a terceirização de serviços para a administração pública
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ANTONIO MIGUEL NEGRELLI
A TERCEIRIZAO DE SERVIOSPARA A ADMINISTRAO PBLICA
Monografia apresentada como requisito para
concluso do curso de bacharelado em
Direito do Centro Universitrio de Braslia.
Orientador: Prof. Andr Puppin.
BRASLIA,
2010
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ANTNIO MIGUEL NEGRELLI
A TERCEIRIZAO DE SERVIOSPARA A ADMINISTRAO PBLICA
Monografia apresentada como requisito para
concluso do curso de bacharelado em Direito
do Centro Universitrio de Braslia.
Banca examinadora
Orientador
Prof. Andr Puppin Macedo
IndicadoProf. Cesar Augusto Binder
DesignadoProf. Vetuval Martins Vasconcelos
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minha me, Maria Negrelli, que me deu o carter firme;
minha esposa, Luciana; e
aos meus filhos, Mateus e Lucas, com os quais aprendo todo dia acontinuar reto.
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AGRADECIMENTOS
A todos os mestres que contriburam para meu conhecimento etornaram possvel que esta pesquisa fosse realizada a contento.Inspirado na dedicao e abnegao deles, pude perseverar econcretizar mais esta graduao.
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RESUMOPor meio da pesquisa bibliogrfica, este trabalho objetiva demonstrar que a terceirizao adotada no Brasil, porm de forma incipiente. Foi possvel alcanar o resultado: posicionar-secontra a terceirizao de servios na Administrao Pblica ao argumento de que esta prtica um indutor de corrupo reduzir e simplificar um problema crnico, da natureza doEstado; agir pensando somente nas consequncias dos problemas, desviando-se das suascausas.
Palavras chave: Relaes de trabalho. Terceirizao. Administrao Pblica. Direito dotrabalho e administrativo.
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SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................... 71 AS CORRENTES TERICAS ................................................................... 9
1.1 Os defensores da terceirizao na Administrao Pblica........................... 111.2 Os doutrinadores contra a terceirizao na Administrao Pblica .......... 151.3 Os doutrinadores que analisam a terceirizao, mas no se posicionamcontra ou a favor dela .............................................................................................. 17
2 A TERCEIRIZAO (I)LCITA ................................................................ 202.1 Os conceitos de terceirizao ............................................................................ 202.2 A legislao vigente nacional e internacionalmente ...................................... 212.3 A terceirizao como burla ao concurso pblico ............................................ 252.4 O Enunciado 331 do TST .................................................................................. 27
2.4.1 A diferenciao entre atividades-meio e atividade-fim como forma de
definio da licitude da terceirizao .................................................................... 292.4.2 A responsabilidade subsidiria do tomador dos servios ............................ 332.4.3 A culpa in eligendo e a culpa in vigilando................................................... 35
2.5 A contratao irregular e a terceirizao ilcita no servio pblico ............. 362.5.1 A locao de mo-de-obra disfarada de terceirizao de servios ............ 372.5.2 A terceirizao e as cooperativas de trabalho ............................................. 38
2.6 A terceirizao e a globalizao da economia ................................................. 402.7 A terceirizao como forma de privatizao ................................................... 422.8 A corrupo na terceirizao de mo-de-obra especializada dentro daAdministrao Pblica ............................................................................................ 43
3 AS RELAES DE TRABALHO E DE EMPREGO NO MUNDOCAPITALISTA CONTEMPORNEO .......................................................... 44
3.1 A evoluo do modelo produtivo capitalista no mundo contemporneo .... 453.2 Os fundamentos das relaes de produo no cenrio capitalista ............... 463.3 A terceirizao e a globalizao ........................................................................ 473.4 A crise econmica e a repercusso no Brasil ................................................. 48
CONCLUSO ................................................................................................... 50REFERNCIAS ................................................................................................ 56
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INTRODUO
A terceirizao incluindo a que ocorre na Administrao Pblica - um
tema que precisa ser profundamente debatido no Brasil, em virtude de no haver legislao
especfica acerca da terceirizao1, a exemplo de diversos pases, desenvolvidos ou
emergentes. A regulao se d hoje pelo Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho,
fundamentado no conceito subjetivo das atividades-meio e fim como meio de definir se a
terceirizao (i)lcita.
A escolha do tema em epgrafe se deu durante o curso "Gesto de Riscos em
Contratos" em 2005 no grupo Ancham no Rio de Janeiro, durante uma palestra proferida pela
doutora Juliana Bracks, advogada trabalhista da Pinheiro Neto, cujo autor desta pesquisa
participou. Diante da identificao com o tema, ao final da explanao, foi contratada a
doutora Juliana para proferir uma palestra para executivos da empresa em que o autor deste
trabalhava, pois esta praticava o "pejotismo" de forma generalizada, disfarado de
terceirizao, o qual um problema que afeta diretamente uma das camadas mais importantes
da sociedade: os trabalhadores, e indiretamente a economia, uma vez que, por falta de
legislao e regras claras, a insegurana gerada pelo subjetivismo do Enunciado 331,
principalmente por se pautar na definio de atividade-meio e fim2, torna quase impossvel a
terceirizao lcita, sendo a mesma sinnimo de informalidade.
O estudo do tema em tela pode auxiliar todos que lidam com a contratao
de pessoal e servios, pois possibilitar ao leitor tomar todos os cuidados necessrios na
elaborao e gesto de um contrato, quer em mbito pblico ou privado, para que no seja
condenado de forma solidria ou subsidiria por no ter escolhido corretamente a contratada
(culpa in eligendo) ou negligenciar a gesto do contrato (culpa in vigilando)3.
Por meio da pesquisa bibliogrfica, pretende-se responder indagao
problemtica: como praticar a terceirizao, melhorando a competitividade brasileira, sem
prejudicar os direitos dos trabalhadores ou sem concorrer para as fraudes em licitao ou
1 CORTEZ, Julpiano chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004, p. 127.2 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra So Paulo: LTr, 2005, p. 16.3 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 69.
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concurso pblico? A resposta para a pergunta acima pode ser assim compreendida: o
impedimento para que a terceirizao seja adotada no Brasil se d sob o argumento de ser esta
um indutor de corrupo ou de tirar as "conquistas" dos trabalhadores. Ora, se assim fosse, o
Estado Brasileiro jamais poderia contratar. Por outro lado, que direitos podem perder os
trabalhadores das atividades-meio (terceirizao lcita) que devem ser garantidos aos
vinculados atividade-fim (terceirizao ilcita)?
O objetivo desta monografia demonstrar que a terceirizao adotada no
Brasil, porm de forma incipiente. Se houvesse uma legislao mais evidente, haveria
vantagens para a economia brasileira. Para alcanar o principal propsito do trabalho em
mos, convm percorrer os objetivos especficos conforme a ordem do sumrio.
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AS CORRENTES TERICASPermeado pelo subjetivismo inerente a todas as cincias sociais, o Direito
constantemente se depara com questes ambguas e complexas. Para o direito do Trabalho
confluem o econmico e o social, da sua vocao para amortecer os efeitos que o conjunto de
transformaes econmicas e sociais determina no processo produtivo e no mercado de
trabalho.
Percebe-se nas relaes de trabalho na Administrao Pblica, algumasparticularidades como o processo de seleo (concurso pblico) e as caractersticas do vnculo
profissional entre empregado e empregador, seguindo a Lei 8.112/90 e a CLT.
Uma parte significativa dos profissionais alocados em organizaes estatais
no possui este vnculo direto com as entidades nas quais atuam. Atuam como terceirizados,
prestando servios a rgos pblicos e esta relao que a pesquisa ter como foco: os
aspectos relacionados a esta modalidade peculiar de prestao de servios profissionais: a
terceirizao na Administrao Pblica.4
Durante os estudos realizados foram encontradas as mais diversas vertentes.
Alguns autores, tais como Souto Maior5 e Di Pietro,6 defendem uma interpretao clssica e
tradicional, segundo a qual a terceirizao nada mais que uma burla Constituio Federal,
mascarada como prestao de servios tcnicos especializados.
Outra vertente, formada por importante doutrinadores como Diniz7,
Robortella8, Garcia9 e Martins10 acredita na parceria entre iniciativa pblica e privada como
4 DUARTE, Adriana. A crise do fordismo nos pases centrais e no Brasil. Belo Horizonte: Revista Trabalho eEducao jul/dez 2000, n. 7, p. 9.
5 MAIOR, Jorge Luiz Souto In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs).Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.
6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica: concesso, permisso, franquia,terceirizao e outras formas. 4. ed. So Paulo: Atlas, 1988.
7 DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao. So Paulo: LTr,
1999.8 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994.9 GARCIA, Roni Genicolo . Manual de rotinas trabalhistas. 2. Ed. So Paulo: Atlas, 2002.10 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003.
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uma opo para uma adequao rpida do Estado realidade de mercado, sempre em
mutao, no podendo ser considerada ilegal quando no implica em prejuzo real aos direitos
dos trabalhadores ou s normas constitucionais.
O inciso VIII do art. 170 da Constituio Federal estabelece o princpio da
livre iniciativa. Esta uma regra programtica que deve ser complementada pela lei ordinria,
no querendo afirmar que a terceirizao proibida quando implica diminuio dos postos de
trabalho nas empresas, pois o dispositivo constitucional citado apenas um princpio a ser
buscado, de acordo com Martins. 11
Os conflitos trabalhistas que decorrem da terceirizao so relacionados (in)existncia da relao de emprego, dando ensejo definio e uma posio da
jurisprudncia do TST, consubstanciada inicialmente no Enunciado 256 de 1986,
posteriormente revisado pelo Enunciado 331, em 1993.
Como afirma Martins12, o direito do trabalho no pode ser inimigo da
riqueza, porque sua aspirao que ele alcance um nmero cada vez maior de pessoas. No
pode ser hostil aos avanos tecnolgicos, pois eles so efeitos do trabalho. Assim, h
necessidade de conciliao entre os avanos tecnolgicos, aptos inclusive a gerar novos
empregos, com a terceirizao.
