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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

SÔNIA APARECIDA VILELA OLIVEIRA

LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL: gênero dramático como estratégia

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

SÔNIA APARECIDA VILELA OLIVEIRA

LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL: gênero dramático como estratégia para leitura e produção

textual

CORNÉLIO PROCÓPIO2012

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

SÔNIA APARECIDA VILELA OLIVEIRA

LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL: o e produção

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

SÔNIA APARECIDA VILELA OLIVEIRA

LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL: o gênero dramático como estratégia para leitura e produção

textual

Artigo Científico apresentado à Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) como requisito para aprovação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação –Paraná, na área de Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Doutora Vanderléia da Silva Oliveira.

CORNÉLIO PROCÓPIO2012

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LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL: o gênero dramático como estratégia para leitura e produção textual

Autora: Sônia Aparecida Vilela Oliveira1

Orientadora: Professora Doutora Vanderléia da Silva Oliveira2

Este artigo apresenta o resultado da implementação do Projeto Letramento literário: proposta metodológica para leitura e produção do gênero textual drama, aplicado em um colégio público da cidade de Cornélio Procópio. Há uma intensa preocupação em formar leitores literários competentes, portanto, buscou-se desenvolver umtrabalho consistente, com base em estudos teóricos que pudessem ser colocados em prática. Ao realizar várias leituras, escolheu-se como encaminhamento metodológico a Sequência Expandida, Cosson, (2007), tendo em vista que adinâmica por ele proposta poderia atender aos interesses dos alunos nas práticas de leitura. Oportunizar a leitura de uma obra canônica como Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, Tradução de Walcyr Carrasco, conduziu os alunos a uma discussão sobre sonhos e a condição da mulher, exercitando o amadurecimento argumentativo de vários alunos, observado nos debates e produções escritas. Em todas as etapas da sequência didática propostas no caderno pedagógico Letramento literário: prática de leitura com o gênero dramático, conto e poesia percebeu-se que a aprendizagem ocorreu gradativamente, facilitando a retomada de conteúdos tão necessários ao desenvolvimento do conhecimento dadisciplina de Língua Portuguesa, conectando atividades de oralidade, leitura e escrita de diversos gêneros textuais, dando maior enfoque ao gênero drama.

Palavras-chave: Letramento Literário. Gênero Dramático. Sequência Expandida.

1 Professora da Rede Estadual de Educação, formada em Letras Anglo-Portuguesas e Pedagogia pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Cornélio Procópio e pós-graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE – SEED-PR, Turma 2010.

2 Professora Doutora em Letras, pela UEL, Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa, pela UNESP-Assis, pertencente ao Centro de Letras, Comunicação e Arte, da UENP-Cornélio Procópio. Atua na área de Literatura Brasileira e Teoria Literária.

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1. Introdução

Considerando a necessidade de se trabalhar o letramento literário no Ensino

Fundamental, elaborou-se uma unidade didática inserida em um caderno

pedagógico intitulado Letramento literário: prática de leitura com o gênero dramático,

conto e poesia, tendo como encaminhamento metodológico a Sequência Expandida,

proposta por Cosson (2007). A proposta foi implementada em duas turmas do nono

ano de um colégio púbico na cidade de Cornélio Procópio, PR.

A escolha da proposta voltada para o gênero dramático deveu-se ao fato de

que a maioria dos adolescentes gosta da arte de representar, o que pôde ser

comprovado na implementação do trabalho. Todas as atividades desenvolvidas

propiciaram importantes reflexões sobre os temas abordados nos intervalos de

leitura e nas contextualizações.

A opção pelo trabalho com gênero literário justificou-se, considerando-se

que, ao longo do séc. XX e início de XXI, o estudo literário tem sido trabalhado de

maneira ineficaz, seja pelo perfil de professores que não tiveram uma formação

literária significativa em sua graduação, pela escassez de obras literárias ofertadas

pelas bibliotecas escolares, ou pelo desinteresse dos alunos, principalmente neste

momento em que há outros objetos considerados mais prazerosos à disposição num

universo digital cada vez mais presente no dia a dia. Sob estes aspectos, é cada vez

mais necessário transpor estes obstáculos e mudar a prática pedagógica, pois é

inegável a importância de estudos literários desde o inicio do Ensino Fundamental

até o Ensino Médio para a formação de leitores competentes. A leitura literária pelo

seu caráter estético e plurissignificativo revela-se como instrumento relevante neste

processo de formação. Afinal, como observa Candido, “Uma sociedade justa

pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em

todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável.” (1972, p.263).

Neste sentido, quando se optou em apresentar ao aluno o gênero dramático,

considerou-se a magia que o teatro traz, ficando evidente na familiarização com

personagens como Hipólita, Teseu, Lisandro, Hérmia, Demétrio, Helena, Oberon,

Titânia, Marmelo e outros que cativaram a todos os alunos que realizaram a leitura

extraclasse.

Todas as ações desenvolvidas pela Sequência Expandida reforçaram o

objetivo principal, que é o de formar leitores literários competentes. Portanto, nos

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intervalos de leitura, o aluno pôde perceber o diálogo deste gênero com outros

gêneros textuais e, assim, confrontar as mesmas ideias em diferentes enfoques.

Durante o desenvolvimento de todas as etapas, os alunos demonstraram

avanços nas produções escritas. Na última etapa, quando ocorreu a adaptação da

obra num trabalho coletivo, foi um momento extremamente importante no processo

de letramento literário, muitos haviam ampliado seu repertório linguístico e opinaram

com segurança, defendendo seu posicionamento.

Os relatos da experiência em sala de aula comprovaram a necessidade de

se trabalhar em etapas bem planejadas, evitando-se a perda do foco e possíveis

fracassos.

2. Desenvolvimento teórico

2.1. O texto literário na escola

Conforme registram as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a

Educação Básica (PARANÁ, 2008), até meados do século XX, o ensino de literatura

apresentava, como principal instrumento de trabalho, as antologias literárias, com

base nos cânones e visava transmitir a norma culta da língua, enfocando valores

religiosos, morais e cívicos. Nos anos 1970, com abordagens estruturalistas e/ou

historiográficas do texto literário, o ensino restringiu-se ao nível de ensino

denominado segundo grau. A análise literária era feita pela ótica do professor, e aos

alunos cabia ouvir. O aluno não tinha voz, o professor era “dono absoluto da

verdade”. Em plena ditadura militar, não era possível desenvolver uma prática

pedagógica que levasse o sujeito a uma reflexão crítica da sociedade e de si

mesmo. Nesta mesma década, houve uma mudança na metodologia, centrando

uma análise simplificada, enfatizando personagens principais e secundários, tempo

e espaço na narrativa.

