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A SAÚDE DA MULHER E A CONTRIBUIÇÃO DE ENFERMAGEM FRENTE A MULHER QUE SOFREU ABORTO1
Eloisa Salete Bezerra2
Jaqueline Valeria Ribeiro3
Fabiana Waterkamp4
RESUMO: O aborto é um procedimento físico, que provoca um choque no sistema nervoso e pode desenvolver um impacto na personalidade da mulher. Dessa forma, a mulher que sofre aborto, além das dimensões psicológicas, necessita entender a morte de seu filho como uma realidade social, emocional, intelectual e espiritual. A Organização Mundial de Saúde (OMS) entende como aborto a expulsão do concepto com peso inferior a 500 g, ocorre de forma precoce, antes da 13ª semana, e tardia, entre a 13ª e a 22ª semanas de gestação, sendo classificado por sua etiologia como espontâneo ou provocado. O estudo busca verificar os principais fatores de riscos que levam a ocorrência do aborto espontâneo e provocado, a saúde da mulher e a contribuição de enfermagem frente a mulher que passa por esse processo. Dessa forma, a revisão e estudo de literaturas de forma descritiva realizada por meio de pesquisa bibliográfica, contribuindo para o conhecimento sobre a saúde da mulher, a assistência de enfermagem frente a paciente que sofreu aborto, seja espontâneo ou provocado, bem como dos cuidados e das condutas éticas ao atendimento prestado por esses profissionais à mulher em situação de abortamento. O tratamento humanizado pela equipe de saúde, em especial pela enfermagem é fundamental, devendo ser demonstrado por meio do respeito à opção pelo aborto.
Palavras-Chave: Saúde da Mulher. Enfermagem. Aborto espontâneo e provocado.
INTRODUÇÃO
A gravidez é um momento de felicidade, e tem um significado particular para
cada mulher, e varia de acordo com a sua estrutura de personalidade e subjetividade,
associado ao histórico de vida social e cultural e o momento atual de cada uma. No
entanto, o abortamento espontâneo é de processo natural e sem influência de agentes
externos, ele provoca na mulher uma perda física e também emocional, porque além
do filho que perdeu ela vê seus sonhos e desejos ir embora (BENUTE, et. al., 2009).
O aborto é um tema que gera polêmica e discussão, onde consequentemente
é um grande problema de saúde pública no mundo, responsável por manter altas
_______________________________
1 Artigo Científico apresentado a Faculdade de Pimenta Bueno-FAP. Como requisito obrigatório para conclusão do curso de Bacharel em enfermagem. 2 Graduanda de Enfermagem da Faculdade de Pimenta Bueno- FAP. Email: 3 Psicóloga Especialista Docente Orientadora de trabalho de conclusão de curso. Email: [email protected] 4 Co-Orientadora: Enfermeira Obstetra Especialista em Unidade terapia Intensiva. E-mail: [email protected]
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taxas de mortalidade materna em muitos países em desenvolvimento. Dessa forma,
o aborto induzido ou provocado consiste também em um problema de saúde pública
no Brasil, devido sua ilegalidade levando à prática clandestina, provocando conflitos
sociais, de religião, de cultura, morais e éticos.
A incidência de óbitos por complicações do aborto, de acordo com o Sistema
Único de Saúde (SUS), aproximadamente em torno de 12,5%, ficando na posição de
terceiro lugar entre as causas de mortalidade materna com variações entre os estados
brasileiros (DOMINGOS, 2010).
O processo de abortamento espontâneo não é algo que a mulher está
preparada para vivenciar já que depois da descoberta da gestação ela consegue
imaginar sua vida com seu filho e começa a realização de planos, mesmo aquelas que
não planejaram a gestação (ASSUNÇÃO, 2003).
A incidência do aborto, também costuma provocar, além das possíveis
consequências físicas, consequências psicológicas. Pinto (2003) como crises de
arrependimento, remorso e culpa, e reações psiconeuróticas ou mesmo psicóticas
graves. Também oscilações de ânimo e depressões; choro imotivado, medos e
pesadelos.
