a quimica do cloro e do fluor nas aguas para abastecimento publico

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CAPÍTULO 10 A QUÍMICA DO CLORO E DO FLÚOR NAS ÁGUAS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO 10.1. O CLORO NAS ÁGUAS............................................236 10.1.1. Reações do cloro na água e definições das formas residuais ...............................................................236 10.1.1.1. Dissociação do cloro na água.....................236 10.1.1.2. Reações do cloro com a amônia....................238 10.1.1.3. Reações do cloro com outros compostos............241 10.1.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas ...............................................................241 10.1.3 Determinação de cloro residual em águas.................243 10.1.4. Remoção de cloro.......................................244 10.2. FLUORETO EM ÁGUAS............................................244 10.2.1. Fontes de fluoreto nas águas...........................244 10.2.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas ...............................................................247 10.2.3. Determinação da concentração de fluoreto em águas......249 10.2.4. Remoção de fluoreto....................................249 10.3. QUESTÕES PROPOSTAS...........................................249 10.4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................250

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Page 1: A Quimica Do Cloro e Do Fluor Nas Aguas Para Abastecimento Publico

CAPÍTULO 10

A QUÍMICA DO CLORO E DO FLÚOR NAS ÁGUAS

DE ABASTECIMENTO PÚBLICO

10.1. O CLORO NAS ÁGUAS..................................................................................................236

10.1.1. Reações do cloro na água e definições das formas residuais............................236

10.1.1.1. Dissociação do cloro na água..................................................................236

10.1.1.2. Reações do cloro com a amônia..............................................................238

10.1.1.3. Reações do cloro com outros compostos................................................241

10.1.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas...........................241

10.1.3 Determinação de cloro residual em águas..........................................................243

10.1.4. Remoção de cloro..............................................................................................244

10.2. FLUORETO EM ÁGUAS.................................................................................................244

10.2.1. Fontes de fluoreto nas águas.............................................................................244

10.2.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas...........................247

10.2.3. Determinação da concentração de fluoreto em águas.......................................249

10.2.4. Remoção de fluoreto..........................................................................................249

10.3. QUESTÕES PROPOSTAS.............................................................................................249

10.4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................250

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CAPÍTULO 10

A QUÍMICA DO CLORO E DO FLÚOR NAS ÁGUAS

DE ABASTECIMENTO PÚBLICO

10.1. O CLORO NAS ÁGUAS

10.1.1. Reações do cloro na água e definições das formas residuais

10.1.1.1. Dissociação do cloro na água

O cloro puro, o gás Cl2, quando adicionado à água, se dissocia, segundo a

reação:

Cl2 + H2O HClO + H+ + Cl-

Esta reação praticamente se completa em pH acima de 4,0, ou seja, todo

cloro é transformado em ácido hipocloroso e ácido clorídrico. O agente desinfetante,

isto é, aquele que tem a capacidade de destruir a enzima triosefosfato di-hidrogenase,

essencial na oxidação da glicose e portanto ao metabolismo de microrganismos, é o

ácido hipocloroso. O ácido clorídrico não tem efeito sobre a desinfecção.

Porém, o ácido hipocloroso também se dissocia, produzindo na água o

íon hipoclorito, conforme a reação:

HOCl H+ + OCl-

Pode-se observar que este caso é o de um equilíbrio químico dependente

do pH. Para valores de pH acima de 7,0 prevalece o íon hipoclorito e, abaixo de 7,0, o

ácido hipocloroso não dissociado. Isto é importante porque o ácido hipocloroso é um

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desinfetante muito superior quando comparado com seu íon. Portanto, deve-se procurar

pH inferior a 7,0 para a cloração das águas, porém apenas ligeiramente, pois em pH 6,5

a porcentagem de HOCl é superior a 90%. É importante que não se ultrapasse o valor de

7, pois o processo se inverte e a desinfecção perde eficiência. O estudo deste equilíbrio,

através dos valores de sua constante em função da temperatura, resulta nas seguintes

proporções entre as duas frações, em função do pH (Figura 10.1):

Figura 10.1. Efeito do pH na distribuição de ácido hipocloroso e

íon hipoclorito na água. Fonte: CETESB (1978).

