a repartição dos rendimentos nos países em vias de crescimento

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0. Morrison A repartição dos rendimentos nos países em vias de crescimento económico* Ao tratar das relações entre crescimento económico e repartição dos rendimentos, Kuznets demonstrou que a desigualdade so- cial aumenta e posteriormente diminui, du- rante o processo do crescimento. C. Morrison pensa que «é possível precisar alguns pontos, distinguindo dois dualismos de natureza e alcance diferentes»: um dualismo «moderado» e um dualismo «pronunciado»; e tenta de- monstrar que, a longo prazo, «se torna pa- tente a existência de um processo de despra- letarização». Mas, ao mesmo tempo, põe-nos de sobreaviso contra um optimismo injusti- ficado, ao referir-se aos pesados custos hu- manos, resultantes de uma forte concentra- ção dos rendimentos, do «dualismo pronun- ciado» e aos «efeitos de dominação» e dis- torções provocadas pela procura externa, que frequentemente acompanham essa forma de dualismo. 1. A evolução da repartição dos rendimentos Embora KUZNETS haja contribuído por forma decisiva para a análise das relações entre crescimento e repartição 1 , subsistem ainda determinados pontos susceptíveis de maior precisão, uma vez considerados dois dualismos de diferente natureza e alcance. Cerca de 1953-56, surgiu uma controvérsia entre T. MORGAN, que pretendia que a desigualdade decresce à medida que o rendimento * Colaboração especial para esta revista. 1 KUZNETS, «Economic growth and incarne inequality», American Eco- 512

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Page 1: A repartição dos rendimentos nos países em vias de crescimento

0.Morrison

A repartiçãodos rendimentosnos paísesem vias de crescimentoeconómico*

Ao tratar das relações entre crescimentoeconómico e repartição dos rendimentos,Kuznets demonstrou que a desigualdade so-cial aumenta e posteriormente diminui, du-rante o processo do crescimento. C. Morrisonpensa que «é possível precisar alguns pontos,distinguindo dois dualismos de natureza ealcance diferentes»: um dualismo «moderado»e um dualismo «pronunciado»; e tenta de-monstrar que, a longo prazo, «se torna pa-tente a existência de um processo de despra-letarização». Mas, ao mesmo tempo, põe-nosde sobreaviso contra um optimismo injusti-ficado, ao referir-se aos pesados custos hu-manos, resultantes de uma forte concentra-ção dos rendimentos, do «dualismo pronun-ciado» e aos «efeitos de dominação» e dis-torções provocadas pela procura externa, quefrequentemente acompanham essa forma dedualismo.

1. A evolução da repartição dos rendimentos

Embora KUZNETS haja contribuído por forma decisiva paraa análise das relações entre crescimento e repartição1, subsistemainda determinados pontos susceptíveis de maior precisão, umavez considerados dois dualismos de diferente natureza e alcance.Cerca de 1953-56, surgiu uma controvérsia entre T. MORGAN, quepretendia que a desigualdade decresce à medida que o rendimento

* Colaboração especial para esta revista.1 KUZNETS, «Economic growth and incarne inequality», American Eco-

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nacional aumenta, e H. OSHIMA, que afirmava que a desigualdadedos rendimentos é fraca nos países subdesenvolvidos2. KUZNETSfoi o primeiro a demonstrar que, no decorrer do crescimento,a desigualdade aumenta inicialmente e posteriormente entra adecrescer, referindo-se à situação dos países do Terceiro-Mundoe à história dos países industriais e tendo elaborado uma reflexãoteórica a fim de mteaqpretar esta evolução.

A observação da repartição dos rendimentos em função dosdadbs apresentados por KUZNETS e dos resultados dum estudosobre a repartição dos rendimentos em vários países africanos dee2q>tfessão francesa3, permite estabelecer o confronto entre aconcentração dos rendimentos e o rendimento por habitante noQuadro 1. (A concentração dos rendimentos foi analisada pelométodo das percentagens; as partes respectivas dos primeirosquintis, deciss e vigésimo, variam aproximadamente de 45%, 30 %e 2 1 % a 70%, 60% e 50 %, na passagem das classes 1 a 6.A parte dos três quintis inferiores é de 27 a 32 % para a classe Ae de 17 a 23% para a classe B).

Este quadro revela um facto importante: a concentração dosrendimentos aumenta, sem dúvida, para em seguida diminuir nodecorrer do crescimento, tal como o tinha demonstrado KUZNETS,mas este movimento não apresenta a mesma amplitude dum paísa outro, de modo que países tendo atingido o mesmo estádio (oupelio menos o mesmo nível de prodtito por habitante), podem apre-sentar graus de concentração muito diferentes. Assim, economiasnas quai® o rendimento médio oscila em torno de $250, tantopodem registar uma concentração1 francamente moderada (Costado Marfim, Ceilão: 2A — a concentração nos Estados Unidose na Suécia, cerca de 1935, era da mesma ordem ou superior)como atingir percentagens muito elevadas, tal como nas Rodésiasou no Senegal, Do mesmo modo, a Colômbia e a Guatemala per-tencem às categorias 3A, enquanto que o Iraque, com um rendi-mento ligeiramente inferior, pertence à categoria 5. Finalmente,países em que o> rendimento médio é ligeiramente inferior ao da

nomic Review, Março 1955; «Distribution of income size», Economic Deve-lopment and Cultural Change, Janeiro 1963; «Note sur certairns consé-quences des inégalités de Ia répartition des revenus», Economie Appliquée,n.° 4, 1963.

2 T. MORGAN, «Dástribution of income in Ceylon, Puerto^Rico, the U. S.and the United Kingdom», Economic Journal, Dezembro 1953; T. MORGAN,«Incarne distribution in developed and under-developed countries: a reioin-der», Economic Jurnal, Março 1956; H. OSHIMA, «A note on income distri-bution in developed and underveloped countries», Economic Journal, MarçoJ.t/0'O»

3 C. MORRISON, La répartition des revenus dans les paus du Tiers-Monde,Paris, 1968.

SíS

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QUADRO 1

Rendimento por habitante e concentração dos rendimentos

Países

Concentração dos rendimentos

AnosCategoriaspor decis.

super.

Categoriaspor decis.

inf.

Rendimento «per capita» 4

AnosRendi-mento

em dói.

Nível derendi-mento

BarbadosCeilãoChileColômbiaCongo BrazCongo LéopCosta do MarfimDahoméGabãoGuatemalaíndia

IraqueQuéniaLíbanoMadagáscarMéxicoNígerPorto-RicoRodésia NRodésia SSalvadorSenegalTchadeTogoVenezuelaGrã-Bretanha ...Suécia

51/5219531960195319581958195919591960

48/4853/57

19561949

59/60196019571960195319461946194619601958

56/7/8195751/521948

22233622632

(limiteinf.)5544412563411411

AABA

AA

B

B

A

BAB

BAA

19571957195719571958195719501959196019571957

1957195719571956195719601957195719571957195919581958195719571957

300210580260220135270105400280120

250150480180380100650

220260270110160930

11401180

32531-212-31

31

2-31-252416-7

232r311-29

11-1212

4 Plamfication en Afrique, tomo 4, p. 83 (corrigindo os números se-gundo o método de J. DELAHAUT e E. KIRSCHEN). J. P. DELAHAUT e E. S.KIRSCHEN, «Les revenus nationaux du monde non communisíte», Cahiers Eco-nomiques de Bi^uxelles, Abril 1961, pp. 165 a 168.