As correntes tericas acerca dos aspectos legais da terceirizao na
Administrao Pblica se dividem em trs, sendo que duas delas posicionam-se claramente
contra ou a favor, enquanto que uma terceira analisa a questo, sopesando os prs e contras,
deixando, porm, a concluso a cargo do leitor.
Os autores contra a terceirizao argumentam ser tal prtica a causa da
perda de direitos para o trabalhador, particularmente na Administrao Pblica, afirmando
que possibilita a prtica de corrupo. Outra corrente, a favorvel, defende que o fundamento
legal para permitir ou impedir a terceirizao tem como espeque o Enunciado 331, o qual
permite a terceirizao desde que limitada s atividades-meio da contratante.
11 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 134. 12 Ibidem, p. 18.
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1.1Os defensores da terceirizao na Administrao PblicaDentre os vrios autores que se manifestam favorveis terceirizao, pela
grande contribuio, pode-se destacar Ari Possidonio Beltran13, Jos Jungui Bezerra Diniz14,
Luiz Carlos Amorim Robortella15, Roni Genicolo Garcia16 e Srgio Pinto Martins17.
Esse grupo de juristas apresenta, em suma, os seguintes argumentos para
sustentar suas posies: o Direito do trabalho no pode ser inimigo do progresso; a
terceirizao no deve se limitar s atividades-meio, principalmente porque esse limite no
definido em Lei; sem ela (a terceirizao) haveria dificuldade em contratar e manter
profissionais para funes de baixo escalo assim como em se contratar profissionais
especializados; a terceirizao permite Administrao Pblica focar nas atividades que lhe
so inerentes, gerando, como consequncia, maior satisfao dos cidados com os servios
prestados; a terceirizao no deve ser proibida, mas compreendida e decifrada como
fenmeno mundial irreversvel; alm do que, no se pode garantir que quem terceiriza a
atividade-meio respeita mais ou menos os direitos do trabalhador do que quem terceiriza a
atividade-fim.
Srgio Pinto Martins18
afirma que para se definir se h fraude naterceirizao - o princpio deveria ser objetivo e jamais subjetivo, dependendo da
interpretao por parte do julgador. Defende a legalidade da terceirizao, tanto na iniciativa
privada quanto no setor pblico (objeto desta pesquisa).19
Martins20 ressalta a sobreposio da Lei 8.666/93 com relao ao Enunciado
331 (1993) do TST e demais normas legais que possam considerar ilcitas quaisquer
modalidades de terceirizao, defendendo a ampla possibilidade de aplicao desta forma de
contratao.
Segundo o autor supracitado, a deciso sobre a utilizao ou no da
13 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001.14 DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao. So Paulo: LTr,
1999.15 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994.16 GARCIA, Roni Genicolo . Manual de rotinas trabalhistas. 2. Ed. So Paulo: Atlas, 2002.17 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003.18Ibidem, p. 134.19Ibidem.20Ibidem, p. 133-134.
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terceirizao como mecanismo de gesto deve ficar a cargo do administrador, no devendo
ficar restrito s atividades-meio. No h norma constitucional ou ordinria que a proba,
fazendo-se urgente, portanto, uma reviso do enunciado 331 do TST. 21
Ainda para Martins,22 a legalidade do processo de terceirizao na
Administrao Pblica garantida pela necessidade de concorrncia pblica, que deve ser
pautada em todos os preceitos necessrios contratao de servios por parte do Estado.
Na prtica, Martins defende a terceirizao na Administrao Pblica como
forma de desburocratizao da mquina estatal, por reservar aos particulares as atividades
secundrias destas instituies e viabilizar maiores investimentos e esforos, por parte doEstado, em atividades que lhe so essenciais. 23
Na opinio de Martins,24 o Decreto 200/77 revela a plena validade da
terceirizao ao incentivar a execuo indireta de atividades materiais e executivas. O autor
acima ainda deixa explcita a idia de a terceirizao no ser causa da corrupo; apenas um
dos meios, conforme ser visto adiante.
evidente a sobreposio da Lei de Licitaes (8.666/93) sobre as demais
normas jurdicas que disciplinam a este respeito e com isto acaba ressaltando que a
responsabilidade subsidiria no pode ser aplicada a rgos da Administrao Pblica, visto
que o art. 1 da referida lei define que ficam subordinados ao regime desta norma os rgos da
Administrao Pblica. Por outro lado, afirma que o TST, por intermdio do Enunciado 331,
entendeu que art. 1 do art. 71 da Lei das Licitaes trata da responsabilidade direta da
Administrao Pblica, mas no da subsidiria.25
A referida lei determina que o Estado no possa ser co-responsvel pelo
inadimplemento das responsabilidades trabalhistas por parte da prestadora de servios para
com os profissionais terceirizados. 26
21 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 127.22Ibidem.23Ibidem, p. 128.24Ibidem.25
Ibidem, p. 144.
26Ibidem, p. 128.
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A no aplicao da responsabilidade subsidiria, que - segundo Martins27 - a
resoluo 96/2000 do TST imputa aos rgos pblicos, no anseio de uniformizao de
jurisprudncia, reforada pelo fato de tal resoluo no indicar os precedentes que
justifiquem o verbete e nem to pouco declarar a inconstitucionalidade de qualquer artigo da
lei de licitaes, fazendo a norma 8.666/93 se sobrepor tambm sobre esta resoluo.
Martins28 ressalta trecho do inciso II do art. 6 da Lei 8.666/93 em que, ao
definir os servios passveis de contratao pela Administrao Pblica, o legislador redige:
toda atividade destinada a obter determinada utilidade de interesse para a Administrao
Pblica, tais como [...]. Neste caso, o termo tais como abriria espao para a incluso dos
mais diversos tipos de contratao, incluindo a terceirizao de servios nos mais diversossetores.
Ainda considerando a Lei 8.666/93 como principal norma legal relacionada
terceirizao de servios na Administrao Pblica, pode-se considerar o seu artigo 72 que
permite a subcontratao, viabilizando, mais uma vez, o processo de terceirizao: Art. 72. O
contratado, na execuo do contrato, sem prejuzo das responsabilidades contratuais e legais,
poder subcontratar partes da obra, servio ou fornecimento, at o limite admitido, em cada
caso, pela Administrao.
De maneira complementar, possvel recorrer a autores que endossam a
argumentao favorvel a uma viso mais moderna e flexvel acerca dos processos de
terceirizao e contrrios diferenciao entre atividade-fim e meio, de tal forma que fique
evidenciada a (i)licitude do processo de contratao de servios terceirizados.
Diniz29 acompanha Martins em seu posicionamento, apontando pontos
negativos da terceirizao, afirmando que a terceirizao foi uma sada da classe empresarial
para baratear custos de produo e para tanto utilizada como burla legislao trabalhista30,
a qual ataca por entender ser ultrapassada, no guardando mais relao com a realidade.31
27 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 133.28Ibidem, p. 136.29 DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao. So Paulo: LTr,
1999.30Ibidem, p. 116.31Ibidem, p. 106-107.
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Dentre os autores pesquisados, Diniz encontra-se entre os raros a afirmar
que a responsabilidade do Estado deve ser, muito mais que subsidiaria, objetiva, no sendo
necessria a caracterizao da culpa.32 Surpreende o autor ao afirmar que a classe operria,
partidos de esquerda, intelectuais e estudantes, tradicionalmente progressista apega-se a
conceitos conservadores, enquanto que os empregadores encontraram na terceirizao uma
alternativa para a era moderna33
Robortella34, por sua vez, pondera que as anomalias decorrentes da prtica
da terceirizao por "traficantes de mo-de-obra"35 no pode redundar na sua proibio ou
impedimento, pois, no havendo fraude a empresa pode terceirizar36. Como diversos autores
pesquisados, condena a subjetividade do conceito da atividade-meio e fim como elemento emque se fundamenta o Enunciado 331 do TST para definir se a terceirizao lcita ou no.37
Por ltimo, mas sem esgotar a lista dos autores favorveis terceirizao,
Garcia38 apresenta a idia original de se punir o administrador pblico quando identificada a
fraude na terceirizao, impedindo que este se proteja sob o manto do Art.71 da Lei 8666/93 e
do Enunciado 331 do TST para ser negligente na gesto dos contratos de prestao de
servios39.
No h como se considerar a terceirizao, j que no h norma legal que a
regule, no havendo, portanto, afronta lei. O que h, e ele condena, uma desconformidade
ao "legislado" pelo Enunciado 331 , "instrumento inbil para impor deveres e obrigaes".
Nesse conceito formam coro com ele os autores Roni Genicolo Garcia40 e Ari Possidonio
Beltran41.
Jos Diniz cita os fundamentos jurdicos da terceirizao, dentre os quais
surge o Decreto-Lei 2.300 de 21.11.86. O art. 5 deste Decreto-Lei define Servio como:
32 DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao. So Paulo: LTr,1999, p.125.
33Ibidem, p.102.34 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994.35Ibidem, p.247.36Ibidem, p.260.37Ibidem, p.259.38 GARCIA, Roni Genicolo . Manual de rotinas trabalhistas. 2. Ed. So Paulo: Atlas, 2002.39 Ibidem, p.375.40 Ibidem, p.365.41 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001, p.184.
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Toda atividade destinada a obter determinada utilidade concreta de interessepara a Administrao tais como demolies, fabricao, conserto, instalao,montagem, operao, conservao, reparao, manuteno, transporte,comunicao ou trabalhos tcnicos profissionais.42
Para ele as disposies legais criadas durante a dcada de 70, no intuito de
regulamentar o trabalho temporrio, acabaram tendo o seu objetivo desviado, tornando-se
assim a base legal para o incio do fenmeno da terceirizao. Mediante o que o TST
manifestou-se a fim de fazer frente a este fenmeno, primeiro por meio do Enunciado 256,
substitudo, posteriormente, pelo Enunciado 331, ainda em vigor.