Em pequenas estações tratamento de água (ETA) é preferível o uso do

cloro em solução do que o cloro puro, evitando-se o manuseio dos cilindros contendo o

gás sob pressão e os riscos de acidentes nos sistemas de dosagem. O hipoclorito de

sódio e o de cálcio são utilizados nestes casos e tem-se as seguintes reações:

NaOCl + H2O Na+ + OCl- + H2O

Ca(OCl)2 + H2O Ca+2 + 2 OCl- + H2O

H+ + OCl- HOCl

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Do cloro aplicado, ou cloro dosado na água, parte é consumida

satisfazendo a sua ação oxidante, o que é chamado cloro consumido ou demanda de

cloro, e parte permanece como residual. Define-se cloro residual livre como sendo o

cloro presente na água, após a ação oxidante na ETA, nas formas do ácido hipocloroso

ou do íon hipoclorito.

10.1.1.2. Reações do cloro com a amônia

Se a amônia estiver presente na água, poderão ocorrer reações

sequenciais de formação de cloraminas. Inicialmente, o cloro reage com a amônia

formando a monocloramina, conforme a reação:

NH4 + HOCl NH2Cl + H2O + H+

Prosseguindo-se a adição de cloro, a monocloramina se converte em

dicloramina, conforme a reação:

NH2Cl + HOCl NHCl2 + H2O

Adicionando-se mais cloro, a dicloramina converte-se em tricloramina

ou tricloreto de nitrogênio, conforme a reação:

NHCl2 + HOCl NCl3 + H2O

Em valores de pH superiores a 8,5 prevalece praticamente só

monocloramina. Abaixo deste valor, ocorrem dicloramina e tricloroamina, sendo que a

dicloramina prevalece quase exclusivamente na faixa de pH entre 4,5 e 5,5. Em pH

abaixo de 4,5 prevalece somente tricloramina.

Define-se cloro residual combinado como sendo o cloro presente na água

nas formas de mono, di e tricloramina. Na cloração com cloro combinado, deve-se

procurar otimizar a formação de dicloraminas que são melhores desinfetantes. Em uma

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escala mais ampla de poder de desinfecção, tem-se, em ordem decrescente: dióxido de

cloro (ClO2), ácido hipocloroso, íon hipoclorito, dicloramina, monocloramina e

tricloreto de nitrogênio cujo poder desinfetante é praticamente nulo.

Continuando-se a marcha de aplicação de dosagens crescentes de cloro

em águas contendo amônia, a monocloramina decompõe-se na presença de excesso de

cloro, segundo a reação:

2NH2Cl + HOCl N2 + 3HCl + H2O

Quando existe apenas dicloramina, esta tende a se decompor, formando

HOCl, conforme:

2NHCl2 N2 + 2HCl + Cl2

Cl2 + H2O HOCl + HCl

Quando existe mono e dicloramina, ocorre também decomposição,

havendo tendência de desaparecimento da forma que estiver presente inicialmente em

menor quantidade:

NH2Cl + NHCl2 N2 + 3HCl

Quando existem em solução quantidades apreciáveis de monocloramina,

o NCl3 se decompõe, segundo a reação:

NCl3 + H2O NHCl2 + HCl

De uma maneira global, pode-se representar a destruição das cloraminas

pelo excesso de cloro, através da reação simplificada:

2NH3 + 3Cl2 N2 + 6HCl

Os fenômenos acima descritos podem ser representados graficamente,

conforme a Figura 10.2.

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Figura 10.2. Curva de cloro residual mostrando um "break-point"

típico. Conteúdo de nitrogênio amoniacal na água, 1,0

mg/L. Fonte: CETESB (1978).

Nesta figura, o ramo ascendente da curva de cloração indica que as

cloraminas estão sendo formadas e o trecho descendente mostra sua destruição, ou seja,

a transformação em compostos inertes sob o ponto de vista da desinfecção.

