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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE A PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE Por: Regina Célia da Silva Orientador Prof. Ms Mary Sue Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

A PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE

Por: Regina Célia da Silva

Orientador

Prof. Ms Mary Sue

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

A PSICOMOTRICIDADE NA TERCEIRA IDADE

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para

a conclusão do Curso de Pós-Graduação

em Psicomotricidade.

Por: Regina Célia da Silva.

Rio de Janeiro

2004

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RESUMO

Este estudo pretende investigar de que forma a psicomotricidade na terceira idade

pode melhorar a qualidade de vida do idoso, através de atividades que envolvam

o condicionamento físico, com base na hipótese de que a promoção de saúde e a

qualidade de vida são os objetivos mais importantes na reeducação psicomotora

em idosos. É fundamental que o idoso aprenda a lidar com as transformações de

seu corpo e tire proveito de sua condição, prevenindo e mantendo em bom nível

sua plena autonomia. O tema foi escolhido pela vontade de elaborar um trabalho

que leve ao conhecimento do público em geral, a importância do tema a ser

investigado. A reeducação psicomotora é uma ferramenta importante para

melhorar a qualidade de vida daqueles que já envelheceram ou que estão no

processo de envelhecer. Isto é uma conquista social, a manutenção de autonomia

e independência. Em face do exposto, sugere-se realizar outros estudos

procurando definir com maior precisão: parâmetros para prescrição de exercícios

dirigidos a idosos; disposição seqüencial adequada para os componentes de um

programa de exercícios físicos; modo de progressão adequado em programas

desenvolvidos com idosos.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Restrições e cuidados quanto aos programas de exercícios ............ 24

Quadro 2 – Intensidade e duração para exercícios físicos, indicada por diversos

autores ................................................................................................................. 26

Quadro 3 – Seleção do número de sessões semanais a partir da capacidade

funcional em METs .............................................................................................. 27

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METODOLOGIA

A realização desse estudo tem como fim desenvolver o habito de

pesquisa, o senso critico, a capacidade de analise, o poder de síntese e a

criatividade no campo profissional. Visa, de outro lado, colher subsídios sobre

assuntos técnicos-profissionais. Entretanto, o objetivo ultimo e, sobretudo, a

obtenção de contribuições pessoais a ciência. Por esses motivos, a pesquisa

explicativa foi escolhida, no sentido de expor o tema sob o ponto de vista dos

autores analisados, explicando o conceito de cada um sobre o tema.

Desta sorte, pretende-se alcançar tais objetivos procedendo uma

pesquisa bibliográfica como meio para atingir os objetivos traçados, pois, como

qualquer outra modalidade de investigação, oportuniza estes ganhos.

Esse estudo qualitativo visa fornecer aos leitores uma apreciação do tema

“Psicomotricidade na Terceira Idade”. O foco dos conteúdos discutidos está em

procedimentos que possibilitem a humanização do processo seletivo e o torne

mais efetivo e eficaz.

A pesquisa bibliográfica e de grande valia para as investigações que

pretendam o aprofundamento de temas, pois, através dela, e possível abranger-

se, amplamente, tudo o que for escrito, dito ou filmado sobre determinado

assunto.

Esta vantagem e assegurada quando a modalidade de pesquisa permite a

utilização de fontes secundarias expressas por meio de documentos impressos

(publicações avulsas, boletins, jornais, livros, monografias, teses, entre outros),

auditivos (a citar, programas de radio, conferencias, palestras ou debates

gravados em audio-cassete) ou audio-visuais (como e o caso de programas

televisivos ou videográficos produzidos por centros de saúde ou emissoras de

quaisquer naturezas).

Ao levantamento de dados primeira etapa de qualquer pesquisa se

sucedera a fase de seleção do material. Estas etapas do trabalho, devem esgotar-

se em agosto próximo, pois já estão em andamento. Até o momento, as fontes

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consultadas incluíram (ao) materiais impressos, obtidos em visita a bibliotecas de

universidades.

A leitura analítica dos materiais julgados procedentes ao trabalho tem

respeitado as instancias indicadas pela literatura da área de metodologia. Ou

seja, tem-se procedido (a) uma primeira leitura do material visando a aquisição

de uma visão de conjunto do pensamento do autor (analise textual); (b) uma

leitura voltada a apreensão do pensamento do autor que propicie a síntese das

idéias expostas (analise temática); (c) uma leitura que contribua para a interação

comunicativa entre o autor do texto e a autora de pesquisa, oportunizando a

construção de juízo critico face ao exposto (analise interpretativa).

Tudo o que for entendido como essencial ao trabalho passara a ser

documentado, por meio de fichas etapa denominada fichamento. Três tipos de

fichamento tem sido adotados: as fichas de citação, as fichas de resumo e

aquelas designadas analíticas ou interpretativas.

Por fim, a analise comparativa entre os dizeres dos autores, bem como a

interpretação dos dados levantados em função do objetivo do estudo e das

questões a ele subjacentes, viabilizarão o estabelecimento das considerações e

recomendações do trabalho, a serem tecidas em capitulo a parte.

A principal limitação de um estudo explicativo é a necessidade de lidar

com o tema sob uma linguagem simples, didática e de fácil entendimento,

facilitando a compreensão do leitor sobre o tema estudado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E A AVALIAÇÃO

PSICOMOTORA

CAPÍTULO III – A ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE CAPÍTULO III – A

ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

Tema: A Psicomotricidade na Terceira Idade

Por: Regina Célia da Silva

Data de Entrega: _____ / _____ / _____

Avaliado por: ________________.

Grau: _____ .

Rio de Janeiro, _____ de __________ de 2004

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7

CAPÍTULO I – A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO ............................................10

1.1 – O processo de envelhecimento ....................................................................11

1.2 – A saúde e a auto-estima do idoso ................................................................14

1.3 – A melhoria na qualidade de vida do idoso ...................................................16

CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E A AVALIAÇÃO

PSICOMOTORA .................................................................................................. 18

2.2 – Desenvolvimento psicomotor ...................................................................... 19

CAPÍTULO III – A ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE ........................... 27

3.1 – Elaboração de um programa de exercícios físicos para idosos .................. 27

3.2 – Objetivos do programa de exercícios dirigidos a idosos ............................. 30

3.3 – Composição do programa de exercícios ..................................................... 31

3.4 – Cuidados e restrições ................................................................................. 32

3.5 – Intensidade, duração, freqüência e tipo de exercícios ................................ 34

3.6 – Características dos exercícios voltados para a terceira idade .................... 36

CONCLUSÃO ...................................................................................................... 38

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 40

ATIVIDADES CULTURAIS .................................................................................. 43

ÍNDICE ................................................................................................................. 44

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INTRODUÇÃO

Uma das questões mundiais está relacionada com a Terceira Idade, ou

seja, o envelhecimento da população. Este assunto causa grande influência nos

setores social e econômico, ganhando um importante espaço no meio acadêmico

e se destacando nos meios de comunicação. Para se ter noção, deste

crescimento demográfico da população acima de 60 anos, pode-se tomar como

exemplo o fato de que, no Brasil, o aumento da população idosa será da ordem

de 15 vezes entre 1950 e 2025, enquanto o da população como um todo será de

não mais que cinco vezes no mesmo período. Tal aumento colocará o Brasil, no

ano 2025, como a sexta população de idosos do mundo em termos absolutos

(cerca de 34 milhões de pessoas acima de 60 anos).

