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PROJECTO : O O P P A A P P E E L L D D O O E E N N F F E E R R M M E E I I R R O O E E S S P P E E C C I I A A L L I I S S T T A A E E M M R R E E A A B B I I L L I I T T A A Ç Ç Ã Ã O O N N A A P P R R O O M M O O Ç Ç Ã Ã O O D D A A M M O O B B I I L L I I D D A A D D E E D D A A P P E E S S S S O O A A I I D D O O S S A A Elaborado por: Enf. ra Celina Dias Funchal 2007-2008 REPÚBLICA PORTUGUESA UNIÃO EUROPEIA FSE REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

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PROJECTO:

OO PPAAPPEELL DDOO EENNFFEERRMMEEIIRROO

EESSPPEECCIIAALLIISSTTAA EEMM RREEAABBIILLIITTAAÇÇÃÃOO NNAA

PPRROOMMOOÇÇÃÃOO DDAA MMOOBBIILLIIDDAADDEE DDAA

PPEESSSSOOAA IIDDOOSSAA

Elaborado por: Enf.ra Celina Dias

Funchal

2007-2008

REGIÃO AUTÓNOMA DA

MADEIRA

REPÚBLICA PORTUGUESA

UNIÃO

EUROPEIA

FSE

REGIÃO AUTÓNOMA DA

MADEIRA

REGIÃO AUTÓNOMA DA

MADEIRA

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2º CURSO DE PÓS-LICENCIATURA DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

PROJECTO:

OO PPAAPPEELL DDOO EENNFFEERRMMEEIIRROO

EESSPPEECCIIAALLIISSTTAA EEMM RREEAABBIILLIITTAAÇÇÃÃOO NNAA

PPRROOMMOOÇÇÃÃOO DDAA MMOOBBIILLIIDDAADDEE NNAA PPEESSSSOOAA IIDDOOSSAA

Elaborado por: Enf.ra Celina Dias Elaborado no âmbito do Ensino Clínico III – Enfermagem de Reabilitação Opcional Orientado por: Enf.ra Mireya Fernandes e Enf.ra Elisabete Reynolds Coordenado por: Prof.ra Otília Freitas

Funchal

2007-2008

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- 2 -

“ Há uma idade na vida em que os anos passam demasiado depressa e os dias são uma eternidade”

Virginia Wolf

Page 4: Imobilidade - Enf

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SUMÁRIO

0.INTRODUÇÃO.................................................................................................................. - 4 -

1.PROJECTO DE AUTO-FORMAÇÃO.......................................................................... - 5 -

1.1 Contextualização ................................................................................................................... - 5 -

1.2 Objectivos ................................................................................................................................ - 8 -

1.3 Revisão de literatura .............................................................................................................. - 8 -

1.4 Quadro conceptual ............................................................................................................. - 11 - 1.4.1 O processo de envelhecimento .................................................................................... - 11 - 1.4.1.1 Teorias do envelhecimento .......................................................................................... - 12 - 1.4.1.2 Envelhecimento físico, sócio-afectivo e psicológico ........................................... - 13 - 1.4.1.3 Mobilidade na pessoa idosa ....................................................................................... - 17 - 1.4.3 Actividade física na pessoa idosa................................................................................. - 23 - 1.4.3.1 Benefícios da Actividade física na pessoa idosa .................................................. - 24 - 1.4.3.2 Programação da actividade física para a pessoa idosa ................................... - 25 - 1.4.3.2.1 Prescrição de actividade física ............................................................................... - 26 - Parte principal.................................................................................................................... - 27 - 1.4.3.2.2 Avaliação para a actividade física ....................................................................... - 30 - 1.4.4 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a Recuperação da ....... - 31 - pessoa idosa .................................................................................................................................. - 31 - 1.4.4.1 Fases da Reabilitação Geriátrica e a actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação ....................................................................................... - 32 - 1.4.4.2 Problemas frequentes na Reabilitação da pessoa idosa e a actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação ........................................................... - 33 - 1.4.5 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a promoção da mobilidade da pessoa idosa ......................................................................................... - 34 - 1.4.5.1 Avaliação de Enfermagem de Reabilitação da mobilidade da pessoa idosa .................................................................................................................................... - 35 - 1.4.5.2 Formulação de diagnósticos de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ....................................................... - 37 - 1.4.5.3 Planeamento de cuidados de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ....................................................... - 38 - 1.4.5.4 Avaliação de cuidados de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ..................................................... - 43 -

1.5 Selecção e organização de meios e estratégias .......................................................... - 44 -

1.6 Descrição da execução das actividades ....................................................................... - 46 -

1.7. Cronograma e programa de actividade física ………………………………………….-47-

1.8 Implementação do projecto e resultados obtidos ........................................................ - 47 -

2. CONCLUSÃO ................................................................................................................. - 67 -

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. - 68 -

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- 4 -

INTRODUÇÃO

Integrado no 2º curso de pós-licenciatura de especialização em enfermagem

de reabilitação, o projecto que apresento inscreve-se no âmbito da disciplina de

Orientação e Desenvolvimento de projecto I e tem como objectivo a aquisição de

competências teórico-práticas numa área de intervenção da enfermagem de

reabilitação.

O actual projecto tem como tema “O papel do Enfermeiro Especialista de

Reabilitação na promoção da mobilidade da pessoa idosa” e a sua execução

ocorrerá durante o ensino clínico III, (Enfermagem de Reabilitação opcional), do curso

supracitado, o qual acontecerá entre 25 Fevereiro e 14 Março de 2008, no Centro de

saúde do Caniço, concelho de Santa Cruz. A preparação das actividades integradas

no projecto decorre desde Maio de 2007, como se constata no cronograma exposto

adiante.

De seguida apresento, no capítulo projecto de auto-formação o trabalho de

projecto. Na contextualização, justifico a opção do tema do projecto face ao meu

percurso profissional, pertinência mediante a sociedade vigente a caracterização da

população idosa do Caniço e ainda a importância para a enfermagem de

reabilitação do projecto. Exponho também no referido capítulo os objectivos pretendo

atingir. No quadro conceptual, faço uma abordagem dos conceitos que são

relevantes para compreender o âmbito do projecto nomeadamente o processo de

envelhecimento, a mobilidade/actividade física no idoso e o papel do enfermeiro de

reabilitação na promoção da mobilidade do idoso. No capítulo, selecção e

organização de meios e estratégias exponho as actividades e intervenções que

levarei a cabo para executar o projecto, bem como os objectivos específicos de

cada uma delas, estando no cronograma patente o tempo em que as mesmas

acontecerão. Na descrição da implementação das actividades relatarei a

concretização das intervenções planeadas. O desenvolvimento ou implementação

do projecto será apresentado através da metodologia de portfolio, ao longo do qual

farei através de uma reflexão crítica, uma avaliação de como decorreu o projecto

implementado, quais os resultados, os benefícios e os obstáculos encontrados.

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- 5 -

1.PROJECTO DE AUTO-FORMAÇÃO

Falar de projecto tornou-se hoje um discurso privilegiado em vários domínios.

Fernandes (1998), defende que vivemos numa civilização de projectos. No intuito de

inovar e de fazer frente às exigências futuras, o campo profissional e as organizações

são locais de emergência para a realização de projectos. A enfermagem não é

excepção e por isso tanto a nível organizacional, como a nível da avaliação de

desempenho e da formação é solicitada a elaboração de projectos como

metodologia de crescimento profissional, e de aprendizagem. Um projecto como nos

diz Lhotellier (1986) é uma intenção desencadeada por uma motivação, de realizar

uma obra, um trabalho, uma acção, animada por uma implicação contínua,

afirmada por uma orientação de valor.