Há situações em que se pode desejar clorar uma água com cloro residual

combinado. São os casos onde a rede de distribuição é longa, e o cloro livre, por ser

mais instável, é consumido antes de chegar aos pontos de consumo mais desfavoráveis,

ou o caso de águas contendo fenóis, cresóis ou tanino, pois, após a cloração, os

clorofenóis formados desenvolvem sabor e odor na água tratada. Nestes casos, deve-se

dosar cloro até o ponto de formação máxima das cloraminas.

Por outro lado, nos casos em que, embora a água contenha amônia, se

deseja clorar com cloro residual livre, deve-se dosar cloro até o ponto de inflexão

correspondente à destruição total das cloraminas. Esta técnica é denominada cloração ao

“break-point”.

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10.1.1.3. Reações do cloro com outros compostos

O cloro reage com outros compostos orgânicos e inorgânicos, em

decorrência de sua ação oxidante, como são os casos do ferro, manganês, nitrito e

sulfeto. Para este último a reação é:

H2S + 4Cl2 + 4H2O H2SO4 + 8HCl

O cloro oxida também compostos orgânicos, conforme o exemplo:

Cl Cl| |

- C = C - + Cl2 - C - C -| | | |H H H H

10.1.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas

O cloro é um agente desinfetante largamente utilizado no Brasil, onde

desinfecção praticamente confunde-se com cloração. Pode ser aplicado em diversos

pontos do sistema de tratamento de águas, com diferentes finalidades. Assim, na etapa

de coagulação e floculação, recorre-se à sua ação oxidante para melhorar a formação

dos flocos, por exemplo, em águas contendo ferro e, consequentemente, cor elevada, e

que apresentem turbidez baixa.

Esta chamada pré-cloração, entretanto, é a aplicação mais discutível do

cloro, por possibilitar reações com compostos orgânicos que estiverem presentes

(principalmente os ácidos húmico e fúlvico), dando origem aos chamados

trihalometanos (THMs), cujos indícios de serem carcinogênicos são muito fortes. O

clorofórmio, HCCl3, é o principal exemplo de THM. O padrão de potabilidade para

THMs é de 100 g/L, com forte tendência a ser reduzido nas próximas revisões da

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legislação vigente. Estudos epidemiológicos realizados nos EUA têm conduzido à

necessidade de se reduzir esse padrão para 10 g/L. Assim, sistemas de abastecimento

de água que atendem aos padrões atuais poderiam ter sérias dificuldades para atender a

este padrão mais restritivo.

A aplicação do cloro à entrada dos filtros é denominada cloração

intermediária e tem por objetivo evitar desenvolvimentos biológicos que possam

obstruir o leito filtrante.

É a cloração da água final tratada, ou pós-cloração, que garante a

presença do cloro na água até os pontos de consumo, garantindo a sua qualidade

biológica. Aliás, esta é uma das vantagens do uso do cloro com relação a outros

processos de desinfecção que não tenham ação residual.

Embora a desinfecção pelo cloro não deva ser entendida como

esterilização, uma vez que algumas espécies (como as amebas, por exemplo) resistem à

sua ação, garante-se com a cloração boa proteção contra os agentes das chamadas

doenças de veiculação hídrica, tais como: disenterias, cólera, esquistossomose, febres

tifóide e paratifóide, hepatite, etc.

A cloração não é um processo muito recomendável para a desinfecção de

esgotos, devendo ser indicada apenas em situações de emergência. Especialmente os

esgotos brutos ou “in natura” e até mesmo os esgotos tratados em nível secundário, são

muito ricos em partículas com dimensões suficientes para incorporar os microrganismos

em suas estruturas, protegendo-os, por conseguinte, da ação do cloro. Além disso, o

excesso de cloro provoca efeitos adversos aos ecossistemas aquáticos dos corpos

receptores, trazendo prejuízos inclusive para a fauna ictiológica. Apesar das elevadas

concentrações de matéria orgânica, os compostos precursores da formação de THMs

não estão presentes em quantidades significativas nos esgotos.

