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V Encontro Nacional da ANPPAS 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil ______________________________________________________ A Transformação dos Ambientes Natural e Rural com a Industrialização do Médio Paraíba Fluminense-RJ Júlio Cláudio da Gama Bentes (Universidade de São Paulo) Arquiteto e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Especialista em Gestão Ambiental, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da USP, Associado ao Laboratório de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação (LAP/FAU-USP) [email protected] Resumo O presente artigo é o desdobramento da pesquisa realizada para a dissertação de mestrado intitulada “Análise Ambiental-Urbana da Conurbação Volta Redonda-Barra Mansa, no Sul Fluminense – RJ”, apresentada em 2008. O objeto de análise deste trabalho é a Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, que vem atravessando, ao longo dos anos, diversos ciclos econômicos: o ciclo pioneiro com a cultura da cana-de-açúcar; o ciclo do café, durante o século XIX; a pecuária leiteira, que iniciou-se após o declínio do ciclo anterior – no final do século XIX, e que continua ativo; e o ciclo industrial, iniciado durante a década de 1930 e que prossegue pujante. Foram estudados o desenvolvimento da região a partir desses ciclos, a atração de mão-de-obra e urbanização, assim como os impactos ambientais. Ao analisar os impactos ambientais e urbanos percebeu-se que, em muitos aspectos, esses impactos ultrapassam os limites político-administrativos dos municípios. Na pesquisa foi possível notar as transformações nos ambientes, natural e rural, decorrentes dos ciclos econômicos, em especial o industrial. A partir dessas observações formulou-se a seguinte hipótese, alvo de análise deste artigo: ao contrário dos ciclos econômicos anteriores – canavieiro, cafeeiro e da pecuária leiteira, que devastaram áreas verdes e desgastaram o solo; o ciclo industrial – que estimulou a rápida urbanização com grande concentração nas cidades, de pessoas que abandonaram o campo – não provocou maior devastação da Mata Atlântica na região, mas ao contrário, em longo prazo permitiu que parte Mata Atlântica fosse regenerada com vegetação secundária, a partir de processos naturais. Palavras-chave Ciclos Econômicos, Industrialização, Regeneração da Mata Atlântica, Médio Paraíba Fluminense.

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V Encontro Nacional da ANPPAS 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil ______________________________________________________

A Transformação dos Ambientes Natural e Rural com a Industrialização do Médio Paraíba Fluminense-RJ

Júlio Cláudio da Gama Bentes (Universidade de São Paulo)

Arquiteto e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Especialista em Gestão Ambiental, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da USP, Associado ao

Laboratório de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação (LAP/FAU-USP) [email protected]

Resumo O presente artigo é o desdobramento da pesquisa realizada para a dissertação de mestrado intitulada “Análise Ambiental-Urbana da Conurbação Volta Redonda-Barra Mansa, no Sul Fluminense – RJ”, apresentada em 2008. O objeto de análise deste trabalho é a Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, que vem atravessando, ao longo dos anos, diversos ciclos econômicos: o ciclo pioneiro com a cultura da cana-de-açúcar; o ciclo do café, durante o século XIX; a pecuária leiteira, que iniciou-se após o declínio do ciclo anterior – no final do século XIX, e que continua ativo; e o ciclo industrial, iniciado durante a década de 1930 e que prossegue pujante. Foram estudados o desenvolvimento da região a partir desses ciclos, a atração de mão-de-obra e urbanização, assim como os impactos ambientais. Ao analisar os impactos ambientais e urbanos percebeu-se que, em muitos aspectos, esses impactos ultrapassam os limites político-administrativos dos municípios. Na pesquisa foi possível notar as transformações nos ambientes, natural e rural, decorrentes dos ciclos econômicos, em especial o industrial. A partir dessas observações formulou-se a seguinte hipótese, alvo de análise deste artigo: ao contrário dos ciclos econômicos anteriores – canavieiro, cafeeiro e da pecuária leiteira, que devastaram áreas verdes e desgastaram o solo; o ciclo industrial – que estimulou a rápida urbanização com grande concentração nas cidades, de pessoas que abandonaram o campo – não provocou maior devastação da Mata Atlântica na região, mas ao contrário, em longo prazo permitiu que parte Mata Atlântica fosse regenerada com vegetação secundária, a partir de processos naturais. Palavras-chave

Ciclos Econômicos, Industrialização, Regeneração da Mata Atlântica, Médio Paraíba Fluminense.

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A Transformação dos Ambientes Natural e Rural com a Industrialização do Médio Paraíba Fluminense-RJ

Introdução

O presente trabalho é um dos desdobramentos da pesquisa realizada para a dissertação de

mestrado intitulada “Análise Ambiental-Urbana da Conurbação Volta Redonda-Barra Mansa, no

Sul Fluminense – RJ” (BENTES,2008). Essa dissertação teve como objetivo a abordagem

conjunta dos temas ambientais e urbanos, utilizando-se como referência o estudo das duas

cidades, que se situam na Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense, no Estado do Rio

de Janeiro, objeto de análise deste trabalho.

Essa região está inserida no terço médio da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul –

conformada ao norte pela Serra da Mantiqueira e ao sul pela Serra do Mar, divisores de águas da

bacia, no domínio do bioma da Mata Atlântica. A região situa-se à noroeste da capital do estado,

possuindo localização estratégica, encontrando-se interna ao triângulo cujos vértices são as mais

importantes capitais do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, grandes centros

consumidores e acumuladores de capital. Essa região é composta pelos municípios de Barra do

Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores,

Valença e Volta Redonda1.

Ao analisar os impactos ambientais e urbanos nos municípios de Barra Mansa e Volta Redonda,

objetos de estudo da referida dissertação, observou-se que, em muitos aspectos, esses impactos

ultrapassam os limites político-administrativos dos dois municípios. O meio ambiente e as

relações de causa e efeito sofridas por ele, em sua maioria excedem os territórios municipais,

sendo necessário ampliar a escala de análise para a região e a bacia hidrográfica (BENTES,

2008).

Inicialmente são apresentados os ciclos econômicos que se sucedem na região, os três primeiros

com atividades essencialmente rurais – cultura de cana-de-açúcar, café e pecuária leiteira – e

posteriormente o ciclo industrial. São observados o desenvolvimento da região a partir desses

ciclos, a atração de mão-de-obra e urbanização, assim como os impactos ambientais. Nessa

análise foi possível observar as transformações nos ambientes, natural e rural, decorrentes dos

ciclos econômicos, em especial o industrial, formulando a hipótese alvo de análise do presente

artigo.

A partir dos indícios e dados levantados para a pesquisa formulou-se a seguinte hipótese: ao

contrário dos ciclos econômicos anteriores – canavieiro, cafeeiro e da pecuária leiteira, que

                                                                                                               1 Há uma diferença de delimitação entre a Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense e a Microrregião do Vale do Paraíba Fluminense, pois não fazem parte dessa última os municípios de Barra do Piraí, Rio das Flores e Valença. A utilização da delimitação por região de governo permite uma melhor tabulação dos dados oficiais do Estado do Rio de Janeiro, estatísticos e demográficos, assim como a comparação com as demais regiões do estado.

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devastaram áreas verdes e desgastaram o solo; o ciclo industrial – que estimulou a rápida

urbanização e grande concentração nas cidades (de pessoas que abandonaram o campo) – não

provocou maior devastação da Mata Atlântica na região, mas ao contrário, em longo prazo

permitiu que parte da floresta fosse regenerada com vegetação secundária, a partir de processos

naturais2.