Nos anos 1980, a pedagogia histórico-crítica apresentou estudos linguísticos

voltados ao texto/contexto e à interação social das práticas discursivas. Em 1990,

surgiu o Currículo Básico do Estado do Paraná (PARANÁ, 1990), orientando os

professores a um trabalho de sala de aula focado na leitura e produção e priorizava

o falar, ler e escrever.

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No final da década de 1990, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,

1998) propuseram uma concepção interacionista, apresentando um

encaminhamento metodológico voltado aos gêneros textuais, mas como a proposta

do trabalho era com o texto em modelos preestabelecidos, o diálogo bakhtiniano não

se estabelecia, pois, sendo uma abordagem formal, excluía o texto de seu contexto

social.

Na década de 2000, as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua

Portuguesa trouxeram uma proposta “que dá ênfase à língua viva, dialógica, em

constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva” (PARANÁ, 2008,

p.48). Sob esta perspectiva, a escola deve possibilitar aos alunos a participação das

diferentes práticas sociais para poder inseri-los numa sociedade letrada, porque, de

acordo com Soares (2004, p. 39-40), letrado é o indivíduo que sabe ler e escrever e

utiliza esse saber como práticas sociais.

Neste sentido, pretendeu-se com este trabalho levar o aluno a ler e também

produzir textos por meio do gênero textual drama.

Sob este aspecto, a proposta de trabalho foi mais específica, tendo em vista

que se objetivou utilizar o gênero referido, abordando-o em todas as suas

especificidades: estrutural, textual, discursiva e lúdica. Isto porque a perspectiva

adotada foi a de que além de ter sido uma boa alternativa para estimular a leitura e

produção de texto, ela oportunizou o conhecimento da dimensão social e estética do

texto. Para tanto, a proposta se pautou na sistematização de leitura prevista por

Cosson (2007), denominada Sequência Expandida.

A escolha da proposta metodológica se deu pela análise dos pressupostos

apresentados por Cosson (2007), nos quais se evidenciaram importantes reflexões

sobre o trabalho com o letramento literário em sala de aula. Nesta perspectiva, o

trabalho com o gênero teatral apontou para o estudo aprofundado de uma obra

canônica, universal, ao mesmo tempo em que possibilitou ao aluno o

desenvolvimento de estratégias para leitura e escrita, bem como produção de

adaptações textuais.

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2.2. O Gênero dramático

Não é possível precisar como surgiu o teatro, o que se observa é que as

primeiras manifestações teatrais ocorreram há milênios. Os gregos faziam

encenações para invocar os deuses e as forças da natureza: cantavam, dançavam

e representavam a história dos deuses e com isso, achavam que poderiam evitar

catástrofes e conseguir benefícios. O teatro grego surgiu a partir desses rituais.

A palavra teatro tem origem no grego theatron e significa lugar de onde se

vê ou se observa algo, dando a ideia de plateia. Já a palavra drama, em grego,

significa ação, levando a pensar em conflito entre personagens, numa dinâmica de

causa e efeito. O teatro grego evoluiu a partir das festas em homenagem ao deus

Dionísio (deus do vinho). As peças teatrais apresentavam dois gêneros: a comédia,

que era uma sátira da sociedade, e a tragédia, que trazia histórias tristes,

mostrando aos homens como poderiam ser castigados, caso desafiassem os

deuses.

Entre os grandes autores, destacam-se Sófocles (496 a.C.- 406 a.C) e

Eurípedes ( 480 a.C-406 a.C). O primeiro escreveu aproximadamente cento e vinte

peças, porém somente sete foram preservadas, entre elas Édipo Rei. Conseguiu o

primeiro lugar em diversos concursos dramáticos. Eurípedes tinha espírito cético

em relação aos deuses e ao destino, escreveu sessenta e sete tragédias e sete

dramas satíricos, mas só restam dezoito. O teórico da tragédia, Aristóteles, surge

um pouco depois, cuja Poética foi escrita entre 335 e 323 a.C. Nesta obra ele

teoriza sobre as produções, propondo a divisão dos gêneros literários (lírico épico e

dramático).

Com Aristóteles, a teoria clássica para divisão dos três grandes gêneros

literários especifica o dramático a partir da teoria das três unidades. Pascolati

(2009, p.105) observa que “a regra das três unidades – ação, tempo, espaço –

reinou em diferentes momentos da dramaturgia ocidental, particularmente na

tragédia grega e no classicismo francês”.

Segundo a referida regra, a ação deveria ser única, sem desdobramentos,

não permitindo intrigas secundárias. Quanto ao tempo, deveria estar vinculado à

ação, não excedendo o período destinado a que ela ocorresse e alcançasse seu

desenlace. Do mesmo modo, o espaço era representado no limite do tempo e da

ação necessários.

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O teatro medieval europeu, por sua vez, estava ligado ao culto religioso,

pois a Igreja Católica detinha grande poder político e econômico e exercia forte

controle sobre a produção científica e cultural. Inicialmente, o interior das igrejas

era usado como teatro, no entanto, quando as peças tornaram mais elaboradas,

passaram para a praça em frente à igreja. Atores e espectadores se misturavam

numa apresentação teatral, não havia profissionais. Apesar de predominar temas

religiosos, também existiam temas profanos. Os dramas religiosos abordavam os

milagres (vidas dos santos), mistérios (vidas dos personagens do Velho e Novo

Testamento), já os profanos, as farsas (cômicos).

Entre o final do século XIII e meados do século XVII, aproximadamente, se

situa a Renascença, período da história cultural europeia marcada por mudanças

significativas nas artes. O primeiro teatro inglês foi construído pelo ator e produtor

James Burbage, em 1576, e recebeu o nome de “The Theatre”. Nele, trabalharam

importantes dramaturgos, em especial William Shakespeare. Mas, foi no teatro “The

Globe” que ele desenvolveu o seu trabalho, representando a maior parte de suas

peças. Estes teatros foram construídos à margem do rio Tamisa.

A Commedia dell’ arte surgiu na Itália no século XV, um gênero de teatro

popular improvisado. Representavam nas ruas e praças públicas. Eram

companhias itinerantes. Apresentavam-se peças cômicas, cheias de humor e

ironia, com música, dança e acrobacias que divertiam o público. Ainda hoje há

companhias teatrais que praticam este gênero teatral.

Em Portugal, Gil Vicente é considerado um dos maiores dramaturgos do

seu tempo. Em suas obras, criticava a sociedade, tanto as classes altas quanto as

classes baixas, adequando a linguagem com o tipo característico de cada

personagem. Escreveu aproximadamente 44 peças.