Do projecto fazem parte etapas metodológicas, que são de acordo com

Fernandes (1998), o diagnóstico da situação, a determinação de prioridades, a

definição de objectivos, a selecção e organização de meios e estratégias, a

execução e a avaliação, as quais encontram-se descritas no presente documento.

1.1 Contextualização

Nos últimos séculos tem-se assistido a mudanças demográficas e sociais em

todo o mundo, que determinaram uma sociedade maioritariamente envelhecida,

inactiva e dependente. Actualmente, uma em cada dez pessoas está com idade

superior a 60 anos e estima-se que em 2050 essa relação seja de uma para cada

cinco pessoas, sendo as mulheres em maior número. Mundialmente, no final do século

XX, houve um aumento da esperança de vida em vinte anos com uma média de vida

de 66 anos, referem Rebelatto e Moretti (2004), para tal contribuíram factores como

um maior acesso aos sistemas de saúde, os avanços científicos que proporcionaram

diagnósticos e tratamentos cada vez mais precoces, a prevenção mais efectiva das

incapacidades e o desenvolvimento da indústria farmacêutica. Como consequência

do aumento da população idosa, Carvalho (2005) reitera, que as doenças crónicas e

incapacidades também aumentaram, 88% dos indivíduos com mais de 65 anos

apresenta pelo menos uma patologia crónica e 21% possui incapacidades crónicas.

As mulheres são certamente as mais atingidas sendo que 35% a 50% entre os 70-80

anos apresenta dificuldade de locomoção e na realização de tarefas diárias.

Não escapando à tendência mundial, Portugal duplicou o número de idosos

nos últimos quarenta anos e desde 1999 que o número de idosos ultrapassou o número

de jovens, o que levou á criação do Programa Nacional para a Saúde das Pessoas

Idosas 2004-2010, integrado no Plano Nacional de Saúde (2004-2010), pela Direcção

Geral de Saúde. Este programa foi concebido em concordância com as

recomendações da política para a população idosa, das organizações internacionais,

designadamente das metas para a saúde do projecto ―Saúde 21‖ da Organização

Mundial de saúde. Mais concretamente da META 5 _ Envelhecer Saudavelmente e

mais tarde do Plano de Acção Internacional para o Envelhecimento 2002.

Citando a Direcção Geral de Saúde e o referenciado Programa Nacional para

a Saúde das Pessoas Idosas 2004-2010, o nosso país possui uma alta esperança de

vida, 80.3 anos para as mulheres e 73.5 anos para os homens. Conforme dados da

divisão de estatística da entidade supracitada, para uma população residente de

10529.3 o índice de envelhecimento era em 2004, de 108.7% enquanto o maior índice

de dependência pertencia igualmente ao grupo dos idosos que possuía 25.2% de

dependência, num total de 48.5% de dependência na população residente.

Por sua vez a Madeira apresentava em 1999, citando dados apresentados no

Plano Regional de Saúde de 2004 da Secretaria Regional de Saúde, uma esperança

de vida de 73.3 anos, sendo que a população idosa aumentou 15% entre 1991 e 2001.

O índice de envelhecimento em 2001 era de 71.6% contra 47.4% de 1991 e o índice de

dependência da população idosa aumentou de 17.8%, em 1991 para 20.1% em 2001.

A nível dos concelhos, o Norte da ilha apresenta maior grau de dependência e o

concelho de Santa Cruz, no qual desenvolverei o meu projecto tinha um índice de

dependência na pessoa idosa de 16.6%.

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- 6 -

É Interessante verificar que o Instituto Nacional de Estatística na sua publicação

―Atlas das cidades de Portugal‖ editado em 2004, elaborado a partir de dados dos censos de 2001 e de outros inquéritos, realizados por esta entidade, narra que, no

concelho de Santa Cruz, para uma população de 5673, o nível de dependência total

é de 47.8% e o índice de dependência nos idosos é de 25.6%.

Do relatório de actividades de 2006 dos Centros de Saúde do concelho de

Santa Cruz, constatamos que o Caniço tem 1315 idosos inscritos no Centro de Saúde,

sendo a taxa de frequência às consultas de 83.8%. Da aplicação da escala de

avaliação funcional de Barthel a 74 idosos concluiu-se que 28 apresentavam

dependência ligeira, 30 dependência moderada, 10 dependência severa e 5

dependência muito severa.

Os factos que acabei de enunciar confirmam a percepção empírica,

proveniente da minha experiência pessoal e profissional de que os idosos são cada

vez em maior número, possuem cada vez mais incapacidades, e consequentemente

maior grau dependência, quer seja nos serviços de internamento quer seja nos

domicílios.

A Direcção Geral de Saúde, no Programa Nacional de Saúde para as pessoas

idosas de 2004-2010, reitera que, perante evidências como o reconhecido

envelhecimento demográfico, a reestruturação das famílias (famílias de idosos

unipessoais) e os actuais comportamentos sociais e familiares, enormes desafios se

advinham a curto e médio prazo aos sistemas de saúde, de forma a garantir a

eficácia na acessibilidade e qualidade dos cuidados, para que ao aumento de vida

corresponda a um aumento da saúde e bem-estar.

É de vital importância que as pessoas idosas tenham saúde se a consideramos,

conforme a Organização Mundial de saúde, citada pela direcção geral da saúde, no

Programa Nacional de Saúde para as pessoas idosas, (2004-2010),

Como um recurso da vida quotidiana e não apenas um objectivo a atingir, um

conceito positivo que valoriza os recursos sociais e individuais, assim como as

capacidades físicas, pois só assim os mais velhos terão qualidade de vida. (p.6)

Esta saúde passa portanto por um envelhecimento activo, definido como um

processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança,

para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem, por Who (2002),

citado no Programa Nacional para as pessoas idosas 2004-2010.

A qualidade de vida, nas pessoas idosas é largamente influenciada pela

capacidade em manter a autonomia (capacidade percebida para controlar, lidar

com as situações e tomar decisões sobre a vida do dia-a-dia, de acordo com as

próprias regras e preferências) e a independência, (capacidade para realizar funções

relacionadas com a vida diária, sem ajuda ou com pequena ajuda de alguém) como

nos explica Who (2002).

A promoção da saúde, processo pelo qual proporciona-se ao individuo ter um

maior controlo sobre a sua própria saúde e que compreende não só acções

que visam reforçar as aptidões e capacidades dos indivíduos, mas também as

medidas que visam alterar a situação social, ambiental e económica, de modo

a reduzir os seus efeitos negativos sobre a saúde pública, e sobre a saúde das

pessoas, (p. 7) preconizada pela Carta de Otawa para a promoção da saúde

de Genéve de 1986, e os cuidados de prevenção dirigidas às pessoas idosas,

melhoram a saúde e a qualidade de vida e ajudam a racionalizar os recursos

da sociedade.

