a terceirizaÇÃo no setor de telecomunicaÇÕes · 7 introduÇÃo o presente trabalho é uma...

67
1 PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES AUTOR JORGE LUIZ MARQUES DE MELLO ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO Rio de Janeiro 2010

Upload: vandan

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

1

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

AUTOR

JORGE LUIZ MARQUES DE MELLO

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

Rio de Janeiro

2010

Page 2: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do Trabalho. Por Jorge Luiz Marques de Mello. Orientador: Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio

Rio de Janeiro

Campus Centro II

2010

Page 3: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

3

Agradeço à minha amada e querida mãe por todo esforço, carinho, dedicação e cumplicidade. In memoriam.

Page 4: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

4

RESUMO O fenômeno da terceirização tem causado diversos impactos sociais, políticos e econômicos no Brasil. Prática corriqueira em todo o mundo em virtude da globalização econômica, a terceirização desperta discussões acaloradas acerca de sua licitude no âmbito doutrinário e jurisprudencial, sobretudo no que tange à preservação dos direitos trabalhistas e na aversão à precarização dos serviços prestados e das conquistas alcançadas pelos trabalhadores ao longo do tempo. Na análise realizada no setor de telecomunicações, a polêmica continua aberta acerca da possibilidade ou não de terceirização das atividades-fim das empresas tomadoras de serviços, da falta de leis que expressamente se posicionem e delimitem as responsabilidades dos sujeitos contratantes e as anomalias provocadas quando não se respeitam os limites impostos pelo ativismo judicial. Ativismo judicial, aliás, que, embora muito discutido, toma papel de destaque nesta situação de anomia, a fim de se evitar a sensação de insegurança jurídica das relações contratuais.

Page 5: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

5

METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em análise pormenorizada da prática da

terceirização no setor das telecomunicações, desde a exposição do histórico da

telefonia e das telecomunicações no Brasil ao conceito de terceirização no ambiente

jurídico brasileiro e internacional, bem como os aspectos contraditórios e conflitantes

que tornam o fenômeno da terceirização um assunto palpitante e discutível no setor

das telecomunicações.

Para tanto, realizou-se pesquisa em livros de doutrinas dominantes e

divergentes, bem como em publicações como revistas, jornais, blogs e páginas da

internet e em arquivos de empresas de telecomunicações, BNDES e Justiça do

Trabalho. A consulta também se pautou na leitura e interpretação da legislação

vigente e de decisões judiciais e pareceres periciais constantes em reclamações

trabalhistas.

Além disso, a pesquisa que resultou nesta monografia também se utilizou

da farta jurisprudência e de textos produzidos pelos estudiosos que já se

debruçaram sobre o tema anteriormente, os quais permitiram buscar e compreender

as causas e consequencias dos diversos aspectos que envolvem o objeto do

presente estudo, sob os pontos de vista positivista, argumentativo e teleológico, com

o propósito de expor com clareza e riqueza de detalhes os valores e

posicionamentos existentes e seus impactos na realidade social.

Page 6: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 7

CAPÍTULO I

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES................................. 9

1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO........................................ 15

1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO............................................ 21

1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS.............................. 25

CAPÍTULO II

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES............................. 31

2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS............................. 36

2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO.......................................................... 40

2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO............................................. 50

CAPÍTULO III

QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA....................................................... 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 56

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 59

Page 7: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na

contratação de mão-de-obra no setor de telecomunicações no Brasil, bem como um

estudo acerca do seu impacto na ordem econômica do país, das suas vantagens e

desvantagens para a sociedade e trabalhadores.

Com o ritmo incessante dos grandes centros urbanos e o mundo cada vez

mais globalizado, o mercado econômico-financeiro precisou se adequar à nova

realidade de competição. As empresas, para se tornarem sólidas e rentáveis,

necessitaram encontrar soluções para resistir a uma concorrência cada vez mais

acirrada e em constante avanço tecnológico. Algumas das conseqüências desta

transformação foram o aumento do desemprego e a redução drástica dos custos na

produção, o que impactou diretamente nas sociedades e nas economias mundiais.

Iniciou-se, então, o dilema entre esta inevitável e agressiva tendência do capitalismo

moderno e a preservação dos direitos trabalhistas, prejudicados com as demissões

em massa e as habituais crises econômicas.

Era preciso encontrar meios para suprir as exigências do mercado,

garantir o lucro dos empresários e aumentar a oferta por oportunidades de trabalho.

Uma das soluções encontradas foi a utilização de um fenômeno mundial há muito

tempo conhecido, a terceirização da mão-de-obra operária.

No Brasil, tal fenômeno refletiu com maior intensidade nas chamadas

privatizações no setor público, ocorridas a partir do ano de 1997, no mandato do

Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Um dos fatos marcantes

dessa época foi a desestatização do Sistema Telebrás, quando empresas privadas

adquiriram a concessão dos serviços de telefonia, até então controladas com

exclusividade pelo Estado, e, amparados pela Lei nº 9472/97, viram na terceirização

de seus serviços um método para a otimização de sua produção, redução de custos

e crescimento no mercado.

Este trabalho expõe os diversos posicionamentos jurisprudenciais e

doutrinários, à luz das garantias constitucionais de proteção aos direitos dos

Page 8: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

8

trabalhadores e à dignidade da pessoa humana, no intuito de esclarecer se a

terceirização no setor de telecomunicações é um mal necessário e inevitável na

nova relação de trabalho, sendo tão-somente contestada pelos defensores de um

paternalismo arcaico da Justiça do Trabalho, ou uma grande ameaça aos direitos já

tão duramente conquistados pelos trabalhadores brasileiros e carecedores, portanto,

de um protecionismo atuante do Judiciário.

Decerto que, para se entender o presente, é necessário rememorar o

passado. Dessa forma, a pesquisa realizada focou-se, primeiramente, em conhecer

a evolução histórica dos fatos, ou seja, as realizações praticadas ao longo do tempo

que permitiram, com seus erros e acertos, a implantação e a expansão das

telecomunicações no Brasil, para, posteriormente, adentrar no instituto jurídico da

terceirização, fenômeno este praticado no Brasil desde antes do grande marco das

privatizações, mas que só tomou grandes proporções a partir de então.

Justifica-se, assim, o estudo inicial em separado desses dois aspectos: a

evolução das telecomunicações e a terceirização, pois, melhor conhecendo os dois

temas, tornaram-se mais claras e objetivas a exposição e análise dos efeitos que o

segundo provocou no primeiro. A terceirização está presente em diversos

segmentos do mercado de trabalho brasileiro, mas é no setor das telecomunicações

que reside a maior repulsa jurisprudencial e doutrinária desta prática empresarial tão

comum nos dias atuais.

Outro fato analisado é que o tema terceirização une em si aspectos dos

ramos do Direito e da Administração, pois, para o primeiro, é um fenômeno que, se

não usado devidamente, pode causar severos impactos sociais, desde a ruptura do

sistema trabalhista, a precarização dos direitos dos trabalhadores, a segregação e a

exclusão social, mas, para o outro, a terceirização é uma ferramenta poderosa de

gestão empresarial que permite ao administrador controlar gastos com pessoal e

alcançar melhores resultados, voltados sempre para a obtenção de lucros.

Fez-se necessário, portanto, entender o comportamento da sociedade, da

jurisprudência, da doutrina e da legislação diante da nova realidade do mercado de

trabalho brasileiro e de diversos países para analisar o fenômeno da terceirização.

Page 9: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

9

CAPÍTULO I

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

Para falar sobre o fenômeno da terceirização no setor de

telecomunicações do Brasil, é preciso lembrar a origem das telecomunicações,

desde o escocês Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, e Dom Pedro II,

imperador do Brasil que apostou na invenção e a trouxe para o Brasil, viabilizando a

implantação das primeiras linhas telefônicas no Rio de Janeiro em 1876, até os dias

atuais com a implantação da televisão digital, da tecnologia 3G e das portabilidades

dos números telefônicos. Naquela época, o sistema foi implantado rapidamente, mas

só começou a operar efetivamente na metade do Século XX.

O professor Maurício dos Santos Neves, em artigo comemorativo aos 50

anos do BNDES1, analisou e destacou os principais fatos que ajudaram a difundir o

sistema de telecomunicações no Brasil. A comunicação telefônica em meados dos

anos 50 era estabelecida principalmente através do auxílio de telefonistas, sendo

prestada por operadoras de telecomunicações concessionárias distribuídas pelos

diversos entes da Administração Pública. Com isso, a exploração do serviço

telefônico chegou a ser realizada por mais de mil empresas espalhadas por todo o

país, o que provocou a ineficiência de todo o sistema. A demanda era muita para

uma pouca e desestruturada oferta.

Nesse cenário conturbado, no início da década de 60 foram implantadas

as primeiras centrais eletromecânicas, que funcionavam através da geração de

sinais elétricos, ou seja, os pulsos telefônicos. A tecnologia de microondas também

foi utilizada para estabelecer a conexão entre as cidades do Rio de Janeiro, Belo

Horizonte, Brasília e Goiânia. Em 27 de agosto de 1962, o Congresso Nacional

promulga a Lei nº 4.117, que instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações e

disciplinou a prestação desse serviço no país, prevendo as criações do Conselho

Nacional de Telecomunicações (Contel), do Fundo Nacional de Telecomunicações

1 NEVES, Mauricio dos Santos. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O setor de telecomunicações. BNDES 50 Anos – Histórias Setoriais. http://www.bndes.gov.br/. Link: SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro_setorial/setorial13.pdf. Acesso em: 26/05/2010.

Page 10: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

10

(FNT), e da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), fundada em 16 de

setembro de 1965, responsável pela conexão interurbana de alta capacidade em

microondas entre São Paulo e Porto Alegre. Em 1967, foi criado o Ministério das

Comunicações, responsável pela fiscalização das diversas concessionárias de

serviço telefônico espalhadas no país.

Maurício dos Santos Neves2 destacou que, embora a situação da

telefonia brasileira estivesse razoavelmente equilibrada e com o fornecimento de um

serviço de boa qualidade no início da década de 70, ainda existiam diversas

barreiras tecnológicas instransponíveis devido ao alto número de empresas

concessionárias. O que faltava era uma maior integração entre essas empresas e,

visando diminuir essa falta de comunicação, surgiu a Telebrás - Telecomunicações

Brasileiras S.A., com a promulgação da Lei nº 5.792, de 11 de julho de 1972. A

sociedade de economia mista foi criada com o objetivo de implantar um melhor

planejamento e operação do sistema telefônico, sendo o grande órgão centralizador

das telecomunicações no Brasil, criando em cada estado uma empresa-pólo para

uma melhor ingerência, as chamadas “teles”, e incorporando as companhias

telefônicas existentes3. Sob esse regime a telefonia foi administrada no Brasil ao

longo das décadas de 70, 80 e 90.

Nos anos 80, houve um grande avanço tecnológico com o lançamento

dos satélites de comunicações BrasilSat-I e BrasilSat-II, por meio dos quais se

conseguiu integrar todo o território brasileiro. Iniciou-se também o estudo para a

implantação da telefonia móvel e a inauguração do primeiro sistema analógico.

Entretanto, a economia do país estava em franca recessão, o que dificultava a

manutenção do sistema já existente e a implantação de novos sistemas. Assim, o

sistema Telebrás permaneceu estagnado e tornou-se obsoleto e defasado, gerando

grande escassez de linhas telefônicas no mercado.

Com a queda da qualidade dos serviços prestados, o congestionamento

da rede, o aumento nas tarifas, a demora para a aquisição dos Planos de Expansão

(PEX) e a gradual “sucatização” da infra-estrutura das “teles”, os assinantes

2 Id. Ibid. 3 TELEBRÁS – Telecomunicações Brasileiras S/A. A TELEBRÁS e a Evolução das Telecomunicações. http://www.telebras.com.br/. Link: historico.htm. Acesso em: 07/08/2010.

Page 11: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

11

passaram a ser obrigados a comprar ações da Telebrás ou de suas subsidiárias ao

encomendarem uma nova linha telefônica que só iriam receber um ou dois anos

depois da inscrição. O que parecia ser um investimento, em verdade, era apenas um

embuste, no qual o Governo repassava ao consumidor o ônus pela manutenção do

sistema e investimentos no setor. Além disso, a extinção em 1982 da sobretarifa do

Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT) em nada serviu para amenizar a alta

tributação sobre o serviço telefônico, já que logo em seguida, através do Decreto-Lei

nº 2.186, de 20 de dezembro de 1984, foi instituído o Imposto Sobre Serviços de

Comunicações (ISSC), transformado pela Constituição Federal de 1988 em Imposto

Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A primeira metade da década de 90 foi marcada com a existência de um

mercado negro de linhas telefônicas, que, atuando clandestinamente, dava

preferência de instalação aos consumidores que pudessem pagar cada vez mais

caro. Diante dessa nova realidade e de um futuro nada promissor, a terceirização

começou a ser praticada em 1993, mas ainda de forma tímida, até mesmo pela falta

de experiência em se lidar com esse novo fenômeno. Ademais, a partir daí, já se

aventava nos bastidores do Governo a possibilidade de privatização de todo o setor

de telecomunicações, o que freou a realização de concursos públicos para a

contratação de novos servidores. Com isso, a terceirização deixou de ser uma mera

tendência e passou a ser uma prática crescente.

Em 16 de julho de 1997, foi promulgada a Lei nº 9.472, a Lei Geral de

Telecomunicações (LGT), que criou e implantou a Anatel – Agência Nacional de

Telecomunicações, autarquia responsável pela regulação e fiscalização de um novo

sistema nacional de telecomunicações. Com a Lei Geral de Telecomunicações

foram aprovados o Plano Geral de Outorgas, o Plano Geral de Metas e a

reestruturação do Sistema Telebrás, determinando a venda das ações de

propriedade da União. Com estes procedimentos o Governo pretendia implantar a

telefonia móvel da banda B, em 1997, dividindo o território nacional em dez áreas de

concessão; privatizar o Sistema Telebrás, em 1998, dividindo a telefonia fixa em três

áreas de concessão, concentrando a longa distância numa só operadora e

repartindo a telefonia móvel da banda A em dez áreas; criar empresas-espelhos de

Page 12: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

12

telefonia fixa e de longa distância, com a concessão do serviço em 1999; e implantar

a telefonia móvel nas bandas C, D e E, formando o Serviço Móvel Pessoal (SMP).

Mas foi em 29 de julho de 1998 que se deu o passo mais importante para

a revitalização das telecomunicações no Brasil ao ser realizado na Bolsa de Valores

do Rio de Janeiro o leilão que estabeleceu a desestatização do sistema Telebrás,

apesar de todo o movimento radical contrário às privatizações. Decerto que a

desestatização do sistema nacional de telecomunicações foi positiva para a

economia do país. Abandonar o obsoleto padrão Telebrás era extremamente

necessário para adequar o sistema à realidade de concorrência em um mercado

globalizado.

A Anatel, em seu Relatório à Sociedade de 20064, divulgou que na

telefonia fixa o número de acessos instalados em 2001 foi de 47,8 milhões e

terminou o ano de 2006 com 51,2 milhões. Sem dúvida, uma excelente evolução se

comparados com os 16,5 milhões de acessos instalados em 1996, ano anterior ao

processo de privatização. No serviço móvel, a evolução foi gigantesca. Em 1996,

eram pouco mais de 2,5 milhões de acessos. Em 2001, um salto para 28,7 milhões.

Em 2006, já eram quase cem milhões de acessos em funcionamento. Houve

também considerável aumento nos serviços de televisão por assinatura (TVs a

cabo).

