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Abacaxi Implantação de um abacaxizal Neide Botrel LI Dalmo Lopes de Siqueira ~/ ESCOLHA DO LOCAL Entre as relações planta e clima, planta e solo, as exigências edafoclimá- ticas são bastante diversas. A escolha do lugar para implantação de um abacaxizal depende de um certo número de fatores ligados ao meio físico, tais como: umi- dade, luminosidade, temperatura, tipo , preparo do solo. PLANTA E CLIMA o clima exerce influência sobre o desenvolvimento da planta, com conse- qüente interferência na qualidade do fruto. Dentre os fatores climáticos desta- -arn-se: temperatura, luminosidade, midade. Temperatura Nas regiões relativamente quentes e úmidas, a massa foliar é bastante exube- rante, as folhas são numerosas, largas e pouco rígidas, e os frutos apresentam-se de melhor qualidade. Por outro lado, nas regiões de temperaturas baixas, o crescimento é bastante lento, as folhas são pequenas, rígidas e menos numero- sas. Diante disso, observa-se que nas regiões onde o inverno é bastante rigo- roso, ocorre paralisação no crescimento da planta. A ocorrência de geadas causa sérios danos à planta e inutiliza a fruta ainda em formação. Segundo Sanford (1962), a tempe- ratura ideal para o desenvolvimento do abacaxizeiro situa-se em torno de 29 a 30 0 e. A amplitude de temperatura con- siderada como ótima está geralmente em torno de 30 0 e, como máxima, e 20 0 e, como mínima, por todo o ciclo da cul- tura (Neild & Boshell 1976). Tempera- turas inferiores a 20 0 e prejudicam sen- sivelmente o metabolismo da planta, causando uma paralisação ou redução do desenvolvimento vegetativo. Devido a diferenças climáticas, mes- mo dentro de uma variedade, sob idênti- cas condições de cultivo e solo, o abaca- xizeiro pode comportar-se de modo bas- tante diferente de uma zona para outra. Luminosidade Esta também pode afetar sensivel- mente o desenvolvimento da planta. Quando é pouca, as folhas tornam-se mais longas, eretas e de coloração verde- escura. o entanto, com luminosidade forte, as folhas tomam uma coloração amarelada ou avermelhada. De modo geral, a redução em 20% na radiação diminui o rendimento da produção em 10% (Sanford 1962). A luminosidade é um fator limitan- te no que diz respeito à densidade de plantio, ou seja, quanto mais mudas são plantadas por hectare, maior concorrên- cia existirá em termos de luminosidade, interferindo diretamente no peso médio do fruto. O fotoperiodismo influencia, contu- do, no ciclo da cultura. A indução flo- ral espontânea do abacaxizeiro está asso- ciada à diminuição da luminosidade, ocorrendo a floração quando os dias são mais curtos, mas também em pleno ve- rão, em dias de forte nebulosidade. Umidade A cultura do abacaxizeiro é cultiva- da em zonas de pluviosidades bastante variadas, desde 600 mm anuais (com uma estação seca de vários meses), até 3500 a 4000 mm anuais. É uma plan- ta capaz de suportar deficiências hídri- cas bastante acentuadas. Os sintomas de deficiência quando aparecem, devido a secas progressivas, são muito evidentes. Os tecidos das raízes mais jovens são lesados. As folhas tor- nam-se amareladas tendendo para aver- melhadas, perdem a turgescência, e os bordos dos limbos enrolam-se para o li Engê Agrê, - Pesquisadora/EPAMIG - Cx. Postal 351 - 38.100 - Uberaba-MG ~I Eng? AgrC?,M.S. - Pesquisador/EPAMIG - CAixa Postal 351 - 38.100 - Uberaba-MG. 22 lado inferior da folha. No estado jovem da planta o déficit hídrico é ainda mais crítico, porque as perdas por evapotrans- piração prejudicam sobremaneira o siste- ma radicular ainda em formação. A deficiência hídrica acentuada nos primeiros meses da cultura, também, pode alongar significativamente o ciclo vegetativo da cultura, bem como dimi- nuir o tamanho do fruto. É igualmente importante observar que chuvas em excesso podem ser preju- diciais ao desenvolvimento vegetativo. No caso de estagnação de água no solo, podem ocorrer a asfixia das raízes e a intensificação do ataque de nematóides e fungos patogênicos. As técnicas agronômicas (disposição no terreno, preparo, cobertura, irriga- ção, controle de parasitas etc.) são de fundamental importância sobre o apro- veitamento racional da água no solo, exercendo influência direta no desen- volvimento da cultura. A zona climática ideal para a cultu- ra do abacaxizeiro está compreendida numa faixa de pluviosidade de 80 a 100 mm mensais. PLANTA E SOLO Tipo de solo O sistema rad icular do abacaxizeiro é constituído pelas raízes aéreas ricas em pêlos absorventes e pelas subterrâ- neas. A atividade e a vida das raízes subterrâneas estão geralmente limitadas pelas condições externas desfavoráveis, parasitas ou pelas condições físicas do solo. Devido à fragilidade do sistema ra- dicular, preferem-se solos areno-argilo- sos, bem arejados e drenados para im- plantação da cultura. A aeração do solo e ao mesmo tempo a umidade são requi- sitos básicos para o crescimento normal das raízes. Os solos favoráveis à cultura carac- terizam-se pela capacidade de eliminar rapidamente o excesso de água. Portan- to, a permeabilidade é a principal quali- dade, e ela deve existir a uma profundi- dade suficiente para evitar a estagnação de água prejudicial ao sistema radicular. A permeabiJidade depende essencial- Inf. Agropec., Belo Horizonte, !.!.. (130) outubro de 1985