A enfermagem deve oferecer tratamento assistencialista de qualidade e
competente desde o momento que ela esteja sendo diagnosticada e medicada, com
base em seu diagnóstico, até sua recuperação. Transmitindo confiança e segurança
ela irá encarar com mais facilidade o que aconteceu e se sentirá mais segura e
preparada para uma futura gestação (ALFARO-LEFEVRE, 2005).
Para Franco, et al. “A atuação do(a) enfermeiro(a) nos casos de aborto, seja
ele espontâneo ou planejado, tem importância significativa para a recuperação da
paciente”, (2009, p.1). Em função das consequências físicas e psicológicas que
podem ocorrer, essas mulheres necessitam de uma atenção especial dos
profissionais de saúde, e como a enfermagem está mais próxima dessas mulheres,
tem maior missão de ajuda-las entender, compreender e o que de fato acontece.
Preconiza-se que no atendimento a essas mulheres os profissionais de
enfermagem promovam uma escuta qualificada, pois o abortamento é considerado
como uma situação de enfrentamento na qual os diversos sentimentos vivenciados
expõem a mulher a um momento de fragilidade pessoal, ressalta (SILVA, 2015).
As consequências emocionais desencadeadas pelo abortamento são muito
particulares, muitas vezes é o final de um sonho, de uma gestação, de uma etapa, e
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uma angústia. Dentro dessa perspectiva, este trabalho preocupa-se em conceituar o
aborto espontâneo e provocado, quais os principais fatores, incidências,
consequências do abortamento, e a contribuição da enfermagem frente a saúde da
mulher que passa por esse processo. O enfermeiro tem oferecido assistência e
acolhimento humanizado as mulheres que sofrem aborto? E qual tem sido sua
contribuição?
Os aspectos metodológicos desse trabalho, foi feito a revisão e estudo de
literaturas na forma descritiva, realizada por meio de pesquisa bibliográfica, com a
utilização de livros, revista, dissertações, sites e artigos científicos para responder a
questão norteadora da problemática levantada e dos objetivos traçados
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 CONCEITO DE ABORTO
A expressão aborto, que cientificamente, corresponde o produto do
abortamento é popularmente utilizado como sinônimo deste, confundindo‐se, assim,
o significado da ação com o resultado. “O aborto, ou abortamento, seria a expulsão
do concepto antes da sua viabilidade, seja ele representado pelo ovo, pelo embrião
ou pelo feto” Silveira (2016, p. 1).
Segundo Pinto (2003) a palavra aborto vem do latim abortus, étimo que
transmite a ideia de privação do nascimento. Dessa forma, aborto é a interrupção
intencional da gravidez, resultando a morte do nascituro ou nascente.
O abortamento pode ser espontâneo ou provocado, espontâneo ocorre tanto
por fatores físicos ou psicológicos, onde o concepto não se desenvolve e é expulso
do corpo da mãe naturalmente, e essa situação vivenciada pode trazer grandes
frustrações e medo de uma nova gestação. Enquanto o provocado, é quando a
gestante utiliza métodos para induzir ou retirar o feto (SILVEIRA, 2016).
Enquanto Andrade et. al. (2014) conceitua aborto ou abortamento como sendo
morte, com ou sem expulsão do feto antes da 22ª à 28ª semana de gestação, ou
quando o feto pesar menos de 500g. O aborto induzido ou provocado consiste num
problema de saúde pública no Brasil devido sua ilegalidade levando à prática
clandestina do mesmo, gerando conflitos morais, éticos, sociais, legais culturais e
religiosos
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2. INCIDÊNCIA DO ABORTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Cerca de setenta mil mulheres por ano em todo o mundo morrem em
consequência de abortos espontâneos ou provocados em condições de risco. Mesmo
em países que o aborto já é legalizado, existem mulheres que morrem por causa de
más condições operatórias. Há poucos lugares em que as condições são favoráveis
e não apresentam risco à mulher, além disso, o custo é altíssimo, fazendo com que
muitas procurem métodos mais baratos, porém mais perigosos (MOREIRA, 2007).
Silveira (2016) escreveu que na América do Sul está com o maior índice em
números de abortos realizados clandestinamente por ano, vindo ficando em segundo
lugar a América Central e em terceiro a África. Quando 48% dos abortos realizados
são em meninas de até 19 anos. Enquanto no Brasil, de cada mil adolescentes
grávidas, trinta e duas fazem aborto.