1.2 Os doutrinadores contra a terceirizao na Administrao PblicaAssim como os autores citados no tpico anterior defendem veementemente
a terceirizao, de modo geral, e especificamente na Administrao Pblica, h doutrinadores
que se alinham com outros que tm entendimento diverso daquele. Nesse grupo destacam-se
os doutrinadores Maria Sylvia Zanella Di Pietro43, Getlio Eustquio de Aquino Jnior e
Marcos Souza e Silva Torres44, Jorge Luiz Souto Maior45
Os argumentos mais utilizados por eles so: fraude em licitaes e
concursos pblicos, reduo de postos de trabalho, artifcio utilizado para privatizao e para
burlar os limites de gastos com pessoal estabelecido a Lei de Responsabilidade Fiscal,
tentativa de legalizar o locao de mo-de-obra, prejuzo aos direitos trabalhistas, afasta o
trabalhador dos meios de produo, surgimento de empresas especializadas em terceirizao e
surgimento de pseudo "empresrios" que s fazem explorar o trabalhador; adicionalmente,
que a terceirizao generalizada pode comprometer a qualidade.
Apegam-se aos ditames do Enunciado 331 do TST para afirmar que aterceirizao s poderia ocorrer na atividade-meio, tratando como ilcita a que se vincular
atividade principal do tomador do servio.
42DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao . So Paulo: LTr,1999, p. 15-16.
43 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administrao pblica: concesso, permisso, franquia,terceirizao e outras formas. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005.
44 AQUINO Jr, Getlio Eustquio e TORRES, Marcos Souza e Silva in: Terceirizao e direito comparado.HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira (org.); DELGADO, Gabriela Neves (org.). (2004).
45 MAIOR, Jorge Luiz Souto in: Terceirizao no Direito do trabalho, HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira(org.); DELGADO, Gabriela Neves (org.). Belo Horizonte: Ed. Mandamentos, 2004.
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Para Di Pietro46 a terceirizao uma burla Constituio Federal
mascarada como prestao de servios tcnicos especializados. Categoriza a terceirizao
comoMarchandage , conceito extrado do direito Francs, o qual abomina o fornecimento de
mo-de-obra por empresa interposta, por se tratar de explorao do homem pelo homem.47
Aborda quase que de forma exclusiva o fato de o Estado lanar mo da
terceirizao como forma disfarada de privatizao.48
Insurge-se contra o fato de a Lei de Responsabilidade Fiscal ter determinado
que as despesas com mo-de-obra terceirizada sejam contabilizadas como "Outras Despesas
de Pessoal", o que segundo ela, aceita-se e sugere-se uma legalizao da ilicitude.49
bastante interessante o fato de Jorge Luiz Souto Maior no negar a
realidade da terceirizao, no atacando simplesmente o fenmeno, mas defendendo uma
regulamentao que possa garantir a assimilao desta nova realidade, sem ferir a parte mais
fraca da relao de emprego (o profissional terceirizado, neste caso).50
Ele acusa de ser o processo de terceirizao responsvel pela marginalizao
do terceirizado no ambiente de trabalho da contratada, como forma de ressaltar a falta de
subordinao e relao direta entre este e o gestor da tomadora do servio.51
abordada uma perspectiva mundial acerca do tratamento da terceirizao
em diversos pases, ressaltando-se por fim a importncia de uma regulamentao detalhada e
especfica para o caso brasileiro. Mesmo considerando que a terceirizao apresenta uma
perda visvel ao profissional, devido flexibilizao de algumas garantias plenamente
asseguradas, reconhecem ser um inquestionvel avano. 52
46 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica: concesso, permisso, franquia,terceirizao e outras formas. 4. ed. So Paulo: Atlas, 1988, p. 235.
47Ibidem, p.230.48Ibidem, p.228.49Ibidem, p.237.50 MAIOR, Jorge Luiz Souto in: Terceirizao no Direito do trabalho. HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira
(org.); DELGADO, Gabriela Neves (org.). Belo Horizonte: Ed. Mandamentos, 2004, p. 55-5651Ibidem, p 55.52 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva. In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;
DELGADO, Gabriela Neves (ORGS.). Terceirizao e direito comparado. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p. 140.
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1.3 Os doutrinadores que analisam a terceirizao, mas no se posicionamcontra ou a favor dela
Dentre os autores que fazem uma analise pormenorizada da problemticaTerceirizao, sem deixar pender o fiel da balana, destacam-se Francisco Marques Lima 53,
Francisco Ferreira Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante54, Nilton Oliveira
Gonalves55, Julpiano Chaves Cortez56, Irany Ferrari57 e Maurcio Godinho Delgado58
Fazem a contraposio dos argumentos de uma e outra corrente, referindo-
se a elas como modernista e conservadora59, ponderando-os em conformidade com a
"legislao" concernente terceirizao, sendo pontos comuns os conceitos, dentre outros, os
de atividade-meio e atividade-fim, responsabilidade subsidiaria e solidaria, culpa in eligendo e
in vigilando. Em funo disso, a posio de cada um deles ser mais evidenciada durante o
Captulo 2, que debate cada item relacionado.
unanimidade, lanam mo do Enunciado 331, narrando que, na tentativa
de adaptar-se nova realidade trabalhista, o TST publicou o Enunciado 256, substitudo,
posteriormente, pelo Enunciado 331, um pouco mais flexvel, que passou a permitir, tambm,
os servios especializados ligados exclusivamente atividade-meio da empresa tomadora e
livres de pessoalidade e subordinao direta tomadora. O impacto do inciso IV deste
Enunciado pe o tomador dos servios de terceiros, automaticamente, na condio de
responsvel subsidirio perante o empregado.
Enunciado 331 do TST
Contrato de prestao de servios. Legalidade - Reviso do Enunciado 256 -
O inciso IV foi alterado pela Res. 96/2000 DJ 18.09.2000.
I - A contratao de trabalhadores por empresa interposta ilegal, formando-se o vnculo diretamente com o tomador dos servios, salvo no caso de
53 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. SoPaulo: LTr, 2004, p. 111.
54 JORGE NETO, Francisco Ferreira e CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Responsabilidade e asrelaes de trabalho. So Paulo: LTr, 1998.
55 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005.56 CORTEZ, Julpiano chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004.57 FERRARI, Irany in: Estudos de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. JUNIOR, Juraci Galvo
(coordenador); AZEVEDO, Gelson de (coordenador). (1998).58 DELGADO, Maurcio Godinho. Introduo ao direito do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 1999.59GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005, p. 14.
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trabalho temporrio (Lei 6019, de 3.1.74).
II - A contratao irregular de trabalhador, por meio de empresa interposta,no gera vnculo de emprego com os rgos da Administrao Pblica
direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da Constituio da Repblica).
III - No forma vnculo de emprego com o tomador a contratao de serviosde vigilncia (Lei 7102, de 20.6.83), de conservao e limpeza, bem como ade servios especializados ligados atividade-meio do tomador, desde queinexistente a pessoalidade e a subordinao direta.
IV - O inadimplemento das obrigaes trabalhistas, por parte doempregador, implica na responsabilidade subsidiria do tomador dosservios, quanto quelas obrigaes, inclusive quanto aos rgos daadministrao direta, das autarquias, das fundaes pblicas, das empresas
pblicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participadoda relao processual e constem tambm do ttulo executivo judicial (artigo71 da Lei 8.666/93) (Res. 23/1993 DJ 21-12-1993) Referncia: Del 200/67,art. 10, 7 - Lei 5645/70, art. 3, pargrafo nico Lei 6019/74 - Lei 7102/83 CF 88, art. 37, inc. II.
Francisco Marques Lima60 define a terceirizao como uma flexibilizao
que tem como objetivo a concentrao do tomador do servio nas atividades que compem
seu objetivo final, evitando a disperso em atividades de apoio.
Fica evidente que existe uma preocupao com a desvirtualizao destes
princpios, o que acarretaria a prestao servios precrios por parte dos terceirizados e a
perda parcial e/ou total dos direitos a que os trabalhadores fariam jus no caso de uma
contratao direta.
Nilton Oliveira Gonalves61 descreve o contexto histrico da terceirizao
de mo-de-obra que, segundo ele, teve incio com a Lei 7102/83 (regulamentou a profisso de
vigilante e instituiu a terceirizao verdadeira). No obstante, alguns estudiosos afirmam que
esta modalidade de contratao se instalou com a Lei 6019/74.
De acordo com Gonalves,62 h a necessidade urgente de se editar norma
legal para regular a terceirizao, uma vez que "a definio de atividade-meio
60 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. SoPaulo: LTr, 2004, p. 111.
61 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005, p. 12.62
Ibidem, p. 14.
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excessivamente subjetiva [...] e subjetividade e legislao no combinam em nada"63.
Irany Ferrari64 alerta que na terceirizao motivada pela reduo de custos
h o risco de fraude, em especial quando as microempresas contratadas so compostas por ex-funcionrios que, outrora, realizavam a mesma funo. Ao mesmo tempo, justifica a
terceirizao do Servio Pblico como medida para deter o crescimento desmesurado da
mquina administrativa. 65
63 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005, p. 16.64 FERRARI, Irany In: GALVO JUNIOR, Juraci; AZEVEDO, Gelson de (COORDs). Estudos de direito dotrabalho e processo do trabalho. So Paulo: RT, 1998, p. 96.
65Ibidem.
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2 A TERCEIRIZAO (I)LCITAEste captulo, inicialmente, conceituar a terceirizao. Apresentar a
legislao vigente nacional e internacionalmente, tratar da terceirizao como burla ao
concurso pblico, o Enunciado 331 do TST, as atividades-meio como forma de definio da
(i)licitude da terceirizao, a responsabilidade subsidiria do tomador dos servios, as culpas
in eligendo e in vigilando, a contratao irregular e a terceirizao ilcita no servio pblico, a
locao de mo-de-obra disfarada de terceirizao de servios, a terceirizao e as
cooperativas de trabalho, a terceirizao e a globalizao da economia, a terceirizao comoforma de privatizao, alm de a corrupo na terceirizao de mo-de-obra especializa
dentro de Administrao Pblica.