A divisão das áreas de concessão no processo de privatização ocorrido

em 1998 criou alguns “quase monopólios” privados na telefonia fixa. Isto porque o

processo de privatização estabelecia que, em cada área de concessão, existiriam,

ao menos, duas empresas concessionárias: uma principal, sucessora da “tele” local,

e outra, chamada “espelho”. O objetivo era garantir a concorrência comercial e a

oferta diversa de produtos e preços aos consumidores. Entretanto, na prática, isso

não funcionou, já que as “empresas-espelho” não conseguiram competir de igual

com as “teles”, já estabelecidas, com rede e maquinário instalados e à disposição

para a utilização, necessitando apenas de investimento para ampliação e

manutenção. Também não foi fácil para as “empresas-espelhos” convencer os

4 ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações. Relatório Anual da Anatel 2006. http://www.anatel.gov.br/. Link: hotsites/relatorio_anual_2006/pdf/serie_historica.pdf. Acesso em: 16/06/2010.

Page 13: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

13

consumidores a ingressar e adquirir produtos inovadores de qualidade não

comprovada e futuro duvidoso. Neste aspecto, o tradicionalismo prevaleceu e a

relutância em mudar para algo novo e desconfiável foi determinante para que as

“teles” continuassem a dominar o mercado, operando quase que exclusivamente em

suas áreas.

Para crescer e modernizar era preciso alcançar metas e reduzir as

despesas. Absorver o maquinário obsoleto das “teles”, necessitando modernizá-lo e

colocá-lo em funcionamento e à disposição da população em prazos recordes, era

um desafio a ser alcançado. Igualmente, absorver um quadro funcional inchado e

desestimulado do antigo modelo estatal era algo que não combinava com a urgência

da época. O primeiro passo natural foi diminuir o quadro de pessoal com planos de

incentivo à demissão. O segundo passo foi contratar pessoas melhor preparadas

para lidarem com os avanços tecnológicos a serem implantados na rede de

telecomunicações.

Posteriormente, numa estratégia de gestão, fez-se necessário repassar

os serviços técnicos a empresas especializadas, que pudessem se dedicar

exclusivamente à realização das atividades não consideradas inerentes e precípuas

das empresas tomadoras. Assim foi feito e, com o início do século XXI, a

terceirização de serviços ganhou uma importância maior no setor das

telecomunicações. Com um quadro enxuto, os funcionários remanescentes nas

tomadoras de serviço podem se dedicar às suas atividades preponderantes, quais

sejam traçar as estratégias da empresa, planejar investimentos, cumprir metas

estabelecidas, administrar o negócio e checar o desempenho das empresas

terceirizadas.

Obviamente que toda novidade causa impacto e chama a atenção. E,

neste caso, não foi diferente. A demissão em massa de centenas, milhares de

trabalhadores causou comoção5. Igualmente, a mudança de procedimentos,

pessoas e estrutura acarretou numa queda de qualidade, ainda que momentânea,

pois seria necessário algum tempo para a adequação, provocando grande repúdio

5 CORREIO SINDICAL MERCOSUL. Terceirização é questionada. http://www.sindicatomercosul.com.br/. Link: noticia02.asp?noticia=1078. Acesso em 05/08/2010.

Page 14: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

14

da opinião pública. O novo desafio agora era convencer o público em geral, desde

consumidores aos órgãos fiscalizadores estatais, de que a terceirização realmente

foi um procedimento necessário, que visava melhorar a qualidade do fornecimento

dos serviços e realizado de forma legítima.

Além do mais, erros foram cometidos na fase inicial do processo de

terceirização, o que contribuiu para denegrir a imagem da terceirização e das

empresas de telecomunicações. Os trabalhadores terceirizados atuavam juntamente

aos empregados das “teles”, misturando-se às suas atividades corriqueiras ou, até

mesmo, substituindo-os sem qualquer critério, perdendo, assim, a essência

fundamental do processo de terceirização que é a especialização. Neste caso, o

empregado terceirizado, ao exercer as mesmas funções dos funcionários

contratados pela tomadora de serviços está sendo utilizado como mera mão-de-

obra, sem nenhuma distinção que justifique a sua contratação, em regra, sob

menores salários e benefícios. Esse foi o grande equívoco, já que esse fenômeno

não visa simplesmente a mera substituição da mão-de-obra, mas sim a

especialização dos meios de produção, tornando-os mais técnicos e qualificados.

Outro exemplo desta situação denigrescedora foi a terceirização do

serviço de atendimento aos clientes. As empresas tomadoras de serviços

desmantelaram seus postos físicos de atendimento ao público, criando os chamados

call centers. O contato que antes era direto e pessoal passou a ser mecanizado,

realizado unicamente através de ligações telefônicas ou por computadores ligados à

internet. Com mais um paradigma quebrado, as reclamações surgiram e a falta de

costume nesse tipo de atendimento agravou a insatisfação. Afinal, como concluiu o

engenheiro Ronaldo de Andrade Martins6, o atendimento pessoal era algo bem ao

gosto do brasileiro, onde era possível se tirar dúvidas, fazer reclamações, bater papo

com as atendentes, etc. No entanto, ao telefone ou através do computador também

é possível realizar as mesmas atividades, com uma diferença básica: não é

necessário se deslocar para local algum, bastando portar um telefone, fixo ou móvel,

6 TRT 21ª Região. Laudo Pericial Sobre As Atividades Desenvolvidas Pelas Concessionárias De Serviços De Telefonia No Brasil elaborado pelo Dr. Ronaldo de Andrade Martins em 20 de julho de 2001 in Processo nº 95900-91.2000.5.21.0004. http://www.trt21.jus.br/. Link: asp/online/I1_detalheProcesso.asp?ID_PROCESSO=80767&Instancia=04&Tipo=. Acesso em 07/08/2010.

Page 15: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

15

para entrar em contato com a central de atendimento. O auto-serviço e a

mecanização são passos evolutivos no processo de modernização.

Existem empresas especializadas no treinamento e fornecimento de

serviços de call center, que prestam serviços para diversas empresas tomadoras de

serviço e são responsáveis pelo emprego de milhares de trabalhadores, que se

revezam diariamente em turnos ininterruptos. Mas, infelizmente, quando o assunto é

terceirização, a discussão sempre versa acerca do que é ou não atividade-meio e

atividade-fim, mas nunca se analisa os benefícios econômicos trazidos com a

geração de empregos e a oportunidade de especialização técnica provenientes das

empresas prestadoras de serviços.

Divergências à parte, a perspectiva do futuro das telecomunicações no

Brasil é otimista, uma vez que nos últimos anos foram tomadas medidas corajosas e

necessárias para a alteração das normas que possibilitaram o aumento na

concorrência do mercado, seja pela “invasão” de diversas operadoras em áreas

antes exploradas apenas por uma ou outra concessionária, ou pelas fusões e

aquisições entre os grupos empresariais, criando “superteles”7, financeira e

administrativamente melhor preparadas para competir no mercado brasileiro e,

quiçá, internacional.

1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO

Terceirização, vocábulo encontrado no renomado dicionário de Aurélio

Buarque de Holanda Ferreira8, consiste em transferir a terceiros atividade ou

departamento que não faz parte de sua linha principal de atuação. Terceiro, do latim

tertiariu, é toda pessoa estranha a uma relação ou ordenação jurídica. Na definição

do dicionário de língua portuguesa de Antonio Houaiss9, a terceirização é uma forma

de organização estrutural que permite a uma empresa transferir a outra suas 7 FOLHA DE SÃO PAULO. Oi anuncia compra da Brasil Telecom por R$ 5,8 bilhões. http://www1.folha.uol.com.br/. Link: folha/dinheiro/ult91u395747.shtml. Acesso em: 05/08/2010. 8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. atual. Curitiba: Positivo, 2004. p.1937. 9 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Objetiva, 2001.

Page 16: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

16

atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de recursos para sua

atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos,

economizando recursos e desburocratizando a administração, ou seja, a contratação

de terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades não

essenciais, visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à

desburocratização administrativa.

Embora a história registre a prática da terceirização de serviços em

países como a Inglaterra, França e Austrália em idos dos séculos XVIII e XIX, a

terceirização nos moldes modernos teve sua origem e disseminação nos Estados

Unidos da América durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)10, onde as

indústrias bélicas, para conseguirem suprir a demanda na produção de armamentos,

realizavam o chamado outsourcing, buscando fora do âmbito de suas empresas

terceiros prestadores de serviços, aos quais seriam delegadas determinadas

atividades de suporte, mediante contratação. Ou seja, pode-se afirmar que a

terceirização teve origem numa estratégia empresarial, cujo objetivo foi possibilitar

que a gestão da empresa pudesse focar a sua atenção às atividades principais,

deixando as demais atividades-meio sob a operação de terceiros.

No âmbito da Administração, a terceirização é uma excelente forma de

tornar a empresa mais eficiente, com redução de custos. Porém, o processo de

terceirização só se torna plenamente satisfatório quando firmado com parcerias

conscientes e planejamento adequado. Caso contrário, a utilização indevida da

terceirização pelas empresas pode acarretar em sérios problemas jurídicos,

notadamente no campo trabalhista.

Assim, a terceirização alcança o âmbito do Direito quando a escolha da

empresa contratada pela tomadora de serviços é equivocada ou quando há

deficiências na vigilância do cumprimento da prestação de serviços e dos encargos

inerentes aos contratos de trabalho dos trabalhadores terceirizados, casos em que a

empresa interposta não adimpliu com suas obrigações. Além disso, quando a

empresa contratante, ilicitamente, delega a terceiros a execução daquilo que é a sua

atividade-fim, ou seja, o seu objeto social essencial para a sua atuação empresarial,

10 CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no Direito do Trabalho. São Paulo, Malheiros, 2000, p.75.

Page 17: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

17

cabe ao Ministério Público do Trabalho fiscalizar e denunciar as irregularidades e ao

Poder Judiciário corrigir a situação danosa ao trabalhador, aplicando as sanções

legais ao contratante faltoso.

No direito comparado, observa-se que países orientais como o Japão,

Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong admitem plenamente a

terceirização, sendo que a legislação japonesa impõe a anuência do Ministério do

Trabalho para o funcionamento de empresa voltada para o fornecimento de mão-de-

obra, existindo um sindicato específico para os trabalhadores subcontratados.

Ressalta-se que a China, não só admite a terceirização, como é uma das maiores

fornecedoras internacionais de mão-de-obra terceirizada, devido ao seu baixo custo

de produção. O doutrinador Carlos Zangrando11 define países como a China, a Índia

e a Indonésia como “novos paraísos trabalhistas”, locais onde as grandes empresas,

insatisfeitas com as condições de suas localidades originais, podem transferir suas

atividades, instalando suas filiais ou todo o negócio.

Na Itália, o art. 1º da Lei nº 1.369, de 23 de outubro de 1960, proíbe a

intermediação de mão-de-obra, salvo nos casos expressos em lei:

“Art. 1. É vedado ao empresário contratar ou

subcontratar, inclusive através de cooperativas, a execução da

prestação de trabalho através da utilização de mão-de-obra

contratada e paga por terceiro contratado ou intermediador,

independentemente da natureza da produção ou do serviço

despendido. É também proibido ao empregador confiar a

intermediários, sejam eles terceirizados ou cooperados, a

realização de trabalho em obra certa (empreitada) a ser

executado por seus próprios empregados”.12 Em caso de

descumprimento, os terceirizados são considerados como

11 ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Curso de Direito do Trabalho: Tomo III. São Paulo: LTr, 2008. p.1510. 12 Legge del 23 Ottobre 1960 n. 1369. Art. 1. “È vietato all'imprenditore di affidare in appalto o in subappalto o in qualsiasi altra forma, anche a società cooperative, l'esecuzione di mere prestazioni di lavoro mediante impiego di manodopera assunta e retribuita dall'appaltatore o dall'intermediario, qualunque sia la natura dell'opera o del servizio cui le prestazioni si riferiscono. È altresì vietato all'imprenditore di affidare ad intermediari, siano questi dipendenti, terzi o società anche se cooperative, lavoro da eseguirsi a cottimo da prestatori di opere assunti e retribuiti da tali intermediari. (...)”

Page 18: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

18

empregados diretos do tomador de serviço, ou seja, o vínculo

empregatício é reconhecido imediatamente: “Os trabalhadores

contratados em inobservância às vedações previstas no

presente artigo, serão considerados, para todos os efeitos,

empregados do empresário que tenha, de fato, tomado a

prestação de seus serviços”.13

Ressalta-se que mesmo nos serviços autorizados a terceirizar pela Lei,

tais como serviços de instalação e montagem de maquinário, transportes de

funcionários, limpeza, portaria, vigilância, manutenção extraordinária e construções

edilícias na planta, a responsabilidade do tomador pelos débitos trabalhistas é

solidária ao prestador de serviços. Posteriormente, em 24 de junho de 1997, foi

instituída a Lei nº 196 que disciplina a terceirização nos chamados contratti di

fornitura di prestazioni di lavoro temporaneo, ou seja, os contratos temporários.

A França autoriza a terceirização tão-somente para a realização de

trabalho temporário, nos termos do art. L8241-1 do Code du Travail:

“Art. L8241-1. Qualquer operação de lucro, cujo único

objetivo é a cessão de mão-de-obra é proibida. Todavia, estas

disposições não se aplicam: (..) ao trabalho temporário, às

atividades de gerenciamento de trabalho autônomo (freelancers)

e à exploração de agência de modelos (...)”.14

O Ministro do Tribunal Superior do Trabalho Maurício Godinho Delgado15

assevera que na França a lei manda o tomador de serviços não só pagar aos

terceirizados os mesmos direitos do empregado diretamente contratado, como

13 Legge del 23 Ottobre 1960 n. 1369. Art. 1. “(...) I prestatori di lavoro, occupati in violazione dei divieti posti dal presente articolo, sono considerati, a tutti gli effetti, alle dipendenze dell'imprenditore che effettivamente abbia utilizzato le loro prestazioni.” 14 Code du Travail. Art. L8241-1. “Toute opération à but lucratif ayant pour objet exclusif le prêt de main-d'oeuvre est interdite. Toutefois, ces dispositions ne s'appliquent pas aux opérations réalisées dans le cadre: (...) Des dispositions du présent code relatives au travail temporaire, au portage salarial aux entreprises de travail à temps partagé et à l'exploitation d'une agence de mannequins lorsque celle-ci est exercée par une personne titulaire de la licence d'agence de mannequin (...)”. 15 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Precarização do trabalhador terceirizado preocupa TST. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIASNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10017&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=v%EDnculo%20empregat%EDcio. Acesso em: 24/07/2010.

Page 19: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

19

obriga a pagar um adicional de terceirização. Tal disposição é encontrada no art.

L8232-1 do Code du Travail:

“Art. L8232-1. Quando o tomador celebra contrato

para a execução de trabalhos ou prestação de serviços com

empreiteiro, que recruta a mão-de-obra necessária e que não é

o proprietário do negócio, o tomador respeitará, quanto aos

empregados terceirizados, a igualdade de salários e direitos em

relação aos seus próprios funcionários (...)”.16

A Espanha autoriza a subcontratação, inclusive para a prestação de

serviços ligadas à atividade-fim da empresa tomadora de serviços, mas estabelece

que é obrigatória a comunicação da subcontratação ao sindicato da categoria, bem

como só será válida e autêntica quando se verificar que, além de deter o poder de

comando e gerenciamento diretos do trabalho, a empresa subcontratada tem

atividade empresarial própria, com patrimônio e instrumental suficiente e compatível

para consecução de seus fins, nos termos do art. 42 do Real Decreto Legislativo nº

1, de 24 de março de 1995 (Estatuto de los Trabajadores):

“Art. 42. Os empregadores que contratam ou

subcontratam para a realização de obras ou serviços em suas

atividades deve fiscalizar se as empresas contratadas estão

quites com o pagamento das contribuições previdenciárias

(...)”.17

Entretanto, a lei espanhola proíbe a intermediação de mão-de-obra, salvo

nos casos de trabalho temporário, nos termos do art. 43 do Estatuto de los

Trabajadores:

16 Code du Travail. Art. L8232-1. “Lorsqu'un chef d'entreprise conclut un contrat pour l'exécution d'un travail ou la fourniture de services avec un entrepreneur qui recrute lui-même la main-d'oeuvre nécessaire et que celui-ci n'est pas propriétaire d'un fonds de commerce ou d'un fonds artisanal, le chef d'entreprise respecte, à l'égard des salariés de l'entrepreneur employés dans son établissement ou les dépendances de celui-ci et sous les mêmes sanctions que pour ses propres salariés (...)”. 17 Real Decreto Legislativo nº 1, de 24 de marzo de 1995 (Estatuto de los Trabajadores). Art. 42. “Los empresarios que contraten o subcontraten con otros la realización de obras o servicios correspondientes a la propia actividad de aquéllos deberán comprobar que dichos contratistas están al corriente en el pago de las cuotas de la Seguridad Social. (…)”

Page 20: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

20

“Art. 43. A contratação de trabalhadores com o intuito

de intermediá-los (cedê-los) a outras empresas só pode ser

efetuada através de agências de trabalho temporário,

devidamente autorizadas, nos termos estabelecidos por lei”.18

Em qualquer situação, as empresas tomadoras de serviços respondem

solidariamente às prestadoras de serviços pelos débitos trabalhistas e de

recolhimentos à Seguridade Social que contraírem no decurso da contratação.