São muitos os problemas que afetam significativamente a qualidade de

vida dos idosos e que são geradores de importante stress familiar e consumidores

de grande parte dos recursos públicos: problemas de natureza médica, social e

jurídica. Tal situação se torna mais acentuada pela precariedade da infra-estrutura

existente e pela tradição de escassos investimentos em programas que visam a

atender de modo eficiente às necessidades deste segmento populacional.

Neri (1991) define "boa qualidade de vida" como a condição das pessoas

não se sentirem limitadas para tarefas que desejam realizar, por falta de condição

física. Evidentemente uma pessoa que tenha bem desenvolvidas todas as

qualidades de aptidão estará preparada para qualquer tipo de esforço. O

sedentarismo é a causa mais freqüente de má condição física, diminuindo todas

as qualidades de aptidão. Na terceira idade, essa situação se agrava, pela

possibilidade do sedentarismo levar o idoso a desenvolver patologias como a

síndrome da imobilidade, acarretando malefícios à sua saúde, à sua qualidade de

vida e à sua auto-estima. Surge, então, a questão: De que forma a

psicomotricidade na terceira idade pode melhorar a qualidade de vida do idoso,

através de atividades que envolvam o condicionamento físico?

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O estudo acredita na hipótese de que a promoção de saúde e a qualidade

de vida são os objetivos mais importantes na reeducação psicomotora em idosos.

É fundamental que o idoso aprenda a lidar com as transformações de seu corpo e

tire proveito de sua condição, prevenindo e mantendo em bom nível sua plena

autonomia.

Com isso é possível se alcançar níveis baste satisfatórios de desempenho

físico, gerando autoconfiança, satisfação, bem-estar psicológico e interação

social. Deve-se levar em conta que o equilíbrio entre as limitações e as

potencialidades da pessoa idosa ajudam a lidar com as inevitáveis perdas

decorrentes do envelhecimento.

Sendo assim, o objetivo deste estudo é investigar a psicomotricidade na

terceira idade. Os objetivos específicos são: estudar os fatores físicos e

emocionais envolvidos no processo do envelhecimento, analisar a saúde e a auto-

estima do idoso e relatar de que forma a reeducação psicomotora através de

atividades físicas pode melhorar a qualidade de vida na terceira idade.

O tema foi escolhido pela vontade de elaborar um trabalho que leve ao

conhecimento do público em geral, a importância da psicomotricidade na terceira

idade. Dessa forma, a escolha desse tema para a realização dessa pesquisa

ocorreu devido ao grande valor que ele representa atualmente, principalmente

para a terceira idade. O estudo acredita que a reeducação psicomotora é uma

ferramenta importante para melhorar a qualidade de vida daqueles que já

envelheceram ou que estão no processo de envelhecer. Isto é uma conquista

social, a manutenção de autonomia e independência.

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CAPÍTULO I

A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

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Não é justo, não é humano somente prolongar a vida dos que já

ultrapassaram a fase de homens adultos, quando se não lhes dá condições para

uma sobrevivência digna. Olhando sob este prisma, não há dúvida ao se afirmar

que é melhor acrescentar vida aos anos a serem vividos do que anos à vida

precariamente vivida. É sabido que existe perda da capacidade funcional com o

avançar da idade, mas também é sabido que a plasticidade, reversibilidade ou,

melhor, a capacidade de modificação desse processo tem sido largamente

comprovada. A reeducação psicomotora é peça fundamental no que se diz

respeito a recursos terapêuticos utilizados com finalidades de preservação da

função ao adiamento da instalação de incapacidades em sua forma preventiva. A

psicomotricidade nos mostra vasto campo de estudos e trabalhos a serem

realizados em benefício da população de uma época em que antes chamávamos

de futuro, mas que representa, na verdade, o hoje e o agora.

Segundo Hutz (1996), apesar da gerontologia ser um ramo da ciência que

se propõe a estudar o processo de envelhecimento e os múltiplos problemas que

envolvem a pessoa idosa, ela é paradoxalmente jovem. O fato é que o

envelhecimento, apesar de ser um fenômeno universal e comum a quase todos

os seres animais, teve o seu estudo negligenciado durante muito tempo e os

mecanismos envolvidos em sua gênese permanecem obscuros, existindo um

longo caminho a ser percorrido até que novos estudos sejam mais

esclarecedores.

O autor relata que o final do século XX foi marcado pela explosão de

medidas protetoras que visam postergar a morte. Nas populações nas quais tais

medidas inexistem ou são precárias, a possibilidade de morte estará sempre

presente em qualquer período da vida. Nas populações mais protegidas, que

habitam em comunidades em que o meio ambiente se acha sob controle, a morte

pode ser postergada até o limite biológico de existência, que é 85 anos. O tempo

médio de sobrevivência de uma população pode ser representado graficamente

pela curva de sobrevivência. Esta é expressa pela porcentagem da população

que permanece viva num determinado momento.

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1.1 O processo de envelhecimento

Segundo Papáleo Netto (1996), as populações dos países desenvolvidos,

que possuem expectativa de vida de aproximadamente 77 anos, já estão

apresentando curvas próximas do contorno retangular. Mesmo nos países em

desenvolvimento, com expectativa média de 67 anos, está ocorrendo uma certa

tendência à retangularização da curva, embora ainda muito distante do nível

atingido pelo Primeiro Mundo.

Em 1900, menos de 1% da população tinha mais de 65 anos de idade, enquanto hoje, ao se aproximar o fim do século, esta cifra já atinge 6,2 % acreditando-se que no ano 2050 os idosos serão um quinto da população mundial. No Brasil, os idosos que representavam 4,2 % da população em 1950, hoje perfazem 10,5 milhões, ou seja, 7,1 % do total (PAPALÉO NETTO, 1996, p. 19).

Este aumento acentuado do número de idosos trouxe conseqüências

dramáticas para a sociedade e, principalmente, para os profissionais de

assistência educacional e médica que lidam com a população idosa, como é o

caso de arteterapeuta que tem seu trabalho voltado para a terceira idade. Léa

(1983) afirma haver necessidade de se buscar as causas determinantes das

atuais condições de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer as múltiplas

facetas que envolvem o processo de envelhecimento, para que o desafio seja

enfrentado por meio de planejamento adequado.

A análise das principais causas determinantes do retardo dos

conhecimentos da geriatria, a discussão das repercussões biofisiológicas e

emocionais causadas pelo processo de envelhecimento sobre o indivíduo, o

impacto demográfico determinado pelo crescimento acentuado da população

idosa e suas repercussões sociais sobre o velho, sobre a sociedade e sobre o

sistema de saúde são medidas básicas necessárias ao melhor entendimento do

processo de envelhecimento (PAPÁLEO NETTO, 1996).

