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GTNM/RJ JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 62 - SETEMBRO/2007 EDITORIAL: ‘SE MANDAR CALAR, MAIS EU FALO02 MIDIA: O EIXO DO TOTALITARISMO 04 RASTRO DE VIOLÊNCIA 06 - 07 ‘Vivemos um espírito brasileiro de conciliação criminosa’. FÁBIO KONDER COMPARATO DIA DO DESAPARECIDO POLÍTICO - AL 09 ‘MEMÓRIA PARA USO DIÁRIONO FESTRIO 10 TORTURA NO MUNDO GLOBALIZADO 12 ARTIGO DE GUSTAVO BORCHERT Foto: Custódio Coimbra

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Page 1: ÁBIO ONDER OMPARATO - torturanuncamais-rj.org.br · Botafogo - Rio de Janeiro Tel.: (021) 2286-8762 - Fax: (021) 2538-0428 ... A comunidade quilombola habita a Ilha de Marambaia

GTNM/RJJORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ - ANO 22 - Nº 62 - SETEMBRO/2007

EDITORIAL: ‘SE MANDAR CALAR, MAIS EU FALO’ 02

MIDIA: O EIXO DO TOTALITARISMO 04

RASTRO DE VIOLÊNCIA 06 - 07

‘Vivemos um espírito brasileiro de conciliação criminosa’. FÁBIO KONDER COMPARATO

DIA DO DESAPARECIDO POLÍTICO - AL 09

‘MEMÓRIA PARA USO DIÁRIO’ NO FESTRIO 10

TORTURA NO MUNDO GLOBALIZADO 12 ARTIGO DE GUSTAVO BORCHERT

Foto: Custódio Coimbra

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Página 2 • JORNAL DO GTNM/RJ 62 - SETEMBRO/2007

POR CORRESPONDÊNCIAEDITORIAL

Expediente

Edição: Marcelo CajueiroDiagramação: Diagrama Comunicações Ltda.Tel.: (21) 2232-3866 [email protected]ções: Carlos SennaFotos: Custódio CoimbraImpressão: Monitor Mercantil

“GTNM” é uma publicação do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ,sediado na Rua General Polidoro, 238 - sobrelojaBotafogo - Rio de JaneiroTel.: (021) 2286-8762 - Fax: (021) 2538-0428

E-mail: [email protected]

Site: www.torturanuncamais-rj.org.br

Tiragem: 5.000 exemplares

Artigos assinados são de responsabilidade exclusivados autores.

Direção do GrupoPresidente: Cecília M. B. Coimbra1º Vice: Victória L. Grabois Olímpio2º Vice: Elizabeth Silveira e Silva1º secretário: Joana D’Arc F. Ferraz2º secretário: Maysa P. Machado1º tesoureiro: Sebastião A. da Silveira2º tesoureiro: Flora Abreu Henrique da CostaSuplentes: Tânia Roque e Vitória Pamplona

Coordenação geral e redação: Ana Miranda, CecíliaCoimbra, Jane Q. Nobre de Mello, Joana D’Arc F. Ferraz,Rose Nascimento e Victória Grabois.

Digitação: Zélia Lima

Colaboraram nesta edição: Sérgio Silva, Vera Vital Brasil,Gilberto Molina, Iara Xavier Pereira e Luiz Alberto Sanz.

O GTNM/RJ não é uma ONG, somos um movimento social. No momento, passamos por dificulda-des financeiras e corremos o risco de não editarmos o próximo número do jornal. Aceitamos qualquer

contribuição em nossa conta: Banco Itaú, Ag. 0389 C/C 77791-3

“Vocês Organizam, Eu Desorganizo”A trajetória do Prof. Joel Rufino dos Santos dis-

pensa comentários (...). Suas reflexões publicadasna edição de junho/2007 do Jornal do Grupo Tortu-ra Nunca Mais são uma daquelas lições que condu-zem o leitor a mergulhar nas profundezas de umsistema de valores e conduta abominável, cuja ma-nifestação mais doentia é a tortura nas suas varia-das formas e que, justamente por isso, carece demaior aprofundamento para, uma vez desentranha-das as suas verdadeiras causas, possa ser definitiva-mente extirpada da prática prisional brasileira.

Um fraternal abraço pelo importante trabalhoque realizam.

Wilson Gomes de Almeida - por e-mail

Comitê Bolivariano de São PauloO Comitê Bolivariano de São Paulo vê como

algo muito grave a condenação do GTNM/RJ porter denunciado atos de violência. Esta condena-ção expressa uma triste verdade: o processo detransição para a democracia ainda está muito lon-ge de ser concluído no nosso país.

Alberto Souza, Coordenadordo Comitê Bolivariano de SP – por e-mail

Banalidade do mal hoje(...) estive na Casa de Ruy [Barbosa] e assisti

seu belo filme (...).Queria de coração te dar parabéns por um tra-

balho tão lindo. Através dele (...), a gente se dáconta de como o mal se banaliza. A gente se acos-tuma – por causa da mídia, por causa dos livros dehistória (...) a pensar ‘tortura’ como algo longe, li-gado à subversão política, anos 70 tão celebradosem folhetins e minisséries. Enfim, como uma coisadistante, diretamente vinculada a um tempo.

Daí vem seu filme, com esse monte de mulhe-res lindas e guerreiras, pra lembrar que tortura écoisa muito atual. Como diz uma de suas persona-gens, nesse exato momento tem alguém sendo tor-turado em alguma cadeia.

(...) Acho que o maior mérito deste teu filmebravo (...) é ligar tempos, mostrar a (triste) conti-nuidade das coisas. Que a prática da tortura nãomorreu, mas se tornou mais velada, definitivamen-te incorporada. Eu sempre admirei os filmes sobreas mães e avós da Praça de Maio, e lamentavanão encontrar no país um grupo assim engajado.Isso acabou hoje (...).

De Patrícia Silva a Beth Formaggini, diretorade ‘Memória para Uso Diário’ – por e-mail

GTNM/RJ em Juazeiro do NortePor meio da presente informo a V.Sas. do rece-

bimento de exemplares do Jornal nº 61, de junhode 2007, que foram devidamente distribuídos jun-to aos docentes da Universidade Regional do Ca-riri – URCA, e que o texto do historiador e escritorJoel Rufino dos Santos, “Vocês organizam, eu De-sorganizo”, foi objeto de estudo e debate na 8ªOficina de Direitos Humanos, promovido pelo Es-paço da Paz, através de seu Núcleo de DireitosHumanos e Cidadania. Sentimo-nos muito honra-dos em continuar recebendo o Jornal (...).

Espaço da Paz ‘Sérgio Vieira de Mello’Juazeiro do Norte/CE – por carta.

foi um primeiro passo, mas extremamente tímidoe, mesmo, perverso, visto que os ônus das provasde que os opositores políticos foram mortos e/oudesapareceram, coube às famílias. Ou seja, o Es-tado brasileiro institui uma lei onde as provas deque seus agentes seqüestraram, prenderam, tortu-raram, assassinaram e ocultaram cadáveres cabenão a ele, o Estado, mas às famílias desses militan-tes que se encontravam, em sua grande maioria,sob a guarda desse Estado.

Esta mesma lógica encontra-se presente no lan-çamento do livro/relatório “Direito à Memória e àVerdade”. O GTNM/RJ classifica este lançamentocomo um passo importante, mas ainda bastantelimitado e restrito.

Importante porque desde que a Comissão foiinstalada, em 1996, é a primeira vez que se temum relatório oficial sobre suas atividades. Pelaprimeira vez, o Estado brasileiro assume as atroci-dades cometidas por seus agentes em nome da“segurança nacional”.

Limitado e restrito porque todos os fatos narra-dos neste relatório foram conseguidos através detortuosas e dolorosas pesquisas realizadas pelos fa-miliares de mortos e desaparecidos políticos e porentidades de direitos humanos. Ainda está em vi-gor a lei do “sigilo eterno”, ou seja, alguns docu-mentos secretos que possam “colocar em risco asegurança do país” não poderão ser conhecidospela sociedade brasileira.

Até agora questões referentes aos mortos, desa-parecidos e ex-presos políticos (Onde? Quando?Como? Por quem?) não foram respondidas. Por isto,continuaremos exigindo: pela Abertura Ampla,Geral e Irestrita de todos os Arquivos da Ditadura!

Pela Vida, Pela Paz, Tortura Nunca Mais!

Diretoria do GTNM/RJ

Se me der um beijo eu gosto / Se me derum tapa eu brigo / Se me der um grito nãocalo / Se mandar calar, mais eu falo (...)

‘Recado’, de Gonzaguinha

Não por acaso o título deste Editorial, uma fra-se da música “Recado” de Gonzaguinha, é a nos-sa chamada para o show que estamos promoven-do no Circo Voador neste 9 de outubro que, alémde arrecadar fundos para viabilizar parte do pa-gamento judicial que estamos obrigados a fazer aagentes da Polícia Federal/RJ, por termos denun-ciado torturas sofridas por um ex-petroleiro, mar-ca nossa posição de não nos calarmos. Apesar determos perdido na Justiça – o que abre um sérioprecedente contra os movimentos sociais, comoo GTNM/RJ – não nos intimidamos: continuamosfazendo nosso trabalho, lutando contra toda equalquer violação de direitos humanos.