A doutrinadora Vólia Bomfim19 assevera que países europeus como

Alemanha, Luxemburgo, Irlanda e Suíça autorizam a terceirização, mas, por não

haver regulamentação, os limites são impostos pela negociação coletiva. Na

Inglaterra ocorre da mesma forma, porém o processo de terceirização está num

estado muito mais avançado.

Em países como a Suécia, a Holanda, a Dinamarca, a Bélgica e a

Noruega, a terceirização não é proibida, mas sim a exploração abusiva da mão-de-

obra operária.

Na América do Sul, a Argentina admite a terceirização, mas proíbe a

intermediação da mão-de-obra, salvo na forma de locação temporária de

trabalhadores, existindo previsão de responsabilidade solidária entre as empresas

tomadora e a prestadora de serviços, para fins trabalhistas e previdenciários. Chile,

Colômbia e Venezuela também admitem a terceirização e estabelecem a

responsabilidade solidária entre tomador e prestador de serviços. O Peru autoriza a

terceirização, mas impõe limites.

Nos Estados Unidos, o berço do outsourcing, a terceirização é

plenamente admitida, mas percebe-se uma leve tendência do mercado atual norte-

americano em tornar própria a sua mão-de-obra, em virtude da necessidade de um

melhor controle de despesas e devido às oscilações no custo dos contratos. No

18 Real Decreto Legislativo nº 1, de 24 de março de 1995 (Estatuto de los Trabajadores). Art. 43. “La contratación de trabajadores para cederlos temporalmente a otra empresa sólo podrá efectuarse a través de empresas de trabajo temporal debidamente autorizadas en los términos que legalmente se establezcan”. 19 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008, p.500.

Page 21: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

21

México, a Ley Federal del Trabajo define a responsabilidade solidária entre tomador

e prestador de serviços.

Países da América Central como Jamaica, Costa Rica e República

Dominicana são também exemplos dos chamados “paraísos trabalhistas”. A Costa

Rica, por exemplo, tem se consolidado como um ambiente atrativo para o ramo dos

call centers internacionais, já que sua população fala fluentemente o idioma inglês,

fato que, por si só, já se torna uma grande vantagem sobre o mercado de trabalho

brasileiro e de outras localidades que não dominam esse idioma. Ademais, a recém-

criada infra-estrutura de telecomunicações, a proximidade geográfica com os

Estados Unidos e os salários e o custo de vida mais baixos ajudam na hora da

escolha pelo melhor custo-benefício ao contratar.

No Brasil, o fenômeno da terceirização ganha ênfase a partir da década

de 60, impulsionado pela indústria automobilística que passa a adquirir peças e

componentes de diversos fornecedores. No setor de telecomunicações, como já dito,

a terceirização toma corpo em meados da década de 90 e atinge o seu ápice nos

primeiros anos do século XXI. Porém, a análise que se faz é que o mercado de

trabalho brasileiro ainda carece de melhor preparação e nível técnico, pois a maioria

dos trabalhadores ainda não possui qualificação suficiente para a oferta de vagas

especializadas.

1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO

A doutrinadora Vólia Bomfim20, juíza do trabalho do Tribunal Regional do

Trabalho da 1ª Região, define a terceirização de serviços como “a relação trilateral

formada entre trabalhador, intermediador de mão-de-obra (empregador aparente,

formal ou dissimulado) e o tomador de serviços (empregador real ou natural),

caracterizada pela não coincidência do empregador real com o formal.” Na

dissertação de Sérgio Pinto Martins21, juiz do trabalho do Tribunal Regional do

20 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008. p.492. 21 MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o Direito do Trabalho. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2005, p.19.

Page 22: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

22

Trabalho da 3ª Região, a palavra terceirização é comumente substituída por alguns

doutrinadores por “terciarização”, uma vez que envolve o setor terciário, um dos três

setores da economia que abrange a comercialização de produtos e a prestação de

serviços. Destaca, ainda, que a terceirização significa a contratação de serviços de

terceiros por uma empresa para a execução de suas atividades-meio.

O doutrinador Carlos Zangrando22 define a terceirização não como um

instituto jurídico, na acepção da expressão, mas sim uma mera estratégia de

administração empresarial, através da qual uma empresa contrata e delega serviços

a terceiros, propiciando uma maior racionalidade na produção. Segundo Maurício

Godinho Delgado23, a terceirização, neologismo derivado da palavra terceiro, que

consiste em intermediário e interveniente, é um fenômeno moderno no Direito

brasileiro, só ganhando importância no Brasil nos últimos trinta anos. A própria

Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452), datada de 1º de

maio de 1943, não vislumbrou a dimensão desse fenômeno, apenas prevendo a

possibilidade de subcontratação de mão-de-obra através da empreitada e da

subempreitada, previstas no artigo 455, bem como a pequena empreitada, prevista

no artigo 652, a, III.

No final da década de 60, surgem o Decreto-Lei nº 200/67 e a Lei nº

5.645/70 que trazem em seu bojo aspectos relativos à terceirização no âmbito da

Administração Pública Direta e Indireta da União, Estados e Municípios. Somente

em 1974 surge a primeira legislação específica sobre as condições de terceirização

de mão-de-obra: a Lei do Trabalho Temporário (Lei nº 6.019/74). Posteriormente,

surgiram outras leis, como a Lei nº 7.102/83, que trata acerca do trabalho dos

vigilantes bancários, e a Lei nº 9.601/98, que trata sobre o contrato de trabalho por

prazo determinado.

Quanto às modalidades de subcontratação de mão-de-obra, Valentin

Carrión24, falecido doutrinador e juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região,

destacou, em posicionamento minoritário, a diferença destes institutos com a

22 ZANGRANDO, Carlos. Curso de Direito do Trabalho: Tomo II. São Paulo: LTr, 2008. p.1005. 23 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004, p.418-419. 24 CARRIÓN, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrión. São Paulo: Saraiva, 2008, p.306-308.

Page 23: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

23

chamada terceirização. Para o referido autor, a subempreitada consiste no repasse

daquele que se comprometeu a realizar obra certa a outra pessoa que efetivamente

irá executar, parcial ou totalmente. Já a locação de mão-de-obra, a qual equiparou a

uma falsa empreitada, os trabalhadores são colocados à disposição do empresário,

ao qual têm subordinação, relacionamento pessoal direto e habitual e estão

efetivamente inseridos em seu meio empresarial, onde a figura do locador

(contratante formal) é mera intermediária e intromissora. Tal situação caracterizaria o

chamado marchandage, expressão francesa que consiste na intermediação da mão-

de-obra de trabalhadores como se mercadorias fossem.

O marchandage é prática comercial expressamente vedada na França,

nos termos do art. L125-1, com nova redação dada pelo art. L8231-1, do Code du

Travail:

“Art. L8231-1. A intermediação de mão-de-obra,

definida como toda operação com fins de obtenção de lucros às

custas do fornecimento de trabalho operário e que tem por

consequencia causar prejuízo aos salários e direitos dos

trabalhadores ou de iludir a aplicação dos dispositivos legais ou

da aplicação das previsões contidas em convenções ou acordos

coletivos de trabalho, é proibido”25.

O doutrinador Amauri Mascaro Nascimento26 assevera que um dos

primeiros atos da Revolução Francesa foi, em 1848, proibir a intermediação da mão-

de-obra, considerada prática lesiva em virtude dos constantes prejuízos causados

aos trabalhadores assalariados.

Da mesma forma, o marchandage é proibido em diversos países, uma vez

que se trata de prática empresarial aviltante, que visa auferir maior lucro e

rentabilidade às empresas, prejudicando os direitos dos trabalhadores e reduzindo-

lhes salários e benefícios. Sendo assim, quando flagrada a intermediação de mão-

25 Code du Travail. Art. L8231-1. “Le marchandage, défini comme toute opération à but lucratif de fourniture de main-d'oeuvre qui a pour effet de causer un préjudice au salarié qu'elle concerne ou d'éluder l'application de dispositions légales ou de stipulations d'une convention ou d'un accord collectif de travail, est interdit” 26 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p.350-351.

Page 24: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

24

de-obra, as leis estrangeiras determinam a responsabilidade solidária pelo débito

trabalhista entre o tomador e o prestador de serviços contratado.

Para Carrion, o trabalho temporário, previsto na Lei nº 6.019/74, e o

trabalho do vigilante bancário, previsto na Lei nº 7.102/83, são exemplos de

marchandage presentes na legislação brasileira, embora estejam agasalhados sob

tais diplomas legais. Quanto à terceirização, ressaltou que este fenômeno resulta da

contratação de uma empresa por outra para a realização de tarefas certas e

habituais, que não estejam incluídos nos fins social desta, com a utilização de

empregados daquela. Porém, trata-se de entendimento minoritário se comparado à

vasta jurisprudência e doutrina moderna, que entendem serem estas espécies do

gênero terceirização, ou seja, não há distinção entre os institutos, pois são todas

espécies de terceirização, sendo necessário tão-somente avaliar se o caso é de

terceirização lícita ou ilícita.

Nos dias contemporâneos, a terceirização permanece sem disposição

legal. Porém, coube ao ativismo judicial regular o assunto na forma atual como é

conhecido, através de sua jurisprudência. Em 1980, o Tribunal Superior do Trabalho

editou o Enunciado da Súmula nº 256 (posteriormente Súmula nº 331, após revisão

ocorrida em 1994) tratando acerca da responsabilidade subsidiária do tomador de

serviços quando a terceirização for lícita e da formação de vínculo empregatício com

o tomador de serviços quando a terceirização for considerada ilícita, assim como a

não formação de vínculo empregatício com os órgãos da Administração Pública

direta, indireta ou fundacional, ou quando se tratar de contratação para a prestação

de serviços de vigilância, de limpeza e de serviços técnicos especializados ligados a

atividade-meio do tomador de serviços, salvo quando preenchidos os requisitos de

subordinação e pessoalidade previstos no art. 3º da CLT.

Em recente dissertação, Vantuil Abdala27, Ministro do Tribunal Superior do

Trabalho, acertadamente enfatizou que todos perdem com a ausência de normas

específicas acerca deste novo fenômeno de terceirização no Brasil. Perdem os

trabalhadores, que são as vítimas mais frágeis das fraudes praticadas pelas

27 ABDALA, Vantuil. Terceirização: Anomia inadmissível. http://www.migalhas.com.br/. Link: mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=71915. Acesso em: 23/10/2009.

Page 25: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

25

empresas prestadoras de serviços inidôneas. Perdem as prestadoras de serviços

idôneas, que passam a ser mal vistas pela sociedade em virtude da prática

degradante e predatória das empresas fraudulentas. Perdem as empresas

tomadoras de serviços, que também passam a ter uma imagem negativa perante a

sociedade em virtude dos abusos praticados pelas empresas prestadoras de serviço

inidôneas e pela insegurança jurídica sofrida com a contratação errônea destas.

Perde o Estado, que perde nas arrecadações fiscal e previdenciária, bem como se

vê obrigado a movimentar demasiadamente o seu maquinário com as freqüentes

demandas judiciais. Perdem os consumidores, que se veem diante da precarização

dos serviços e pela má qualidade em seu fornecimento.

Assiste razão ao Ministro. O Estado não pode mais se furtar em atender

aos anseios da coletividade. É preciso definir, para o bem do desenvolvimento da

economia, a segurança jurídica das relações contratuais e a harmonia entre os

valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, os critérios objetivos que se adéquem

a nova realidade do mercado brasileiro.

1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS

O art. 21, XI, da Constituição Federal de 1988, dispõe que compete à

União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os

serviços de telecomunicações, cabendo à lei dispor sobre a organização dos

serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.

Desta forma, o legislador constituinte autorizou a possibilidade de a

Administração Pública delegar a execução dos serviços de telecomunicações a

terceiros, mediante a promulgação de legislação específica sobre o assunto. Assim

ocorreu com as chamadas “teles”, sociedades de economia mista criadas para

gerenciar e executar os serviços de telefonia e telecomunicações no Brasil, e a

Telebrás, o órgão governamental criado para regular e fiscalizar o sistema.

Com o processo de privatização iniciou-se a desestatização das “teles”,

que, através de leilão público, passaram a ser controladas pela iniciativa privada,

Page 26: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

26

pondo fim ao sistema Telebrás e criando a Anatel (Agência Nacional de

Telecomunicações). Esse foi o grande marco para o início do processo de

terceirização de mão-de-obra na área de telecomunicações no Brasil nos moldes

atuais. Isto porque, antes das privatizações, o Poder Público já utilizava mão-de-

obra terceirizada nesta área, mas apenas de forma eventual e para suprir as

necessidades previstas em lei.

A terceirização permanente de mão-de-obra operária é um fenômeno

mundial que surgiu até tardiamente no Brasil, pois já era habitualmente utilizada pelo

mundo afora. Com ela as empresas objetivavam reduzir custos, aumentar os lucros

e a produtividade e ter maior eficiência técnica. Entretanto, a terceirização é um

processo que, se não for implantado de forma correta e organizada, pode causar

diversos estragos, tais como o repentino desemprego em massa, o desequilíbrio na

ordem econômica, a precarização dos serviços e o desrespeito aos direitos dos

trabalhadores.

Muitas empresas, com o intuito de obter lucro rápido e para se firmarem

no mercado, demitiram seus funcionários próprios e optaram pela contratação de

empresas prestadoras de serviços para que estas lhes fornecessem mão-de-obra

terceirizada para a execução de serviços concedidos pelo Poder Público, o que lhes

diminuiu sobremaneira os encargos trabalhistas, repassando esta responsabilidade

a terceiros.

Decerto que, em tese, a diminuição do quadro de pessoal visava facilitar à

administração e ao gerenciamento da empresa, reduzindo a tão conhecida e, muitas

vezes, desnecessária sobrecarga do maquinário público. Porém, o grande erro

praticado pelas empresas concessionárias foi a escolha de empresas prestadoras

de serviços inadequadas e sem estrutura financeira para suportar as obrigações

perante seus empregados, fornecedores e o próprio Estado.

Assim, com contratações temerárias, os direitos trabalhistas preconizados

no art. 7º da Constituição Federal, foram colocados em risco, pois se tornaram

direitos constitucionais sem garantias efetivas, uma vez que os prejudicados

trabalhadores não teriam a quem cobrar a dívida, já que eles eram empregados de

Page 27: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

27

empresas sem idoneidade e solidez financeira e prestavam serviços para empresas

concessionárias que sequer os conheciam.

Desta forma, foi preciso encontrar soluções legais e políticas para a

adequação deste novo cenário no direito do trabalho contemporâneo. Diversos

foram os entendimentos a respeito do tema. Coube até mesmo ao Judiciário inovar,

ao legislar acerca da responsabilidade subsidiária dos tomadores de serviço e do

vínculo empregatício direto com aqueles que terceirizam a própria atividade-fim de

seus objetos sociais, nos termos da Súmula nº 331 do Colendo Tribunal Superior do

Trabalho.

