aula 00 dco vicente paulo - repartição de competências

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CURSOS ONLINE DIREITO CONSTITUCIONAL - PROF. VICENTE PAULO

RELANAMENTOEstou relanando, aqui no site, o curso de Direito Constitucional Teoria e Exerccios, que conclu no incio deste ano de 2005. Sero aproximadamente 20 (vinte) aulas, apresentando o contedo programtico divulgado no site e, sempre, ao final das aulas, exerccios de concursos com os gabaritos oficiais brevemente comentados. O curso ter, praticamente, o mesmo formato do curso anterior, no qual tentei trazer para o papel as minhas aulas presenciais ministradas em sala de aula. O linguajar informal e a objetividade, sempre pensando 100% em concursos, continuaro os mesmos. As dvidas continuaro sendo sanadas no frum especialmente criado para esse fim, de forma que as perguntas dos alunos e as minhas respostas sejam abertas a todos os matriculados. Ser demasiadamente repetitivo continua sendo, provavelmente, a minha maior caracterstica, mas, pelo menos por enquanto, no tenho a menor inteno de abandon-la! A prtica mostra que ela tem dado bons resultados ao longo dos ltimos anos, com os mais diversos candidatos, que sorriem na hora da prova, ao verem pela frente as minhas exageradas repeties de sala de aula! O que haver de novo no curso sero os novos entendimentos firmados pelo Supremo Tribunal Federal (alguns poucos!) e os meus esforos para o aperfeioamento na maneira de apresentao dos complexos temas do Direito Constitucional. O curso pretrito foi o primeiro oferecido aqui no site nessa nova interface, e com ele aprendi muito, principalmente a partir das sugestes dos prprios alunos. Com isso, todas as aulas sero revistas e complementadas, seguindo, especialmente, duas sugestes dos prprios alunos do curso anterior: (i) a incluso de novas situaes prticas/hipotticas, abordando os temas tericos ensinados; e (ii) a incluso de resumos/quadros sinticos ao final de cada aula, para uma reviso rpida de todo o contedo quando necessrio (nas vsperas de uma prova, por exemplo). Este ser o nico curso de Direito Constitucional terico que oferecerei aqui no site neste ano de 2005, em virtude da assuno de outros compromissos nesse perodo. Portanto, se voc tem a inteno de realizar essa viagem pelo estudo do Direito Constitucional para concursos, o momento agora ou, ento, ficaremos para 2006! Sejam bem-vindos, e que Deus nos guie nessa tarefa! Vicente Paulo

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AULA ZERO: REPARTIO DE COMPETNCIASEstudar repartio de competncias compreender a essncia de um Estado do tipo federado, complexo ou composto. Isso porque Estado federado aquele formado por uma unio indissolvel de entes polticos dotados de autonomia poltica. a coexistncia, no mesmo territrio, de diferentes poderes polticos autnomos, como na federao brasileira, que formada por quatro entes federados, a saber: Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. No Estado federado, no h relao de subordinao entre os entes federados. Todos eles situam-se no mesmo nvel hierrquico, no exerccio de sua autonomia fixada no texto da Constituio. um equvoco, por exemplo, imaginar-se que no Brasil os Municpios so subordinados aos Estados-membros, e que estes so subordinados Unio. Da mesma forma, numa federao nenhum dos entes federativos dotado de soberania. Todos eles gozam, apenas, de autonomia, nos termos em que estabelecida na Constituio. Significa dizer que todos eles s dispem dos poderes que lhes so outorgados pela Constituio. Se qualquer um dos entes federativos praticar um ato que desrespeite a Constituio essa atuao ser invlida, inconstitucional. por esse motivo que a Constituio Federal de 1988 estabelece que a organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, todos dotados de autonomia, nos termos estabelecidos no prprio texto constitucional (CF, art. 18). Anote-se que a parte final do dispositivo estabelece duas importantes regras, acima mencionadas: (i) todos os entes federados so dotados, apenas, de autonomia; e (ii) os limites para o exerccio dessa autonomia esto demarcados na prpria Constituio, de acordo com as competncias que so outorgadas a cada ente federativo. Por isso se diz que repartio de competncias o ponto nuclear de um Estado federado. Afinal, se a federao uma unio de entes polticos autnomos, e se essa autonomia significa o exerccio de competncias demarcadas na Constituio, podemos afirmar que esta (a repartio de competncias) pressuposto para a autonomia dos entes polticos, que, por sua vez, requisito para a formao da federao. No Brasil, por exemplo, podemos pensar assim: onde est consagrada a autonomia dos Estados-membros? Nas competncias que lhes so outorgadas pela Constituio. Onde est consagrada a autonomia dos Municpios? Nas competncias que lhes so outorgadas pela Constituio e assim por diante.

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Portanto, podemos afirmar que repartio de competncias a tcnica que a Constituio utiliza para partilhar entre os diferentes entes federados as competncias do Estado federal. Conforme demonstrado acima, o ponto nuclear do conceito jurdico de Estado federal, haja vista que a autonomia dos entes federativos assenta-se, precisamente, nas competncias que lhe so atribudas pela Constituio. Enfim, a partir da definio constitucional das competncias que nasce a autonomia dos entes federativos. Vamos, ento, pensar assim: em 1988, a Assemblia Nacional Constituinte tinha numa das mos todas as competncias do Estado brasileiro, e na outra mo os quatro entes federados para, entre eles, repartir essas competncias. Como o legislador constituinte repartiu as competncias entre os diferentes entes federados? Que tcnica adotou para efetivar essa partilha? Quais as competncias foram atribudas a cada ente federado? A formulao de respostas a essas indagaes ser o objeto do nosso estudo de hoje, que ser, para fins meramente didticos, dividido em itens. 1) REPARTIO DE COMPETNCIAS, RIGIDEZ DA CONSTITUIO E CLUSULA PTREA Sabe-se que a Constituio Federal de 1988 do tipo rgida, por exigir um procedimento legislativo especial, mais difcil do que aquele de elaborao das demais leis, para sua modificao (CF, art. 60, 2). Com efeito, enquanto uma lei ordinria pode ser aprovada por maioria simples de votos (CF, art. 47), uma emenda constitucional somente pode ser aprovada por trs quintos dos votos dos membros das duas Casas do Congresso Nacional, em dois turnos de votao (CF, art. 60, 2). Ademais, a Carta Poltica possui um ncleo que no pode ser abolido por meio de emenda constitucional, as chamadas clusulas ptreas (CF, art. 60, 4). Por esse motivo rigidez e presena de clusulas ptreas -, alguns autores chegam a classificar a nossa Constituio como super rgida (Alexandre de Moraes). Esse fato rigidez do texto constitucional constitui uma importante garantia para a manuteno da autonomia poltica dos entes federados, pois implica dizer que a repartio de competncias somente poder ser modificada por meio de emenda constitucional, pelo processo rduo do art. 60, 2, da Constituio. Se a nossa Constituio fosse do tipo flexvel modificvel pelo processo legislativo simples, de elaborao das demais leis -, o modelo de repartio de competncias estabelecido pelo texto constitucional

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poderia ser facilmente modificado por leis aprovadas pelo Congresso Nacional. Porm, se certo afirmar que a rigidez constitucional outorga maior garantia autonomia dos entes federativos, tambm certo dizer que essa rigidez no impede modificaes no modelo de repartio originariamente estabelecido pela Constituio. O modelo de partilha de competncias estabelecido pelo legislador constituinte originrio em 1988 no absolutamente imutvel, eterno, vale dizer, pode ser modificado por emenda constitucional. Enfim, o legislador constituinte no gravou a repartio de competncias por ele estabelecido como clusula ptrea. Afirmar que na vigente Constituio Federal a repartio de competncias no clusula ptrea significa dizer que o modelo de repartio traado em 1988 pelo legislador constituinte originrio poder sofrer modificaes substancias por meio de emenda constitucional. Nada impede, por exemplo, que uma matria hoje integrante da competncia legislativa concorrente seja repassada (CF, art. 24), por meio de emenda constitucional, Unio (CF, art. 22), ou vice-versa; ou que determinada matria hoje integrante da competncia dos Estados seja repassada aos Municpios e assim por diante. Portanto, fixe essa informao: na Constituio Federal de 1988, repartio de competncias no clusula ptrea. Porm, outra indagao deve ser respondida: se repartio de competncias no clusula ptrea, pode-se ento afirmar que uma emenda constitucional pode modificar ilimitadamente o modelo de partilha estabelecido pelo legislador constituinte originrio? A resposta negativa. O poder da emenda constitucional de alterar o modelo de repartio estabelecido pelo legislador constituinte originrio um poder limitado, pois a alterao no poder ser tendente a abolir alguma das clusulas ptreas, especialmente a forma federativa de Estado (CF, art. 60, 4). Enfim, o modelo de repartio de competncias poder ser modificado por emenda constitucional, mas no de forma ilimitada. Por exemplo: as competncias dos Municpios, fixadas na CF/88, no so absolutamente imutveis, eternas, isto , nada impede que uma emenda constitucional venha a retirar dos Municpios certa competncia; porm, seria flagrantemente inconstitucional uma emenda constitucional que, por exemplo, retirasse todas as competncias dos Municpios e as repassasse aos Estados-membros, porque essa emenda seria, sem dvida, tendente a abolir a forma federativa de Estado. Da mesma forma, seria flagrante inconstitucional uma emenda que retirasse dos Municpios a competncia para instituir, fiscalizar ewww.pontodosconcursos.com.br

