a vale do rio doce … · objetivos evidenciar os fatores políticos e institucionais que...

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A VALE DO RIO DOCE na estratégia do desenvolvimentismo brasileiro Marta Zorzal e Silva Dra. em Ciência Política Universidade Federal do Espírito Santo - UFES [email protected]

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  • A VALE DO RIO DOCEna estratégia do desenvolvimentismo brasileiro

    Marta Zorzal e SilvaDra. em Ciência Política

    Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

    [email protected]

    mailto:[email protected]

  • Introdução

    1. Trajetória da Vale S/A no contexto do

    desenvolvimentismo, característico do Brasil

    2. Padrão de regulação das relações entre a

    Vale S/A o Estado e o mercado na vigência do

    Estado Desenvolvimentista (1930 a 1980)

    3. A Vale S/A pós Privatização em 1997.

  • Objetivos

    Evidenciar os fatores políticos e institucionais que

    propiciaram a Vale gerar crescimento, mudanças sociais,

    econômica em ambientais em sua área de influência direta;

    Evidenciar as principais estratégias da empresa visando

    vencer os desafios que fizeram parte de sua trajetória como

    estatal

    Mostrar os nexos e conexões constituídos pela CVRD, tanto

    na direção do mercado como do Estado, no contexto da

    industrialização por substituição de importações ocorrida no

    pós-guerra no Brasil

  • Estado Desenvolvimentista

    • São considerados desenvolvimentistas, aqueles Estados

    capitalistas que desempenharam um papel estratégico no

    controle das forças de mercado internas e internacionais e na

    sua utilização em favor de um interesse econômico

    nacional. (White & Wade, apud Evans, 1993, p. 117).

    • A principal prioridade da ação estatal, atualizada

    permanentemente, é o desenvolvimento econômico

    definido em termos de crescimento, produtividade e

    competitividade mais do que em termos de bem estar. Tais

    metas são construídas a partir de referências econômicas

    externas que provêem modelos à administração pública.

    (Johnson ,1982)

  • Estado Desenvolvimentista Brasileiro

    • Foi constituído a partir das crises dos anos 30.

    • Incorporou a dualidade presente na persistente

    tensão entre permanência e mudança que

    caracterizava a expansão do capitalismo na

    sociedade brasileira.

    • Implicou na produção de uma institucionalidade

    híbrida (Santos, 1993)

  • Estado Desenvolvimentista Brasileiro

    • Pares da dualidade podem ser vistos, seja:

    • Na produção de um aparato organizacional

    dicotômico, resumido na fórmula: administração

    direta, de um lado, e administração indireta, de

    outro;

    • Nos sistemas de regulação e controle;

    • Na forma de incorporação política das elites e da

    população em geral;

    • No redesenho do pacto federativo;

    • etc.;

  • Estado Desenvolvimentista Brasileiro

    • O Estado participou diretamente, mediante a constituição

    de um setor produtivo estatal por meio do qual gerou

    infra-estrutura básica para a indústria;

    • Associou capitais locais ao capital estrangeiro para

    atender e expandir o mercado interno, via substituição de

    importações, visando a construir um sistema industrial

    nacionalmente integrado;

    • Estimulou o setor privado a substituir importação de

    bens industriais por meio de mecanismos de proteção

    tarifária, subsídios e outros incentivos.

  • Estado Desenvolvimentista Brasileiro

    • O braço empresarial do Estado foi fundamental à

    expansão capitalista na medida em que constituiu diversos

    setores industriais e de serviços.

    • Entre eles destacam-se os seguintes:

    siderúrgico,

    petróleo e petroquímica,

    produção e fornecimento de energia elétrica,

    telecomunicações,

    vias de transportes, entre outros.

  • Estratégias da Vale e Desenvolvimentismo

    A trajetória de crescimento da Vale evidencia:

    As suas estratégias como contraface da ação do Estado

    Desenvolvimentista brasileiro;

    As implicações de suas decisões de investimentos para as

    regiões de sua influência direta - Sudeste e Norte do País;

    Os vínculos entre suas estratégias na construção das

    bases para a industrialização brasileira e os desafios

    interpostos pelo mercado internacional à sua ação

  • Nos 55 anos de existência como estatal, a CVRD

    Passou por diversas etapas de crescimento e

    expansão;

    Pactuou e repactuou sua autonomia financeira,

    gerencial e estratégica definindo suas próprias

    diretrizes empresariais de crescimento;

    Gerou crescimento transformador nas regiões de

    sua influência direta, constituindo-se, assim, em

    importante vetor de mudanças econômicas, sociais

    e ambientais dessas regiões

  • Etapas de Crescimento da CVRD

    Anos 40: restrições diversas ao empreendimento;

    Anos 50: inflexão e consolidação no mercado mundial;

    Anos 60: integração vertical e implantação da logística de

    transporte de carga de longa distância;

    Anos 70 e 80: diversificação, conglomeração e ingresso na região

    norte;

    Anos 90: reformulação radical das estruturas de gerência e

    privatização;

    Anos 2000: Concentração de suas atividades nas áreas de

    Mineração, Logística, Energia e Siderurgia

  • Anos 40

    Marcados por restrições diversas, entre elas a próprias as

    condições em que a empresa foi criada, em 1942.