No Brasil, o teatro foi introduzido pelos jesuítas com fins didáticos, que

objetivavam a catequização dos índios, apoiados nas lendas dos mártires e dos

santos, incluídas histórias do Velho Testamento e da mitologia clássica. O maior

representante deste período é Padre José de Anchieta, que, além de ensinar teatro,

é também autor de várias peças. Mas é no Romantismo que nasceu o autêntico

teatro brasileiro, pois ainda que estivesse preso aos modelos europeus, já se

percebia uma tentativa de temas e ambiência nacionais. Pode-se dizer que Martins

Pena e Gonçalves Magalhães iniciaram a trajetória do teatro genuinamente

brasileiro. A partir do século XVIII, surgiu o drama romântico que representava de

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maneira natural o cotidiano e seus indivíduos, abordando temas como amor,

dinheiro, sentimentos, violência, num tom lírico ou patético, levando o público à

revolta ou lágrimas.

Martins Pena é considerado o mais importante autor teatral do século XIX.

Suas comédias apresentam tipos cômicos populares, resultando de grande

aceitação pelo público. Suas obras principais são O juiz de paz na roça, 1833; O

judas em sábado de aleluia, Os irmãos das almas, 1844; O noviço, O caixeiro da

taverna, Os namorados, Os três médicos, Quem casa quer casa e outras.

Maia (1997, p.352) observa que as duas primeiras décadas do século XX

não trouxeram novidades, exceto a peça Malazarte (1911), de Graça Aranha, em

que há uma personagem típica da cultura popular. A década seguinte, devido à

ditadura de Getúlio Vargas, não se permitia a livre expressão de ideias e somente

algumas peças do teatro de revistas atreviam a uma ou outra crítica política. Em

1933, a encenação da peça Bailado do deus morto, de Flávio de Carvalho foi

interrompida pela polícia, determinando o fechamento do Teatro Experimental em

São Paulo.

Com a encenação da peça Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, em

1943, inaugurou-se a modernidade teatral. Outras peças surgiram proporcionando

à dramaturgia uma excelente fase. Mas, em 1969, a repressão militar ganha mais

força, iniciando uma fase difícil em todos os setores. Contudo, atores, diretores e

escritores procuraram preservar o teatro, num constante desenvolvimento, fazendo

com que a arte cênica ganhasse destaque, sendo objeto de pesquisas e

experimentações. Muitos diretores fazem releitura do teatro clássico, inovando-o

em todos os aspectos, o cenário de uma tragédia grega, por exemplo, se

transforma num ambiente de fábrica ou qualquer espaço urbano atual, levando

esses diretores a se destacarem tanto quanto grandes atrizes, atores e autores.

Entre as principais variedades de gênero há o teatro de revista, a comédia, o teatro

do absurdo e o teatro engajado.

Nomes como Oduvaldo Viana Filho, Plínio Marcos, Gianfrancesco

Guarnieri, Augusto Boal, dentre outros, elevaram a dramaturgia brasileira com

produções consideradas de vanguarda. No ambiente escolar, por outro lado, Ariano

Suassuna é o autor que maior receptividade recebe. Na produção contemporânea

muitos autores têm se destacado. Dentre eles, Mario Bortolotto, que além de

dramaturgo, é ator, diretor e compositor. Autor de personagens que vivem à

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margem da sociedade. É o representante contemporâneo mais próximo ao universo

do autor Plínio Marcos e de sua linguagem cáustica e direta.

Mário Bortolotto nasceu em 29 de setembro de 1962 em Londrina (PR),

onde iniciou sua carreira artística no teatro e na literatura. Participou de inúmeros

festivais de teatro pelo Brasil, sempre com o Grupo Cemitério de Automóveis, de

que é fundador. Em 2000, ganhou o Prêmio APCA pelo conjunto da obra e o

Prêmio Shell de melhor autor por sua peça Nossa vida Não Vale um Chevrolet.

Desde 1996, mora e trabalha em São Paulo.

2.3. O teatro em sala de aula

A escolha pelo texto dramático resultou do conhecimento de que a arte

teatral da representação está intrínseca no ser humano, principalmente em crianças

e adolescentes, que têm uma afinidade natural com o jogo dramático. Optar por

este gênero é reconhecer que se tem uma ferramenta valiosíssima e fazer uso dela

é considerar que o gosto pelo teatro atinge a todos, ora pelo seu caráter ficcional e

cultural, ora porque desejam representar. Além de estimular a leitura de um gênero

que é considerado difícil para uma grande maioria.

A leitura de uma peça exige que o leitor leve em consideração a vocação cênica da literatura dramática; observe a estrutura do texto, tomando as indicações cênicas como complementares ao diálogo; tenha discernimento do conflito e dos desdobramentos da ação; perceba as implicações ideológicas do discurso das personagens; conceba o signo teatral como elemento fundamental para a construção do sentido do texto. Trata-se de um processo que deve, em última instância, deixar evidente a teatralidade do texto, elemento que, afinal, é intrínseco à natureza dramática. (PASCOLATI, 2009, p.111)

A escola sempre desenvolveu atividades teatrais para atrair os alunos. No

entanto, a proposta pretendeu trabalhar o gênero textual drama, não apenas

vinculado ao ato de representar, mas também analisando a estrutura, o modo de

composição, levando os alunos a ler e também produzir textos teatrais, percebendo

os diferentes discursos e produzindo outros. Afinal,

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Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação: em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p.285)

Enfim, levou o aluno a entender a dupla dimensão do gênero dramático: o

estudo do texto e o estudo do espetáculo, além de outros gêneros do discurso que

fizeram parte deste estudo nos intervalos da leitura da obra norteadora.

Compreende-se que o trabalho sob esta perspectiva oportunizou ao aluno o

domínio da escrita do gênero, bem como os procedimentos vinculados à

apresentação cênica. A propósito, recorreu-se a Reverbel, pois esta destaca que:

Após adquirirem um certo domínio da linguagem cênica e de seus recursos pessoais (voz, gesto, movimentos, fala etc.), os alunos poderão ser orientados para a criação de textos dramáticos, a partir de temas de seu interesse. A criação de textos inicia-se após a leitura de textos de autores dramáticos consagrados, apropriados ao nível de desenvolvimento intelectual dos alunos. (REVERBEL, 1997, p. 106)

Considerando-se a necessidade de introduzir, conforme observa Cosson

(2007) a leitura de textos clássicos no ambiente escolar, a apresentação aos alunos

de obras como as de Shakespeare oportunizaram a eles esta leitura e, inclusive,

adaptação, num processo de criação literária.

Deste modo, aliaram-se na proposta desenvolvida o gosto pela encenação,

demonstrado pela maioria dos alunos, o contato com gêneros textuais diversos,

conforme orientam as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (SEED/PR,

2008) e a tradição literária, possibilitando o desenvolvimento das práticas culturais.

