aa 502 ii caminhos de uma antropologia urbana

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Anuário Antropológico II (2013) 2012/II ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Julia O’Donnell Caminhos de uma antropologia urbana Trajetória e projeto nos primeiros escritos de Gilberto Velho ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Aviso O conteúdo deste website está sujeito à legislação francesa sobre a propriedade intelectual e é propriedade exclusiva do editor. Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digital desde que a sua utilização seja estritamente pessoal ou para fins científicos ou pedagógicos, excluindo-se qualquer exploração comercial. A reprodução deverá mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e a referência do documento. Qualquer outra forma de reprodução é interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casos previstos pela legislação em vigor em França. Revues.org é um portal de revistas das ciências sociais e humanas desenvolvido pelo CLÉO, Centro para a edição eletrónica aberta (CNRS, EHESS, UP, UAPV - França) ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Referência eletrônica Julia O’Donnell, « Caminhos de uma antropologia urbana », Anuário Antropológico [Online], II | 2013, posto online no dia 01 Fevereiro 2014, consultado no dia 10 Março 2015. URL : http://aa.revues.org/502 ; DOI : 10.4000/aa.502 Editor: Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UnB) http://aa.revues.org http://www.revues.org Documento acessível online em: http://aa.revues.org/502 Documento gerado automaticamente no dia 10 Março 2015. A paginação não corresponde à paginação da edição em papel. © Anuário Antropológico

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  • Anurio AntropolgicoII (2013)2012/II

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    Julia ODonnell

    Caminhos de uma antropologia urbanaTrajetria e projeto nos primeiros escritos de GilbertoVelho................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    AvisoO contedo deste website est sujeito legislao francesa sobre a propriedade intelectual e propriedade exclusivado editor.Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digitaldesde que a sua utilizao seja estritamente pessoal ou para fins cientficos ou pedaggicos, excluindo-se qualquerexplorao comercial. A reproduo dever mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e areferncia do documento.Qualquer outra forma de reproduo interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casosprevistos pela legislao em vigor em Frana.

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    Referncia eletrnicaJulia ODonnell, Caminhos de uma antropologia urbana, Anurio Antropolgico [Online], II|2013, posto onlineno dia 01 Fevereiro 2014, consultado no dia 10 Maro 2015. URL: http://aa.revues.org/502; DOI: 10.4000/aa.502

    Editor: Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social (UnB)http://aa.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em:http://aa.revues.org/502Documento gerado automaticamente no dia 10 Maro 2015. A paginao no corresponde paginao da edioem papel. Anurio Antropolgico

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    Julia ODonnell

    Caminhos de uma antropologia urbanaTrajetria e projeto nos primeiros escritos de Gilberto Velho

    Paginao da edio em papel : p. 37-51

    1 No segundo semestre de 1969, o recm-criado Programa de Ps-Graduao em AntropologiaSocial do Museu Nacional (UFRJ)1 ofereceu aos seus alunos aquele que seria seu primeirocurso de Antropologia Urbana. A disciplina seria ministrada pelo norte-americano AnthonyLeeds, ento professor do Departamento de Antropologia da Universidade do Texas, quechegara ao PPGAS atravs de um convnio com a Fundao Ford. Ex-aluno da Universidadede Columbia, Leeds viera ao Brasil na dcada de 1950, interessado no estudo da plantation nosul da Bahia. No tardou, contudo, para que seu olhar se voltasse para o universo das favelasbrasileiras, tema que o acompanhou por longos anos e que o fez mergulhar no grande campodos estudos urbanos.2 Num cenrio de recrudescimento das polticas habitacionais na AmricaLatina, Leeds viu nas favelas um campo privilegiado para o desenvolvimento de uma pesquisaqualitativa de flego, abrindo um campo de reflexo at ento muito pouco explorado pelascincias sociais brasileiras.

    2 Em meio a uma esmagadora maioria de cursos voltados para os temas tradicionais daAntropologia clssica,3 os alunos inscritos na nova disciplina se deparavam com umpesquisador especialmente interessado na temtica da habitao urbana, e que tinha em seuhorizonte de anlise a questo mais ampla das formas de relacionamento dentro e entrediferentes categorias sociais (Velho, 2011:161). As discusses e as leituras conduzidas porAnthony Leeds no decorrer do semestre resultaram, como de praxe, na elaborao detrabalhos finais por parte dos alunos, que deveriam apresentar reflexes que tivessem comoeixo o tema da habitao.