Da mesma forma que queremos trazer partede nossa história recente, o período de ditaduramilitar – em especial, aquele conhecido comoTerrorismo de Estado –, queremos afirmar umaforma de existir e viver onde a tortura, os castigosdegradantes e cruéis, possam ser exterminados denossas práticas oficiais e oficiosas.

Dentro desta lógica, apoiamos com restriçõeso lançamento pela Secretaria Especial de DireitosHumanos do Relatório “Direito à Memória e àVerdade”, ocorrido em 29 de agosto último, quefaz um balanço do trabalho desenvolvido duran-te os 11 anos de funcionamento da Comissão Es-pecial de Mortos e Desaparecidos Políticos, cria-da pela Lei 9.140 de dezembro de 1995, aindano governo de FHC.

É importante relembrarmos que esta lei foi, àépoca, bastante criticada por algumas entidadesde direitos humanos, como o GTNM/RJ. Para nós

‘Se mandar calar, mais eu falo’

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Para que esta população não seja removida,existe uma articulação de entidades que forma-ram a Campanha Marambaia Livre. Existemmuitas iniciativas no sentido de divulgação doconflito, defesa da comunidade e mobilizaçãoda mesma. Atualmente a Associação de Mora-dores da Ilha de Marambaia, assessorados peloJustiça Global, Mariana Criola e Koinonia, estãopreparando uma petição para a Corte Interame-ricana de Direitos Humanos para denunciar oEstado brasileiro na omissão em demarcar o ter-ritório e permitir o acesso dos quilombolas aosdireitos fundamentais garantidos na CF/88.

Para ler a entrevista na íntegra, acesse o site:www.torturanuncamais-rj.org.br.

* Estudante de Pedagogia da UERJ-FEBF, estagiáriado Museu da Vida-FIOCRUZ, moradora de Vigário

Geral à época da chacina.

** Francine Damasceno Pinheiro assessora estacomunidade na luta pela defesa jurídica

dos seus direitos.O MPF recorreu da decisão e no dia06.09.2007, o Tribunal Pleno do TRF manteve adecisão do presidente para que a comunidadequilombola continue aguardando a efetivaçãodos seus direitos até que este mesmo Tribunalaprecie o Recurso apresentado pela União ediga se a sentença permanecerá como decidi-da em 1ª Instância ou não.

Na avaliação de Francine houve muitos sal-dos positivos nesta luta, e ressalta a mobiliza-ção comunitária, o resgate da auto-estima e daesperança. Os quilombolas da Marambaia sa-bem que são os sujeitos do processo de con-quista de direitos. Se durante anos viveram acu-ados, descobriram que podem e devem lutar porseus costumes, suas práticas, suas vidas. Têmorgulho de ser negros e quilombolas e sabemque a existência de sua cultura não é importan-te só para sua comunidade, mas para toda asociedade brasileira. Sabem que quando a Ma-rinha constrói um hotel de luxo dentro da sen-zala de seus ancestrais, está também privandoos seus filhos de saberem a verdadeira históriadesse país. São estas conquistas subjetivas quevêm alimentando a esperança dessa comuni-dade na vitória e fazendo, principalmente, comque estejam sempre prontos para a resistênciae também para a mobilização. Quando um qui-lombola conta o que acontece lá dentro é umagrande vitória, pois muitos nasceram e cres-ceram sob os desmandos da Marinha. Questio-nar a legitimidade da Marinha interna e exter-namente é um ato de coragem.

A comunidade quilombola habita a Ilha deMarambaia há mais de 150 anos. A maioria dosmoradores compartilha a terra e a pesca, ativi-dades de subsistência, fortalecendo seus laçosde parentesco e vizinhanças e suas tradições,mantidas pelos núcleos familiares com quasecompleta autonomia em relação ao continente.Em 1971, os militares implantaram na ilha umabase de adestramento e o medo passou a ser umpersonagem da ilha. No Centro de Adestramentoos recrutas, sob comando da Marinha, invadiamquintais com seus “exercícios de sobrevivênciana selva”, aplicavam humilhações e disciplina-mento dos costumes, derrubavam casas, expul-sando muitos moradores. Em 1988, a Constitui-ção Federal instituiu o termo ”remanescentes dequilombo”, que passou a ser uma referência atu-alizada para os negros que têm o sentimento deser e de pertencer a um lugar e a um grupo es-pecífico. Ao tomar conhecimento desse debate,uma década depois, os moradores da Maram-baia reconheceram-se como quilombolas. Em-bora a Constituição garanta, portanto, seu direi-to ao território comum, a Marinha, ignorando ahistória e o modo de vida da comunidade, busca“reintegração de posse” em ações individuais(1996-1998) contra os moradores.

Inúmeras formas de constrangimentos são uti-lizadas contra a população, entre elas o cons-trangimento velado, o abuso de autoridade einviabilização do acesso a direitos. Também uti-lizaram algumas ações individuais de reintegra-ção de posse tentando individualizar um conflitoque é coletivo. Muitas dessas ações da Marinhaforam julgadas procedentes e os quilombolas fo-ram expulsos da ilha pelo Poder Judiciário. Noentanto, conseguiu-se reverter esta situação, econsta no pedido do Ministério Público Federal(MPF) na Ação Civil Pública que as famílias ex-pulsas desta forma retornem à Ilha. No dia 9 deagosto de 2007, o Presidente em exercício doTribunal Regional Federal (TRF) - 2ª Região, Sér-gio Feltrin Corrêa, suspendeu os efeitos da sen-tença da Ação Civil Pública favorável à comu-nidade da Ilha da Marambaia (Mangaratiba, RJ).O pedido de Suspensão de Segurança da sen-tença nº 2007.02.01.009858-8 foi feito pela UniãoFederal em 7 de agosto de 2007.

Resumimos trechos da entrevista fornecida por Francine Damasceno Pinheiro** , advoga-da do Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola e do livro de Fernanda Carneiro ede Cristina Agostinho, “Nativos e Biribandos – Memória de Trancoso” (Petrobrás, 2005), for-necidos pela entrevistada, denunciando a situação da comunidade quilombola da Ilha deMarambaia e suas lutas contra a Marinha do Brasil.

NAS ENTRANHAS DA DITADURA

Serviço Secretodo Itamaraty

O Correio Braziliense publicou em julhoúltimo uma série de reportagens sobre comoos diplomatas brasileiros perseguiram opo-sitores da ditadura por meio de um sistemade inteligência, criado e operado pela cú-pula do Ministério das Relações Exteriores.O Centro de Informações do Exterior (Ciex)funcionou de 1966 a 1985 e se baseava emuma rede de cooperação entre agências desegurança de outros governos, antecipandoem uma década a idéia da Operação Con-dor. A malha de agentes e informantes seestendeu para além da América Latina, al-cançando a Europa, a antiga União Soviéti-ca e o norte da África.

Em uma pesquisa detalhada nos 8 mil in-formes que compõem o arquivo secreto doCiex, o jornal Correio Brasiliense encontroumilhares de registros de fatos que antece-deram ou precederam a morte/desapareci-mento de 64 brasileiros. São informações de64 entre os 380 brasileiros mortos ou desa-parecidos durante o regime, descobertasapós quatro décadas. Até agora os familia-res destes não têm acesso a essa documen-tação, mas temos cada vez mais certeza deque ainda há muitos arquivos por abrir.

Comunidade Quilombola da Ilha de Marambaia:

Mais de 150 anos de Luta Rose Nascimento*

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cio do Planalto ou do mais alto edifícioda Avenida Paulista ou do melhor hotelda Praia de Ipanema, será imediatamen-te anunciado como um perfume inebri-ante, até o mais profundo interior doPiauí (se não resolverem acabar com oPiauí). Promiscuidade e solidariedadeancoradas em muita grana, milhões denegócios variados, de milhares, de mi-lhões, de bilhões, que vão do desengon-çado pastor soteropolitano ao bronzea-do empreendedor nova-iorquino e for-mam uma rede que congrega (e impul-siona) os setores econômicos mais im-portantes do planeta Terra.

As rádios livres não fazem partedesta máquina diabólica. Não aceitamtransmitir por concessão do Estado,não trabalham para o Grande Capitale não são Mídia, nem de direito, nemde fato. Mesmo se alguns ou muitosde seus participantes sonham em serMídia, mídia alternativa, independen-te ou seja lá que nome inventarem,rádio livre não é Mídia, é obra dos quedela participam para os que dela parti-cipam. Não faz mediação entre as pes-soas, não se coloca entre as pessoas,não separa as pessoas.