Sabendo que a evolução prolongada das doenças crónicas e as doenças não

transmissíveis, por serem insidiosas, incapacitantes, são sem dúvida as principais causas

da morbilidade e da morbilidade nos idosos, com custos elevados para as famílias e

sociedade e que a maioria das complicações destas patologias pode ser retardada e

até evitada, facilmente se compreende o papel do enfermeiro de reabilitação na

promoção da saúde, prevenção primária, secundária e terciária da deficiência,

incapacidade, desvantagem e dependência na população idosa, que aliais é

segundo a direcção geral da saúde e o programa nacional de saúde para as pessoas

idosas,

“…uma abordagem prioritária e indispensável do sector da saúde no quadro

da manutenção, o mais tempo possível, da máxima autonomia e

independência daquelas pessoas, obrigando, concomitantemente a uma

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- 7 -

mudança de mentalidades e de atitudes da população face ao

envelhecimento…” (p.8)

No mesmo programa estão delineadas três grandes estratégias de intervenção

respectivamente, nas áreas do envelhecimento activo, da organização e prestação

de cuidados de saúde e de promoção de ambientes facilitadores da autonomia e

independência. São propostas recomendações para a acção junto das famílias e

pessoas idosas tais como:

Abordar as situações mais frequentes de dependência, nomeadamente por

deficits motores, sensoriais, cognitivos, ambientais e sócio-familiares;

Informar e formar sobre a actividade física moderada e regula e as melhores

formas de a praticar;

Informar e formar sobre a detecção e eliminação de barreiras arquitectónicas

inibidoras da independência

Prestação de cuidados domiciliários a pessoas idosas doentes ou com

dependência

O mesmo programa será depois avaliado através de indicadores de resultados

como a dependência nos auto-cuidados

A secretaria regional de saúde da Madeira no seu plano regional de saúde

2004-2010, também reconhece que a diminuição de funções na população idosa é

evitável e traça como meta para o ano de 2010, o aumento para 20%, dos idosos com

75 anos ou mais com capacidade para ser autónomos, nas actividades domésticas e

actividades de vida diária e para tal propõem-se desenvolver diferentes intervenções,

entre elas, a promoção e protecção da saúde dos idosos

As pessoas com maior risco e numa fase transitória ou já instalada

dependência assumem segundo o programa acima indicado uma intervenção

imediata por parte dos serviços e profissionais de saúde, campo no qual irei incidir o

meu projecto.

Por sua vez o projecto de intervenção em cuidados de enfermagem de

reabilitação nos cuidados de saúde primários da Madeira elaborado pelos enfermeiros

especialistas em reabilitação a exercer funções nos cuidados primários, que data de

2005, reitera

a actuação do Enfermeiro de reabilitação aos três níveis de prevenção,

mencionando a circular de 5/90 de 21 de Fevereiro onde está explícito que o

Enfermeiro de reabilitação deverá actuar precocemente, através de técnicas

específicas a fim de evitar complicações ou sequelas, aproveitando a

capacidade funcional do indivíduo, diminuindo a incapacidade e,

contribuindo para a total reintegração familiar e social da pessoa. (p.7)

Na entrevista individual que realizei com a Enfermeira Mireya Fernandes

(enfermeira especialista em reabilitação a exercer funções no Centro de Saúde do

Caniço), esta confirmou a existência de idosos com diferentes níveis de dependência

em que intervém promovendo a sua mobilidade, com o fim de conseguir o máximo

de autonomia e independência possível dos mesmos.

A minha prática profissional também me incentiva a realizar este projecto já

que é frequente cuidar de idosos cada vez mais dependentes e para os quais ainda

não se consegue dar a resposta atempada e eficaz para impedir as complicações da

imobilidade e aumentar a qualidade de vida do idoso através de um envelhecimento

activo.

Face às evidências populacionais mundiais e particularmente da Madeira, e

de acordo com a minha prática profissional e com as metas de saúde delineadas

pela Organização Mundial de Saúde e da Direcção Geral da saúde Portuguesa, bem

como do Serviço Regional de Saúde entendo ser relevante e importante desenvolver

este projecto, para compreender e aprofundar conhecimentos, pois serei como

enfermeira de reabilitação, uma das intervenientes activas e com papel fundamental

na promoção da mobilidade das pessoas idosas.

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- 8 -

1.2 Objectivos

Ao desenvolver este projecto, tendo como população alvo as pessoas idosas

inscritas no Centro de Saúde do Caniço e suas famílias, tenho como objectivo geral:

Aprofundar as minhas competências teóricas e teórico-práticas sobre promoção da

mobilidade na pessoa idosa

Aspiro, portanto, compreender o papel do enfermeiro de reabilitação na

promoção da mobilidade da pessoa idosa, aprender a identificar as alterações na

mobilidade da pessoa idosa, as evidências que demonstram os problemas e os

factores que influenciam a mesma. Ambiciono melhorar a minha actuação em

conformidade com o conteúdo funcional do enfermeiro de reabilitação. Pretendo

também conhecer e praticar a elaboração de sessões de educação para a saúde,

técnicas, actividades, intervenções de comunicação e relacionais de forma a

promover a qualidade de vida da pessoa idosa e dos seus cuidadores. Terei então

como finalidades:

Educar a pessoa idosa/cuidador sobre a importância da mobilidade, treinando

técnicas e estratégias durante as actividades de vida diária e/ou outras actividades

que promovam a mobilidade na pessoa idosa.

Promover junto dos colegas enfermeiros e outros profissionais de mim dependentes a

importância e as estratégias e actividades a desenvolver para promover na

mobilidade na pessoa idosa.

Para tal encetarei diferentes actividades e pesquisa teórica as quais abordarei

nos subcapítulos seguintes.

1.3 Revisão de literatura

Após a uma pesquisa exaustiva verifiquei existem estudos sobre a mobilidade

da pessoa idosa e sobre a actividade física no idoso, encontrando-se alguns artigos

em suporte digital, sendo mais abundantes a nível internacional do que em Portugal.

No entanto é de realçar, que encontrei poucos projectos ou programas de longa

duração sobre a mobilidade no idoso. O que poderá indicar, que, de acordo com os

estudos que encontrados, estão documentados as vantagens dos exercícios de

mobilização da pessoa idosa, mas ainda é diminuta a prática regular de exercício

físico na pessoa idosa. Importa também salientar o facto de não ter encontrado

trabalhos ou projectos desenvolvidos por enfermeiros de reabilitação. No entanto e

como veremos adiante, existem artigos descritivos sobre a mobilidade da pessoa

idosa.

De seguida exponho os projectos e estudos que seleccionei daqueles que encontrei

na pesquisa bibliográfica, já que melhor se enquadram na temática que estou a

desenvolver.

O Projecto Idade Maior surgiu em 2005 no seguimento de um alerta da

Organização Mundial de Saúde em que afirmou que os centros de saúde são um

factor crítico na manutenção do estado de saúde e da qualidade de vida da

população mais idosa e que o exercício físico, mesmo quando iniciado em idades

mais avançadas, é um forte factor promotor de ganhos em saúde.

O projecto ―idade maior‖, é desenvolvido numa parceria entre a Direcção Geral de

Saúde a faculdade de motricidade humana, da Universidade Técnica de Lisboa (FMH-

UTL) e os laboratórios Pfizer e é um dos galardoados na categoria da ―Educação‖ da

terceira edição dos Prémios Hospital do Futuro. A terceira edição dos Prémios Hospital

do Futuro de 2007 recebeu 155 candidaturas de mais de 70 organizações e

profissionais de saúde. A iniciativa conta com 15 categorias. O ''Hospital do Futuro'' é

um Fórum independente, organizado pela groupVision Saúde, que visa encorajar e

dar suporte à geração de conhecimento, num sector de actividade que intersecta a

política, a tecnologia e a inovação.

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O projecto promove o envelhecimento activo e mais saudável nos idosos e tem

como objectivo promover comportamentos saudáveis que visem a melhoria da

qualidade de vida dos adultos de maior idade (50 ou mais anos), pretende melhorar

os conhecimentos dos adultos de idade maior sobre as vantagens da prática regular

de exercício físico. Os criadores do projecto, propuseram-se formar profissionais de

saúde dos cuidados primários para que assumam o papel de agentes de promoção de saúde e implementem actividades deste género, incluindo exercício físico ajustado

à idade e patologia, para adultos de idade maior.