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Abacaxi

Implantaçãode um abacaxizal

Neide Botrel LIDalmo Lopes de Siqueira ~/

ESCOLHA DO LOCAL

Entre as relações planta e clima,planta e solo, as exigências edafoclimá-ticas são bastante diversas. A escolha dolugar para implantação de um abacaxizaldepende de um certo número de fatoresligados ao meio físico, tais como: umi-dade, luminosidade, temperatura, tipo, preparo do solo.

PLANTA E CLIMA

o clima exerce influência sobre odesenvolvimento da planta, com conse-qüente interferência na qualidade dofruto.

Dentre os fatores climáticos desta--arn-se: temperatura, luminosidade,midade.

TemperaturaNas regiões relativamente quentes e

úmidas, a massa foliar é bastante exube-rante, as folhas são numerosas, largas epouco rígidas, e os frutos apresentam-sede melhor qualidade. Por outro lado,nas regiões de temperaturas baixas, ocrescimento é bastante lento, as folhassão pequenas, rígidas e menos numero-sas. Diante disso, observa-se que nasregiões onde o inverno é bastante rigo-roso, ocorre paralisação no crescimentoda planta. A ocorrência de geadas causasérios danos à planta e inutiliza a frutaainda em formação.

Segundo Sanford (1962), a tempe-ratura ideal para o desenvolvimento doabacaxizeiro situa-se em torno de 29 a300e. A amplitude de temperatura con-siderada como ótima está geralmente emtorno de 300e, como máxima, e 200e,como mínima, por todo o ciclo da cul-tura (Neild & Boshell 1976). Tempera-turas inferiores a 200e prejudicam sen-sivelmente o metabolismo da planta,causando uma paralisação ou redução

do desenvolvimento vegetativo.Devido a diferenças climáticas, mes-

mo dentro de uma variedade, sob idênti-cas condições de cultivo e solo, o abaca-xizeiro pode comportar-se de modo bas-tante diferente de uma zona para outra.

LuminosidadeEsta também pode afetar sensivel-

mente o desenvolvimento da planta.Quando é pouca, as folhas tornam-semais longas, eretas e de coloração verde-escura. o entanto, com luminosidadeforte, as folhas tomam uma coloraçãoamarelada ou avermelhada. De modogeral, a redução em 20% na radiaçãodiminui o rendimento da produção em10% (Sanford 1962).

A luminosidade é um fator limitan-te no que diz respeito à densidade deplantio, ou seja, quanto mais mudas sãoplantadas por hectare, maior concorrên-cia existirá em termos de luminosidade,interferindo diretamente no peso médiodo fruto.

O fotoperiodismo influencia, contu-do, no ciclo da cultura. A indução flo-ral espontânea do abacaxizeiro está asso-ciada à diminuição da luminosidade,ocorrendo a floração quando os dias sãomais curtos, mas também em pleno ve-rão, em dias de forte nebulosidade.

