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Diagnóstico Comunitário Participativo MANUAL DE FERRAMENTAS Genos Internacional Assessoria e Consultoria em Saúde e Desenvolvimento

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  • Diagnstico Comunitrio Participativo MMAANNUUAALL DDEE FFEERRRRAAMMEENNTTAASS

    Genos Internacional Assessoria e Consultoria em Sade e Desenvolvimento

  • DDDDDDDDiiiiiiiiaaaaaaaaggggggggnnnnnnnnsssssssstttttttt iiiiiiiiccccccccoooooooo

    CCCCCCCCoooooooommmmmmmmuuuuuuuunnnnnnnniiiiiiii ttttttttrrrrrrrr iiiiiiiioooooooo

    PPPPPPPPaaaaaaaarrrrrrrrtttttttt iiiiiiiicccccccciiiiiiiippppppppaaaaaaaatttttttt iiiiiiiivvvvvvvvoooooooo

    MMAANNUUAALL DDEE FFEERRRRAAMMEENNTTAASS

  • FICHA TCNICA

    Autores

    Ana Lucia Weinstein Celi Denise Cavallari Elisabete Cintra Elisabete Inglesi Glaury Aparecida Coelho Octavio Valente Junior

    Colaboradores para testagem das Metodologias e Validao do presente Manual

    Amrico Nunes do Instituto Vida Nova; Elisangela Casado Baldo da AVIAPA; Felix Antonio del Cid Nunes da ACADEC; Gladis de Wallau da APIS; Jos Willian D. Silva do GHIV; Josefa F. D. Fonseca do FAC Sonho Nosso; Ladir Aparecida Lovatto do FAC Sonho Nosso; Luciana Veronezi do FAC Sonho Nosso; Marcelo Silvestre dos Santos da APIS; Marco Aurlio da Silva do RNP+ Santa Barbara DOeste; Maristela Marcato da Silva do GHIV; Marta de Jesus dos Santos do Instituto Vida Nova; Ricardo Alexandre Pontes da ACADEC, Ronaldo Espndola da AVIAPA e Sandro Luiz Baraldi do NOISS.

    Reviso ortogrfica

    Magda Nery Tebet Paulo Gomes de Castro Filho

    Realizao

    Genos Internacional Assessoria e Consultoria em Sade e Desenvolvimento Social International HIV/AIDS Alliance

    Capa e Projeto Grfico

    Vera de Albuquerque Esta publicao foi realizada com recursos financeiros do DFID (Departamento para o Desenvolvimento Internacional) do Governo da Inglaterra Reino Unido, atravs do convnio com a International HIV/AIDS Alliance, para o ano de 2005. As opinies expressadas aqui so dos autores e no refletem necessariamente a viso dos financiadores citados. A reproduo parcial desta publicao est autorizada, desde que citada a fonte, entretanto recomendamos que a aplicao das metodologias esteja restrita s pessoas que participaram do Workshop de Diagnstico Comunitrio Participativo e de sua validao.

    Genos Internacional

    Assessoria e Consultoria em

    Sade e Desenvolvimento Social

  • Agradecemos a todos aqueles que, direta ou indiretamente, propiciaram a consecuo deste trabalho, em especial a International HIV/AIDS Alliance; ao Colectivo Sol Mexico; ao Programa Colaborativo Alianza Mexico, pelo convite aos tcnicos brasileiros para participao no Workshop de Diagnstico Comunitrio Participativo para testagem dos temas e das metodologias em Acapulco Mxico; assim como s organizaes no governamentais de Aids do Estado de So Paulo participantes da adaptao destes temas e metodologias na sua verso e adaptao em portugus. Destacamos tambm nossos agradecimentos a: Alejandra Trossero por acreditar e incentivar a adaptao realidade brasileira; Ruth Ayarza pela continuidade do crdito e incentivo junto a International HIV/AIDS Alliance; aos consultores Ana Lucia Weinstein e Octavio Valente Junior dos grupos Pela Vidda Niteri e Pela Vidda Rio de Janeiro pelo apoio tcnico, capacidade de viso e companheirismo; ao ento presidente do Frum de ONG/ AIDS do Estado de So Paulo, Sr. Rubens de Oliveira Duda, pela indicao das ONG/AIDS de So Paulo, pela presena e apoio ao workshop de Diagnstico Comunitrio Participativo em Dezembro de 2004.

  • Sumrio Apresentao 9

    Seo 1: Introduo: Desenvolvendo Boas Prticas 11 1.1 Introduo s Boas Prticas 15

    1.2 Compreendendo os Temas ----Chave 16

    A Preveno e a Assistncia em HIV/AIDS 16

    Do que trata a preveno ao HIV/AIDS? Prticas de risco e fatores de vulnerabilidade.

    Do que trata a assistncia em HIV/AIDS? O estigma e a discriminao.

    Quais so os vnculos entre preveno e assistncia?

    O que o marco do trabalho de preveno e assistncia em HIV/AIDS?

    Sade Sexual 20

    O que sade sexual?

    O que sexualidade?

    O que gnero?

    Participao Comunitria 23

    O que uma comunidade?

    O que h sobre as comunidades diretamente afetadas pelo HIV/AIDS?

    Como podemos trabalhar com uma comunidade?

    Como podemos melhorar a participao comunitria?

    O que um acordo de trabalho com a comunidade?

    1.3 Observando nossas Atitudes e Valores 29 Por que so importantes nossas atitudes e nossos valores?

    Quais atitudes e valores podem ajudar em nosso trabalho?

    1.4 Desenvolvendo Habilidades Chave 30 Como trabalhar em equipe?

    De quais habilidades de comunicao necessitamos?

    O que escuta ativa?

    O que questionamento estratgico?

    Como trabalhar com grupos de pessoas?

    Como usar ferramentas participativas?

    Seo 2: Planejando o Diagnstico Comunitrio Participativo 35 2.1 Introduo 39

    2.2 Com que comunidades devemos trabalhar? 40

    Quais critrios devem ser usados na seleo de uma comunidade?

    Como pode ser selecionada uma amostra representativa da comunidade?

    2.3 Quem deve executar o diagnstico? 42

    2.4 O que deve focar o diagnstico? 43

    Como podem ser estabelecidos os objetivos?

    Como devem ser identificados os problemas e temas-chave?

    Exemplo de um marco de trabalho de diagnstico

    2.5 Que mtodos e ferramentas devem ser usados no diagnstico? 46

    Que mtodos esto disponveis?

    Como devem ser selecionadas as ferramentas?

  • 2.6 Como a equipe de diagnstico deve trabalhar com a comunidade? 47

    Acordando regras, tendo acesso e assegurando a representao

    Mantendo a confiana

    Trabalhando com grupos especficos da comunidade

    Estabelecendo um acordo de trabalho

    2.7 Que seqncia deve seguir o diagnstico? 49

    O que seqenciar?

    Como deve ser planejada uma seqncia?

    Exemplo de tabela para marco de trabalho de planejamento de diagnstico

    2.8 Como se deve documentar o diagnstico? 51

    2.9 Que desafios podem existir ao se executar um diagnstico? 52

    Seo 3: Diagnstico do Contexto Comunitrio e Social e de Servios e Insumos de Sade 55

    3.1 Introduo 61

    3.2 Situao econmica e social 64

    Ferramenta: Mapa da comunidade

    3.3 Atividades econmicas e sociais 68

    Ferramenta: Personagem tpico e agenda de atividades ou Um dia na vida de...

    3.4 Preocupaes comunitrias priorizao de problemas 72

    Ferramenta: Dinmica dos cartes priorizao de problemas

    3.5 Fortalezas e debilidades 75

    Ferramenta: A carta de fluxo de causa e efeito ou Teia de Aranha

    3.6 Conhecimentos sobre sade sexual e normas sociais sobre gnero 79

    Ferramenta: Mapa do corpo humano

    3.7 Normas sociais sobre sexualidade 83

    Ferramenta: Personagens tpicos e linhas de vida

    3.8 Leis e polticas 87

    Ferramenta: Tabela de comparao

    3.9 Disponibilidade e acessibilidade de servios 91

    Ferramenta: Diagrama de Venn ou mapa de insumos e servios

    3.10 Barreiras para insumos e servios 95

    Ferramenta: Identificao de barreiras

    3.11 Qualidade dos servios 98

    Ferramenta: Classificao de preferncias ou ranking

    Seo 4: Diagnstico de Fatores Individuais 103 4.1 Introduo 107

    4.2 Opes e prticas de risco 109

    Ferramenta: Historieta em 5 quadros

    4.3 Conhecimento do risco do HIV 114

    Ferramenta: Jogo do Risco

    4.4 Atitudes pessoais 117

    Ferramenta: Roda de avaliao

    4.5 Classificao de preferncias 120

    Ferramenta: Classificao de preferncias ou ranking

    4.6 Habilidades e estratgias de negociao e assertividade 124

    Ferramenta: Sociodrama

  • Apresentao A origem deste manual fruto das iniciativas da International HIV/AIDS Alliance e seus parceiros em Diagnstico Comunitrio Participativo (DCP), testadas em diferentes treinamentos sobre o assunto, ocorridos no Mxico com a participao de organizaes locais e de outros pases, como Equador e Brasil. Deste registro nasceu o desenho de um manual com exemplos prticos de aplicao das metodologias entre comunidades do Mxico. A fim de valid-lo e adapt-lo realidade brasileira, alm de proporcionar material de assistncia tcnica em portugus, a Genos Internacional, ONG que trabalha em AIDS, gnero, sexualidade e sade, em parceria com a Alliance e com a participao de tcnicos dos Grupos Pela Vidda/RJ e Pela Vidda/Niteri compartilharam algumas das ferramentas com ONG/AIDS do Estado de So Paulo Brasil, em um workshop chamado Diagnstico Comunitrio Participativo e Relaes Externas para Sustentabilidade de ONG/AIDS. A partir da contribuio das ONGs participantes e com base no material produzido no Mxico, a equipe brasileira confeccionou o presente manual, que tem exemplos brasileiros e mexicanos respeitados os contextos culturais e institucionais destes dois pases. Agradecemos, ento, aos que colaboraram em todo o processo de compilao e adaptao desta publicao que, mais do que listar metodologias, traz um marco lgico de trabalho baseado no entendimento dos fatores de vulnerabilidade e proteo frente infeco pelo HIV e ao impacto da AIDS. Diante disto, ela contm duas partes iniciais que abordam alguns conceitos bsicos neste campo e mais duas sees que apresentam as ferramentas de diagnstico propriamente ditas. Nosso desejo de que este material seja mais uma fonte para capacitao e incremento s aes das organizaes da sociedade civil na luta contra a AIDS e no o nico modelo a ser seguido. Sua contribuio est em ser um instrumento que possibilita levantar e compreender as perspectivas, necessidades, anseios e prioridades de diferentes comunidades etapa to importante para o planejamento da agenda de trabalho da organizao comunitria e para a elaborao dos projetos sociais. Alm disto, privilegia a dimenso estratgica de que todo trabalho comunitrio deve ser horizontal e participativo. Acreditamos que cada pessoa ou grupo que utilize este manual possa descobrir novas aplicaes para as ferramentas ora apresentadas, ampliando e extrapolando o uso sugerido aqui. Alm disso, consideramos que possvel desenvolver novas metodologias, sempre garantindo o respeito diversidade de contextos, como por exemplo, entre companheiros de outros pases de lngua portuguesa.

