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51 RESUMO Rev. Sociol. Polít. , Curitiba, 16, p. 51-66, jun. 2001 A QUESTÃO DA CENTRALIDADE EM SÃO PAULO: O PAPEL DAS ASSOCIAÇÕES DE CARÁTER EMPRESARIAL 1 Neste artigo pretende-se discutir uma série de questões referentes à centralidade no contexto urbano de São Paulo. Nosso objetivo é determinar: a) como os principais grupos privados se organizam para definir a localização espacial do moderno setor terciário; b) como tais organizações pressionam o poder público, visando obter benefícios de infra-estrutura de equipamentos urbanos; c) quais são as respostas concretas dos poderes públicos; e d) quais são os principais grupos sociais, oriundos das classes populares, mais atingidos por esse jogo de interesses. PALAVRAS-CHAVE: centro urbano; requalificação; associativismo empresarial; espaço público. I. INTRODUÇÃO: AINDA É POSSÍVEL UM MAPA DAS MEGACIDADES? Pode-se iniciar essa abordagem a partir do debate entre Edward Soja e Néstor Canclini quanto aos limites de se traçar visões totalizantes sobre nossas megacidades, sem pretender abranger as principais referências da enorme literatura disponível sobre as metrópoles contemporâneas. Inspirado no caso de Los Angeles, o geógrafo Edward Soja – um dos representantes da Los Angeles School 2 – afirma que o processo espraia- do e polinuclear de descentralização, típico da geografia das grandes cidades capitalistas desde o século XIX, vem sendo substituído por um processo ao mesmo tempo descentralizador e recentralizador, onde simultaneamente se observa Heitor Frúgoli Jr. Universidade Estadual Paulista tanto a ascensão da “cidade externa” – vide as assim chamadas edge cities (ou “cidades de contorno”) 3 –, quanto o “renascimento do centro da cidade” (SOJA, 1993, p. 252-258). Assim, por um lado, Soja retoma a importância do centro nesse processo, pois esse define e dá substância à especificidade do urbano, conferindo seu sentido social e espacial singular, dado, in- clusive, que somente com uma centralidade persistente é que pode haver cidades externas e urbanização periférica (SOJA, 1993, p. 281-282; 1992, p. 95). Mas, por outro lado, o autor ressalta como o processo de reestruturação urbana tem resultado, no caso de Los Angeles, na acentuação de uma descentralização que se expressa em forte segre- gação e segmentação urbana em termos de etnia, classes e mesmo de categorias ocupacionais. Dessa forma, verifica-se a formação cada vez mais acentuada de uma cidade multipolar por excelência, onde a própria possibilidade de uma totalização reflexiva estaria impossibilitada, com a constatação – frente a um texto geográfico abundante, com múltiplos sentidos e significações – de uma paisagem pós-moderna, compreensível, por sua vez, somente através de uma geografia crítica pós- 1 Artigo originalmente apresentado na sessão “Metro- polização, centralidade e agentes urbanos” durante o Simpósio Cidade e poder, realizado entre 23 e 24 de abril de 2001 na Universidade Federal do Paraná, promovido pela Revista de Sociologia e Política e pelo Grupo de Estudos Cidade, Poder e Sociedade, sob coordenação do Prof. Dr. Nelson Rosário de Souza. Os principais argumentos deste artigo baseiam-se na pesquisa de minha tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo em 1998 e publicada em 2000 sob o título Centralidade em São Paulo (FRÚGOLI JR., 2000). 2 Sobre os principais fundamentos dessa escola, cf. Cenzatti (1993). 3 São sobretudo enclaves de alta renda que vêm formando espécie de “cidades à parte” nas áreas mais periféricas do contexto urbano norte-americano (cf. GARREAU, 1991).

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RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 16, p. 51-66, jun. 2001

A QUESTÃO DA CENTRALIDADE EM SÃO PAULO:O PAPEL DAS ASSOCIAÇÕES DE CARÁTER EMPRESARIAL1

Neste artigo pretende-se discutir uma série de questões referentes à centralidade no contexto urbano de SãoPaulo. Nosso objetivo é determinar: a) como os principais grupos privados se organizam para definir alocalização espacial do moderno setor terciário; b) como tais organizações pressionam o poder público,visando obter benefícios de infra-estrutura de equipamentos urbanos; c) quais são as respostas concretasdos poderes públicos; e d) quais são os principais grupos sociais, oriundos das classes populares, maisatingidos por esse jogo de interesses.

PALAVRAS-CHAVE: centro urbano; requalificação; associativismo empresarial; espaço público.

I. INTRODUÇÃO: AINDA É POSSÍVEL UMMAPA DAS MEGACIDADES?

Pode-se iniciar essa abordagem a partir dodebate entre Edward Soja e Néstor Canclini quantoaos limites de se traçar visões totalizantes sobrenossas megacidades, sem pretender abranger asprincipais referências da enorme literaturadisponível sobre as metrópoles contemporâneas.

Inspirado no caso de Los Angeles, o geógrafoEdward Soja – um dos representantes da LosAngeles School2 – afirma que o processo espraia-do e polinuclear de descentralização, típico dageografia das grandes cidades capitalistas desdeo século XIX, vem sendo substituído por umprocesso ao mesmo tempo descentralizador erecentralizador, onde simultaneamente se observa

Heitor Frúgoli Jr.Universidade Estadual Paulista

tanto a ascensão da “cidade externa” – vide asassim chamadas edge cities (ou “cidades decontorno”)3 –, quanto o “renascimento do centroda cidade” (SOJA, 1993, p. 252-258).

Assim, por um lado, Soja retoma a importânciado centro nesse processo, pois esse define e dásubstância à especificidade do urbano, conferindoseu sentido social e espacial singular, dado, in-clusive, que somente com uma centralidadepersistente é que pode haver cidades externas eurbanização periférica (SOJA, 1993, p. 281-282;1992, p. 95).

Mas, por outro lado, o autor ressalta como oprocesso de reestruturação urbana tem resultado,no caso de Los Angeles, na acentuação de umadescentralização que se expressa em forte segre-gação e segmentação urbana em termos de etnia,classes e mesmo de categorias ocupacionais.Dessa forma, verifica-se a formação cada vez maisacentuada de uma cidade multipolar por excelência,onde a própria possibilidade de uma totalizaçãoreflexiva estaria impossibilitada, com a constatação– frente a um texto geográfico abundante, commúltiplos sentidos e significações – de umapaisagem pós-moderna, compreensível, por suavez, somente através de uma geografia crítica pós-

1 Artigo originalmente apresentado na sessão “Metro-polização, centralidade e agentes urbanos” durante o SimpósioCidade e poder, realizado entre 23 e 24 de abril de 2001 naUniversidade Federal do Paraná, promovido pela Revista deSociologia e Política e pelo Grupo de Estudos Cidade, Poder eSociedade, sob coordenação do Prof. Dr. Nelson Rosário deSouza. Os principais argumentos deste artigo baseiam-se napesquisa de minha tese de doutorado, defendida no Programade Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de SãoPaulo em 1998 e publicada em 2000 sob o título Centralidadeem São Paulo(FRÚGOLI JR., 2000).

2 Sobre os principais fundamentos dessa escola, cf. Cenzatti(1993).

3 São sobretudo enclaves de alta renda que vêm formandoespécie de “cidades à parte” nas áreas mais periféricas docontexto urbano norte-americano (cf. GARREAU, 1991).

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moderna (SOJA, 1993, p. 298)4. Assim, para oautor, a pós-modernidade não seria apenas umaetapa cultural do capitalismo de acumulaçãoflexível, como defende David Harvey (1992, p.45-67; JAMESON, 1984), mas uma nova realidadesocial e espacial, cuja compreensão exigiria ummétodo no qual a geografia teria total preponde-rância sobre a história.

Os estudos de outras megacidades, entretanto,permitem ampliar e relativizar visões sobre essetema. Grandes cidades da América Latina vêmpassando por diferentes processos de moderni-zação, cujas contradições e paradoxos, ligados aosdifíceis quadros sociais, são elementos constitu-tivos (BERMAN, 1986; HOLSTON, 1993). O casoda Cidade do México – dotada de algumascaracterísticas metropolitanas muito próximas dasde São Paulo – fornece também alguns pontospara reflexão.