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arrecadar seus prprios tributos, haja vista ser esse aspecto de fundamental importncia para a garantia da autonomia municipal (e, portanto, tal emenda tambm afrontaria o art. 60, 4, I, da CF/88, pois tenderia abolio, ao enfraquecimento da forma federativa de Estado, idealizada pelo legislador constituinte originrio). Ento, o aprendizado deste item foi o seguinte: repartio de competncias na Constituio Federal de 1988 no clusula ptrea; nada impede, portanto, que sejam promovidas modificaes nessa repartio por meio de emenda constitucional; porm, esse poder de modificao no ilimitado, pois a modificao no poder ser de tal magnitude que tenda a abolir a forma federativa de Estado, enfraquecendo em demasia um ente federado frente a outro, pois isso violaria uma clusula ptrea expressa (CF, art. 60, 4, I). 2) COMPETNCIAS ADMINISTRATIVAS, LEGISLATIVAS E TRIBUTRIAS A Constituio Federal estabelece competncias tributrias, competncias administrativas e competncias legislativas para os diferentes entes polticos. A competncia tributria diz respeito ao poder de instituir tributos, que outorgado a todos os entes federativos, para sua mantena. Est disciplinada em Captulo prprio da Constituio Federal (Captulo I, do Ttulo VI art. 145 e seguintes). As competncias administrativas (materiais) especificam o campo de atuao poltico-administrativa do ente federado. So competncias para a atuao concreta, para a explorao das matrias nelas consignadas. Por exemplo, a Constituio Federal outorga Unio competncia exclusiva para a emisso de moeda (CF, art. 21, VII), bem assim competncia comum a todos os entes federados para proteger as florestas, a flora e a fauna (CF, art. 23, VII). As competncias legislativas (normativas) outorgam ao ente federado o poder para legislar, para regular, para estabelecer normas sobre a matria. No dizem respeito atuao em si, mas sim competncia para legislar sobre as respectivas matrias. Se outorgada a competncia legislativa Unio para o trato de determinada matria, outros entes podero atuar no mbito dessa matria (competncia administrativa), mas somente a Unio poder legislar, regular essa forma de atuao (competncia legislativa). Dois dispositivos constitucionais nos auxiliam na compreenso dessa distino entre as competncias legislativa e administrativa: os artigos 21 e 22 da Constituio Federal. O art. 21 estabelece a denominada competncia exclusiva da Unio, de natureza administrativa. Assim, trata-se de competncia

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administrativa para atuao efetiva sobre as matrias enunciadas nos incisos do art. 21 da Constituio. Exemplificando: ao enunciar no inciso I que compete Unio manter relaes com Estados estrangeiros e participar de organizaes internacionais, est a Constituio determinando que s a Unio poder atuar nessa rea (no h possibilidade jurdica de que um Estado ou um Municpio venha a celebrar um tratado internacional, ou a nomear membro da Organizao das Naes Unidas - ONU). Bem diferente o que ocorre na competncia privativa da Unio, que de natureza legislativa, estabelecida no art. 22 da Constituio Federal. Aqui, no tocante s matrias enunciadas nos incisos do art. 22, no se est afirmando que somente a Unio atuar sobre tais matrias. No, de jeito nenhum. Est se afirmando que compete unio, privativamente, legislar sobre essas matrias, disciplinar, regular a explorao dessas matrias. Por exemplo: o inciso XI do art. 22 estabelece que compete privativamente Unio legislar sobre trnsito e transporte. Ora, no se est aqui afirmando que somente a Unio prestar servios de transporte no Brasil. Sabe-se que os Estados, o Distrito Federal e os Municpios tambm prestam servio de transporte de passageiros. O que a Constituio determina nesse dispositivo que caber privativamente Unio legislar sobre essa matria, estabelecer normas para a prestao desses servios. Os demais entes federados tambm exploram servios de transporte, porm, no podem legislar sobre trnsito e transporte. Enfim, os demais entes federados tambm atuam na prestao de servios de transporte (competncia administrativa), mas no podem editar normas sobre trnsito e transporte (no dispem de competncia legislativa para tal). Significa dizer que devero eles, ao prestar esses servios, observar as regras federais editadas pela Unio, com base na sua competncia legislativa privativa (CF, art. 22, XI). Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional uma lei do Distrito Federal que obrigava a colocao, nas vias do Distrito Federal, de placa de aviso 300 metros antes das barreiras de controle eletrnico de velocidade, como meio de alertar os motoristas sobre o controle eletrnico de velocidade frente. Referida lei foi declarada inconstitucional porque o Distrito Federal no dispe de competncia para legislar sobre trnsito e transporte, matria de competncia privativa da Unio, por fora do art. 22, XI, da Constituio Federal. Nessa mesma linha, foram declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal leis municipais que estabeleciam a obrigatoriedade do uso de cinto de segurana no transporte pblico municipal. Mais uma vez, houve ofensa ao art. 22, XI, da Constituio Federal, que outorga competncia privativa Unio para legislar sobre trnsito e transporte.www.pontodosconcursos.com.br

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3) REPARTIO HORIZONTAL E REPARTIO VERTICAL Ao estabelecer a repartio de competncias entre os entes federados, o Estado federal poder adotar dois modelos distintos: o modelo horizontal e o modelo vertical. No modelo horizontal de repartio, o ente federado receber competncia para atuar sobre a matria com plena autonomia, sem ingerncia dos demais entes federados. No haver hierarquia, subordinao de um ente federado sobre a atuao do outro. O trao marcante da repartio horizontal , portanto, a inexistncia de subordinao ou hierarquizao entre os entes federados no exerccio da competncia. Da a denominao horizontal, visto que no haver verticalidade (relao de subordinao hierrquica) entre os entes federados, no trato da respectiva matria. Cada ente federativo atuar com plena autonomia no exerccio de sua especfica competncia, vale dizer, a competncia ser exercida pelo ente federativo sem nenhuma ingerncia dos demais. o caso das competncias estabelecidas nos artigos 21 (competncia exclusiva da Unio), 22 (competncia privativa da Unio), 23 (competncia comum) e 30 (competncia dos Municpios) da Constituio Federal. Ocorre a repartio vertical quando a Constituio outorga a diferentes entes federativos a competncia para atuar sobre as mesmas matrias, mas estabelece uma relao de subordinao entre eles. Os diferentes entes atuam sobre as mesmas matrias, mas no dispem dos mesmos poderes nessa tarefa. O trao caracterstico da repartio vertical , portanto, a existncia de uma relao de subordinao entre os entes federativos na atuao sobre as matrias de seu mbito. o caso da competncia legislativa concorrente, outorgada Unio, aos Estados e ao Distrito Federal (CF, art. 24). No mbito dessa competncia, todos esses entes federados podero legislar sobre as mesmas matrias, enumeradas nos incisos do art. 24, mas no tero os mesmos poderes, h uma relao de subordinao na expedio de normas, disciplinada nos pargrafos do prprio artigo 24 da Constituio Federal. Assim, no mbito da legislao concorrente, em regra, caber Unio estabelecer os preceitos gerais e aos Estados e Distrito Federal expedir normas especficas, para o atendimento de suas peculiaridades regionais (CF, art. 24, 1 e 2). A Constituio Federal de 1988 adotou os dois modelos de repartio de competncias, com predominncia do modelo horizontal. A competncia legislativa concorrente, disciplinada no art. 24, o exemplo de repartio vertical de competncias.