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Índia (2A) apresentam uma concentração extrema, tal como oGongOi-Lieopoldvillie em 1958.

Convém, pois, distinguir dois tipos de crescimento. O pri-meiro manifestar-Sie4a no quadro dum dualismo muito pronunciadoe elevaria a concentração dos rendimentos, particularmente nosgrupos superiores, a nível muito alto a partir do início do cres-cimento, o que significa a estagnação dos rendimentos para ostrês quintis inferiores. Esta concentração atenuar-se-ia em se-guida muito lentamente e em benefício dos grupos intermediários(cf. Venezuela) no decorrer do crescimento. Em contrapartida,existiria um segundo modelo de dualismo moderado, em que a con-centração dos rendimentos em benefício dos grupos superioressurgiria mais lentamente, sem jamais atingir grau tão elevadoquanto no modelo precedente e cujo máximo não seria atingidodesde o início do crescimento, mas no decorrer dum segundo pe-ríodo (e em benefício do primeiro quintil, em lugar do primeirodecil, senão do primeiro vigésimo). Em ambos os casos, esta con-centração manifestasse sobretudo em detrimento dos decis inter-mediários (2.°, 3.° e 4.°), enquanto que a parte dos quintis infe-riores é igual, ou inferior em caso de dualismo pronunciado, àde um país desenvolvido. Assim, a parte dos decis intermediáriosé semprei inferior à dos países industrializados; tal facto corres-poncLe à fraqueza dos grupos intermediários já há muito reco-nhecida. Significa que, para uma mesma taxa de concentração,em países industrializados, a forma da curva de LORENZ é sempre«diferente em função duma diissimetria desta curva em rfelaçãoà segunda diagonal.

Podemos imaginar o esquema seguinte (cf. Figvjra 1) querepresenta a evolução da repartição dos rendimentos segundo» estesdois modelos de crescimento nos países onde em razão do mon-tante insignificante da renda da terra5, a concentração* era fracaantes do processo de crescimento.

Modificações estruturais podem, porém, surgir no decurso docrescimento, agravando ou atenuando o dualismo, de modo quea situação presente dum país, não significa de modo algum queesse país tenha seguido uma evolução anterior conforme à situa-ção em que se encontra. A taxa de concentração na Venezuela,por exemplo, não era necessariamente 5B ou 6B quando o rendi-mento oscilava à volta de $200. A descoberta de minas ou de qual-quer fonte de energia pode desencadear o desenvolvimento (ligadoa procura estrangeira) dum sector altamente capitalístico e for-temente economizador do factor trabalho, o qual, por sua vez, de-

5 A concentração pode ser importante, mesmo num país subdesenvol-vido, se as estruturas agrárias reservam uma parte elevada da produçãoagrícola para uma minoria de grandes proprietários rurais.

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termina importantes disparidades sectoriais, suficientes para al-terar a distribuição dos rendimentos dum esquema para o outro.Este pluralismo das ligações entre crescimento e repartição dosrendimentos exige uma reflexão teórica, a fim de poder ser in-terpretado correctamente.

Taxa deconcentração j

EVOLUÇÃO DA TAXA OE CONCENTRAÇÃO DOS RENDIMENTOSSEGUNDO OS MODELOS DE CRESCIMENTO

dosrendimentos

Taxamuito alta

Taxa alta

Taxamoderada

100 300 700 900 Rendimento"per capita.»em dólares

Cresc imento c o m dualismo pronunciado ( CONGO-KINSHASA, GABÃO,

IRAQUE, KÉNIA, RODÉSIA, VENEZUELA )

Cresc imento c o m dualismo m o d e r a d o ( CEILÃO, CHILE, COLÔMBIA/

COSTA-DO-MARFIM, GUATEMALA, LÍBANO, PORTO-RICO, SALVADOR )

Fig. 1

A análise teórica desta evolução requer que se faça uma dis-tinção entre os países em vias de crescimento, mas que não hajamatingido ainda o nível de desenvolvimento dos países industriais 6.Num primeiro período A, a parte do sector tradicional (trata-sede explorações que não empregam praticamente nem capital ma-terial, nem capital humano) eleva-se a mais de 30% do P. I. B.

6 Pode reservar-se a expressão «país desenvolvido» para os países emque o sector tradicional praticamente desapareceu e onde a maioria dosactivos possui um capital humano.

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e a percentagem de activos desprovidos de capital humano ou ma-terial udjtrapassa 80 %; a indústria moderna representa 10 a 20 %do P. I. B., enquanto que a agricultura domina o emprego, com50 a 75% da população activa. Os países que se encontram nafase B caracterizam-se por dados estruturais diferentes: a partedo sector tradicional torna-se residual (10 a 15% do P. I. B.),a percentagem de activos que possuem qualquer forma de capitalelieva-se de 20 a 40 % e a industria atinge 20 a 35 % do P. I. B.,enquanto que a agricultura não emprega já a maioria dos activos(30 a 50%). A maior parte dos países compreendidos nas cate-gorias A e B possonem, respectivamente, rendimento «per capita»da ordem dei 130-300 ou 350 dólares e de 300 ou 350 a 650 ou800 dólares 7. Tal é a razão pela qual o rendimento «per capita»apresenta um interesse operacional, quando uma reflexão tentareferisse aos dados empíricos, mas não constitui o critério sobreo qual assenta a distinção entre os períodos A e B*. São os dadosestruturais acima evocados que a justificam, na medida em quemodificam a repartição e distribuição dos rendimentos duma ma-neira determinante. Consequentemente, as categorias A e B nãose confundem rigotrosamente com as duas classes estatísticas defi-nidas paio rendimento «per capita». Assim, um país onde o rendi-mento «per capita» atinge 400 dólares em função de uma expan-são muito rápida do sector moderno, cabe na categoria A, desdeque conserve os caracteres estruturais que a definem. A distinção

7 Assim, as 7 classes de rendimentos escolhidos por KUZNETS nos seusartigos da revista Economic Development and Cultural Change podem reunir--se em 4 grupos: países subdesenvolvidos — países em vias de crescimento —fase A — fase B—e países desenvolvidos, segundo os rendimentos «percapita» indicados precedentemente.

