a terra viva

7/18/2019 A Terra Viva

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A TERRA VIVA

por James E. Lovelock

Novas evidências científicas mostram, a cada dia, que de fato a Terra é umsuperorganismo, dotado de auto-regulação.Como partes desses sistemas, porém, temos

responsabilidade individual em mantê-la viva e saudvel para as futuras geraç!es. " idéia de que a Terra é viva pode ser tão vel#a quanto a #umanidade. $s antigosgregos deram-l#e o poderoso nome de %aia e tin#am-na por deusa. "ntes do século &', atémesmo os cientistas sentiam-se confortveis com a noção de uma Terra viva. (egundo o#istoriador ). *. +cntre &'/01, 2ames 3utton, normalmente con#ecido como o pai dageologia, disse numa palestra para a (ociedade 4eal de 5dimburgo na década de &6'7 queconsiderava a Terra um superorganismo e que seu estudo apropriado seria através dafisiologia. 3utton foi mais adiante e fe8 a analogia entre a circulação do sangue, descoberta por 3arve, e a circulação dos elementos nutrientes da Terra, e a forma como o sol destilagua dos oceanos para que torne a cair como c#uva e refresque a terra. 5ssa visão #olística de nosso planeta não persistiu no século seguinte. " ciência estavase desenvolvendo rapidamente e logo se fragmentou numa colet9nea de profiss!es quaseindependentes. Tornou-se província do especialista, e pouco de bom se podia di8er acercado raciocínio interdisciplinar. Não se podia fugir de tal introspecção. 3avia tantainformação a ser coletada e selecionada: Compreender o mundo era tarefa tão difícil quantomontar um quebra-cabeça do taman#o do planeta. 5ra difícil demais perder a noção dafigura enquanto se procurava e separava as peças. ;uando, # alguns anos, vimos <s fotografias da Terra tiradas do espaço, tivemos umvislumbre do que estvamos tentando modelar. "quela visão de estonteante bele8a= aquelaesfera salpicada de a8ul e branco me>eu com todos n?s, não importa que agora se@a apenasum clic#ê visual. " noção de realidade de compararmos a imagem mental que temos domundo com aquela que percebemos através de nossos sentidos. A por isso que a visão queos astronautas tiveram da Terra foi tão perturbadora. +ostrou-nos a que dist9nciaestvamos afastados da realidade.

" Terra também foi vista do espaço pelos ol#os mais discernentes dos instrumentos, e foiesta ?tica que confirmou a visão que 2ames 3utton teve de um planeta vivo. Bista < lu8infravermel#a, a Terra é uma anomalia estran#a e maravil#osa entre os outros planetas do(istema (olar. Nossa atmosfera, o ar que respiramos mostrou-se escandalosamente fora deequilíbrio, quimicamente falando. A como a mistura de gases que penetra no coletor de ummotor de combustão interna, ou se@a, #idrocarbonetos e o>igênio misturados, enquantonossos parceiros mortos +arte e Bênus têm atmosferas de gases e>auridos por combustão. " composição inortodo>a da atmosfera emite um sinal tão forte na fai>a infravermel#aque poder ser recon#ecido por uma espaçonave a grande dist9ncia do (istema (olar. "sinformaç!es que ele transporta são evidência < primeira vista da presença da vida. orém,mais do que isso, se a atmosfera instvel da Terra foi capa8 de persistir e não se tratava deum evento casual, então isto significaria que o planeta est vivo - pelo menos até o pontoem que compartil#a com outros organismos vivos a maravil#osa propriedade da#omeostase, a capacidade de controlar sua composição química e se manter bem quando oambiente e>terno est mudando.

