the ecologis 021

40

Upload: marina-oliveira

Post on 10-Mar-2016

225 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

the ecologist magazine brazil - 021

TRANSCRIPT

Page 1: The Ecologis 021
Page 2: The Ecologis 021

Restaurante Metamorfose

Há 23 anos no mercado de alimentos integrais, localizada na Rua Santa Luzia n.º 405 sobreloja 207 no centro do Rio de Janeiro.

Restaurante e Loja de Produtos macrobióticos.

Rio de Janeiro - RJ Telefone: (21) 2262-6306

Empório Santa Maria atrás da Rodoviária de Alto Paraíso de Goiás. Rua dos Cristais, 07, Setor Paraisinho. Alto Paraíso de Goiás. Fones: (62) 9652-1562 - Fernando ou (62) 9996-7339 – Débora e.mail: [email protected]

Chapada dos Veadeiros/Goiás

Page 3: The Ecologis 021

Eco

logi

st

The

Bras

il

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 - Número 21

Edição: Vanéte Farias Lopes e Rejane Maria Ludwig Tradução: Letícia Ludwig LoderEditoração eletrônica: Digital Store - Marina Aguiar Oliveira

Contato: [email protected]

SUMÁRIO Terra Planeta Água por Peter Bunyard .................................................................página 5

Povo Brasileiro diz NÃO à desproteção das florestas por Rodrigo

Baleia - Greenpeace Brasil.....................................................................................................................11

A Justiça na Era do Hiperconsumo por Rogério Rammê ......................... 12

Trabalhar em casa: rumo a uma nova sociedade por Molly Cato....18Lançamento site de Edward Goldsmith.......................................................19

Nota sobre o falecimento de Wangari Maathai.....................................19

Sabemos escutar? por Françoise Lemarchand................................................................20

Não a Belo Monte! ..............................................................................................................21

AGAPAN 40 ANOS em Defesa da Vida.........................................................22

Guaranis em Defesa da Vida e de seus Territórios por Maurício da Silva

Gonçalves Guarani..................................................................................................................................25

Carta de Salvador Carta Política do Encontro Nacional de Diálogos e

Convergências......................................................................................................................................28

Fim do Papel? por Tom Hodgkinson......................................................................................36Impactos sócio-ambientais causados pela mineração do Carvão por amiga da Mariléia

Page 4: The Ecologis 021

Editorial

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 4

É importante ressaltar que o Có-digo Florestal vigente é a lei 4771 de 1965, que estabelece a proteção de uma reserva legal de no mínimo 80% da vegetação natural na região amazônica, 35% no cerrado e 20% nas outras regiões, para qualquer tamanho de propriedade.

Assim como estabelece as áreas de preservação permanente como beira de rio, topos de morros, limites que todos devem respeitar, que são intocáveis e que pertencem à biosfera e a todos nós.

É uma lei muito bem elaborada. Melhor ainda se tivesse sido cumpri-da.

O que está acontecendo no Con-gresso é uma manobra orquestrada pelos alguns que desmataram além do permitido pela lei e que querem alterar a legislação para adequá-la a seus interesses pessoais mesqui-nhos, evitando assim o pagamento das multas que atingem 40 bilhões de reais. Não compactuamos com a anistia aos que desmataram além do permitido. Defendemos a cobran-ça das multas e que este recurso vá direto para a Saúde, tão necessitada de recursos financeiros. Defendemos também a recomposição das áreas degradadas.

Além disto, a vegetação da reserva

legal pode ser utilizada sob o regime de manejo florestal sustentável, de-finido pela lei de gestão de florestas públicas de 2005, onde diz “a admi-nistração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os meca-nismos de sustentação do ecossiste-ma objeto de manejo e considerando-se cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies ma-deireiras, de múltiplos produtos e sub-produtos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”. Ou seja, mane-jando com respeito às leis naturais, colhendo frutos, sementes, os bem vindos sistemas agroflorestais já es-tão previstos e amparados pela lei.

Os poucos que querem alterar o Código Florestal são os mesmos que insistem com as monoculturas de se-mentes e mentes. São os que querem ocupar as encostas de morros que são áreas de risco, são os que que-rem desmatar até a beira do rio, são os que querem fazer terra arrasada por onde andam. Isto é inaceitável!

Em pesquisa realizada ficou muito claro que a maioria da população bra-sileira não quer mudanças no Código Florestal, pois é evidente que as pro-postas de alteração são para pior.

O Brasil assumiu junto à comunida-de internacional o compromisso de re-

duzir suas emissões de gases de efei-to estufa. A maior fonte de emissões no Brasil é o desmatamento. Não po-demos permitir que haja mais desma-tamento de floresta nativa. Todos os esforços devem ser feitos para prote-ger as árvores que estão de pé neste momento e replantar e recompor os biomas e paisagens degradados.

Ana Primavesi ensina que são as florestas que alimentam as nascentes dos rios. Com floresta a água é arma-zenada no solo e quando a chuva pas-sa, resta toda a umidade retida no solo penetrado pelas raízes. No entanto, quando nós, seres humanos, desma-tamos, rompemos este ciclo natural e a água da chuva deixa de penetrar no solo e abastecer as nascentes e passa a escorrer rapidamente para os rios, causando enchentes. E enchente é sinal de seca mais adiante, pois se a água não foi naturalmente retida no solo, vai faltar na sequência temporal. Enchentes e secas são consequên-cias do desmatamento. O único jeito de reequilibrar o sistema é plantando árvores nativas, recompondo florestas originais.

A integridade da floresta é indis-pensável para o planeta. Evitar o des-matamento é fundamental para não acontecer as catástrofes como as se-cas e as enchentes.

Page 5: The Ecologis 021

tErra PlanEta Água

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 5

Gaia, a teoria de que todas as formas de vida ajudam a regular os fenômenos que ocorrem na superfície da Terra, inclusive o clima, é de fato persuasiva. Consequentemente, muitos cientistas e climatologistas vêm se engajando em buscar evidências contundentes da real existência de Gaia e de que a vida, espalhada pelo planeta em suas variadas formas e tamanhos (desde as minúsculas bactérias até as poderosas sequóias gigantes do norte da Califórnia), forma associações com fortes vínculos, sem os quais o planeta seria um meio ambiente fundamentalmente hostil à própria vida.

Como tal, a teoria de Gaia vai na contramão das ideias de Pangloss, personagem de Voltaire: em vez de o Homem (isto é, a vida) ter herdado o melhor de todos os mundos possível, foi a vida que gerou o melhor de todos os mundos possível. A proposta de Gaia também bate de frente com a celebrada noção do “gene egoísta”, de que a vida luta contra a vida mediante mutações benéficas para herdar a “Terra”, ainda que momentaneamente, sob o controle de um ambiente potencialmente implacável e não acolhedor.

Ao contrário, a ideia de Gaia propõe que a otimização das condições da superfície, inclusive do clima, é uma propriedade emergente das complexas interações geofísicas e geoquímicas, chegando a influenciar a tectônica de placas e a formação de continentes. Nesse sentido, a temperatura da superfície da Terra, que é regulada significativamente pelos gases de efeito estufa que dão condições para a vida no planeta, ajuda a determinar os processos na crosta terrestre, inclusive a ação vulcânica e a expansão do assoalho oceânico.

A ideia de Gaia surgiu na NASA em meados de 1960 quando foram criados experimentos que seriam levados a Marte pelas sondas Viking 1 e 2. O propósito da NASA era coletar evidências de que Marte poderia ter ou poderia ter tido alguma forma de vida. Naquela época, já havia sido inventado um “dispositivo para captura de elétron” que, usando uma fonte radiativa, poderia fazer com que elétrons com energia característica fossem liberados na forma de radiação beta de gases traço. Como resultado de sua invenção,

a precisão das medidas dos gases traço deram um salto extraordinário, e pode-se mostrar que o ar de países industrializados continha quantidades antes não mensuráveis de CFCs. Essa descoberta posteriormente serviu de base para a teoria, pela qual Molina e Sherwood ganharam o Prêmio Nobel, de que os CFCs, ao chegarem à estratosfera, poderiam causar a perda de ozônio durante a primavera polar.

Gaia, água e a Amazônia: como interagem para formar o clima do nosso planeta, por Peter Bunyard

Seja como for, a equipe da NASA ficou intrigada com notícias, na época, que indicavam que as atmosferas de Marte e Vênus, medidas usando espectroscopia infravermelha, seriam compostas prioritariamente por dióxido de carbono com traços de oxigênio e nitrogênio e quase nada de metano. A atmosfera de Vênus, densa e plena de gases estufa, chegando a 90 vezes a pressão da atmosfera terrestre, confere

Page 6: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 6

Ocorrência de Chuvas em Bacias Hidrográficas Com Florestas Nativas em Pé

Fonte: A.M.Makarieva & V.G. Gorshkov, Hydrol. Earth Syst. Sci., 11, 1013-1033, 2007.

Ocorrência de Chuvas em Bacias Hidrográficas Desmatadas

Fonte: A.M.Makarieva & V.G. Gorshkov, Hydrol. Earth Syst. Sci., 11, 1013-1033, 2007.

Page 7: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 7

à superfície de Vênus uma temperatura média de cerca de 500°C, como um forno muito quente e incandescente. Se Vênus algum dia teve água, grande parte dela certamente teria sido perdida. Marte, por outro lado, com uma pressão atmosférica de cerca de 140 vezes menor do que a da Terra, além de ser mais distante do Sol, tem um efeito estufa brando que faz a temperatura média de sua superfície, que é de – 60°C, aumentar em 10°C. Marte também parece ter perdido a maior parte de sua água.

Vênus e Marte são realmente muito diferentes da Terra, um planeta com superfície abundante em água que, se fosse totalmente condensada em seu estado líquido, poderia cobrir a superfície do planeta em cerca de 3000 metros de profundidade. E isso não é tudo: a atmosfera da Terra é composta principalmente por nitrogênio e oxigênio, com apenas traços de gases de efeito estufa, incluindo dióxido de carbono, óxido nitroso, metano e, não menos importante, vapor d’água. Todos esses gases, estejam em quantidades traços ou abundantes, são produtos do metabolismo da vida, tal que as características da atmosfera, inclusive a temperatura da superfície terrestre, são determinadas pela soma das atividades da biota.

Essa diferença extraordinária entre a Terra e seus dois vizinhos mais próximos, Vênus e Marte, foi como uma revelação para a equipe. A atmosfera da Terra mostrava a influência importante da vida, enquanto as de Marte e Vênus eram atmosferas em equilíbrio químico, sendo semelhantes aos gases de escapamento de um motor de combustão interna. Os cientistas da NASA também declararam que a análise espectroscópica da atmosfera de Marte era uma indicação segura de que a vida naquele planeta seria extremamente improvável. Além disso, se um planeta tivesse tido vida, ela teria passado pelo inexorável processo de evolução e teria se espalhado pela superfície planetária em todas as suas diversas formas, deixando sua marca na química da superfície, seja na atmosfera, nos oceanos ou na terra.

A água, por suas características extraordinárias, é o que explica a existência de vida na Terra. A teoria de Gaia, esteja ela correta ou não, provou ser uma fonte de ideias e percepções sobre o funcionamento de um planeta vivo, dinâmico e levou os cientistas a questionarem como a Terra havia retido sua água, enquanto seus planetas vizinhos aparentemente não haviam conseguido fazê-lo. É aqui que a vida entra na equação, especialmente por gerar as condições atmosféricas que

impedem que a água passe além da tropopausa (que fica entre a troposfera e a estratosfera). Se a água, na forma de vapor, se dissipasse de modo relativamente fácil para a estratosfera, onde ficaria exposta à intensa radiação ultravioleta de ondas curtas (UV-C), essa água se transformaria em uma molécula livre de hidrogênio e oxigênio monoatômico. O hidrogênio subindo ainda mais em direção ao espaço escaparia da Terra, causando uma perda de água gradual, mas inexorável. Teria sido esse o destino de Vênus e Marte?

A produção de oxigênio livre, que data de pelo menos 3,5 bilhões de anos, é um componente vital para entender como a Terra reteve sua água. Naquela época, as bactérias já tinham se desenvolvido e, entre elas, havia as cianobactérias azul-esverdeadas, que faziam fotossíntese, mediante a qual os fótons da luz solar dividiam as moléculas de água de tal modo a doar um próton (H+) para o dióxido de carbono, formando glicose, e deixar um oxigênio livre. As descendentes daquelas bactérias se associaram a células eucarióticas, dando origem a organelas celulares essenciais tais como a mitocôndria e os cloroplastos (e, talvez, até à estrutura filamentosa 9+2 dos axônios nervosos e às células epiteliais ciliadas), sendo que a fonte dessas relações simbióticas estaria nas bactérias espiroquetas, de acordo com o que propõe a microbiologista Lynn Margulis.

Ao longo da evolução das árvores e, depois, das florestas de copas densas, a área da superfície ocupada por organismos fotossintetizantes aumentou em muitas ordens de grandeza, com o consequente aumento das concentrações de oxigênio livre na atmosfera. Ao medir as concentrações de hidrogênio, oxigênio e isótopos de carbono em fitoplâncton fossilizado extraído de núcleos de gelo (por exemplo, da plataforma continental da costa da Antártica), é possível encontrar evidências do poder extraordinário da vida, não apenas para mudar seu ambiente local, mas também para afetar fenômenos na superfície e o clima ao longo dos últimos 100 milhões de anos, com as temperaturas superficiais globais tendo caído 7°C durante esse tempo, mesmo considerando eventos catastróficos tais como o asteroide de 65 milhões de anos atrás, que extinguiu os dinossauros. Durante esses 100 milhões de anos, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera parecem ter diminuído a uma ordem de grandeza comparável às concentrações pré-industriais, de cerca de 280 partes por milhão (em volume). Essa redução é,

em grande parte, resultado da evolução de florestas de angiospermas, de copas densas, que reduziam o dióxido de carbono à medida que aumentavam a biomassa e que, ao mesmo tempo, devolviam grandes quantidades de vapor de água à atmosfera através do processo de evapotranspiração, de modo a permitir as precipitações no interior do continente.

Hoje, com a emissão de gases de efeito estufa proveniente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento, os índices são de cerca de 400 partes por milhão de dióxido de carbono. O crescimento acentuado das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera sugere que nós, humanos, estamos indo contra o processo evolutivo que gerou condições relativamente favoráveis com as quais fomos abençoados e que certamente propiciaram a revolução agrícola, há cerca de 10 mil anos. De fato, estamos dando um tiro no pé ao eliminar exatamente esses organismos (seja a vegetação de florestas, seja o fitoplâncton marinho) que se combinam para sequestrar grandes quantidades de carbono da atmosfera.

A evolução das árvores e a colonização dos continentes remotos levaram a uma mudança na química da atmosfera, com uma maior complexidade no ciclo do carbono, em que o oxigênio e o dióxido de carbono tornaram-se ainda mais intimamente vinculados, em uma relação inversa. Níveis maiores de oxigênio em função das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera começaram a assumir um papel essencial na estratosfera ao evitar a chegada de raios UV-C à superfície da Terra, onde causariam danos incomensuráveis aos organismos expostos. Quando “separado” pela radiação UV-C, o oxigênio se divide em dois átomos, tornando-se imediatamente disponível ou para a combinação com o hidrogênio ou para a geração de ozônio (O3). O ozônio se comporta do mesmo modo na captura da radiação UV-B, perdendo um átomo de oxigênio no processo. O resultado líquido é o aquecimento da estratosfera de modo que, ao contrário da troposfera, o ar se aquece à medida que sobe.

De fato, é fortuito que a baixa atmosfera – a troposfera – se resfrie com a altura, em aproximadamente 6°C a 9°C (dependendo da presença ou não de vapor d’água), de modo que, a 2,5 quilômetros acima do nível do mar, o ar se esfria o suficiente para formar nuvens e para condensar a maior parte do vapor d’água. A extensão da baixa atmosfera que pode conter alguma água (a maior parte, se não toda, condensada em

Page 8: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 8

forma líquida ou sólida) é de cerca de 13 a 14 quilômetros, acima dos quais praticamente nenhum resquício de água permanece, e a temperatura é de – 60°C. Esse processo de resfriamento na baixa atmosfera à medida que se sobe funciona como uma “armadilha fria” que essencialmente evita que nosso planeta perca sua água.

Considerando que as temperaturas no verão no interior do Saara podem passar de 45°C, enquanto as temperaturas na Antártica chegam a – 40°C, a temperatura média da superfície do planeta é de cerca de 15°C. Quando medida em relação à temperatura, a curva de saturação do vapor de água é exponencial, subindo rapidamente a partir do ponto em que a temperatura passa de 15°C. Como resultado disso, uma quantidade suficiente de vapor de água fica na atmosfera gerando chuvas, que mantêm a vida no interior dos continentes, sendo o exemplo mais espetacular disso a bacia amazônica na América do Sul. Devido ao fato de que a temperatura na baixa atmosfera cai com a altura, o vapor de água deve se condensar e precipitar, assim permitindo que a superfície da água evapore e recarregue temporariamente a atmosfera com vapor. Esse processo, cuja energia vem do sol, impede o surgimento de um estado de equilíbrio estável e, assim, permite a contínua reciclagem da água. Consequentemente, todos os diversos fatores entram na conta:

1. A temperatura da superfície mantida pela energia vinda do sol e pelos gases de efeito estufa, de modo a permitir a adequada evaporação d’água; 2. O gradiente de temperatura ambiental, que se observa principalmente na baixa atmosfera pela expansão de oxigênio e nitrogênio, de modo que a água condensa e se resfria. O resultado é um ciclo hidrológico baseado na vida.