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O autor relata que o segmento da população que atinge a maior idade

está crescendo e ocupando um grande espaço na nossa sociedade. Não faz

muito tempo, e dizia-se que o Brasil era um país de jovens, parte da população

tinha menos de trinta anos de idade. No entanto nos últimos anos vem ocorrendo

uma mudança a nível mundial. No Brasil em 1990 havia cerca de 10 milhões de

pessoas acima de 65 anos de idade, e há uma previsão para o ano 2025 de 35

milhões de idosos, quando o nosso país ocupará o 6º lugar entre os demais. Hoje,

o último censo nos mostra essa nova realidade, em 1990 a expectativa de vida do

brasileiro era em média de 60 anos, já em 2000 houve um aumento para 68 anos

e 7 meses. Para quem tem hoje 40 anos a expectativa atual é de 73anos e 10

meses, para quem tem 60 anos é 77 anos e 9 meses. Segundo o IBGE as

mulheres vivem mais, e a diferença entre homens e mulheres em 1991 era de

sete anos e 2 meses, em 2000 foi de sete anos e 9 meses. A menor expectativa

de vida do país é a do estado de Alagoas com uma média de 63 anos e 2 meses

e a média mais alta situa-se no estado do Rio Grande do Sul com 71 anos e 7

meses. Na Espanha as mulheres que nascerem agora terão a maior expectativa

de vida da Europa (82,7 anos), para os homens não é tão estimulante, ocupam o

sétimo lugar com uma esperança de 75,5 anos. Os líderes vitais são os

Islandeses, com 78 anos. Estes são dados atuais apurados pelo programa de

Desenvolvimento demográfico do Conselho da Europa desenvolvido em 43 paises

membros e três não membros. Aqui, no Brasil, o setor de Previdência Social

deverá ser violentamente atingido, e o setor de saúde, por sua vez está

totalmente despreparado para esta realidade, pois ainda está muito voltado para

as crianças e os jovens, quando a realidade nos indica novos dados em relação à

população da terceira idade, onde já se pensa em criar uma nova faixa etária que

seria a 4ª idade, sem falarmos na formação médica que ignora totalmente o

trabalho com os idosos. Medidas imediatas e dentro da nossa realidade, deverão

permear as mudanças em todos os níveis da nossa sociedade e principalmente

do nosso sistema de saúde e previdenciário. Este é um desafio que

enfrentaremos para lidar com essa mudança de forma positiva, para que o nosso

idoso seja mais saudável.

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Atualmente, a expectativa de vida do idoso tem aumentado.

Primeiramente, devido ao saneamento básico de regiões que antes não podiam

oferecer quaisquer condições de higiene à população idosa, que está mais

propensa a patologias e infecções. Em segundo lugar, devido à medidas como o

acesso aos medicamentos à população em geral e melhoria da qualidade de vida,

investimentos em tecnologia para a descoberta da cura das doenças que

acometem a população senil, divulgação de informações sobre como o idoso

deve ser tratado e respeitado em nossa sociedade através dos meios de

comunicação, além do aumento no número de diagnósticos e intervenção médica

mais rápidos.

Mesmo com todos esses avanços, uma parte da nossa sociedade tem

uma visão preconceituosa e distorcida a respeito da terceira idade. Ligia Py

(1999, p. 25) aponta que “há uma verdadeira ideologia no princípio da dignidade,

do princípio do sacrifício do sofrimento que deve ser aceito como uma cruz

necessária por todos, em particular pelas pessoas idosas”.

1.2 A saúde e a auto-estima do idoso

A saúde é um fator de risco a ser considerado na terceira idade,

principalmente porque muitos indivíduos vêem a terceira idade relacionada ao

envelhecimento e conseqüentemente ao aparecimento de doenças. Há ainda a

possibilidade de os aposentados não mais contarem com o benefício do plano de

saúde fornecido pela empresa.

A decisão do momento da aposentadoria dependerá também de como o

pré-aposentado avalia sua condição de saúde e dos cuidados que deverá ter para

aproveitar melhor esta nova fase de vida. Por outro lado, a inatividade e a falta de

perspectivas na terceira idade poderão resultar em sentimentos de ansiedade e

depressão que comprometem a saúde do indivíduo (FRANÇA, 1999). Não são

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raros os casos de doenças psicossomáticas adquiridas durante e após o processo

da aposentadoria.

Deve ser estimulada a avaliação da condição de saúde através de

exames e de visitas periódicas ao clínico geral ou a um geriatra, bem como

informações sobre alimentação balanceada, exercícios, atividades físicas e outros

cuidados a serem inseridos no planejamento de saúde para a aposentadoria.

Devem ser disseminadas informações sobre saúde e as conseqüências

relacionadas ao abuso do álcool, tabagismo e o consumo de medicamentos na

terceira idade. De acordo com a pesquisa de Miralles (in ROSENFELD, 1999), o

consumo médio de remédios entre pessoas com mais de 60 anos, atendidas em

ambulatórios no Rio de Janeiro, era em torno de 3,24 medicamentos. Veras (in

ROSENFELD, 1999) também assinala em seu estudo que 27,16% dos idosos no

Rio de Janeiro consumiam medicamentos sem prescrição médica.

Ainda relacionados à promoção de saúde estão os relacionamentos

satisfatórios e as atividades prazerosas, fatores de suporte na aposentadoria, que

serão abordados mais adiante.

França (1989) destaca a influência do nível sócio-econômico e cultural

sobre a auto-imagem e a auto-estima nas pessoas idosas. Essa influência foi

confirmada na pesquisa realizada por Caldas (1997) onde os idosos que tinham

melhores condições sócio-econômicas apresentaram as seguintes características:

(a) valorizam o auto-cuidado; (b) investem prioritariamente em formas de lazer e

atividades comunitárias; (c) relatam desconhecer a velhice; (d) apresentam

sentimentos de dignidade e de utilidade em alto grau; e (f) tiveram vínculos

afetivos com o trabalho e oportunidades de desenvolver outras potencialidades.

França (1989) e Caldas (1997) concluem que a perda do poder aquisitivo

que ocorre com a aposentadoria favorece a perda da autonomia e,

consequentemente, do sentimento de dignidade. Conforme apontado por Caldas

(1997), a relação mais imediatamente encontrada entre o trabalhadores de

classes subalternas e o trabalho foi a luta pela sobrevivência. Para eles, o

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trabalho apresenta-se como negação do prazer e da possibilidade de

desenvolvimento de outras potencialidades do ser humano.

Parece óbvio que, em alguns casos, a aposentadoria seja uma forma de

libertação de uma atividade desagradável ou insatisfatória onde o indivíduo queira

simplesmente descansar ou experimentar uma sensação de liberdade sem

rotinas. Refletir sobre a aposentadoria é analisar mais uma etapa do

desenvolvimento do homem no seu contexto. Contudo, pela interdependência dos

conteúdos do passado, presente e futuro, o tema interessa a qualquer idade,

devendo ser discutido tanto com o jovem que ingressa no mercado de trabalho,

quanto com quem está próximo à aposentadoria, e ainda com aqueles que já se

aposentaram. Sendo assim, a preparação deve ser organizada como um

processo educativo, contínuo e relacionado a um planejamento de vida (FRANÇA,

1999).

