a relação entre a arte e a ciência para a popularização do conhecimento

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Relação entre ciência e arte para a popularização do conhecimento.

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  • ___________________________________________ A Relao entre a Arte E A Cincia para a Popularizao do Conhecimento

    _________________________________________________________________________________________

    Dilogos & Cincia Revista da Faculdade de Tecnologia e Cincias Rede de Ensino FTC. ISSN 1678-0493, Ano 9, n. 25, mar. 2011. www.ftc.br/dialogos

    1

    A RELAO ENTRE A ARTE E A CINCIA PARA A POPULARIZAO DO CONHECIMENTO

    Mariana Menezes Alcntara1

    Cristiane de Magalhes Porto2

    Resumo: Este trabalho pretende oferecer uma reflexo sobre a relao entre arte e cincia para a popularizao do conhecimento. A metodologia utilizada levou em considerao uma reflexo terica geral fundamentada na perspectiva do pensamento complexo de Edgar Morin e na sua crtica razo, que estabeleceu a diviso da separao dos saberes criativos e imaginrios dos saberes inteligveis e racionais. Para ilustrar que o entrelaamento entre cincia e arte possui resultados positivos na sociedade, so mostrados exemplos de projetos de divulgao cientfica no Brasil e na Bahia que trabalham com esta temtica. Por fim, so mostradas ainda algumas manifestaes artsticas com temticas cientficas como os cordis das feiras livres nordestinas e a msica de Gilberto Gil. Palavras-chave: Arte; Cincia; Popularizao da Cincia Abstract: This work intends to offer a reflection on the relationship between art and science to the popularization of knowledge. The methodology took into account a general theoretical perspective based on the complex thought of Edgar Morin and his critique of reason, which established the division of the separation of creative and imaginative knowledge of intelligible and rational knowledge. To illustrate the intertwining of science and art has on society positive results are shown examples of scientific projects in Brazil and Bahia who work with this theme. Finally, they are still shown some artistic with scientific themes like the popular poems (cordis, in Portuguese) of the street markets in the Northeast and the music of Gilberto Gil. Key-words: Art; Science; Science Popularization.

    1 Introduo

    A cultura cientfica deveria fazer parte da cultura popular (Manuel Calvo Hernando)

    Pode-se afirmar, sem medo de cometer um grande erro, vive-se na poca denominada a

    Era da Cincia. A civilizao contempornea depende da cincia e da tecnologia, cujos signos e

    maravilhas permeiam o entorno do homem do sculo XXI. As ideias que tem-se sobre o que

    real baseiam-se naquilo que cientificamente demonstrvel. O cientista o guru da sociedade.

    1 Jornalista e Mestranda do segundo semestre do Programa Multidisciplinar de Ps-Graduao em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia Ufba. Bolsista da Fapesb. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Cultura e Sociedade Ufba. Mestre em Letras Ufba. Professora do Mestrado Profissional em Bioenergia da Rede de Ensino FTC. E-mail: [email protected]

  • ___________________________________________ A Relao entre a Arte E A Cincia para a Popularizao do Conhecimento

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    Dilogos & Cincia Revista da Faculdade de Tecnologia e Cincias Rede de Ensino FTC. ISSN 1678-0493, Ano 9, n. 25, mar. 2011. www.ftc.br/dialogos

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    Mesmo assim, a funo da atividade e do conhecimento cientficos no desenvolvimento da

    cultura pouco explorada. A cultura ocidental foi profundamente influenciada pela cincia e seus

    produtos, facilmente reconhecveis em seu aspecto material. Mas a cincia exerceu maior

    influncia ainda no marco conceitual em que se desenvolve a vida religiosa, poltica e esttica.

    Todo olhar para a cultura que ignore tal influncia ser uma viso muito limitada ou distorcida.

    partindo desta necessidade de uma viso que contemple o conhecimento humano

    como plural, evolutivo e interconectado, assim como define Edgar Morin (2001; 2007; 2010) com

    o seu pensamento complexo, que tratar-se- sobre a relao entre a arte e a cincia como duas

    componentes da atividade humana e criativa. Ambas so formas de expresso do conhecimento,

    individual ou coletivo, e a relao entre as duas s resulta numa abertura de mentes, na tentativa

    de pensar, sentir e explicar o mundo sob vises diferenciadas, mas que se complementam.