8 Sabe-se que o critério do rendimento «per capita» é pouco satisfa-tório, sobretudo quando se trata de aplicar esta noção a uma economia desubsistência na qual a avaliação das quantidades produzidas e a sua esti-mativa em termos monetários são das mais arbitrárias. Este critério refere,de facto, apenas a relação entre o P. I. B. e o número de habitantes e nãopode servir de índice/ do desenvolvimento, dado que a própria estimativa<io P. I. B. é geralmente muito artificial. A dificuldade resultante do sectorda economia de subsistência não é a única. Os preços dos produtos exportadospodem ser fixados arbitrariamente por decisão de uma ou de várias G. U. I.;ou, as variações desisas cotações bastam para alterar sensivelmente o P. T. B.dum país cuja produção em quantidade se mantenha idêntica. Finalmente,este critério depende da densidade: nos países onde existe um sector capi-talístico para a exploração de recursos naturais, os valores acrescentadospor este são uma constante, qualquer que seja a população do país. Conse-quentemente, o rendimento por habitante é tanto mais elevado quanto maisa densidade é fraca, sem que essa subida seja significativa ao considerar•o desenvolvimento do país. Apesar destes inconvenientes, mantivemos o cri-tério do rendimento «per capita»; os outros critérios possíveis, tais comoo coeficiente de capitaíl ou o nível de desenvolvimento social, seriam igual-mente arbitrários e de mais difícil aplicação, tendo em conta que se desconhe-cem em grande parte destes países.

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entre as duas fases justifica-se pelas profundas diferenças naestrutura do emprego e na difusão do capital). Com efeito, estesdados estruturais exercem uma influência determinante sobrea distribuição dos rendimentos e esta influência difere sensivel-mente conforme se trate da fase A ou da fase B. Confundindo-as,distinguir-se-á com muito menor clareza o papel destes factoresna evolução da distribuição dos rendimentos.

Numa economia subdesenvolvida, a distribuição dos rendimen-tos é sempre muito concentrada no interior do sector não^agrícola,porque muito poucos indivíduos possuem um capital quer mate-rial quer humano (adquirido por uma formação técnica longa ouuniversitária). A concentração dos rendimentos no interior destesector tem, porém, uma incidência irrelevante, em virtude daextrema importância do sector agrícola em toda a economia sub-desenvolvida. No interior dleste sector, as estruturas agráriasdesempenham um papel determinante. Consequentemente, a partedos rendimentos do capital humano e material no rendimento inte-rior depende sobretudo da percentagem da renda da terra (in-cluindo nesta os juros de usura, nos casos em que o proprietáriopredial é simultaneamente credor dos seus inquilinos) nesse ren-dimento. Dependendo das características das estruturas agrárias,a parte dos rendimentos do capital material varia em extremo,de 10 °/o (quando a renda da terra não existe) a 30 ou 40 '%. Pelocontrário, os rendimentos do capitai! humano (isto é, essencial-mente, os rendimentos dos assalariados altamente qualificados)representam sempre uma percentagem muito baixa, da ordem dos10 %. A fraca dispersão dos rendimentos pelos indivíduos despro-vidos de qualquer capitai e a concentração dos rendimentos docapital material e humano, explicam a dissimetria das curvas deLORENZ. A taxa de concentração é indeterminada, na medida emque depende das características das estruturas agrárias. Podeapresentar, aissim, valores muito baixos; tal como já o constatá-mos em países onde a renda da terra é irrelevante (Daomé, Niger,Tchad e Togo), mas atinge valores muito elevados sempre quea renda da terra ultrapassa 25 ou 30 % do rendimento nacional.

No decurso da fase A do crescimento, a extensão dum sectorde crédito capitalista (frequentemente ligado a actividades não--agrícolas), que caracteriza sempre esta fase, implica inevitavel-mente uma forte subida da taxa de concentração, ao passo queem economia subdesenvolvida esta se mantinha baixa. A produti-vidade nesse sector, onde a relação capital/trabalho é muitosuperior à do sector tradicional, é muito mais elevada. Consequen-temente, ele pode, embora empregando apenas 15 a 30 % dos acti-vos, atingir 45 a 75 % do rendimento interno. Como a parte dosrendimentos que remunera o trabalho simples é muito fraca — emvirtude da oferta, pelo sector tradicional, de mão-de-obra muitobarata —, os rendimentos do capital material e humano no sector

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moderno, ou seja: 30 a 60% do rendimento interno, vão para 5ou 10% apenas dos activo®. Assim, quando a taxa de concentra-ção aumenta rapidamente, os ganhos do crescimento beneficiamsobretudo a pequena minoria que detém os factores escassos. Esteprocesso é inevitável em economia de mercado, pois no início detodo o crescimento a igualização intersectorial das produtividadesmarginais e o aumento da relação capital/trabalho em todas asexplorações ou empresas, são impossíveis a curto e mesmo a médioprazo. Esta primeira fase do crescimento é necessariamente umprocesso de desequilíbrio cuja incidência sobre a repartição e adistribuição dos rendimentos é inevitável, a menos que se tratede uma economia colectivista e planificada na quall a remuneraçãodos factores seja fixada arbitrariamente. No entanto, neste tipodie economia, a necessidade duma taxa de investimento elevadaimplica uma concentração dos rendimentos em benefício do agente(Estado ou cooperativas) que possui os meios de produção e fazos investimentos», e uma fraca remuneração dos assalariados alta-mente qualificados frequentemente determina a sua falta de zeloou a fuga para as economias de mercado.

Tanto numa economia capitalista como numa economia colec-tivista, a escassez do capitai no decorrer desta primeira fase decrescimento (fase A) torna impossível a difusão dos investimentosem todas as empresas. A coexistência dum sector tradicional edum sector moderno é inevitável. A disparidade na produtividadeentre estes dois sectores aumenta ou permanece constante enquantose modifica a estrutura do emprego: a parte do sector modernopassa de 5 % para 20 ou 25 %. Consequentemente, a incidênciadas disparidades intersectoriais de produtividade torna-se deter-minante: ajumenta consideràvelanente a taxa áe concentração dosrendimentos. Supondo, por exemplo, que não existe nenhuma dis-paridade de rendimento por activo dentro de cada sector, ou sejauma curva de LORENZ reduzida a dois segmentos, a taxa de con-centração correspondente será muito mais elevada — para umamesma rel&ção intersectorial de produtividade — do que quandoo sector moderno emprega uma percentagem ínfima de activos,tal como acontece em economia subdesenvolvida. Em casoi de dua-lismo pronunciado, a ausência de qualquer aumento da relaçãocapital/trabalho no sector tradicional aumenta a disparidade inter-sectorial de produtividade; consequentemente, a taxa de concen-tração eleva-se muito mais rapidamente do que no caso de umdualismo moderado, em que a disparidade intersectorial perma-nece constante porque o sector tradicional beneficia duma partedos investimentos.