1.3 A melhoria na qualidade de vida do idoso

As atividades na terceira idade representam verdadeiros antídotos contra

a depressão, pois favorecem a incorporação de novas opções de identidade

social e de reforço na auto-imagem e auto-estima. Entretanto, nem todos sabem

exatamente o que gostariam de fazer no futuro. Num estudo desenvolvido no Rio

de Janeiro, França (1988) observou que grande parte dos participantes, quando

questionados sobre seus interesses e motivações (a curto, médio e longo prazo),

apresentavam respostas atreladas ao mundo familiar ou refletiam a incerteza e

acomodação com relação ao futuro.

Zanelli (1996) também encontrou respostas similares em sua pesquisa

realizada em 1994, com relação a perspectivas de futuro na terceira idade, onde

destacaram-se a desinformação, resignação e temores aos problemas, às

doenças ou à instabilidade econômica. Por outro lado, não foram tão variadas as

expectativas de lazer apresentadas num estudo realizado com grupo de pessoas

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com mais de 50 anos que procuravam companheiros através de jornais no Rio de

Janeiro (FRANÇA, 1989). A maioria declarou usar o seu tempo livre para realizar

visitas a parentes e amigos, assistir à televisão e dedicar-se à leitura.

Foi constatado que grande parte dos trabalhadores não tiveram a

oportunidade de experimentar atividades simples de lazer como uma caminhada

na praia ou na montanha. A psicomotricidade pode facilitar a descoberta,

manutenção ou resgate de prazeres simples que possam trazer um retorno

enriquecedor e estimulante para a vida.

CAPÍTULO II

O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E A AVALIAÇÃO

PSICOMOTORA

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O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E A AVALIAÇÃO

PSICOMOTORA

Além dos vários testes e escalas psicométricas e do comportamento

adaptativo para diagnosticar as necessidades especiais, Alexander (2003) indica

que a avaliação psicomotora pode ser usada como parâmetro para observar as

condições psicomotoras dos indivíduos avaliados, haja visto que quando há um

desenvolvimento cognitivo inadequado, provavelmente há um atraso no

desenvolvimento motor. Estes instrumentos são utilizados tanto para detectar

possíveis déficits psicomotores, quanto auxiliam na elaboração de um

planejamento para a estimulação psicomotora quando tais déficits são apontados.

Para Coste (1998), a psicomotricidade é a integração das funções

motrizes e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do sistema nervoso,

destacando as relações existentes entre a motricidade, a mente e a afetividade do

indivíduo. O termo psicomotricidade aparece a partir do discurso médico,

quando foi necessário nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além

das regiões motoras. Na concepção atual, é impossível separar as funções

motoras, as neuro-motoras e perceptivo-motoras, das funções puramente

intelectuais e da afetividade. Daí pode-se afirmar que o desenvolvimento

psicomotor se opõe à dualidade entre a psique e o corpo.

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Fonseca (1995) acrescenta que a função motora, o desenvolvimento

intelectual e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados no indivíduo, e

a psicomotricidade quer justamente destacar a relação existente entre a

motricidade, a mente e a afetividade, facilitando a abordagem global da criança

por meio de uma técnica.

Autoconturier (1996) distingue corpo e organismo, dizendo que um

organismo é comparável a um aparelho de recepção programada, que possui

transmissores capazes de registrar certos tipos de informação e reproduzi-las,

quando necessário. Já o corpo não se reduz a esse aparato somático, quando

atravessado pelo desejo e pela inteligência, compõe uma corporeidade, um corpo

que aprende, que pensa e atua.

O organismo bem estruturado é a base para a coordenação global,

conseqüentemente, as deficiências orgânicas e o sedentarismo podem

condicionar ou dificultar esse processo. Segundo Fonseca (1995), a prática de

atividades física inclui sempre o corpo, porque inclui o prazer, e este está no

corpo, sem o qual o prazer desaparece. O organismo constitui a infra-estrutura

neurofisiológica de todas as coordenações, e que torna possível a coordenação

global. Um organismo enfermo, deficiente ou sedentário pode prejudicar a

coordenação motora na medida que afeta o corpo, o desejo, a inteligência.

2.1 O desenvolvimento psicomotor

Le Boulch (1997) compreende o desenvolvimento psicomotor como a

interação existente entre o pensamento, consciente ou não, e o movimento

efetuado pelos músculos, com ajuda do sistema nervoso. Desse modo, cérebro e

músculos influenciam-se e educam-se, fazendo com que o indivíduo evolua,

progredindo no plano do pensamento e da motricidade. O desenvolvimento

humano implica transformações contínuas que ocorrem através da interação dos

indivíduos entre si e entre os indivíduos e o meio em que vivem.

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Harlow e Bromer (1942), citados por Fonseca (1995), demonstraram que

o córtex motor exerce uma função determinante na coordenação motora e em

todas as funções de aprendizagem, sedo as relações entre psicomotricidade e

coordenação global, efetivamente inter-relacionadas em termos de

desenvolvimento psiconeurológico.

As diferentes fases do desenvolvimento motor têm grande importância,

pois colaboram para a organização progressiva das demais áreas, tal como a

inteligência. Isto não é menos verdadeiro com a criança com deficiência mental.

Quanto mais dinâmicas forem as experiências da criança deficiente, à partir de

sua liberdade de sentir e agir, através de brincadeiras e jogos, maiores serão as

possibilidades de enriquecimento psicomotor.

Analisando o processo evolutivo do ser humano, Alexander (2003)

percebe que há dois momentos interessantes: inicialmente, as aprendizagens, ou

seja, o método de estabelecer conexão entre certos estímulos e determinadas

respostas para aumentar a adaptação do individuo ao ambiente, ficam numa

dependência maior dos aspectos internos, isto é, da maturação do sistema

nervoso central (SNC); em seguida, as aprendizagens dependem mais das

informações provindas do meio externo que são captadas pelos órgãos

sensoriais. Portanto, há uma intima relação entre as influências internas e

externas, criando a necessidade da integridade do SNC e subsídios para o

estabelecimento de conexões com os estímulos ambientais ambiente para um

desenvolvimento percepto-motor normal.

A importância de um adequado desenvolvimento motor está na intima

relação desta condição com o desenvolvimento cognitivo. A cognição é

compreendida como uma interação com o meio ambiente, referindo-se a pessoas

e objetos. Segundo a teoria Piagetiana, para o desenvolvimento dos processos

mentas superiores, a criança passa por 3 períodos, sedo estes: 1o - Período

sensório-motor (0 a 2 anos); 2o - Período da inteligência representativa, que

conduz às operações concretas (2 a 12 anos); e 3o - Período das operações

formais ou proposicionais (12 anos em diante). (PIAGET, 1987)

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Dentro do período sensório-motor, há duas sub-fases, sendo a primeira a

relação da centralização do próprio corpo e a segunda, a objetivação e

especialização dos esquemas de inteligência prática. Segundo Autocouturier

(1996), este período se desenvolve através de seis estágios.