  • SS EE OO 11 ::

    II NN TT RR OODD UU OO :: DD EE SS EENN VVOOLLVV EENN DD OO

    BB OOAA SS PPRR TT IICC AA SS

  • Seo 1: Introduo: Desenvolvendo Boas Prticas

    1.1 Introduo s Boas Prticas 1.2 Compreendendo os Temas-Chave

    A Preveno e a Assistncia em HIV/AIDS Do que trata a preveno ao HIV/AIDS? Prticas de risco e fatores de

    vulnerabilidade. Do que trata a assistncia em HIV/AIDS? O estigma e a discriminao. Quais so os vnculos entre preveno e assistncia? O que o marco do trabalho de preveno e assistncia em HIV/AIDS?

    Sade Sexual O que sade sexual? O que sexualidade? O que gnero?

    Participao Comunitria O que uma comunidade? O que h sobre as comunidades diretamente afetadas pelo HIV/AIDS? Como podemos trabalhar com uma comunidade? Como podemos melhorar a participao comunitria? O que um acordo de trabalho com a comunidade?

    1.3 Observando nossas Atitudes e Valores

    Por que so importantes nossas atitudes e nossos valores? Quais atitudes e valores podem ajudar em nosso trabalho?

    1.4 Desenvolvendo Habilidades-Chave

    Como trabalhar em equipe? De quais habilidades de comunicao necessitamos? O que escuta ativa? O que questionamento estratgico? Como trabalhar com grupos de pessoas? Como usar ferramentas participativas?

    Resumo desta seo:

    Antes de abordar de forma detalhada o diagnstico comunitrio participativo importante pensar nas boas prticas que fundamentam sua realizao. A adoo de boas prticas depende do entendimento de temas-chave relacionados com a preveno e assistncia em HIV/AIDS, sob a tica das prticas de risco e dos fatores de vulnerabilidade, como sade sexual, sexualidade, estigma e discriminao. Implica, tambm, em trabalhar em conjunto com as comunidades, de forma a incrementar sua participao.

    Outros fatores importantes para as boas prticas so as atitudes e valores dos membros de uma equipe de diagnstico, inclusive para travar um acordo de colaborao com as comunidades. As boas prticas tambm dependem de algumas habilidades-chave da equipe de diagnstico, como comunicao, facilitao de discusses em grupo, uso de ferramentas participativas e trabalho em equipe.

  • 1.1 Introduo s Boas Prticas As ferramentas participativas devem ser apresentadas em um contexto de boas prticas, para garantirmos sua efetividade. Durante o desenvolvimento e adaptao de ferramentas, a Aliana Internacional tem aprendido muitas lies e tem concludo que as boas prticas para trabalhar na preveno e assistncia do HIV dependem de:

    A Compreenso de Temas-Chave

    A Compreenso das Atitudes e dos Valores da Comunidade

    A Aprendizagem das Habilidades-Chave

    Esta seo est dividida em um conjunto de perguntas para ajudar aos facilitadores a incentivar os membros de uma equipe de diagnstico a refletir sobre:

    O que significam as boas prticas; e

    Como estas podem melhorar sua prpria prtica em termos de sua prpria compreenso dos temas-chave, suas atitudes e suas habilidades.

    1.2

  • 1.2 Compreendendo os Temas-Chave

    A Preveno e a Assistncia em HIV/AIDS

    Do que trata a preveno ao HIV/AIDS? Prticas de risco e fatores de

    vulnerabilidade. Os objetivos da preveno so:

    Reduzir o risco de exposio das pessoas ao HIV. Manter o apoio para que as pessoas protejam sua prpria sade e a de seus

    parceiros sexuais. Reduzir as possibilidades de infeco pelo HIV dos parceiros das pessoas que

    vivem com HIV/AIDS. Reduzir as possibilidades de re-infeco das pessoas que vivem com

    HIV/AIDS. Aumentar as oportunidades e melhorar as capacidades para controlar o risco.

    Usualmente, os projetos de preveno do HIV se focam na necessidade de mudanas de comportamentos que favorecem a transmisso do HIV, como as prticas sexuais desprotegidas e o compartilhamento de seringas entre os usurios de drogas injetveis. Atuam promovendo medidas preventivas, como por exemplo, o aumento do uso dos preservativos (camisinha), e reduzindo o compartilhamento de agulhas e seringas entre os usurios de drogas injetveis. Com o objetivo de mudar estas prticas de risco, que so as aes individuais que favorecem a transmisso do HIV, necessrio entender por que ocorrem, quem so as pessoas afetadas e quais pessoas necessitam serem apoiadas para mantermos estas mudanas. O conceito de vulnerabilidade pode ajudar a mostrar como e por que algumas pessoas, em alguns lugares, em diferentes tempos, poderiam ter mais probabilidades que outras de adotar prticas de risco e assim adquirir a infeco por HIV. Os fatores de vulnerabilidade so aqueles que limitam ou restringem a capacidade de escolha das pessoas. No contexto da preveno do HIV/AIDS, os fatores de vulnerabilidade limitam a capacidade de escolha das pessoas para evitar prticas de risco.

    Do que trata a assistncia em HIV/AIDS? O estigma e a discriminao. Os objetivos da assistncia so:

    Melhorar a qualidade de vida das PVA (pessoas vivendo com AIDS). Aumentar o acesso a medicamentos e ateno em sade. Reduzir o estigma e a discriminao vinculados ao HIV/AIDS. Aumentar as oportunidades e melhorar as capacidades da comunidade para

    responder aos danos relacionados AIDS. Em muitas partes do mundo, as comunidades vivenciam a epidemia do HIV no somente encarando os problemas para a preveno de novas infeces por HIV, mas tambm respondem s necessidades daquelas pessoas que esto diretamente afetadas, por viverem ou conviverem com o HIV ou j terem desenvolvido AIDS.

  • No contexto da assistncia s pessoas que vivem com HIV/AIDS, seus familiares e amigos, os fatores de vulnerabilidade limitam a capacidade de escolha das pessoas em evitar ou at diminuir o dano causado pela infeco do HIV. Estes fatores compreendem limitaes econmicas, emocionais, deficincia nos servios sociais e de sade, a vigncia de leis, polticas e normas culturais que aumentam o estigma e a discriminao sofrida pelas pessoas que vivem com HIV/AIDS. O estigma e a discriminao associados ao HIV/AIDS so considerados fatores de vulnerabilidade. O estigma associado ao HIV/AIDS compreende atitudes e prticas pelas quais algumas pessoas so marcadas ou identificadas de uma maneira negativa ou pejorativa por viverem com HIV/AIDS. Este rtulo invoca sentimentos de vergonha, medo e culpa pela sua condio de estar vivendo com HIV/AIDS, e leva as pessoas ao ostracismo, o isolamento, a prostrao e, em ltima instncia, deteriorao da sua qualidade de vida. O estigma pode dar-se no mbito familiar, por exemplo, negando a existncia dos familiares que vivem com HIV/AIDS, e no mbito social, como exemplo, atravs da rotulao culposa nos meios de comunicao sensacionalistas. A discriminao compreende atitudes e prticas sociais por meio das quais se outorga um tratamento distinto, de maneira negativa, s pessoas que vivem com HIV/AIDS, em detrimento aos seus direitos humanos. Estas incluem tratamentos diferenciados em clnicas e hospitais, que podem chegar at a negao de servios, o confinamento forado das pessoas em instituies especializadas, a negao de empregos etc. Em todo caso, as prticas estigmatizantes e discriminatrias tanto atentam contra a dignidade das pessoas, soterrando o exerccio dos seus direitos humanos, como dificultam e criam obstculos considerveis aos esforos de preveno e assistncia em HIV/AIDS, constituindo-se em importantes fatores de vulnerabilidade.

    Quais so os vnculos entre preveno e assistncia? Muitos dos fatores que aumentam a vulnerabilidade de um indivduo a adquirir HIV podem tambm aumentar a vulnerabilidade ao dano causado pela infeco por HIV queles que j vivem com o vrus ou j desenvolveram a AIDS. Por outro lado, os fatores que facilitam o aumento do dano ocasionado pelas infeces por HIV tambm podem propiciar o aumento de novas infeces. Podemos dizer que, de maneira similar, as atividades que se propem a reduzir a vulnerabilidade das pessoas em contrair o HIV podem tambm aumentar a capacidade de indivduos, famlias e comunidades a fazerem frente ao impacto do HIV/AIDS. Ao melhorar a acessibilidade e a qualidade de uma gama de servios sociais e de sade; ao enfrentar os problemas das comunidades relativos situao scio-econmica; ao encarar os problemas relacionados s normas culturais, leis e polticas; e ao trabalhar para reduzir o estigma e a discriminao e aumentar o respeito aos direitos humanos, em todos os mbitos, cria-se um ambiente favorvel tanto para o alcance dos objetivos relacionados preveno quanto assistncia em HIV/AIDS. Por exemplo, o estigma associado condio de soropositividade inibe a deciso das pessoas em buscar um servio de aconselhamento e testagem voluntria do HIV, o que impossibilita o objetivo de proporcionar servios de sade s pessoas que vivem com HIV/AIDS, mantendo assim o problema do HIV/AIDS invisvel aos olhos da comunidade, caracterizando-se como um fator de vulnerabilidade determinante para a propagao do HIV.

  • Est claro que o conceito de vulnerabilidade apresenta estreita ligao entre a preveno e a assistncia. Projetos distintos de preveno e assistncia contemplam problemas mtuos no decorrer das suas aes. Projetos de assistncia freqentemente enfocam as prticas de risco de pessoas que vivem com HIV e AIDS, para ajud-las a evitar a re-infeco e a contaminao de outras pessoas. Estende-se a o conceito de preveno para as estratgias e dispositivos que evitem que pessoas soropositivas desenvolvam doenas oportunistas, efeitos adversos de medicamentos e outros agravos de sade. A isto comumente chamamos de preveno secundria. Certos projetos podem tambm utilizar o contato que eles tm com famlias e membros da comunidade para discutir maneiras de reduzir seu risco infeco por HIV. Ao mesmo tempo, os projetos de preveno do HIV freqentemente procuram enfocar as atitudes estigmatizantes e prticas discriminatrias contra as pessoas que vivem com HIV/AIDS. Projetos que apiam mudanas em leis e polticas no campo da sade pblica e dos direitos humanos ajudam na criao de um ambiente mais favorvel tanto para a preveno quanto para assistncia. Em lugares onde existem ambientes favorveis, as pessoas que vivem com HIV e AIDS esto incrementando seu envolvimento no planejamento e implementao de atividades relacionadas tanto preveno quanto assistncia. Este tipo de ambiente pode fortalecer quelas pessoas que vivem com HIV e AIDS e ajudar indivduos e comunidades a responder epidemia de maneira mais efetiva, tica e oportuna. Uma preveno e assistncia efetivas pressupem a identificao das populaes mais vulnerveis, por exemplo, as de homens que fazem sexo com outros homens, trabalhadores/as sexuais e pessoas vivendo com HIV/AIDS, e tambm a identificao dos fatores de vulnerabilidade destas populaes, de modo que os recursos possam ser dirigidos a certos lugares ou a certos grupos de pessoas em particular.