2.1 Os conceitos de terceirizao
Para dar partida neste captulo, imprescindvel conceituar terceirizao: a agregao de uma atividade de uma empresa na atividade-meio de outra.66 [...] um
processo pelo qual a empresa, objetivando alcanar maior qualidade, produtividade e reduo
de custos, contrata um terceiro para realizar atividades que no constituem o seu objeto
principal.67 [...] uma das manifestaes da flexibilizao, significando a passagem para
terceiro da atividade-meio da empresa.68 uma estratgia empresarial que consiste na
possibilidade de contratar terceiro para a realizao de atividades que no constituem o objeto
principal da empresa.
69
Logo, pode-se compreender que terceirizao a transferncia de certas
atividades do tomador de servios, passando a ser exercidas por diferentes empresas.
66 CORTEZ, Julpiano chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004, p. 126.67 ELCIO, Alessandra Metzger; HENRIQUE, Virgnia Leite In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;
DELGADO, Gabriela Neves (ORGs).Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p. 85.68 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. SoPaulo: LTr, 2004, p. 111.
69 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 3.
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2.2 A legislao vigente nacional e internacionalmente
Julpiano Chaves Cortez70 descreve o panorama geral da terceirizao no
Brasil, reunindo as diversas normas legais a respeito do assunto, bem como suas
caractersticas, subclassificaes e os efeitos jurdicos registrados at ento, produzidos pelas
diversas modalidades econmicas das relaes de trabalho e terceirizao.
Ao retomar o histrico da terceirizao, novamente Julpiano Chaves Cortez
enriquece esta obra, citando desta vez as seguintes normas legais que discorrem sobre o
assunto, embora afirme que a Lei 8.666 seja superior e se sobreponha a todas as demais:
i) CLT (art. 455 caput);ii) Decreto Lei 200/67, art. 10, 7;iii) Lei 5645/70, art. 3, pargrafo nico (sobre a terceirizao no setorpblico);iv) Lei 5764/71 (sociedades cooperativas);v) Lei 6019/74 (trabalho temporrio);vi) Lei 7102/83 (servio de vigilncia); evii) Lei 8949/04 (sociedades cooperativas).71
Quanto jurisprudncia, Julpiano Chaves Cortez cita o Enunciado 256 que
permitia a terceirizao apenas de trabalho temporrio e servio de vigilncia. Posteriormenteo Enunciado 331 do TST passou a admitir a terceirizao das atividades de conservao,
limpeza e servios especializados ligados atividade-meio do tomador.72
No que diz respeito a estas leis e em virtude delas, Julpiano Chaves Cortez
faz referncia a trs possveis definies de terceirizao:
1) O processo de repasse de atividades secundrias a empresa terceira;
2) Processo de transferncia de atividades no essenciais ou estratgicas, deforma que sejam realizadas por outra empresa;3) Ocorrncia de atividades de uma empresa no mbito da atividade-meio de
outra.73
Ainda segundo Julpiano Chaves Cortez, no h leis especiais sobre a
terceirizao e sim algumas normas que regem formas de contrato de trabalho semelhantes
como a subempreitada de obra, trabalho temporrio, servios de vigilncia e sociedade
70 CORTEZ, Julpiano Chaves. Direito do trabalho aplicado. So Paulo: LTr, 2004, p. 47.71Ibidem, p. 125.72Ibidem, p. 125-128.73Ibidem, p. 126.
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cooperativa, entre outras. Este autor classifica as terceirizaes em dois subtipos:
a) legal ou lcita, sempre vinculada s atividades-meio da tomadora; e
b) ilegal ou ilcita, quando h contratao de terceiros para realizao de
atividade-fim, implicando em fraudes e prejuzos para os trabalhadores.74
O autor acima relata a existncia de terceirizao na atividade-fim com
apoio doutrinrio legal e jurisprudencial, citando os doutrinrios Jorge Pinheiro Castelo e
Cludio Dias de Castro.
Novamente Julpiano Chaves Cortez, agora transcrevendo a citao de Jorge
Pinheiro Castelo, para o qual, mediante o avano tecnolgico (computacional) atual, a
terceirizao tornou-se necessria para a quase totalidade das atividades de uma empresa,
incluindo aquelas de nvel ttico e estratgico.75 Assim, tem-se a concluso:
Como se percebe dos ensinamentos doutrinrios e jurisprudenciais citados, atendncia de no mais restringir a terceirizao apenas atividade-meio dotomador como critrio absoluto de legalidade ou validade. Inexistente a
inteno de fraudar direitos do trabalhador, a subcontratao na atividade-fim vai sendo lentamente admitida e reconhecida como instrumento deprogresso econmico e de gerao de empregos. 76
Por fim, refora a inconvenincia da opo pela terceirizao generalizada
por parte do empregador.77
O presente texto nos permite uma viso generalizada do fenmeno da
terceirizao de mo-de-obra. Julpiano Chaves Cortez78 propicia o entendimento panormico
da questo, desde as normativas legais existentes at a tendncia atual de flexibilizao no
julgamento da ilicitude desta modalidade de contratao.
O perodo de hegemonia do Estado de Bem-Estar Social - orientao em
que o Estado torna-se o agente regulamentador de toda a vida e sade social, poltica e
econmica do pas em parceria com sindicatos e empresas privadas, em nveis diferentes, de
74 CORTEZ, Julpiano Chaves. Direito do trabalho aplicado. So Paulo: LTr, 2004, p. 129.75Ibidem, p. 130.76Ibidem.77Ibidem, p. 131.78Ibidem.
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acordo com a nao em questo, onde cabe ao Estado do bem estar social garantir servios
pblicos e proteo populao - ocorreu entre o fim da 2 Guerra Mundial at meados dos
anos 70, que correspondeu ao clmax do Direito do Trabalho, nos pases ocidentais
desenvolvidos. Foi a partir daquela dcada que se iniciou uma fase de crise do Direito do
Trabalho e onde tomou corpo o fenmeno da terceirizao.79
O modelo que melhor tem atendido s atuais exigncias estritamente
capitalistas , indubitavelmente, o toyotista, pautado, entre outros aspectos, pela produo
enxuta, afirmando ser um modelo substancialmente prejudicial ao trabalhador.80 Em seguida,
expe as diferentes caractersticas da legislao trabalhistas em diversas naes:
A Frana, permite a terceirizao, mas coibi os abusos. Estabelece o
conceito daMarchandage como forma de terceirizao ilcita 81 A legalidade da terceirizao
assenta-se em pressupostos claros: exerccio do poder diretivo e especializao pela empresa
contratada e modo de remunerao suscetvel de gerar fraude82.
Na Espanha, a terceirizao tambm permitida. Todavia, h a
responsabilidade solidria entre tomador e prestador de servios, em especial com relao aos
salrios e responsabilidades com o profissional contratado. 83
Na Itlia, veda-se a intermediao de mo-de-obra. Nos casos em que
ocorra, haver a solidariedade do tomador, ocorrendo com esse o vnculo direto entre este e o
profissional terceiro.84
Em Portugal, permite-se a terceirizao como cesso somente em trabalho
temporrio ou empresas coligadas. Reconhece que h problemas na adoo desse fenmeno.No declara a responsabilidade solidria entre tomadora e prestadora de servios, mas em
caso de irregularidade, d ao trabalhador o direito de optar pela incluso nos quadros da
79 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva. In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;DELGADO, Gabriela Neves (ORGS.). Terceirizao e direito comparado. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p. 152.
80Ibidem, p. 153.81Ibidem, p. 145.82Ibidem, p. 146.83Ibidem.84Ibidem, p. 147-148.
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empresa tomadora; 85
Na Sucia, a terceirizao limita-se a trabalho temporrio para tarefas
especficas; 86
No Mxico, probe a intermediao de servios, admitindo a terceirizao
apenas para casos especficos como contratos de empreitada. Refere-se solidariedade, mas a
explica como subsidiariedade; 87
Na Costa Rica, a lei flexvel ao permitir a intermediao da mo-de-obra,
mas prev a responsabilidade solidria entre contratante e contratada.
88
Na Argentina, permite-se a terceirizao, desde que a prestadora fornea
atividade diferente da atividade especfica da tomadora. O trabalhador vincula-se ao sindicato
da tomadora e no da prestadora de servios89.
No Chile, admite-se a terceirizao e h responsabilidade subsidiria; 90
Colmbia. Permite a terceirizao. H a responsabilidade solidria; 91
Na Venezuela, permitida a terceirizao. H a responsabilidade solidria,
quando tenha recebido a obra executada;e 92
No Japo, existe detalhado tratamento dado terceirizao definindo que as
obrigaes para com os trabalhadores so de exclusividade da empresa prestadora, com
exceo das condies de ambiente de trabalho e segurana no trabalho, para com as quais atomadora tambm tem responsabilidade. 93
85 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva. In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;DELGADO, Gabriela Neves (ORGS.). Terceirizao e direito comparado. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p. 148-152.
86Ibidem, p. 152.87Ibidem, p. 153.88Ibidem, p.153-154.89Ibidem, p. 154.90Ibidem, p. 157.91Ibidem.92Ibidem, p. 157-158.93Ibidem, p. 158-159.
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Como se ver em tpico especfico, a terceirizao considerada fenmeno
mundial, sendo o Brasil um dos poucos pases em que no h legislao que aborda o tema de
forma profunda e clara.94
2.3 A terceirizao como burla ao concurso pblico
Irany Ferrari95 descreve a tendncia atual de centralizao e
descentralizao das organizaes, classificando a terceirizao como uma das formas de
descentralizao das atividades. Ressaltam as principais razes para a ocorrncia da
terceirizao nos dias atuais.
Ainda para Ferrari,96 a terceirizao uma modalidade de descentralizaodas atividades organizacionais que ocorre quando h a interposio de terceiro entre a
empresa e o consumidor (franchising, trading ou representao comercial autnoma), ou
quando h a interposio do terceiro entre o trabalhador e a tomadora de servios.
Ainda de acordo com Ferrari,97 boas so as razes para a opo pela
terceirizao por parte do tomador de servios seriam: conteno de despesas (seja com
encargos, salrios ou licenas) e a falta de preparao para a realizao de um determinadoservio, que poder ser fornecido por empresa especializada.