Segundo dados da (OMS), o Brasil lidera os altos índices nas estatísticas sobre
abortamento provocado. No entanto, em todo o mundo, é um índice alarmante
totalizando aproximadamente em quatro milhões por ano. Em um contingente de 36
milhões de mulheres, representando uma em cada nove mulheres brasileiras realiza
procedimento abortivo como meio para interromper a gravidez, quando não foi
planejada (BRASIL, 2005). Representando uma grande discussão para a saúde
mundial.
Aproximadamente entre 9,5% a 29,2% das mulheres que abortam não tinham
filhos, um dado que leva muitos estudos a inferir que o aborto é um instrumento de
planejamento reprodutivo importante para as mulheres com filhos quando os métodos
contraceptivos falham ou não são utilizados adequadamente, levando a incidência de
abortamento por essas mulheres (BRASIL, 2009).
De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), a incidência no Brasil de
óbitos por complicações do aborto oscila em torno de 12,5%, ocupando o terceiro
lugar entre as causas de mortalidade materna com variações entre os estados
brasileiros, com maior índice nas regiões norte e nordeste (MARIUTTI, et. al., 2005).
O aborto causa sérios danos físicos à mulher que o pratica. Quando é realizado
o procedimento de abortamento, a praticante tem que estar sabendo de todas as
consequências possíveis que irá acompanhá‐la durante o ato e após o processo de
abortamento. No entanto as consequências físicas, dependendo do método usado,
podem ser muito sérias para a mulher, inclusive por ela correr risco de morte. Assim,
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o aborto, quando não determina em morte, pode deixar consequências irreparáveis
no corpo físico e no psicológico (MOREIRA, 2001).
Dependendo do método utilizado, da clínica utilizada, do profissional que irá
realizar o procedimento, essa mulher corre um grande risco como de: Perfurações do
útero, hemorragias, infecções, lesões intestinais, complicações renais e hepáticas
pelo uso de produtos tóxicos, esterilidade e abortos espontâneos em próximas
tentativas de ter outro filho. Porém, quando o aborto é feito em condições boas e
decentes, alguns desses riscos podem diminuir (BENUTE, et. al., 2002).
No Brasil, onde a legislação só permite o aborto intencional e, em poucas
exceções, acaba sendo um conflito de dever estabelecido moralmente, pois o
significado particular de cada gestação faz parte do contexto individual, no qual, por
vezes, a expectativa social da maternidade é vista como vivência maravilhosa, ideal,
e a mãe deve desempenhar seu papel com perfeição (BENUTE, et. al., 2002).
A violação das leis sociais e morais, resultam em conflitos internos nos quais
uma das saídas é a própria culpa, pois estes conflitos exigem que a mulher desperte
e reorganize a consciência. Para tanto, Benute et. al. (2006) afirma que no aborto por
anomalia fetal letal, a autorização judicial ameniza o sentimento de culpa, conferindo
ao casal, ou para a mulher quando assume o ato sozinha, também sentimento de
adequação social. O abortamento pode ser provocado quando a interrupção da
gravidez é decisão transformada em alguma ação com essa finalidade, ou
espontâneo, quando a perda do feto não é consequência de manipulação voluntária.
Segundo Perez (2016) também pode sofrer danos psicológicos graves, onde
muitas mulheres acabam ficando com a autoestima baixa, perdem o desejo sexual,
passam a ter comportamentos autodestrutivos e entram em uma profunda depressão.
Além disso, ainda existe bastante preconceito para com a mulher que pratica o aborto,
causando assim sérios danos aos relacionamentos sociais desta mulher.
Segundo Pinto (2003) as consequências psicológicas para a mãe levam a
queda na autoestima pessoal pela destruição do próprio filho, frigidez perda do desejo
sexual, aversão ao marido ou ao amante, culpabilidade ou frustração de seu instinto
materno, desordens nervosas, insônia, neuroses diversas e doenças
psicossomáticas.
Outra consequência do aborto é o fator social, quando este interfere no
relacionamento interpessoal, frequentemente, ficando comprometido depois do aborto
provocado. Entre os esposos ou futuros esposos: Antes do matrimônio: muitos jovens
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perdem a consideração ou o respeito pela jovem que abortou, diminuindo a
possibilidade de casamento; depois do casamento: hostilidade do marido contra a
mulher, se não foi consultado sobre o aborto; hostilidade da mulher contra o marido
se foi obrigada a abortar, deixando grandes consequências, no meio da família
(PINTO, 2003).