3. A sequência expandida

O encaminhamento metodológico proposto pela Sequência Expandida

torna a prática escolar mais clara para a atuação do professor e também por

concordar que “trabalhar o texto literário podia ser um ensino com saber e sabor”

(COSSON, 2007, p.75). O autor propõe para o trabalho com o letramento literário,

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duas sequências: a básica e a expandida. A primeira é indicada para o ensino

fundamental e a segunda, para o médio. Ambas são apresentadas a partir de uma

sequenciação que prevê algumas etapas.

A motivação é o passo inicial para a introdução da obra ao aluno e que

requer do professor clareza quanto ao objetivo. A introdução é o momento de

apresentar a obra, o que não deve ultrapassar uma aula, e também o momento de

estipular os prazos da leitura extraclasse.

De acordo com o tempo destinado à leitura, o professor trabalhará com

outros gêneros textuais, buscando dialogar com a obra em diferentes enfoques.

Convém lembrar que o prazo para a leitura da obra não deve ser muito curto, pois

se corre o risco de muitos alunos não terem lido, mas também não muito longo,

levando à dispersão da leitura. Todos os textos trabalhados durante os intervalos

devem ser lidos primeiramente e depois relacionados à obra principal. A leitura de

textos diversificados nesta etapa permite que o texto literário dialogue com outros

textos, e este processo é importante para o letramento literário. A apreensão global

da obra ocorre na primeira interpretação, um procedimento que deve ser feito em

sala de aula. Para Cosson,

Este é o momento em que o aluno se encontra com o livro e esse encontro, por mais que tenha sido mediado pelo trabalho de motivação, introdução e leitura, precisa de liberdade e individualidade para se efetivar plenamente. (2007, p.85)

Na sequência do trabalho, a contextualização da obra possibilitará o

aprofundamento da leitura. Há várias contextualizações que podem ser feitas. Cabe

ao professor selecionar aquelas que são relevantes na leitura de determinada obra.

É uma atividade que deverá ser feita em grupos, pois tem como objetivo o

compartilhamento da leitura. Professores de outras disciplinas e profissionais de

outras áreas também poderão contribuir de forma enriquecedora ao conhecimento

da obra literária.

A segunda interpretação, indissociável da contextualização, pode ocorrer

de forma direta ou indireta. A indireta é quando a atividade realizada é articulada de

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forma distinta. Na direta, a segunda interpretação e a contextualização são

realizadas como se fossem uma única atividade.

É importante que o professor perceba que se a interpretação é um momento de introjeção da obra na história de leitor do aluno – daí a ênfase sobre o encontro pessoal entre obra e leitor -, a segunda interpretação deve resultar em compartilhamento da leitura. Esse é ponto alto do letramento literário na escola. (COSSON, 2007, p.94)

Com a segunda interpretação, encerra-se o trabalho com a obra centrada,

mas é o momento ideal de apresentar ao aluno uma nova obra que possa dialogar

com a obra trabalhada e assim reiniciar a sequência expandida.

3.1. Relatos de experiência

Teseu – [...] O lunático, o apaixonado e o poeta são todos possuídos pela imaginação. [...] O apaixonado, não menos insensato, descobre a beleza de uma deusa no rosto de uma mortal. O olhos do poeta, em seu ardente delírio, vão do Céu à Terra e da Terra ao Céu. A pena do poeta dá forma a coisas inexistentes, uma moradia e um nome. [...] (SHAKESPEARE).

Com o propósito de desenvolver um trabalho consistente, pautado no

letramento literário, elaborou-se uma sequência didática para que não houvesse

perda do objetivo principal, e fossem alcançados resultados que permitissem

analisar, refletir e, possivelmente, mudar a prática em sala de aula. A implementação

do projeto ocorreu no 2º semestre de 2011 em um colégio público na cidade de

Cornélio Procópio, PR, em duas turmas de nono ano. Todas as ações planejadas

permitiram o desencadear das atividades de forma clara, resultando em momentos

reflexivos quanto à receptividade de todos os envolvidos neste processo de ensino e

aprendizagem. Houve, no decorrer da implementação, a participação de um

Professor na área de Arte, auxiliando com várias atividades: histórico sobre o

teatro, características do gênero, encenação de alguns atos e confecção de roupas

de material reciclado para apresentação à comunidade escolar da adaptação da

obra Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare. O trabalho

desenvolvido com auxílio deste professor foi extremamente significativo, pois muitos

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alunos demonstraram grande interesse ao comentar as aulas e mostrar o material

elaborado.

As atividades foram realizadas conforme descrição a seguir.

1ª Etapa – Motivação

Ao apresentar a atividade para as turmas, que consistia em utilizar a

expressão facial, de início, a maioria demonstrou grande interesse, alguns se

empolgaram muito, tornando um momento divertido. Todos participaram, fazendo

apresentações para que os colegas adivinhassem os sentimentos escolhidos.

Certos alunos, que por motivos alheios, se recusam a realizar as atividades diárias,

causaram surpresa quando se apresentaram e produziram textos, relatando sobre

a atividade.

2ª Etapa – Introdução

A obra Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare/ Tradução

de Walcyr Carrasco, foi apresentada às turmas com comentários sobre os autores,

ilustrador e a capa do livro. Em seguida, os alunos leram silenciosamente o Ato I,

Cena I. Ao término desta atividade, assistiram a uma apresentação de slides na TV

Multimídia sobre o gênero drama, destacando-se atos, cenas, réplicas, didascálias

e rubricas. Alguns alunos dramatizaram a Cena I. Os livros foram entregues aos

alunos, dividindo os intervalos da leitura extraclasse em cinco intervalos. Eles

produziram textos sobre a expectativa de leitura. Uma aluna, por exemplo, fez o

seguinte texto:

‘Sonho de uma Noite de Verão parece ser muito interessante, ao lermos a 1ª cena, ficamos com um gostinho de quero mais... Vai ser muito legal fazer um teatro deste livro, pois isso irá nos ajudar a vencer a timidez e nos unir mais. Sem dizer que as obras de William Shakespeare são maravilhosas e, esta, em especial, tem certo humor, e nós gostamos disto.

Este e outros textos produzidos proporcionaram expectativas positivas

para um trabalho produtivo.

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3ªEtapa – Leitura

1º Intervalo

Os alunos foram conduzidos ao laboratório de informática para assistirem a

um vídeo da música Sonho de uma Noite de Verão, do grupo Skank. Receberam a

letra da música fotocopiada, realizando leitura silenciosa e oral. Após a discussão

sobre o texto lido, dois alunos relacionaram à mitologia grega. Ao perguntar sobre a

leitura extraclasse, percebeu-se a participação expressiva da maioria dos alunos.