Esse é o pecado maior, o pecado maisdo que trilionário da rádio livre. Por isso,o atual governo faz o que pode paraperseguir as rádios livres ainda mais doque os governos anteriores. Por isso,mobiliza todos os poderes constituídospara fechar seus estúdios, tomar seus

equipamentos. Isso não tem a ver com avião, tema ver com o capitalismo totalitário, que tenta dis-solver todos os aspectos da vida na Mídia; inclu-sive – e cada vez mais – o ambiente, a alimenta-ção, o sexo, a forma física, a educação, a saúde,os animais, os direitos humanos, tudo. Mas, fe-lizmente, não somos muito sólidos, talvez nãodesmanchemos no ar.

* Professor da UNICAMP.

Hoje, em boa parte do mundo, espe-cialmente no Brasil, o Estado, o GrandeCapital e a Mídia vivem uma orgia per-manente. A endogamia beira o desastrebiológico. Ninguém mais sabe dizer, exa-tamente, quem é filho de quem. A farrasó é interrompida pelas constantes, es-tridentes e até violentas brigas que – la-mentavelmente ou não – são aconteci-mentos comuns nessas famílias sem amor.Mas não há briga que possa afastá-lasde seus objetivos maiores: cantar a li-berdade impiedosa da Mídia sem cora-ção, reverenciar as leis implacáveis domercado global e louvar a repressão semlimites do Estado.

No meio desse furdúncio, difícil dizeronde surgem histórias como a das rádioslivres que atrapalham os pilotos dos já nãotão firmes aviões tupiniquins. É verdadeque alguém pode arranjar um transmis-sor de média ou alta potência, instalar-se nas imediações de um aeroporto,transmitir em freqüência reservada paraas aeronaves, simular ordens de um con-trolador de vôo e encontrar um pilotoque não se dê conta de algo estranho noar e não teste as outras opções de fre-qüência que lhe são dadas. Se tudo issoacontecer, realmente a operação corre-ta do avião poderá ser atrapalhada. Acon-tece que as rádios livres operam comtransmissores de baixa potência, não es-tão localizadas nas imediações de ne-nhum aeroporto importante, utilizam afaixa de freqüência FM reservada paraas emissoras de rádio e não imitam controlado-res de vôo.

Se os funcionários do poder totalitário queassola o país não param de contar essa história éporque não encontraram nada melhor para dizercontra as rádios livres; inclusive porque a alega-ção de ilegalidade das rádios que funcionam semautorização do Estado não resiste à leitura do ar-tigo 5 (sobre a danada da liberdade de expres-

Mídia:o eixo do totalitarismo

Sergio Silva*

Algumas baterias antiaéreas

são) da tão desrespeitada quanto ainda formal-mente em vigor Constituição Federal da Repú-blica do Brasil. Ilegal, inconstitucional, o que nãopresta é o sistema nacional de telecomunicações,com a sua aparentemente inesgotável tendên-cia à promiscuidade completa e irrestrita entreMídia, Estado e Grande Capital.

Inesgotável promiscuidade e solidariedade deaço. Um peido fedorento, em uma sala do Palá-

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Memória-Saudade

res (Juiz de Fora/MG) solicitaram audiência como General Garrastazu Médici e foram até o ho-tel em que ele se hospedara em Belo Horizon-te. Não conseguindo falar com ele, entregou odocumento a um dos seus ajudantes de ordem.Assim dizia a carta, de 15/08/72: “Senhor Pre-sidente, não permita que as luzes das come-morações de 7 de setembro de 1972 se apa-guem, vendo morrer em nós, mães, nossas últi-mas esperanças: Anistia para nossos filhos.”

Este e outros episódios da vida e da luta daDona Glória estão relatados no livro “Glória,mãe de preso político”, escrito por Gilney Via-na (Ed. Paz e Terra, 2000), que revela comouma pessoa de origem conservadora assumiua luta política pela Anistia, a partir da sua rela-ção afetiva com o filho preso. Valeu a pena,Dona Glória!”

Iara Xavier Pereira

Hilda Machado - Cineasta“A professora, pesquisadora, historiadora e

cineasta Hilda Machado, amiga querida e com-panheira nas lutas contra a mesmice e estag-nação acadêmicas, suicidou-se em São Pauloem setembro último. Ato inesperado, súbito, pelomenos para mim que acompanhava seus últi-mos projetos, em particular sobre a obra do crí-tico e “arquivista de sombras” José Sanz. Ain-da mais surpreendente quando noto que atua-lizou seu currículo Lattes, essa manifestaçãohorrorosa da mentalidade burocrática, em ju-nho passado.

Hilda era membro do fórum FundamentosCênicos, de que também faço parte, e simpati-zante libertária.

Formou-se em uma das primeiras turmas doCurso de Comunicação Social (habilitação Ci-nema) da UFF, em 1975; fez mestrado em Ar-tes na USP e doutorado em História Social naUFRJ.

Era professora adjunta do Departamento deCinema e Vídeo da mesma UFF em que se for-mara.

Deixa uma falta enorme nos corações dequem a conhecia, pois era notável como ami-ga e também como inimiga.

Com muita dor e sentimento de perda,”

Luiz Alberto Sanz

Obs: Hilda foi companheira de Merival Araújo, mili-tante da ALN (Ação Libertadora Nacional), assassi-nado sob torturas pela ditadura brasileira em 14 demaio de 1973, aos 24 anos de idade.

Conheci Vânia no Natal de 1957, logo apósa chegada de meu pai da União Soviética, quefora designado para dirigir o PCB do antigo Es-tado do Rio de Janeiro. A família Oest nos rece-beu com muito carinho em sua casa, no bairrode Icaraí/Niterói e surgiu uma forte amizadeentre as famílias Oest e Grabois.

Vânia era uma jovem de personalidade forteque se preparava para casar; sua mãe Erlitadedicava-se ao estudo do piano; sua avó Célia,era doce e meiga e seu pai, Lincoln, exemplode dignidade.

A casa da Rua Mem de Sá era a embaixadacomunista de Niterói, por lá passaram inúme-ros militantes internacionais e do nosso país.As tardes de sábado e domingo transformavam-se em badalados saraus: Erlita tocava ao pianomúsicas de Chiquinha Gonzaga e de composi-tores brasileiros dos anos 30 e 40, todos cantá-vamos e dançávamos ao som daquelas músi-cas e degustávamos as inigualáveis iguariasfeitas pela vovó Célia.

Esse convívio solidário e alegre foi abrupta-mente ceifado pelo golpe de 1º de abril de 1964.Só fui encontrar Vânia após a promulgação daAnistia, uma mulher sofrida com a perda do pai,assassinado pelos militares em 1972; com o pre-cário estado de saúde da mãe; com dois casa-mentos desfeitos e quatro filhos, ainda adoles-centes, para educar.

A homenagem do GTNM/RJ à nossa ines-quecível companheira.”

Victória Grabois

Glória Viana, umabatalhadora pela Anistia

“No dia 1º de agosto próximo passado fale-ceu em Belo Horizonte, aos 90 anos, DonaMaria da Glória Amorim Viana, mãe de GilneyViana (preso político durante quase dez anospela ditadura militar) e militante do movimentopela Anistia Ampla Geral e Irrestrita.

Dona Glória era uma pessoa simples e com-bativa; nunca se intimidou diante dos tribunaismilitares, dos carcereiros e defendia não ape-nas o seu filho, mas a todos os presos políti-cos. Era solidária e, apesar de suas limitaçõesfinanceiras, não deixava de visitar regular-mente o filho e de ajudar o coletivo dos pre-sos políticos.

Dona Glória foi uma das pioneiras na lutapela Anistia. Em agosto de 1972, ela e outrasmães e esposas dos presos políticos de Linha-

Nossa página dedicada à Memória tomou, neste número, um caminho um pouco diferente. Caminho que nos leva a refletir sobre as mortes dos familiares

de mortos e desaparecidos políticos e suas lutas, que continuam sem respostas por parte dos diferentes governos federais desde o início da chamada

Nova República, em 1985. São mães e pais, filhos e filhas, irmãos e irmãs que estão morrendo sem saber o que ocorreu com seus familiares. Nossas

saudades, respeito e admiração vão para algumas conpanheiras que estiveram nesses últimos 30 anos lutando pelo resgate de nossa história.

Maria Helena Molina“Éramos 5 irmãos na

época em que Flavio en-trou para a clandestinida-de. Os conflitos normaisdentro da família, decor-rentes das contradiçõesentre a cultura da classemédia e o pensamentoprogressista, tornaram-sepequenos diante das apre-

ensões e aflições que a situação geral oferecia epassaram a ser observados pelos pais sob outraótica. O tempo fluía e a morte do Flavio se mul-tiplicava em cada notícia verdadeira ou falsa,em cada descoberta, em cada expectativa, emcada decepção. E nossa mãe começou a defi-nhar aí, no final da década de 60, e viveu o restode sua vida focada inicialmente no destino deFlavio, depois na descoberta de seus restos mor-tais e por fim em sua identificação e sepultamentoreligioso. As mortes consecutivas do Flavio, tra-duzidas pela seqüência de informações que po-diam variar desde um ofício antigo até um retro-cesso ou avanço em processos judiciais, eram aconsumição de nossa mãe.