3. A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO AS MULHERES QUE SOFRERAM ABORTO
Ao entrar no século XXI, a questão sobre o aborto ainda constitui um grave e
sério problema na saúde pública, pois é um dos temas que gera maior polêmica,
quando envolvem a área da saúde da mulher e, especificamente, o alto índice de
mortalidade materna e infantil. Trata-se de um assunto grave e atual que promove
diferentes opiniões entrando em posições e conflitos pessoais, culturais, religiosos e
sociais (DOMINDOS, 2010).
Enfermagem, o exercício profissional inclui a atuação do enfermeiro na
promoção da recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, tendo como base
princípios legais e éticos. Soares, et. al. (2012) escreveu que o exercício profissional
deve resguardar o respeito à dignidade e aos direitos da pessoa humana em todo o
seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza.
É de grande importância que a equipe de enfermagem, saiba identificar
algumas das principais informações sobre o aborto espontâneo na vida da mulher, a
equipe deve planejar e realizar com cuidado humanizado para minimizar alguns dos
danos que possa vir acontecer.
A qualidade da atenção pelo profissional de enfermagem, precisa de um
espaço integrado e sinérgico com todos os níveis gestores para que ofereça serviços
que garantam um bom acolhimento, que tenha todas as informações necessárias
sobre o aborto, também o aconselhamento, e fundamental os recursos humanos que
é a competência profissional de enfermagem, como a tecnologia adequada e
disponível e relacionamento pessoal pontuado no respeito à dignidade e
procedimentos humanizados (DOMINGOS, 2010).
Algumas das contribuições do profissional da enfermagem frente a mulher que
sofreu aborto, seja espontâneo ou provocado como afirma Monteiro (2016) observar
o sangramento; as dores são provocadas pelas metrossístoles, fulgazes,
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intermitentes; solicitar repouso relativo; proibição absoluta do coito, enquanto perdurar
a ameaça; procurar tranquilizar a paciente; administrar substâncias antiespasmódicas
e analgésicas; ainda manter a paciente em repouso e aquecida; verificar e registrar
os sinais vitais; observar e registrar o sangramento vaginal e comunicar ao médico,
caso a paciente apresente sinais de choque.
Dessa forma, o processo de enfermagem possibilita planejar e abordar uma
assistência de qualidade, mas, para isso basta ter o conhecimento e capacitação para
oferecer um atendimento de qualidade e satisfatório tanto para o paciente quanto para
a sua família. Então, a mulher que passou pelo processo de abortamento ter uma
assistência de qualidade, pode fazer toda a diferença, tanto física quanto psicológica
e social. É fundamental que o atendimento seja realizado por profissionais que
estejam capacitados a lidar com esse tipo de paciente, possibilitando o cuidado
necessário que a mulher precisa desde o cuidado técnico até psicológico (MARIUTTI,
2005).
Precisando estar apto a cuidar desta mulher, conhecer suas alterações físicas
e emocionais de forma a auxiliá-la na hospitalização como no desenvolvimento de
ações educativas de contracepção e de promoção da saúde para famílias e clientes
em escolas, instituições de saúde e comunidade em geral (PERES, et. al., 2016).
O profissional de enfermagem precisa buscar entender a história da paciente
de acordo com suas limitações, é através da confiança e assistência prestada que o
profissional conseguirá ajudar da melhor maneira possível, pois entendendo os fatos
o que levou ao abortamento. Dentro desse contexto é fundamental que passe
confiança e credibilidade para a paciente, realizando assim, um bom trabalho com
essas mulheres. Realizando um trabalho de qualidade, não tem que está só nas
ações, na parte prática e técnica mais sim, no saber agir no cotidiano, nas práticas
vivenciadas (MARIANA, et. al., 2007).
A equipe de enfermagem tem como papel educar e orientar. Para que ocorra
um trabalho assistencial de qualidade à mulher, os profissionais necessitam estar
integrados quanto aos aspectos técnicos, éticos e legais do aborto, evitando-se o
julgamento e o preconceito. A comunicação é um instrumento fundamental para uma
educação efetiva, representando a base de sustentação das ações de enfermagem,
e é apresentada nos aspectos éticos profissionais e jurídicos da Atenção Humanizada
ao Abortamento (BRASIL, 2011).