    Ao longo dos tempos, o avano da cincia proporcionou mudanas nas manifestaes

    artsticas do ser humano, em toda a sua amplitude, na pintura, na literatura, nas artes cnicas, na

    msica, dentre outras. sabido que a arte possui contrapontos em relao cincia e muitos

    autores j se debruaram sobre as similaridades e as diferenas entre elas. J para a populao em

    geral, a cincia muito abstrata e a dificuldade das pessoas em perceberem a sua presena no

    cotidiano fato. Para fazer com que a percepo da cincia se dissemine aos diferenciados

    pblicos, necessrio que se desenvolvam novos meios para modificar esta realidade, tendo

    como objetivo mostrar a constante presena e devida importncia da cincia e da tecnologia na

    suas atividades dirias.

    O que tambm ser defendido no decorrer deste texto a ideia de que a cincia ultrapassa

    o discurso meramente descritivo, experimental e tcnico e concebe-se a presena de um

    observador e de sua subjetividade. Dessa forma, percebe-se como cincia e arte se conduzidas

    por um esprito modifica-se e move-se continuamente, criando uma instncia intelectual e

    reflexiva que visa compreender os fenmenos sem uma limitao lgica ou absolutamente certa.

    Portanto, mediante tal afirmao, segue-se no texto entremeando cincia, arte e cultura,

    entende-se como cultura

    [...] parte do ambiente que feita pelo homem. Implcito nisto est o reconhecimento de que a vida humana vivida num contexto duplo, o habitat natural e seu ambiente social. [...]. Ela inclui tambm todos os elementos do legado humano maduro que foi adquirido atravs do seu grupo pela aprendizagem consciente, ou, num nvel algo diferente , por processos de condicionamento tcnicas de vrias espcies, sociais ou institucionais, crenas, modos padronizados de conduta. (SANTAELLA, 2010, p. 31).

    Compreender a cincia, sob o ponto de vista da cultura, essencial para acabar com os

    mitos existentes sobre a viso da cincia como verdade inabalvel e como algo muito superior ao

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    saber do homem comum. Ao longo deste artigo, observa-se que at em feiras livres encontram-se

    criativas maneiras de discutir a relao da sabedoria popular com o conhecimento cientfico

    atravs da literatura de cordel. Abordar-se tambm a participao e o compromisso de

    instituies de ensino e grupos de pesquisa em aproximar a populao dos conhecimentos da

    academia. Os trabalhos dos artistas populares aliados a projetos como o Cincia na Estrada, da

    Fiocruz Bahia, e os Centros Avanados de cincia Cincia Arte & Magia, do Instituto de

    Biologia da Ufba, so exemplos de que h um duplo fluxo de saberes interessados no

    entendimento recproco, na compreenso da arte e da cincia como elementos constitutivos da

    cultura dos homens.

    A disseminao das cincias por meio de expresses artsticas j se tornou uma poltica de

    estado desde a criao do Departamento de Popularizao e Difuso da Cincia e Tecnologia no

    Ministrio da Cincia e da Tecnologia (MCT).

    No entanto, mesmo diante de todo esse incentivo governamental em popularizar as

    cincias, imprescindvel que os cidados saibam o mnimo das cincias bsicas para que possam

    receber estes benefcios. De nada adianta investir em divulgao cientfica por meio das artes se a

    populao no possui os conhecimentos elementares para entender os conceitos abordados. Seria

    interessante uma reflexo sobre o papel da educao na sociedade. Os dados da Organizao das

    Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco) contabilizam um total de 14,1

    milhes de brasileiros no sabem ler, nem escrever, o que equivale a 10,5% da populao maior

    de 15 anos. Apesar de o governo Lula ter incentivado a alfabetizao da populao adulta, os

    nmeros da Unesco ainda apontam o Brasil com o pas de maior nmero de analfabetos na

    Amrica Latina. De todas as regies do pas, o Nordeste a que possui o maior nmero de

    pessoas nessas condies. Os dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domiclios 2009,

    preparada pelo IBGE, apontam que quase 31% da populao desta regio acima de 15 anos no

    vai alm de escrever o prprio nome.

    Diante destes fatos, como h possibilidade destes indivduos compreenderem o que est

    sendo transmitido? Praticamente nenhuma. no sentido da educao no-formal que vale o

    esforo de artistas, professores e jornalistas numa misso, quem sabe, utpica e at mesmo

    desacreditada, de entrelaar conhecimento cientfico e sabedoria popular. Mesmo diante das

    adversidades, pensa-se ser possvel sim, a realizao deste feito.