Outros factores há que exercem uma influência igualmentefavorável à concentração do® rendimentos. Os efeitos de domi-nação 9 e a inflação contribuem, para o aumento da parte dos ren-dimentos do capital. Em caso de duajlismo pronunciado, a estag-

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nação do rmSmmio po*1 habitante no sector tradicional podedeterminar uma descida no nível de vida de eeirtos grupos, quando,por exemplo, o êxodo rural afecta sobretudo os jovens, ou quandoexiste escassez de terras livremente cultiváveis10. Podemos cons-tatar, assim, que a fase A implica sempre uma pauperização rela-tiva, um aumento da taxa de concentração dos rendimentos, ex-cepto se as estruturas agrárias são inigualitárias em economiasubdiesenvoílvida; este processo é mais ou menos importante con-forme o dualismo é pronunciado ou moderado. Em caso de dua-iismo pronunciado, é a tal ponto intenso que pode implicar apauperização absoluta de certos grupos.

No termo da fase B, a concentração dos rendimentos não ésuperior à do termo da fase A, sendo mesmo por vezes inferior,por diversas razões. Com efeito, a parte dos rendimentos docapital material e humano — ou seja: os lucros, os rendimentosda propriedade e os salários dos indivíduos altamente qualifica-dos — aumenta pouco, enquanto que o número de pessoas que delesbeneficiam se eleva rapidamente. No termo da fase B, a subidado rendimento por habitante permite agora a 15 ou 20% dapopulação efectuar poupanças, enquanto que anteriormente sóuma ínfima minoria (menos de 10% e, frequentemente, menosde 5%) as podia realizar. Por outro lado, a distribuição dos salá-rios torna-se menos concentrada, pois a percentagem! de assala-riados qualificados OUÍ altamente qualificados aumenta sensivel-mente (passa, por exemplo, de 40 a 70 %) enquanto que as dis-paridades de salários se atenuam ligeiramente. Esta evolução re-sulta do próprio crescimento que determina uma elevação do ní-vel-de-vida e uma oferta mais abundante de mão-de-obra qualifi-cada devida ao desenvolvimento do ensino, ao mesmo tempo queexige novos processos de produção que requerem mão-de-obraqualificada mais numerosa. A partir de então a distinção entreos sectocras moderno e tradicional perde progressivamente todo osignificado, pois a relação capital/trabalho eleva-se em numerosasempresas do sector tradScionali; esta difusão do capital tende aanular o dualismo. O sector tradicional, em sentido estrito, (menosde 15 % do P. I. B.) emprega agora apenas uma minoria de acti-

9 Por efeito® de dominação entende-se a acção exercida pelas minoriasque possuem capital humano e material no sentido de aumentar a parte quelhes cabe no rendimento nacional. Agindo sobre as estruturas soe1'ais, jurí-dicas e económicas e servindo-se do poder político, estes grupos estabelecemmonopólios em seu proveito, a fim de que os seus diversos capitais obtenhamuma remuneração superior à que obteriam numa economia de concorrência.O acesso ao ensino, por exemplo, ou às funções empresariais é reservadoaos membros destes grupos. Por outro lado, estas minorias impõem um sis-tema fiscal que não exerce nenhum efeito de redistribuição dos rendimentos.

10 Nestte caso, o salário dos operários não-qualificados pode ser infe-rior ao rendimento médio dos agricultores proprietários das suas terras.

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vos, 20 ou 30%. Por conseguinte, supondo a existência de doissectores (tradicional e moderno), no interior de cada um dosquais as disparidades de produtividade sejam nulias, e represen-tando uma tal repartição por uma curva de LORENZ reduzida adois segmentos (o que traduz a disparidade intersectoriaJli daprodutividade), constata-se que a taxa de concentração indicadapor esta curva é muito inferior à atingida no decurso da fase A,dentro das mesmas hipóteses.

Se a disparidade intersectorial de produtividade cessa, destemodo, de desempenhar um papel determinante, as disparidades derendimentos no interior do sector modeirno podem, em compensa-ção, exercer uma influência mais importante, dada a extensãodeste. Uma considerável dispersão dos rendimentos no interiordo sector moderno, devida por um lado à baixa da parte dosrendimentos mistos em benefício dos salários e dos rendimentosda propriedade ", explica a evolução observada na repartição dosrendimentos: na maior parte dos casos, a taxa desce moderada-mente. Uma dispersão muito acentuada dos rendimentos no inte-rior do sector moderno e a ausência de investimentos noi sectortradicional residual podem até impedir qualquer descida. Apenasos países altamente desenvolvidos apresentam sempre taxas deconcentração muito inferiores às atingidas no termo da fase A.Esta evolução da repartição no decurso da fase B depende, pois,das escolhas de investimento: na ausência de investimentos nosector tradicional, a produtividade mantém-sie aí quase tão baixacomo em economia subdesenvolvida. Em consequência disso,este sector oferece uma mão-de-obra ao sector moderno que esteremunera abaixo da sua produtividade real, muito superior à dosector tradicional. Uma tal repartição dos investimentos, ou seja:a subsistência dum dualismo pronunciado, impede a descida dataxa de concentração dos rendimentos. Pelo contrário, a difusãodo capitaiL neste sector eleva nele a produtividade e faz subiro salário dos não-qualifiçados no sector moderno; detemiina, assim,a descida da taxa de concentração dos rendimentos, tal como sepode verificar em diversos países.

2. Significado desta evolução da repartição

Esta evolução tem um duplo significado: por um lado, a longoprazo, o crescimento representa sempre um processo de desproile-tarização; por outro lado, o modo de crescimento pode transfor-mar-se em motivo de conflito entre os grupos, uma vez que,

11 A dispersão dos rendimentos nos rendimentos mistos é mais fracado que no total dos salários e rendimentos da propriedade.

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conformo o carácter moderado ou pronunciado do dualismo, oscustos do crescimento não são suportados da mesma maneirapelos grupo® desprovido® de capital.

a) O crescimento, processo de despróletarização

Esta tendência fundamental surge claramente se se distinguemtrês factores de produção: os serviços do capital material, (inclu-sive os da terra), os serviços do capital humano constituído pelaaquisição de qualificações, e os serviços do capital humano consti-tuído apenas pela força física. Com efeito, é impossível confundirtodos os rendimentos que remuneram os serviços das pessoas, poisque correspondem a investimentos por indivíduo e a rendimentoscujos montantes são totalmente diferentes. Na medida em que apura força física representa um investimento fraco, é-nos permi-tido reservar a expressão «capital humano» à aquisição duma qua-lificação à custa de numerosos anos de estudos, durante os quaiso indivíduo não produz, e dum ensino ou duma formação profis-sional onerosa. Só uma tal formação representa um investimentoimportante. A ausência de capital — ou, mais precisamente, ummontante ínfimo de capital em relação ao trabalho não-qualifi-cado—nas combinações de factores caracteriza quase todas asactividades duma economia subdesenvolvida. No decorrer do cres-cimento, o capital humano e o capital material difundemrse pro-gressivamente em certas regiões ou em certos sectores. A natu-reza destas combinações de factores exerce uma influência deter-minante sobre a repairtição dos rendimentos nestas economias.Por consequência, uma tal distinção parece mais adaptada aoconjunto das economias insuficientemente desenvoltvidas do que oesquema dicotómico de MARX. Este é inaplicável porque, em cer-tas economias subdesenvolvidas, praticamente não existem assala-riados e porque a unidade do rendimento salário do tempo de MARXtambém não existe. Com efeito, nos meados do século XIX osalário remunerava quase exclusivamente os serviços da foirçafísica, enquanto que, actualmente, quer em economia não4ndus-trial, quer em economia industrial;, remunera tanto os serviçosdo capital humano como os do trabalho não-qualificadò ou poucoqualificado (a parte da massa salarial que remunera esse capitalhumano ultrapassa quase sempre 50 % da massa salarial). Reu-nir numa mesma categoria os rendimentos de todos os saláriosmascara a evolução estrutural da massa salarial. A mesma massapode remunerar, sucessivamente, primeiro, por metade o trabalhosimples e por metade os serviços do capital humano e depois porXÁ e % respectivamente, enquanto que a percentagem de assala-riados não-qualifiçados ou pouco qualificados desce de 90% para

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40%. Uma tal evolução significa uma redução das disparidadesde salários e uma larga difusão do capital humano.