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É fundamental, ter um olhar voltado para os direitos humanos, sobretudo,
acreditar na construção do protagonismo das mulheres em busca da conscientização
e do exercício dos seus direitos. Essa perspectiva favorecerá a produção da
cidadania, da autonomia, e de relações mais justas entre homens e mulheres,
influenciando positivamente os modos de compreender e buscar a saúde da mulher
como um todo.
É importante e necessário não esquecer que a mulher é um ser humano que
com todas as emoções aflora e que está sofrendo, não fazendo julgamentos próprios,
mas sim, procurar realizar o procedimento de forma humanizada. Pois, todas as
mulheres devem ter acesso e orientação aos métodos anticoncepcionais eficazes.
Tornando-se essencial um trabalho com responsabilidade e competência e
humanizada, onde priorize todos os aspectos dessa paciente, sejam culturais, sócias
ou educativos. (LIPINSKI, et. al. 2000).
De acordo com, Mariana, et. al. (2007, p. 7), “a finalidade é proporcionar
assistência de qualidade a essas mulheres, conscientizando-as, informando-as e
ajudando-as numa situação que não tem retorno”. A enfermagem precisa trabalhar
com essa mulher para que ela consiga aceitar o fato acontecido para que lá na frente
quando se deparar com uma possível gestação seja tranquila e sem medo de uma
nova perda.
Dentre as principais causas de gestações não planejadas que culminam em
aborto induzido, destaca Strefling, et. al. (2015, p. 170) “as necessidades insatisfeitas
de planejamento familiar e as precárias condições de atenção à mulher nos serviços
de saúde”. Em vista disso, considera-se importante que os profissionais de saúde, em
especial a enfermagem, que proporcionem um atendimento responsável e satisfatório
à mulher que sofreu aborto, que precisa do atendimento hospitalar. Dessa forma, faz-
se necessários ações de promoção da saúde e interação a fim de promover a
autonomia da mulher, prevenir a reincidência de gestações não planejadas, qualificar
o cuidado e contribuir na redução da demanda e dos custos destinados ao tratamento
do processo abortivo.
De acordo com Silva et. al. (2015, p. 457) “A escuta é considerada uma forma
de acolhimento, que faz parte de um tratamento digno e respeitoso oferecido à
mulher”. A atenção às necessidades psicossociais da mulher que passa por um aborto
seja espontânea ou provocado permite um cuidado integral, contemplando o
atendimento humanizado. Nesse contexto, a equipe de enfermagem possui um
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importante papel pois, geralmente, é quem recebe a mulher no centro obstétrico e a
acompanha nos procedimentos e recuperação clínica.
Portanto, neste momento a escuta qualificada caracteriza-se como um
instrumento fundamental de contribuição ao atendimento humanizado. Nesse sentido,
aconselha-se ao profissional de enfermagem a adoção de abordagens comunicativas
que respeitando a autonomia das mulheres que abortaram e seu poder de decisão,
procurando estabelecer uma relação de confiança no atendimento à mulher em
processo de abortamento vai ao encontro da atenção humanizada e qualificada
(SILVA, et. al., 2015).
O profissional precisa saber identificar isso, apesar de ser algo que muitas
vezes não precisa de nenhuma conversa para saber que essa mulher sofre com que
esta vivenciando e tem muito medo de possíveis consequências, como não poder
mais engravidar ou até mesmo ficar ansiosa para querer uma nova gestação ou ficar
se culpando pelo o que aconteceu (ASSUNÇÃO, 2003).
4 METODOLOGIA
Os aspectos metodológicos utilizados neste trabalho foram, a revisão de
estudos em literaturas, por meio de pesquisa bibliográfica com a utilização de livros,
revista, dissertações, sites e artigos científicos, publicados entre o ano de 2000 até
2016. Foi realizada de forma descritivo para responder questão norteadora da
problemática levantada e dos objetivos traçados sobre a questão da saúde da mulher
e a assistência de enfermagem frente a mulher que sofreu aborto espontâneo, as
palavras chaves usadas foram, enfermagem, aborto espontâneo, provocado e Mulher.