Em Outubro de 2005 aconteceu a primeira formação nacional em Exercício e

Saúde inserida no Projecto Idade Maior. A partir desta proporcionaram-se sessões

semanais de Exercício Físico, orientadas por especialistas em Exercício e Saúde, em

dois Centros de Saúde do país: Centro de Saúde dos Olivais (Lisboa) e Centro de

Saúde de Águas Santas (Porto). Em Maio de 2006, realizou-se a primeira ―Feira do

Movimento‖ do Projecto Idade Maior para comunicar com a comunidade idosa e

informar sobre o impacto positivo do exercício físico na condição física e na qualidade

de vida. O evento aconteceu nos Jardins de Belém com a participação de cerca de

500 adultos de idade maior e 50 monitores da Faculdade de Motricidade Humana.

Em Junho de 2007 foi aberto ao público um circuito de promoção do exercício

físico no Jardim da Estrela em Lisboa. Quem tiver mais de 50 anos pode treinar

gratuitamente nos 16 equipamentos disponíveis no circuito, que foi desenhado de

forma a permitir o acesso a pessoas portadoras de deficiências motoras. Os aparelhos

foram criados especificamente para cada grupo muscular, com vários graus de

dificuldade, de forma a adequar-se às exigências de cada sénior. Em todos os pontos

de paragem está disponível informação de leitura fácil sobre o modo mais adequado

de praticar cada exercício e o potencial impacto dessa prática no seu estado de

saúde.

A socialização e a redução dos níveis de sedentarismo são outras das

finalidades do circuito, como referiu o director médico do laboratório Pfizer, Aleixo

Dias, um dos promotores da iniciativa. "A morte para a vida começa muito cedo e é

preciso criar estímulos para os mais velhos praticarem alguma actividade física

orientada por profissionais de saúde e desporto", acrescentou Aleixo Dias.

Para a professora Helena Santa Clara, da Faculdade de Motricidade Humana da

Universidade de Lisboa, com exercício os praticantes estarão "mais aptos para o

desempenho das tarefas quotidianas com autonomia, melhorando a sua qualidade

de vida". "A maioria dos adultos de idade avançada têm como grande meta manter

a sua autonomia e funcionalidade até o mais tarde possível no decurso das suas vidas"

e isso pode ser conseguido através do desporto, sustentou.

Segundo Helena Santa Clara, os equipamentos inseridos no circuito vão proporcionar

exercícios de força muscular, de flexibilidade, de coordenação, de equilíbrio e

postura.

Este projecto foi divulgado na Madeira, através dos delegados de informação

médica dos laboratórios da Pfizer, tendo sido iniciado um projecto-piloto no concelho

de Machico, estando neste momento suspenso.

Na minha opinião este é um projecto inovador no cuidado dos idosos, em

todos os aspectos do cuidar da pessoa idosa, compreende a problemática da pessoa

idosa e actua de modo a promover um envelhecimento activo, procurando envolver

a pessoa idosa os técnicos de saúde e os cuidadores.

O Enfermeiro especialista em reabilitação é um dos técnicos por excelência

para trabalhar num projecto como este, já que ele impulsiona a mobilidade no idoso,

como um dos principais componentes para um envelhecimento saudável. A

prevenção e o ensino á pessoa idoso e seus cuidadores são inerentes ao papel do

enfermeiro de reabilitação.

Kuhnen et al desenvolveram, um estudo, integrado no Curso de Licenciatura

em Educação Física da UFSC, Brasil, sobre a influência do exercício físico na força de

membros das pessoas idosas. Trata-se de um estudo descritivo e transversal que

envolveu 200 idosas. Foram utilizados os testes de rosca directa para membro superior

e o teste de levantar e sentar na cadeira em 30 segundos para membros inferiores. Os

resultados apontam uma melhora no nível de força dos membros inferiores e

superiores, portanto um planeamento adequado de exercícios físicos contribuirá

significativamente em ganhos de força muscular. Concluiu-se que os ganhos

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- 10 -

conseguidos a nível de foça muscular poderão interferir no desempenho das

actividades diárias relacionadas com essa qualidade física, como agachar e levantar,

subir e descer escadas, vestir-se, carregar peso, entre outros. Portanto, possibilitando a

conquista de mais autonomia para a realização das actividades da vida diária da

pessoa idosa, o que possivelmente interferirá directamente na qualidade de vida da

mesma.

Kuwano, V. & Silveira, A. M., professores de educação física, por seu lado

estudaram em 2002, ―A influência da actividade física sistematizada na auto

percepção do idoso em relação às actividades da vida diária‖. Os autores

constituíram uma amostra de 40 indivíduos do sexo feminino, com idade acima de 50

anos. Destes, 20 idosos frequentaram as aulas de hidroginástica duas vezes por

semana, e 20 indivíduos não praticavam actividade física, ou seja, eram sedentários. A

pesquisa caracterizou-se como descritiva, e como instrumento de medida utilizou-se

um questionário com 40 perguntas, proposto por Andreotti e Okuma (apud MATSUDO,

2000), o qual se refere às várias actividades realizadas durante a rotina diária do idoso.

Para tratamento dos dados, foi utilizada a escala proposta por Andreotti e Okuma

(apud MATSUDO, 2000), a estatística descritiva e o teste ―t‖ de Student.

Foram comparados os dados de indivíduos que praticavam hidroginástica durante um

ano ou mais e os dados de indivíduos sedentários. Os resultados apontaram que os

indivíduos praticantes de actividade física melhoraram em relação aos aspectos físico,

psíquico e social e receberam um conceito de ―muito bom‖, pontuação máxima na

escala proposta pelo estudo, enquanto os indivíduos sedentários receberam o

conceito de ―bom‖. Houve diferença estatisticamente significativa p <0,05, entre o

grupo de idosos activos e o de inactivos. Concluiu-se que o programa actividades

físicas sistematizadas - hidroginástica -auxilia na manutenção da autonomia do idoso

em relação às actividades da vida diária, e que os idosos percebem os benefícios

proporcionados pela actividade física.

Com base na bateria de testes de avaliação, Fullerton Functional Fitness test,

(validada por Miotto, Chodzko-Zajko, Reich & Supler), está a decorrer um projecto

internacional de comparação da aptidão física funcional de homens e mulheres com

mais de 60 anos de idade, em que parte da participação Portuguesa decorre no

âmbito do Programa de Actividade Física para as pessoas idosas do concelho de

Oeiras, sob a coordenação científico-pedagógica do Núcleo de Exercício e Saúde da

Faculdade de Motricidade Humana. Com o intuito da utilização da bateria de

avaliação acima descrita, em Portugal, foi publicada uma versão portuguesa

adaptada por Sardinha em 1999. É esta bateria de testes que eu também utilizarei no

meu projecto. É também com base nesta bateria de testes, que o projecto ―Idade

Maior‖, (antes referenciado antes neste subcapítulo), baseia a sua avaliação da

aptidão física.

Tais resultados interferem, de maneira positiva, na qualidade de vida dos idosos.

Da revisão de literatura que apresentei depreende-se que todos os estudos

sugerem aspectos benéficos da prática de actividade física Na pessoa idosa.

Concluindo-se que a mobilidade controlada e assistida por profissionais credenciados

para o efeito, é importante e é o caminho a seguir.

Assim se demonstra a importância do projecto que pretendo implementar,

promovendo a mobilidade do idoso, seja qual for o nível de dependência que este

apresente.