Uma vez reconhecida a especificidade destes três factores deprodução, renunciando à categoria «salário», o processo de des-proletarização toma-se manifesto: a parte dos rendimentos docapital material e humano no termo da fase B é igual ou superiorà que se verifica em economia subdesenvolvida conforme o carácterimigualitário ou igualitário das estruturas agrárias nesta última.A percentagem de indivíduos que recebem estes rendimentos au-menta, porém, sempre muito mais rapidamente. Por consequência,a relação a/b entre a, o* rendimento médio por activo dos gruposdesprovidos de capital, assalariados ou não-assalariados, e b, orendimento médio por activo dos grupos providos dum capitalhumano ou material, eleva-se sempre em período longo. Este mo-vimento prolonga-se de tal forma no decorrer do crescimento dospaíses desenvolvidos! que, nos mais desenvolvidos, a percentagemde indivíduos desprovidos de capital desce de 20 ou 25 %, ao passoque randa pelos 50 % no termo da fase B e é superior a 90 %numa economia subdesenvolvida. Sem dúvida que a evolução dasestruturas agrárias e das estruturas do emprego, a passagem dacondição de pequeno produtor-autónomo à de assalariado não-qualificado podem determinar uma proletarização' durante a faseA: a percentagem de indivíduos que não possuem nenhum capitalaumenta; este fenómeno é, porém, tal como o aumento da con-centração dos rendimentos e a relativa pauperização, um movi-mento temporário, característico da fase A e não do processo dedesprotelarização que caracteriza, a longo prazo, o crescimento,pode ser representado pelo esquema da Figura 2.

Esse esquema pressupõe estruturas agrárias igualitárias euma difusão progressiva do capital desde a fase A no quadro dumdualismo moderado. Gocnstata-se que a percentagem dosi benefi-ciários dos rendimentos do capital material e humano é muitofraca numa economia subdesenvolvida onde não existe renda daterra e onde são muito escassos o pessoal de quadros e os capi-tais. Esta percentagem aumenta lentamente durante a fase A erapidamente no decorrer da fase seguinte. Em contrapartida, aparte dos rendimentos do capital material e humano prossegueuma evolução diferente e eleva-se rapidamente durante a fase A,por duas razões: o sector moderno, onde a relação capital/traba-lho é elevada, expande-se, e a oferta abundante de mão-de-obrapelo sector tradicional permite remunerar os assalariados não--qualif içados ou pouco qualificados, no sector moderno, abaixo dasua produtividade. A parte de rendimento do capital aumenta se-guidamente menosi rapidamente, porque a oferta de mão-de-obranão-qualificada torna-se gradualmente elástica em consequênciada desaparição progressiva db sector tradicional; então, deixa deser possível que uma parte da mão-de-obra assalariada seja re-

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murierada abaixo da sua produtividade e que o capital receba umaremuneração superior à sua produtividade.

A REPARTIÇÃO DOS RENDIMENTOS NO DECURSO 00 PROCESSODE CRESCIMENTO

ECONOMIASUBDESENVOLVIDA

0 2

Percentagem de indivíduos detentores de capital material ou

Rendimentos do capital material

I I Rendimentos do capital humano

|':j:j:.":| Rendimentos do trabalho não-qualificado ou pouco qualificado

Fig. 2

o3

humano

A comparação das curvas LM e NP explica em parte a evo-lução da taxa de concentração dos rendimentos. Com efeito, de01 a 02, L.N. não cessa de aumentar; a parte dos rendimentosdo capital cresce proporcionaJlmente mais rapidamente que a per-centagem dos seus beneficiários. Em seguida, de 02 a 03, L.N.deixa de aumentar, diminuindo a partir de 03. Assim, LN. seguea mesma evolução que a taxa de concentração dos rendimentos ea fase B constitui o período decisivo em que se sucedem as duastendências opostas.

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b) O modo de crescimento, motivo de conflito

Dualismo moderado e dualismo pronunciado significam duasevoluções diferentes da repartição dos rendimentos, como já overificámos. A «escolha entre estes dois modelos transforma omodo de crescimento em ponto de conflito entre OBI grupos pro-vidos de capital material ou humano e os que o não são, umavez que os seus interesses respectivos podem estar em contra-dição no decorrer das fases A e B. Oom efeito, se a taxa de cres-cimento é a mesma, um dualismo moderado favorece os gruposdesprovidos de capital, porque eleva o salário dos não-qualifica-dos e determina urna difusão do capital no seio destes grupos;os grupos providos de capital podem, peilo contrário, preferir umdualismo pronunciado, o qual, graças a numerosos e importantesefeitos de dominação (os investimentos são reservados ao sectormoderno e o ensino aos membros destes grupos), eleva conside-ravelmente a sua parte no rendimento nacional em reliação à per-centagem, já importante, que podem atingir quando o dualismoé moderado.

A diversidade destes modelos de repartição dos rendimentosresulta da existência de factores particulares que não se encon-tram necessariamente presentes em todo o crescimento. Sem dú-vida, o factor mais importante que favorece a concentração dosrendimentos: no decorrer da fase A é uma constante, pois se en-contra ligado ao próprio crescimento; mas numerosos outros fac-tores intervêm ou não, segundb os casos, favorecendo a concen-tração dos rendimentos. Trata-se da disparidade intersectorial deprodutividade, que é mais ou menos elevada conforme o sectortradicional beneficia ou não duma parte dos investimentos, con-forme o aumento da procura do sector moderno para os produtosdo sector tradicional, em particular o® produtos alimentares, éimportante ou irrelevante. De igual modo, a repartição dos inves-timentos no ensino pode favorecer a concentração, se estes sãoreservados aos filhos dos membros do primeiro deoil ou do pri-meiro vigésimo, ou atenuá-la jse beneficiam as crianças mais do-tadas, qualquer que seja a sua origem. Finalmente, nem todosos efeitos de dominação que elevam a taxa de concentração se en-contram necessariamente ligados às primeiras fases do cresci-mento.