J os trabalhadores, segundo ele, optam pela condio de terceiros, pelos
seguintes motivos: pela oportunidade de se constiturem como microempresas e pela
possibilidade de ingressarem no mercado de trabalho, por meio de empresas que empregam
mo-de-obra temporria, de prestao de servios especializados ou de cooperativas. 98
Independentemente dos motivos e justificativas, Di Pietro condena a
contratao de trabalhadores por parte da Administrao Pblica, valendo-se da intermediao
94 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva. In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;DELGADO, Gabriela Neves (ORGS.). Terceirizao e direito comparado. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p. 160.
95 FERRARI, Irany In: GALVO JUNIOR, Juraci; AZEVEDO, Gelson de (COORDs). Estudos de direito do
trabalho e processo do trabalho. So Paulo: RT, 1998, p. 93.96Ibidem, p. 94.97Ibidem, p. 95.98Ibidem.
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de empresa com burla exigncia de concurso pblico.99
H consenso entre os autores que tratam do tema quanto a necessidade do
concurso pblico para a admisso de servidores pblicos e empregados para a AdministraoPblica. O concurso pblico considerado fator de moralidade na Administrao Pblica, 100
no podendo ser objeto de execuo indireta as atividades inerentes s categorias funcionais
abrangidas pelo plano de cargos do rgo ou entidade. 101
O ponto de discrdia surge quando os autores pesquisados tratam das
consequncias da ocorrncia da contratao de prestadores de servios de forma irregular por
parte da Administrao Pblica. De um lado, afirmam que, estando a Administrao Pblicasujeita ao princpio da legalidade, que mostra a necessidade da existncia do concurso
pblico, no se poder falar em vnculo de emprego com aquela (CF art. 37, II). O referido
artigo exige concurso pblico no s para o cargo, mas tambm para emprego pblico, ou
seja, para o regime da CLT. 102
Martins vale-se da hierarquia das leis para reafirmar que a CF est acima
das regras ordinrias da CLT e dos princpios do Direito do Trabalho. Implicitamente registra
que "ningum pode alegar ignorncia da lei" e que a falta de concurso pblico tanto ilegal
para a Administrao como para o trabalhador. 103
Em estreita obedincia legislao vigente, principalmente por se tratar de
norma constitucional, a maioria dos autores pesquisados juntam-se a Martins para defender
que o ingresso nos quadros da Administrao Pblica apenas pode ocorrer mediante a
aprovao em concurso pblico.104 Neste sentido, o uso de terceirizados em atividades
prprias de servidores pblicos constitui modalidade de burla exigncia constitucional de
prvio concurso pblico para admisso de pessoal 105 e a coexistncia de servidores efetivos e
99 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administrao pblica: concesso, permisso, franquia,terceirizao e outras formas. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005, p. 233.
100 JORGE NETO, Francisco Ferreira e CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Responsabilidade e asrelaes de trabalho. So Paulo: LTr, 1998, p. 321.
101 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. SoPaulo: LTr, 2004, p. 112.
102 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 157-158.103Ibidem, p. 142.104 MIGLIORA, Luiz Guilherme Moraes Rego; VEIGA, Luiz Felipe Tenrio da Veiga. Administrao do risco
trabalhista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 12-13.105 SANTOS, Srgio Honorato dos. Revista BDA - Boletim de Direito Administrativo. 342.9 (5). v. 24. n. 9.
set/2008. Ed. NDJ. Artigo: Reflexes sobre a Terceirizao Legal na Administrao Pblica. p. 1041.
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terceirizados indesejvel e pode, de fato, violar o princpio do concurso pblico,106 onde o
administrador pblico busca escapar norma do concurso pblico na admisso de servidores
(art. 37, II, Constituio). 107
Por outro lado, Felcio e Henrique apresentam-se enfaticamente contrrios
idia de que simplesmente seja o trabalhador contratado o prejudicado com a negao do
vnculo com o tomador do servio ou contratao irregular, sem concurso pblico, bem como
o no reconhecimento da responsabilidade subsidiria por parte do Estado. Propem a
imputao da punio ao gestor pblico em caso de terceirizao fraudulenta108. Apiam-se
na hipossuficincia do trabalhador na defesa dessas afirmativas.
De forma implcita, Fernando Cabral e Jos Costa unem-se a Felcio e
Henrique. Explicam, inclusive, as razes que levam os administradores a contratar a execuo
de servios terceirizados, Segundo eles, estes o fazem para escapar aos limites dos gastos com
pessoal prprio impostos por lei. Assim, burlam a norma do concurso pblico. 109
2.4 O Enunciado 331 do TST
Na falta de lei especial que regulamente a terceirizao, a orientao spartes fica a cargo do Enunciado 331 de 93 do TST, que o faz de forma sumria, por meio de
quatro incisos. 110
Com o Enunciado n. 331, o Tribunal Superior do Trabalho reviu e alterou
consideravelmente a orientao anterior (Enunciado 256), determinando que:
a) a mera intermediao de mo-de-obra ilegal, formando-se o vnculo
diretamente com o tomador do servio;
106 GARCIA, Flvio Amaral. Revista Brasileira de Direito Pblico - RBDP. ano.7. n.27. outubro/dezembro2009. Ed.Frum. Artigo: A relatividade da distino atividade-fim e atividade-meio na terceirizao aplicada Administrao Pblica. p. 153.
107 CABRAL, Fernando Andr Sampaio; COSTA, Jos Adilson Pereira da. Revista Sindicato dos AuditoresFiscais do Trabalho - SINAT. 331(5). Ano 5. n. 8. novembro/2003. Artigo: Ataque ao mundo do trabalho: aterceirizao na Administrao Pblica, p. 46.
108 FELCIO, Alessandra Metzger e HENRIQUE, Virgnia Leite In: Terceirizao no Direito do trabalho,HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira (ORG.); DELGADO, Gabriela Neves (ORG.). Belo Horizonte:Mandamentos, 2004, p. 110-111.
109 CABRAL, Fernando Andr Sampaio; COSTA, Jos Adilson Pereira da. Revista Sindicato dos AuditoresFiscais do Trabalho - SINAT. 331(5). Ano 5. n. 8. novembro/2003. Artigo: Ataque ao mundo do trabalho: aterceirizao na Administrao Pblica, p. 46.
110 CORTEZ, Julpiano Chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004, p. 127.
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b) os servios de vigilncia e limpeza, bem como quaisquer outros inerentes atividade-meio do tomador, no constituem fraude, desde que inexistentepessoalidade e subordinao direta;
c) o tomador responsvel subsidirio pelas obrigaes trabalhistas dosempregados do fornecedor, se este se revelar inadimplente. 111
O Enunciado 331 ressalta o alvo do egrgio TST: impedir a fraude mediante
a utilizao de empresa inidnea, empresa interposta com outro objetivo teria sido o de coibir
ingresso esprio ao servio pblico. 112
Em que pese a larga utilizao do Enunciado 331, talvez at por falta de
instrumento melhor, alguns autores condenam a aplicao de enunciados em substituio aleis. Para eles, torna-se inadequado, quando o Poder Judicirio no se limita a interpretar o
Direito, assumindo a posio de legislador. 113
Propem o cancelamento do Enunciado 331 considerando-o
inconstitucional, por faltar-lhe obedincia ao princpio da legalidade. 114
Julgam que a interveno estatal comum a realizada pelo Executivo.
Entendem ser uma violao ao art. 173, 4 da Constituio Federal a interveno do Estado
pelo Judicirio, frustrando a ao da empresa e eliminando a concorrncia.115
Na terceirizao no existe a atuao da empresa em eventual afronta lei,
mas em desconformidade ao "legislado" pelo Enunciado 331, 116 o qual traz a m lembrana
da recentemente extinta poca ditatorial, na qual tudo era possvel ao Estado - s ao Estado -
desobrigado de cumprir a lei. 117
Impe-se seja editada uma lei para regular de forma completa, geral e ampla
ao fenmeno da terceirizao, a qual seria til tambm para definir a responsabilidade dos
111 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994, p. 258.112 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2002, p. 334.113Ibidem, p. 335.114Ibidem, p. 337.115Ibidem, p. 361.116Ibidem, p. 365.117Ibidem, p. 370.
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entes da Administrao Pblica, seja no caso de contratao regular ou irregular. 118
O enunciado n. 331, IV, no poderia efetivamente considerar o privilgio de
iseno responsabilizatria contido no Artigo 71, 1. da Lei de Licitaes, por ser talprivilgio grosseira e afrontosamente inconstitucional. 119
Dentro do modelo jurdico brasileiro atual, ditado pelo Enunciado 331, do
TST, desde que estes servios no se vinculem atividade-fim, a tomadora ser considerada
responsvel, subsidiariamente. O critrio jurdico adotado, no entanto, no foi feliz, porque
para diferenciar a terceirizao lcita da ilcita partiu-se para pressuposto no demonstrvel,
qual seja, diferena entre atividade-meio e atividade-fim.120
O referido Enunciado fez letra morta o art. 2. da CLT, 121 cujo inciso II da
Smula 331 afasta a possibilidade de reconhecimento de vnculo de emprego com rgos da
Administrao Pblica, mesmo em se tratando de contratao irregular, por meio de empresa
interposta. 122
Como visto no captulo 1, diversas naes dispem de legislao
regulamentando a terceirizao. A matria merece uma disciplina especfica no direito
positivo brasileiro. 123
2.4.1 A diferenciao entre atividades-meio e atividade-fim como forma de definio
da licitude da terceirizao
Neste subtpico, ser explanada a diferenciao de atividade-meio e fim.
Segundo Robortella,124
possvel vislumbrar-se, em tese, a diferenciaoentre as atividades-fim e meio da empresa tomadora dos servios terceirizados. Entretanto,
118 FELCIO, Alessandra Metzger; HENRIQUE, Virgnia Leite In: Terceirizao no Direito do trabalho.HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Belo Horizonte:Mandamentos, 2004, p. 115-116.
119 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Responsabilidade e asrelaes de trabalho. So Paulo: LTr, 1998, p. 339.