Para alguns, tal ativismo judicial é extremamente necessário para

respaldar e garantir os direitos dos trabalhadores diante de um panorama, até então,

incerto e duvidoso de precarização do trabalho. Para outros, se trata de nítida

usurpação de competência legislativa, afrontando o Princípio da Separação dos

Poderes preconizado por Montesquieu28 e ofendendo os arts. 22, IV, e 48, XII, da

Constituição Federal.

As operadoras de telefonia, orientadas por uma lógica de enxugamento

de quadros e aumento de produtividade, passaram a terceirizar cada vez mais suas

atividades, chegando ao momento atual em que apenas gerenciam e monitoram as

empresas que prestam o serviço terceirizado para elas. As atividades de instalação

e manutenção de rede, operação virtual de rede, comercialização de serviços, tele

atendimento, dentre outras, foram terceirizadas em sua maioria.

Outro aspecto já mencionado é o fato de serviços públicos, que são

delegados a empresas concessionárias, serem por estas repassados, sem licitação

oficial, a terceiros prestadores de serviços para a sua efetiva execução. Tal situação,

em princípio, pode aparentar uma fraude, mas é exaustivamente defendida pelas

empresas concessionárias, que alegam a validade da terceirização, amparados pela

Lei Geral das Telecomunicações (Lei nº 9472/97). Há um nítido conflito de

competência entre a norma constitucional e uma lei infraconstitucional específica.

28 MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Baron de. Do espírito das leis - De l'esprit des lois, ou du rapport que les lois doivent avoir avec la constituin de chaque gouvernement, les moeurs, le climat, la religion, le commerce, etc. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.

Page 28: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

28

Em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn nº 1.668) proposta em 09

de setembro de 1997 pelo Partido Comunista do Brasil – PC do B, pelo Partido dos

Trabalhadores – PT, pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT e pelo Partido

Socialista Brasileiro – PSB contra dispositivos da Lei Geral das Telecomunicações29,

foi alegada a inconstitucionalidade dos artigos 119 e 210, que preveem a

simplificação no procedimento de licitação e a regência exclusiva da referida Lei nos

procedimentos de concessão, permissão e autorização de serviço de

telecomunicações e uso de radiofrequência, bem como as respectivas licitações,

não se aplicando, assim, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 (Institui normas

para licitações e contratos da Administração Pública), a Lei nº 8.987, de 13 de

fevereiro de 1995 (Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação

de serviços públicos) e a Lei nº 9.074, de 07 de julho de 1995 (Estabelece normas

para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos).

O fundamento da alegação de inconstitucionalidade do artigo 210 baseia-

se no fato de que a Lei pretende inovar ao criar um procedimento licitatório

“simplificado”, inexistente na Lei de Licitações e que, por isso, vai de encontro ao

estabelecido nos artigos 21, XXVII, e 175 da Constituição Federal, que determinam

que as outorgas de serviço público, mediante concessão ou permissão, devem

obedecer ao prescrito na norma geral de licitação fixada pela União e que nenhuma

nova modalidade pode ser editada sem o aspecto da generalidade. Desta forma, sob

essas alegações, a Lei Geral das Telecomunicações teria atribuído um aspecto de

especialidade a uma norma que deveria ser genérica. O Tribunal, por votação

majoritária, indeferiu o pedido de suspensão cautelar de eficácia do art. 210 da Lei

nº 9.472/97, mas acolheu o pedido de medida cautelar, por votação unânime, para

suspender até a decisão final da ação a execução e aplicabilidade das expressões

"simplificado" e "nos termos por ela regulados" contidas no art. 119. A ADIn ainda

está pendente de julgamento definitivo.

A Constituição Federal, em seu art. 5º, XIII, define que é livre o exercício

de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações

profissionais que a lei estabelecer. Poder-se-ia, então, interpretar esse dispositivo 29 STF; Tribunal Pleno; Relator: Ministro Marco Aurélio de Mello; ADI nº 1.668; julgado em 20/08/1998. http://www.stf.jus.br/. Link: portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1682731. Acesso em 21/07/2010.

Page 29: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

29

como uma autorização ilimitada para o exercício de atividades lícitas inerentes à

administração de uma empresa. Porém, tal situação sofre limitação no próprio

mandamento constitucional quando se observa no art. 170 que o legislador

constituinte determinou que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho

humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social. Trata-se da análise principiológica acerca da

precariedade na utilização do trabalho humano, ou seja, consoante o disposto no art.

193 da Constituição Federal, que estabelece o primado do trabalho como base para

a ordem social e bem estar e justiça sociais como seus objetivos, o empregador

deve, ao instituir a sua metodologia de trabalho, observar e garantir a dignidade e a

boa condição de existência de seus empregados, sob pena de ter considerada sua

atividade como ilícita. Tal fato é um dos temas centrais na discussão acerca da

licitude da aplicação da terceirização no mercado de trabalho.

Nesse entendimento de precarização do trabalho em virtude da prática de

terceirização ilícita, tem-se a premissa do doutrinador José Martins Catharino30 de

que o trabalho humano subordinado não pode nunca ser taxado e tratado como uma

mera mercadoria. O filósofo belga-polonês Chaïm Perelman31 definia a Justiça como

“um princípio de ação segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial

devem ser tratados da mesma forma.” Em uma de suas concepções, tem-se que a

justiça concreta é como a cada qual segundo suas necessidades, ou seja, apesar de

exigir o tratamento igual entre todos, aqueles que se encontram em situação

precária, carecendo de condições consideradas como um mínimo vital, devem ter

um tratamento diferenciado. Esta concepção, profundamente inserida na legislação

contemporânea, não leva em consideração os méritos dos indivíduos ou os seus

produtos, mas tenta reduzir os sofrimentos de que resultam da impossibilidade em

que o homem se encontra de satisfazer suas necessidades essenciais. Pode-se

afirmar que o conceito de justiça social derivou desta concepção, pondo em xeque a

economia liberal onde o trabalho é assimilado a uma mercadoria32.

30 CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Salário. ed. fac-similada. São Paulo: LTr, 1994. p.71-78. 31 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.19. 32 PERELMAN, Chaïm, op. cit., p.11.

Page 30: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

30

O Procurador Federal do Trabalho Rodrigo Carelli33 afirma que a

intermediação de mão-de-obra, por si só, causa séria e grave ruptura no sistema

jurídico-trabalhista, acostumado e moldado a relações em que figuram apenas

empregado e empregador. A interveniência de uma terceira pessoa na relação de

trabalho vai de encontro a diversos aspectos basilares da estrutura trabalhista, tais

como a confiança entre o empregador e seus comandados, ou o conhecimento

pessoal do trabalhador para a realização da atividade, ou a imediata subordinação

jurídica no vínculo de trabalho, com a fiscalização exercida diretamente por aquele

que detém factualmente a ingerência sobre o serviço praticado pelo trabalhador.

O administrador e consultor Ermínio Alves de Lima Neto34 questionou a

atuação do Ministério Público do Trabalho no combate à terceirização, taxando-a de

meramente ideológica, uma vez que não se funda em critérios objetivos e

estatísticos, mas apenas no simples desejo de não permitir a todo custo o avanço da

terceirização, a despeito de qualquer pretexto. O Direito do Trabalho deve ser

flexível, não podendo ser inimigo da modernidade e do progresso, com visões

extremadamente paternalistas, sob pena de condenar ao regresso a ordem

econômica do país.

Na visão de Ermínio Alves35, as empresas prestadoras de serviços a

terceiros desempenham atividade essencial na economia, proporcionando maior

empregabilidade e cidadania aos trabalhadores que têm em seus respectivos

segmentos de atuação a oportunidade de crescimento e qualificação profissionais.

Além disso, percebe-se que a terceirização não é apenas um contrato formal, mas

sim um sentimento de cooperação, parceria e confiança mútua entre o tomador e o

prestador de serviços, pois, na relação, se um perde, ambos saem perdendo.

É inegável que, com a privatização, o sistema de telecomunicações

conheceu a sua fase mais próspera, alavancando a produção de tecnologia e o

fornecimento de serviços, possuindo um importante papel na economia brasileira.

33 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra: ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.150-154. 34 LIMA NETO, Ermínio Alves de. Blog da Terceirização. Ministério Público do Trabalho, temerariamente, tem tratado a questão da terceirização pelo viés ideológico. http://www.terceirizacao.blog.br/. Link: 2010/03/ministerio-publico-do-trabalho.html. Acesso em: 20/07/2010. 35 Id. Ibid.

Page 31: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

31

Na mesma proporção em que a terceirização em nada influenciou de negativo nesse

processo de crescimento. Pelo contrário, com as empresas tomadoras

financeiramente enxutas e rentáveis, as prestadoras de serviços puderam adquirir

contratos mais rentáveis e expandir os seus quadros funcionais. É questão de

lógica: na medida em que a demanda aumenta, a oferta também aumenta, e os

postos de trabalho tendem obrigatoriamente a acompanhar esse crescimento, sob

pena de não se prestar um serviço de qualidade e eficiência. Em um mercado tão

competitivo como o das telecomunicações, ser taxada de ineficiente e desqualificada

é um suicídio para os negócios de qualquer empresa.

CAPÍTULO II

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES

A Constituição da República Federativa do Brasil prevê, nos artigos 7º e

8º, direitos e garantias dos trabalhadores, tais como a proteção contra dispensa

arbitrária, a irredutibilidade de salário, o seguro-desemprego, o Fundo de Garantia

por Tempo de Serviço, o salário mínimo, a associação profissional e sindical, a

aposentadoria, a não discriminação salarial, as férias, entre outros. Infelizmente,

algumas empresas ardilosamente se utilizam do expediente da terceirização para se

verem livres de obrigações e encargos legais e, assim, aviltar direitos trabalhistas.

O doutrinador Amauri Mascaro Nascimento36, citando o jurista mexicano

Mario de la Cueva y de la Rosa, afirma que com a prática da terceirização e do

marchandage há, naturalmente, a precarização de determinados direitos

trabalhistas, uma vez que, para a realização da intermediação, necessariamente

parte do valor pago pelo tomador fica retido pelo prestador de serviços, que dali

deduz o seu lucro, o que acarreta num repasse inferior ao trabalhador terceirizado.

Logo, neste entendimento, o salário do terceirizado é reduzido em cotejo com os

demais empregados da mesma categoria. Desta análise, corrobora o Procurador do

36 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p.350-351.

Page 32: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

32

Trabalho Rodrigo Carelli37, ao deduzir que se torna impossível existir a aventada

justificativa de redução de custos ao terceirizar determinado serviço, uma vez que,

do pagamento realizado pela tomadora deve constar necessariamente o valor a ser

repassado ao trabalhador pelo labor desempenhado, os encargos tributários e o

lucro auferido pelo prestador de serviços, pois, do contrário, alguém nesta relação

estaria levando prejuízo.

Por certo há vantagens na terceirização de serviços, o que não implica

necessariamente em dizer que alguém está sendo prejudicado nesta relação. As

empresas terceirizadas têm organização própria e independência jurídica e fiscal,

com empregados próprios regidos pelas leis trabalhistas vigentes. Trata-se de um

contrato, tanto no que concerne à relação entre empresa tomadora e empresa

prestadora de serviços, quanto à relação havida entre a empresa empregadora e o

seu empregado, onde as partes estipulam os valores que atendem aos seus

interesses. O custo de um empregado terceirizado pode até ser menor, mas isso

deriva da livre negociação entre as partes no ato do contrato de trabalho. Para isso a

lei determinou a participação e atuação sindical: para que se estabelecesse a livre

negociação coletiva e a devida fiscalização em defesa dos interesses dos

trabalhadores.

Por falar em representação sindical e livre negociação coletiva, a juíza

Vólia Bomfim38 destaca que não há exigência legal para a existência de isonomia

salarial entre empregados contratados pela empresa prestadora de serviços e os

funcionários da tomadora, tanto que a própria CLT, em seu art. 461, veda a

equiparação salarial entre trabalhadores de empresas distintas, salvo quando

comprovada a irregularidade da terceirização e, por conseqüência, o

reconhecimento da vinculação direta com a empresa tomadora de serviços. Neste

caso, o trabalhador terceirizado estaria autorizado a se equiparar ao funcionário da

empresa tomadora de serviço, bem como a pleitear o reenquadramento sindical com

o sindicato de categoria relativo à atividade desenvolvida pela tomadora de serviço,

desvinculando-se, por conseguinte, do sindicato relacionado com a atividade

37 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra: ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.168-170. 38 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008.p.524.

Page 33: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

33

desenvolvida pelo seu empregador aparente (prestador de serviços), que, em regra,

tem normas e benefícios menos favoráveis ao trabalhador.

Um exemplo claro da distorção acerca do enquadramento sindical no

setor de telecomunicações é o fato de os funcionários da empresa tomadora de

serviços estarem vinculados ao Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações

– Sinttel, enquanto que os trabalhadores terceirizados são vinculados aos sindicatos

relacionados com a atividade profissional que a prestadora de serviços tem em seu

objeto social, que nem sempre é o ramo das telecomunicações. Assim, ficam os

trabalhadores terceirizados representados por entidades sindicais que não

correspondem efetivamente às atividades desenvolvidas por eles na prestação do

serviço, que, em regra, possuem normas e benefícios coletivos menos favoráveis ao

trabalhador, muitas vezes sequer prevendo a existência de salários normativos

específicos ao cargo ocupado.

Entretanto, em recente posicionamento39, a Sexta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade, admitiu o enquadramento sindical do

empregado de empresa prestadora de serviços na categoria a que estão vinculados

os trabalhadores da empresa tomadora de serviços em casos de terceirização,

mesmo quando o trabalhador não teve o vínculo empregatício reconhecido

diretamente com o tomador. Desta forma, uma vez comprovado que o empregado

prestava serviço terceirizado ao lado de empregados da tomadora dos serviços, em

funções ligadas à atividade-fim desta, justifica-se o enquadramento sindical na

categoria profissional da tomadora, ainda que esteja formalmente vinculado ao

sindicato da empresa prestadora de serviços. Trata-se da invocação do princípio da

primazia da realidade, onde o TST reconheceu que o enquadramento sindical ocorre

em virtude do exercício efetivo da função do trabalhador e não conforme a atividade

preponderante do empregador, como haviam entendido os órgãos julgadores das

instâncias inferiores vinculados ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que

se basearam tão-somente nos termos do artigo 581, § 2º, da CLT, em prejuízo ao

direito do operário. Pode parecer uma possível e radical mudança de entendimento,

39 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Terceirização permite enquadramento sindical diferente da empresa prestadora de serviços. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10692&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=terceiriza%E7%E3o. Acesso em: 23/07/2010.

Page 34: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

34

mas o certo é que, até o momento, o posicionamento majoritário não admite tal

inovação jurídica.

Existem duas situações atípicas à regra das terceirizações: quando o

tomador de serviços se utiliza de cooperativas para a intermediação de mão-de-obra

e quando a empresa prestadora de serviços subcontrata outra empresa para a real

execução dos serviços, na chamada “quarteirização”.

As cooperativas são definidas por Carrión40 como o conjunto de

trabalhadores autônomos, livres para contratar e não subordinados, que oferecem

seus serviços profissionais, individualmente ou em grupo, rotativamente e sem

exclusividade, a terceiros interessados na prestação destes serviços. Aduz ainda

que as remunerações sejam repartidas entre eles e proporcionais ao esforço

promovido por cada um.

O art. 3º da Lei nº 5.764/71 dispõe que não há interesse econômico nas

cooperativas. O mesmo diploma legal estabelece que, por ser uma ação conjunta de

esforços, cujos resultados são repartidos entre os cooperados, as decisões devem

ser tomadas em assembleias, nas quais todos têm o direito e o poder de voto.