A diversidade destes modelos de crescimento e de repartiçãodos rendimentos, que pode ir do dualismo mais pronunciado aomais moderado, depende das escolhas dos investimentos. Um dua-lismo moderado supõe uma difusão progressiva do capital nosector tradicional (onde a relação capital/trabalho aumenta assimdesde a fase A), mesmo que a disparidade entre essa relação ea que se verifica no sector moderno peonaneça elevada. Neste

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caso, os agrdcullltore®, por exemplo, aumentam as suas superfíciescultivadas, adquirem equipamento ligeiro, aperfeiçoam as suastécnicas de cultura; o artesanato moderniza-se; então, os dois mo-dos distintos que caracterizam a distribuição das empresas deacordo com a relação capital/trabalho em economia subdesenvok-vida tendem a desaparecer rapidamente. Este processo deve seracompanhado por uma difusão do capital humano, graças à escola-rização dos meios rurais e a um ensino secundário e superior cujoscritérios de selecção sejam severos, mas abertos a todos12. Emcontrapartida, se o sector moderno exporta a maior parte da suaprodução e importa a maior parte do seu consumo, enquanto queas trocas entre os sectores tradicional e moderno não irrelevantes,e se os investimentos privados e públicos beneficiam apenas osector moderno, as membros do sector tradicional permanecerãodesprovidos de capital humano e material e apresentarão um nívelde vida estacionário, ajpesar da acumulação de capitail e do au-mento do P. I. B. por habitante no decorrer da fase A 13.

Ora, os riscos de escolhas de investimentos desfavoráveis aosinteresses da maioria da população são altos. Com efeito, os gru-pos detentores de capital material e humano (industriais, proprie-tários agrícolas, pessoal de quadros, etc.) exercem uma influênciadominante nes&as escolhas, uma vez que são os únicos a po-der poupar e investir14. Quando os fundos são provenientes doestrangeiro, as escolhas são feitas por G. U. I. * ou por Estadosestrangeiros. Estes agentes podem preferir o modelo de repartiçãomais desigual, ou seja um dualismo pronunciado, se a procuraestrangeira compensa as insuficiências internas da procura deprodutos industriais por parte do sector tradicional. Por um lado,os mecanismos da economia de mercado não podem assegurar adifusão do capital humano graças a investimentos no ensino quebeneficiem os decis inferiores e intermediários; por outro lado,os grupos detentoras de capitaJli podem exercer efeitos de domi-nação e instituir em seu benefício certos monopólios, em contra-dição com os princípios da livre concorrência. Por exemplo, asfunções empresariais são reservadas aos membros do seu grupo,

12 O número de lugares deve ser, com efeito, limitado, pois um aumentomuito rápido destas despesas, no início do crescimento, comprometeria os ou-tros investimentos.

13 Esta comparação entre as escolhas de investimetntois em caso dedualismo pronunciado ou moderado, reveste-se naturalmente dum carácteresquemático; na realidade, o sector tradicional beneficia sempre d© algunsinvestimentos, mas quando o dualismo é muito pronunciado, o montante destesinvestimentos em relação ao sector moderno é insignificante.

14 Num regime colectivista, estas escolhas dependem igualmente dumaminoria, os chefes políticos e os altos funcionários que representam o Estado.

* G. U. L= Grandes Unidades Inter'-territoriais, ou por outras palavras,grandes empresas de escala internacional, com extensões e ramificações emdiversos países (N. da T.).

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o que determina uma super-remuneração destas funções, quer di-zer: uma quase^enda. Todas as medidas que restringem a livreconcorrência têm como consequência a formação de quase-rendase acrescentam a parte do rendimento nacional que cabe a estesgrupos.

Como a estrutura da procura, a o>rigem dos capitais investi-dos, os efeitos de dominação, e a repartição do capital) materiale humano dependem em grande parte da repartição e da distri-buição dos rendimentos, existe uma interdependência entre mo-delos de repartição e escolha de investimentos, a qual se traduzpela existência de processos de auto-perpetuação. A natureza des-tes processos explica como* o carácter pronunciado ou moderadodo dualismo se desenvolve e se precisa no decurso do crescimento.Em determinado país, uma forte procura estrangeira para certoproduto, petróleo ou1 minério, e a oferta de capital estrangeiroocasionam a formação dum sector altamente capitalístico no iní-cio da fase A, enquanto que estruturas agrárias iniguaiiitáriasdeteraninam uma concentração de rendimentos no sector tradi-cional. Por consequência, a distribuição do rendimento interioré forçosamente muito concentrada. Existe uma procura impor-tante de produtos e serviços de luxo em benefício de indústriasestrangeiras ou de actividades terciárias de fraca produtividade,enquanto que a procura de produtos do sector tradicional au-menta lentamente e a maioria da população poucos produtos in-dustriais adquire. Por outro lado, esta estrutura da repartiçãofavorece efeitos de dominação exercidos pelos grupos providosde capital material ou humano. Estes efeitos impedem toda adifusão do capital no sector tradicional. Assim, os investimentosescolhidos pelos grupos dominantes: concentrar-se-ão, essencial-mente, no sector moderno. Reciprocamente, estas escolhas de in-vestimentos favorecerão a concentração dos rendimentos e irãomanter o nível muito baixo do rendimento por habitante nosector tradicional. Irão ainda assegurar ao sector moderno umareserva de mão-de-obra extremamente barata. Deste modo, umaestrutura da repartição favorável à concentração dos rendimen-tos determina escolhas de investimentos que aumentam a taxa de«concentração. As estruturas da repartição e as escolhas de in-vestimentos são simultaneamente causa e efeito.

Em contrapartida, uma distribuição pouco concentrada noinício da fase A, e uma procura estrangeira de produtos prove-nientes do sector tradicional condizem a um dualismo moderado.A estrutura de repartição, e em particular a subida dos rendi-mentos dos agricultores, estimulam os investimentos no sectortradicional e limitam por vezes os efeitos de dominação. Semdúvida que a constituição dum sector moderno onde a relaçãocapital/trabalho seja elevada é simultaneamente inevitável e de-sejável. Facilidades de crédito às pequenas empresas do sector

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tradicional e a repartição das despesas do ensijio, podem, porém,contribuir para uma difusão progressiva do capitai material ehumano no sector tradicional. Estas escolhas de investimentosdiferentes, resultantes de estruturas diferentes da repartição eda procura, favorecem por sua vez um modelo de repartição dosrendimentos característico do dualismo moderado, porquanto de-terminam um nítido aumento do rendimento por habitante nosector tradicional, ainda que inferior ao P. I. B. por habitante,e o desenvolvimento dum mercado nacional para os produtos ma-nufacturados de consumo corrente.

