ação de repetição de indébito - corretagem

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BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA - GOIÁS. CLEBER DE SOUSA CARVALHO, brasileiro, solteiro, professor, portador da Cédula de Identidade RG. n.º 3296393 SSP-GO, inscrito no CPF/MF sob o n.º 834.100.231-00, residente e domiciliado na Rua Dona Darci, QD 46, LT. 01/24, Apto 904 C, Ville Serra Dourada, Setor Negrão de Lima , Goiânia, Goiás, vem a presença de Vossa Excelência, via de seus procuradores e advogados devidamente constituídos (m.j), com endereço profissional abaixo impresso, onde recebem as comunicações judiciais de estilo, com base no art. 5º, V e X, da Constituição Federal; nos arts. 186 e 927 do Código Civil; nos arts. 2º, 3º, 12 e 52, do Código de Defesa do Consumidor e demais dispositivos aplicáveis à espécie, propor a presente AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO em desfavor de MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º 08.343.492/0001-20, com sede na Avenida Raja Gabaglia, n.º 2730, 2º andar, sala 41 - Bairro Estoril - Belo Horizonte - Rua 1, n.º 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goiânia - Goiás - CEP.: 74.115-040 Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - [email protected] Página 1

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BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S

BRUNO PENA & ADVOGADOS ASSOCIADOS S/S

EXCELENTSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA CVEL DA COMARCA DE GOINIA - GOIS.

CLEBER DE SOUSA CARVALHO, brasileiro, solteiro, professor, portador da Cdula de Identidade RG. n. 3296393 SSP-GO, inscrito no CPF/MF sob o n. 834.100.231-00, residente e domiciliado na Rua Dona Darci, QD 46, LT. 01/24, Apto 904 C, Ville Serra Dourada, Setor Negro de Lima, Goinia, Gois, vem a presena de Vossa Excelncia, via de seus procuradores e advogados devidamente constitudos (m.j), com endereo profissional abaixo impresso, onde recebem as comunicaes judiciais de estilo, com base no art. 5, V e X, da Constituio Federal; nos arts. 186 e 927 do Cdigo Civil; nos arts. 2, 3, 12 e 52, do Cdigo de Defesa do Consumidor e demais dispositivos aplicveis espcie, propor a presente

AO DE REPETIO DE INDBITO

em desfavor de MRV ENGENHARIA E PARTICIPAES S.A, pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 08.343.492/0001-20, com sede na Avenida Raja Gabaglia, n. 2730, 2 andar, sala 41 - Bairro Estoril - Belo Horizonte - Minas Gerais e PRIME INCORPORAES E CONSTRUES S.A, pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 00.409.831/0003-17, com sede na Rua C-214, n. 150, quadra 508 lote 14, casa 01, sala 01 - Bairro Jardim Amrica - Goinia - Gois, onde dever ser citada na pessoa de seu representante legal, pelas razes e fatos adiante expostos.

1. DOS FATOS:

Com a pretenso de adquirir um imvel oferecido pela Requerida, o Requerente se dirigiu at um stand MRV (PRIME Incorporaes e Construes S/A), onde funcionrios credenciados forneciam informaes e tomavam o cadastro pessoal de pretensos adquirentes.

Na ocasio, foi celebrado entre as partes o Contrato de Compra e Venda de Imvel, conforme documento anexo, referente ao apartamento 307 do Bloco C do Condomnio Eco Ville Araguaia, situado na Rua Dona Estella, no Setor Negro de Lima, nesta capital, da Construtora Requerida.

Para a efetivao do negcio vrias quantias foram pagas a ttulo de sinal, obedecendo as clusulas impostas pelo contrato. Dentre essas quantias notou, a posteriori, que pagou o valor de R$ 4.033,56 (quatro mil e trinta e trs reais e cinquenta e seis centavos), referente despesas de corretagem, conforme consta no item 3.3 do referido contrato.

