícolas foram aquelas que se

encontravam com algum tipo de cultura ou preparadas para o cultivo. São

pouco expressivas na microbacia, abrangendo uma área de 88,15ha, sendo

2,35% do total. As principais culturas encontradas foram milho (Zea mays)

coco (Cocos nucífera) e banana (Musa paradisiaca). A baixa densidade de

culturas agrícolas na microbacia pode ser devido a escassez hídrica na região

ou também pela a mesma se destacar no cenário estadual, pela produção

coureira, onde grande parte da população residente, sobrevive trabalhando em

pequenos curtumes e em uma cooperativa que transforma o couro em

produtos artesanais, para serem comercializados na região e também em

outros municípios e Estados brasileiros.

Classe de uso V caracteriza as áreas erodidas, marcadas pela presença de

algum tipo de ação de processo erosivo, seja por erosão laminar, em sulcos

ou em ravinas. Essas áreas recobrem 31,96 ha, localizadas, principalmente na

região do alto curso da microbacia. O processo de erosão laminar encontrado

pode estar associado ao escoamento superficial difuso das águas das chuvas,

pois ocasionam a remoção progressiva e relativamente uniforme dos

horizontes superficiais dos solos frágeis. Já a erosão em sulcos, ou em

ravinas, é a causada pela concentração das linhas de fluxo das águas de

escoamento superficial, nas áreas com topografia rebaixada, resultando em

pequenas incisões na superfície do terreno.

Page 40: Acesse a obra

40

Classe VI de uso, caracteriza os afloramentos rochosos, apresentadas tanto

em forma de blocos como em lajedos. Essas áreas recobrem 88,46 ha da

microbacia, predominantemente no setor do baixo e alto curso, onde se

encontram rochas cristalinas.

Classe VII caracteriza as edificações ou áreas construídas que ocupam

apenas 0,08% da microbacia, totalizando 352 unidades. A maior

concentração de edificações e população encontra-se na sede do distrito da

Ribeira. Esta sede encontra-se bem estruturada, com vias calçadas, casas

alinhadas, comércio, escola e igreja. A presença de casas abandonadas é uma

cena comum na microbacia, assim como hoje em dia nas zonas rurais dos

municípios brasileiros. Na busca de melhores condições de estudo, trabalho e

segurança, a população rural, principalmente composta por jovens, abandona

o campo e suas famílias, partem para as cidades, marcando assim, as

estatísticas do êxodo rural. A

Classe de uso VIII caracterizada pelas vias de acesso, sendo estradas e

caminhos da microbacia, ocupa uma área de 23,80ha, cerca de 0,60% do

total. Essas áreas se encontram com problemas de conservação, estreitas, com

muitos buracos, sem valas laterais ou sarjetas, sem bueiros ou drenos, com

plantas invadindo as vias, entre outros. Muitos dos problemas que envolvem

as vias de acesso se agravam no período chuvoso, pois a água não tendo por

onde escorrer, seu fluxo concentra no leito das vias, favorecendo ação da

erosão laminar, que carreia sedimentos para as áreas mais baixas, causando

maiores danos ao ambiente. Pruski et al. (2006) enfatizam que as estradas

vicinais de terra são responsáveis por perda anuais de solo em mais de 100

milhões de toneladas. Calcula-se que 70% deste solo devem chegar aos

mananciais, transportados pelas enxurradas. Essas estradas são de

fundamental importância econômica e social para as comunidades rurais, pois

exercem função de conexão, estabelecendo a ligação entre as comunidades

produtoras e consumidoras, bem como por onde circulam mercadorias e

mercados. Uma manutenção simples resolveria grande parte dos problemas

dessas comunidades. Boas estradas permitem o tráfego a qualquer hora, dão

segurança aos usuários, reduzem os custos de transportes, favorecem o

desenvolvimento de comunidades, propicia o bem estar à população, melhora

a arrecadação municipal, entre outros benefícios. Mas infelizmente, grande

parte da população que vive e sobrevive do meio rural, recebe muito pouco

incentivo, tanto fiscal, infraestrutura, entre outros, ficando a mercê da boa

vontade política de seus governantes.

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41

Considerações finais

Foi possível constatar que a microbacia Riacho Fundo é composta

por rochas muito antigas, do embasamento cristalino e um relevo que varia

entre suave e ondulado. Há grandes dificuldades de infiltração das águas e

com isso, forte ação dos processos erosivos sobre os solos descobertos e

drenagens.

Na sede do distrito da Ribeira, é onde, concentra e reside grande

parte da população encontrada. Essa sede apresenta boa estrutura, com vias

calçadas, casas alinhadas e ainda, um pequeno comércio, uma escola e uma

igreja.

A vegetação predominante na microbacia é de caatinga rala,

recobrindo praticamente 53% de toda a microbacia, mas que se encontra

muito degradada. A substituição da vegetação nativa por áreas de pastagens,

limpeza de roçado e também a extração de madeira para produção de carvão,

ainda são atividades presentes.

O regime pluviométrico que marca a região paraibana é

caracterizado pela irregularidade das chuvas, tanto no tempo como no espaço.

O cenário de escassez hídrica baliza um forte entrave ao desenvolvimento

socioeconômico e até mesmo, à subsistência da população. Assim, é

eminente a necessidade de adoção de medidas de planejamento e gestão,

tanto por parte do poder publico, como da população em geral, que venham a

contribuir com alternativas para o desenvolvimento sustentável da região.

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ALVES, J. J. A.; ARAÚJO, M. A. de; NASCIMENTO, S. S. do. Degradação

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Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de

Pernambuco, 2004.

Page 43: Acesse a obra

43

CAPÍTULO IV

TRATAMENTO DE ÁGUA CINZA EM TANQUES EVAPORÍMETROS PARA REUSO NA AGRICULTURA

Aline Costa Ferreira

Viviane Farias Silva

Enoque Marinho de Oliveira

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Dermeval Araújo Furtado

Introdução

A escassez de água em regiões semiáridas é uma limitação no cultivo

para fins de alimentação humana como animal. O tratamento de águas

secundaria ou servidas torna-se uma forma de romper esta barreira e

conseguir produzir, conduzir e manter o desenvolvimento de forragens como

também frutíferas.

O uso de águas residuais, com ou sem tratamento, está aumentando

em regiões áridas e semiáridas, pois é um recurso valioso e abundante

(CIRELLI et al. 2009). De acordo com Muyen et al. (2011), a reutilização de

águas domesticas traz benefício ambiental, ocasionado pela diminuição da

captação de águas subterrâneas e a redução de descarga de efluentes

diretamente nos corpos hídricos. Na agricultura o uso de água residuária é

extenso em múltiplos países, com vantagens econômicas através da redução

de água e insumos agrícolas como fertilizantes.

O reuso de água residuária de esgoto doméstico, utilizada em irrigação

para produção de culturas prioritárias, torna-se um alternativo potencial,

incrementando a produção agrícola. Em pesquisas realizadas por Carr et al.

(2011) na Jordânia, mostrou que produtores agrícolas conhecem a

disponibilidade de efluentes durante todo o ano e os benefícios econômicos

de sua utilização na agricultura.

As águas cinza sem nenhum tratamento são reutilizadas em descargas

sanitárias, lavagens de calçadas como também na irrigação na irrigação de

jardins, tornou-se alguns países uma pratica vigente, apesar do aspecto

relativamente desagradável da água de reuso (GONÇALVES, 2006).

Os tanques evaporímetros é uma alternativa para tratamento de água

cinza que servirá para a produção agrícola. Nesse contexto o trabalho foi

realizado objetivando-se inserir os tanques evaporímetros para tratar as aguas

cinza proveniente da Lavanderia pública e cultivar forragens e frutíferas nos

tanques.

Page 44: Acesse a obra

44

Material e métodos

A pesquisa foi desenvolvida nas instalações da Lavanderia Pública

do Distrito de Ribeira, município de Cabaceiras, PB, com uma população de

2.500 habitantes, pois o mesmo localiza-se numa das mais secas regiões do

Brasil, no semiárido do cariri paraibano. Distante 183,8 km de João Pessoa,

capital do Estado da Paraíba e 78 km de Campina Grande, localizada nas

coordenadas geográficas 7° 29′ 21″ Sul, 36° 17′ 18″ Oeste e altitude de 382m

acima do nível do mar, inserida na unidade geoambiental do Planalto da

Borborema, formada por maciços e outeiros altos, com altitude variando

entre 650 a 1.000 metros.

Os tanques evaporímetros (Unidades) consistem em um depósito de

água dentro do solo (sistema de acumulação de solo e água) forrado com lona

plástica com uma área de aproximadamente 6 m2

com a utilização de pneus

velhos (usados).

O tanque possui as seguintes dimensões: 3,0 x 2,0 x 1,0m, com

volume de 6 m3

, sendo construídas através de uma escavação em forma de

vala. Os tanques evaporímetros foram baseados em Gabialti (2009),

modificando o método de impermeabilização e preenchimento, conforme

Quadro 1.

Quadro 1. Metodologia Gabialti (2009) versus a utilizada nesse experimento

(Modelo modificado)

Page 45: Acesse a obra

45

Para a construção do tanque (unidade) com as seguintes dimensões (3

x 2 x 1 m), 6m3, foram necessários os seguintes materiais:

7 metros de Lona plástica de 200 micras;

336 litros ou 0,33m3 de areia;

480 litros 0,48 m3 de brita nº1;

536 litros de brita nº 5 0,53 m3;

1 caixa d’água de 500 litros;

4 tubos de PVC de 100 mm;

1 registro de água;

2 cotovelos de 90° de 100 mm;

21 pneus usados de carro comum;

Dois trabalhadores foram necessários para a escavação das 8 valas

(tanques) e na montagem dos tanques evaporímetros.

Resultados e discussão

Após a escavação, as mesmas foram impermeabilizadas com lona

plástica de 200 micras para evitar a infiltração da água no solo (Figura 1).

Figura 1. Escavação dos tanques evaporímetros, instalação da lona e ligação

com a caixa d’água.

Após cada tanque ter sido escavado e posto a lona para

impermeabilização, para que não ocorra infiltração. Em seguida foi colocada

uma pilha de pneus, aproximadamente 21 pneus e um tubo de PVC perfurado

passando por dentro dos pneus (Figura 2) onde ocorrerá a limpeza da água

através das bactérias (digestão anaeróbica do efluente) que escorre pelos

espaços entre pneus.

Page 46: Acesse a obra

46

Figura 2. Tubos de PVC perfurados e a montagem dos tanques instalando os

tubos e os pneus.

No preenchimento de cada tanque foram necessários 0,33m3

de areia,

0,48 m3

de brita nº1 e 0,53 m3

brita nº 5. As camadas foram construídas e

distribuídas da seguinte forma (Figura 3):

Camada 1: preenchida com uma camada de 35 cm de brita nº 5;

Camada 2: preenchida com uma camada de 25 cm de brita nº 1;

Camada 3: preenchida com uma camada de 20 cm de areia;

Camada 4: preenchida com uma camada de 20 cm de solo retirado

da própria escavação.

Figura 3. Sequencia de preenchimento do tanque com areia, brita e solo.

Fonte: Gabialti (2009).

Solo

(20 cm)

Areia

(20 cm)

Brita nº 1

(25 cm)

Brita nº 5

(35 cm)

Page 47: Acesse a obra

47

Após os tanques serem impermeabilizadas com as lonas plásticas

foram preenchidas por uma camada de areia seguida de pedras assentadas

sobre o fundo das valas com materiais de granulometria decrescente (no

sentido de baixo para cima). No fundo estão as pedras grandes (britão).

Acima vêm as pedras menores a exemplo de cascalhos e seixos e acima

destes está uma série de pneus alinhados preenchendo toda extensão do

tanque (unidade). Conforme foi sendo colocados os pneus no tanque no seu

interior foi sendo inserida a brita n° 5 e o tanque começou a ser preenchido

conforme mostra a Figura 4 e Figura 5.

Figura 4. Início do preenchimento do tanque.

Figura 5. Fase final do preenchimento dos tanques evaporímetro.

O encanamento da água de lavagem de roupas (águas cinzas) vinda da

lavanderia foi canalizada para o centro dos pneus através de um tubo de PVC

de 100mm perfurados para facilitar a distribuição no meio onde acontecerá a

Page 48: Acesse a obra

48

limpeza da água através das bactérias (digestão anaeróbica do efluente) que

escorre pelos espaços entre pneus.

Inicialmente a água cinza passará para a caixa d’água que terá um

registro de gaveta para o monitoramento do volume para depois através de

um tubo de PVC de 100 mm passará para o tanque evaporímetro (Figura 6).

Figura 6. Visão do corte transversal do sistema de tratamento de esgoto.

Fonte: Gabialti (2009).

A caixa de 500 litros receberá a água cinza da lavanderia que será

direcionado para os tanques pela tubulação (Figura 7) onde ocorrerá um

tratamento anaeróbio. Á agua cinza armazenada nos tanques estará disponível

para as culturas que forem implantadas na área da superfície dos tanques.

Para que não precise de instalação de bombas hidráulica, a caixa d’água foi

colocada num local estratégico, mais alto que os tanques, para que com a

gravidade a água vá para o tanque.

Figura 7. Local de armazenamento da água da lavanderia para passar aos

tanques.

A entrada das águas cinzas no tanque se dá por meio de tubo de PVC

de 100mm instalado 30 cm acima da base no tanque unidade, até atingir uma

altura de 50 cm de água cinza em cada tanque. O volume de água cinza

Entrada da agua residuária no tanque

Page 49: Acesse a obra

49

conduzido para cada Unidade foi de aproximadamente 4,42m3, mantendo

assim uma altura de 50 cm de água dentro de cada Unidade. A frequência de

alimentação de água nas Unidades foi feita a cada 72 horas e esse

monitoramento foi feito através da medição da altura da água dentro da

Unidade com o auxílio de uma régua de madeira, mantendo assim 50 cm de

lâmina d’água.

Nas proximidades da caixa d’água tem que ser instalado um registro

de água conforme a Figura 8, para a abertura ou fechamento da água que

estará na caixa d’água para o tanque para não ocorrer excesso. Dependendo

da vazão que estiver disponível diariamente podem-se construir vários

tanques conforme a necessidade do local. O comprimento dos tubos de PVC

vai variar conforme a distância da caixa d’água para os tanques então caso

seja um pouco distante haverá de utilizar mais tubos.

Depois de implantado o tanque evaporímetro, em sua superfície foi

realizado o plantio de plantas frutíferas e forrageiras (Figura 9) que foram

utilizadas na alimentação dos animais dos pequenos produtores do Distrito de

Ribeira como também os frutos do maracujá foram cedidos a comunidades,

como forma de demonstrar os resultados da implantação dos tanques

evaporimetros no tratamento da água cinza.

No sistema foram plantadas duas culturas com destinação à

alimentação animal as quais são a mucuna-preta (Mucuna pruriens (L.)) e o

capim elefante (Pennisetum purpureum) e uma para consumo humano, o

maracujá (Passiflora sp).

Figura 8. Registro próximo a caixa d’água e a tubulação que liga ao tanque.

Page 50: Acesse a obra

50

Figura 9. Forragens (mucuna e capim elefante roxo) cultivada na superfície

dos tanques evaporímetros.

Conclusões

A implantação dos tanques evaporímetros modificou a paisagem do

local, com o verde das forragens.

Os pequenos produtores utilizaram a forragem para alimentação dos

animais, tornando-se uma fonte de alimentação em locais com escassez de

água.

A água cinza da lavanderia publica não é mais lançada no meio

ambiente sem nenhum tratamento, havendo assim uma redução dos impactos

ambientais.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, O. A. de. Qualidade da água de irrigação [recurso eletrônico] /

Otávio Álvares de Almeida. - Dados eletrônicos. - Cruz das Almas: Embrapa

Mandioca e Fruticultura, 2010.

Page 51: Acesse a obra

51

GALBIATI, A. F. Tratamento Domiciliar de Águas Negras através de

Tanque de Evapotranspiração. 2009. 38f. Dissertação (Mestrado).

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Centro de Ciências Exatas e

Tecnologia.

FERREIRA, A. C.; FARIAS, V. F.; LIMA, V. L. A.; BARACUHY, J. G. V.

TRATAMENTO DE ÁGUA DE LAVANDERIA PARA PRODUÇÃO

AGRICOLA NO SEMIÁRIDO. I Workshop Internacional Sobre Água no

Semiárido Brasileiro. Campina Grande, 2013.

CARR, G., POTTER, R. B., NORTCLIFF, S. Water reuse for irrigation in

Jordan: Perceptions of water quality among famers. Agricultural Water

Management, V. 98, I. 5, p.847-854, mar.2011.

CIRELLI, A. F.; ARUMÍ J. L.; RIVERA D.; BOOCHS P. W.;

Environmental effects of irrigation in arid and semi-arid. Regions Chilean J.

Agric. Res., vol. 69 (Suppl. 1), Dec. 2009.

MUYEN Z.; MOORE G. A.; WRIGLEY R. J. Soil salinity and sodicity

effects of wastewater irrigation in South East Australia. Agricultural Water

Management. v 99, n 1, p 33-41, Aug.2011.

GONÇALVES, R. F. et al (Coord.). Uso Racional da Água em Edificações.

Projeto PROSAB. Rio de Janeiro: ABES, 2006.

Page 52: Acesse a obra

52

CAPÍTULO V

TRATAMENTO DE ÁGUA DE LAVANDERIA PARA

PRODUÇÃO AGRICOLA NO SEMIÁRIDO

Aline Costa Ferreira

Viviane Farias Silva

Vera Lucia Antunes de Lima

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Introdução

O Nordeste é uma região que possuem solos rasos e pedregosos, além

de irregulares pluviosidades. A escassez de água nas regiões áridas e

semiáridas, decorrente a falta de infraestrutura de abastecimento

especialmente em áreas rurais, é um problema com maiores proporções em

países em desenvolvimento. Na região semiárida do nordeste brasileiro

habitam 196,7 milhões de pessoas, sendo considerado o semiárido mais

populoso do mundo (IBGE, 2010).

A produção agrícola em regiões áridas e semiáridas é limitada, devido

à escassez de água, surgindo novas alternativas, sendo pesquisadas e

validadas para garantir a sustentabilidade da produção. Assim, o reuso de

água residuária de esgoto doméstico, utilizada em irrigação para produção de

culturas prioritárias, torna-se um alternativo potencial, incrementando a

produção agrícola. Carr et al. (2011) em sua pesquisa na Jordânia, revelou

que produtores agrícolas conhecem a disponibilidade de efluentes durante

todo o ano e os benefícios econômicos de sua utilização na agricultura.

Segundo Cirelli et al. (2009) o uso de águas residuais, com ou sem

tratamento, está aumentando em regiões áridas e semiáridas, pois é um

recurso valioso e abundante.

O uso de água residuária na agricultura é extenso em múltiplos países,

com vantagens econômicas através da redução de água e insumos agrícolas

como fertilizantes. De acordo com Muyen et al. (2011), a reutilização de

águas domesticas traz benefício ambiental, ocasionado pela diminuição da

captação de águas subterrâneas e a redução de descarga de efluentes

diretamente nos corpos hídricos.

