a questão da pena de morte

Download A Questão da Pena de Morte

If you can't read please download the document

Upload: chris-x-ms

Post on 16-Apr-2017

421 views

Category:

News & Politics


0 download

TRANSCRIPT

A Questo da Pena de Morte

A Questo da Pena de Morte"Quantas mortes ainda sero necessrias para que se saiba que j se matou demais?" Bob Dylan O simplismo de considerar a defesa dos direitos humanos a defesa de direitos de criminosos tem de ser desmascarado. Aqueles que defendemos o direito vida de todos, de todos sem exceo, no podemos ser confundidos com criminosos ou defensores de suas posturas. O que almejamos mesmo o fim da barbrie e do dio. O Estado brasileiro falha diante de seus cidados, do bero sepultura. Ms condies de educao e sade, de moradia, de sobrevida material mesmo, acabam por reduzir o ser humano situao desesperadora de louco desviante em muitos casos. H muita gente desesperada por providenciar sua sobrevivncia e a dos seus, ainda que para isso tenha de romper com as normas sociais vigentes. Se o Estado brasileiro o maior responsvel pela elevao no ndice de criminalidade, particularmente tendo em vista a brutal e dificilmente equiparvel, em escala planetria, concentrao de renda, o Estado brasileiro carece de condies morais para dizer "quem tem o direito vida (assegurado na Constituio, por sinal) e quem, por seus crimes, deve ser apenado com a perda deste direito humano bsico", at porque o juzo humano falho, a pena-de-morte uma punio evidentemente irreversvel e o "exemplo" deve vir sempre de cima, jamais dos desesperados. Montar uma fbrica de desesperados e, para "solucionar", montar uma mquina de extermnio de desesperados no me parece racional. coisa parecida "Soluo Final" dos nazistas... Como o neocolonialismo nos colocou sob a rbita de influncia dos EUA, muitos apreciam citar aquela Nao como exemplo a ser seguido. Talvez a proposta seja vlida para alguns casos, mas especificamente na esfera dos direitos humanos h muito pouco a aprender com os ianques. Os EUA so a nica Nao do primeiro mundo em que este crime medieval praticado, quando o Estado mata, com o beneplcito do aparelho judicirio. Mas a justia norte-americana tem se equivocado em diversos casos de apenamento com a morte. Algum poderia contra-argumentar que o aparelho judicirio brasileiro seria superior e no cometeria falhas. Ser? Somos todos humanos, sujeitos a falhas, portanto