    2 Das Relaes entre Cincia e Arte s Duas Culturas

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    Muito antes do imprio da razo se instalar como um paradigma da humanidade, os

    estudos da cincia e da arte eram indissociveis, tendo muitos cientistas, passado Histria como

    artistas brilhantes. Leonardo Da Vinci o exemplo mais gritante. de Leonardo, em seu Tratado

    de Pintura, a ideia explcita do que chama-se hoje de popularizao cientfica. Segundo ele, a mais

    til das cincias ser aquela cujo fruto seja mais comunicvel.

    Ildeu de Castro Moreira (2002), estudioso e ativo militante da divulgao cientfica no

    Brasil, j escreveu que os desenhos da Lua feitos por Galileu em 1610 mostravam crateras de

    sombras em ngulos diferentes de acordo com a posio do Sol, o que lhe permitia interpretar

    seus achados sob o aspecto de que os corpos celestes apresentavam imperfeies, tabu para as

    ideias da Igreja Catlica, poca. Ainda segundo Moreira, no mesmo perodo, mas fora das

    influncias da escola artstica toscana de estudos sobre perspectiva e sombreamento, o desenho

    da Lua feito pelo ingls Christoph Scheiner, aps observaes em telescpio semelhante ao de

    Galileu, mostrava uma viso diferente, sem sombras, que no propiciava a construo da imagem

    de crateras.

    Esse exemplo, entre muitos que poderiam ser citados, ilustra a influncia do ambiente

    artstico sobre o desenvolvimento das concepes cientficas numa dada conjuntura histrica e

    social. E, para a empreitada de desenhar o primeiro mapa da Lua, tal como vista ao telescpio

    simples, foi contratado o artista francs Claude Mellan. To belos e interessantes, alguns

    desenhos dos cadernos de protocolos experimentais de cientistas desde o sculo XV

    transformaram-se em peas de arte na exposio Science and the Artists Book, realizada em

    1995, no Smithsonian Instituition, uma instituio educacional e de pesquisa norte-americana

    associada a um complexo de 19 museus e sete centros de pesquisa, tendo um total de 142

    milhes de itens em suas colees.

    Bonita e louvvel essa iniciativa dos museus contemporneos. No entanto, nem sempre

    essa concepo de saber cientfico e artstico como algo em comum foi tida como um modelo

    aceitvel ou at ento predominante na sociedade. A historiografia das cincias atribui s ideias de

    Descartes, autor da clebre frase Cogito, ergo sum (Penso, logo existo), o marco para a

    institucionalizao da separao do sujeito que pensa da coisa pensada, constituindo-se, desta

    forma, na ruptura entre o sujeito e o objeto.

    Mais do que isto, a viso cartesiana impe um paradigma, isto , um conjunto de regras,

    padres, teorias, modelos, vises de mundo que apreende-se, trata-se de um legado

    conscientemente. Seguindo esta explicao, o paradigma cartesiano nos ensinou a separar a razo

    do imaginrio, a razo do mito, o sensvel do inteligvel, a fsica quntica da antropologia, a

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    cincia da cultura e, porque no dizer, a cincia da arte. Para Stuart Hall (2006), o dualismo tpico

    do pensamento cartesiano foi institucionalizado na diviso das cincias sociais entre a psicologia e

    as outras disciplinas. J a sociologia, entretanto, forneceu uma crtica do individualismo

    racional do sujeito cartesiano. No entanto, alguns crticos alegariam que a sociologia

    convencional mantivera algo do dualismo de Descartes, especialmente em sua tendncia para

    construir o problema como uma relao entre duas entidades conectadas, mas separadas: o

    indivduo e a sociedade.

    Como observa-se ao longo dos tempos, a influncia do cartesianismo foi to forte e

    poderosa que o desenvolvimento de novas cincias, aliada crescente especializao nas

    diferentes disciplinas se constituram como elementos de afastamento entre a cincia e a arte. O

    britnico Charles Percy Snow (1995) foi o primeiro a constatar a profunda separao entre as

    cincias e as humanidades. Uma anlise mais aprofundada acerca desta polarizao, que por mais

    de dois sculos, edificou-se na sociedade ao separar a comunidade cientfica de pesquisadores das

    cincias duras (naturais, exatas) e das humanidades pode ser encontrada no livro publicado por

    este pesquisador intitulado As Duas Culturas.