    O que o marco do trabalho de preveno e assistncia em HIV/AIDS?

    Este manual usa o seguinte marco de trabalho de preveno e assistncia em HIV para mostrar os fatores que influem aumentando ou reduzindo a vulnerabilidade de um indivduo a adquirir HIV e/ou a sofrer o impacto da AIDS.

    Nvel do Contexto Comunitrio e Social

    (coletivo)

    Nvel de Insumos * e Servios de Sade e suporte psicossocial

    (institucional)

    Nvel dos Fatores Individuais (pessoais)

    Normas, valores morais e culturais e tradies; Religies e credos; Situao econmica; Relaes sociais; Leis, polticas, direitos humanos; Lideranas polticas no mbito local e nacional

    Disponibilidade; Acessibilidade; Qualidade;

    Comportamentos; Conhecimentos; Atitudes; Habilidades; Histrias pessoais; Circunstncias pessoais; Fatores biolgicos e emocionais

    * Por insumos de sade sexual entendemos todos aqueles instrumentos fsicos que servem para facilitar as prticas sexuais protegidas, por exemplo, os preservativos (camisinhas), os lubrificantes, os preservativos femininos etc. Tambm podemos encarar como insumo importante para a preveno as seringas descartveis.

  • Estes trs nveis de trabalho esto intimamente ligados, e um trabalho efetivo em HIV/AIDS deve dar ateno a todos eles. Por exemplo, ao trabalhar com pessoas no mbito individual para aumentar suas habilidades e conhecimentos para a preveno do HIV, ser necessrio contemplar a disponibilidade e acesso aos insumos e servios de sade e de suporte psicossocial dentro da sua comunidade. Se a demanda por insumos e servios de sade no pode ser atendida devidamente, a mudana de comportamento no nvel individual ser limitada, e o impacto potencial sobre a preveno, resultado de maiores conhecimentos e habilidades, no ser alcanado. Da mesma forma, a disponibilidade de insumos e servios de sade, as atitudes e habilidades para a mudana no nvel individual so influenciadas por fatores de contexto comunitrio e social. Trabalhar para responder a alguns dos fatores que influenciam no contexto social e comunitrio como, por exemplo, as normas culturais sobre sexualidade e gnero, as polticas pblicas em HIV/AIDS, o estigma e a discriminao associados ao HIV/AIDS ajuda a criar um ambiente favorvel para mudanas de comportamento no nvel individual e na melhoria da oferta de servios. O diagrama seguinte mostra os fatores do Contexto Comunitrio e Social, de Insumos e Servios de Sade e de suporte psicossocial e de Fatores Individuais como trs crculos justapostos, mostrando os vnculos que existem entre eles.

    Conscincia e demanda de insumos e servios de sade e suporte psicossocial

    Fatores Individuais Incremento de conhecimentos e aumento de habilidades

    Contexto Comunitrio e Social Afeta atitudes e potencialidades para a mudana

  • Sade Sexual O que sade sexual?

    Este manual situa a preveno do HIV/AIDS dentro de um contexto mais amplo que o da sade sexual. Mas, o que a sade sexual?

    A sade sexual um estado de bem-estar fsico, mental e emocional com relao vida sexual das pessoas. Esta concepo da sade sexual sugere que o trabalho de preveno do HIV/AIDS no tratar somente da preveno e tratamento de infeces de transmisso sexual, incluindo o HIV. Tambm ter que focalizar a melhoria da apropriao e da conscincia que as pessoas tm sobre suas vidas sexuais e o combate ao medo, vergonha e culpa que muitos associam ao sexo. Ao trabalhar dentro deste contexto da sade sexual, torna-se claro que a preveno do HIV no pretende somente evitar as doenas relacionadas transmisso sexual, mas sim promover o bem-estar. A fim de alcanar isto, os projetos da preveno do HIV devero trabalhar com:

    a pessoa em sua totalidade e no somente com um conjunto de prticas do risco;

    as experincias de vida das pessoas, assim como suas circunstncias atuais; e

    as famlias e comunidades, a fim de lidar com a gama de fatores que afetam o bem-estar fsico, mental e emocional na vida sexual das pessoas.

    O que sexualidade?

    A sexualidade se refere a todos os aspectos da vida sexual das pessoas: seus desejos sexuais, suas identidades sexuais e suas prticas sexuais. Pensar na sexualidade desta maneira nos faz lembrar que preveno do HIV no pode focalizar unicamente as prticas sexuais; necessita, tambm, considerar temas como o desejo e identidade. A orientao sexual indica o sentido dos desejos sexuais das pessoas. Falando de maneira bem simplificada, as pessoas ditas heterossexuais sentem atrao sexual por pessoas do sexo oposto, as pessoas bissexuais sentem atrao sexual por pessoas de ambos os sexos e pessoas homossexuais sentem atrao sexual por pessoas do mesmo sexo. No se deve pensar nesta classificao como compartimentos rgidos, mas como referncias, j que as pessoas podem transitar ao longo de suas vidas de uma referncia para outra. importante sinalizar que a orientao sexual no define a identidade sexual das pessoas. A identidade sexual das pessoas diz respeito maneira pela qual elas, em funo de sua histria, contexto cultural e a circunstncia pessoal, se definem ou constroem a si mesmas em relao sexualidade e gnero (ver mais adiante). Partindo da perspectiva cultural, a identidade sexual possibilita uma variedade de diferentes formas de "ser", em funo do gnero e sexualidade. De maneira geral e simplificada, as pessoas se constroem como "homens", "mulheres", "homens gay", "mulheres lsbicas, "transexuais, "transgneros" e "bissexuais", mas cada categoria inclui grande variedade de subcategorias que esto baseadas na complexidade humana e cultural.

  • Finalmente, as prticas sexuais dizem respeito ao exerccio da vida sexual; pode-se dizer que so as prticas concretas da sexualidade e que em seu conjunto compreendem o comportamento sexual das pessoas. importante destacar que algumas vezes a orientao sexual pode coincidir com a identidade sexual e prtica sexual, por exemplo, os homens com desejos sexuais por outros homens e que a si mesmos identificam-se como "gay", e cujas prticas sexuais so com outros homens. Porm, tambm existem homens que tm desejos e prticas sexuais com outros homens, mas que no se definem ou se reconhecem socialmente como "gay. Na perspectiva da epidemiologia, o trabalho com HIV/AIDS tem sido utilizado do conceito de "homens quem fazem sexo com outros homens, o que no define uma identidade sexual nem tampouco uma orientao sexual. Isto se refere s pessoas em funo, exclusivamente, de suas prticas sexuais, independentemente da orientao e da identidade sexual de cada um. As prticas sexuais (condutas sexuais), quando so desprotegidas, se configuram como prticas de risco para infeces de transmisso sexual, incluindo o HIV. Logo, so as prticas sexuais desprotegidas que so o risco para o HIV e no quem as est fazendo. Perguntas para discusso:

    Em muitas culturas esperado que os homens tenham mais desejo sexual que as mulheres. Pea aos participantes que discutam de que forma esta expectativa afeta a vulnerabilidade dos homens e das mulheres infeco pelo HIV.

    Em muitas culturas presume-se que a maioria das pessoas heterossexual. Qualquer um que se identifique como gay, lsbica, bissexual ou transexual poder enfrentar estigma e discriminao e, possivelmente em alguns lugares, sanes legais e sociais. De que maneira supor que a maioria das pessoas heterossexual e pensar que o HIV/AIDS uma "doena gay" afeta a vulnerabilidade infeco pelo HIV?

    importante refletir sobre isto antes de dar incio ao trabalho em HIV/AIDS, assim como aos seguintes temas relativos sexualidade: Segurana: a preveno do HIV intimamente ligada a questes de segurana sexual e maneira como estas so definidas e garantidas pelos indivduos, comunidades e pelo Estado.

    Moral: sobre orientao sexual, identidade sexual e comportamento sexual, o certo ou o errado variam em cada cultura e so determinados pelas tradies culturais, regras e valores sociais e religiosos, alm de polticas e leis oficiais.

    Relaes: a sexualidade no influi somente nas relaes sexuais, mas tambm nas relaes sociais e familiares.

    Perguntas para discusso:

    Que fatores afetam o nvel de apropriao que as pessoas tm sobre a segurana de suas vidas sexuais?

  • Que julgamentos morais so feitos em relao sexualidade e por qu?

    Como estes julgamentos morais afetam a vulnerabilidade infeco pelo HIV?

    Como a sexualidade afeta as relaes entre homens e mulheres?

    Como a sexualidade afeta as relaes entre as mulheres e as relaes entre os homens?

    Como os julgamentos morais acerca da sexualidade se associam ao estigma e discriminao em relao ao HIV/AIDS?

    O que gnero?

    H algumas diferenas biolgicas bsicas entre os corpos dos homens e mulheres. A estas caractersticas anatmicas, fisiolgicas e genticas definimos como sexo. Baseadas nestas diferenas, a maioria das culturas tem expectativas diferentes sobre o comportamento apropriado, caracterstico, papis sociais, direitos e responsabilidades dos homens e mulheres. "Gnero" o termo socialmente construdo e definido, usado para descrever estas diferenas entre homens e mulheres. Tem-se observado que estas diferenas de gnero tm conduzido a desigualdades de gnero. Por exemplo, na maioria das sociedades, os homens tm mais poder legal, econmico e social do que as mulheres. Alm de suas implicaes ticas, isto tem representado um impacto significativo sobre a sade sexual. importante pensar de que forma as questes de gnero esto relacionadas sade sexual, antes de comear a pensar sobre a preveno do HIV. Perguntas para discusso:

    Quantas diferenas entre mulheres e os homens so muito mais socialmente definidas do que determinadas biologicamente? As respostas a esta pergunta podem revelar a extenso que a igualdade entre homens e mulheres pode ter.

    Quais so as relaes entre gnero e sexualidade? As normas culturais entre gnero e sexualidade com freqncia se alimentam mutuamente. Por exemplo, as diferenas de gnero nos papis, direitos e responsabilidades de homens e mulheres, esto apoiadas, geralmente, por idias culturais sobre diferenas "naturais" entre a sexualidade masculina e feminina. Alm disto, idias acerca da "normalidade" das relaes sexuais entre homens e mulheres (a heterossexualidade na cultura ocidental) esto baseadas, geralmente, em normas de gnero sobre o que significa ser um homem ou uma mulher e, tambm, em sua relao com a reproduo humana.

    Como so geradas e perpetuadas as desigualdades de gnero? Discutir esta pergunta ajuda s pessoas a pensar no papel da histria, da cultura, da poltica, da religio e da economia na gerao e manuteno das desigualdades entre mulheres e homens.

