tcc desafios do cooperativismo agrícola em mt uma proposta de popularização do modelo

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CID FERREIRA SANCHES Desafios do Cooperativismo agrícola em Mato Grosso: uma proposta de popularização do modelo Prof. José Horta Valadares Professor Orientador do TCC e Coordenador Acadêmico Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização TURMA V SESCOOP / MT Cuiabá MT 2010

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Monografia de conclusão do curso MBA em Gestão empresarial de Cooperativas

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Page 1: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

CID FERREIRA SANCHES

Desafios do Cooperativismo agrícola em Mato Grosso: uma proposta de

popularização do modelo

Prof. José Horta Valadares

Professor Orientador do TCC e Coordenador Acadêmico

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas

Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização

TURMA V – SESCOOP / MT

Cuiabá – MT

2010

Page 2: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

2

O Trabalho de Conclusão de Curso

Desafios do Cooperativismo agrícola em Mato Grosso: uma proposta de

popularização do modelo

Elaborado por Cid Ferreira Sanches e aprovado pela Coordenação Acadêmica foi aceito como pré-

requisito para obtenção do MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas Curso de Pós-Graduação

lato sensu, Nível de Especialização, do Programa FGV in company

Data da aprovação: _____ de ________________de __________

_________________________________________

José Horta Valadares

Professor Orientador do TCC e Coordenador Acadêmico

Page 3: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

3

Empresa / Turma: SESCOOP/MT – TURMA V

Curso: MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas

Aluno (a): Cid Ferreira Sanches

Declaro ter recebido, estar ciente e concordar com as normas estabelecidas pela

documentação abaixo citada.

Regulamento Acadêmico do FGV in company

Código de Conduta

Programa do curso contendo: nome, relação de disciplinas, com suas respectivas ementas e

carga horária.

Cuiabá, 10 de Outubro de 2010

__________________________________________

Page 4: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

4

Termo de Compromisso

O aluno Cid Ferreira Sanches abaixo-assinado, do MBA em Gestão Empresarial de

Cooperativas, realizado nas dependências da FGV, no período de 20/03 de 2009 a 09/10 de

2010, declara que o conteúdo do trabalho de conclusão de curso intitulado: Desafios do

Cooperativismo agrícola em Mato Grosso: uma proposta de popularização do modelo, é

autêntico, original, e de sua autoria exclusiva.

Cuiabá, 10 de Outubro de 2010

________________________________________

(Assinatura)

Page 5: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

5

RESUMO

Este trabalho buscou encontrar as raízes da fraca difusão de Cooperativas agrícolas no

estado de Mato Grosso ao contrário dos outros estados com forte atuação no agronegócio

como por exemplo na região sul do país. Isto foi feito através de uma ampla revisão de

bibliografia e ainda uma pesquisa no formato de entrevista com produtores rurais das maiores

cidades produtores de grãos do estado. Assim as conclusões do trabalho resultaram em uma

série de recomendações e propostas para a criação de novas cooperativas no estado e ainda

maneiras de atingir e atender o maior número de produtores rurais de todas as regiões

produtoras de grãos de Mato Grosso, considerando o eminente crescimento da produção

agrícola projetado por diversos institutos de pesquisa.

Palavras-chave: agronegócio, produção de grãos, Mato Grosso, Cooperativa, educação

cooperativista

Page 6: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

6

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

7

2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 10

3. O MODELO AGRÍCOLA DE MATO GROSSO, A FORMAÇÃO DAS

CIDADES E AS COOPERATIVAS ............................................................................... 11

3.1 O Contexto histórico do Cooperativismo ............................................................. 14

3.2 O surgimento de Cooperativas na década de 90 e 2000 ....................................... 18

3.3 O Modelo agrícola atual e os benefícios da agricultura para o desenvolvimento

das cidades ....................................................................................................................... 20

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................................ 27

4.1 Metodologia .......................................................................................................... 27

4.2 Resultados consolidados da pesquisa com produtores ......................................... 29

5. CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA AUMENTAR O NÚMERO DE

COOPERADOS E COOPERATIVAS NO ESTADO .................................................... 36

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 40

ANEXO I ......................................................................................................................... 43

Page 7: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

7

1. INTRODUÇÃO

O estado de Mato Grosso apresenta características muito diferentes dos outros estados

da Federação quando se trata do perfil da agricultura desenvolvida e também em relação aos

agricultores. Este estado tem uma história muito recente em se tratando das cidades do interior

onde muitas destas possuem menos de 30 anos de fundação. Esta história começou a ser

contada através da imigração de vários produtores rurais dos estados do sul do país que,

devido ao crescimento das famílias, se viu obrigado a procurar novas áreas para produção e

encontrou no Cerrado brasileiro uma nova possibilidade de negócios para a vocação que era a

agricultura.

Como exemplo, podemos citar algumas cidades importantes do agronegócio brasileiro

e que possuem recentes fundações. Estes exemplos são como Sinop que é a quarta maior

cidade do estado cuja fundação se deu em 1974, Tangará da Serra a sexta maior cidade do

estado com fundação em 1976, Sorriso a sétima maior cidade e o maior município produtor de

soja do mundo com fundação em 1987, Primavera do Leste a décima maior cidade do estado

com fundação em 1986 e Lucas do Rio Verde a décima quarta maior cidade do estado

fundada em 1988. A migração recente para o estado e seu crescimento demográfico acelerado

nas décadas de 70 e 80 pode ser verificada na tabela número 1 do IBGE abaixo.

Portanto, a formação das cidades mais desenvolvidas no interior de Mato Grosso,

possui características da formação das cidades do sul do país, porém há uma diferença. No sul

do país, há uma clara influência da atuação das cooperativas nos negócios das cidades e no

Mato Grosso, isso não ocorre. Há diversos fatores que podem explicar estas diferenças e

muitas serão tratadas mais a frente, porém uma característica principal que explica esta

situação é o tamanho das propriedades agrícolas no Mato Grosso em comparação com o

tamanho das propriedades no sul do país, como aqui elas se tornaram muito maiores das de lá,

isto facilitou o distanciamento dos produtores a este modelo, pois por si só eles acreditavam

ter um poder grande concentrado em suas mãos e não necessitavam se unir em cooperativas.

Page 8: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

8

Veremos mais adiante que este cenário começa a mudar e várias iniciativas cooperativistas

começam a aparecer no estado de Mato Grosso.

Tabela 1: INCREMENTOS POPULACIONAIS E TAXAS MÉDIAS

GEOMÉTRICAS ANUAIS DE CRESCIMENTO - MT, 1940/1996

Períodos Incrementos Populacionais Taxas Médias

Absolutos Relativos Geométricas (%)

1940/1950

1950/1960

1960/1970

1970/1980

1980/1991

1991/1996*

(1)

19.642

108.357

280.827

540.619

888.540

200.725

10,22

51,15

87,70

89,95

78,03

9,90

0,98

4,22

6,50

6,63

5,38

1,90

FONTE: IBGE - Censo Demográfico e Sinopse Preliminar do Censo Demográfico, 1991.

Outro fenômeno que está acontecendo no estado de Mato Grosso, que é uma tendência

no mundo inteiro, é a concentração de propriedades agrícolas, onde os maiores produtores

estão crescendo o seu volume de produção e outros produtores menores estão saindo da

atividade. As fusões e aquisições que há mais de uma década estão ocorrendo com diversos

segmentos de mercado começam a chegar também na agricultura e o modelo de produção

utilizado no estado, sem o amparo de cooperativas estão fazendo os produtores ficarem cada

vez mais isolados e sem poder de negociação com grandes produtores e grandes empresas

multinacionais no estado.