Como procedimento metodológico para verificação dessa hipótese, foram realizadas pesquisas

referentes à evolução da população e a urbanização, as mudanças do ambiente rural e as

alterações no uso do solo e na cobertura vegetal da região em estudo. Para isso, diversas fontes

foram consultadas: Censos Demográficos e Censos Agrários do IBGE, com dados entre os anos

de 1920 a 2006 (IBGE, 1966, 1974a, 1975b, 1979, 1983, 2006, 2008a; CIDE, 2004); Anuários

Estatísticos do Estado do Rio de Janeiro, que apresentam dados relativos à população, seu

crescimento e urbanização, como também às atividades produtivas, rurais e urbanas (FAPERJ,

1981; CIDE, 1992, 2001, 2009); o estudo Índice de Qualidade do Municípios – IQM Verde II, com

mapas elaborados pela Fundação CIDE3 do Estado do Rio de Janeiro, que utilizou como fonte

imagens aéreas e de satélite, com dados referentes à dois períodos – o primeiro entre os anos de

1956 e 1975, e o segundo no ano de 2001 (CIDE, 2003). Com base nas informações gráficas

contidas nesses mapas, buscou-se as tabelas com os dados quantificados, correspondentes ao

uso do solo e a cobertura vegetal da região, comparando os períodos. Foram ainda buscadas

informações complementares nos estudos para o Plano de Bacia do Rio Paraíba do Sul

(AGEVAP, 2006a, 2006b; SEMA-RJ,1999).

Mapa 1: Estado do Rio de Janeiro e Regiões de Governo. VI – Região de Governo do Médio Paraíba.

Mapa fora de escala. Fonte: Fundação CIDE, 2004.

                                                                                                               2 A vegetação secundária (em regeneração) ocorre quando a vegetação original (primária) foi parcialmente ou totalmente removida por ação antrópica. Já a regeneração natural ocorre com as sementes sendo levadas pelo vento e pássaros, sem haver interferência do homem. 3 Em 31/03/2009, a Fundação CIDE foi incorporada à FESP, que passou a se denominar Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro – CEPERJ.

  3

Caracterização do Médio Paraíba Fluminense

O Vale da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, como mencionado anteriormente, é

conformado ao norte pela Serra da Mantiqueira e ao sul pela Serra do Mar, divisores de águas da

bacia. Esse vale está inserido no Bioma da Mata Atlântica4, que possuía originalmente uma densa

cobertura vegetal de floresta tropical latifoliada5 em quase toda a sua extensão.

Hoje, porém, a sua cobertura vegetal predominante é a de pastagens pobres, cobertas em maior

escala pela variedade de capim “gordura” (COSTA, 2004). Há pouquíssimas exceções em áreas

cuja topografia acidentada impediu a ocupação humana e a agropecuária, com fragmentos

florestais desconectados uns dos outros.

A topografia no Médio Paraíba fluminense se caracteriza por um vale de planalto, com relevo

onde predomina o “mar de morros”, colinas baixas e achatadas no topo em forma de “meia-

laranja” emborcadas (mamelões), com altitudes variando entre 50 e 200 metros e declividades de

25 a 50 %. Ao longo do rio Paraíba surgem áreas de baixada aluvial, que anteriormente o rio

ocupava nos períodos de cheia, havendo o depósito de nutrientes, sendo esses solos aluviais

muito férteis e favoráveis à agricultura (SEMA-RJ, 1999). Essas características topográficas foram

decisivas na história dos municípios, com a ocupação ocorrendo inicialmente nas baixadas.

Porém, devido ao acelerado processo de urbanização, motivado pela industrialização, ocupou-se

também os morros.

Essa região é cortada pelas rodovia Presidente Dutra (BR-116) e a ferrovia Central do Brasil, vias

de transporte que ligam as duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo. A rodovia

Lúcio Meira, mais conhecida como BR-393, e que recentemente foi privatizada, inicia-se entre

Volta Redonda e Barra Mansa, prolongando-se até Salvador (BA), na conhecida rodovia Rio-

Bahia. A BR-393 alcança ainda o município de Três Rios (RJ) na divisa com o Estado de Minas

Gerais, onde se encontra com a BR-040, rodovia que se prolonga até Brasília atravessando a

capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. As ferrovias que passam por Barra Mansa, onde há um

terminal intermodal, se ligam aos portos do Rio de Janeiro, de Itaguaí (Sepetiba), Guaíba e Angra

dos Reis, todos no litoral Fluminense.

Os Ciclos Econômicos – Transformação do Ambiente Natural, Desenvolvimento e Impactos Ambientais na Região

O Médio Paraíba fluminense vem atravessando diversos ciclos econômicos: o ciclo pioneiro com a

cultura da cana-de-açúcar; o ciclo do café, durante o século XIX; a pecuária leiteira, que iniciou-se

após a decadência do ciclo anterior, no final do século XIX e que continua ativo, com a região                                                                                                                4 Mata muito densa e com alta diversidade, com características morfoclimáticas próprias, formando um bioma. Originalmente localizada no litoral do Brasil, nas encostas orientais e atlânticas da Serra do Mar, indo dos estados do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, com um milhão km2 e ocupando 12 % do território brasileiro. Devido ao desmatamento e ocupação desordenada, atualmente ocupa apenas 25 mil km2, cerca de 0,3 % do território nacional. Fonte: FORNARI, Ernani. Dicionário Prático de Ecologia. São Paulo: Aquariana, 2001, p. 157. 5 Com folhas largas.

  4

sendo a segunda maior produtora do estado (CIDE, 2009); e o ciclo industrial, iniciado durante a

década de 1930 e que prossegue pujante, mas com modificações em relação a sua instauração

na região. Há ainda outro ciclo, contemporâneo, vinculado ao processo de globalização e às

novas formas de desenvolvimento econômico e urbano, como também à informatização e à

comunicação (BENTES, 2008).

A exploração da região se inicia no século XVIII e início do XIX, com a concessão de sesmarias e

o início do cultivo de cana-de-açúcar, com quatro engenhos que produziam açúcar, rapadura e

aguardente, sendo a atividade econômica pioneira e que foi responsável pelo desbravamento da

região. Esse tipo de produção exigia uma grande quantidade de mão-de-obra escrava e utilizava

muita lenha, primeira forma de desmatamento na região, que antes era um sertão inexplorado. Os

produtos eram transportados no lombo de animais em caminhos tortuosos, então recém abertos,

que levavam ao porto da Ilha Grande (Angra dos Reis) e posteriormente enviados por via

marítima para a cidade do Rio de Janeiro (COSTA, 2004).

O ciclo do café teve início ainda na primeira metade do século XIX, se espalhando e

desenvolvendo extraordinariamente a região. Foram abertos novos caminhos ligando o interior ao

litoral para o escoamento da produção e núcleos urbanos surgiram a partir dos entroncamentos e

entrepostos comerciais. O café imprime um ritmo acelerado ao processo de urbanização, em

conjunto com o crescimento da importância do Vale do Paraíba fluminense no cenário nacional.

Porém, para o ambiente e a paisagem os impactos foram devastadores, sendo percebidos até

hoje. Houve o aumento do desmatamento da mata nativa, a Floresta Atlântica6, pois enquanto a

cultura da cana-de-açúcar utilizava as áreas de várzea, preservando os morros, a plantação de

café também ocupava o relevo, ocasionando os diversos malefícios da monocultura: falta de

diversidade da flora e fauna; cansaço e empobrecimento do solo, com a salinização devido à

irrigação; e a modificação do clima pela supressão da vegetação nativa. Isto acarretou processos

de erosão, levando a uma maior sedimentação nos rios, transformando o rio Paraíba, que

anteriormente era navegável em diversos trechos, em um rio pouco profundo e com bancos de

areia, ao mesmo tempo em que foram erodindo suas margens (BENTES, 2008).