Com relação a essa que é hoje a maior cidadeem população no mundo, Néstor García Cancliniaponta que seu imenso crescimento pauta-se porum declínio de qualquer foco organizador dourbano. Nesse sentido, é uma “cidade sem mapa”,sobretudo em termos da possibilidade da plenaapreensão antropológica de uma cidade bastantedisseminada. Desse modo, Canclini assume que acrise da cidade é homóloga à crise da antropologia,o que exige um método de análise que contemplesimultaneamente as dimensões locais e globais5,recorrendo-se também a outras disciplinas naconstrução de objetos de pesquisa. Isso entretantonão o aproxima de uma perspectiva analítica pós-moderna, inclusive porque tal referencial implicariaposições políticas problemáticas. Ao contrário davisão mais otimista de Edward Soja com relação àdispersão e multiplicidade presentes em Los An-geles – para ele signos de um avanço liberalizante,no sentido mesmo de um descentramento dopoder –, Canclini lembra que as megacidades latino-americanas têm heranças históricas gravíssimas,como pobreza ampliada, inundações e desaba-mentos, deterioração ambiental etc. – cuja multi-polaridade e pluralidade descentrada poderia nosencaminhar a uma desintegração, o que apenasacentuaria um quadro já profundamente preocu-pante (CANCLINI, 1993, p. 120-122; 1995, p.

88-97).

Quanto ao centro da Cidade do México,Canclini apresenta-o como um espaço marcadopelo declínio da densidade populacional, sobretudode moradores, com a intensificação de usos maislucrativos – comerciais e turísticos. Sua área agre-ga, por um lado, um rico e significativo patrimôniohistórico, além de espaços públicos de fortesimbologia, como o Zócalo. Por outro lado, aprópria área central cria um vetor de expansãourbana rumo a uma região com escritórios co-merciais e financeiros que deixaram o centrohistórico (incluindo muitas instituições culturaisde peso) (CANCLINI, 1993, p. 113).

II.OS CENTROS EM COMPETIÇÃO NA ME-TRÓPOLE CONTEMPORÂNEA

Tendo em vista o contraponto entre os doisautores até aqui abordados – Soja e Canclini –pode-se constatar como o desenvolvimento dametropolização envolve o surgimento de outrasáreas urbanas, que passam tanto a competir coma área central, como a configurar uma realidademultipolar – ainda que nos Estados Unidos talprocesso dê-se com certas especificidades. Issoimplica tanto distintos arranjos da relação entre ocentro e as outras áreas metropolitanas(RYBCZYNSKI, 1997), como diferentes visõessobre os desdobramentos desse processo, ondeestá em jogo o significado da própria urbanidade.

Em muitos casos é apropriado afirmar que arealidade metropolitana é hoje marcada por centrosou pólos em competição, cuja força de cada um –seja o antigo centro, sejam os subcentros poste-riores – difere a partir do dinamismo econômico,do conjunto de empresas que abarcam, daspolíticas do poder público quanto ao desenvol-vimento metropolitano e dos grupos sociais que,com diferentes intuitos, situam-se nessas áreas.Nesse sentido, uma análise não apenas da áreacentral, mas comparando centros que competempor determinada hegemonia dentro da metrópole,pode revelar como se relacionam diversos projetose concepções urbanas em jogo, com influênciasem temas como a vida urbana, a interação social eo tipo de metrópole resultante dessa competição.

As questões até aqui situadas podem serpensadas para o caso de São Paulo, quanto aodesenvolvimento de sua centralidade. Ainda queno processo geral de expansão urbana possaobservar-se uma forte tendência à dispersão e àdescentralização, é impossível postular que isso

4 Para uma recente abordagem a respeito do urbanismo pós-moderno na Los Angeles School, cf. Dear (2000).

5 Cf. o amplo debate a respeito em Marcus (1998).

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signifique a perda de um “centro”, mesmo quenão se possa mais falar, no caso paulistano, emuma única centralidade, de feição tradicional ehistórica. Persiste, de toda forma, a importânciaconstitutiva do papel desenvolvido pela centra-lidade no contexto urbano, porém em novostermos.

O desdobramento dessa centralidade ao longodo quadrante sudoeste de São Paulo (ROLNIK etal., 1990; CORDEIRO, 1993)6 , sobretudo adinâmica mais recente desse processo, tem acar-retado transformações sociologicamente relevan-tes, ainda não devidamente analisadas, espe-cialmente quanto às formas de organizaçãoinstitucional dos grupos empresariais com inte-resses nessas áreas, suas relações com o poderpúblico e os processos sociais excludentesdecorrentes dessa trama de interesses.

Antes de avançar nessas questões quanto aocaso de São Paulo, é importante frisar, de todaforma, que não pretendo incorporar a perspectivapós-moderna de Edward Soja, já que penso serpossível, apesar da crescente complexidadeurbana, a formulação de nexos explicativos querelacionem criticamente os espaços – nesse caso,as “centralidades” que serão aqui enfocadas –,numa perspectiva comparativa que leva em contaas simultaneidades, mas que também buscacontemplar questões de fundo mais histórico. Etalvez a imagem de uma “cidade sem mapa”,diagnosticada por Canclini, possa ser, ao menosno estudo dos desdobramentos da centralidade dosetor terceário moderno de São Paulo, sersubstituída pelo mapeamento das várias mediaçõesque ocorrem ao longo do “quadrante sudoeste”,como veremos a seguir.

III. UM QUADRO COMPARATIVO DO CEN-TRO E DOS SUBCENTROS DE SÃOPAULO

O primeiro aspecto a ser levado em conta é aforma como se organizam inicialmente as as-sociações estudadas: a) o centro tradicional, naperspectiva da requalificação proposta pela As-sociação Viva o Centro; b) a região da Paulista, naótica da revalorização defendida pela AssociaçãoPaulista Viva, e c) a região da Berrini e da Marginal

Pinheiros, seja do ponto de vista das empresasBratke-Collet e Richard Ellis, seja na prática daAssociação de Promoção Habitacional – todas elascom forte poder decisório por parte do empre-sariado que delas participa, dentro do processode competição para que o pólo onde estão situadasseja o preferido para a permanência, relocalizaçãoou abertura de novas empresas do setor terceáriomoderno.

A formação dessas associações guarda rela-ções, obviamente, tanto com o contexto históricoquanto com o contexto geográfico onde estão si-tuadas. A importância histórica está presente, entreoutros pontos de vista, porque períodos distintosvêm definindo, quanto às regiões estudadas, nãosó paisagens urbanas distintas, como também umcampo mais diversificado ou restrito de atoressociais. Nesse sentido, enquanto a região centralacumula – devido à sua longa constituição – umconjunto mais heterogêneo de participantes (o quecertamente influi na dinâmica da negociação emtorno da questão da requalificação), as outrascentralidades, principalmente a mais recente,formada pela Berrini e pela Marginal Pinheiros –marcadas por um conjunto mais restrito deempresas, muitas delas poderosas economica-mente, incluindo um grande número de multi-nacionais – atuam na esfera da intervenção urbanade maneira muito mais unilateral.

A relevância do contexto geográfico, por suavez, verifica-se em decorrência dos interessesdistintos que cada território enfocado ocupa dentroda lógica de desdobramento da centralidade, ondeo surgimento de uma nova região alimenta-se emgrande parte da decadência da anterior, tornando-se visível nessa dinâmica não só as forças e limitesespecíficos de cada uma quanto à atração do setorterceário moderno, bem como os distintos tiposde crescimento metropolitano como um todo emjogo.

Outro ponto comparativo importante diz res-peito às distintas estratégias que essas associaçõesadotam na relação com o poder público, sejaconstruindo um razoável nível de articulação desetores da sociedade civil e procurando a posterioriuma negociação com o poder político (principal-mente o municipal), seja a priori, estabelecendoou nascendo mesmo de dentro do poder local,para a busca de uma ulterior legitimação frente àsociedade.