Nesse contexto o trabalho foi realizado objetivando-se tratar a água

proveniente da lavanderia pública para a produção agrícola.

Page 53: Acesse a obra

53

Materiais e métodos

A pesquisa foi desenvolvida nas instalações da Lavanderia Pública do

Distrito de Ribeira, município de Cabaceiras, PB, com uma população de

2.500 habitantes, pois o mesmo localiza-se numa das mais secas regiões do

Brasil, no semiárido do cariri paraibano. Distante 183,8 km de João Pessoa,

capital do Estado da Paraíba e 78 km de Campina Grande, possuindo

coordenadas geográficas (7° 29′ 21″ Sul, 36° 17′ 18″ Oeste e altitude 382m

acima do nível do mar), inserida na unidade geoambiental do Planalto da

Borborema, formada por maciços e outeiros altos, com altitude variando

entre 650 a 1.000 metros.

Figura 1. Mapa de localização da área em estudo.

Fonte: Fernandes Neto (2013).

As Unidades de Produção Agrícolas Controladas – UPAC’s consistem

em um sistema de contenção de solo água, a partir da impermeabilização de

uma área de aproximadamente 6 m2 através do uso lonas plásticas em

conjunto com a utilização de pneus velhos.

Page 54: Acesse a obra

54

As UPAC’s foram construídas a partir da adaptação desenvolvida por

Gabialti (2009) que utilizou a metodologia de “Tratamento domiciliar de

águas negras através de tanque de evapotranspiração” a qual foi executada

utilizando cimento para impermeabilização das unidades e o plantio de

bananeira e taioba, enquanto que o projeto em questão foi executado

seguindo o mesmo procedimento de Gabialti (2009), mudando apenas a

impermeabilização de cada unidade que foi feita com lona plástica de 200

micras, implantação das culturas capim elefante, maracujá e mucuna-preta e

utilização de água cinza.

A construção das oito unidades de produção agrícola controladas foi

dividida em duas etapas, sendo quatro unidades sem cobertura e quatro

unidades com cobertura (lona plástica). Todas as unidades possuem as

seguintes dimensões: 3,0 x 2,0 x 1,0m, portanto foram construídas através de

uma escavação em forma de vala. Após a escavação, as mesmas foram

impermeabilizadas com lona plástica de 200 micras para evitar infiltração da

água no solo.

O volume de água cinza conduzido para cada Unidade foi de

aproximadamente 4,42m3. Foram feitas análises de pH da água cinza que

chega na caixa antes de ser distribuída no sistema, bem como de cada ponto

de observação das Unidades através do medidor de pH. No sistema foram

plantadas duas culturas com destinação à alimentação animal as quais são a

mucuna-preta (Mucuna pruriens (L.)) e o capim elefante (Pennisetum

purpureum) e uma para consumo humano, o maracujá (Passiflora sp).

A análise estatística dos testes do experimento foi realizada utilizando

o software SISVAR (FERREIRA, 2003). O delineamento experimental foi

inteiramente casualizado (DIC), com esquema fatorial 3 x 2, sendo 3 culturas

(capim roxo, mucuna preta e maracujá) com quatro repetições.

Resultados e discussão

No Gráfico 1 verifica-se que aos 23 Dias Após Plantio (DAP)

aproximadamente 34% das amostras de água apresentaram pH entre 6,33 e

7,05 e 41% apresentaram pH entre 7,00 e 7,78.

As observações realizadas aos 43 DAP (Gráfico 2) e 63 DAP (Gráfico

3) apresentou comportamento semelhante. Já nas leituras observadas aos 83

DAP (Gráfico 4) constata-se que o pH variou de 7,05 a 7,36, que

corroborando com estes resultados, Eriksson et al. (2002), trabalhando com

caracterização de águas de máquina de lavar e tanques de lavagem de roupas

encontraram pH alcalino nas amostras depois da lavagem. Os mesmos

afirmam que quanto aos parâmetros químicos, o pH na água cinza depende

basicamente do pH da água de abastecimento, que no trabalho foi encontrado

Page 55: Acesse a obra

55

valores de pH básicos para os 2 poços que abastecem a lavanderia pública.

Entretanto alguns produtos químicos utilizados podem contribuir para

aumento do mesmo e o aumento do pH pode ser atribuído ao uso do sabão

em pó e do amaciante.

Com relação às culturas, Lopes (2004) afirma que o capim elefante

não tolera baixo pH no solo, o mesmo ocorre com a mucuna-preta, pois

segundo Formentini (2008), recomenda-se que seu plantio seja feito em solos

férteis ou fertilizados, em que o pH esteja acima de 6,0, enquanto que a

cultura do maracujazeiro, segundo Fraife Filho (2013), reitera que deve ser

cultivado em solos com pH entre 5,0 e 6,5 caracterizando pH ácido, portanto

como a cultura do maracujá foi a que menos se desenvolveu, então este pode

ter sido o fator limitante para o desenvolvimento desta cultura.

Verificou-se um ótimo desenvolvimento no capim elefante como

também na mucuna. As culturas para destinação a alimentação animal foi

utilizada por alguns criadores de cabra da região. É uma alternativa viável e

sustentável para os moradores da região, reduzindo os impactos ocasionados

pelo lançamento de efluentes sem tratamento no meio ambiente e uma

maneira de conviver com a seca numa região semiárida. Como pode ser

utilizada não apenas para produzir ração para animal como também culturas

para consumo humano que seja resistente ao pH básico.

Gráfico 1 – Leitura 1 – pH - (23 DAP).

Gráfico 2 – Leitura 2 – pH - (43 DAP).

Page 56: Acesse a obra

56

Gráfico 3 – Leitura 3 – pH - (63 DAP).

Gráfico 4 – Leitura 4 – pH – (83 DAP).

Conclusões

As águas usadas da lavanderia no final do experimento tiveram

pH=7,31.

A cultura do capim elefante roxo produzido foi a que se obteve maior

quantidade.

O tratamento das águas cinza nas Unidades de Produção Agrícola

Controladas promoveu uma diminuição do pH das águas oriundas da

lavanderia.

É uma alternativa viável e sustentável para os moradores da região,

reduzindo os impactos ocasionados pelo lançamento de efluentes sem

tratamento no meio ambiente e uma maneira de conviver com a seca numa

região semiárida.

Referências bibliográficas

IBGE, 2010. CENSO DEMOGRÁFICO – 2000. Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, Rio de Janeiro.

Page 57: Acesse a obra

57

CARR, G., POTTER, R. B., NORTCLIFF, S. Water reuse for irrigation in

Jordan: Perceptions of water quality among famers. Agricultural Water

Management, V. 98, I. 5, p.847-854, mar.2011.

CIRELLI, A. F.; ARUMÍ J. L.; RIVERA D.; BOOCHS P. W.;

Environmental effects of irrigation in arid and semi-arid. Regions Chilean J.

Agric. Res., vol. 69 (Suppl. 1), Dec. 2009.

MUYEN Z.; MOORE G. A.; WRIGLEY R. J. Soil salinity and sodicity

effects of wastewater irrigation in South East Australia. Agricultural Water

Management. v 99, n 1, p 33-41, Aug.2011.

FERREIRA, D. F. SISVAR. Versão 4.3 (Build 45). Lavras: DEX/UFLA,

2003.

GALBIATI, A. F. Tratamento Domiciliar de Águas Negras através de

Tanque de Evapotranspiração. 2009. 38f. Dissertação (mestrado) -

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Centro de Ciências Exatas e

Tecnologia.

ERIKSSON, E.; AUFFARTH, K.; MOGENS, H. LEDIN, A. Characteristics

of grey wastewater. Urban Water, Dinamarca, v. 4, n.1, p. 58-104, 2002

LOPES, B. A., O capim elefante. Universidade Federal de Viçosa, Centro de

Ciências Agrárias, Departamento de Zootecnia. Seminário apresentado à

disciplina ZOO 645 (Métodos nutricionais e alimentação de ruminantes).

Viçosa. 2004.

FORMENTINI, E. A. Eng. Agr. Coordenador de Agroecologia. Cartilha

Sobre Adubação Verde e Compostagem. Vitória, ES, 2008.

FRAIFE FILHO, G., LEITE, J. B. V., RAMOS, J. V., Maracujá. 2013.

Disponível em: www.ceplac.gov/radar/maracuja.htm. Acesso em 15/08/2013.

Page 58: Acesse a obra

58

CAPÍTULO VI

UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA CONTROLADA NO SEMIÁRIDO PARA O

TRATAMENTO DE ÁGUA CINZA

Aline Costa Ferreira

Viviane Farias Silva

Vera Lucia Antunes de Lima

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Introdução

A escassez de água nas regiões áridas e semiáridas, decorrente a falta

de infraestrutura de abastecimento especialmente em áreas rurais, é um

problema com maiores proporções em países em desenvolvimento. Na região

semiárida do nordeste brasileiro habitam 196,7 milhões de pessoas, sendo

considerado o semiárido mais populoso do mundo (IBGE, 2010). A seca,

apesar de relacionada com o fator climático, dado à alta evaporação potencial

da região em foco (2000 mm/ano), quando associada aos processos de

desertificação tem seus efeitos danosos, com proporções severas, afetando

diretamente a sobrevivência da população nordestina (BARACUHY, 2001).

As restringidas reservas mundiais de água doce, juntamente com as

limitações de lançamento de efluentes no meio ambiente, culminam para a

necessidade do uso racional dos recursos hídricos de modo a reduzir os

impactos negativos da geração de efluentes. Medeiros et al. (2010) nesse

contexto racionalista, afirma que a irrigação é a maior consumidora de água,

necessitando de fontes abundantes e com qualidade.

A produção agrícola em regiões áridas e semiáridas é limitada, devido

à escassez de água, surgindo novas alternativas, sendo pesquisadas e

validadas para garantir a sustentabilidade da produção. Assim, o reuso de

água residuária de esgoto doméstico, utilizada em irrigação para produção de

culturas prioritárias, torna-se um alternativo potencial, incrementando a

produção agrícola. Carr et al. (2011) em sua pesquisa na Jordânia, revelou

que produtores agrícolas conhecem a disponibilidade de efluentes durante

todo o ano e os benefícios econômicos de sua utilização na agricultura.

Segundo Cirelli et al. (2009) o uso de águas residuais, com ou sem

tratamento, está aumentando em regiões áridas e semiáridas, pois é um

recurso valioso e abundante.

Page 59: Acesse a obra

59

A utilização de águas cinzas bruta originadas de descargas sanitárias

ou na irrigação de jardins é uma prática vigente em alguns países, apesar do

aspecto relativamente desagradável da água de reuso (GONÇALVES, 2006).

O uso de água residuária na agricultura é extenso em múltiplos países, com

vantagens econômicas através da redução de água e insumos agrícolas como

fertilizantes. De acordo com Muyen et al. (2011), a reutilização de águas

domesticas traz benefício ambiental, ocasionado pela diminuição da captação

de águas subterrâneas e a redução de descarga de efluentes diretamente nos

corpos hídricos.

Neste contexto o trabalho foi realizado objetivando-se implantar e

monitorar a eficiência do tratamento da água, para o semiárido, de unidades

de produção agrícola controladas UPAC’s utilizando as águas cinzas de uma

lavanderia comunitária do distrito de Ribeira de Cabaceiras, PB.

Material e métodos

A pesquisa foi desenvolvida nas instalações da Lavanderia Pública do

Distrito de Ribeira, município de Cabaceiras, PB, com uma população de

2.500 habitantes, pois o mesmo localiza-se numa das mais secas regiões do

Brasil, no semiárido do cariri paraibano. Distante 183,8 km de João Pessoa,

capital do Estado da Paraíba e 78 km de Campina Grande, possuindo

coordenadas geográficas (7° 29′ 21″ Sul, 36° 17′ 18″ Oeste e altitude 382m

acima do nível do mar) inserido na unidade geoambiental do Planalto da

Borborema, formada por maciços e outeiros altos, com altitude variando

entre 650 a 1.000 metros.

O clima é do tipo Tropical, com verão seco. Nas superfícies suaves

onduladas a onduladas, ocorrem os Planossolos, medianamente profundos,

fortemente drenados, ácidos a moderadamente ácidos e fertilidade natural

média e ainda os Podzólicos, que são profundos, textura argilosa, e fertilidade

natural média a alta. Nas elevações ocorrem os solos Litólicos, rasos, textura

argilosa e fertilidade natural média. Nos vales dos rios e riachos, ocorrem os

Planossolos, medianamente profundos, imperfeitamente drenados, textura

média/argilosa, moderadamente ácidos, fertilidade natural alta e problemas

de sais. Ocorrem ainda Afloramentos de rochas.

Fernandes Neto (2013) em sua pesquisa classificou o material de solo

utilizado pertence à classe NC49, denominado Bruno Não Cálcico.

As Unidades de Produção Agrícolas Controladas – UPAC’s consistem

em um sistema de contenção de solo água, a partir da impermeabilização de

uma área de aproximadamente 6 m2 através do uso lonas plásticas em

conjunto com a utilização de pneus velhos.

Page 60: Acesse a obra

60

As UPAC’s foram construídas a partir da adaptação desenvolvida por

Gabialti (2009) que utilizou a metodologia de “Tratamento domiciliar de

águas negras através de tanque de evapotranspiração” a qual foi executada

utilizando cimento para impermeabilização das unidades e o plantio de

bananeira e taioba, enquanto que o projeto em questão foi executado

seguindo o mesmo procedimento de Gabialti (2009), mudando apenas a

impermeabilização de cada unidade que foi feita com lona plástica de 200

micras, implantação das culturas capim elefante, maracujá e mucuna-preta e

utilização de água cinza.

A construção das oito unidades de produção agrícola controladas foi

dividida em duas etapas, sendo quatro unidades sem cobertura e quatro

unidades com cobertura (lona plástica). Todas as unidades possuem as

seguintes dimensões: 3,0 x 2,0 x 1,0m, portanto foram construídas através de

uma escavação em forma de vala. Após a escavação, as mesmas foram

impermeabilizadas com lona plástica de 200 micras para evitar infiltração da

água no solo.

Na figura 1 verificam-se as bases impermeabilizadas com as lonas

plásticas forradas por uma camada de areia seguida de pedras assentadas

sobre o fundo das valas com materiais de granulometria decrescente (no

sentido de baixo para cima). No fundo estão os grandes fragmentos de pedras

(britão). Acima vêm as pedras, cascalhos e seixos e acima destes está uma

série de pneus alinhados preenchendo toda extensão da unidade. O

encanamento de águas cinzas proveniente da lavanderia foi destinado em

bateladas, para dentro desse alinhamento de pneus através de um tubo de

PVC de 100mm perfurados para facilitar a devida distribuição no meio onde

acontecerá a digestão anaeróbica do efluente, que escorre pelos os espaços

entre pneus.

Para a construção das unidades foram utilizadas 336 litros de areia

(0,33m3 de areia), 480 litros de brita nº1 (0,48 m

3 de brita nº1) e 536 litros de

brita nº 5 (0,53 m3 de brita nº5).

Dentro da tubulação foi colocado uma pilha de pneus (Figura 2),

aproximadamente 21 pneus e para o monitoramento da eficiência do

tratamento de esgoto foram implantados sete pontos de coleta do efluente,

sendo dois penetrando os pneus até o cano de distribuição do efluente, 2 a

direita e 2 a esquerda da linha de pneus, porém os mesmos foram

confeccionados de tubos de PVC de 50 mm ficando 40 cm acima da

superfície indo até o cascalho que é a base da unidade com o objetivo de

serem utilizados para pontos de coletas.

Page 61: Acesse a obra

61

Figura 1 – Construção das Unidades de Produção Agrícola Controlada.

Figura 2 – Visão geral das Unidades de Produção Agrícola Controlada.

São 7 tubos de observação e os mesmos se encontram fechados com

tampa móvel, retirando apenas a cada 30 dias para coleta de água, a qual é

Page 62: Acesse a obra

62

feita através de uma “bomba hidráulica” que é um tubo de PVC de 50 mm e

dentro para fazer a sucção foi colocado outro tubo de PVC de 20 mm e na

ponta uma borracha para facilitar a sucção da água e por isso que se

considera um sistema fechado, onde não há perda de água por infiltração. Os

parâmetros analisados das águas cinzas coletadas dos pontos de observação

das unidades foram: Condutividade Elétrica (CE), pH e Oxigênio Dissolvido

(OD). As unidades possuem seu registro individual para controlar a

quantidade de água cinza que entra, pois todas têm de estar com mesmo nível

de água que é de 50 cm de altura de lâmina d’água. Cada unidade possui

também um dreno localizado do lado oposto da entrada do efluente que teve

também finalidade de coleta para análise laboratorial.

A água cinza proveniente da lavanderia foi conduzida através de

tubulação até uma caixa d’água de 500 litros com a borda interna para

controlar o volume utilizado nas UPAC’s para posterior distribuição por

gravidade. A tubulação que vem da lavanderia comunitária passa por uma

caixa d’água que possui registro individual para que haja o controle da

quantidade de água que entra em cada unidade (tanque), pois cada unidade

foi preenchida até alcançar uma altura de 50 cm e a cada 74 horas realizava o

monitoramento e controle da água através do uso da régua milimetrada de

madeira e durante a coleta d’água. O volume de água cinza conduzido para

cada Unidade foi de aproximadamente 4,42m3. Foram feitas análises de

condutividade elétrica, oxigênio dissolvido (OD) e pH da água cinza que

chega na caixa antes de ser distribuída no sistema, bem como de cada ponto

de observação das Unidades através dos equipamentos Condutivímetro,

aparelho de medições de oxigênio dissolvido e peagâmetro.

No sistema foram plantadas duas culturas com destinação à

alimentação animal as quais são a mucuna-preta (Mucuna pruriens (L.)) e o

capim elefante (Pennisetum purpureum) e uma para consumo humano, o

maracujá (Passiflora sp). Para Determinar a Fitomassa verde (FMV) e

Fitomassa seca (FMS), o material coletado (colmos e folhas), foi retirado

amostras de 500g de cada Unidade, sendo fracionadas e acondicionadas em

sacos de papel (furados para permitir a circulação do ar), e colocadas em

estufa de circulação forçada com temperatura de 75ºC, por 24 horas, após

resfriar seguiu uma nova pesagem, pois essa determinação da Matéria Seca

(MS) foi realizada de acordo com a metodologia de Van Soest (1994).

A análise estatística dos testes do experimento foi realizada utilizando

o software SISVAR (FERREIRA, 2003). O delineamento experimental foi

inteiramente casualizado (DIC), com esquema fatorial 3 x 2, sendo 3 culturas

(capim roxo, mucuna preta e maracujá) com quatro repetições.