Registra-se, porém, que cinco não haviam feito a leitura, num total de cinquenta e

dois alunos.

2º Intervalo

A aula foi iniciada com a seguinte pergunta: “Quem poderia contar sobre

um sonho que teve e por algum motivo não se esqueceu?” Muitos disseram que

sonharam que estavam em perigo e acordaram assustados. O texto Sonhos, de

Alexandre Versignassi, foi apresentado aos alunos para que realizassem leitura

silenciosa e depois oral. Após a leitura, alguns alunos fizeram comentários que

foram registrados no quadro de giz numa análise coletiva quanto à coerência das

ideias explícitas e implícitas. Alguns comentários não estavam de acordo com as

ideias do texto, no entanto serviram para que os alunos argumentassem sobre

questões tratadas e observassem a incoerência percebida pelos demais. O

significado da palavra sonho foi registrado também no quadro de giz para a

verificação do sentido de acordo com o texto lido e algumas questões em nível de

compreensão e interpretação foram resolvidas. Para finalização da aula, os alunos

produziram um pequeno texto dissertativo-argumentativo sobre a relação do texto

estudado com a leitura extraclasse.

3º Intervalo

Três perguntas foram registradas no quadro para que os alunos

respondessem: há acontecimentos incompreensíveis para o ser humano? O que é

real? O que é imaginário? Alguns alunos não entenderam as questões e pediram

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explicações. Ao concluírem, leram as respostas e assim houve uma rápida

discussão. Em seguida, foi apresentado um fragmento do conto Flor, telefone,

moça, de Carlos Drummond de Andrade, percebeu-se um crescente interesse em

conhecer o texto todo, iniciando-se assim a leitura silenciosa do conto. Como

produção escrita, registraram no caderno a impressão sobre o conto, comentários e

relação do conto com a leitura extraclasse. O gênero conto foi trabalhado no 1º

bimestre, portanto, revisou-se a estrutura do conto e como atividade extraclasse, foi

proposta a produção de um conto de mistério.

4º Intervalo

O poema Canção, de Cecília Meireles, foi entregue aos alunos,

fotocopiado, para a realização da leitura silenciosa e, em seguida, revisou-se a

estrutura. Percebendo-se que alguns alunos ainda não sabiam diferenciar textos

escritos em versos e em prosa, foi necessária uma explicação mais detalhada

sobre estrofes, versos, rima e ritmo. Após, os alunos formaram grupos de três a

quatro componentes para resolverem duas atividades: declamação do poema,

dando liberdade de criação, o que resultou numa apresentação em ritmo sertanejo,

outra em rap, e análise escrita de cada estrofe do poema. Um grupo não conseguiu

fazer uma leitura coerente com o tema, necessitando de uma nova discussão

coletiva.

5º Intervalo

Os alunos foram conduzidos ao laboratório de informática para

pesquisarem a imagem O Sono, de Salvador Dali. A maioria percebeu o diálogo

com a leitura extraclasse, descrevendo-a de acordo com suas inferências.

Pesquisaram também sobre Salvador Dali. Ainda foi possível, assistir à

representação de algumas encenações de Sonho de uma Noite de Verão,

disponibilizadas na rede, via Youtube.

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4ª Etapa

Neste momento se deu a apreensão global da obra. Pediu-se que os

alunos redigissem um depoimento sobre o livro. Alguns alunos não haviam

concluído a leitura, verificou-se pela fala de uns e outros pelos depoimentos

produzidos. Mas a maioria havia terminado e já era esperado por este resultado,

porque, durante os intervalos nas discussões, estes alunos não manifestaram

opiniões. Ainda neste dia, os alunos foram orientados a pesquisarem sobre o

Teatro Elizabetano, dando início à contextualização da obra.

5ª Etapa

Contextualização: Histórica e Temática

Como a pesquisa foi realizada em grupos, alguns se apresentaram sem

muita criatividade, porém, dois grupos se destacaram, um preparou um vídeo com

várias imagens, fazendo com que os demais grupos ficassem atentos, outro

demonstrou conhecimento sobre o assunto, deixando os demais surpresos pelas

informações apresentadas. Na aula seguinte, os alunos formaram duplas e

elaboraram dez questões para entrevistarem avós ou vizinhas sobre a condição

da mulher na década de 70. Percebeu-se um grande entusiasmo. Um aluno

perguntou se poderia entrevistar a mãe, pois esta já estava com cinquenta e seis

anos. A resposta foi positiva, mesmo não sendo considerada idosa, mas com esta

idade é possível relatar fatos interessantes sobre a figura da mulher. Procurou-se

levar os alunos a perceberem a evolução do papel da mulher na sociedade e

também comprovar que há mulheres que não conseguiram se libertar, isto é,

continuam agindo com submissão e obediência aos homens.

O gênero reportagem foi trabalhado no 1º bimestre, e aproveitando a

entrevista realizada, pediu-se que os mesmos grupos da entrevista elaborassem

uma reportagem com base na própria entrevista e a dos colegas, oportunizando

uma retomada das características deste gênero. A produção de uma entrevista com

informações reais e em seguida uma reportagem propiciaram aos alunos exercitar

a escrita, situando-os num momento histórico e procurar mais informações e assim

construir o conhecimento acerca da condição feminina.

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Ainda foi possível revisar e realizar exercícios sobre discurso direto e

indireto, utilizando alguns trechos da obra Sonho de uma Noite de Verão.

Contextualização Estilística

Em dupla, os alunos receberam o livro Sonho de uma Noite de Verão para

que novamente lessem a Apresentação e em seguida uma aluna fez a leitura oral.

Ao término, destacou-se o seguinte trecho para discussão:

Em Sonho de uma noite de verão, é fascinante observar como Shakespeare lidava com as várias maneiras de se expressar. Os nobres e os seres do mundo das fadas falam de seus sentimentos com sensibilidade e poesia. O duende Puck, com humor. Os artesãos de forma populesca.

Reconhecendo as várias maneiras de se expressar, perguntou-se se

sabiam a diferença da linguagem formal e informal. A maioria demonstrou saber

distingui-las, porém quando produzem textos, muitas vezes não conseguem

adequar a linguagem de acordo com gênero em estudo, desse modo, mesmo que o

gênero já tenha sido trabalhado com a turma, ao retornar o estudo, devem - se

revisar as características para que o aluno, pouco a pouco, vá assimilando,

principalmente para os alunos de inclusão, que necessitam de maior atendimento.