• Estágio 1: estagio relacionado às respostas reflexas, os quais Piaget

não considera como respostas isoladas, mas sim integradas nas atividades

espontâneas e totais do organismo (0 a 1 mês).

• Estágio 2: Aparecimento dos primeiros hábitos que ainda não

significam inteligência , posto que não possuem uma determinação de meio e fim

(1 a 4 meses).

• Estágio 3: Começo da aquisição da inteligência, que aparece

geralmente entre o quarto e quinto mês, onde está se apresentando o

desenvolvimento da coordenação da visão e preensão (4 a 8 meses).

• Estágio 4 e 5: A inteligência sensório-motora prática vem permitir à

criança uma finalidade em seus atos. Em seguida, procura novos meios diferentes

dos esquemas de assimilação que ela já conhecia (8 a 12 meses e 12 a 18

meses).

• Estágio 6: Estágio de transição para o início do simbolismo, que para

Piaget, só começa aos dois anos, permitindo abandonar os simples tateios

exteriores e materiais, em favor de combinações interiorizadas (18 a 24 meses).

Em suma, no primeiro estágio (primeiros anos de vida), há o que Le

Boulch (1997) se refere à paralelismo psicomotor, ou seja, as manifestações

motoras são evidências do desenvolvimento mental. O desenvolvimento

neuromuscular até os três primeiros anos proporciona indícios do

desenvolvimento. Pouco a pouco, a inteligência e a motricidade se separam;

porém, quando esse paralelismo se mantém, pode determinar um quociente de

desenvolvimento que corresponderá em atraso ou desenvolvimento atípico. Ainda

para o mesmo autor, o distúrbio psicomotor é aquele que prejudica apenas a

execução do movimento sem prejuízo da parte muscular. E crianças com DM

normalmente apresentam tais distúrbios.

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O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional de

todo o corpo e suas partes. Geralmente este desenvolvimento está dividido em

vários fatores psicomotores que são importantes quando se avalia a

psicomotricidade de um idoso, no intuito de saber para qual atividade física ele

está apto. Fonseca (1995), apresenta 6 fatores, os quais são a tonicidade, o

equilíbrio, a lateralidade, a noção corporal, a estruturação espácio-temporal e

praxia global.

2.2.1 Tonicidade

A tonicidade, que indica o tono muscular, tem um papel fundamental no

desenvolvimento motor, é ela que garante as atitudes, a postura, as mímicas, as

emoções, de onde emergem todas as atividades motoras humanas (FONSECA,

1995).

2.2.2 Equilíbrio

O equilíbrio reúne um conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e

dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle postural e o desenvolvimento

das aquisições de locomoção. O equilíbrio estático caracteriza-se pelo tipo de

equilíbrio conseguido em determinada posição, ou de apresentar a capacidade de

manter certa postura sobre uma base. O equilíbrio dinâmico é aquele conseguido

com o corpo em movimento, determinando sucessivas alterações da base de

sustentação (FONSECA, 1995).

2.2.3 Lateralidade

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A lateralidade traduz-se pelo estabelecimento da dominância lateral da

mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo. A lateralidade corporal se refere ao

espaço interno do indivíduo, capacitando-o a utilizar um lado do corpo com maior

desembaraço.

O que geralmente acontece é a confusão da lateralidade com a noção de

direita e esquerda, que esta envolvida com o esquema corporal. A criança pode

ter a lateralidade adquirida, mas não saber qual é o seu lado direito e esquerdo,

ou vice-versa. No entanto, todos os fatores estão intimamente ligados, e quando a

lateralidade não está bem definida, é comum ocorrerem problemas na orientação

espacial, dificuldade na discriminação e na diferenciação entre os lados do corpo

e incapacidade de seguir a direção gráfica (FONSECA, 1995).

A lateralidade manual surge no fim do primeiro ano de vida, mas só se

estabelece fisicamente por volta dos 4-5 anos.

2.2.4 Noção corporal

A formação do "eu", isto é, da personalidade, compreende o

desenvolvimento da noção ou esquema corporal, através do qual a criança toma

consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por seu

intermédio.

Ajuriaguerra citado por Fonseca (1995), relata que a evolução da criança

é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu

corpo, e através dele que esta elabora todas as experiências vitais e organiza

toda a sua personalidade.

A noção do corpo em psicomotricidade não avalia a sua forma ou as suas

realizações motoras, procura outra linha da análise que se centra mais no estudo

da sua representação psicológica e lingüística e nas suas relações inseparáveis

com o potencial de alfabetização.

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Este fator resume dialeticamente a totalidade do potencial de

aprendizagem, não só por envolver um processo perceptivo polissensorial

complexo, como também por integrar e reter a síntese das atitudes afetivas

vividas e experimentadas.

2.2.5 Estruturação espaço-temporal

A estruturação espácio-temporal decorre como organização funcional da

lateralidade e da noção corporal, uma vez que é necessário desenvolver a

conscientização espacial interna do corpo antes de projetar o referencial

somatognósico no espaço exterior (FONSECA, 1995).

Este fator emerge da motricidade, da relação com os objetivos

localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim das múltiplas

relações integradas da tonicidade, do equilíbrio, da lateralidade e do esquema

corporal.

A estruturação espacial leva a tomada de consciência pelo indivíduo, da

situação de seu próprio corpo em um determinado meio ambiente, permitindo-lhe

conscientizar-se do lugar e da orientação no espaço que pode ter em relação às

pessoas e coisas.

2.2.6 Praxia Global

Fonseca (1995) define praxia como a capacidade de realizar a

movimentação voluntária pré-estabelecida com forma de alcança um objetivo. A

praxia global esta relacionada com a realização e a automação dos movimentos

globais complexos, que se desenrolam num determinado tempo e que exigem a

atividade conjunta de vários grupos musculares.

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A praxia global, por compreender tarefas motoras seqüenciais globais,

está mais relacionada à área do córtex cerebral responsável pela realização e

automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num certo

período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos

musculares. É a expressão da informação do córtex motor, como resultado da

recepção de muitas informações sensoriais, táteis, quinestésica, vestibulares e

visuais, ou seja, como resultado integrado dos fatores psicomotores já

apresentados.

Segundo o autor, a coordenação oculomanual compreende a capacidade

de coordenar movimentos manuais com referências perceptivo-visuais. Para

avaliar a coordenação oculomanual de um indivíduo, sendo ele um idoso

praticante de atividade física ou não, pode-se usar uma bola e uma cesta de

basquete. Durante os lançamentos, devem ser observados a postura, a

orientação de base de sustentação, a qualidade de preensão da bola, o tipo de

lançamento (por cima do ombro ou por baixo, em lançamento pendular), as

dismetrias, a velocidade, a força, o autocontrole, a melodia cinética, o grau de

perícia ou imperícia, a integração visuoperceptiva, as expressões mímico faciais e

o nível de controle emocional.