120 MAIOR, Jorge Luiz Souto In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs).Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p. 51-52.
121Ibidem, p. 55-56.122 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Revista Justia do Trabalho. 34.331-1(5). v. 25. n. 291, maro/2008. HS
ed. Notadez. Artigo: Responsabilidade da Administrao Pblica na relao de trabalho triangular, p. 10.123 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994., p. 261.124Ibidem, p. 259.
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no h critrio absolutamente seguro para a diferenciao dessas atividades, ao ponto de
torn-lo determinante e garantido para a classificao da licitude do processo de terceirizao
ou para a definio de responsabilidades de empresas ou rgos da Administrao Pblica.
Todavia, se fosse necessrio estabelecer uma definio, poder-se-ia salientar
que a atividade-fim a finalidade principal do negcio e as correlatas. Para entender melhor
esta atividade, pode-se recorrer ao contrato social da empresa, verificando o seu objetivo
social. J as atividades-meio so todas as demais utilizadas para se alcanar o objetivo final
pretendido pela empresa.125
Para Duarte,126
tais conceitos no so jurdico-trabalhistas, mas inerentes atividade empresarial, que hoje contam com uma lgica prpria e um grau de especializao
tecnolgica que define necessidades totalmente alheias ao direito. Os conceitos de atividade-
fim ou meio so dinmicos e flexveis, podendo ser alterados e convertidos com o decorrer do
tempo ou da evoluo empresarial.
Amauri Mascara Nascimento127 reconhece que as empresas tm terceirizado
de maneira ampla, sem que isto implique em risco. Estas empresas extrapolam o conceito de
atividade-meio, o que se torna inevitvel diante da insuficincia deste critrio. Existem
atividades coincidentes com as atividades-fim que so altamente especializadas, justificando-
se plenamente a terceirizao das mesmas. A terceirizao um processo mundial que se
desenvolveu em funo da necessidade de empresas de grande porte de estabelecerem
parceria com empresas de menor porte, porm, especializadas.
Um exemplo tpico desta realidade so as montadoras de veculos, que
tomaram mercado no Brasil e em diversos pases no exterior, no sendo possvel determinar,
com clareza, quais so os servios essenciais a esta atividade (atividade-fim) e quais os
servios acessrios (atividade-meio). Uma montadora traz consigo uma gama de outras
interligaes empresariais, fazendo funcionar uma engrenagem complexa de parceria e de
gerao de novos postos de trabalho. A limitao da terceirizao s atividades-fim destas
organizaes traria grande dificuldade para a gerao de empregos no pas, esgotando as
125 ALENCAR, Marco. Atividades-fim e meio. Disponvel em: . Acesso
em 26 de maio de 2010.126 DUARTE, Adriana. A crise do fordismo nos pases centrais e no Brasil. Belo Horizonte: Revista Trabalho eEducao jul/dez 2000, n. 7, p. 11-13.
127 NASCIMENTO, Amauri Mascara. Curso de direito do trabalho. 7. ed. So Paulo: Saraiva, 1989, p. 14.
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possibilidades econmicas estabelecidas no art. 170 da CF. 128
Para Robortella,129 diferenciao entre atividade-meio e atividade-fim para
caracterizar a licitude ou ilicitude da terceirizao no aceitvel, porque a evoluo e oaperfeioamento da administrao empresarial so necessidades impostas pelo mercado
competitivo. Dessa forma, restaria afastada a idia preconceituosa de legalidade da
terceirizao apenas para as atividades-meio, sendo as terceirizaes relacionadas s
atividades-fim consideradas, previamente, sempre como ilcitas. Derrubando desta maneira o
argumento dos doutrinadores que so contra a terceirizao na Administrao Pblica.
As rotulaes prejudicam o conceito de terceirizao que, em sua essncia,trata-se de um fenmeno econmico que no pode ficar limitado apenas s atividades
acessrias. O uso intenso da tecnologia uma caracterstica da economia moderna,
conduzindo a uma especializao dos servios e permitindo uma maior produtividade.130
Este trabalho se pauta em uma perspectiva atual da terceirizao na
Administrao Pblica, mostrando a contribuio dela para o processo de melhoria e
modernizao do Estado. Levando-se em considerao o que diz Srgio Pinto Martins,131
deve-se questionar sobre a efetiva influncia da proibio da terceirizao para o alcance de
um Estado mais tico e lcito, visto que esta talvez seja apenas uma maneira simplista de
vislumbrar uma questo muito mais profunda e complexa.
O atual sistema econmico pautado em um acelerado avano tecnolgico e
permeado pela especializao de atividades, posto isto, comprova-se que a terceirizao na
Administrao Pblica tornou-se uma consequncia direta e mundial da modernizao deste
sistema. Desta forma, assim como na iniciativa privada, a Administrao Pblica tem por
obrigao a rpida adequao lgica de mercado atual, de forma a promover uma realizao
eficiente e satisfatria das atividades que lhe competem. Com isto, derruba-se mais uma vez o
argumento de que trabalho terceirizado e especializado no deve ser utilizado na
Administrao Pblica.
128 DUARTE, Adriana. A crise do fordismo nos pases centrais e no Brasil. Belo Horizonte: Revista Trabalho eEducao jul/dez 2000, n. 7, p. 20.
129 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994, p. 259.130 DUARTE, Adriana. A crise do fordismo nos pases centrais e no Brasil. Belo Horizonte: Revista Trabalho eEducao jul/dez 2000, n. 7, p. 20. p. 18.
131 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 157.
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Nos termos do Enunciado n. 331 do TST, a terceirizao deve ser utilizada
nas atividades-meio e no nas atividades-fim (principal, essencial). 132 e assim tem sido
admitida , o que no se afigura aceitvel, porque muitas vezes difcil ou mesmo impossvel
fazer essa distino. 133
A definio de atividade-meio excessivamente subjetiva. A instabilidade
legal generalizou-se no inciso IV, no qual o TST responsabilizou o tomador dos servios,
134Tal insegurana decorre do fato de no haver previso na Constituio Federal ou
legislao ordinria para disciplinar o tema ou servir como limitador das terceirizaes. A
fixao desse critrio como norteador das terceirizaes foi feita pela Justia do Trabalho. 135
No h razo lgica para que esse parmetro sirva apenas para uma espcie
de contrato (prestao de servios) e seja imprestvel para os demais. 136 O subjetivismo
presente no Enunciado 331 para definio da (i)licitude da terceirizao precisa ser revista
com urgncia por meio de regulamentao clara. Afinal, 'subjetividade e legislao no
combinam em nada". 137
Embora seja um dos principais defensores da terceirizao, Martins138 no
admite a terceirizao da atividade-fim, "pois a a empresa estaria fazendo arrendamento do
prprio negcio".
A atividade-fim a atividade em que a empresa concentra seu mister, isto ,
na qual especializada. 139 J atividade-meio aquela de mero suporte, que no integra o
ncleo, ou seja, a essncia das atividades empresariais dos tomadores. Ao contrrio do que
ocorre no setor privado, admite-se a terceirizao de atividade-meio no mbito da
Administrao Pblica, desde que ausentes "a pessoalidade e subordinao direta."140 Ainda
132 CORTEZ, Julpiano Chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004, p. 130.133 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001, p.
184.134 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005, p. 15.135 GARCIA, Flvio Amaral. Revista Brasileira de Direito Pblico - RBDP. ano.7. n.27. outubro/dezembro
2009. Ed.Frum. Artigo: A relatividade da distino atividade-fim e atividade-meio na terceirizao aplicada Administrao Pblica. p. 139.
136Ibidem, p. 144.137 GONALVES, Nilton Oliveira. Terceirizao de mo-de-obra. So Paulo: LTr, 2005, p. 16.138 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 47.139Ibidem, p. 133.140 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Revista Justia do Trabalho. 34.331-1(5). v. 25. n. 291, maro/2008. HS
ed. Notadez. Artigo: Responsabilidade da Administrao Pblica na relao de trabalho triangular, p. 9.
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que a terceirizao se relacione atividade-fim, no haver o risco de formao do vnculo
empregatcio com a Administrao Pblica. 141
As mutaes das tcnicas de produo que decorrem do processo cada vezmais acelerado de evoluo tecnolgica mostram a insuficincia do critrio como norte seguro
para as terceirizaes. O mesmo raciocnio se aplica Administrao Pblica, que no deve
ter as suas contrataes de prestao de servios limitadas e amarradas por um critrio que
est longe de ser aquele que melhor atende ao interesse pblico. 142
A diviso dos trabalhadores em "categorias" representa uma perversidade do
sistema contra os trabalhadores, podendo tender a uma marginalizao dos da atividades-meioem detrimento dos da atividade-fim. 143
A proibio da subcontratao na atividade-fim no se afigura aceitvel,
porque muitas vezes torna-se difcil ou mesmo impossvel fazer essa distino. 144
2.4.2 A responsabilidade subsidiria do tomador dos servios
Subsidiria vem do latim subsidiarius (secundrio). uma espcie debenefcio de ordem para o devedor secundrio, em caso de inadimplncia por parte do
devedor principal.145
Na terceirizao lcita, ser subsidiria a responsabilidade do tomador, 146
cuja jurisprudncia dominante no tem conferido guarida tese legal de irresponsabilizao
do Estado em face dos resultados trabalhistas da terceirizao. 147
Em funo das frequentes condenaes das empresas tomadoras dos
servios pelos Tribunais, sempre e sem maiores cuidados, mesmo em se tratando de
141 MIGLIORA, Luiz Guilherme Moraes Rego; VEIGA, Luiz Felipe Tenrio da Veiga. Administrao do riscotrabalhista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 12-13.
142 GARCIA, Flvio Amaral. Revista Brasileira de Direito Pblico - RBDP. ano.7. n.27. outubro/dezembro2009. Ed.Frum. Artigo: A relatividade da distino atividade-fim e atividade-meio na terceirizao aplicada Administrao Pblica, p. 151.
143 RODRIGUES, Bruno Alves In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves(ORGS). Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p. 78.