Contextualização Presentificadora

Os alunos foram conduzidos à biblioteca para participarem de uma palestra

sobre a Lei Maria da Penha proferida por Lorena Dominique Vilela Freiberger,

formada em Direito e graduanda do curso de Pedagogia. Iniciou-se a palestra com

a apresentação de um vídeo, em seguida relatou-se sobre a Lei. As duas turmas

interagiram muito com a palestrante, trouxeram relatos reais de violência contra a

mulher e alguns pareciam experiências próprias. A palestrante ouvia a todos com

muita atenção, procurando responder com clareza as dúvidas dos alunos. Foi um

trabalho gratificante a todos.

6ªEtapa: Interpretação Final

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Adaptação da obra num trabalho coletivo

Os alunos formaram duplas, receberam o livro Sonho de uma Noite de

Verão e fizeram uma revisão dos principais acontecimentos de cada ato. Ficou

combinado que a adaptação seria de três atos com duas cenas em cada ato. A

produção do ato I iniciou-se com a turma B. Foi interessante observar que muitos

alunos opinaram com entusiasmo, defendendo suas ideias com convicção, logo,

fizeram uma leitura atenta, permitindo que estes posicionassem criticamente diante

da leitura extraclasse. Esta turma finalizou a primeira cena. Com a turma A, foram

realizados os mesmos procedimentos iniciais, mas como a primeira cena do Ato I já

havia sido feita, esta foi passada no quadro de giz para que os alunos

continuassem e produzissem a segunda cena do Ato I. Nesta turma, dois alunos

disseram que já estavam cansados de tanto fazer atividades sobre a leitura

extraclasse. Mesmo sendo dois alunos que opinaram negativamente, percebeu-se

que a leitura poderia ter sido feita em três intervalos e não cinco. Embora tenha

recebido crítica, a produção coletiva continuou, finalizando a segunda cena do Ato

I.

Os alunos da turma A iniciaram o Ato II, elaborando a primeira cena. Os

principais acontecimentos envolvendo Titânia, Oberon e Puck foram relembrados e

assim a produção foi finalizada. A cena II foi produzida pela turma B. Para isso, foi

lida a cena I para que dessem seguimento ao trabalho. A participação desta turma

destacou em comparação à outra, pois muitos alunos fizeram uma leitura atenta,

resultado: maior número de alunos opinou quanto às ações vividas pelas

personagens.

A produção do Ato III, cena I foi desenvolvida pela turma B, uma aluna

comentou o fato de Oberon ter conseguido tudo o que queria: “Ele ganhou, Titânia

perdeu, se fosse hoje, Oberon perderia.” Um aluno disse entre risos: Será? A

atividade finalizou-se. Ao entrar na sala da turma A, leu-se a produção para que os

alunos concluíssem a adaptação.

Os alunos da turma B receberam a adaptação digitada na íntegra para que

sugerissem algumas alterações quanto à linguagem. O mesmo foi pedido à turma

A. Os alunos foram divididos em grupo para que a adaptação fosse encenada. Um

grupo atuaria na peça, e outros formaram de acordo com o interesse: montagem do

cenário, figurino, sonoplastia, divulgação da peça. No período da tarde foi realizado

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o primeiro ensaio, mas a adaptação exige quatorze personagens e para três

personagens não havia alunos interessados em interpretá-los, mesmo assim o

ensaio se realizou, porque alguns alunos representaram dois personagens.

Considerando alguns desencontros por conta da ausência de alunos e

tendo em vista o final do ano letivo, com várias atividades de fechamento do

período, foi necessário cancelar a apresentação da peça, o que foi uma pena. No

entanto, ainda que não tenha sido possível concluir o trabalho com a apresentação

para a comunidade escolar, considerou-se que o projeto foi bem desenvolvido. O

texto adaptado consta no anexo.

4. Conclusão

Durante o período da implementação, alguns obstáculos surgiram, dentre

eles, o uso da TV Multimídia, que não funcionava na sala da turma em trabalho,

sendo necessário o deslocamento de duas turmas, o funcionário responsável pela

sala de informática se encontrava em licença, porém houve auxílio por parte de um

professor que se prontificou a acompanhar no manuseio das máquinas, orientando

a todos, possibilitando a execução da etapa pretendida. Além do problema

operacional, outros eventos como jogos interclasses, coincidindo com o

cronograma, acabaram por prejudicar a realização das atividades dentro da

previsão feita. No entanto, pode-se dizer que apesar destes problemas, somente a

última ação não se realizou.

O trabalho com a Sequência Expandida trouxe resultados significativos,

tanto nos intervalos da leitura extraclasse quanto nas contextualizações escolhidas,

pois além do gênero dramático a partir do qual o aluno pôde conhecer com maior

profundidade, outros gêneros textuais foram abordados e alguns retomados,

consistindo num trabalho dinâmico e eficaz, dando oportunidade de enriquecimento

teórico aos alunos e à professora, que percebeu o quanto foi importante ter a

oportunidade de voltar ao meio acadêmico, experimentar outras metodologias,

conhecer novos teóricos, enfim, estudar e trazer esses conhecimentos para a sala

de aula. Participar do PDE, vivenciando inserção acadêmica, discussões pelo GTR,

cursos de capacitação, dentre outras atividades, resultou em mudanças rápidas e

necessárias, pois se acredita numa Educação transformadora onde o homem

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poderá alterar o seu meio e deixar como herança um mundo melhor em todos os

sentidos.

Embora não tenha sido possível apresentar a peça teatral para a

comunidade, que deixou, sem dúvida alguma, certa frustração, vale lembrar que

todo trabalho desenvolvido ao longo deste período contribuiu e muito para que a

prática pedagógica fosse refletida intensamente e, consequentemente, ter uma

ótica diferente, não permitindo que esta experiência seja esquecida, engavetada,

mas continuando na expectativa de que futuros alunos terão, que lhes é de direito,

acesso à leitura literária.

Referências

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CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In:______. Vários Escritos. 3.ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p.234-63.

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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico para Escola Pública doParaná. Curitiba: SEED, 1990.

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REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. São Paulo. Scipione, 1997.

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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

VERSIGNASSI, Alexandre. Sonhos. Superinteressante, São Paulo, out.2010. Disponível em:<wwwhttp://super.abril.com.br/ciencia/sonhos-605861.shtml> Acesso em 29/05/2011.

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RUGNA, Betina. Teatro em sala de aula. São Paulo: Alaúde Editorial, 2009.

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ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel T. Literatura e pedagogia: ponto e contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.

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Anexo

Sonho de uma Noite de Verão, William Shakespeare, Tradução e Adaptação de Walcyr Carrasco.

Adaptação da obra por alunos do nono ano (EF).

Ato I Cena I Palácio de Teseu

Entram Hipólita e Teseu

Teseu – (Eufórico) - Bela Hipólita, nosso casamento está chegando. Conquistei seu amor pela força, mas quero que nosso casamento seja com glória e muita alegria.Hipólita – (Extremamente romântica) - O tempo voa depressa como um sonho, meu amor!