    3 Yvonne Maggie e Gilberto Velho, ento recm-casados, apresentaram uma pesquisa cujoobjeto era, no mnimo, curioso: um prdio de pequenos apartamentos em Copacabana,habitado por pessoas da baixa classe mdia. No se tratava, por certo, de um edifcio qualquer.Notrio por sua presena contnua nas pginas policiais e smbolo inconteste da precariedadeurbana, o Barata Ribeiro 2004 abrigava cerca de 2 mil moradores, reunindo em seus 12 andaresuma enorme variedade de pessoas em termos etrios, sociais e ocupacionais.

    4 Apesar de feito a partir de uma amostra relativamente pequena (foram 29 entrevistados),o texto no se furta de apresentar dados detalhados da estrutura fsica e organizacional doedifcio, bem como uma anlise cuidadosa do perfil socioeconmico de seus moradores. Em16 pginas, os jovens antroplogos apresentaram a Anthony Leeds uma verdadeira descriodensa do edifcio que dava nome ao trabalho, partindo da premissa de que o objeto escolhidoera capaz de revelar alguns aspectos interessantes da ideologia das camadas mdias urbanas.

    5 Entre tais aspectos est, conforme destacado pelos autores, a ambivalncia permanente entreo desejo de acesso a bens de consumo e a precariedade de suas habitaes. Divididos entre apossibilidade (ainda que muito limitada) de gozo dos bens oferecidos pela sociedade urbanaindustrial e a angstia de viver em apartamentos mnimos num edifcio de m fama, osmoradores do Barata Ribeiro 200 acabavam por acionar um discurso que tinha na ideia umtanto vaga de status seu principal alicerce. Copacabana aparecia ali, a despeito de qualquercorrespondncia com a realidade material dos entrevistados, como a prova definitiva de suaascenso social.

    6 O texto no ambicioso, nem tampouco ingnuo. Ainda que reconheam o carter superficiale impressionista da pesquisa, Yvonne e Gilberto deixam claro ter conscincia da amplitudee da complexidade do fenmeno evidenciado pelo estudo de caso do Barata Ribeiro 200.Apresentado como caso limite de uma situao que se espraiava por diversos pontos da zonasul carioca, o edifcio no , em nenhum momento, tratado como uma realidade insular. Aocontrrio, suas peculiaridades so vistas como resultado de um processo que envolve variveis

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    como migrao, estratificao social, delinquncia e discriminao, temas que se sobrepemem muitas das questes tangenciadas no decorrer do trabalho.

    7 A leitura do texto no estaria completa sem os comentrios anexados por Anthony Leeds natarefa de avaliar o trabalho feito pelo casal antropolgico. Destacando as dificuldades docampo escolhido, Leeds ressalta o talento e a habilidade de seus alunos como pesquisadores,bem como a qualidade da descrio apresentada. Por outro lado, identifica no texto aquilo quedefine como a ausncia de uma orientao terica, o que se refletiria, por exemplo, na faltade um ttulo para o texto. Por que o estudo? O que ele pretendia mostrar?, so as perguntasfeitas pelo professor.

    8 Ao que parece, as perguntas no passaram despercebidas pelo jovem Gilberto Velho.Conforme relatou anos mais tarde (Castro, Oliveira & Ferreira, 2001), o entusiasmo provocadopela pesquisa feita em parceria com Yvonne precipitou definitivamente a escolha do temade sua dissertao de mestrado. Ampliando o escopo da observao e das entrevistas paraoutros edifcios semelhantes em Copacabana, no demorou para que o trabalho ganhasse vultoe aporte analtico. Poucos meses depois, nascia A utopia urbana.

    9 Publicado pela primeira vez em 1973, A utopia urbana uma verso pouco modificada dadissertao de mestrado que Gilberto defendeu em 1970. Ainda que bastante fiel versooriginal, j na primeira pgina do livro somos alertados para o fato de que fruto da felizcombinao entre duas experincias acadmicas: os dezoito meses do mestrado e a temporadade um ano no Departamento de Antropologia da Universidade doTexas, ao longo da qualGilberto declara ter travado contato com vrios trabalhos em andamento sobre o meio urbanoe sociedades complexas (1973:1).

    10 O livro pequeno. As 99 pginas da primeira edio (incluindo a bibliografia) so umaverdadeira exceo em meio tradio antropolgica, feita de monografias extensas epublicaes literalmente de peso. A impresso de modstia que o volume provoca primeira vista no resiste, contudo, primeira frase com que se depara o leitor: Pretendo,com este livro, dar incio a uma srie de trabalhos sobre o meio urbano, com uma abordagemantropolgica.