Devemos lembrar que no estado de Mato Grosso, devido ao tamanho das propriedades

que dificulta os produtores a obterem crédito rural oficial que seja suficiente a solução foi

recorrer às empresas multinacionais para financiar a produção. As deficiências logísticas

também dificultam o escoamento da produção e assim os produtores recorrem novamente às

empresas multinacionais para fazer a exportação ou o processamento da produção. Portanto, a

grande maioria dos produtores está totalmente vinculada a estas empresas que detém um

Page 9: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

9

poder de mercado muito grande e assim consegue retirar dos produtores qualquer margem de

lucro que a atividade resulta.

Em face de estes cenários é necessário entender os motivos da inexistência de

cooperativas agrícolas fortes na maioria das cidades e propor uma forma de popularização do

modelo de forma moderna e amparada nas relações de negócios do mercado globalizado.

Page 10: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

10

2. OBJETIVOS

Para chegarmos a um modelo para popularizar as Cooperativas no estado de Mato

Grosso devemos ter alguns objetivos intermediários neste trabalho para ao final propor uma

forma de atrair os produtores para esta forma de organização de mercado. Os objetivos deste

trabalho são os seguintes:

1. Entender com os produtores, através de questionário, as opiniões em relação ao

modelo cooperativista, a necessidade da existência de uma cooperativa em sua região entre

outros aspectos;

2. Conhecer os modelos de cooperativas que já estão atuando no estado e

principalmente conhecer as cooperativas que fracassaram para não repetir os erros no futuro;

3. Desenvolver um modelo de cooperativa com preceitos ancorados nos

resultados dos dois itens anteriores, resultando uma forma de abordagem dos produtores com

vistas para a popularização do modelo.

Estes são os objetivos do trabalho onde o primeiro é de caráter prático, o segundo

resulta da revisão de literatura e também dos comentários dos produtores e o terceiro é uma

proposta de trabalho a ser desenvolvida por uma cooperativa.

Page 11: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

11

Mato

Grosso Agricultura

1ºRebanho

Bovino

Soja MilhoAlgodão Girassol

2º Sorgo

3º Arroz

3. O MODELO AGRÍCOLA DE MATO GROSSO, A FORMAÇÃO DAS

CIDADES E AS COOPERATIVAS

O estado de Mato Grosso é hoje um dos principais atores no cenário do agronegócio

mundial devido a sua eficiência de produção que conta com altos índices de produtividade

aliadas a sustentabilidade socioambiental das propriedades rurais que cumprem a legislação

ambiental mais rígida do mundo. O estado hoje auxilia em muito os saldos da balança

comercial do país através da exportação de soja, milho, algodão, farelo de soja, carnes bovina,

suína e aves, além de gerar inúmeros empregos diretos e indiretos provenientes do

agronegócio.

Podemos ver através da figura abaixo o ranking da produção agropecuária do estado

de Mato Grosso em comparação aos outros estados do país onde Mato Grosso lidera a

produção de vários produtos.

Figura 1: Ranking do estado de Mato Grosso da produção agropecuária

Fonte: Conab / IMEA

Esta produção é fruto de um clima muito estável para agricultura, que sempre resulta

em uma estação seca e outra chuvosa regularmente a cada ano, de uma grande experiência dos

Page 12: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

12

produtores, onde a maioria é proveniente de famílias tradicionalmente vinculadas à

agropecuária e, de um elevado nível de tecnologia de produção utilizando as mais avançadas

técnicas agrícolas, pois a idade média das propriedades é baixa, facilitando assim o

incremento de tecnologias.

Isto pode ser verificado através do gráfico abaixo que mostra a evolução da produção

em comparação com a área plantada. Podemos ver que a produção cresceu o dobro do

crescimento da área plantada, isto é fruto do investimento em tecnologia, clima adequado e

experiência dos produtores.

Figura 2: Crescimento de área plantada (mm ha) em comparação com a produção total

(mm ton.).

Fonte: Conab

Porém, toda esta pujança no agronegócio do estado está fortemente ancorada na

dependência das empresas multinacionais que fazem a logística, armazenamento,

processamento e exportação principalmente dos grãos (soja, milho e algodão). Além disso,

devido ao afastamento do governo que isolou na última década os produtores do estado das

políticas agrícolas, estas empresas, para garantir sua demanda por produtos agrícolas,

financiam os produtores através de contratos de entrega futura da produção. Com isso, os

produtores se viram totalmente dependentes destas empresas, pois o governo não consegue

auxiliar o produtor a resolver os enormes problemas logísticos e também a concessão de

Page 13: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

13

35%

14%11%

6%

34%

Multinacionais de fertilizantes e grãos

Revendas

Recursos Próprios

Bancos Federais

Sistema Financeiro

crédito oficial não chega até os produtores, pois se falta uma política agrícola eficiente e

regionalizada no país.

Para mostrar um exemplo de como os produtores estão ainda muito dependentes das

empresas multinacionais, pode-se notar o gráfico abaixo que mostra de onde provêem o

capital necessário para o custeio da safra 2009/2010. Este gráfico ainda está influenciado pela

crise de crédito de 2008 que fez que muitas empresas diminuíssem o volume de recursos

emprestados devido à falta de crédito no mercado internacional. Em safras anteriores a

2007/2008, o volume de recursos financiados por Tradings e Revendas chegou a ser quase

80% do total necessário ao custeio da safra.

FIGURA 2: Origem do Crédito para custeio da safra 2009/2010 dos produtores de

grãos do estado de Mato Grosso.

Fonte: Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola - IMEA, 2009

Portanto, este é o modelo existente na maioria das cidades do interior do estado, salvo

algumas exceções, onde predomina o individualismo dos produtores que se tornaram grandes

comparativamente aos seus antepassados no sul do país. Assim, as cidades surgiram de forma

planejada e organizada, já imaginando seu crescimento futuro, porém elas não são as

Page 14: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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cooperativas que movimentam a maioria dos negócios das cidades como ocorre em cidades do

sul do país.

3.1 O Contexto histórico do Cooperativismo

Cooperação indica em geral qualquer forma de trabalho em conjunto, o que se

contrasta com concorrência, sua oposição. Em economia e história social o termo é

empregado (como adjetivo cooperativo) para descrever qualquer forma de organização social

ou econômica que tem por base o trabalho harmônico em conjunto, em oposição à

concorrência. (SILVA, 1986, p. 272)

Há ainda outras definições para o modelo cooperativista como encontramos no site da

Organização das Cooperativas do Brasil – OCB ( www.ocb.org.br) que diz:

Cooperativismo é um movimento, filosofia de vida e modelo

socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar

social. É o sistema fundamentado na reunião de pessoas e não no capital.

Visa às necessidades do grupo e não do lucro. Busca prosperidade

conjunta e não individual.

Podemos perceber que o modelo cooperativista é um modelo moderno de organização

de pessoas voltadas aos mesmos interesses econômicos, com isso podemos pensar que ele se

adapta muito bem a grupos de agricultores, pois estes têm os mesmos interesses, produzir e

comercializar sua produção da melhor forma.

O Brasil viveu momentos de incentivo ao cooperativismo desde a década de 60, com o

estimulo a associação de produtores rurais através da concessão de crédito rural de baixo

custo, e até mesmo subsidiado, fazendo com que essas organizações tivessem um incremento

nas suas atividades. Ao final da década de 70, com a crise do petróleo e o ajuste de conta do

governo, o país entra num período recessivo, o Estado se afasta comprometendo a

continuidade de boa parte das cooperativas do país, forçando as cooperativas que restaram a

se adequar à realidade competitiva do mercado (SEBRAE & SESCOOP, 2004).

Para a agricultura de uma forma geral este modelo não foi diferente, pois encontramos

a partir da década de 80 uma escassez do crédito agrícola oficial, mostrando que o governo

busca um distanciamento do apoio as iniciativas do mercado para deixar que o mercado se

auto promova.