Nosso pai faleceu em 1985, sabendo da exis-tência da vala clandestina de Perus, mas antesde sua abertura em 1990. Perdeu o marido, umapoio, um consolo nos momentos críticos, mascontinuou de pé, sustentada pela esperança deum dia ter em mãos os restos mortais de Flavio.Viveu 91 anos e resistiu 40. Cega nos últimos10 anos, continuou resistindo e aguardando –sempre para breve – a identificação e sepulta-mento do Flavio. O último golpe ocorreu noinício de 2005, poucos meses antes da identifi-cação do Flavio, quando faleceu nossa irmãmais velha. Continuou firme até o sepultamen-to do Flavio. Pouco depois me disse que gosta-ria de ficar lá também, junto com o avô, a mãee o filho. Com sua morte encerrou-se uma ge-ração em nossa família.”

Gilberto MolinaObs: o sepultamento dos restos mortais de FlavioMolina só foi possível 34 anos após seu assassi-nato, em outubro de 2005.

Vânia Moniz Oest“Faleceu em 12 de agosto último, no Rio de

Janeiro, aos 69 anos, de problemas cardíacos,Vânia – filha do militante político Lincoln Cor-deiro Oest, assassinado pela ditadura.

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as Militar, Civil e Federal), às Forças Armadase aos demais órgãos públicos.” De acordo coma reportagem, o BOPE (Batalhão de OperaçõesEspeciais) também tem envolvimento com o trá-fico de armas.

No mesmo caminho, a informação sobre vi-olência também opera na lógica da mercado-ria. Produz na sociedade a necessidade do co-nhecimento sobre o medo que é produzido,como se a informação sobre o medo nos prote-gesse de futuros infortúnios. Quem não desejaconhecer o seu medo? A série de reportagensdo jornal O Globo, nos dois últimos meses, inti-tulada “A Ditadura nas Favelas”, busca relacio-nar a ditadura militar com uma possível “dita-dura do tráfico”, que tem seu locus nas favelashoje. A despeito das análises interessantes depessoas sensíveis à questão da violência nas

favelas, que estas reportagens trou-xeram, o encaminhamento dasnotícias e dos editoriais nos leva acrer que o tráfico de drogas estána favela e que ele reproduz a di-tadura. Uma outra ditadura, nãomais gerida pelas mãos dos milita-res, mas dos traficantes, das milí-cias e de alguns policiais, e que énecessário que o Estado combataesta nova ditadura. Porém, há al-guns perigos em análises comoessas.

O primeiro perigo, a ditadura noBrasil, que sequer foi devidamen-te assumida pelo Estado e trabalha-da na memória da sociedade, poisainda não conseguimos nem mes-mo a abertura dos arquivos secre-tos, e nem a finalização do julga-mento de nenhum torturador, é jo-

gada para debaixo do tapete da história e res-significada pelos meios de comunicação. O usoindevido do conceito colabora para a dimen-são do esquecimento dos efeitos nefastos que aditadura provocou e aniquila a sua verdadeiraintenção, que foi um projeto político delibera-do de acumulação de capital exercido pelo Es-tado brasileiro.

O segundo é a própria expansão do con-ceito de ditadura para a sociedade civil. Dita-dura é uma ação política autoritária do Estadocontra a sociedade, é a ausência de todos ostipos de manifestação política, é o Estado pro-movendo a completa violação de todos os di-reitos, é um estado de exceção. O que ocorrenas favelas é a ação repressora do Estado alia-da à conivência e à cumplicidade entre bandi-dos e policiais. Esta ação é fortalecida pela au-

pobreza, mas penaliza também os que lutamcontra este estado de coisas. É neste contextoque podemos interpretar o processo por viola-ção ao direito autoral dirigido contra as pesso-as que criaram e/ou usaram a camisa com odesenho do Cauê, símbolo do PAN, com umfuzil na mão. Inúmeros símbolos oficiais sãousados e recriados indicriminadamente, taiscomo modelos que usam biquínis com o símbo-lo da bandeira do Brasil. No entanto, não se in-

diciam os seus autores por violação a nenhumdireito.

O modelo neoliberal reafirma a lógica dolucro e transforma tudo em mercadoria. A vio-lência é uma mercadoria a ser consumida. Nãose discute a origem das armas utilizadas pelosbandidos e nem das drogas vendidas nas fave-las. Trata-se da violência como algo natural dafavela. O jornal O Globo, do dia 05/08/2007,revelou que “uma em quatro armas em possedos bandidos é da polícia. Segundo o Relatórioda Comissão Parlamentar de Inquérito de 2006(CPI) sobre Organizações Criminosas do Tráfi-co de Armas, divulgado no Congresso Nacio-nal. A conclusão mais surpreendente foi a cons-tatação de que 18% das armas rastreadas fo-ram originalmente vendidas ao Estado, especi-almente às forças de segurança pública (políci-

Nos últimos meses, presenciamos os maiscruéis atentados contra a vida e a pessoa já exis-tentes no Rio de Janeiro. A cada violência se-gue-se outra ainda mais cruel, tornando a vio-lência anterior obsoleta e diminuta em compa-ração com a outra mais nova e mais requinta-da. Foram tantos assassinatos, tantas invasõesnos últimos meses, que fica quase inútil descre-vê-los. Mas, devemos descrevê-los, como de-núncia, como luta. Então, as mortes do Com-plexo do Alemão, em decorrênciada “necessidade de limpeza da ci-dade para o PAN”, obscureceram-se diante das mortes do Complexodo Lins, que envelheceram ante àsda Favela do Muquiço, que segui-ram-se às da Cidade Alta, da Cha-tuba, de Santa Cruz e do Fumacê eoutras que diariamente são estam-padas nos jornais.

O argumento do Estado para ainvasão nestes locais e para a vio-lência sobre os moradores é que vi-vemos uma “guerra” contra o tráfi-co de drogas e o crime organizado.É importante que pensemos nasquestões que estão implícitas nesteargumento. A noção de que vive-mos em “guerra” nos diz bastante.Guerra é um estado de exceção,nele vale tudo. Mas a guerra nãoestá generalizada por toda a cidade e nem écontra todos os seus habitantes. São violênci-as dirigidas especialmente para um grupo nasociedade, aqueles que estão à margem do sis-tema produtivo, os subempregados, os desem-pregados, os pobres. Estas pessoas, pelas suascondições sócio-econômicas, também moramnos espaços que “sobram” da cidade, nos es-paços rejeitados pelos donos do capital, nosmorros, nas favelas, nos “conglomerados sub-normais”, como foram denominados pelo po-der público. Em nome da paz, da ordem, valetudo, pode-se invadir a favela com armas empunho, invadir as casas, revistar mochilas decrianças pequenas, executar indivíduos, tortu-rar, atirar indiscriminadamente.

O Estado punitivo penaliza os que precisamficar longe das benesses do capital, penaliza a

“Ao produzir incessantemente o novo e descartar o velho, o mercado também cria um exército de

restos que apontam para o passado, como se exigissem uma restituição do que se perdeu…

A lógica do mercado tende a fazer do passado, então, uma tábua rasa, mas nunca o realiza de

todo, pois sempre sobra esse rastro intraduzível, imetaforizável”

(Avelar, Idelber. Alegorias da Derrota, MG: UFMG, 2003: 238)

Neoliberalismo promove a obsolescênc

Fotos Custódio Coimbra

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sência de uma ordem capaz de instituir a idéiade público, capaz de incentivar a participaçãodos moradores junto aos interesses do Estado,capaz de fazer valer, no sentido estrito, o con-ceito de cidadania. Isso é muito diferente deditadura.

Terceiro, o termo ditadura também nos levaao desejo de pôr fim a este “estado de exce-ção” pela ação violenta e interventora de al-guém que se coloque acima da desordem, comoum poder paralelo. O que pode nos permitir jus-tificar as invasões violentas dos policiais nasfavelas.

De acordo com Delei de Acari, o que a sé-rie de reportagens também não se lembra dedizer é que “O tráfico de drogas, como ele seapresenta hoje, é produto da ditadura militar edo capitalismo neoliberal que essa mesma di-tadura militar permitiu desenvolver. Nem 10%do dinheiro arrecadado fica dentro da favelaou lá nos altiplanos andinos. 90% do dinheiroda droga fica no asfalto.”

Então, não se trata de ditadura nas favelas,mas da justificativa para a produção de um tipoespecífico de violência, a criminalização dapobreza. A saída apresentada pelo governo fe-deral é a criação de um novo Plano de Segu-rança Nacional, que une repressão e políticassociais, o Programa Nacional de SegurançaPública com Cidadania – PRONASCI. Orçadoem 6,7 bilhões de reais, terá apoio conjuntode 14 ministérios, órgãos estaduais, ONGS eentidades internacionais. A proposta deste pro-grama é primeiramente a “tomada pacífica doterritório, com mobilização comunitária, massomente quando for possível… caso a situa-ção no território seja incontrolável, como fa-velas dominadas por traficantes, inverte-se oprocesso. Ou seja, primeiro chega a polícia,depois os agentes comunitários.” (Revista Car-ta Capital, 15/08/2007, pp. 36-37)

Não obstante a “boa intenção” do governofederal de solucionar a questão da violênciano Rio de Janeiro, a ação violenta da força po-licial nas favelas é tão velha quanto a própriaexistência destas. Uma política de segurançapública que tem como pressuposto a violênciaoficializada por lei, com apoio de diferentes se-tores da sociedade, deve ser motivo de gran-des preocupações.