Entram Egeu com sua filha Hérmia, Lisandro e Demétrio.

Egeu - Teseu, nosso admirável duque, bom-dia!Teseu – Bom-dia! Que novidade o traz aqui?Egeu – Preciso de sua ajuda, minha filha quer se casar com Lisandro, desobedecendo-me, já dei minha palavra a Demétrio, com quem faço gosto, portanto, peço-lhe, ou casa com Demétrio ou ficará solteira pelo resto da vida, como prevê a Lei: mulher não pode se casar sem o consentimento do pai.Teseu – Pense, Hérmia! Demétrio é um excelente homem.Hérmia – Lisandro também.Teseu – Mas não tem a aprovação de seu pai.Hérmia – Pior é casar com um homem sem amor.Teseu – Pense bem, ou se casará com Demétrio ou ficará solteira.Demétrio – Aceite, linda Hérmia. Lisandro, respeite meu direito.Lisandro – Você não tem o amor dela, mas o de Egeu, case-se com ele, se quiser.Egeu - Atrevido! A filha é minha, ela casa com quem eu quero, ouviu bem?Lisandro – Sou tão rico quanto Demétrio e também sincero. Demétrio conquistou Helena e depois a deixou.Teseu – Alguém me falou, mas... Hérmia deve submeter à vontade de seu pai. Preciso preparar meu casamento. Ajudem-me Demétrio e Egeu.

Saem todos menos Lisandro e Hérmia.

Lisandro – Hérmia, tenho uma ideia, vamos fugir. Assim que anoitecer, estarei te esperando no bosque.Hérmia – Se é a única saída, estarei lá, meu amor!Lisandro - Helena está chegando. Helena – Ouvi vocês dizendo que vão fugir.Lisandro – Sim, mas não conte a ninguém.Helena – Desejo-lhes boa-sorte!

Hérmia e Lisandro saem.

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Helena – Demétrio deixou de gostar de mim quando viu Hérmia. Vou contar a ele o plano dos dois. Quem sabe assim ele me dá atenção.

Cena II Casa de Pedro Marmelo, o carpinteiro

Entram Marmelo, Francisco Flauta, Nick Fundilho e Benfeito.

Marmelo – Amigos, a peça que vamos apresentar é A muito lamentável comédia e muito cruel morte de Píramo e Tisbe . Apresentaremos na noite da festa do casamento de Teseu e Hipólita. Se agradarmos, ganharemos um bom dinheiro. Fundilho, você será Píramo.Fundilho – Quem é Píramo?Marmelo – Um apaixonado que se mata por amorFundilho – Farei a plateia chorar. Me aguardem, rapazes.Marmelo – Flauta, você terá o papel de Tisbe.Flauta – Quem é Tisbe? Um herói? Um motoqueiro?Marmelo – É a mulher por quem Píramo é apaixonado.Flauta – Não quero fazer papel de mulher, minha barba está crescendo.Marmelo – Não há problema, você vai representar com máscara. É só falar fininho. Benfeito, você fará o papel de Leão.Benfeito – Quero logo o meu texto, pois demoro muito para decorar.Marmelo – Não precisa, basta rugir. Mas não ruja tão forte, as moças podem ficar com medo e gritar. Todos estão com seus papéis, nos encontraremos no bosque amanhã, estejam todos.

Ato II Cena I Bosque

Entram Oberon e Titânia.

Oberon – Que péssimo encontro, orgulhosa Titânia!Titânia – O ciumento Oberon, vou embora.Oberon – Fique, precisamos conversar, quero aquele menino para transformá-lo em meu criado.Titânia – Impossível, o país das fadas inteiro seria insuficiente para comprá-lo, desista.Oberon – Até quando pretende ficar neste bosque?Titânia – Talvez até o casamento de Teseu. Fique longe de mim.

Titânia sai, entra Puck

Oberon – Aproxime-se, gentil Puck. No alto do rochedo há uma florzinha chamada amor-perfeito, seu suco, colocado sobre as pálpebras de alguém adormecido, fará com que esta pessoa fique perdidamente apaixonada pela primeira pessoa que vir ao despertar. Depressa, traga-me estas flores.Puck – Sim, meu senhor, imediatamente.

Puck sai.

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Oberon _ (Olhando para a plateia) Quando Titânia dormir, colocarei este suco em seus olhos. Ficará apaixonada pela primeira criatura viva, assim conseguirei o que quero, tirar o menino.

Entram Demétrio e Helena.

Demétrio – Eu não a amo. Não me persiga! Onde está Lisandro e Hérmia? Você disse que eles fugiram para cá. Vá embora, mulher, e não venha atrás de mim.Helena- (Desanimada) Quanto mais me despreza mais o amo...

Sai Demétrio.

Helena – Vou segui-lo, mesmo ele me desprezando.

Helena sai.

Oberon – Até logo, ninfa. Ele se apaixonara por você, prometo.

Volta Puck com um ramalhete de flores.

Oberon – Dê-me um pouco. Fique com estas. Procure uma jovem belíssima que está apaixonada por um jovem que a desdenha, coloque um pouco de suco nos olhos dele quando estiver dormindo e cuide para que ele ao acordar a veja e fique perdidamente apaixonada por ela.Puck – Fique tranquilo, farei o que me pediu.

Cena II Outra parte do bosque.

Titânia – (Dormindo) Oberon – (Coloca suco nos olhos de Titânia) Apaixone-se pela primeira pessoa que você vir ao acordar. (Pausa) Acorda quando alguma criatura horrível estiver por perto.

Oberon sai. Entram Lisandro e Hérmia.

Hérmia – Vamos descansar, meu amor?Lisandro – Sim, neste lugar poderemos ter lindos sonhos. Boa-noite, querida.

Ambos deitam e adormecem.Entra Puck.

Puck – Oh, aqui estão eles! (Espreme a flor sobre as pálpebras de Lisandro e sai)

Entram Demétrio e Helena, correndo. Nenhum dos dois vê Lisandro e Hérmia deitados.

Helena – Espere por mim, Demétrio, eu te amoooo.Demétrio – (Dá uma parada) Longe de mim, mulher insistente. (Desaparece)

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Helena – (Olhando em volta) Quem está aqui? Lisandro (acordando, apaixona-se instantaneamente).Lisandro – Helena! Mulher linda!Helena – Por que nasci para ser tão ridicularizada?

Helena sai.

Lisandro – Espere-me, musa dos meus sonhos!

Lisandro sai.

Hérmia - (Acordando) Socorro, Lisandro! Socorro! Sonhei que uma serpente devorava meu coração. Desapareceu? Preciso encontrá-lo.