    11 Para alm do anncio precoce de trabalhos futuros, chama a ateno nesta frase to simplesquanto paradigmtica a segurana e a certeza com que Gilberto se situava no campo daAntropologia Urbana. E qual a novidade?, perguntaria, talvez, um aluno de hoje, habituadodesde os primeiros tempos da graduao a ver a cidade como um objeto natural de exploraoetnogrfica. A resposta vem aos poucos para aqueles que seguem a leitura. J na terceira pginado livro, por exemplo, antes mesmo de qualquer apresentao da pesquisa, deparamo-nos coma seguinte declarao: Morei dezoito anos em Copacabana.5 referncia biogrfica se soma,em seguida, um claro posicionamento epistemolgico: A Antropologia, tradicionalmente,tem estudado os outros e eu me propus a estudar o ns (:3).

    12 Por tradicionalmente, neste caso, podemos tomar quase tudo (para no dizer tudo) quehavia sido feito at ento na Antropologia brasileira. Como diz a seguir o prprio Gilberto,claramente consciente do passo que se propunha a dar com esse trabalho, a AntropologiaUrbana ainda engatinhava naquele momento, enfrentando srios problemas de metodologia.O terreno era, nas suas palavras, movedio. Enquanto o investigador dedicado s sociedadestribais ou camponesas encontrava a seu dispor um conjunto j consagrado de dados empricose suportes tericos, ao pesquisador interessado no meio urbano restavam, como bem defineGilberto, a intuio, a polmica e a escassez absoluta de resultados com os quais dialogar.

    13 Mais do que uma questo de fidelidade fetichista a determinados temas e objetos, aquelepanorama era para ele resultado de uma das coisas que procurou combater ao longo detoda a sua carreira: o provincianismo disciplinar. Ao lidar com uma escala de anlisemais ampla, o pesquisador da cidade enfrentaria coisas como amostragem, estatsticas etantas outras nomenclaturas caras ao mtier do socilogo. E da?, perguntava-se Gilberto,sempre incomodado diante da resistncia ao uso combinado daquilo que chamava diferentestradies de trabalho. Mas tal postura no indicava, sob nenhum aspecto, uma renncia sespecificidades e aos encantos da Antropologia. Pelo contrrio. Sua postura defendia que uma

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    boa antropologia se fazia de dilogos fossem eles com nativos, fossem com outros camposde trabalho.

    14 Em A utopia urbana essa postura muito clara. As estatsticas convivem harmoniosamentecom um exerccio constante de produo de alteridade, numa equao em que o distanciamentodo pesquisador permeado com frequncia pela lembrana daquela lio que Max Weber janunciara nos primrdios da cincia da sociedade: o pesquisador e seu objeto partilham damesma natureza social. Seja na esquina de sua casa ou numa tribo longnqua, o distanciamentono um dado objetivo, e sim uma construo intelectual.6

    15 Mas vamos pesquisa. A Copacabana encontrada por Gilberto no final da dcada de 1960 era,em muitos sentidos, o retrato mais bem acabado do caos. Com mais de 250 mil habitantes7

    ocupando um territrio de 5km, o bairro tinha uma rotina pontuada por problemas decirculao e de higiene, num cenrio que pouco remetia aos padres clssicos de status eprestgio que haviam transformado o bairro no mais famoso carto-postal do pas nas dcadasanteriores.8 Num cenrio marcado pela hegemonia do concreto, 98,8% das moradias eramapartamentos, e a densidade populacional era das mais altas do mundo. Apesar disso, o bairroseguia recebendo moradores de outras regies e cidades, que muitas vezes deixavam boascasas em seus locais de origem para viver em apartamentos de um ambiente com pouco maisde 20m2 em Copacabana. Diante disso, Gilberto fez a mais simples das perguntas: por qu?

    16 Aqui, mais uma vez, pesquisador e objeto se encontram. Animado com as perspectivasanalticas abertas em sua breve incurso ao Barata Ribeiro 200, Gilberto viu no prprioedifcio em que vivia a possibilidade de um campo privilegiado. Construdo no final dadcada de 1950, o Edifcio Estrela (nome fictcio) abrigava cerca de 450 pessoas distribudasem 176 apartamentos de 39m2. Separadas por paredes finas e estreitas, as unidades noprimavam pela privacidade. Tal cenrio punha em constante negociao pessoas de diferentesgeraes, hbitos e ocupaes, num ambiente de conflito latente. No bastasse a precariedadematerial, o Estrela amargava ainda a fama de reunir habitantes considerados de baixo padromoral (1973:34), como prostitutas, marginais e homossexuais. Como ele mesmo recordariaanos mais tarde, nascia ali seu interesse por dinmicas marcadas pela acusao e pelo desvio,temticas que seriam mais bem desenvolvidas na sua tese de doutorado, Nobre e anjos umestudo de txicos e hierarquia, defendida em 1975.