O estudo foi complementado por uma pesquisa bibliográfica, centrada nas
contribuições teóricas de vários autores : Assunção (2003); Benute (2009); Brasil
(2009); Mariana (2007); Mariutti (2005); Peres (2011); Santos (2008); Silva (2015) e
Strefling (2015), SILVEIRA (2016) que realizaram estudos sobre assuntos como, a
saúde da mulher, abortamento espontâneo e provocado, atenção humanizada ao
abortamento, aborto e saúde pública no Brasil, complicações de aborto, atenção à
mulher em processo de abortamento induzido: a percepção de profissionais de
enfermagem, o cuidado de enfermagem na visão de mulheres em situação de
abortamento e obstetrícia diagnóstico e tratamento.
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As publicações encontradas foram organizadas como pesquisa de revisão e,
posteriormente, categorizadas de forma descritiva. Segundo Souza (2007) a revisão
bibliográfica será feita mediante análise acurada da literatura aplicada, extraindo-se
os pontos relevantes ao tema explicitado, com o fim de justificar as ações
apresentadas.
Conforme Andrade (2005, p. 49) a pesquisa descritiva “é onde os fatos são
observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem ao menos que
o pesquisador provoque interferência nos mesmos, ou seja, eles são estudados e não
manipulados pelos pesquisadores”. Para Marconi e Lakatos (2002) toda pesquisa
deve basear em uma teoria, que serve como ponto de partida para investigação bem
sucedida de um problema. A teoria, sendo instrumento de ciência, é utilizada para
conceituar os tipos de dados a serem analisados.
A coleta e o registro de dados são momentos imprescindíveis para a pesquisa,
pois através dela que o pesquisador irá elaborar seu trabalho. Assim sendo, após
escolher o tema da pesquisa, o próximo passo é a leitura de vários materiais
bibliográficos, e neste momento da leitura, será destacada toda a informação
pertinente à pesquisa (RICHARTZ, 2010).
Para tal pesquisa de cunho bibliográfica, a técnica escolhida para coleta e
registro de dados por meio de fichamento, que segundo Richartz (2010) consiste em
registrar em fichas anotações importantes oriundas das leituras para a descrição da
pesquisa.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Demostrou-se por meio de estudos a temática sobre a saúde da mulher,
abortamento espontâneo e provocado, atenção humanizada ao abortamento pelo
profissional de enfermagem. Dessa forma, levou a compreensão que o aborto ainda
é uma prática clandestina que carrega a marca da reprovação da sociedade (TOCCI,
2003).
Preocupou-se em conceituar o aborto espontâneo e provocado, tendo como os
principais fatores, incidências, consequências do abortamento, e a contribuição da
enfermagem frente a saúde da mulher que passa por esse processo. Verificou-se, que
o ato do aborto representa um desgaste, tanto no quesito psicológico, como físico e
emocional da mulher, capaz de trazer sérios problemas, que podem ser vivenciados
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de formas bem diferentes por cada mulher acometida, sendo o aborto espontâneo ou
provocado (BRITO, 2012).
É importante frisar a dificuldade em calcular sobre a incidência de abortamentos
em uma população visto que um considerável número das perdas ocorre antes
mesmo de o diagnóstico de gravidez estar estabelecido. Quanto ao aborto
espontâneo, a boa parte deles é resultado de um feto com poucas chances de
sobrevivência até o final da gravidez ou que não se encontra em desenvolvimento
saudável (BRITO, 2012)
Enquanto as consequências sociais do aborto provocado, fica comprometido o
relacionamento interpessoal, entre os esposos ou futuros esposos: antes do
matrimônio, muitos jovens perdem a estima pela jovem que abortou, diminuindo a
possibilidade de casamento; depois do casamento: hostilidade do marido contra a
mulher, se não foi consultado sobre o aborto; hostilidade da mulher contra o marido
se foi obrigada a abortar, podendo complicar seriamente a estabilidade familiar
(PINOTTI, 2007).
