ação civil publica modelo

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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE RIO VERDE

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE RIO VERDE-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de

Justiça abaixo assinado, vem perante Vossa Excelência, com fundamento nos

permissivos inscritos na Constituição Federal e nas leis 7.347/85, 8078/90 e

8.625/93, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de liminar, em desfavor de

PSA FINANCE ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A, pessoa jurídica

de direito privado, constituída sob a forma de sociedade anônima, inscrita no CNPJ

sob o n. 03.502.968/0001-04, localizada na sede da concessionária CITROËN de

Rio Verde, na Avenida Presidente Vargas, n. 3125, Centro, Rio Verde-GO, podendo

ser citada na pessoa de seu gerente-geral; e

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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE RIO VERDE

AYMORÉ CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A,

pessoa jurídica de direito privado, constituída sob a forma de sociedade anônima,

inscrita no CNPJ sob o n. 07.707.650/0098-39, com sede em Rio Verde na agência

do Banco Real, localizada na Av. Presidente Vargas, 853, Centro, podendo ser

citada na pessoa de seu gerente-geral;

pelas razões fáticas e jurídicas a seguir explicitadas:

DOS FATOS.

Chegou ao conhecimento desta Promotoria de Justiça, por meio de

representação ofertada por um consumidor, que as rés costumam exigir de seus

clientes que assinem contratos de leasing e financiamento em branco, sem

preenchimento prévio.

As rés, pelo informado, possuem operação conjunta na captação e

formalização de contratos de leasing e financiamento.

Diante disso, foi instaurado o inquérito civil n. 01/2009, no qual restou

constatado que as rés estão descumprindo o Código de Defesa do Consumidor.

Notificada para prestar esclarecimentos acerca da representação

ofertada, a operadora financeira da PSA FINANCE e AYMORÉ informou que são

realizados, em média, 80 contratos de financiamento por mês em Rio verde e que

cerca de 30% desses contratos não são preenchidos previamente.

A obtenção de uma cópia preenchida e assinada pelo representante

das empresas ocorre somente um mês após a contratação do empréstimo e desde

que seja solicitada à central de relacionamento da financeira.

A conduta das rés ofende o direito básico do consumidor à informação,

principalmente no tange às implicações consequenciais da contratação, como

direitos e deveres de ambos os contratantes, uma vez que é imposto aos

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consumidores que assinem os contratos em branco, sem prévio conhecimento de

suas condições como valor das parcelas e encargos financeiros.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS.

O Código de Defesa do Consumidor, por determinação expressa, é

aplicável ao serviço financeiro que as rés fornecem. O art. 3º, § 2º, do referido

diploma legal, diz:

Art. 3º – Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 2º – Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

José Reinaldo da Lima Lopes, neste aspecto, esclarecendo a razão de

ser desse dispositivo, acentua que:

... é fora de dúvida que os serviços financeiros, bancários e securitários encontram-se sob as regras do Código de Defesa do Consumidor. Não só existe disposição expressa na Lei n.º 8078/90 sobre o assunto (art. 3º , § 2º ), como a história da defesa do consumidor o confirma, quando verificamos que a proteção aos tomadores de crédito ao consumo foi das primeiras a ser criada. De outro lado, nas relações das instituições financeiras com seus 'clientes' podem-se ver duas categorias de agentes: os tomadores de empréstimos (mutuários) e os investidores (depositantes). (In,

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Consumidor e Sistema Financeiro, artigo para a revista Direito do

Consumidor, n. 19).

Esse também é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça,

expresso na Súmula 297:

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.As rés têm o dever de prestar todas as informações necessárias ao

consumidor previamente à assinatura do contrato. A conduta noticiada coloca os

consumidores em situação de vulnerabilidade.

Dispõe o artigo 4º, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor:

A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.Mencionada política tenciona harmonizar as relações de consumo

equiparando o fornecedor ao consumidor, e, para tanto, outorga proteção ao elo

mais fraco da relação, ou seja, ao vulnerável e hipossuficiente consumidor, sujeito a

toda sorte de práticas abusivas.

Considerando que o consumidor é a parte fraca da relação jurídica de

consumo, devem as rés evitar relações desiguais e injustas que causem qualquer

prejuízo ao consumidor.

Ademais, devem observar que o consumidor, antes de assinar o

contrato, necessariamente precisa estar ciente das obrigações assumidas, bem

como dos eventuais riscos que por ventura possam derivar da avença.

Bem por isso, a dicção do Código de Defesa do Consumidor:

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Art. 6º – São direitos básicos do consumidor:II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade na contratação;III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com a especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.O artigo 46, do Código de Defesa do Consumidor, preleciona:

Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.Observa-se, portanto, que é direito básico do consumidor obter

informação clara e adequada sobre os produtos e serviços que adquire, em toda sua

extensão, tais como qualidade, quantidade, conteúdo, riscos etc.

Cabe destacar ainda que a conduta das rés causa embaraços a

eventuais demandas administrativas ou judiciais dos consumidores, vez que a falta

do contrato preenchido dificulta, por exemplo, calcular o valor exato de parcelas

cobradas ou de antecipação de pagamentos.

DA MEDIDA LIMINAR.

O artigo 12 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) estabelece a

possibilidade de concessão de mandado liminar, nos casos de possibilidade de dano

irreparável ao direito em conflito, decorrente da natural espera pela solução final da

lide.