Como Julita Lemgruber, Leonarda Musume-ci e Ignacio Cano, em Quem Vigia os Vigias?(Record, 2003:54) assinalam, o Estado brasilei-ro jamais renunciou a nenhuma das ‘conquis-tas’ – desde o cassetete de borracha, passandopelo ‘pau-de-arara’, até a bateria para choqueselétricos – no que diz respeito à legalidade da

Vigário Geral 14 anos após o massacreRose Nascimento*

resquícios de uma sociedade escravista, naqual naturaliza-se a violência contra negrose pobres.

Vigário Geral, ao longo desses 14 anos,foi alvo de muitos interesses políticos, pes-soais, movimentos em prol da comunidade,ONGs, que tinham como objetivo inicial for-talecer a luta pela igualdade de direitos.Com o tempo, tornaram-se simplesmente dis-cursos dogmáticos, legalizados com o pro-pósito de dar satisfação à sociedade e ma-quiar o caos.

A situação da favela de Vigário Geral é hojemuito complexa, pois aumenta a cada dia, deforma sistemática e exacerbada, a repressãopolicial. A ‘guerra do tráfico’, que desde junhode 2007 mantém a favela sob o domínio deuma facção rival, coloca esses moradores –tão marcados pela tragédia – reféns do medo,sem direito à dignidade e à vida.

“Eu já vi lágrimas demais,o bastante pra um filme de guerra!”

Racionais Mc’s

* Estudante de Pedagogia da UERJ-FEBF,estagiária do Museu da Vida/FIOCRUZ,

moradora de Vigário Geral à época da chacina

O dia 29 de agosto de 2007 marcou os 14anos da chacina que abalou o mundo e, prin-cipalmente, a vida das pessoas ligadas diretaou indiretamente aos atingidos. A chacina foiuma retaliação a um grupo de traficantes queassassinaram quatro policiais que, dias antes,haviam rompido um pacto de suborno. Umgrupo de policiais, conhecido como “cavaloscorredores”, exterminou 21 pessoas dentro efora da favela.

Os traumas vividos naquela noite sangren-ta nunca foram superados pelos moradores;são dores e saudades que nuncairão ser preenchidas. As famílias,os amigos, os vizinhos, sabemcomo é difícil conviver com essasfaltas, que aumentam a cada diapela repressão policial e a ‘guerra’entre as facções. A imprensa, namaioria das vezes, nem chega apublicar tais noticias, visto estaremrelacionadas com o grau de cruel-dade do crime ou com a quantida-de de vítimas. Quando estes crimesfogem a isso, tornam-se apenas par-te da estatística: é a total banaliza-ção da violência.

Infelizmente, a estatística tem endereço,raça e classe social, isto é, todos os casos dearbitrariedade, de execução, de excessos daforça policial. As torturas viraram rotina nasfavelas, onde os atingidos são, em sua grandemaioria, pobres, jovens e negros. É esta ideo-logia eugenista que impõe a criminalizaçãodas classes populares.

Relembramos ainda a Chacina de Acariem 30 de julho de 1990, a da Candelária, em23 de julho de 1993, entre inúmeras outrasque ocorreram em nosso estado e que foram‘esquecidas’ no nosso cotidiano. Fatos ocor-ridos com a pobreza, com os ‘não humanos’,os ‘condenados da terra’, estão entre os

rente do poder do capital, produzem memóriasconstantemente relidas pelos grupos envolvi-dos, nas lutas diárias dos movimentos sociais,que cobram do poder público uma resposta aessas ações, no rastro do “intraduzível e do ime-taforizável”.

* Doutora em Ciências Sociais,professora da UNIRIO.

violência dos regimes autoritários. Nos gover-nos de exceção propriamente ditos, tal violên-cia se estende aos opositores políticos de todosos estratos da sociedade; nos períodos ‘normais’,ela permanece apontada contra seus alvos desempre: os pobres, os negros.

A produção destas violências, no entanto,gera um conjunto de rastros que, na contra-cor-

cia da violência, mas deixa um rastro...Joana D‘Arc Fernandes Ferraz*

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Notas IndignadasRevista britânica: polícia do Rio

é “incompetente” e “brutal”A polícia estadual do Rio de Janeiro é ‘pelo me-

nos metade do problema’ da violência que atinge asfavelas da capital, afirmou em fins de agosto a revis-ta britânica ‘The Economist’.

“’Além de incompetente, a polícia do Rio está en-tre as mais brutais do mundo’, assevera o artigo, quecita o aumento de 250%, em relação a 2002, do nú-mero de mortes causadas pela polícia no Estado doRio. Segundo a revista, muitos problemas de seguran-ça da cidade são explicados pela incompetência dediversos governos. Anos de prostração oficial, inefici-ência e corrupção deslavada envenenaram lentamen-te o cumprimento da lei na cidade (...). E ainda: vári-os dos policiais corruptos afastados conseguem na Jus-tiça o direito de voltar ao trabalho”.

Outro problema indicado pela reportagem é a pre-ferência dos eleitores cariocas por “líderes populis-tas, que distribuíram os altos cargos de segurança paraamigos”, enquanto a polícia do Estado é a segundapior remunerada do país.

(Fonte: www1.folha.uol.com.br, em 2 ago 2007)

pessoas no Brasil eram presas e torturadas – ou sim-plesmente sumiam – e que ele declarava aos jornais:“não há tortura no Brasil”?

Do que certamente não precisamos hoje é de umahomenagem a um ditador brasileiro que foi, além desanguinário, um hipócrita.

Agruras de Vila Amélia,em Nova Friburgo

A partir de um estudo realizado pelo Prof.Marcelo Castañeda, do Núcleo de Pesquisas e Proje-tos Sociais da Faculdade Santa Dorotéia/NF, foi rea-lizada uma visita de inspeção, em junho último, àcarceragem de Vila Amélia (151ª DP) por quatroentidades de direitos humanos (Laboratório de Análi-se da Violência/UERJ; ARP - Associação pela Refor-ma Prisional; Justiça Global; Grupo Tortura NuncaMais/RJ, Comissões de Direitos Humanos da OAB/RJe de Friburgo), que gerou um relatório sobre as de-gradantes condições em que lá vivem hoje os presos(ver www.torturanuncamais-rj.org.br).

Em reunião aberta à sociedade no Sindicato dosBancários daquela cidade, o relatório foi apresentadopelo Professor Ignacio Cano (UERJ) e debatido pelodelegado responsável pela carceragem, por represen-tante da Prefeitura de Nova Friburgo, pelo Coman-dante da PM local, por advogados e pelas instituiçõesde direitos humanos, entre outros que compareceram.

Por iniciativa da Comissão de DH de Friburgo foienviado um abaixo-assinado para o Governador do Es-tado do Rio de Janeiro, para o Secretário de SegurançaPública e para o Secretário de Administração Peniten-ciária relatando a grave situação e reivindicando me-didas urgentes que garantam condições mínimas dedignidade aos presos da carceragem de Vila Amélia.

As quatro entidades resolveram encaminhar oRelatório – com as devidas recomendações – a orga-nismos nacionais, como o DEPEN - DepartamentoPenitenciário Nacional do Ministério da Justiça e aSecretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-dência da República, bem como a organismos inter-nacionais: a Relatoria de Pessoas Privadas de Liber-dade da Comissão Interamericana da OEA e a Rela-toria Especial de Torturas e Tratamentos Cruéis eDegradantes da ONU.

O GTNM RJ já obteve algum êxito com estasações conjuntas, como nos casos da POLINTER/Rioe no da 76ª DP/Niterói.

Coronel do Massacre do Carandiruhomenageado na Câmara SP

Policial Militar aposentado será ‘agraciado’ comtítulo de cidadão paulistano: ele comandou o 3º Bata-lhão da Tropa de Choque no dia em que 111 forammortos no Presídio do Carandiru.

O coronel aposentado da Polícia Militar LuizNakaharada é um dos policiais militares denuncia-dos pelo Ministério Público pela morte de 111 presosem 2 de outubro de 1992, no episódio que ficou co-nhecido como ‘Massacre do Carandiru’ (...).

Com homenagens como esta, a Câmara Municipalde SP certamente não contribui para acabar com osmassacres/extermínio de presos sob sua tutela, contra-riando todas as normas de direito nacionais e interna-cionais. Quem sabe, assim, o Brasil não chega a serlíder deste campeonato?

Violência no campo 1Segundo o último balanço da Comissão Pastoral

da Terra (CPT) os conflitos agrários nos últimos dezanos aumentaram: em 1997 foram 658 e no ano pas-sado 1.212. Desde 1985 foram mortos 1.465 traba-lhadores, mas somente 20 mandantes e 71 executo-res foram condenados (dados do jornal O Globo de22/06/07).

Não foi possível contabilizar casos de chacinasno interior da floresta, na expansão da fronteira agrí-cola, quando trabalhadores são assassinados e joga-dos no rio.