    Em seu discurso, Snow, fsico e romancista ingls, lamentou a baixa penetrao da cincia

    nas artes e vice-versa. Apesar de ter sofrido crticas de intelectuais de vrias partes do mundo, que

    o acusaram ter realizado uma superficial e confusa polarizao entre os mundos da cincia e das

    humanidades. O importante aqui que, compreendido ou incompreendido, o autor, enxergando

    os problemas desta separao, props uma reconciliao que pudesse ampliar as possibilidades

    do crescimento cientfico e, por que no, humano. Ele defendia que, por meio de uma educao

    cientfica mais genrica, o cidado poderia obter ferramentas para compreender o papel cincia

    na sociedade contempornea. Quando esses dois sentidos se desenvolvem separados, nenhuma

    sociedade capaz de pensar com sabedoria (SNOW, 1995, p. 49; 72).

    Ainda segundo o autor, essa polaridade uma perda para toda a sociedade. Uma perda

    prtica, intelectual e criativa. De acordo com ele, ambas as culturas, cientfica e humanista, se

    auto-empobrecem quando se fazem de surdas, uma diante da outra, ignorando a diversidade e

    profundidade de suas diversas experincias intelectuais, afastando cientistas de no-cientistas, e,

    de modo paradoxal, separando arte e cincia.

    Na verdade, como afirma Arajo-Jorge (2004), esta separao j vinha de datas ainda mais

    distantes, pois desde a criao das primeiras academias de cincia, os estudos de artes e

    humanidades no se estruturavam nos mesmos organismos, como consequncia direta da

    separao corpo-mente derivada do cartesianismo (MORIN, 2007). At hoje, mesmo no nvel

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    governamental, h a separao de ministrios e secretarias de cincia, de educao e de cultura,

    como se no fossem trs trips da mesma criatividade humana.

    Ao longo dos anos, a parceria entre cincia e arte vem sendo resgatada e valorizada nos

    centros e museus de cincia por todo o mundo, e o Brasil no exceo. S para citar alguns

    poucos exemplos, no Museu da Vida, museu cientfico da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz), e

    na Casa da Cincia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ambos no Rio de Janeiro,

    e na Estao Cincia, o museu cientfico da Universidade de So Paulo (USP), em So Paulo,

    cincia e arte tm um feliz encontro em espaos cnicos onde so representadas peas sobre e

    com cincia e cientistas.

    J no circuito de museus de cincia das regies Norte e Nordeste, chamam a ateno o

    Museu Paraense Emlio Goeldi, no Par, e a estao Cincia, Cultura e Artes, em Joo Pessoa, na

    Paraba. O Museu Paraense Emlio Goeldi, localizado em Belm, foi fundado em 1866, e a mais

    antiga instituio pesquisa na regio amaznica. Suas atividades se concentram no estudo

    cientfico dos sistemas naturais e culturais da Amaznia, assim como na difuso de

    conhecimentos e colees relacionadas regio. J a moderna Estao Cincia, Cultura e Artes de

    Joo Pessoa, projetada por Oscar Niemeyer, possui a finalidade de apoiar a difuso cultural e a

    realizao de pesquisas cientficas. Sua estrutura arquitetnica permite visitao a obras de arte de

    artistas paraibanos e brasileiros, instalaes sobre as manifestaes culturais nordestinas, um

    planetrio com simulaes contando a formao do universo, dentre outras atividades. O espao

    contm ainda um teatro e at uma pequena concha acstica para a realizao de eventos musicais.

    Um bom exemplo para ilustrar essas iniciativas isoladas o Projeto Cincia na Estrada:

    Educao e Cidadania, coordenado pelo bilogo Andr Vannier, da Fundao Oswaldo Cruz da

    Bahia (Fiocruz Bahia). O projeto possui como tema central a promoo da sade e preveno das

    doenas parasitrias. A equipe executora multidisciplinar e possui estudantes de diversas reas

    como medicina, enfermagem, biologia, assistncia social e at antropologia. As atividades

    consistem em visitar escolas pblicas e feiras livres de Salvador e municpios do interior e

    divulgar informaes bsicas como princpios de higiene lavar as mos, beber gua filtrada ou

    fervida, entre outras que permitam populao se proteger de parasitoses e infeces em geral.

    Para tanto, eles utilizam um micro-nibus com um laboratrio montado em seu interior.