Note-se que, surpreendentemente, não encontrei estudos ou projectos sobre a

mobilidade da pessoa idosa, totalmente dependente, (embora tenha encontrado

documentos descritivos sobre o assunto), o que não deixa de ser preocupante, já que

essa o papel do enfermeiro de reabilitação é de extrema importância na mobilização

da pessoa idosa dependente, de modo a não agravar e/ou evitar situações

patológicas e de promover a qualidade de vida das mesmas.

Page 12: Imobilidade - Enf

- 11 -

1.4 Quadro conceptual

Segundo FORTIN e COTÊ (1999, p.93), o quadro de referências é uma

generalização abstracta que situa o estudo num determinado contexto e que lhe dá

um significado particular, isto é uma forma de entender o fenómeno a desenvolver ou

estudar. Constitui assim uma base para a compreensão e interpretação dos diferentes

conceitos e da sua ligação á problemática que pretendemos aprofundar. Ainda

sobre, o quadro de referências, os mesmos autores, refere que este pode ser teórico

ou conceptual, sendo que enquanto o primeiro é a explicação de uma teoria, o

conceptual é um processo interactivo sobre conceitos e a relação entre os mesmos.

Assim optei por apresentar um quadro conceptual, o qual me permitirá

elaborar uma exposição clara e sucinta dos diferentes aspectos da mobilidade na

pessoa idosa, relacionando-os entre si.

Farei uma abordagem teórica do processo de envelhecimento e as principais

teorias que o explicam; a mobilidade no idoso, (que condicionantes interferem na

mesma e que consequências podem acontecer se prevalecer o desuso). Abordarei

também a actividade física na pessoa idosa, já que uma das vertentes no meu

projecto é a de promoção da saúde através da actividade física na pessoa idosa.

Finalmente descreverei a importância e a intervenção do enfermeiro na mobilidade

da pessoa idosa.

1.4.1 O processo de envelhecimento

O envelhecimento tem um grande impacto na vida das pessoas, não só pela

interferência nas suas actividades diárias, mas também pelos inconvenientes sociais e

psicológicos que as limitações que lhe são próprias lhe impõem, perturbando o seu

bem-estar e a sua qualidade de vida.

O envelhecimento é um processo degenerativo que compreende alterações

alterações fisiológicas, alterações psicológicas e alterações sociais.

Segundo Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004) o envelhecimento é um

processo ou grupo de processos, que ocorrem nos organismos vivos e que com a

passagem do tempo levam a uma perda de adaptabilidade, danos funcionais e

eventualmente à morte, sendo uma extensão lógica dos processos fisiológicos de

crescimento e desenvolvimento. O envelhecimento constitui um processo inexorável e

transversal a todos os indivíduos, com reflexos variáveis na vertente fisiológica,

psicológica e social. A par da história genética, a subjectividade das vivências, o

ambiente ecológico, social e cultural onde o indivíduo se desenvolve, são

condicionantes do envelhecimento. ―Cada pessoa é única e envelhece em função

do que viveu.‖, refere Jacques(2004), citado por Loureiro e tal (2007).

Segundo Carvalho (2005) os principais factores desencadeantes do

envelhecimento são a alimentação e a inactividade física, logo se fizermos uma

alimentação saudável e praticarmos alguma actividade física teremos uma melhor

qualidade de vida porque permaneceremos sem as complicações do desuso.

Outros factores como o tempo, a hereditariedade, o meio ambiente e o estilo

de vida, parecem também ter influência no envelhecimento das pessoas.

De acordo Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004), existem dois tipos de

envelhecimento: o primário que representa as mudanças provocadas pela idade,

independentemente das doenças ou influências ambientais; e o secundário que se

refere à rápida evolução deste processo, devido á influência da doença e dos

factores ambientais.

Delimitar a faixa etária da chamada terceira idade, também é uma tarefa

difícil, dado que diversos autores definem cronologicamente este período de vida de

forma diferente. Muitos autores consideram ainda categorias dentro deste período,

Rappoport (1978), citado por Ilano e tal (2004), define três subdivisões na terceira

idade: período de maturidade (dos 50 aos 60 anos), período de velhice (dos 65 aos 80

anos) e período de longevidade (a partir dos 80 anos).

Por uma questão estrutural, funcional e regulamentar, tem sido considerada a

proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS) que conceptualiza o idoso pela

idade e grau de desenvolvimento do seu país, propondo para os países desenvolvidos

um limite de 65 anos e para os países em desenvolvimento, 60 anos.

Page 13: Imobilidade - Enf

- 12 -

Para a elaboração deste projecto, defini cronologicamente a terceira idade,

como aliais a maioria dos investigadores, a partir dos 60 anos.

1.4.1.1 Teorias do envelhecimento

Embora cada vez mais se procure investigar como e porquê se envelhece,

ainda não está exactamente claro como o nosso corpo, perde funcionalidade. Sabe-

se porém, que o processo de envelhecimento difere de pessoa para pessoa, assim

como de um aparelho ou sistema (cardíaco, respiratório, muscular, etc...) para outro.

Tal como sucede com a idade cronológica não existe consenso sobre as causas

exactas que desencadeiam o envelhecimento. São inúmeras as teorias geradas pelos

grandes avanços científicos e tecnológicos, que tentam explicar este fenómeno.

Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004) resume as tendências mais significativas

classificando-as como Teorias Genéticas, Teorias de Agressão e Teorias do

Desequilíbrio gradual

TEORIAS GENÉTICAS

As teorias genéticas alegam que o processo de envelhecimento, está

programado pelos nossos genes desde o nascimento até a morte. Sugerem também

que existem genes específicos que controlam a longevidade embora não

identificados até agora. Estes genes ditam a idade celular dentro do núcleo celular,

ou que determinados genes são desenvolvidos ou reprimidos durante o

desenvolvimento normal da vida. Uma das teorias mais actuais dentro deste género é

a das mutações do ADN na mitocôndria celular, segundo a qual estas mutações

aumentam durante a vida causando o envelhecimento do mesmo.

TEORIAS DA AGRESSÃO

Estas teorias baseiam-se no conceito de que as reacções químicas que

acontecem de forma natural no corpo começam a produzir uma quantidade

irreversível de danos nas moléculas. Por outro lado introduzimos quantidades de

substâncias químicas no nosso organismo através de diversas fontes como: o ar que

respiramos, o tabaco, os alimentos, incluindo os próprios processos metabólicos do

corpo que deterioram as nossas células. De acordo com os defensores destas teorias,

poderíamos retardar o envelhecimento se controlássemos se minimizássemos a

exposição a estas substâncias químicas.

Uma destas teorias, é a defendida por Johnson (1985), este sustenta que desde

que nascemos estamos sujeitos a micro agressões inevitáveis das quais o corpo se

defende de forma natural. Quando o sistema de defesa deixa de ser efectivo

acontece o envelhecimento, levando a perda de funcionalidade dos órgãos

afectados e, por fim, uma falha no sistema. O referido autor argumenta que as

patologias são o resultado da acumulação gradual de danos não completamente

reparados provocadas às inúmeras micro-agressões. Neste grupo, cabe também a

Teoria dos radicais livres, defendida desde 1954 por o Dr. Denham Harmon. Esta teoria

assenta no seguinte: nos temos no nosso corpo moléculas que são constituídos por

átomos que por sua vez são unidos por ligações químicas. Cada ligação consiste num

par de electrões. Quando esta ligação se desfaz durante as reacções químicas de

defesa do nosso organismo, restam dois electrões agora desemparelhados e instáveis.

Estes fragmentos celulares são altamente reactivos, são os conhecidos radicais livres.