Page 15: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

15

Sanches (2003) define o contexto geral da economia brasileira, nos anos 80,

mostrando que a crise fiscal tornou o Estado incapaz de gerar recursos à agricultura,

chegando-se a conclusão que era impossível manter a política de estatização do crédito

agrícola nos moldes da década anterior devido ao aumento significativo na dívida pública

federal. Somente nos anos de 1985 e 1986 o volume de crédito rural apresentou considerável

crescimento devido à monetização da economia provocada pelo Plano Cruzado, voltando a

diminuir o volume nos anos seguintes e caindo ainda mais no início dos anos 90.

Figura 3_ Evolução dos Recursos destinados a agricultura no período de 1969 a 2001

Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural 2003 – Volume 1

0

10000000000

20000000000

30000000000

40000000000

50000000000

60000000000

VA

LO

RE

S (

EM

R$ M

I)

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

A N O

Evolução dos R ecursos

Page 16: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

16

Foi neste momento histórico que Mato Grosso iniciou sua atividade agropecuária entre

o final da década de 70 e início da década de 80. Um cenário onde o governo incentivava a

abertura de novas fronteiras agrícolas no interior do país financiava o início das atividades

com a compra de máquinas e implementos, porém ao poucos diminuía o percentual de

financiamento para custeio das atividades agrícolas.

Este cenário acentua-se no início dos anos 90 onde o apoio governamental para as

atividades agrícolas diminuía bruscamente, as propriedades cresciam as principais cidades já

tinham sido fundadas e assim os produtores se viram totalmente dependentes das empresas

multinacionais que financiam sua produção em troca da entrega do produto final (soja, milho,

arroz).

Ainda nos anos 80, surge uma nova região de importante produção agrícola no estado

de Mato Grosso, o Médio Norte. Somente nesta década, com o crescente interesse na nova

fronteira agrícola e com a construção da BR 163 e BR 364 é que a região pôde ser

incorporada no contexto produtivo do estado, fazendo parte da política brasileira de apoio à

modernização da agricultura (BERTRAN, 1988 apud AZEVEDO; PASQUIS, 2007).

Algumas cooperativas surgiram neste cenário, porém a maioria teve iniciativas

fracassadas devido à grande dinâmica e complexidade das operações que exigia profissionais

altamente qualificados, mas estes não tinham interesse ou disponibilidade para morar em

Mato Grosso e também, devido à desonestidade e falta de visão empresarial de algumas

cooperativas.

Desta forma, vários planos de incentivo surgiram, setores privados do sul do país se

interessam pela região, e ao longo dos anos foram surgindo diversas cooperativas que

auxiliaram no desenvolvimento e modernização agrícola do estado (AZEVEDO; PASQUIS,

2007).

Duas Cooperativas que podem ser destacadas pelo surgimento ainda antes dos anos 80

é a Coopercana e a Cooamiti. A Coopercana era uma empresa que auxiliava os produtores

vindos do Rio Grande do Sul a iniciar as suas atividades pela forma de assentamento

subsidiado pelo governo federal para o plantio de arroz. O projeto foi ficando muito grande

vindo por fundar as cidades de Canarana, Querência, Gaúcha do Norte, Nova Xavantina e

ainda projetos até em Tapurah, fazendo que ao final dos anos 80 esta entrasse em decadência.

Page 17: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

17

Gianezzini (2009) relata que o primeiro problema foi o despreparo dos próprios

associados, que na medida em que obtinham incentivos e subsídios do governo federal através

da cooperativa adquiriam grandes propriedades. Para agravar a situação, estas novas

propriedades adquiridas possuíam no mínimo o dobro do tamanho daquelas que os associados

estavam acostumados a lidar no Sul do Brasil. Depois, vieram outros problemas como a falta

de tecnologia para o domínio do cerrado, a ausência de infra-estrutura e a necessidade de

correção do solo.

Outra experiência que se tem relatos é a Cooamiti (Cooperativa agrícola mista de

Diamantino LTDA). Esta teve um trabalho importante de obter crédito para os grandes

produtores na região através do extinto BNCC Banco Nacional de Crédito Cooperativo.

O grande problema é que estes produtores utilizavam em nome da Cooperativa,

facilidades e apoios políticos para a liberação do crédito que ficou em um volume muito

grande, resultado em incapacidade de pagamento e por fim finaliza no processo de falência da

Cooperativa no ano de 1981.

Mas não é apenas de fracasso que vive o sistema Cooperativista no estado de Mato

Grosso. No início dos anos 80 inicia a atividade em Diamantino a Coopervale (Cooperativa

do Vale do Piquiri LTDA) com sede em Palotina oeste do Paraná. Esta Cooperativa chega ao

estado através da compra da Cooamiti e logo expande seus negócios para a cidade de Nova

Mutum.

A experiência no negócio cerealista no estado do Paraná e ainda os incentivos do

governo federal para as propriedades localizadas as margens da BR 163 resultaram no sucesso

da Coopervale. Outro fator de sucesso foi que muitos agricultores do sul do país vieram a

Mato Grosso, pois já eram cooperados da Coopervale ou de outras cooperativas e vinham até

o estado para serem cooperados da Coopervale em Mato Grosso, acreditando muito mais no

sistema cooperativista do que no próprio estado.

A Coopervale criou ainda na região a primeira unidade receptora e beneficiadora de

grãos e foi bastante auxiliada pela OCEMAT (Organização das Cooperativas do estado de

Mato Grosso) no estado onde esta financiava obras das cooperativas de todo o estado. Hoje a

Coopervale continua sua atuação no estado, porém concentrada nas cidades de Nova Mutum,

Diamantino, Sinop e a grande maioria de seus cooperados é de produtores do estado do

Paraná.

Page 18: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

18

3.2 O surgimento de Cooperativas na década de 90 e 2000

A partir da década de 90, algumas iniciativas cooperativistas surgiram no estado de

Mato Grosso onde iremos detalhar as que obtiveram êxito e as que fracassaram em seus

objetivos.

O primeiro caso a relatar é a fundação da Cooperlucas que se deu com apoio do

governo federal através do PRODECER (Programa de Desenvolvimento do Cerrado) que

financiava a compra de propriedades, a abertura de áreas e a construção de infra-estrutura

necessária. A partir deste apoio, os produtores começaram a ficar maiores necessitando de um

lugar comum para a recepção e comercialização de seus produtos criando assim a

Cooperlucas.

Segundo Gianezzini (2009), o fracasso da Cooperativa aconteceu por dois motivos. O

primeiro foi o crescimento de alguns produtores bem sucedidos que acabaram por comprar

outros produtores que não estavam tão bem assim. Com a escala de produção aumentando,

eles não viam mais necessidade em fazer parte da Cooperativa e se desligaram enfraquecendo

esta. O segundo motivo foi a grande concorrência com grandes empresas que se instalaram na

região, Ceval, Sadia, Cargill, Coimbra tornando a demanda maior que a oferta.

Assim a Cooperlucas ficou uma capacidade ociosa muito grande e não conseguia

saldar seus compromissos assumidos. A solução encontrada pela diretoria foi a de oferecer

preços atrativos, mas que estavam fora da realidade do mercado. Desta forma, percebe-se que

a “quebra” da Cooperlucas começava a se dar mais pela falta de experiência de seus diretores

que pela corrupção na diretoria da cooperativa.

Lucas do Rio Verde fica hoje na região mais prospera do estado e a que detém a maior

produção e número de produtores e, estes são muito reticentes em participar de Cooperativas

devido a exemplos da Cooperlucas. Nesta os produtores se tornaram grandes e não

necessitavam mais do apoio da Cooperativa para comercializar seus produtos, além destas

serem consideradas mal administradas. Por vezes, o tamanho dos produtores também permitia

a construção própria de estrutura de beneficiamento (secagem, transporte, armazenamento)

não sendo necessária mais a Cooperativa.