Os impactos ambientais7 causados pelos núcleos urbanos nesse ciclo econômico eram

insignificantes se comparados aos impactos sofridos pela natureza. Entre eles podemos destacar

a sujeira e as doenças causadas pelas más condições sanitárias (BENTES, 2008).

A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, extinguindo a escravidão no

Brasil, provocou o êxodo dos trabalhadores libertos das lavouras. Esse fator, em conjunto com as

pragas nos cafezais, esgotamento dos solos pelo cultivo da monocultura do café e baixos preços

dos produtos no mercado internacional, levam os fazendeiros do Médio do Paraíba fluminense à

falência. Os efeitos da decadência econômica sobre a região foram devastadores, contrastando

                                                                                                               6 Outra denominação para Mata Atlântica. 7 Entendido, a princípio, como os efeitos sobre o meio ambiente.

  5

com a época anterior de riquezas da aristocracia cafeeira. Estes se rebelaram contra o fim da

escravidão apoiando a Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889 e o

exílio da Família Imperial brasileira.

Muitas das cidades fluminenses ficaram sem perspectivas quanto ao seu desenvolvimento. O

cultivo do café foi se deslocando paulatinamente em direção ao Vale do Paraíba paulista, que

utilizou mão-de-obra liberta e de migrantes em suas plantações.

Já o ciclo da pecuária leiteira foi predominante durante cerca de quarenta anos na região, entre o

final do século XIX e início do XX. O município de Barra Mansa passou a ser, em poucos anos,

um centro pastoril, com a produção de leite atingindo seu auge na década de 1930, transformando

o município no maior produtor de leite do país durante essa década, atividade que esteve

presente em praticamente todas as propriedades rurais da região (MOREIRA, 2002). Esse

município continua sendo hoje um grande polo de produção leiteira.

O impacto ambiental gerado por esse ciclo econômico se deu pela criação extensiva do gado,

com a derrubada da mata ainda existente, o pisoteamento e a compactação do solo e a

contaminação de córregos no processo de tratamento e fabricação de derivados do leite. Os

impactos urbanos, mencionados no ciclo econômico anterior, se intensificaram com o maior

acréscimo populacional (BENTES, 2008).

O ciclo da pecuária leiteira, como também a localização privilegiada no eixo rodo-ferroviário Rio-

Minas-São Paulo, foram os fatores responsáveis por atrair as primeiras indústrias para a região.

O ciclo industrial teve início na região com a implantação de fábricas ligadas à pecuária leiteira

(laticínios) e moageira, com a instalação em 1932, do Moinho Fluminense8, no município de Barra

Mansa. Em 1937 surgem três grandes indústrias nessa cidade: a Companhia Nestlé de Alimentos,

atraída pela grande produção leiteira, a Siderúrgica Barra Mansa, do Grupo Votorantin e a

Companhia Metalúrgica Barbará, atual Saint-Gobain Canalização, atraídas pela existência do

entroncamento ferroviário entre a E. F. Central do Brasil e a Rede Mineira, além da proximidade e

conexão com os grandes mercados consumidores, Rio de Janeiro e São Paulo9. Barra Mansa foi

a primeira cidade fluminense a receber uma indústria siderúrgica, ficando conhecida como

“Manchester Fluminense” (MOREIRA, 2002).

Mas o grande marco desse ciclo econômico foi a criação pelo Estado brasileiro da Companhia

Siderúrgica Nacional – CSN, em 1941, instalada também em Barra Mansa, no então 8o distrito de

Volta Redonda, e que assegurou em definitivo o processo de industrialização do Brasil.

A industrialização atraiu grande quantidade de mão-de-obra, formada por pessoas simples que

saíram do campo para trabalhar na construção e operação das fábricas, provocando o rápido

                                                                                                               8 Edifício onde hoje se encontra instalada a Prefeitura Municipal de Barra Mansa. 9 Posteriormente, em 1949, instala-se em Barra Mansa a indústria multinacional Dupont do Brasil, que fabrica produtos químicos e fertilizantes, junto ao eixo rodoviário RJ-SP.

  6

aumento da população e acelerado processo de urbanização. Com isso, alterou-se a economia e

modo de vida na região – do rural para o urbano (BENTES, 2008).

Durante a década de 1950 iniciou-se a polarização ao redor da CSN e do município de Volta

Redonda, que se emancipou em 1954.

Os impactos ambientais são ampliados com a industrialização, em que ocorre a contaminação do

solo, rios e águas subterrâneas, além do lançamento de poluentes na atmosfera. Com isso há

modificações no clima, com alteração das precipitações e chuvas ácidas; o aumento dos

processos erosivos e de sedimentação nos rios; tendo ainda problemas no descarte dos resíduos,

subprodutos dos processos industriais, que são enterrados ou lançados nos corpos hídricos, se

acumulando e gerando o chamado passivo ambiental.

Mas não é só as atividades fins desse ciclo que geram impactos. A rápida e intensa urbanização,

sem planejamento, com o surgimento de favelas, cortiços e loteamentos irregulares acarreta em

diversos impactos. Esses são relacionados a falta de infraestruturas, a impermeabilização do solo

e ausência de áreas verdes, que ocasionam a poluição dos rios por esgoto e lixo, assim como

enchentes e ilhas de calor, e trazem sérios problemas para a saúde da população (BENTES,

2008).

Crescimento Populacional e Urbanização

Como observado, em todos os ciclos econômicos ocorridos na região houve atração de

população. Mas nada se compara ao grande afluxo de pessoas e o crescimento populacional que

se sucedeu no ciclo industrial, influenciando toda a região.

O período correspondente às décadas de 193010 e 1940 foi de grande desenvolvimento e

transformações sociais, econômicas e territoriais no Brasil. Essa fase antecedeu, por duas

décadas, a passagem da população brasileira de predominantemente rural para gradativamente

mais urbana. O Censo de 1940 foi o primeiro a registrar diferenciadamente a população que

habita as áreas urbanas e rurais11. Os dados censitários foram obtidos a partir do estudo intitulado

Evolução da População e da Malha Municipal do Estado do Rio de Janeiro (CIDE, 2004).

No Médio Paraíba fluminense o Censo de 1940 registrava aproximadamente 159 mil habitantes, o

5o lugar entre as populações das regiões de governo do Estado do Rio de Janeiro. O estado

possuía nessa época aproximadamente 3 milhões e 612 mil habitantes, sendo 61,2 % da

população considerada urbana. No Médio Paraíba a população era em sua maioria rural, com

62,8 %, mas sendo a segunda população urbana do estado, só perdendo para a Região

                                                                                                               10 Por conta da Revolução de 1930 não foi realizado o censo nessa década, o que possibilitaria um melhor acompanhamento da série histórica. 11 A classificação da população entre urbana e rural se dá pela localização do domicílio, conforme a delimitação do perímetro (área) urbano feita por cada município, não refletindo, necessariamente, os modos de vida da população. Até o Censo de 1970 a população e os domicílios eram classificados conforme a localização em áreas urbanas, suburbanas (continuação do urbano) e rurais. A partir do Censo de 1980 essa classificação passou a ser de urbana e rural. Para efeito de comparação, as classificações urbanas e suburbanas foram agregadas em um único grupo.