    At livros de cordel viraram produtos educativos do projeto, a partir de uma parceria com

    artistas populares que, com a consulta especializada dos profissionais de sade da equipe,

    desenvolveram os seguintes trabalhos: O B-a-b da Leishmaniose, A Peleja de Astrogildo

    Rabic contra a Barriga D'gua e O Barbeiro de Chagas. Com tantas opes de recursos

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    didticos e pedaggicos, as atividades despertam a curiosidade de crianas, jovens e at adultos,

    explorando o carter ldico sempre que possvel. Todo o material criado pela equipe do Cincia

    na Estrada feito empregando uma linguagem clara e acessvel.

    J a biloga Rejane Lira, do Instituto de Biologia da Ufba, idealizou o Programa Social de

    Educao, Vocao e Divulgao Cientfica Cincia, Arte & Magia, que consiste na implantao

    de quatro centros avanados de cincia, dois em Salvador, um em Feira de Santana e outro em

    Seabra. Tendo como pblico os estudantes do ensino mdio de escolas pblicas, o projeto j

    desenvolveu inmeras atividades artsticas voltadas para a divulgao cientfica.

    Durante todo o ano, as atividades so voltadas para grupos fechados nas escolas, mas

    durante a Semana Nacional de Cincia e Tecnologia, realizada todos os anos no ms de outubro,

    que as portas se abrem para o pblico geral e novos trabalhos so desenvolvidos. Esses tem

    como objetivo mostrar quem so os cientistas e o que eles fazem, assumindo a tarefa de

    desmistificar a cincia tida como nica verdade universal e portadora de sabedoria.

    A pea de teatro Darwin na Bahia e a Origem das Espcies, elaborada e apresentada pelos

    estudantes membros do projeto, em 2009, obteve xito junto ao pblico e mdia, sendo reportada

    em diversas matrias em jornais impressos e televiso. Dentre os produtos elaborados, tambm

    por uma equipe multidisciplinar, esto um jornal eletrnico chamado Pergaminho Cientfico,

    jogos eletrnicos sobre matemtica, biologia, histria, qumica, fsica, lngua portuguesa, etc.

    Tudo isso e mais vdeos de divulgao cientfica, resultado de uma parceria com o grupo de

    pesquisa em Cultura e Cincia, da Faculdade de Comunicao da Ufba, que mantm o projeto

    Jovens Reprteres Cientficos.

    Outros importantes produtos do programa so as suas publicaes, onde os estudantes de

    ensino mdio so convidados a escreverem livros sobre assuntos de seu interesse, com o objetivo

    de despertar a vocao para a Literatura. Alguns livros, inclusive, j foram publicados pela

    Editora da Ufba (Edufba). So eles: A Era Muscle-Car: Carros Musculosos e The Chronicles (As

    Crnicas), tendo como autores dois estudantes de 15 e 14 anos, David Marques e Alice Daltro.

    3 Os Poetas nas Feiras: A Cincia e a Cultura Popular

    Observa-se, conforme citado acima, que so muitas as iniciativas de levar populao os

    temas e assuntos da cincia. Mas e os artistas? Como eles esto trabalhando a relao da cincia

    com a tica fazer artstico? Ao pretender estabelecer uma pequena listagem de poetas, msicos,

    atores, diretores de cinema, etc., iniciou-se por um local que j citado anteriormente: as feiras

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    livres. Reconhece-se que todo dia dia de feira, principalmente os dias de sbado. So nesses

    dias que milhares pessoas se dirigem a esses verdadeiros mercados a cu aberto para fazer as suas

    compras da semana.

    Foi a partir de uma experincia na antiga Feira de gua de Meninos, hoje Feira de So

    Joaquim, que se apresenta o ponto de partida para este tpico. Em meios s frutas, verduras,

    carnes e peixes em exposio, moscas, cachorros e homens digladiando-se por pedaos de carne

    e osso, artesanatos de palha e cermica oriundos do Recncavo baiano trazidos de saveiros pelos

    caminhos da Baa de Todos-os-Santos, santos de madeira e pedra, artigos para a prtica do

    candombl, doces de banana da Ilha de Mar, cheiros fortes dos couros, garrafadas, temperos e

    ervas, vai-e-vem, gestos e gritos dos feirantes, enfim, toda uma rica diversidade de materiais e

    gentes, que uma pequena banca com livretos de cordel chamou a ateno. Um deles, em especial,

    contava a histria da Peleja da Cincia Com a Sabedoria Popular, de autoria do artista popular

    santamarense Antnio Vieira (2005). A partir de uma livre iniciativa pela escolha da temtica e

    sob a forma de versos cantados, o autor chamava a ateno para a histria da luta travada atravs

    dos tempos entre a cincia e a sapincia:

    Leitor eu vou lhe pedir / Um pouco de ateno Pra histria que eu vou contar / Por favor, no negue, no / um tema importante / Exige compreenso / Trata-se duma peleja / Travada atravs dos tempos / Onde as duas contendoras / Andam atrs de um consenso/ Contudo, as duas partes / Do banho de ensinamentos / As duas so importantes / Do mundo, elas so mola / De um lado a cincia / Que tem sede a escola Do outro a sapincia / Que o povo tem na caixola / As duas se complementam / Se equivalem, tambm / Quando uma est ausente / Quem procura a outra tem / Uma sempre anda na frente / Sabendo que a outra vem. (VIEIRA, 2005).