144 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994, p. 256.145 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 134.146 CORTEZ, Julpiano chaves. Direito do trabalho aplicado. 2. ed. So Paulo: LTr, 2004, p. 129.147 DELGADO, Maurcio Godinho. Introduo ao direito do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 1999, p. 403.
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contrataes de terceirizaes para as atividades-meio, perdeu-se de vista o objetivo precpuo
almejado pelo TST com o Enunciado 331: evitar o surgimento da empresa interposta,
fraudulenta.148
Ademais, no poderia a empresa ser condenada a uma responsabilidade,
com fundamento nico no Enunciado 331, TST, instrumento inbil para impor deveres e
obrigaes s pessoas. 149
Por outro lado, o mesmo enunciado exclua a responsabilizao, se o
tomador de servios fosse ente da Administrao Pblica ferindo, assim, o princpio da
igualdade, tendo sido dada nova redao ao mesmo por meio da Resoluo n. 97/2000 doTST, admitindo a responsabilidade subsidiria para a Administrao Pblica.150 O correto a
considerao de uma responsabilidade objetiva independente da existncia de culpa. 151, uma
vez que o Estado possui responsabilidade objetiva pelos atos de seus agentes. 152
A responsabilidade subsidiria da tomadora de servios vem atender
necessidade de segurana das relaes de trabalho com relao ao hipossuficiente, 153
decorrendo do fato de que o terceirizante tem culpa in eligendo ou in vigilando, por ter
escolhido mal ou por no ter fiscalizado seu parceiro. 154
O Enunciado 331 optou pela responsabilidade subsidiria, sendo aquela na
qual a pessoa fica obrigada pela dvida, no caso de inadimplemento da obrigao por parte do
devedor principal. 155 Porm, h uma corrente que nega a aplicao da responsabilidade
subsidiria da Administrao Pblica, tendo como suporte a prevalncia do entendimento do
1o do Artigo 71 da Lei no 8.666/1993 (Lei das licitaes) sobre o Enunciado 331.
148 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2002, p. 335.149Ibidem, p. 365.150Ibidem, p. 368.151 DINIZ, Jos Jangui Bezerra. O direito e a justia do trabalho diante da globalizao . So Paulo: LTr,
1999, p. 122.152 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2002, p. 377.153 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Responsabilidade e as
relaes de trabalho. So Paulo: LTr, 1998, p. 325.154 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 69.155 NUNES, Ana Flvia Paulinelli Rodrigues; BERNARDES, Denise Couto; PEREIRA, Mnica Guedes In:
MAIOR, Jorge Luiz Souto In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs).Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p. 252.
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Todavia, para Di Pietro156, no que se falar em tal conflito, pois o
Enunciado trata de fornecimento de mo-de-obra, enquanto que a Lei n. 8.666/93 trata de
contratos de servios diversos do fornecimento de mo-de-obra.
De qualquer forma, a Justia do Trabalho tem considerado que o
inadimplemento das obrigaes trabalhistas implica na responsabilidade subsidiria do
tomador, inclusive quanto aos rgos da Administrao Pblica. 157 considerando que o
inciso IV do Enunciado 331 do TST determina que o tomador de servio responsvel
subsidiariamente, ainda que seja ele o Poder Pblico. 158
2.4.3 A culpa in eligendo e a culpa in vigilando
Segundo, Srgio Pinto Martins, a responsabilidade subsidiria trabalhista
decorre do fato de que o terceirizante tem culpa in eligendo ou in vigilando, por ter escolhido
mal ou por no ter fiscalizado seu parceiro,159 ou seja, o tomador dos servios deve tomar
todo o cuidado ao escolher a empresa que lhe prestar o servio e, durante a execuo do
contrato, ter a certeza de que todos os compromissos perante os terceirizados esto sendo
cumpridos, sob pena de ser responsabilizados pelos dbitos decorrentes da relao trabalhista.
Essa posio corroborada pelos autores Jorge Neto e Cavalcante, ao
afirmarem que a contratao com a utilizao de empresa interposta no enseja o
reconhecimento do vnculo, porm, haver a responsabilidade pecuniria do Poder Pblico.
a aplicao da culpa in vigilando e in eligendo. 160
Embora goze de privilgios estabelecidos no inciso do Enunciado do TST, o
qual impossibilita o reconhecimento do vnculo empregatcio com a Administrao Pblica, a
entidade estatal que pratique terceirizao com empresa inidnea comete culpa in eligendo ou,
156 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administrao Pblica: concesso, permisso, franquia,terceirizao e outras formas. 4. ed. So Paulo: Atlas, 1988, p. 233.
157 BORGES, Alan Cndido Jesus; OLIVEIRA, Odney Mascarenhas de; NASCIMENTO, Silvan Jos Teles.Revista Caderno de aprendizado. 657(5) V.1. n.1. jan-jun/2003. Ed. Edufro. Artigo: "Outsourcing" -Terceirizao na Administrao Pblica. p. 117.
158 ROSIGNOLI, Juliana Bernardes; ARAJO, Michele Martinez Carneiro In: HENRIQUE, Carlos AugustoJunqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao e direito comparado. So Paulo: RT, 2004,
p. 270.159MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 69.160 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Responsabilidade e as
relaes de trabalho. So Paulo: LTr, 1998, p. 321.
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no mnimo, culpa in vigilando 161 respondendo subsidiariamente com a prestadora dos
servios, nos termos do inciso IV do mesmo diploma.
Segundo Garcia, a rigor, o Poder Pblico mereceria tratamento no sisonmico mas at mais rigoroso. O Poder Pblico daqueles empregadores que mais
desrespeitam a lei.162 A responsabilidade pecuniria do Poder Pblico inarredvel se a
empresa interposta se mostrar inidnea (culpa in vigilando e in eligendo). 163
Ao analisarem o tema, mais uma vez os autores manifestam-se quanto ao
conflito entre 1. do art. 71 da Lei n. 8.666/93 e o Enunciado 331 do TST. Julgou o TST
que o a Lei 8666/93 trata de responsabilidade direta da Administrao Pblica, mas no asubsidiria, decorrente da culpa in eligendo e in vigilando. Para Martins164, O 1. do art. 71
da referida Lei viola o princpio da igualdade.
Como j dito anteriormente, no basta apenas terceirizar uma determinada
atividade da Administrao Pblica, faz-se necessrio um acompanhamento para constatar o
bom cumprimento do servio durante a execuo do contrato. A controladoria na
Administrao Pblica forneceria informaes e dados ao gestor165, possibilitando-lhe tomar
uma postura de avaliador do desempenho da atividade terceirizada, em benefcio da
Administrao Pblica.166
2.5 A contratao irregular e a terceirizao ilcita no servio pblico
Francisco Marques Lima167 considera ilcita a terceirizao fraudulenta que
fere a legislao de proteo ao empregado, ou seja, para ele ilcita aquela que tem por
objetivo a substituio de pessoal envolvido em atividade-fim de carter permanente. Outra
forma fraudulenta de terceirizao, na viso deste autor, aquela que ocorre no servio
pblico, em especial estadual e municipal, que tem como objetivo principal a burla do
161 DELGADO, Maurcio Godinho. Introduo ao direito do trabalho. 2. ed. So Paulo: LTr, 1999, p. 404.162 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2002, p. 369.163Ibidem, p. 373.164 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 144.165 BORGES, Alan Cndido Jesus; OLIVEIRA, Odney Mascarenhas de; NASCIMENTO, Silvan Jos Teles.
Revista Caderno de aprendizado. 657(5) V.1. n.1. jan-jun/2003. Ed. Edufro. Artigo: "Outsourcing" -Terceirizao na Administrao Pblica: Orientao para a Perspectiva da Melhoria do Desempenho nos
Servios Pblico, p. 119.166Ibidem, p. 124.167 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. So
Paulo: LTr, 2004, p. 112.
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concurso pblico, com fins eleitoreiros.
No que diz respeito, especificamente ao servio pblico, para o autor, a
terceirizao ser permitida apenas para atividades materiais acessrias, instrumentais oucomplementares aos assuntos que constituem rea de competncia legal do rgo ou
entidade. 168
So destacados os servios que no podem, na Administrao Pblica, ser
objeto de execuo indireta, ou seja, de terceirizao. So os servios inerentes s categorias
funcionais previstas pelo plano de cargos e salrios do rgo ou entidade. Excepcionalmente,
podero ser objeto de terceirizao na Administrao Pblica servios para os quais existaexpressa disposio legal permitindo a execuo indireta, ou em caso de extino parcial ou
total da funo no quadro geral de pessoal.169
2.5.1 A locao de mo-de-obra disfarada de terceirizao de servios
A terceirizao tema polmico e provoca debates acerca do tratamento
dispensado pelo tomador aos obreiros terceirizados em face dos trabalhadores por ela
diretamente admitidos. Maurcio Delgado170
defende a aplicao do princpio da isonomiaentre eles.
Mesmo que formalmente vinculado terceirizante, a sorte do assalariado
pode depender muito mais das decises tomadas pela contratante do que seu empregador
imediato171. Alm disso, para manter a figura da terceirizao, a tomadora no poderia
escolher qual empregado ela quer, nem impedir eventual substituio. 172 Mas, o fato que
isso termina por acontecer por meio da influncia e sugestes.
Outro agravante apontado por Souto Maior173 da necessidade que
168 LIMA, Francisco Meton Marques de. Elementos de direito do trabalho e processo trabalhista. 10. ed. SoPaulo: LTr, 2004, p. 112.
169Ibidem.170 DELGADO, Maurcio Godinho. Introduo ao direito do trabalho 2. ed. So Paulo: LTr, 1999, p. 388.171 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001, p.
181.172 FELCIO, Alessandra Metzger; HENRIQUE, Virgnia Leite In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira;
DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte:Mandamentos, 2004, p. 88.
173 MAIOR, Jorge Luiz Souto In: HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs).Terceirizao no Direito do trabalho. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p. 55.
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terceirizante e tomador tm em demonstrar a regularidade do contrato como terceirizao
genuna que o trabalhador terceirizado deixado meio de lado, principalmente para que no
se diga que houve subordinao direta com a tomadora, caracterizando a "locao" de mo-
de-obra.