    17 Partindo de trs variveis fundamentais (estratificao social, residncia e ideologia), apesquisa valeu-se tambm de entrevistas feitas com moradores de outras partes do bairro, demodo a responder quem eram, afinal, aquelas pessoas que viam em Copacabana um verdadeiroEldorado a redimir suas suburbanas biografias.

    18 Gilberto se deparava, ento, com aquele que seria seu companheiro de toda uma vida:o universo das camadas mdias urbanas. Se no trabalho entregue a Anthony Leeds apesquisa parecia ainda carecer de um objeto de anlise bem definido, agora seus nativosse apresentavam de forma muito mais clara. Inspirado pela leitura de grandes clssicos daantropologia, o jovem pesquisador entrava em campo decidido a compreender os setoresmdios da sociedade brasileira atravs de um olhar que lhe permitisse ir alm das informaestrazidas pelos tradicionais questionrios e dados estatsticos.9

    19 Ainda que neste livro trabalhe com a categoria white-collar (emprestada de Wright Mills),10

    esto ali muito claras e de forma mais ampla as bases de seu fascnio pela viso de mundo(Geertz, 1989)11 de setores mdios da sociedade, que at ento no faziam parte do rol de temaslegitimados pela antropologia, no apenas no Brasil, mas tambm em termos internacionais.Gilberto defendia sua escolha um tanto hertica afirmando que era necessrio aproximar-se das camadas mdias com outro olhar, indo alm da explicao mecnica de que ficavamentre a classe operria e as oligarquias. Era preciso entend-las em sua complexidade, em suaheterogeneidade, em seus vrios estilos de vida.

    20 importante lembrar tambm que o contexto poltico-histrico em que Gilberto iniciou suatrajetria intelectual foi determinante na construo de seu interesse por aquele universo socialespecfico. Afinal, com a implantao do regime militar em 1964, determinados setores dascamadas mdias assumiram relativo protagonismo no apoio nova ordem poltica, e erapreciso entender o que se passava. Copacabana despontava, naquele cenrio, como universo

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    privilegiado de pesquisa quelas indagaes. Local de moradia de famlias pertencentes a umaclasse mdia superior, mas tambm de pessoas ligadas a camadas mais baixas, o bairro reunia,de forma muito particular, os vrios setores que compunham as camadas mdias urbanasbrasileiras. Nas palavras do prprio Gilberto,

    [...] em 31 de maro [de 1964, data da tomada do poder pelos militares], quando puseram fogo naUNE,12 voltei para casa caminhando e, quando cheguei a Copacabana, vi que havia uma enormefesta. Fiquei realmente muito curioso e impressionado. Eu sei que tambm havia gente trancadadentro de casa, lamentando, mas na rua havia aquela grande festa, e eu queria saber quem eramaquelas pessoas, por que elas pensavam daquele jeito, por que estavam fazendo aquela escolha.[...] eu tinha interesse, at por uma motivao poltica, em entender por que as pessoas das camadasmdias urbanas tomavam as posies que tornavam. Quem eram aquelas pessoas? Como era a suavida? Qual era a sua viso de mundo? Qual era a sua ideologia, ou quais eram as suas ideologias?Na realidade, eu me convenci de que estudar isso era uma tarefa fundamental (Castro, Ferreira& Oliveira, 2002:191).

    21 Ao buscar compreender as motivaes que levavam donas de casa, comercirios, estudantes epequenos funcionrios pblicos a morarem no bairro, Gilberto deparou-se com o que chamoude o motor da ideologia copacabanense: a ideia de que o bairro era o locus das coisas boasda vida, numa definio que reunia critrios como abundncia de comrcio e de divertimentos,alm de constantes referncias noo de acesso ao mundo da modernidade. A chegada aCopacabana era ento associada sensao inequvoca de triunfo, num discurso guiado pelapremissa da mobilidade social, mesmo que pontuado pela conscincia da precariedade dascondies de moradia. Ainda que no empregue estas palavras no livro, surgiam ali, muitoclaramente, as ideias de projeto e de campo de possibilidades outros fiis companheirosde Gilberto ao longo de toda a sua trajetria. Definida por Alfred Schutz (1979) comoconduta organizada para atingir finalidades especficas, a noo de projeto lida diretamentecom a dimenso do indivduo-sujeito, servindo como instrumento privilegiado anlise detrajetrias coletivas ou individuais, bem como articulao de discursos identitrios (Velho,1994:101). O campo de possibilidades, por sua vez, corresponde ao espao para formulao eimplementao dos projetos, correspondendo s opes construdas dentro do processo scio-histrico e com o potencial interpretativo do mundo simblico da cultura (Velho, 1994:28).13

    22 Num olhar retroativo, fica claro que para muitos dos moradores do Estrela mudar-se paraCopacabana era um passo fundamental num projeto mais amplo de conquista da liberdadeindividual. No uma liberdade qualquer, mas a liberdade do anonimato, conforme atestamdepoimentos reproduzidos no livro:

    Adoro Copacabana. Ningum se mete na vida de ningum. Que eu tenho a ver com a vida dosoutros? (Velho, 1973:26).O movimento, a beleza, a gente faz o que quer. Ningum conhece ningum e todo mundo conhecetodo mundo (:29).Gosto de saber que existem movimento e confuso na esquina de casa. Na hora que eu quiser,me perco nela (:57).