  7

Metropolitana. Apenas duas cidades possuíam a maioria da população urbana, Barra do Piraí –

51,9 %, e Barra Mansa – 51,4 %, reminiscências do ciclo do café. No então distrito de Volta

Redonda, onde seria implantada à CSN, a população era de 2.782 habitantes, sendo em sua

maioria rural, com 63,4 %.

Essa situação foi expressivamente alterada durante a década de 1940, como registrado pelo

Censo de 1950. Em Volta Redonda, ainda distrito, a população aumentou 13 vezes com relação

ao censo anterior, para aproximadamente 36 mil pessoas, passando a ser predominantemente

urbana, com 89,4 %, semelhante a da Região Metropolitana (91,8 %). Esse grande crescimento

se deve, como mencionado, a forte atração de pessoas que migraram para trabalharem na

construção e operação da CSN, inaugurada em 1947. A população da região passa a ser na

maioria urbana, com 54,1 %, sendo no estado 72,6 % urbana.

Mesmo com o término das obras civis a população de Volta Redonda continuou aumentando, com

muitos desempregados e grave déficit habitacional. Esses fatos motivaram os loteamentos das

antigas fazendas de café, implantados com baixos padrões construtivos e urbanos, como também

a favelização nos morros e no interior do sitio industrial. A área urbana de Volta Redonda

expandiu significativamente, se comparada aos demais municípios da região.

No Censo de 1960 os percentuais de urbanização da população continuaram a aumentar no

estado – 78,9 %, e no Médio Paraíba fluminense – 69,9 %, com essa região possuindo a 4a

população do estado, com aproximadamente 336 mil habitantes, e mantendo-se como a segunda

população urbana. A polarização ao redor da CSN e do município de Volta Redonda, já

emancipado, faz com que outras cidades e distritos da região passem a ter sua população na

maioria urbana: Resende – 65,6 % e Valença – 55,4 %, além de Barra Mansa – 84,1 % e Barra do

Piraí – 71,3 %. No período entre os censos de 1950 e 1960, Volta Redonda aumentou sua

população em 2,5 vezes, para cerca de 89 mil habitantes, com taxa de urbanização em 94,6 %.

O Censo de 1970 demonstrou que a maioria da população brasileira passou a ser urbana, com

55,94 %. No Médio Paraíba fluminense o crescimento da urbanização já alcançava 76,6 % da

população, com aproximadamente 447 mil habitantes. A maioria dos municípios da região refletia

essa situação.

O Censo de 1980 apresentou os efeitos do chamado “Milagre Econômico” ocorrido na década de

1970. A população da região do Médio Paraíba fluminense tornou-se a segunda maior população

urbana do estado12, com 85,1 %, mantendo-se ainda como a segunda população total do Rio de

Janeiro, com aproximadamente 600 mil habitantes, estando atrás apenas da Região

Metropolitana. A população estadual aumentou em 25,5 %, comparada ao censo anterior, com

                                                                                                               12 Apesar de ser a segunda maior população do Estado do Rio de Janeiro, a Região do Médio Paraíba Fluminense representa apenas 5,31 % do total, pois a população está em sua maioria concentrada na Região Metropolitana, com 8.676.564 habitantes, o que significa 76,8 % do total da população estadual, com 11.291.520 habitantes.

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aproximadamente 11 milhões e 292 mil habitantes. A taxa de urbanização das principais cidades

do Médio Paraíba cresceu: Volta Redonda – 98,1 %, Barra Mansa – 88,9 % e Resende – 83,7 %.

Na década de 1980 ocorreu a estagnação da economia brasileira, o que refletiu nos dados do

Censo de 199113, com menor crescimento da população do estado – 13,4 %, como também do

Médio Paraíba fluminense – 15,7 %. Porém, a taxa de urbanização continuou a crescer, com a

região alcançando 91,5 %, o que demonstra a maior saída da população do campo. As principais

cidades da região apresentavam taxas de urbanização crescentes: Volta Redonda – 99,9 %,

Barra Mansa – 97,3 %, Resende – 87,2 % e Barra do Piraí – 93,6 %.

A Constituição Federal de 1988 permitiu a criação de diversos municípios durante a década de

1990, o que fragmentou politicamente o território. Com isso, no Médio Paraíba fluminense

ocorreram as emancipações dos municípios de Quatis (1990), Pinheiral e Porto Real (1995), com

Itatiaia se emancipado ainda em 1988.

Na passagem do milênio o Brasil já possuía 81,23 % da sua população em áreas urbanas, com o

Estado do Rio de Janeiro apresentando 94,9 % e a região do Médio Paraíba fluminense 93 % de

urbanização, sendo a segunda maior população urbana do estado. O município de Volta Redonda

possui 100 % de sua população urbana, com a maior densidade demográfica dos municípios do

interior do estado – 1.330 hab/km2, só estando atrás dos municípios da Região Metropolitana. A

maioria dos municípios Médio Paraíba apresenta taxas de urbanização acima de 80 %. O

crescimento da população no período foi de 12,4 % no estado, com cerca de 14 milhões e 391 mil

habitantes, e da região 13 %, com aproximadamente 785 mil pessoas, essa continuando a

manter-se como a segunda maior população total do Rio de Janeiro. Como observado, a

urbanização e o crescimento populacional no estado e na região apresentam taxas praticamente

semelhantes14.

Evolução da População Estado do Rio de Janeiro e Região do Médio Paraíba Fluminense

Censo Estado do

Rio de Janeiro

Percentual em Área Urbana

Percentual em Área

Rural

Região do Médio

Paraíba Fluminense

Percentual em Área Urbana

Percentual em Área

Rural

1940 3.611.998 61,2 38,8 159.496 37,2 62,8 1950 4.674.645 72,6 27,4 218.051 54,1 45,9 1960 6.681.636 78,9 21,1 336.012 69,9 30,1 1970 8.994.802 87,9 12,1 446.835 76,6 23,4 1980 11.291.520 91,8 8,2 599.791 85,1 14,9 1991 12.807.706 95,3 4,7 694.253 91,5 8,5 2000 14.391.282 94,9 4,0 785.192 93,0 7,0

Tabela 1: Evolução da População no Estado do Rio de Janeiro e no Médio Paraíba Fluminense.

                                                                                                               13 O censo populacional só foi feito em 1991 por não ter sido provisionando no orçamento da União os recursos para a realização no ano correto, 1990. 14 A taxa media de crescimento anual da população no período entre 1991 e 2000 foi 1,30 % para o Estado e 1,38 % para o Médio Paraíba fluminense (CIDE, 2009).

  9

No período entre 1940 e 2000 a população do Estado do Rio de Janeiro quadruplicou, com a

população urbana aumentando 6,2 vezes, enquanto a rural foi reduzida em 2,5 vezes. Já na

Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense o crescimento foi mais acentuado, com a

população total quase quintuplicando, a população urbana aumentando expressivamente em 12,3

vezes e a rural reduzida em 1,8 vezes. Atualmente, mesmo a população rural possui, em sua

maioria, modo de vida urbano.

Volta Redonda nesse período passou de distrito, com a população majoritariamente rural, para se

tornar o município mais populoso da região, e que durante muito tempo concentrou o processo de

industrialização. Esse teve sua população aumentada extraordinariamente em 87 vezes, com a

população urbana crescendo 238 vezes e a rural diminuindo em 26,4 vezes, com essa última

representando no Censo de 2000 apenas 67 habitantes.

A região do Médio Paraíba fluminense mantém, no período analisado, um crescimento constante,

enquanto as demais regiões estabilizaram ou passam a perder população a partir dos anos de

1980.