Hérmia sai.

Cena II

Entram Marmelo, Benfeito, Fundilho, Flauta, Focinho e Faminto.

Marmelo – Vamos ensaiar, filhos de suas mães. Píramo, comece. Quando terminar sua parte, esconda-se ao fundo. Cada um vai entrando e saindo, de acordo com sua deixa.

Entra Puck, ao fundo. Fala à parte

Puck – Que trapalhões são esses? Vão representar um espetáculo? Vou participar dessa comédia.

Sem perceber a entrada de Puck, que não pode ser visto pelos mortais, os atores continuam.

Fundilho – (Como Píramo) Oh, minha Tisbe adorada, tanto amor você me inspira.

Fundilho sai e Puck vai à mesma direção.

Flauta – (Como Tisbe) Píramo, meu amado, não há rapaz mais cordial e amável.

Voltam Puck e Fundilho, que está com uma cabeça de burro.

Marmelo – Que monstruoso! É feitiço! Corram todos!

Saem Marmelo, Benfeito, Flauta, Focinho e Faminto.

Puck – Vou segui-los, farei com que corram pela noite confusos, apavorados!Fundilho – Ah! Estou percebendo, querem brincar comigo.

Titânia desperta. Vê Fundilho. Apaixona-se imediatamente.

Titânia – Qual é o anjo que me acorda? Estou apaixonada por você.

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Fundilho – Apaixonada por mim? Como?Titânia – Acompanhe-me, farei todas as suas vontades.

Os dois saem.Entram Oberon e Puck, cada um vem de um lado.

Oberon – Fez tudo o que eu mandei?Puck – Está tudo em ordem, senhor.

Entram Hérmia e Demétrio.

Oberon – Fique quieto. Este é o nosso procopense.Puck – Esta é a mulher que eu vi, mas o homem não é o mesmo.Demétrio – Por que me rejeita com tanta rudeza?Hérmia – (Gritando) - Longe de mim!

Hérmia sai.

Demétrio – É inútil segui-la. Vou descansar um pouco. (Adormece)Oberon – Você errou! Precisa encontrar Helena! O resto deixe comigo.Puck – Serei mais rápido que uma flecha..

Oberon pega uma flor e espreme o suco sobre os olhos de Demétrio.

Puck volta.

Puck – Helena está vindo, junto com ela o jovem cujos olhos despejei o filtro do amor. Serão dois a cortejar a mesma mulher.

Entram Lisandro e Helena.

Lisandro – Aceite meu amor, bela Helena.Helena – Pare de me ridicularizar.

Demétrio desperta. Encara Helena e se apaixona.

Demétrio – Ó Helena, deusa, ninfa, perfeita, divina!Helena – Oh, ambos combinaram fazer de mim objeto de suas caçoadas.Lisandro – Deixo Hérmia para você Demétrio. Só Helena me interessa.Demétrio – Ora, fique com sua Hérmia, Helena é a mulher dos meus sonhos.

Entra Hérmia.

Hérmia – Lisandro, vim pelo som de sua voz. Por que me deixou sozinha? Lisandro – Vim em busca do meu amor, Helena. Afaste-se de mim, mulher desagradável!Hérmia – Lisandro, eu não entendo. Pare de caçoar de Helena, querido.Helena – Todos combinaram de me magoar.

Helena sai e todos vão atrás dela.

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Oberon- Que confusão, hein!Puck – Isso é divertido.Oberon - Precisamos desfazer tudo, antes do dia amanhecer.

Voltam Demétrio, Helena, Hérmia e Lisandro muito cansados, deitam e adormecem.

Ato III Cena I

Os casais continuam adormecidos. Entram Titânia e Fundilho.

Titânia – Estou exausta! Vamos dormir um pouco?Fundilho – Deitarei em seus braços.

Oberon e Puck entram e se aproximam de Titânia.

Oberon – Que delicioso espetáculo! Mas agora já consegui o menino, entregou-me imediatamente quando a censurei. Vou libertá-la. (Espreme o suco nos olhos dela) Acorde, minha rainha, querida! Titânia – (Levantando-se) Meu Oberon, que sonhos tive! Sonhei que estava apaixonada por um asno!Oberon – Não foi um sonho. Puck, desfaça essa cabeça de burro. Titânia, faça a música soar.

Inicia-se uma música suave ao fundo. Puck – (Para Fundilho, retirando sua cabeça de burro) Quando acordar, espie o mundo com seus próprios olhos estúpidos.

Titânia e Oberon dançam. Os três saem.Ouvem-se trombetas de caça. Entram Teseu, Hipólita e Egeu.

Teseu – Mas... Quem são essas quatro pessoas?Egeu – É minha filha adormecida! Aqui está Lisandro. O outro é Demétrio. Esta é Helena. O que estão fazendo todos aqui e juntos?!Teseu – Caçadores, toquem para despertá-los.

Os quatro acordam e se levantam. Lisandro vê Hérmia e Demétrio, Helena.Teseu- Bom-dia, amigos!Lisandro – Não sei o que aconteceu, fugi com Hérmia.Egeu – Fugiram, insultaram a mim e a Demétrio.Demétrio – Não sei o que aconteceu, mas amo Helena, serei eternamente fiel a ela.Teseu – Belos apaixonados! Uma única cerimônia será realizada e teremos o privilégio de assistir a uma bela peça teatral.

Saem todos.

Cena II

Palácio de Teseu

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Todos entram menos o grupo de artesãos.Som de trombetas.O grupo de artesãos entra.

Marmelo – Gentil, plateia, o espetáculo vai começar!Fundilho – (Como Píramo) Tisbe, ó Tisbe, minha amada!Flauta- (Como Tisbe) Ouço a voz do meu amado!Fundilho - (Como Píramo) – Encontre-me à noite no túmulo da menina.Hipólita – Esta é a peça mais estúpida que eu já vi.Teseu – Vamos elogiar o esforço, não o resultado, minha querida.Flauta – (Como Tisbe, chegando) Aqui está o túmulo. Onde está meu amor?

Aparece o Leão e ruge. Tisbe foge deixando o manto cair.O Leão rasga o manto de Tisbe e sai.Fundilho entra.

Fundilho (Como Píramo) O manto de Tisbe, foi devorada pelo Leão. (Fere-se com o punhal e cai morto).

Tisbe volta.

Flauta – (Como Tisbe) Meu amor, morto, não! (Fere-se com a espada)Tisbe morre.

Começa a tocar uma música e todos começam a dançar.

A música para.

Puck – (Para a plateia) Gentis espectadores, se não acharam bem feito, perdoem! Da próxima vez tomaremos jeito! Boa-noite para todos! A cada final feliz, um novo começo.