Com a redação do art. 273 do Código de Processo Civil, essa

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antecipação dos efeitos da tutela é ainda mais reforçada, em conjunto com o atual

sistema processual civil, que alberga, amplamente, a hipótese de concessão do bem

da vida pretendido ab initio (art. 273, CPC), mormente quando se tratar de obrigação

de fazer ou não-fazer, quando incidirá a possibilidade de antecipação de tutela

específica ou de tutela inibitória, prevista no art. 461 do CPC, com a redação

determinada pela Lei n. 8.952/94 e, mais recentemente, pela Lei n. 10.444/02.

Além disso, o art. 84 do CDC contempla a possibilidade de concessão

de tutela específica da obrigação ou de providências que assegurem o resultado

prático equivalente ao do adimplemento.

No caso em tela, o requisito da verossimilhança, necessário à

concessão de tutela antecipada encontra-se plenamente configurado, já que os

elementos de prova trazidos à apreciação desse juízo são por si só suficientes para

informar sobre a realidade fática consistente no desrespeito ao direito dos

consumidores. Necessário ainda considerar que o pleito se estriba em sólido

entendimento doutrinário e jurisprudencial e a demora do provimento jurisdicional

poderá prolongar, em demasia, a situação de franca desvantagem vivenciada pelos

consumidores, que nada podem fazer.

As rés estão obrigadas a adotar as medidas que atendam aos

reclamos do Código de Defesa do Consumidor, flagrantemente descumpridas.

Esse descumprimento é fato notório, demonstrado pelo contrato que se

exigiu do consumidor assinar em branco (fls. 12/16 do inquérito civil público) e

corroborado pelas declarações prestadas pela operadora financeira das rés (fls.

31/32 do inquérito civil público). Logo, está preenchido o requisito da

verossimilhança da alegação (art. 273, CPC).

Existe, ademais, fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação, pois os consumidores estão sendo tolhidos no seu direito à informação

adequada ao pactuarem avença com as rés.

Não há, finalmente, perigo de irreversibilidade do provimento

antecipado, pois, caso viesse a ser revogado, as rés teriam como restabelecer o

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modo de prestação dos serviços de financiamento que pratica atualmente.

Aqui, calha mencionar acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de

Goiás, que manteve a liminar deferida em ação civil pública:

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 35704-6/180 (200302480980) DE ITAPACIAGRAVANTE: BANCO DO BRASIL S/AAGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS – ITAPACIRELATOR DESEMBARGADOR CARLOS ESCHERCÂMARA 4ª CÂMARA CÍVELEMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LIMINAR. REQUISITOS.1. Mostra-se correta a decisão que antecipa tutela em ação civil pública, privilegiando o interesse do consumidor, resguardando pela Constituição Federal, com base na robusta documentação carreada aos autos, devendo a instância revisora verificar, apenas, se houve abuso de poder ou qualquer nulidade que pudesse macular o ato.2. A multa diária fixada para compelir a parte a cumprir a determinação encontra-se perfeitamente respaldada pela legislação que rege a matéria, devendo ser mantida. Agravo conhecido e improvido.De tal modo, o Ministério Público requer seja deferida a liminar,

consubstanciada na obrigação de fazer, para que as rés prestem aos consumidores

todas as informações pertinentes antes da assinatura dos contratos, mediante a

adoção das seguintes condutas:

a) preencher previamente todos os contratos celebrados com os consumidores, oportunizando a estes o conhecimento prévio de todas as cláusulas e condições do negócio;

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b) entregar ao consumidor, no ato da celebração do contrato, uma via preenchida e assinada.Requer a fixação de multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para cada

contrato assinado sem prévio preenchimento, a qual poderá ser constatada

mediante fiscalização desse juízo ou do PROCON.

DO PEDIDO FINAL.

Pelo exposto, requer finalmente o Ministério Público:

a) a citação das rés para, querendo, contestarem a presente ação, sob

pena de revelia, sendo presumidos como verdadeiros os fatos ora deduzidos,

facultando-se ao Oficial de Justiça, na comunicação processual, a permissão

estampada no artigo 172, § 2º, do Código de Processo Civil;

b) a procedência da pretensão deduzida na presente ação,

condenando-se as rés a cumprirem as disposições contidas no Código de Defesa do

Consumidor, oportunizando ao consumidor que tome conhecimento prévio do

conteúdo dos contratos e a entrega de uma via devidamente preenchida e assinada,

no ato da celebração da avença, sob pena de pagamento de multa diária, tornando-

se definitiva a tutela antecipada;

c) a publicação de edital no órgão oficial para os efeitos pretendidos

pelo art. 94 do CDC (Lei n. 8.078/90);

d) a condenação das rés no pagamento de custas e demais despesas

processuais.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em

direito, especialmente pela produção de prova testemunhal e pericial, e, caso

necessário, pela juntada de documentos, e por tudo o mais que se fizer

indispensável à cabal demonstração dos fatos articulados na presente inicial, bem

ainda pelo benefício previsto no art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do

Consumidor, no que tange à inversão do ônus da prova, em favor da coletividade de

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consumidores substituída neste feito.

Seguem em anexo: cópia da portaria de instauração do inquérito civil

público n. 01/2009; cópia da representação oferecida pelo consumidor Eduardo

Tavares dos Reis; cópias dos contratos assinados em branco; cópia do termo de

declarações prestadas por Larissa Martins C. da Silva, operadora financeira das rés.

Dá-se à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

Pede deferimento.

Rio Verde - GO, 31 de março de 2009.

Márcio Lopes ToledoPROMOTOR DE JUSTIÇA

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