;uando, baseado nessa evidência, eu trou>e novamente < baila a visão de que nosencontrvamos sobre um superorganismo - e não uma mera bola de pedra -, o argumento



não foi bem recebido. +uitos cientistas o ignoraram ou criticaram sobre a base de que nãoera necessrio e>plicar os fatos da Terra. Conforme disse o ge?logo 3. ). 3ollandDEBivemos numa Terra que é o mel#or dos mundos somente para aqueles que estão bemadaptados ao seu estado vigenteE. $ bi?logo Ford )oolittle &'G&1 disse que para manter aTerra em estado constante favorvel < vida precisaríamos prever e plane@ar, e que nen#um

estado desse tipo conseguiria evoluir através da seleção natural. 5m suma, disseram oscientistas, a idéia era teleol?gica e intestvel. )ois cientistas, entretanto, pensaram de formadiferente= um deles foi a eminente bi?loga Hnn +argulis e o outro o geoquímico Hars(illen. Hnn +argulis foi min#a primeira colaboradora +argulis e HovelocI, &'6J1. Hars(illen morreu antes que #ouvesse uma oportunidade. Foi o romancista Killiam %oldingcomunicação pessoal, &'671 quem sugeriu usar o poderoso nome %aia para a #ip?tese quesupun#a estar viva a Terra. Nos Lltimos &7 anos, tais críticas foram rebatidas - por um lado devido a novasevidências e por outro devido a um simples modelo matemtico c#amado )ais Morld. Nele, o crescimento competitivo de plantas de coloração clara e outras de coloração escuraem um mundo mgico mostra-se mantenedor do clima planetrio constante e confortvelface < grande mudança na emissão de calor da estrela do planeta. $ modelo é bastante#omeosttico e pode resistir a grandes perturbaç!es não apenas na emissão de calor comotambém na população vegetal. 5le se comporta como um organismo vivo, mas não sãonecessrias previs!es ou plane@amentos para sua operação.

"s teorias científicas não são @ulgadas tanto por estarem certas ou erradas quanto o são pelo valor de suas previs!es. " teoria de %aia @ se mostrou tão frutífera nestes termos que por ora pouco importaria se estivesse errada. m e>emplo, tirado dentre tantas previs!es,foi a sugestão de que o composto sulfeto de dimetilo seria sinteti8ado por organismosmarin#os em larga escala para servir de portador natural de en>ofre do oceano para a terra.(abia-se na época que alguns elementos essenciais < vida, como o en>ofre, eramabundantes nos oceanos, mas encontravam-se em processo de e>austão em pontos dasuperfície da Terra. (egundo a teoria de %aia, seria necessrio um portador natural, e foi previsto o sulfeto de dimetilo. "gora sabemos que este composto é de fato o portadornatural do en>ofre, mas, na ocasião em que a previsão foi feita, buscar um composto tãoincomum assim no ar e no mar teria ido de encontro < sabedoria convencional. Aimprovvel que tivessem ido buscar sua presença não fosse pelo estímulo da teoria de %aia.

" teoria de %aia vê a biota e as roc#as, o ar e os oceanos como e>istência de umaentidade fortemente con@ugada. (ua evolução é um processo Lnico, e não vrios processosseparados estudados em diferentes prédios de universidades. 5la tem um significado profundo para a biologia. "feta até a grande visão de )arMin, pois talve8 não se@a mais suficiente di8er que os indivíduos que dei>arem a maior proleterão ê>ito. (er necessrio acrescentar a clusula de que podem conseguir contanto quenão afetam adversamente o meio ambiente. " teoria de %aia também amplia a ecologia te?rica. Colocando-se as espécies e o meioambiente @untos, algo que nen#um ecologista te?rico fe8, a instabilidade matemticaclssica de modelos de biologia populacional est curada.



ela primeira ve8 temos, a partir desses modelos novos, modelos geofisiol?gicos, uma @ustificativa te?rica para a diversidade, para a rique8a rousseauniana de uma florestatropical Lmida, para o emaran#ado banco darMiniano. 5sses novos modelos ecol?gicosdemonstram que, < medida que aumenta a diversidade, também aumentam a estabilidade ea resiliência. "gora podemos racionali8ar a repugn9ncia que sentimos pelos e>cessos dos