III.1 AS CONDIÇÕES DO SURGIMENTO DAS

6 Infelizmente não foi possível preparar mapas para o presenteartigo. Sugiro ao leitor que consulte “Os ‘centros’ de SãoPaulo em imagens: mapas e fotos” (FRÚGOLI JR., 2000, p.255-264).

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ASSOCIAÇÕES E AS RELAÇÕES INI-CIAIS COM O PODER LOCAL

A Associação Viva o Centro surgiu em 1991,quando a deterioração urbana do Centro – umaregião de grande magnitude e complexidade dentrode São Paulo – já se achava bem avançada, em setratando de um processo em curso ao menos desdeos anos 70, ligado tanto à evasão de empresasrumo ao “quadrante sudoeste”, quanto à inca-pacidade do poder público de reverter tal degrada-ção, apesar de periódicos investimentos em infra-estrutura na região. Por outro lado, apesar doprocesso de declínio do Centro, este vem mantendoainda um razoável dinamismo do ponto de vistaeconômico, frente à porcentagem de empregosainda gerados na área central. Trata-se de umaárea de utilização interclasses, com uma conflitivadiversidade sociocultural (incluindo uma forteocupação nordestina), sendo que parte dos espaçospúblicos é apropriada por redes de relaçõesinformais voltadas à sobrevivência (como no casodos camelôs), além da grande presença dapopulação de rua. Um dos fatores impulsionadoresda formação dessa associação foi a reação a umnovo ciclo de evasão de empresas que se dava noinício dos anos 90, no qual a negociação pelapermanência da Bolsa de Valores de São Paulo eda Bolsa de Mercadorias & Futuros foi um marcoinicial, com decisivo papel do suporte fornecidopelo capital financeiro, no caso especificamenteum banco multinacional – o Banco de Boston –,através da iniciativa de seu presidente, HenriqueMeirelles (FRÚGOLI JR., 1995, p. 37-72; MEYERet. al., 1993; FIPE, 1995; MEYER, 1997, en-trevista com o autor; BARRETO, 1997, entrevistacom o autor ; ALMEIDA, 1997, entrevista com oautor).

A Viva o Centro nasce como uma iniciativa dasociedade civil – com associados de base nitida-mente empresarial, incluindo proprietários, e depoisampliando-se com o apoio de outras instituições –, com uma crescente capacidade de mobilização.Situada numa área marcada por forte diversidadesocial, a Associação incorpora em si certa hetero-geneidade, ainda que não possa abarcar um con-junto tão plural de demandas nem pretendapriorizar as necessidades mais ligadas às camadaspopulares. Mesmo assim, é dotada de umadiversidade muito maior se comparada às outrasassociações pesquisadas. Uma de suas principaistarefas é pressionar o poder público – buscandomanter autonomia com relação a este –, para a

realização de um conjunto de ações pela requa-lificação do Centro (MEYER & GROSTEIN, 1995;LIMA, 1997, entrevista com o autor; ALMEIDA,1997, entrevista com o autor).

Já a gênese da Associação Paulista Viva guardaalgumas diferenças. O contexto urbano da AvenidaPaulista está historicamente identificado como umespaço da riqueza das elites – inicialmente comomoradia –, mantendo depois, com algumas altera-ções, a mesma simbologia, frente a processos pos-teriores de verticalização e crescimento do setorterciário moderno, sobretudo o capital financeiro.A partir dos anos 80, passou a exibir tambémfortes marcas de ocupação pública, culminando,em termos de prestígio, em sua “eleição” como“símbolo da cidade”, na comemoração de seucentenário, em 1991 (REDE GLOBO, 1989; ITAÚ,1990).

É justamente durante esse período de “apogeu”da Paulista, na passagem dos anos 80 para os 90,que os primeiros sinais de deterioração tornaram-se mais visíveis, ligados em parte a um fenômenosemelhante ao havido no Centro, como a fuga deempresas e investimentos públicos em outrasregiões, ainda que em tons menos acentuados.Além disso, verificou-se, de modo mais claro, todauma negociação social em torno do que efeti-vamente estaria em degradação e qual seria o patri-mônio a ser recuperado, já que tivemos anterior-mente a destruição quase integral dos antigoscasarões e a degradação de muitos edifícios resi-denciais, sem que isso viesse a mobilizar oempresariado no sentido de pressionar o poderpúblico para alguma política de recuperação(Debate, 1994).

A Paulista Viva, criada em 1995, surgiuentretanto de dentro do poder público – quedécadas antes já tentara uma frustrada intervençãode grande porte na Avenida, com enormesprejuízos (MEZERANI, 1997) –, primeiramentecomo uma comissão, para depois obter uma relativaindependência, já como Associação. Tal processofoi conduzido por Olavo Setúbal, ex-Prefeito deSão Paulo e Presidente do Itausa, a partir de convitedo então Prefeito Paulo Maluf (PPB, 1993-1996).Tal como no caso anterior, o apoio dado pelo capitalfinanceiro – o Banco Itaú – foi também decisivo,ainda mais porque esse banco foi um dos pro-motores do evento que elegeu a Paulista como“símbolo da cidade”. Durante sua existência comocomissão, mais subordinada ao poder público,foram dados passos fundamentais na definição dos

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rumos da revalorização, a saber, a realização doconcurso e o compromisso de apoio ao projetovencedor; só depois foi formada a Associação,com a busca de ampliação dos associados – des-tacando-se, do ponto de vista do apoio financeiro,os bancos e as companhias de seguro compropriedade imobiliária na Avenida (INSTITUTODE ENGENHARIA, 1995; MAGALHÃES &MAGALHÃES, 1996; SETÚBAL, 1997, en-trevista com o autor; THIELE, 1997, entrevistacom o autor; MAGALHÃES JR., 1998, entrevistacom o autor).

O terceiro caso, a criação do pool de em-presários da região da Avenida Luiz Carlos Berrini,também em 1995, durante a Operação UrbanaÁguas Espraiadas, deu-se num contexto de nature-za distinta, em vários aspectos, dos casos anterio-res. A Berrini representa um subcentro bem maisrecente, articulado por uma única empresa, aBratke-Collet, ligada de início à criação de um nichoespecífico no mercado de escritórios, alimentadoem boa parte pelo processo de fuga de empresastanto do Centro quanto da Paulista e baseado numsistema de incorporação sustentado também porum pool de empresas, professando assim umaatuação “independente” com relação ao poderpúblico (CORDEIRO, 1993; FUJIMOTO, 1994;BRATKE, C., 1997, entrevista com o autor).

Ainda que com potencial de crescimento, aBerrini já enfrenta forte competição com o pólodo setor terceário moderno mais próximo àMarginal Pinheiros, numa área mais periférica do“quadrante sudoeste” – para onde se desloca acentralidade “terciária” em São Paulo –, cujorepresentante mais forte é a empresa multinacionalde consultoria Richard Ellis, principal defensorada expansão urbana nessa região e para a qual aprópria Berrini já estaria, de certa forma, “obso-leta”. Tal área como um todo, com a presençacondensada de multinacionais, configura umterritório conectado a um mercado mais globa-lizado, típico de uma nova fase de acumulação docapitalismo, identificado como pós-fordista (HAR-VEY, 1992; RICHARD ELLIS, 1997; MONTAN-DON JR., 1997, entrevista com o autor).

O pool de empresários ali formado resultou naAssociação de Promoção Habitacional, com aparticipação da Bratke-Collet e de outras grandesempresas nacionais e multinacionais da Berrini eda Marginal Pinheiros, com a organização tambéma cargo do capital financeiro – neste caso, o

Unibanco –, além da assessoria da Arthur An-dersen. O surgimento da Associação foi motivadopela possibilidade de maximizar a valorizaçãoimobiliária da região, numa clara articulação como poder público7 em torno de uma operaçãourbana para a construção da Avenida ÁguasEspraiadas a partir de 1995, com a doação defundos para remover uma população favelada dolocal, ainda que declarando prestar umaintervenção de caráter social. Criada exclusiva-mente para a realização dessa tarefa, não houvepreocupação posterior com a divulgação oulegitimação de seus objetivos, já que expressaminteresses de mercado e não pressupõem negocia-ções públicas. Isso também explica porque deta-lhes tanto da natureza interna desse pool, quantodos vínculos com o poder público – cuja atuaçãona citada operação foi marcada por irregularidades–, são inacessíveis, ao contrário da maior visi-bilidade existente nos casos anteriores (FIX, 2001;BRATKE, R., 1997, entrevista com o autor).