    23 As declaraes resumem muitos dos sentidos atribudos forma como Copacabana seentranhava nos projetos de seus moradores, passando a ser parte constituinte de seudiscurso identitrio, num relance daquilo que, poucos anos mais tarde, Gilberto desenvolverialargamente a partir do conceito de anonimato relativo.

    24 A ideia aparece pela primeira vez num texto escrito em parceria com Luis Antonio Machadoda Silva e publicado no primeiro nmero do Anurio Antropolgico, em 1977, sob o sugestivonome de Organizao social do meio urbano. Ali, em meio a uma larga maioria de textosdedicados a temas clssicos da antropologia (como etnologia indgena e sociedades rurais), possvel ver ainda muito viva a preocupao dos autores em afirmar a legitimidade deuma antropologia urbana. No por acaso, comeam o texto afirmando o interesse em fazercincia social na cidade e no da cidade, garantindo que suas perguntas na aproximaocom o objeto no so diferentes daquelas feitas por pesquisadores de sociedades tribaisou camponesas: Como se organizam essas pessoas? Como subsistem? Quais so seusobjetivos? Quais so os smbolos que presidem seu comportamento? Quais so suas estratgiasde vida? Como resolvem seus conflitos? (Velho & Silva, 1977:71). No mesmo sentido,

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    insistem na desessencializao do urbano como uma realidade sui generis, advogando quea problemtica da cidade deve ser analisada de forma integrada a processos sociais globais(79), de modo a deixar claro que a antropologia urbana no deveria, por seu objeto ou por seusprocedimentos, ser tomada como um desvio na histria da disciplina.

    25 Por outro lado, ntida a fluncia com que so tratados temas que aparecem de forma aindamuito incipiente em A utopia urbana, como a problemtica do individualismo e uma reflexomais abrangente sobre a sociabilidade nas grandes cidades. Como mostram as muitas notas queacompanham o texto, tal fluncia vinha em grande medida fiada pela ampliao dos dilogostericos dentro do campo dos estudos urbanos. O leitor se depara recorrentemente com nomescomo Georg Simmel, Robert Park e Louis Wirth, autores que Gilberto Velho levaria com eledurante toda a sua trajetria, na tarefa incansvel de refletir sobre as prticas sociais em cursonas grandes cidades.

    26 nesse cenrio que surge, como ponto-chave da reflexo desenvolvida no texto, a ideia deanonimato relativo. Ainda que no seja apresentada como elemento da vida urbana per se, apossibilidade de trnsito por diferentes meios sociais apareceria de forma mais intensa no tipode organizao socioespacial tpico das grandes cidades. Nas palavras dos autores,

    O que seria caracterstico, ento, da grande metrpole a possibilidade de desempenhar papisdiferentes em meios sociais distintos, no coincidentes e, at certo ponto, estanques. Isto o queseria o anonimato relativo (Velho & Silva, 1976:80).

    27 Em texto publicado em 2000, tais questes apareceriam de forma ainda mais clara eamadurecida nos termos das relaes entre individualismo e metrpole. Ali, destacando apluralidade de papis que marca a vida das grandes cidades, Gilberto afirmava que

    o trnsito e a circulao entre diferentes grupos e meios sociais que causa e consequncia,num processo circular, de expanso dos valores individualistas. [...] O que seria caracterstico,ento, da grande metrpole a possibilidade de desempenhar papis diferentes em meios sociaisdistintos [...]. Isto o que seria anonimato relativo (2000:19).

    28 A questo do trnsito por diferentes mundos sociais e sua relao com o individualismoapontam para outro aspecto central da obra de Gilberto: a importncia da ideia deheterogeneidade como elemento fundamental para a anlise social em contexto urbano. EmA utopia urbana (e, de alguma maneira, tambm no texto sobre o Barata Ribeiro 200), istoaparece na insistncia com que Gilberto resiste tentao de tomar o conjunto dos habitantesdo Estrela como um grupo. No outro o sentido da grande variedade de trajetrias alireunidas, bem como do destaque dado aos inmeros conflitos que marcavam o cotidiano dosmoradores do edifcio. Se, para muitos, a ausncia de um grupo coeso era o calcanhar deAquiles de uma pretensa antropologia urbana, esta era, para ele, justamente a sua riqueza.