Page 19: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

19

Este é apenas um dos exemplos de Cooperativas que não foram bem sucedidas nesta

região do Médio Norte e Norte do estado de Mato Grosso. Podemos citar ainda a Cooasol em

Sorriso e novamente a Coopervale que ainda na região mas com caráter muito mais de

Trading do que de Cooperativa. Portanto, nesta que é a principal região produtora de grãos no

estado, as Cooperativas agrícolas não são bem vistas e possuem uma resistência muito grande

dos produtores.

Já um exemplo de cooperativa que podemos destacar como bem sucedida no estado

que iniciou suas atividades no decorrer da década de 90 são as Cooperativas de crédito que

vieram posteriormente a integrar o sistema Sicredi em várias cidades do estado. Segundo

Weber (2004), o Cooperativismo de crédito surgiu no Brasil em 1902 no Rio Grande do Sul,

mas somente teve um grande impulso nas décadas de 80 e 90 que culminaram com a

autorização do Conselho Monetário Nacional para a constituição de Bancos Cooperativos. A

partir destes organismos o sistema de crédito cooperativo teve um significativo impulso e

experimentou um crescimento relevante e destacado no cenário econômico nacional, visto que

os bancos passaram a ser os agentes das cooperativas no acesso ao mercado financeiro e

possibilitaram a prática de todas as operações no mercado. No estado de Mato Grosso,

considerando o Sicredi, a criação do banco Cooperativo próprio se deu no ano de 1995.

Outro fato importante e impulsionador do sistema Sicredi em Mato Grosso foi a

autorização do Governo Federal a operar com crédito rural oficial com encargos equalizados

pelo Tesouro Nacional. Nas cidades menores, como o interior de Mato Grosso, o Sicredi

estimula a criação de cooperativas de livre associação, com atuação regional, sendo por isso

hoje, conhecido como a “instituição financeira da comunidade” (WEBER, 2004).

Outra cooperativa que também foi bem sucedida no país e iniciou atividades na região

de Primavera do Leste, foi a Cooperativa agrícola de Cotia. Entre o final da década de 80 e

início da década de 90 esta iniciou planos de expansão de suas atividades na região Leste do

estado de Mato Grosso, atraindo cooperados e montando uma planta de processamento de

grãos. Mas, por problemas financeiros e ainda falta de capacidade administrativa para um

empreendimento muito grande, esta veio a falir e assim também a sua filial de Primavera do

Leste.

Portanto, até a chegada dos anos 2000, a história das cooperativas no estado de Mato

Grosso, não mostra grandes experiências de sucesso. Dos casos que citamos aqui, podemos

Page 20: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

20

área(milhões ha) Produção (milhões tons)

considerar apenas as Cooperativas de crédito, afiliadas ao Sicredi como sucesso em sua

jornada. Este é mais um fator que mostra o receio da maioria dos produtores do estado no

sistema Cooperativista, pois faltam bons exemplos a serem seguidos.

3.3 O Modelo agrícola atual e os benefícios da agricultura para o

desenvolvimento das cidades

Atualmente, no estado de Mato Grosso, algumas iniciativas de cooperativas agrícolas

estão surgindo, amparadas na moderna gestão dos empreendimentos para fazer frente à

concorrência com as empresas multinacionais. Mas isto ainda acontece de forma tímida em

algumas regiões, principalmente se nós compararmos com as previsões de crescimento da

produção no país e no estado feitas por institutos e organismos nacionais e internacionais de

estatística. Abaixo mostramos duas projeções de crescimento da produção brasileira.

Figura 4: Projeção de crescimento da área e da produção de soja no Brasil até a safra

2014/2015

Fonte: Agroconsult e Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento, 2009

Page 21: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

21

Produção Brasil

• 2010 – 67 MT

• 2020 – 112 MT

Área Brasil

• 2010 – 22 MM ha

• 2020 – 39 MM ha

Projeções de Demanda Mundial de Soja Aumento de 100 Milhões de Toneladas em 10 anos

Figura 5: Projeções de aumento na produção de soja nos principais países produtores

até a safra 2021.

Fonte: Highquest Partners, 2008

Através das figuras mostradas acima, conseguimos verificar que a produção em todo o

mundo irá crescer. Isto é resultado de uma população mundial que cresce e ainda de milhares

de pessoas na Ásia que estão deixando o campo para ir morar nas cidades, aumentando a

renda e consumindo mais alimentos industrializados, principalmente carnes que alavancam o

consumo de soja e milho para alimentação animal. Assim todas as principais consultorias e

órgãos de estatística acreditam que a maior parte deste crescimento aconteça no Brasil devido

à melhor possibilidade natural de produção principalmente no Cerrado e especialmente em

áreas que hoje estão sendo utilizadas com pastagens extensivas e que podem ser melhores

aproveitadas.

Page 22: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

22

O estado de Mato Grosso produz hoje 18 milhões de toneladas de soja e, segundo o

Instituto de Mato-grossense de Economia Agrícola, em 2020 deveremos estar produzindo 30

milhões de toneladas para ajudar na estatística de crescimento mundial e nacional. Isto

significa um campo ainda muito grande para o trabalho da cooperativas de produção agrícola

no estado.

Tudo isto é possível graças à disponibilidade de terras e água no país como mostra o

estudo da FAO abaixo. Neste estudo, podemos observar que o único país que se aproxima do

Brasil em disponibilidade de água e terra é a Rússia, porém esta não tem um clima propício

para a agricultura como o Brasil.

Figura 6: Disponibilidade de água e terra no mundo.

Fonte: FAO (2007). Elaboração: ICONE

Assim, consideramos que o estado de Mato Grosso tem hoje e no futuro terá ainda

mais potencial para novos empreendimentos relacionados ao agronegócio. Pensando em

Cooperativas, hoje elas representam no estado uma comercialização em torno de 600 a 900

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23

mil toneladas de soja o que representa cerca de 4% da produção do estado. Estes números são

estimados através de pesquisa interna da Associação dos Produtores de soja e milho do estado

de Mato Grosso – APROSOJA, utilizando dados da Organização das Cooperativas Brasileiras

no estado de Mato Grosso.

Esta pouca procura dos produtores pelo Cooperativismo acontece devido aos motivos

apresentados anteriormente que remetem a modelos ruins do passado e as facilidades

oferecidas pelas multinacionais. Os produtores se sentem mais confortáveis em negociar

diretamente com as Tradings, pois elas financiam sua produção com a compra antecipada de

seus produtos (soja, milho) através de um instrumento chamado CPR – Cédula de Produto

rural. O advento das CPR´s criou uma comodidade muito grande nos produtores que com

apenas uma negociação conseguem adquirir todos os produtos necessários a sua produção

(fertilizantes, defensivos, sementes), adquirem recursos a vista para o custeio da sua

propriedade (combustível, mão-de-obra, manutenção de máquinas, impostos, taxas) e vendem

antecipadamente a sua produção. Mas o que eles não percebem é que há uma taxa de juros

para tudo isto muito mais elevada do que a média do mercado e ainda os preços de venda da

saca de soja tem valor inferior da saca de soja que está disponível para venda.

Devido a este modelo conhecido como troca de produtos com as multinacionais ter se

popularizado, as iniciativas de Cooperativas que se desenvolveram bem após os anos 2000

procuraram não alterar muito esta sistemática, principalmente no que se refere à compra de

insumos.

Iremos considerar agora a Cooperfibra da Cidade de Campo Verde – MT e a Coacen

da Cidade de Sorriso – MT. Ambas as cooperativas servem apenas como corretoras no

momento da compra de insumos. Elas fecham lotes grandes de insumos que os produtores

cooperados necessitam e fecham o menor valor com o fornecedor. Depois o fornecedor

entrega diretamente para os produtores e estes pagam diretamente as empresas, pagando ainda

uma taxa de serviço para a cooperativa que fechou o lote.