Para as formas de vida terrestres, a evapotranspiração é um processo essencial. Provê água para a fotossíntese, mantém baixa a temperatura das folhas e, não menos importante, disponibiliza à baixa atmosfera quantidade suficiente de água precipitável que se transforma nas chuvas que chegam ao interior dos continentes. O índice de área foliar depende das características específicas da vegetação. Nesse sentido, as angiospermas são particularmente bem adaptadas, liberando grandes quantidades de vapor d’água para a atmosfera em razão da alta taxa de tecido vascular na área foliar, assim reduzindo a cavitação, pela qual o ar entra no sistema vascular e, como uma bomba, rompe a coluna de água. O efeito combinado da evaporação da água das superfícies expostas ao sol e ao vento e da liberação de água – transpiração – através das raízes das plantas e do xilema de bilhões de minúsculos poros das folhas – os estômatos – permite que água suficiente evapore de modo a manter a umidade mesmo durante o

calor do dia.A floresta tropical, com suas árvores

de copas densas, desenvolveu, portanto, um ciclo hidrológico vigoroso e que se perpetua. Abaixo das copas das árvores, a temperatura durante o dia aumenta com a distância do chão, assim mantendo o equilíbrio hidrostático e a umidade relativamente constante e estável. Acima da copa, a situação oposta prevalece: o ar se resfria à medida que sobe, e o vapor d’água tende a se condensar em função da queda de temperatura. Com o sol batendo no topo das árvores e aquecendo a coluna de ar, a evapotranspiração da floresta aumenta, pelo menos até o meio-dia, quando os estômatos podem fechar a fim de evitar a cavitação em função da maior sucção de água que resulta da evaporação. Enquanto isso, essa vegetação terá liberado quantidades consideráveis de compostos orgânicos voláteis, tais como terpenos e isoprenos, que, ao se oxidarem, principalmente em razão do radical hidroxila (altamente reativo), geram substâncias com uma capacidade característica de promover a formação de nuvens. As nuvens, como bancos de vapor d’água condensado com tendência de formar grandes gotas d’água, portanto, agem refletindo a luz do sol e mantendo baixas as temperaturas de superfície. Em um certo grau, os estômatos podem se abrir novamente, e as árvores continuam a fazer a fotossíntese.

O sol é a fonte de energia para a floresta e a dinâmica hidrológica. Sobre os trópicos, há uma enorme incidência de energia solar (para se ter uma ideia, nos mais de 6,5 milhões de quilômetros quadrados da bacia amazônica, a energia incidente é equivalente a cerca de 20 bombas atômicas do tamanho das de Hiroshima por segundo). A floresta absorve quase três quartos dessa energia no processo de evapotranspiração. Portanto, se a floresta acabar, a energia do sol permanecerá como calor “sensível”, aquecendo a coluna de ar e cozinhando o solo, com as temperaturas de superfície durante o dia subindo cerca de 10°C em relação às temperaturas de quando a floresta está íntegra e com sua grande área foliar, capaz de devolver à atmosfera mais de metade da chuva total. Menos de 50% da precipitação total sobre a bacia amazônica de fato retorna ao Atlântico. A floresta, portanto, ajuda a manter o volume de precipitação na baixa atmosfera, garantindo que o interior do continente (até cerca de 4 mil quilômetros da costa) receberá chuvas. De fato, Leticia, o ponto mais ao sul da Colômbia e que faz fronteira com Brasil e Peru, apesar de ficar a mais de

Page 9: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 9

1 mil quilômetros a oeste do Atlântico, recebe em média mais chuvas do que Manaus. As precipitações em Leticia dependem, sem dúvida, do funcionamento das florestas que ficam a leste da região, assim como Bogotá, que, estando a 2546 metros de altitude, tem clima influenciado pela Amazônia. Isso significa essencialmente que os páramos, como os do Parque Nacional de Chingaza (Colômbia), para receber chuva dependem que a extensão contínua de florestas tropicais úmidas seja de milhares de quilômetros para leste. É claro também que as florestas da cordilheira leste na Colômbia desempenham um papel importante na condensação da água restante nos ventos de leste à medida que passam pela Zona de Convergência Intertropical, que é a região onde os ventos alísios dos dois hemisférios se encontram e formam o que é conhecido como Célula de Walker.

Os meteorologistas desenvolveram modelos climáticos, tanto de circulação geral quanto de meso-escala (esses últimos permitindo uma resolução muito maior de regiões específicas), para explicar a relação entre as florestas úmidas da bacia amazônica e o ciclo hidrológico com o propósito de prever como as chuvas em toda a América do Sul podem ser afetadas pelo aquecimento global e pelo desmatamento. Todos os modelos indicam uma redução no volume de chuvas no oeste da bacia, talvez em cerca de 20%. Sobre isso, David Medvigy, Robert L. Walko e Roni Avissar desenvolveram um modelo de meso-escala associado a um modelo de circulação geral que prevê, causando certa surpresa, um impacto relativamente pequeno do desmatamento sobre a precipitação total. Entretanto, como relatado em seu artigo Effects of Deforestation on Spatiotemporal Distributions of Precipitation in South America (publicado na American Meteorological Society, 15 de abril, p. 2147-2165 ), eles identificaram um maior impacto na região oeste da bacia amazônica, mais precisamente na Amazônia colombiana.

Eles estão certos? Seus modelos estão levando em consideração todos os fatores relevantes? Não é o que pensam a física teórica russa Anastassia Makarieva e seu colega e amigo ativista Victor Gorshkov (ambos do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo). Eles indicam que o processo de evapotranspiração da floresta, seguido da condensação a cerca de 2,5 quilômetros acima do nível do mar, gera uma pressão que efetivamente empurra o ar verticalmente para cima, que é, então, substituído pelo ar que

se desloca no plano horizontal que, se vier do oceano, trará uma grande quantidade de vapor d’água.

Em uma série de artigos científicos, Makarieva e Gorshkov descreveram as propriedades físicas desse sistema, nomeado de bomba biótica, que, como o nome indica, sugere uma associação com a floresta. Eles calcularam que a pressão acima das copas das árvores, de cerca de 9 milibares por quilômetro , é suficiente para atrair os ventos alísios. Ao contrário, sem a floresta, a taxa de evapotranspiração seria reduzida exponencialmente em mais de 50%, ponto em que a “força evaporativa” sobre o Atlântico tropical seria maior do que a força da bomba biótica e, assim, tenderia a deslocar os ventos horizontalmente da terra para o oceano, como acontece no Saara, em direção ao Atlântico. A especialista em fisiologia vegetal Sharon Cowling desenvolveu um modelo para avaliar o impacto do desmatamento no ciclo hidrológico que indica que uma mudança no índice de área foliar, passando de uma cobertura com 80% de folhas largas (que é o caso de florestas com copas densas) para cerca de 50% de cobertura de florestas levará a uma redução na evapotranspiração de 3,5 mm/dia (média anual) para cerca de 1,7 mm/dia.

Evidências de que a tese dos russos sobre a força biótica derivada da condensação do vapor d’água pode estar correta vêm de sua análise das bacias continentais dos rios e de como

o grau de cobertura verde se encaixa com os padrões de precipitação. Em regiões em que há florestas contínuas cobrindo uma área significativa de uma bacia, como ainda se pode encontrar nas bacias dos rios Amazonas e Congo, bem como na bacia do rio Ienissei da Sibéria, a precipitação permanece alta, independentemente da distância da foz do rio. Por outro lado, em regiões onde a bacia do rio envolve grandes áreas sem floresta, a precipitação reduz exponencialmente com a distância da foz do rio. Tomando por base as leis da física, Makarieva e Gorshkov mostram que, se a bacia amazônica fosse desmatada, então, a precipitação em Manaus seria de apenas 13% do volume atual e, em Leticia, a cerca de 2.500 quilômetros de distância do litoral do Atlântico, seria de apenas 0,006 do volume atual – um volume tão pequeno quanto o que cai anualmente no Deserto de Negev, em Israel.

Estudos que fiz com radiossondagem em diferentes locais pelos quais passam os ventos alísios vindos de ambos os hemisférios (que vêm do Oceano Atlântico, chegando à bacia amazônica e indo depois diretamente na direção de Bogotá) indicam que existe um gradiente de pressão parcial de vapor d’água. Além disso, esse gradiente é suficiente para explicar o deslocamento dos ventos do Oceano Atlântico para a bacia amazônica, onde os ventos dos dois hemisférios convergem para formar uma corrente de ar mais ou menos uniforme em direção aos Andes,

“A força da pressão parcial (hPa/km) medida em diferentes localidades durante maio de 2011. Há um gradiente entre o Deserto do Saara, as Ilhas Canárias e a Bacia Amazônica”

Page 10: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 10

que ficam a cerca de 3000 quilômetros. A velocidade dos ventos de leste pela bacia amazônica chega, em média, a pouco mais de 1 metro por segundo, o que sugere que a corrente de ar leva cerca de um mês para chegar à cabeceira da bacia amazônica.

Também fiz pesquisas sobre dados meteorológicos das florestas tropicais da Costa Rica e tenho um trabalho em processo que mostra uma correlação significativa entre as variações mensuráveis da pressão parcial de vapor d’água durante o dia (em hPa/km ) e os picos/vales na curva sinusoidal de pressão barométrica diurna. Além disso, descobri uma provável relação entre as mudanças locais na velocidade de superfície do vento e as variações na pressão parcial de vapor d’água. O desafio é mostrar que os altos e baixos diurnos da pressão parcial de vapor d’água podem ser relacionados à abertura e fechamento dos estômatos, em resposta à insolação e à temperatura na superfície.

Se minha análise puder ser confirmada por outras pesquisas e experimentos, isso significa que a tese de Anastassia Makarieva e Victor Gorshkov, de que a evaporação e a condensação na média troposfera desencadeiam a circulação do ar em superfície, pode estar correta. Essa tese não apenas explica por que devemos manter as florestas em pé nas regiões tropicais e boreais do planeta, mas também explica como os furacões e tornados se formam.

De fato, conforme a teoria da bomba biótica, as vastas florestas de copas densas sutilmente sugam o ar horizontalmente, assim diminuindo a energia disponível para atividade ciclônica em áreas tropicais tais como o Caribe. Grandes áreas desmatadas em todo o Golfo do México, em Yucatán e Chiapas, por exemplo, podem, portanto, estar tendo impacto no aumento da força e da frequência das principais tempestades e furacões tropicais na região.

Em resumo, a evolução das florestas de copas densas, e, nesse sentido, as de angiospermas, pode bem ter sido um fator determinante para garantir a umidade no interior dos continentes. A evolução teria transformado a paisagem em todas as suas dimensões físicas e químicas, bem como seu clima, gerando estados de equilíbrio dinâmico. A bacia amazônica, sendo a maior e mais concentrada bomba biótica do planeta, deve ser vista não como o pulmão do mundo, mas como o seu coração, tanto por seu papel no transporte de energia na forma de calor latente e pelo transporte de quantidades extraordinárias de vapor

d’água, incluindo as teleconexões com o meio-oeste dos Estados Unidos e, não menos importante, com a corrente de jato na baixa atmosfera sobre a América do Sul, que provê à bacia do Rio da Prata até metade de seu volume de água e mantém a viabilidade de sua agricultura de larga escala.

Devemos lembrar que Gaia está em constante construção e que o efeito de todos os diferentes ecossistemas naturais é transformar a geologia e o clima de modo a tornar as condições de vida mais equilibradas. Com as nossas atividades, estamos agindo como a Sexta Extinção e, com as nossas tentativas de simplificar nosso meio ambiente, nos tornamos uma força anti-evolucionária, indo contra o processo que deu origem à extraordinária biodiversidade e ao funcionamento integrado das grandes florestas continentais do mundo.

Peter Bunyard é biólogo. editor científico e fundador da revista The Ecologist. Referências bibliográficas:Betts, R, Sanderson, M. y Woodward, S. 2008. Effects of large-scale Amazon forest degradation on climate and air quality through fluxes of carbon dioxide, water, energy, mineral dust and isoprene. Phil. Trans. R. Soc., Vol. B. 363, págs. 1873-80.Betts, Richard A, y otros. 2002. .Amazonian forest die-back in the Hadley Centre coupled climate-vegetation model. UK Met Office, Hadley Centre.Cox, Peter M, y otros. 2000. Acceleration of global-warming due to carbon-cycle feedbacks in a coupled climate model. , London 9 November, Nature, Letters, pág. 408.Makarieva, A. M, Gorshkov, V. G y B-L, Li. 2009. Precipitation on land versus distance from the ocean. Ecological complexity, Vol. 6, págs. 302–7.Stern, Nicholas. 2007. The Economics of Climate Change. UK Government. London : [email protected], James. 2009. Copenhagen climate talks must collapse. December http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2009/12/outspoken-us-climate-scientist.html.Fearnside, Philip. M. 2000. Global warming and tropical land-use change: greenhouse gas emissions from biomass burning, decomposition and soils in forest conversion, shifting cultivation and secondary vegetation. Climatic Change, Vol. 46, págs. 115-158.Grace, John. 1996. Forests and the Global Carbon Cycle. S.It.E. Atti, Vol. 17, págs. 7 - 11.Salati, E. 1987. The Forest and the Hydrological Cycle. . [aut. libro] R. E. Dickinson. The Geophysiology of Amazonia . New York : Wiley Interscience.Betts, Richard A. 1999. Self-beneficial effects of vegetation on climate in an Ocean-Atmosphere General Circulation Model. Geophysical Research Letters, Vol. 26, No. 10, Pages 1457-1460, May 15. Haffer, J. 1969. Speciation in Amazonian forest birds. Science, Vol. 165, págs. 131-137.Colinvaux, Paul A. Amazon expeditions: my quest for the ice-age equator. Yale University Press, 2007. ISBN: 0-300-11544-X.Kleidon, Axel. 2004. Amazonian Biogeography as a Test for Gaia. [aut. libro] James Miller, Eileen Crist and Penelope Boston Stephen Schneider. Scientists Debate Gaia. Boston : MIT Press, págs. 291-296.Russell, James R. Miller and Gary L. 2004. Modeling Feedbacks between Water and Vegetation. [aut. libro] Stephen Schneider et al. Scienists debate Gaia. Boston : MIT Press, págs. 297-305.Germán Poveda, Diana M. Álvarez y Óscar A. Rueda. 2010. Hydro-climatic variability over the Andes of Colombia associated with ENSO: a review of climatic processes and their impact on one of the Earth’s most important biodiversity hotspots. October, Climate Dynamics.Salati, Eneas y Vose, P. B. 1984. Amazon Basin: A System in Equilibrium. Science. 13 July, Vol. 225, 4658.Marengo, J.A. 2004. Interdecadal and long term rainfall variability in the Amazon basin. Theoretical and Applied Climatology, Vol. 78, págs. 78-96.Werth, D y Avissar, R. The Regional Evapotranspiration of the Amazon. Journal of Hydrometeorology. 2003, Vol. 5, págs. 100-9.Medvigy, D., Walko, R. L. y Avissar, R. Effects of Deforestation on Spatiotemporal Distributions of Precipitation in South America. American Meteorological Society, April 15, p. 2147-2165.Lettau, H., Lettau, K. y B., Molion. C. 1974. Amazonia’s hydrological cycle and the role of atmospheric recycling in assessing deforestation effects. Monthly Weather Review. March, Vol. 107, 3.Salazar, Juan Fernando y Poveda, Germán. 2008. Role of a Simplified Hydrological Cycle and Clouds in Regulating the Climate-Biota System of Daisyworld. Tellus. 20 February.Poveda, Germán, Bunyard, Peter y Nobre, Carlos A. 2008. Sobre la necesidad de un programa de investigación para el sistema Andes-Amazonia. [ed.] Ernesto Guhl Nannetti. Revista Colombia Amazónica. Diciembre, Vol. 1, págs. 129 - 142.Henderson-Sellers, A y McGuffie, K. 2002. Stable isotopes as validation tools for global climate model predictions of the impact of Amazonian deforestation. Journal of Climate. September, Vol. 15, 18, págs. 2664 - 2677.Molion, Luis Carlos. 1984. Impact of Deforestation on Amazonia. The Ecologist. September.Hutyra, L. R, y otros. 2005. Climatic variability and vegetation vulnerability in Amazonia. Geophysical Research Letters., Vol. 32.Marengo, J.A. et al. 2008. Hydro-climatic and ecological behaviour of the drought of Amazonia in 2005. Phil. Trans. R. Soc. B., Vol. 363.Cowling, S. A., Shin, Y., Pinto, E. & Jones, C. D. 2008. Water recycling

by Amazonian vegetation: coupled versus uncoupled vegetation-climate interactions. Proceedings of the Transactions of the Royal Society B, Vol. 363, págs. 1865-1871.Makarieva, A.M y Gorshkov, V.G. 2006. Biotic pump of atmospheric moisture as driver of the hydrological cycle on land. Hydrol. Earth Sys. Sci. Discuss, Vol. 3, págs. 2621 - 2673.Makarieva, A. M. y Gorshkov, V. G. 2009. Reply to A. G. C. A. Meesters et al.’s comment on “Biotic pump of atmospheric moisture as driver of the hydrological cycle on land”. Hydrol. Earth Syst. Sci., Vol. 13, págs. 1307 – 11.Fearnside, Philip. M. 2000. Global warming and tropical land-use change: greenhouse gas emissions from biomass burning, decomposition and soils in forest conversion, shifting cultivation and secondary vegetation. Climatic Change, Vol. 46, págs. 115 - 158.Cochrane, Mark A., y otros. 1999. Positive Feedbacks in the Fire Dynamic of Closed Canopy Tropical Forests. 11 June, Science, Vol. 284, págs. 1832 - 1835.Makarieva, Anastassia, Gorshkov, Victor y Li, Bai-Lian. 2006. Conservation of water cycle on land via restoration of closed-canopy forests: implications for regional landscape planning. Ecol. Res., Vol. 21, págs. 897 - 906.Negrón, Juárez R. I., y otros. 2008. An empirical approach to retrieving monthly evapotranspiration over Amazonia. International Journal of Remote Sensing, Vol. 29, págs. 7045 – 7063.Makarieva, A. y Gorshkov, V. 2009. Condensation-induced kinematics and dynamics of cyclones, hurricanes and tornadoes. Physics Letters A, Vol. 373, págs. 4201 - 4205.Makarieva, A. y Gorshkov, V. 2009. Condensation-induced dynamic gas fluxes in a mixture of condensable and non-condensable gases. Physics Letters A, págs. 2801- 2804.Makarieva, AM, Gorshkov, VG y B-L, Li. 2006. Conservation of water cycle on land via restoration of closed-canopy forests: implications for regional landscape planning. Ecol. Res., Vol. 21, págs. 897 - 906.Gat, J.R. y Matsui, E. 1991. Atmospheric water balance in the amazon basin : an isotopic evapotranspiration model. J. Geophys. Res., Vol. 96, págs. 13179 - 13188.