    Como as diferenas de gnero afetam a vulnerabilidade? As ligaes entre a desigualdade de gnero e a vulnerabilidade enfatizam, geralmente, de que forma a falta de poder poltico, legal, econmico e social das mulheres reduz o seu controle sobre suas vidas sexuais. Mas, tambm, importante avaliar se as idias que se tem sobre masculinidade e os papis do gnero masculino podem aumentar a

  • exposio dos homens ao risco de infeco pelo HIV. Assim, faz-se imprescindvel analisar como as relaes de gnero influenciam na vulnerabilidade e exposio ao HIV e outras DST, numa perspectiva dinmica e contextualizada.

    Quais so as ligaes entre desigualdade de gnero e outras desigualdades? Algumas vezes, nas discusses sobre gnero se esquece das outras formas de desigualdade baseadas nas classes sociais, status social, raa/etnia, idade e identidade sexual etc., a que as pessoas podem estar submetidas. importante pensar, tambm, de que forma a desigualdade de gnero afeta e afetada por outras formas de desigualdade.

    Participao Comunitria

    O que uma comunidade? O marco do trabalho de preveno e assistncia tem enfatizado a importncia do trabalho sobre vulnerabilidade no mbito comunitrio. Mas, o que uma comunidade?

    Uma comunidade um grupo de pessoas que tm algo em comum e alguma intuio ou sentido de uma identidade compartilhada. Isto pode ser de diversas maneiras, como: geografia, por exemplo, a comunidade de um bairro ou regio; ocupao (profisso), por exemplo, uma comunidade militar; religio, por exemplo, uma comunidade evanglica; sexual, por exemplo, uma comunidade gay; ou por idade, uma comunidade de jovens etc. A sade sexual e o risco ao HIV de um indivduo so influenciados por sua comunidade, pois ela exerce uma poderosa fora sobre a maneira que as pessoas vivem suas prprias vidas. A reduo do risco das pessoas pode implicar em fortalecer os aspectos da comunidade que tm um efeito positivo sobre a sade sexual das pessoas e transformar os aspectos de vulnerabilidade que poderiam ter um efeito negativo. Os projetos de preveno e assistncia em HIV/AIDS devem trabalhar com as pessoas dentro do amplo contexto da sua comunidade e no somente como indivduos isolados, para que este trabalho seja mais:

    Relevante, focando-se nos problemas e respostas identificadas pela comunidade;

    Efetivo, trabalhando com as pessoas dentro do verdadeiro contexto de suas vidas; e

    Sustentvel, facilitando a mobilizao comunitria para que ela lidere a preveno e assistncia em HIV/AIDS.

    Apesar disto, o trabalho com uma comunidade pode ser complicado. As pessoas podem pertencer, ou sentir que pertencem a mais de uma comunidade ao mesmo tempo. Dentro de qualquer comunidade pode haver importantes diferenas ou desigualdades entre as pessoas, por exemplo, em razo da condio econmica, do status social, da idade, do gnero, da identidade sexual, da raa etc., que influem na sua resposta ao HIV/AIDS.

  • O que h sobre as comunidades diretamente afetadas pelo HIV/AIDS? Em comunidades que j esto afetadas diretamente pelo HIV/AIDS, pode haver mais diferenas entre as pessoas, determinadas pelo estigma e a discriminao s pessoas que vivem com HIV/AIDS e suas famlias. Em qualquer comunidade pode haver pessoas cientes de que esto vivendo com HIV/AIDS, pois seu teste deu positivo ou foram diagnosticados com AIDS, e tambm pessoas vivendo com HIV/AIDS que desconhecem sua condio sorolgica. O importante reconhecer que a disseminao da epidemia de AIDS poder ter caractersticas prprias em populaes, comunidades e at pases diferentes, afetando mais alguns indivduos que outros. O conjunto dos fatores individuais, coletivos e institucionais de vulnerabilidade em cada comunidade/populao que definir os contornos da epidemia naquela localidade. Por isto, em algumas localidades as populaes mais vulnerveis podem ser de homens que fazem sexo com outros homens, trabalhadores/as sexuais e usurios de drogas injetveis e, em outras, ser de mulheres, homens heterossexuais, jovens e /ou idosos, por exemplo. Alm disto esta situao pode se modificar ao longo do tempo, dependendo de fatores como: grau de investimento em aes dirigidas para pblicos especficos em detrimento de outros, preconceito etc. Como disse Herbert Daniel (reconhecido e pioneiro ativista brasileiro em AIDS e Direitos Humanos) em seu texto Antes, a vida, em 1989 ... A AIDS se inscreve em cada cultura de um modo distinto. Cada cultura constri a sua AIDS prpria. Bem

    como as respostas a ela.... A compreenso destes temas ajudar uma equipe de diagnstico a falar com as pessoas sobre as comunidades s quais pertencem para: Fortalecer o sentido de comunidade das pessoas; e Estar consciente das diferenas e desigualdades dentro das comunidades e a maneira que estas podem afetar o incio dos esforos de preveno e ateno em HIV/AIDS.

    Como podemos trabalhar com uma comunidade? O trabalho com a comunidade para responder a fatores de vulnerabilidade comea com a participao comunitria nos processos de diagnsticos e desenvolvimento dos projetos. A participao comunitria o envolvimento ativo das comunidades na resoluo de problemas e na tomada de decises destes processos. Pode haver diferentes barreiras para este tipo de participao ativa. Algumas destas barreiras podem estar relacionadas s prprias pessoas que compem a equipe de diagnstico, e outras podem estar relacionadas s comunidades. A tabela seguinte lista algumas das possveis barreiras e tambm algumas sugestes para lidar com elas, as que podem ser discutidas com a equipe de diagnstico.

  • Barreiras da equipe de diagnstico Temas sugeridos para discutir com a equipe de diagnstico

    Os membros da equipe acreditam que eles devem ser educadores da comunidade, sem a preocupao de obter sua participao.

    Explorar as idias da equipe sobre experincia, que esto baseadas sobre as vantagens (e possveis riscos) da participao comunitria.

    Os membros da equipe carecem de habilidades e de experincia necessria ao enfoque participativo.

    Trabalhar com a informao sobre Habilidades-Chave que aparece depois desta seo.

    No existe tempo suficiente para construir acordos de colaborao com os membros da comunidade.

    Procurar contar com tempos de trabalho que estejam de acordo com o tempo necessrio para gerar a participao comunitria.

    Barreiras da comunidade Temas sugeridos para discutir com a equipe de diagnstico:

    A comunidade tem muitos outros problemas e pensa que o HIV/AIDS no uma prioridade.

    Quais so os vnculos existentes entre HIV/AIDS, problemas de sade sexual e outros problemas comunitrios.

    Os membros da comunidade esto ocupados demais com outras tarefas ou problemas.

    Como organizar as atividades do diagnstico e de preveno/assistncia, para que se encaixem dentro da agenda comunitria.

    Os membros da comunidade no esto confiantes que o processo ser realmente participativo.

    Como discutir com a comunidade as razes de suas desconfianas e a maneira como elas podem ser resolvidas.

    As comunidades esto divididas internamente e em desacordo sobre que interesses e pontos de vista devem estar includos ou excludos.

    Como organizar o diagnstico de tal forma que permita compartilhar e discutir a amplitude das vises da comunidade.

    Os membros da comunidade no valorizam o papel da sua participao.

    Como incentivar a participao dos membros da comunidade nas consultas iniciais.

    Uma comunidade pode reconhecer que existem pessoas vivendo com HIV/AIDS ou negar sua presena. A participao de uma comunidade afetada pelo HIV/AIDS nos processos de diagnstico e desenvolvimento de projetos de sade sexual e preveno e assistncia em HIV/AIDS pode encontrar desafios, como as barreiras ao envolvimento ativo de pessoas que vivem com HIV/AIDS. A tabela seguinte enumera algumas das possveis barreiras e sugere temas que podem ser discutidos com a equipe de diagnstico.

  • Barreiras da equipe de diagnstico Temas sugeridos para discutir com a equipe de

    diagnstico: A equipe tem preconceitos e atitudes discriminatrias frente s pessoas que vivem com HIV/AIDS.

    Como so gerados os preconceitos e atitudes discriminatrias em outras formas de desigualdade, e quais so as similaridades existentes com a relacionada ao HIV/AIDS.

    A equipe poderia no conhecer nenhuma pessoa vivendo com HIV/AIDS assumidamente e poderia necessitar de informao sobre o impacto de viver com HIV/AIDS.

    Como imaginam que suas prprias vidas poderiam mudar ao se descobrirem vivendo com HIV/AIDS.

    A equipe no visualiza o papel que as pessoas que vivem com HIV/AIDS podem exercer na preveno e, como conseqncia, no planejam nenhuma atividade para mobilizar estas pessoas e aumentar seu envolvimento.

    Como visualizar as pessoas que vivem com HIV/AIDS como pessoas com experincia e vivncia no tema, e como poderiam compartilh-las com outros membros da comunidade.

    A equipe pode no considerar importante a preveno para as pessoas que vivem com HIV/AIDS.

    A maneira pela qual as prticas de risco podem propiciar a re-infeco e facilitar assim a progresso da condio de soropositivo para caso de AIDS. A maneira pela qual pessoas que vivem com HIV/AIDS podem ter um papel ativo na preveno primria ao adotar prticas de sexo seguro e/ou protegido.

    Barreiras da comunidade Temas sugeridos para discutir com a equipe de diagnstico:

    A comunidade tem atitudes discriminatrias para com as pessoas que vivem com HIV/AIDS e as culpa por "infectar" outras pessoas.

    Como visualizar as pessoas que vivem com HIV/AIDS como pessoas que tm experincia e vivncia no tema, e como poderiam compartilh-las com outros membros da comunidade.

    Os membros da comunidade pensam que todas as pessoas que vivem com HIV/AIDS esto doentes e acamadas, e so, portanto, incapazes de participar das atividades do projeto.

    Como facilitar o envolvimento de pessoas que vivem com HIV/AIDS nas atividades do projeto.

    A comunidade pode considerar as pessoas que vivem com HIV/AIDS como vtimas incapazes de exercer um papel ativo no combate do avano da epidemia.

    Como ressaltar o papel que as pessoas que vivem com HIV/AIDS podem ter no combate ao avano da epidemia.

    Barreiras das pessoas que vivem com HIV/AIDS:

    Temas sugeridos para discutir com a equipe de diagnstico:

    Muitas pessoas no sabem que vivem com HIV, porque o servio de aconselhamento e testagem voluntria do HIV no est acessvel, ou por temores relacionados a confidencialidade que inibem sua deciso de fazer o teste.

    Como discutir com a comunidade a importncia de conhecer o status sorolgico e as condies necessrias para acessar o servio de aconselhamento e testagem voluntria do HIV com confidencialidade.

    Pessoas que sabem que vivem com HIV temem sofrer estigmas e discriminao se falarem abertamente sobre sua condio de portadora do HIV/AIDS.

    Como participar na facilitao da mobilizao comunitria para a organizao de grupos de ajuda - mtua para pessoas vivendo com HIV/AIDS.