Page 63: Acesse a obra

63

Resultados e discussão

Na figura 3ª, verifica-se que aos 23 dias após plantio (DAP),

aproximadamente 80% das leituras de condutividade elétrica ficou entre 1,36

dS.m-1

e 2,05 dS.m-1

, enquanto que aos 43 DAP o valor de CE esteve em

torno de 1,17 dS.m-1

em todas as Unidades (figura 3B), pois esta queda da CE

pode ter ocorrido pela diluição de sais pela água da chuva ocorrida neste

período. Aos 63 DAP observou-se (figura 4A) uma elevação da CE em

resposta ao efeito da evapotranspiração das culturas que elevou a

concentração da solução do solo, logo o mesmo comportamento é verificado

aos 83 DAP conforme se observa na figura 4B.

(A)

(B)

Figura 3 – (A) Leitura 1: condutividade elétrica – CE (23 DAP). (B) Leitura

2: Condutividade Elétrica – CE (43 DAP)

(A)

(B)

Figura 4 – (A) Leitura 3: Condutividade Elétrica – CE (63 DAP). (B) Leitura

4: Condutividade Elétrica – CE (83 DAP).

Almeida (2010) menciona que quanto maior for o conteúdo salino de

uma solução, maior será a CE da mesma. Segundo Ayres e Westcot (1999)

afirmam que o valor permitido para a condutividade elétrica da água de

irrigação é abaixo de 0,7 dS m-1

, portanto a condutividade elétrica das águas

cinzas do sistema, as quais se encontram no nível de grau de restrição baixo a

moderado, ou seja, acima do valor máximo permitido (0,7 dS m-1

), mas

apesar desse grau de restrição de uso, as culturas da mucuna preta e capim

Page 64: Acesse a obra

64

elefante roxo se desenvolveram bem e apenas o maracujá teve sua limitação

no desenvolvimento.

Na figura 5A verifica-se que aos 23 DAP aproximadamente 34% das

amostras de água apresentaram pH entre 6,33 e 7,05 e 41% apresentaram pH

entre 7,00 e 7,78. As observações realizadas aos 43 DAP (figura 5B) e 63

DAP (figura 6A) apresentou comportamento semelhante. Já nas leituras

observadas aos 83 DAP (figura 6B) constata-se que o pH variou de 7,05 a

7,36, que corroborando com estes resultados, Eriksson et al. (2002),

trabalhando com caracterização de águas de máquina de lavar e tanques de

lavagem de roupas encontrou pH alcalino nas amostras depois da lavagem, os

mesmos afirmam que quanto aos parâmetros químicos, o pH na água cinza

depende basicamente do pH da água de abastecimento, que no trabalho foi

encontrado valores de pH básicos para os 2 poços que abastecem a lavanderia

pública. Entretanto alguns produtos químicos utilizados podem contribuir

para aumento do mesmo e o aumento do pH pode ser atribuído ao uso do

sabão em pó e do amaciante.

(A)

(B)

Figura 5 – (A) Leitura 1: pH - (23 DAP). (B) Leitura 2: pH - (43 DAP).

(A)

(B)

Figura 6 – (A) Leitura 3: pH - (63 DAP). (B) Leitura 4: pH – (83 DAP).

Page 65: Acesse a obra

65

Com relação às culturas, Lopes (2004) afirma que o capim elefante

não tolera baixo pH no solo, o mesmo ocorre com a mucuna-preta, pois

segundo Formentini (2008), recomenda-se que seu plantio seja feito em solos

férteis ou fertilizados, em que o pH esteja acima de 6,0, enquanto que a

cultura do maracujazeiro segundo Fraife Filho (2013), reitera que deve ser

cultivado em solos com pH entre 5,0 e 6,5 caracterizando pH ácido, portanto

como a cultura do maracujá foi a que menos se desenvolveu, então este pode

ter sido o fator limitante para o desenvolvimento desta cultura.

Analisando-se a figura 7A observa-se que os valores de OD variaram

entre 10 e 15 mg.L-1

, estes valores decresceram nas leituras realizadas aos 43

DAP (figura 7B). Nas leituras realizadas aos 63 DAP houve elevação deste

parâmetro (figura 8A), este fato pode ter sido devido a pequenas chuvas

ocorridas neste período, logo o mesmo ocorreu aos 83 DAP (figura 8B).

(A)

(B)

Figura 7 – (A) Leitura 1:Oxigênio Dissolvido – OD - (23 DAP). (B) Leitura

2: Oxigênio Dissolvido – OD - (43 DAP).

(A)

(B)

Figura 8– (A) Leitura 3: Oxigênio Dissolvido – OD - (63 DAP). (B) Leitura

4: Oxigênio Dissolvido – OD - (83 DAP).

A massa verde do capim foi encontrada através do seu peso total, pois

o peso total do Capim elefante no tratamento sem cobertura foi de 126,965

kg, enquanto que o peso do capim no tratamento com cobertura foi de 99,277

kg, ou seja, o capim elefante roxo nas mesmas condições se desenvolveu

Page 66: Acesse a obra

66

melhor sem a cobertura, já a mucuna preta obteve produção de 13,452 kg no

tratamento sem cobertura e 18,086 kg com cobertura, onde a mucuna preta se

desenvolveu melhor no tratamento com cobertura isso se deu devido a

evaporação do solo ser baixa, consequentemente maior disponibilidade de

água.

Já a massa seca foi encontrada de acordo com a metodologia de Van

Soest (1994), a qual do material coletado (colmos e folhas) foi retirada

amostras de 500g de cada Unidade, sendo fracionadas e acondicionadas em

sacos de papel (furados para permitir a circulação do ar) e colocadas em

estufa de circulação forçada, com temperatura de 75ºC, por 24 horas, após

resfriar seguiu uma nova pesagem encontrando peso total de matéria seca do

capim igual a 2,21 kg e para a mucuna preta foi encontrado 2,63 Kg de massa

seca.

Conclusões

As águas usadas da lavanderia no final do experimento apresentaram

as seguintes características: CE=1,92 dS.m-1

, pH=7,31 e OD = 55,5 mg.L-1

.

A cultura do capim elefante roxo produzido foi a que se obteve maior

quantidade.

O tratamento das águas cinzas nas Unidades de Produção Agrícola

Controladas promoveu uma diminuição da CE, pH e OD das águas oriundas

da lavanderia.

Alternativa viável e sustentável para o tratamento de água de

lavanderias como também para produzir alimentos para fins animais e

humanos.

Referências bibliográficas

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Otávio Álvares de Almeida. - Dados eletrônicos. - Cruz das Almas: Embrapa

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Tese de Doutorado (Doutorado em Recursos Naturais) - Universidade

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67

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FORMENTINI, E. A. Eng. Agr. Coordenador de Agroecologia. Cartilha

Sobre Adubação Verde e Compostagem. Vitória, ES, 2008.

Page 68: Acesse a obra

68

CAPÍTULO VII

CULTIVO DE MARACUJÁ COM ÁGUA CINZA

TRATADA PELAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

AGRÍCOLA CONTROLADA

Viviane Farias Silva

Aline Costa Ferreira

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Kalyne Sonale Arruda de Brito

Introdução

A região semiárida do Nordeste possui os maiores índices de

evaporação do Brasil, devido à grande incidência de insolação, com índices

aproximados de 2200 mm/ano (Rocha & Kurtz, 2001), em época de estiagem

a disponibilidade e qualidade de água são reduzidas. Marengo (2008)

menciona as graves repercussões ocasionadas pelo fenômeno da seca em

regiões semiáridas verificando que a água é um fator crítico para as

populações locais.

Segundo Lima et al. (2005) o reuso de água na região semiárida do

nordeste do Brasil, pode ser uma fonte alternativa de água, matéria orgânica e

nutrientes, com possibilidade de assegurar e incrementar a produção agrícola

durante as estiagens prolongadas, contribuindo para a fixação do homem no

campo. Este recurso proporciona água disponível independente da época do

ano, possuindo nutrientes que podem ser utilizados pelas plantas,

contribuindo para a fertilidade do solo, visto que a fertilização mineral é

pouco usada devido o baixo poder aquisitivo dos produtores da região, sendo

a adubação orgânica uma alternativa economicamente viável para eles (Nobre

et al., 2010).

O reuso de água é uma alternativa para a irrigação em locais com

restrição de água como também uma forma de utilizar a água secundária

minimizando os impactos ambientais e os custos. As maiores vantagens do

aproveitamento da água residuária são: conservação da água disponível,

grande disponibilidade, aporte e reciclagem de nutrientes (reduzindo a

necessidade de fertilizantes químicos) contribuindo, assim, para a

preservação do meio ambiente (Van der Hoek et al., 2002).

O tratamento das águas residuárias pode ser realizado através de

reatores como o de fluxo ascendente, lagoas de polimento no pós-tratamento

Page 69: Acesse a obra

69

de efluente anaeróbio para irrigação irrestrita como também tanques

evaporímetros. Ferreira et al.(2014) afirma que a utilização dos tanques

evaporímetros constituído de pneus, no tratamento de águas cinzas

provenientes de lavanderia é eficaz minimizando os impactos ambientais no

meio ambiente, além de reutilizar pneus usados para a implantação dos

tanques, reduzindo assim os custos.

A substituição da água limpa pelas águas residuárias em sistemas

cultivados com gramíneas forrageiras (Fonseca et al., 2007; McLaughlin et

al., 2004) proporciona benefícios econômicos, com aumento da qualidade e

rendimento da forragem, além de ser uma opção interessante do ponto de

vista ambiental. Nesse contexto, a pesquisa foi realizada objetivando-se

analisar o desenvolvimento do maracujazeiro com água residuária tratada em

unidades de produção agrícolas controlados constituídos de pneus usados.

Material e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida no Distrito de Ribeira, município de

Cabaceiras-PB, possuindo coordenadas geográficas (7° 29’ 21” Sul, 36° 17’

18” Oeste e altitude 382 m acima do mar), com uma população de 2.500

habitantes, pois o mesmo localiza-se numa das mais secas regiões do Brasil,

no semiárido do cariri paraibano. Distante 183,8 km de João Pessoa, capital

do Estado da Paraíba e 78 km de Campina Grande, esta inserido na unidade

geoambiental do Planalto da Borborema, formada por maciços e outeiros

altos, com altitude variando entre 650 a 1.000 metros.

As unidades de produção agrícola controlada (UPAC’s) consistem em

um sistema de contenção de solo água, a partir da impermeabilização de uma

área de aproximadamente 6 m2 através do uso lonas plásticas em conjunto

com a utilização de pneus velhos (Ferreira et al., 2014). As UPAC’s foram

construídas a partir da adaptação desenvolvida por Gabialti (2009) na Figura

1, que utilizou a metodologia de “Tratamento domiciliar de águas negras

através de tanque de evapotranspiração” a qual foi executada utilizando

cimento para impermeabilização das unidades e o plantio de bananeira e

taioba, enquanto que Ferreira et al. (2014) seguindo o mesmo procedimento

modificando apenas a impermeabilização de cada unidade que foi feita com

lona plástica de 200 micras para o tratamento da água cinza utilizadas neste

experimento.

De acordo com Ferreira et al. (2014), para o preenchimento do tanque

foram utilizados 336 litros de areia (0,33m3 de areia), 480 litros de brita nº1

(0,48 m3 de brita nº1) e 536 litros de brita nº 5 (0,53 m

3 de brita nº5). As

camadas foram construídas e distribuídas da seguinte forma (Figura 1):

Camada 1: foi preenchida com uma camada de 35 cm de brita nº 5; Camada

Page 70: Acesse a obra

70

2: foi preenchida com uma camada de 25 cm de brita nº 1; Camada 3: foi

preenchida com uma camada de 20 cm de areia; Camada 4: foi preenchida

com uma camada de 20 cm de solo retirado da própria escavação.

Figura 1. Corte frontal do sistema de tratamento de esgoto.

Fonte: GABIALTI (2009).

A água cinza proveniente da lavanderia comunitária do Distrito de

Ribeira/PB utilizada pela comunidade, como no local não existe coleta de

esgoto o efluente gerado pela lavanderia era lançado diretamente no meio

ambiente sem nenhum tratamento prévio, como solução do problema os

autores implantaram uma unidade de produção agrícola controlada que em

seu interior possui pneus velhos auxiliando no tratamento anaeróbio,

melhorando a qualidade da água reduzindo os impactos ambientais (Ferreira

et al. 2014). Após a implantação do sistema de tratamento de agua (UPAC’s)

foram inseridas o maracujazeiro (Passiflora sp) para fins de alimentação da

comunidade e desenvolvimento econômico da região.

A irrigação foi feita sub-superficial por capilaridade, deixando as

unidades com 50 cm de coluna de água, foram monitoradas diariamente com

o intuito de controlar a umidade do solo através da capacidade de campo para

o melhor desenvolvimento da cultura. As mudas de maracujazeiro foram

obtidas do horto da prefeitura de Campina Grande/PB. Tomando-se como

base as recomendações feitas para as condições brasileiras por Teixeira

(1995), segundo afirma que o transplantio deve ser realizado com mudas

apresentando, entre 15 e 30 cm de altura.

Page 71: Acesse a obra

71

A avaliação foi realizada aos 23 dias após o plantio das culturas

(DAP) e aos 43, 63 e 83 DAP, para a análise de crescimento não destrutivo

nas seguintes variáveis:

a) diâmetro caulinar (mm) – o diâmetro do caule da planta foi

determinado no nível do solo, utilizando-se um paquímetro metálico, com

precisão de 0,05 mm;

b) número de folhas – contadas todas as folhas da planta com

comprimento a partir de 1 cm.

A análise estatística dos testes do experimento foi realizada utilizando

o software SISVAR (Ferreira, 2003). O delineamento experimental foi

inteiramente casualizado com 4 (quatro) repetições e unidades com e sem

cobertura (lona).

Resultados e Discussão

Para Benincasa (1988), a análise de crescimento baseia-se,

fundamentalmente, no fato de que 90% da matéria seca acumulada pelas

plantas, ao longo de seu crescimento, resultam da atividade fotossintética e o

restante, da absorção de nutrientes minerais. O crescimento de uma planta

pode ser estudado por meio de medidas lineares, como: altura da planta,

comprimento, largura das folhas e diâmetro do caule etc.

No tratamento de águas secundárias com reuso de pneus para o cultivo

de maracujá é uma forma de trazer a aplicação de tecnologia sustentável para

suprir a necessidade da comunidade preservando o meio ambiente. Na Figura

2 observa-se os resultados obtidos da variável diâmetro caulinar irrigada com

água cinza tratada nas UPAC’s.

Figura 2. Diâmetro caulinar aos 23, 43, 63 e 83 dias após o plantio do

maracujá.

Sem cobertura Com cobertura

0

2

4

6

8

10

12

0 16,6 33,2 49,8 66,4 83

Dias após a semeadura

Diâ

metr

o c

au

lin

ar,

mm

y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

0

2

4

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0 16,6 33,2 49,8 66,4 83

Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

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Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

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Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

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Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

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Sem cobertura Com cobertura

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Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

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Dias após a semeadura

Diâ

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Sem cobertura Com cobertura

0

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0 16,6 33,2 49,8 66,4 83

Dias após a semeadura

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y = 0,0661x2 + 0,3933x + 29,281 R2 = 0,8984

1014,29(1-e-0,0067x)y = R2 = 0,993

Page 72: Acesse a obra

72

Verifica-se que para o tratamento sem cobertura o diâmetro caulinar

manteve-se constante no valor aproximado de 8 mm porém decresceu a partir

dos 50 DAS o diâmetro teve um aumento de 9 mm em média. A água cinza

tratada pelas UPAC’s disponibiliza quantidade necessária de água e

nutrientes para a planta. Na Figura 3 verifica-se a quantidade em média de

folhas produzidas pelos maracujazeiros cultivados em unidades de produção

agrícola controlada.

Figura 3. Número de folhas aos 23, 43, 63 e 83 dias após o plantio do

maracujá.

Na Figura 3 percebe-se que no tratamento sem cobertura houve um

crescimento de aproximadamente 37 folhas, porém a partir dos 50 DAS

percebe-se um declínio no número de folhas e aos 83 DAS têm em média 30

folhas/planta, enquanto que no tratamento com cobertura o número de folhas

manteve - se em crescimento com média de 40 folhas por planta aos 83 DAS.

Cavalcante (2005) trabalhando com maracujá irrigado com água salina

afirma que o maior declínio do crescimento ocorreu na avaliação do diâmetro

caulinar do maracujazeiro-amarelo em consequência do acúmulo de sais no

solo. Dos 63 aos 83 DAS o tratamento sem cobertura inicia um declínio no

diâmetro e no número de folhas (Figuras 2 e 3) decorrente a evaporação e

possivelmente acúmulo de sais. O tratamento com cobertura reduz a perda de

água do solo para a atmosfera, reduzindo o acumulo de sais no solo e o

estresse na planta, aumentando assim o seu desenvolvimento.

0

10

20

30

40

50

0 16,6 33,2 49,8 66,4 83

Dias após a semeadura

mer

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y = -0,0119x2 + 1,3586x - 0,3862 R2 = 0,9823

y = -0,0085x2 + 1,1699x + 0,0196 R2 = 0,9814

Sem cobertura Com cobertura

0

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0 16,6 33,2 49,8 66,4 83

Dias após a semeadura

mer

o d

e fo

lhas

mm

y = -0,0119x2 + 1,3586x - 0,3862 R2 = 0,9823

y = -0,0085x2 + 1,1699x + 0,0196 R2 = 0,9814

Sem cobertura Com cobertura

Page 73: Acesse a obra

73

O diâmetro do caule é considerado por Schubert & Adams (1971)

como a melhor variável isolada a ser utilizada para a avaliação da qualidade

de mudas. Entretanto, Carneiro (1983) comenta que esta variável associada à

altura fornece um forte parâmetro para uma melhor classificação das mudas

em termos de qualidade.

A utilização de água residuária tratada de maneira sustentável em

regiões semiáridas é uma alternativa para conviver com a seca, além de renda

e alimentação para a comunidade. O uso de UPAC’s reduz os impactos do

lançamento de água cinza no meio ambiente, preservando o solo e a água,

como também é uma opção para cultivar não apenas o maracujá, como

hortaliças e outros tipos de frutíferas.

Conclusão

O maracujazeiro teve um bom desenvolvimento nos dois tratamentos,

principalmente com cobertura, pois a evaporação da unidade era nula. O

tratamento de água cinza proporciona quantidade de água disponível e de

nutrientes no qual a planta necessita para produzir e se desenvolver. Aos 83

DAS o tratamento sem cobertura teve melhores resultados com médias de

aproximadamente 40 folhas/planta e diâmetro de 9mm.

As unidades de produção agrícola além de tratar a água cinza também

possibilita a produção de diversas culturas, como frutíferas e forragens,

proporcionando renda a comunidade e melhores condições de vida.

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Page 75: Acesse a obra

75

CAPÍTULO VIII

FLUORESCÊNCIA DA CLOROFILA a DE CULTURAS CULTIVADAS EM TANQUES EVAPORÍMETROS NO

SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Viviane Farias Silva

Aline Costa Ferreira

Kalyne Sonale Arruda de Brito

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Introdução

O Nordeste abrange 18.27% do território brasileiro, possuindo uma

área de 1.561.177,8 km²; destes 962.857,3 km² estão inseridos no

denominado Polígono das Secas, delimitado em 1936 e revisado em 1951 dos

quais 841.260.9 km² abrangiam o Semiárido nordestino. Evidenciando que a

área territorial do Semiárido, assim delimitada, era superior à soma dos

territórios da Alemanha, Itália, Cuba e Costa Rica (Araújo, 2011).