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Nesse item, as informaes mais importantes repassadas foram as seguintes: a Constituio Federal de 1988 adotou tanto o modelo horizontal, quanto o modelo vertical de repartio de competncias, com predominncia do primeiro (a nica hiptese de repartio vertical de competncia que temos a competncia legislativa concorrente entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal, fixada no art. 24 da CF/88). 4) TCNICA DE REPARTIO ADOTADA PELA CF/88 Vistas essas noes bsicas, estamos prontos para examinar como o legislador constituinte originrio partilhou as competncias do Estado brasileiro entre os diferentes entes federados. O estudo da tcnica de repartio de competncias na nossa Constituio Federal deve comear pelo exame do princpio da predominncia do interesse, pois foi ele o marco inicial, o princpio que norteou o legislador constituinte na partilha de competncias entre os diferentes entes federados. Esse princpio impe a outorga da competncia de acordo com o interesse predominante sobre a respectiva matria, e de fcil entendimento, seno vejamos: temos na nossa federao um ente nacional (Unio), um ente regional (Estados) e um ente local (Municpios); logo, de acordo com esse princpio, se a matria de interesse predominantemente nacional, dever ser outorgada Unio; se a matria de interesse predominantemente regional, dever ser reservada aos Estados-membros; se a matria de interesse predominantemente local, dever ser atribuda aos Municpios; o Distrito Federal, em face da vedao de sua diviso em Municpios, cumula as competncias locais e regionais (competncias estaduais e municipais). Um bom exemplo para o entendimento da aplicao do princpio da predominncia do interesse temos na prestao do servio de transporte de passageiros, em relao ao qual temos o seguinte: (a) se o transporte intramunicipal (no mbito do Municpio), h um predomnio do interesse local, razo pela qual a competncia para sua prestao foi outorgada ao Municpio; (b) se o transporte intermunicipal (entre Municpios, no mbito de um mesmo Estado), predomina o interesse regional, sendo a competncia do Estado; se o transporte interestadual ou internacional (entre Estados-membros, ou envolvendo outros Pases), h um explcito predomnio do interesse nacional, razo pela qual a competncia para sua prestao foi outorgada Unio. Partindo do princpio da predominncia do interesse, a Constituio Federal adotou a seguinte tcnica para partilhar as competncias entre os diferentes entes federados:

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enumerou taxativamente a competncia da Unio a denominada competncia enumerada expressa (arts. 21 e 22, principalmente); enumerou taxativamente a competncia dos Municpios - a denominada competncia enumerada expressa (art. 30, principalmente); outorgou ao Distrito Federal, em regra, as competncias dos Estados e dos Municpios (art. 32, 1); no enumerou expressamente as competncias dos Estadosmembros, reservando a estes as competncias que no lhe forem vedadas na Constituio a denominada competncia remanescente, no-enumerada ou residual (art. 25, 1); criou uma competncia administrativa comum a todos os entes federados a chamada competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, em que todos os entes federados podero atuar paralelamente, em situao de igualdade, sobre as mesmas matrias (art. 23); criou uma hiptese de concorrncia legislativa vertical entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal a chamada competncia legislativa concorrente (art. 24 da CF/88).

De fundamental importncia essa noo: a CF/88 enumerou expressamente as competncias da Unio e dos Municpios, outorgou as competncias municipais e estaduais ao Distrito Federal, reservou aos Estados as competncias remanescentes, alm de estabelecer uma competncia administrativa comum a todos os entes e uma competncia legislativa concorrente entre a Unio, Estados e Distrito Federal. Porm, no se pode perder de vista que esse modelo de repartio constitui a regra para a diviso das chamadas competncias materiais entre os entes federativos. No deve esse modelo ser entendido como inflexvel, absoluto. Assim, embora a regra seja a outorga da competncia sobre as matrias de interesse local aos Municpios, no se pode afirmar que todos os assuntos de interesse local foram outorgados a esses entes federativos. A explorao do gs canalizado, por exemplo, constitui matria de interesse predominantemente local que, porm, foi outorgada aos Estados-membros (CF, art. 25, 2). Da mesma forma, em regra, a competncia dos Estados-membros no foi expressamente enumerada no texto constitucional, sendo-lhes outorgada a denominada competncia no-enumerada, residual, reservada ou remanescente (CF, art. 25, 1). Porm, no se pode afirmar que a Constituio Federal no enumerou expressamente nenhuma competncia dos Estados, pois foi a eles foi outorgada,

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expressamente, a competncia para a explorao do gs canalizado (CF, art. 25, 2), para a criao, mediante lei complementar, de regies metropolitanas, aglomeraes urbanas e microrregies (CF, art. 25, 3), para a reorganizao dos limites territoriais dos Municpios de seu territrio (CF, art. 18, 4) e para a organizao da prpria Justia (CF, art. 125). Ainda, embora a regra seja a outorga da competncia reservada, residual ou remanescente aos Estados-membros (CF, art. 25, 1), em matria tributria a Unio que dispe de competncia residual, para a instituio de novos impostos (CF, art. 154, I) e de novas contribuies de seguridade social (CF, art. 195, 4). Em concursos pblicos, embora nos ltimos tempos se tenha cobrado, predominantemente, a regra geral, especial nfase deve ser dada a essas excees. Vista essa noo geral sobre a tcnica adotada pela Constituio Federal para repartir as competncias entre os entes federados, passemos, a seguir, ao exame pormenorizado de cada uma dessas competncias. 4.1) COMPETNCIA DA UNIO As principais competncias enumeradas da Unio esto previstas nos artigos 21 e 22 da Constituio Federal. O art. 21 da Constituio Federal estabelece a denominada competncia exclusiva da Unio, para atuar sobre as mais diversas matrias de interesse predominantemente nacional. Cuida-se de competncia administrativa, em que a Unio dever atuar com absoluta exclusividade, no havendo, sequer, autorizao constitucional para a delegao a outros entes federativos. Sua principal caracterstica , pois, a indelegabilidade. Com efeito, no h previso constitucional para que a Unio delegue o exerccio dessa sua competncia exclusiva aos Estados, ao Distrito Federal ou aos Municpios. Por exemplo: no h possibilidade de que a Unio delegue aos Estados-membros a competncia para celebrar tratados internacionais (art. 21, I), tampouco para emitir moeda (art. 21, VII). Os demais entes federativos no podero, tambm, atuar no mbito das matrias do art. 21 da Constituio Federal nem mesmo no caso de omisso da Unio. Assim, se a Unio no emite moeda (CF, art. 21, VII), no h possibilidade de que os demais entes federados supram essa omisso. Se a Unio no autoriza a produo e o comrcio de material blico (CF, art. 21, VI), no podero os demais entes federativos suprir essa lacuna federal e assim por diante.

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Agora, uma sugesto para o estudo das matrias que integram a competncia exclusiva da Unio. Ao estudar essas competncias enumeradas nos incisos do art. 21, importante que o candidato observe o seu carter nitidamente nacional, por fora da aplicao do princpio geral que estudamos para a outorga de competncia, chamado princpio da predominncia do interesse, segundo o qual cabero Unio as matrias de interesse predominantemente nacional. Se o candidato estudar os incisos do art. 21 com essa viso crtica, associando as diferentes matrias ao seu carter nacional, certamente ter mais facilidade para memoriz-los. Arrisco mesmo a dizer que, em verdade, sero poucos os incisos do art. 21 que precisaro ser memorizados para uma prova de concurso, porque a maioria deles j faz expressa meno ao carter nacional (assegurar a defesa nacional, permitir que foras estrangeiras transitem pelo territrio nacional etc.) ou no deixa dvida, ainda que implicitamente, sobre o seu carter nacional (emitir moeda, declarar guerra etc.). Dentre os incisos do art. 21, merecem especial ateno os que estabelecem as competncias especiais da Unio no mbito do Distrito Federal, a saber: organizar e manter o Poder Judicirio, o Ministrio Pblico e a Defensoria Pblica do Distrito Federal e dos Territrios, bem assim a polcia civil, a polcia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal (art. 21, XIII e XIV). Esses dois dispositivos constitucionais apontam aquelas competncias dos Estados-membros que no foram repassadas ao Distrito Federal e, por isso, so muito cobrados em prova. O art. 22 da Constituio Federal estabelece a competncia privativa da Unio, de ndole legislativa. Cuida-se de competncia legislativa, para a edio de normas sobre as respectivas matrias enumeradas. Os Estados, o Distrito Federal e os Municpios no dispem de competncia para legislar sobre as matrias enumeradas no art. 22, sob pena de inconstitucionalidade. Mesmo diante da omisso da Unio na expedio de normas sobre as matrias de sua competncia privativa, os demais entes federativos no so livres para editar leis suprindo essa omisso legislativa federal. Assim, se a Unio no edita lei definindo determinada conduta da sociedade como criminosa, no podero os Estados-membros suprir essa lacuna, por invaso da competncia privativa da Unio para legislar sobre Direito Penal (CF, art. 22, I). Porm, possvel que os Estados e o Distrito Federal venham a legislar sobre questes especficas das matrias enumeradas no art. 22 da Constituio Federal, desde que a Unio delegue competncia, por meio de lei complementar (CF, art. 22, pargrafo nico).