No entanto, estes processos de auto-perpetuação têm limites.Causas de origem exterior ou interior podem contribuir para osinterromper. A extinção duma procura estrangeira muito impor-tante pode, por exemplo, comprometer o crescimento no casode um dttaJliismo muito pronunciado. Os países do Teorceiro-Mundoonde o dualismo é pronunciado apresentam taxas de concentraçãomuito superiores ao máximo atingido pelos países, da EuropaOcidental no século XIX, ou seja 5B ou 6B, em vez de 3A ou 4B.O papel desempenhado pela procura dos países industriais ex-plica estes exemplos de dualismo pronunciado, desconhecido noséculo XIX. Sem dúvida que as exportações desempenharam umpapel determinante no crescimento de certos países industriaisno século XIX e permitiram um dualismo* bastante pronunciadona Grã-Bretanha. Desempenham, porém, uma função muito maisimportante nos paísie® do Terceiro-Mundo onde o dualismo é muitopronunciado; nestes países, o crescimento depende e resulta uni-camente dò do© países desenvolvidos capitalistas. A cessação dasexportações exigiria aí uma reconversão do aparelho de produçãocom vista à procura interna e uma nova estrutura da repartiçãodos rendimentos.

Numerosas causas de origem interna podem iguaftmente in-tervir. Num país empenhado num crescimento de dualismo» mo-derado, a detscoberta de determinados recursos minerais pode sus-citar o acesso de capitais estrangeiros e aumentar a concentraçãodos rendimentos; esta nova estrutura da procura e dos rendi-mentos conduz a escolhas de investimentos diferentes, semelhan-tes às analisadas no país de pronunciado dualismo. Do mesmomodo, um auxílio estrangeiro importante, que apenas beneficiauma minoria de assalariados privilegiados, pode determinar umanova estrutura da repartição mais favorável a essas escolhasde investimentos. Em contrapartida, as tensões políticas, numpaís onde o dualismo seja pronunciado, podem incitar os gruposdominantes a investir no sector tradicional. O sufrágio universal,muito especialmente, pode subtrair a esses grupos o controle dasdecisões do Estado, e assim uma nova política dos investimentospúblicos na economia e no ensino pode contribuir para a difusãodo capital humano e material. O próprio crescimento», exigindo

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uma mão-de-obra qualificada cada vez mais numerosa, conduz aum desenvolvimento do ensino, que exerce efeito» semelhantes.Consequentemente, a relação capital/trabalho eleva-se no sectortradicional e numeroso® membros deste tornam-se assalariadosqualificados ou empresários modernos, baixando desta forma ataxa de concentração do® rendimento®.

Finalmente, causas políticas podem intervir sob uma formabrutal e modificar totalmente o modelo de crescimento e as es-truturas da repartição. A existência de conflitos violentos entre osgrupos encontra-se ligada ao relativo indeterminismo que caracte-riza o modelo de crescimento. Decerto, este indeterminismo éIlimitado, uma vez que existe um modelo de disparidade mínima;abaixo duma determinada taxa de concentração do® rendimentos,a poupança necessária não pode ser assegurada e a produtividadedos quadros diminui, qualquer que seja o regime. Mas a plura-lidade doisi modelos de repartição, cujas taxa® de concentraçãose encontram mais ou menos afastadas da taxa mínima, explicao surto de conflito® violentos entre os grupos detentores de ca-pital humano e material e os grupos que o não possuem. Dadoque o® grupo® provido® de capital humano e material são os quebeneficiam duma taxa de concentração mais elevada e simulta-neamente o® responsáveis pelas escolhas de investimentos, é pro-vável que escolham o modo de crescimento com concentraçãomáxima, sempre que a natureza da procura externa consinta umataxa úe crescimento também elevada. Aliás, mesmo que a taxade crescimento seja ligeiramente inferior à que se verificariaem caso de dualismo moderado, tais1 grupos podem preferir essemodelo porque ele irá aumentar mais rapidamente o® sieus rendi-mentos próprios, a curto e médio prazo115. É evidente1 que os gru-po® desprovidos de capital prefeririam um dualismo moderado;mas quando a posse dofâ bens de produção é privada e o Estadose encontra dominado pelo® grupos providos de capital humanoe material, esses grupos não participam, nem nas escolhas dos in-vestimentos, nem na do modelo de repartição.

A escolha do modelo de crescimento (dualismo moderado oudualismo pronunciado) e, por conseguinte, do modelo de reparti-ção dos rendimentos resulta, quer dum acordo entre os grupos,quer duma coacção» imposta por alguns à totalidade da população.Poderá entender-se por política dos rendimentos a escolha con-certada dum modelo de crescimento efectuada pelos diferentesgrupos, pondo-se estes de acordo quanto ao modelo dei reparti-ção e distribuição que essa escolha implica; esta noção de polí-tica dos rendimentos opõe-se à noção de conflito entre os grupos

15 A longo prazo, o modelo de dualismo moderado pode ser mais van-tajoso, mesmo para estes grupos. A depreciação dos bens futuros por com-paração com os bens presentes, explica porém a sua escolha.

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que decidem isoladamente da poupança e do® investimentos e osoutros grupo®. Á política de rendimentos, ou seja: uma escolhaconcertada, surge quando se reduz a diversidade dos modelos decrescimento possíveis e das taxas possíveis de concentração dos ren-dimentos; isto é, surge nas economias desenvolvidas. Peio contrá-rio, quando há grande diversidade, quando a taxa de concentra-ção dos rendimentos pode variar consideravelmente segundo omodelo, ou seja: no decorrer das fases A e B, as contradiçõesentre os interesses do® diferentes grupos são demasiado grandiespara que uma situação de conflito latente ou declarado não sub-sista na maior parte dos países. Quando o dualismo é moderado,o conflito tem menor alcance; atinge as formas mais gravesnos casos de dtualismo pronunciado. Assim, a um relativo inde-terminismo económico (uma vez que diversos modelos de repar-tição são compatíveis com o crescimento) corresponde um deter-minismo político: a escolha entre os modelos possíveis resulta dasolução dum conflito» entre os grupos. Em contrapartida, nospaíses desenvolvidos a parte do indeterminismo económico é muitomais reduzida e, por consequência, a determinação política contamenos. O acordo entre os grupos no que se refere ao crescimentoimporta mais que os diferendos a respeito do modelo de repartição,pois que os benefícios decorrentes de alguns anos de crescimentorepresentam mais para os membros dos decis inferiores do que osque resultariam da redução da taxa de concentração dos rendi-mentos compatível com o crescimento. Exceptuando alguns paísesmarcados pelas sequelas do dualismo16, a escolha do modelo derepartição já não suscita contestações importantes. As políticasdos rendimentos suirgem quando as contradições quanto à rqpar-tição do rendimento nacional1 já não são assaz fortes para con-duzir à violência, quando o acordo entre os grupos no que serefere a um crescimento regular conta mais que essa questão.

A observação do Quadro 1 e da Figura 2 permite reconheceros momentos de crescimento em que as tensões sociais relacio-nadas com o modelo de crescimento e de repartição podem sermais violentas. Encontramo-los aia fase A e no início da fase Bno caso de dualismo pronunciado, quando se verifica proletariza-ção absoluta para certos grupos, e no início da fase B no casode dualismo moderado 17.