Porém, quando a cooperativa não segue os preceitos legais e os cooperados são

tratados como empregados, estando presentes os requisitos da relação de emprego

da subordinação, onerosidade, pessoalidade e habitualidade, torna-se uma fraude e

é admissível que se peça judicialmente o reconhecimento do vínculo empregatício

com a cooperativa ou, até mesmo, com o próprio tomador de serviços, uma vez que

a cooperativa nada mais é, neste caso, que uma empresa interposta mascarada.

Para tanto, não há que se falar em não preenchimento do requisito onerosidade,

uma vez que, flagrada a burla e tida como fraudulenta a terceirização, é verossímil

que o pagamento é oriundo dos cofres do tomador de serviços, ainda que sofra

intermediação e repasse da cooperativa.

No caso das empresas quarteirizadas, estas são subcontratadas pela

empresa prestadora de serviços para a execução de serviços acessórios ao contrato

de prestação com a tomadora ou, em alguns casos, a execução do próprio objeto 40 CARRIÓN, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p.285.

Page 35: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

35

contratual. Desta forma, ampliam-se ainda mais os sujeitos na relação de trabalho.

Com isso, aumenta a dificuldade de fiscalização por parte da tomadora de serviços

e, consequentemente, aumenta o risco de inadimplência das obrigações trabalhistas

e fiscais por parte das prestadoras de serviço. A situação piora quando, como ocorre

em muitos casos, a Carteira de Trabalho dos trabalhadores sequer é anotada.

Observa-se que, no setor de telecomunicações, a quarteirização é admitida quando

realizada em tarefas inerentes, por exemplo, à construção civil, tais como a fixação

de postes, construção de galerias subterrâneas para a futura passagem de cabos

telefônicos, etc., desde que ocorrida com a anuência da empresa tomadora de

serviços.

Sem um contrato de trabalho anotado em sua CTPS, o trabalhador não

tem garantidos os seus direitos básicos, tais como o direito a receber o aviso prévio

pela dispensa imotivada, a contagem para o tempo de serviço no FGTS e o efetivo

recolhimento de valores fundiários e previdenciários, etc. Tal situação, além de

ilegal, viola o princípio da dignidade da pessoa humana, preconizado no art. 1º, III,

da Constituição Federal. Garantir o mínimo existencial é dever de todo aquele que

exerce a atividade empresarial, atuando como empregador. Trata-se da função

social negocial, onde não se pode confundir a competitividade, a excelência da

qualidade do serviço prestado e a redução de custos com a retirada de direitos

basilares do trabalhador.

Ressalta-se que quanto ao recolhimento das cotas fiscais, o art. 31 da Lei

nº 8.212/91, com redação modificada pela Lei nº 9.711/98, prevê que o tomador de

serviços deve efetuar a retenção prévia na fonte dos valores aos quais o prestador

de serviços é obrigado a recolher a título de contribuição previdenciária de seus

empregados, ou seja, o tomador de serviços deve reter onze por cento do valor

bruto da nota fiscal ou fatura da prestação de serviços da empresa terceirizada.

Quanto ao ambiente de trabalho, este deve ser salutar e propício para o

desempenho das atividades laborais. A CIPA – Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes, instituída pela Norma Regulamentadora nº 04 do Ministério do Trabalho,

visa treinar os trabalhadores para que eles próprios atuem como guardiões das

regras de segurança e saúde no ambiente de trabalho. Para isto, a própria

Page 36: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

36

Constituição Federal garantiu estabilidade aos empregados eleitos para atuarem na

CIPA, os chamados “cipeiros”, para que, com isso, tenham liberdade de ação e não

sofram coações ou interferências em suas atuações por parte de empregadores não

cumpridores de seus deveres.

É certo que as grandes empresas, em regra, tomadoras de serviços,

possuem CIPAs devidamente instituídas em seus postos de trabalho e têm

elaborados seus Programas de Prevenção de Riscos Ambientais e Programas de

Controle Médico de Saúde Ocupacional, conforme determina o Ministério do

Trabalho. Entretanto, para a execução de trabalhos terceirizados, as empresas

prestadoras de serviços também têm que estar adequadas a essas estruturas, sob

pena de precarizar o meio ambiente do trabalho.

Como visto, a empresa que resolve terceirizar seus serviços deve ser

atuante no sentido de fiscalizar a sua contratada prestadora de serviços, garantindo

assim a eficiência e observância dos direitos e garantias dos trabalhadores. Ou seja,

não basta apenas repassar a execução dos serviços para terceiros, pois a tomadora

não pode ser omissa, já que é seu dever acompanhar e fiscalizar a empresa eleita

por ela como sua prestadora de serviços, tomando as medidas cabíveis quando

apurar irregularidades.

2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS

A Lei nº 9.472/97, conhecida como a Lei Geral de Telecomunicações –

LGT, dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações no Brasil e a

criação e funcionamento de um órgão regulador para este setor. Ela traz alguns

pontos controversos em seu texto, que geram dúvida e discussão doutrinária e

jurisprudencial.

O art. 60, § 1º, da LGT, define que telecomunicações são a transmissão,

emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro

processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons

Page 37: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

37

ou informações de qualquer natureza. Daí nasce a discussão acerca da extensão do

que seria a atividade-fim de uma empresa de telecomunicações.

Numa análise do sentido de atividade-fim, pode-se entender que o

objetivo de uma empresa de telecomunicações é garantir a conectividade de seus

usuários. A operação ou manutenção de redes, metálicas ou de fibras óticas,

centrais telefônicas, satélites, sistemas físicos e infra-estrutura são atividades-meio

para o alcance desta finalidade. A lei brasileira parece não ter evoluído no sentido de

compreender que o conceito de empresa, nos moldes modernos, se tornou muito

mais amplo no sentido de gestão, não sendo apenas um mero comércio, mas sim

uma atividade de administração e gerenciamento em larga escala de estratégias de

mercado e metas de planejamento.

O texto do art. 94, II, da Lei, também estabelece que, nos limites e

condições impostos pela Agência Reguladora, a concessionária, no cumprimento de

seus deveres contratuais, pode contratar terceiros para a execução de atividades

inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a implementação

de projetos associados. No dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a

palavra inerente consiste em tudo aquilo que está inseparavelmente ligado a alguma

coisa ou pessoa. Logo, não há dúvidas de que o dispositivo legal autoriza a

contratação de empresas terceirizadas para a execução de projetos e serviços, não

só os de atividade-meio (acessórios e complementares), mas como também

daquelas inerentes ao objeto do contrato da empresa de telecomunicações

tomadora de serviços, ou seja, a própria atividade-fim.

Em contraponto ao que dispõe a Lei Geral de Telecomunicações, a

jurisprudência majoritária entende duas situações em que o contrato de trabalho

celebrado com a empresa interposta é nulo e o vínculo empregatício deve ser

reconhecido diretamente com a tomadora de serviços: 1) quando a empresa

tomadora de serviços terceiriza a própria atividade-fim e coloca em sua execução

trabalhadores contratados pela prestadora de serviços, e 2) quando os

trabalhadores contratados pela empresa prestadora de serviços está subordinado

diretamente aos prepostos da tomadora de serviços, estando presentes os requisitos

previstos no art. 3º da Consolidação das Leis Trabalhistas ensejadores da relação

Page 38: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

38

de emprego. Tais decisões se amparam na Súmula nº 331, I, do Colendo Tribunal

Superior do Trabalho, que declara ilegal a intermediação de mão-de-obra.

Com isso, a jurisprudência parece ter dado um aviso às empresas de

telecomunicações: a terceirização só é admitida na contratação de empresa

especializada em atividades paralelas ou de suporte à atividade-fim, e não para que,

de maneira distorcida, haja a substituição total dos empregados próprios por outros

oriundos de empresa interposta. Ou seja, a terceirização não existe para mascarar o

real e fraudulento objetivo de reduzir salários e encargos trabalhistas, através da

contratação de pessoal por intermédio de empresas especializadas.

Diante disso, poder-se-ia entender que a Súmula nº 331, III, do TST, veda

quase que totalmente a terceirização no Brasil, sendo a única forma de terceirização

efetivamente admitida no Brasil a contratação de trabalho temporário, nas atividades

de vigilância, conservação e limpeza, bem como nos serviços especializados ligados

à atividade-meio da empresa tomadora. Entretanto, não é isso que se observa com

a evolução histórica do tema. Nota-se que, apesar de tal posicionamento

jurisprudencial recente, o sistema jurídico trabalhista brasileiro vem se flexibilizando

e admitindo cada vez mais a possibilidade de as empresas terceirizarem seus

serviços. Do texto da Súmula nº 256 do TST, cancelada pela Resolução nº 121 do

TST, em 19 de novembro de 2003, o juiz Sérgio Pinto Martins41 verifica um rigor

exacerbado na quase proibição da interposição de mão-de-obra, razão pela qual

nunca foi levada ao pé da letra pelos magistrados, que sempre procuraram abrandar

a sua aplicação, utilizando-a tão-somente nos casos de flagrante fraude.

Assim, aparece a dúvida acerca do que é, objetivamente, a atividade-fim

de uma empresa de telecomunicações e o que é um caso de flagrante fraude. Para

a jurisprudência, a afirmativa expressa no art. 60, § 1º, da LGT, já é uma prévia

confissão de que fazem parte da atividade-fim das empresas de telecomunicações

quaisquer recursos para a transmissão, emissão ou recepção de sons, sinais, dados

e imagens, inclusive todo o processo de implantação, instalação e manutenção da

rede. Já as empresas de telecomunicações se defendem afirmando que tal

41 MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2005. p.127.

Page 39: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

39

posicionamento é muito simplório diante da complexidade de um sistema em

constante evolução tecnológica e dos novos conceitos de administração em um

mundo globalizado. Desta forma, a atividade-fim das empresas de telecomunicações

nada mais seria que o gerenciamento e o planejamento dos serviços e atividades a

serem ofertadas aos usuários e toda e qualquer operação é mera atividade-meio,

uma vez que o objetivo principal e preponderante é administrar a prestação e o

provimento do acesso ao serviço de telecomunicações.

O doutrinador J. C. Mariense Escobar42 destaca a abrangência da

definição legal e entende que não existe prestação do serviço de telecomunicações

sem o concurso de uma série de trabalhos, técnicas e equipamentos, que são

empregados exclusivamente para viabilizar a comunicação à distância. Da mesma

forma, entendem a doutrina e a jurisprudência majoritárias ao estabelecer que a

oferta do serviço de telecomunicações depende de todo o conjunto de atividades

operacionais, desde a implantação da rede de acesso até a manutenção dos

terminais já instalados, sendo, portanto, parte integrante de sua atividade-fim. Logo,

se o trabalhador terceirizado laborou, com exclusividade, para a tomadora de

serviços, beneficiária única dos serviços prestados por ele, e o mister então

desenvolvido se acha inserido na atividade-fim, habitual, necessária e permanente

ou atividade laboral integrante do processo produtivo da tomadora de serviços, é

pertinente o reconhecimento do vínculo empregatício diretamente com esta. Tal

entendimento está em manifesta dissonância com o texto da Lei Geral de

Telecomunicações.

Antes do advento da LGT, a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, já

dispunha acerca do regime de concessão e permissão da prestação de serviços

públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal. O mandamento constitucional

determina que incumbe ao Poder Público e suas concessionárias ou permissionárias

a prestação de serviços públicos, obrigatoriamente mediante licitação. O art. 25 da

Lei nº 8.987/95 (Lei das Concessões) autoriza que as empresas concessionárias,

originalmente responsáveis pela execução do serviço, repassem a terceiros,

mediante contrato, o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou

42 ESCOBAR, João Carlos Mariense. O Novo Direito de Telecomunicações. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999, p.24.

Page 40: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

40

complementares ao serviço concedido, bem como a implantação de projetos

associados.

Consonante ao entendimento do Ministro do Tribunal Superior do

Trabalho Aloysio Corrêa da Veiga43, as empresas não devem se abster de terceirizar

seus serviços se existe norma legal autorizando tal prática. Ademais, não há motivos

para a proibição da terceirização de serviços, já que o que deve ser combatido é a

precarização. Na mesma sessão de julgamento, o Ministro Presidente do Tribunal

Superior do Trabalho Milton de Moura França44 asseverou que a terceirização não é

nociva, desde que observados os requisitos de fiscalização, controle e proteção do

trabalhador. A grande ofensa à dignidade da pessoa humana é a falta de empregos

e oportunidades, sendo certo que a precarização inexiste se os direitos trabalhistas

são respeitados.

2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO

De um lado, há uma lei específica sobre a organização dos serviços de

telecomunicações no Brasil (Lei nº 9.472/97) que, numa interpretação favorável às

empresas de telecomunicações, autoriza a delegação da execução das atividades

meio e fim a terceiros especializados. Do outro, uma Súmula editada pelo Tribunal

Superior do Trabalho (Súmula nº 331) que estabelece limites ao fenômeno moderno

de terceirização, matéria que ainda sofre de anomia em virtude de uma inexplicável

inércia legislativa.

É notório que Súmula é um conjunto de reiterados acórdãos proferidos

por um mesmo Tribunal que visa uniformizar a interpretação acerca de um preceito

jurídico em tese. Sua aplicação não é obrigatória, mas tem efeito persuasivo nas

demais decisões judiciais. É, portanto, editada por um órgão membro do Poder

Judiciário, que encontra amparo no art. 8º da CLT para legislar com base em sua

43 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: SDI-1 julga irregular terceirização nas Centrais Elétricas de Goiás. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=9288&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=negocia%E7%E3o. Acesso em: 28/07/2010. 44 Id. Ibid.

Page 41: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

41

jurisprudência acerca de um tema, na falta de disposições legais. Já a Lei é a norma

escrita e elaborada pelo Poder Legislativo, através da qual as regras jurídicas são

criadas, modificadas ou extintas. Segundo o doutrinador Paulo Nader45, a lei é ato

emanado pelo Poder Legislativo, estabelecendo preceito comum e obrigatório,

voltado para atender os interesses do povo e cujas características substanciais são

a generalidade, abstratividade, bilateralidade, imperatividade e coercibilidade.

A Lei autoriza, indiscriminadamente, a utilização da terceirização no setor

de telecomunicações. A Súmula e a jurisprudência majoritária impõem restrições

severas a tal prática. O doutrinador Miguel Reale46, assevera que os juízes devem

interpretar a lei para aplicar o Direito, procurando extrair dela aquilo que a sociedade

realmente espera para a solução dos conflitos. A lei jurídica procura se adaptar à

realidade e aos anseios da população, na busca pela justiça. Talvez por isso o

ativismo judicial seja tão aceito na Justiça do Trabalho, uma vez que o julgador deve

se ater aos princípios constitucionais de proteção das relações de trabalho e dos

direitos do trabalhador, bem como aos princípios norteadores do Direito do Trabalho,

como a prevalência da norma e condição mais favoráveis ao trabalhador e a

interpretação in dubio, pro operario. Desta forma, justifica-se que a interpretação

judicial seja, em muitas vezes, tão favorável ao trabalhador, buscando proteger e

garantir o hipossuficiente e afastar da letra fria da lei qualquer intenção prejudicial

aos seus direitos.

Quem defende o ativismo judicial argumenta que não se trata de

usurpação de competência, uma vez que os Poderes têm funções preponderantes,

mas que não são exclusivas. A tripartição dos Poderes, conceito esboçado por

Aristóteles47, idealizado por Nicolau Maquiavel48 e celebrizado por John Locke49 e

Montesquieu50, separou a organização do Estado em três Poderes, independentes e

45 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.139-141. 46 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27 ed. ajustada ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002, p.167. 47 ARISTÓTELES. A Política (La politique). Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2002. 48 MACHIAVELLI, Nicolò. O Príncipe (Il Principe). Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. 49 LOCKE, John. Dois Tratados sobre o Governo Civil (Two Treatises of Government). Tradução de Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 50 MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Baron de la Bréde et de. Do espírito das leis - De l'esprit des lois, ou du rapport que les lois doivent avoir avec la constituin de chaque gouvernement, les moeurs, le climat, la religion, le commerce, etc. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.