    As pessoas que vivem com HIV/AIDS podem ter a auto estima baixa e dificuldades para imaginar-se exercendo um papel ativo no trabalho com HIV/AIDS.

    Como gerar o intercmbio de experincias e vivncias das pessoas que vivem com HIV/AIDS, que facilite o empoderamento das pessoas vivendo com HIV/AIDS.

    As pessoas que vivem com HIV/AIDS podem necessitar de habilidades para engajar-se na preveno do HIV/AIDS, por exemplo aspectos tcnicos do HIV/AIDS ou habilidades de organizao.

    Como participar na facilitao da mobilizao comunitria para a organizao de grupos de apoio para pessoas vivendo com HIV/AIDS que contemplem em sua agenda o incremento de capacidades e habilidades.

    As pessoas que vivem com HIV/AIDS no encontram sentido em engajar-se na preveno, expondo-se discriminao sem receber algum benefcio, como, por exemplo, melhor acesso assistncia.

    Como relacionar a participao em atividades de preveno com atividades direcionadas melhoria dos servios de assistncia.

  • Como podemos melhorar a participao comunitria? Para assegurar que a participao comunitria realmente acontea na prtica, a equipe de diagnstico deve pensar em:

    Aproximar-se da comunidade da melhor maneira: Melhorar o acesso s comunidades far uma grande diferena. Em geral, importante que a equipe de diagnstico trabalhe atravs de lideres comunitrios e processos formais e informais, pensando nas melhores ocasies e lugares para chegar at as pessoas, pensando em maneiras amistosas e claras de estabelecer contato, explorando a linguagem local para termos-chave como "sade sexual", "diagnstico comunitrio participativo" e projeto social etc.

    Estabelecer uma relao: Poder manter um contato permanente com a comunidade ao longo de todo o processo, depender do estabelecimento de uma relao forte com diferentes membros da comunidade. Isto implicar em uma comunicao honesta, aberta e uma tomada responsvel de decises, em compartilhar a informao, dar seguimento aos compromissos estabelecidos, e uma grande transparncia sobre o que a equipe de diagnstico pode ou no pode fazer.

    Respeitar outras necessidades: Com freqncia, os ativistas e as organizaes no governamentais podem estar trabalhando na preveno do HIV com comunidades que vivenciam muitos outros graves problemas ou necessidades, pois a vulnerabilidade ao HIV est estreitamente vinculada a desigualdades econmicas e sociais. O envolvimento de comunidades na preveno do HIV requer que a equipe de diagnstico ou as organizaes no governamentais respeitem estas outras necessidades e discutam com os membros da comunidade como eles podero enfrent-las, se possvel, dirigindo-as a outras organizaes no governamentais ou instituies dedicadas ateno destes problemas distintos.

    Previso de recursos: Muitas comunidades podem necessitar de tempo e dinheiro para participar ativamente do trabalho de diagnstico e desenvolvimento de projetos. A equipe de diagnstico necessita pensar quais recursos pode prover para estimular a participao comunitria.

    Garantir a representao: Pode ser difcil para algumas pessoas expressar seus pontos de vista devido s diferenas e desigualdades que existem dentro das comunidades, por exemplo: as mulheres, as pessoas de poucos recursos, os jovens, as minorias tnicas ou raciais. O estigma e a discriminao contra as pessoas que vivem com HIV/AIDS, os homossexuais e os trabalhadores (as) sexuais etc. tambm influenciam. Uma equipe de diagnstico necessita discutir maneiras de garantir que a ampla gama de interesse e perspectivas dentro da comunidade se encontre representada no trabalho de diagnstico e desenvolvimento de projetos.

    Contar com um acordo de trabalho com a comunidade (ver em seguida)

  • O que um acordo de trabalho com a comunidade? Desenvolver um acordo de trabalho entre a comunidade e a equipe de diagnstico, no comeo do diagnstico comunitrio participativo, pode ajudar a estimular uma comunicao aberta e tambm apoiar a participao comunitria nos processos de diagnstico e desenvolvimento de projetos. Geralmente, fazer um acordo de trabalho ser relativamente fcil com comunidades que contam com estruturas de liderana definidas, mas importante assinalar que em todo acordo de trabalho com comunidades dever estar representada uma ampla variedade de pessoas, particularmente aquelas que podem estar marginalizadas. Um acordo de trabalho pode ajudar a:

    Fortalecer a apropriao comunitria (responsabilidade comunitria) do processo de diagnstico;

    Assegurar que a equipe de diagnstico comunitrio permanea; e

    Reduzir a suspeita e desconfiana. Um acordo de trabalho normalmente deve conter as seguintes questes:

    O propsito do diagnstico;

    O processo e os resultados esperados do diagnstico;

    Os papis e as responsabilidades da equipe de diagnstico e da comunidade;

    A confidencialidade da informao obtida durante o diagnstico; e

    A apropriao e uso da informao produzida durante o diagnstico.

    importante que o acordo de trabalho esteja registrado em um documento que possa ser consultado a qualquer momento.

  • 1.3 Observando nossas Atitudes e Valores

    Por que so importantes nossas atitudes e nossos valores?

    Uma boa prtica no diagnstico e desenvolvimento de projetos estar consciente das atitudes e dos valores pessoais, e da maneira como estes afetam nossa prtica. Os facilitadores podem ajudar a equipe de diagnstico a pensar sobre os vnculos entre as suas prprias atitudes e o que eles fazem na prtica. Dar incio a esforos de preveno e assistncia do HIV/AIDS implica trabalhar temas de sade sexual, sexualidade e gnero, e freqentemente as pessoas tm sentimentos prprios em relao a estes temas. importante para a equipe de diagnstico refletir sobre suas prprias atitudes frente a estes assuntos e como estas atitudes podem influenciar no seu trabalho. Atuar no incremento da participao comunitria pode, tambm, despertar sentimentos ambguos. A equipe de um diagnstico pode sentir-se incomodada com este tipo de participao, se perceber que esto desafiando sua prpria experincia ou sua posio de "autoridade" dentro da comunidade.

    Quais atitudes e valores podem ajudar em nosso trabalho? As atitudes que ajudam a equipe de diagnstico em seu trabalho de diagnstico e desenvolvimento de projeto com comunidades so:

    Um desejo de construir uma relao forte com as comunidades;

    Uma atitude de respeito para com as comunidades;

    Valorizar a experincia que as comunidades tm para identificar suas necessidades e solues para os problemas;

    Ter conscincia das desigualdades que existem no somente nas comunidades e na equipe de diagnstico, mas tambm entre os membros das comunidades; e

    Sinceridade e respeito com os prprios sentimentos e atitudes em relao a temas sensveis, reconhecendo eventuais atitudes discriminatrias e estigmatizantes de si mesmos.

  • 1.4 Desenvolvendo Habilidades Chave

    Como trabalhar em equipe?

    A equipe de trabalho uma parte-chave de uma boa prtica. Os facilitadores de processos comunitrios podem ajudar a equipe de diagnstico a discutir e acordar a maneira que trabalharo como equipe, tanto entre eles como com a comunidade. Ao estabelecer um entendimento de trabalho em equipe ser fcil definir diretrizes e procedimentos de trabalho que ajudem aos membros da equipe a apoiar-se mutuamente no desenvolvimento e sustentao de uma boa prtica. Certos procedimentos e diretrizes tambm podem ajudar a clarear os papis e responsabilidades dos diferentes membros da equipe, quais so os de liderana, documentao, observao etc. e a definir se estes papis e responsabilidades sero redistribudos em diferentes momentos dos processos de diagnstico e desenvolvimento de projetos.

    De quais habilidades de comunicao necessitamos? Uma boa prtica no trabalho de diagnstico comunitrio e de desenvolvimento de projetos requer habilidades de boa comunicao. Tanto a escuta ativa, quanto o questionamento estratgico so essenciais para o trabalho de diagnstico e desenvolvimento de projetos.

    O que "escuta ativa"? A escuta ativa significa mais que somente ouvir. Significa ajudar as pessoas a sentirem-se entendidas e escutadas. A escuta ativa, ao ajudar as pessoas a se sentirem compreendidas, estimula uma comunicao de idias e sentimentos mais aberta, aumentando assim a qualidade do trabalho de diagnstico comunitrio. Ao mesmo tempo, a escuta ativa uma importante atividade para estimular a participao consistente dos membros da comunidade no esforo de preveno do HIV. A escuta ativa implica:

    O uso de uma linguagem corporal, que representa 77% da comunicao, e para a maioria das culturas serve para mostrar interesse e compreenso. Este inclui inclinar a cabea e girar o corpo para encarar a pessoa que est falando;

    O uso de expresses faciais para mostrar interesse e compreenso e refletir sobre o que est se falando. Isto pode incluir olhar diretamente a pessoa que est falando. Em algumas culturas o contato direto dos olhos pode no ser apropriado, a no ser que j tenha sido estabelecida alguma confiana entre a pessoa que fala e a que escuta;

    Escutar no somente o que dizem mas tambm como dizem, atentando-se a "linguagem corporal" de quem est falando;

    Fazer perguntas pessoa que esta falando, para mostrar um desejo de compreender; e

    Resumir o que foi dito, verificar se foi entendido e solicitar uma retroalimentao.

  • O que "questionamento estratgico? As habilidades de questionamento estratgico esto intimamente associadas s habilidades de escuta ativa. O questionamento estratgico ajuda a:

    Estimular a compreenso de temas e problemas;

    Aumentar a participao nas discusses em grupo; e a

    Estimular a discusso comunitria e a resoluo de problemas.

    O questionamento estratgico implica:

    Fazer perguntas abertas, que evitem respostas de sim ou no, e que abram a discusso usando: por qu? o qu? quando? onde?, quem?, e como?, para estimular discusses adicionais.

    Fazer perguntas gerais, seguindo as respostas das pessoas com perguntas adicionais que se aprofundem dentro do tema dos problemas;

    Fazer perguntas clarificadoras: repetindo uma pergunta prvia para verificar que a equipe da ONG tem clareza a respeito do tema em particular; e

    Fazer perguntas sobre pontos de vista pessoal perguntando sobre o que as pessoas sentem mais do que elas sabem.

    Como trabalhar com grupos de pessoas? O diagnstico comunitrio e elaborao de projeto implicam trabalhar com grupos de pessoas. importante que a equipe de diagnstico possa facilitar discusses em grupo. As habilidades de facilitao so uma parte essencial de uma "boa prtica porque ajudam a:

    Aumentar a participao dos membros de um grupo nas discusses;

    Assegurar que os interesses e as diferentes perspectivas comunitrias estejam includos no diagnstico;

    Aumenta a qualidade das discusses comunitrias e possibilita, da melhor maneira, a resoluo dos problemas; e:

    Favorece o consenso e estimula a apropriao da comunidade dos esforos de preveno e assistncia em HIV.