Podemos ver abaixo o diagrama que mostra o fluxo de negócios destas duas

Cooperativas citadas. Vemos que a única diferença entre elas é o pagamento, onde uma é a

vista e a outra é com prazo safra.

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Cooperativa

Produtor

Fornecedor2. Formação do Lote

e Negociação

4. Análise de Crédito e

Concessão

Cooperativa

Produtor

Fornecedor

2. Formação do Lote

e Negociação

4. $ (à vista)

Figura 7: Estruturas de compra de insumos de duas Cooperativas do estado de Mato

Grosso

Cooperfibra

Coacen

Fonte: Pesquisa com cooperados e funcionários, 2010

Já em relação à venda da produção, estas duas cooperativas se diferenciam um pouco.

A Coacen é composta por cooperados que possuem Armazém próprios, ela não tem nenhum

armazém, assim ela somente intermedeia a venda entre produtores e Tradings, cobrando para

isso uma taxa de serviços fixa todo o mês. Já na Cooperfibra há um armazém próprio da

Cooperativa, porém esta não compra a produção dos cooperados, ela apenas armazena,

Page 25: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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cobrando uma taxa por isso. A partir daí o produtor tem a opção de vender para as

multinacionais através de pools de venda da Cooperfibra pagando então uma taxa de

corretagem por isso ou, vende diretamente para as multinacionais sendo que estas retiram do

armazém da Cooperfibra sem custo para o produtor, pois este já pagou a taxa de

armazenagem.

Em relação ao modelo de cooperativas tradicionais, onde o produtor compra os

insumos que esta adquiriu e vende sua produção direto para a Cooperativa, temos o

conhecimento da atuação da C-Vale (antiga Coopervale) na região do Médio Norte e mais

recentemente da Cooperbio – Cooperativa de Bicombustíveis. Esta última não trabalha com

insumos, somente compra a produção de seus cooperados, processa o óleo de soja e

transforma em bicombustível para venda nos leilões da Petrobrás.

O que podemos concluir com o modelo que existe hoje nos principais municípios

produtores de soja em Mato Grosso é que mesmo com a grande parte da produção ficando nas

mãos das empresas multinacionais estas cidades cresceram e se desenvolveram muito neste

curto período de sua existência. Acreditamos que se este desenvolvimento fosse ancorado em

empresas cooperativas, onde os produtores fossem donos de seus produtos, isto iria agregar

mais valor ainda aos produtos e fazer com que a riqueza das cidades fosse muito maior.

Um indicador que mostra este desenvolvimento é o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) dos municípios. Podemos ver através deste índice que as cidades que possuem

os maiores IDH`s do estado são justamente as cidades que são produtoras de soja. Isto pode

ser verificado através da figura na página seguinte que compara dois mapas do estado, o

primeiro com os principais municípios produtores e o segundo com as faixas de IDH`s

presentes no estudo do PNUD.

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Figura 8: Comparação da área plantada de soja e IDH`s das principais cidades

produtoras do estado de Mato Grosso.

Fonte: PNUD 2002 / elaboração APROSOJA

Veremos mais adiante outros motivos pelos quais há dificuldade do estado em formar

cooperativas através de pesquisa realizada diretamente com produtores de soja e milho.

Page 27: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 Metodologia

A pesquisa foi definida para ser de caráter qualitativo e descritivo, mas em alguns

momentos é possível fazer agrupamentos das respostas dos produtores transformando

algumas questões em objetivas. O método de pesquisa qualitativa segundo Vergara (1998)

citado por Sampaio (2008) é o tipo de pesquisa que estabelece correlações entre variáveis e

define a natureza destas.

De acordo com Bervian e Cervo (2002) a pesquisa descritiva é recomendada

principalmente nas ciências humanas e sociais, e trabalha sobre dados ou fatos colhidos da

própria realidade, que no caso deste projeto foram colhidas informações e declarações dos

produtores que são os empresários rurais que iriam participar da iniciativa de uma nova e

grande cooperativa estadual para aumentar o poder dos produtores em relação às grandes

empresas multinacionais.

Esta pesquisa servirá também para divulgar um modelo de negócios cooperativista que

a APROSOJA está estudando e fazendo o plano de negócios para a formação de uma grande

cooperativa de abrangência estadual e para isso precisará da aceitação e comprometimento de

um número grande de produtores no estado. Com esta pesquisa será possível delimitar as

principais regiões no estado que estão carentes de cooperativas onde o modelo poderá ser

implantado imediatamente. Já em outras regiões onde existe um contingente de cooperativas

que atende aos produtores, este modelo será oferecido posteriormente quando a cooperativa já

estiver sido estabelecida.

A pesquisa inicialmente está dividida em dois públicos distintos: produtores líderes

(escolhidos através de indicação) e produtores (escolhidos aleatoriamente). Estes produtores

estão divididos em 4 regiões do estado: Norte, Sul, Leste e Oeste, sendo que a região Norte

terá uma amostra maior de produtores devido à área plantada de soja ser maior e o número de

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produtores ser maior também. A previsão inicial é que a pesquisa seja feita com 22 produtores

com a seguinte distribuição:

9 produtores região Norte

6 produtores região Oeste

4 produtores região Sul

3 produtores região Leste

A pesquisa foi feita na maioria dos casos via telefone com os produtores mas

algumas vezes foi feita presencialmente também quando estes se encontravam na sede da

Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado de Mato Grosso – APROSOJA.

O questionário foi montado de forma que não seja apresentada nenhuma alternativa.

De acordo com a resposta do entrevistado esta se encaixaria na alternativa mais adequada.

Possivelmente, aparecendo alguma alternativa muito constante que não representa nenhuma

das alternativas listadas, foi criada uma alternativa a mais na pergunta.

Outro fato importante é que me apresentei como funcionário da APROSOJA

que está desenvolvendo Monografia de conclusão de curso de pós-graduação, sem citar qual o

curso e falando que a entrevista será para conhecer diferenças entre as realidades regionais do

estado e problemas na produção. Isso é importante para verificar com eles a percepção em

relação às Cooperativas sem falar que estou pesquisando isto, eles imaginam que a pesquisa

seja para se conhecer melhor as realidades de cada região do estado.

Outra questão importante da pesquisa é que a mesma ajudou a conhecer quais

são as cooperativas do estado que atuam na comercialização de grãos e insumos para soja e

milho e assim isso subsidiou a revisão de bibliografia para se conhecer o sistema de produção

destas. Foi importante conhecer também quais são as cooperativas de sucesso e fracasso em

cada região para estudar os fatores de sucesso e fracasso das Cooperativas Mato-grossenses.

O questionário completo no mesmo modelo que foi feito com os produtores,

encontra-se no Anexo I deste trabalho.

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Contar de Nome Região

categoria 1o Problemas mais graves na região Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Custos de produção 1 1

Falta do poder de barganha 1 2 3

Logística 2 1 1 1 5

Tecnologia de produção 1 1

produtor falta do poder de barganha na comercialização 1 1

Logística 1 7 1 1 10

Renegociação de dívidas 1 1

Total geral 3 9 6 4 22

Contar de Nome Região

categoria 2o Problemas mais graves na região Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca crédito 1 1

Custos de produção 1 1

Falta de poder de barganha 1 2 3

Grupos grandes arrendando areas 1 1

Logística 1 1 1 3

Política agrícola 1 1

produtor crédito 1 1

Falta de poder de barganha 3 1 1 5

Falta do poder de barganha na comercialização 2 2

o acesso ao crédito rural 1 1

(vazio) 2 1 3

Total geral 3 9 6 4 22

4.2 Resultados consolidados da pesquisa com produtores

A pesquisa com produtores foi iniciada no mês de julho e estendeu-se durante o mês

de agosto de 2010. As respostas mais interessantes serão detalhas aqui, dividindo os

produtores ora por região ora por categoria (lideranças ou não). Os resultados completos estão

disponíveis no Anexo I do trabalho.