Rapidamente os radicais livres procuram ligar-se por serem muito instáveis e reactivos,

aí acontece o que os cientes chamam de oxidação, o que pode acontecer em

qualquer parte do organismo, perfurando membranas celulares, destruindo enzimas

fundamentais e fragmentando o ADN. Além disso, os radicais livres são notavelmente

reproduzíveis, devido à sua grande energia, um radical livre movimenta-se

rapidamente até bater numa molécula próxima com uma ligação estável. Esta por

sua vez quebra originando dois radicais livres. O radical livre que provocou a colisão

une-se a um dos segmentos então formados. Embora este fique estável, pelo choque

libertam-se mais dois radicais livres. Tudo isto acontece em nanossegundos. Assim

Page 14: Imobilidade - Enf

- 13 -

recomeça uma nova reacção em cadeia que produz milhares de fragmentos á

deriva, procurando destabilizar outras células.

Deste modo os radicais livres ao oxidar atacam outros componentes celulares

causando alterações e disfunções que se acumulam ao longo da nossa vida. Muitas

agressões celulares acabam por matar as células, facto frequente à medida que a

idade avança.

Alguns cientistas alegam que o consumo de vitamina A e E reduzem a

quantidade de radicais livres no organismo, pela sua acção antioxidante.

Ao falarmos nas vantagens do exercício físico veremos como este pode ajudar o

organismo a defender-se dos radicais livres.

TEORIAS DO DESIQUILÍBRIO GRADUAL

De acordos com estas teorias o cérebro, as glândulas endócrinas ou o sistema

imunológico começam a falhar progressivamente as suas funções à medida que o

tempo passa, provocando um desequilíbrio orgânico. O sistema nervoso central e o

sistema endócrino são os reguladores e integradores das funções celulares e dos

sistemas orgânicos. As falhas no sistema imunológico desafiam estes mecanismos de

controlo, o que conduz a um alto risco de desenvolvimento patológico.

Embora todas estas teorias sejam investigadas e discutidas separadamente,

existem aspectos comuns que se relacionam e/ou complementam. O envelhecimento

ocorre, devido a uma interacção de causas genéticas, agressões e desequilíbrio

progressivo.

1.4.1.2 Envelhecimento físico, sócio-afectivo e psicológico

Neste subcapítulo descreverei os efeitos deste processo involutivo nas três

dimensões básicas de cada indivíduo, físico, sócio-afectivo e psicológico

ENVELHECIMENTO FÍSICO

O processo natural do envelhecimento produz efeitos ao nível fisiológico dos

sistemas básicos que compõem o nosso organismo. No entanto durante muito tempo,

o conhecimento das alterações fisiológicas da pessoa idosa, não evolui, devido, entre

os outros factores, ao facto dos idosos serem pouco activos e logo economicamente

pouco rentáveis. Mas, o aumento das pessoas idosas a nível mundial á escala mundial,

tornou-se urgente conhecer mais sobre a biologia do processo de envelhecimento.

Outro aspecto que merece ser destacado, é o facto de os idosos serem vistos como o

estereótipo de um doente. Ainda hoje é possível encontrar caracterizações de

alterações advindas do processo de envelhecimento normal como sendo um estado

patológico, sendo a pessoa idosa sendo tratada como alguém doente.

Torna-se assim fundamental esclarecer quais as alterações que decorrem do

envelhecimento normal (senescência) e as alterações consideradas patológicas

(senilidade).

De seguida exporei as principais alterações que se observam a nível dos diferentes

sistemas durante o envelhecimento natural ou senescência. Na minha exposição darei

ênfase aos aspectos que maior influencia têm sobre a mobilidade no idoso, visto este

ser o tema do presente projecto.

Alterações da composição e forma corporal:

Á medidas que envelhecemos acontecem uma diminuição do peso e da estatura.

Essa perda é da ordem de 1 cm por década aproximadamente e começa a

acontecer por volta dos 40 anos de idade. Essa diminuição deve-se, principalmente à

diminuição dos arcos dos pés e ao aumento das curvaturas da coluna vertebral, bem

como à diminuição do tamanho desta, como consequência da perda água dos

discos intervertebrais decorrentes dos esforços de compressão a que são submetidos.

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- 14 -

Acontece também o achatamento dos discos vertebrais, o que provoca a diminuição

da altura e alterações posturais.

Fig. 1 - Alterações posturais do idoso devido aos efeitos do envelhecimento a nível da coluna vertebral

Fonte: Imagens do Google, pesquisa coluna vertebral

Fig. 2 – Diferença de estatura entre o adulto e a pessoa idosa

Fonte: Lustri, W. R. & Morelli, J.G.S. (2004). Aspectos biológicos do envelhecimento.

In Fisioterapia Geriátrica. A prática da assistência ao idoso (p.60)

A pessoa idosa também poderá apresentar alterações características que podem

dar ideia da sua conformação típica, tais como o aumento dos diâmetros da caixa

torácica e do crânio, o crescimento contínuo do nariz e do pavilhão auricular.

Acontece também um aumento do tecido adiposo, mais acentuados na região

abdominal.

A quantidade de água corporal também diminui devido á perda intracelular, bem

como devido á perda de potássio, principalmente pela diminuição do número de

células nos órgãos.

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- 15 -

Alterações do sistema locomotor:

A nível do sistema locomotor surgem alterações ósseas, pela diminuição

progressiva da densidade óssea o enfraquece os ossos, fazendo com que uma grande

percentagem de idosos sofra de osteoporose. De acordo com alguns autores, a perda

da densidade óssea no homem é de cerca de 0.35 no homem por ano, enquanto na

mulher é de cerca de 1% ao ano, acentuando-se no período pós-menopausa.

Esta perda óssea caracteriza-se pelo desequilíbrio no processo de modelagem

e remodelagem consequente do envelhecimento, e pode ocorrer por aumento da

actividade dos osteoclastos, por diminuição da actividade dos osteoplastos ou até

mesmo pela combinação de ambos. Esta perda, á medida que a idade avança é

contínua levando á osteoporose. Segundo Lustri & Morelli, (2004), os estudos apontam

para o facto de que as pessoas portadoras de osteoporose apenas procurarem

acompanhamento clínico após o aparecimento de intercorrências, nomeadamente

as fracturas.

Da minha experiência, no nosso meio já muitas pessoas (frequentemente as

mulheres) fazem medicação precocemente, alertadas pelos médicos da sua

importância para minimizar as consequências da perda óssea, no entanto ainda estão

muito de longe de terem uma mentalidade positiva, no sentido de tomar atitudes

protetoras das consequências da perda óssea e da osteoporose, como as quedas e

muitas vezes com repercussões importantes como as fracturas. Simples atitudes de

reformulação da configuração do mobiliário, tapetes e iluminação, são muitas vezes

difíceis de incutir na pessoa idosa.

A perda de óssea também depende da raça, ocupação, dos hábitos alimentares,

da condição económica, entre outros factores. É por isso importante da contínua

remodelagem do osso a qual pode ser realizada por meio da submissão desses ossos a

carga. A actuação das cargas sobre o osso faz com que haja maior deposição de

tecido ósseo. Um exemplo disso é a comparação entre as pernas de alguém que

caminha e alguém paraplégico ou que esteve com um gesso durante um período de

tempo considerável.

A pessoa idosa sofre também alterações das fibras musculares: as fibras de

contracção rápida ou de tipo II diminuem em número e em volume e as fibras de

contracção lenta ou de tipo I, também diminuem em quantidade embora em

proporção menor comparando com as referidas anteriormente. Pensa-se que este

facto pode estar relacionado com o facto de os idosos apresentarem lentidão de

movimentos.