Com os maiores índices de evaporação do Brasil, a região semiárida

do Nordeste, devido à grande incidência de insolação, com índices

aproximados de 2200 mm/ano (Rocha & Kurtz, 2001) têm dificuldades na

disponibilidade de água. Marengo (2008) menciona as graves repercussões

ocasionadas pelo fenômeno da seca em regiões semiáridas verificando que a

água é um fator critico para as populações locais.

No intuito de reduzir o uso de água de qualidade, o tratamento de

águas secundárias para diversos fins é uma alternativa que vem sendo

amplamente utilizada e pesquisada. Diversos países consideram o

aproveitamento de águas residuárias na agricultura, em particular as de

origem urbana, como uma alternativa viável devido ao elevado consumo

dentro dessa atividade e em razão da sua escassez (Metcalf & Eddy, 1991).

Segundo Van der Hoek et al. (2002), as maiores vantagens do

aproveitamento da água residuária são: conservação da água disponível,

grande disponibilidade, aporte e reciclagem de nutrientes (reduzindo a

necessidade de fertilizantes químicos) contribuindo, assim, para a

preservação do meio ambiente.

O reuso de água na região semiárida do nordeste do Brasil, de acordo

com Lima et al. (2005) pode ser uma fonte alternativa de água, matéria

orgânica e nutrientes, com possibilidade de assegurar e incrementar a

produção agrícola durante as estiagens prolongadas, contribuindo para a

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76

fixação do homem no campo. Este recurso proporciona água disponível

independente da época do ano, possuindo nutrientes que podem ser utilizados

pelas plantas, contribuindo para a fertilidade do solo, visto que a fertilização

mineral é pouco usada devido o baixo poder aquisitivo dos produtores da

região, sendo a adubação orgânica uma alternativa economicamente viável

para eles (Nobre et al., 2010).

Para o tratamento de águas residuárias pode ser utilizado o reator tipo

Uasb, lagoas de polimento no pós-tratamento de efluente anaeróbio para

irrigação irrestrita como também tanques evaporímetros. Ferreira et al.(2014)

afirma que a utilização dos tanques evaporímetros no tratamento de águas

cinzas provenientes de lavanderia é eficaz minimizando os impactos

ambientais no meio ambiente, além de reutilizar pneus usados para a

implantação dos tanques, reduzindo assim os custos.

A aplicação de águas residuárias em substituição a água limpa, em

sistemas cultivados com gramíneas forrageiras (Fonseca et al., 2007;

McLaughlin et al., 2004) proporcionando benefícios econômicos, com

aumento da qualidade e rendimento da forragem, além de ser uma opção

interessante do ponto de vista ambiental.

Avaliando o comportamento de quatro gramíneas forrageiras (Quicuio

da Amazônia, Braquiária, Tifton 85 e Coastcross) em rampas de tratamento

com água residuária de suinocultura, Queiroz et al. (2004) verificaram que os

conteúdos de proteína bruta foram, em todos os capins, superiores quando

receberam água residuária de suinocultura em relação à água da rede de

abastecimento.

Uma prática que pode viabilizar o uso de água de baixa qualidade e de

solos salinos é a utilização de genótipos com boa tolerância a esse fator

abiótico (Oliveira, 2010). Sendo assim, o estudo de parâmetro fisiológico

como a fluorescência da clorofila a é importante no esclarecimento de efeitos

das condições osmóticas e hídricas sobre a eficiência fotossintética nos

vegetais. A fluorescência da clorofila, sendo um método não destrutivo, é

uma técnica amplamente utilizada para avaliar a tolerância de diferentes

espécies e genótipos aos mais diversos tipos de estresses, bem como a

influência destes nos processos fotossintéticos (Naumann et al., 2008). Nesse

contexto, objetivou-se avaliar com a pesquisa os aspectos fisiológicos das

forragens (mucuna-preta e capim elefante roxo) e da frutífera (maracujazeiro)

cultivados em tanques evaporímetros no semiárido.

Material e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida no Distrito de Ribeira, município de

Cabaceiras-PB, possuindo coordenadas geográficas (7° 29’ 21” Sul, 36° 17’

Page 77: Acesse a obra

77

18” Oeste e altitude 382 m acima do mar), com uma população de 2.500

habitantes, pois o mesmo localiza-se numa das mais secas regiões do Brasil,

no semiárido do cariri paraibano. Distante 183,8 km de João Pessoa, capital

do Estado da Paraíba e 78 km de Campina Grande, esta inserido na unidade

geoambiental do Planalto da Borborema, formada por maciços e outeiros

altos, com altitude variando entre 650 a 1.000 metros.

Os tanques evaporímetros consistem em um sistema de contenção de

solo água, a partir da impermeabilização de uma área de aproximadamente 6

m2 através do uso lonas plásticas em conjunto com a utilização de pneus

velhos (FERREIRA et al., 2014). Os tanques evaporímetros foram

construídos a partir da adaptação desenvolvida por Gabialti (2009) que

utilizou a metodologia de “Tratamento domiciliar de águas negras através de

tanque de evapotranspiração” a qual foi executada utilizando cimento para

impermeabilização das unidades e o plantio de bananeira e taioba, enquanto

que Ferreira et al., (2014) modificou a metodologia modificando a

impermeabilização de cada unidade (tanque) que foi feita com lona plástica

de 200 micras para o tratamento da água cinza utilizadas nesse experimento

para cultivo de capim elefante, mucuna-preta e maracujazeiro.

No tratamento de água cinzas proveniente de lavanderia pública foram

utilizados tanques evaporímetros e implantados no sistema as seguintes

culturas: o capim elefante (Pennisetum purpureum) e a mucuna-preta

(Mucuna pruriens (L.)) com destinação à alimentação animal e o maracujá

(Passiflora sp) uma frutífera para consumo humano.

Aos 83 dias após plantio (DAP) foram analisados os parâmetros de

emissão da fluorescência da clorofila a em folhas pré-adaptadas ao escuro por

30 minutos, com uso de um fluorômetro portátil (PEA–Plant Efficiency

Analyser, da Hansatech instruments, Norfolk, UK) determinando-se os

valores de fluorescências inicial (Fo), máxima (Fm), variável (Fv), eficiência

quântica do fotossistema II (Fv/Fm), obtendo-se ainda a partir desses dados,

as relações Fv/Fm, Fv/Fo e Fo/Fm (Zanandrea et al., 2006). Os parâmetros de

fluorescência da clorofila a foram medidos entre 8 e 10 horas da manhã, em

folhas completamente expandidas e expostas ao sol. O delineamento

experimental foi inteiramente casualizado com 4 (quatro) repetições e dois

tratamentos (com e sem cobertura (lona)).A análise estatística dos testes do

experimento foi realizada utilizando o software SISVAR (Ferreira, 2003).

Resultados e Discussão

Conforme o resumo da análise de variância contido na Tabela 1,

verificou-se diferença significativa (p<0,001) para a fluorescência inicial

(Fo), fluorescência máxima (Fm) e fluorescência variável (Fv) em relação as

Page 78: Acesse a obra

78

espécies estudadas. A fluorescência inicial em relação às espécies foi

significativo para o maracujazeiro (399.2500) e mucuna-preta (387.6250) em

relação ao capim elefante (261.4167). Nos tratamentos a Fo não foi

significativa na relação dos tratamentos com as espécies. Baker e Rosenqvst

(2004) mencionam que o aumento em Fo revela destruição do centro de

reação do PSII (P680) ou diminuição na capacidade de transferência da

energia de excitação da antena ao PSII.

Para a fluorescência máxima (Fm) e fluorescência variável (Fv) foi

estatisticamente significativo a 5 % para o tratamento e a 1 % quando

relacionado com as espécies das culturas. A mucuna preta teve a maior média

para fluorescência máxima (1829.1250) e variável (1441.5000), o capim

elefante teve a menor média em Fm (1230.291) e Fv (954.7500). Os tanques

com cobertura teve a maior média em Fm (1631.5556) e Fv (1287.7500),

pois reduz a evaporação da água para a atmosfera, disponibilizando água nas

proximidades da raiz das plantas, tornando- se uma alternativa de produção

de forragens para os animais e de produção de frutas para comercialização.

Tabela 1. Resumo da análise de variância para a fluorescência inicial (Fo),

máxima (Fm) e variável (Fv), eficiência quântica (Fv/Fm), relação (Fv/Fo),

relação (Fo/Fm) para o capim elefante, mucuna - preta e maracujazeiro em

tanques evaporímetros com e sem cobertura.

Na eficiência quântica do fotossistema II (Fv/Fm), constatou-se

diferença estatística na variável Tratamento (p<0,001). Freire (2010) reporta

que tal resultado evidência que a condição abiótica no qual as plantas estão

submetidas, como o estresse salino, hídrico, entre outros, pode promover

Page 79: Acesse a obra

79

danos no aparelho fotossintético das plantas, assim comprometendo o PSII.

As médias de Fv/Fm não diferiram estatisticamente entre as espécies de

plantas cultivadas variando de 0.7611 a 0.7810, em relação ao tratamento

utilizado com cobertura (CC) e sem cobertura (SC) com médias de 0.7894 e

0.7612, respectivamente. Estando os valores obtidos dentro das faixas

consideradas normais, que é acima de 0.75 para Fv/Fm (Zanandrea et al.,

2006). Como também as culturas analisadas estão com seu aparelho

fotossintético intacto e não está submetida ao estresse, a razão Fv/Fm deve

variar entre 0.75 e 0.85 (Bolhàr-Nordenkampf et al., 1989), enquanto queda

nesta razão reflete a presença de dano fotoinibitório nos centros de reação do

PSII (Björkman & Demming, 1987).

A razão Fo/Fm variou de 0.2105 a 0.2388, com diferença significativa

para o tratamento sem cobertura. A relação de Fv/Fo foram significativos

para o tratamento CC (6.0227) e SC (3.3315). Para as espécies de culturas

houve variação de médias de 3,2907 a 6.8976 (Tabela 1). Dos valores obtidos

apenas o tratamento com cobertura (6.0227) está na faixa considerado normal

que é entre 4.0 e 6.0 para Fv/Fo (Zanandrea et al., 2006). O estudo de

variável fisiológico como a fluorescência da clorofila a, é importante no

esclarecimento de efeitos das condições osmóticas e hídricas sobre a

eficiência fotossintética nos vegetais (Suassuna et.al 2010). Verifica-se que

mesmo sob condições de alta evaporação as culturas tiveram bom

desempenho fotossintético. O uso de tanques evaporímetros para o

tratamento de águas cinzas e cultivo de diversas culturas em regiões

semiáridas é uma forma de conviver com a seca de forma sustentável,

agregando alimento ao animal e geração de renda as famílias. Pode ser

utilizado em diversas espécies de plantas como as hortaliças, já que a água

tratada no interior do tanque evaporímetro não entra em contato direto com a

parte aérea da planta, reduzindo a possível contaminação dos alimentos.

Conclusão

A alta evaporação não influenciou na fluorescência do capim elefante,

mucuna-preta e maracujazeiro estando todas dentro da normalidade. A

fluorescência inicial foi melhor para o maracujazeiro e a mucuna. A mucuna

preta teve a maior média para fluorescência máxima (1829.1250). O tanque

com cobertura teve melhores resultados em relação a fluorescência das

culturas. O uso de tanques evaporímetros no cultivo proporcionou bom

desenvolvimento das culturas como também alternativa para conviver com a

seca em regiões semiáridas. Pode ser utilizado em diversas espécies de

plantas como as hortaliças já que a água tratada no interior do tanque

Page 80: Acesse a obra

80

evaporímetro não entra em contato direto com a parte aérea da planta,

reduzindo a possível contaminação dos alimentos.

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Page 82: Acesse a obra

82

CAPÍTULO IX

UMA SUB-ROTINA PARA SIMULAR REÚSO DE

ÁGUA NA CALCULADORA ESTENDIDA DA PEGADA

HÍDRICA

Geraldo Moura Baracuhy Neto

Vera Lúcia Antunes de Lima

Carlos Alberto Vieira de Azevedo

Introdução

Diante da oferta limitada de água, um elemento imprescindível para

suporte à vida e como recurso para atividades econômicas, se faz necessária a

máxima racionalização da sua utilização. Neste sentido, a ciência vem

buscando meios que levem a um consumo sustentável deste recurso, e o

conceito de pegada hídrica é forte aliada nesta busca, por mostrar uma

realidade de consumo de água diferente da sugerida por análises

convencionais em termos monetários.

Conforme Hoekstra et al. (2011), a pegada hídrica é um indicador de

água doce utilizada não só no uso direto do consumidor ou produtor, mas

também no uso indireto, se constituindo em um indicador compreensivo da

apropriação do recurso água doce, confrontando a tradicional e restrita

mensuração de retirada de água. De acordo com Silva et al. (2013), além da

quantificação do uso direto de água doce para elaboração de um produto ou

apenas para suprir a necessidade de um consumidor, deve -se quantificar o

uso indireto necessário ao longo de toda a cadeia produtiva ou todos os

processos até que um produto ou serviço possa ser utilizado.

Todos os componentes da pegada hídrica podem serem especificadas

geograficamente e temporalmente (Chapagain & Tickner, 2012), o que

significa que, por meio do seu estudo, é possível saber onde e quando os

volumes do recurso natural água doce foram usados. Segundo Dumont et al.

(2013), da mesma forma que as pegadas ecológicas e de carbono, a lógica da

pegada hídrica é baseada inicialmente na perspectiva do consumidor, uma

vez que quantifica direta e indiretamente (isto é, em toda a cadeia de

produção) a utilização de água para a elaboração de produtos, associado ao

padrão de consumo de uma pessoa ou de uma população.

A pegada hídrica de um consumidor é definida, de acordo com

Hoekstra et al. (2011), pelo volume total de água doce consumida e poluída

Page 83: Acesse a obra

83

na produção dos bens e serviços utilizados pelo consumidor; já a pegada

hídrica de um grupo de consumidores é igual à soma das pegadas hídricas

dos consumidores individuais. Desta forma, de acordo com Vanham (2013),

a pegada hídrica do consumidor é definida como o volume total de água doce

que é utilizado para produzir os produtos consumidos pela habitantes de uma

região geográfica. É a soma do uso da água doméstica direta e indireta e de

recursos hídricos estrangeiros através do consumo de bens.

É obtida pela soma da pegada hídrica direta deste consumidor e de sua

pegada hídrica indireta (Hoekstra, 2011):

PHcons = PHcons,dir + Phcons,indir Equação (1)

A pegada hídrica direta refere-se ao consumo de água e poluição relacionadas

ao uso da água em casa ou no jardim. A pegada hídrica indireta refere-se, por

exemplo, à comida, roupas, papel, energia e outros bens de consumo

industriais. Obtém-se pela multiplicação de todos os produtos consumidos

pelas suas respectivas pegadas hídricas (Hoekstra, 2011):

PHcons,indir = Σp(C[p] Phprod[p]) Equação (2)

Onde: C[p]: consumo do produto "p" (unidades de produto/ tempo);

Phprod[p]: representa a pegada hídrica desse produto (volume de água/

unidade de produto).

Para obtenção da pegada hídrica individual consuntiva, a organização

Water Footprint Network criou a disponibiliza online os softwares Water

Footprint Quick Calculator e Water Footprint Extended Calculator, que

informam a pegada hídrica após a inserção de dados referentes a alimentação,

consumo de produtos industrializados e uso direto de água A primeira mostra

uma projeção deste indicador, enquanto a segunda informa um panorama

mais real da pegada hídrica do usuário.

Assim como a pegada hídrica, o reuso de água merece destaque

quando se pensa a sustentabilidade de água, pois esta tecnologia contribui

para a diminuição da pressão antrópica sobre este recurso natural. Para

Tundisi (2008), a avaliação da água virtual e a introdução do reuso de água

na agricultura são duas das soluções urgentes para sustentabilidade de

recursos hídricos. Há regiões do mundo em que o reuso é uma prática

largamente exercida e, em algumas delas, é essencial para as atividades

humanas.

A água, recurso natural renovável que sofre grande pressão antrópica,

pode ter sua pressão mitigada por meio do reuso de água. Conforme

Page 84: Acesse a obra

84

Hespanhol (2002), por meio do ciclo hidrológico, a água se constitui em um

recurso renovável. Quando reciclada através de sistemas naturais, é um

recurso limpo e seguro que é pela atividade antrópica, deteriorada a níveis

diferentes de poluição. Entretanto, uma vez poluída, a água pode ser

recuperada e reusada para fins benéficos diversos. De acordo com Asano et

al. (2007), água, alimentos e energia são três dos principais problemas

relativos a recursos que o mundo enfrenta hoje. A fim de equacionar estas

questões, águas residuárias domésticas agora estão sendo vistas mais como

um recurso do que como desperdício, um recurso para a água, para energia e

para nutrição de plantas, principalmente devido ao nitrogênio (N) e fósforo

(P).

O reuso de água residuária é, assim, uma solução particularmente

atraente, e várias formas de tratamento dessas águas têm sido pesquisadas

com o objetivo de encontrar formas de cumprir os rigorosos requisitos legais

para reutilização direta de efluente de esgoto tratado na agricultura, indústria

ou aplicações urbanas (Verlicchi et al., 2012).

A prática do reuso de água pode ser operacionalizada também em

nível micro, como em uma residência familiar (Hespanhol, 2002). Um

simples exemplo é a implantação de um sistema de captação da água usada

durante banho para o reuso em descargas, uma vez que este uso não demanda

água de alta qualidade.

O presente estudo tem o propósito de agregar os conceitos de pegada

hídrica e reuso de águas, propondo uma sub-rotina para software Water

Footprint Extended Calculator. Uma sub-rotina, ou subprograma, em ciência

da computação, tem a função de resolver um problema específico, parte de

uma aplicação maior que, neste caso, é a Water Footprint Extended

Calculator. Mantida pela Water Footprint Network, este software é uma

ferramenta adequada para a obtenção da pegada hídrica de uso consuntivo de

uma pessoa ou grupo de pessoas. A sub-rotina proposta tem por objetivo

quantificar o uso direto de água e ajudar na simulação de cenários de reuso da

água proveniente do uso interno nas atividades externas.

Objetiva-se também apresentar os resultados de uma aplicação prática

na microbacia Riacho Fundo, localizada no semiárido brasileiro. Optou-se

por esta área porque se constata um panorama de escassez hídrica, que atinge

principalmente regiões áridas e semiáridas, nas quais a água é um fator

limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola e para a

qualidade de vida da sociedade. Nesta aplicação, 30% da água proveniente do

ambiente interno das residências da região é reutilizada no ambiente externo.

Page 85: Acesse a obra

85

Metodologia

A sub-rotina foi desenvolvida em um software de planilha eletrônica,

o Calc, do pacote Libre Office, utilizando fórmulas que debitam

proporcionalmente, dos valores de uso externo de água, a água proveniente

de uso interno conforme o cenário de reuso. Estes dados de uso externo de

água fornecida pela sub-rotina são inseridos no Water Footprint Extended

Calculator, junto aos dados de uso interno, alimentação e consumo de

produtos industrializados, gerando uma pegada hídrica pessoal menor.

