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Acerca de la competencia comunicativa Dell Hathaway Hymes

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Page 1: Acerca de la competencia comunicativa Dell Hathaway Hymes

Acerca de la competencia comunicativa

Dell Hathaway Hymes

Page 2: Acerca de la competencia comunicativa Dell Hathaway Hymes

- Contribuição para o estudo de crianças deficientes.

- Estado atual da teoria lingüística em relação com essa aplicação prática.

- Pressuposto de grande parte da teoria lingüística da época:

“O que interessa primariamente à teoria lingüística é um falante ideal, em uma comunidade lingüística totalmente homogênea, que sabe sua língua perfeitamente e que não é afetado por condições sem valor gramatical, como suas limitações de memória, distrações, mudanças do foco de atenção e interesse ou erros (característicos ou ocasionais), ao aplicar seu conhecimento da língua ao uso real.” (Chomsky 1965:3)

- Essa afirmação parece uma declaração de falta de relevância, para a lingüística, das dificuldades de linguagem por parte de crianças deficientes. Perdem-se de vista todos casos concretos das dificuldades de usuários da língua.

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- Resposta possível: ignorar o corpo teórico fundamental e selecionar entre seus produtos os que seriam úteis para o estudo de problemas concretos, como outros estudiosos já fizeram.

- Inconveniente: vários problemas e dados lingüísticos ficariam sem suporte teórico, se essa concepção limitada da lingüística não for questionada.

- Imagem possível para a perspectiva teórica formulada por Chomsky: criança que nasce com capacidade de dominar qualquer língua com facilidade e velocidade quase milagrosas. Igualdade fundamental entre todas as crianças. Diferenças comunicativas entre grupos de crianças seria algo inerente (ou inclusive racial)?

- Limitações dessa perspectiva teórica: discrepância da imagem descrita com as crianças de carne e osso nas escolas; distância entre o que se imagina e o que se; vê; a teoria não permite lidar com a diferença.

“Lidar com a realidade das crianças como seres comunicativos que são, requer uma teoria dentro da qual os fatores socioculturais tenham um papel explícito e constitutivo, e nenhuma dessas duas coisas acontece.” (p. 28)

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PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA GERATIVA E TRANSFORMACIONAL

- Teoria lingüística que distingue entre competência lingüística e desempenho.

- Competência lingüística: conhecimento da estrutura da língua geralmente não consciente ou impossível de explicitar de forma espontânea, mas necessariamente implícito no que o falante-ouvinte (ideal) tem capacidade de dizer.

- Principal objetivo da teoria: descrever esse conhecimento da estrutura da língua, especialmente no que se refere à estrutura inata da qual deve depender.

- Partindo desse conhecimento podemos produzir e compreender um conjunto infinito de orações. A faculdade da linguagem seria então algo criativo, energia.

- Desempenho lingüístico: entendido como relativo aos processos freqüentemente chamados de codificação e decodificação.

- Objetos ideais abstraídos dos fatores socioculturais em sua descrição.

- Aquisição da competência: supostamente independente de fatores socioculturais, demandaria somente a existência adequada da fala no ambiente da criança.

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PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA GERATIVA E TRANSFORMACIONAL

- Desempenho lingüístico: “uso real da língua em situações concretas”.

- Teoria do desempenho: poderia englobar um conteúdo sociocultural, contudo, embora equiparada a uma teoria do uso da língua, trata essencialmente de produtos secundários da análise gramatical. Não considera a interação social.

- Visão de que apenas do ponto de vista de um falante ideal o desempenho poderia refletir diretamente a competência, o que na prática não acontece: “O registro da fala natural mostra numerosos falsos inícios, desvios das regras, mudanças de rumo no decorrer da fala e assim por diante” (Chomsky 1965: 31).

Dados lingüísticos são vistos como de qualidade “bastante degradada” (Chomsky) e o desempenho lingüístico seria uma “adulteração da competência ideal” (Katz).