Tal pagamento refere-se s despesas devidas ao corretor de imveis por fazer a simples intermediao da compra da unidade, no sendo este valor abatida no saldo final do seu imvel.

Tendo em vista que o contato com a Requerida se deu diretamente pelo Requerente, sem intermdio de corretor, razo no h para o pagamento de despesas de corretagem, motivo pelo qual busca a tutela jurisdicional do Estado para ver reparados todos os prejuzos sofridos.

2. DO DIREITO:

O contrato em foco estabelece uma relao de consumo, este devendo observar algumas disposies da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, conhecido como Cdigo de Defesa do Consumidor consoantes com o Cdigo Civil Brasileiro.

O CDC tem o objetivo de atendimento das necessidades dos consumidores, consequentemente a proteo de seus interesses econmicos, transparncia e harmonia nas relaes de consumo, visto a hipossuficincia do consumidor frente ao mercado de consumo.

Em seu artigo 6, inciso IV, o CDC traz a seguinte redao:

Art. 6. So direitos bsicos do consumidor:

IV - A proteo contra a publicidade enganosa e abusiva, mtodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra prticas de clusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e servios.

No caso em tela, por meio do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda celebrado pelas partes, especificamente na clusula 3.3, que trata sobre as despesas de corretagem, foi simplesmente imposto ao consumidor o pagamento de tal despesa.

No obstante a isso, na clusula 6, item N, onde consta declaraes do promitente comprador, a Requerida, buscando se eximir de suas responsabilidades, descreve o seguinte:

Declaro(amos) estar cientes de que a comisso de corretagem devida por mim imobiliria/ao corretor e no promitente vendedora, em razo do contrato de corretagem/assessoria previamente celebrado com a imobiliria / corretor, em conformidade com os artigos 722 e 729 do Cdigo Civil.

Trata-se, pois, de situao abusiva comumente encontrada nos contratos de adeso, aqueles realizados de forma unilateral pelo fornecedor do produto, no permitindo a negociao e modificao substancial das clusulas, em desconformidade com o ordenamento jurdico, consoante o dispositivo supracitado.

2.1 Das despesas de corretagem:

A despesa com corretagem busca remunerar o corretor de imveis pelo trabalho que ele desempenha na intermediao entre o comprador e o vendedor, buscando estabelecer um elo contratual entre o fornecedor e o consumidor e atender as necessidades deste.

Trata-se, portanto, de um caso em que o corretor trabalha para o cliente e no est em uma situao passiva, parado na imobiliria, esperando um comprador chegar.

O caso apresentado nestes autos diferente, pois foi o Requerente quem procurou a Requerida, j com o intuito de comprar o imvel anunciado, no havendo necessidade de um terceiro profissional para estabelecer o vnculo entre a Requerida, fornecedora do produto, e o Requerente, consumidor.

O corretor de imveis encontrava-se em um planto de vendas, na base do empreendimento da construtora, quando tomou a posio de intermedirio entre quem quer vender o imvel e quem quer compr-lo.

No caso apresentado, no houve o devido desempenho de atividades inerentes aos corretores de imveis, no havendo motivo para desembolsar qualquer quantia para custear as despesas com corretagem.

Contudo, o Requerente, hipossuficiente na relao apresentada, sequer foi avisado da espcie e detalhes sobre tal despesa, e nem mesmo foi lhe dada a oportunidade de discutir as clusulas apresentadas, por tratar-se de um contrato de adeso, realizado unilateralmente pela Requerida. O consumidor no pode escolher em no pagar este valor, pois, se no o fizer, no recebe o imvel.LUIZ ANTNIO SCAVONE JNIOR nesse sentido em sua obra DIREITO IMOBILIRIO TEORIA E PRTICA sabiamente ressalta:

Com efeito, para que o corretor tenha direito comisso, em funo de ser a mediao um contrato de resultado, mister se faz a presena de trs requisitos: a) autorizao para mediar; b) aproximao das partes; c) resultado til, realizando-se o negcio por sua interferncia.