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Com efeito, ao contrrio da competncia administrativa exclusiva, a marca da competncia legislativa privativa da Unio a sua delegabilidade aos Estados e ao Distrito Federal (no aos Municpios), estabelecida expressamente no pargrafo nico do art. 22 da Constituio Federal. Esse dispositivo da Constituio estabelece que a Unio poder delegar aos Estados e ao Distrito Federal a competncia para legislar sobre as matrias de sua competncia privativa, desde que haja obedincia aos seguintes requisitos: a delegao dever ser efetivada por lei complementar federal, editada pelo Congresso Nacional (no poder efetivar-se por lei ordinria); a delegao, se houver, dever contemplar todos os Estadosmembros e o Distrito Federal, sob pena de ofensa ao princpio do equilbrio federativo, que veda o estabelecimento de preferncias entre os entes federativos (CF, art. 19, III); a delegao dever, obrigatoriamente, contemplar o Distrito Federal, visto que as competncias estaduais so estendidas constitucionalmente a este ente federativo (CF, art. 32, 1); a Unio somente poder autorizar os Estados-membros e o Distrito Federal a legislar sobre questes especficas, no podendo a delegao conferir competncia para o tratamento pleno, global, das matrias de sua competncia privativa.

Vejamos um exemplo para clarear esse ltimo requisito, que se refere a questes especficas. Compete privativamente Unio legislar sobre Direito do Trabalho (CF, art. 22, I). Portanto, a Unio poder, por meio de lei complementar, autorizar os Estados e o Distrito Federal a legislar sobre esse ramo do Direito. Porm, essa autorizao no poder ser para legislar plenamente sobre Direito do Trabalho, mas sim sobre questes especficas no mbito dessa disciplina. Foi o que ocorreu com a edio da Lei Complementar n 103, de 14/07/2000, em que a Unio autorizou os Estados e o Distrito Federal a instituir, nos seus respectivos mbitos, o piso salarial, previsto no art. 7, V, da CF/88, para as categorias de trabalhadores no organizadas em sindicato. Nesse caso, foi juridicamente correta a delegao da Unio, pois os Estados e o Distrito Federal foram, de fato, autorizados a legislar sobre uma questo especfica no mbito do Direito do Trabalho, qual seja, fixar o valor do piso salarial naquelas categorias de trabalhadores no organizadas em sindicato. Dentre os incisos do art. 22, imprescindvel que o candidato memorize o inciso I, que estabelece que compete privativamente Unio legislar sobre os seguintes ramos do Direito: civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico, espacial e do trabalho.

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Competncias da Unio Art. 21 Exclusiva da Unio Administrativa Indelegvel Legislativa Delegvel Art. 22 Privativa da Unio

Alm das competncias enumeradas nos artigos 21 e 22 competncia administrativa exclusiva e competncia legislativa privativa -, a Unio dispe de outras competncias indicadas em diversos dispositivos constitucionais, dentre os quais destacamos os seguintes: Competncia administrativa comum, paralela ou cumulativa na qual, em condies de igualdade com os demais entes federativos, poder atuar na concretizao dos respectivos comandos constitucionais (art. 23); Competncia legislativa concorrente na qual estabelecida uma concorrncia legislativa vertical entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal (art. 24); Competncia tributria expressa destinada instituio das diferentes espcies tributrias: impostos, taxas, contribuies de melhoria, contribuies e emprstimos compulsrios (arts. 145, 148, 149 e 153); Competncia tributria residual para a instituio de novos impostos e novas contribuies de seguridade social, alm daqueles j previstos no texto constitucional (arts. 154, I e 195, 4); Competncia tributria extraordinria para, na iminncia ou no caso de guerra externa, instituir impostos extraordinrios (art. 154, II).

Para concluirmos o estudo das competncias da Unio, destaco duas jurisprudncias do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto: (i) compete privativamente Unio a fixao do horrio de funcionamento bancrio nas municipalidades, visto que essa medida extrapola os interesses locais do Municpio, por repercutir no funcionamento do Sistema Financeiro Nacional; (ii) compete privativamente Unio legislar sobre crimes de responsabilidade e respectivas penas, ainda quando de autoridades estaduais e municipais, pois somente a Unio dispe de competncia para legislar sobre Direito Penal (CF, art. 22, I).

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4.2) COMPETNCIA COMUM A competncia comum (paralela ou cumulativa) est disciplinada no art. 23 da Constituio Federal, que enuncia um rol de matrias sobre as quais todos os entes federados podero atuar. Cuida-se de competncia administrativa, que outorga Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios o poder de atuar, paralelamente, sobre as respectivas matrias. Todos os entes federativos atuam em condies de igualdade, sem nenhuma relao de subordinao. No h predominncia da atuao da Unio sobre a atuao dos demais entes federativos, e vice-versa. Da a denominao atuao paralela dos entes federados, visto que eles atuam em condies de igualdade e que, ademais, a atuao de um ente federativo no exclui a atuao dos demais. A principal caracterstica da competncia administrativa comum, paralela ou cumulativa , pois, a inexistncia de subordinao na atuao dos diferentes entes federativos, haja vista que todos atuam em condies de plena igualdade, sem que a atuao de um afaste a atuao dos demais. Observe que, numa primeira vista, pode-se ficar com a idia de que se trata de repartio vertical de competncias, uma vez que diferentes entes federados atuaro sobre as mesmas matrias. Entretanto, no se cuida de partilha vertical de competncias, uma vez que, no mbito da competncia comum, todos os entes federados atuaro paralelamente, em p de igualdade, sem predominncia da atuao de um sobre a de outro, sem nenhuma relao de subordinao. Enfim, na competncia comum temos uma possibilidade de atuao paralela, horizontal, dos entes federados, isto , todos os entes atuam em p de igualdade, sem predominncia de um sobre o outro. Assim, a atuao de um ente federado sobre uma dessas matrias no afasta a atuao do outro (as atuaes, em verdade, se complementam). Exatamente por esse motivo possibilidade de atuao paralela dos entes federados que dispe a Constituio que, no mbito da competncia comum, lei complementar dever fixar normas para a cooperao entre a Unio e os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, tendo em vista o equilbrio do desenvolvimento e do bemestar em mbito nacional (CF, art. 23, pargrafo nico). 4.3) COMPETNCIA CONCORRENTE Estabelece a Constituio Federal que compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre as diversas matrias arroladas nos incisos do seu art. 24, adotando, conforme dito antes, a tcnica de repartio vertical de competncias.

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Observe que os Municpios no integram a competncia legislativa concorrente, vale dizer, os Municpios no concorrem com a Unio e com os Estados no tocante fixao de normas sobre essas matrias. Porm, os Municpios podero suplementar, no que couber, as leis federais e estaduais editadas no uso da competncia legislativa concorrente, por fora da expressa autorizao constante do art. 30, II, da Constituio Federal. Essa competncia dos Municpios denominada competncia suplementar, e poder ser utilizada para suplementar uma lei federal ou estadual quando estas leis tratarem de matrias que tenham repercusso em assuntos de interesse local. Enfatize-se: os Municpios no integram a competncia legislativa concorrente, isto , eles no concorrem com a Unio e com os Estados no tocante a legislar sobre as matrias enunciadas nos incisos do art. 24 da CF/88; podero eles, apenas, suplementar as leis federais ou estaduais editadas no uso da competncia legislativa concorrente, se couber, isto , se estas leis tratarem de matria que tenha repercusso em assunto de interesse local. Enfim, o Municpio concorreria com a Unio e o Estado se existisse a seguinte regra constitucional: se a Unio e o Estado forem omissos, o Municpio poder legislar plenamente sobre a matria; essa regra, porm, no existe, isto , o Municpio poder, apenas, suplementar a legislao federal ou estadual, no que couber. Bem, vista a atuao do Municpio, na suplementao das leis federais ou estaduais resultantes do uso da competncia legislativa concorrente, vejamos agora como ser a atuao da Unio, dos Estados e do Distrito Federal no mbito dessa competncia legislativa concorrente. Estabelece a Constituio Federal que no mbito da legislao concorrente, a competncia da Unio limitar-se- a estabelecer normas gerais, bem assim que essa competncia da Unio para legislar sobre normas gerais no exclui a competncia suplementar dos Estados e do Distrito Federal (CF, art. 24, 1 e 2). Assim, o funcionamento padro da competncia legislativa concorrente seria este: a Unio editaria uma lei federal estabelecendo as normas gerais sobre a matria e os Estados e o Distrito Federal suplementariam essa lei federal de normas gerais da Unio, editando suas leis e fixando as regras especficas. Caso a Unio estabelea, alm de normas gerais, normas especficas, estar agindo inconstitucionalmente, por invadir a competncia constitucional dos Estados-membros e do Distrito Federal (CF, art. 24, 1).