Quando se trata dos problemas mais graves para a produção agrícola o item que

aparece em destaque como o primeiro lugar é a logística, considerando que este é o maior

desafio de nosso estado, porém quando questionado qual o segundo problema mais grave os

produtores enfrentam, a falta do poder de barganha dos produtores em relação às empresas da

cadeia da soja aparece com destaque.

Figura 9: Problema mais grave para produção agrícola dos produtores

Figura 10: Segundo problema mais grave para a produção agrícola

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

Page 30: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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Contar de Nome Região

categoria 1o Solução dos problemas Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Apoio governamental 1 1 2

Mais empresas para fomentar a concorrencia no estado 1 1

Melhorar e ampliar a pesquisa agrícola 1 1

União dos produtores para aumentar o poder de barganha 2 2 1 1 6

produtor Apoio governamental 1 6 1 8

Mais empresas para fomentar a concorrencia no estado 1 1

União dos produtores para aumentar o poder de barganha 2 1 3

Total geral 3 9 6 4 22

Contar de Nome Região

categoria 2o Solução dos problemas Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Apoio governamental 1 1 2 4

Associação para pressionar governo 1 1 2

União dos produtores para aumentar o poder de barganha 1 1

(vazio) 1 2 3

produtor Apoio governamental 1 1

União dos produtores 4 4

União dos produtores para aumentar o poder de barganha 1 1

(vazio) 3 2 1 6

Total geral 3 9 6 4 22

Este resultado demonstra claramente que os produtores sofrem bastante devido ao seu

poder de barganha ser baixo no momento da comercialização de seus produtos e também no

momento da aquisição dos insumos. Quando fazemos uma análise entre os produtores líderes

e os demais produtores nestas duas questões, podemos verificar apenas que os líderes não

olham mais a logística como o grande problema, pois sabem que isto é uma demanda contínua

dos produtores e após o governo resolver estes entraves logísticos com a criação de novas

rotas de escoamento, isto não aliviará muito a renda dos produtores se estes continuarem

dependendo das grandes empresas para o escoamento, comercialização, armazenagem e etc.

Já na segunda questão, tratou das formas para resolver estes problemas apresentados

anteriormente. Mesmo com o aparecimento muito forte da reivindicação de amparo do

governo, a união dos produtores apareceu como um item muito falado, tanto na primeira

solução descrita pelos produtores como na segunda solução.

Figura 11: Primeira solução para os problemas de produção agrícola

Figura 12: Segunda solução para os problemas de produção agrícola

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

Page 31: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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Contar de Nome Região

categoria 1o Melhor forma de organização Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Associação 2 1 2 5

Cooperativa 1 3 4

produtor Associação 1 1 2

Condominio rural 1 1

Cooperativa 4 1 1 6

Total geral 3 7 4 4 18

Outro aspecto que podemos perceber nesta questão é que os produtores líderes,

primeiro apontam como solução a união dos produtores para aumentar o poder de barganha,

para depois reivindicar o apoio governamental, já os demais produtores fazem o contrário.

O interessante nestas duas questões é que o tema associativismo e cooperativismo já

aparece forte quando falamos em resolver os problemas para se produzir grãos no estado de

Mato Grosso. Isso mostra como há espaço para o sistema cooperativista crescer no estado

para fortalecer os produtores rurais.

Outra questão que produziu resultados interessantes foi perguntado qual seria a melhor

forma de organização dos produtores para se unirem para resolverem os produtores de

produção agrícola. Nesta questão a diferença ficou por conta dos lideres preferirem ainda o

formato de Associação ao formato de Cooperativas, diferente dos demais produtores que

apontaram as cooperativas como a melhor opção. Isto se deve, pois estas lideranças

participam da Aprosoja e às vezes acreditam que a Associação pode resolver quaisquer

problema, porém, apoio de ordem comercial a Associação não tem o objetivo de interferir.

Figura 13: Melhor forma de organização para união de produtores

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

A próxima questão avaliou o conhecimento e a opinião particular em relação ao

modelo cooperativista. É uma questão de caráter qualitativo e deixaremos no quadro abaixo as

principais respostas e como estas foram relatadas.

Page 32: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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Contar de Nome Região

categoria Opinião e conhecimento sobre a atuação de cooperativas Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca é a única forma de unir produtores, mas tem que ser bem gerenciada 1 1

gauchada acredita, mas é dificil de estruturar. Precisa unir primeiro todos para depois se

tornar grande 1 1

Imagem negativa, falta profissionalismo 1 1

Interesse no lucro em detrimento da prestação de serviços. Ela deve ter escala reduzida 1 1

Interesse no lucro em detrimento da prestação de serviços. Produtor pobre. Verticalização 1 1

Modelo bom para unir produtores 1 1

O caminho é por ai 1 1 2

produtor Não entende muito, porém não é muito fã 1 1

Não entende nada - pouco conhecimento 2 1 1 4

Pode dar certo, depende da honestidade e precisa de participação 1 1

Pouco conhecimento, mas ouviu falar bem 1 1

Precisa ser de gente de confiança, com conhecimento adm. 1 1

Problema são as diferenças de pensamento 1 1

Total geral 2 7 5 3 17

Contar de Nome Região

categoria Faz parte de coop agrícola? Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Não 1 2 2 2 7

Sim 1 1 1 3

produtor Não 1 6 1 1 9

Sim 1 2 3

Total geral 3 9 6 4 22

Figura 14: Resultados para opinião e conhecimento sobre a atuação em cooperativas.

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

O que podemos verificar são duas tendências claras. A primeira é que o modelo é mal

visto e interpretado pelos produtores e a segunda é que a maioria não tem conhecimento sobre

o tema. Houve até alguns casos de produtores que pediram para pular esta questão, pois não

sabia responder, demonstrando claro desconhecimento em relação ao tema.

Foi questionado também se o produtor participa de alguma cooperativa agrícola e o

resultado mostrou que a maioria não participa, mostrando mais uma vez o espaço para a

criação destas no estado.

Figura 15: Número de produtores que participam de cooperativas agrícolas

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

Page 33: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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Contar de Nome Região

categoria Faz parte de coop. de crédito Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Sim 2 2 3 3 10

produtor Não 2 1 3

Sim 1 5 1 1 8

Total geral 3 9 5 4 21

Contar de Nome Região

categoria 1o O que espera resolver com a participação em cooperativa? Leste Norte Oeste Sul Total geral

lideranca Aumento da renda com redução de custos 1 1 2

Aumento do volume comercializado 1 1

Fazer frente a concorrência com grandes produtores 2 2 4

Solucionar problemas que não consegue resolver sozinho 1 1 1 3

produtor comprar insumos mais facilmente pela coop. 1 1

Fazer frente a concorrência com grandes produtores 2 1 3

Solucionar problemas que não consegue resolver sozinho 1 2 2 1 6

Total geral 3 7 6 4 20

Já quando foi feita a mesma questão em relação à cooperativa de crédito o resposta é

totalmente oposta à resposta anterior. A grande maioria participa das Cooperativas de crédito.

Figura 16: Número de produtores que participam de cooperativa de crédito

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

Logo a seguir foi questionado se o produtor tem interesse de participar de cooperativa

agrícola no futuro e assim apenas dois produtores responderam que não teriam interesse.

Deste grupo que apresentou interesse foi questionado o que ele espera resolver em sua

atividade econômica (produção agrícola) com a participação em cooperativas.

O resultado desta questão foi muito interessante, pois as respostas ficaram divididas

em dois grupos distintos com temas semelhantes, porém pequenas diferenças, que mais a

frente serão explicadas. Os dois grupos de respostas foram:

- Solucionar problemas que não consegue resolver sozinho;

- Fazer frente à concorrência com grandes produtores;

Figura 17: Problemas que espera resolver com a participação em cooperativas.