Nos países desenvolvidos da Europa Ocidental, as tensõesque resultam do crescimento no decorrer da fase A e no início

16 Os países onde subsiste uma minoria importante desprovida de capitalmaterial e humano que representa uma reserva de mão-de-obra não-qua-lificada e barata.

17 Existem outras tensões, não menos violentas, mas que são de natu-reza diferente em virtude da ausência de grupos importantes de assalariadosreunidos nas ciidades, as quais resultam da concentração da propriedaderural em economia subdesenvolvida.

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da fase B tornam-se manifestas em 1800-1860 na Grã-Bretanha,e em 1830-1880 na França. De ceírto modo, é-nos peirmitido con-siderar as teses de MARX sobre a concentração cresicente dos ren-dimentos como uma observação exacta das realidades inglesase francesas em 1830-1860 18; mas a extrapolação feita a partirdeste movimento contínuo de subida da taxa de concentração du-rante meio século foi desmentido pela descida importante dessamesma taxa e pelo processo de desproletarização que caracterizamo crescimento destes países no século XX, designadamente a par-tir de 1918. Assim, o momento em que as tensões são mais fortesnão se situa nas fases ulteriores do crescimento onde sempre seconstata uma dif usãx> do capital humano e, por vezes, do capitalmaterial:, mas nas primeiras (fase A e início da fase B). Paraalém deste ponto crítico, as probabilidades duma mutação dasestruturas da repartição por via revolucionária não cessam dediminuir.

Uma análise teórica dos modelos de repartição permite-nosmostrar que esta evolução dos países da Europa Ocidental nãoera a única possível. Escolhas de investimentos diferentes, embenefício da agricultura e do ensino, a partir do final da fase A,e uma política de redistribuição dos rendimentos empreendidatrinta ou quarenta anos mais cedo, teriam permitido um cresci-mento igualmente rápido, mas menos penoso para a maioria dapopulação. Esses investimentos teriam atenuado sensivelmente aconcentração dos rendimentos desde o início da fase B, ou sejaaproximadamente 1840-1850 na Grã-Bretanha e 1860-1870 naFrança, e não apenas no termo desta fase, isto é: trinta ou cin-quenta anos mais tarde. Somente os efeitos de dominação exer-cidos pelos grupos que detinham o capital humano e materialexplicam a escolha dum modb de crescimento de custos mais ele-vados para os decis inferiores.

Tal modelo não é, porém, susceptível de comparação com osque se podem obseirvar em determinados países do T^ceiro-Mundono século XX. Com efeito, o dualismo encontra-se aí sob formamuito mais pronunciada do que nos países europeus de há umséculo, pois a importância dos mercados externos oferecidos peiospaíses industriais permite que um crescimento rápido seja com-patível com uma taxa de concentração dos rendimentos muitoelevada no decorrer das fases A e B. A conjunção frequente dum

18 Por um lado a proletarização de certos grupos, por outro a natu-reza das técnicas utilizadas nesta época, podiam dissimular o carácter fun-damental do crescimento em período longo como processo de desproletarização.Com efeito, essas técnicas exigiam muito pouca mão-de-obra altamente qua-lificada em relação à mão-de-obra não^qualificada, ou pouco qualificada.(Cf. P. BAIROCH, Révolution IndustrieUe et Sous-développement, pp. 164

a. 170).

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dualismo pronunciado com estruturas agrárias inigualitárias19 dálugar a violento® conflitos. Nos casos de dualismo pronunciado,e a partir da fase A, a taxa de concentração é muito elevada esuperior ao máximo que caracteriza o início da fase B em casode dualismo moderado, bem como aos valores máximos atingidosna Europa Ocidental no século XIX. O primeiro exemplo de dua-lismo pronunciado e de forte concentração dos rendimentos numpaís importante é-nos oferecido peia fase A do crescimento naRússia no fim do século XIX e no início do século XX. Depois,tanto a Ãsia, como a África e a América Latina, apresentaramnumerosos exemplos semelhantes de dualismo pronunciado e deconcentração dos rendimentos. De notar que quase todos os paísesonde, a partir da fase A (cf. Quadro 1), se verificaram taxasde concentração muito elevadas, defrontaram tensões graves e,por vezes, mutações estruturais por via revolucionária. Tal é ocaso da Argélia antes de 1958, do Congo^Leopoldviile (1958), doIraque (1956), do Quénia (1947) e das Rodésias do Norte e doSul (1949). Nos países em que o dualismo pronunciado subsistedurante a fase JS, depara-se com a mesma concentração e as mes-mas tensões, sendo o melhor exemplo o da União Sul-Africana20.Por outro lado, nos países de dualismo moderado (cf. Qvjadro 1e Figura 2), as taxas de concentração são mais elevadas no inícioda fase B que durante a fase A, em que todas as tensões erammenores. No entanto, as tensões são aí menos intensas do quenos países precedentes.

Os movimentos revolucionários a favor duma mutação dasestruturas económicas, e em particular da repartição, apodam-seem exemplos de economias colectivistas, onde a taxa de concen-tração diminuiu sob uma ideologia marxista21. Toda a críticadesta ideologia que se baseasse na ciência económica dos margi-nalistas e nos seus progressos desde há um século, assim comotoda a análise que se referisse apenas às relações entre repar-

19 Ou porque a maioria dos trabalhadores rurais tem de entregar umaparte substancial das1 colheitas aos proprietários rurais, ou porque apenas,dispõe das terras pobres, enquanto que uma minoria de agricultores providosde capital material o humano possui as terras férteis.

20 A concentração dos rendimentos1 neste país parece ser igual ou su-perior à da Rodésia ou do Quénia em 1949. (Cf. C. PADIEU, Etude sur <l'iné-galitê dans Ia distribwtion des revenus, pp. 152-153).

21 Esta descida em relação aos países capitalistas de dualismo pronun-ciado é (garantida, menos peio carácter socialista destas economias, do quepela natureza das suas relações comerciais com o estrangeira. Com efeito,estas economias, de certo modo fechadas sobre si mesmas, pois que as per-mutas externas representam uma percentagm muito reduzida do P. I. B.,dependem da procura interna para o seu crescimento, tal como as economiascapitalistas onde o dualismo é mais moderado. Por conseguinte, uma con-centração muito forte dos rendimentos bloquear-lhes-ia forçosamente o crés*cimento.

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tição e crescimento em economia desenvolvida, arriscar-se-iam aser destituídas de sentido, quando aplicadas aos países do Ter-ceiro mundo onde a concentração dos rendimentos é crescente eonde a taxa de concentração é muito superior ao mínimo reque-rido pelo crescimento, em consequência dum dualismo pronun-biado. A curto prazo, o crescimento revela-se como processo depauperização, relativa para a maioiria da população, absoluta paraalguns, e determina os comportamentos dos grupos desprovidosde capital, sem que os efeitos do crescimento a longo prazo, comoprocesso de desproletarização, possam exercer no imediato a menorinfluência.

(Tradução de Mania de Fátima Sedas Nunes, revista porSérgio Lopes).