Uma aplicação interessante de cloro é no controle de intumescimento dos

lodos ativados devido ao desenvolvimento excessivo de organismos filamentosos, o que

provoca a flutuação do lodo nos decantadores secundários e a perda acentuada de

sólidos biológicos com o efluente final. A aplicação de dosagem correta de cloro no

tanque de aeração resulta na oxidação de filamentos sem que ocorra destruição celular.

Assim, melhora-se a floculação sem perda de atividade biológica. Todavia, esta adição

química tem que ser muito bem controlada, pois do contrário pode-se até mesmo levar o

sistema ao colapso.

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10.1.3 Determinação de cloro residual em águas

Na maior parte das aplicações práticas, o cloro residual é determinado

através de processos colorimétricos de comparação visual. Existe o método da

ortotolidina que reage com o cloro formando um complexo de coloração amarela. O uso

em conjunto de arsenito de sódio permite a distinção entre os residuais livre e

combinado. O método apresenta a dificuldade de ter-se que trabalhar com compostos

tóxicos. O método de comparação visual atualmente mais empregado é o do DPD, que

reage com o cloro formando complexo de coloração roxa.

O cloro pode ser determinado também através de titulação com

tiossulfato de sódio (titulação de óxido-redução: iodometria): adiciona-se iodeto de

potássio ao meio, que também deve ser acidificado com ácido acético, e o indicador é o

amido (viragem de azul para incolor).

Através de procedimento semelhante pode-se obter uma solução caseira

indicadora de cloro. Basta misturar cristais de iodeto de potássio (disponível em

farmácias), amido (goma, maizena, etc) e vinagre. Adicionando-se gotas desta solução à

amostra de água, se ela contiver cloro deverá se tornar azulada, do contrário, deverá

permanecer incolor. Este procedimento pode ser utilizado para a realização de precários

testes de demanda de cloro, adicionando-se quantidades crescentes de cloro em diversos

frascos com volumes iguais da amostra de água, observando-se após meia hora de

contato a presença e a intensidade da coloração azulada. Água incolor significa que todo

cloro foi consumido e, por outro lado, azul muito intenso pode significar residual muito

alto de cloro.

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10.1.4. Remoção de cloro

O cloro residual pode ser removido por processo de adsorção,

empregando-se carvão ativado, ou por processos de oxi-redução empregando-se por

exemplo o tiossulfato de sódio que reage com o cloro, segundo a seguinte reação:

2Na2S2O3 + Cl2 Na2S4O6 + 2NaCl + 10H2O

10.2. FLUORETO EM ÁGUAS

10.2.1. Fontes de fluoreto nas águas

O flúor é o mais eletronegativo de todos os elementos químicos, tão

reativo que nunca é encontrado em sua forma elementar na natureza, sendo

normalmente encontrado na sua forma combinada como fluoreto. O flúor é o 17o

elemento em abundância na crosta terrestre, representando de 0,06 a 0,9 % e ocorrendo

principalmente na forma de fluorita (CaF2), fluoroapatita (C10(PO4)6) e criolita

(Na3AlF6). Porém, para que haja disponibilidade de fluoreto livre, ou seja, disponível

biologicamente, são necessárias condições ideais de solo, presença de outros minerais

ou outros componentes químicos e água.

Traços de fluoreto são normalmente encontrados em águas naturais e

concentrações elevadas geralmente estão associadas com fontes subterrâneas. Em locais

onde existem minerais ricos em flúor, tais como próximos a montanhas altas ou áreas

com depósitos geológicos de origem marinha, concentrações de até 10 mg/L ou mais

são encontradas. A maior concentração de flúor registrada em águas naturais é de 2.800

mg/L, no Quênia.

Na Tabela 10.1 são apresentadas concentrações de fluoreto em águas

subterrâneas do Estado de São Paulo.