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Porm, essa limitao imposta Unio - de que sua competncia limitar-se- a estabelecer normas gerais deve ser entendida da seguinte maneira: a competncia da Unio limitar-se- a estabelecer normas gerais no tocante aos Estados e ao Distrito Federal, no impedindo que a Unio venha a estabelecer normas especficas em relao aos seus prprios rgos e entidades (rgos e entidades federais). Assim, mesmo no mbito da competncia legislativa concorrente possvel que a Unio estabelea normas especficas, desde em relao aos rgos e entidades federais. Exemplificando: cabe Unio e aos Estados legislar concorrentemente sobre custas dos servios forenses (CF, art. 24, IV); logo, nessa matria, a competncia da Unio limitarse- a estabelecer normas gerais em relao aos Estados, isto , em relao s custas dos servios forenses no mbito da Justia dos Estados-membros, caber Unio, somente, estabelecer normas gerais (a competncia para fixar normas especficas pertence ao prprio Estado); agora, no tocante s custas dos servios forenses no mbito da Justia Federal, a competncia da Unio abrange no s o poder de estabelecer as normas gerais, como tambm para editar as normas especficas (afinal, se a prpria Unio no estabelecer essas normas especficas, em relao sua prpria Justia, quem as fixar?). Esse mesmo raciocnio poder ser aplicado s outras matrias integrantes da competncia legislativa concorrente, como no caso de legislar sobre educao (CF, art. 24, IX). De fato, estabelece a Constituio Federal que compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre educao (CF, art. 24, IX). Portanto, em relao aos estabelecimentos de ensino dos Estados e do Distrito Federal, a Unio s dispe de competncia para a fixao de normas gerais. Caso, em relao a esses entes federativos, a Unio extrapole essa competncia, fixando, tambm, normas especficas, estar desrespeitando a Constituio Federal. Porm, em relao aos estabelecimentos de ensino da Unio, certamente caber a ela prpria estabelecer no s as normas gerais como tambm as normas especficas. Afinal, no faria o menor sentido os Estados e o Distrito Federal fixarem as normas especficas sobre educao direcionadas para os estabelecimentos de ensino federais. Portanto, fixe bem esta noo: mesmo no mbito da competncia legislativa concorrente, possvel que a Unio estabelea normas especficas, desde que em relao aos seus rgos e entidades (rgos e entidades federais). Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercero a competncia legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (CF, art. 24, 3).www.pontodosconcursos.com.br

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Esse dispositivo o que, de fato, estabelece o ncleo da concorrncia, isto , se a Unio for omissa, se no editar sua lei federal de normas gerais, os Estados e o Distrito Federal podero legislar plenamente sobre a matria, para atender a suas peculiaridades. Ento, a atuao dos Estados e do Distrito Federal no est dependente da prvia atuao da Unio. Ao contrrio, diante da omisso da Unio podero eles legislar plenamente sobre a matria, nos respectivos mbitos, editando tanto normas gerais quanto normas especficas. Enfim, a omisso da Unio implica outorga, ttica e automaticamente, de competncia legislativa plena aos Estados e ao Distrito Federal, para o estabelecimento, no seu mbito, de normas gerais e normas especificas sobre a respectiva matria, para o atendimento de suas peculiaridades. Observa-se, ainda, que a aquisio da competncia legislativa plena pelos Estados-membros e Distrito Federal d-se de maneira automtica, sem necessidade de nenhuma delegao por parte da Unio, sem a necessidade da edio de qualquer ato autorizativo. decorrncia automtica do texto constitucional (CF, art. 24, 3), que confere a esses entes federativos, imediatamente, independentemente de qualquer ato de delegao, a competncia legislativa plena para o tratamento da respectiva matria diante da omisso federal. Logo, podemos concluir que no mbito da competncia legislativa concorrente possvel que os Estados e o Distrito Federal estabeleam normas gerais, desde que diante da omisso da Unio. Se a Unio omissa, se no edita sua lei de normas gerais, determina a Constituio que os Estados e o Distrito Federal podero legislar plenamente sobre a matria, e este legislar plenamente certamente envolve a edio de normas gerais. Pelo at aqui estudado, podemos notar que os Estados e o Distrito Federal podem atuar de duas maneiras no mbito da competncia legislativa concorrente, ora complementando a lei federal de normas gerais, ora diante da inexistncia dessa legislao federal. Em face dessa peculiaridade, a doutrina tradicional divide a competncia suplementar dos Estados e do Distrito Federal em competncia complementar e competncia supletiva. Os Estados e o Distrito Federal exercem a competncia suplementar complementar quando editam normas especficas, aps a edio da lei de normas gerais pela Unio (CF, art. 24, 2). Nessa hiptese, portanto, a atuao complementar dos Estados e do Distrito Federal pressupe a prvia existncia de lei federal de normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal exercem a competncia suplementar supletiva quando legislam diante da inrcia da Unio em estabelecer as

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normas gerais sobre a matria (CF, art. 24, 3). Nessa hiptese, portanto, a atuao supletiva dos Estados e do Distrito Federal pressupe a inrcia da Unio em editar a legislao federal de normas gerais. Porm, a competncia legislativa plena dos Estados, adquirida diante da omisso da Unio, no definitiva, tampouco afasta o poder da Unio para a ulterior fixao de normas gerais sobre a matria. Isso porque estabelece a Constituio que a supervenincia de lei federal sobre normas gerais suspende a eficcia da lei estadual, no que lhe for contrrio (CF, art. 24, 4). Nesse ponto, a Constituio Federal deixa claro que o fato de a Unio ter sido omissa num primeiro momento, permitindo que os Estados e o Distrito Federal legislassem plenamente sobre a matria, no significa que ela tenha perdido sua competncia constitucional para a futura edio de normas gerais. A qualquer tempo poder a Unio abandonar sua inrcia, desconsiderar a existncia de leis estaduais legislando plenamente sobre a matria, e baixar uma lei federal estabelecendo as normas gerais. Nessa situao, caso a Unio edite supervenientemente sua lei federal de normas gerais, estabelece a Constituio que esta lei federal de normas gerais prevalecer sobre a lei estadual, suspendendo a eficcia desta, no que lhe for contrrio. Enfim, todos os dispositivos da lei estadual (editada diante da omisso inicial da Unio) que contrariarem a lei federal da Unio de normas gerais (editada supervenientemente) tero a eficcia suspensa por esta. Anote-se que no haver, necessariamente, suspenso da eficcia de toda a lei estadual, mas somente daqueles seus dispositivos que contrariarem a ulterior lei de normas gerais da Unio. Os dispositivos da lei estadual que forem compatveis com a lei federal superveniente continuaro em pleno vigor, em suplemento s normas gerais da Unio. Anote-se que a Constituio estabelece que a lei federal superveniente suspender a eficcia dos dispositivos da lei estadual, no que lhe for contrrio, no se tratando de revogao. importante sabermos que a suspenso de eficcia no se confunde com a revogao. Na revogao, a norma revogada retirada do ordenamento jurdico. Se a lei 2 revoga a lei 1, esta retirada do ordenamento jurdico, da por diante (eficcia ex nunc). Na suspenso de eficcia, a norma permanece no ordenamento jurdico, mas tem a sua incidncia, os seus efeitos suspensos. Se a lei 2 suspende a eficcia da lei 1, esta permanece no ordenamento jurdico, porm, sem incidir, sem produzir seus efeitos, enquanto perdurar a suspenso.www.pontodosconcursos.com.br