    E foi em meio a esse cenrio da feira livre que, surpreendentemente encontrou-se uma

    ntida representao da cincia nesta vertente da cultura popular, a literatura de cordel, que realiza

    a popularizao da cincia de maneira criativa e acessvel. A literatura de cordel uma poesia de

    carter popular, marcada pela fase oral e pela fase escrita ou impressa em folhetos. Seus versos

    so escritos em rimas e algumas vezes com ilustraes, chamadas de xilogravuras. Vendidos em

    feiras populares, pendurados em barbantes e a custo muito baixo, adquirido pela populao

    como um instrumento de diverso.

    Segundo Octavio Paz (1993, p. 147) a operao potica concebe a linguagem como um

    universo animado, perpassado por uma dupla corrente de atrao e de repulso. Ele afirma que

    na linguagem literria:

    [...] se reproduzem as lutas e as unies, os amores e as separaes dos astros e das clulas, dos tomos e dos homens. Cada poema, seja qual for o seu tema,

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    sua forma e as ideias que informam, antes de tudo e, sobretudo, um pequeno cosmo animado. [...] O poema reflete a solidariedade das dez mil coisas que compem o universo. Espelho da fraternidade csmica, o poema um modelo do que poderia ser a sociedade humana. Diante da destruio da natureza, mostra a irmandade entre os tomos e partculas, as substncias qumicas e a conscincia.

    E as feiras nordestinas esto repletas deste tipo de literatura. E os poetas populares criam

    e recriam histrias, fazem pardias sobre temas de todas as variedades, inclusive sobre a cincia.

    L pelas bandas do So Francisco, h tambm alguns desses exemplos. Trata-se do artista

    popular Paulo Gondim (2005). No cordel As guas do Rio So Francisco no Serto, Paulo relata

    a questo da transposio:

    Mas no assim que penso / Nem a gente do serto / Eu quero gua na terra / Irrigando a plantao / Eu quero ver a fartura / Nascida da gua pura / Que vem l do Fransico / [...] / Vamos mostrar que possvel / Transformar nosso serto / Com gua do So Francisco / Sem cometer eroso / Sem modificar seu curso / Sem perder qualquer recurso / Que vem de sua vazo. (GONDIM, 2005).

    Sendo assim, a literatura de cordel como cultura popular possui uma funo social que vai

    alm do entretenimento. So recursos teis e importantes para inserir a populao nas

    controvrsias sejam elas cientficas, sociais, econmicas, tcnicas, ambientais, etc. Desta forma, a

    criatividade na produo de analogias, metforas, metonmias e demais recursos da poesia

    permitem a aproximao entre a cultura popular e a cultura cientfica. O cordel se apresenta

    como um canal de comunicao narrativo, porm essa via de informao que une cincia e

    populao no neutra e objetiva. Ela traz uma notcia de cincia acompanhada de crticas e

    opinies, portanto subjetivadas.

    Foi na crena do potencial da literatura de cordel como instrumento de divulgao

    cientfica que os autores Luisa Massarani e Ildeu de Castro Moreira organizaram o livro Cordel e

    Cincia: a Cincia em Versos Populares (2005), que rene 22 libretos de cordel de cinco autores.

    Nesta publicao, versos populares relatam as descobertas cientficas, questes relacionadas

    sade (dengue, vacinao, transplante, diabetes, etc.), ao meio ambiente, episdios da vida de

    cientistas (Newton, Einstein, Sabin, Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Galileu, Arquimedes e

    Kepler), e descries de acontecimentos astronmicos (conquista da Lua, cometa Halley, etc.).

    Alguns dos poetas como Gonalo Ferreira da Silva, poca presidente da Academia Brasileira de

    Literatura de Cordel, vm se dedicando nos ltimos anos a escrever biografias de cientistas e

    filsofos que marcaram a histria da cincia e do pensamento humano.