Page 11: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 11

Pesquisa do Datafolha divulgada em junho 2011, mostra que a proteção das florestas é sim levada em consideração pela população. O levantamento mostra que dos 1286 entrevistados, 62% acompanharam a votação da nova versão do Código Florestal, que foi aprovada em maio pelo plenário da Câmara e agora aguarda votação no Senado.

Mesmo os que não acompanharam a votação tinham opinião formada sobre o tema: priorizar a proteção de florestas e rios, ainda que isso prejudique a agricultura foi a alternativa escolhida por 85% dos entrevistados. “Primeiro foram os ambientalistas que disseram que o Código Florestal era uma tragédia. Depois a ciência foi contra a mudança, seguida pela OAB e pela CNBB. Agora é a própria população que rejeita o texto dos ruralistas”, afirma Márcio Astrini, responsável pela campanha de Floresta do Greenpeace Brasil.

Com abrangência nacional, a pesquisa realizada entre 3 e 7 de

Povo BrasilEiro diz nÃo à dEsProtEçÃo das florEstas

junho surpreendeu ao revelar o resultado equilibrado entre moradores da cidade e do campo. Não houve diferenças significativas nas respostas dadas por entrevistados da zona rural e de áreas urbanas. “A proposta dos ruralistas não resolve o problema da agricultura. Na verdade o texto foi feito para beneficiar quem lucra com o desmatamento e não quem produz alimentos. Cabe agora aos senadores e à presidenta Dilma abrirem os olhos e optarem pelo que é melhor para a população”, diz.

A enquete também concluiu que o projeto do deputado Aldo Rebelo que criou tanta polêmica não é consenso entre os entrevistados. Pelo contrário. Pelo menos 77% dos brasileiros discordam da proposta e se dizem a favor do adiamento do debate para que cientistas sejam consultados.

Mais uma derrota dos ruralistas diante da opinião pública foi em relação à anistia a desmatadores. A proposta defendida pelo projeto da nova versão do Código é aprovada

por menos de 5% das pessoas ouvidas pela pesquisa; outros 95% não aceitam manter as ocupações em Área de Preservação Permanente.

Os resultados mostram que a pressão pela proteção das florestas não é sobre o Legislativo. Quase 80% dos entrevistados aprovam o eventual veto da presidenta, caso o Senado valide a proposta aprovada pelo plenário da Câmara. Para a população a proposta do novo Código influenciaria também os resultados das urnas, já que 84% das pessoas consultadas afirmaram que não votariam em deputados e senadores que tenham votado a favor do perdão de desmatamento ilegal. “A população foi bem clara em dizer que não vai eleger quem vota pelo desmatamento do Brasil. E o Greenpeace vai continuar denunciando todos os dias quem votou pela desproteção das florestas”, diz Astrini.

Fonte: site do Greenpeace www.greenpeace.org /bras i l /p t /Not ic ias /Brasileiro-diz-nao-a-desprotecao-das-florestas/

Enquete revela que 79% dos entrevistados rejeitam diminuição de proteção das matas.

por Rodrigo Baleia / Greenpeace

Page 12: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 12

por Rogério Rammê

a Justiça na Era do HiPErConsuMo

A sociedade contemporânea baseia-se em um modelo de desenvolvimento econômico que prima pela exploração dos recursos naturais. Tal modelo de desenvolvimento tem se mostrado gerador de comportamentos humanos predatórios, descompromissados com o futuro e criadores de situações de risco. Os recursos naturais, base da exploração econômica atual, são utilizados do modo irracional, sem prudência e sem consideração de seu valor intrínseco.

O estilo de vida e a organização social que emergiu na Europa a partir do século XVII e que se difundiu em termos mundiais, traduzem o conceito de modernidade. Na modernidade, o ritmo das mudanças sociais passou a ser extremo. Contudo, como

bem ressalta Anthony Giddens, ao mesmo tempo em que as instituições sociais modernas oportunizaram que populações humanas desfrutassem de uma vida com maior conforto, também geraram muitos efeitos indesejáveis, tais como: submissão dos homens à disciplina de um trabalho maçante e repetitivo; potencial destrutivo de larga escala em relação ao meio ambiente; uso arbitrário do poder político (totalitarismos); e a industrialização da guerra. Em outras palavras: um mundo carregado e perigoso.

Recentemente, discute-se estar a humanidade rumando para um período pós-moderno, ou seja, saindo de um modelo de organização social moderno, rumo a um novo e diferente modelo de ordem social.

Embora seja discutível a idéia do estabelecimento definitivo de um modelo de organização social pós-moderno, sobretudo se considerado o fato de que boa parte da humanidade ainda vive alijada e excluída dos avanços da modernidade, pode-se afirmar, com certeza, que a crise ecológica contemporânea reflete o esgotamento dos valores da modernidade; o esgotamento do modelo de desenvolvimento econômico da modernidade; e, sobretudo, expõe a necessidade do surgimento de um novo modelo de organização social, ou como sustenta David Lyon, “um novo estágio do capitalismo”.

Tal constatação se torna evidente quando analisada a evolução histórica do capitalismo de consumo, surgido a

Page 13: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 13

partir da modernidade.Obviamente que o fenômeno

do consumo não surgiu com o capitalismo. Sua origem, como bem destaca Zygmunt Bauman, tem raízes tão antigas que remontam à própria existência dos seres humanos. Ademais, cada período específico da história da humanidade apresenta padrões típicos de consumo, os quais sofrem modificações na medida em que é alterado o contexto econômico-social. Novos padrões ou modalidades de consumo, sempre se apresentam como versões levemente modificadas das versões anteriores, sendo, portanto, a continuidade a regra principal.

Nesse contexto, objetiva-se, de início, analisar o fenômeno do capitalismo de consumo ou como define Bauman o fenômeno da “revolução consumista”, período no qual o consumo atinge níveis nunca antes imaginados na história da humanidade, a ponto de ser confundido como “o verdadeiro propósito da existência humana”. Na sequência, procurar-se-á analisar quais as consequências socioambientais do atual estágio do capitalismo de consumo, sobretudo no tocante à distribuição social dos ônus ambientais advindos da lógica econômica reinante. Por fim, a análise volta-se para o papel do Direito na reconstrução ética de um Estado capaz de regular os desequilíbrios e injustiças socioambientais numa era comandada pela lógica do mercado de consumo.

A Sociedade de HiperconsumoGilles Lipovestky sustenta a

existência de três eras do capitalismo de consumo. A primeira iniciada por volta dos anos 1880 e encerrada com a Segunda Guerra Mundial. Nesta fase, os pequenos mercados locais são substituídos por grandes mercados nacionais, também chamados de mercados de massa. Tal fenômeno decorreu da modificação havida nas infra-estruturas de transporte, comunicação, bem como no maquinário industrial utilizado pelos sistemas de produção. Como consequência, houve um aumento brusco em termos de regularidade, volume e velocidade dos transportes, tanto de matéria prima para as fábricas, quanto das mercadorias para as grandes cidades. O escoamento maciço da produção se tornou viável, acompanhado que foi pelo crescente aumento da produção em razão do surgimento de máquinas de produção contínua. Iniciava-se aí a primeira era do capitalismo de consumo de massa.

Lipovstsky destaca que nesta primeira fase do capitalismo de consumo a produção em larga escala, acompanhada do surgimento do consumo de massa, pôs em marcha um processo de “democratização do desejo”. Os mercados de massa e os grandes magazines revolucionaram a relação das pessoas com o consumo, passando a estimular, com o auxílio de técnicas de marketing, a necessidade e o desejo de consumir, a desculpabilização do ato de compra e o gosto pelas novidades. O consumo, ao final desta primeira fase, passou a ser sinônimo de felicidade moderna.

Outro traço característico dessa primeira fase do capitalismo de consumo, segundo Bauman, é o desejo de segurança. Toda produção objetivava suprir o desejo humano de um ambiente confiável, ordenado, duradouro, resistente ao tempo e seguro. O consumo ostensivo dessa fase era distinto do atual, porquanto, ao fim e ao cabo, o que se pretendia era ostentar publicamente riqueza e status social. Tal sentimento refletia na produção de produtos mais duráveis, sólidos e resistentes. Segundo Bauman, os produtos “eram tão duradouros quanto se desejava e esperava fosse a posição social, herdada ou adquirida, que representavam.”

A segunda era do capitalismo de consumo é descrita por Lipovestky como a era do surgimento da “sociedade de consumo de massa”, consolidada ao longo das três décadas do pós-guerra. Se na primeira fase ocorreu o fenômeno da democratização e da sedução pela aquisição de produtos duráveis, a fase seguinte colocou-os à disposição de todos, ou de quase todos, em decorrência do excepcional crescimento econômico, elevação do nível de produtividade de trabalho e pela extensão da regulação fordista da economia, que multiplicou por três ou quatro o poder de compra dos salários à época.

Nessa fase, a abundância é um traço característico. Lipovestki destaca que essa fase é marcada pela lógica da quantidade. É nessa fase também que começam a se esvair as antigas resistências culturais às frivolidades de uma vida mercantilizada. Os desejos passam a impregnar o imaginário dos indivíduos, nas mais diversas direções. A publicidade passa a entrar em cena com força total, conquistando a cada dia novos espaços cultivadores de desejos e sonhos de felicidade. Também é nessa fase que surgem as políticas de diversificação de produtos

e de redução do tempo de vida das mercadorias produzidas, gerando um aumento na geração de lixo, como decorrência do descarte de produtos menos duráveis.

Essa segunda etapa do capitalismo de consumo se encerra no final dos anos 1970, momento em que se inicia o terceiro ato do capitalismo de consumo das sociedades desenvolvidas. Entra em cena a era do hiperconsumo, definida por Lipovestky como aquela na qual os consumidores se tornam imprevisíveis e voláteis, movidos por motivações privadas que superam finalidades distintivas. Nessa fase, o consumo “ordena-se cada dia um pouco mais em função de fins, gostos e de critérios individuais”. Embora as satisfações sociais não desapareçam em sua totalidade, a busca pela felicidade privada é a motivação principal. A curiosidade torna-se uma paixão de massa, movida pelos apetites experimentais dos sujeitos. O hiperconsumidor não anseia mais em ostentar um signo exterior de riqueza e sucesso, mas sim revelar-se como indivíduo singular por meio dos bens que consome.

Segundo Lipovestky, a era do hiperconsumo revela uma nova relação emocional dos indivíduos com as mercadorias. Nas palavras do pensador francês, na fase do hiperconsumo o ato de consumir

[...] não pode ser considerado exclusivamente como uma manifestação indireta do desejo ou como um derivativo: se ele é uma forma de consolo, funciona também como um agente de experiências emocionais que valem por si mesmas.

Nessa fase, experiências e sensações é que são vendidas ao hiperconsumidor. Mudar de ares, rejuvenescer, renovar prazeres, andar na moda, renovar experiências sensitivas, estéticas, sexuais, comunicacionais e lúdicas, não se deixar dominar pela rotina e pelo comum dos dias, aproveitar a vida e o conforto das novidades mercantis, enfim, gozar da felicidade “aqui e agora”, alimentado pelo sonho de uma juventude eterna é o que comanda as práticas do hiperconsumidor.

A sociedade de hiperconsumo põe em curso um processo de consumo contínuo de fluxo estendido, ininterrupto. Tudo é potencializado nessa fase: a produção, a publicidade, os sonhos, as sensações, os desejos, bem como o descarte, o desapego, o lixo e a poluição.

A cultura do hiperconsumo atinge até mesmo classes periféricas e

Page 14: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 14

empobrecidas. Segundo Bauman, atualmente os pobres gastam o pouco dinheiro que possuem com objetos de consumo que não atendem diretamente suas necessidades básicas, tão somente com o intuito de evitar uma ainda maior humilhação social. Isso porque na era do hiperconsumidor, todos aqueles que não dispõem de condições de se inserirem no mercado de consumo passam a ser considerados como fracassados, como subclasse, excluídos sociais enquadrados nas estatísticas como “pessoas abaixo da linha de pobreza”.

Portanto, nesta fase, o mercado de bens de consumo passa a ser soberano, já que influencia diretamente o contexto social por meio do poder da exclusão. Em contrapartida, o poder político que deveria reagir a isso vê gradativamente seu poder de agir e “apitar as regras do jogo”, fluir cada vez mais em direção do mercado. Quais as consequências disso no cenário socioambiental? Desvendá-las é o objetivo que o presente estudo se propõe a seguir.

Injustiça Ambiental: a face oculta do hiperconsumo

Henri Acselrad, Cecilia Campello do Amaral Mello e Gustavo das Neves Bezerra, em recente obra, abordam um fato real ocorrido há menos de duas décadas, que ilustra bem a face

oculta da sociedade de hiperconsumo na qual o mecado detém o poder soberano da exlusão social. Em 1991, um memorando de circulação restrita aos quadros do Banco Mundial, que ficou conhecido por Memorando Summers, teve seu conteúdo divulgado externamente, causando constrangimento e uma repercussão deveras negativa para a instituição. No referido memorando, Lawrence Summers, economista chefe do Banco Mundial à época, apontou três razões para que os países pobres fossem o destino dos pólos industriais de maior impacto ao meio ambiente. A primeira delas: o meio ambiente seria uma preocupação “estética”, típica dos países ricos; a segunda: os indivíduos mais pobres, na maioria das vezes, não vivem tempo suficiente para sofrer os efeitos da poluição ambiental; e a terceira: pela lógica econômica de mercado, as mortes em países pobres têm um custo mais baixo do que nos países ricos, pois seus moradores recebem menores salários.

Tais fatos caracterizam cenários de injustiça ambiental, aqui considerada como a ausência de equidade na distribuição das externalidades negativas decorrentes do processo produtivo que abastece a sociedade de hiperconsumo. As populações mais vulneráveis, que menos se beneficiam dos frutos do modelo desenvolvimentista moderno, menos

consomem e menos geram lixo, são as que mais diretamente suportam as externalidades negativas do processo produtivo. A lógica econômica dominante ignora por completo a ideia de equidade na repartição de tais externalidades: aquilo que Vandana Shiva denomina de apartheid ambiental global.

Na era do hiperconsumo e da soberania do mercado, o sonho da felicidade materializado no ato de consumo acarreta a cada dia mais exclusão social. Eis a face oculta do hiperconsumo. Para atender o frenesi consumista do hiperconsumidor é preciso imprimir um ritmo cada vez mais frenético de produção; esse ritmo de hiperprodução atinge o meio ambiente, fonte de recursos e matéria prima, gerando cenários de degradação ambiental decorrentes de resíduos industriais, contaminação tóxica, lixo em larga escala, poluição do ar e das águas; contudo, como as regras do jogo são apitadas pelo mercado, a lógica do lucro ilimitado deixa de lado qualquer princípio ético de justiça social, trazendo como corolário uma distribuição desigual entre classes sociais dos riscos decorrentes desses cenários de degradação.

O conceito de injustiça ambiental conduz à percepção de que a desigualdade social acaba expondo a sociedade também de forma desigual aos riscos da poluição e degradação ambiental. Em outras palavras: a

Page 15: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 15

vulnerabilidade social, econômica e política das camadas menos favorecidas da população faz com que sobre elas recaiam, diretamente, os riscos e conseqüências do modelo econômico de desenvolvimento reinante na era do hiperconsumo.

Conclui-se, pois, que de fato, como bem destaca Lipovestky, a felicidade proporcionada pelo do hiperconsumo é paradoxal. Trata-se de uma felicidade ilusória, momentânea e egoísta, porquanto desprovida de princípios éticos de justiça social. Talvez por isso a felicidade proporcionada pelo hiperconsumo não consiga superar, mesmo àqueles que integram as classes sociais mais abastadas, as frustrações decorrentes de uma existência puramente individualista.

O Movimento por Justiça Ambiental

Na era do hiperconsumo, como reação ao império soberano do mercado e à fragilidade do poder político, surge, fruto das lutas de movimentos sociais, uma nova corrente de pensamento ecológico, diferente das até então estabelecidas. Tal afirmação encontra sustentação teórica em pensadores sociais vinculados à economia ecológica, ecologia política, antropologia e sociologia ambiental, que identificam o surgimento do pensamento ecológico intitulado de ecologismo dos pobres ou movimento por justiça ambiental.

Tal corrente ecológica de pensamento assinala que o crescimento econômico implica maiores impactos ao meio-ambiente, destacando o deslocamento geográfico das fontes de recursos e das áreas de descarte dos resíduos. Portanto, o eixo principal dessa linha de pensamento não está relacionado a uma reverência sagrada à natureza, mas, sim, a um interesse pelo meio ambiente como fonte de condição para subsistência humana. Sua ética, como bem destaca Joan Martínez Alier, nasce de uma demanda por justiça social.

Segundo Ascelrad, o movimento por justiça ambiental identifica a ausência de uma efetiva regulação sobre os grandes agentes econômicos do risco ambiental, situação esta que possibilita a eles uma livre procura por comunidades carentes, vítimas preferenciais de suas atividades danosas. É possível identificar na obra de Ascelrad sobre justiça ambiental, pontos de contato direto com a teoria do risco global de Ulrich Beck. Assim como Beck, Ascelrad sustenta que os riscos

sociais e ambientais transferidos aos mais pobres vêm adquirindo um perfil cada vez mais globalizado, tal como a universalização das ameaças retratada por Beck na sua visão de sociedade de risco global. De igual modo, ambos compartilham a ideia de que as camadas mais vulneráveis da população são quem mais sofrem em face da injusta distribuição dos riscos.