UmidadeA cultura do abacaxizeiro é cultiva-

da em zonas de pluviosidades bastantevariadas, desde 600 mm anuais (comuma estação seca de vários meses), até3500 a 4000 mm anuais. É uma plan-ta capaz de suportar deficiências hídri-cas bastante acentuadas.

Os sintomas de deficiência quandoaparecem, devido a secas progressivas, sãomuito evidentes. Os tecidos das raízesmais jovens são lesados. As folhas tor-nam-se amareladas tendendo para aver-melhadas, perdem a turgescência, e osbordos dos limbos enrolam-se para o

li Engê Agrê, - Pesquisadora/EPAMIG - Cx. Postal 351 - 38.100 - Uberaba-MG~I Eng? AgrC?,M.S. - Pesquisador/EPAMIG - CAixa Postal 351 - 38.100 - Uberaba-MG.

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lado inferior da folha. No estado jovemda planta o déficit hídrico é ainda maiscrítico, porque as perdas por evapotrans-piração prejudicam sobremaneira o siste-ma radicular ainda em formação.

A deficiência hídrica acentuada nosprimeiros meses da cultura, também,pode alongar significativamente o ciclovegetativo da cultura, bem como dimi-nuir o tamanho do fruto.

É igualmente importante observarque chuvas em excesso podem ser preju-diciais ao desenvolvimento vegetativo.No caso de estagnação de água no solo,podem ocorrer a asfixia das raízes e aintensificação do ataque de nematóidese fungos patogênicos.

As técnicas agronômicas (disposiçãono terreno, preparo, cobertura, irriga-ção, controle de parasitas etc.) são defundamental importância sobre o apro-veitamento racional da água no solo,exercendo influência direta no desen-volvimento da cultura.

A zona climática ideal para a cultu-ra do abacaxizeiro está compreendidanuma faixa de pluviosidade de 80 a100 mm mensais.

PLANTA E SOLO

Tipo de soloO sistema rad icular do abacaxizeiro

é constituído pelas raízes aéreas ricasem pêlos absorventes e pelas subterrâ-neas. A atividade e a vida das raízessubterrâneas estão geralmente limitadaspelas condições externas desfavoráveis,parasitas ou pelas condições físicas dosolo.

Devido à fragilidade do sistema ra-dicular, preferem-se solos areno-argilo-sos, bem arejados e drenados para im-plantação da cultura. A aeração do soloe ao mesmo tempo a umidade são requi-sitos básicos para o crescimento normaldas raízes.

Os solos favoráveis à cultura carac-terizam-se pela capacidade de eliminarrapidamente o excesso de água. Portan-to, a permeabilidade é a principal quali-dade, e ela deve existir a uma profundi-dade suficiente para evitar a estagnaçãode água prejudicial ao sistema radicular.A permeabiJidade depende essencial-

Inf. Agropec., Belo Horizonte, !.!.. (130) outubro de 1985

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mente da porosidade. A circulação dear e água no solo efetua-se dentro dosporos maiores (macrosporos), e os porosmenores (microsporos) servem para re-ter a água que irá assegurar a alimenta-ção da planta e a sobrevivência das raí-zes.

Todos os estudos realizados emcampo têm demonstrado que o abacaxi-zeiro tem uma maior eficiência no apro-veitamento dos nutrientes colocados àsua disposição no solo, numa faixa depH 4,5 a 5,5. A partir desta faixa, orendimento diminui muito mais com aacidez do que com a alcalinização. EmpH inferior a 4,5, a planta submete-se aum risco muito grande de toxidez poralumínio. No caso de pH superiora 5,5, há uma redução no crescimentodo sistema radicular, provocado pelobloqueio da absorção de microek-men-tos e a indução, muitas vezes, de ac iden-tes vegetativos como a constriçr o daparte superior dos frutos ('crock neck').

Como o crescimento da planta érelativamente lento, o terreno fica mui-to exposto, principalmente nos primei-ros meses de yegetação, e bastante sujei-to à erosão (Fig. 1). Desta maneira, con-sideram-se elevadas as declividades de ter-reno superiores à faixa de 2 a 3 %. Quandoo cultivo é feito em solos superiores a estafaixa de declividade, deve-se estabelecerum sistema adequado de conservação dosolo, além de considerar as limitaçõespara o uso de mecanização.