Apresenta-se na Figura 1 o fluxograma do Water Footprint Extended

Calculator e o setor onde ocorre a simulação de reuso no cálculo da pegada

hídrica.

A aplicação prática foi realizada com dados obtidos na microbacia

Riacho Fundo, que se situa entre as coordenadas geográficas 7º25’12” e

7º30’06” de latitude Sul e 36º20’02” e 36º24’50’’de longitude Oeste. Esta

microbacia se localiza no município de Cabaceiras, Estado da Paraíba, no

Brasil, e está a cerca de 15 km a leste da sede municipal.

A microbacia do Riacho Fundo possui uma área de aproximadamente

3.300 ha, sendo afluente da sub-bacia do Rio Taperoá, que deságua no Açude

Público Epitácio Pessoa (Boqueirão) e pertence à bacia hidrográfica do Rio

Paraíba.

Figura 1. Fluxograma do Water Footprint Extended Calculator e ação da

sub-rotina.

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86

Resultados

Para utilização da sub-rotina, o usuário deve primeiramente obter sua

pegada hídrica total e pegada hídrica de uso direto de água, por meio do

Water Footprint Extended Calculator. Para isto, deve inserir dados sobre

consumo de alimentos, de bens industrializados e uso direto de água, que é

dividido em ambiente interno e externo. A Tabela 1 contém um exemplo

destes dados.

Após a inserção destes dados no Water Footprint Extended Calculator,

obtêm-se as seguintes pegadas hídricas total e de uso direto de água,

respectivamente: 1123 m³/ano e 284 m³/ano.

Tabela 1. Dados para inserção no Water Footprint Extended Calculator

A sub-rotina criada tem sua interface apresentada na Figura 2. Seu

funcionamento se dá pela introdução de dados de entrada, na área azul, e as

variáveis e constantes, na área amarela. Na entrada, os dados requisitados são

exatamente os mesmos exigidos pelo Water Footprint Extended Calculator

no que se refere ao uso direto de água: número de banhos por dia, a duração

de cada banho, número de ações de limpeza pessoal (lavagem de mãos,

escovação dental e barbeamento) por dia, número de cargas de roupas a lavar

por semana, número de lavagens de louça por dia e duração de cada lavagem,

todos estes relativos ao uso interno. Quanto ao uso externo, é necessário

Page 87: Acesse a obra

87

introduzir a quantidade de lavagens de veículos por semana, a quantidade de

irrigações de plantas por semana, a duração de cada irrigação, e o tempo de

lavagens gerais (casa, calçada, equipamentos, etc.), em minutos por semana.

Nos campos das variáveis, deve-se introduzir a taxa de reuso para a

simulação desejada e informar se o usuário pratica ou não economia de água

no banho e/ou na limpeza pessoal, tal como é exigido no Water Footprint

Extended Calculator. Deve-se informar também a vazão do chuveiro e da

torneira, em litros por minuto. Após a introdução destes dados, a ferramenta

apresentará a saída, em toda área destacada de verde.

Figura 2. Interface da sub-rotina.

Para finalizar a simulação de reuso, o usuário deve voltar ao Water

Footprint Extended Calculator e inserir os dados da Tabela 1, substituindo os

dados referentes a uso externo de água originais por aqueles fornecidos pela

sub-rotina. Para o exemplo apresentado, as novas pegadas hídricas total e de

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88

uso direto de água são de 1.080 m³/ano e 240 m³/ano, respectivamente.

Assim, para o exemplo em questão, ao reutilizar 30% da água proveniente do

uso interno no ambiente interno, as pegadas hídricas total e de uso direto de

água são diminuídas em 3.83% e 15.5%, respectivamente.

Uma aplicação prática

Reutilizando-se 30% da água proveniente do uso interno no uso

externo, 47% das famílias da microbacia Riacho Fundo não teriam qualquer

sobra de água, pois esta taxa seria insuficiente para suprir a demanda externa

para essas famílias. Entretanto, para o restante, 53%, esta taxa, além de ser

suficiente, faz sobrar água. A maior diminuição de pegada hídrica total

identificada foi de 13.31%.

No tocante à média da microbacia, esta taxa de reuso é suficiente para

suprir a demanda de todas as atividades externas, gerando, porém, pouca

sobra de água: 58 litros por semana. No que se refere à diminuição da

pegada hídrica total e de uso doméstico em relação às originais, os valores

são de 2.78% e 12.58%, respectivamente.

Conclusão

Reusar água é uma ação coerente com estratégias de sustentabilidade

dos recursos hídricos locais, como provam as informações obtidas por este

estudo, cujo cenário de reuso de água avaliado, que foi de 30%, proporcionou

diminuição, na pegada hídrica total, de 2,78%.

Esta informação, apesar de relevante, não traduz todo o potencial da

sub-rotina criada para estas simulações, porque esta pode ser utilizada em

outras realidades de uso de água e apresentar diminuições mais ou menos

significativas. Esta sub-rotina, concebida no estudo, pode vir a ser o embrião

de ferramentas mais poderosas que integrem ainda mais a pegada hídrica e o

reuso de água doméstica, contribuindo com estudos que tornem os cálculos

mais precisos e específicos. Há a possibilidade, por exemplo, de simular a

aplicação da sobra de água para irrigar culturas, debitando os alimentos

consumidos gerados por estas culturas dos dados de entrada de alimentação

no Water Footprint Extended Calculator, diminuindo ainda mais a pegada

hídrica.

Page 89: Acesse a obra

89

Referências bibliográficas

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Page 90: Acesse a obra

90

CAPÍTULO X

PEGADA HÍDRICA CONSUNTIVA NA MICROBACIA RIACHO FUNDO- MUNICÍPIO DE CABACEIRAS-PB

Geraldo Moura Baracuhy Neto

Vera Lúcia Antunes de Lima

Carlos Alberto Vieira de Azevedo

Lincoln Eloi de Araújo

Introdução

A água doce é um recurso natural renovável que sofre forte pressão

antrópica, seja por consumo ou poluição dos corpos hídricos. A atividade

agrícola é a que mais contribui para o grande volume de água consumida e

poluída, mas os setores industrial e doméstico também têm grande

participação (WWAP, 2009). Assim, a ciência vem buscando meios que

levem a um consumo sustentável deste recurso, e o conceito de pegada

hídrica é forte aliada nesta busca.

A pegada hídrica é um indicador que mostra uma realidade de

consumo de água diferente da sugerida por análises convencionais em termos

monetários, abarca o uso de água como um todo e não sob a perspectiva

reducionista e simplista do uso direto. A pegada hídrica inclui os conceitos de

água azul, verde e cinza (Hoekstra, 2011), enriquecendo a conotação dos

tradicionais sistemas de recursos hídricos e conectando a água real com a

água virtual, possibilitando melhor reflexão das demandas e usos de água

doce. Um grande mérito da pegada hídrica é visualizar o uso oculto da água

em produtos e contribuir para o entendimento da configuração global dos

recursos hídricos, bem como a quantificação dos efeitos do consumo e do

comércio destes produtos no uso da água, fornecendo amparo científico para

melhor gerenciamento dos recursos hídricos do planeta.

A pegada hídrica consuntiva é definida, de acordo com Hoekstra et al.

(2011), pelo volume total de água doce consumida e poluída na produção dos

bens e serviços utilizados pelo consumidor; já a pegada hídrica de um grupo

de consumidores é igual à soma das pegadas hídricas dos consumidores

individuais. Desta forma, de acordo com Vanham (2013), a pegada hídrica do

consumidor é definida como o volume total de água doce que é utilizado para

produzir os produtos consumidos pela habitantes de uma região geográfica. É

a soma do uso da água doméstica direta e indireta e de recursos hídricos

estrangeiros através do consumo de bens.

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91

É obtida pela soma da pegada hídrica direta deste consumidor e de sua

pegada hídrica indireta (Hoekstra, 2011): PHcons = PHcons,dir + PHcons,indir.

Para obtenção da pegada hídrica individual consuntiva, a organização

Water Footprint Network criou a disponibiliza online o software Water

Footprint Extended Calculator, que mostra esta informação após a inserção

de dados referentes a alimentação, consumo de produtos industrializados e

uso direto de água. Este software funciona por meio de complexos cálculos

adaptados às realidades do país e das atividades de consumo. Deste modo,

objetiva-se com este trabalho avaliar a pegada hídrica consuntiva da

população da microbacia hidrográfica Riacho Fundo, no município de

Cabaceiras-PB, obtendo-se, para tal, a pegada hídrica total dos habitantes da

microbacia, a participação dos três componentes (alimentação, uso doméstico

e bens de consumo) e a contribuição das categorias alimentícias individuais

na pegada hídrica total.

Material e Métodos

Área de estudo

O estudo foi realizado na microbacia Riacho Fundo, que situa-se entre

as coordenadas geográficas 7º25’12” e 7º30’06” de latitude Sul e 36º20’02”

e 36º24’50’’de longitude Oeste. Esta microbacia se localiza no município de

Cabaceiras, Estado da Paraíba, e está a cerca de 15 km a leste da sede

municipal.

Optou-se por uma microbacia porque, conforme a política nacional de

gerenciamento de recursos hídricos, a bacia hidrográfica é a unidade de

referência e planejamento. A microbacia específica, por estar situada em

pleno semiárido brasileiro, região que reconhecidamente é abalada por défict

hídrico, aumenta a relevância de qualquer estudo que trate de sustentabilidade

da água.

Conforme Rocha & Kurtz (2001), tecnicamente é aconselhável

começar a recuperar o meio ambiente adotando como unidade básica as

bacias hidrográficas, as quais, subdivididas em sub-bacias e microbacias, tem

mostrado grande eficiência em trabalhos de campo, conforme as

recomendações dadas pelo Programa Nacional de Microbacias.

Procedimentos metodológicos

Para a concepção inicial do estudo, foram feitas pesquisas

bibliográficas em livros, teses e periódicos, envolvendo a pegada hídrica.

Posteriormente, a pesquisa de campo consistiu no levantamento de dados nas

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92

residências da microbacia. Os dados foram utilizados para alimentar o

sistema Water Footprint Extended Calculator, conforme será melhor

explicado adiante.

Como existem 352 residências na microbacia Riacho Fundo, foi

necessário definir uma amostra representativa. Para tal, foi utilizada a

fórmula deduzida pelo Professor de Estatística do Centro de Ciências Rurais -

CCR da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Dr. Valduino

Stefanel, utilizada por Rocha (1997):

Em que:

n = domicílios a serem visitados;

3,841 = valor tabelado proveniente do Qui-Quadrado;

0,25 = variância máxima para um desvio 0,5;

0,1 = erro amostral de 10%;

N = número total de casas da microbacia;

Assim,

n = 75,6 residências

Entretanto, para conferir maior confiabilidade os dados foram

levantados em 100 residências, o que equivale a 28,4% do universo de

residências da área de estudo.

Definida a amostra, foram obtidos os dados de entrada por meio de

um instrumento de coleta dirigido ao consumidor, que foi o chefe da família

ou seu cônjuge, com questões específicas do software Water Footprint

Extended Calculator. Estas questões referem-se a: consumo de alimentos;

consumo doméstico, que é subdividido em uso em ambiente interno e uso em

ambiente externo; e consumo de bens industrializados, conforme a Tabela 1.

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93

Tabela 1. Questões do Water Footprint Extended Calculator

Pegada hídrica Medida

Alimentação

Cereais (trigo, arroz, milho, etc) kg por semana

Carne kg por semana

Ovos Quantidade por semana

Teor de gordura Alto, médio e baixo

Consumo de açúcar Alto, médio e baixo

Vegetais kg por semana

Frutas kg por semana

Tubérculos kg por semana

Xícaras de café Quantidade por semana

Xícaras de chá Quantidade por semana

Uso direto de água

Interno

Banhos Quantidade por dia

Duração de cada banho Minutos por banho

Tipo de chuveiro Padrão/ baixo fluxo

Banhos de banheira Quantidade por semana

Limpeza pessoal (dentes, mãos, barba) Quantidade por dia

Deixa a torneira aberta na limpeza pessoal? Sim ou não

Lavagem de roupa Quantidade por semana

Sistema de dupla descarga Sim ou não

Lavagem de louça manual Quantidade por dia

Duração de cada lavagem Minutos por lavagem

Máquina de lavar louça Utilizações por semana

Externo

Lavagem de carro Quantidade por semana

Irrigação de plantas Quantidade por semana

Tempo de cada irrigação Minutos por irrigação

Tempo em lavagem de equipamentos e áreas externas Minutos por semana

Capacidade da piscina Metros cúbicos

Esvaziamento da piscina Quantidade por ano

Consumo e bens industrializados

Renda anual bruta US$ por ano

Page 94: Acesse a obra

94

O software Water Footprint Extended Calculator calcula a pegada

hídrica individualmente. Como interessa a pegada hídrica média da

residência, tomaram-se informações médias de toda a residência. Porém,

durante o primeiro levantamento de dados, constatou-se extrema dificuldade

das pessoas em responder as questões referentes à alimentação como

apresentadas na Tabela 1. Foi percebida a aleatoriedade de algumas

respostas, que levariam à geração de informações irreais. Para resolver o

problema, foram obtidos aleatoriamente em algumas residências os pesos de

porções de alimentos cuja entrada é exigida em peso (kg) no software. A

partir dos quais, chegou-se a um peso de porção padrão para cada um destes

alimentos. Desta forma, durante o levantamento de dados, em vez de ser

questionado o consumo de alimentos por peso, foi questionado o número de

vezes, semanalmente, em que aquele alimento era consumido. Na tabulação

dos dados, estes números foram multiplicadas pelas porções padrão obtidas

anteriormente, gerando dados de entrada mais fidedignos.

Esta adaptação metodológica se mostrou bastante eficaz. Como

discutido nos resultados, o consumo médio de carne obtido na microbacia foi

de 31,72 kg por pessoa/ ano, o que é semelhante ao consumo médio de carne

no Brasil obtido por Hoekstra & Mekonnen (2012): 32 kg por pessoa/ano.

Outra adaptação metodológica se refere ao uso de água interno e

externo. No software, conforme a Tabela 1 pode-se entrar com o dado

referente ao tipo de chuveiro: padrão ou baixo fluxo. Não foi constatado

nenhum chuveiro de baixo fluxo. Entretanto, algumas famílias costumam

fechar o chuveiro durante a etapa de ensaboamento. Quando isto ocorreu,

considerou-se chuveiro de baixo fluxo. Por fim, foi verificada a alta

incidência de motocicletas na localidade. Como o software dispõe apenas de

entrada do número de lavagens de carros, foram consultadas algumas

empresas do ramo de lavagens veiculares (lava-jato) e foi obtida a

informação de que, geralmente, uma lavagem de motocicleta consome 1/3

(um terço) do volume de água de uma lavagem de carro. Assim, para a

lavagem de motocicleta que ocorre uma vez por semana, foi introduzido o

valor 0.33 na entrada referente à lavagem de carro.

Cálculo da pegada hídrica

Os dados coletados foram tratados conforme estas adaptações

metodológicas e alimentaram um sistema que exibiu as informações

desejadas. O sistema utilizado foi o software Water Footprint Extended

Calculator, desenvolvido pelos pesquisadores holandeses Arjen Y. Hoekstra,

Ashok K. Chapagain e Mesfin M. Mekonnen em 2005, cujo fluxograma está

apresentado na Figura 1. O software Water Footprint Extended Calculator,

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95

disponibilizado pela Water Footprint Network, é acessível e utilizável

diretamente de algum navegador (browser). No presente estudo, foi utilizado

o navegador Mozilla Firefox. O software pode ser acessado por meio do

hiperlink http://www.waterfootprint.org/?page=cal/WaterFootprintCalculator.

Figura 1. Fluxograma do Water Footprint Extended Calculator.

Fonte: Adaptado de Water Footprint Network (2013).

A entrada se refere à inserção dos dados no software. Posteriormente,

o botão “submit” deve ser clicado para o devido processamento dos dados. A

ferramenta Water Footprint Extended Calculator é construída com complexos

cálculos adaptados à realidade de cada país.

Após o processamento, o software retorna, conforme a Figura 2, que

apresenta a sua interface de saída:

a) A pegada hídrica total;

b) A participação dos componentes: alimentação, uso doméstico e

consumo de bens industrializados nesta pegada hídrica total; e

c) A contribuição das categorias alimentícias na pegada hídrica, assim

listada: cereais, carnes, vegetais, frutas, laticínios, estimulantes, gorduras,

açúcares, ovos e outros.

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96

Figura 2. Interface de saída do Water Footprint Extended Calculator.

Fonte: Water Footprint Network (2013).

Resultados

Pegada hídrica total e componentes

Os resultados da pegada hídrica total, seus componentes e a

participação de cada categoria alimentar, obtidos no software Water Footprint

Extended Calculator, foram analisados de forma per capita, como é

recomendado por Mekonnen & Hoekstra (2011). Os autores afirmam que, em

números absolutos, a China é o país com a maior pegada hídrica de consumo

no mundo, com um total de 1.368 Gm3/ano, seguido pela Índia e os EUA

com 1145 Gm3/ano e 821 Gm

3/ano, respectivamente. Salvo exceções, os

países com grandes populações tendem a ter uma pegada hídrica grande. Por

isso, é recomendável avaliar a pegada hídrica per capita.

Analisando-se os dados obtidos, verifica-se que o maior valor da

pegada hídrica total na microbacia hidrográfica Riacho Fundo é de 1.123 m3/

ano. Este valor está abaixo da média mundial que, conforme Mekonnen &

Hoekstra (2011), é de 1.385 m3/ano. Em relação à pegada hídrica do

brasileiro, a média é de 1.107 m3/ano (Maracajá, 2013), muito semelhante à

pegada hídrica máxima na microbacia (1.123 m3/ano). Entretanto, este valor

encontrado por Maracajá (2013), quando comparado com a média da

microbacia, que é de 807,07 m3/ano (Tabela 2), equivale a 137% deste.

Este fato pode ser explicado pela renda média anual na localidade, que

é de R$ 5.837,00, considerada baixa quando comparada com a renda média

anual do Brasil, que é de R$ 8.142,00, conforme IBGE (2010). Embora o

consumo de carne seja um forte determinante na pegada hídrica consuntiva, a

quantidade de carne consumida por pessoa na localidade é praticamente a

mesma consumida nacionalmente, conforme exposto adiante. Desta forma,

constata-se que o fator renda é de fato o responsável pela diferença entre a

pegada hídrica consuntiva média do Brasil e a da microbacia Riacho Fundo.