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A lei federal superveniente suspende a eficcia dos dispositivos da lei estadual, no que lhe for contrrio. No h, nessa situao, a revogao de tais dispositivos da lei estadual. Se houvesse revogao, significaria dizer que tais dispositivos da lei estadual seriam retirados do ordenamento jurdico e, com isso, caso no futuro a lei federal de normas gerais fosse revogada, no haveria a repristinao tcita dos dispositivos da lei estadual, isto , eles no retornariam automaticamente para o ordenamento jurdico. Entretanto, como h uma mera suspenso de eficcia, os dispositivos da lei estadual no sero retirados do ordenamento jurdico, eles permanecero no ordenamento jurdico, mas com a eficcia suspensa, sem produzir efeitos, enquanto tiver vigncia a lei federal de normas gerais. Se futuramente a lei federal de normas gerais for revogada por outra lei federal, os dispositivos da lei estadual readquiriro automaticamente sua eficcia, passando a regular novamente a matria sem necessidade de qualquer disposio expressa nesse sentido na lei federal revogadora. Exemplificando: compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre pesca (CF, art. 24, VI); caso a Unio estabelea as normas gerais sobre o assunto, os Estados e o Distrito Federal somente podero suplementar essas normas gerais e, por bvio, no podero contrariar tais normas gerais fixadas pela Unio; se a Unio for omissa, se no editar sua lei federal estabelecendo as normas gerais sobre caa, cada Estado e o Distrito Federal podero, nos respectivos mbitos, legislar plenamente sobre o assunto, para atender a suas peculiaridades; porm, caso futuramente a Unio abandone a inrcia e edite sua lei federal de normas gerais sobre caa, todos os dispositivos das leis estaduais que contrariarem as normas gerais da lei federal superveniente ficaro com a eficcia suspensa, enquanto viger essa lei federal de normas gerais; finalmente, se no futuro a Unio resolver revogar sua lei federal de normas gerais, os dispositivos das leis estaduais readquiriro automaticamente a eficcia e passaro, novamente, a regular a matria (exceto se, nesse nterim, houverem sido revogados por outra lei estadual, obviamente). Fecharemos o estudo da legislao concorrente apresentando uma sntese sobre a atuao dos diferentes entes federativos no mbito dessa competncia. Em regra, a Unio expede normas gerais (CF, art. 24, 1) e os Estados e o Distrito Federal editam normas suplementares (CF, art. 24, 2). Porm, possvel que a Unio expea normas especficas, obrigatrias para os seus prprios rgos e entidades subordinados, e que os Estados e o Distrito Federal editem normas gerais, quando adquirirem competncia legislativa plena, na ausncia de lei federal sobre normas gerais (CF, art. 24, 3). Sewww.pontodosconcursos.com.br

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houver conflito entre a lei estadual editada no uso da competncia legislativa plena e a lei federal de normas gerais supervenientemente editada pela Unio, esta suspender a eficcia dos dispositivos daquela, no que lhe for contrrio (CF, art. 24, 4). Os Municpios, embora no concorram com a Unio e os Estados, legislam naquilo que for de interesse local, ou de seu peculiar interesse, suplementando a legislao federal e a estadual, no que couber (CF, art. 30, II). 4.4) COMPETNCIA DOS ESTADOS-MEMBROS Como regra, a Constituio Federal no enumerou taxativamente as matrias de competncia dos Estados-membros, reservando a eles a denominada competncia remanescente, reservada ou residual, ao prescrever que so reservadas aos Estados as competncias que no lhes sejam vedadas por esta Constituio (CF, art. 25, 1). Porm, no se pode dizer que os Estados-membros no dispem de nenhuma competncia constitucionalmente enumerada. Com efeito, encontramos no texto constitucional algumas poucas competncias expressamente conferidas aos Estados-membros, como a competncia para a criao, incorporao, fuso e desmembramento de Municpios (CF, art. 18, 4o); para a explorao direta, ou mediante concesso, dos servios locais de gs canalizado (CF, art. 25, 2); para a instituio de regies metropolitanas, aglomeraes urbanas e microrregies (CF, art. 25, 3) e para a organizao da sua prpria Justia (CF, art. 125). Alm da genrica competncia remanescente (CF, art. 25, 1), a Constituio Federal outorga aos Estados outras competncias, a saber: Competncia comum, paralela ou cumulativa em que, em condies de igualdade com os demais entes federativos, podero os Estados atuar paralelamente sobre as respectivas matrias (art. 23); Competncia legislativa delegada pela Unio em decorrncia da qual podero os Estados, desde que autorizados por lei complementar federal, legislar sobre questes especficas das matrias da competncia privativa da Unio (art. 22, pargrafo nico); Competncia legislativa concorrente em que os Estados podero legislar, em concorrncia com a Unio, sobre as respectivas matrias (art. 24); Competncia tributria para a instituio das diferentes espcies tributrias: impostos, taxas, contribuies de melhoria e contribuies (arts. 145; 149, 1; 155).

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Vale enfatizar, novamente, um aspecto reiteradamente cobrado em concursos pblicos. A competncia residual genrica dos Estadosmembros no pode ser confundida com a competncia residual que possui a Unio, para instituir impostos (CF, art. 154, I) e contribuies de seguridade social (CF, art. 195, 4) no previstos na Constituio Federal. Assim, em relao competncia tributria no se aplicam as regras aqui estudadas, haja vista que, em termos de instituio de tributos, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios possuem competncia taxativamente enumerada (s podero instituir os impostos expressamente autorizados pela Constituio Federal), enquanto a Unio dispe de competncia tributria residual (poder instituir novos impostos e contribuies de seguridade social, alm daqueles j autorizados expressamente no texto da Constituio Federal). 4.5) COMPETNCIA DO DISTRITO FEDERAL Ao Distrito Federal so atribudas as competncias legislativas, administrativas e tributrias reservadas aos Estados e aos Municpios (CF, arts. 32, 1). Entretanto, nem todas as competncias dos Estados foram outorgadas ao Distrito Federal. Com efeito, no mbito do Distrito Federal, compete Unio organizar e manter o Poder Judicirio, o Ministrio Pblico e a Defensoria Pblica, bem assim a Polcia Civil, a Polcia Militar e o Corpo de Bombeiros militar (CF, art. 21, XIII e XIV). O Distrito Federal ocupa, assim, posio anmala em relao aos demais entes federativos. No foi equiparado aos Municpios, porque dispe, alm das competncias municipais, de parcela das competncias estaduais. No foi equiparado em tudo aos Estados, porque, como visto, nem todas as competncias estaduais lhe foram outorgadas. Podemos, ento, enumerar as seguintes competncias constitucionais do Distrito Federal: Competncia remanescente dos Estados-membros (CF, art. 25, 1); Competncia enumerada dos Municpios (CF, art. 30); Competncia comum, paralela ou cumulativa na qual, em condies de igualdade com os demais entes federativos, poder o Distrito Federal atuar sobre as respectivas matrias (art. 23); Competncia legislativa delegada pela Unio em decorrncia da qual poder o Distrito Federal, desde que autorizado por lei complementar federal, legislar sobre questes especficas das matrias da competncia privativa da Unio (art. 22, pargrafo nico);

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Competncia legislativa concorrente em que o Distrito Federal poder legislar, em concorrncia com a Unio, sobre as respectivas matrias (art. 24); Competncia tributria expressa dos Estados e Municpios para a instituio das diferentes espcies tributrias de competncia dos Estados e dos Municpios, a saber: impostos, taxas, contribuies de melhoria e contribuies (arts. 145; 149, 1; 149-A; 155 e 156).

4.6) COMPETNCIA DOS MUNICPIOS A competncia dos Municpios est enumerada, especialmente, no art. 30 da Constituio Federal, destacando-se a competncia para legislar sobre assuntos de interesse local (CF, art. 30, I). A competncia dos Municpios pode ser dividida em competncia legislativa e competncia administrativa. A competncia legislativa corresponde competncia exclusiva para legislar sobre assuntos de interesse local (CF, art. 30, I) e competncia suplementar, para suplementar a legislao federal ou estadual, no que couber (CF, art. 30, II). A competncia administrativa autoriza o Municpio a atuar concretamente sobre os assuntos de interesse local, identificados a partir do princpio da predominncia do interesse, especialmente sobre as matrias expressamente consignadas nos incisos I e III ao IX do art. 30 da Constituio Federal. No uso da competncia suplementar, podem os Municpios suprir as lacunas da legislao federal e estadual, regulamentando as respectivas matrias para ajustar a sua execuo s peculiaridades locais. Entretanto, no uso dessa competncia suplementar, no podero os Municpios contraditar a legislao federal e estadual existente, tampouco extrapolar a sua competncia para disciplinar, apenas, assuntos de interesse local. No h uma enumerao constitucional, expressa e taxativa, dos chamados assuntos de interesse local, de competncia do ente municipal. Devero eles ser identificados caso a caso, a partir da aplicao do princpio da predominncia do interesse. Segundo orientao do Supremo Tribunal Federal, entre os assuntos de interesse local, de competncia dos Municpios, destacam-se: (a) a fixao de horrio para o funcionamento do comrcio local (lojas, shopping centers e outros), bem assim de drogarias e farmcias e dos plantes obrigatrios destas (STF, Smula no 645);