No estado de Minas Gerais, os solosmais utilizados para a abacaxicultura são

os latossolos, por apresentarem condi-ções físicas favoráveis, ou seja, são pro-fundos, porosos e friáveis.

Práticas de controle à erosãoAs práticas de controle à erosão

visam a reduzir as perdas de solo e deágua das terras agrícolas, diminuindo oimpacto direto das gotas de chuva sobrea superfície do solo e a velocidade deescoamento das enxurradas. São classi-ficadas em vegetativas e mecânicas. Aspráticas de caráter vegetativo são aque-las em que a erosão é controlada atra-vés da vegetação ou mesmo de resíduosvegetais, enquanto que as de caráter me-cânico envolvem movimentos de terraou obras de engenharia.

Serão enfocadas a seguir algumaspráticas de controle à erosão que pode-rão ser utilizadas na cultura do abaca-xizeiro.

• Práticas vegetativasPlantio em faixas: Um terreno com

cultura perde muito menos solo após achuva, porque as culturas protegem-noe diminuem o efeito erosivo das enxur-radas. O importante é que o plantio sejafeito em nível e em faixa, plantandoalternadamente culturas mais densas, co-mo a cana-de-açúcar, com culturas me-nos densas, no caso o abacaxizeiro.

Consórcio de culturas: Consiste naimplantação de duas culturas diferentes,em um mesmo período, na mesma áreae em nível. O plantio de culturas de

Foto 1 - Erosão provocada pela água de chuvaem um abacaxizal em Monte Alegre de Minas - 1984.

Inf- Agropec., Belo Horizonte, !.!(130) outubro de 1985

subsistência nas ruas de uma lavourade abacaxi é uma prática recomendadapara pequenos produtores..1 Recomenda-se a utilização de aba-

caxizeiro como plantio temporário nasentrelinhas de culturas que necessitamde espaçamentos maiores e que demo-ram mais de dois anos para o seu iníciode produção, como citros e mangueira.

• Práticas mecânicas

Cultivo em nível ou contorno: É oponto de partida da conservação do so-lo. Quando aplicado isoladamente, oseu uso é restringido às áreas de 3 a 4%de declive, porém não sujeitas a chuvasintensas que causam grandes enxurradas.Em áreas com declividades superiores àsmencionadas, esta prática deverá ser as-sociada a outras, quer sejam vegetativasou mecânicas. Ela consiste no plantio,seguindo as curvas de níveis do terreno,que são marcadas com pé de galinha,trapézio ou nível de borracha. Váriasexperiências mostraram que esta práticapode reduzir em até 50% as perdas desolo.

Terraceamento: Consiste em cons-truir no terreno um canal e camalhãotransversalmente ao declive, para dimi-nuir a força das enxurradas, dirigindo-aspara um local determinado (Fig. 2). Nes-te caso, o plantio é realizado, marcando-se as linhas de maneira a acompanhar otraçado do terraço. É com base no tipo desolo e no grau de declividade do terreno(Quadro 1) que se determina a diferençade nível que deve haver entre os doisterraços (espaçamento vertical) e a dis-tância média que deverá existir entredois terraços consecutivos, após a loca-ção (espaçamento horizontal).

Preparo do solo

O preparo do solo é de suma impor-tância para oferecer boas condições aodesenvolvimento do sistema radicular dacultura. O solo deve ficar bem solto, fa-cilitando assim a penetração das raízese a assimilação dos nutrientes necessá-rios à planta.

Em um solo que ainda não foi culti-vado, é realizada a destoca, posterior-mente o enleiramento de tocos e raízese a retirada ou a queima deles. Após adestoca, é realizada uma aradura, segui-da de uma ou duas gradagens.

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Planejamento dos carreadores eposição dos talhões

Os carreadores têm por objetivoprincipal o tráfego de veículos dentro dalavoura, permitindo o transporte de má-quinas e insumos necessários à manuten-ção da cultura até a colheita propria-mente dita. Diante disso, faz-se neces-sário um planejamento adequado, visan-do a minimizar as perdas de área, assimcomo evitar danos à cultura.

Quando se pretende utilizar pulveri-zadores que trabalham sobre carretastracionadas por tratores, os carreadoresdevem ter pelo-menos 2,5 m de largurae é preciso deixar espaços relativamentegrandes para manobras. .