Page 97: Acesse a obra

97

Tomando-se ainda como referência a pesquisa desenvolvida por

Maracajá (2013), tem-se que a pegada hídrica total por habitante na região

Nordeste é de 805 m3/ano. Verifica-se que, na microbacia estudada, 57% das

famílias têm pegada hídrica superior a este valor e 18% apresentam pegada

hídrica acima de 1.000 m3/ano. Este resultado pode ser justificado pela

avaliação da renda média que, na microbacia estudada, é de R$ 5.837,00,

equivalente a 126% em relação à renda da região Nordeste, que é de R$

4.630,00 anuais (IBGE, 2010). Os valores médios de pegada hídrica total,

seus componentes e participação das categorias alimentares são apresentados

na Tabela 2.

Tabela 2. Valores médios de pegada hídrica total, componentes e participação

das categorias alimentares, em m3/ano

PH total PH de alimentação PH de consumo de bens

industrializados

PH de uso

direto

807,07 586,29 174,59 47,26

Cereais Carne Vegetais Frutas Laticínios Estimulantes Gordura Açúcar Ovos Outros

75,24 249,08 7,09 31,5 32,9 84,87 0,59 3,04 25,22 62,27

A análise da Tabela 2 permite verificar que a pegada hídrica média de

alimentação, de 586,29 m3/ano, corresponde a 72,6% da pegada hídrica

média total, que é de 807,07 m3/ano, evidenciando que, na microbacia Riacho

Fundo, a pegada hídrica contida nos alimentos é a maior responsável pela

pegada hídrica total consuntiva da localidade. A pegada hídrica de consumo

de bens industrializados corresponde a 21,6% da pegada hídrica total e a de

uso direto de água, 5,8%. Estes resultados podem ser melhor visualizado na

Figura 3.

Figura 3. Representatividade de cada componente na pegada hídrica total.

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98

Como já mencionado, Maracajá (2013) identificou que, na região

Nordeste, a pegada hídrica total média por habitante é de 805 m3/ano, valor

muito semelhante ao da microbacia Riacho Fundo, encontrado pelo presente

estudo: 807,07 m3/ano.

No entanto, conforme o trabalho desenvolvido por Maracajá (2013),

as pegadas hídricas de alimentação, de consumo de bens industrializados e de

uso direto da água, para o habitante da região Nordeste, foram de 738 m3/ano,

33 m3/ano e 50 m

3/ano, respectivamente, correspondendo, em relação à

pegada hídrica total, a 91,6%, 4% e 4,4%. Em comparação com as

porcentagens identificadas na microbacia Riacho Fundo (72,6%, 21,6% e

5,8%, respectivamente), percebe-se uma sensível diferença em relação à

pegada hídrica de consumo de bens industrializados, que é muito maior para

o habitante da microbacia.

Uma vez que a pegada hídrica de consumo de bens industrializados é

afetada diretamente pela renda, ou seja, quanto maior a renda, maior o poder

de compra, pode-se deduzir que a renda média anual na localidade é maior do

que a da região Nordeste. De acordo com IBGE (2010), esta dedução é

acertada, já que a renda per capita desta região é de R$ 4630,00 anuais, ao

passo que na microbacia é de R$ 5.837,00.

Pegada hídrica das categorias alimentares

Analisando-se a Tabela 2 em relação à pegada hídrica das categorias

alimentares, verifica-se que o papel do consumo da carne merece destaque,

correspondendo a 42,48% da pegada hídrica de alimentação e a 30,86% da

pegada hídrica total.

Isto se dá por existir um grande consumo de carne per capita na

localidade: 31,72 kg/ano. Este consumo é muito semelhante ao consumo

padrão de carne do brasileiro, constatado por Hoekstra & Mekonnen (2012),

que é de 32 kg/ ano. Este valor é alto em comparação com a de outros países,

conforme se verifica na Tabela 3. Além do alto consumo de carne verificado

na localidade, a pegada hídrica do consumo deste alimento é influenciada

também pelo fato de a pegada hídrica da carne brasileira ser uma das

maiores: 19.400 m3/t, acima da média mundial que é de 15.400 m

3/t,

conforme a mesma tabela.

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99

Tabela 3. Consumo de carne e pegada hídrica da carne em alguns países do

mundo

Países Consumo de carne (kg/ pessoa/

ano)

Pegada hídrica da carne (m3/

ton)

EUA 43 15500

Brasil 32 19400

México 23 17500

Reino Unido 18 9900

Ucrânia 10 12600

China 5 13700

Bolívia 12 77000

Média mundial 9 15400

Fonte: Adaptado de Hoekstra & Mekonnen (2012).

Como pode ser observada, de forma geral, a carne tem uma alta

pegada hídrica. Isto se explica porque seu cálculo é feito baseando-se em toda

a alimentação do animal durante toda a sua vida e nos volumes de água

consumidos para dessedentação e outras atividades, como as de higiene,

conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Componentes da pegada hídrica de um animal.

Fonte: Adaptado de Hoekstra (2012).

Como cada país tem particularidades desde o cultivo e tipo da

alimentação dos animais, perpassando pela atividade da pecuária, da

obtenção e processamento da carne e pela revenda, até o consumidor final, as

pegadas hídricas diretas e indiretas de cada atividade e cada processo são

diferentes, o que explica a discrepância da pegada hídrica da carne entre os

países observada na Tabela 3.

Page 100: Acesse a obra

100

No tocante à participação das outras categorias alimentares, a pegada

hídrica de consumo de estimulantes também se destaca, apenas ficando atrás

da pegada hídrica de consumo de carne, como pode ser visualizado na Figura

5.

Figura 5. Representatividade das categorias alimentares na pegada hídrica de

alimentação.

Um estimulante é uma droga que aumenta a capacidade motora e

cognitiva, reforça o estado de atenção e aumenta a euforia do consumidor. Na

microbacia, o principal estimulante consumido é a cafeína, uma vez que o

consumo de café é alto na localidade, em torno de 14 xícaras por semana,

para cada habitante. Além disso, há o consumo de chás, em torno de 3 xícaras

por semana por habitante. Entretanto, foi verificado que o chá consumido é,

geralmente, proveniente de cultivo caseiro.

Devido à proximidade entre a produção e o consumo, a pegada hídrica

dos estimulantes do chá deveria ter pouca participação proporcional em

relação à cafeína, pois o café é produzido remotamente e perpassa por muitas

etapas até o consumo. No entanto, não há a possibilidade de incorporar esta

dimensão espacial do chá na Water Footprint Extended Calculator.

Outra categoria alimentar com relevante participação são os cereais,

que correspondem a 13% da pegada hídrica de alimentação. Na localidade,

praticamente todos os dias são consumidos cereais, destacando-se o arroz e

os derivados do milho, com 94% e 61%, respectivamente, de famílias que

consomem estes alimentos diariamente. As massas à base de farinha de trigo,

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101

como pão, macarrão e bolo, também são largamente consumidos: 54% dos

habitantes da microbacia incluem massa na alimentação diariamente.

Conclusão

O presente estudo buscou contribuir com a produção de informações

que visam à economia de recursos naturais, já que dados quantitativos são

necessários para permitir comparações e eventuais tomadas de decisões

políticas que definam padrões, metas e formas de gestão da água que

incentivem a produção sustentável do ponto de vista do uso dos recursos

hídricos.

Na microbacia estudada, a pegada hídrica total é de 807,07 m3/ano por

pessoa. Dentro desta pegada hídrica, merece destaque a de alimentação, que é

de 586 m3/ano por pessoa. Isto indica a forte participação desta componente

na pegada hídrica total, sugerindo que qualquer política ou linha de ação que

vise reduzir este indicador tem que focar na alimentação, principalmente no

consumo da carne, que corresponde a 30,86% da pegada hídrica por pessoa.

Desta forma, é urgente uma reflexão global concernente ao consumo de carne

e de uma mobilização social e política quanto a adoção de medidas que

diminuam a pegada hídrica da carne para consumo.

A avaliação da pegada hídrica de consumo de bens industrializados da

microbacia Riacho Fundo, que é de 174,59 m3/ ano por pessoa, também

demonstra a forte participação da renda na determinação deste indicador, cuja

média é maior na localidade do que na região Nordeste. Esta diferença se

deve principalmente à renda, como ficou evidenciado no estudo.

Na microbacia Riacho Fundo, o uso direto da água representa a menor

participação dos componentes na pegada hídrica total, com 47,26 m3/ano por

pessoa. Entretanto, este aspecto também deve ser inserido em estratégias para

sustentabilidade dos recursos hídricos locais, uma vez que a água proveniente

do uso direto é potencialmente reutilizável, abrandando a necessidade hídrica

da região.

Referência bibliográfica

HOEKSTA, A. Y. The hidden water resource use behind meat and dairy.

Animal Frontiers, 2(2): 3-8, 2012.

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global level is needed. Water, 3(1): 21-46, 2011.

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MEKONNEN, M. M. The water footprint assessment manual. Earthscan:

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Disponível em http://www.ibge.gov.br/. Acesso em 07/2013.

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2013.

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Universitária, 1997.

ROCHA, J. S. M., KURTZ, S. M. J. M. Manual de manejo integrado de

bacias hidrográficas. 4 ed. Santa Maria: Edições UFSM/CCR, 2001.

VANHAM, D. An assessment of the virtual water balance for agricultural

products in EU river basins. Water Resources and Industry 1–2, 49–59, 2013.

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http://www.waterfootprint.org/. Acesso em: 07/2013.

WWAP – World Water Assessment Programme. Disponível em:

http://www.unesco.org/new/en/natural-sciences/environment/water/wwap/.

Acesso em: 05/2009.

Page 103: Acesse a obra

103

CAPÍTULO XI

ECO RESIDÊNCIA RURAL

Vicente de Paula Teixeira Rocha

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Dermeval Araújo Furtaado

Paulo Roberto Megna Francisco

Introdução

A preocupação pela preservação dos recursos naturais e o futuro do

planeta tem crescido consideravelmente, tendo maior relevância a partir da

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

em 1992. A busca por formas de desenvolvimento que atendam as

necessidades da população sem que se comprometam as futuras gerações tem

levado a um termo conciliador que se denomina desenvolvimento

sustentável.

O desenvolvimento sustentável exige que se tenha uma visão

sistêmica de todo o processo produtivo, resultando na adoção de medidas que

atendam às necessidades com o mínimo impacto ao meio ambiente.

A construção sustentável implica em aumento na eficiência do uso

de recursos naturais, redução dos custos de manutenção e aumento da vida

útil da infraestrutura.

Os objetivos das construções sustentáveis são: consumir mínima

quantidade de energia e água desde a implantação da obra e ao longo de sua

vida útil, emitir o mínimo de poluentes durante e após a implantação da obra,

uso de matérias-primas ecoeficientes (sem causar agressão ao meio ambiente,

que sejam renováveis, recicladas, recicláveis e, quando possível,

desmontáveis), gerar o mínimo de resíduos e contaminação ao longo de sua

vida (durabilidade e reciclabilidade), utilizar o mínimo de terreno e integrar-

se ao ambiente natural, adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos

usuários e criar um ambiente interior saudável (IDHEA, 2006).

A sustentabilidade na construção civil hoje é um tema de extrema

importância, já que a indústria da construção causa um grande impacto

ambiental ao longo de toda a sua cadeia produtiva. Esta inclui ocupação de

terras, extração de matérias-primas, produção e transporte de materiais,

construção de edifícios e geração e disposição de resíduos sólidos.

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104

Materiais e métodos

A casa ecológica encontra-se construída na área rural no Distrito de

Ribeira, coordenadas geográficas 7°24'60"S 36°21'60"W, situado em

Cabaceiras/PB, região semiárida no estado da Paraíba, cidade cuja

precipitação média é de 336 mm/ano.

O projeto arquitetônico da Casa Ecológica incorpora princípios da

arquitetura sustentável, sendo observados os preceitos estabelecidos na

Norma Brasileira NBR-15220. Como é de amplo conhecimento, esta Norma

institui o zoneamento bioclimático brasileiro e recomenda as diretrizes

construtivas para habitações de interesse social.

Os tijolos de solo-cimento foram produzidos utilizando-se prensa

manual. A mistura fresca de solo-cimento foi depositada dentro de moldes de

ferro e imediatamente prensada. Depois de retirado da prensa, o tijolo foi

armazenado em local coberto e protegido do vento para evitar desidratação

precoce, onde foi molhado por um período mínimo de 7 dias para ser curado,

adquirindo uma melhor resistência mecânica. Pelo fato do tijolo ser

construído no local da obra, o processo garante um menor desperdício de

material, além de reduzir tempo e custo de mão-de-obra. O traço da mistura

de solo-cimento ficou na proporção 1:12 (cimento: terreno natural), sendo

20% de resíduo de caulim, em substituição à parte do terreno natural. O tijolo

de solo-cimento apresenta faces regulares e um duplo encaixe. Ele permite

um bom nivelamento, prumo, esquadro e alinhamento, além de satisfatório

acabamento, oferecendo beleza estética à construção.

A escolha do formato da unidade habitacional foi definida por

obedecer a um padrão de projeto elaborado por professores e alunos da pós-

graduação em Engenharia Agrícola, da Universidade Federal de Campina

Grande (UFCG).

Para a implantação da Casa Ecológica no terreno foram observados

critérios como a orientação solar de seus cômodos, a localização das

esquadrias, o comportamento do vento, a iluminação natural, bem como a

opção do sentido de escoamento de água da coberta com o fito de melhor

atentar para o desempenho térmico da edificação.

A habitação foi dotada de dois quartos, sala, cozinha, banheiro,

terraço e mezanino, contemplando uma área de construção de 69,60 m²,

sendo 56,85 m² no térreo e 12,75 m² no mezanino. A cobertura tem uma

inclinação de 35% e o pé-direito do térreo é de 2,70 metros. A alvenaria é do

tipo aparente sem revestimento, exceto áreas molhadas - banheiro e cozinha.

A concepção da coberta planejada observou ação de captadora e

coletora de águas pluviais, armazenando-a em reservatório no ponto mais alto

do terreno. O processo de uso de água da chuva e reuso da água dispensa a

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105

necessidade de bombas, uma vez que o aproveitamento é por processo de

gravidade, visto que o terreno onde a casa está construída consta de uma

declividade na ordem de 6,4%.

A água residual também recebe especial tratamento, no sentido da

otimização do seu uso. A água a ser utilizada na lavanderia passa por um

filtro erguido em alvenaria, onde fica guardada por período curto e, depois,

abastece os vasos sanitários. Após este uso higiênico, é tratada em fossa

séptica e usada em frutíferas que serão plantadas na parte mais baixa do

terreno. O reaproveitamento da água da cozinha e das pias dos banheiros são

direcionadas à fossa séptica, e, posteriormente, servirão para aguar plantas

frutíferas, a exemplo de coco, maracujá, dentre outras.

Resultados obtidos

A alvenaria executada com tijolo solo-cimento proporciona diversas

vantagens, a exemplo de um menor custo, dispensabilidade do emprego de

fôrmas (muito utilizado na alvenaria monolítica), celeridade no processo de

construção e facilidade a passagem das instalações hidráulicas e elétricas

(Figura 1).

Além das vantagens já destacadas podemos mencionar o caráter de

alinhamento com o respeito ao meio ambiente, a partir de uma menor

devastação da flora. Além de não usar vegetação para a queima do tijolo, a

madeira é dispensada para confecção das peças de concreto armado. Ocorre

que o tijolo funciona como elemento para moldar os pilares da construção.

Figura 1. Tijolo de solo cimento utilizado na construção da eco residência.

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106

Figura 2. Vista frontal da construção da eco residência.

Figura 3. Vista lateral da construção da eco residência.

Figura 4. Vista dos fundos da construção da eco residência.

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Figura 5. Vista da fundação da construção da eco residência.

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108

CAPÍTULO XII

LIVROS DIDÁTICOS E A TEMÁTICA AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO NA ESCOLA CLÓVIS PEDROSA

CABACEIRAS/PB

Catyelle Maria de Arruda Ferreira

Silvana Eloisa da Silva Ribeiro

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Bruno Soares de Abreu

Júlia Soares Pereira

Introdução

O ensino da Educação Ambiental (EA) nas escolas brasileiras é uma

importante ferramenta na busca por hábitos mais sustentáveis que respeitem

os recursos naturais, as limitações e o tempo do meio ambiente possibilitando

que as gerações futuras usufruam dos mesmos benefícios que a natureza

proporciona hoje.

Para que EA seja implementada no cenário educacional brasileira,

dentre outras ações, foi sancionada a lei 9.795 em 27 de abril de 1999 que

dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, um importante

passo para a construção e consolidação da educação ambiental no país.

De base na lei 9.795/99 em seu Art. 2o a educação ambiental é um

componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar

presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não-formal. Isso que dizer que o ensino da

Educação Ambiental não deve ser uma disciplina isolada dos demais

conteúdos, nem tampouco, criada como uma disciplina distribuída no

cronograma da escola. A EA deve estar presente em todas as disciplinas que

são ofertadas na escola.

Ainda segundo a lei a educação ambiental deve ser implantada de

forma interdisciplinar com participação do indivíduo e da comunidade. A

interdisciplinaridade na educação ambiental abrange, ou deveria estar

presente em todas as disciplinas oferecidas pela escola.

O ensino da Educação Ambiental aos poucos vem sendo modificada,

visto sua importância para a construção de uma “nova” postura

socioambiental da sociedade, como esse principal objetivo o estudo observa a

relevância do tema no cenário nacional e, principalmente no universo

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109

educacional, uma vez que os futuros multiplicadores ambientais são também

educados na escola.

A preocupação de realizar este estudo decorreu do fato dos livros

didáticos, na sua grande maioria, serem adotadas para as escolas sem a

realização de pesquisas criteriosas sobre as diversidades regionais, as

especificidades socioambientais das regiões, assim como os costumes e

hábitos das localidades a que tais livros se destinam. Inclusive, os conteúdos

têm desconsiderado as características do mundo rural, divulgando uma

concepção de meio ambiente generalizada.

Dificultando assim o processo de construção de Educação Ambiental

capaz de promover mudanças de hábitos e aquisição de conhecimentos sobre

as realidades e as diversidades locais e de possibilitar a permanência da

população do campo em seu lugar de origem, estimulando o “sentimento de

pertencimento” e a valorização das potencialidades locais (patrimônio

natural-cultural).

A carência de relacionar potencialidades e características da realidade

local com os conteúdos ambientais implica em privilegiar uma visão de

mundo, que não considera o universo heterogêneo brasileiro e também em

elaborar livros didáticos para serem aplicados em diversos contextos com um

caráter homogêneo, como se os conteúdos ambientais fossem receitas

passíveis de aplicações em qualquer situação.

Com o objetivo de regionalização dos currículos escolares,

corroborando com a Lei 9.395 de 20 de Dezembro de1996 denominada de

Lei de Diretrizes e Bases Curriculares (LDB), o governo federal em 20 de

março de 2012 lançou com presença da presidente Dilma Rousseff o

Programa Nacional de Educação no Campo - Pronacampo1. O objetivo é

formar professores, educar jovens e adultos e garantir práticas pedagógicas

para reduzir as distorções no cenário educacional do campo brasileiro. O

conjunto de ações articuladas atenderá escolas do campo e quilombolas em

quatro eixos: gestão e práticas pedagógicas, formação de professores,

educação de jovens e adultos e educação profissional e tecnológica.