    A facilitao das discusses em grupo implica:

    Constituir uma relao aberta de confiana com o grupo, por exemplo, sentando com todos os membros do grupo em um mesmo nvel e de preferncia em crculo;

    Acordar com o grupo os objetivos das discusses e o tempo disponvel;

    Acordar com o grupo um conjunto de diretrizes ou procedimentos para ajudar que a discusso alcance os objetivos acordados pelo grupo;

    Ajudar o grupo a permanecer atento aos objetivos acordados;

    Permitir a todos os membros do grupo contribuir com a discusso, dispondo a ateno tanto a quem est frente da discusso quanto a quem parece no

  • estar contribuindo (lembre que as pessoas tm diferentes razes para permanecerem quietas, elas podem estar refletindo profundamente sobre a discusso!);

    Fazer um resumo dos principais pontos da discusso e de qualquer deciso estabelecida; e

    Agradecer ao grupo pelas suas contribuies e, se for apropriado, acordar a data de uma futura reunio.

    Como usar ferramentas participativas?

    A equipe de diagnstico pode usar as ferramentas deste manual para aumentar a participao comunitria no processo de diagnstico. Entretanto, a utilizao destas ferramentas participativas pode no ser fcil, por que:

    Os membros de uma comunidade e a equipe de diagnstico podem no estar familiarizados com tcnicas de visualizao e desenhos como so os mapas, e podem sentir-se incomodados para us-las;

    Algumas pessoas podem se sentir inibidas porque no so "boas desenhistas";

    Alguns membros da comunidade podem sentir que tais tcnicas so para crianas" e se mostrarem receosos a us-las; e:

    A equipe de diagnstico pode acreditar que seu papel no diagnstico extrair informaes da comunidade para elaborar um projeto para esta comunidade, em vez de promover um processo participativo de discusso e envolvimento comunitrio na soluo de problemas.

    O uso de ferramentas participativas em uma boa prtica implica:

    Dar instrues claras sobre o uso da ferramenta. Freqentemente, o uso de exemplos ajuda muito;

    Permitir que o grupo faa uso das ferramentas a sua prpria maneira e intervir quando o grupo solicitar;

    Estimular os membros do grupo a compartilhar responsabilidades para a criao de desenhos e diagramas, e que compartilhem os materiais disponveis;

    Lembrar s pessoas que a qualidade do desenho menos importante que a qualidade das discusses, que o desenho estimula;

    Pensar algumas perguntas-chave para ajudar aos membros do grupo a discutir seus mapas e diagramas. Estas perguntas devem ajudar as pessoas a entender o significado dos diagramas e o que dizem estes sobre os problemas e temas que esto em discusso.

    Fazer as ferramentas apropriadas e torn-las ldicas usando materiais locais e estimulando as pessoas a trabalhar da maneira que elas preferirem.

  • Exemplo:

    Em capacitaes do Programa Colaborativo Alianza Mxico sobre diagnstico comunitrio participativo foram identificados alguns procedimentos para facilitao de um processo de diagnstico comunitrio participativo:

    Gerar um ambiente de confiana atravs de dinmicas de "quebra gelo" durante a apresentao dos membros das ONGs e das pessoas da comunidade;

    Pedir s pessoas da comunidade que manifestem suas expectativas e

    compartilhem com elas o propsito do diagnstico;

    Explicar e anotar as instrues de cada ferramenta;

    No interromper as pessoas enquanto esto falando;

    Estimular a participao de todas as pessoas;

    Ser amigvel com as pessoas;

    Dar oportunidade s pessoas que se expressem completamente por si mesmas;

    Escutar ativamente as pessoas enquanto esto falando;

    Estabelecer os prximos passos;

    Estimular e agradecer a pessoas.

  • SS EE OO 22 ::

    PP LLAA NN EE JJAA NN DD OO OO DD IIAA GGNN SSTT IICC OO

    CC OO MMUU NN IITT RR IIOO PPAA RR TT IICC II PPAATT II VVOO

  • Seo 2: Planejando o Diagnstico Comunitrio Participativo 2.1 Introduo 2.2 Com que comunidades devemos trabalhar?

    Quais critrios devem ser usados na seleo de uma comunidade? Como pode ser selecionada uma amostra representativa da comunidade?

    2.3 Quem deve executar o diagnstico? 2.4 O que deve focar o diagnstico?

    Como podem ser estabelecidos os objetivos? Como devem ser identificados os problemas e temas-chave? Exemplo de um marco de trabalho de diagnstico

    2.5 Que mtodos e ferramentas devem ser usados no diagnstico?

    Que mtodos esto disponveis? Como devem ser selecionadas as ferramentas?

    2.6 Como a equipe de diagnstico deve trabalhar com a

    comunidade?

    Acordando regras, tendo acesso e assegurando a representao Mantendo a confiana Trabalhando com grupos especficos da comunidade Estabelecendo um acordo de trabalho

    2.7 Que seqncia deve seguir o diagnstico?

    O que seqenciar? Como deve ser planejada uma seqncia? Exemplo de tabela para marco de trabalho de planejamento de

    diagnstico

    2.8 Como se deve documentar o diagnstico? 2.9 Que desafios podem existir ao se executar um diagnstico?

    Resumo desta seo:

    Esta seo aborda como planejar um diagnstico comunitrio participativo, apresentando os critrios que a equipe de diagnstico ou uma organizao no governamental podem usar para: selecionar uma comunidade, no contexto de um programa de preveno e/ou assistncia ao HIV/AIDS; e para identificar pessoas de uma organizao no governamental e da prpria comunidade, para formarem uma equipe de diagnstico comunitrio participativo. A seo tambm fala de como definir os objetivos, tpicos, temas, questes-chave, ferramentas e mtodos que sero usados no diagnstico, e a maneira como este ser documentado. Finalmente, identifica os desafios que as equipes de diagnstico comunitrio participativo podero encarar no momento de realizar seu trabalho.

  • 2.1 Introduo Esta seo ajuda a uma equipe de diagnstico a planejar seu prprio trabalho de diagnstico comunitrio participativo, focando-se em um conjunto de perguntas que a levar a discutir as vantagens do diagnstico comunitrio participativo e a superar alguns desafios. Ao usar esta seo, importante que uma equipe de diagnstico tenha claro que uma participao comunitria efetiva depende do uso de uma boa prtica. Para reiterar os pontos-chave: O uso do diagnstico comunitrio participativo nos traz inmeros benefcios, tais como:

    Dar a oportunidade aos membros de uma comunidade de compartilhar suas idias sobre a necessidade da preveno e assistncia em HIV/AIDS e as estratgias possveis, conduzindo-os a projetos/programas com objetivos mais relevantes e apropriados e respostas mais efetivas;

    Comprometer as comunidades nos processos e ampliar sua participao nas atividades do programa, conduz ao aprimoramento comunitrio e a uma resposta mais sustentvel;

    Fortalecer a auto-estima e a confiana, entre os membros da comunidade, favorece que possam reduzir sua prpria vulnerabilidade; e

    Desenvolver projetos que impactaro fatores no somente de mbito individual, mas tambm de contexto comunitrio e social e de insumos e servios de sade, contribui para a diminuio da vulnerabilidade da comunidade (ver A Preveno e a Assistncia em HIV/AIDS em Desenvolvendo Boas Prticas).

    Desenvolver Boas Prticas A participao efetiva depende de que a equipe de diagnstico:

    Respeite o fato de que as comunidades enfrentam outros problemas e necessidades alm dos relacionados com o HIV/AIDS, e ser necessrio que abordem estas necessidades com os membros da comunidade;

    Invista recursos para estimular a participao comunitria; e

    Assegure que a ampla gama de pontos de vista, perspectivas e interesses dentro da comunidade esteja representada no trabalho de diagnstico. (ver Como podemos melhorar a participao comunitria? em Desenvolvendo Boas Prticas).

    As pessoas que compem a equipe de diagnstico devem considerar suas prprias atitudes e valores pessoais e a maneira como estes podem afetar o diagnstico e quais atitudes e valores ajudaro neste trabalho. (Observando nossas Atitudes e Valores em Desenvolvendo Boas Prticas). 2.2

  • 2.2 Com que comunidades devemos trabalhar? A deciso sobre com qual comunidade trabalhar em um diagnstico comunitrio participativo pode ser tomada atravs de seleo ou amostra.

    Quais critrios devem ser usados na seleo de uma comunidade? Podem ser usados diferentes critrios na seleo de uma comunidade para diagnstico, como:

    mais vulnervel e afetada pelo HIV/AIDS;

    Desempenha um papel-chave no incremento da disseminao do HIV;

    Tem uma resposta menor ao HIV/AIDS;

    Est mais marginalizada no que diz respeito a servios e instncias de tomada de decises;

    Sofre estigma e discriminao associado ao HIV/AIDS;

    A equipe de avaliao ou a organizao no governamental tem mais experincia e prtica trabalhando com esta comunidade ou este tipo de comunidade;

    A equipe de avaliao ou a organizao no governamental tem, atualmente, potencial acesso comunidade; e

    Mostra-se mais disposta e capaz para participar no diagnstico.

    Se vrios destes critrios so usados para decidir com qual comunidade trabalhar, tambm vlido pensar se os critrios so todos de igual importncia, e se alguns so mais significativos que outros.

    Como pode ser selecionada uma amostra representativa da comunidade?

    A amostra um processo pelo qual um grupo de pessoas de uma comunidade selecionado para represent-la como um todo. Uma amostra exata essencial para alcanar um diagnstico realista. As tcnicas de mapeamento apresentadas neste manual, combinadas com relatrios, estatsticas e outros documentos oficiais, podem ser usadas para averiguar diferentes caractersticas da comunidade. Estas caractersticas podem incluir:

    Idade

    Gnero

    Posio Scio-econmica

    Raa/etnia

    Estado civil

  • Outras importantes caractersticas podem ser mais difceis de identificar, incluindo a orientao sexual, a identidade sexual, as prticas sexuais e o uso de drogas injetveis, sobretudo onde estas caractersticas so ilegais. Outras fontes de informao podem ser requeridas para identificar estas caractersticas mais privadas e ocultas. Estas incluem:

    Pessoas de contato refere-se quelas pessoas que controlam o acesso a certos grupos na comunidade, por exemplo os donos de hotel que possuem trabalhadores(as) de sexo hospedados, os diretores de escolas que controlam o acesso populao estudantil, e

    Principais informantes so aqueles que possuem um conhecimento

    particular de certos grupos comunitrios, como so os farmacuticos locais que podem saber de usurios de drogas.

    2.3

  • 2.3 Quem deve executar o diagnstico? A equipe de diagnstico pode estar formada por membros da organizao no governamental e por membros da comunidade. A composio desta equipe influenciar na qualidade do diagnstico comunitrio participativo. Geralmente, os membros da comunidade sentem-se mais vontade falando com pessoas que so como eles. Ento, quando uma organizao no governamental vai realizar um diagnstico comunitrio participativo, na medida do possvel, recomendvel selecionar membros da organizao no governamental que tenham caractersticas semelhantes s da comunidade com a qual ir trabalhar, por exemplo, de gnero, de idade, de classe e posio scio-econmica, de etnia, de identidade sexual (onde esta seja reconhecida). Recomenda-se que membros da prpria comunidade tomem parte da equipe de diagnstico. Grupos marginalizados dentro da comunidade, por exemplo, alguns trabalhadores(as) sexuais, usurios de drogas intravenosas, homens que fazem sexo com outros homens, comunidades tnicas minoritrias, que so freqentemente cautelosos em contatos com organizaes de fora, podem ser mais receosos de participar. Vrios temas podem surgir ao planejar o envolvimento de membros da comunidade na equipe de diagnstico:

    Identificar membros da comunidade que sejam representantes desta;

    Identificar membros da comunidade com capacidades e recursos para participar da equipe de diagnstico;

    Disponibilidade de membros da comunidade e da equipe de diagnstico para trabalharem juntos sobre uma base de igualdade, com papis e responsabilidades acordados mutuamente; e

    Discutir como temas de confidencialidade so afetados pela participao de membros da comunidade.