A locação dos carreadores internosdeve ser disposta de tal forma que nãoacumulem a água a ser despejada na la-voura. Eles devem cortar as águas, ouseja, devem ser em nível e não morro

Dentre os principais tipos de drena- abaixo.gem artificial, destacam-se a drenagem O número de linhas duplas coloca-superficial e a do solo. do entre carreadores está em função dos

A drenagem superficial consiste na equipamentos a serem utilizados no tra-retirada do excesso de água através de tamento fitossanitário e colheita.um único dreno aberto na parte mais No estado de São Paulo, levanta-baixa do terreno, ou ligando as depres- mentos realizados demonstraram que osões úmidas, de modo que a água seja número de linhas duplas entre os carrea-encaminhada para fora. Outras vezes, dores varia de 6 a 12. No Havaí esse nú-a limpeza, a correção do curso de um mero chega a 17 linhas duplas. Istoriacho ou o seu aprofundamento, satis- mostra a necessidade da introdução defazem a drenagem superficial. novos equipamentos adaptados às condi-

A drenagem do solo é também cha- ções brasileiras para o tratamento fitos-mada de subdrenagem ou drenagem sub- sanitário e colheita, o que permitiria oterrânea e tem por finalidade a remoção aumento do número de linhas duplasdo excesso de água dos horizontes do entre os carreadores com reflexos ime-solo ocupa~os pelas raízes. Consiste na diatos no aumento da produtividade.

Inf. Agropec., Belo Horizonte, !!(30) outubro de 1985

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Foto 2 - Plantio usando o sistema deterraceamento para controle da erosão.

QUADRO 1 - Espaçarnento de Terraços de Base Estreita, Média e Larga

Declive Solos Arenosos Solos Médios Solos Argilosos

(%) EV (m) EH (m) EV(m) EH (m) EV (m) EH (rn)

2 0,56 28,20 0,60 30,00 0,82 40,954 0,84 21,10 0,90 22,50 1,22 30,606 1,07 17,80 1,14 19,08 1,55 25,808 1,26 15,75 1,35 16,87 1,83 22,85

10 1,43 14,35 1,53 15,35 2,08 20,8012 1,60 13,30 1,71 14,25 2,32 19,3014 1,74 12,45 1,86 ~ 13,32 2,73 18,0516 1,89 11,80 2,02 12,62 2,74 17,1018 2,02 11,20 2,16 12,00 2,92 16,5220 2,14 10,70 2,29 11,47 3,11 15,55

Fonte: EMBRATER & EMBRAPA (1977).EV = Espaçarnento vertical entre terraços.EH = Espaçamento horizontal entre terraços.

Em uma área já cultivada, deve-seproceder à destruição dos restos cultu-rais, objetivando a redução de pragas,a incorporação de matéria orgânica e afacilidade de tratos culturais posteriores.

A presença de ar livre nos espaçosinterporos do solo na zona radicular tor-na-se tão necessária quanto a água para ocrescimento das plantas. O equilíbriono solo, da umidade e do ar, pode sersatisfatoriamente mantido por meio deuma drenagem adequada, A drenagempode ser natural ou artificial. Na suamaioria, as terras têm alguma drenagemnatural e, quando esta não é suficientepara escoar a água torna-se necessária adrenagem artificial.

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construção de drenos que podem serabertos ou cobertos. Os drenos abertos,em formas de valas, são canais de dimen-sões variáveis em que a superfície daágua fica exposta e têm por principalvantagem o baixo custo. Os drenos co-bertos, também chamados subterrâneosou fechados, são construídos por condu-tores subterrâneos de pedra, tijolos, te-lha, bambu, madeira ou tubos de barro,dependendo do custo e do material exis-tente na região.

Em suma, o tipo de preparo do soloa ser realizado numa área depende demuitos fatores. Cada situação, em nívelde propriedade, de acordo com as condi-ções de cada terreno, requer uma deci-são própria e adequada.

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Quanto aos talhões, estes devem serlocados de modo a facilitar os tratos cul-turais e a colheita, mas também é preci-so assegurar-se uma boa proteção do so-lo contra a erosão e uma boa drenagemdas áreas a serem ocupadas pelos abaca-xizeiros.