Contudo, uma questão central separa os adeptos da teoria da sociedade de risco de Beck dos adeptos do movimento por justiça ambiental: enquanto a crítica de Beck é dirigida exclusivamente à racionalidade técnico-científica, o movimento por justiça ambiental direciona sua crítica ao poder institucional do capital, ou seja, à soberania do mercado no contexto das relações socioambientais. Enquanto Beck considera que o problema está no pensamento científico, o movimento por justiça ambiental concentra seu foco na prática das corporações que integram o mercado.

De igual modo o movimento por justiça ambiental se contrapõe à corrente de pensamento ligada à ideia da modernização ecológica, segundo a qual a ecologização do crescimento econômico é o objetivo a ser alcançado.

A modernização ecológica, como bem destaca o sociólogo Cristiano Lenzi, baseia-se na lógica da “substituição de tecnologias curativas por tecnologias preventivas”. Entretanto, tal lógica, por si só, não tem se mostrado eficiente, afinal desconsidera totalmente a relação existente entre degradação ambiental e injustiça social, esquecendo que o enfrentamento dos problemas ambientais deve não apenas primar por ganhos de eficiência de mercado, mas também por “ganhos de democratização”.

Nesse sentido, merece destaque a lição de Ascelrad:

[...] nem os defensores da modernização ecológica, nem os teóricos da Sociedade de Risco incorporam analiticamente a diversidade social na construção do risco e a presença de uma lógica política a orientar a distribuição desigual dos danos ambientais.

A expressão justiça ambiental, portanto, congrega um conjunto de princípios éticos que se destinam a influenciar uma nova racionalidade socioambiental no atual estágio do capitalismo de consumo. Selene Herculano define a expressão como uma “espacialização da

justiça distributiva”, porquanto se relaciona diretamente com uma proposta de justiça na distribuição do meio ambiente ecologicamente equilibrado a todos os seres humanos. Segundo Herculano, a justiça ambiental visa evitar, seja por questões étnicas, raciais ou de classe, que as populações humanas vulneráveis “suportem uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas de operações econômicas, de políticas e programas federais, estaduais ou locais, bem como resultantes da ausência ou omissão de tais políticas.”

O movimento por justiça ambiental surgiu nos Estados Unidos da América, em meados de 1980, como fruto da articulação de movimentos sociais de defesa dos direitos de populações pobres e de etnias discriminadas e vulnerabilizadas, expostas a riscos de contaminação tóxica por habitarem regiões próximas aos grandes depósitos de lixo tóxico e radioativo ou às grandes indústrias com efluentes químicos. Nasceu, pois, originalmente atrelado às lutas contra o que se intitulou de racismo ambiental, expressão cunhada em virtude da constatação de uma pesquisa realizada por Robert. D. Bullard no ano de 1987, a pedido da Comissão de Justiça Racial da United Church of Christ, que demonstrou que o componente racial era fator determinante nas políticas de distribuição espacialmente desigual da poluição e degradação ambiental.

Atualmente, o movimento por justiça ambiental avançou, focando não apenas no racismo a questão da desigualdade ambiental, mas, sobretudo, na questão de classes, incorporando em seu discurso expressões como desigualdade social e exclusão social.

Tecido esse breve panorama, chega-se a conclusão de que o movimento por justiça ambiental se apresenta como uma proposta de retomada de princípios de justiça social e de equidade ambiental na era do hiperconsumo. É uma nova racionalidade que está sendo proposta, que por certo encontrará resistência, já que não se coaduna com a lógica do poder soberano dos mercados de hiperconsumo. Por conseguinte, indaga-se: como romper com a soberania do mercado para alcançar a sonhada justiça ambiental no atual estágio do capitalismo de consumo? Encontrar uma resposta a tal questão é o objetivo que o presente estudo se propõe a seguir.

Efetivar a Justiça Ambiental na

Page 16: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 16

Sociedade de Hiperconsumo A soberania do mercado de bens

de consumo, no atual estágio do capitalismo, não encontra no poder político uma ameaça, porquanto a mesma lógica neoliberal que domina a perspectiva econômico-financeira do mercado, também conduz o poder político. Hodiernamente, tanto o poder político quanto o mercado se utilizam do discurso do desenvolvimento sustentável como modelo político ideal a ser alcançado. Entretanto, ao se curvar à soberania do mercado o poder político permite que a dimensão socioambiental presente na concepção original do conceito de desenvolvimento sustentável seja renegada a um plano inferior.

Em sua essência o conceito de desenvolvimento sustentável, cunhado no ano de 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas no Relatório Brundtland, contempla a moderna concepção de justiça ambiental. Referido documento, intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), ao conceituar desenvolvimento sustentável conjuga desenvolvimento, proteção ambiental e justiça social, esta última compreendida como satisfação das necessidades humanas básicas.

O conceito de desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: o conceito de necessidades, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender as necessidades presentes e futuras.

Percebe-se que o núcleo essencial do conceito de desenvolvimento sustentável, possui ligação umbilical com a concepção de justiça ambiental. Percebe-se também que as crescentes injustiças ambientais da era do capitalismo de hiperconsumo demonstram que o poder político efetivamente não tem se mostrado capaz de romper com a soberania do mercado, porquanto envolvido pela mesma perspectiva neoliberal deste. Daí a pergunta: a quem então caberia a missão de resgatar a essência do conceito de desenvolvimento sustentável e dar efetividade no cenário social ao princípio ético da justiça ambiental?

A tese que aqui se advoga é que essa missão cabe ao direito. Mas a um novo direito, socioambiental.

O direito socioambiental é a semente da transformação do cenário social. Embora tal afirmação possa ser contestada por aqueles que entendam que o direito por si só não tem se mostrado capaz de romper com a soberania do mercado e enfrentar as crescentes injustiças socioambientais, não podem ser olvidados os inúmeros exemplos, existentes ao longo da história da humanidade, nos quais as lutas e movimentos sociais de libertação e rompimento com o status quo deram origem ao surgimento de novos direitos que, inegavelmente, transformaram as relações sociais. A evolução histórica dos direitos fundamentais é o melhor exemplo.

Na era do hiperconsumo, constata-se o gradual surgimento de um novo direito, socioambiental, muito influenciado pelo discurso do movimento por justiça ambiental, que teve a perspicácia de ressaltar uma verdade aparentemente esquecida: não há como separar o ambiental do social, tampouco pensar em proteção ambiental efetiva enquanto não existir justiça social.

O direito socioambiental propõe uma nova forma de interpretar o direito fundamental ao ambiente equilibrado. Não se trata, portanto, do surgimento de uma nova geração dos direitos fundamentais, mas sim de uma releitura ou reiterpretação necessária de um direito fundamental já consagrado, com o intuito de extrair sua máxima potencialidade. Ainda, o direito socioambiental possibilita uma visão mais abrangente da complexidade que cerca as relações sociais, econômicas e ambientais da atualidade. Rompe, portanto, com a lógica do direito ambiental estanque, narcisista, voltado para si, desenraizado da prática social dos sujeitos.

Com efeito, a partir da constatação de que o social e o ambiental caminham juntos, e que a soberania do mercado na era do hiperconsumo é fonte de discriminação ambiental, notadamente aos pobres, um novo direito, socioambiental, surge com potencial transformador.

O papel transformador do direito socioambiental reside justamente na sua potencialidade de edificar uma nova concepção de Estado de direito. Nessa nova concepção, como bem destaca José Rubens Morato Leite, a democracia ambiental contempla o pressuposto básico da proibição de discriminação ambiental.

O exercício efetivo do direito

socioambiental pelos operadores do direito e seu reconhecimento pelos Tribunais, restabelecendo a justiça e a equidade ambiental, mesmo que em casos pontuais, colocará em marcha o surgimento desse novo modelo de Estado de direito. Modelo este, como apregoa José Joaquim Gomes Canotilho, que transporte “nos seus vasos normativos a seiva da justiça ambiental”.

O direito socioambiental é, portanto, a principal ferramenta que a sociedade detém para enfrentar o poder soberano do mercado na era do hiperconsumo. Obviamente que existem fortes aliados nessa batalha, tais como a sociologia ambiental, a educação ambiental, a economia ecológica e a ecologia política. Contudo, é o direito socioambiental quem efetivamente pode resgatar a esperança de um Estado de direito que não se curve ao mercado, que volte a “apitar as regras do jogo” e que não compactue com injustiças nas suas mais diversas formas. Um Estado de direito socialmente justo e democrático, movido por um ideário de desenvolvimento sustentável que contemple em igual proporção os aspectos econômico, social e ambiental. Um Estado de direito que tenha como imperativo ético a justiça ambiental e que possa, enfim ser adjetivado de Estado de Justiça Ambiental.

Considerações FinaisNo atual estágio do capitalismo de

hiperconsumo, a busca incessante pela felicidade material não pode retirar da humanidade a capacidade de reflexão. Nenhuma felicidade é completa quando conquistada à custa de sofrimento e injustiça social, ou mesmo à custa de intensa degradação ambiental. Não é necessário, tampouco viável, cogitar de um absoluto desapego material da humanidade, ou mesmo de uma desvinculação do ato de consumo da ideia de felicidade. Contudo, é possível e necessário sonhar com o fim da era de subserviência do poder político estatal à lógica econômica do mercado.

Embora os pessimistas exaltem que um dos maiores problemas do direito ambiental é sua falta de efetividade, é necessário reconhecer que o direito do ambiente precisa ser reinterpretado para se tornar, de fato, efetivo. À lógica econômica neoliberal interessa apenas um direito ambiental estanque, de visão estreita, preocupado somente em regular os limites toleráveis de poluição e degradação, bem como as medidas

Page 17: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 17

compensatórias a serem adotadas em casos pontuais. Esse direito ambiental estanque e narcisista não tem força nem legitimidade para enfrentar e romper com a soberania do mercado na era do hiperconsumo, até porque é facilmente manipulado e se deixa influenciar pela lógica econômica neoliberal.

O direito ambiental precisa transmutar-se em um direito socioambiental, que tenha como fio condutor o princípio ético da justiça ambiental. A junção estratégica da justiça social e da proteção ambiental deve, pois, contaminar os vasos normativos do direito ambiental. Dessa simbiose entre o social e o ambiental, um novo direito, socioambiental, assumirá o papel de protagonista na reconstrução do Estado de direito, conduzindo-o à dimensão de Estado de Justiça Ambiental. Daí sim se poderá sonhar com uma era na qual o consumo será sustentável, porquanto o próprio desenvolvimento também o será.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACSELRAD, Henri. Novas articulações em prol da justiça ambiental. Revista Democracia Viva, nº 27, Jun/Jul 2005.

ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecilia Campello do Amaral; BEZERRA, Gustavo das Neves. O que é Justiça Ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

ACSELRAD, Henri. Justiça Ambiental e Construção Social do Risco. In: XIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS, Ouro Preto-MG, 2002. Anais do XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Ouro Preto-MG: ABEP, 2002, 19 p.

ALIER, Joan Martínez. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. Tradução de Maurício Waldman. São Paulo: Contexto, 2007.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Jurisdicização da ecologia ou ecologização do direito. In: Revista do Direito Urbanismo e do Ambiente. Coimbra: Almedina, n. 4, dezembro 1995.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado de Direito. Cadernos Democráticos da Fundação Mário Soares. Lisboa: Gradiva, 1999.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

DERANI, Cristiani. Direito Ambiental Econômico. São Pauli: Max Limonad, 2008.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1991.

HERCULANO, Selene. Riscos e desigualdade social: a temática da Justiça Ambiental e sua construção no Brasil. In: I ENCONTRO DA ANPPAS, 2002, Indaiatuba/SP. Anais do I Encontro da ANPPAS. Indaiatuba: ANPPAS, 2002, 17 p.

LENZI, Cristiano Luis. Sociologia Ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, SP: Edusc, 2006.

LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de Risco e Estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (Orgs). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. Saraiva: 2008.

LIPOVESTKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia da Letras, 2010.

LYON, David. Pós-modernidade. Tradução de Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 1998.

SHIVA, Vandana. O Mundo no Limite, IN: HUTTON, Will; GIDDENS, Anthony (orgs). No Limite da Racionalidade: convivendo com o capitalismo global. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Page 18: The Ecologis 021

traBalHar EM Casa: ruMo a uMa nova soCiEdadE

sociedade industrial, bem como as mudanças ocorridas nas relações e na vida doméstica que se seguiram.

Na Idade Média, a vida de um artesão era intimamente relacionada com sua existência espiritual. O Mestre do qual era aprendiz tinha uma responsabilidade paternal e espiritual para com ele. O grupo a qual ele era membro tinha seus mistérios particulares.

No romance, Adam encontra paz com Dinah, pregadora metodista, uma seita que na época tentava restaurar um mundo estável sustentado pela religião nos vilarejos e cidades, um mundo destruído no curso da urbanização do século XVIII. A regra beneditina “ora e trabalha” foi substituída pelo trabalho paciente em um local de trabalho longe do domicílio, coisa que Marx também não apreciava.

Autonomia no TrabalhoMarx era sem dúvida um

materialista, mas mesmo ele reconhecia no trabalho uma importância moral na constituição do ser humano. Sua repulsa em relação ao sistema de trabalho capitalista provinha da determinação impiedosa de expropriar não somente o valor do trabalho de uma pessoa, mas também a autonomia de seu trabalho. Este processo aliena o homem de sua

natureza.

De um ponto de vista ecológico, podemos chegar até a dizer que através de nosso trabalho nós podemos nos encontrar completamente alienados do planeta do qual dependemos, o que se constitui num exemplo em grande escala de um acidente de trabalho. Uma abordagem holística do trabalho requereria que a gente pudesse exprimir nosso interior através do trabalho.

Dentro da economia capitalista, muitos de nós se sentem obrigados a vender seu tempo fazendo aquilo que não amam para ganhar dinheiro em algo “definido como trabalho”, em detrimento do tempo gasto em exprimir nossa natureza verdadeira, o tempo “livre” (a vida).

O trabalho e a vida não podem estar em equilíbrio se a pessoa estiver alienada pelo trabalho capitalista: uma economia ecológica requer um equilíbrio autêntico entre trabalho e vida, entre nossa natureza humana e a própria Natureza.

Molly Scott Cato é conferencista na Universidade de Wales (Inglaterra) Ela é escritora e já publicou cinco obras sobre a Economia Ecológica ou Economia Verde. Este artigo foi publicado na L´Écologiste número 32, edição francesa da The Ecologist no verão 2010.

Bate papo com o Eng° Agrônomo Jacques Saldanha falando sobre pesquisas que apontam o problema de

produtos da química sintética em nosso consumo diário, que feminiliza os homens e machos da cadeia animal. Esses estrogênios sintéticos interferem em vários mecanismos da vida humana causando problemas de fertilidade, obesidade,

entre outros.

Assista a esta entrevista alarmante, mas esclarecedora, na rádio de bem com a vida.

Sintonize via web.

http://www.radiodebemcomavida.com/

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 18

O desejo generalizado de encontrar um bom equilíbrio entre o “trabalho” e a “vida” é um sintoma da forma como nós vivemos, divididos entre o que dá sentido à vida e o que garante o ganha pão.

O trabalho e a vida não podem estar em equilíbrio se estiverem alienados um do outro. O período de férias, particularmente se for passado em alguma praia ou passeando por belas paisagens é uma bela oportunidade para refletir sobre as outras 48 semanas, quando inúmeros de nós passam enclausurados no local de trabalho.

Essa é uma situação que não fazia muito sentido nos tempos pré-industriais, quando o local de trabalho era no próprio domicílio ou nas terras que o circundava ou mesmo em alguma lojinha anexada à própria casa, onde toda a família se engajava no ganha-pão. Na sociedade europeia pré-industrial, o trabalho e a vida não se constituíam de duas categorias distintas. Antes da energia ser fornecida por combustíveis fósseis, a comunidade local dividia todo o trabalho requerido. O suprimento de feno era um bom exemplo disso, pois reforçava as conexões sociais fora do núcleo familiar.

Os romances de George Elliot são ricos em relatos de como a divisão do trabalho era feita na era pré-capitalista. Meu preferido é o romance Adam Bede, que conta a vida de um artesão cujos conflitos emocionais são contrabalançados por seu Mestre e uma grande habilidade em seu trabalho. Este herói, grande e resistente, passa por apuros com sua mãe ultra possessiva, com um irmão que vive sempre no mundo da lua e também com uma paixão amorosa com uma beldade local, a excêntrica Hetty Sorel.

George Eliot escreveu seus romances em parte para ilustrar as mudanças de valores ocorridas no mundo do trabalho na passagem de uma sociedade agrária para uma

por Molly Scott Cato

Page 19: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 19

Prezados amigos da The Ecologist,

Anunciamos o lançamento do site http://www.edwardgoldsmith.org

dedicado ao falecido Edward Goldsmith: o ambientalista, escritor e

fundador da revista The Ecologist.

Esse amplo website foi organizado para documentar a vida e o trabalho de Goldsmith

de modo útil e acessível, para divulgar comentários sobre esses temas e para promover

o permanente valor de sua visão.

Materiais novos pertinentes ao trabalho de Goldsmith vêm sendo periodicamente

acrescentados e você pode assinar o nosso informativo e/ou seguir as nossas atualização

pelo Twitter, pelo Facebook e pelo RSS.Navegue à vontade pelo nosso site.

Stephanie Roth The Ecologist - Reino Unido

Wangari Maathai, Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz e do Prêmio Right Livelihood, Wangari Maathai faleceu no Hospital Nairóbi em

26 de setembro de 2011, segundo sua família. A professora Maathai lutava há muito tempo contra um câncer.

Wangari Muta Maathai nasceu em 1º de abril de 1940. Ela iniciou o Movimento Cinturão Verde em 1977 trabalhando com mulheres para melhorar suas condições de vida mediante a ampliação do acesso a recursos como madeira para

cozinhar e água limpa. Maathai tornou-se uma grande defensora da melhoria da gestão de recursos naturais, da sustentabilidade, da igualdade e da justiça, um trabalho que a colocou em grande risco durante o governo do autoritário

presidente queniano Moi. Em 1984, ela recebeu o prêmio Right Livelihood “por transformar o debate ecológico no Quênia em uma ação em massa em prol do plantio de árvores”. Vinte anos depois, em 2004, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Ole Von Uexkull, diretor executivo do Prêmio Right Livelihood, disse: “A Família do Prêmio Right Livelihood perdeu um dos seus membros mais importantes. Wangari Maathai era uma inspiração para o mundo todo e para os demais

premiados. Ela sempre usou o poder de seu compromisso e de sua vasta experiência para dar força aos outros. Estamos em pensamento junto a sua família. Wangari continuará viva na memória de seus colegas… e nos milhares de

árvores que ela ajudou a plantar no Quênia.”