Já a coordenação oculopedal compreende a capacidade de coordenar

movimentos pedais com referências perceptivo visuais. A realização da avaliação

requer o seguinte material: uma bola de tênis, uma cadeira e uma fita métrica. O

procedimento para a sua realização é o seguinte: sugere-se ao indivíduo (na

posição de pé) que chute uma bola de tênis para passar entre as pernas da

cadeira, a uma distância de dois metros e meio. O mesmo procedimento e tacão

do subfator devem ser adotados.

A dismetria que caracteriza a realização dispráxica traduz a inadaptação

visuespacial e visuoquinestésica dos movimentos orientados face a uma distância

ou a um objetivo (alvo). A avaliação desse subfator deve levar em conta a

combinação das duas coordenação apendiculares, quer dos membros superiores,

quer dos membros inferiores. A cotação deve ser registrada em termos de

coordenação global. (FONSECA, 1995)

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A dissociação compreende a capacidade de individualizar vários

segmentos corporais que tomam parte na planificação motora de um gesto ou de

vários gestos intencionais seqüenciados. A dissociação põe em destaque a

independência dos vários segmentos corporais estruturados em função de um

fim, o que exige a continuidade rítmica da execução motora. Para a avaliação

dessa valência psicomotora não é necessário nenhum material. Basta que o

avaliador observe o indivíduo realizando uma tarefa qualquer e preste atenção na

coordenação entre os membros superiores e inferiores. Ele pode, por exemplo,

solicitar ao indivíduos que se posicione em frente a uma mesa e dê um batimento

com a mão-direita, seguido de dois com a mão esquerda, depois o contrário e o

mesmo com os pés. O número de batimentos e a repetição do exercício é

aleatória (FONSECA, 1995).

A média de todos os subfatores da coordenação oculomanual e

ocupedal, da dismetria e da dissociação, devidamente aproximada, constituirá o

perfil da valência psicomotora e coordenação global dos indivíduos idosos a

serem avaliados.

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CAPÍTULO III

A ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE

A ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE

Na elaboração de um programa de exercícios físicos é importante ter o

conhecimento específico sobre a faixa etária em que o indivíduo está inserido e

sobre as modificações que ocorrem neste período, além de considerar também as

peculiaridades individuais. Nesse sentido, veremos no desenvolvimento deste

capítulo que diversos autores têm procurado apontar alterações decorrentes do

processo de envelhecimento, bem como as implicações dessas alterações na

elaboração e supervisão desses programas.

3.1 Elaboração de um programa de exercícios físicos para

idosos

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Segundo Faro Jr., Lourenço e Barros Neto (1996), o envelhecimento é

um processo que, do ponto de vista fisiológico, não ocorre necessariamente em

paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando considerável variação

individual; este processo surge acompanhado por uma série de modificações nos

diferentes sistemas do organismo, seja a nível antropométrico, muscular,

cardiovascular, pulmonar, neural ou de outras funções orgânicas que sofrem

efeitos deletérios, além do declínio das capacidades funcionais e modificações no

funcionamento fisiológico.

De acordo com Marques (1996), o envelhecimento é marcado por um

decréscimo das capacidades motoras, redução da força, flexibilidade, velocidade

e dos níveis de VO2 máximo, dificultando a realização das atividades diárias e a

manutenção de um estilo de vida saudável. Ocorrem alterações fisiológicas

durante o envelhecimento que podem diminuir a capacidade funcional,

comprometendo a saúde e qualidade de vida do idoso.

Essas alterações acontecem: ao nível do sistema cardiovascular; no

sistema respiratório com a diminuição da capacidade vital, da freqüência e do

volume respiratório; no sistema nervoso central e periférico, onde a reação se

torna mais lenta e a velocidade de condução nervosa declina e; no sistema

músculo - esquelético pelo declínio da potência muscular, não só pelo avanço da

idade mas pela falta de uso e diminuição da taxa metabólica.

Em face desses aspectos, antes de iniciar qualquer tipo de exercício,

considera-se importante que o idoso seja submetido a uma avaliação médica

cuidadosa, constando preferencialmente de um teste de esforço para prescrição

do programa, quanto a essa recomendação é importante levar em conta alguns

critérios que deverão influenciar a seleção do protocolo e servem, também, para

ilustrar algumas das importantes restrições impostas pelo envelhecimento quanto

a realização de exercícios: a diminuição do VO2 máximo pode requerer que se

opte por um teste de baixa e moderada intensidade e maior duração, isso se deve

também a um maior tempo requerido para que se alcance o stead - state; usar

maior período de aquecimento e pequenos incrementos nas cargas ou incremento

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em intervalos de tempo maior; em função da maior fadigabilidade deve ser

diminuída a duração total do teste; a diminuição dos níveis de equilíbrio e força

indica o uso prioritário da bicicleta (ergômetro); a redução na coordenação

muscular exige, muitas vezes, a realização de mais de um teste até que se

chegue a um resultado confiável; outros fatores como o uso de dentaduras, a

diminuição da acuidade visual e auditiva, devem ser também considerados.

A partir do reconhecimento desses fatores é possível compreender que o

idoso é relativamente mais fraco, mais lento e menos potente;

verificando-se com o avanço da idade uma redução no desempenho que requer

regulação do sistema nervoso, como no caso do equilíbrio e do tempo de reação.

3.2 Objetivos do programa de exercícios dirigidos a idosos

Como aponta Marques (1996), existe um consenso, entre os autores, que

os objetivos de um programa de exercícios devem estar diretamente relacionados

com as modificações mais importantes e que são decorrentes do processo de

envelhecimento. Desse modo, um programa de exercícios para idosos deve estar

direcionado: ao melhoramento da flexibilidade, força, coordenação e velocidade;

elevação dos níveis de resistência, com vistas a redução das restrições no

rendimento pessoal para realização de atividades cotidianas; manutenção da

gordura corporal em proporções aceitáveis. Esses aspectos irão influenciar na

melhoria da qualidade de vida e poderão atenuar os efeitos da diminuição do nível

de aptidão física na realização de atividades diárias e na manutenção de um

maior grau de independência.

O programa de exercícios para idosos deve proporcionar benefícios em

relação as capacidades motoras que apoiam a realização das atividades da vida

diária, melhorando a capacidade de trabalho e lazer e alterando a taxa de declínio

do estado funcional. Segundo Yazbeck & Batistella (1994) o programa de

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exercícios terá como objetivo a melhoria do condicionamento físico, diminuição do

risco cardiovascular e melhoria da qualidade de vida.

3.3 Composição do programa de exercícios

Segundo Marques (1996), devem estar incluídos em um programa de

exercícios para idosos o treino da força muscular, da mobilidade articular e da

resistência; a preocupação quanto a essas variáveis se deve a notável diminuição

da força muscular após os 60 anos de idade, do mesmo modo, a flexibilidade e a

resistência diminuem com a idade, sabe-se, porém, que esta perda é maior

quando os indivíduos não fazem qualquer atividade física. Desse modo, mesmo

que se verifique uma redução da capacidade de trabalho com o avanço da idade,

a atividade física e o treino podem contrabalançar estas alterações já

mencionadas.