III.2 AS FORMAS ESPECÍFICAS DE INTER-VENÇÃO URBANÍSTICA, VOLTADASÀS ÁREAS CENTRAIS EM QUESTÃO

A Viva o Centro recorreu a uma consultoriaurbanística coordenada por Regina Meyer, querealizou pesquisas e seminários que conduziram agradativas mudanças de concepção quanto àpassagem da noção de revitalização à de requali-ficação (que implica incorporar um dinamismoeconômico e social ali ainda existente); à ampliaçãoda região a ser requalificada (do Centro à áreacentral, incluindo os bairros que circundam osdistritos da Sé e República); à necessidade de sepensar, a partir do Centro, numa intervenção comefeitos por toda a metrópole, ressaltando aracionalidade de se investir numa área comempregos, infra-estrutura e inserção no tecidourbano como a área central; à inserção dessarequalificação num quadro emergente das “cidadesmundiais”, com um novo papel a ser desem-penhado pelo Centro (tendo como base o processourbano havido recentemente em Barcelona, e comoreferência teórica o trabalho de Jordi Borja); final-mente, essa concepção urbanística também estáamparada pela idéia de um “urbanismo reparador”,com uma proposta de intervenção que procuradialogar criticamente com a realidade já existente(BORJA, 1995; MEYER et al., 1996; MEYER,

7 Época, como já se viu, da gestão Paulo Maluf (PPB).

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1997, entrevista com o autor).

Várias referências produzidas pela consultoriaurbanística tendem a constituir um conjunto deposições articuladas, que passam a ser assumidas,de maneira consensual e homogênea, pelosintegrantes da cúpula da Associação, na esfera dodiscurso: observa-se uma certa homogeneidadeem suas falas na divulgação dos objetivos daAssociação, em especial quanto à influência naopinião pública e à pressão sobre os organismospúblicos. O ideário da consultoria urbanística daViva o Centro está também presente na formaçãoe no conteúdo programático do ProCentro (criadoem 1993 pela Prefeitura como resposta àsdemandas pela revitalização da área), ainda que apartir daí comece a formular-se no último umconjunto de visões e práticas mais fragmentadas,que se afastam das propostas da Viva o Centro(SÃO PAULO, 1993, p. 1-12).

A gradativa incorporação, no discurso da Vivao Centro, do tema das cidades globais oumundiais, enseja interrogações que só poderão sermelhor contempladas com pesquisas posteriores.Uma das dificuldades quanto à compreensão dasinfluências do processo de globalização na estru-tura urbana consiste em separar as herançashistóricas anteriores daquelas específicas a umafase mais plenamente global do capitalismocontemporâneo. Nesse sentido, fica a dúvida sobrese as asserções discursivas da Associação quantoa São Paulo como cidade mundial referem-se auma realidade efetivamente concreta, ou se podemconstituir um novo discurso ideológico. Essa temsido, por sinal, uma das críticas quanto à adoçãodo plano de intervenção utilizado em Barcelonaem contextos muitos distintos – cuja expansãomundial também se vale de visíveis elementos demarketing –, pois sua mera transposição a outrasrealidades pode significar a confecção uma certavisão que se pretende hegemônica sobre a cidade,amparada na teoria por um paradigma da glo-balização e na prática pelas consultorias interna-cionais, mas que dão substrato a práticas comoutros fins, previamente ou não estabelecidos8.

Com relação às outras regiões aqui enfocadas,observa-se um silêncio político da Viva o Centroquanto à centralidade exercida hoje pela Paulista eclaras críticas ao desenvolvimento do pólo que se

desenvolve em torno da Berrini e da MarginalPinheiros, dada a irracionalidade que significampara a cidade em termos de custos para o poderpúblico e o esgarçamento da metrópole rumo auma área cada vez mais periférica.

Na Paulista Viva, a conexão com uma visãourbanística é mais fragmentada, tanto do pontode vista de incorporação de princípios, comoquanto à fonte de seus principais parâmetros, jáque não há uma consultoria urbanística de caráterpermanente, como no caso anterior. Por um lado,existem as formulações do projeto vencedor doconcurso, coordenado por José Magalhães Jr.,norteadas pela idéia de intervenções localizadas epor partes (inspiradas também, ainda que vaga-mente, na noção de um “urbanismo estratégico”,havido em Barcelona), que considera a Paulista,antes de tudo, um “espaço de excelência”. O fatode ter vencido o concurso confere à proposta certalegitimidade e define o campo posterior de debates,que devem gravitar em torno da mesma, emborasofra o desgaste de se assemelhar, em váriosaspectos, à sugestão de um corredor de ônibusna avenida, feita anteriormente pela SecretariaMunicipal de Planejamento – SEMPLA –, durantea gestão Paulo Maluf, que fora amplamenterejeitada por amplos setores da população, por tersido considerada fator de intensificação dadegradação urbana da área. Observa-se também aparticipação de urbanistas experientes nas reuniõesda cúpula da Associação, mas não é visível aforma concreta como interferem na formulaçãode decisões (SETÚBAL, 1997, entrevista com oautor; THIELE, 1997, entrevista com o autor;MAGALHÃES JR., 1998, entrevista com o autor.

Por outro lado, talvez mais peso nessa esferatenha o discurso de Olavo Setúbal – dada suaexperiência como ex-Prefeito de São Paulo (1975-1979) –, que enfatiza na Paulista a idéia do “símboloda cidade” (que, sem desconsiderar o prestígiohistórico da Avenida, foi também mediado pelocompetente marketing institucional do Itaú), cujaênfase consagradora, de certa forma, descola deseu contexto uma discussão mais clara sobre seupapel de centralidade em termos urbanísticos.Diferentemente da Viva o Centro, Setúbal dá des-taque à realidade multipolar da metrópole, o queimplica incorporar a necessidade de revalorizaçãode seus vários pólos, não apenas de sua área cen-tral. Mesmo o reconhecimento da deterioração emcurso na Paulista é feito de modo cuidadoso ouambíguo, com tônica maior num papel de preven-

8 Para uma crítica mais recente do planejamento estratégico,cf. Arantes, Vainer e Maricato (2000).

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ção (SETÚBAL, 1997, entrevista com o autor).

Dada a própria situação intermediária em quese encontra no processo de desdobramento dacentralidade, a Paulista não é a formuladora darequalificação da área central, mas sofre comaspectos da deterioração e fuga de empresas.Tampouco é hoje o principal pólo do desenvol-vimento do setor terciário moderno na metrópole,embora abrigue uma boa parcela do mesmo emseu espaço. Isso coloca a região numa espécie de“limbo”, com uma posição que tende, do pontovista urbanístico, a uma ambigüidade quanto à suainserção na cidade, o que explica, por parte daPaulista Viva, tanto uma incorporação muitoseletiva de princípios formulados pela Viva o Centroem seus objetivos e práticas concretas, quantouma crítica tímida das centralidades mais recentes.

Já no caso da região da Berrini, a questão daintervenção urbanística tem características bemdistintas, também marcada por diferentes for-muladores. A posição de Carlos Bratke – arquitetoresponsável pelo projeto de mais de 60 edifícioscomerciais da Avenida – é a de uma atuaçãonorteada pelo mercado, atendendo a demandasespecíficas dos clientes – inicialmente empresasde pequeno e médio porte –, sem as amarrasrepresentadas pelo poder público, o que o levou aser identificado como forte representante davertente pós-moderna no Brasil, ainda que elepróprio rejeite tal visão. Com a configuração, naregião da Berrini, de uma razoável centralidade doponto de vista econômico, há na verdade umacobrança para que o poder público responda pelainfra-estrutura, segundo Bratke não satisfeitadevido à incompetência administrativa deste podere não devido aos altos custos. Contraditoriamente,a região como um todo – incluindo as áreaspróximas, como a Nova Faria Lima e o pólovizinho da Marginal Pinheiros – tem recebidoaltíssimas parcelas do orçamento municipal emtermos de infra-estrutura, especialmente a viária(BRATKE, C., 1997, entrevista com o autor).