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(b) a fixao de regras relativas segurana em instituies bancrias locais (portas eletrnicas, como detector de metais, travamento e retorno automtico e vidros prova de balas); (c) a explorao do servio de funerria; (d) a disciplina sobre a explorao da atividade de estabelecimento comercial, mediante a expedio de alvars ou licenas para funcionamento. Entretanto, cabe Unio, e no ao Municpio, a competncia para a fixao do horrio de funcionamento de agncias bancrias, haja vista que o horrio de funcionamento bancrio extrapola o interesse local da municipalidade. Cabe ao Municpio estabelecer a poltica de desenvolvimento urbano, mediante aprovao do chamado plano diretor, aprovado pela Cmara Municipal, obrigatrio para as municipalidades com mais de vinte mil habitantes, com o fim de ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (CF, art. 182). Os Municpios podero constituir guardas municipais destinadas proteo de seus bens, servios e instalaes, conforme dispuser a lei (CF, art. 144, 8). Alm dessas competncias, cabe aos Municpios: Competncia comum, paralela ou cumulativa na qual, em condies de igualdade com os demais entes federativos, poder o Municpio atuar sobre as respectivas matrias (art. 23); Competncia tributria expressa para a instituio das diferentes espcies tributrias de competncia dos Municpios, a saber: impostos, taxas, contribuies de melhoria e contribuies (arts. 145; 149, 1; 149-A; e 156).

Finalizaremos o estudo da repartio de competncias com uma dica para a reviso final desse assunto. Praticamente todas as questes cobradas em concursos pblicos abordam as competncias legislativas privativa da Unio (CF, art. 22) e concorrente entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal (CF, art. 24). Saber diferenciar numa prova uma competncia privativa da Unio (art. 22) de uma concorrente (art. 24) ser o seu maior desafio, sem dvida. Logo, a minha dica a seguinte: nas vsperas da prova, leia quantas vezes puder os incisos do art. 24 da Constituio (competncia legislativa concorrente) e no leia, nenhuma vez, os incisos do art. 22 da Constituio (competncia privativa da Unio); com isso, se na prova for cobrada alguma competncia legislativa, ser fcil lembrar se voc a

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leu nos dias anteriores ou no; se houver lido, ser ela concorrente; se no houver lido, ser ela privativa da Unio. O erro que voc no pode cometer, de jeito nenhum, nas vsperas da prova ler, simultaneamente, os incisos dos artigos 22 e 24 da Constituio, pois com isso, no dia da prova, quando aparecer determinada competncia, voc certamente lembrar que a leu nos dias anteriores, mas no lembrar se ela concorrente ou privativa da Unio!!! O pensamento ser o seguinte: eu li essa competncia ontem, s no sei se ela matria concorrente ou privativa da Unio!!! Ora, melhor optar pela leitura de um s dos artigos (escolha o art. 24, que possui menos incisos do que o art. 22!), pois se voc lembrar que leu a competncia recentemente, porque ela concorrente; se no a leu, porque privativa da Unio. Com essa metodologia, o nico risco voc esquecer que competncia voc leu nos dias anteriores (se foi a concorrente ou a privativa da Unio), mas, nesse caso, numa boa, convenhamos, melhor mudar de ramo!!! Risos. PONTOS IMPORTANTES DESTA AULA 1) Repartio de competncias o ponto nuclear de um Estado federado, pois a outorga constitucional de competncias que assegura a autonomia dos entes federativos. 2) A Constituio Federal de 1988, por ser do tipo rgida, outorga especial estabilidade ao modelo de repartio de competncias estabelecido pelo poder constituinte originrio, s permitindo que ele seja modificado por meio de emenda constitucional, aprovada pelo procedimento legislativo especial. 3) O modelo de repartio de competncias, porm, no clusula ptrea, podendo ser modificado pela aprovao de emendas constitucionais, deste que as modificaes introduzidas no sejam tendentes a abolir as clusulas ptreas, especialmente a forma federativa de Estado. 4) O Brasil adota tanto o modelo de repartio vertical quanto o modelo de repartio horizontal de competncias, com predominncia deste ltimo. O nico exemplo de repartio vertical que temos a competncia legislativa concorrente da Unio, dos Estados e do Distrito Federal, estabelecido no art. 24 da Constituio. 5) O princpio adotado como regra pelo legislador constituinte para a repartio de competncias foi o princpio da predominncia do interesse, muito embora no tenha ele natureza absoluta (a explorao de gs canalizado, por exemplo, matria de interesse local, mas que foi outorgada aos Estados-membros).

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6) A partir do princpio da predominncia do interesse, o legislador constituinte fixou a partilha da seguinte maneira: enumerou expressamente a competncia da Unio e dos Municpios; conferiu ao Distrito Federal as competncias estaduais (com algumas excees, previstas no art. 21, XIII e XIV) e municipais; no enumerou expressamente as competncias dos Estados, reservando a estes a chamada competncia remanescente; criou, alm disso, uma competncia administrativa comum, em que todos os entes federativos atuam em condies de igualdade, e uma competncia legislativa concorrente, entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal. 7) A Unio dispe das seguintes competncias: competncia exclusiva, de natureza administrativa e indelegvel (art. 21); competncia privativa, de natureza legislativa e delegvel por meio de lei complementar aos Estados e ao Distrito Federal, para que estes tratem de questes especficas no mbito das respectivas matrias (art. 22); competncia comum, na qual poder, em condies de igualdade com os demais entes federados, atuar sobre as respectivas matrias (art. 23); competncia legislativa concorrente, na qual poder, em concorrncia vertical com os Estados e a Unio, legislar sobre as respectivas matrias (art. 24); competncia tributria expressa, para a instituio dos tributos previstos na Constituio (arts. 145, 148, 149 e 153); competncia residual para a instituio de novos impostos e contribuies de seguridade social alm daqueles j previstos na Constituio Federal (arts. 154, I e 195, 4); competncia extraordinria, para no caso de guerra externa ou sua iminncia, instituir impostos extraordinrias (art. 154, II). 8) Os Estados-membros possuem a chamada competncia remanescente, pela qual lhes so reservadas as competncias que no lhes forem vedadas pela Constituio (art. 25, 1); alm dessa competncia remanescente genrica, dispem de competncia tributria expressa para a instituio de seus tributos (arts. 145, 149, 1, e 155), concorrem com a Unio na competncia legislativa concorrente (art. 24), e atuam, em condies de igualdade com os demais entes federativos, na competncia administrativa comum (art. 21); podero, ainda, receber da Unio, atravs de lei complementar, a competncia legislativa delegada para legislar sobre questes especficas das matrias da competncia privativa da Unio (art. 22, pargrafo nico). 9) Os Municpios dispem de competncia expressa enumerada (art. 30), para legislar e atuar concretamente sobre assuntos de interesse predominantemente local (art. 30), dentre os quais destacam-se: fixao do horrio de funcionamento do comrcio local (comrcio em geral, shopping, farmcia e seus respectivos plantes etc.), exceto das agncias bancrias; fixao de regras sobre segurana nas agncias

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bancrias; explorao dos servios funerrios. Dispem, ainda, da competncia suplementar, para suplementar a legislao federal e estadual, no que couber (art. 30, II). 10) Ao Distrito Federal foram outorgadas as competncias estaduais (com algumas excees, previstas nos artigos 21, XIII e XIV e 22, XVII) e municipais (art. 32, 1). 11) A competncia administrativa comum foi outorgada a todos os entes federativos, permitindo a atuao, em condies de igualdade, sem relao de subordinao, da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios (art. 23). 12) A competncia concorrente, de natureza legislativa e vertical, foi outorgada Unio, aos Estados e ao Distrito Federal (no aos Municpios). No mbito da legislao concorrente, caber Unio estabelecer normas gerais, e aos Estados e ao Distrito Federal editar normas suplementares (art. 24, 1 e 2). Porm, se a Unio for omissa, os Estados e o Distrito Federal adquiriro, automaticamente, competncia legislativa plena, podendo, diante da omisso federal, editar tanto normas gerais quanto normas especficas (art. 24, 3). Se no futuro a Unio editar sua lei de normas gerais, esta lei federal superveniente suspender a eficcia dos dispositivos da lei estadual (no se trata de revogao, e sim de suspenso de eficcia), no que lhe for contrrio (art. 24, 4). 12.1) Embora a regra na legislao concorrente seja a expedio de normas gerais pela Unio e de normas suplementares especficas pelos Estados e Distrito Federal, poderemos ter atuaes distintas desses entes federativos. Assim, a Unio poder adotar legitimamente, alm de normas gerais, normas suplementares especficas, desde que em relao aos seus prprios rgos e entidades (rgos e entidades federais). Por outro lado, os Estados e o Distrito Federal podero estabelecer normas gerais, no uso da competncia legislativa plena, adquirida em face da inexistncia de lei federal de normas gerais (art. 24, 3). EXERCCIOS DE CONCURSOS: 1) A repartio de competncias o ponto nuclear da noo de Estado Federal, tendo a CF/88 adotado como princpio geral de repartio de competncia a predominncia do interesse. 2) Como corolrio do princpio federativo, acolhido pela Constituio Federal brasileira, os estados tm autonomia para organizar-se e regerse pelas Constituies e leis que adotarem, observados os princpios da Constituio Federal, sendo-lhes reservadas as competncias que lhes so atribudas por ela, mediante um rol taxativamente enumerado, a exemplo do que ocorre com a Unio e os municpios.www.pontodosconcursos.com.br