A composição do programa deverá observar os resultados obtidos em

testes e medidas da aptidão física e dependerá dos objetivos, necessidades,

estado de saúde e condicionamento do indivíduo, assim como do tempo,

equipamentos e instalações disponíveis. O programa deverá conter basicamente

um período de `aquecimento' e `esfriamento', uma atividade de predominância

aeróbia e outra de predominância neuro-muscular. No aquecimento devem ser

realizados alongamentos e movimentos articulares para evitar lesões e contribuir

para a manutenção da mobilidade articular.

A atividade física bem estruturada e elaborada para os idosos, pode

recuperar o ritmo e a expressividade do corpo, agilizar os reflexos e adequar os

gestos a diferentes situações. São recomendados exercícios que estimulem a

melhora cardiovascular (exercícios de endurance), devendo ser incluídos nos

programas exercícios de aquecimento e volta à calma, além de um trabalho de

força muscular. Para Yazbeck & Batistella (1994) o programa de exercícios para

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idosos deve ser composto basicamente por exercício dinâmicos

(predominantemente isotônicos) para gerar benefícios ao sistema cardiovascular

e respiratório.

Em síntese o programa de exercícios deverá ser constituído por partes

que estão relacionadas a objetivos específicos e, consequentemente, visando

promover melhorias quanto a sensação de bem estar e nível de saúde.

3.4 Cuidados e restrições

A participação do idoso em programas de exercícios físicos deve

observar os cuidados e restrições indicados abaixo:

QUADRO 1 – Restrições e cuidados quanto aos programas de exercícios.

RESTRIÇÕES CUIDADOS Altas intensidades de exercicios ( MARQUES, 1996; MATSUDO & MATSUDO, 2003; FARO JÚNIOR, LOURENÇO & BARROS NETO, 1996)

Não ultrapassar a amplitude máxima dos movimentos (MARQUES,1966 )

Solicitação do sistema anaeróbico deve ser evitada (MARQUES,1966, FARO JÚNIOR, LOURENÇO & BARROS NETO, 1996)

Não prolongar exercícios na presença de dor (MARQUES,1966 )

Exercicios isométricos (MARQUES, 1966, LEITE, 2000; FARO JÚNIOR, LOURENÇO & BARROS NETO, 1996)

Uso de medicamentos YAZBECK & BATISTELLA,1994 )

Movimentos Rápidos e bruscos ( MATSUDO & MATSUDO, 2003)

Não levar a exaustão (MATSUDO & MATSUDO, 2003)

Segundo Marques (1996), exercícios de elevada intensidade e a

conseqüente solicitação do sistema anaeróbio devem ser evitados, por

conduzirem a um maior desgaste muscular e aumentarem o risco de lesões

nessas estruturas, além de produzirem efeitos sobre o VO2 máximo, limiar

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anaeróbio e respostas cardiorrespiratórias, que são muito similares aqueles

obtidos através de exercícios de baixa e moderada intensidade (Marques, 1996;

Matsudo & Matsudo, 2003; Faro Jr., Lourenço & Barros Neto, 1996). Os

exercícios nunca devem ser realizados até a exaustão, fadiga e na presença de

dor, pois esses são fatores que podem indicar a realização de atividades intensas,

respostas dessa natureza, recomendam a interrupção da sessão de exercícios e

a necessidade de redimensionamento da prescrição.

O autor indica que os exercícios estáticos e utilização da manobra de

valsalva são contra - indicados em programas dirigidos para idosos, devido as

suas implicações sobre a elevação da pressão arterial. Da mesma maneira,

movimentos abruptos, transições entre altas e baixas intensidades, mudanças

bruscas de posição e movimentos rápidos da cabeça são atividades que podem

representar um risco desnecessário em programas destinados a esse tipo de

público.

Os movimentos podem ser realizados com extensão completa, mas a

amplitude máxima de uma articulação não deve ser ultrapassada, pois os

movimentos de hiper extensão afetam a estabilidade das articulações e podem ter

como conseqüência, danos e dores mais ou menos permanentes (Marques,

1996).

Segundo Yazbeck & Batistella (1994), as atividades esportivas devem ser

realizadas em temperaturas amenas, nunca em condições climáticas extremas de

frio e calor. Outro aspecto importante a ser observado é a utilização de

medicamentos, que pode produzir no organismo efeitos indesejáveis durante a

realização de esforços físicos. Foi possível observar que alguns autores, ao

abordar os cuidados e restrições relativos a elaboração de programas de

exercícios para idosos, não mencionam os motivos ou a base teórica que apoia a

sua proposição, apontando apenas um breve comentário sobre o assunto.

3.5 Intensidade, duração, freqüência e tipo de exercícios

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Com relação ao tipo de exercício físico, Marques (1996) indica como a

melhor opção os exercícios dinâmicos, de predominância aeróbia, em função dos

benefícios que se pode obter ao nível da aptidão cardio-respiratória, força e

resistência muscular, com menor sobrecarga sobre o músculo cardíaco, do

mesmo modo, acredita-se que uma freqüência de 3 sessões semanais parece ser

aceitável. Ao compararmos as indicações acerca da duração e intensidade para

o programa de exercícios, observou-se uma diversidade muito grande nas

recomendações constantes das publicações consultadas (ver a quadro 02).

QUADRO 2 - Intensidade e duração para exercíios físicos, indicada por

diversos autores

AUTOR DURAÇÃO INTENSIDADE

WEINECK (2001) 45 min. 50% FC máxima (início) 70 a 80% FC máxima

MCARDLE (1996) 20 a 40 min 60 a 80% FC máxima FARO JR, LOURENÇO E BARROS NETO (1996) 20 a 30 min

20 a 60 min

40 a 50% FC máxima (início) 50 a 85% FC máxima (progressão) 60 a 90% FC máxima (manutenção)

MATSUDO & MATSUDO (2003) 20 a 60 min 50 a 74% FC máxima 12 a 13 (Escala de Borg )

SKINNER (2001) 45 min.

(mínimo)

baixa a moderada 40% FC máxima (mínimo) 50 a 70% FC máxima

LEITE (2000) 50 a 85 min 65 a 85% FC máxima MARQUES (1996) 20 min 60 a 70% FC máxima ACSM (1994) 20 a 40 min determinada no teste de esforço YAZBEK & BATISTELLA (1994) 30 a 30 min de acordo com a capacidade individual

Para Weineck (2001) a transição entre o programa mínimo (1 sessão

semanal de 45 minutos) e o programa ideal (3 sessões semanais de 45 minutos),

deveria ser efetuada paulatinamente e de acordo com as condições individuais do

idoso. A intensidade das cargas de resistência deve ser equivalente a 50 % da

capacidade circulatória máxima, no início, depois cerca de 70 a 80 %; quanto a

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esse aspecto, Faro Jr, Lourenço & Barros Neto (1996) defendem que a duração

das atividades aeróbias pode variar de 20 a 60 minutos de trabalho continuo, o

programa poderia iniciar com 20 a 30 minutos ou com sessões múltiplas de 10

minutos (idosos destreinados). Em relação a determinação da freqüência semanal

ideal foram sugeridos os critérios apresentados no quadro abaixo. A determinação

desses parâmetros, no entanto, pode variar de pessoa para pessoa de acordo

com as preferências e limitações impostas pelo estilo de vida e disponibilidade de

tempo; podem, ainda, exercer um impacto significativo na aderência ao exercício

tendo em vista que as atividades de maior duração estão associadas a altos

índices de abandono dos programas.