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Tabela 10.1. Concentrações de Fluoreto em Águas Subterrâneas do

Estado de São Paulo.

Município Número do Poço F- (mg/L)Riolândia 6/03 8,20Santa Albertina 13/14 4,40Barretos 58/21 2,50Coroados 91/11 5,00Itápolis 140/05 2,20Santo Expedito 153/04 4,40Queiroz 158/07 4,40Arealva 163/07 3,00Presidente Prudente 177/82 11,60Presidente Prudente 177/82 10,50Presidente Prudente 177/82 13,30Presidente Prudente 177/82 9,80Leme 193/02 7,10Leme 193/16 3,50Teodoro Sampaio 200/06 9,20Rio Claro 247/07 6,60Rio Claro 218/04 2,10Araras 220/22 2,68Piracicaba 246/10 3,60Piracicaba 247/21 4,90Cosmópolis 249/11 5,60Jaguariúna 249/36 6,40Anhembi 273/03 10,40Conchas 274/05 8,57Campinas 277/60 3,90Bofete 297/06 17,60Pereiras 298/02 8,00Pereiras 298/02 3,20Pereiras 298/12 5,14Pereiras 298/13 6,80Campo Limpo 302/278 2,50Taubaté 307/01 2,50São Paulo 343/2541 8,90São Paulo 343/3046 4,40São Paulo 343/2659 2,60Carapicuíba 342/921 2,10Cubatão 363/10 2,20Colômbia 371/03 2,40

Fonte: Berenhauser (2000).

Nos rios e represas que são utilizados como fonte de água bruta para água

de abastecimento público, não são encontradas quantidades significativas de fluoreto

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para atender às exigências em termos de saúde pública e, portanto, é necessário

adicionar, no final do processo de tratamento da água, quantidade suficiente para suprir

esta deficiência. As águas tratadas que contêm fluoreto, quando adicionado

artificialmente, têm o objetivo de combate à cárie dentária. Quatro principais compostos

contendo fluoreto podem ser utilizados nas estações de tratamento de água, cujas

características são (Tabela 10.2):

Tabela 10.2. Características dos compostos que contêm fluoreto.

Compostos

Características

Fluossilicato de Sódio(Na2SiF6)

Fluoreto de Sódio (NaF)

Fluoreto de Cálcio (CaF2)

Ácido Fluossilícico

H2SiF6

Forma pó pó pó líquido

Peso Molecular (g) 188,05 42,00 78,08 144,08

% Pureza (comercial) 98,5 90-98 85-98 22-30

% Fluoreto (composto

100% puro)

60,7 45,25 48,8 79,02

Densidade (kg/m3) 881-1153 1041-1442 1618 1,25(kg/L)

Solubilidade a 25C

(g/100g H2O)

0,762 4,05 0,0016 infinita

pH solução saturada 3,5 7,6 6,7 1,2 (sol. 1%)

O fluossilicato de sódio era o composto mais utilizado, tendo sido

substituído pelo ácido fluossilícico em diversas estações de tratamento de água. Apesar

da corrosividade do ácido, o fato de se apresentar na forma líquida facilita a sua

aplicação, que se torna importante porque e o controle seguro das dosagens é condição

fundamental para a fluoretação. O fluoreto de sódio é muito caro e o fluoreto de cálcio,

pouco solúvel.

Alguns efluentes industriais também descarregam fluoreto nas águas

naturais. São os casos das indústrias de vidro e de fios condutores de eletricidade.

No ar, a presença de fluoreto deve-se principalmente a emissões

industriais e sua concentração varia com o tipo de atividade. Estima-se um valor de

exposição abaixo de 1 g/L, pouco significativo em relação à quantidade ingerida

através da água e de alimentos. Todos os alimentos possuem ao menos traços de

fluoreto. Os vegetais possuem concentrações maiores principalmente devido à absorção

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da água e do solo. Alguns alimentos tais como peixes, certos vegetais e chá, possuem

altas concentrações de fluoreto. O uso da água fluoretada na preparação de alimentos

pode dobrar a quantidade de fluoreto presente. Estima-se uma quantidade diária ingerida

de 0,2 a 3,1 mg para adultos e 0,5 mg para crianças de 1 a 3 anos.