    O envolvimento significativo de membros da comunidade na equipe de diagnstico depende de:

    Uma seleo cuidadosa dos membros da equipe de DCP para identificar as pessoas com a adequada combinao de capacidades, personalidade e credibilidade dentro da comunidade;

    Uma adequada capacitao que leve em conta diferenas reais e percebidas em relao capacidade, confiana em si mesmo e posio social entre a equipe de diagnstico e membros da comunidade; e

    Acordos de trabalho claros que ajudem a assegurar uma participao ativa e eqitativa de todos os membros da equipe.

    Em geral, a equipe em sua totalidade necessita representar uma variedade de pessoas com diferentes atributos (por exemplo, com um equilbrio entre nmero de homens e de mulheres e de faixas etrias), pois se supe que haver ao menos trs membros trabalhando juntos em um dado momento. 2.4

  • 2.4 O que deve focar o diagnstico? Na experincia da Alliance, o diagnstico comunitrio participativo foi criado para apoiar os projetos de preveno do HIV, atendendo de maneira particular transmisso sexual, mas servindo, tambm, para focalizar problemas de assistncia em HIV/AIDS e, de maneira mais geral, em temas de sade sexual. Exemplo: o acesso a preservativos, a mtodos anticonceptivos, adeso ao tratamento etc. Como o diagnstico comunitrio participativo pode focalizar uma grande variedade de temas comunitrios, os membros da equipe de diagnstico devem considerar que uma viso ampliada sobre temas gerais da comunidade pode levar ao risco de gerar dentro da comunidade expectativas de que estes temas sero abordados no processo de desenvolvimento de projetos. Isto pode se tornar extremamente difcil de lidar para os membros da equipe de diagnstico. Um projeto de preveno e/ou assistncia em HIV/AIDS no pode, ao mesmo tempo, responder a questes mais gerais da comunidade. importante ser muito claro sobre isto no momento de estabelecer os objetivos no incio do diagnstico.

    Como podem ser estabelecidos os objetivos? A definio de objetivos para o diagnstico facilita o estabelecimento do seu foco. O diagnstico comunitrio participativo apoiado pela Alliance, usualmente, tem trabalhado com trs objetivos gerais:

    Identificar problemas e necessidades na comunidade relacionadas ao HIV/AIDS com o propsito de desenhar um projeto de preveno e ou assistncia do HIV/AIDS;

    Mobilizar o compromisso comunitrio para responder a estes problemas e necessidades; e

    Reunir informao de base que possa ser usada para avaliar o progresso do projeto;

    Existem inmeros fatores importantes a se considerar no momento de definir os objetivos do diagnstico:

    O nvel de informao existente sobre os tpicos dentro do marco de trabalho de diagnstico;

    A misso, experincia e interesses das pessoas e/ou organizaes no governamentais que formam a equipe de diagnstico;

    Qualquer restrio imposta pelos financiadores/apoiadores acerca do tipo de diagnstico que eles aspiram; e

    Qualquer poltica ou sensibilidade/suscetibilidade da comunidade acerca de temas especficos sobre os quais o diagnstico pode enfocar.

    A partir destes fatores, recomendvel estabelecer os objetivos para o diagnstico, em consenso com a comunidade, seus polticos e lderes comunitrios e tambm outros atores chave.

    o

  • Co mo d ev e t r ab al h ar co m a co mu ni d ad e?

    Como devem ser identificados os problemas e temas-chave? Assim como o marco de trabalho de preveno o deixa claro (ver A Preveno e a Assistncia em HIV/AIDS em Desenvolvendo Boas Prticas), um projeto de preveno e/ou assistncia em HIV/AIDS necessita focar os fatores que, em nvel comunitrio, afetam a sade sexual, para mudar as condutas de risco e, em geral, a vulnerabilidade infeco pelo HIV. O marco do trabalho para a preveno pode ser adaptado para se criar um marco de trabalho para o diagnstico, para decidir os temas e questes sobre os quais se focar o diagnstico.

    Exemplo de um marco de trabalho de diagnstico

    Contexto social e comunitrio

    Temas Exemplos de temas e questes

    Estado da sade Predominncia do HIV, variedade de outras infeces de transmisso sexual, outros indicadores de sade, outras preocupaes e indicadores de sade em geral.

    Normas, valores morais e tradies Respeito s relaes de gnero, sexo e sexualidade, matrimnio e famlias, crenas religiosas, respeito virgindade e o uso de preservativos, circunciso masculina e feminina (clitoridectomia), educao dos meninos(as) etc.

    Situao scio-econmica Situao de pobreza e desigualdade econmica, padres de renda e consumo, padres de emprego e desemprego, padres de migrao e mobilidade, problemas de refugiados, habitao e indigncia, natureza da economia do trabalho sexual.

    Relaes sociais Nveis e tipos de violncia e conflito, nveis de violao e outras formas de violncia sexual, padres de presso entre parceiros para as condutas inseguras (prticas sexuais desprotegidas), nveis de discriminao e conflito tnico e racial, nveis de homofobia, nveis de estigma e discriminao associados s pessoas que vivem com HIV/AIDS.

    Leis, polticas e direitos humanos Vnculos entre legalidade, situao poltica e vulnerabilidade, estigma e discriminao, nveis de abuso aos direitos humanos, capacidade das comunidades de influenciar nas leis e polticas para enfrentar abusos aos direitos humanos.

    Lideranas poltico/comunitrias Tipos de liderana, formal e informal, liderana no interior das comunidades, relaes entre lderes etc.

  • Insumos e servios de sade sexual

    Temas Exemplos de temas e questes

    Demanda Existe uma demanda por servios de sade? Que servios necessitam? Varia a demanda por diferentes servios?

    Disponibilidade Que servios esto disponveis? Existem, por exemplo, curandeiros tradicionais, medicina fitoterpica, Igrejas, Mesquitas, promoo e distribuio de preservativos, tratamento e referncia para infeces de transmisso sexual, aconselhamento e testagem voluntria para HIV/AIDS, servios de sade reprodutiva, assistncia e cuidado do HIV/AIDS, servios de aborto, apoio e aconselhamento em casos de estupro, aconselhamento para alcolicos e usurios de drogas, servios de apoio psicolgico e social.

    Acessibilidade Como o acesso a estes servios e quem o tem? Que limites tem esta acessibilidade, por exemplo, custos, localizao, conhecimento da existncia deste servio, atitudes da equipe de ateno? Quais servios so mais e menos usados e por quem? Por qu?

    Qualidade Como definida a "qualidade"? Quem a define? Quo so bons estes servios? Como pode ser melhorada a qualidade?

    Individual

    Temas Exemplos de temas e questes

    Opes e prticas Padres de conduta sexual, incidncia de prticas de risco, nveis de uso dos preservativos, padres de alcoolismo e uso de outras drogas.

    Conhecimentos Nveis de conhecimento e informao sobre HIV/AIDS, outras infeces de transmisso sexual, uso correto de preservativos e sade sexual em geral.

    Atitudes Sobre o prprio risco ao HIV/AIDS, nveis de auto estima, frente s pessoas que vivem com HIV/AIDS, preconceito das prprias pessoas que vivem com HIV/AIDS.

    Habilidades No uso de preservativos, na negociao do uso de preservativos, assertividade ao falar com o (a / s) parceiro (a/ s) sexual (is).

    Histrias Que histrias de abusos sexuais e outros traumas as pessoas tm? De que maneira estas histrias afetam a conduta atual e a vulnerabilidade? Tem sido estigmatizada e/ou discriminada esta pessoa?

  • 2.5 Que mtodos e ferramentas devem ser usados no diagnstico?

    Que mtodos esto disponveis?

    O diagnstico comunitrio participativo pode usar uma variedade de mtodos, incluindo: 1. Grupos de discusso usando ferramentas participativas; 2. Consultar documentaes oficiais, estatsticas e estudos cientficos; 3. Pesquisas, por exemplo, de Conhecimento, Atitudes e Prticas; 4. Entrevistas individuais com membros da comunidade e pessoas que conhecem

    bem a comunidade; e 5. Grupos de discusso usando uma lista preparada de perguntas estratgicas

    (focadas na discusso em grupo). Este manual no tem a inteno de descrever o uso dos mtodos listados de 2 a 5, pois existem muitos materiais disponveis sobre eles. Este manual focaliza uso de ferramentas participativas, porque a Alliance tem aprendido que os grupos de discusso que usam as ferramentas participativas so especialmente valiosos para melhorar a participao comunitria nos processos de diagnstico.

    Como devem ser selecionadas as ferramentas? Existe uma variedade de ferramentas e decidir quais devem ser usadas depende dos temas e questes a que o diagnstico se dedicar. As ferramentas so descritas com detalhe neste manual, mas seus diferentes tipos e funes so resumidos abaixo: Tipo Exemplo Funo

    Mapeamento Mapas de comunidades, mapas de corpos, mapas de servios e insumos de sade.

    Para visualizar as relaes entre as pessoas e os lugares, ou entre as partes de um todo.

    Para conhecer os processos

    Grfico de tendncias, Linha de vida, agenda mensal, semanal ou diria (um dia na vida de...).

    Para verificar a maneira pela qual as pessoas, os lugares, os eventos, os problemas etc. se modificam atravs do tempo.

    Para analisar os processos

    Fluxo de causa/efeito "teia de aranha"

    Para conhecer as relaes de causa e efeito.

    Para comparar e priorizar

    Tabela de comparao, ranking classificao de preferncias, diagramas de Venn.

    Para observar como se tomam decises, para comparar significados, para priorizar problemas e aes, para eleger mtodos de preveno e assistncia.

    Ao aplicar os jogos de ferramentas com grupos comunitrios, necessrio saber que melhor:

    Usar ferramentas descritivas com grupos maiores e mesclados. Usar ferramentas analticas com grupos pequenos de caractersticas similares.

    46

  • 2.6 Como a equipe de diagnstico deve trabalhar com a comunidade?