Em nota, o Green Belt Movement, fundado por Wangari Maathai, declarou: “A partida da professora Maathai é prematura e representa uma perda muito grande para todos que a conheceram – como mãe, como parente, como

colega de trabalho, como modelo a ser seguido e como heroína – e para aqueles que admiravam sua determinação em fazer do mundo um lugar melhor, com mais paz e saúde”.

Por Energia Solar Já!Publicado na coluna Economia de Afonso Ritter no jornal do Comércio

de Porto Alegre/RS em 7 de novembro de 2011:“Energia solar e a Copa: um dos muitos legados da Copa 2014 deverá ser um grande impulso ao uso de ENERGIA

SOLAR, por recomendação direta da FIFA para que os estádios sejam alimentados por painéis. O Brasil está muito atrasado nesta área, o que é um desperdício, com tanto sol durante tantos dias do ano. São na média 280 dias, o que

equivale a mais de 3 mil horas, quase o dobro da Alemanha, que tem entre 1.300 a 1.900 horas, e que no ano passado aumentou em 75% sua geração de energia solar, atingindo 17.300 megawatts, 23% mais do que os 14 mil da usina de

Itaipu. A diferença é que o Estado alemão garante mercado e preço atrativo.”

Page 20: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 20

saBEMos EsCutar?por Françoise Lemarchand

O músico se instalou na entrada da estação do metrô. Começou a tocar violino. Era uma manhã fria. Ele tocou durante 45 minutos. Para começar, Chaconne Partita no2 de Bach, depois Ave Maria de Schubert, Manuel Ponce, Massenet, depois de novo Bach. Eram quase oito horas da manhã, hora do rush, momento em que milhares de pessoas atravessam os corredores da estação rumo a seu trabalho.

Após 3 minutos, um homem de meia-idade percebeu que um músico estava tocando. Ele diminuiu o ritmo de seu passo, parou alguns segundos e depois partiu num ritmo mais acelerado do que antes. Um minuto depois, o violinista recebeu seu primeiro dólar: mesmo sem interromper sua marcha, uma mulher jogou o dinheiro em um pequeno pote. Alguns instantes depois, uma pessoa se apoiou na parede para escutar, mas observou o relógio e recomeçou a caminhar. Estava nitidamente atrasado.

De todos, quem dedicou mais atenção foi um pequeno garoto que devia ter ao redor de três anos de idade. Sua mãe o puxava, pressionava, mas o garoto parou quieto para escutar o violinista. Finalmente, sua mãe o agarrou e o sacudiu violentamente

para que recomeçasse a caminhar. Contudo, mesmo seguindo em frente, ele manteve sua cabeça voltada para o músico. Esta cena se repetiu muitas outras vezes com outras crianças que passaram pelo local. E os pais, sem exceção, os forçaram a continuar a caminhada.

Durante os quarenta e cinco minutos de apresentação do músico, somente sete pessoas realmente pararam para escutar um instante. Umas vinte pessoas doaram dinheiro, mesmo sem interromper sua marcha. O violinista recebeu, ao todo, trinta e dois dólares. Quando ele parou de tocar, ninguém reparou. Ninguém aplaudiu.

Entre milhares, somente uma

pessoa reconheceu a identidade do músico. Ninguém mais se deu conta de que este violinista era Joshua Bell, um dos melhores musicistas da Terra. Ele interpretou nesta entrada de metrô as partituras mais difíceis já escritas pelo ser humano e se apresentou tocando um violino Stradivarius de 1713 com valor estimado de 3,5 milhões de dólares. Dois dias antes disso, o concerto que deu no Teatro de Boston estava lotado, apesar do preço de cada ingresso ter sido aproximadamente 100 dólares.

O canto dos sabiás na primavera é algo maravilhoso. Nesta época do ano, páre para escutar um verdadeiro espetáculo, que é o canto destes pequenos animaizinhos para atrair suas parceiras. Cada um canta de forma diferente, se esmerando em acordes e tons inusitados. Saber escutar estas maravilhas no cotidiano é um dos segredos para ser feliz.

Esta é uma história verdadeira. Joshua Bell tocando incógnito dentro de uma estação de metrô foi uma situação organizada pelo jornal Washington Post como parte de uma pesquisa sobre a percepção do gosto das pessoas. As questões eram: em um ambiente comum, em uma hora inapropriada, nós percebemos a beleza? Paramos para apreciá-la? Reconhecemos um talento verdadeiro em um contexto inesperado?

Uma das possíveis conclusões desta experiência poderia ser: se não temos tempo para parar e escutar um dos melhores músicos do mundo tocando algumas das mais belas obras jamais escritas, ao largo de quantas outras coisas importantes estamos passando sem dar a devida importância?

Françoise Lemarchand é a fundadora da revista francesa anual Canopée. Este texto foi publicado na L´Écologiste, edição francesa da revista The Ecologist no verão de 2010.

Page 21: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 21

Cerca de 300 indígenas, pescadores e ribeirinhos da bacia do Xingu acamparam pacificamente em outubro 2011 no canteiro de obras de Belo Monte pela paralisação das obras da usina, em Altamira (PA). Leia mais: http://www.xinguvivo.org.br/2011/10/27/indigenas-e-pescadores-ocupam-canteiro-de-obras-de-belo-monte/

Os planos de construção de hidrelétricas na Amazônia são um verdadeiro desastre ambiental e social. Não podemos ficar omissos neste assunto. O povo brasileiro não precisa de hidrelétricas na Amazônia para suprir suas necessidades. A solução para a energia demandada pelo país está em investir massivamente em energia solar e eólica, em otimização do consumo energético, repotencialização das hidrelétricas já existentes, além de uma ênfase na simplicidade de vida, no menor consumo e na felicidade.

Belo Monte é uma vergonha nacional. Se permitirmos que este projeto avance, estaremos colocando em risco a Amazônia brasileira e com ela todo o clima do planeta e o ciclo de chuvas. Podemos estar inviabilizando nossa própria existência, se insistirmos com esses projetos que promovem desmatamento e destruição dos ambientes naturais que restam intactos.

Brota um sentimento de profunda vergonha e tristeza assistir à sociedade do homem branco, em pleno século XXI, oprimindo e inviabilizando a manutenção da cultura indígena e quilombola deste país. Ao invés de aprendermos com estas comunidades como viver de forma simples, mas em total sintonia com o ambiente, fazemos o contrário, simplesmente empurramos goela abaixo obras faraônicas, bilionárias, que não trarão nada de positivo para eles, só destruição de seus

Não à Belo Monte!

modos de vida e da floresta. Estamos passando vergonha também na arena

internacional, pois a comissão de direitos humanos da OEA já solicitou formalmente que o Brasil respeite os direitos legítimos dos povos da floresta e cancele Belo Monte.

Page 22: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 22

agaPan 40 anos EM dEfEsa da vida

por Francisco Milanez

A AGAPAN, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, nos seus 40 anos de trabalho, que fazem dela a mais velha entidade ecologista brasileira e uma das mais antigas do mundo, está constantemente se renovando e decidiu voltar a realizar seus cursos sobre meio ambiente e está buscando demandas, agora em um novo patamar, pois as pessoas já estão muito mais informadas sobre as questões ambientais.

Entre os desafios atuais, estamos envolvidos, em primeiro lugar, na luta pela proteção do Código Florestal Brasileiro que está sendo ameaçado pela especulação rural e simpatizantes. Quando falo em especulação rural estou sendo preciso, pois se trata de uma nova forma de ver o mundo rural. A forma tradicional

de ver o campo, mesmo sendo um olhar voltado à produção, é também um olhar amoroso e respeitoso com o qual as pessoas que vivem do campo também o protegem, pois estão a ele vinculados de forma profunda e desejam protegê-lo e mantê-lo para seus filhos e netos. Por estas razões podemos dizer que estas pessoas têm preservado a natureza da forma que sabem, o que não impediu que fossem cometidos grandes erros com o passar dos anos, mas os equívocos foram praticados, na sua maioria, por desconhecimento e não de propósito. O que vemos crescer nestes últimos anos é um grupo de pessoas que não tem vínculo com o campo e projeta sobre ele uma visão estritamente lucrativa especulativa. Para esta visão o importante é o máximo de lucro no

tempo mais curto e se, para isto for necessário destruir a natureza e por consequência o próprio solo agrícola, destruirão e se mudarão para destruir outra terra depois. É uma visão totalmente subserviente aos interesses empresariais internacionais que manipulam o mercado através do comércio internacional de grãos que, em grande parte, não servem sequer a alimentação humana e sim como ração animal para o primeiro mundo, e que chantageiam com seu poder de compra os governos dos países produtores. Para fazer isto eles estimulam determinados países a produzirem certo grão numa quantia que seu mercado jamais possa absorver para que eles fiquem dependentes destas empresas intermediárias que dominam o

Nossa homenagem à Hilda Zimmermman e ao Augusto César Cunha Carneiro, fundadores da AGAPAN. Mesmo com quase 90 anos de idade, continuam atuantes, firmes e fortes. Foto tirada na feira dos agricultores ecologistas da Coolméia, Porto Alegre, RS.

Sábados pela manhã, local de encontro dos ecologistas da cidade.

Page 23: The Ecologis 021

mercado mundial e ditam os preços que mantém os agricultores em eterna escravidão financeira.

Destruir a terra não é tão estranho para alguns agricultores que “colonizaram” boa parte do país, destruindo solos e seguindo mais ao norte em busca de novos solos para plantar. A diferença é que nesta época pouco ou nada se sabia do meio ambiente e estas pessoas ignoravam, na sua maioria, o mal que faziam e que era possível fazer de outra forma, sem falar que eram manipulados pelos governos para abrirem novas fronteiras de especulação rural.

Hoje em dia, os especuladores rurais sabem muito bem o que estão fazendo, mas não estão preocupados senão com lucro rápido. Muitos deles não querem ver que é possível fazer de outra forma e se deixam informar apenas pelas indústrias que têm interesses vinculados aos agrotóxicos e a escravização dos transgênicos e, contrários à agricultura orgânica sustentável. Estes especuladores, que servem de mandalete dos que escolheram o Brasil como bola da vez para transformá-lo numa agricultura destruidora que só serve aos que controlam as commodities mundiais, estão controlando a congresso nacional com a ajuda da aparente falsa oposição do governo federal que tem maioria para decidir tudo que deseja no congresso menos as questões ambientais onde enfrenta estrondosas derrotas. Eu quero acreditar que a presidenta não vai deixar passar a destruição do Código Florestal como prometeu, mas gostaria de estar mais seguro. Sei que jamais deixaremos esquecer os nomes daqueles que traírem o Brasil em algo tão fundamental para o nosso futuro como a conservação do mínimo dos ecossistemas para que possamos ter agricultura, água e vida com qualidade por muitos anos.

O pior disto tudo é que está ocorrendo exatamente no Brasil, país que se revela o grande líder do terceiro mundo e que, por isto mesmo, sofre as enormes pressões destrutivas dos modelos suicidas agrícolas atuais. É fácil entender isto, pois se o Brasil não adota estas práticas malucas, os outros países jamais adotariam também. Este fato de sermos liderança, sem estarmos preparados para a responsabilidade, tem pesado contra nós e poderá pesar muito mais sobre nosso futuro se formos identificados como o país que serviu de porta de entrada para as tecnologias escravizadoras e

destruidoras no terceiro mundo.O exemplo mais didático disto foi

a introdução da soja transgênica, no estado do Rio Grande do Sul, através de contrabando descarado, com o total silêncio do governo FHC, que culminou com a contaminação ilegal de grande parte da soja do estado e do país com a soja transgênica que acabou sendo legalizada no governo Lula. Este exemplo é importantíssimo porque assinala o início de uma nova forma de corrupção e desrespeito, a lei que é baseada no fato consumado. Pratica-se o crime primeiro, depois se muda a lei para que não seja mais crime. É exatamente o que está acontecendo neste momento com o código florestal. As pessoas que destruíram o meio ambiente, praticando crime ambiental querem agora mudar a lei para que não seja mais crime. Elas sequer refletem sobre o fato de que a desorganização climática que está ocorrendo será fortemente implementada pela possível reforma do código que vai prejudicar diretamente o futuro agrícola brasileiro e deixá-los ainda mais falidos.

Bem, se eles não refletem sobre seu próprio destino, nós temos que fazê-lo, urgentemente. A situação atual é a seguinte:

Mudança climática devido à destruição de florestas e queima de combustíveis fósseis que levará a enormes perdas dos territórios mais férteis e mais densamente habitados do mundo que são as costas inundáveis.

O desequilíbrio nos ecossistemas devido à extinção de espécies chaves da homeostase planetária e perda definitiva da riqueza maior que é a biodiversidade.

Aumento de desastres ambientais como enchentes e secas cada vez mais frequentes devido ao assoreamento dos rios provocado pelo solo agrícola erodido que chega aos rios por causa da destruição da mata ciliar que serve como barreira para que o solo não chegue até os rios e se deposite no fundo fazendo com que fiquem rasos e transbordem com qualquer chuva causando perdas de casas, lavouras e indústrias. Secas cada vez mais frequentes devidas a destruição das nascentes que são protegidas pelo código que está sendo destruído. Ele protege as florestas que são essenciais para as recargas dos lençóis de água subterrâneos e das nascentes bem como a manutenção da umidade e equilíbrio térmico climático, tão

essenciais a agricultura.Intoxicação generalizada das

pessoas, sejam moradoras das áreas rurais ou urbanas, causada pela alimentação com agrotóxicos, muitos deles agora utilizados em maior quantidade por causa dos transgênicos, está gerando grande quantidade de doenças degenerativas que crescem exponencialmente trazendo sofrimento e perdas a todas as famílias. Até as crianças, que faz pouco não tinham este tipo de doenças, estão padecendo cada vez mais com todo o tipo de câncer.

O jogo da especulação rural também serve para explicar a decisão internacional de utilizar o bioma Pampa para a absurda monocultura de eucaliptos. Seguramente, entre todos os biomas brasileiros o mais inadequado é o Pampa para o monocultivo da maior árvore que existe, o eucalipto, num bioma que em milhares de anos não foi capaz de desenvolver florestas naturais. Todo o resto que se fale sobre isto já é desnecessário diante desta afirmação. Numa consulta internacional sobre celulose, que participei representando o Brasil, todos os depoimentos vindo de todos os continentes eram unânimes sobre o rebaixamento do lençol freático e o desaparecimento de vários corpos d’água. Se projetarmos esta certeza para o bioma Pampa teremos que a pastagem natural não será capaz de buscar água em maior profundidade, o que significa que poderemos ter um processo de desertificação além de toda a destruição social, paisagística, de biodiversidade e outras formas de impacto cultural e ambiental.

Estamos vivendo tempos sem progressos e de grande riscos para o meio ambiente com a possível destruição do código Florestal que é nosso maior alicerce na proteção de ecossistemas rurais e urbanos, com a progressão da monocultura de eucaliptos pondo em risco o principal bioma gaúcho e com a liberação irresponsável de cada vez mais variedades transgênicas, que estão provocando o mais novo e pior tipo de contaminação jamais visto, a contaminação genética que, além de desrespeitar o direito adquirido de todos os agricultores do planeta, pois contamina suas plantações com o pólen transgênico que cruza com suas variedades convencionais ou orgânicas contaminando e desvalorizando toda a sua produção, põem em risco a manutenção das principais espécie alimentares do

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 23

Page 24: The Ecologis 021

Alfabetização Ecológica é tema de debate do livro de Francisco Milanez, presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), lançado na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre. Durante os quase 40 anos de militância, Milanez acumulou experiência, demonstrada em seus artigos, sobre as diversas questões ambientais, como agrotóxicos, consumo, teoria de Gaia, desenvolvimento sustentável, reciclagem, situação dos animais nos zoológicos, energia nuclear, clima, arborização, alimentação, cultura indígena. “É um livro para jovens”, diz, ao enumerar em torno de 57 artigos nessa obra, “que estarão disponíveis para os professores utilizarem em aula para consulta e debate”.

“A única forma para termos qualidade de vida, dada as condições caóticas vividas no Planeta, é construir alternativas através de opções conscientes”, afirma Milanez, que é enfático ao defender que, “fazendo as escolhas certas, ainda dá pra se viver muito bem. Para isto temos que saber quais são os desafios. Por isso um manual de sobrevivência”.

Francisco Milanez milita desde o 1º grau do colégio no movimento ambientalista. É biólogo, arquiteto, terapeuta e, pela quarta vez, preside a AGAPAN, a mais velha ONG ambientalista do Brasil e da América Latina, fundada em 27 de abril de 1971.

Informações: Assessoria de Imprensa da Agapan/Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues

Encomende seu exemplar através do e.mail: [email protected]

planeta porque uma vez provado que um determinado transgênico é prejudicial a saúde, o que já aconteceu várias vezes, como no caso do milho StarLinck que se revelou tóxico, não há como retirar o material genético do sistema, pois já contaminou as espécies semelhantes como é o caso do milho verdadeiro que já estará prejudicado pelo pólen do transgênico. A propósito não estou enganado quando falo de outra espécie, pois um

transgênico é uma nova espécie, já que seu material genético e oriundo de, pelo menos duas espécies diferentes (normalmente de reinos diferentes) e não pode mais ser chamado de milho, soja ou o que for, pois já é um ser intermediário.

Está mais que na hora de sairmos de nossa acomodação e alienação e enfrentarmos radicalmente estas ameaças à

vida, seja através de boicote ou qualquer outra forma legal que, de preferência prejudique os destruidores do meio ambiente da forma que eles menos gostam, no bolso.