neg?cios agrícolas. Finalmente temos uma ra8ão para nossa ira contra a eliminaçãoinsensata de espécies e uma resposta para aqueles que di8em tratar-se de um merosentimentalismo. Não precisamos mais @ustificar a e>istência de florestas tropicais Lmidas sobre as bases precrias de que elas podem conter plantas com drogas capa8es de curar doenças #umanas." teoria de %aia nos força a ver que elas oferecem muito mais que isso. )ada suacapacidade de evapotranspirar enormes volumes de vapor dOgua, elas servem pararefrescar o planeta propiciando-l#e a proteção solar de nuvens brancas refletoras. (uasubstituição por lavoura poderia precipitar um desastre em escala global. m sistema geofisiol?gico sempre começa com a ação de um organismo individual. (eesta ação for localmente benéfica para o meio ambiente, ela então poder se difundir atéque acabe resultando um altruísmo global. %aia sempre opera assim para atingir seualtruísmo. Não # previsão ou plane@amento envolvido. $ inverso também é verdadeiro, equalquer espécie que afete o meio ambiente desfavoravelmente est sentenciada, mas a vidacontinua.

(er que isto se aplica aos seres #umanos agoraP 5staremos fadados a precipitar umamudança do atual estado confortvel da Terra para um quase certamente desfavorvel paran?s porém confortvel para a biosfera de nossos sucessoresP or sermos sencientes, #alternativas, tanto boas quanto ms. or certos camin#os, o pior destino que nos aguarda ésermos alistados como os médicos e as enfermeiras de um planeta geritrico com ainfindvel e intangível tarefa de buscar eternamente tecnologias capa8es de mantê-loadequado ao nosso tipo de vida - algo que até bem pouco tempo atrs recebíamosgratuitamente por sermos uma parte de %aia. " filosofia de %aia não é #umanista. +as, sendo avQ de oito netos, eu preciso ser otimista. Be@o o mundo como um organismo vivo do qual somos parte= não os donos, nãoos inquilinos, sequer os passageiros. 5>plorar esse mundo na escala que fa8emos seria tãotolo quanto considerar supremo o cérebro e dispensveis as células de minerar nosso fígadoem busca de nutrientes para algum benefício de curta duraçãoP

or sermos #abitantes de cidades, ficamos obcecados pelos problemas #umanos. "témesmo os ambientalistas parecem mais preocupados com a perda de um ano de e>pectativade vida devido ao c9ncer do que com a degradação do mundo natural através dodesmatamento ou dos gases do efeito estufa - algo que poderia causar a morte de nossosnetos. 5stamos tão alienados do mundo da nature8a que poucos somos os que con#ecemosos nomes das flores e dos insetos selvagens das localidades onde vivemos ou percebemos arapide8 de sua e>tinção. %aia funciona a partir do ato de um organismo individual que se desenvolve até oaltruísmo global. 5nvolve ação em nível pessoal. Bocê bem pode perguntarD E5 o que possofa8erPE ;uando procuro agir pessoalmente em favor de %aia através da moderação, ac#oLtil pensar em três elementos mortaisD combustão, gado e serra elétrica. )evem e>istir muitos outros.



ma coisa que você pode fa8er, e isto não passa de um e>emplo, é comer menos carne de boi. "gindo assim, e se os médicos estiverem certos, você poder estar fa8endo um bem a si pr?prio= ao mesmo tempo, poder estar redu8indo as press!es sobre as florestas dostr?picos Lmidos.

(er egoísta é #umano e natural. +as se preferirmos ser egoístas no camin#o correto,

então a vida pode ser rica e ainda assim consistente com um mundo adequado para osnossos netos, bem como para os netos de nossos parceiros em %aia.$ te>to aqui apresentado constitui um e>certo do capítulo R/ do livro *iodiversidade,

organi8ado por 5. $. Kilson. Hançada recentemente no *rasil pela 5ditora Nova Fronteira,a obra reLne artigos apresentados no Forum Nacional (obre *iodiversidade, reali8ado emKas#ington no ano de &'G/ e que reuniu alguns dos maiores especialistas mundiais ligados< questão da biodiversidade." tradução é de +arcos (antos e 4icardo (ilveira.

4evista Nova 5ra n.6 - m %uia para a 5ra de "qurio é uma publicação daH"N5T". Transcrito pela revista 4ednoticD campalucSuol.com.br

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