Ora, dos trs requisitos, apresentados pelo ilustre Luiz Antnio, nenhum fora preenchido para a configurao de despesas provenientes de corretagem, portanto quem contrata o corretor, quem tem que pagar por seus honorrios.

A obrigao de pagamento de corretagem a determinado mediador tem origem contratual. Os artigos 722 e 724 do Cdigo Civil Brasileiro conceituam:Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, no ligada a outra em virtude de mandato, de prestao de servios ou por qualquer relao de dependncia, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negcios, conforme as instrues recebidas.

Art. 724. A remunerao do corretor, se no estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, ser arbitrada segundo a natureza do negcio e os usos locais.

V-se Excelncia, que o pagamento da corretagem foi efetuado pelo adquirente do imvel, contrariando toda a lgica do servio de corretagem, j que o corretor presta servios, em verdade, Requerida, e no ao Requerente, estando evidente que a contratao dos servios de imobiliria se deu pela prpria Requerida.

Em outras palavras, no se trata de hiptese em que a parte autora incumbiu o corretor de localizar imvel com esta ou aquela especificidade, de todo desconhecido pelo contratante dos servios.Nesse sentido temos a jurisprudncia do STJ:

APELAO CVEL - AO DE RESTITUIO DE VALORES C/C REPETIO DE INDBITO - AQUISIO DE IMVEL DE INCORPORADORA - COMISSO DE CORRETAGEM - PAGAMENTO IMPOSTO SEM NEGOCIAO ENTRE AS PARTES - ABUSIVIDADE DA CLUSULA - INCIDNCIA DOCDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR- REPETIO DO INDBITO EM DOBRO - ART.42, DOCDC- RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

Com a promulgao doCdigo de Defesa do Consumidor, a vontade continua essencial formao dos negcios.jurdicos, mas sua importncia e fora diminuram, levando relativa noo de fora obrigatria e intangibilidade do contedo do contrato, conforme dispem os artigos6, incisosIVeV, e51doCDC.

O pagamento de comisso de corretagem imposto ao consumidor, quando da aquisio de imvel diretamente com incorporadoras imobilirias, sem a prvia negociao entre as partes, configura clusula abusiva, no podendo ser de responsabilidade daquele.

O art.42doCDCest calcado no princpio que veda o enriquecimento injustificado do credor, para tanto, faz-se necessrio a demonstrao da m-f na cobrana, vale dizer, de que no houve engano justificvel.

Recurso conhecido e provido.AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N 350.052 - MS (2013/0161981-0)RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETIAinda no houve livre negociao das partes, pois o contrato foi elaborado unilateralmente, impossibilitando qualquer discusso do consumidor sobre tal despesa. E a clusula veiculada na promessa de Compra e Venda que SUPOSTAMENTE autoriza esta contratao, no foi discutida pelo Requerente, dada a eminente natureza adesiva do contrato.

2.2 Do plano de inexistncia do negcio jurdico:

Para a existncia de um negcio jurdico tal como o contrato necessria a planificao de sua existncia, o que para tanto imprescindvel a manifestao de vontade das partes, considerada essencial ao negcio jurdico.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho assentem que:

Como dissemos, sem querer humano, no h negcio jurdico e, no havendo negcio, no h que se falar em contrato. O que imprescindvel para se entender existente um negcio jurdico, justamente que tenha ocorrido uma declarao de vontade, faticamente afervel, e que decorra de um processo mental de cognio. Com efeito, a vontade contratual no se manifesta sozinha, sendo necessria a presena de sujeitos para declar-la.

No presente caso, ao Requerente no coube a contratao dos servios de corretagem, logo no sujeito contratante. A ele coube to somente saldar dbito oriundo de inverso abusiva do nus obrigacional, que originariamente deveria ter sido carreado Empresa-R, contratante dos servios, conforme j esclarecido alhures.