Page 42: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

42

harmônicos entre si, nos termos do art. 2º da Constituição da República federativa

do Brasil, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, e lhes concedeu funções próprias

e distintas. Entretanto, a própria Carta Magna previu situações em que os Poderes

poderiam sair dos limites de suas funções típicas, haja vista que estas são

autônomas, mas não absolutas. É com este fundamento que o Poder Judiciário

encontra legitimidade para intervir em função tipicamente legislativa e assegurar a

concretização de direitos e demandas sociais através da interpretação

principiológica.

O Ministro Maurício Godinho Delgado51, criador da teoria da subordinação

estrutural, defende que esta ocorre quando o trabalhador é inserido na dinâmica e

organização estrutural de trabalho do tomador de serviços, independentemente do

recebimento ou não de ordens diretas desta. Com isso, a subordinação estrutural

não se limitaria a verificar apenas se há o recebimento pelo trabalhador de ordens

diretas dadas pelos prepostos do tomador de serviços, mas sim de analisar toda a

estrutura organizacional da terceirização, que, inevitavelmente, expõe o trabalhador

terceirizado aos ditames e regramentos da empresa tomadora de serviços, seja

através de seus métodos e dinâmicas de trabalho, seja através de seu planejamento

ou estrutura operacional. Decerto que as ordens dadas aos trabalhadores,

invariavelmente, emanam de um mesmo ponto central, qual seja a própria empresa

tomadora de serviços, ainda que recebidas indiretamente por empresas prestadoras

de serviços. Desta forma, não haveria forma de existir terceirização sem a

necessária subordinação, uma vez que a estrutura montada necessariamente

estabelece uma hierarquia e obediência do trabalhador, seja para com o seu

empregador formal ou com o tomador de seus serviços.

Embora se note uma clara tendência da magistratura de 1ª e 2ª instâncias

em coibir a prática da terceirização no setor de telecomunicações, tal situação não é

tão nítida assim no Tribunal Superior do Trabalho, órgão máximo da Justiça do

Trabalho. Em recente decisão deste órgão, foi reconhecida a permissão legal para a

terceirização das atividades da empresa de telecomunicações. Segundo este

entendimento, a aplicabilidade da Lei Geral de Telecomunicações afasta o

51 DELGADO, Maurício Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. v. 70, n. 6. São Paulo: Revista LTr, 2006, p.657-667.

Page 43: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

43

reconhecimento de vínculo empregatício com a empresa tomadora de serviços, uma

vez que atividades como a de instalador e reparador de linhas aéreas e a de cabista

não caracterizam atividade-fim de uma empresa de telecomunicações, ainda que

sejam estritamente relacionadas a ela. Com isso, mesmo que se admitisse que tais

atividades fizessem parte da atividade-fim da tomadora de serviços, a expressa

disposição legal impediria o reconhecimento da fraude.

A Súmula nº 331 do TST não se restringe apenas em declarar a

ilegalidade da intermediação de mão-de-obra, mas também estabelece a

responsabilidade da empresa tomadora de serviços quando a terceirização é

considerada lícita.

Neste caso, não há discussão acerca da atividade-fim do tomador de

serviços ou da ilicitude da terceirização, sendo o contrato de trabalho havido entre

empresa prestadora de serviços e trabalhador perfeitamente válido. É esta a

terceirização idealizada pelo administrador: a que traz benefícios para a produção,

que ganha eficiência e especialização técnica, para as empresas, que ganham

saúde financeira e melhor estrutura operacional para concorrer no mercado; para o

Estado, que arrecada mais em uma economia sólida e descentralizada; e para os

consumidores, que têm maior oferta de produtos e serviços.

Porém, quando a prestadora de serviços não arca devidamente com as

suas obrigações, coube ao Judiciário encontrar o meio para garantir a executividade

do crédito trabalhista. O comando sumular nº 331, IV, do Tribunal Superior do

Trabalho, visou exatamente proteger os direitos do trabalhador quando a prestadora

de serviços fica inadimplente com as suas obrigações contratuais. Desta forma, a

empresa tomadora de serviços será responsável pelo pagamento das verbas

trabalhistas devidas caso a prestadora de serviços não possa ser executada

judicialmente. Ressalta-se que, diferentemente da responsabilidade solidária ou da

vinculação empregatícia direta, na subsidiariedade o tomador de serviços só será

alcançado depois de esgotados todos os meios cabíveis para a execução dos bens

da empresa terceirizada, chegando, muitas vezes, à despersonificação desta para

que os sócios respondam pelas obrigações contraídas.

Page 44: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

44

Para a apuração da responsabilidade do tomador de serviços, aplicaram-

se analogicamente dois institutos inerentes ao Código Civil, as culpas in eligendo e

in vigilando. Os artigos 186, 187 e 927 do Código Civil definem que aquele que, por

ato ilícito, ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, fica obrigado a repará-lo.

A culpa in eligendo consiste na má e equivocada escolha pela tomadora

da empresa que lhe prestou os serviços, ou seja, ao eleger a empresa que lhe

prestaria serviços, a tomadora deveria ter verificado a solvabilidade e saúde

estrutural e financeira para arcar com as obrigações contratuais e trabalhistas. A

culpa in vigilando consiste no fato de a empresa tomadora de serviços não ter

fiscalizado devidamente o efetivo cumprimento das obrigações contratuais,

trabalhistas e fiscais pela prestadora de serviços, ou seja, a tomadora de serviços

pecou pela negligência em não vigiar a sua terceirizada. Sendo assim, em tese, se a

tomadora comprovar não ter existido falhas na eleição ou na fiscalização da

prestadora de serviços, deveria afastar qualquer tipo de condenação subsidiária.

Entretanto, na prática, é uma prova quase impossível de produzir, já que a

terceirização, por si só, atrai a responsabilidade subsidiária, tendo em vista que um

simples passivo trabalhista já pressupõe falha na vigilância por parte da tomadora.

Como o mercado de trabalho no ramo das telecomunicações é muito

amplo, mas, em comparação, as empresas tomadoras de serviço são poucas,

dificilmente um trabalhador empregado de uma empresa terceirizada não teria,

efetivamente, prestado serviços à tomadora dominante de uma determinada

localidade, fato este que justifica a maciça presença das empresas de

telecomunicações nas demandas trabalhistas. Com isso, surge também a chamada

indústria de processos, onde as empresas se tornam reféns de trabalhadores que,

mancomunados uns com os outros, useiros e vezeiros em ingressar com ações

trabalhistas, cobrando, muitas das vezes, direitos que não possuem, cediços da

facilidade que têm em comprovar judicialmente fatos que podem nunca ter existido,

sob o simples juramento de não mentir em testemunho, e certos da dificuldade que

as empresas tomadoras tem em se organizar e obter as informações relativas aos

prestadores de serviço, que, na teoria e na prática, ficam sob o controle das

empresas prestadoras de serviços.

Page 45: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

45

A Lei não admite a ingerência direta do tomador de serviços sobre o

trabalhador terceirizado, mas exige que ela tenha ciência da sua existência e

fiscalize as prestadoras de serviço no cumprimento de suas obrigações. Porém,

fiscalizar sem se intrometer na relação contratual do trabalho terceirizado é das

tarefas mais difíceis para a empresa tomadora.

Ressalta-se que, no direito do trabalho, a prova testemunhal é a prova de

maior valoração que o juiz pode se utilizar para a proferição de suas decisões, uma

vez que esteja devidamente convencido da veracidade da informação fornecida pela

testemunha compromissada. Trata-se do Princípio da Primazia da Realidade, o qual,

pela definição do jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez52, consiste em se dar

preferência aos fatos que ocorrem na prática, ainda que dissonantes daqueles que

emergem de documentos ou acordos. O trabalhador reclamante é o hipossuficiente

na relação do trabalho, ou seja, em virtude da sua inferioridade econômica em

relação ao empregador, a Justiça do Trabalho o confere certa superioridade jurídica

na relação processual, como, por exemplo, produzir prova invocando a realidade dos

fatos através de testemunhas. Para o reclamante, então, é mais fácil comprovar a

alegação de ter prestado serviços terceirizados a uma empresa tomadora de

serviços, do que esta, em defesa, negar e comprovar tal fato.

É consenso majoritário que numa instrução processual é necessária a

prova contundente de que o trabalhador tenha prestado serviços à empresa

tomadora para que esta seja condenada subsidiariamente pela dívida trabalhista.

Afinal, o fato de um trabalhador ser funcionário de uma empresa prestadora de

serviços que possua contrato com determinada tomadora, não significa

necessariamente que tenha prestado serviços a ela. Isto porque o que se espera de

uma empresa especializada em prestação de serviços é que esta possua contratos

com diversas empresas tomadoras de seus serviços em sua área de operação,

como por exemplo, uma empresa que presta serviços de call center. Entretanto,

existem decisões judiciais que entendem que basta haver o contrato de prestação

de serviços da tomadora com a terceirizada para que aquela se obrigue

subsidiariamente com os créditos trabalhistas devidos aos funcionários desta,

52 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. atualizada. São Paulo: LTr, 2000. p.217.

Page 46: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

46

independentemente de prova da efetiva prestação pessoal do trabalhador. Trata-se

de um posicionamento minoritário na Justiça do Trabalho.

Há outra responsabilidade aplicável às empresas tomadoras de serviços

quando estas se utilizam do expediente da terceirização e suas prestadoras não

adimplem com suas obrigações legais. Trata-se da solidariedade, prevista no art. 2º,

Parágrafo 2º, da CLT, e no art. 275 do Código Civil. No Direito do Trabalho, em

regra, são responsáveis solidárias pelas obrigações decorrentes do contrato de

trabalho todas as empresas integrantes de um mesmo grupo econômico. Desta

forma, o trabalhador, ao exigir judicialmente seus direitos trabalhistas, pode optar de

qual empresa cobrar, total ou parcialmente, a dívida comum.

Em 23 de novembro de 2007, num encontro promovido pelo TST –

Tribunal Superior do Trabalho, pela Anamatra – Associação Nacional dos

Magistrados da Justiça do Trabalho e pela Enamat – Escola Nacional de Formação

e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, e apoiada pelo Conemat –

Conselho Nacional de Escolas de Magistratura do Trabalho, denominado 1ª Jornada

de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho53, magistrados de todo o

Brasil se reuniram para discutir e deliberar acerca de temas repisados e impactantes

no dia-a-dia dos fóruns trabalhistas. Daí nasceu o Enunciado nº 10 que dispõe

acerca dos limites à prática da terceirização de serviços e a responsabilidade do

tomador de serviços. Definiu-se que a terceirização somente será admitida na

prestação de serviços especializados, de caráter transitório, desvinculados das

necessidades permanentes da empresa, bem como que a responsabilidade entre as

empresas, tomadora e prestadora de serviços, é solidária.

Ressalta-se que, assim como as Súmulas de caráter não vinculante, os

Enunciados e Orientações Jurisprudenciais são comandos informativos e

norteadores, que não obrigam ao juiz a sua aplicação, mas que expressa e

transparece o posicionamento corrente dos colegiados dos Tribunais superiores.

53 ANAMATRA. Enunciados aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho 23/11/2007. http://www.anamatra.org.br/. Link: jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm. Acesso em 13/07/2010.

Page 47: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

47

Em uma de suas recentes publicações, o jornal O Estado de São Paulo54

posicionou-se no sentido de criticar, em parte, o ativismo judicial nos julgamentos

das relações de trabalho. O "dumping social", teoria existente no direito internacional

do trabalho e no direito econômico, consiste na busca de vantagens comerciais

através da adoção de condições desumanas de trabalho, e, embora não existente

na legislação brasileira, tem sido cada vez mais admitido pelos órgãos julgadores

como punição ao reiterado e sistemático desrespeito à legislação trabalhista.

A utilização da terceirização como justificativa para a redução de custos é

um dos alvos desta medida punitiva do Judiciário, uma vez que, ao vilipendiar os

direitos dos trabalhadores, a terceirização ilícita provoca danos também à

sociedade, na medida em que propicia vantagens comerciais indevidas aos

empregadores perante a concorrência. Estas agressões reincidentes aos direitos

trabalhistas resultam em condenações expressivas de pagamento de indenização

pelos empregadores infratores.

Estas condenações, apesar de ainda aplicadas timidamente pelos juízes

de primeira instância e pouco aceitas pelos Tribunais, ganharam força com a

elaboração do Enunciado nº 4, aprovado na 1ª Jornada de Direito Material e

Processual na Justiça do Trabalho, em 200755. Ressalta o Enunciado que há

expressa autorização legal no art. 404, Parágrafo único, do Código Civil, e artigos

652, “d”, e 832, § 1º, da CLT, para a aplicação da multa indenizatória suplementar

aos empregadores agressores contumazes.

Desta forma, pode-se dizer que o "dumping social" é uma medida

exemplificativa que visa impedir ou eliminar a proliferação de processos judiciais

oriundos de reiteradas práticas lesivas aos direitos trabalhistas, mas que, ainda

assim, deve ser aplicada com cautela e no grau certo às pessoas certas, pois, caso

contrário, pode provocar prejuízos irreparáveis aos empregadores, causando

insegurança à coletividade empresarial.

54 O ESTADO DE SÃO PAULO. A tese do ''dumping social''. http://www.estadao.com.br/. Link: estadaodehoje/20091026/not_imp456262,0.php. Acesso em: 30/06/2010. 55 ANAMATRA. Enunciados aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho 23/11/2007. http://www.anamatra.org.br/. Link: jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm. Acesso em 13/07/2010.

Page 48: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

48

Em 28 de maio de 2009, um fato movimentou os corredores do Tribunal

Superior do Trabalho e estarreceu as empresas de telecomunicações: realizou-se o

julgamento dos Embargos opostos em Recurso de Revista interposto pelo Ministério

Público do Trabalho da 18ª Região em face de Centrais Elétricas de Goiás S.A. –

CELG, no qual se postulava a proibição da contratação de trabalhadores

terceirizados para desempenhar atividades-fim na empresa reclamada. O

julgamento acolheu, por maioria, o pleito ministerial, considerando irregular a

terceirização praticada pela CELG, embora exista Lei específica que autoriza a

terceirização, mesmo em atividade-fim.

O decisum proferido pela Seção Especializada em Dissídios Individuais

do TST (SDI-1) pautou-se, principalmente, na ideia asseverada pelo voto do Ministro

Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, na qual a legislação trabalhista visa proteger o

trabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma habitual, onerosa e

subordinada, nos termos do art. 3º da CLT, bem como este trabalho é protegido sob

a égide do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana56. Adentrando na

tendência jurídica moderna de que as diversas esferas do Direito vêm sofrendo um

processo de constitucionalização principiológica na interpretação de seus institutos,

vislumbrou o Ministro que a norma administrativa, Lei nº 8.987/1995, que rege as

concessionárias e os permissionários de serviços públicos e autoriza, em seu art.

25, § 1º, a terceirização irrestrita destes serviços, não pode prevalecer ou até

mesmo derrogar o preceito fundamental da legislação trabalhista, qual seja a relação

contratual bilateral de trabalho havida entre trabalhador e empregador. Sendo assim,

a autorização legal pode até dar legitimidade ao contrato administrativo celebrado,

mas não impede o exame da fraude trabalhista cometida com a prática de

terceirização ilegal.

Outrossim, a terceirização de serviços na atividade-fim da tomadora, em

virtude da inclusão de um intermediário nesta relação, pode afastar os protagonistas

da relação de trabalho e criar transtornos irreparáveis no campo da organização

sindical e da negociação coletiva, servindo, tão-somente, como um escudo para que 56 TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho; Relator: Ministro Aloysio Corrêa da Veiga; ED-E-RR - 586341/1999.458; julgado em 28 de maio de 2009. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/ap01/ap_decis.Decisao?num_int=68184&ano_int=1999&cod_org=53&ano_pau=2009&num_pau=15&tip_ses=O. Acesso em 20/07/2010.