Com relação às outras centralidades, há clarascríticas de Carlos Bratke à infra-estrutura do Centroe à possibilidade de o mesmo voltar a ocupar umpapel de destaque no que diz respeito à volta deempresas – daí sua absurda sugestão de transfor-má-lo na “maior área verde da metrópole”. Ao mes-mo tempo, defende a Berrini da visão negativa a-presentada pela Richard Ellis, com base na críticaà noção dos “edifícios inteligentes” – segundo ele

um mote vazio de qualquer significado –, que ca-racterizariam boa parte das construções que com-põem a recente paisagem urbana da MarginalPinheiros (BRATKE, C., 1997, entrevista com oautor; MONTADON JR., 1997, entrevista com oautor).

Entretanto, tão rápido quanto sua ascensão temsido seu declínio como principal pólo de cres-cimento, já que um outro, mais periférico e parcial-mente desterritorializado, vem se desenvolvendoem parte da Marginal Pinheiros, tendo comoprincipal porta-voz a empresa Richard Ellis (aindaque esta não se assuma como tal, argumentandorealizar apenas uma prática racional, norteada pelalógica do mercado imobiliário). Essa empresatambém enfatiza o atendimento das necessidadesdos clientes – no caso, sobretudo as grandesempresas multinacionais, que têm optado principal-mente por essa área para a localização de suassedes –, cuja demanda pediria a criação de “edifí-cios inteligentes”, só possíveis em grandes áreascomo a região da Marginal. Isso se justifica porqueo Centro, nessa concepção, estaria inviabilizadopela deterioração, violência, difícil acesso, edifíciosultrapassados e pulverização patrimonial, e aPaulista apresentaria baixo potencial para novasedificações, dado o acentuadíssimo encarecimentodos poucos terrenos ainda disponíveis. Tal posiçãode defesa da região da Marginal tem fortesadeptos, como a Bolsa de Imóveis do Estado deS. Paulo, que tem diversos megaprojetos na mes-ma região, e cujos representantes tecem freqüen-temente declarações em defesa de investimentosprivados e públicos na mesma, chamada por seto-res da grande imprensa de “o novo centro de SãoPaulo” (RICHARD ELLIS, 1997; MONTANDONJR., 1997, entrevista com o autor).

Não há, já com relação à Associação de Promo-ção Habitacional, nenhuma formulação urbanísticaprópria, a não ser puras razões de mercado, comose pôde constatar pela análise das breves decla-rações de seus porta-vozes na imprensa, nas quaisum papel pretensamente social mal disfarça o clarointento de maximização imobiliária da áreaabrangida pela Operação Urbana Águas Espraiadas,além de pronunciamentos mais esparsos, nosentido de que a remoção da favela foi vista comouma tradicional “limpeza” da área de um foco deviolência e marginalidade9.

9 Cf. mais detalhes em Frúgoli Jr. (2000, p. 203-212).

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III.3 A QUESTÃO DAS MEDIAÇÕES POLÍ-TICAS ENTRE AS ASSOCIAÇÕES E OPODER PÚBLICO

Com relação à Viva o Centro, um primeiro dadosignificativo é que o capital financeiro não se limitaapenas a dar o principal suporte à Associação,tendo dele emergido atores sociais que de certaforma se lançam à política urbana na defesa deseus interesses, como é o caso do seu presidente,Henrique Meirelles, na época presidente do Bancode Boston no Brasil e atualmente seu presidentemundial, com um papel importante na fundação ehoje com um poder mais simbólico, além de MarcoAntônio Ramos de Almeida, diretor de RelaçõesInternacionais do mesmo banco, Presidente daDiretoria Executiva da Viva o Centro, hoje o porta-voz mais ativo e visível da Associação (ALMEIDA,1997, entrevista com o autor).

Deve-se também apontar o papel da consultoriade Jorge da Cunha Lima, ligado ao PSDB, nomede maior expressão em termos de trajetória políticana Viva o Centro, dada sua condição de ex-Se-cretário da Cultura do Estado de São Paulo (gover-no Franco Montoro, PMDB), que desenvolveu naépoca o projeto Luz Cultural, voltado à revita-lização da região da Luz, na área central, a partirde um trabalho de reabilitação e integração dediversas instituições culturais ali existentes.Incorporado para colaborar nas conexões políticasnecessárias ao papel de “interface” desejado pelaAssociação, sobretudo nas relações da Viva oCentro com o governo estadual, a partir da gestãoMário Covas (PSDB, 1995-2001)10, Cunha Limavem dando uma espécie de continuidade àqueleprojeto, através da ação combinada entre o governofederal (gestão FHC, filiado ao PSDB, com iníciotambém em 1995), o governo estadual e, com papelmais limitado, o governo municipal, que já resultouem reformas como as dos prédios da Pinacotecado Estado e da estação Júlio Prestes, hoje sede daOrquestra Sinfônica do Estado, responsáveis porum novo afluxo das classes médias à regiãocentral. Isso sem falar da possibilidade da mudançada sede do governo estadual para o Centro, cogita-da mas não implementada na primeira gestão deCovas, através de projeto do escritório PiratiningaArquitetos Associados, que, caso venha a ocorrer

no futuro, pode representar significativa mudançanos rumos do tipo de requalificação da área central,com um papel que, em princípio, não era maisesperado por parte do Estado, quanto àpossibilidade de comandar uma intervenção urbanacom suas próprias forças. Dessa forma, ainda quea Associação professe manter uma autonomia comrelação ao poder público, isso diz mais respeito,ao menos até recentemente, ao poder local11, jáque nos níveis estadual e federal vem se dandouma considerável conexão12.

De toda forma, tendo nascido por iniciativa dasociedade civil, e não de dentro do próprio poderpúblico, a Viva o Centro constitui formalmenteuma associação sem vínculos partidários, o quelhe dá mais legitimidade para estabelecer relaçõescom sucessivas gestões públicas, no sentido depressioná-las à realização de medidas voltadas àrequalificação do Centro. Independentementedesses princípios formais, observam-se relaçõesde maior ou menor afinidade com certas gestões,o que implica, por sua vez, papéis de mediaçãopolítica por parte dos membros da cúpula daAssociação, cujo poder pode variar, de acordo coma conjuntura. A primeira relação estabelecida apartir do surgimento da Viva o Centro fôra com agestão Luiza Erundina (PT, 1989-1992). Nessecaso, houve contatos iniciais satisfatórios, já quetal gestão tinha alguns projetos de revitalização paraa área – como a concretização da ida da sede dogoverno municipal para o Parque D. Pedro II –,ao mesmo tempo que estava aberta ao diálogo coma iniciativa privada, sem que isso resultasseentretanto em alguma parceria mais significativa(ver, por exemplo, o fracasso da Operação UrbanaAnhangabaú), talvez porque a gestão municipal jáestivesse em sua fase final, enquanto a Associaçãoapenas em seus primórdios (PREFEITURAMUNICIPAL DE SÃO PAULO, 1991; SIMÕESJR., 1994; FELDMAN, 1997, entrevista com oautor).

Finda essa gestão, iniciaram-se as relações coma administração Paulo Maluf, cuja prioridade era

10 Que faleceu em março de 2001, tendo sido sucedido porGeraldo Alckmin.

11 Refiro-me aqui à gestão Celso Pitta (PPB, 1997-2000),não à gestão Marta Suplicy (PT, a partir de 2001), que nãoserá analisada.

12 Para maiores detalhes sobre o projeto da mudança dasede do governo estadual para o Centro, cf. PiratiningaArquitetos Associados (s/d), Lima (1997), entrevista com oautor e Kipnis (1997), entrevista com o autor.