    4 Outras Expresses

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    Dilogos & Cincia Revista da Faculdade de Tecnologia e Cincias Rede de Ensino FTC. ISSN 1678-0493, Ano 9, n. 25, mar. 2011. www.ftc.br/dialogos

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    Extrapolando o territrio das feiras e da literatura de cordel e seguindo em direo a

    outras manifestaes artsticas e culturais e tambm da comunicao de massa, percebe-se que

    nunca antes se falou tanto sobre cincia. Seriados, documentrios, filmes, novelas, propagandas,

    sites, jogos eletrnicos, msicas, dentre uma infinidade de opes, utilizam a temtica da cincia

    para construir histrias, sejam elas de fico ou no.

    No que diz respeito msica, uma observao mais atenta conduz para encontrar uma

    quantidade razovel de canes que tm como objeto a temtica da cincia. O cantor, compositor

    e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil talvez seja o mais representativo nesta questo.

    Em Parabolicamar (1991), Gil aborda a questo do tempo, do avano das novas

    tecnologias que transformaram a noo de estar no mundo, da velocidade nas comunicaes. A

    ideia do Tempo Relativo comeou a ganhar a bvia continuidade do Espao Relativo na imagem

    dele, que comparando a infncia, vivida em Salvador no meio de atabaques, rituais vrios e

    capoeira, com a sua fase mais adulta de artista, misturou os tempos numa composio chamada

    Parabolicamar: O eu potico de Gil coloca-se a frente do seu tempo e observa como a

    comunicao faz as pessoas se aproximarem, reduzindo as fronteiras e isso causado pela

    evoluo tecnolgica.

    Antes mundo era pequeno / Porque Terra era grande / Hoje mundo muito grande / Porque Terra pequena / Do tamanho da antena / Parabolicamar / (...) Antes longe era distante / Perto s quando dava / Quando muito ali defronte / E o horizonte acabava / Hoje l trs dos montes / dend em casa camar / (...) De jangada leva uma eternidade / De saveiro leva uma encarnao / Pela onda luminosa / Leva o tempo de um raio

    No CD Quanta (1997) aparece a msica A Cincia em Si. Trata-se de uma composio do

    Gil e de Arnaldo Antunes, que relata o caminho da experimentao:

    Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar / Do avio a jato ao jaboti / Desperta o que ainda no, no se pde pensar / Do sono eterno ao eterno devir / Como a rbita da terra abraa o vcuo devagar / Para alcanar o que j estava aqui / Se a crena quer se materializar / Tanto quanto a experincia quer se abstrair / A cincia no avana / A cincia alcana / A cincia em si

    Mas poesia e msica encontram-se tambm nas semelhanas entre os modos de

    estruturao de cada uma dessas linguagens, como nos mostra Santaella em seu texto Poesia e

    Msica: Semelhanas e Diferenas (2002, p.46-47), fundamentando-se na semitica:

    [] a msica, ela tambm, no jogo de suas configuraes, apresenta modos de engendramento que so tpicos da funo potica da linguagem, a saber, projees de similaridade, nas suas mais diversas possibilidades de atualizao, sobre o eixo da contigidade. [] Poesia e msica so construes de formas, jogos de estruturao, ecos e reverberaes, progresses e retrogradaes,

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    sobreposies, inverses, enfim, poetas e msicos so diagramadores da linguagem. (SANTAELLA, 2002, p. 46-47).

    Comungando com a afirmao de Santaella e em meio a alguns pequenos comentrios de

    cada uma dessas msicas, nota-se a qualidade potica do trabalho de Gilberto Gil. Claro, msica e

    poesia so linguagens subjetivas, todavia por outro lado, abre um leque para que o ouvinte pense

    no tema, tire suas prprias concluses. Nada nas msicas de Gilberto Gil definitivo. Muito

    menos delimitado, no vasto campo da msica. Ainda neste mesmo trabalho, Gil canta uma

    msica de Cartola e Carlos Cachaa: Cincia e Arte. Tpico samba. uma homenagem aos

    cientistas e aos artistas. Quase um hino. Esta segue inteira:

    Tu s meu Brasil em toda parte / Quer na cincia ou na arte / Portentoso e altaneiro / Os homens que escreveram tua histria / Conquistaram tuas glrias / Epopias triunfais / Quero neste pobre enredo / Reviver glorificando os homens teus / Lev-los ao panteon dos grandes imortais / Pois merecem muito mais / No querendo lev-los ao cume da altura / Cientistas tu tens e tens cultura / E neste rude poema destes pobres vates / H sbios como Pedro Amrico e Cesar Lattes

    Basta dizer que a msica considera cientistas e artistas heris. Pelas obras que realizam.