Page 49: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

49

a empresa tomadora, embora beneficiária final dos serviços prestados, possa se

eximir das obrigações trabalhistas e isentar-se do cumprimentos das normas

coletivas pactuadas, uma vez que os trabalhadores não teriam qualquer vinculação

com ela, mas sim com o intermediário da mão-de-obra. O voto vencedor do Ministro-

Relator ainda entendeu que a Súmula nº 331 do TST está em consonância com os

princípios e normas constitucionais e, portanto, é a que melhor se adéqua ao caso

em questão por vedar a terceirização da atividade-fim.

Embora esta decisão esteja relacionada a uma empresa fornecedora de

energia elétrica, na mesma pauta de julgamentos estavam Embargos em Recurso

de Revista de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho da 21ª

Região movida em face de Telemar Norte Leste S/A, empresa concessionária de

serviços de telecomunicações. No processo, o MPT pleiteava a vedação à

terceirização, fundando-se basicamente nos mesmos termos da Ação proposta

contra a CELG, mas impugnando especificamente a autorização contida na Lei

Geral das Telecomunicações, que permite a contratação de trabalhadores

terceirizados na atividade-fim da demandada, aos quais estariam inclusos os

serviços de call center. Porém, por entender não estarem preenchidos os

pressupostos suficientes para conhecer o recurso, a SDI-1 considerou extinto o

processo, denegando o seu seguimento e não julgando o mérito da questão57. Neste

processo, uma decisão contrária à prática da terceirização na Telemar iria,

fatalmente, estender-se a todas as demais operadoras de telecomunicações.

Sendo assim, permanece aberta a discussão, mas, até que exista decisão

definitiva em contrário do TST, a terceirização é lícita nas telecomunicações,

amparada pela Lei Geral de Telecomunicações. No entanto, dificilmente o Ministério

Público do Trabalho se absterá em ingressar com novas proposituras pleiteando a

proibição desta prática empresarial.

57 TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho; Relator: Ministro João Batista Brito Pereira; RE-ED-E-RR - 4661/2002-921-21-00.4; julgado em 28 de maio de 2009. http://brs02.tst.jus.br/. Link: cgi-bin/nph-brs?s1=4810215.nia.&u=/Brs/it01.html&p=1&l=1&d=blnk&f=g&r=1. Acesso em 20/07/2010.

Page 50: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

50

2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO

O Ministério do Trabalho e Emprego elaborou o texto do anteprojeto de

lei58 para a regulamentação da contratação de serviços terceirizados no setor

privado, visando criar efetivamente uma lei específica sobre o tema. Com isso, não

se pretende regularizar qualquer mera terceirização de mão-de-obra, mas sim a

contratação de serviços terceirizados, onde há um tomador de serviços, uma

empresa intermediadora e um trabalhador. Segundo o Ministro do Trabalho Carlos

Lupi, a medida visa regulamentar a terceirização no mercado de trabalho brasileiro

de modo a proteger os empregados, garantindo-lhes melhores condições de vida.

Aliás, a precarização da dignidade do trabalhador em relação à

terceirização não é preocupação apenas do Poder Executivo, mas também do

Judiciário, constantemente invocado a pronunciar-se acerca do tema. O Ministro do

Tribunal Superior do Trabalho Aloysio Corrêa da Veiga59 afirmou ser leviandade

posicionar-se contra a terceirização, uma realidade dominante no atual mercado de

trabalho, mas também não é possível admitir a sua licitude se houver a precarização

da atividade, com restrição de direitos e tratamento diferenciado entre trabalhadores.

Esse pronunciamento foi realizado no julgamento de uma lide em que figuravam

uma empresa de telecomunicações tomadora dos serviços de outra empresa

contratada para o atendimento de call center.

O texto do anteprojeto de lei que está sendo analisado pela Casa Civil e

em breve será enviado ao Congresso Nacional prevê, no que diz respeito à

responsabilidade do tomador de serviços, em seus artigos 4º e 5º, que, ressalvada a

configuração de vínculo empregatício pelo preenchimento dos requisitos previstos

no art. 3º da CLT, haverá a responsabilidade subsidiária do tomador quanto ao

pagamento das verbas trabalhistas não adimplidas pelo prestador de serviços

quando comprovar que na celebração e durante a vigência do contrato cumpriu

devidamente o seu dever de fiscalização do contrato e da empresa prestadora de 58 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Proposta de anteprojeto de terceirização. Dispõe sobre a contratação de serviços terceirizados por pessoas de natureza jurídica de direito privado. http://www.mte.gov.br/. Link: consulta_publica/Minuta_terceirizacao.pdf. Acesso em: 02/06/2010. 59 Tribunal Superior do Trabalho. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Precarização do trabalhador terceirizado preocupa TST. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIASNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10017&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=v%EDnculo%20empregat%EDcio. Acesso em: 24/07/2010.

Page 51: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

51

serviços, não acarretando, assim, em sua culpa in vigilando. Do contrário, a

responsabilidade do tomador de serviços, será solidária. Tal alteração dirime a

dúvida quanto à possibilidade de aplicação da solidariedade nos casos de

terceirização de mão-de-obra, uma vez que esta não é presumível, nos termos do

art. 265 do Código Civil, decorrendo tão-somente de lei ou pela convenção entre as

partes.

Entretanto, a crítica a estes dispositivos ocorre quando o legislador, para

evitar a ocorrência da responsabilidade solidária, obriga o tomador de serviços a

manter em seus arquivos vasta documentação acerca do pessoal terceirizado, que,

a rigor, deveria submeter-se a controle exclusivo de seu empregador formal. Cabe

ainda ao tomador de serviços monitorar a administração dos bens do contratado e

sua saúde financeira, fato este que parece fugir da sua alçada, ou seja, fiscalizar as

atividades financeiras e a regular administração fiscal de uma empresa é atividade

cabível somente aos órgãos públicos competentes.

Ademais, ao estabelecer a solidariedade entre tomador e prestador de

serviços, o anteprojeto de lei pode permitir, ainda que ao contrário do pretendido,

que as empresas prestadoras de serviço deixem simplesmente de arcar com as

suas responsabilidades contratuais, uma vez que sempre haverá o tomador de

serviços como agente garantidor direto ao pagamento das obrigações trabalhistas

inadimplidas. Tal situação, diga-se, muito benéfica aos trabalhadores, pode

apresentar-se como um entrave à prática de qualquer terceirização pelas empresas

e um retrocesso do atual modelo de gestão corporativa.

Outra novidade é a expressa autorização para a subcontratação ou

quarteirização da realização de parte dos serviços contratados, desde que prevista

no contrato principal e com anuência da empresa tomadora de serviços, nos termos

do art. 6º do anteprojeto.

O art. 10 do anteprojeto de lei estabelece a diferença entre contratação de

serviços e intermediação de mão-de-obra, determinando que a contratação de

prestação de serviços com empresa não especializada configura mera locação e

fornecimento de mão-de-obra (intermediação) e importa na existência de relação de

Page 52: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

52

emprego entre os empregados contratados e a tomadora de serviços. Sendo assim,

o art. 1º, Parágrafo único, do anteprojeto, define que empresa prestadora de

serviços especializados é aquela que possui em seu objeto social atividades

específicas relacionadas ao serviço contratado.

Quanto ao disposto no art. 8º do anteprojeto de lei, os doutrinadores Agra

Belmonte, Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, e

Guilherme Caputo Bastos, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, concordam na

opinião de que o texto que assegura aos empregados da empresa contratada os

direitos instituídos em negociação coletiva celebrada pelo sindicato representativo

da categoria profissional respectiva é claro e se refere apenas aos direitos previstos

em acordo ou convenção da categoria referente à prestadora de serviços, não

havendo, portanto, qualquer isonomia salarial ou de benefícios entre os

trabalhadores contratados e os funcionários da tomadora de serviços (informação

verbal) 60.

O doutrinador Carlos Zangrando61, em artigo publicado no jornal Valor

Econômico, ressalta que, de fato, a terceirização no Brasil possui uma imagem

negativa perante a opinião pública devido aos malfadados insucessos do passado,

que, quase sempre, consistiam em fraude e burla à legislação do trabalho. Porém,

destaca que a responsabilidade não se deve apenas ao empresariado, mas também

ao legislador que se omite em não conceituar precisamente o que é a terceirização e

em definir objetivamente as hipóteses de sua admissão.

De fato, um novo ordenamento legal sobre a terceirização se faz

necessário. Principalmente, o surgimento de uma norma que não deixe margem a

interpretações ou dúvidas acerca do que é atividade inerente e qual a

responsabilidade a ser atribuída à empresa tomadora de serviços. A constante

colisão entre as normas existentes e os entendimentos jurisprudenciais enfraquece

cada vez mais as relações de trabalho e os julgados proferidos. Igualmente, o

instituto da segurança jurídica fica abalado a cada nova decisão conflitante, uma vez

60 Palestras realizadas por Alexandre de Souza Agra Belmonte e Guilherme Augusto Caputo Bastos no II Encontro de Direito do Trabalho na área de Telecomunicações, em Teresópolis-RJ, em dezembro de 2008. 61 ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Valor Econômico. Anteprojeto de lei sobre terceirização no Brasil. http://www.fsindical.org.br/. Link: fs/index.php?option=com_content&task=view&id=7774&Itemid=2. Acesso em: 05/07/2010.

Page 53: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

53

que não se sabe qual punição será aplicada ao caso concreto por existirem diversos

posicionamentos sobre a mesma matéria.

Porém, na prática, dificilmente se alcançará uma norma ideal em curto

espaço de tempo, uma vez que todas as classes sociais estão envolvidas nesse

processo e têm opiniões distintas sobre o tema. Logo, ainda devem existir mais

debates e sugestões sobre o anteprojeto de lei em curso antes que se obtenha uma

efetiva e satisfatória legislação sobre a terceirização.

CAPÍTULO III

QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA

Como visto, a terceirização ganhou força no setor de telecomunicações

brasileiro a partir do final da década de 90 com o processo de desestatização das

“teles”. O obsoleto sistema Telebrás foi repartido e transferido ao domínio da

iniciativa privada que, gradativamente, reduziu e renovou o quadro de pessoal e se

incumbiu de realizar a substituição e a modernização do defasado maquinário

estatal. Mais de uma década depois dos leilões das privatizações, verifica-se que, de

fato, era necessário tomar uma providência contra a ineficiente ingerência estatal

nas telecomunicações, não só pela importância deste segmento na economia

brasileira, mas também pela imprescindível necessidade de atualização de recursos

e tecnologia. O Estado deixava de ser gestor para assumir o papel de fiscalizador.

Com o passar do tempo, as empresas realizaram o enxugamento do

pessoal com os chamados planos de incentivo às demissões, mas, ao mesmo

tempo, iniciaram o processo de renovação funcional de seus postos de trabalho. A

falta de planejamento e treinamento no manuseio de novas tecnologias, a

necessidade de alcançar (e até mesmo antecipar) as metas estabelecidas pela

Anatel e a redução de empregados fizeram com que o ritmo de trabalho se tornasse

alucinante. A mão-de-obra própria já não dava vazão à urgência da demanda, o que

acelerou a contratação de empresas terceirizadas, que dispunham seus

Page 54: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

54

trabalhadores para realizarem os mesmos serviços e funções desempenhadas pelos

empregados da empresa contratante, mas com remunerações inferiores. Tal

procedimento aumentou o número de ações judiciais por violar os direitos dos

trabalhadores e serviu para desgastar a imagem das empresas de telecomunicações

junto à Justiça do Trabalho e à opinião pública.

O setor de telecomunicações expandiu e se popularizou. As metas foram

alcançadas e novos objetivos foram traçados, mas isso não reverteu o processo de

terceirização dos serviços que, àquela altura, já parecia um caminho sem volta. A

necessidade de crescer e lucrar cada vez mais para competir no mercado fez com

que o administrador adotasse a estratégia da redução de custos e, por conseguinte,

de pessoal. A ideia foi repassar a terceiros a execução de serviços não

considerados como atividades-fim da empresa, uma vez que havia vedação

jurisprudencial. Com isso, todos os serviços de infra-estrutura, atendimento,

manutenção e instalação de rede foram terceirizados, fato este que foi, de pronto,

rechaçado pela maioria dos juízes e Tribunais do Trabalho, que entenderam se

tratar de repasse ilícito da atividade-fim para terceiros. Daí nasceu a discussão

acerca do que era ou não atividade-fim em uma empresa de telecomunicações.

Muito se discutiu até que se percebesse que existia uma Lei tratando

sobre o tema, a Lei Geral das Telecomunicações, que, inclusive, expressamente

autoriza a terceirização dos serviços de telecomunicações, mesmos os que seriam

inerentes à atividade-fim da empresa. Com isso, essa discussão perdeu um pouco

de seu sentido, já que agora a divergência não se limita mais em apenas definir o

que é ou não atividade-fim numa empresa de telecomunicações, mas sim em se

estabelecer os limites de abrangência da Lei específica diante de casos de

interposição de mão-de-obra, precarização de direitos e de princípios constitucionais

consagrados, como a dignidade da pessoa humana e a valorização do trabalho.

Se ainda há relutância de grande parte dos juízes do trabalho em aceitar

tal situação, nos Tribunais já se vislumbra uma maior aceitação, pois muitos

desembargadores e ministros, mesmo que intimamente contrariados, asseveram

como lícita a terceirização de serviços de telecomunicações, pois esta encontra

guarida na LGT, o que autoriza as empresas concessionárias a repassarem seus

Page 55: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

55

serviços a empresas terceirizadas, ainda que possam estar inseridos no objeto

principal de suas atividades. A conclusão a que se chega no presente estudo

corrobora com esse entendimento, mas ressalta que ainda existe grande dissensão

entre os julgados62.

A Lei Geral de Telecomunicações existe e está em plena vigência.

Entretanto, se para alguns ela não regula de forma satisfatória ou se é

inconstitucional, cabem aos órgãos judiciais competentes analisarem e se

pronunciarem pela sua inaplicabilidade no ordenamento jurídico. Até que isso

ocorra, ela deve ser aplicada como reguladora do setor de telecomunicações. Sendo

assim, cabe igualmente ao Poder Legislativo se posicionar e definir com clareza a

situação das empresas perante a terceirização de seus serviços, criando normas

que definam com exatidão a responsabilidade dos contratantes.

Não se defende, porém, a fraude. A utilização da terceirização como

mecanismo para burlar direitos dos trabalhadores não é admitida e deve ser

combatida pelos órgãos estatais e pela sociedade. Mas, sendo a terceirização lícita

e praticada com a transparência e retidão que a lei exige, não há porque ser proibida

apenas por ideais românticos e saudosistas. Nos dizeres de Erminio Lima Neto63,

“qualquer trabalho, idôneo, dignifica as pessoas”. Está correto em seu pensamento,

pois, a economia do país torce para que suas empresas sejam financeiramente

independentes e lucrativas e a prática da terceirização aparece como uma

importante ferramenta de inclusão e especialização do trabalho.

Ideologias à parte, a situação deve ser analisada sob o ponto de vista

objetivo. Se não há lesão aos direitos do trabalhador, qualquer prática econômica

que vise o desenvolvimento empresarial e garanta a existência ou criação de postos

de trabalho no território nacional deve ser encarada como positiva pela sociedade.

62 CONVERGÊNCIA DIGITAL. Terceirização em Telecom: Turmas do TST dão sentenças distintas. http://convergenciadigital.uol.com.br/. Link: cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=22981&sid=16. Acesso em 08/08/2010. 63 LIMA NETO, Ermínio Alves de. Blog da Terceirização. Ministério Público do Trabalho, temerariamente, tem tratado a questão da terceirização pelo viés ideológico. http://www.terceirizacao.blog.br/. Link: 2010/03/ministerio-publico-do-trabalho.html. Acesso em: 20/07/2010.