    29 No era outra a razo para, j nas concluses do livro, Gilberto enfrentar a questo defrente. At que ponto a Antropologia Social pode ser til para a investigao do meiourbano?, pergunta ele. A resposta vem atravs da defesa de uma flexibilidade metodolgicaque considerasse as especificidades das sociedades complexas e, portanto, a impossibilidadede uma abordagem totalizante. A antropologia seria, assim, mais que um tributo fiel aosensinamentos malinowskianos, uma forma de ver e entender o mundo, atenta s representaesdos nativos, sua forma de organizar e classificar a sociedade em que vivem. etnografiaem meio urbano caberia, ento, a busca pela lgica e pela coerncia internas do discursodo universo pesquisado, numa pretenso que faz da observao participante condio sinequa non para que o investigador v alm das aparncias, identificando cdigos nem sempreexplicitados.

    30 Mas o livro tem tambm marcas do seu tempo. Para o leitor assduo dos textos mais recentesde Gilberto, chega a ser estranho v-lo insistir na discusso de termos como estratificaoe alienao, na clara tentativa de dialogar com as tradies marxistas to fortes, parano dizer hegemnicas, no momento da pesquisa. No que Gilberto negasse a importnciados escritos de Marx em sua formao, ao contrrio, gostava de situ-los ao lado da Escolade Chicago, da antropologia social britnica e da obra de Marcel Mauss como uma dasprincipais influncias em sua formao intelectual. Ainda que no se considerasse um

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    marxista, defendia que questes como a estrutura de classes e a estratificao social eramde suma importncia e absolutamente atuais, especialmente para pesquisadores atentos aouniverso das sociedades complexas e das camadas mdias urbanas. Advogava, contudo, peloque chamava da flexibilizao daquelas questes atravs do estabelecimento de pontes comoutros temas no nvel de universos simblicos, de sistemas culturais (Castro, Ferreira &Oliveira, 2001:200).

    31 No memorial apresentado em 1992, no concurso de professor titular em Antropologia Socialdo Museu Nacional, Gilberto diz ver em A utopia urbana a forte presena de um pensamentosociolgico de razes marxistas, embora dialogando com a Antropologia Social propriamentedita. Daquela equao surgia um trabalho cuja problemtica bsica era, nas suas palavras,a relao entre experincia social e ideologia/representao.14 No de estranhar, assim,que nas concluses do livro, quando apresenta um dilogo mais direto com o universotemtico e semntico do marxismo, Gilberto reafirme que sua preocupao era escapar deuma anlise reificante da vida de diferentes grupos situados especialmente em uma grandemetrpole (Velho, 1973:92), partindo, para tal, da premissa de que a complexificao dasCincias Sociais demandava a aceitao de diferentes nveis de realidades correspondentes adiferentes apreenses individuais ou grupais de uma srie de dados brutos (1973).

    32 Bem, lidas as concluses, findo o livro, certo? Eu diria que no. Neste caso especfico, entendera marca do trabalho demanda tambm uma visita s referncias bibliogrficas. Mas a visita breve afinal, trata-se de uma nica pgina com apenas 15 obras listadas: quatro reportagensde jornal, um artigo do prprio Gilberto e apenas dez obras de cientistas sociais (Paul-HenriC. Lawe, Elizabeth Bott, mile Durkheim, Raymond Firth, Ervin Goffman, C. Wright Mills,Lus Pereira e Clyde Mitchels). Se fosse hoje, tal economia pareceria pedantismo ou autismointelectual. Era, na verdade, pioneirismo.

    33 Como mostra a bibliografia enxuta, a pesquisa foi feita tambm em face do desafio de podercontar com poucos, bem poucos, interlocutores. Onde esto, por exemplo, Simmel e Schutz,duas referncias centrais na obra de Gilberto? E Becker, Foote-White, Blummer, RobertoPark? So ausncias que gritam no livro para quem aprendeu Antropologia Urbana lendo estesautores. Gilberto afirma que foi s na sua temporada nos Estados Unidos que passou a termais contato com a Escola de Chicago nas suas muitas vertentes, como gostava de lembrar.Ainda que tivesse no Brasil aquilo que chamou de algum contato com a questo da cidadecomo fenmeno, foi apenas depois do mestrado que passou a se aprofundar em temas como ointeracionismo, as trajetrias e a relao indivduo/sociedade. Da para a Simmel, Schutz e aEscola de Chicago foi um passo. E um caminho de ida sem volta.