Segundo a Seo Brasileira da Anistia Internacional, as argumentaes contra a pena de morte podem seguir a seguinte direo:1 - Economia: como se a vida humana pudesse ter um preo, os defensores do assassinato estatal institucionalizado, quando o Estado mata ao invs de promover a vida, "informam" que matar um suposto autor de "crime hediondo" mais barato que mant-lo, por exemplo, aprisionado por toda a vida. Falso. As custas de processos, crcere protegido especial (para evitar linchamentos), apelaes, vigias, sacerdotes, maquinrio e carrascos custam trs vezes mais que um aprisionamento perptuo do cidado a ser assassinado, por exemplo. Embora esteja bem claro que a priso perptua seja medida mais econmica que a condenao capital, temos de pensar em algo mais humano ainda: a implantao de colnias penais agrcolas, onde o detento poderia custear seu prprio sustento, sem onerar os cofres pblicos, os contribuintes e, alm do mais, trazer o ressarcimento econmico aos seus erros para com a sociedade. Estaria, e isso o mais importante, vivo para que eventuais erros judicirios fossem reparados. Grupos de extermnio, claro, no sujeitos a todas estas formalidades, no so onerosos, nem eficientes, nem eticamente dignos de considerao numa anlise sria como esta pretende ser. 2 - Intimidao: H quem creia que, num Estado onde exista a pena capital, o assassinato institucionalizado, o eventual criminoso tenda a "pensar duas vezes" antes de cometer delito hediondo. Antes de mais nada, os fatos apontam na direo contrria: onde a pena de morte praticada os ndices de criminalidade so os mais elevados. Especula-se que o eventual criminoso tenda a eliminar potenciais testemunhas de um delito praticado em momento no refletido de sua vida. Isso, claro, quando o sujeito pra para pensar na besteira que estaria fazendo, o que raro acontecer. Crimes hediondos, em geral, so praticados por pessoas em estado de total descontrole, provisrio ou permanente, de suas faculdades mentais. Vale a pena ressaltar que na Frana houve uma significativa diminuio nos ndices de criminalidade com a abolio da guilhotina enquanto que no Ir aqueles ndices sofreram significativo aumento com a reimplantao da pena de morte aps a revoluo islmica. Especula-se neste caso que as pessoas que vivem numa Nao violenta, competente para matar ou deixar viver, tendem a seguir-lhe o exemplo... 3 - Vingana: O mais srdido e menos tico dos argumentos utilizados pelos defensores do assassinato institucionalizado. Descendo ao nvel moral daqueles que qualificam como criminosos, os pregadores da vingana insistem na "Lei de Talio", s possvel a no-cristos, claro, mas que precisa ser considerada tambm. Ao invs de ansiar e trabalhar pela elevao dos padres intelectuais e morais das pessoas, aqueles que defendem a implantao da pena de morte pregam um retrocesso do Estado ao nvel de barbrie em que se encontram alguns criminosos produzidos, repita-se, por uma ordem social injusta em ltima anlise, desigual e cruel em sua essncia. Vale lembrar aqui as palavras do Mahatma Gandhi: "Um olho por um olho acabar por deixar toda a humanidade cega!" vital deter a propagao do Mal, no expandi-la! 4 - Desumanidade: "O que que merece algum que comete um crime hediondo (assalto, estupro ou seqestro com morte)?" ou "O que que voc faria se algum ente querido seu fosse sordidamente seviciado e assassinado?" Ora bolas, no cabe a ningum dizer quem humano e quem, pelos seus crimes, deixou de o ser e com isso perdeu seus direitos! Os nazistas, a quem a histria julgou e execrou, agiam assim: primeiro tiravam o status de humano de criminosos comuns, depois de criminosos polticos, depois de pessoas consideradas racialmente inferiores e os iam exterminando a todos. Quanto ao que um homem transtornado por desejos pessoais de vingana faria um assunto. Outro assunto o que o Estado lcido e ponderado, na figura de seus magistrados deve fazer. 5 - Banalidade do Mal: O defensor da pena capital, em geral, no se d conta de seu grau de comprometimento com a medida que prope, pensa que, por caber a outros a execuo do que prope j nada mais tem a ver com isso. De novo o modelo nazista: o Fhrer no se sentia pessoalmente responsvel pelo que acontecia fora de seu gabinete acarpetado onde as penas capitais eram decretadas, nem seus oficiais por meramente retransmitir ordens dadas, menos ainda os subalternos por cumprir aquelas ordens, todos burocraticamente distantes uns dos outros. Aqueles que defendem o assassinato institucionalizado no Brasil contemporneo no querem comprometer-se, mas preciso demonstrar, por mais chocante que isto possa parecer que cada vez que algum comete o simples ato de erguer a mo para votar a favor da implantao desta excrescncia em nossa legislao est sendo cmplice em potencial de um assassinato a ser cometido pelo Estado.

A ttulo ainda de reflexo, algumas citaes interessantes em torno desta temtica: "Vim ao mundo para que tenham Vida e Vida em abundncia!" Jesus Cristo "Nunca pode haver uma justificativa para a tortura, ou para tratamentos ou penas cruis, desumanas e degradantes. Se pendurar uma mulher pelos braos at que sofra dores atrozes uma tortura, como considerar o ato de pendurar uma pessoa pelo pescoo at que morra?" Rodolfo Konder "O que a pena capital seno o mais premeditado dos assassinatos, ao qual no pode comparar-se nenhum ato criminoso, por mais calculado que seja? Pois, para que houvesse uma equivalncia, a pena de morte teria de castigar um delinqente que tivesse avisado sua vtima da data na qual lhe infligiria uma morte horrvel, e que a partir desse momento a mantivesse sob sua guarda durante meses. Tal monstro no encontrvel na vida real." Albert Camus "Quando vi a cabea separar-se do tronco do condenado, caindo com sinistro rudo no cesto, compreendi, e no apenas com a razo, mas com todo o meu ser, que nenhuma teoria pode justificar tal ato." Leon Tolsti "Pedirei a abolio da pena de morte enquanto no me provarem a infalibilidade dos juzos humanos." Marqus de Lafayette " A pena de morte um smbolo de terror e, nesta medida, uma confisso da debilidade do Estado." Mahatma Gandhi "Mesmo sendo uma pessoa cujo marido e sogra foram assassinados, sou firme e decididamente contra a pena de morte... Um mal no se repara com outro mal, cometido em represlia. A justia em nada progride tirando a vida de um ser humano. O assassinato legalizado no contribui para o reforo dos valores morais." Coretta Scott King, viva de Martin Luther King.