A massa muscular diminui, verificando-se por isso, diminuição do peso muscular

e da área transversal. Também se deve à perda de unidades motoras e ao facto de

nas placas motoras das pessoas idosas as pregas serem mais numerosas e as fendas

sinápticas tornarem mais amplas, reduzindo a superfície de contacto entre o axónio e

a membrana plasmática. Por tudo isto a pessoa idosa apresenta menor força, menor

coordenação dos movimentos e por isso fica também mais susceptível a acidentes,

nomeadamente quedas. As alterações sensoriais e motoras decorrentes do

envelhecimento, especialmente quando associadas ao sedentarismo, podem explicar

as dificuldades na realização de actividades motoras. Sabe-se, por exemplo, que a

força física diminui cerca de 5% a 10% por década entre os adultos que não exercitam

seus músculos. Isso ocorre devido à perda gradual de tecido muscular que

acompanha o processo de envelhecimento.

O trabalho de alongamento e flexibilidade com peso na terceira idade,

permite melhorar a independência da pessoa idosa para realizar as actividades da

vida diária, tais como cozinhar, limpar a casa, fazer compras, sair de casa. Estas

últimas requerem força muscular e flexibilidade para melhorar o padrão da marcha,

estabilizar ombros e melhorar a postura, que influenciarão no equilíbrio.

As articulações existem no sentido de permitir a mobilização e sustentação

mecânica. Com o avanço da idade, no entanto acontece a degeneração da

cápsula articular. À medida que a pessoa envelhece as articulações fibrosas tornam-

se calcificadas ou são recobertas por matriz óssea. Por sua vez a rigidez dos ligamentos

limita a amplitude e a velocidade de movimento dessas articulações. A articulação

da anca juntamente com a do joelho, merecem atenção especial durante o

Page 17: Imobilidade - Enf

- 16 -

programa de actividade física, pois são as mais solicitadas nas actividades da vida

diária.

Alterações do sistema cardiovascular:

Acontece o endurecimento de artérias e das válvulas o que dificultam a

circulação sanguínea, levando a um aumento da tensão arterial e logo aumenta o

risco de complicações cardíacas. Dá-se também o aumento de alterações no

trajecto das artérias. A aorta para compensar o endurecimento arterial apresenta o

diâmetro interno aumentado, de forma a reduzir os efeitos hemodiâmicos da

modificação da textura da sua parede.

A nível do coração acumula-se mais gordura, podendo acontece calcificação

das artérias e do ventrículo esquerdo. Os processos arterioscleróticos também atingem

as artérias e arteríolas de menor calibre. Tudo isto provoca alterações no

bombeamento do sangue para todo o corpo.

Alterações do sistema respiratório:

As alterações no sistema respiratório compreendem as mudanças das narinas,

(crescimento de 0.5cm em comprimento e largura), cartilagens costais da traqueia e

dos brônquios com calcificações, rigidez das articulações costoesternais, chegando a

se fundir e formar um único osso. Estas mudanças, levam a que a caixa torácica tenha

menor mobilidade e consequentemente, diminuição da complacência.

A perda de elasticidade pulmonar e a diminuição da superfície alveolar, leva a

um decréscimo do nível de consumo máximo de oxigénio e da capacidade vital. Esta

involução provoca aumento da do risco de infecções e patologias respiratórias. A diminuição da capacidade de realizar esforço físico, que acompanha o

envelhecimento deve-se em grande parte ao declínio gradual da potência aeróbica

ou do consumo máximo de oxigénio (VO2 máximo). As causas deste decréscimo da

capacidade funcional são as alterações fisiológicas que afectam os múltiplos sistemas

orgânicos e originam, em casos de alteração estrutural e funcional grave, a perda da

capacidade funcional e logo a autonomia da pessoa.

O VO2 máximo é um parâmetro fisiológico mensurável que define uma

capacidade individual e determinante da actividade física, este espelha a

capacidade funcional e a reserva física e adaptativa dos vários sistemas orgânicos,

cada um com a sua taxa de declínio ao longo da vida. O decréscimo do VO2 máximo

também pode ser fruto de patologias, factores sociais e hábitos de vida. Aspectos

como a força muscular, peso corporal e capacidade aeróbica estão associados à

incidência de doença e de incapacidade física, o que vêm confirmar a importância

de medidas de intervenção que contrariem a diminuição da aptidão física. Estudos

revelam, segundo Silva (2006), que entre os 20 e os 90 anos o declínio do VO2 máximo

diminui cerca de 1 % ao ano, em ambos os sexos. No entanto, os estudos dizem

também que até aos 50 anos se as pessoas se mantiverem activas fisicamente esse

decréscimo é pouco significativo. A redução do VO2 máximo, parece estar

relacionado com as alterações cardiovasculares, em particular pela diminuição da

frequência cardíaca, (FC máxima) e do declínio do débito cardíaco. As alterações da

regulação do fluxo sanguíneo regional com a idade podem também explicar parte

da diminuição da capacidade aeróbica, bem como a perda de massa muscular e a

diminuição da capacidade oxidativa do músculo-esquelético.

A capacidade adaptativa do organismo humano ao exercício parece

também sofrer uma forte diminuição a partir dos 80 anos. No entanto em idades

avançadas a actividade física melhora a capacidade de consumo de oxigénio e

melhora as respostas orgânicas em esforços sub-máximos. Estes efeitos do exercício

são fundamentais na promoção da saúde e na prevenção secundária em casos em

que já existe doenças, incrementando a capacidade para realizar as actividades de

vida diária e também a autonomia da pessoa idosa para orientar a sua vida.

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- 17 -

Alterações do sistema nervoso:

Neste sistema produz-se um abrandamento no tempo de reacção e no

processamento de informação, resultado da redução de neurónios e à deterioração

dos arcos reflexos, que só se activam com estímulos cada vez mais intensos. A

transmissão de impulsos nervosos é consequentemente cada vez mais lenta,

afectando a capacidade de reacção e coordenação. A concentração e atenção

decrescem, assim como a memória a curto prazo.

Alterações do sistema sensorial:

A informação do exterior chega lentamente á pessoa idosa e por vezes chega

deturpada, isto devido á perda de eficiência dos órgãos sensoriais e da diminuição

dos limiares para a sua estimulação. Este facto por si só altera não só a realização das

actividades de vida diária e das actividades instrumentais da vida diária, mas também

a segurança e estabilidade na deambulação, o paladar, o olfacto e logo afecta as

reacções face ao perigo.

Alterações de outros sistemas:

A longevidade provoca também alterações a nível de outras funções

fisiológicas tais como alterações hormonais, que diminuem a secreção e síntese de

substâncias como a insulina, provocando descompensações metabólicas importantes.

Dá-se nas reservas energéticas e o abrandamento das reacções metabólicas.

DIMENSÃO PSICO-AFECTIVA E O ENVELHECIMENTO

A perda de capacidades sentida pela pessoa ao longo da vida leva muitas vezes

á perda de confiança em si. Existe frequentemente uma diferença entre aquilo que

acreditam poder fazer e aquilo que na realidade conseguem fazer, o que afecta a

sua auto-estima. A esta situação está muitas vezes associado o acontecimento de

mudanças stressantes na vida como a reforma, a perda de amigos e entes queridos,

etc, o que faz com que as pessoas idosas sejam um grupo vulnerável a depressões

frequentes.

DIMENSÃO SOCIAL E O ENVELHECIMENTO

O isolamento, a inactividade e a atitude de afastamento da sociedade é uma

característica da terceira idade. A sociedade, por seu lado centrada nas pessoas

produtivas, não valoriza a pessoa idosa, ninguém prepara a pessoa para quando a

fase produtiva termina e a pessoa tem de se adaptar a uma nova situação social que

deveria ser de descanso das etapas anteriores.