É conveniente que o comprimentodos talhões seja um múltiplo da capa-cidade de tratamento do modelo do pul-verizador empregado, em termos de dis-tância percorrida. Este tamanho pré-estabelecido irá influenciar na uniformi-zação da lavoura no in ício e término dosserviços efetuados.

Em terrenos de boa topografia, ouseja, com menos de 2% de declividade enão sujeitos à erosão, os talhões podemser demarcados no sentido perpendicu-lar às linhas de maior declividade. Noentanto, existindo riscos de erosão, faz-se necessário o emprego de medidas con-servacionistas adequadas.

Sistema de plantio

Após a preparação do solo, seguidade prática conservacionista adaptada àscondições do terreno, vem a escolha dosistema de plantio.

O plantio pode ser realizado em co-va, sulcos ou camalhões. Esta terceiraprática, pouco usada no Brasil, oferecea vantagem de uma melhor drenagemnas partes mais exploradas pelas raízes,o que assume especial importância, quan-do há predisposição do apodrecimentocausado por determinados fungos (solosmuito argilosos e pH elevado). Dá-sepreferência aos sulcos, quando se dese-ja aumentar o rendimento do plantio.Não havendo sulcado r e estando o ter-reno bem preparado, podem-se abrir ascovas com uma enxada ou pá de plantiotipo havaiano. Tanto as covas quanto ossulcos devem ter profundidade suficien-te para impedir o tombamento das mu-das.

Em países onde ocorre acentuadadeficiência hídrica, o plantio costumaser realizado sobre um filme de polieti-leno negro (Foto 3). A técnica consistena instalação do filme de polietileno so-bre o solo nu e regado, colocando ummontículo de terra nos bordos para evi- .tar a circulação de ar. Esta técnica ofere-ce também a vantagem de impedir o cres-cimento de plantas daninhas, aumentara eficiência de fumigações contra nema-

Foto 3 - Plantio de abacaxizal com coberturado solo na faixa de plantio com polietileno,

Costa do Marfim, 1984.

tóides e reduzir as perdas de fertilizan-tes por percolação. Por outro lado, autilização do filme de polietileno é decusto muito elevado, e há formação deum microclima ao nível do solo quefavorece aos parasitas.

Para facilitar os tratos culturais e acolheita da cultura, que se faz inteira-mente manual ou parte mecanizada, aslinhas devem ser dispostas de forma re-gular.

O plantio pode ser feito em linhassimples, duplas e triplas, contudo a gran-de preferência mundial é pelas linhasduplas. Em uma lavoura plantada emtrês linhas, os tratos culturais e a colhei-ta, nas linhas internas, tomam-se difí-ceis de realizar. Além disso, as plantassubmetem-se a uma concorrência, au-mentada pela rapidez do crescimentodas plantas das linhas externas, o queresulta na produção de frutos de tama-nho menor (nas linhas internas) e umamenor produção de mudas.

Dentro das linhas duplas, as mudasdevem ficar dispostas de preferência emtriângulo, para que haja um melhor es-coramento futuro das plantas entre si euma melhor distribuição do sistema ra-dicular.

Espaçamento e densidade deplantio

O número de plantas dentro de uma

Inf. Agropec., Belo Horizonte, !!(30) outubro de 1985

determinada área é fator primordial paraobtenção de altas produtividades. Istoporque não se mede a produção de umaplanta, mas a quantidade produzida nu-ma unidade de área (hectare, por exem-plo).

A densidade de plantio exerce influ-ência direta sobre os pesos médios dosfrutos, no entanto, a escolha deverá de-pender, em primeiro lugar, do objetivoeconômico, seguido da variedade a sercultivada.

Quanto ao objetivo econômico, de-ve-se levar em consideração o destinoda produção. No processo industrial,exigem-se frutos grandes para a fabri-cação de conservas, no entanto, para aprodução de sucos este não é um fatorrelevante, podendo no segundo casoutilizar maiores densidades de plantio.Para o consumo "in natura" também hápreferência pelos frutos maiores, con-cluindo-se então que, neste caso e noprocesso industrial destinado à fabrica-ção de conservas, devem-se utilizar den-sidades de plantio que não reduzam emdemasia o peso médio do fruto.

No que diz respeito à variedade, pa-ra certas cultivares de folhas longas nãose devem adotar densidades muito ele-vadas, assim como aquelas portadorasde folhas com espinhos, que requeremespaçamentos maiores para facilitar ostratos culturais.