- Desempenho: algo marginal para a teoria, com conotações de manifestação imperfeita de um sistema subjacente.

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PERSPECTIVA DA GRAMÁTICA GERATIVA E TRANSFORMACIONAL

- Aspecto ideológico da perspectiva chomskiana guiando a relação entre desempenho e imperfeição: tipo de visão de paraíso terreno em que a existência humana se divide entre a competência gramatical (fonte de poder ideal de origem inata) e o desempenho (exigência parecida ao comer a maçã, que lança o falante-ouvinte perfeito no mundo dos pecadores).

- Indivíduo abstrato e isolado: um tipo de mecanismo cognitivo sem motivação alguma, que só de modo incidental intervém em seu entorno social.

- Uma das características principais da lingüística moderna: considerar a estrutura com um fim em si mesmo, tender a desprezar o uso, sem renunciar a nenhum de seus postulados frente à grande importância atribuída à linguagem.

- Grande parte do impulso da lingüística moderna se deveu a ter definido o objeto da lingüística como algo que ele não é.

- Proposta de Chomsky como herdeira da teoria saussuriana, revitalização e culminação desta.

“Não existe teoria lingüística moderna que tenha se referido de modo mais profundo tanto à estrutura interna quanto à importância humana intrínseca”. (p. 30)

- Começa a florescer uma teoria mais ampla que abre lugar a um componente social.

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DIFERENTES TIPOS DE COMPETÊNCIA E DIFERENTES CONTEXTOS

- Indicações da necessidade de ir além das noções de competência perfeita, comunidade lingüística homogênea e independência das condições socioculturais.

- Jovem menonimi (Trovão Branco) mencionado por Bloomfield (1927: 395): “não fala língua alguma de modo aceitável”. Acontece com outros jovens menonimi que dominam mal o inglês: impacto da língua dos conquistadores sobre a competência interna? “Competência diferencial dentro de uma comunidade lingüística heterogênea”, modelada pela aculturação.

- Estudo de Cazden sobre diferenças subculturais e desenvolvimento do inglês nos EUA: “crianças em posição social elevada, independentemente de como isso se defina, estão mais avançadas que as de posição socioeconômica baixa”.

- Caso de índios da Amazônia que normalmente dominam pelo menos quatro línguas. Aprendizado que começa na adolescência e continua aumentando ao longo da vida, tanto em repertório quanto em aprimoramento da competência. Em grande parte do mundo, os falantes fluentes são multilíngües.

- O falante fluente domina variantes funcionais dentro de sua própria língua.

- Os falantes fluentes de uma língua não costumam considerar suas línguas ou as variantes funcionais das mesmas como idênticas em adequação comunicativa.

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DIFERENTES TIPOS DE COMPETÊNCIA E DIFERENTES CONTEXTOS

- A teoria lingüística moderna não oferece possibilidade de distinguir entre as capacidades

diferenciais de diferentes sujeitos. O menonimi atroz de Trovão Branco e o aprimorado da

índia poliglota seriam atribuídos a uma gramática comum.

“... existe um nível básico em que os usuários mais versáteis do menonimi possuem um

conhecimento (tanto sintático como lexical) que os usuários do tipo de Trovão Branco não

possuem.” (p. 32)

- Competência dual para a compreensão e única para a produção: desempenho fonético de

crianças negras de classe baixa. “Competência para a incompetência”: burundi na África >

evidência da competência lingüística varia de acordo com o interlocutor.

Casos que indicam a necessidade de uma abordagem social, mesmo quando o objetivo da

descrição é um código único e homogêneo.

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DIFERENTES TIPOS DE COMPETÊNCIA E DIFERENTES CONTEXTOS

Explicitar a relação de uma descrição com um uso único em um contexto único e confrontar as diferenças e variações com as diferenças de uso e contexto pode ser útil ao próprio objetivo de não tratar da diversidade.