    Nasceu vinculada aos acordos estabelecidos entre Brasil,

    Estados Unidos e Inglaterra, durante a Segunda Guerra

    Mundial, os quais definiram tanto a direção binacional,

    como as demais condições para a venda do minério de

    ferro;

    Fim da guerra, em 1945, agravou a situação pela renuncia

    da Inglaterra em adquirir o produto da empresa.

    Crise relativa ao controle da empresa: EU e Brasil

  • Anos 50

    Marcados por ascensão e crescimento

    Crise relativa ao controle da empresa seria resolvida

    via redefinição dos estatutos da empresa, em 1951,

    durante governo de Vargas;

    Emergência de conjuntura favorável no mercado

    transoceânico propiciada pela Guerra da Coréia;

    Implementação de arrojada estratégia gerencial de

    vendas no mercado externo, buscando inclusive países

    do bloco socialista no contexto da guerra fria.

    Início das Operações de Vendas futuras para o Japão

  • Anos 50

    Com isso realizou maciços investimentos em:

    Infra-estrutura operacional - reconstrução da ferrovia

    Vitória-Minas, aparelhamento do porto de Vitória e das

    minas de Itabira;

    Ampla modernização dos procedimentos administrativos

    e gerenciais, tornando-se mais eficiente e eficaz;

    Essas ações geraram condições para seu crescimento ao

    mesmo tempo em que ampliou os graus de sua

    autonomia financeira e gerencial;

    No longo prazo, seus investimentos transformaram o perfil

    socioeconômico dos municípios de sua área de influência

    direta.

  • Anos 60A Autonomia Gerencial e Financeira possibilitou:

    Realização de intenso movimento de integração vertical,

    dominando todos os elos de sua cadeia produtiva – desde a

    produção e transporte do minério, passando pela venda até a

    entrega do produto para o consumidor final – sem

    intermediários.

    Realização dos primeiros contratos de longo prazo (15 anos

    em média) com empresas japonesas de siderurgia

    Vigência do Código de Mineração –Decreto Lei 227 de

    28/02/1967 *

    * Dá nova redação ao Decreto-lei nº 1.985, de 29 de janeiro de 1940. (Código de Minas)

  • Anos 60

    Contratos com o Japão viabilizou a modernização de toda sua infra-

    estrutura operacional de transportes, com isso a CVRD tornou-se:

    Pioneira na área de logística de transportes de longa distância,

    revolucionando os padrões da época;

    Sua logística de transportes fundou-se:

    Na construção de navios para cargas combinadas

    (óleo/minério) de grande capacidade e construção de portos

    simétricos equivalentes para receber os referidos navios tanto no

    Brasil como no Japão; e

    Na criação da subsidiária DOCENAVE para administrar o

    transporte marítimo da empresa.

  • Complexo Portuário de Tubarão - ES

  • Anos 70 e 80

    Assegurou sua posição de líder no mercado

    mundial e desfrutando, no plano interno, de ampla

    autonomia gerencial e financeira a CVRD moveu-

    se no sentido da diversificação, conglomeração e

    abertura de novas janelas de oportunidade no

    Norte do País.

  • Diversificação e conglomeração por meio da

    constituição de Joint Ventures;

    A infra-estrutura e logística de transportes

    constituída na fase anterior permitiu a atração de

    grandes investimentos na área de celulose e de

    siderurgia para a região do Vale do Rio Doce;

    Os impactos dessa estratégia implicou na

    redefinição da socioeconomia da região do Vale do

    Rio Doce, como um todo, e do estado do ES em

    particular.

    Estratégias no Sudeste

  • FÁBRICA DA ARACRUZ CELULOSE

  • Siderúrgica AcellorMittal - ES

  • Estratégias no Norte

    Criou a subsidiária DOCEGEO por meio da qual

    realizou grandes investimentos em pesquisa e

    prospecção mineral;

    Expansão para o norte do país vinculadas as

    diretrizes do governo militar no sentido de conter o

    avanço das multinacionais na região Amazônica.

    Descobriu de ricas jazidas de bauxita, minério de

    ferro, ouro e outros minerais, o que abriu novas

    oportunidades para a empresa.

  • Estratégias no Norte

    Implantação de dois mega projetos na região Norte.

    O primeiro, executado em meados dos anos 70 por

    determinação do Governo Médice, implicou no ingresso da

    empresa na área dos minerais não ferrosos com a

    implantação do complexo minero - industrial para exploração

    de bauxita e produção de alumina/alumínio;

    O segundo, executado no início dos anos 80, consistiu na

    implantação do complexo mina-ferrovia-porto ligando a

    serra dos Carajás no Pará ao porto de Ponta da Madeira

    no Maranhão, numa extensão de 900Km.