QUADRO 03 - Seleção do número de sessões semanais a partir da

capacidade funcional em METs

Capacidade funcional em METs N.0 de sessões semanais < 3 Mets múltiplas sessões diárias

3 a 5 Mets de 2 a 3 sessões

> 5 Mets de 3 a 5 sessões

Para Matsudo & Matsudo (2003) a intensidade do esforço físico deverá

corresponder a uma fração de 50 a 74 % do VO2 máximo ou da freqüência

cardíaca máxima; uma escala visando a determinação da percepção subjetiva de

esforço pode ser um recurso bastante útil na verificação da intensidade dos

exercícios, recomenda-se adotar níveis entre 12-13 da escala proposta por

Gunnar Borg que varia de 6 a 20. Um outro assunto que merece destaque diz

respeito a estratégia empregada para estimativa da freqüência cardíaca máxima,

quanto a esse aspecto Weineck (2001) sugere que, em programas dirigidos a

iniciantes idosos, possa ser utilizada a seguinte estratégia: FCM = 180 - idade

(anos).

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3.6 Características do programas de exercícios voltados para a

3ª idade

Existem poucas indicações, na literatura, sobre a forma de progressão

(modificação) das atividades na sessão e durante o programa de exercícios; não

se verifica, também, uma preocupação muito grande com relação a delimitação

de parâmetros para prescrição de atividades neuromusculares, todavia, sabe-se

da importância da força muscular e da flexibilidade na terceira idade.

Nesse sentido, vale destacar ainda que Matsudo & Matsudo (2003)

apontam a manutenção da mobilidade e a proteção contra as lesões, como

importantes benefícios derivados das atividades visando o fortalecimento

muscular em programas dirigidos a idosos. Recomenda-se que as atividades

neuromusculares devem ser realizadas no mínimo 2 vezes por semana,

envolvendo grandes grupos musculares e com baixo nível de incremento de

cargas; em programas visando o fortalecimento muscular as tarefas devem exigir,

no máximo, um terço da força máxima). Em relação aos exercícios de

alongamento, recomenda-se uma freqüência semanal diária, com a realização de

exercícios envolvendo as articulações da coluna, ombros e quadris, indica-se

ainda que sejam realizadas de 1 a 3 séries e 15 repetições para cada exercício.

A progressão dos exercícios deverá variar de acordo com a intensidade,

assim se a carga atual for leve os incrementos podem ser semanais, se as cargas

são moderadas, somente, após 2 ou 3 semanas, porém, é importante considerar

que o idoso requer mais tempo para obter benefícios em um programa regular de

exercícios, em linhas gerais, sabe-se que é possível progredir de um nível

moderado para um mais rigoroso em 4 ou 6 semanas, até se alcançar o nível de

manutenção. Para Weineck (2001) o incremento da carga, em iniciantes, deve ser

realizado sempre por meio de um aumento na abrangência e só depois na

intensidade das atividades. Faro Jr., Lourenço & Barros Neto (1996) sugerem que

o ritmo de progressão dos exercícios irá depender da idade, condições de saúde,

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capacidade funcional, preferências pessoais e objetivos, para as pessoas

aparentemente saudáveis a progressão comporta três estágios: a)início (4 a 6

semanas de atividade leve); b)aprimoramento (4 a 6 meses com aumentos

graduais) e; c)manutenção (após 6 meses modificar ou manter o programa).

Quanto a esse assunto, Skinner (2001) defende que em cada nível do programa

deve ser despendido o maior tempo possível, para garantir uma maior adaptação

antes de se promover aumentos na freqüência, duração ou intensidade.

CONCLUSÃO

O declínio das capacidades físicas e as modificações fisiológicas

decorrentes do envelhecimento são aspectos fundamentais para a elaboração de

programas de exercícios para idosos. Viu-se que os objetivos desses programas

deverão estar diretamente relacionados com as alterações decorrentes do

processo de envelhecimento, assim as metas associadas a prática de exercícios

deveriam ser: melhoria da qualidade de vida, retardamento das alterações

fisiológicas, melhoria das capacidades motoras e benefícios sociais, psicológicos

e físicos.

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Quanto a composição da sessão de exercícios existem referências, nos

trabalhos consultados, em relação aos seguintes componentes: a) aquecimento,

incluindo exercícios de alongamento e atividades físicas de baixa intensidade; b)

parte principal, incluindo exercícios de resistência aeróbia, força e resistência

muscular e; c) volta à calma, incluindo exercícios de alongamento. Quanto a esse

assunto, uma grande lacuna observada diz respeito a disposição seqüencial

adequada, do mesmo modo, falta um maior esclarecimento sobre a função e

organização das atividades em cada um desses componentes.

Não foram verificadas divergências quanto ao tipo e freqüência semanal,

contudo, foram observadas grandes variações na indicação da duração e

intensidade recomendados em programas de exercícios dirigidos para idosos.

Existiu uma abordagem diversificada quanto ao modo de progressão dos

exercícios, além de existirem poucas referências na literatura a respeito das

atividades visando desenvolvimento da força muscular e flexibilidade. Em face do

exposto, sugere-se realizar outros estudos procurando definir com maior precisão:

parâmetros para prescrição de exercícios dirigidos a idosos; disposição

seqüencial adequada para os componentes de um programa de exercícios físicos;

modo de progressão adequado em programas desenvolvidos com idosos.

O envelhecimento começa em nosso primeiro dia de vida, durante esse

percurso devemos procurar a melhor forma de ter hábitos saudáveis, viver

intensamente praticando não apenas atividade física, mas indo ao cinema ,

viajando, vivendo em família, com os netos, filhos e todos que gostamos ao redor,

não fugir do fato que nos tornaremos idoso um dia, pensando que isto não

ocorrerá. Prevenir-se, preparar-se, antecipar as necessidades de nosso sustento

e planejar atividades viáveis que nos mantenham motivados, devem ser o ideal

para prolongar e qualificar nossa vida. A atividade física vem mudar alguns

conceitos do idoso, mostrando que ele pode ser um jovem de novo, claro que sem

a sua destreza, sua flexibilidade e muitas vezes sem a saúde perfeita vivida na

fase infantil e adulta. Podendo esses indivíduos realizar atividades que durante o

processo de envelhecimento não foram propostas, buscando viver de bem

consigo e com a sociedade até a morte. Ter uma vida social exercitar-se, dedicar-

se desde cedo a uma atividade física que possa ser praticado em qualquer idade

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ou romper as barreiras e vivenciar o que for de melhor agrado é o um caminho

possível para se chegar a longevidade.

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ATIVIDADES CULTURAIS

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