A maior parte da dificuldade para determinar o que é aceitável e intuitivamente correto na descrição gramatical surge por não ter os determinantes sociais e contextuais sob controle.

As intuições do próprio lingüista sobre o conhecimento subjacente são difíceis de estabilizar em confronto com o uso (e não estão disponíveis para línguas e variantes que ele não domina). Para não reduzir as análises a uma mera explicação de um corpus e para não cair na subjetividade, é preciso utilizar as respostas e juízos de valor dos membros da comunidade cuja língua se está analisando, e não meramente de modo informal e ad hoc, mas de modo explícito e sistemático.

As duas dimensões usadas por Labov para esclarecer a diversidade fonológica (a hierarquia social das variantes de uso e a gama – de formal a informal – dos “estilos contextuais”), em conjunto com marcas para certas funções especiais (expressividade, clareza etc.), se apliquem também à diversidade sintática.

Se a língua de uma comunidade é analisada como se tivesse que ser homogênea, sua diversidade faz tropeçar em obstáculos. Se começarmos com a análise da diversidade, é possível isolar a homogeneidade que de fato existe nela.

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DIFERENTES TIPOS DE COMPETÊNCIA E DIFERENTES CONTEXTOS

O trabalho com crianças e com o lugar da linguagem na educação requer uma teoria que permita analisar: uma comunidade lingüística heterogênea, uma competência diferencial, o papel constitutivo das diferenças socioculturais.

Essa teoria precisaria levar em conta fenômenos como a produção lingüística de Trovão Branco; diferenças socioculturais; o domínio multilíngüe; a relatividade da competência nas diferenças entre o “árabe”, o “inglês” etc.; os valores expressivos; a percepção socialmente determinada; os estilos contextuais; normas compartilhadas para a avaliação das variáveis.

A lingüística também precisa de uma teoria assim. O conceitos postulados sem questionamento como básicos para a lingüística (falante-ouvinte, comunidade lingüística, fala, aceitabilidade...) são de fato variáveis de tipo sociocultural e só quando passarmos de sua postulação a sua análise poderemos assegurar os conhecimentos da própria teoria lingüística.

A competência do usuário de uma língua engloba capacidades e juízos de valor relacionados com, e interdependentes de, características socioculturais.

Proposta: remodelar os conceitos de competência e desempenho.

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REFORMULAR OS CONCEITOS DE COMPETÊNCIA E DESEMPENHO

Uma criança normal adquire não só a capacidade de produzir e compreender as orações gramaticais de uma língua: adquire uma competência relacionada com quando falar e quando não, do que falar, com quem, quando, onde e de que forma, e até mesmo que certas ocasiões requerem ser apropriadamente agramatical. É preciso fornecer explicações para isso.

Essa competência é parte integrante das atitudes, valores e motivações relacionados com a língua. Sua aquisição se nutre da experiência social, das necessidades e motivos.

O modelo que restringe a língua a duas facetas, uma relacionada com o sentido referencial e outra com a cadeia sonora, e que define a organização da língua como consistente meramente de regras que conectam essas duas facetas não se sustenta. Suporia que a única função da fala é a designação, como se as línguas nunca houvessem sido organizadas para o lamento, a súplica, a advertência, para persuasão, direção, expressão e jogo simbólico.

Um modelo adequado de língua deve estar dirigido à conduta comunicativa e à vida social. Há regras de uso sem as quais as regras gramaticais seriam inúteis.

Os atos de fala aparecem como um fator de controle da forma lingüística em conjunto. O que gramaticalmente pode é uma mesma oração pode ser uma declaração, uma ordem ou um pedido; duas orações gramaticalmente diferentes podem ser ambas pedidos.

A competência no uso faz parte da mesma matriz de desenvolvimento à qual pertence a competência gramatical.

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REFORMULAR OS CONCEITOS DE COMPETÊNCIA E DESEMPENHO

Problema da teoria atual: faria associar os fenômenos mencionados com o desempenho; não deixaria lugar para eles no que se entende por competência.