  • Alumínio –

    Barcarena - Pará

  • Mineração na Serra dos Carajás - Pará

  • Anos 90

    Reformulação radical das estruturas de gerência que

    passam a funcionar como áreas de negócios;

    terceirização de diversas atividades redução do

    quadro de funcionários

    Fase de privatização da empresa, ocorrida em maio

    de 1997.

    Ao longo dos 55 anos como estatal a empresa

    constituiu um leque de atividades que vão desde o

    setor agrícola passando pela industria tradicional e

    de ponta, setores de infra-estrutura e de serviços até

    a área financeira.

  • Anos 90

    Nessa trajetória a Vale S/A transformou-se num conglomerado

    constituído por 52 empresas cuja composição se organizava por meio

    de 4 tipos de empreendimentos

    a) Operações próprias

    b) Empresas controladas

    c) Empresas coligadas

    d) Participações estratégicas

    Estes abrangiam 7 segmentos econômicos incluindo operações

    produtivas e de serviços, os quais no início dos anos noventa foram

    organizados em áreas de negócio, com atividades em diversos

    países, o que a transformou numa empresa de porte global

  • Anos 2000

    Concentração de suas atividades nas áreas

    de Mineração, Logística, Energia e

    Siderurgia

    Código de Mineração

    Decreto-Lei 227 de 28/02/67

  • Vale S/A: Empresas Controladashttp://www.vale.com/brasil/PT/investors/company/shareholding-structure/subsidiaries-

    affiliates-joint-ventures/Paginas/default.aspx (Acesso 19/06/16)

    Empresa Atividade Principal Localização Capital Votante (%) Capital Total (%)

    Compañia Minera Miski Mayo S.A.C Fertilizantes Peru 51,0 40,0

    Mineração Corumbaense Reunida S.A. Minério de ferro e manganês Brasil 100,0 100,0

    PT Vale Indonesia TBK Níquel Indonésia 59,2 59,2

    Vale Australia Pty Ltd. Carvão Austrália 100,0 100,0

    Vale Canada Limited Níquel Canadá 100,0 100,0

    Vale Fertilizantes S.A. Fertilizantes Brasil 100,0 100,0

    Vale International Holdings GMBH Holding e pesquisa Áustria 100,0 100,0

    Vale International S.A. Trading Suíça 100,0 100,0

    Vale Manganês S.A. Manganês e ferroligas Brasil 100,0 100,0

    Vale Moçambique S.A. Carvão Moçambique 95,0 95,0

    Vale Nouvelle-Calédonie SAS Níquel

    Nova Caledônia

    (Oceania) 80,5 80,5

    Vale Shipping Holding PTE Ltd. Logística Singapura 100,0 100,0

    Vale Oman Pelletizing Company LLC Pelotas Omã 70,0 70,0

  • Vale S/A: Joint Ventures e Coligadashttp://www.vale.com/brasil/PT/investors/company/shareholding-structure/subsidiaries-affiliates-joint-

    ventures/Paginas/default.aspx (Acesso 19/06/16)

    Empresa Atividade Principal LocalizaçãoCapital Votante

    (%)Capital Total (%)

    Samarco Mineração S.A. Minério de ferro e pelotas Brasil 50,0 50,0

    Hispanobras Pelotas Brasil 51,0 50,8

    Itabrasco Pelotas Brasil 51,0 50,9

    Nibrasco Pelotas Brasil 51,1 51,0

    Kobrasco Pelotas Brasil 50,0 50,0

    MRS Logística Logística Brasil 46,7 47,5

    California Steel Industries – Inc. Siderurgia EUA 50,0 50,0

    CSA - Companhia Siderúrgica do Atlântico Siderurgia Brasil 26,8 26,8

    VLI S.A Logística Brasil 37,6 37,6

    Henan Longyu Energy Resources Co. Ltd. Carvão China 25,0 25,0

    Zhuhai YPM Pellet e Co. Ltd Minério de ferro e pelotas China 25,0 25,0

  • Vale S/A: complexo mina-ferrovia-porto http://www.vale.com/brasil/pt/aboutvale/news/paginas/contrato-de-financiamento-para-

    implantacao-de-projetos-bndes.aspx (em 15/04/2014)

    • Foi aprovado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e

    Social (BNDES) contrato de financiamento de R$ 6,2 bilhões para a

    implantação dos projetos Carajás Serra Sul S11D e CLN S11D. O

    prazo de financiamento é de dez anos e os recursos serão

    desembolsados em até três anos de acordo com o cronograma dos

    projetos.

    • S11D compreende o desenvolvimento da mina e planta de

    processamento localizadas na serra sul de Carajás, no Pará, com

    capacidade nominal estimada de 90 milhões de toneladas por ano

    (Mtpa) de minério de ferro. O projeto CLN S11D contempla

    investimentos na ferrovia e porto, aumentando a capacidade nominal

    logística estimada da Estrada de Ferro Carajás e do terminal marítimo

    de Ponta da Madeira para aproximadamente 230 Mtpa.

    http://www.vale.com/brasil/pt/aboutvale/news/paginas/contrato-de-financiamento-para-implantacao-de-projetos-bndes.aspx