Fonte: Pesquisa com produtores, 2010

Page 34: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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Isto detecta que além de participar de cooperativa para que a união de produtores

consiga ganhos de comercialização que ele não consegue fazer sozinho, fica destacada a

preocupação com o avanço de grandes produtores no estado. Estes grupos estão crescendo

cada vez mais, através do ganho de escala e possuem a estratégia de arrendar terras de

produtores que estão em dificuldade financeira para crescer ainda mais sua área de produção.

Há grupos que além de pagar o arrendamento em sacas por hectare para os produtores

que são donos da terra, eles ainda pagam um valor, também em sacas por hectare, para os

produtores fazerem toda a operação agrícola na área arrendada. Ou seja, além do produtor não

ser dono de sua terra mais (naquele período do arrendamento) ele ainda tem que plantar,

pulverizar, cuidar, e colher a produção para o arrendatário. Há produtores que acreditam estar

fazendo um bom negócio, pois já tinham um parque de máquinas que iria ficar parado e com

isso conseguem auferir alguma receita com a utilização destas máquinas. Porém, isto é ótimo

para o arrendatário que não precisa imobilizar capital em maquinário e assim consegue

aumentar ainda mais sua lucratividade. Já o produtor, terá um dia que trocar as máquinas

devido ao uso, fazer suas manutenções o que aumenta ainda mais o risco na atividade. Desta

forma o produtor acaba virando um integrado do arrendatário, da mesma foram como fazem

os produtores de aves e suínos com as grandes empresas que processam carnes.

Foram feitas ainda outras perguntas como exemplo após eles responderem sobre o

interesse em fazer parte de cooperativa agrícola no futuro, em que se interessaria que ela

atuasse. A totalidade das respostas era que ela atuasse com compra de insumos e venda de

grãos em conjunto. Outras questões como logística e crédito que imaginaríamos que iriam

aparecer nesta questão não apareceram.

As últimas questões foram já entrando no ambiente operacional da cooperativa e do

cooperado. Devido a isto, muitos produtores disseram que não sabiam responder alguns temas

como exemplo um valor de capital social ou cota de capital para popularizar a Cooperativa e

atrair um grande número de cooperados. Este é um tema importante e estamos trabalhando

para que a cooperativa consiga atrair muitos produtores e que todos tenham a mesma

participação na empresa.

Por fim, foi questionado para os produtores que se a Cooperativa iniciasse hoje,

trabalhando apenas com venda conjunta de soja, qual a porcentagem da soja do produtor

estaria disponível para negociar via cooperativa. O número apresentado pelos produtores foi

Page 35: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

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de 48% na média disponível para esta comercialização. Isto acontece, pois muitos produtores

nesta época já terem negociado boa parte de sua produção, antes mesmo do plantio, para

comprar insumos e saldar outros compromissos de custeio durante a implantação das

lavouras.

Na mesma temática da questão anterior foi questionado qual seria esta porcentagem

disponível para venda da produção de milho dos produtores. Esta já teve uma média maior de

60% do milho disponível para venda em conjunto via Cooperativa. Houve casos de

produtores que disseram que tinham 100% do milho disponível para ser negociado via

Cooperativa. Percebe-se ai uma oportunidade grande de negócios com o milho safrinha dos

produtores, pois há um costume maior de comprar os insumos do milho com recursos

próprios e assim negociar o milho no momento da safra ao contrário da soja que boa parte é

negociada antes da safra.

Já quando a questão se refere no volume que o produtor poderia comprar de sua

necessidade de insumos via cooperativa este número sobe para 76% pois muitos negociam

seus insumos cada safra em lugar diferente, onde estão os melhores negócios. Houve apenas

um caso onde o produtor disse que já tinha o compromisso de um grupo de compra formado

por produtores vizinhos para fazer sempre esta aquisição em conjunto e assim não iria

comprar via cooperativa, apesar do interesse em comercializar grãos com esta.

Portanto este questionário foi finalizado as últimas entrevistas no início de setembro

de 2010 e reflete a realidade da percepção do cooperativismo em cada região do estado e

Mato Grosso.

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5. CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA AUMENTAR O NÚMERO DE

COOPERADOS E COOPERATIVAS NO ESTADO

Após a realização da pesquisa bibliográfica e da pesquisa através de entrevistas com

produtores é possível fazer alguns comentários e modelos de como pode ser a atuação de

Cooperativas e a abordagem de produtores para participação do futuro empreendimento.

Duas coisas são certas na criação de cooperativas no estado. A primeira é que a mesma

deva ter como premissa básica o profissionalismo, estar ancorada em funcionários capacitados

com amplo conhecimento do mercado agrícola e com profunda experiência da atividade dos

produtores, seu dia a dia, suas necessidades e também experiência da atuação das empresas

concorrentes da Cooperativa. A segunda é que ela não procure fazer negócios onde sempre os

melhores preços e oportunidades têm que ser para os cooperados, pois às vezes ela não terá

como vencer a concorrência com grandes empresas. Para isso os produtores têm que ser

educados a entender que mesmo que a cooperativa possa ter um preço mais alto por algum

insumo do que uma Revenda ou Trading ela não pode vender no prejuízo, pois este prejuízo

quem irá pagar no final será o próprio cooperado.

Chegamos, portanto a um aspecto importante que é a educação dos produtores em

temas de cooperativismo e associativismo. Ficou claro nas entrevistas que a grande maioria

dos produtores não conhece muito bem o funcionamento de uma cooperativa e assim não tem

muita opinião sobre o modelo. Portanto é importante a criação de cursos para produtores que

explorem os modelos cooperativistas, mostrem exemplos bem sucedidos e também os mal

sucedidos de cooperativas agrícolas, deixando claro os prós e contras da criação de uma

entidade desta natureza. Nestes cursos, poderiam já haver algum momento de como criar a

cooperativa em si, como desenvolver o estatuto, como fazer o registro, como eleger a primeira

diretoria, quais os funcionários seriam imprescindíveis e etc. Assim haveria após os cursos a

criação de cooperativas padronizadas, que poderiam inclusive fazer parte de uma rede de

cooperativas formando assim um sistema dentro do estado de Mato Grosso onde uma

Cooperativa central congregaria estas Cooperativas regionais aumentando ainda mais o poder

de agrupamento de produtores para aumentar o poder de barganha dos produtores em relação

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às grandes empresas multinacionais do setor. Esta padronização tornaria mais rápido o

processo de ingresso de novos cooperados aumentando a sua adesão.

Esta entidade que criaria uma rede de cooperativas atuaria como mostra o seguinte

diagrama abaixo, onde várias cooperativas se relacionam com uma central de cooperativas

que realiza o negócio com o mercado.

Figura 18: Atuação da rede de Cooperativas no estado de Mato Grosso

Isto facilitaria as coisas para o desenvolvimento de cooperativas no estado, pois como

vimos há ainda muita dificuldade dos produtores se unirem devido às características de

formação do estado e das propriedades rurais relatado anteriormente no texto.

Para a organização destes cursos de sensibilização e capacitação dos produtores um

ponto interessante é conhecer as especificidades de cada região do estado. Um exemplo é a

região Leste do estado, onde constatamos que não existe nenhuma cooperativa atuando e nas

principais cidades da região há possibilidade de criação de cooperativas. Ao contrário disto,

na região Sul do estado tem Cooperativas fortes como a Cooperfibra, Cooperverde, Coaleste,

Coaprima e ainda vários produtores que já se transformaram em empresas e hoje possuem

escritório na cidade de Rondonópolis sendo assim mais organizados, dificultando a criação do

modelo cooperativista nesta região. Portanto a criação de cooperativas deve levar em

consideração o aspecto regional.