Na contagem realizada pelo IBGE em 200715 a população do estado foi estimada em cerca de 15

milhões e 420 mil habitantes e a do Médio Paraíba fluminense em aproximadamente 845 mil,

sendo em Volta Redonda cerca de 256 mil, representando 30,3 % dos habitantes da região.

(IBGE, 2008a).

Transformações no Ambiente Rural

Enquanto a população urbana no Estado do Rio de Janeiro e no Médio Paraíba fluminense

aumentaram significativamente no período entre 1940 e 2000, a população rural e produção

agrícola diminuíam. Apenas a atividade da pecuária aumentou.

A agricultura demanda grande quantidade de mão-de-obra, que com a atratividade das cidades e

da industrialização ficou cada vez mais escassa. Já a pecuária demanda menos trabalhadores, e

essa em muitos lugares se modernizou, como na região do Médio Paraíba fluminense, passando

da forma extensiva de criação para a intensiva, em que o gado fica confinado em currais. No caso

da pecuária leiteira isso trouxe benefícios de produtividade e de qualidade, com maior

mecanização e higienização, com o leite e seus derivados passando a ser, em sua maioria,

industrializados.

Foram pesquisados os anuários estatísticos do Estado do Rio de Janeiro e os censos

agropecuários do IBGE. Nesses buscou-se a série histórica de dados que apresentam a evolução

da agropecuária no Rio de Janeiro a partir de 1920 até 2006, ano do último Censo Agropecuário

do IBGE16. Esses dados estão tabulados na Tabela 2, apresentada a seguir. Quanto à região, os

                                                                                                               15 Os dados sobre população por situação de domicílio não estão disponíveis para consulta. 16 Nem todos os dados estão disponíveis, com alguns campos deixados vazios. Até 1975 a cidade do Rio de Janeiro era uma cidade-estado – Distrito Federal e posteriormente Estado da Guanabara, separada do antigo Estado do Rio de Janeiro. Para tabular os dados

  10

dados foram tabulados a partir de 1960 e são apresentados na Tabele 3 (FAPERJ, 1981; CIDE,

1992, 2001, 2009; IBGE, 1966, 1974a, 1975b, 1979, 1983, 2006).

Censos Agropecuários 1920 1940 1950 1960 1970 1975 1980 1985 1996 2006

Estabelecimentos 25.787 56.383 45.918 57.955 77.428 76.235 77.671 91.280 53.680 58.482

Área Total (ha) 3.104.423 3.364.621 3.218.726 3.023.005 3.316.063 3.446.176 3.181.385 3.264.149 2.416.305 2.048.973 Área das Lavouras (ha) 290.597 747.997 610.180 621.053 640.464 617.545 601.413 624.699 337.241 349.434

Pastagens (ha) - - - 1.456.841 1.724.069 1.859.038 1.744.614 1.757.106 1.545.123 1.282.310 Matas e Florestas (ha) - - - 558.109 485.767 522.540 453.105 502.846 348.986 310.074

- Natural - - - 531.201 466.217 488.327 420.945 463.183 - 280.383

- Plantada - - - 26.908 19.550 34.213 32.160 39.663 - 29.691 Número de Bovinos 553.543 727.011 788.639 1.090.985 1.207.109 1.658.534 1.745.152 1.788.180 1.813.743 1.924.217

Vacas Ordenhadas - - - 181.971 252.257 315.020 332.424 325.319 304.117 283.541

Produção de Leite (mil litros) - - - 172.454 282.579 362.816 452.435 424.191 434.719 422.129

Pessoal Ocupado 361.526 475.107 293.271 264.370 259.841 278.564 301.688 321.912 174.274 157.674

Tratores 64 148 515 1.658 3.986 5.897 9.070 9.822 8.796 7.666

Tabela 2: Dados dos Censos Agropecuários entre 1920 e 2006 Relativos ao Estado do Rio de Janeiro. Fontes: FAPERJ, 1981; CIDE, 1992, 2001, 2009; IBGE, 1966, 1974a, 1975b, 1979, 1983, 2006.

Podemos observar que no período entre 1920 e 1985 houve aumento nos números de

estabelecimentos agropecuários17 e de tratores, com algumas flutuações em relação a área total

dos estabelecimentos, lavouras e pastagens.

O censo de 1940 registra a área máxima utilizada para lavouras no estado, com

aproximadamente 748 mil hectares (ha), assim como o pessoal ocupado, que chegou a 475 mil

trabalhadores. O estado contava apenas com 148 tratores, com a relação entre a área das

lavouras e o número de tratores sendo de um trator para cada 5.054 ha. Esses dados

demonstram a demanda da agricultura por mão-de-obra, que em 1940 ainda era pouco

mecanizada.

Os dados de 1985 revelam os maiores números da série com relação aos estabelecimentos, a

área de pastagens, a quantidade de vacas ordenhadas e de tratores no Rio de Janeiro. A relação

entre a área das lavouras e o número de tratores caiu para apenas um trator para cada 63,6 ha.

O Censo de 1996 apresenta uma ruptura nos dados apresentados, com a diminuição significativa

no número de estabelecimentos e na área total desses, as áreas das lavouras e pastagens, assim

como o pessoal ocupado e a quantidade de tratores. Essa diminuição expressiva é confirmada

nos dados de 2006, tendo ainda a redução da quantidade de vacas ordenhadas e de leite

produzido. Em 2006, a relação entre a área das lavouras e tratores era de um trator para cada

45,6 ha, o que demonstra a forte mecanização presente no campo.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               anteriores à 1975 foi preciso consultar os volumes dos censos agropecuários do antigo Estado do Rio e da Guanabara, somando os números dos dois estados e igualando-os, permitindo assim a comparação com as informações da atual conformação do Estado do Rio de Janeiro. 17 Definido como “Todo terreno de área contínua, independente do tamanho e número de parcelas subordinado a um único produtor, no qual se processam atividades como: cultivo do solo, criação de animais, extração vegetal, silvicultura ou reflorestamento. Não se incluem as hortas domésticas” (CIDE, 1992).

  11

A quantidade de bovinos é o único número que aumentou em todo o período estudado, mesmo

com a área das pastagens diminuindo, como apresentado nos dados de 1996 e 2006. Isso

demonstra a utilização da criação intensiva do gado, como mencionado anteriormente. Mas esse

tipo de criação não acontece em todo o estado.

Comparando os dados relativos ao Estado do Rio de Janeiro dos censos agropecuários de 2006

com o de 1985, esse anterior à diminuição significativa mencionada, percebe-se que em cerca de

20 anos houve a redução de 56 % dos estabelecimentos agropecuários, 59,3 % da área total dos

estabelecimentos, 78,7 % da área das lavouras e 37 % das pastagens. O número de tratores

também diminuiu, com menos 28 %.

Essa diminuição tem reflexos na mão-de-obra, que em 2006 estava reduzida a menos da metade

dos trabalhadores apurados em 1985. Para efeito de comparação, entre os anos de 1980 e 2000,

segundo os números apurados nos censos demográficos, houve a redução de 62 % da população

rural, enquanto a população urbana aumentou 31,7 % no mesmo período. Hoje, como visto

anteriormente, o Estado do Rio de Janeiro é cada vez mais urbano.

Os censos agropecuárias fornecem ainda dados sobre a área de matas e florestas nos

estabelecimentos rurais, em que, segundo esses dados, claramente percebe-se a sua diminuição.

Os números relativos a essa área flutuaram no período entre 1960 (primeiro dado disponível) e

1985, caindo significativamente em 1996. Entre 1985 e 2006 a área diminuiu 62,2 %. Porém,

esses dados não representam a totalidade da área de matas e florestas no estado, mas sim, a

existente no interior dos estabelecimentos agropecuários.