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claramente dirigida para outros vetores decrescimento da cidade, situados no quadrantesudoeste – como a construção da Nova Faria Lima–, com um período inicial de dificuldades derelação, no qual o papel de mediação de MarcoAntônio Ramos de Almeida passou a ser cada vezmais importante (sobretudo após a ida de HenriqueMeirelles para a Presidência da matriz do Bancode Boston, nos Estados Unidos). Seguiu-se osurgimento do ProCentro, visto por muitos, emseu início, mais como forma de a gestão Malufaplacar as pressões e ganhar tempo, do queorganismo voltado para a implementação depolíticas concretas para o Centro. Contudo, oProCentro depois se debruçou de maneira maisefetiva sobre a área central, em especial quando aViva o Centro veio a dar subsídios de organizaçãoà comunidade através do programa de ações locais,no qual moradores, proprietários, dirigentes deempresas e profissionais – com destaque para oscomerciantes – passaram a pressionar o ProCentroe outras instâncias do poder público (administraçãoregional e vereadores, além de órgãos de segurançada esfera estadual) para a realização de melhoriasligadas particularmente a seus interesses (FIUSA,1997, entrevista com o autor; CARUSO JR., 1997,entrevista com o autor; BARRETO, 1997;ALMEIDA, 1997, entrevista com o autor).

No momento, porém, em que HenriqueMeirelles fechou um acordo, em nome do Bancode Boston, com a gestão Paulo Maluf, já no seufinal, apoiando e patrocinando o concurso para oCentro, deu-se um tipo de mediação política queatropelou, por sua vez, o trabalho de consultoriaurbanística que vinha sendo realizado pela Viva oCentro, que preparava um grande projeto para aárea central, a ser apresentado aos candidatos dagestão seguinte. A Viva o Centro como um todoapoiou depois o concurso, mesmo em prejuízodas concepções da consultoria urbanística para aárea, numa grande concessão à gestão malufista.O projeto vencedor, da Promon Engenharia, pauta-se por uma grande intervenção do ponto de vistaviário; sua viabilização é incerta, não só pela faltade recursos públicos, mas porque cabe também àPrefeitura decidir por uma implementaçãocaracterizada pela incorporação de partes de outraspropostas também premiadas, o que levanta sériasdúvidas quanto à legitimidade e eficácia doscritérios e encaminhamentos de tais concursos(MEYER, 1997, entrevista com o autor; FELD-MAN, 1997, entrevista com o autor).

Guardadas certas proporções, tal fenômenoreproduziu-se mais recentemente, ao final de 1999,a partir do apoio público da Viva o Centro (aindaque depois promovendo um grande debate arespeito) ao projeto “São Paulo Tower” – umamegatorre de 494 metros de altura e 103 andares,cuja construção exigiria a desapropriação de 70quarteirões –, que, embora hoje seja praticamentenula sua concretização, poderia ter vindo arepresentar uma intervenção de fortíssimo impactona área central, sem que se comprovasseclaramente seus efeitos quanto à requalificaçãodessa área como um todo, num empreendimentoque se beneficiou da aliança do capital especulativocom uma gestão municipal (Celso Pitta, PPB, 1997-2000) marcada pela inoperância, corrupção eilegitimidade (ASSOCIAÇÃO VIVA O CENTRO,1999-2000, p. 12-28).

No caso da Paulista Viva, trata-se de umprojeto de revalorização urbana claramentearticulado à gestão malufista, já que nascidomesmo de dentro do poder público, a partir deuma relação de confiança entre o ex-Prefeito eOlavo Setúbal, que detém, sem dúvida alguma, omaior poder político dentro da Associação. Talrelação até levanta dúvidas sobre a autonomia daPaulista Viva na definição de seus rumos, pois seusurgimento como comissão deu-se num momentoem que a proposta da SEMPLA – através dosecretário Roberto Richter – ensejara um conjuntode críticas e rejeições. Na ocasião do anúncio doplano vencedor do concurso, o próprio Richterafirmou que a proposta copiava sua idéia, eatualmente o projeto tramita na Empresa Municipalde Urbanização (EMURB), sem que haja garantiade que a proposta vencedora venha a serimplementada inteiramente, ou mesmo que talprojeto seja realizado, dada a escassez de recursosda gestão Pitta e as novas prioridades da atualgestão, de Marta Suplicy (PT, a partir de 2001).Dessa forma, ocorre uma subordinação políticada associação tanto a Olavo Setúbal como, numoutro prisma, às duas últimas gestões municipais,dominadas pelo malufismo. Um dado que aaproxima da Viva o Centro, por outro lado, é opapel político de destaque representado por seusuperintendente Alex Thiele, que, tal como MarcoAntônio Ramos de Almeida, vem dos quadrosprofissionais do capital financeiro, no caso, oBanco Itaú (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃOPAULO, 1996; PROENÇA, 1996, entrevista como autor; SETÚBAL, 1997, entrevista com o autor;

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THIELE, 1997. Entrevista com o autor)13 .

A Associação de Promoção Habitacional, porsua vez, vinculou-se da mesma forma a um projetoespecífico da gestão de Paulo Maluf, a OperaçãoUrbana Águas Espraiadas, tendo findado com otérmino do processo de construção de moradias,no sistema “Cingapura” (embora sem assenta-mento no próprio local)14 , destinada a uma ínfimaparcela dos favelados removidos da área do JardimEdith. A diferença, com relação às articulaçõesdas associações já enfocadas, é que se trata deuma associação com um fim unívoco – a retiradade favelados para a valorização imobiliária –,fechada ao intercâmbio com outros atores sociais,inacessível do ponto de vista público, na qual nãose esclarecem maiores detalhes sobre suaparticipação efetiva, ligada a uma ação do poderpúblico permeada por procedimentos irregulares(FIX, 2001; SPOSATI, 1995; SECRETARIAMUNICIPAL DE HABITAÇÃO, 1996). Traçocomum com as anteriores, além da forte presençade empresários e proprietários, está no papel dedestaque, quanto à condução do movimento, quetêm os representantes do capital financeiro, inicial-mente pelo então vice-Presidente do Unibanco LuísEduardo Pinto Lima, porta-voz do pool em seusprimórdios.

III.4 OS GRUPOS SOCIAIS MAIS ATINGIDOSPELAS INTERVENÇÕES URBANAS

No caso da Viva o Centro, a questão popularestá contemplada de distintas formas, dado seunível crescente de complexidade interna, ao incor-porar atores sociais com posicionamentos diferen-ciados a esse respeito. Trata-se de um tema defundamental importância, ainda mais porque asclasses populares constituem a maioria da popula-ção do Centro, num fenômeno de ocupação conco-mitante à sua deterioração em termos de infra-estrutura urbana (FRÚGOLI JR., 1995).

Aqui novamente é necessário compor umquadro sobre o assunto, baseado em diferentescampos das concepções e práticas concretas daAssociação. De acordo com sua consultoria urba-

nística, há uma tendência a se considerar que ospobres realizam uma ocupação residual dosespaços urbanos, o que explicaria em parte suapresença na área central. Além disso, há o diagnós-tico de um sistema de transporte coletivo irra-cional, convergindo excessivamente para o Centro,o que produziria, por sua vez, uma presençapopular em massa desnecessária na região – por-que simplesmente de passagem. Uma reorga-nização desse sistema incidiria sobre essa massa,distribuindo-a para outras regiões, o que dessaforma poderia reduzir tanto a mendicância quantoo comércio informal. Isso propiciaria, conse-qüentemente, o atendimento do “verdadeiro inte-resse popular”, entendido como os empregadosdas empresas – que constituem, por sinal, umhabitual público-alvo de revitalizações urbanas emmetrópoles do Primeiro Mundo (DAVIS, 1992;ZUKIN, 1995; LIMA, 1997, entrevista com oautor; MEYER, 1997, entrevista com o autor).

Outro ponto importante é a criação de umaaliança estratégica entre capital e trabalho, em tornoda questão dos menores de rua do Centro, oProjeto Travessia, coordenado por Gilmar Carnei-ro, ex-Presidente do Sindicato dos Bancários deSão Paulo – única organização trabalhista presentena Viva o Centro – e apoiado pela Associação (comrecursos financeiros do Banco de Boston e doempresariado local). Tal projeto busca maximizara articulação dos recursos de atendimento hojedisponíveis, ao mesmo tempo que assumir talproblemática do ponto de vista da parcela deresponsabilidade da sociedade civil. Essa ação,ainda em seus primórdios, merecerá futurasabordagens para a avaliação de seus resultadosconcretos, pois em princípio tanto pode ser vistacomo uma atuação original no encaminhamentoda questão dos menores, quanto, numa visão maiscruel, uma forma disfarçada de retirar atoressociais indesejáveis das ruas do Centro (FUN-DAÇÃO PROJETO TRAVESSIA, 1996; SAN-TOS, 1997, entrevista com o autor; SABINO,1997, entrevista com o autor).