Um caso emblemático de impunidade é o da fa-mília Canuto: o pai, João Canuto, foi assassinado em1985 e seus dois filhos, José e Paulo, em 1991.

Em 2003, a Justiça condenou os dois mandantes docrime contra João Canuto, que aguardaram o recursoem liberdade. Quando saiu a decisão definitiva os doisjá estavam livres.

CIA mostra seus esqueletos:assassinatos e espionagem internaOs papéis contêm detalhes das artimanhas come-

tidas pela CIA - Agência Central de Inteligência ame-ricana: tentativa de assassinatos de importantes man-datários estrangeiros, tais como Fidel Castro, PatriceLumumba, Rafael Trujillo, sendo que cerca de 10 milamericanos foram espionados pela Agência.

Nos documentos encontramos nomes importantesda política norte-americana: senadores, Conselheirode Segurança Nacional da Casa Branca e outros. Es-cutas telefônicas grampeando vários jornalistas ecartas trocadas entre pessoas da União Soviética,China e EUA são alguns fatos. Convém destacar adenúncia de que Robert Kennedy teria cuidado pes-soalmente do possível assassinato de Fidel Castro.

O Senador Richard Helms afirmou ‘que essas his-tórias são apenas a ponta do iceberg e que muitosangue vai jorrar’ quando liberarem os documentosda CIA (publicado em ‘O Globo’, de 23/09/2007).

Violência no campo 2No último dia 2 de agosto, sete camburões da Po-

lícia Militar de São Paulo, com aproximadamente 15homens fortemente armados e sem qualquer mandadopolicial, invadiram o Acampamento Camponesa (Fa-zenda Candelária) para desalojar 35 famílias que ocu-pavam o local.

Os policiais ameaçaram jogar bombas de gás deefeito moral para pressionar os acampados a saíremda área ocupada. Os mesmos policiais também des-truíram os barracos dos trabalhadores sem-terra. Aproprietária da fazenda acompanhou de longe a açãode despejo, com dois policiais que a protegiam.

Turma Médici da AMAN em 2007!Ancelmo Gois tocou no assunto; mesmo assim era

difícil acreditar. O jornal “A Voz da Cidade” de 21de agosto, de Resende, assim cita a formatura doscadetes da Academia Militar das Agulhas Negras:“Os 392 cadetes da turma General Emílio Garrasta-zu Médici receberam (...) o Espadim de Caxias, queoficializa o título de cadetes após o primeiro ano decurso na AMAN.”

Perguntamos: como esses jovens oficiais foramescolher tal patrono? O que lhes foi ensinado nosbancos da AMAN? Contaram a eles que o clima naépoca do General Médici (1970-74) era sufocante,que a censura estava a todo vapor, que milhares de

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Aconteceudezembro de 2002, o então presidente Fernan-do Henrique Cardoso instituiu a figura do “sigi-lo eterno” para documentos considerados ‘se-cretos e ultra-secretos’: prazos renováveis in-definidamente, conforme critério de autorida-des. O presidente Lula da Silva manteve a de-terminação através de MP de dezembro de 2004e da lei 11.111, de maio de 2005. Na lei 11.111,o acesso aos documentos considerados “ultra-secretos” fica impedido por 30 anos, que sãorenováveis “pelo tempo que estipular” umaComissão de Averiguação e Análise de Infor-mações Sigilosas, composta por seis ministros,o advogado-geral da União e o Secretário Es-pecial de Direitos Humanos, e nenhum repre-sentante da sociedade.

“A violação do direito à verdade e à memó-ria produz a tolerância de grande parte da so-ciedade a crimes graves como a corrupção, oaumento da violência e da tortura, assim comoa alienação dos meios de comunicação e dasinstituições da Justiça brasileira”, diz o docu-mento entregue ao ministro Paulo Vannuchi, daSecretaria Especial de DH da Presidência.

(Fonte: ADITAL – Agência de InformaçõesFrei Tito para a América Latina).

Em São Paulo pode, no Rioporque não?

Foi reaberto prazo de 90 dias - após quasecinco anos e com a Comissão em plena ativi-dade – para os ex-presos políticos no Estadode São Paulo durante a ditadura militar (o pri-meiro prazo terminou em novembro de 2002).Às/aos que têm direito e ainda não entraramcom requerimento, recomenda-se que o enviemlogo, mesmo que ainda não tenham consegui-do provas documentais, para garantir que en-trem em pauta. Este ano o Estado de SP irá pa-gar 230 requerentes que já tiveram seus pro-cessos deferidos.

Fundada no Rio aCasa da América Latina

Foi um sucesso a fundação da CASA DAAMÉRICA LATINA no último dia 31 de agosto,na SEAERJ (Sociedade dos Engenheiros e Ar-quitetos do RJ): mais de 350 pessoas passarampelo evento.

‘A expressão política do ato demonstrou aatualidade e a necessidade da criação da enti-dade de solidariedade latino-americana, justa-mente no momento em que avançam na regiãovárias experiências de mudanças progressistase de enfrentamento ao imperialismo’, registra anota de fundação.

30 de agosto:Dia do DesaparecidoPolítico da América Latina

No diadedicadoao Desa-p a r e c i d oPolítico aFEDEFAM -Federação Lati-no-americana deAssociações dePresos Desapareci-dos divulgou notacom 10 itens, com rei-vindicações no senti-do de fortalecer a vi-gência de uma série demedidas para terminar,no continente, com essefenômeno, assim como responder pela locali-zação dos restos mortais de seus parentes e ascircunstâncias dessas mortes. Alguns dessesitens são:

I – Ratificação sem demora e sem reservasda Convenção de Proteção de todos os Desa-parecimentos Forçados da ONU.

II – Abertura e preservação de todos os ar-quivos dos ex-centros clandestinos de prisão eextermínio e dos cemitérios clandestinos paraa preservação da memória, e entrega dos res-tos mortais das vítimas às suas famílias.

III – Pleno apoio às Comissões da Verdade eoutras iniciativas de busca e informação dos de-saparecimentos forçados.

(Ler todos os itens emwww.torturanuncamais-rj.org.br)

Doação de jornais do GTNM/RJO professor e militante do GTNM/RJ Sérgio

Silva doou ao Arquivo Edgard Leuenroth, doCentro de Pesquisa e Documentação Social -IFCH/UNICAMP, a coleção completa do jornaldo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, desde seuprimeiro exemplar, publicado em janeiro de1986. A coleção está disponível para consultassobre a história recente do nosso país.

Audiência Pública:Abertura dos arquivos da ditadura

Em 21 de agosto houve a Audiência Pública“Direito à Informação e a Abertura dos Arqui-vos da Ditadura Militar” na Câmara Municipalde São Paulo, em mais uma tentativa de orga-nizações de direitos humanos e familiares deatingidos pela ditadura para que o GovernoFederal abra TODOS os arquivos da ditaduramilitar brasileira (1964-1985). Em decreto de

Câmara Municipal RJ realizahomenagem

Sessão solene, realizada em 28 de agostoúltimo, na Câmara de Vereadores do Rio ho-menageou post-mortem alguns dos atingidospela violência dosatentados terroris-tas de 1980: o ex-vereador AntônioCarlos de Carva-lho; José Ribamar,tio e assessor deTonico, mutiladopela explosão deuma carta bomba;D. Lyda Monteiro,morta por uma car-ta bomba endere-çada ao presidenteda OAB/RJ, dequem era secretá-ria. Foram, tam-bém, homenagea-das as entidadesOAB e ABI e aindafuncionários daCâmara Municipalatingidos pelo aten-tado.

Solidariedade aoscompanheiros de Santa Elina

Desde o último dia 9 de agosto, 60 campo-neses, organizados pelo CODEVISE (Comitê deDefesa das Vítimas de Santa Elina) estão acam-pados em Brasília, em frente ao Congresso Na-cional, com o objetivo de sensibilizar o gover-no e os parlamentares quanto aos seus direitosdecorrentes do ataque que sofreram, em 1995.

Doze anos se passaram desde o bárbaroMassacre de Corumbiara, na fazenda Santa Eli-na (09/08/1995), que deixou 19 mortos, entreeles uma menina de sete anos de idade, e cen-tenas de feridos, a bala, por espancamento eem conseqüência das cruéis torturas a que fo-ram submetidos.

Solicitamos que enviem mensagens de soli-dariedade e apoio à luta das famílias de SantaElina para:1. Presidência da República - Secretaria Geral:[email protected]. Secretaria Especial de Direitos Humanos -Ministro Paulo Vannuchi: [email protected]. Comissão de Direitos Humanos e Minoriasda Câmara dos Deputados - Presidente: Depu-tado Luiz Couto - [email protected].

Enviar cópia para: [email protected](Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina).