Outro aspecto que mostra como pode ser a abordagem dos produtores em relação ao

modelo cooperativista é que muitos precisam ver na proposta de participação da cooperativa

uma melhoria em sua condição econômica, mostrar um ganho imediato que ele pode ter ao

participar. Será importante mostrar uma simulação bem estruturada de como seria um negócio

Coop. Central

Coop

.

MERCADO NACIONAL / INTERNACIONAL

Page 38: Tcc Desafios Do Cooperativismo AgríCola Em Mt Uma Proposta De PopularizaçãO Do Modelo

38

de compra de insumos ou venda de grãos individualmente e o seu comparativo ao fazer o

mesmo negócio via Cooperativa. Para isso é importante mostrar esta comparação ao longo de

anos, pois assim ele pode perceber que o benefício pode não ser imediato, mas em um espaço

de tempo maior ele pode aumentar.

O último item importante para os produtores é a questão da confiança, ele precisa

conhecer quem são as pessoas que estarão à frente da Cooperativa para confiar. Em paralelo a

isso notamos que o produtor gosta de ser bem tratado, ter um ambiente onde ele possa estar,

conversar, buscar informações do mercado, ou seja, é muito importante um local físico para

os produtores se reunirem e também conversarem com os funcionários. Sendo assim, ele

estará em um ambiente que pode ser entendido como a extensão de sua casa, com pessoas que

ele confiará e que o tratará bem.

Por fim outra consideração que o modelo cooperativista pode ter no estado é a criação

de um modelo híbrido entre as cooperativas tradicionais e o formato das cooperativas que

atuam no estado de Mato Grosso citadas anteriormente (Cooperfibra, Coacen). Assim a

cooperativa poderia oferecer o serviço que parece como corretora onde faz lotes de compras

de insumos ou vendas de soja, tendo armazém próprio ou não e também o serviço de comprar

os seus próprios produtos agrícolas em grandes volumes e revender aos cooperados e também

comprar a produção dos cooperados e depois vender no mercado os grãos que já são da

cooperativa.

Fazendo desta forma o produtor poderia ter a opção de trabalhar de duas formas com a

cooperativa, assim isso não mudaria tão drasticamente o seu processo de comercialização que

hoje é feito diretamente com as multinacionais e Revendas e, a Cooperativa agregaria sempre

maior volume de negócios para concorrer com as empresas do mercado.

Podemos então resumir as conclusões que chegamos com este trabalho na forma de

uma tabela que divide recomendações para se aumentar o número de cooperados no estado e

para a formação de novas cooperativas e novos negócios no estado.

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Figura 19: Quadro resumo com as recomendações da pesquisa

Recomendação para:

Atingir mais produtores cooperados Formação das Cooperativas

Sensibilização e capacitação (educação) Profissionalismo (equipe qualificada)

Simulação dos benefícios ao participar Modelo Híbrido de negócios

Confiança nos dirigentes Padronização para facilitar a criação de redes

Cooperativistas

Padronização de documentação para facilitar

o ingresso na Cooperativa

Negócios não são filantrópicos (por vezes os

Cooperados não negociarão com a Coop)

Portanto estas são as considerações em relação às novas cooperativas a serem

desenvolvidas no estado e também sobre a forma de abordagem dos produtores novos

cooperados.

Isto é importante para que as novas cooperativas que venham a surgir não ocasionem

os mesmos erros de outras cooperativas que já existiram no estado e serviram para afugentar

os produtores do modelo. Muito importante também que estes empreendimentos iniciem suas

atividades pensando grande, pois como foi mostrado anteriormente à oferta de grãos

produzidos no estado deverá crescer e os estudos apontam principalmente nas regiões Leste,

Norte e Médio Norte do estado às áreas com maior potencialidade neste crescimento

mostrando que há ai espaço para todos neste mercado.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo: Prentice Hall, 2002.

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Brasília, 2000. v.1, 573p.

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A.(Ed.) Ensaios sobre política agrícola. São Paulo: Secretaria da Agricultura, 1979.

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Edição especial projeções do Agronegócio, Brasília – DF, 2009. Disponível em:

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Cooperativismo / Identidade, Cuiabá – MT, 2008. Disponível em:

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Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, 2002, Disponível em:

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no estado de Mato Grosso., 2003. 68p. Monografia de graduação (Bacharelado em

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Estudo do Perfil socioeconômico e gerencial das cooperativas de Pernambuco. Recife:

Sebrae, 2004.

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ANEXO I

Abaixo segue o questionário completo aplicado com produtores rurais no estado de Mato

Grosso.

1. Quais os problemas mais graves da produção agrícola na sua região (colocar em ordem do

maior problema para o menor)?

____ O acesso ao crédito rural.

____ Falta poder de barganha dos produtores na comercialização.

____ Logística precária.

____ Falta de poder de barganha para a compra de insumos agrícolas

____ Tecnologia de produção agrícola

____ Outra ............

2. De forma geral, como poderiam se resolver estes problemas acima?

____ Apoio governamental.

____ Mais empresas para fomentar a concorrência no estado, reduzindo custos e

preços de serviços.

____ União dos produtores para aumentar o poder de barganha com o ganho de escala.

____ Melhorar e ampliar a pesquisa na produção agrícola

____ Outro .......................

3. Se o produtor respondeu a alternativa c) acima, perguntar qual seria a melhor forma de

organização para unir produtores.

_____ Associação

_____ Cooperativa

_____ Condomínio rural

_____ Sociedade anônima ou Limitada

_____ Outra ....................

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4. O que o senhor conhece sobre a atuação de cooperativas, seu funcionamento e qual sua

opinião sobre as cooperativas agrícolas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________

5. Perguntar sobre casos de sucesso e fracasso de cooperativas na região e em outras regiões

que o produtor conhece.

Sucesso:

___________________________________________________________________________

_______________________________________________

Fracasso:

___________________________________________________________________________

_______________________________________________

6. Faz parte de alguma cooperativa agrícola?

____ Sim _______ Não

7. Em caso positivo, no que atua a cooperativa?

______ Compra de insumos em conjunto

______ Venda da produção em conjunto (inclui armazenagem e processamento)

______ Prestação de serviços em conjunto

______ crédito agrícola em conjunto

______ Outro _________________________________

8. Faz parte de alguma cooperativa de crédito?

_____ Sim ______ Não

9. Se não participa de cooperativa, tem interesse de participar no futuro?

_____ Sim ______ Não

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10. O que espera com a participação em uma cooperativa (na cooperativa que participa ou em

outra no futuro).

____ Solucionar problemas que não consegue resolver sozinho

____ Ser o proprietário de uma grande empresa

____ Fazer frente à “concorrência” com grandes produtores

____ Que a cooperativa seja lucrativa para que sobre recursos para repassar aos

cooperados

____ Outras ....................

11. Você se interessaria em participar de uma cooperativa de abrangência estadual que atuasse

em um dos segmentos abaixo? Qual?

____ Sim ______ Compra de insumos em conjunto

____ Não ______ Venda da produção em conjunto

______ Prestação de serviços em conjunto

______ crédito agrícola em conjunto

______ prestação de serviços em logística

12. Se a cooperativa iniciasse as operações hoje, com venda conjunta de produtos agrícolas,

quanto da produção do senhor estaria disponível para ser comercializada através da

cooperativa?

_________ % Soja

_________ % Milho

13. Se a cooperativa iniciasse as operações hoje, com compra em conjunto de insumos

agrícolas, quanto de sua necessidade de aquisição de insumos poderia ser suprido pela

Cooperativa?

_______ %

14. Qual seria o valor ideal em sacas/ha, que o senhor acredita ser possível, para os

cooperados integralizarem o capital social desta Cooperativa? Se necessário, explicar um

pouco sobre o Capital social.

______ sc/ha