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3) Uma vez que a Constituio Federal define as competncias exclusivas da Unio e dos municpios, correto dizer que as competncias no includas em nenhuma dessas duas rbitas dizem respeito somente aos estados, desde que tais competncias no sejam concorrentes. 4) Lei complementar no pode autorizar a Unio a desempenhar servios de interesse local. 5) Na competncia legislativa concorrente, em face de omisso legislativa da Unio, prev a CF/88 a competncia legislativa plena de Estados e Distrito Federal. 6) A autonomia financeira dos municpios, reconhecida em razo do princpio federativo, adotado pela CF/88, implica a existncia de autonomia para a instituio de seus tributos e gesto de suas rendas. 7) A possibilidade de a Unio instituir, mediante lei complementar, imposto no previsto expressamente como sendo um imposto de competncia da Unio, desde que seja no-cumulativo e no tenha fato gerador ou base de clculo prprios de outros impostos discriminados na CF/88, constitui uma competncia legislativa residual. 8) Se determinada competncia administrativa no estiver arrolada entre aquelas expressamente conferidas pela Constituio Unio, dever-se- concluir que ela toca somente aos estados-membros e ao Distrito Federal, uma vez que, na tcnica brasileira de repartio de competncias, as chamadas competncias reservadas cabem a estes e no quela. 9) O modelo de federalismo adotado no Brasil prev competncias concorrentes para legislar e competncias administrativas comuns. 10) A modificao da repartio tributria em eventual reforma constitucional no atinge o modelo de federao adotado, muito menos se pode configurar em ameaa a clusula ptrea. 11) A organizao e a manuteno, no DF, pela Unio, da Defensoria pblica e do Ministrio Pblico violam a autonomia desse ente federativo. 12) A Constituio Federal adotou sistema de repartio horizontal de competncias, no acolhendo o sistema de repartio vertical. 13) A competncia legislativa dos Estados-membros est enumerada taxativamente na Constituio, sendo inconstitucional, por invaso de competncia, a lei estadual que dispuser sobre o assunto no especificado como prprio da atividade legiferante de Assemblia Legislativa.

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14) Somente quando autorizado por lei complementar federal pode o Estado-membro legislar sobre questes especficas de matrias includas na competncia privativa da Unio. 15) Os Estados-membros no esto impedidos de celebrar tratados internacionais, desde que com a intervenincia expressa da Unio. 16) No pode ser objeto de emenda Constituio a proposta que intente alterar a competncia concorrente dos entes federativos. 17) Em tema de competncia legislativa concorrente, cabe Unio estabelecer normas gerais e aos Estados-membros, normas especficas estas ltimas somente podero ser promulgadas aps editadas aquelas regras pela Unio. 18) A competncia denominada literalmente de concorrente pela Constituio de 1988 cabe Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios. 19) A competncia denominada literalmente de concorrente pela Constituio de 1988 importa a revogao da lei estadual, na hiptese de supervenincia de lei do Congresso Nacional que lhe for contrria. 20) No mbito da competncia legislativa concorrente, cabe aos Estados-membros e tambm aos Municpios suplementar a legislao federal, no que couber. GABARITOS OFICIAIS: 1) CERTO; repartio de competncias garantia maior de um Estado Federado, e a Constituio Federal de 1988 adotou o princpio da predominncia do interesse para partilhar as competncias entre os entes federados. 2) ERRADO; as competncias dos Estados no esto enumeradas num rol taxativo na Constituio Federal de 1988, tendo sido atribuda a esses entes federados a chamada competncia remanescente, prevista no art. 25, 1, da CF/88. 3) ERRADO; uma competncia pode no ser exclusiva da Unio, nem exclusiva dos Municpios, nem concorrente e pertencer a todos os entes federados, por integrar a competncia comum, prevista no art. 23 da CF/88. 4) CERTO; servio de interesse local matria de competncia dos Municpios (CF/88, art. 30, I), e a repartio de competncia fixada na Constituio Federal no pode ser alterada por meio de lei complementar. 5) CERTO; disposio expressa do art. 24, 3, da CF/88: se a Unio omissa, os Estados e o Distrito Federal adquirem competncia legislativa plena para atender a suas peculiaridades.www.pontodosconcursos.com.br

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6)

CERTO; previso expressa do art. 30, III, da CF/88.

7) CERTO; a Unio possui competncia legislativa residual para instituir impostos (CF, art. 154, I) e contribuies de seguridade social (CF, art. 195, 4) no previstos na Constituio Federal. 8) ERRADO; a competncia pode no pertencer Unio, mas poder pertencer aos Municpios, ou a todos os entes federados (competncia comum). 9) CERTO; temos a competncia concorrente para legislar (CF, art. 24) e competncia administrativa comum (CF, art. 23). 10) ERRADO; a princpio, a modificao da repartio tributria por meio de emenda constitucional permitida; porm, essa modificao poder configurar em ameaa a clusula ptrea, a depender da sua magnitude, porque poder levar ao enfraquecimento de um ente federado frente a outro, com tendncia a abolir a forma federativa de Estado (CF, art. 60, 4, I). 11) ERRADO; ora, se a prpria Constituio Federal que prev que a Defensoria Pblica e o Ministrio Pblico no DF sero organizados e mantidos pela Unio (CF, art. 21, XIII), no se pode falar em violao da autonomia desse ente federado por esse motivo. 12) ERRADO; a CF/88 adotou tanto o modelo horizontal, quanto o modelo vertical de repartio de competncias. 13) ERRADO; as competncias dos Estados no esto enumeradas num rol taxativo na Constituio Federal de 1988, tendo sido atribuda a esses entes federados a chamada competncia remanescente, prevista no art. 25, 1, da CF/88. 14) CERTO; somente quando autorizado por lei complementar federal pode o Estado-membro legislar sobre questes especficas de matrias includas na competncia privativa da Unio, conforme previso expressa do art. 22, pargrafo nico, da CF/88. 15) ERRADO; celebrao de tratados internacionais matria da competncia exclusiva da Unio e, portanto, indelegvel (CF, art. 21, I). 16) ERRADO; emenda Constituio pode sim alterar o modelo de partilha de competncias, desde que tal alterao no implique tendncia a abolir a forma federativa de Estado. 17) ERRADO; no mbito da competncia legislativa concorrente a atuao dos Estados e do Distrito Federal no depende de atuao prvia da Unio; ao contrrio, diante da omisso da Unio esses entes adquire competncia legislativa plena (CF, art. 24, 3). 18) ERRADO; os Municpios no integram a competncia legislativa concorrente.www.pontodosconcursos.com.br

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19) ERRADO; a lei federal superveniente suspende a eficcia da lei estadual (e no revoga), no que lhe for contrrio (no se pode confundir revogao, quando a lei retirada do ordenamento jurdico, com suspenso de eficcia, quando a lei permanece no ordenamento jurdico, sem produzir eficcia, sem gerar efeitos). 20) CERTO; os Municpios podem, de fato, suplementar a legislao federal e estadual, no que couber (CF, art. 30, II), inclusive quando esta legislao federal ou estadual for resultante do uso da competncia legislativa concorrente; este enunciado da Esaf (concurso de AuditorFiscal da Receita Federal/2002) e no o considero perfeito, porque, na minha opinio, a sua parte inicial conduz ao entendimento de que os Municpios estariam atuando no mbito da competncia legislativa concorrente, o que no verdade, pois estes no integram essa concorrncia legislativa; em verdade, os Municpios estaro atuando no mbito de sua competncia suplementar, prevista no art. 30, II, da CF/88; entretanto, elaboramos recurso, poca, e a banca examinadora no mudou o gabarito oficial.

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