A seguir são apresentados os dados relativos à Região de Governo do Médio Paraíba

Fluminense.

Censos Agropecuários 1960 1970 1975 1980 1985 1996 2006

Estabelecimentos 3.035 4.189 4.372 4.074 4.934 3.303 4.566

Área Total (ha) 484.718 489.610 528.952 502.988 496.031 388.259 320.824 Área das Lavouras (ha) 33.875 28.860 30.478 37.514 45.379 23.830 28.288

Pastagens (ha) 338.989 353.729 364.977 341.560 318.182 247.980 205.113 Matas e Florestas (ha) 74.127 66.539 94.002 80.901 91.954 64.403 64.588

- Natural 70.317 60.429 73.333 62.227 69.851 - 59.065

- Plantada 3.810 6.110 20.669 18.674 22.103 - 5.523 Número de Bovinos 200.266 188.002 218.515 214.704 229.075 211.658 243.711

Vacas Ordenhadas 58.985 53.623 60.286 56.743 56.005 51.739 50.102

Produção de Leite (mil litros) 64.632 74.117 79.198 95.809 90.783 93.098 94.031

Pessoal Ocupado 18.266 14.743 16.355 19.178 21.174 11.508 11.533

Tratores 228 397 524 773 836 735 672 Estabelecimentos Pecuária Bovina 2.808 - 2.891 2.796 3.399 - 3.381

Tabela 3: Dados dos Censos Agropecuários entre 1960 e 2006 Relativos ao Médio Paraíba Fluminense. Fontes: FAPERJ, 1981; CIDE, 1992, 2001, 2009; IBGE, 1966, 1974a, 1975b, 1979, 1983, 2006.

  12

Quanto à Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense, na série histórica analisada – entre

1960 e 2006, percebe-se o aumento no número de estabelecimentos agropecuários, ao mesmo

tempo que se baixam as áreas total e das lavouras, pastagens e matas. O pessoal ocupado

também diminuiu no período.

O números de bovinos aumentou, apesar de flutuações, enquanto o de vacas ordenhadas caiu,

com a região tendo o 3o rebanho leiteiro do estado. Ao mesmo tempo, a produção de leite

aumentou durante o período, o que demonstra a maior produtividade, com a região ocupando a

segunda colocação no estado.

Comparando os dados dos censos de 1985 e 2006, relativos à região, percebe uma importante

redução na área total dos estabelecimentos de 54,6 %, diminuindo em 60,4 % a área das lavouras

e em 55,1 % das pastagens. Nesse período houve o decréscimo de 42,4 % na área de matas e

florestas no interior dos estabelecimentos agropecuários, porém, entre 1996 e 2006 esse número

ficou estável, com um ligeiro aumento.

A partir da comparação percebe-se que área média dos estabelecimentos foi sensivelmente

reduzida. Em 1960 a média era de 159,7 ha, enquanto em 2006 essa área baixou para 70,3 ha,

ou seja, uma redução de 127 %. Isso demonstra a mudança no perfil do uso da terra rural.

Do total de 4.566 estabelecimentos rurais na região, segundo o censo de 2006, 74 % são

utilizados para pecuária bovina.

Quando da utilização para a agricultura, essa é de menor porte, e em muitos casos familiar – de

subsistência, com a venda do excedente em feiras livres. Algumas propriedades rurais passam a

ter o uso turístico ou de lazer, como hotéis-fazenda e sítios.

O número de tratores chegou a seu máximo na região em 1985, com 836, e no período de pouco

mais de 20 anos, foi reduzido em 24,4 %, semelhante ao ocorrido no estado. Em 2006 a relação

entre a quantidade de tratores pela área das lavouras era de um trator para cada 42,1 ha, abaixo

do estado, com 45,6 ha. Essa menor mecanização em relação ao estado se explica pelo porte

reduzido da agricultura, que demanda menos máquinas.

A mão-de-obra rural, entre os anos de 2006 e 1985, foi reduzida em 84 %, abaixo do que ocorreu

no estado. Para efeito de comparação, entre os anos de 1980 e 2000 houve a redução de 63 %

da população rural da região, similar ao estado, com menos 62 %, enquanto a população urbana

da região aumentou 43 %, acima do crescimento no estado, que foi de 31,7 %.

Cobertura Vegetal e Uso do Solo

O domínio do bioma da Mata Atlântica é o segundo maior conjunto de florestas tropicais úmidas

do Brasil, estando apenas atrás da Floresta Amazônica. A Mata Atlântica originalmente se

estendia do litoral nordestino ao Estado do Rio Grande do Sul. Dos seus quase um milhão de

quilômetros quadrados originais muito foi desmatado e alterado, restando atualmente cerca de 7

  13

% da cobertura vegetal, o equivalente a 92.402 km2 (9.240,200 ha), segundo dados de 2005 da

ONG S.O.S. Mata Atlântica (IBGE, 2008b). A cobertura vegetal atual se dá principalmente por

formações secundárias com pouca extensão e em locais de relevo mais íngreme. Este bioma, que

originalmente era formado de ecossistemas florestais, apresenta elevada biodiversidade18, sendo

um dos mais ameaçados do mundo (IBGE, 2008b). Ainda segundo dados dessa fonte, o Estado

do Rio de Janeiro possui 8.172 km2 (817.200 ha) desse bioma, representando 8,84 % do total.

O Estado do Rio de Janeiro possui 18,74 %19 do seu território com áreas de floresta (cobertura

arbórea densa), segundo levantamento de 2001, mas que estão fragmentadas no território. Esse

possui a maior área da Mata Atlântica, atribuído pelo estado estar na posição geográfica central

em relação a esse bioma (CIDE, 2003). No trecho fluminense da bacia do rio Paraíba do Sul, a

cobertura vegetal se resume a 13 % do território. No Médio Paraíba fluminense, há expressivos

remanescentes da Mata Atlântica, com fragmentos grandes e com razoável continuidade,

principalmente nos municípios de Resende, Itatiaia e Rio Claro (SEMA-RJ, 1999).

Para trabalhar a questão da preservação, uso do solo e cobertura vegetal, foram colhidas

informações a partir do estudo Índice de Qualidade dos Municípios, IQM-Verde II, que contém os

mapas de uso do solo e cobertura vegetal do Estado do Rio de Janeiro, elaborados a partir de

fotos aéreas e de satélite (CIDE, 2003). Essa ferramenta é especialmente importante para o

conhecimento e planejamento de ações de preservação ambiental visando a sustentabilidade:

comparação de áreas verdes fragmentadas e desmatamentos; subsídios as ações de manejo

florestais e a criação de corredores ecológicos unindo os fragmentos de mata; medidas de

incentivo a recuperação de áreas verdes, como a utilização de instrumentos econômicos-

ambientais.

Os dados colhidos do IQM-Verde II referem-se a dois momentos: o primeiro entre 1956 e 1975, e

o segundo em 2001. O estudo comparativo dos dados permitiu avaliar que ao longo de mais de

trinta e cinco anos houve em diferentes pontos do estado o crescimento de forma espontânea da

vegetação secundária, atingindo seu clímax, em especial o da Mata Atlântica no Sul Fluminense,

entre Angra dos Reis, no litoral, e Itatiaia, abrangendo a Serra do Mar e o trecho Médio da Bacia

do Paraíba do Sul. Em determinados momentos foi feita a comparação com os dados do

mapeamento digital realizado em 1994 pelo GEROE/CIDE para a primeira versão do IQM-Verde

(CIDE, 2003).