    34 Muito alm de um capricho ou de um lampejo de exotismo, A utopia urbana era, como sev, um movimento claro e consciente na direo da fundao de um campo de estudos. Umprojeto, diria eu, nos termos do prprio Gilberto.

    35 Ao leitor atento impossvel no perceber que por trs de cada nmero, de cada depoimento,de cada reflexo traada por Gilberto em seu esforo de desnudar Copacabana estava postoo desafio centrfugo de compreenso das sociedades complexas; e que, ao lado dele, havianaquela etnografia um tanto hertica para os padres de seu tempo uma defesa apaixonada daAntropologia como viso de mundo. Afinal, segundo ele prprio,

    Voc no pode pensar a vida social e cultural simplesmente de modo abstrato, mas sim atravsda vida dos indivduos, do dia a dia, do cotidiano, das decises que os indivduos tomam, dasescolhas que no so livres em termos absolutos, mas que so feitas no que a gente chama de umcampo de possibilidades, de um repertrio sociocultural (Velho apud Santana & Silva, 2006).

    36 E como chegar at l, seno pela Antropologia?37 Nos dias de hoje, um livro descrito como um estudo sobre as camadas mdias urbanas, feito

    a partir de observao participante num edifcio do bairro de Copacabana, no despertariaqualquer espanto. Qui sequer interesse. Num universo intelectual aberto, para no dizerescancarado, ao estudo social em cenrio urbano, tal trabalho soaria como mais um num vastomundo de pesquisas que tomam como ponto de partida a premissa inabalvel de que o outropode estar ao lado. E que no s pode, como deve ser estudado com o mesmo rigor e interesseque uma tribo distante. Mas assim como seus objetos de estudo, tambm as Cincias Sociais

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    so, elas mesmas, objeto de estranhamento e relativizao. Por isso, tratar da naturalidadecom que as grandes cidades transitam hoje pela Antropologia brasileira nas suas mais variadasformas e vertentes nos remete necessidade de retomar o fio de sua histria.

    38 E justamente nesse exerccio que reside a importncia da publicao da pesquisa de GilbertoVelho e Yvonne Maggie sobre o Barata Ribeiro 200. Por muitos anos guardado em sua versooriginal, entre os inmeros papis acumulados por Gilberto o texto nos chega hoje com ofrescor de uma novidade. Os mais de quarenta anos que separam a escrita do trabalho de suapublicao neste nmero do Anurio Antropolgico no so, de forma alguma, testemunho deseu apagamento. Pelo contrrio, fazem dele uma pea-chave na importante tarefa de relativizare historicizar a naturalidade com que a Antropologia Urbana hoje vista como parte legtimae inconteste das Cincias Sociais no pas. Para alm de ousada etnografia feita em contextourbano, o texto guarda em si o registro pulsante do pioneirismo de Gilberto Velho, abrindono apenas o caminho intelectual do autor, como tambm (e sobretudo) os muitos caminhosque se ramificaram na forma de uma Antropologia Urbana no Brasil.

    Bibliografia

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    Notas

    1 O PPGAS do Museu Nacional/UFRJ, criado em 1968, foi o primeiro programa de ps-graduao emAntropologia Social no pas.2 O resultado mais expressivo desse investimento o livro Sociologia do Brasil urbano, de 1978, escritoem parceria com sua esposa, Elizabeth Leeds.3 Em 1969, o PPGAS ofereceu as seguintes disciplinas aos seus alunos: Organizao Social,Sociedades Campesinas, Desenvolvimento Regional Comparado, Ecologia Antropolgica, Mobilizao,Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, Problems in Comparative Anthropolgy e AntropologiaUrbana.4 Mais conhecido como Barata Ribeiro 200 ou como Duzento, o Edifcio Richard foi construdo em1959, com 300 apartamentos conjugados e 207 unidades de quarto e sala. Na dcada de 1970, o edifciomudou de numerao, passando a ser 194, como meio de fugir ao estigma associado m fama j ento

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    Anurio Antropolgico, II | 2013