O processo mental de cognio imprescindvel s partes contratantes no fora apreciado pelo Requerente, impedindo um exerccio de discricionariedade necessrio a quem pactua.

Enfim, ao Requerente restou saldar uma obrigao pela qual no se incumbiu, caso quisesse adquirir seu imvel.

2.3 Das prticas abusivas:

clara, que tal prtica ofende o cdigo de defesa do consumidor na medida em que retira deste o direito informao clara, precisa e ostensiva sobre o produto adquirido.

Neste sentido, Jos Geraldo Tardin, presidente do IBEDEC (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relaes de Consumo), lembra ainda, no seguinte link: http://www.ibedec.org.br/informativos/item/88-consumidor-n%C3%A3o-%C3%A9-obrigado-a-contratar-corretor-para-comprar-im%C3%B3vel-de-construtora.html, que:

OCdigo de Defesa do Consumidor claro em estabelecer que o fornecedor de produto ou servio obrigado a vender o produto ou servio anunciado, a quem se disponha a comprar e pagar o preo pedido. Assim, oCDCrefora a desnecessidade de intermediador no negcio, ainda mais quando este intermediador no presta nenhum servio ao consumidor e nem defende os seus interesses.

Prosseguindo com o raciocnio, o CDC em seu art. 39, inciso I e III dispem o seguinte:

Art. 39. vedado ao fornecedor de produtos ou servios, dentre outras prticas abusivas:

I - Condicionar o fornecimento de produto ou de servio ao fornecimento de outro produto ou servio, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos.

(...)

III - Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitao prvia, qualquer produto, ou fornecer qualquer servio.Em um julgado pela excelentssima juza Daniela Pazzeto Meneghine Conceio, esta afirma que:

A prtica espria conjunta de construtoras, corretoras, administradoras, imobilirias e empresas de suposta mediao e assessoria tcnica de 'empurrar goela abaixo' do consumidor servios vinculados aos contratos de compra e venda de imvel no nova, e vem sendo muito condenada na jurisprudncia" (Processo 0060271-49.2012.8.26.0100 / 39 vara cvel So Paulo - SP).

In casu, luz do inciso I operou-se a venda do produto imobilirio mediante contratao compulsria dos servios de corretagem, ficando caracterizado o que a melhor doutrina denomina de "venda vasada".

No que tange ao inciso III, torna-se evidente que foi celebrado um servio a mais, desnecessrio ao negcio jurdico, sem solicitao prvia e autorizao expressa do consumidor.

2.4 Do pagamento indevido e a repetio de indbito:

O pagamento indevido reporta-se ideia de enriquecimento ilcito da pessoa que recebeu a contraprestao indevidamente, por isso a pessoa que recebeu indevidamente ter a obrigao de restituir o devedor da relao principal, com base nos termos do art. 884, do CC/2002, que dispe: aquele que, sem justa causa, se enriquecer custa de outrem, ser obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualizao dos valores monetrios.Veja-se o que ensina Fiza (2004) acerca do pagamento indevido:

[...] Quem paga mal paga duas vezes. Em outras palavras, se pagar pessoa errada, devo pagar novamente pessoa certa. [...] Quem paga mal tem direito a repetir o indbito, ou seja, se pago pessoa errada, devo pagar novamente pessoa certa, mas fico com o direito de recobrar o que paguei por engano pessoa errada. Caso contrrio, estaria ocorrendo enriquecimento ilcito.

Segundo Almeida (2005), a repetio de indbito constitui espcie de punitives damages, ou seja, indenizao fixada com o intuito de punir o agente da conduta causadora do dano cujo ressarcimento autorizado pela lei em favor da vtima.