    Gil est entre eles, no restam dvidas por ser artista e por divulgar cincia. Alm de Gilberto

    Gil, outros cantores tambm andaram entoando suas vozes para temticas ligadas cincia. Entre

    eles, podemos citar Roberto Carlos (Seres Humanos, 2003), Gal Costa (Canta Brasil, 1981) e

    Guilherme Arantes (Planeta gua, 1981).

    Observa-se que toda operao potica concebe a linguagem como um universo animado que

    perpassa a corrente de atrao e repulso. Na linguagem das msicas de Gil, percebe-se o tema

    cincia e tecnologia ganham uma nova forma de abordagem, redimensionando no apenas o

    universo da arte e da cincia, mas tambm influenciando por meio das msicas sobre cincia e

    tecnologia o novo cenrio da cultura cientfica.

    5 Concluso

    Embora sejam visveis que arte e cincia so domnios de conhecimento humano e que

    interagem entre si, sabe-se que h um longo caminho a ser percorrido em direo prtica dessa

    interface. A partir de uma observao mais atenta, que surgem os questionamentos sobre a

    forma como estas informaes cientficas e tecnolgicas so tratadas pelos artistas populares, pela

    cultura de massa e tambm por pesquisadores das diversas reas do conhecimento cientfico.

    Passando dessa pesquisa exploratria para uma mais descritiva, ser possvel, verticalizar mais o

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    tema, apontando respostas para estas relaes, mas no este o objetivo deste trabalho. Buscou-

    se neste texto realizar uma breve reflexo sobre a cincia e a arte baseada na noo

    multidisciplinar de cultura e a sobre a importncia de se discutir o papel desta instncia na

    contemporaneidade, ou o que denomina-se na introduo como a Era da Cincia.

    Na arte h tambm a tcnica, o saber fazer; e este conhecimento tambm cientfico. H

    ainda a dimenso sensvel e esttica, o estudo das relaes sociais e interpessoais. Arte cincia, e

    conhecimento cientfico no est relacionado somente com as cincias exatas, com a razo

    matemtica. Na verdade, cada vez mais, h uma tentativa de estabelecer um dilogo entre estes

    dois campos, distintos mas cada vez mais complementares.

    Para Edgar Morin, o conhecimento, do ponto de vista do pensamento complexo, no

    est limitado cincia. H na literatura, na poesia e nas artes um conhecimento profundo. Para

    ele, possvel afirmar que no romance h um conhecimento mais sutil de seres humanos do que

    encontra-se nas cincias humanas, porque v-se o homem em suas subjetividades, suas paixes,

    seus meios, etc. Por outro lado, possvel acreditar que todas as grandes obras de arte contm

    um pensamento profundo sobre a vida, mesmo quando no est impresso em sua linguagem.

    Desta forma, caberia, ento, divulgao, a tarefa maior de exercer a partilha social do

    saber, levando ao homem comum o conhecimento do qual ele historicamente foi apartado e do

    qual foi-se mantendo cada vez mais distanciado, medida que as cincias se desenvolviam e mais

    se especializavam. O papel da arte neste processo seria o de permitir a abertura de viso de nosso

    mundo, da sociedade e do destino de cada indivduo.

    Isso se faz necessrio, visto que o conhecimento cientfico ainda hoje incapaz de pensar

    o indivduo, de conceber a noo de sujeito, de pensar a natureza da sociedade e de elaborar um

    pensamento que no seja somente matematizado, formalizado, simplificante. Mas por outro lado,

    extremamente capaz de atender s necessidade dos poderes das novas tcnicas de controle, de

    manipulao, de opresso, de terror e destruio.

    Para manter viva a sensibilidade nos homens, preciso refletir as questes cientficas

    sobre a tica das artes. Esta tarefa se constitui como uma importante tarefa filosfica. Como

    observou-se em Morin, uma instncia (cincia) no est separada da outra (cultura/artes). As duas

    se completam. Parafraseando Octavio Paz, afirma-se que enquanto haja homens, haver poesia.

    Mas essa relao, baseada na imaginao, pode se romper. Se o homem se fixasse somente nas

    questes isoladamente cientficas e racionais e se abandonar da poesia, se esqueceria de si

    prprio. Voltaria ao caos original.

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