    conhecida em toda a cidade. Sobre a mudana de numerao, o escritor Joo Antonio disse: Mudaram onmero do 200. Mas ele continua o velho 200 da Rua Barata Ribeiro, um dos crimes mais considerveisda nossa construo civil. E um dos pontos mais crticos a que pode chegar a chamada civilizao doquarto-e-sala (2001:65).5 Gilberto declara ter vivido em Copacabana dos 6 aos 24 anos de idade (de 1952 a 1970), aps passara primeira infncia no Graja, bairro de classe mdia localizado na zona norte do Rio de Janeiro. Dizainda que se lembra do tom orgulhoso com que anunciava aos seus professores e colegas que estava demudana para Copacabana.6 Cf. Weber, Max, A objetividade do conhecimento na Cincia Social e na Cincia Poltica, A cinciacomo vocao e O sentido da neutralidade axiolgica nas cincias polticas e sociais.7 Enquanto a cidade do Rio de Janeiro observou um crescimento populacional de 240% entre os anos de1920 e 1970, a populao de Copacabana cresceu nada menos que 1.500% no mesmo perodo.8 Para uma reflexo sobre a histria e a construo social do prestgio do bairro de Copacabana, verODonnell, Julia. A inveno de Copacabana (2013).9 Em entrevista dada em 2010, Gilberto Velho afirma que lendo Malinowski, lendo Evans-Pritchard,lendo Leach, modestamente, o que eu queria era entender a cultura, a viso de mundo de um setor dasociedade brasileira (http://www.ncpam.com.br/2010/11/autorretrato-de-gilberto-velho.html. Acessoem: 30/07/2013).10 C. Wright Mills publicou, em 1951, um estudo sobre a classe mdia americana com o ttulo WhiteCollar: The American Middle Classes.11 De acordo com Clifford Geertz (1989:143-4), Na discusso antropolgica recente, os aspectos morais(e estticos) de uma dada cultura, os elementos valorativos, foram resumidos sob o termo ethos, enquantoos aspectos cognitivos, existenciais, foram designados pela expresso viso de mundo. O ethos de umpovo o tom, o carter e a qualidade de sua vida, seu estilo moral e esttico e sua disposio; a atitudesubjacente em relao a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete. A viso de mundo que esse povotem o quadro que elabora das coisas como elas so na simples realidade, seu conceito de natureza, desi mesmo, da sociedade.12 A UNE, Unio Nacional dos Estudantes, teve sua sede incendiada por tropas militares no dia dogolpe militar de 1964, como forma de intimidao dos estudantes que se opunham instaurao do novoregime.13 De acordo com Gilberto Velho, evitando um voluntarismo individualista agonstico ou umdeterminismo sociocultural rgido, as noes de projeto e de campo de possibilidades podem ajudarna anlise de trajetrias e biografias enquanto expresso de um quadro scio-histrico, sem esvazi-lasarbitrariamente de suas peculiaridades e singularidades (1994:40).14 Homenagem a Gilberto Velho. 2012. Mana, 18(1):173-212.

    Para citar este artigo

    Referncia eletrnica

    Julia ODonnell, Caminhos de uma antropologia urbana, Anurio Antropolgico [Online],II|2013, posto online no dia 01 Fevereiro 2014, consultado no dia 10 Maro 2015. URL: http://aa.revues.org/502; DOI: 10.4000/aa.502

    Referncia do documento impresso

    Julia ODonnell, Caminhos de uma antropologia urbana, Anurio Antropolgico, II|2013,37-51.

    Autor

    Julia ODonnellCPDOC/FGV Julia ODonnell professora adjunta da Escola de Cincias Sociais do Cpdoc/FGV.Atua na interface entre a Histria e a Antropologia Urbana, e autora de De olho na rua: a cidade deJoo do Rio (Zahar, 2008) e A inveno de Copacabana (Zahar, 2013). Contato: [email protected]

    Direitos de autor

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    Anurio Antropolgico, II | 2013

    Anurio Antropolgico

    Resumos

    O artigo parte da publicao do texto indito de Gilberto Velho e Yvonne Maggie sobreo Barata Ribeiro 200, neste nmero do Anurio Antropolgico, para fazer uma reflexoacerca dos primrdios da Antropologia Urbana no Brasil. Tomando como ponto de partida acentralidade da obra de Gilberto Velho neste campo, o artigo retoma seu primeiro livro autoral,A utopia urbana, de modo a buscar ali as bases da longa trajetria de seu autor, bem como asevidncias de um projeto mais amplo de consolidao da Antropologia Urbana no pas.

    Paths of an Urban Anthropology: the early writings of Gilberto VelhoThe paper begins with the publication of Gilberto Velho and Yvonne Maggies research onBarata Ribeiro 200, in this issue of the Anurio Antropolgico, to analyze the beginnings ofUrban Anthropology in Brazil. Considering Gilberto Velhos centrality in this field, the papergoes back to his first book, A utopia urbana, in order to search for the foundations of thecentral concepts developed by the author in further works, as well as evidences of a broaderproject on the consolidation of urban anthropology in the Brazil.

    Entradas no ndice

    Keywords :urban anthropolgy, Gilberto Velho, Copacabana, ethnographyPalavras chaves :antropologia urbana, Copacabana, Gilberto Velho, etnografia

    Notas da redaco

    Recebido em 30/09/2013

    Aceito em 14/11/2013