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Cultura pelas beiradasProjeto de livro de memóriasUm dos grupos de amigos de 68 resolveu

colocar em marcha projeto de livro e já come-çou a recolher textos. O livro será composto derelatos pessoais daqueles que participaram daluta contra a ditadura, de 64 até a abertura po-lítica, em qualquer situação, no Brasil ou noexílio. Seu foco serão as experiências, entre-meadas de breves contextualizações históricas.Os depoimentos devem ter de 2 a 6 laudas. En-comenda e recolhimento das contribuições até30/09/2007. Enviar material digitado em Wordpara o endereço: [email protected].

“Heleny,Heleny doce colibri”

Espetáculo musicalem cartaz em São Pau-lo, conta a trajetória deHeleny Guariba no te-atro e na política, desa-parecida nos porões daditadura militar. Tinhaentão 30 anos e era mãede dois meninos. Mu-lher de teatro, talento-sa diretora, formada emFilosofia pela USP, foi

fundadora do GTC - Grupo Teatro da Cidadede Santo André e do Curso de Interpretação Te-atral do extinto Teatro de Arena de São Paulono final da década de 60.

Foi uma intelectual preocupada com o mun-do político e, sobretudo, com o resgate da li-berdade de expressão. Como escreveu FreiBetto, era “de jeito alegre e cativante, peque-na, arisca, bonita (...) beleza (...) enraizada noespírito ágil que lhe conservava, no corpo, ojeito de menina” (Batismo de Sangue, 2000).

Heleny filiou-se à VPR - Vanguarda PopularRevolucionária – um dos grupos que lutaramcontra a ditadura. Foi presa várias vezes. Em1971, na sua última prisão no Rio Janeiro, foitorturada e assassinada na clandestina ‘Casa daMorte’, em Petrópolis. Até hoje seu corpo nãofoi encontrado.

Esta é uma homenagem do Núcleo 184 atodos aqueles que lutam e lutaram pelo país, aoTeatro de Arena de São Paulo e à jovem direto-ra assassinada Heleny Guariba: “seu corpo,vamos buscar e encontrar”. Foi dado seu nomeao Centro Cultural Heleny Guariba, em Dia-dema, SP.

A peça emociona sem cair no melodrama.Toca na ferida ainda aberta dos anos de escuri-dão e lança a impertinente pergunta: já nãopassou da hora de todos os arquivos do gover-no militar serem abertos?

Texto e Direção: Dulce MunizMúsicas: Wanderley Martins

“Encontro com Milton Santosou O Mundo Global visto do lado de cá”

Documentário realizado pelo diretor SilvioTendler (2001), ganhou o prêmio de melhor fil-me pelo júri popular no Festival de Brasília de2006.

A entrevista realizada dia 4 de janeiro de2001 foi a última concedida pelo professor Mil-ton Santos, (...). O geógrafo se foi em junho de2001, mas seus pensamentos ficam. Seu ideá-rio político e cultural inspiram o debate sobre asociedade brasileira e a construção de um novomundo. Seu depoimento é um verdadeiro teste-munho, uma lição de que o mundo pode ser me-lhor. A partir da Geografia Milton Santos reali-za uma leitura do mundo contemporâneo querevela as diversas faces do fenômeno da glo-balização. E na evidência das contradições edos paradoxos (...) enxerga as possibilidades deconstrução de uma outra realidade(www.caliban.com.br).

É com orgulho que lembramos que MiltonSantos foi agraciado com a Medalha ChicoMendes de Resistência - do GTNM RJ - em 1999.Ver nossa homenagem a Milton Santos emwww.torturanuncamais-rj.org.br.

“Memória para uso diário”no FestRio

O filme sobre a trajetória do GTNM/RJ foi exi-bido no Cinema Odeon no domingo, 23 de se-tembro. A sessão das 12h foi aberta ao públicoque pôde votar (júri popular). Às 14h houve de-bate no Centro Cultural da Justiça Federal, coma cineasta, personagens e membros da equipedo filme e do GTNM/RJ. Na segunda, dia 24,houve sessão no Estação Botafogo às 18h.

O filme tem como base a história de Ivanil-da, uma brasileira que busca provas de que seumarido, desaparecido desde 1975, foi presopelo governo brasileiro. Acompanhando os seuspassos, o filme mostra a realidade de outros bra-sileiros que lutam para esclarecer as mortes edesaparecimentos de seus familiares, atingidospelas torturas de ontem e de hoje.

O DVD do filme já se encontra à venda pelotelefone (21) 2286 8762, com Zélia, no GrupoTortura Nunca Mais/RJ.

Sobre o filme escreveuEduardo Passos*

“O GTNM/RJ tem agora um filme que docu-menta a sua luta, que dá a imagem de seu mo-vimento.

(...) O filme faz o gesto da abertura dos arqui-vos, nos indicando que não basta abri-los, sendoainda preciso completar a tarefa contando umaoutra história. (...)

O cine documentário não está no tempo pas-sado, não tem a nostalgia do vivido. Ele está nes-

te tempo da invenção que é o tempo do porvir.No documentário filmamos o futuro, ou melhor,filmamos no horizonte do futuro.

Fala-se de memória enquanto uso. Está seindicando que há um sentido pragmático damemória. Daí as perguntas: para quê serve amemória? Para quem serve esta memória? OGTNM/RJ desde 1985 tem feito estas pergun-tas, indicando que há uma luta a ser travada nocampo da memória (...).

O filme Memória para uso diário foi editadocomo uma trança (...). Vários fios da vida foramsendo tecidos (...) – tantos fios de vida ligadospor um plano comum que é tanto o plano daedição do filme, quanto o plano do movimentoTortura Nunca Mais. Compor este plano co-mum, dar consistência a ele é um trabalho demilitância. Nossa militância é a da aposta nocomum, é a luta pelo comum. Temos, portanto,neste filme as imagens-movimento de uma apos-ta política, sabendo agora que há muitas ma-neiras de militar e que Beth Formaggini afirmouconosco a sua.

* Psicólogo do Projeto Clínico-Jurídico TNM/RJ(texto completo em www.torturanuncamais-rj.org.br)

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Página 11 • JORNAL DO GTNM/RJ 62 - SETEMBRO/2007

Nossa América LatinaARGENTINA:“Agora sabemos como

e quando morreram”

Esta frase foi recentemente ouvida em um atopúblico no prédio do Olimpo, onde funcionouum campo de concentração, em Buenos Aires. AEquipe Argentina de Antropologia Forense iden-tificou nove desaparecidos que foram vistos comvida, pela última vez, no Centro Clandestino deOlimpo. Eles foram vítimas dos “vôos da morte”,em 1978, em que militantes eram jogados ao mar.Seus corpos apareceram na costa e nesta ocasiãoforam enterrados como NN (OS SEM NOME) edispersos em vários cemitérios municipais.

tura, e em seu julgamento serão ouvidas mais de60 testemunhas. Este tribunal, no ano de 2006, con-denou o também notório repressor, Julio Simon,conhecido como “O Turco Julián”.

Várias testemunhas declararam ao “Pagina 12”,que haviam denunciado há 20 anos atrás as atroci-dades de Febres, lamentando os obstáculos que fo-ram colocados para o julgamento, já que apenasem 2007 este torturador será julgado.

Desaparecido há 1 anoA Organização Mundial contra a Tortura

(OMCT) manifesta novamente sua extrema preo-cupação com a integridade pessoal do Sr. JorgeJulio López, ex-preso político e que continua de-saparecido desde o dia 18 de setembro de 2006.

Jorge Julio é testemunha-chave no processocontra o ex-policial e ex-diretor geral de inves-tigações de Buenos Aires Miguel Etchecolatz, acu-sado de delitos de lesa humanidade cometidosdurante o último governo militar argentino(1976-83).

“Antes tarde do que nunca”No dia 18 de outubro começará o primeiro

julgamento – depois da anulação das leis de “PuntoFinal” e da “Obediencia Devida”, que impediamo julgamento dos responsáveis pelas torturas edesaparecimentos na Argentina – de um notóriotorturador da Escola da Mecânica da Armada,ESMA, que funcionou como campo de concen-tração na ditadura militar. Héctor Febres, um fun-cionário da prefeitura naval, além de ser um dosmais violentos, era o responsável pelos enxovaisdos recém nascidos, filhos de desaparecidos polí-ticos, que foram seqüestrados e apropriados pelosmilitares.

Febres, conhecido como ‘Selva’, deverá respon-der junto ao Tribunal Oral Federal 5, que reúne osexpedientes relacionados à ESMA e o Primeiro Cor-po do Exército, por quatro casos de seqüestro e tor-

Avançando na anulação da

Lei da Impunidade

No dia 4 de setembro foi lançada uma campa-nha nacional para levar a plebiscito a anulação dalei de anistia uruguaia, chamada Lei de “Caduci-dad”, mais conhecida como Lei da Impunidade.Esta lei, que protegeu os responsáveis pelas tortu-ras e desaparecimentos durante a ditadura vigentede 1973 a 1985, foi aprovada em 1986. Três anosdepois, ainda sob o regime do medo e da intimi-dação dos militares, foi realizado um plebiscito quea confirmou.

Recentemente foi criada uma coordenação,constituída por organizações sociais e personali-dades, que lançou campanha de coleta de assina-turas para que, através de um plebiscito, o povouruguaio, possa anular a lei.