A locao da fora de trabalho ilcita, visto que os homens no podem ser
objeto desse tipo de contrato, apenas as coisas. Uma das preocupaes principais do
Enunciado 331 do TST foi a de no permitir o leasing de mo-de-obra ou Marchandage, no
sentido da explorao do homem pelo prprio homem. 174
Outro cuidado que a Administrao deve tomar garantir o cumprimentodas clusulas contratualmente avenadas, mas sempre com o preposto da prestadora, nunca
com seus empregados e deixar o gerenciamento deste a cargo da empresa terceirizante. 175
Alguns juristas, dentre eles, Robortella176 vem na subcontratao uma
forma de Marchandage, conceito extrado da legislao Francesa como meio de burlar a
vinculao contratual entre o empregado e empregador. instituto execrado e banido pela
maioria dos sistemas jurdicos.
Di Pietro177 diz que uma das formas para se identificar a fraude e se est
havendo meramente o fornecimento de mo-de-obra, disfarado de terceirizao verificar se
a empresa contratada se substitui e os trabalhadores migram de uma contratada a outra e
continuam a prestar servios ao mesmo tomador.
2.5.2 A terceirizao e as cooperativas de trabalho
A Constituio Federal em diversos dispositivos menciona as cooperativas,
visando fomentar o seu desenvolvimento (principal deles: artigo 5., inciso XVII). 178
174 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 119.175 SANTOS, Srgio Honorato dos. Revista BDA - Boletim de Direito Administrativo. 342.9 (5). v. 24. n. 9.
set/2008. Ed. NDJ. Artigo: Reflexes sobre a Terceirizao Legal na Administrao Pblica. p. 1038.176 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994, p. 245.177 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administrao pblica: concesso, permisso, franquia,
terceirizao e outras formas. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2005, p. 233.178 LIMA, Denise Hollanda Costa. Revista Frum de Contratao e Gesto Pblica (FCGP). Ano 6. n. 62.fevereiro 2007. ed. Frum. Artigo: As cooperativas de trabalho e a terceirizao na Administrao Pblica. p.20.
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O fenmeno da terceirizao tem sido analisado de forma paralela com o da
flexibilizao de normas. 179 A cooperativa foi uma das formas adotadas para a sua
implementao,180 no s no setor privado, mas no setor pblico.181
Porm, como j ocorrera com outras estratgias ou, simplesmente, artifcios,
a sua adoo passou a ser de forma desmedida, exagerada e desvirtuada. No poderia, mas
passou a ser intermediadora de mo-de-obra.182 Na prtica, o que se vem observando com
frequncia a criao de falsas cooperativas de trabalho, a fim de fraudar os direitos
trabalhistas inerentes a seus "cooperados". 183
As cooperativas, muitas vezes, podem servir como mecanismo para seefetivar a terceirizao de servios.184 O fenmeno das cooperativas de explorao de mo-de-
obra vem se alastrando; a gatoperativa, assim denominada por tratar-se de cooperativas que
fraudam a Lei. 185
Surgiram muitas controvrsias desde quando as cooperativas de trabalho
comearam a se apresentar nos certames. 186 Em se tratando de cooperativa de mo-de-obra,
estar provada a utilizao do instituto da terceirizao para fornecimento de pessoal sem o
devido concurso pblico.187
Diante disso, os tribunais trabalhistas tm considerado ilegais os contratos
de prestao de servios celebrados com sociedades cooperativas. 188
179 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001, p.179.
180 MARTINS, Srgio Pinto. A terceirizao e o direito do trabalho. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2003, p. 98.181Ibidem, p. 149.182Ibidem, p. 99.183Ibidem, p. 21.184 FERNANDES, Mateus Beghini; FALEIRO, Teresa Cristina Meyer Pires In: HENRIQUE, Carlos Augusto
Junqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao e direito comparado. So Paulo: RT, 2004,p. 165.
185Ibidem, p. 168.186 LIMA, Denise Hollanda Costa. Revista Frum de Contratao e Gesto Pblica (FCGP). Ano 6. n. 62.
fevereiro 2007. ed. Frum. Artigo: As cooperativas de trabalho e a terceirizao na Administrao Pblica, p.23.
187 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Revista Legislao do Trabalho. 34.331(5). v. 67. n. 6. Junho/2003. SoPaulo: LTr. Artigo: Terceirizao e intermediao de mo-de-obra na Administrao Pblica, p. 688.
188 MIGLIORA, Luiz Guilherme Moraes Rego; VEIGA, Luiz Felipe Tenrio da Veiga. Administrao do riscotrabalhista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 14.
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2.6 A terceirizao e a globalizao da economia
Como j exposto no tpico que tratou da legislao internacional sobre a
terceirizao, o Cdigo do Trabalho Francs considera a intermediao de mo-de-obra como
trfico de mo-de-obra, e no s condena, como tambm a probe.189
A doutrina espanhola defende que a terceirizao lcita importa no
estabelecimento da responsabilidade solidria entre os sujeitos da relao jurdica pactuada -
contratante e contratada.190
A Itlia veda a mera intermediao de mo-de-obra o trabalhador ser
vinculado diretamente ao tomador dos servios. 191
O legislador Portugus preocupa-se em no se afastar da realidade social da
contnua demanda por servios terceirizados subsiste a regra geral da proibio da "cedncia
de trabalhadores".192
A legislao mexicana probe a intermediao de mo-de-obra. Caso se
verifique, por se tratar de fraude, ser o tomador de servios responsabilizado.
193
A Costa Rica aceita a intermediao de mo-de-obra, mas com
solidariedade entre pactuantes. 194
Na Argentina, verificada a intermediao, tem-se que o vnculo dar-se-
com a empresa tomadora. 195
No Chile h a co-responsabilidade entre contratante e contratado, na relaode terceirizao, tambm de forma subsidiria.196
189 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva In: HENRIQUE, Carlos AugustoJunqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao e direito comparado. So Paulo: RT, 2004,p. 145.
190Ibidem, p. 146.191Ibidem, p. 147.192Ibidem, p. 148-149.193Ibidem, p. 153.194Ibidem, p. 154.195Ibidem, p. 155.196Ibidem, p. 157.
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No Japo, a direo da atividade da empresa fornecedora. Porm, h
exceo, feita quanto obrigao de garantir a segurana no local de trabalho, que vincula
tambm a tomadora.197
Neste sentido, fez-se necessrio reprisar o tema para demonstrar que o
fenmeno da terceirizao quase universal, 198 e que a terceirizao deve ser regulada por
diploma legal expressivo. 199
Nelson Mannrich, ao prefaciar a obra de Ari Possidonio Beltran, explica a
necessidade de a terceirizao ser compreendida e a legislao que trata do assunto
modernizada. Inicia dizendo que "j anunciaram o fim do emprego, o fim do Direito doTrabalho, o fim da Justia do Trabalho. Tal como o fim do mundo. O mundo no acabou, mas
mudou". 200
Prossegue afirmando que a realidade social se transformou e agora pede
novas solues 201 e as necessidades econmicas impem concentraes empresariais com
intuito operacionais ou com intuitos de dominao dos mercados. 202
No Brasil, por falta de uma legislao clara, restou comprometida a
tendncia mundial de especializao e de terceirizao, pela aplicao sem maiores critrios,
do Enunciado 331, TST, que gera insegurana jurdica, uma vez que as tomadoras dos
servios so condenadas subsidiariamente, mesmo em caso de terceirizao regular. 203
Robortella204 adota a mesma linha ao afirmar que o DIEESE reconhece no
processo de terceirizao uma tendncia internacional e alerta para os prejuzos de o Brasil
no estar seguindo essa tendncia, por puro conservadorismo.
197 AQUINO Jr, Getlio Eustquio; TORRES, Marcos Souza e Silva In: HENRIQUE, Carlos AugustoJunqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao e direito comparado. So Paulo: RT, 2004,p. 159.
198Ibidem, p. 160.199Ibidem, p. 162.200 BELTRAN, Ari Possidonio. Dilemas do trabalho e do emprego na atualidade. So Paulo: LTr, 2001, p. 7.201Ibidem, p. 106.202Ibidem, p. 93.203 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2002, p. 335.204 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. So Paulo: LTr, 1994, p. 239.
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2.7 A terceirizao como forma de privatizao
A orientao favorvel transferncia da execuo de tarefas auxiliares da
Administrao Pblica para a iniciativa privada foi regulada, no mbito federal, a partir da
vigncia do Decreto-Lei n. 200/67. Assim surge a possibilidade de transferir a terceiros a
execuo de atividades por intermdio da prtica terceirizante.205
Dentre os autores que afirmam que a Administrao Pblica tem se valido
da terceirizao como uma das formas de privatizao, destacam-se Di Pietro206 e Martins207.
Embora a Administrao Pblica venha se socorrendo da terceirizao como
forma de privatizao, no poder terceirizar servios que lhe so peculiares, como de justia,segurana pblica, fiscalizao, diplomacia, etc. A terceirizao da Sade tem previso na
prpria Constituio, onde o ensino tambm poder ser ministrado pela iniciativa privada. 208
Outro propsito de a Administrao recorrer terceirizao para executar
suas atividades materiais acessrias, diminuir o tamanho, evitar o inchao ou impedir o
crescimento desmesurado da mquina administrativa. Essa viso compartilhada por Svio
Zainaghi209
e Inary Ferrari210
. Por essa via, ambos justificam a utilizao de empresasprivadas .
De qualquer modo, a terceirizao na Administrao Pblica constitui
instrumento velado de privatizao e ato que fere a ordem normativa. 211A diretriz que no
podem ser terceirizados servios cujas atividades sejam inerentes s categorias funcionais
abrangidas pelo plano de cargos do rgo ou entidade. 212
205ROSIGNOLI, Juliana Bernardes; ARAJO, Michele Martinez Carneiro In: HENRIQUE, Carlos AugustoJunqueira; DELGADO, Gabriela Neves (ORGs). Terceirizao e direito comparado. So