Outras fontes de fluoreto são as pastas de dente, gomas de mascar,

vitaminas e remédios. O uso tópico de fluoreto contribui para uma absorção maior. O

fluoreto ingerido através da água é quase completamente absorvido pelo corpo humano,

enquanto que o flúor presente nos alimentos não é totalmente absorvido; em alguns

casos, como através de peixes e outras carnes, chega apenas a 25%. Uma vez absorvido,

o fluoreto é distribuído rapidamente pelo corpo humano, grande parte é retida nos ossos,

enquanto que uma pequena parte é retida nos dentes. O fluoreto pode ser excretado pela

urina e sua excreção é influenciada por uma série de fatores tais como o estado de saúde

da pessoa e seu grau de exposição a esta substância.

10.2.2. Importância nos estudos de controle de qualidade das águas

O fluoreto é adicionado às águas de abastecimento público para conferir-

lhes proteção à cárie dentária. O fluoreto reduz a solubilidade da parte mineralizada do

dente, tornando-o mais resistente à ação de bactérias e inibe processos enzimáticos que

dissolvem a substância orgânica protéica e o material calcificante do dente. Constitui-se

também em meio impróprio ao desenvolvimento de Lactobacilus acidophilus.

Por outro lado, acima de certas dosagens o fluoreto provoca a fluorose

dentária, ou seja, o mosqueamento do esmalte dos dentes. O assunto até hoje ainda é

polêmico entre os especialistas, sendo que os odontólogos sanitaristas contrários à

fluoretação em águas de abastecimento, alertam para a possibilidade de ocorrência de

outros problemas como a descalcificação de ossos de idosos, a chamada fluorose óssea.

Freqüentemente ocorrem novas propostas para a administração alternativa de fluoreto.

Nesse sentido, a fluoretação das águas deve ser executada sob controle

rigoroso, utilizando-se bons equipamentos de dosagem e implantando-se programas

efetivos de controle de residual de fluoreto na rede de abastecimento de água, o que nem

sempre tem acontecido.

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Os benefícios da aplicação de fluoreto em águas para a prevenção da cárie

dentária são inquestionáveis. Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos demonstram

que, para as condições lá existentes, os seguintes resultados podem ser esperados: o

índice utilizado é o “c.p.o.”, ou seja, número de dentes cariados, perdidos e obturados

por cem crianças. Os estudos são conclusivos de que, para concentrações de fluoreto

acima de 1,5 mg/L, ocorre aumento na incidência da fluorose dentária; para

concentrações de fluoreto da ordem de 1,0 mg/L, ocorre redução do c.p.o. da ordem de

60% sem ocorrer fluorose; para concentrações de fluoreto menores que 1,0 mg/L,

ocorrem menores reduções percentuais na redução da cárie.

Na verdade, o que é necessária é a ingestão de 1,5 mg/dia de fluoreto, o

que para um consumo de água de 1,2 a 1,6 litros por dia, resulta em concentrações da

ordem de 1,0 mg/L. A Organização Mundial de Saúde considera 1,5 mg/L o valor

máximo permissível. A rigor, o consumo de água varia com a temperatura do local,

devendo ser recomendadas as seguintes dosagens de fluoreto (Tabela 10.3):

Tabela 10.3. Dosagens recomendadas de fluoreto.

TEMPERATURA MÉDIA ANUAL DAS MÁXIMAS

DIÁRIAS (C)

LIMITES RECOMENDADOS DE FLUORETO (ppm)

INFERIOR ÓTIMO SUPERIOR10 - 12,1 0,9 1,2 1,7

12,2 - 14,6 0,8 1,1 1,5

14,7 - 17,7 0,8 1,0 1,3

17,8 - 21,4 0,7 0,9 1,2

21,5 - 26,3 0,7 0,8 1,0

26,4 - 32,5 0,6 0,7 0,8

Para o Brasil, que apresenta temperaturas elevadas, a dosagem

recomendada é de 0,7 ppm.