O conceito de competência é identificado com critérios de gramaticalidade. O conceito de desempenho oferecido por Chomsky também omite quase totalmente a importância sociocultural.

O modelo não deixa claro se desempenho se refere a dados observáveis do comportamento de fala ou a tudo o que subjaz na fala para além do aspecto gramatical. Ambigüidade no uso do termo desempenho.

Seria difícil entender o que Chomsky chama de “regras de desempenho” estilísticas a não ser que correspondam a outro tipo de competência subjacente, mas não se usa para falar dessas regras o termo competência.

Para abranger as intuições e dados pertinentes relacionados com a competência subjacente para o uso é preciso adotar um ponto de vista sociocultural. Para desenvolver adequadamente esse ponto de vista, é preciso superar a dicotomia que opõe competência e desempenho.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

A competência comunicativa tem vários componentes. A competência gramatical é um deles. Há vários sistemas de regras subjacentes regulando o comportamento lingüístico.

A teoria chomskiana propõe dois tipos de juízos por parte das pessoas: - gramaticalidade > relacionado com a competência- aceitabilidade > relacionado com o desempenho

Para uma teoria adequada dos usuários da língua, seriam necessários quatro:

1. Se (e em que grau) algo é formalmente possível.2. Se (e em que grau) algo é viável em termos dos meios de ação disponíveis.3. Se (e em que grau) algo é apropriado (adequado, bem-sucedido) em relação com o contexto em que se usa e se avalia.4. Se (e em que grau) algo acontece na realidade, realiza-se verdadeiramente, e o que isso implica.

Ex.: Uma frase pode ser gramaticalmente correta, estilisticamente pobre, socialmente diplomática e de uso pouco freqüente.

Essas quatro característica poderiam ser representadas por quatro círculos que se interceptam. Formam um sistema comunicativo e pertencem todos ao campo da competência de um indivíduo. Um sistema pode ter possibilidades que não fazem parte do conhecimento real de um indivíduo. O conhecimento adquirido por diferentes indivíduos pode variar.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

Redefinição de competência: termo mais geral para a capacidade da pessoa.

A competência depende tanto do conhecimento (tácito) quanto do uso (capacidade).

O conhecimento é diferente tanto da competência (é parte dela) quanto da possibilidade sistêmica (com a qual mantém uma relação empírica).

Existe um conhecimento determinado para cada um dos quatro parâmetros da comunicação.

Os indivíduos podem diferir em sua capacidade de utilização do conhecimento relacionado com cada um desse parâmetros.

A especificação da capacidade de uso como parte da competência abre espaço para o papel dos fatores cognitivos (ex. motivação), como fatores que determinam parcialmente a competência.

É importante não separar os fatores cognitivos dos afetivos e volitivos, no que diz respeito ao impacto da teoria na prática educativa, e também no que se refere ao desenho experimental e à explicação dos dados.

Goffman (1967): habilidades de interação (coragem, resistência, elegância, compostura, serenidade, inteligência, dignidade, confiança...) são tipos de competência.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

Julgamentos e intuições das pessoas: o termo mais geral para definir o critério desses julgamentos seria o de aceitabilidade. O próprio Chomsky observa que “a gramaticalidade é apenas um dos muito fatores que interagem para determinar a aceitabilidade” (1965: 11).

Uso real e fatos reais: o termo desempenho fica liberado desse significado. Não se trata do dado de comportamento ou da realização imperfeita ou parcial da competência individual. Implica a interação existente entre a competência (conhecimento, capacidade de uso), a competência dos outros e as propriedades cibernéticas e peremptórias dos acontecimentos.

Um desempenho, como acontecimento, pode ter característiccas (modelos e dinâmicas) que não se reduzem a níveis de competência individual ou padronizadas.