É fundamental que o enfermeiro desenvolva um trabalho humanizado,
oferecendo uma assistência e acolhimento responsável e profissional para as
mulheres que sofrem aborto. Onde a contribuição do enfermeiro é de suma
importância na assistência por meio do diálogo e compreensão. O profissional de
enfermagem precisa estar capacitado para se envolver nessa relação a fim de acolher
e atender essa paciente de forma mais humanizada, pois é no momento da dor, da
perca que a mulher se encontra mais vulnerável e sensível (BARBOSA, et. al., 2011).
Deve-se considerar que humanizar o acolhimento não é apenas chamar a
paciente pelo nome ou estar permanentemente ao seu lado, mas sim compreender
seus medos e angústias dando apoio e atenção necessários. A capacitação dos
profissionais envolvidos na promoção da saúde é fundamental para um cuidar
verdadeiramente humanizado. Em relação ao enfermeiro, esse profissional tem um
papel relevante no que tange à humanização durante o processo do procedimento.
(BARBOSA, et. al., 2011).
Verificou-se por meio deste estudo que é fundamental no acompanhamento da
mulher, tanto na situação de aborto espontâneo quanto na de aborto provocado e que
é fundamental um bom planejamento de assistência multiprofissional, visto que a
mulher se sentirá fragilizada em vários aspectos. Observou-se ainda a importância de
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a enfermagem realizar a sistematização da assistência de enfermagem com cada
mulher, compreendendo-as e realizando um bom atendimento individual e
humanizado (BRITO, 2012)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se que o aborto é um ato conceptual eliminado, e que pode
provocar consequências na personalidade da mulher, onde, além do campo
psicológico, a mulher que sofreu um aborto deve encarar a perca de um filho que
não nasceu como uma realidade social, emocional, intelectual e espiritual. Alguns
terapeutas trabalharam com mulheres que tentaram ignorar os efeitos do aborto e
acreditam que quanto maior a rejeição, maior a dor e a dificuldade quando a mulher
resolve finalmente enfrentar a realidade da experiência abortiva.
O abortamento espontâneo está relacionado a idade materna, mulheres com
idade superior a 40 anos possui um risco maior de acometer um abortamento
comparando com uma mulher aos 20 anos. O tabagismo consumo de álcool e cocaína
também são fatores de risco. Outros fatores que também pode evoluir para o
abortamento espontâneo são os fatores maternos, hormonais e imunológicos.
No entanto, para nortear as ações de contribuição de enfermagem com
mulheres que sofreram o aborto espontâneo ou provocado é importante que o
atendimento humanizado à mulher contemple os princípios fundamentais da bioética.
Dessa forma, é fundamental e pertinente que os profissionais de enfermagem
desenvolvem habilidades que favorecessem o estabelecimento de uma escuta ativa
e de uma relação de empatia, bem como adotem uma postura que possibilitasse a
comunicação sintonizada com as demandas de cada mulher.
Compreende-se que é fundamental, o tratamento humanizado pelos
profissionais de saúde, em especial pela enfermagem para as mulheres que sofre
aborto espontâneo ou provocado, é imprescindível, o enfermeiro demonstrar
demostrar preocupação, afeto e cuidados profissionais de qualidade a mulher que
está hospitalizada com procedimentos de aborto.
No entanto, a contribuição da enfermagem com a mulher que está em processo
de abortamento por meio do tratamento humanizado contribui para a recuperação da
paciente. Oferecer um tratamento de qualidade, é fundamental que passe confiança
e credibilidade para a paciente, realizando assim, um bom trabalho com essas
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mulheres. A assistência de qualidade, não tem que está só nas ações, na parte prática
e técnica mais sim, no saber agir no cotidiano, nas práticas vivenciadas pelo
profissional de enfermagem.
Conclui-se que este estudo contribui para a reflexão sobre a saúde da mulher
e a contribuição de enfermagem frente a mulher que sofreu aborto seja espontâneo
ou provocado, bem como dos cuidados e das condutas éticas frente ao atendimento
prestado pelos profissionais de enfermagem à mulher em situação de abortamento.
Por conseguinte, aconselha-se para a prática na enfermagem a
instrumentalização por meio de continuas formações profissionais que desenvolvam
habilidades e conhecimentos acerca de um atendimento humanizado, que provoque
a sensibilização ao atender com respeito aos direitos humanos sexuais, reprodutivos
e os princípios bióticos, para oferecer assim um serviço de qualidade e dignidade.
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