Além do objetivo econômico e da

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Abacaxi

variedade, a densidade exerce tambéminfluência na longevidade do ciclo e naprodução de mudas. Quanto mais aden-sadas estiverem as plantas, mais curtosserão os ciclos e menor número de mu-das por planta (apesar de ser compensa-do pelo total de mudas por área cultiva-da).

Quando se pretendem duas colhei-tas, deve-se plantar em densidades me-nores, porque, quanto maior o númerode plantas por área, menor será o núme-ro médio de mudas produzidas por plan-ta, com conseqüente aumento da desu-niformidade da segunda colheita.

O espaçamento mais adequado éaquele que permite obter maior númerode frutos de bom peso médio. As varia-ções existentes nas recomendações téc-nicas para o espaçamento de plantio ba-seiam-se, prioritariamente, na cultivara ser plantada e na finalidade do plantio(Quadro 2). Para a cultivar Pérola comespinhos proeminentes e com caracte-rísticas apenas para o consumo ao na-tural, onde os frutos maiores atingemmelhores cotações no mercado, é reco-mendado um espaçamento menos den-so, capaz de facilitar os tratos culturais

e também diminuir a competição entreas plantas. O comum na região produ-tora do Triângulo Mineiro são plantioscom aproximadamente 27 .000 plantas/ha. A recomendação de diminuir em10 em a distância entre plantas dentrodas linhas, passando de 40cm para30 em, satisfaz as exigências de manejoda lavoura que, quando bem executa-do, ainda permite a produção de fru-tos de bom peso para o mercado. O ga-nho em produtividade nestas condições(33%) é bastante significativo.

As recomendações para a cultivarSmooth Cayenne baseiam-se principal-mente no nível de mecanização da la-voura e na finalidade que será dada àprodução. Em lavouras com alto graude mecanização, notadamen te para aspráticas de controle de plantas daninhas,adubações, pulverizações e colheita, adistância entre as linhas duplas deve serde 90 em. Quando apenas a colheita érealizada manualmente, é necessário umaumento dessa distância para 120 em,de maneira a permitir o trânsito dos tra-balhadores. Na definição da distânciaentre plantas dentro da linha, a utiliza-ção da mecanização nos tratos culturais

QUADRO 2 - Diferentes Espaçarnentos Recomendados para as Cultivares Smooth Cayennee Pérola e Número de Plantas por Hectare

Espaçarnento Númerode

Cultivar Nas Ruas* Entre as Dentro 'Plantas Observações

(em) Linhas das Linhas por(em) (em) Hectare

Smooth 0,90 0,40 0,30 51.200 Tratos culturais mecanizados, pro-Cayenne dução para indústria de suco.

Smooth 0,90 0,40 0,25 61.500 Tra tos culturais mecanizados, pro-Cayenne dução para indústria de suco.

Smooth 1,20 0,40 0,40 31.250 Espaçamento médio utilizado noCayenne Triângulo Mineiro.

Smooth 1,20 0,40 0,30 41.600 Recomendação para aumento deCayenne produtividade.

Smooth 1,20 0,40 0,25 50.000 Tratos culturais mecanizados, me-Cayenne nos na colheita.

Pérola 1,40 0,40 0,40 27.700 Espaçamento médio utilizado noTriângulo Mineiro.

Pérola 1,40 0,40 0,30 37.000 Recomendação para aumento deprodutividade.

* Ruas - distância entre duas filas duplas.

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força uma redução nesta recomendação,uma vez que o custo operacional de umamáquina por área trabalhada é indepen-dente da quantidade de plantas existen-tes na área. Quando se leva em conside-ração o destino da produção, os melho-res preços são obtidos para as frutascom peso médio de 1,8-2,0 kg que aten-dem ao mercado para compota e de fru-ta fresca. Nas condições são recomenda-das, para a região produtora de MinasGerais, densidades de plantio de até41600 plantas/ha, o que proporcionaráum aumento na produtividade da ordemde 33%, quando comparada com a den-sidade média da região. Quando a op-ção de comércio para os frutos é o mer-cado de suco, o que passa a interessar ésomente o peso total por hectare planta-do. Neste caso, o aumento da densidadede plantio até o limite de 55000 plan-tas/ha é sempre vantajoso.

REFERÊNCIAS

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