Conceito de desempenho importante para a etnografia das formas simbólicas: estudo das variedades de gêneros , narrações, dança, drama, canções, música instrumental, artes visuais, que se interrelacionam com a fala na vida comunicativa de uma sociedade.

Competência lingüística também tem papel específico dentro da competência interativa geral.

Crucial a interrelação do conhecimento dos diferentes códigos (verbais/não verbais). Indicam um nível adicional de competência em alguns casos.

Análise das relações entre o sistema lingüístico e outros sistemas comunicativos, especialmente no que se refere à antropologia cultural, usando as quatro perguntas.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

1. Se (e em que grau) algo é formalmente possível

Interesse essencial da lingüística atual na abertura e potencialidade da língua. Generalizar para sistemas culturais. Se a possibilidade sistêmica está relacionada com a língua, o termo é gramaticalidade. Em analogia, falou-se em “gramática cultural”. Se algo dentro de um sistema formal é possível, pode-se dizer que é gramatical, cultural ou comunicativo.

2. Se (e em que grau) algo é viável

Interesse principal dirigido a fatores psicolingüísticos (limitações da memória, mecanismo de percepção...). Considerações que não se limitam à lingüística. Para o aspecto cultural entram em consideração outras características do corpo, bem como outras relacionadas ao meio. Aspecto comunicativo: importância geral dos meios de execução disponíveis.

3. Se (e em que grau) algo é apropriado

Aspecto praticamente não tratado dentro do modelo lingüístico de competência/desempenho, que fala de adequação relacionada com desempenho. Antropologia cultural usa o termo apropriado. Relação com características contextuais. Todo juízo é realizado dentro de algum contexto e sempre pode implicar um fator de adequação, portanto é preciso controlar o uso do termo mesmo dentro no estudo da competência puramente gramatical. Os juízos de se algo é apropriado ou baseiam-se num conhecimento tácito, por tanto numa competência. Necessidade de situar a teoria lingüística dentro de uma teoria sociocultural mais ampla e formular conceitos que contribuam para entender os juízos de valor acerca da relação entre orações e as situações.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

4. Se (e em que grau) algo é acontece na realidade

O estudo da competência comunicativa não pode se restringir aos acontecimentos, mas não pode ignorá-los. A estrutura não podem se reduzir a probabilidades de ocorrência, mas a mudança estrutural não é independente delas. Entre as capacidades dos usuários da língua existe algum conhecimento, ainda que inconsciente, das probabilidades e suas variações como indicadores de estilo, resposta, etc. Algo pode ser possível, viável, apropriado e não chegar a ocorrer. Citação de Garfinkel sobre o princípio medieval de factum valet: “Uma ação proibida pelas regras se considerará correta se de fato ocorre”.

“Resumindo, pode-se afirmar que o objetivo de uma teoria da competência ampla é mostrar as formas pelas quais o que é sistematicamente possível, o que é viável e o que é apropriado estão conectados para produzir e interpretar o comportamento cultural que ocorre na realidade... “

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

Não existe criança que tenha um conhecimento perfeito ou pleno domínio dos meios de comunicativos de sua comunidade. A competência diferencial possui uma história de desenvolvimento dentro da vida. A matriz formada na infância continua se desenvolvendo e mudando ao longo da vida, tanto no que se refere às estruturas das orações como ao seu uso.

Visão de uma competência de espectro amplo e uma competência de espectro curto. A última se relacionaria com a compreensão das capacidades inatas, tal como se desenvolvem nos primeiros anos de vida. A de espectro amplo se voltaria para a compreensão da socialização contínua e a mudança da competência ao longo da vida.

Um dos aspectos em que a teoria da competência precisa ir além do conceito de fluência ideal numa comunidade homogênea, para poder ser aplicada ao trabalho com crianças com problemas ou crianças cuja língua primária, ou variedade de língua, é diferente da de sua escola. A competência desenvolvida de forma natural pode ser modificada por novos fatores sociais.