Isso, entretanto, não esgota a questão. Cabeabordar, sucintamente, a difícil relação daAssociação com os camelôs. A partir de umworkshop, a Viva o Centro colocou-se frontalmentecontrária à própria atividade dos mesmos, dado oconjunto de irregularidades constitutivas, apoiandouma política no início a favor da ocupaçãolegalizada e disciplinada, partindo depois para adefesa da retirada completa dos camelôs dos

13 Alex Thiele foi também assessor político de Setúbalquando este preparava sua possível candidatura ao governodo Estado (pelo PFL) em meados de 80, o que acabou nãoocorrendo (THIELE, 1997, entrevista com o autor).

14 “Cingapura” é o nome de um programa de moradiascriado a partir da gestão Paulo Maluf.

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espaços públicos da área central. Tal posição temganho grande respaldo dentro de vários gruposde ação local, um programa desenvolvido pelaAssociação, que criou condições para a formaçãode grupos – comunidades que aglutinam morado-res, proprietários, dirigentes de empresas e usuá-rios – em microrregiões do Centro. Para a maioriadesses grupos, que constituem a “organicidadede baixo” da Associação, as questões, não só ados camelôs, mas a da pobreza no Centro, é, antesde mais nada, um caso de polícia. É óbvio que háaspectos de transgressão na prática dos camelôs,além de crescentes conexões com a criminalidade,e boa parte da dificuldade de relações políticascom os mesmos deve-se à sua extrema fragmen-tação organizativa. Por outro lado, trata-se daforma de sobrevivência de milhares de pessoasfrente a um mercado de trabalho cada vez maisrestrito – pautado há anos pelo desempregoestrutural, e não conjuntural. A simples expulsãodos ambulantes, como foi feita pela gestão Pittana assim chamada “Operação Dignidade” –plenamente apoiada pela Viva o Centro e pelaPaulista Viva –, para “bolsões” muitas vezesisolados, precários e em áreas sem circulação deconsumidores, produz uma exclusão territorial comresultados que podem ser catastróficos. Sem falarda rede de corrupção existente no interior dasadministrações regionais, já revelada em inúmerasmatérias da imprensa, que se beneficia do comércioinformal, sem que haja uma condenação por partedessas associações com o mesmo nível de ve-emência (VILLAS-BÔAS, 1995; BARRETO,1996a, p. 1; 1996b, p. 1; ALMEIDA, 1997, entre-vista com o autor; BARRETO, 1997, entrevistacom o autor; FRÚGOLI JR., 1999).

No caso da Paulista Viva, a questão socialguarda algumas relações com os temas acimadiscutidos, embora num contexto marcado poroutras particularidades. Ao contrário da Viva oCentro, não há documentos que deixem claras suasposições a respeito das classes populares, sendonecessário investigar tais tópicos em pronuncia-mentos e práticas concretas.

As posições defendidas por Olavo Setúbal,Presidente da Associação, são também pela retiradacompleta dos camelôs, pelo fato de a Paulista serum espaço de excelência na metrópole, posiçãosemelhante à do arquiteto José Magalhães Jr. Defato, uma das primeiras medidas concretas daPaulista Viva, já como Associação, foi o apoio à

expulsão das centenas de camelôs que ocupavama Avenida, que, pelo “sucesso”, serviu de modelopara intervenções similares nas áreas centrais. Talretirada foi acompanhada por medidas daAssociação para evitar o retorno dos ambulantes,inclusive o apoio a que os proprietários de edifíciosvigiassem suas calçadas com segurança privada(SETÚBAL, 1997, entrevista com o autor; THIE-LE, 1997, entrevista com o autor; MAGALHÃESJR., 1998, entrevista com o autor).

Outra medida foi a aprovação à redução de maisda metade dos ônibus na Avenida, implementadapelo poder público, concretizando algo que haviasido discutido nos debates anteriores à formaçãoda Comissão, nos quais os ônibus eram consi-derados um dos principais fatores da degradaçãoambiental (THIELE, 1997, entrevista com oautor), resultando numa medida com implicaçõesdiscutíveis quanto à eficácia, mas que, com certe-za, atingiu o usuário de menor poder aquisitivo.

Além dessas medidas concretas que incidem,como vimos, sobre camelôs e usuários de ônibus,o posicionamento de Setúbal contra quaisquermanifestações políticas na Avenida (em funçãoprincipalmente dos transtornos causados aotrânsito pelas mesmas) e sobretudo o desinteresseda Associação em enfrentar a questão da deterio-ração dos edifícios residenciais – tópico queestivera em destaque no início dos debates sobrea degradação da Avenida –, significam que,potencialmente, outros atores sociais tambémestão perdendo nesse processo de revalorização.Em todos esses casos, entretanto, não se podefalar propriamente em distância entre intuitosprofessados e práticas concretas, já que não hásequer uma posição publicamente defendida pelaAssociação com relação a um programa deintervenções – como procura fazer a Viva o Centro–, com exceção das propostas do projeto vencedordo concurso, que, entretanto, não dão conta demuitos dos aspectos sociais aqui discutidos(SETÚBAL, 1997, entrevista com o autor; MA-GALHÃES JR., 1998, entrevista com o autor).

Já a atitude da Associação de PromoçãoHabitacional representa um caso mais flagrantede apoio a uma ação, por parte do poder público,com práticas irregulares que resultaram na expul-são de milhares de favelados.

Neste caso, a diferença entre a intençãomanifesta – o débil argumento de promover amelhoria habitacional de favelados – e a concreta

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– maximizar a valorização imobiliária de uma área,com a remoção de uma grande favela – explicita-se no momento mesmo do anúncio da intenção,sem quaisquer problemas éticos do ponto de vistados principais patrocinadores da idéia, quanto àexpectativa de benefícios privados.

O problema, porém, vai além disso, ligadotambém à inacessibilidade pública de sua prática.Entre as várias indagações sem resposta, não hátransparência quanto ao número concreto deunidades habitacionais construídas com o montan-te doado. A pesquisa mostrou uma defasagementre o prometido inicialmente – mil unidadeshabitacionais – e o efetivamente construído – 196unidades –, sem que houvesse qualquer pronun-ciamento da Associação quanto a eventuais redu-ções no uso do montante doado pelo pool(PREMAZZI, 1997, entrevista com o autor).

Portanto, na região mais periférica do quadrantesudoeste, onde se estrutura o pólo mais forte dosetor terciário moderno da metrópole, com apresença crescente de multinacionais, foi ondeocorreu o caso mais grave de exclusão territorial,com a expulsão de milhares de favelados, muitosdos quais prestando serviços na região, o que atestano caso total intolerância quanto às classespopulares, quando a única linguagem possível é ado mercado.

IV. CONCLUSÃO: OS CONFLITOS E NEGO-CIAÇÕES EM TORNO DA CENTRALI-DADE

O desdobramento da centralidade em São Paulorumo ao quadrante sudoeste é problemático,principalmente pelo fato de sua estruturaçãoabarcar consideráveis parcelas do orçamentopúblico, com uma concentração espacial de rendae poder, em detrimento do desenvolvimento deoutras regiões urbanas (ROLNIK et. al., 1990).