Francisco Milanez é presidente da AGAPAN. Para maiores informações das atividades da AGAPAN visite: www.agapan.blogspot.com

José Lutzenberger - Garimpo ou Gestão Crítica Ecológica ao Pensamento Econômico

Esta obra reúne textos inéditos de José Lutzenberger, fundador da AGAPAN, com uma visão crítica e muito atual sobre o pensamento econômico vigente.

Alguns trechos:

“O principal índice para medir progresso, o PIB, só mede atividade, não distingue entre atividade desejável e indesejável. Se cai um avião, isso movimenta milhões e aumenta o PIB. Mas que medida é essa, que mede como progresso o que, na realidade, é desastre?”

“O ser humano ainda precisa aprender a usar seu cérebro magnífico para interagir com a natureza, em vez de combatê-la. Será muito mais vantajoso para ele.”

“Não adianta mais procurar remédios e remendos. Nossos atuais paradigmas sobred esenvolvimento, economia e tecnologia colocaram-nos em uma rota de exclusão. Mas ainda está em tempo de mudar.”

Encomende o seu exemplar através do e.mail: [email protected] ou diretamente com os editores: Lilian Dreyer: [email protected] e Carneiro: fone(51) 3224.7014

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 24

Page 25: The Ecologis 021

por Maurício da Silva Gonçalves Guarani

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 25

guaranis EM dEfEsa da vida E dE sEus tErritórios

Sou filho de um povo milenar. Muito antes dos europeus chegarem nestas terras o meu povo vivia com alegria e esperança dentro de um amplo território. Nele existia a dignidade. Nele se alimentava os sonhos, a relação com Deus nos cultos e ritos de uma religião que o meu povo tinha naturalmente. Nele se plantava e colhia o alimento. A vida era cultivada na harmonia e na reciprocidade.

Mas, repentinamente, os nossos antepassados se depararam com o inevitável. A civilização branca invadiu as terras, as vidas, as tradições, a cultura e a religião. Contra nossa gente iniciaram grandes batalhas. A ideologia de outro mundo foi sendo imposta para dominar e destruir o modo de ser, pensar e de se relacionar com a natureza, com a terra e com toda a vida que vigorosamente se fazia presente. Os nossos ancestrais e a natureza eram partes inseparáveis, a natureza cuidava e alimentava a nossa gente e nossos povos a ela protegiam e a tratavam com amor e respeito.

A partir de então o mundo mudou. Sobre meu povo desceu a ruína. A terra foi tomada, as pessoas eram caçadas e tratadas como animais. Foram escravizados, torturados e o modo de ser e de pensar Guarani foi atacado pela intolerância e imposição de outro modelo de civilização e cultura. Fomos proibidos de falar nossa língua. Tudo aquilo que era vida e reciprocidade se tornou pecado. A fé em Nhanderu foi transformada em feitiçaria. As crenças milenares ensinadas e vivenciadas foram atacadas por uma cruz que não era a cruz de nosso povo. O espírito Guarani, a alma Guarani foi rasgada por esta cruz. E os corpos, a vida física, por sua vez, eram cortados pela espada que acompanhava a cruz.

E assim, depois de milhares de anos, foi afetada tragicamente uma história que poderia ser um sinal de esperança para uma humanidade que vive uma profunda crise. A civilização

branca vem construindo a sua própria destruição, a sua própria ruína. Esse é o saldo para toda a humanidade.

Apesar de vivermos num vasto continente, só nos sobrou pequenas parcelas de terras na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil. Somos quase três centenas de milhares de pessoas do Povo Guarani Mbya, Nhendewa, Kaiowá. Cultivamos com sabedoria e paciência a nossa cultura. Não negamos o modo de ser e de pensar de nossos antepassados. Os seus ensinamentos nos acompanham no nosso constante caminhar. Mantemos viva a nossa língua Guarani, cultuamos nossa crença em Nhanderu. Acreditamos nas palavras das pessoas e confiamos nelas, porque é assim que se deve ser na vida.

Nós acreditamos que Nhanderu entregou a terra para ser cuidada e partilhada. Ela é nossa e dos demais seres viventes. Por isso, procuramos, ao longo dos anos, zelar por ela. O homem dito civilizado jamais poderá atribuir aos Guarani a devastação e o desrespeito que a terra enfrenta. Valorizamos a terra como parte de nosso corpo. Se cortarmos uma mão, arrancamos um membro importante do corpo. E assim é com a terra para os Guarani, não admitimos que ela venha a ser maltratada, rasgada, destruída.

Mas ao olharmos para o nosso planeta, em especial para o Brasil, a gente vê a terra sofrendo. Suas matas foram cortadas e no seu lugar construíram cidades, indústrias, grandes plantações. Os rios foram transformados em depósitos de dejetos de fábricas, de lavouras. Os rios estão morrendo porque as suas águas correm poluídas, contaminadas. Do pouco que ainda restou querem represar através de grandes e pequenas barragens. Querem, com isso, gerar mais energia para novas indústrias. E com as novas indústrias teremos ainda mais dejetos, mais poluição e a vida do planeta, a vida no Brasil, vai se acabando.

Durante as nossas reuniões, de lideranças das comunidades Guarani, os nossos Karaí sempre perguntam: “Até onde os Juruá (homem branco) pensam que podem ir? Será que eles não sabem que estão acabando com a terra, com a vida? Será que eles não percebem que a natureza precisa ser bem cuidada?” Eles não entendem como podem desprezar a vida só pela ambição de ter mais dinheiro e mais poder. Para os nossos líderes religiosos a vida é simples. Eles, na sua humildade e sabedoria, têm a certeza de que não é do muito que se tem, não são as riquezas materiais que darão alegria e esperança para os homens e mulheres. Eles afirmam com convicção de que se a terra estiver viva, protegida e valorizada, todos terão exatamente aquilo que necessitam para viver.

E nesta concepção, no modo de pensar a terra e os seus bens, é que habita a grande diferença entre os povos indígenas e a civilização branca. Para os Juruá somente tem sentido viver com dinheiro, muitas posses, muitas riquezas. No entanto, para eles, o custo da riqueza acumulada não entra na conta, ou como muito se fala entre os brancos, não é contabilizada. De tudo o que se extrai da terra há custos e muitos deles são impagáveis com dinheiro e poder. A devastação alucinada da terra compromete o restante da vida dos demais filhos da terra. Estão matando a própria mãe em função da ganância.

Apesar de uma história de sofrimentos somos um povo de resistência. Resistimos à colonização opressora. Resistimos e enfrentamos esta civilização que domina o nosso Brasil. Tornaram-nos minorias onde éramos a maioria. Queriam, naquela época, mudar nossa alma, porque acreditavam, os ditos civilizados, que a nossa alma era pagã, impura, pecadora. Não nos aceitavam como gente. E a isso resistimos. Muitos dos líderes assumiram a defesa do povo, da terra e das nossas tradições.

Page 26: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 26

Enfrentaram as espadas, os canhões dos civilizados.

Nós resistimos ao modelo de dominação dos brancos e nos colocamos contra as suas estruturas de poder e de fazer política. Acreditamos na nossa força e na nossa cultura, por isso resistimos aos massacres, à catequização forçada, à escravização de nossos antepassados, às guerras contra nosso povo, que foram impostas porque queríamos viver em paz nas nossas terras. Resistimos e vivemos construindo história, embora esta seja negada por aqueles que fazem livros.

A cultura dos brancos, dos que chamamos Juruá, de fato não serve como modelo para o mundo de ninguém. A mãe terra está sendo consumida pela fumaça das usinas, dos carros. Está sendo contaminada com os venenos de fábricas e plantações. Está sendo tratada como mercadoria para ser consumida e depois não restará nada dela. Por tudo isso os Guarani lutam por uma terra sem mal, onde não existirão nem maiores e nem menores, onde todos seremos filhos da mesma terra mãe.

Hoje em dia, para as nossas famílias viverem, o governo vem destinando alguns metros de terra, que na maioria das vezes são devolutas, nas margens de estradas, sobre barrancos, na beira de sangas poluídas e/ou em pequenas capoeiras próximas de grandes fazendas. Por nos tratarem como restos nos destinam as pequenas sobras de terras que pelos brancos são desprezadas. E não raras vezes dizem que somos preguiçosos, que não queremos trabalhar e que vivemos como bichos. Mas quando decidimos retomar terras que são nossas, se reivindicamos direitos, se exigimos do poder público que nos respeite e demarque nossas terras então somos tratados com arrogância e dizem que somos manipulados por terceiros.

Mas é neste contexto, onde as visões de mundo são diferentes, que nós os Guarani e os demais povos indígenas lutamos por direito e dignidade. Lutamos por respeito à cultura, à terra e ao futuro. Nós ainda acreditamos que é possível reverter esta realidade. E os nossos líderes religiosos sempre dizem que, embora os Juruá insistam em destruir a terra, ela existirá enquanto os Guarani existirem. Destruindo os Guarani, destruirão a última esperança de vida no planeta. Faço essa referência sobre os líderes do meu povo, mas já

ouvi outros líderes indígenas, como o Davi Yanomami, falar a mesma coisa, ou seja, se destruírem os filhos da terra, destruirão em definitivo a terra inteira.

Nosso povo luta e continuará a lutar pela terra. De nosso modo, com paciência, mas com a força sagrada de nossos velhos, nossos Karaí, as Kunhã Karaí, que nos ensinam a viver, nos aconselham a sermos bons com todas as pessoas, a tratar todos com igualdade. E seguiremos, andando, procurando por nossa terra, construindo nosso bem viver e exigindo das autoridades que cumpram com seu dever de demarcar as terras que as leis dos brancos, escritas pelos brancos, determinam que esse nosso direito deve ser assegurado.

Aproveito a oportunidade para apresentar as reivindicações dos Guarani, na expectativa de que elas sejam devidamente atendidas, uma vez que aqui nesta audiência se encontram representantes dos governos estadual e federal:

Que o governo federal, em articulação com o governo do estado do Rio Grande do Sul, busque resolver um dos graves problemas que impede a ocupação e o usufruto de nossas terras, aquelas já demarcadas, que são os pagamentos das indenizações aos ocupantes não indígenas de nossas terras. Esta é uma obrigação da Funai, pois cabe a ela buscar soluções para as questões relativas aos problemas fundiários. Pedimos, mais uma vez, entendimentos entre os governos federal e estadual no que se refere ao pagamento dos não-indígenas pelas terras que no passado foram loteadas e tituladas pelo governo do Estado e que estão sendo demarcadas como terras indígenas. Com isso, se pode acelerar os processos e diminuir os conflitos. Segue relação das terras prioritárias:

Cantagalo O Cantagalo é uma das aldeias

mais antigas no estado. Os estudos já foram concluídos, tudo já foi feito, mas os colonos ainda estão lá. Não aceitamos mais a demora na retirada dos ocupantes brancos. Já se passam anos da decisão da homologação da terra, mas até agora a Funai não pagou as indenizações e nem procedeu a retirada dos brancos da terra indígena. Além da demora na demarcação, as cercas estão abertas, e os animais dos vizinhos entram na terra e comem as plantações da comunidade indígena. A comunidade

está muito desanimada com a demora. Todas as nossas comunidades

têm muita preocupação por causa das incertezas quanto ao futuro, principalmente porque não temos terra para plantar e dela extrair o sustento. No nosso modo de pensar e viver é bem diferente dos Juruá. Nós sempre procuramos o bem viver, viver tranqüilo, plantar para o consumo das famílias. Os juruá querem plantar para vender, usam a terra como mercadoria e não pra vida.

Mato Preto Solicitamos à FUNAI que assegure

o direito a terra tradicional, garantindo a continuidade do procedimento demarcatório uma vez que o relatório de identificação da área foi publicado. É necessário agilidade na análise das contestações apresentadas como resultado do direito ao contraditório das partes interessadas. A comunidade aguarda com expectativa a publicação da portaria declaratória da área.

Irapuã Agora que finalmente saiu

a publicação de identificação e delimitação da área, solicitamos rapidez nos demais passos do procedimento demarcatório, principalmente para que se possa estruturar comunidade e construir as casas longe da beira da estrada.

Estrela Velha O GT é do início de 2008 e ainda

não foi concluído. A TI Kaguy Poty é uma das áreas mais tranqüilas para os estudos e conclusão do procedimento de demarcação no estado, pois os não-indígenas têm vontade de sair. Por causa da demora do GT, estão começando a mudar de idéia, e conflitos podem ocorrer. Exigimos que os responsáveis pelos estudos de identificação e delimitação sejam cobrados pela FUNAI para apresentar imediatamente o relatório dos estudos de forma definitiva.

Capivari, Lomba do Pinheiro, Estiva e Lami

Para estas antigas terras guarani houve o compromisso da Funai de que o GT seria constituído ainda no governo passado. A Funai não cumpriu com seu compromisso. São situações difíceis, em função de nas áreas viverem muitas famílias, que aguardam com ansiedade pelos encaminhamentos da Funai. Exigimos que o prometido seja cumprido, e essas terras sejam contempladas e

Page 27: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 27

demarcadas com a criação de GT`s. ESSA É A PRIORIDADE PARA 2011.

Itapuã, Ponta da Formiga, Morro do Coco, Arroio do Conde, Petim e Passo Grande

Estas terras tiveram os estudos de identificação e delimitação realizados nos anos 2008 e 2009. O relatório foi concluído e entregue para a Funai. Exigimos que o órgão indigenista proceda a análise e publique o referido estudo. Vale ressaltar que as comunidades vivem em pequenas áreas e aguardam pelo efetivo reconhecimento de suas terras.

Coxilha da CruzAguardamos a solução para a

completa regularização do Tekoá Porã, desapropriada pelo governo estadual em 2000, mas até hoje aguardando a finalização das indenizações. O governo estadual não cumpriu com o protocolo de intenções para terminar o pagamento. Atualmente a comunidade ocupa apenas a metade da área desapropriada.

Mata São Lourenço e Esquina Ezequiel

A Mata São Lourenço é uma das poucas áreas com matas boas na região das Missões. A FUNAI deve encaminhar um GT, antes que essa mata seja devastada para dar lugar a monocultura da soja. A Esquina Ezequiel, nas margens do Arroio

Piratini, deve estar junto com o GT da Mata São Lourenço, pois também é uma área importante para a formação de aldeia na região das Missões.

Acampamento de Santa Maria A situação das famílias acampadas

no município de Santa Maria necessita de atenção da FUNAI. Estão numa pequena faixa de terra na beira da estrada, e correm riscos quando vão buscar água e comercializar seus produtos. Aguardam por uma solução para melhorar as condições de vida da comunidade. A comunidade reivindica que a Funai proceda aos estudos de uma área para o assentamento das famílias.

Águas Brancas Exige-se que a Funai conclua o

procedimento de demarcação da TI Águas Brancas, pois a portaria declaratória desta área foi publicada há mais de uma década.

Diante de nossas reivindicações, que são legítimas, cabe ao governo respeitar a Constituição Federal demarcando as nossas terras tradicionais. Exigimos também que cumpra com as normas e convenções internacionais, especialmente a Convenção 169 da OIT, sobre questões que nos afetam, como tem sido os empreendimentos de duplicações de estradas e barragens que cortam e inundam as nossas

terras. Reivindicamos também que

as políticas de assistência sejam efetivamente executadas, tendo em conta as nossas necessidades, direitos e as diferenças.

Quero, por fim agradecer a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que ao longo dos últimos anos, vem prestando importante contribuição no debate e na divulgação sobre a questão indígena e em especial agradeço pela postura que assumem em defesa dos direitos humanos, em defesa de nossos direitos.

Desejamos contar com os movimentos sociais, populares, entidades e outros tantos segmentos que se interessam pela questão indígena, não para que tenham um olhar de caridade ou piedade, em apoio à nossa luta, mas que estejam conosco pela causa indígena, que hoje é também uma causa da humanidade. Uma humanidade em crise e que precisa urgentemente de todos aqueles que desejam construir outro mundo, diferente deste que está em decadência.

Um mundo do Bem Viver.

Maurício da Silva Gonçalves Guarani é Coordenador do Conselho de Articulação do Povo Guarani no Rio Grande do Sul.

O CD Mbaepú Nhenduí (Som Sagrado) é uma das expressões da cultura Mbyá-Guarani que pretende revelar a sonoridade tradicional ao mundo não índio. Para levarem estes cânticos (poraí) à sociedade envolvente, os Mbyá receberam autorização dos Deuses (Nhamderu), pois estes são cantos sagrados inspirados por Nhanderu aos Mbyá-Guarani e que são repassados às gerações mais jovens através dos rituais realizados na Opy (casa de reza). Grupo Teko-Guarani Mbae´pú Ñendu´i (música). Porto Alegre, RS. Texto extraído do material gráfico que acompanha o cd. Aos domingos, os guaranis costumam se apresentar no Brique da Redenção, em Porto Alegre, na rua José Bonifácio.

Page 28: The Ecologis 021

Somos 300 cidadãos e cidadãs brasileiras integrados à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), à Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), à Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), à Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), à Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), à Marcha Mundial de Mulheres e à Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), em reunião na cidade de Salvador-BA, entre os dias 26 a 29 de setembro de 2011, durante o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo.

Nosso encontro resulta de um longo e fecundo processo de preparação motivado pela identificação e sistematização de casos emblemáticos que expressam as variadas formas de resistência das camadas populares em suas diferentes expressões socioculturais e sua capacidade de gerar propostas alternativas ao modelo de desenvolvimento hegemônico em nosso país. Vindos de todas as regiões do país, esses casos iluminaram nossos debates durante esses três dias e fundamentam a manifestação política que apresentamos nesta carta.