Interferência sociolingüística ou interferência comunicativa. Quando uma criança pertencente a uma matriz de desenvolvimento determinada entra numa situação em que as expectativas comunicativas se configuram de acordo com outra matriz, podem ocorrer percepções e análises incorretos em todos os níveis. Palavras podem ser interpretadas incorretamente devido a diferentes sistemas fonológicos. Orações podem ser interpretadas erroneamente devido a diferenças nos sistemas gramaticais. Intenções e capacidades inatas podem ser avaliadas incorretamente devido a diferenças de sistemas para o uso da língua e para a importância de seu uso (frente a outras modalidades).

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

Novos hábitos de fala e de aprendizagem verbal devem ser introduzidos necessariamente a partir de fontes determinadas para receptores específicos, utilizando um código particular, com mensagens com formas determinadas através de canais determinados, acerca de temas específicos e em situações concretas. Tudo isso de e para as pessoas para as quais já existem modelos definidos de rotinas lingüísticas, de expressão da personalidade através da fala, de usos de fala em situações sociais, de atitudes e concepções sobre a fala. Parece razoável que o sucesso de uma operação educativa desse tipo seja realçado pela compreensão dessa estrutura existente, já que os esforços inovadores serão percebidos e julgados baseando-se nisso, e as inovações nesse mesmo sentido terão mais sucesso que as encaminhadas em outra direção.

A teoria da interferência sociolingüística deve partir com situações heterogêneas, cujas dimensões sejam tanto sociais quanto lingüística.

As noções de interferência lingüística e sistema requerem a concepção de uma teoria integrada da descrição sociolingüística. O trabalho para compor essa teoria demanda partir não da noção de língua, mas do conceito de variedade ou código.

- Colocar o nome das línguas entre aspas-O grau de similitude e distância lingüística não permite predizer a mutua inteligibilidade, menos ainda o uso.- Do ponto de vista funcional, pode acontecer de serem usados meios de alcance diferente com papéis equivalentes (tu/vous vs. guarani/espanhol) e meios que parecem equivalentes do ponto de vista das línguas podem ter papéis diferentes.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

Diferenças encontradas dentro de uma comunidade podem ter relação com:

1. Presença ou ausência de um traço (código, rotina etc.)2. Valor semântico atribuído a um traço (ex. inglês como língua com valor de distanciamento e hostilidade para alguns índios americanos)3. Distribuição de um traço entre os diferentes contextos.4. Interrelações entre usos marcados e não marcados.

A teoria necessária talvez ainda demande outros conceitos e modos de análise.

Os três conceitos apresentados destacam dimensões fundamentais: capacidades das pessoas, organização dos meios verbais para objetivos definidos socialmente, sensibilidade das regras com relação às situações.

Os três conceitos podem proporcionar um referencial prático para uso na descrição sociolingüística.

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COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

É preciso romper com a tradição de pensamento que iguala de forma simples uma língua, uma cultura, e pressupõe todo um conjunto de funções.

Conceito de repertório verbal. Parte da existência da heterogeneidade das comunidades lingüísticas e da prioridade das relações sociais. O que se inestiga é o conjunto de variedades, códigos ou subcódigos, dominados por um indivíduo, ao lado dos tipos de mudanças de língua/mudanças de códigos que se realizam nos mesmos (repertório comunicativo).

Conceito de rotinas lingüísticas. Organizações de seqüências acima do nível das orações, assim como atividades de uma pessoa, ou a interação de duas ou mais pessoas. Gêneros literários, tipos de textos e de conversações, atos de fala (“prometo solenemente” não designa nada, é uma realização em si mesma).

Conceito de domínios do comportamento na língua. Ocasiões em que uma língua (variedade, dialeto, estilo etc.) é utilizada de forma mais habitual que (ou em combinação com) outra língua (domínios do comportamento comunicativo).

Forma tripartida de sintaxe, semântica e pragmática > análogas a forma, significado e contexto.