A iniciativa de anulação, ou seja, a de decla-rar por mandato de direito a inexistência da lei,se apóia no fato de que ela contém vícios que ainvalidam do ponto de vista jurídico. A Lei deCaducidad contraria normas constitucionais e dodireito internacional e admite, em seu própriotexto, a pressão que exerceram os militares du-rante os anos posteriores à ditadura. Segundo ju-ristas, este fato pode gerar direito e invalida a leina sua origem mesma. Este encaminhamento daanulação tem um sentido prático: não haverá pres-crição para aqueles crimes e as denúncias do pas-sado e atuais poderão ser consideradas e levadasa julgamento.

O mecanismo que a coordenação propõe éuma ”iniciativa popular” que requer o apoio de10% do universo dos votantes, o que correspon-de obter mais de 250 mil assinaturas. A expectati-va é de que, com a vitória desta campanha peloplebiscito para a anulação, se possa “mudar a his-tória, reorientando os uruguaios nos valores dajustiça, equidade e dignidade”, afirma Lopez Gol-daracena, um advogado comprometido com osdireitos humanos.

var contato com ex-presos políticos paraguai-os e familiares de mortos e desaparecidos daFADDAPY.

Passados 35 anos da ditadura Stroessner eapós muita mobilização popular, o Paraguaicomeçou a passar a sua história a limpo: de-pois da localização de quase cinco tonela-

das de arquivos da repressão e de suadisponibilização para a sociedade, foiinstalada a CVJ.

Entre seus integrantes estão qua-tro representantes de atingidos e trêsmembros de entidades de direitoshumanos, dentre eles, o compa-nheiro Carlos Portillo da Red Lati-

noamericana y del Caribe de Insti-tuciones de Salud Contra la Tortura,

la Impunidad y otras Violaciones de los Dere-chos Humanos (RedSalud). A CVJ tem a tarefade investigar as violações praticadas por agen-tes do Estado ocorridas entre 1954 e 2003, iden-tificar os responsáveis e encaminhar o resulta-do de suas investigações ao Ministério Públicoparaguaio.

*Psicanalista, integra oProjeto Clínico-Juríco Tortura Nunca Mais/RJ

Na primeira semana do mês de setembro,representantes dos Projetos Clínico e Jurídicodo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ e do Centrode Justiça Global estiveram no Paraguai paraparticipar de uma oficina de capacitaçãopara casos de litigância junto à Comissão In-teramericana de Direitos Humanos. O trei-namento foi promovido pelo InstitutoInteramericano de Derechos Hu-manos (IIDH) e contou com oapoio do Centro para la Justiciay el Derecho Internacional (CE-JIL). Como atividade de encer-ramento foi feita uma simulaçãode julgamento de uma petiçãocontra o Estado do Paraguai, peloseqüestro, detenção ilegal, tortura e vi-olação sexual de uma estudante de 13 anos.Na seqüência do seminário também foi pos-sível assistir às audiências públicas da Comis-são Interamericana de Direitos Humanos que,na mesma ocasião, atuava em Assunção. Porúltimo, os participantes aproveitaram a opor-tunidade para visitar os Arquivos do Terror,conhecer os trabalhos da Comissão de Justi-ça e Verdade (CVJ) do Paraguai, além de tra-

O Grupo Tortura NuncaMais/RJ agradece à Co-missão Européia o apoioque tem dado às ativida-des de assistência, à pro-

dução do vídeo e ao aperfeiçoamento do site.

URUGUAI

X Encontro da RedSalud Tania Kolker*

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GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ

Rua Gal. Polidoro, 238 sl. - Botafogo22280-000 RJ/Brasil – Tel/Fax (021) 2538 0428

IMPRESSO

Na Luta Contra o Inimigo ComumSão muitas as coincidências entre os atuais

abusos cometidos pela Casa Branca e as práti-cas comumente usadas nos porões da ditaduramilitar brasileira. Vemos, hoje, os mesmos mé-todos e procedimentos que causaram tanta hu-milhação, vergonha, dor e morte, num passadonada distante da sociedade brasileira, sendousados de forma cínica e cruel. Estão presentese ativos, mais do que nunca, distantes apenasgeograficamente, mas muito próximos subjeti-vamente. Embora diferente o perfil dos atingi-dos, os motivos e justificativas apresentadaspara as barbáries cometidas compartilham damesma irracionalidade (…).

Tratamento cruel e bárbaro, a tortura físicae psicológica tem sido, sistematicamente, usa-da pela Casa Branca, endossada muitas vezespelo silêncio de seus aliados na “guerra ao ter-ror”, desrespeitando, dessa maneira, tratados in-ternacionais de que são signatários. Pessoasmorrem e desaparecem, subverte-se o direito,reprime-se a tudo e a todos, para além das fron-teiras, na montagem de um Estado policial paraa guerra globalizada. Ontem e hoje, em nomeda “segurança nacional”.

* Músico, Mestrando em Psicologia pelaUFF - Universidade Federal Fluminense

(ler a íntegra do artigo no sitewww.torturanuncamais-rj.org.br)

Repressão Contra Tudo e Contra Todos

Com a aprovação do USA Patriot Act 2001(apenas um voto contra na Câmara dos Depu-tados), o governo americano dá continuidade àsua estratégia de trasferência de poder, crian-do uma segunda versão da lei (…). A mais gra-ve entre as mudanças incluídas na nova lei Do-mestic Security Enhancement Act of 2003 refe-re-se à extradição e expatriação de cidadãos.Qualquer cidadão americano apontado pelo go-verno como membro ou por apoiar logistica-mente grupos terroristas poderá ter sua cidada-nia revogada e ser deportado para outros paí-ses (...). Pouco a pouco, com um poder executi-vo “forte e robusto”, era montado um aparelhorepressivo contra tudo e contra todos em nomeda “segurança nacional”.

Subversão do DireitoTendo seus planos de aprovação no Congres-

so do Domestic Security Enhancement Act of2003 frustrados devido ao vazamento da infor-mação sobre ele, o governo de George W. Bushpartiu para novo ataque contra liberdades civise direitos humanos (…).

Em 17 de outubro de 2006, seis semanasapós o Presidente George W. Bush reconhe-cer a existência de prisões secretas monitora-das pela CIA - Central de Inteligência Ameri-cana em diferentes países, ele assinou o Mili-tary Commission Act of 2006 que, mais umavez, modificaria, profundamente, a Constitui-ção Americana. Tal legislação constitui umaprofunda ameaça às intituições democráticasdaquele país (…).

A seção 2 da versão final, já aprovada peloCongresso, dá plenos poderes ao Presidente daRepública para estabelecer tribunais militares,além de autorizar a pena de morte em casosjulgados pela comissão (…).

A lei define o termo terrorismo de forma ex-tremamente vaga, abrangendo qualquer crimeviolento cometido por qualquer pessoa (…). Porúltimo, mas não menos grave, o Military Com-mission Act of 2006 tem efeito retroativo (…).

Castigo Cruel, Desumano eDegradante

(...) No dia 1º de outubro de 2006, o Presiden-te George W. Bush assinou a lei Military Com-mission Act of 2006 (Ato para Tribunais Milita-res), aprovada pelo Congresso Americano queautoriza, entre outras coisas, métodos duros deinterrogatório em suspeitos de terrorismo (…).George W. Bush classificou a medida de “justa,legal e necessária”. (…) Anthony D. Romero,diretor executivo da The American Civil Liber-ties Union, chama atenção para o perigo repre-sentado pela nova lei: “O Presidente pode, ago-ra, com aprovação do Congresso: manter pes-soas presas indefinidamente, sem acusação for-mal; remover proteção contra horríveis abusos;usar boatos como evidência para realizar julga-mentos de pessoas; autorizar tribunais que po-dem sentenciar pessoas à pena de morte, basea-do em testemunhos literalmente extraídos das tes-temunhas a pancadas e fechar as portas dos tri-bunais para pedidos de habeas corpus (...)”.

A nova lei é mais uma investida contra liber-dades civis e direitos humanos cometida pelaCasa Branca.

Sistema RepressivoNo dia 26 de outubro de 2001, o Congresso

Americano aprovou a lei USA Patriot Act 2001(Ato Patriota 2001 dos EUA), que definiria a es-tratégia da nova presidência dos Estados Unidosde gradativa transferência de poder ao braçoexecutivo do governo. Assim explicitaria o Vice-Presidente Dick Cheney – “Acredito em umaforte e robusta autoridade do executivo e achoque o mundo em que vivemos demanda isso (...).”

A lei confere poderes ao executivo para vio-lar direitos civis de cidadãos, residentes e estran-geiros, legais ou ilegais, em nome da “seguran-ça nacional”, ao autorizar medidas como o “pro-grama para monitoramento de estudantes estran-geiros”, a “identificação pelo DNA de terroristase outros criminosos violentos” e a “divulgaçãode históricos escolares”. Todas elas baseadas emum crime, antes não existente na ConstituiçãoAmericana, mas agora muito bem definido pelanova legislação: “terrorismo doméstico”(...).

A institucionalização da tortura no mundo globalizadoGustavo Borchert*