Ao alimentar esse padrão de desenvolvimento, o governo Dilma inviabiliza a justa prioridade que atribuiu ao combate à miséria em nosso país. Tendo como eixo estruturante o crescimento econômico pela via da exportação de commodities, esse padrão gera efeitos perversos que se alastram em cadeia sobre a nossa sociedade. No mundo rural, a expressão mais visível da implantação dessa lógica econômica é a expropriação das populações de seus meios e modos de vida, acentuando os níveis de degradação ambiental, da pobreza e da dependência desse importante segmento da sociedade a políticas sociais compensatórias. Esse modelo

Carta dE salvadorCarta Política do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo.

que se faz presente desde o início de nossa formação histórica ganhou forte impulso nas últimas décadas com o alinhamento dos seguidos governos aos projetos expansivos do capital internacional. Materialmente, ele se ancora na expansão do agronegócio e em grandes projetos de infraestrutura implantados para favorecer a extração e o escoamento de riquezas naturais para os mercados globais.

Os casos emblemáticos que subsidiaram nossos diálogos demonstram a essência violenta desse modelo que viola o “direito de ficar”, desterritorializando as populações, o que significa subtrair delas a terra de trabalho, o livre acesso aos recursos naturais, suas formas de organização econômica e suas identidades socioculturais. Os movimentos massivos de migração compulsória daí decorrentes estão na raiz de um padrão de distribuição demográfica insustentável e que cada vez mais converte as cidades em polos de concentração da pobreza, ao passo que o mundo rural vai se desenhando como um cenário de ocupação do capital e de seu projeto de uma agricultura sem agricultoras e agricultores.

A progressiva deterioração da saúde coletiva é o indicador mais significativo das contradições de um modelo que alça o Brasil a uma das principais economias mundiais ao mesmo tempo em que depende da manutenção e seguida expansão de políticas de combate à fome e à desnutrição. Constatamos também que esse modelo se estrutura e acentua as desigualdades de gênero, de geração, de raça e etnia.

Nossas análises convergiram para a constatação de que os maiores beneficiários e principais indutores desse modelo são corporações transnacionais do grande capital agroindustrial e financeiro. Apesar de seus crescentes investimentos em marqueting social e verde, essas corporações já não conseguem ocultar suas responsabilidades na produção de uma crise de sustentabilidade planetária que atinge inclusive os países mais desenvolvidos e que se manifesta em desequilíbrios sistêmicos expressos

no crescimento do desemprego estrutural, na acentuação da pobreza e da fome, nas mudanças climáticas, na crise energética e na degradação acelerada dos recursos do ambiente.

As experiências mobilizadas pelas redes aqui em diálogo denunciam as raízes perversas desse modelo ao mesmo tempo em que contestam radicalmente as falsas soluções à crise planetária que vêm sendo apregoadas pelos seus agentes promotores e principais beneficiários. Ao se constituírem como expressões locais de resistência, essas experiências apontam também caminhos para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável.

A multiplicação dessas iniciativas de defesa de territórios, promoção da justiça ambiental e de denúncia dos conflitos socioambientais estão na raiz do recrudescimento da violência no campo que assistimos nos últimos anos. O assassinato de nossos companheiros e companheiras nessas frentes de luta é o mais cruel e doloroso tributo que o agronegócio e outras expressões do capital impõem aos militantes do povo e ao conjunto da sociedade com suas práticas criminosas.

Nossos diálogos procuraram construir convergências em torno de temas que mobilizam as práticas de resistência e de afirmação de alternativas para a sociedade.

Os diálogos sobre reforma agrária,

direitos territoriais e justiça ambiental responsabilizaram o Estado face ao quadro de violência com assassinatos, expulsão e deslocamentos compulsórios de populações pela ação dos grandes projetos como as hidrelétricas, expansão das monoculturas e o crescimento da mineração; a incorporação de áreas de produção de agrocombustíveis, reduzindo a produção de alimentos; a pressão sobre as populações que ocupam tradicionalmente áreas de florestas, ribeirinhas e litorâneas, como os mangues, os territórios da pesca artesanal, com a desestruturação de seus meios de vida e ameaça ao acesso à água e à soberania alimentar.

As convergências se voltaram para

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 28

Page 29: The Ecologis 021

a reafirmação da centralidade da luta pela terra, pela reforma agrária e pela garantia dos direitos territoriais das populações. O direito à terra está indissociado da valorização das diferentes formas de viver e produzir nos territórios, reconhecendo a contribuição que povos e populações tradicionais oferecem à conservação dos ecossistemas; do reconhecimento dos recursos ambientais como bens coletivos para o presente e o futuro; e os direitos das populações do campo e da cidade a uma proteção ambiental equânime. Convergimos ainda na afirmação de que o direito à terra e os direitos à água, à soberania alimentar e à saúde estão fortemente associados.

Reconhecemos a importância da mobilização em apoio ao Movimento Xingu para sempre - em defesa da vida e do Rio Xingu, considerado como um exemplo emblemático de luta de resistência ao atual modelo de desenvolvimento. Defendemos o fortalecimento da articulação dos atingidos pela empresa Vale e as propostas que combinem a gestão ambiental com a produção agroecológica, a exemplos de experiências inovadoras dos movimentos sociais em assentamentos da Reforma Agrária.

No debate sobre mudanças

climáticas, seus impactos, mecanismos de mercado e a agroecologia como alternativa, recusamos que a proposta agroecológica seja apropriada como mecanismo de compensação, seja ele no invisível e inseguro mercado de carbono, seja em REDD, REDD+, REDD++ (redução das emissões por desmatamento e degradação) ou ainda dentro do pagamento de serviços ambientais. A Rio+20 engendra e consolida a chamada “economia verde”, que pode significar uma apropriação, pelo capitalismo, das alternativas construídas pela agricultura familiar e camponesa e pela economia solidária, reduzindo a crise socioambiental a um problema de mercado.

A Agroecologia não é uma simples prestadora de serviços, contratualizada com setor privado. Ela reúne nossas convergências no campo e na cidade, trabalhando com gente como fundamento. É possível financiar a Agroecologia a partir da contaminação, escravidão, racismo e acumulação cada vez maior do capital? É possível fazer um enfrentamento a partir do pagamento de serviços ambientais por contratos privados, parcerias público-privadas?

Ao debater os impactos da expansão dos monocultivos para agrocombustíveis e padrões alternativos de produção e uso de energia no mundo rural, os diálogos apontaram que a energia é estratégica como elemento de poder e autonomia dos povos, mas está diretamente ligada ao modelo (hegemônico e falido) de consumo, produção e distribuição. A produção de agrocombustiveis, baseada na monocultura, na destruição do ambiente, na violação dos direitos e injustiças sociais e ambientais, associa-se ao agronegócio e ameaça a soberania alimentar.

As políticas públicas sistematicamente desvirtuam as propostas calcadas nas experiências populares, colocando as cooperativas e iniciativas da agricultura familiar na lógica da competição de mercado e em patamar desigual em relação às corporações, tal qual ocorre nas áreas de geração de energia elétrica, segurança alimentar, ciência e tecnologia ou mesmo da economia solidaria.

Nas políticas para os agrocombustiveis, a agricultura familiar é inserida como mera fornecedora de matérias primas e o modelo de integração é dominante, mascarando o arrendamento e assalariamento do campesinato e embutindo o pacote tecnológico da revolução verde através das políticas de crédito, assistência técnica e extensão rural. O diálogo do governo com os movimentos sociais se precariza pela setorização e atomização das relações, enquanto a mistura de interesses e operações entre Ministério do Desenvolvimento Agrário e PETROBRÁS acaba por legitimar o canal de negociação empresarial no marco de uma política pública.

As experiências de produção descentralizada de energia e alimentos apontam como soluções reais aquelas articuladas por organizações e movimentos sociais que integram as perspectivas da agroecologia, da soberania alimentar e energética, da economia solidária, do feminismo e da justiça social e ambiental, e são baseadas na forte identidade territorial e prévia organização das comunidades.

Estas iniciativas têm em comum a diversificação da produção e dos mercados e a prioridade no uso dos recursos, dos saberes e dos espaços de comercialização locais. Estão sob o controle dos agricultores e têm autonomia frente às empresas e ao Estado. Articulam-

se a programas e políticas públicas diversas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), não apenas ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Os processos de transformação estão sob o domínio das organizações em toda a cadeia produtiva, e há diversificação da produção de alimentos e de matriz energética e co-produtos, para além e como conseqüência da produção de combustível. As formas de produção estão em rede e têm capacidade de se contrapor aos sistemas convencionais como premissa de sua permanência no território.

Com base nestes princípios e lições, as políticas públicas para a promoção da produção de energia e alimentos devem ter: um marco legal diferenciado para a agricultura familiar; promover a produção e uso diversificado de óleos, seus co-produtos e outras culturas, adequadas à diversidade cultural e biológica regional; atender à demanda de adequação e desenvolvimento de tecnologia e equipamentos apropriados, acompanhada de processos de formação e de redes de inovação nas universidades; além de proporcionar autonomia na distribuição e consumo local de óleos vegetais, biodiesel e álcool.

Os diálogos sobre os agrotóxicos

e transgênicos, articulando as visões da justiça ambiental, saúde ambiental e promoção da agroecologia, responsabilizaram o Estado pelas políticas de ocultamento de seus impactos expressas nas dificuldades de acesso aos dados oficiais de consumo de agrotóxicos e de laudos técnicos sobre casos de contaminação; na liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) sem debate democrático com a sociedade e sem atender ao princípio da precaução; na frágil vigilância e fiscalização trabalhista, ambiental e sanitária; na dificuldade do acesso aos laboratórios públicos para análise de amostras de contaminação por transgênicos e por agrotóxicos no ar, água, alimentos e sangue; terminando por promover um modelo de desenvolvimento para o campo que concentra terra, riqueza e renda, com impactos diretos nas populações mais vulneráveis em termos socioambientais.

Há um chamamento para que o Estado se comprometa com a apuração das denúncias e investigação dos crimes, a exemplo do assassinato do líder comunitário

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 29

Page 30: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 30

José Maria da Chapada do Apodi, no Ceará; com a defesa de pesquisadores criminalizados por visibilizar os impactos dos agrotóxicos e por produzir conhecimentos compartilhados com os movimentos sociais; com políticas públicas que potencializem a transição agroecológica – facilitando o acesso ao crédito, à assistência técnica adequada e que reconheça os conhecimentos e práticas agroecológicas das comunidades camponesas.

Não há possibilidade de convivência entre o modelo do agronegócio e o modelo da agroecologia no mesmo território, porque o desmatamento e as pulverizações de agrotóxicos geram desequilíbrios nos ecossistemas afetando diretamente as unidades agroecológicas. As políticas públicas devem estar atentas aos impactos dos agrotóxicos sobre as mulheres (abortos, leite materno, etc.) pois estas estão expostas de diferentes formas, que vão desde o trabalho nas lavouras até o momento da lavagem da roupa dos que utilizam os agrotóxicos. O uso seguro dos agrotóxicos e transgênicos é um mito e um paradigma que precisa ser desconstruído.

É fundamental a convergência de nossas ações com a Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, ampliando os diálogos e convergências com os movimentos sociais do campo e da cidade, agregando novas redes que não estiveram presentes nesse Encontro de Diálogos e Convergências. Temos que denunciar esse modelo do agronegócio para o mundo e buscar superá-lo por meio de políticas públicas que possam inibir o uso de agrotóxicos e transgênicos, a exemplo da proibição da pulverização aérea, ou ainda direcionando os recursos oriundos dos impostos dos agrotóxicos, cuja produção e comercialização é vergonhosamente subsidiada pelo Estado. O fim dos subsídios contribuiria para financiar o SUS e a agroecologia.

Com relação aos direitos dos

agricultores, povos e comunidades tradicionais ao livre uso da biodiversidade, constatamos que está em curso, nos territórios, um processo de privatização da terra e da biodiversidade manejada pela produção familiar e camponesa, povos e comunidades tradicionais. Tal privatização é aprofundada pela flexibilização do Código Florestal, que é uma grande ameaça e abre

caminhos para um processo brutal de destruição ambiental e apropriação de terra e territórios pelo agronegócio.

A privatização das sementes e mudas, dos conhecimentos tradicionais e dos diversos componentes da biodiversidade vem se dando de forma acelerada, com o Estado cumprindo um papel decisivo na mediação (regulamentação e políticas públicas) dos contratos estabelecidos entre empresas e comunidades, representando sérios riscos aos direitos ao livre uso da biodiversidade.

Causa grande preocupação que as questões nacionais sobre conservação e uso da biodiversidade estejam sendo discutidas e encaminhadas sem a participação efetiva das populações diretamente atingidas, estando sujeitas a agendas internacionais como a Rio +20. Consideramos uma violação a atual forma de “consulta” sobre importantes instrumentos legais e de política concentrada em poucos atores e de questionável representatividade.

Experiências presentes neste encontro demonstram avanços e se fortalecem a partir da legitimidade de suas práticas e aproveitando as brechas existentes na legislação. Este é o caso, por exemplo, dos bancos comunitários de sementes no semiárido; da produção de sementes agroecológicas a partir de variedades de domínio público; da auto-regulação dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais do Cerrado; da constituição de um fundo público das quebradeiras de coco babaçu através da repartição de benefícios que reconhece o conhecimento tradicional associado.

É necessário aprofundar a organização das agricultoras e dos agricultores, extrativistas, povos e comunidades tradicionais em seus territórios, de forma a fortalecer os princípios e ações de cooperativismo e suas interlocuções com as redes regionais, estaduais e nacionais como estratégia de resistência e construção de alternativas. A geração de alternativas econômicas é crucial neste contexto. A apropriação do debate em torno dos direitos pode facilitar e fortalecer o diálogo de nossas redes e movimentos com a sociedade civil de modo geral, de modo a visibilizar a importância dos modos de vida destas comunidades para a garantia de direitos humanos, como o direito à alimentação adequada e saudável.

Nos diálogos sobre Soberania

Alimentar e Nutricional, Economia Solidária e Agroecologia, as experiências apontaram o grande acúmulo na construção de alternativas ao atual modelo agroalimentar, que garantam, de forma articulada, a soberania alimentar e nutricional, a emancipação econômica dos trabalhadores e trabalhadoras nos territórios, em especial as mulheres, a promoção da saúde pública e a preservação ambiental. Constatou-se que estas iniciativas contribuem com a construção concreta e material de propostas diferenciadas de desenvolvimento, calcadas nas realidades, cultura e autonomia dos sujeitos dos territórios e orientadas para a justiça socioambiental, a democracia econômica e o direito à alimentação adequada.

Estes acúmulos se expressam através da existência e resistência de dezenas de milhares de empreendimentos e iniciativas de Economia Solidária e Agroecologia, especialmente quando articuladas e organizadas em redes e circuitos de produção, comercialização e consumo, que aproximam produtores e consumidores e fortalecem a economia e cultura locais, num enfrentamento à desterritorialização e desigualdades de gênero, raça e etnia inerentes ao atual padrão hegemônico de produção e distribuição agroalimentar.

Constatou-se que os programas de alimentação escolar (PNAE) e de aquisição de alimentos (PAA), assim como o reconhecimento constitucional do direito à alimentação e a implantação do Sistema e Política de Segurança Alimentar e Nutricional, são conquistas importantes para a agricultura familiar e camponesa. Por outro lado, de forma paradoxal, o Estado tem apoiado fortemente o agronegócio, através da subordinação de sua ação a interesses do capital, e da falta de um horizonte e estratégia definidos de expansão do orçamento do PAA e do PNAE.

As vivências e experiências denunciam também a grande quantidade de barreiras ao acesso das iniciativas e empreendimentos de Economia Solidária e Agroecologia a políticas públicas e ao mercado. Tais barreiras se expressam em uma legislação e inspeção sanitárias e tributárias incompatíveis às realidades das/dos produtoras/es e trabalhadoras/es associadas/os, em especial no processamento e agroindustrialização de polpas, doces e alimentos de origem animal. Estas barreiras, somadas à burocratização

Page 31: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 31

na aquisição da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) e a uma ofensiva de setores empresariais que têm denunciado à ANVISA empreendimentos produtivos assim que estes começam a se fortalecer, têm impedido o escoamento da produção dentro e fora do município e o acesso ao PAA e ao PNAE. O direito à organização do trabalho e da produção de forma associada só existirá com a conquista de garantias e condições legislativas, tributárias e de financiamento que sejam justas.

Os diálogos apontaram também a luta pelo consumo responsável, solidário e consciente como um campo importante de convergência entre as redes e movimentos e como um desdobramento concreto deste Encontro, através da construção conjunta de um diálogo pedagógico com a sociedade, tanto denunciando os impactos e danos dos alimentos vindos do agronegócio e contaminados com agrotóxicos, o que exige a regulação da publicidade de alimentos, quanto anunciando as alternativas disponíveis na Agroecologia e na Economia Solidária.

Em busca de novos caminhosOs exercícios de diálogos que

estamos realizando há dois anos e os excelentes resultados a que chegamos em nosso encontro reiteram a necessidade de fortalecermos nossas alianças estratégicas e renovarmos nossos métodos de ação convergente. As experiências que ancoraram nossas reflexões deixam claro que os temas que identificam as bandeiras de nossas redes e movimentos integram-se nas lutas do cotidiano que se desenvolvem nos campos e nas cidades contra os mecanismos de expropriação impostos pelo capital e em defesa dos territórios. Evidenciam, assim, a necessidade de intensificarmos e multiplicarmos as práticas de diálogos e convergências desde o âmbito local, onde as disputas territoriais materializam-se na forma de conflitos socioambientais, com impacto na saúde das populações, até níveis regionais, nacionais e internacionais, fundamentais para que as causas estruturais do atual modelo hegemônico sejam transformadas.

A natureza local e diversificada de nossas lutas vem até hoje facilitando as estratégias de sua invisibilização pelos setores hegemônicos e beneficiários do modelo. Esse fato nos indica a necessidade de atuarmos de forma articulada, incorporando formas criativas de denúncia, promovendo a visibilidade dos conflitos e das proposições que emergem das

experiências populares.Uma das linhas estratégicas

para a promoção dos diálogos e convergências é a produção e disseminação de conhecimento sobre as trajetórias históricas de disputas territoriais e suas atuais manifestações. Nesse sentido, as alianças com o mundo acadêmico devem ser reforçadas também como parte de uma estratégia de reorientação das instituições do Estado, no sentido destas reforçarem as lutas pela justiça social e ambiental. Estimulamos a elaboração e uso de mapas que expressem as diferentes dimensões das lutas territoriais pelos seus protagonistas como uma estratégia de visibilização e articulação entre nossas redes e movimentos. O Intermapas já é uma expressão material das convergências.