Assim, prev o art. 42, pargrafo nico, do CDC, a possibilidade da incidncia da sano civil, nele definida como repetio de indbito, em havendo cobrana indevida por parte do fornecedor ao consumidor que compe a relao de consumo. Do mesmo modo, dispe o art. 940 do CC/2002, quando estabelece que o credor que demanda por dvida j paga dever indenizar o devedor no valor correspondente ao dobro do que foi cobrado indevidamente. Os citados dispositivos legais so compatveis com o princpio da legalidade: nulla poena sine lege, constante no art. 5, inciso II, da CR/88.

Portanto, a repetio de indbito em dobro no objetiva to somente a restituio daquela quantia paga indevidamente, mas a imposio da sano civil, denominada aqui como dobra, a fim de que o fornecedor ou credor seja punido, em razo da sua prtica abusiva.

O consumidor cobrado indevidamente faz jus repetio de indbito em dobro, podendo esse crdito equivaler ao valor integral ou apenas ao excesso pleiteado. Dispe o art. 42, do CDC:

Art. 42 CDC. Na cobrana de dbito, o consumidor inadimplente no ser exposto a ridculo, nem ser submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaa.Pargrafo nico. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio do indbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correo monetria e juros legais, salvo hiptese de engano justificvel.

Em cumprimento s normas de defesa do consumidor, os tribunais do pas tm entendido dessa forma, conforme comprova a ementa a seguir transcrita: EMENTA: CONTRATOS BANCRIOS - INVERSO DO NUS DA PROVA - ENCARGOS ABUSIVOS - VEDAO DA CAPITALIZAO DE JUROS - INCIDNCIA DA LEI DE USURA - COMISSO DE PERMANNCIA - CUMULAO COM CORREO MONETRIA - IMPOSSIBILIDADE - RESTITUIO DO EXCESSO - CABIMENTO - Compete ao banco, que detm a contabilidade da conta de seus clientes, o nus da prova de que os dbitos e crditos incidentes nas mesmas esto de acordo com o contrato e com a lei (inteligncia do artigo 6, VIII, do CDC). - A limitao da taxa de juros, tanto moratrios como remuneratrios, de 2% ao ms, devendo ser este o parmetro a ser utilizado na fixao de nova taxa de juros pelo Magistrado, quando verificada a nulidade da que foi contratada (inteligncia dos artigos 1 do Decreto 22.626/33 c/c 406 e 591 do CC/02). - Quanto capitalizao de juros, cuida de questo j pacificada em doutrina e jurisprudncia a adoo da Smula do STF, em seu verbete n. 121, que dispe ser vedada a capitalizao de juros, ainda que expressamente convencionada. - devida a restituio em dobro do valor pago indevidamente pelo consumidor, em contratos de mtuos cujas clusulas abusivas tenham sido declaradas nulas pelo Poder Judicirio (artigo 42, pargrafo nico, da Lei n 8.078/90). (TJ-MG 200000045893080001 MG 2.0000.00.458930-8/000(1), Relator: SEBASTIO PEREIRA DE SOUZA, Data de Julgamento: 11/03/2005, Data de Publicao: 02/04/2005). grifo nossoNesse acrdo, foi expressamente admitida a repetio de indbito em dobro (art. 42 do CDC), em caso de nulidade contratual por abusividade do fornecedor. No por demais, para que reste demonstrada que a incidncia da dobra possvel em todo e qualquer contrato civil, vale trazer baila o seguinte julgado:

EMENTA: REVISIONAL - CONTRATO BANCRIO - FINANCIAMENTO - CLUSULAS - NULIDADE - POSSIBILIDADE - CONSUMO - RELAO - INTERVENO ESTATAL - JUROS - ABUSIVIDADE - LIMITAO - LEI DE USURA - INDBITO - REPETIO CABIMENTO. [...] Quanto repetio de indbito, tenho-a como devida. Dispe o pargrafo nico do artigo 42 do Cdigo de Defesa do Consumidor: "O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito repetio do indbito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correo monetria e juros legais, salvo hiptese de engano justificvel." O Cdigo Civil/1916, em seu artigo 964, sujeita aquele que recebeu o que no lhe era devido a restituir, incumbindo ao que pagou voluntariamente (artigo 965), a prova de t-lo feito por erro. A um exame teleolgico das normas verifica-se que elas se destinam aos casos de pagamento voluntrio decorrente da graciosidade presumida daquele que paga e no dos casos em que ocorre o pagamento do valor na relao jurdica de carter continuado, como o do contrato celebrado entre as partes. Ademais, no basta a voluntariedade do pagamento para que ele no venha a se repetir, tornando-se necessrio que a voluntariedade se faa acompanhar da certeza de no dever. O pagamento feito por engano, ainda que espontneo, indevido, sendo cabvel a sua repetio. Os pagamentos foram efetuados com base em pacto cujas clusulas so descomedidas. Havendo clusulas abusivas, conclui-se que houve cobrana indevida, no sendo admissvel que tenha o consumidor interesse em continuar pagando o que no lhe compete pagar. Entendo ser possvel a repetio de indbito, da quantia paga indevidamente, face a proibio do locupletamento ilcito. Evidente que o apelante pagou parcelas voluntariamente porque no sabia do excesso na sua cobrana, sendo certo que o apelante recebera o que no lhe era devido conscientemente, restando correta a aplicao da norma do artigo 42, pargrafo nico, da Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Cdigo de Defesa do Consumidor), e 964, do Cdigo Civil/1916. (TJMG, Apelao n 2.0000.00.429980-3/000(1). Rel. Juiz Batista de Abreu. Data do julgamento: 27 ago. 2004. Dirio de Justia do Estado, Belo Horizonte, 10 set. 2004.) Grifo nossoNo caso analisado, ficou demonstrado, que no houve um possvel engano justificvel, a conduta da Requerida foi incompatvel com a boa-f contratual, visto a omisso de informaes e abusividade de clusulas.

O Requerente, hipossuficiente na relao apresentada, sequer foi avisado da espcie e detalhes sobre a despesa com corretagem, e nem mesmo foi lhe dada a oportunidade de discutir as clusulas apresentadas, por tratar-se de um contrato de adeso, realizado unilateralmente pela Requerida.

Nestes casos, o consumidor no pode escolher em no pagar este valor, pois, se no o fizer, no recebe o imvel, ficando caracterizado o que a melhor doutrina denomina de "venda vasada".Para a efetivao do negcio em questo, o Requerente pagou a importncia de R$ 4.033,56 (quatro mil e trinta e trs reais e cinquenta e seis centavos), referente despesas de corretagem, conforme consta no item 3.3 do referido contrato, que repetindo-se o indbito, totaliza o valor de R$ 8.067,12 (oito mil e sessenta e sete reais e doze centavos), estes acrescidos de correo monetria e de juros.Percebe-se que a finalidade do instituto da repetio de indbito em dobro j vem sendo encontrada, pois no importa como se deu a cobrana. Se ela adveio de um lapso do fornecedor ou se ele agiu realmente de m-f quando da insero da clusula abusiva, o fato que a cobrana foi indevida e o consumidor foi lesado.Dessa maneira, deixar de aplicar a repetio de indbito em dobro no mbito da nulidade de clusulas contratuais abusivas ferir os princpios e o sistema consumerista como um todo.

Ao se partir dessa premissa, a Lei n. 8.078/90 (CDC) prev, de forma inteligente, realista e no paternalista, garantias ao consumidor, incluindo o instituto da repetio de indbito em dobro para ampar-lo em face da desigualdade inerente relao de consumo.

Assim, a Requerida agiu de forma abusiva na contratao, demonstrando falta de transparncia e boa-f, que devem nortear a relao consumerista, visando o equilbrio contratual. Havendo cobrana indevida, deve ocorrer a restituio dos valores pagos indevidamente, em dobro, como forma de punio, pois a referida prtica, se no for exemplarmente coibida, gerar um ciclo vicioso e estimular ainda mais as prticas desiguais por parte dos fornecedores.