    Acordando regras, tendo acesso e assegurando a representao

    Usualmente, o processo de diagnstico se inicia com reunies entre a equipe de diagnstico e membros da comunidade, lderes comunitrios e outros atores-chave para:

    Explicar os antecedentes e as razes do diagnstico; Discutir a participao comunitria neste diagnstico (quem?, o que?, aonde?,

    quando?) e qualquer incentivo requerido para sua participao; Acordar uma lista de objetivos para o diagnstico; e Acordar um processo ou mecanismo para regular as consultas entre a equipe

    de diagnstico e a comunidade. Tambm importante para a equipe de diagnstico se encontrar com grupos da comunidade que so freqentemente marginalizados por diversas razes, como por exemplo, por causa da pobreza, do gnero, da religio, das diferentes identidades sexuais, de raa. Trabalhando com comunidades afetadas pelo HIV/AIDS importante se encontrar com grupos que sofrem estigmas e discriminao associados ao HIV/AIDS e isto inclui tanto as pessoas que vivem com HIV/AIDS como a seus familiares, parceiros e amigos. Onde os grupos so difceis de alcanar e/ou esto fragilmente organizados, por exemplo, de usurios de drogas ilegais, possvel que no se possa realizar este tipo de encontro. Porm, podem-se contatar lderes comunitrios informais, que contem com o respeito dos seus pares.

    Mantendo a confiana Para manter a confiana da comunidade necessrio: manter contatos abertos, freqentes e honestos com membros da comunidade; desenvolver relaes fortes; e usar as habilidades de escuta ativa e questionamento estratgico. Tambm implicar na facilitao efetiva de discusses em grupos em que os membros da comunidade recebam um tratamento igualitrio. de extrema importncia a confidencialidade do manejo das informaes.

    Trabalhando com grupos especficos da comunidade A maioria dos diagnsticos ser feita com a comunidade. Tais grupos de discusso sero mais participativos se seus participantes compartilharem caractersticas semelhantes (especialmente em termos de gnero, mas tambm por: identidade sexual, idade, posio scio-econmica, estado civil e etnia). A organizao de grupos de acordo com tais caractersticas no ser fcil. Pode haver restries culturais, por exemplo, pode ser difcil o encontro de mulheres que vivem sozinhas com pessoas estrangeiras, ou de jovens com pessoas adultas estranhas comunidade. Neste ltimo caso, recomendvel trabalhar com atores-chave que

  • expliquem a necessidade de realizar um diagnstico e, desta forma, obtenham a permisso para faz-lo. A necessidade de contar com grupos de caractersticas semelhantes ou misturadas tambm poder variar. Para explorar os temas mais sensveis e delicados, o mais importante ser trabalhar com grupos de caractersticas semelhantes. Entretanto, no princpio e no final do diagnstico, pode ser til trabalhar com grupos mistos, pois quando tem a possibilidade da comunidade reunir-se para definir problemas, compartilhar idias e buscar em conjunto a soluo dos problemas.

    Estabelecendo um acordo de trabalho (ver Participao Comunitria em Desenvolvendo Boas Prticas)

    Decidir onde e quando encontrar-se com os grupos tambm uma questo-chave no planejamento. A equipe de diagnstico dever trabalhar nas datas e lugares que convm aos membros da comunidade. Os grupos de discusso sero mais fceis se acontecerem em um lugar tranqilo, onde as interrupes sejam mnimas. Possivelmente, sero necessrios espaos especiais para possibilitar a participao de alguns membros da comunidade, por exemplo, lugares para recreao para as mulheres com filhos.

  • 2.7 Que seqncia deve seguir o diagnstico?

    O que seqenciar?

    Seqenciar planejar cuidadosamente quando e em que ordem ser realizada cada uma das atividades de um diagnstico. Isto ajuda a:

    Desenvolver uma relao de confiana e credibilidade com a populao que se trabalhar;

    Propiciar as anlises da informao produzida pelo diagnstico; e Possibilitar a comparao da informao obtida no diagnstico. Um plano de diagnstico ou seqncia deve ser tambm flexvel e responder

    s condies da comunidade. A equipe de diagnstico deve estar preparada para mudar a seqncia dos temas, questes e ferramentas, se as circunstncias assim pedirem.

    Como deve ser planejada uma seqncia?

    Antes de decidir a seqncia em que as ferramentas devero ser usadas, de utilidade elaborar marco de trabalho de planejamento do diagnstico (ver a seguir a tabela a ser preenchida em grupo). Com freqncia uma mesma ferramenta pode ser usada para discutir diversos temas e questes. Tendo a lista de ferramentas (e outros mtodos) e havendo identificado as pessoas a quem elas se aplicam, as seguintes diretrizes podem ser usadas para planificar a seqncia:

    As seqncias dos tpicos do diagnstico, usualmente devem ir: dos tpicos menos suscetveis (mobilizadores, delicados) aos mais

    suscetveis; dos problemas comunitrios gerais aos problemas especficos de sade

    sexual e HIV.

    Ao seqenciar as ferramentas participativas, geralmente melhor iniciar com ferramentas mais descritivas, por exemplo, o mapa da comunidade, grfico de tendncias etc., para depois usar as ferramentas mais analticas, como a "teia de aranha", historieta etc.

    Ao seqenciar outros mtodos, geralmente, melhor comear o diagnstico

    revisando a documentao existente, como as estatsticas e pesquisas acadmicas, com o propsito de identificar temas-chave e lacunas de informao. As entrevistas individuais com informantes-chave tambm so teis no incio do diagnstico, com o propsito de adquirir um melhor conhecimento sobre a comunidade. As entrevistas individuais com os membros da comunidade so muito teis depois das discusses em grupo, quando considerarmos que um tema em particular pode/deve ser explorado em maior profundidade.

    A equipe de diagnstico tambm deve decidir sobre o nmero de discusses de grupo e de entrevistas individuais que realizaro durante o diagnstico. Este nmero deve ser suficiente para assegurar uma amostra representativa da comunidade.

  • Exemplo de tabela para marco de trabalho de planejamento de diagnstico

    Nvel comunitrio

    Tpicos Quais so os

    temas e

    questes-chave?

    Quais so as

    ferramentas e

    outros mtodos?

    Com quem?

    Condio de sade

    Normas sociais, valores morais e tradies.

    Situao scio-econmica

    Relaes sociais

    Leis, polticas, direitos humanos

    Nvel de servios

    Tpicos Quais so os

    temas e

    questes-chave?

    Quais so as

    ferramentas e

    outros mtodos?

    Com quem?

    Disponibilidade Acessibilidade Qualidade

    Nvel individual

    Tpicos Quais so os

    temas e

    questes-chave?

    Quais so as

    ferramentas e

    outros mtodos?

    Com quem?

    Opes e prticas

    Conhecimento

    Atitudes

    Habilidades

  • 2.8 Como se deve documentar o diagnstico? A utilidade do diagnstico comunitrio participativo para o processo de elaborao de projetos depender em grande parte de que este seja bem documentado. Aqui, apresentamos sugestes de documentos importantes. No final de cada uma das sees de diagnstico deste manual, aparece uma folha de resumo do diagnstico comunitrio participativo que poder ser til para fazer uma compilao ou resumo dos achados (observaes) feitos durante o diagnstico.

    recomendvel considerar os seguintes documentos:

    Acordo de trabalho (ver Participao Comunitria em Desenvolvendo Boas Prticas):

    O acordo de trabalho feito entre a comunidade e a equipe de diagnstico deve incluir uma parte a respeito da propriedade dos mapas (desenhos), diagramas e outros materiais produzidos durante o diagnstico. O acordo de trabalho tambm deve discutir a forma pela qual a equipe de diagnstico compartilhar com a comunidade as observaes e solues apontadas no diagnstico.

    Notas das discusses de grupo: Dentro da equipe de trabalho de diagnstico deve se definir o papel do relator. Todas as discusses de grupo devem ter um relator (alm de um facilitador), cujo trabalho tomar nota dos pontos principais abordados pelo grupo. A preciso destas notas deve ser verificada com o grupo no final da discusso e com o facilitador, uma vez concluda a reunio com o grupo.

    Desenhos e diagramas: Cpias dos desenhos e diagramas produzidos durante o diagnstico servem como um dos principais documentos do diagnstico. Quando for possvel, os desenhos, mapas e diagramas devem permanecer com a comunidade e a equipe de diagnstico deve fazer cpias de tudo que for produzido. Quando os desenhos e diagramas no tiverem um significado claro, devem-se fazer, no momento de sua criao, notas adicionais que os expliquem melhor.

    Notas dos encontros de retroalimentao: recomendvel realizar encontros regulares de retroalimentao, nos quais a equipe de diagnstico pode discutir e documentar seus achados com membros da comunidade e obter uma retroalimentao por parte deles.

    Um dirio de campo: recomendvel que a equipe de diagnstico mantenha um registro dirio de todas as notas e suas discusses de grupo e entrevistas individuais. A equipe deve planejar reunies peridicas para ler e compartilhar seus dirios de campo. Nestas reunies, pode-se fazer uma comparao da informao com outras fontes, como as estatsticas oficiais ou outras pesquisas. A equipe pode comear a classificar a informao de acordo com os tipos de problemas e necessidades. O marco de trabalho do diagnstico pode ser usado para classificar a informao do diagnstico dentro de diferentes categorias de problemas e necessidades. As sugestes da comunidade sobre as estratgias para se trabalhar os problemas tambm devem ser discutidas e documentadas nestas reunies, para serem usadas mais tarde no processo de elaborao de projetos. Estas reunies peridicas devem, tambm, ser usadas para discutir formas de melhorar o processo de diagnstico.

    Documentao final da consulta comunitria: Algumas formas de consulta comunitria devem ser planejadas para o final do perodo de diagnstico, de tal maneira que o total de achados do diagnstico possa ser discutido e documentado antes de se iniciar a anlise mais detalhada do que fazer na primeira fase do processo de elaborao de projetos.

  • 2.9 Que desafios podem existir ao se executar um diagnstico? O planejamento de um diagnstico comunitrio participativo deve, tambm, incluir uma reflexo sobre as dificuldades potenciais da execuo do diagnstico e a maneira como estas dificuldades podem ser superadas. Recomendaes para uma discusso detalhada das barreiras de uma participao comunitria ativa podem ser encontradas em Participao Comunitria em Desenvolvendo Boas Prticas. Tambm pode ser til considerar os seguintes temas no momento de planejar um DCP: Acesso comunidade: O acesso pode ser difcil por vrias razes, desde a geografia, o clima, a situao poltica, a situao legal at a ausncia de permisso dos lderes comunitrios. As pessoas que formam a equipe de diagnstico necessitam identificar quais poderiam ser os problemas de acesso, com o propsito de definir para se preveni-los. (ver Participao Comunitria em Desenvolvendo Boas Prticas).

    Desconfiana e receio da comunidade: Os membros de uma comunidade podem ficar, naturalmente, receosos diante de organizaes de fora que oferecem ajuda, devido ao no cumprimento de promessas no passado. importante construir relaes de confiana e credibilidade com a comunidade, atravs de comunicao honesta, tomada de decises clara e responsvel, compartilhamento de informaes, seguimento aos compromissos firmados e clareza do que a equipe de diagnstico pode fazer e o que no est ao seu alcance. (ver Participao Comunitria em Desenvolvendo Boas Prticas).

    Desigualdades dentro das comunidades: Geralmente as comunidades no so homogneas. As diferenas de poder podem dificultar o trabalho com os indivduos mais marginalizados, estigmatizados e/ou discriminados na comu