O presente trabalho aponta que tal processoencontra-se num momento decisivo quanto àpossibilidade de que venha a ser alterado. Issoporque, por um lado, a Viva o Centro vemarticulando um movimento para que tal expansãoreverta, por assim dizer, para a área central, comum desenvolvimento mais adensado e menosespraiado de urbanização, recuperando-se todauma área de importância histórica na metrópole,não só do ponto de vista de uma racionalidadeeconômica, mas também numa perspectiva maisampla, social, cultural e institucional, com um

ganho decisivo em termos de cidadania15 . Obvia-mente, há méritos em articular entidades privadase civis, definir propostas prioritárias para a áreacentral, constituir um campo de pesquisas edebates, procurar mobilizar determinadas parcelasda comunidade e manter o papel de pressão sobreos poderes públicos. Como já se disse, a Viva oCentro revela-se um campo fértil para a visibilidadetanto da complexa negociação de determinadosconsensos em torno da requalificação da áreacentral de São Paulo, quanto da trama dos conflitosdecorrentes desse mesmo processo. Tal projeto,entretanto, passa pela atuação hegemônica de umempresariado, em princípio preocupado tambémcom questões sociais ligadas à cidadania, mas queem determinados momentos cruciais tem optadopor apoiar, através de acordos políticos articuladossob a forma de lobby, intervenções urbanas quedialogam bastante com interesses mais gerais domercado. Essa relação entre cidadania e mercado,portanto, constitui aqui um campo de tensõesbastante problemático.

Na outra ponta desse processo, por sua vez,está em curso uma expansão dotada de um padrãototalmente distinto de urbanização, voltado ao setorde vanguarda do terciário moderno, mediadoexclusivamente pelas regras do mercadoimobiliário, num campo de consultoria, construçãoe instalação de empresas ligadas sobretudo acorporações multinacionais, concentrando grandepoder de decisão quanto aos rumos da expansãometropolitana. Isso resulta, sem dúvida, em umdeclínio gradativo da vida pública, não só porquevão sendo produzidos espaços desertos, um poucosemelhantes aos subúrbios norte-americanos, mastambém porque esse tipo de associativismo

15 Há também outras forças atuando hoje no Centro, comoo recém-criado “Fórum Centro Vivo”, formado a partir demovimentos populares, universidades e entidades diversas,que se opõe ao atual processo de renovação urbana em cursona área central e procura ampliar a participação popular nabusca de melhorias e de democratização da região, incluindouma clara definição de uma política habitacional. Entre osparticipantes mais expressivos, destacam-se a Central deMovimentos Populares, a União dos Movimentos de Moradiae professores e estudantes da Universidade de São Paulo(Ato político-cultural, 2000). Um dado que tem se tornadomais visível após o fim da presente pesquisa é a invasãoorganizada de prédios e terrenos por grupos de sem-teto naregião central, sobretudo a partir de 1997, com cálculos queapontavam, ao final de 1999, para ao menos 15 locaisinvadidos, com 9 mil invasores, dos quais 6 mil delesorganizados (OLIVEIRA, 1999, p. 4-1).

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empresarial tende, ao representar apenas fortesgrupos privados, a submeter o poder público àsua lógica de interesses, numa sincronia com aatual fase do capitalismo, em que a dimensãopolítica é cada vez mais subordinada apenas àordem econômica. Um desdobramento lógico éque tal prática propicia, com muito mais inten-sidade, intervenções de forte caráter excludentedo ponto de vista social e territorial, como se viuno caso em que foram atingidos milhares defavelados.

A recuperação da área central, entretanto, épor si só insuficiente do ponto de vista da inserçãodas classes populares, pois também vimos comouma série de atores sociais vêm sendo sistemati-camente excluídos dos processos pontuais derequalificação ou revalorização, dentre os quaissobressaem os camelôs – que, com todos osproblemas, representam uma estratégia de sobre-vivência para grande contingente das classespopulares –, os pobres – cuja denominação podeabranger a população de rua, desempregados,subempregados etc. – e moradores das áreas maiscentrais – cujas possíveis formas de melhoria damoradia e permanência não contam com umcompromisso claro ou são ignoradas por partedessas associações. Ainda assim, é tão significativaa presença das classes populares sobretudo noCentro, que se torna quase impossível imaginar aconcretização de processos de revitalização desti-nados apenas às classes médias e altas; é maisrealista, sobretudo no contexto de um paísperiférico como o Brasil, supor que, de algumaforma, tais classes estarão presentes nesse espaço,o que reforça a idéia de equacionar também suasdemandas.

Tendo em vista esse quadro, torna-senecessário retomar determinados fundamentos queregem o ideário da cidade moderna, como oprincípio constitutivo da diversidade social, quese manifesta por exemplo na ocupação das ruas,praças e demais espaços públicos das grandesmetrópoles, mas que também se traduz naconfiguração de uma vida pública, regida porrelações políticas e democráticas nas quais asdiferenças sejam devidamente arbitradas. Ainda queassociações como a Viva o Centro busquem – nummomento em que se frisa a necessidade de aprópria sociedade civil assumir a responsabilidadecidadã com relação aos problemas sociaisexistentes – constituir um espaço de diálogo com

os vários atores sociais de uma região de forteheterogeneidade como o Centro, do seu ponto devista não há um claro lugar para os pobres, porqueestes supostamente não teriam qualquer projeto,com sua interioridade, nesse sentido, totalmenteesvaziada.

Entretanto, no outro pólo do campo aquiabordado, no caso a territorialidade representadapela Berrini e Marginal Pinheiros, articula-se umaurbanização de apartação e segregação comconseqüências muito sérias para a metrópole.Apesar do grande desgaste desse conceito, nãohá como negar que se trata de um espaço regidopor muitas características identificadas como pós-modernas – já que mediado exclusivamente porregras do mercado imobiliário, atendendoprioritariamente a clientes específicos (no casovárias empresas sobretudo do setor terciário,muitas delas saindo das áreas centrais), com umaarquitetura que ora incorpora a idéia de flexibilidade(apta àquela exigida hoje pela lógica econômicapredominante), ora se volta às exigências dasgrandes multinacionais, que têm convergido demaneira mais recorrente para a metrópole a partirda configuração de um mercado cada vez maisglobalizado; isso se dá dentro de um ideário deforte crítica aos limites do papel do poder públicona dinâmica urbana (embora tais áreas sejamfortemente dependentes do mesmo para acontinuidade enquanto centralidades maisrecentes), constituindo uma espécie de “soluçãodescentralizada” para a cidade, com o poder deinfluir na visão predominante do que seria overdadeiro “centro” da cidade. Cabe investigarmais detidamente que tipo de urbanização é essa equal a extensão de suas conseqüências para ametrópole como um todo, já que vem acentuandoo declínio não só dos espaços públicos mastambém da vida pública.

Fechando este artigo, é óbvio que tais fenôme-nos e seus desdobramentos têm ressonânciaspolíticas não apenas para as áreas mais centraisda cidade, mas para o contexto urbano como umtodo. Embora trate-se de um estudo sobre SãoPaulo, pode vir a ser pensado – guardadas váriasproporções e particularidades, ou apreendendo-se apenas partes do mesmo –, para outras grandescidades que envolvam algum grau de multipo-laridade, ainda que a capacidade de São Paulo,enquanto laboratório social, de servir de modelopara reflexão sobre outras metrópoles seja objeto

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de discussões (VALLADARES, 2000, p. 11-12).

Retomando a proposta inicial do artigo, pode-se dizer que, tendo em vista a crescentecomplexidade das relações entre espaço esociedade nos estudos urbanos, sobretudo quantoaos quadros metropolitanos mais recentes,marcados por crescentes incertezas, talvez sepossa manter como intento básico a busca deanálises mais abrangentes, tendo em vistamediações equilibradas entre o tempo e o espaço.Como bem lembra Carl Schorske em sua obramais recente, a aproximação da história – maisafeita aos processos diacrônicos – com a antro-pologia – mais atenta às simultaneidades –proporcionou à primeira um maior conhecimento

“sincrônico” ou “transversal” do passado, mas nãose pode esquecer do desafio de se continuarcompreendendo as mudanças, só possível,segundo o autor, através de uma abordageminterativa entre cultura e política (SCHORSKE,2000, p. 255). No plano da presente abordagem,procurando combinar as especificidades dosplanos locais com conexões mais amplas (emtermos temporais e também espaciais), buscou-se decifrar uma de nossas megacidades, à luz dedeterminados eixos, a partir dos quais ainda épossível reconstituir determinadas totalidades, oumapas que permitam superar a sedutora imagemde uma cidade apenas formada por um jogo infinitode fragmentos.

Recebido para publicação em 15 de maio de 2001.

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