2.5 Da Inverso do nus da Prova:O Cdigo de Defesa do Consumidor, no art. 6, inciso VIII, determina que direito bsico do consumidor a facilitao da defesa dos seus direitos em juzo. A inverso do nus da prova, tambm prevista na supracitada legislao, um mecanismo atravs do qual opera-se essa facilidade.

No entanto, a inverso no se d de forma ampla e automtica, sendo imprescindvel cumprir alguns requisitos, os quais esto amplamente demonstrados no caso sob judice.

Primeiramente, requer-se a hipossuficincia do consumidor, a qual consiste em uma situao de inferioridade deste em relao ao fornecedor de produtos e servios. Cumpre ressaltar que, a inferioridade no apenas econmica, mas tambm tcnica, cientifica, social e cultural.

No presente caso, a desvantagem econmica do demandante ampla perante a demandada, que empresa de grande poderio econmico. Ademais, o Requerente est em extrema desvantagem quanto deteno dos conhecimentos inerentes atividade desenvolvida pelo Requerida, pois foi ludibriado quanto s condies do contrato firmado.

Em relao ao requisito da verossimilhana, este est amplamente demonstrado, pois evidente que a contratao de corretores se deu por parte da Requerida e que no houve a necessidade de um profissional da corretagem realizar o intermdio entre as partes.O corretor de imveis encontrava-se em um planto de vendas, para onde o Requerente se deslocou com a clara inteno de adquirir o imvel anunciado, na base do empreendimento da construtora.

No caso apresentado, no houve o devido desempenho de atividades inerentes aos corretores de imveis, no havendo motivo para desembolsar qualquer quantia para custear as despesas com corretagem.

Portanto, a verossimilhana das alegaes do Requerente resta demonstrada pela documentao em anexo, bem como pelas matrias jornalistas em anexo, que demonstra o quo comum a prtica de tais cobranas por partes das construtoras por todo o pas.

Diante de todo o exposto, a inverso do nus da prova imprescindvel, visando, assim, a defesa dos direitos do Requerente, eis que este encontra-se em flagrante desvantagem perante a instituio financeira requerida.3 Dos PedidosDiante de todo o exposto, requer:1) A citao das Requeridas via postal, para que estas, ofeream defesa no prazo legal, sob pena de reputar aceito os fatos alegados;2) Que seja acatada a tese de abusividade de clusula no que tange a Despesas de Corretagem, sendo considerado o negcio jurdico inexistente;3) A total procedncia da presente ao com a condenao da Requerida para que restitua em dobro o valor pago indevidamente a ttulo de Despesas de Corretagem, perfazendo um valor de: R$ 8.067,12 (oito mil e sessenta e sete reais e doze centavos), que dever ser devidamente atualizado at os dias atuais;

4) A aplicao do cdigo de defesa do consumidor, dada a ntida comprovao de relao de consumo do caso, com a consequente inverso do nus da prova;

5) A condenao da Requerida no nus da sucumbncia e custas processuais, em caso de eventual recurso;

6) Que seja concedido os benefcios da Justia Gratuita em caso de eventual recurso, vez que o Requerente no possui condies de arcar com as despesas processuais sem prejuzo de seu prprio sustento, o que fica declarado desde j. Cumpre ressaltar que o Requerente se valeu do financiamento para aquisio da casa prpria por insuficincia de recursos, conforme o documento em anexo.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direitos admitidos, que ficam desde j requeridos ainda que no especificados.Atribui-se o valor da causa em: R$ 8.067,12 (oito mil e sessenta e sete reais e doze centavos)Termos em que pede deferimento.

Goinia, 24 de junho de 2014.Rua 1, n. 928 - Ed. Wall Street - Setor Oeste - Goinia - Gois - CEP.: 74.115-040

Fone/Fax: (62)3095 4595 - www.brunopena.adv.br - [email protected] Pgina 1