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10.2.3. Determinação da concentração de fluoreto em águas

Para a determinação de fluoreto, podem ser utilizados métodos

colorimétricos. Existe o método de comparação visual empregando-se a alizarina, que

forma complexo amarelo na presença de fluoreto. Pode-se também recorrer ao método

do reagente SPADNS que, na presença de fluoreto, forma um complexo avermelhado

que pode ser determinado por espectrofotometria. Existe ainda o método eletrométrico

com eletrodo de íon seletivo para a determinação direta de fluoreto.

10.2.4. Remoção de fluoreto

Podem ocorrer águas naturais com níveis de fluoreto acima dos valores

desejados para abastecimento público, bem como os efluentes industriais que os contém

devem ser tratados antes do lançamento nas águas naturais. São disponíveis, para a

remoção de fluoreto, processos à base de adsorção, empregando-se alumina ativada.

Existe também o método da adsorção em farinha de osso, que pode produzir bons

resultados com vantagens econômicas. A precipitação com cálcio pode resolver o

problema apenas parcialmente, sendo usado geralmente associada a outros processos.

Recentemente, tem-se recomendado o emprego da osmose reversa que, além de

eficiente, permite a recuperação do fluoreto para uso em outros sistemas de

abastecimento de água.

10.3. QUESTÕES PROPOSTAS

1. Definir: a) demanda de cloro; b) cloro residual; c) cloro residual livre e d) cloro

residual combinado.

2. Com base no equilíbrio do ácido hipocloroso na água, o que pode ser dito sobre a

influência do pH no processo de desinfecção com cloro residual livre?

3. Explicar a evolução do processo de cloração de uma água contendo nitrogênio

amoniacal.

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4. Dê exemplo de aplicações em saneamento que podem decorrer da ação oxidante do

cloro.

5. Em que casos típicos a pré-cloração de águas para abastecimento público é

necessária e por que ela deve ser evitada?

6. Que dificuldades podem ser esperadas na aplicação de cloro na desinfecção de

esgotos sanitários?

7. Por que a fluoretação de águas para abastecimento público deve ser um processo

bem controlado?

10.4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. APHA, AWWA, WEF, “Standard Methods for the Examination of Water and

Wastewater”. 20th ed. Washington. 2000.

2. BERENHAUSER, A.H., “Remoção de fluoreto de águas para abastecimento

público através do processo de osmose reversa”. Faculdade de Saúde Pública

da USP, 2000.

3. CETESB, “Técnicas de Abastecimento e Tratamento de Águas – Volume II”.

CETESB/ASCETESB. 2ª ed. 1988.

4. KATO, M.T., “Cloro Residual”. Curso Qualidade da Água, do Ar e do Solo. Escola

de Engenharia Mauá. São Caetano do Sul/SP, 1983.

5. KATO, M.T., “Fluoretos”. Curso Qualidade da Água, do Ar e do Solo. Escola de

Engenharia Mauá. São Caetano do Sul/SP, 1983.

6. MINISTÉRIO DA SAÚDE, “Portaria 518/2004. Controle e Vigilância da Qualidade

da Água para Consumo Humano e seu Padrão de Potabilidade”. Brasília,

Fundação Nacional da Saúde, 2004.

7. POVINELLI, J., Curso “Técnicas Experimentais em Saneamento Ambiental”, do

Curso de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento. Escola de

Engenharia de São Carlos – USP, 1979.

8. ROCHA, A.A., “Efeitos dos poluentes encontrados nos efluentes de uma

galvanoplastia”. REVISTA DAE nº 130 (42): 89-93, 1982.

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9. SAWYER, C.N., Mc CARTY, P.L. e PARKIN, G.F. “Chemistry for Environmental

Engineering”, Mc Graw-Hill International Editions. Civil Engineering Series,

4th ed., 1994.

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