Destaca-se o eixo I denominado por “gestão e práticas pedagógicas”

algumas ações serão específicas quanto aos livros didáticos. Serão

implantados livros didáticos específicos para os anos iniciais do ensino

fundamental, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD

Campo e livros didáticos específicos para os anos iniciais do ensino

fundamental, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD

Campo.

Além disso, outro objetivo é selecionar obras de referência com

especificidades do campo e das comunidades quilombolas no âmbito do

Programa Nacional de Biblioteca da Escola – PNBE para os anos finais do

Page 110: Acesse a obra

110

ensino fundamental e ensino médio. As metas do governo para o ano de 2013

é atingir 3,2 milhões de estudantes no PNLD e 1,9 milhão de estudantes no

PNBE. A partir dessas considerações, verifica-se a relevância dessa pesquisa

para o cenário educacional brasileiro.

Fundamentação teórica

Sociedade e Educação Ambiental

A expressão “Educação Ambiental” (EA) surgiu apenas nos anos 70,

sobretudo quando surge a preocupação com a problemática ambiental e

muitos dos conhecimentos atuais sobre sistemas ambientais surgiram nesse

mesmo período. A partir de então surge vários acontecimentos que

solidificaram tais questões e muitas discussões sobre a educação ambiental

foram desencadeadas.

Atualmente o mundo exige cuidados, isso porque o homem vem

utilizando os recursos naturais de forma inadequada, o que além de prejudicar

e degradar o próprio meio ambiente acaba se prejudicando, uma vez que a

natureza tem reagido e esses impactos. Dessa forma, diante do caos em que

vivemos se faz necessária uma educação ambiental que sensibilize as pessoas

proporcionando acesso a uma melhor qualidade de vida, mas sem

desrespeitar o meio ambiente, tentando criar uma nova mentalidade com

relação a como usufruir dos recursos naturais de forma correta, sem agredir a

natureza, criando assim um novo modelo de comportamento que leve toda a

sociedade a refletir e repensar seus valores acerca do meio ambiente.

A educação ambiental consiste em uma ferramenta que busca,

sobretudo, a conscientização das pessoas, de modo a gerar novos conceitos

sobre a importância da preservação do meio ambiente no dia-a-dia,

desenvolvendo uma consciência de respeito com a natureza, e dentro desta

lógica, a educação ambiental segundo Dias (2004), é: Processo permanente

no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio

ambiente e adquirem novos conhecimentos, valores, habilidades,

experiências e determinação que os tornam aptos a agir e resolver problemas

ambientais, presentes e futuros (p. 523).

O Brasil é o único país da América Latina que possui uma política

nacional específica para a Educação Ambiental, e tornou-se lei em 27 de

Abril de 1999, pela Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, onde em seu

Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e

permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em

caráter formal e não-formal”.

Page 111: Acesse a obra

111

A educação ambiental deve ser um exercício para a cidadania, de

forma que mobilize toda sociedade e não apenas pequenos grupos, uma vez

que, a mesma deve ser comunitária e não individualista. A EA nesta

perspectiva deve ter um caráter interdisciplinar, onde sua abordagem deve ser

integrada e continua, e não ser uma nova disciplina, ou seja, “A Educação

Ambiental não deve ser implantada como uma disciplina no currículo de

ensino em conformidade com a lei 9.795/99”.

Segundo Leff (2001) a maioria dos problemas ambientais que estamos

vivenciando no século XXI é consequência de nossas atitudes. Sendo assim,

a crise ambiental que vivenciamos revela-se: Nós como um limite no real,

que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do crescimento

econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das

capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade

social (LEFF, 2001, p.191).

Ao longo do tempo, a questão da sobrevivência humana esteve ligada

aos recursos existentes na natureza, mas o modelo de crescimento

convencional baseado na acumulação e concentração de capital, iniciado com

o advento da Revolução Industrial provocou a exploração dos recursos

naturais de forma inadequada, retirando da natureza muito além das

necessidades humanas em favor do capitalismo que visa apenas o processo de

acumulação de capital. Tal procedimento tem provocando desequilíbrio na

relação do homem com o meio natural, degradando os ecossistemas e

comprometendo a qualidade de vida das populações em situação de riscos.

Ao abordar esta questão Beck (1998) alerta que o desequilíbrio

ambiental foi uma construção do século XIX, em que o homem teve como

finalidade dominar a natureza. Naquele contexto, ela foi vista como um

fenômeno externo e como uma fonte de recursos inesgotáveis. Entretanto, no

final do século XX, ocorreu uma mudança nessa visão, porque a própria

natureza passou a apresentar sinais de esgotamento. Sendo assim, a natureza

explorada passou a ser vista, sobretudo pelos educadores ambientais como

um fenômeno produzido pelas ações dos próprios homens.

Diante do cenário de natureza contaminada pelas ações humanas

torna-se necessário a construção de processos educativos informais e formais,

que utilizem instrumentos e materiais didáticos dinâmicos e relevantes nas

escolas situadas em situações de riscos ambientais, com capacidade para

viabilizar um processo de Educação Ambiental que possibilite mudanças de

hábitos e costumes compatíveis com as necessidades das comunidades,

conforme recomendam as Conferências Mundiais sobre Meio Ambiente, a

Constituição Federal, a Política Nacional de Educação Ambiental e os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s).

Page 112: Acesse a obra

112

Política e Inserção da Educação Ambiental na Escola

Conforme os objetivos propostos pelo Programa Nacional de

Educação Ambiental (PRONEA) e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN’s), a Educação Ambiental deve apresentar um caráter de

transversalidade, perpassando todas as disciplinas dos currículos escolares

em todos os níveis de ensino. Além disso, essa modalidade educativa deve

ser viabilizada por equipes multidisciplinares, constituídas por professores de

diferentes formações, e que tenham acesso a um apoio técnico quando se

fizer necessário (BRASIL, 2001).

Em 1994, foi aprovado o Programa Nacional de Educação Ambiental,

(PRONEA) tal programa foi desenvolvido para apoiar a educação não formal,

que ficou a cargo do IBAMA e a educação formal, que ficou a cargo do

MEC, constituído por sete linhas de ação:

• Educação Ambiental através do ensino formal;

• Educação no processo de gestão ambiental;

• Realização de campanhas específicas de Educação Ambiental para

usuários de recursos naturais;

• Cooperação com os que atuam nos meios de comunicação e com os

comunicadores sociais;

• Articulação e integração das comunidades em favor da Educação

Ambiental;

• Articulação intra e interinstitucional;

• Criação de uma rede de centros especializados em Educação

Ambiental, integrando universidades, escolas profissionalizantes, centros de

documentação, em todos os Estados da Federação.

No Plano Plurianual do governo 1996/1999, por meio da Portaria nº

153/96, o MEC e MMA assinaram um Protocolo de Intenções para

cooperação técnica e institucional em Educação Ambiental. Neste contexto,

foi realizada discussões para inserção da EA em outros níveis de ensino, na

perspectiva da nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9394/96), que mudou a

concepção curricular no ensino formal.

Em 1997, o MEC distribuiu os Parâmetros Curriculares Nacionais de

1ª à 4ª séries e de 5ª à 8ª séries e incluiu o Meio Ambiente como tema

transversal. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN

(1998) no que se refere ao Tema Transversal Meio Ambiente, a escola deve:

[...] oferecer meios efetivos para cada aluno compreender os fatos naturais e

humanos referentes à temática ambiental, desenvolver suas potencialidades e

adotar posturas pessoais e comportamentos sociais que lhe permitam viver

numa relação construtiva consigo mesmo e com seu meio, colaborando para

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113

que a sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa;

protegendo, preservando todas as manifestações de vida no planeta; e

garantindo as condições para que ela prospere em toda a sua força,

abundância e diversidade (PCN, 1998, p. 197).

Assim, segundo os PCN (1998, p.197-198), o trabalho com a temática

ambiental na escola deve contribuir para que os alunos sejam capazes de:

- identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente

ligados a ela, percebendo os processos pessoais como elementos

fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação

ao meio ambiente;

- perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural,

adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio

natural, étnico e cultural;

- observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de

modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de

modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e a boa

qualidade de vida;

- adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a

interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis;

- compreender que os problemas ambientais interferem na qualidade de

vida das pessoas, tanto local quanto globalmente;

- conhecer e compreender, de modo integrado, as noções básicas

relacionadas ao meio ambiente;

- perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de

causa/efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo

(histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante

das condições ambientais de seu meio;

- compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de

conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem,

aplicando-os no dia-a-dia.

Silva (2003) explicita que a Educação Ambiental tem um importante

papel na busca por hábitos mais sustentáveis e deve ser inserida de forma

interdisciplinar e/ou transdisciplinar nas escolas, descartando as práticas

tradicionais de ensino, em que os alunos ficam confinados no ambiente

escolar juntamente com o professor que é tido como “detentor do saber”, e os

transformando em cidadãos capazes de agir de modo responsável e

consciente, sabendo cumprir as suas obrigações, exigindo e respeitando os

direitos próprios e os de toda uma comunidade.

Page 114: Acesse a obra

114

De acordo com Minnini (1994), a Educação Ambiental enfatiza o

desenvolvimento de valores e comportamentos diferentes na inter-relação

homem e meio ambiente, defendendo a necessidade de um conhecimento

integrado da realidade e procedimentos baseados na investigação dos

problemas ambientais, utilizando estratégias interdisciplinares e sustentáveis.

A Educação Ambiental relacionada com a sustentabilidade pode ser

vista como processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a

todas as formas de vida. Neste sentido, a preservação ecológica e a formação

de sociedades mais justas e equilibradas pressupõe uma pedagogia baseada

no diálogo de saberes e orientada para a construção de consciências críticas.

Agrupadas à garantia de preservação dos recursos naturais e

determinadas espécies animais e vegetais, é prioritário que sejam focadas

também as questões econômicas e culturais entre a humanidade e a natureza e

entre os homens, fazendo-nos entender a Educação Ambiental como

formadora de cidadania nacional e planetária, fundamentando as relações

sociais e com a natureza na ética, portanto, uma EA como educação política

(REIGOTA, 1995).

Paulo Freire (2001), ressalva que a consciência critica é a

representação das coisas e dos fatos como se dão na existência empírica, a

sustentabilidade não tem a ver apenas com uma área do conhecimento

específica, ela busca relacionar o individuo com a natureza. O autor considera

que a pedagogia problematizadoras inicia o processo educativo ensinando o

educando a fazer a leitura do mundo em que está inserido, entendendo que o

universo dos alunos é o primeiro educador.

Materiais e métodos

A fim de atender aos objetivos da pesquisa, foram utilizadas

abordagens quantitativas como também qualitativas para melhor esclarecer o

objeto de estudo. Foi realizado um estudo de caso, pelo fato deste permitir o

conhecimento amplo e detalhado dos fenômenos estudados em seus aspectos

sociais e ambientais o estudo foi desenvolvido no município de Cabaceiras

no Distrito da Ribeira. A seguir as etapas da pesquisa:

a) Primeira etapa: revisão bibliográfica

A primeira etapa da pesquisa consistiu da realização de uma ampla

revisão de literatura. Para Silva e Menezes (2005) a partir da revisão de

literatura é que se torna possível elaborar uma fundamentação teórica voltada

para tratar o tema e o problema da pesquisa em questão, dando-se a

possibilidade de se traçar um quadro teórico que resultará na estruturação

conceitual que, por sua vez, dará sustentação ao desenvolvimento do estudo.

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115

b) Segunda etapa: escolha da área de estudo

A escolha da área de estudo ocorreu primeiramente devido à

pesquisadora ser membro técnico do projeto MCT/CNPq/ CT –

AGRONEGÓCIO / CT-HIDRO – N° 27/ 2008 intitulado como UNIDADE

DE TECNOLOGIAS INTEGRADAS PARA CONSERVAÇÃO DE

RECURSOS HÍDRICOS – UT – HIDRO aprovado pela instituição CNPq,

realizado no Distrito da Ribeira, Município de Cabaceiras/PB.

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Clóvis Pedrosa é a única

escola localizada no distrito de Ribeira (Figuras 1, 2 e 3).

Figura 1. Mapa de localização da E.E.E.F Clóvis Pedrosa. Fonte: Elaborado

por Bruno Abreu, 2012.

.

Figura 2. Fachadas da escola, lateral direita e lateral esquerda da entrada.

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116

Figura 3. Salas de aula e pátio da escola.

c) Terceira etapa: recolhimento do material

Esta etapa da pesquisa iniciou com visitas a escola Clóvis Pedrosa,

que de acordo com LAKATOS (2010), é denominado como pesquisa

exploratória ou investigação preliminar, enquadra-se como levantamento

inicial de dados. Nesse momento, a pesquisadora buscou através de

documentos e o contato direto com os pesquisados, dados preliminares que

subsidiou o trabalho. O envolvimento e entrosamento com a comunidade

escolar foi possível após conhecer a direção da escola, professores,

funcionários e alunos.

Após uma aproximação inicial com a administração da escola,

estabelecemos um contato e, posteriormente recolhemos os 8 livros didáticos

(2 de Língua Portuguesa, 2 de Ciências, 2 de História e 2 de Geografia do

Ensino Fundamental II) analisados na pesquisa.

Os critérios de seleção dos livros foram: 1) Adotados pela escola e

pelos professores do Ensino Fundamental II da escola E.E.E.F. Clóvis

Pedrosa; 2) Terem sido publicados após a implantação da Política Nacional

do Meio Ambiente; 3) Serem recomendados pelo Programa Nacional do

Livro Didático (PNLD) ou de acordo com as diretrizes formuladas pelos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

d) Quarta etapa: análise e discussão dos livros didáticos

Foi realizada uma análise e discussão dos livros didáticos,

denominada de “Categorias de Análise” através de metodologia desenvolvida

por Ferreira (2013) a partir das leituras dos autores: Freire (1975, 1996, 2005,

2011), Veiga (2005) e Sato (1997). Esta metodologia permitiu discutir e

analisar os textos dos livros didáticos, considerando as seguintes categorias:

Sensibilização ambiental e compatibilidade com a realidade local. Sendo

assim, apresentaram-se as variáveis e a estratégia de análise da seguinte

forma:

- Sensibilização ambiental – verificaram-se os textos que abordam a

temática ambiental estimulam o processo de sensibilização em relação ao

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117

meio ambiente, uma vez que esta variável se relaciona ao enfoque da

Educação Ambiental baseado em Sato (1997), quando enfoca a sensibilização

como necessária para produzir conhecimento sistêmico da dinâmica

ecológica educativa. Também se relaciona com o

conhecimento/envolvimento dos educados, que através da responsabilidade

social escola pode levar a participação e o efetivo exercício da cidadania.

- Compatibilidade com a realidade local e com a linguagem local –

verificaram-se os textos utilizam uma linguagem compatível com os

problemas e as especificidades da cultura local, por considerar essencial para

a construção do “sentimento de pertencimento” dos membros da escola em

relação à comunidade em que ela se encontra inserida. Nessa perspectiva,

Freire (2005) fornece subsídios à construção de propostas de “educação

popular” voltada à mobilização, organização e capacitação das classes

populares em favor da localidade que as classes estão inseridas, enfocando

que a capacitação científica e técnica só serão possíveis quando a escola se

inserir no contexto político-social da realidade local.

Categorização e análises

Dos livros didáticos

Este tópico irá relacionar a vivência e o entendimento do alunado

sobre o meio ambiente com os assuntos que foram encontrados nos livros

didáticos, visto que em muitos textos observou-se a incompatibilidade da

realidade local com o que é abordado nos livros.

Análises dos livros de Português do 6º ano e 9º ano2

Categorias de análise:

- Sensibilização ambiental

Com base nas diretrizes do PCN “Meio ambiente” o aluno deve ser

capaz de “observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental,

de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de

modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e a boa

qualidade de vida”.

Sendo assim, verificou-se que os textos dos livros de português do 6º

ano contemplam tanto a diretriz do PCN como os aspectos que elencamos a

sensibilização ambiental, abaixo fragmentos que corrobora tal informação:

(...) Nossos rios descomunais foram muito poluídos, mais ainda guardam uma

peixaria imensa. Nossos céus azuis são a alegria da passarada inumerável, de

todo colorido. [...] Ultimamente, as coisas pioraram muito. As fábricas

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118

esfumaçando gases fétidos e vomitando ácidos nojentos nos rios. As lavouras

abusando dos desfolhantes, inseticidas e fertilizantes químicos, em

quantidade cada vez mais espantosas, estão envenenando as águas que

estamos bebendo, poluindo os vegetais que comemos, acabando com os

peixes e com animais silvestres(...) (Darcy Ribeiro, p. 152-153, apud livro de

português do 6º ano).

Tabela 1. Quantitativos de textos nos livros português do 6º ao 9º ano

Critérios de seleção 6º ano 7º ano 8º ano

Apresenta temáticas ambientais 8 5 1

Não apresenta temática ambiental 27 25 26

Total de textos 35 30 27

- Compatibilidade com a realidade local

Infelizmente observa-se poucos textos abordando essa variável tão

importante para o cenário semiárido que os alunos vivenciam cotidianamente

e de acordo com Freire (1996) os educadores necessitam construir

conhecimentos baseado na realidade dos alunos envolvidos, considerando o

conhecimento e cultura dos educandos, respeitando a linguagem e

valorizando a cultura e a história de vida de cada indivíduo, de forma que o

conteúdo não fuja da realidade dos mesmos.

Para o autor a educação é um ato político e pedagógico e sendo assim

é importante que o ensino considere a diversidade étnico-cultural, religiosa e

biológica de cada região e que esteja também presente nos livros didáticos.

A variável “compatibilidade com a realidade local” não foi encontrada em

nenhum texto analisado.

Análises dos livros Ciências do 6º e 9º ano

Aspectos de análise:

- Sensibilização ambiental

Freire (1996, p. 25) afirma que “quando mais criticamente se exerça a

capacidade de aprender tanto mais se constrói e desenvolve o que venho

chamando “curiosidade epistemológica”, sem a qual não alcançamos o

conhecimento cabal do objeto”. Esse pensamento nos leva a criticar o ensino

“bancário” onde a educação torna-se um ato de depositar, os educandos são

depositários e o educador depositante.

A Educação Ambiental vem contrapondo a esta concepção “bancária”

colocada por Freire, ela surge como um instrumento de mudança, uma

ferramenta pedagógica possível de ser utilizada na escola que instiga nos

alunos o processo de sensibilização para as questões ambientais.

Page 119: Acesse a obra

119

Os dois livros analisados da disciplina de ciências apresentam textos

que aborda Sensibilização ambiental. “Evite desperdícios! O Brasil é um país

privilegiado em quantidade de água, pois contém cerca de 10% das reservas

de água doce do plante. Mas doenças diversas transmitidas por meio de água

contaminada são uma das principais causas de mortes de crianças no Brasil.

Muitos rios brasileiros apresentam contaminação principalmente pela

descarga de esgotos domésticos e industriais na água. [...] E há também o

desperdício doméstico: por exemplo, tomas banho com o chuveiro ligado

durante dez minutos consome cerca de 160 litros de água, o dobro da

quantidade diária suficiente para uma pessoa se manter em níveis

satisfatórios de saúde e de higiene. ”(Autor desconhecido, p. 149 apud livro

de ciências do 6º ano).