A floresta ou vegetação primária como o próprio nome diz, contempla vegetações nativas da

floresta, com porte arbóreo elevado e denso e elevada diversidade biológica, que sofreram a

mínima ação humana de forma a não interferir nas características originais da floresta. Essas são

                                                                                                               18 Diversidade de espécies. São cerca de 8 mil espécies vegetais (2,7 % do mundo) e 567 seres vertebrados (2,1 % de vertebrados do mundo). (CIDE, 2003). 19 Segundo o levantamento do CIDE, por mapeamento de satélite, o estado possui 9, 87 % do seu território entre florestas primárias, secundárias antigas, restinga arbórea e savana estépica; a vegetação secundária em estado avançado de regeneração corresponde a 8,87 %; enquanto as classes secundária inicial e de media regeneração natural equivalem 9,58 % do território. Se somados esses percentuais, a área com cobertura arbórea do estado se eleva a 28,32 % do território estadual, o que equivale à 1.240.110 ha (CIDE, 2003, cap. 5 p.5).

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Realce
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  14

classificadas: florestas de terras baixas, de encostas e de montanha; floresta aluvial, as matas

ciliares que se desenvolvem na beira dos rios e lagoas. Na região do Médio Paraíba fluminense,

entre as Serras do Mar e da Mantiqueira se desenvolvem as Florestas Ombrófila Densa e

Ombrófila Mista, conforme os perfis apresentados a seguir:

Perfil Esquemático de Floresta Ombrófila Densa. Perfil Esquemático de Floresta Ombrófila Mista.

Fonte: CIDE, 2003, cap. 2. p. 4. Fonte: CIDE, 2003, cap. 2. p. 4.

A vegetação secundária ou em regeneração ocorre quando a vegetação original foi parcialmente

ou totalmente removida por ação antrópica. A sucessão acontece através de processos naturais,

formando um mosaico de espécies de porte arbóreo, mas de forma heterogênea e com menor

diversidade. Esse tipo de vegetação é normalmente dividido em dois estágios de sucessão

conforme o porte e tempo de crescimento: inicial a médio, avançado, mas próximo à floresta

original em seu clímax.

Segundo as informações contidas no IQM-Verde II (CIDE, 2003), 63,73 % das florestas

fluminense estão sobre proteção de Unidades de Conservação, tuteladas pelas três esferas de

governo20. Isso demonstra a preocupação com a preservação, em especial da Mata Atlântica.

Porém, em muitos casos essas unidades estão delimitadas apenas em mapas, sem que se tenha

um plano de manejo que as torne real, como determina a Lei do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC)21. Para viabilizar essas unidades, bem como o manejo florestal, ações

visando ao médio e logo prazo são necessárias, como o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)

do estado, preconizado pela Constituição Federal de 1988.

A seguir são apresentados mapas e tabelas quantificando percentualmente as áreas de cobertura

vegetal e os usos do solo. Os mapas são de dois momentos distintos, comparando a evolução na

Região do Médio Paraíba Fluminense. O Mapa 2 foi elaborado com base nas aerofotografias em

preto e branco, realizadas pelo IBGE e a Diretoria de Serviço Geográfico do Exercito Brasileiro

(DSG) entre 1956 e 197522. Apesar de estar datado de forma abrangente, foi possível descobrir as

datas correspondentes às aerofotografias do trecho em estudo, relacionando-as a um período

menor, o que ajuda a situar historicamente a evolução nos municípios: fotografias de 1956

correspondem à Barra do Piraí, Piraí, Rio das Flores e Valença; fotos entre 1965 e 1966 são de

Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro e Volta Redonda. O Mapa

                                                                                                               20 Federal, Estadual e Municipal. 21 Lei No 9.985, promulgada em 18 de julho de 2000, regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. 22 As aerofotografias IBGE/DSG foram reconstruídas digitalmente em escala 1/50.000 para comparação com as imagens de satélite, na mesma escala (CIDE, 2003).

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  15

3, mais recente, de 2001, foi realizado a partir de imagens coloridas do satélite Landsat TM/200123

(CIDE, 2003).

Mapas 2 e 3: Uso e Cobertura do Solo das Regiões do Médio Paraíba Fluminense e da Costa Verde, em Diferentes Momentos, 1956/1975 e 2001. Sem escala definida. Fonte: CIDE, 2003.

As tabelas 4 e 5 apresentam dados relativos ao Estado do Rio de Janeiro e bacia Médio-Superior

do Paraíba do Sul, o que equivale à Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense. Essas

tabelas quantificam em percentuais os territórios estadual, regional e municipais, com base nas

informações gráficas contidas nos mapas apresentados.

Tabela 4: Variação dos Percentuais de Cobertura Arbórea Clímax e em Diferentes Estágios de

Regeneração, entre o Período 1956/1975 e o ano de 2001, nos Municípios do Médio Paraíba Fluminense.                                                                                                                23 Resolução espacial mínima do sensor de 30 metros, o que determina a precisão do estudo (CIDE, 2003).

  16

Tabela 5: Percentuais de Áreas por Usos do Solo nos Municípios do Médio Paraíba Fluminense - 2001.

Os dados comparáveis na Tabela 4 são da cobertura vegetal entre os dois períodos mencionados.

Não foram encontrados dados quantitativos referentes às áreas urbanas e rurais no período de

1956 a 1975. Esse primeiro levantamento não tinha como objetivo principal colher dados sobre a

vegetação. Por isso há apenas duas legendas, ou classes, mas que de um modo geral podem ser

relacionadas com a do segundo período: Matas/Florestas equivalem à vegetação arbórea densa,

primária e secundária em estágio sucessório antigo e avançado; a classe do Cerrado/Macega

equivale à vegetação secundária em estágio inicial a médio, como também a vegetação arbustiva

(CIDE, 2003).

Na comparação entre os dois períodos houve um aumento na cobertura florestal, tanto no estado

com 2,90 %, quanto na bacia Médio-Superior do rio Paraíba do Sul, com 5,63 %. Os municípios

da Região do Médio Paraíba Fluminense de uma maneira geral tiveram aumento das áreas

verdes, com destaque para Resende com 21,64 % e Volta Redonda com 13,59 %. Já os

municípios que perderam cobertura vegetal foram Quatis, Pinheiral e Piraí, esse último com perda

de 17,5 %. Convém ressaltar que muitos municípios da região não possuem vegetação primária

em seu território, que são remanescentes originais da Mata Atlântica. Na Tabela 4, esses estão

quantificados com “0,0” na coluna Florestas, correspondente ao levantamento de 2001. As datas

das aerofotografias do primeiro período na região são, em sua maioria, datadas entre os anos de

1965 e 1966, a exceção de Barra do Piraí, Piraí, Rio das Flores e Valença, datadas de 1956,

como mencionado anteriormente.

Ainda na comparação entre os levantamentos realizados para o primeiro IQM, de 1994, e para

segunda versão, de 2001, quase todos os municípios da região ampliaram a sua cobertura

vegetal, em especial a vegetação secundária, a exceção de Rio Claro e Valença, em que a

pastagem avançou.

No cômputo geral, o balanço foi positivo em termos de aumento da vegetação na região durante

os anos de 1956 a 2001, principalmente, por ter sido um período de rápida urbanização e

crescimento da população.

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Esse fato pode ser facilmente percebido na comparação dos mapas. No Mapa 2, que para a

região as imagens obtidas são, em grande parte, dos anos de 1965-1966, podemos perceber a

urbanização ao longo do rio Paraíba do Sul, com os municípios tendo malhas urbanas distintas.