Outra linha estratégica fundamenta-se em nossa afirmação de que a comunicação é um direito das pessoas e dos povos. Reafirmamos a importância, a necessidade e a obrigação de nos comunicarmos para tornar visíveis nossas realidades, nossas pautas e nosso projeto de desenvolvimento para o país. A mudança do marco regulatório da mídia é condição para a democratização dos meios de comunicação. Repudiamos as posturas de criminalização e as formas de representação que a mídia hegemônica adota ao abordar os territórios, modos de vida e lutas. Contestamos a produção da invisibilidade nesses meios de comunicação. O Estado deve se comprometer a financiar nossas mídias, inclusive para que possamos ampliar projetos de formação de comunicadores e de estruturação dos nossos próprios veículos de comunicação. As mídias públicas devem ser veículos para comunicar aprendizados de nossas experiências, proposições e campanhas. Por uma comunicação livre, democrática, comunitária, igualitária, plural e que defenda a vida acima do lucro.

Nossos diálogos convergem também para a necessidade do reconhecimento das mulheres como sujeito político, a importância de sua auto-organização e a centralidade do questionamento da divisão sexual do trabalho que desvaloriza e separa trabalho das mulheres em relação ao dos homens, assim negando a contribuição econômica da atividade doméstica de cuidados e a produção para o autoconsumo. Convergimos na compreensão do sentido crítico do pensamento e ação feministas para ressignificar e ampliar o sentido do

trabalho e sua centralidade para a produção do viver.

A apropriação do feminismo como ferramenta política contribuirá para recuperar e visibilizar as experiências, os conhecimentos e as práticas das mulheres na construção da agroecologia, da economia solidária, da justiça ambiental e para garantir sua autonomia econômica.

Mas a história também mostra que o permanente exercício da violência dos homens contra as mulheres é um poderoso instrumento de dominação e controle patriarcal que fere a dignidade das mulheres e impede a conquista de sua autonomia, e as exclui dos espaços de poder e decisão. A violência contra as mulheres não é agroecológica, não é solidaria, não é sustentável, não é justa. Por isso é fundamental que as redes que estão organizando o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências assumam a erradicação da violência contra as mulheres como parte de um novo modelo de produção e consumo, que deve ter como um eixo fundamental a construção de novas relações humanas baseadas na igualdade.

O papel do Estado democrático é o de construir um país de cidadãos e cidadãs, promover e defender a organização da sociedade civil e de estabelecer com ela relações que permitam à sociedade reconhecer nas instituições a expressão do compromisso com o público e com a sustentabilidade. Esse princípio é contraditório com qualquer prática de criminalização dos movimentos e organizações que lutam por direitos civis de acesso soberano aos territórios e seus recursos.

As redes e movimentos promotores deste Encontro saem fortalecidos e têm ampliadas suas capacidades de expressão pública e ação política. Estamos apenas no início de um processo que se desdobrará em ambientes de diálogos e convergências que se organizarão a partir dos territórios, o lugar onde nossas lutas se integram na prática.

Salvador, 29 de setembro de 2011

Page 32: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 32

Page 33: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 33

Page 34: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 34

Page 35: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 35

Page 36: The Ecologis 021

fiM do PaPEl?Os aparelhos eletrônicos como o IPad e os Tablets causam furor e são muito sedutores.

Tom Hodgkinson os testou e compartilha aqui suas conclusões.

“Tablet” sumério de Shuruppak, datado de 2600 A.C. e conservado no departamento de antiguidades orientais do museu do Louvre. A tecnologia mesopotâmia a base de argila cozida (para o tablet) e de cana (para escrever) permite a preservação dos dados durante vários milhares de anos. O

tempo de vida dos suportes numéricos (CD, discos rígidos...) é em média de 5 a dez anos. Fonte: Academia de Ciências e Academia de Tecnologias, A Longevidade da informação numérica, EDP Sciences, 2010.

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 36

Comprei um iPad em meados de 2010. Um aparelho desses é inegavelmente sedutor. Alguns de nós, certamente, encontram maneiras mais inteligentes de gastar dinheiro, como por exemplo plantar um pomar, mas este pequeno aparelho portátil tem alguma coisa de milagroso. Seus aplicativos de tratamento de textos e de imagens são fabulosos. Dependendo das conexões pode virar um aparelho para assistir TV. Tem até mesmo uma função pintura.

DecepçãoTodavia, depois de algumas

semanas de uso, seus limites comparados com o papel parecem muito vazios. A primeira questão é sua fragilidade. Uma briga entre dois de meus filhos envolvendo o aparelho fez

com que ele perdesse tudo que estava na memória: todas minhas anotações e planilhas de cálculos simplesmente sumiram.

Esse incidente me fez lembrar das duas decepções anteriores que tive com novas tecnologias. A primeira foi o ZX Spectrum, o primeiro computador pessoal de pequeno porte que tive. Passei a metade de um verão, quando tinha 12 anos de idade, a escrever um programa em liguagem basic. Um dia, sem anunciar nada, ele começou a emitir uma fumacinha e nunca mais voltou a funcionar. Meu refúgio foi o parque para aproveitar o que restava de minha infância.

A segunda decepção foi uma agenda eletrônica, o Psion Organizer. Era o

iPad da época, algo que todo mundo queria ter. Um dia, no mercado, meu casaco caiu no chão e no bolso estava o precioso aparelho. O visor quebrou e toda a informação foi perdida. Parti para comprar um agenda de couro e um lápis, sistema que utilizo desde então com grande satisfação. Você pode jogar contra uma parede num momento de raiva e nada acontecerá com os dados. Gosto também de folhear agendas que foram usadas há mais de dez anos e relembrar com nostalgia minhas ocupações daquele momento. Coisas impossíveis com uma agenda eletrônica.

O outro problema com o iPad é sua curta duração de vida. Recentemente comprei um livro publicado em 1812. Assim nos coloco honestamente uma

Page 37: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 37

questão: o iPad continuará a existir daqui a duzentos anos?

As boas invenções tecnológicas, como o livro, ou ainda a foice ou a pá, possuem um tempo de vida muito mais longo.

Tecnologia EnergívoraA propósito do papel, li com

consternação um comentário atribuído a Richard Branson, diretor executivo da multinacional Virgin, que se autoproclamou pioneiro ecológico na ocasião do lançamento de sua revista no iPad. Ele retoma essa ideia construída, segundo a qual o lançamento de revistas em sites virtuais é mais ecológico do que em papel. Dizem também que os dias estão contados para a indústria do livro, prevendo a morte dos livros em papel. Comentário de Branson: “É uma boa coisa que o papel desapareça”. “É melhor deixar as árvores crescerem. Escrever sobre papel já era.”

Agora que me encontro sentado em meu escritório, aquecido por alguns cavacos de madeira bem secos colocados num fogaozinho a lenha, paro para refletir sobre as incoerências dessas declarações. À parte o absurdo da autoproclamação ecológica (a coisa mais ecológica para ele seria anular o lançamento de sua revista no iPad, ir sentar-se sob uma árvore e não fazer absolutamente mais nada no restante de seus dias), deixe-me insistir em um ponto: quando corretamente manejadas, as florestas fornecem madeira que pode ser retirada e as árvores produzem sementes a cada ano para repovoar com novas árvores. A madeira pode ser queimada como combustível, ou se decompor, em todos os casos ela se reintegra. O que aconteceu com todos os ZX Spectrum e as Psion Organiser? Eles geram sementes? Não, são estéreis e geram lixo e resíduos tóxicos. A madeira é renovável, o plástico não.

Lembremos também que há a necessidade de suprimento de energia para gerar os sites e os sistemas de informática. Multinacionais como o Facebook estão construindo servidores gigantescos no Oregon(Estados Unidos). O Greenpeace estima que tais centros consumirão 2 bilhões de Kilowatt hora até 2020.

Contrariamente ao iPad, nossa relação com o papel é feita para durar.

Tom Hodgkinson é redator chefe da revista britânica The Idler. Publicada duas vezes por ano, esta revista progressista inglesa defende a arte de viver e é contrária ao vício em relação ao trabalho da sociedade atual. http://idler.co.uk/. Este artigo foi publicado na L´Écologiste, edição francesa da revista The Ecologist, de junho/agosto de 2011.

Os Custos Ecológicos do iPad

Doze meses após o lançamento do primeiro iPad e da quarta geração de iPhone, apareceu o iPad 2. Estamos em meados de 2011 e já há 41 milhões de iPhone, iPad e iPod no mercado, que fazem a fortuna da multinacional Apple. Há 4 anos atrás, o sistema de telefonia móvel que acolhe hoje os e-serviços não existia e hoje já representa 40% dos negócios da empresa. A Apple obteve 6 bilhões de dólares de lucros no quarto trimestre de 2010.

Este crescimento exponencial é sustentado por um fluxo contínuo de novidades e de versões atualizadas. “Apple tem uma taxa de renovação de seus novos produtos e de aparelhos que é bastante consumidora de matérias primas”, segundo Tom Dowdall do Greenpeace Internacional. ”Seus produtos ficam obsoletos em um período de 12 meses. Este tem sido o modelo de negócio da indústria eletrônica, que é insustentável porque seu modelo de desenvolvimento é baseado em um consumo exponencial.”

Contrariamente em relação a outras multinacionais, a Apple se recusa a adotar um plano de redução de suas emissões de gases de efeito estufa. Em fevereiro de 2011, os acionistas da empresa votaram não às propostas de elaboração de uma análise detalhada da (in)sustentabilidade dos negócios da empresa e rejeitaram também a criação de uma comissão encarregada de examinar a questão.

A China é a bola da vez em termos de pujança do mercado de massas (25 lojas novas devem ser abertas nos próximos dois anos) e é lá que se localiza a linha de produção de produtos finos e de componentes da Apple. Em Pequim, a Apple abriu sua primeira loja em 2008.

Os trabalhadores da Usina de Suzhou gerenciada pela Wintek, companhia de Taiwan, se envenenaram em 2010 após terem sido expostos a hexano, que é um produto tóxico utilizado para limpar as telas táteis da Apple. Dois funcionários de Shanghai foram hospitalizados em outubro de 2010, onde permaneceram internados durante seis meses, após utilizarem o mesmo produto nos computadores portáteis e nos iPhone da Apple.

Em outubro de 2010, a ONG baseada em Hong Kong, Students and Scholars Agaisnt Corporate Misbehavior (SACOM), (tradução literal: Estudantes e Pesquisadores Contra o Mau Comportamento das Corporações) reportaram uma onda de suicídios ocorrida na Foxconn eletrônicos, empresa fornecedora da Apple. (1)

Em janeiro de 2011, a ONG Institute of Environmental and Public Affairs (tradução literal Instituto de Assuntos Ambientais e Públicos) publicou um relatório sobre 29 companhias mundiais de alta tecnologia.(2) As 36 ONGs que contribuíram para este trabalho a Apple como a última no ranking em matéria de transparência e de reatividade no que se refere a ambiente e saúde. O diretor da ONG, Ma Jun, resume: “A Apple considera que não deve satisfações à comunidade local, nem para as ONGs e nem para os trabalhadores intoxicados.”(2)

A companhia finalmente reagiu e publicou em 2011 um relatório de acompanhamento onde reconhece que 137 trabalhadores foram intoxicados. O relatório menciona 91 crianças que trabalhavam em 10 usinas gerenciadas por subcontratados, no ano anterior foram 11 em 3 usinas.

No que se refere ao ambiente o guia do Greenpeace de 2006 sobre as empresas de alta tecnologia mais responsáveis classifica a Apple na última colocação. Na última edição da pesquisa, outubro de 2010, a empresa subiu um pouco na classificação.(3) Na realidade, todas as empresas de “alta tecnologia” são muito poluidoras.

O texto deste quadro é do jornalista da The Ecologist, Eifion Rees. Publicado na L´Écologiste, edição francesa da The Ecologist, de junho/agosto 2011.

Notas: (1) Veja: http://sacom.hk/(2) Relatório The other side of Apple (O outro lado da Apple) disponível em: http://

www.business-humanrights.org/media/documents/it_report_phase_iv-the_other_side_of_apple-final.pdf

(3) Versão integral disponível em inglês:http://www.greenpeace.org/international/en/campaigns/toxics/electronics/Guide-to-Greener-Electronics

Page 38: The Ecologis 021

Rio Grande do Sul:

Feira da Agricultura Ecológica (sábados pela manhã na Rua José Bonifácio, Porto Alegre), nas seguintes bancas: Nutracêuticos (suco de cactus); Carneiro (livreiro); Darci (livreiro); Via Sapiens (livraria)

Loja 13: Loja da Reforma Agrária no Mercado Público de Porto Alegre – Centro fone (51) 3023.4057

Livraria Via Sapiens Rua da República, Cidade Baixa Porto Alegre RS fone: (51) 3221.0006 www.livrariaviasapiens.com.br

Livraria Palavraria Av. Vasco da Gama, 165 Bairro Bom Fim Porto Alegre RS Está aberta de segunda a sábado, das 11 às 21h. Telefone 51 3268 42 60 [email protected]

Pharmácia Belladona Rua Félix Cunha, 697 Bairro Floresta Porto Alegre fone: (51) 3395-5700

Humanas Livraria Av. Cristóvão Colombo, 1634 Bairro Floresta Porto Alegre fone: (51) 3395-3779

Restaurante Jacarandá Culinária Integral e Macrobiótica Rua Santa Teresinha 37, sobre loja Bairro Bom Fim Porto Alegre fones: (51) 3029-9286 e 3328-9636 Horários de Atendimento: De Segunda a Sexta-feira das 11:30 às 14:30h. Aos Sábados das 12:00h às 15:00h www.restaurantejacaranda.com.br

Restaurante Suprem Rua Santo Antônio, 877 Porto Alegre RS 90220-010 fone: (51) 3312-2731e.mail: [email protected] Gastronomia Vegetariana com temperos da culinária hindu. Almoços diariamente das 12h às 14:30h. De quinta à sábado abre também das 19h à meia noite.http://restaurantesuprem.blogspot.com

Contraponto Entreposto de Cultura, Saúde e Saber Espaço de comercialização solidária no campus central da Universidade Federal do RS (UFRGS) ao lado do prédio da Faculdade de Educação Porto Alegre e.mail:[email protected] fones (51) 3308.4039

Restaurante Natureza Pura Rua Mário Antunes da Veiga, 284 em frente ao Clube dos Casados Centro Viamão Restaurante ovo-lacto-vegetariano, com comida preparada totalmente com alimentos orgânicos. Serve almoço em buffet com oito pratos quentes, sete opções de saladas, além de sobremesa e suco natural incluído. De segunda a sábado, das 11h30 às 14h30. F:(51) 3446-8473

Talavera Varejista de Produtos Naturais Rua Dr. Flores, 1198 Centro Montenegro 95780 000 fone (51) 3632.1269 e.mail: [email protected]

ondE EnContrar a tHE ECologist Brasil

Demetra Orgânicos Rua Euzébio Balzaretti, 545 Centro Gramado Aberto de segunda a sábado das 9h às 18:30h fone (54) 8143.1449 e.mail: [email protected]

Santa Catarina:Shambala Produtos Naturais Rua Angelin Grasso,

513 Centro Gravatal 88735-000 Fone: (48) 3648-2072 e-mail: [email protected] www.shambala.com.br

Banca do Glaico na Feira Ecológica da Lagoa da Conceição em Florianópolis aos sábados pela manhã.

Bancarrota no centrinho da Lagoa da Conceição Rua Henrique Veras Nascimento, 251 Florianópolis 88062-020 Fone: (48)3232-1336

São Paulo:

AAO Associação de Agricultura Orgânica Av. Francisco Matarazzo, 455 Prédio do Fazendeiro Sala 24 Parque da Água Branca CEP: 05001-970 São Paulo fone: (11)3875-2625 Fax: (11)3872-1246 e.mail:[email protected] site: www.aao.org.br

Rio de Janeiro:

Restaurante Metamorfose Rua Santa Luzia 405, sobreloja 20 Cep 20020-020 Rio de Janeiro fone: (21) 2262-6306 www.restaurantemetamorfose.com.br

Feira de Santa Tereza banca da Lilia Maynardes aos sábados pela manhã no bairro Santa Tereza Rio de Janeiro

Chapada dos Veadeiros/Goiás:

Empório Santa Maria na Padaria Santa Maria atrás da Rodoviária de Alto Paraíso de Goiás. Rua dos Cristais, 07, Setor Paraisinho. Alto Paraíso de Goiás. CEP: 73770-000 Telefones: (62) 9652-1562 - Fernando ou (62) 9996-7339 – Débora e.mail: [email protected]

DF/Brasília:

Banca do Marcelino produtor ecológico que vende seus produtos na SQS 305 quartas pela manhã em Brasília email: [email protected]

Enviamos também pelo correio. Pedidos para [email protected] seu endereço que a gente envia a

revista e indica a conta para depósito.

The Ecologist Brasil - Primavera 2011 Página 38

Page 39: The Ecologis 021

The Ecologist Brasil - Primavera 2011

Revistas Ecologist BrasilRepensando paradigmas

Subsidiando o diálogoApontando soluções

A Revista The Ecologist foi fundada em 1969 na Inglaterra e hoje também está presente nos seguintes

países: Índia, Nova Zelândia, França, Espanha, Líbano, Grécia, Itália, Colômbia e Brasil.

Rede de Mídia Livre. Não aceitamos patrocínio de empresas e atividades poluidoras. Contamos com o

auxílio financeiro do leitor. Ajude-nos a continuar este trabalho!

Complete sua coleção!

Ainda temos estes números, aproveite!

Page 40: The Ecologis 021

Pousada Itapuã: Um paraíso pertinho de Porto Alegre. contatos com Vera fone: (51) 3494.1847 - 8529.0663 ou pelo email: [email protected]