Tabela 2. Quantitativos de textos nos livros ciências do 6º ao 9º ano

Critérios de seleção 6º ano 9º ano

Apresenta temáticas ambientais 10 2

Não apresenta temática ambiental 25 28

Total de textos 35 30

- Compatibilidade com a realidade local

O autor Paulo Freire defende uma pedagogia fundada na ética, no

respeito, na dignidade e na autonomia do educando. Existe educador

autoritário e conservador, que não permite a participação dos educandos, não

os permitem colocar suas curiosidades e as suas vivências adquiridas no

decorrer da vida e do seu meio social, a realidade dos educandos deve estar

presente em sala de aula. Tanto nas discussões das aulas como nos livros

didáticos.

Entretanto, nenhum texto nos livros de ciências retrata

compatibilidade com a realidade local estudada pelo trabalho. Ao contrário, o

que se verificou foram textos abordando assuntos importantes com

linguagem técnica dificultando o entendimento do público leitor, “Desafios

do presente! Álcool e biodiesel: fontes alternativas de energia. [...] Mas o

chamado B2, mistura de 2% de biodiesel e 98% de diesel comum, deverá ter

vida curta. Isso porque a meta projetada pelo governo federal da adição de

biodiesel, nos próximos anos, é de 5%, com o produto ao qual se

convencionou chamar de B5. Sob a perspectiva atual, a produção e o uso de

biodiesel em todo o mundo se sustentarão enquanto não resultar na invasão

de áreas como a floresta Amazônia ou a disputa com culturas de

alimentos.”(Autor desconhecido, p. 149 apud livro de ciências do 9º ano).

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120

Análises dos livros História do 6º e 9º ano

Aspectos de análise:

- Sensibilização ambiental

No capítulo 2 da obra Pedagogia da Autonomia Paulo Freire aborda a

questão da ética entre educador e educando, e sobre a prática de ensinar. Para

o autor “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades

para a sua própria produção ou sua construção. Quando entro em uma sala de

aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas

dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da

tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento ( Freire

1996, p. 47).

Ou seja, respeitar a autonomia e a identidade do educando. Para passar

conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os

educandos. Deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos.

Fornece argumentos mostrando que desta forma é possível o

desenvolvimento da crítica.

Com objetivo de estimular e sensibilizar os alunos as questões

ambientais os três livros analisados da disciplina de história abordam a

concepção Sensibilização ambiental, fragmentos dos textos.

“Desenvolvimento sustentável”. A busca de formas de desenvolvimento

sustentável que não agridam o meio ambiente é um grande desafio para o

século XXI. Os debates sobre o tema levaram à formulação do conceito de

desenvolvimento sustentável [...] Os cidadãos, por sua vez, precisam mudar

seus hábitos de consumo, aprender a reutilizar os materiais, a evitar o

desperdício, a separar o lixo para possibilitar a reciclagem. A tarefa de salvar

o planeta caba a todos nós. Pequenas atitudes dentro de casa contribuem

muito para a economia de água, recurso cada vez mais escasso na natureza.

Por exemplo: fechar a torneira ao escovar os dentes, ao fazer a barba e

enquanto se ensaboa no banho.” (Autor desconhecido p. 263 apud livro de

história 9º ano).

Tabela 3. Quantitativos de textos nos livros história do 6º ao 9º ano

Critérios de seleção 6º

ano Percentual

ano Percentual

Apresenta temáticas ambientais 1 3,0 5 14,0

Não apresenta temática ambiental 30 97,0 30 86,0

Total de textos 31 100,0 35 100,0

- Compatibilidade com a realidade local

Respeitar as diferenças sem discriminação e entender a diversidade

sociocultural existente no Brasil, é também o saber educar que Freire (1996)

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121

aborda em seu livro. Qualquer forma de discriminação deve ser rejeitada,

alguns conceitos são necessários para o desempenho do bom ensino tendo

por consequência maior aproveitamento no aprendizado, por exemplo, a

ética, o bom senso, a responsabilidade, a coerência, a humildade, a tolerância

são qualidades de um bom educador. O professor deve defender seus direitos

e exigir condições para exercer sua docência, pois dessa forma estará

exercendo sua ética e respeito por si mesmo e pelos alunos.

Freire (1996, p. 68) afirma que ensinar exige apreensão da realidade,

ou seja, para o autor “à experiência educativa é o que diz respeito à sua

natureza”, e ainda conclui que “A capacidade de aprender, não apenas para

nos adaptar mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir,

recriando-a [...]. Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e

historicamente, nos tornamos capazes de aprender [..] aprender para nós é

construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao

risco e á aventura do espirito.

Os livros de história do 6º e 9º ano apresentam textos sobre

compatibilidade com a realidade local, abaixo alguns fragmentos dos textos

analisados “Ontem e Hoje! Agricultura e mudanças ambientais. A adoção da

agricultura juntamente com suas duas maiores consequências – as

comunidades assentadas e uma população continuamente crescente –

submeteram o meio ambiente a uma tensão constante. [...] (colchetes do texto

original) O solo fica muito mais exposto ao vento e à chuva do que antes,

principalmente onde os campos ficam nus durante a maior parte do ano, o

que causa um nível de erosão do solo muito mais forte do que acontece nos

ecossistemas naturais. [...] A adoção da irrigação é uma fator mais destruidor,

pois cria um meio ambiente que é ainda mais artificial do que a fazenda seca,

que depende da chuva”(Clive Ponting, p. 57, apud livro de história do 6º

ano).

“Cerca de 70% da superfície da Terra é constituída da água. A maior

parte dessa água (97%) encontra-se nos oceanos, misturada aos sais. Cerca de

14% da água doce do planeta está no Brasil. Os brasileiros vivem, portanto,

em um país privilegiado. A abundância de água no nosso país faz com que

tenhamos uma grande responsabilidade, que exige de nós o uso correto desse

valioso recurso.”(Autor desconhecido p. 262 apud livro de história 9º ano).

Análises dos livros de geografia do 6º e 9º ano Aspectos de análise:

- Sensibilização ambiental

Todos os textos dos livros de geografia apresentam o aspecto de

sensibilização ambiental, importante destacar neste tópico o papel do

professor no cenário de formação dos educandos quanto às temáticas

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122

ambientais. É muito importante a segurança e o conhecimento do professor

para se fazer respeitado, afirma Freire (1996), o autor traça argumentos a

favor da recriação de uma sociedade menos injusta e mais humana. Aponta

que o professor exerce uma grande importância para que haja um movimento

de mudança social, para isso há necessidade de decisões, rupturas e escolhas

para alcançar os objetivos.

Abaixo fragmentos que demonstram um pouco a mudança que os

professores podem exercer. “Há dois mil anos, os habitantes de Roma grande

cidade da Europa, já jogavam os esgotos e o lixo nos rios e nos mares.

Naquela época, talvez os oceanos ainda conseguissem absorver e transformar

esses resíduos, pois, só havia no mundo aproximadamente 133 milhões de

pessoas. Hoje somos mais de seis bilhões de habitantes vivendo em inúmeras

cidades espalhadas pelo mundo. O lixo pode e deve ser separado e

reaproveitado ou reciclado antes de ser definitivamente descartado. Reciclar

nada mais é do que reutilizar materiais anteriormente utilizados, promovendo

sua transformação e possibilitando seu reaproveitamento. A reciclagem

substitui, em parte, a extração de matérias-primas, ajudando a preservar os

recursos naturais e a diminuir a quantidade de lixo. Hoje em dia, a reciclagem

do lixo é fundamental para proteger o meio ambiente”.(Autor desconhecido,

p. 32, apud Livro de geografia do 6º ano).

- Compatibilidade com a realidade local

O professor crítico de acordo com Freire (1996) impõem a decência e

a ética como fatores qualitativos para obter o respeito dos alunos,

acompanhada desta postura têm uma séria de responsabilidade social e

democrática. Estes devem abstrair-se da sua “ignorância” para escutar os

educandos assim conhecendo a realidade de cada alunado. Há uma

necessidade de mudanças na postura dos profissionais para enfim colaborar

com a melhoria de condições e qualidade de vida de cada indivíduo,

desarticular qualquer forma de discriminação, injustiça e preconceito, é

importante para o avanço da educação.

Apenas os livros de geografia do 6º abordam o aspecto de

compatibilidade com a realidade local

Tabela 4. Quantitativos de textos nos livros geografia do 6º ao 9º ano

Critérios de seleção 6º

ano Percentual

ano Percentual

Apresenta temáticas ambientais 9 29,0 2 6,0

Não apresenta temática ambiental 22 71,0 30 94,0

Total de textos 31 100,0 32 100,0

Page 123: Acesse a obra

123

“De bem com a Natureza! Parques Nacionais do Nordeste. Entre os

parques do Nordeste, dois são marinhos: Abrolhos – refúgio de baleias

jubarte – e Fernando de Noronha, morada de tartarugas e golfinhos. Ambos

abrigam centenas de espécies de peixes tropicais, além de servir de santuário

para dezenas de espécies de aves marinhas. Os outros parques da região

Nordeste exibem paisagens diversificadas, como as das fotos da página ao

lado.” (Autor desconhecido, p. 246, apud livro de geografia do 6º ano).

Considerações finais

A partir das análises feitas nos livros didáticos verificou-se que a

comunidade necessita de temas e assuntos que retratam à Educação

Ambiental (EA) contemplando as especificidades da região do semiárido

objeto do nosso estudo.

A maioria dos textos analisados apresenta sensibilização aos temas

ambientais e com pouca criticidade, entretanto, a minoria relaciona

compatibilidade com os problemas socioambientais da localidade. A

linguagem técnica presente em alguns textos não contribui para o

entendimento do assunto considerando as diversas faixas etárias dos leitores

(educandos).

Considera-se que um efetivo estudo de EA voltado para as dimensões

da sustentabilidade que comporte, sobretudo, as singularidades regionais seja

necessário para avançar nas discussões sobre meio ambiente. Requer também

o comprometimento e o engajamento da população de forma consciente e

organizada, tendo em vista a construção da Educação Ambiental eco cidadã.

Para isso, torna-se necessária elaboração de projetos financiados pelas

diversas esferas governamentais permitindo assim o processo contínuo de

qualificação profissional, sendo possível uma melhor abordagem frente às

questões socioambientais locais. A regionalização dos livros didáticos é

preciso, entretanto, não podemos desconsiderar os aspectos mais

globalizantes do fenômeno ambiental contemporâneo.

Ao longo da investigação verificou-se que nenhum dos livros

analisados citou a temática do Meio Ambiente como eixo central de

discussão, quando mencionados nos livros ás questões ambientais

encontravam-se no final dos capítulos, em anexos ou em leituras

complementares.

Ao final conclui-se que a escola e os princípios que são repassados por

ela devem estar de acordo com a realidade dos educandos para que assim a

aprendizagem aconteça dentro e fora da sala de aula.

Page 124: Acesse a obra

124

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Janeiro: Garamond, 2005.

Page 126: Acesse a obra

126

CAPÍTULO XIII

CARTILHA E MÍDIA DA UNIDADE DE TECNOLOGIAS INTEGRADAS PARA CONSERVAÇÃO

DE RECURSOS HÍDRICOS

Paulo Roberto Megna Francisco

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy

Dermeval Araújo Furtado

A ideia de facilitar o entendimento dos usuários deste material foi

criada uma cartilha que segue juntamente com este livro. A cartilha foi

elaborada conforme as etapas do projeto de onde originou este livro.

A primeira etapa demonstrada na cartilha é a Barragem Subterrânea

onde simplificadamente descreve-se suas etapas de construção. Em seguida

vem o Poço Amazonas, o Sistema de Barramento com Pneus, o Poço

Artesiano com Cata-vento, a Cisterna de Placas, o Sistema de Tratamento de

Água Residuária, a Unidade de Produção Agrícola Controlada (UPAC), o

Viveiro Florestal, a Recuperação de Áreas Degradadas, as Matas Ciliares, e

finalizando com a Eco Residência Rural. Todo este material foi elaborado

com imagens obtidas nos experimentos durante seu processo de elaboração.

Ainda seguindo esse mesmo objetivo de facilitar a melhor

compreensão pelos usuários, decidimos criar e confeccionar um DVD, sendo

incluído como parte integrante do livro, juntamente com um pequeno filme

produzido com o material coletado pelos pesquisadores e também sendo

incluído os artigos científicos publicados e as dissertações e teses elaboradas

através deste projeto de pesquisa.

Portanto esperamos que este material seja replicado pelos leitores

melhorando assim a vida do homem do campo da região semiárida

nordestina.

Page 127: Acesse a obra

127

Curriculum dos Autores e Organizadores Aline Costa Ferreira: Possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande, Especialista em Desenvolvimento Sustentável para o Semiárido Brasileiro, Especialista em Gestão da Agroindústria Sucroalcooleira, Mestre em Irrigação e Drenagem pela UFCG e Doutora em Irrigação e Drenagem pela UFCG. Bruno Soares de Abreu: Graduado em Economia (UFCG), Especialista em Gestão e Análise Ambiental, em Gestão da Agroindústria Sucro-Alcooleira (UFCG). Mestre e Doutor em Recursos Naturais pela UFCG. Atualmente Coordenador e Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental na UBTECH – Unipê Business & Technology School. Carlos Alberto Vieira de Azevedo: Possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba, mestrado em Engenharia Civil (irrigação e drenagem) pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado em Agricultural And Irrigation Engineering pela Utah State University, Estados Unidos. Desde 1993 é professor da Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência em Irrigação por Superfície. Tem desenvolvido pesquisas nas áreas de Manejo de Água, Solo e Planta e de Engenharia de Irrigação e Drenagem. Catyelle Maria de Arruda Ferreira: Bacharel em Serviço Social (UEPB), Licenciada em Ciências Sociais, Especialista em Manejo Ecológico Integrado de Bacias Hidrográficas para o Semiárido Brasileiro (UFCG), Mestre em Recursos Naturais (UFCG) e Doutoranda em Recursos Naturais na UFCG. Dermeval Araújo Furtado: Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba, mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa e doutorado em Recursos Naturais pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba e professor do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFPB. Tem experiência na área de Zootecnia e Engenharia Agrícola, com ênfase em Manejo de Animais, atuando principalmente nos seguintes temas: ambiência, caprinos, semiárido, conforto térmico animal e aves.

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Enoque Marinho de Oliveira: Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal da Paraíba, especialização em Agribusiness pela Universidade Federal da Paraíba e curso-técnico-profissionalizante pela Universidade Federal da Paraíba. Geórgia Karênia Rodrigues Martins Marsicano de Melo: Graduada em Direito e Especialista em Direito Processual Civil pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas - FACISA. Mestre em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Doutoranda em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Professora dos cursos de Administração e Direito da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas - FACISA. Geraldo Moura Baracuhy Neto: Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Campina Grande. Especialista em Administração de Sistemas de Informação pela Universidade Federal de Lavras. Mestre em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande. Doutor em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande. José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy: Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, graduação em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba, mestrado em Ciência do Solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Recursos Naturais pela Universidade Federal da Paraíba. Curso de especialização em Inovação Tecnológica pela Universidade Federal do Espírito Santo, especialização em Agronegócio pela UFPB/USP, curso de gerenciamento de parques de maquinaria agrícola pelo CORI/Itália e curso de especialização em direito civil pela Universidade Estadual da Paraíba. Atualmente é professor associado III da Universidade Federal de Campina Grande. Júlia Soares Pereira: Possui graduação em Engenharia Agrícola (UFCG), Mestre em Engenharia Agrícola na área de Irrigação e Drenagem pela UFCG. Kalyne Sonale Arruda de Brito: Bacharela em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande e, atualmente, mestranda pelo Programa de Pós graduação em Engenharia Agrícola, na área de Irrigação e Drenagem.

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Lincoln Eloi de Araújo: Atualmente é professor adjunto III da Universidade Federal da Paraíba, Campus IV/Rio Tinto, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente (DEMA), Curso de Ecologia e Pró-reitor Adjunto da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC). Possui graduação em Meteorologia e em Geografia, mestrado em Meteorologia (2006) e doutorado em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Hidrometeorologia e Climatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Índices climáticos; Climatologia; Sistema de Informação Geográfica (SIG); Degradação e Impactos Ambientais; Diagnósticos Ambientais em Bacias Hidrográficas, Clima Urbano e Pegada Hídrica. Paulo Roberto Megna Francisco: Graduado pela UNESP como Tecnólogo Agrícola com especialização em Mecanização. Mestre em Manejo de Solo e Água pelo CCA/UFPB. Doutor em Engenharia Agrícola – Irrigação e Drenagem pela UFCG. Participa de Projetos de Pesquisa e Extensão juntamente com a EMBRAPA-Algodão, UFPB-Campus João Pessoa, UFCG-Campus Sumé, IFPB-Campus Campina Grande e Picuí. Ministrou as disciplinas de Mecanização Agrícola, Máquina e Motores Agrozootécnicos e Máquinas e Motores Agrícolas no CCA/UFPB. Atualmente presta consultoria para o INCRA/PB na realização de PDA’s. Pedro Dantas Fernandes: Graduado em Engenharia Agronômica Mestrado em Fitotecnia e Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas, Pós-doutorado na University of Arizona. Foi Professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal/UNESP e do CCA/UFPB de onde foi transferido para a Engenharia Agrícola/UFPB em Campina Grande. Atualmente, é Professor Visitante da Universidade Estadual da Paraíba e continua como Prof. Voluntário da UFCG. Silvana Eloisa da Silva Ribeiro: Possui Licenciatura Plena em Ciências Sociais (UFPB), Mestre em Sociologia Rural pela UFPB e Doutorado em Sociologia pela UFPE. Atualmente professora Adjunta IV da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Silvana Fernandes Neto: Possui formação em Técnico em Agropecuária e Processamento de Dados pelo Colégio Agrícola de Santa Maria-UFSM; graduação em Geografia Bacharelado e Especialização em Geociências pela Universidade Federal de Santa Maria-UFSM/RS, Mestrado em

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Recursos Naturais pelo Centro de Tecnologia em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande-UFCG/PB; Especialização em Gestão na Agroindústria Sucroalcooleira pela Universidade Federal de Campina Grande e Doutorado em Recursos Naturais pelo Centro de Tecnologia em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande. Viviane Farias Silva: Possui graduação em Engenheira Agrícola e Mestranda em Engenharia Agrícola com Área de Concentração em Irrigação e Drenagem pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Vera Lucia Antunes de Lima: Possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba, mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é Professora Associado II da Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em Tecnologia e Problemas Sanitários de Irrigação, atuando principalmente nos seguintes temas: reuso de água; adubação orgânica; cultivo de algodão irrigado; propriedades físico-hídricas do solo; drenagem de terras agrícolas. Vicente de Paula Teixeira Rocha: Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade de Fortaleza/CE (UNIFOR), Especialista em Segurança de Trabalho e Aluno do Mestrado de Engenharia Agrícola pela UFCG.

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