Page 56: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É cediço que a terceirização é um fenômeno de tendência irreversível e

crescente na ordem econômica moderna, apesar da inércia legiferante em

normatizá-la devidamente. A terceirização acarreta ao tomador de serviços uma

série de obrigações, mas aparenta ser uma opção atraente de gestão administrativa,

pois visa uma melhor estruturação organizacional de uma empresa, reduzindo os

encargos com funcionários próprios, entregando a execução de serviços técnicos a

prestadoras especializadas com o intuito de diminuir os gastos da produção e

aumentar a eficiência do serviço oferecido.

Além disso, visa-se também uma melhor avaliação no mercado de ações,

uma vez que a empresa tomadora de serviços, enxuta, pode se dedicar mais e

melhor à ingerência de suas atividades precípuas, se tornando mais rentável e

saudável financeira e competitivamente. Em suma, a finalidade da terceirização é

uma maior especialização, pela qual as empresas tendem a se aprimorar delegando

a terceiros aqueles serviços em que não se especializaram. Esse modelo de

parceria especializada tornou-se um importante fator de competitividade.

Entretanto, a falta de uma legislação própria e clara sobre o assunto

produz anomalias. É inadmissível, por exemplo, que um empresário se utilize

obtuosamente da terceirização para reduzir benefícios, salários e direitos dos

trabalhadores, ou quando, por falta de comprometimento dos prestadores de

serviços, o serviço é oferecido de forma precária e insatisfatória aos consumidores.

Situações degradantes como estas desvirtuam o real objetivo da terceirização e

provocam na sociedade um sentimento de repulsa e desconfiança.

No setor de telecomunicações, observou-se no início um efeito inverso ao

idealizado pelo administrador quando terceirizou a produção da empresa tomadora

de serviços. A escolha equivocada de empresas prestadoras de serviços inidôneas

tornou o tomador de serviços responsável subsidiário pelas obrigações decorrentes

do contrato de trabalho inadimplidas pelo prestador de serviços. Em muitos casos, a

ingerência sobre os empregados terceirizados, com a configuração dos elementos

Page 57: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

57

caracterizadores da relação de emprego, acarretou na vinculação direta destes com

a própria tomadora de serviços.

Atualmente, percebe-se a nítida tentativa de corrigir os erros do passado,

posicionando-se a empresa tomadora no papel que realmente lhe cabe no processo

de terceirização, qual seja o de fiscalizar a empresa prestadora contratada, sem

interferir na relação entre esta e seu trabalhador ou na execução dos serviços, já

que, se optou por terceirizar, não lhe cabe mais estar à frente da operação. O papel

principal do tomador de serviços tornou-se mais estratégico, voltado para a gestão

do contrato e do negócio empresarial, exigindo o efetivo e satisfatório cumprimento

por parte da empresa contratada.

Repisa-se, a terceirização visa a especialização, a concentração de

esforços naquilo que é vocação principal da empresa e a busca de maior eficiência.

Entretanto, há a necessidade urgente de melhor disciplinar tal matéria, uma vez que

o sistema jurídico brasileiro não tende a vedar a terceirização, por se tratar de um

fenômeno moderno e irreversível, mundialmente conhecido. A tal anomia se refere

ao fato de não existir uma norma que, de forma clara e objetiva, descreva o que

pode ou não ser terceirizado e quais são as implicações para os responsáveis.

As legislações existentes não definem satisfatoriamente estes assuntos,

tornando-as confusas e, muitas vezes inócuas, diante dos constantes ataques do

ativismo judicial e do Ministério Público. Porém, não se pode fugir à realidade. Essas

leis existem, mesmo que não seja ainda o ideal, e autorizam a terceirização até

mesmo da atividade-fim da empresa de telecomunicações. Desta forma, respeitados

os limites para a terceirização e enquanto não for declarada a inconstitucionalidade

do art. 94, II, da Lei nº 9.472/97, há a permissão legal para que as empresas de

telecomunicações terceirizem suas atividades meio e fim.

Na visão de Platão64, a vida não é um simulacro, uma cópia degradada do

objeto real de um mundo ideacional ou um arremedo de realidade onde o que se

planeja em tese não prospera na prática. Pelo contrário. Devem-se analisar muito

bem os impactos das decisões a serem tomadas, pois, uma vez postas em prática, 64 PLATÃO. A República. Título original em grego: IIOΛITEIA (Politéia), séc. IV a.C. Tradução Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.

Page 58: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

58

podem ser prejudiciais, sem chances para testes ou experiências teóricas ou

ideológicas. O Direito deve se adequar aos novos fatos da vida social e a

normatização se faz necessária quando os conflitos de interesses chegam a níveis

insustentáveis. É preciso considerar todo o progresso e evolução obtidos antes de

se posicionar contrário às terceirizações, pois uma vez interrompido o processo,

danos irreversíveis podem ocorrer.

Ao legislador fica a sugestão de se autorizar a terceirização em toda e

qualquer atividade, meio ou fim, e atribuir a responsabilidade subsidiária ou solidária

ao tomador de serviços em qualquer caso. Assim, as discussões terminariam, os

direitos dos trabalhadores estariam resguardados e as partes contratantes estariam

bem mais seguras juridicamente ao firmarem seus contratos, sabendo exatamente

os ônus e bônus que estariam assumindo com a terceirização.

Page 59: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

59

REFERÊNCIAS

ABDALA, Vantuil. Terceirização: Anomia inadmissível. http://www.migalhas.com.br/.

Link: mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=71915. Acesso em: 23/10/2009.

ANAMATRA. Enunciados aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual

na Justiça do Trabalho 23/11/2007. http://www.anamatra.org.br/. Link:

jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm. Acesso em 13/07/2010.

ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações. Relatório Anual da Anatel 2006.

http://www.anatel.gov.br/. Link: hotsites/relatorio_anual_2006/pdf/serie_historica.pdf.

Acesso em: 16/06/2010.

ARISTÓTELES. A Política (La politique). Tradução de Torrieri Guimarães. São

Paulo: Martin Claret, 2002.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.451, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das

Leis do Trabalho. Lex – Coletânea de Legislação: edição federal. São Paulo, 1943.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:

Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002.

BRASIL. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código Brasileiro de

Telecomunicações. Brasília, DF: 1962.

BRASIL. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a

organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma

Administrativa e dá outras providências. Brasília, DF: 1967.

Page 60: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

60

BRASIL. Lei nº 5.645, de 10 de dezembro de 1970. Estabelece diretrizes para a

classificação de cargos do Serviço Civil da União e das autarquias federais, e dá

outras providências. Brasília, DF: 1970.

BRASIL. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de

Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras

providências. Brasília, DF: 1971.

BRASIL. Lei nº 5.792, de 11 de julho de 1972. Institui política de exploração de

serviços de telecomunicações, autoriza o Poder Executivo a constituir a empresa

Telecomunicações Brasileiras S/A. - TELEBRÁS, e dá outras providências. Brasília,

DF: 1972.

BRASIL. Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário

nas Empresas Urbanas, e dá outras Providências. Brasília, DF: 1974.

BRASIL. Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança para

estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento

das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de

valores, e dá outras providências. Brasília, DF: 1983.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.186, de 20 de dezembro de 1984. Institui o imposto sobre

serviços de comunicações, e dá outras providências. Brasília, DF: 1984.

BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da

Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF:

1991.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da

Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração

Pública e dá outras providências. Brasília, DF: 1993.

Page 61: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

61

BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de

concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da

Constituição Federal, e dá outras providências. Brasília, DF: 1995.

BRASIL. Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga e

prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e dá outras

providências. Brasília, DF: 1995.

BRASIL. Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização dos

serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e

outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de 1995.

Brasília, DF: 1997.

BRASIL. Lei nº 9.601, de 21 de janeiro de 1998. Dispõe sobre o contrato de trabalho

por prazo determinado e dá outras providências. Brasília, DF: 1998.

BRASIL. Lei nº 9.711, de 20 de novembro de 1998. Dispõe sobre a recuperação de

haveres do Tesouro Nacional e do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, a

utilização de Títulos da Dívida Pública, de responsabilidade do Tesouro Nacional, na

quitação de débitos com o INSS, altera dispositivos das Leis nos 7.986, de 28 de

dezembro de 1989, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.212, de 24 de julho de 1991,

8.213, de 24 de julho de 1991, 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e 9.639, de 25 de

maio de 1998, e dá outras providências. Brasília, DF: 1998.

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra:

ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de

Janeiro: Renovar, 2003.

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed.

atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008.

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói:

Impetus, 2008.

Page 62: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

62

CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no Direito do Trabalho. São Paulo,

Malheiros, 2000.

CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Salário. ed. fac-similada. São Paulo:

LTr, 1994.

CONVERGÊNCIA DIGITAL. Terceirização em Telecom: Turmas do TST dão

sentenças distintas. http://convergenciadigital.uol.com.br/. Link:

cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=22981&sid=16. Acesso em 08/08/2010.

CORREIO SINDICAL MERCOSUL. Terceirização é questionada.

http://www.sindicatomercosul.com.br/. Link: noticia02.asp?noticia=1078. Acesso em

05/08/2010.

DELGADO, Maurício Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. Revista

LTr, São Paulo, v.70, n. 6, jun. 2006.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr,

2004.

ESCOBAR, J. C. Mariense. O Novo Direito de Telecomunicações. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 1999.

ESPANHA. Real Decreto Legislativo nº 1, de 24 de marzo de 1995 (Estatuto de los

Trabajadores). http://www.lexureditorial.com/. Link: leyes/et17o35.htm. Acesso em:

10/07/2010.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa. 3. ed. rev. atual. Curitiba: Positivo, 2004.

Folha de São Paulo. Oi anuncia compra da Brasil Telecom por R$ 5,8 bilhões.

http://www1.folha.uol.com.br/. Link: folha/dinheiro/ult91u395747.shtml. Acesso em:

05/08/2010.

Page 63: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

63

FRANÇA. Code du Travail. http://www.legifrance.gouv.fr/. Link:

affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006072050&dateTexte=20100729. Acesso

em: 24/07/2010.

HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. São Paulo:

Objetiva, 2001.

ITÁLIA. Legge del 23 Ottobre 1960 n. 1369. http://www.italgiure.giustizia.it/. Link:

nir/1960/lexs_36635.html. Acesso em: 20/07/2010.

LIMA NETO, Ermínio Alves de. Blog da Terceirização. Ministério Público do

Trabalho, temerariamente, tem tratado a questão da terceirização pelo viés

ideológico. http://www.terceirizacao.blog.br/. Link: 2010/03/ministerio-publico-do-

trabalho.html. Acesso em: 20/07/2010.

LOCKE, John. Dois Tratados sobre o Governo Civil (Two Treatises of Government).

Tradução de Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MACHIAVELLI, Nicolò. O Príncipe (Il Principe). Tradução de Pietro Nassetti. São

Paulo: Martin Claret, 2004.

MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 7. ed. rev. e ampl.

São Paulo: Atlas, 2005.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Proposta de anteprojeto de

terceirização. Dispõe sobre a contratação de serviços terceirizados por pessoas de

natureza jurídica de direito privado. http://www.mte.gov.br/. Link:

consulta_publica/Minuta_terceirizacao.pdf. Acesso em: 02/06/2010.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora 4 – Serviços

Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho.

http://www.mte.gov.br/. Link : legislacao/normas_regulamentadoras/nr_04.asp.

Acesso em : 04/07/2010.

Page 64: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

64

MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Baron de. Do espírito das leis - De

l'esprit des lois, ou du rapport que les lois doivent avoir avec la constituin de chaque

gouvernement, les moeurs, le climat, la religion, le commerce, etc. Tradução de Jean

Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.

NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo:

Saraiva, 1992.

NEVES, Mauricio dos Santos. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social. O setor de telecomunicações. BNDES 50 Anos – Histórias

Setoriais. http://www.bndes.gov.br/. Link:

SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro_seto

rial/setorial13.pdf. Acesso em: 26/05/2010.

O ESTADO DE SÃO PAULO. A tese do ''dumping social''.

http://www.estadao.com.br/. Link: estadaodehoje/20091026/not_imp456262,0.php.

Acesso em: 30/06/2010.

PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. atualizada. São

Paulo: LTr, 2000.

PLATÃO. A República. Título original em grego: IIOΛITEIA (Politéia), séc. IV a.C.

Tradução Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27 ed. ajustada ao novo Código Civil.

São Paulo: Saraiva, 2002.

STF; Tribunal Pleno; Relator: Ministro Marco Aurélio de Mello; ADI nº 1.668; julgado

em 20/08/1998. http://www.stf.jus.br/. Link:

Page 65: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

65

portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1682731. Acesso em

21/07/2010.

TELEBRÁS – Telecomunicações Brasileiras S/A. A TELEBRÁS e a Evolução das

Telecomunicações. http://www.telebras.com.br/. Link: historico.htm. Acesso em:

07/08/2010.

TRT 21ª REGIÃO. Laudo Pericial Sobre As Atividades Desenvolvidas Pelas

Concessionárias De Serviços De Telefonia No Brasil elaborado pelo Dr. Ronaldo de

Andrade Martins em 20 de julho de 2001 in Processo nº 95900-91.2000.5.21.0004.

http://www.trt21.jus.br/. Link:

asp/online/I1_detalheProcesso.asp?ID_PROCESSO=80767&Instancia=04&Tipo=.

Acesso em 07/08/2010.

TST. Súmula nº 331: Contrato de prestação de serviços. Legalidade (Revisão da

Súmula nº 256 - Res. 23/1993, DJ 21.12.1993. Inciso IV alterado pela Res. 96/2000,

DJ 18.09.2000) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003.

TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: SDI-1 julga irregular terceirização

nas Centrais Elétricas de Goiás. http://ext02.tst.jus.br/. Link:

pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=9288&p_cod_area_noticia=A

SCS&p_txt_pesquisa=negocia%E7%E3o. Acesso em: 28/07/2010.

TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Terceirização permite

enquadramento sindical diferente da empresa prestadora de serviços.

http://ext02.tst.jus.br/. Link:

pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10692&p_cod_area_noticia=

ASCS&p_txt_pesquisa=terceiriza%E7%E3o. Acesso em: 23/07/2010.

TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Precarização do trabalhador

terceirizado preocupa TST. http://ext02.tst.jus.br/. Link:

pls/no01/NO_NOTICIASNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10017&p_cod_area_n

oticia=ASCS&p_txt_pesquisa=v%EDnculo%20empregat%EDcio. Acesso em:

24/07/2010.

Page 66: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

66

TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do

Trabalho; Relator: Ministro João Batista Brito Pereira; RE-ED-E-RR - 4661/2002-921-

21-00.4; julgado em 28 de maio de 2009. http://brs02.tst.jus.br/. Link: cgi-bin/nph-

brs?s1=4810215.nia.&u=/Brs/it01.html&p=1&l=1&d=blnk&f=g&r=1. Acesso em

20/07/2010.

TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do

Trabalho; Relator: Ministro Aloysio Corrêa da Veiga; ED-E-RR - 586341/1999.458;

julgado em 28 de maio de 2009. http://ext02.tst.jus.br/. Link:

pls/ap01/ap_decis.Decisao?num_int=68184&ano_int=1999&cod_org=53&ano_pau=

2009&num_pau=15&tip_ses=O. Acesso em 20/07/2010.

ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Valor Econômico. Anteprojeto de lei sobre

terceirização no Brasil. http://www.fsindical.org.br/. Link:

fs/index.php?option=com_content&task=view&id=7774&Itemid=2. Acesso em:

05/07/2010.

ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Curso de Direito do Trabalho: Tomo II. São

Paulo: LTr, 2008.

ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Curso de Direito do Trabalho: Tomo III.

São Paulo: LTr, 2008.

Page 67: A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES · 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na contratação de mão-de-obra no

67

ÍNDICE

RESUMO.................................................................................................................... 4

METODOLOGIA......................................................................................................... 5

SUMÁRIO................................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 7

CAPÍTULO I

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES................................. 9

1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO........................................ 15

1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO............................................ 21

1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS.............................. 25

CAPÍTULO II

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES............................. 31

2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS............................. 36

2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO.......................................................... 40

2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO............................................. 50

CAPÍTULO III

QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA....................................................... 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 56

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 59