Já no Mapa 3, de 2001, a área urbana entre Volta Redonda e Barra Mansa se expandiu

significativamente, conurbando24, e é indistinta em ambas as margens do rio, avançando sobre o

território de Barra do Piraí e recentemente sobre Pinheiral. Em Resende e Itatiaia a mancha

urbana se expandiu ao longo da rodovia Presidente Dutra (BENTES, 2008).

Na comparação entre os levantamentos de 1994 e 2001, há o aumento significativo da área

urbana do município de Porto Real, que anteriormente possuía apenas 5,9 % do seu território

como urbano e em 2001, rapidamente saltou para 24,8 % (Tabela 5). Isso se deve a implantação

de um polo industrial, iniciada na década de 1990, em que sua urbanização está desconectada do

tecido urbano preexistente (sede do antigo). Em Volta Redonda a área urbana foi ampliada de

20,6 % para 25,56 % do território municipal, enquanto Barra Mansa, que possui o território muito

maior, passou de apenas 3,6 % para 8,51 %. Como observado anteriormente, esses dois últimos

municípios possuem a maior população da região.

As áreas rurais com atividades de pecuária e agricultura ocupam a maior parte dos territórios

municipais na região. Não é possível fazer a comparação entre os períodos de 1956-1975 com o

de 2001, pois o primeiro levantamento não contemplava esse tipo de informação. Mas

comparando os levantamentos de 1994 com o de 2001, houve um movimento contrário, de

redução das áreas de pastagem e agricultura, condizente com os números apresentados

anteriormente dos censos agropecuários de 1996 e 2006. A população rural também diminuiu

entre os censos de 1991 e 2001.

Segundo o estudo IQM Verde II, são necessários à implantação de 56.320 ha de corredores

ecológicos na Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense, o equivalente 9,1 % do seu

território25. Os corredores ecológicos visam conectar os fragmentos vegetais existentes na região,

permitindo sua expansão e o aumento da biodiversidade. Ainda segundo esse estudo, os custos

para implantação desses corredores estão em torno de 1.500 Dólares por hectare. O custo pode

ser drasticamente reduzido se forem envolvidos outros agentes ligados à comunidade, como

ONGs e empresas, alcançando o custo de 800 Reais por hectare (CIDE, 2003).

Conclusões

A partir da pesquisa e dos dados coletados em diversas fontes, que foram tabulados e

comparados, conclui-se que a hipótese levantada é verdadeira: a saída do homem do campo para

as áreas urbanas com a industrialização – com abandono das áreas rurais e alteração no modo

de produção rural do Médio Paraíba fluminense – possibilitou que áreas antes degradadas se

regenerassem, com o aumento da vegetação secundária na região.                                                                                                                24 Quando a malha urbana de dois ou mais municípios se unem.      25 O território da Região de Governo do Médio Paraíba Fluminense possui área total de 618.570 ha.

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Como observado, os ciclos econômicos promoveram fortes transformações ambientais na região,

com modificações geradas pelas próprias atividades fins: a Mata Atlântica foi devastada, liberando

o solo para as plantações de cana-de-açúcar e café, utilizado posteriormente para o pasto e a

criação de gado, e ainda a implantação do parque industrial. Mas essas transformações não

ficaram restritas apenas às atividades fins dos ciclos, alterando-se o espaço, antes

predominantemente rural, para urbano, com a criação e adequação desse, seguindo modelos

urbanísticos vigentes nas diversas épocas.

Os dados contidos nos censos demográficos e agropecuários do IBGE, comprovaram que no ciclo

industrial ocorreu a acelerada urbanização do Médio Paraíba fluminense, com a saída do campo,

alterando profundamente os usos no ambiente rural, com expressiva redução da agricultura.

As antigas fazendas, muitas estabelecidas na época do café e com vasto território, foram

fragmentadas em propriedades menores ou loteadas para a expansão urbana.

A agricultura na região passou a ser de pequeno porte, em muitos casos familiar e de

subsistência. O excedente da produção é vendido em feiras livres e pequenos comércios nas

cidades, ou até mesmo na beira das estradas.

A pecuária, que iniciou seu ciclo econômico no final do século XIX na região, com o declínio do

cultivo de café, continua presente na região, mas com alterações no modo de criação do gado,

que passou, em grande parte, da forma extensiva para a intensiva26. Isso propiciou um ganho de

produtividade e melhores condições sanitárias, acrescentando ainda valor agregado aos produtos

derivados do leite, que passaram a ser industrializados. A criação intensiva do gado modificou o

uso nas áreas rurais, com o abandono das pastagens, que passaram a ficar ociosas.

Os acontecimentos destacados anteriormente possibilitaram o início da regeneração natural da

vegetação, como comprovado pelos dados do estudo IQM Verde II. Porém, os impactos dos ciclos

econômicos sobre a natureza não são facilmente recuperáveis.

Convém ressaltar que a poluição atmosférica de origem industrial e a erosão trazem malefícios à

vegetação. O maior controle desses fatores durante a década de 1990 pode ter contribuído para

essa regeneração.

Para acelerar o processo de regeneração é preciso ampliar as unidades de conservação e

implementar os corredores ecológicos, conectando os fragmentos vegetais. Isso é possível

utilizando-se instrumentos econômicos-ambientais, como: o Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços – ICMS Verde27, instituído recentemente no Rio de Janeiro, no qual parte

do imposto arrecadado é transferido do estado para os municípios que possuam e mantenham

                                                                                                               26 No método extensivo o gado é deixado solto no pasto, enquanto no intensivo, este fica confinado em pequenos currais. Essa mudança na criação do gado leiteiro está ligada também a melhoria do padrão de qualidade no fornecimento do leite, que antes era fornecido em sua maioria no tipo C e agora passou a ser o leite do tipo B, com maior mecanização e higienização no processo de produção, utilizando ordenha mecânica. 27 Também conhecido como ICMS Ecológico. Esse instrumento, que surgiu no início da década de 1990 no Estado do Paraná, e foi utilizado inicialmente para preservação das unidades de conservação, pode também ser utilizado para outras melhorias ambientais, como investimentos em saneamento nas áreas urbanas. (IBGE, 2005).

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Unidades de Conservação, cuidem da qualidade da água dos mananciais e que tenham gestão

dos resíduos sólidos urbanos; os recursos provenientes da cobrança pelo uso da água na bacia

do Paraíba do Sul, bacia pioneira no sua utilização, podem ser especialmente empregados na

recomposição das matas ciliares no entorno das nascentes e margens de rios, como ainda no

controle de erosão; e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Tratado de Kyoto, que

pode ser utilizado na preservação de áreas verdes e no reflorestamento, cuja vegetação em

crescimento captura o carbono presente na atmosfera através da fotossíntese, mas necessitando

de maiores estudos para o seu emprego.

Por fim, cabe destacar que vem se desenvolvendo na região o processo de dispersão urbana,

uma nova forma de urbanização desconectada dos núcleos urbanos existentes e espraiada pelo

território regional, que avança sobre as áreas rurais e pode, em longo prazo, impedir o avanço da

regeneração natural e até mesmo reverte-la.

Esse processo de urbanização, que acontece de maneira expressiva na Região Metropolitana de

Campinas e no Vale do Paraíba paulista, começa a ser investigado quanto a sua ocorrência no

Estado do Rio de Janeiro, no âmbito das pesquisas realizadas no Laboratório de Estudos sobre

Urbanização, Arquitetura e Preservação (LAP), da Universidade de São Paulo.

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