Por tudo isto as actividades, que permitem á pessoa idosa sair do isolamento e

interagir com outras pessoas, promove não só o bem físico mas também a auto-

estima, o convívio, o sentir útil e capaz, prevenindo os estados depressivos e a

morbilidade daí decorrente. Os programas de actividade física são uma boa

alternativa, já que oferecem, não só a ocupação regular do tempo mas também a

promoção da condição física e de saúde, num ambiente lúdico e descontraído onde

interagem com outras pessoas.

1.4.1.3 Mobilidade na pessoa idosa

Quando não há a promoção da mobilidade na pessoa idosa, acontecem

vários efeitos adversos, que se tornaram melhor conhecidos nos últimos cinquenta

anos, embora muitos dos mecanismos fisiopatológicos não estejam totalmente

esclarecidos ou permaneçam alvo de alguma controvérsia.

O reconhecimento das consequências da inactividade no organismo só foi

admitido em termos de estratégia de saúde a partir dos meados do século XX. Hoje

em dia só em situações de grande instabilidade e muito pontuais é que se preconiza o

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repouso como coadjuvante nos processos terapêuticos. O levante precoce, após uma

situação de doença, é hoje reconhecido como essencial, para minimizar as

complicações da imobilidade.

O descongestionamento, (o conjunto de alterações fisiológicas induzidas por

vários sistemas orgânicos pela inactividade física) são reversíveis com o

restabelecimento da actividade. A imobilidade não se associa apenas ao repouso

prolongado, os estilos de vida sedentários também condicionam os efeitos nefastos no

organismo. A inactividade resultante da inactividade crónica (sedentarismo) ou

motivada por uma intercorrência que obrigue ao repouso vai condicionar uma

inevitável redução da actividade muscular que, por sua vez, leva a alterações de

funcionamento de todos órgãos do corpo.

Os indivíduos mais susceptíveis de desenvolver os efeitos adversos da

imobilidade são aqueles que apresentam doenças crónicas, portadores de algum tipo

de deficiência e os idosos.

Para além das alterações próprias do envelhecimento, há dois factores que

contribuem de forma significativa para essa maior susceptibilidade: as múltiplas

patologias frequentemente encontradas nesta faixa etária (osteoporose, doença

cardíaca, etc.) e a falta de apoio social e familiar, que contribui para um isolamento e

inactividade progressivos. Assim paralelamente às alterações normativas do

envelhecimento, estudos epidemiológicos descrevem uma maior morbilidade e

mortalidade associados a esta faixa etária. Sanchez (2000), citado por Loureiro et al

(2006) refere que as transformações físicas e a fragilidade das condições de saúde nas

pessoas idosas podem comprometer a sua capacidade funcional, originando com

frequência dependência e a perda de autonomia. Na maioria dos países industrializados, a actual taxa de dependência é cerca

de dois adultos independentes, para cada pessoa dependente, [Berger, (2003), citado

por Loureiro et al (2006)]. A idade não é um prognóstico exacto de dependência das

pessoas, no entanto dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que entre

a população com dependência, o índice de envelhecimento é de cerca 5,5 vezes

superior ao da população total. O inquérito nacional de saúde de 1998/1999, por sua

vez, refere que a hipertensão arterial é uma das doenças crónicas mais frequentes

entre idosos, com reflexos directos na ocorrência de patologias cardiovasculares e

situações de dependência. As doenças do aparelho circulatório são também

apontadas pelo INE como sendo a principal causa de mortalidade nesta classe etária.

Outro factor de risco importante para a ocorrência destas doenças é o sedentarismo.

Dados da Direcção Geral da Saúde (DGS), referem que Portugal é o país da União

Europeia com os mais elevados níveis de sedentarismo e que a inactividade física

contribui com 3,3% para o peso da doença.

Entre as pessoas idosas, a prática de exercício físico também não é uma

constante. Segundo o Inquérito Nacional de Saúde 1998/1999 a maioria das pessoas

idosas não efectuou qualquer tipo de exercício físico nos meses anteriores ao inquérito,

preferindo actividades mais sedentárias como ler e escrever. O declínio dos níveis da

actividade física habitual da pessoa idosa acentua a redução da aptidão funcional

própria do processo de envelhecimento. Simultaneamente, a pouca tolerância ao

esforço, faz com que um grande número de pessoas na terceira idade viva abaixo do

seu limiar de capacidade física, constituindo uma pequena interferência na saúde, o

motivo para se tornarem totalmente dependentes. A prática regular de exercícios tem

sido enfatizada como estratégia para um envelhecimento sadio. Os efeitos da

imobilidade são progressivos e devastadores podendo reflectir-se ao nível funcional,

psicológico e social. As pessoas idosas constituem um dos grupos mais vulneráveis às

suas complicações. A inactividade torna patológico o processo de envelhecer.

Efeitos da imobilidade no sistema músculo-esquelético

A imobilidade induz a alterações importantes a nível do ósseo, cartilagíneo,

muscular e outros tecidos moles. Os principais problemas a nível músculo-esquelético

são atrofia, fraqueza muscular, contracturas e a osteoporose.

Com a imobilização ocorre 1 a 2% perda da força muscular por dia, podendo

atingir 40% nos longos períodos. As fibras I e II sofrem atrofia ocorrendo diminuição do

seu comprimento e diâmetro, perdendo-se também em número de microfibras. Como

Page 20: Imobilidade - Enf

- 19 -

resultado destas alterações dá-se o decréscimo da contracção máxima e da

resistência muscular.

Os grupos musculares que se atrofiam mais rapidamente são: os quadríceps, os

flexores plantares e extensores da coluna. Observam-se também alterações

bioquímicas, ocasionando o aumento de ácido láctico nos músculos.

As contracturas por sua vez acontecem como resultado do desequilíbrio de

factores que normalmente ocorrem harmoniosamente. A falta de estiramento

muscular provocada pela inactividade, vai alterar a homeostasia entre a formação e

reparação do colagénio, que é o principal elemento constituinte do tecido conjuntivo,

do osso, cartilagem e tecidos moles. O colagénio é importante para a realização das

acções mecânicas. Logo se elementos como o colagénio não se encontram em

qualidade e em quantidade necessária, acontecem as contracturas.

A imobilidade contribui também para uma menor extensibilidade dos tecidos

conjuntivos peri-articulares, sendo a cápsula articular particularmente susceptível aos

efeitos adversos da inactividade e desuso, já que a sua nutrição é feita durante o

movimento articular e compressão. Os músculos mais afectados são os isquiotibiais e

os músculos rotadores internos do ombro. A imobilidade contribui para importantes

modificações na remodelação óssea, com um acréscimo da perda da massa óssea.

A osteopénia devida á imobilidade caracteriza-se por uma perda de cálcio e

hidroxiprolina no tecido ósseo, sendo o aumento da reabsorção o responsável primário

pela osteoporose da imobilidade, embora a explicação deste acontecimento

permaneça pouco esclarecida.

Efeitos da imobilidade no sistema cardiovascular

As alterações principais ocorridas na sequência da imobilidade no sistema cardio-

vascular são conhecidas como ―síndroma de adaptação cardiovascular‖.

A frequência cardíaca em repouso aumenta cerca de um batimento por minuto

por cada dois dias de inactividade, conduzindo á chamada taquicardia de

imobilidade. Em resposta ao exercício sub-máximo acontece um aumento da

frequência cardíaca.

Uma pessoa saudável ao alterar a sua posição de decúbito para a posição

ortostática a sua frequência cardíaca aumenta cerca de 13%. Após 3 dias, 1 semana

e 3 semanas de repouso esse aumento é de cerca de 32%, 62% e 85%

respectivamente.

A nível do volume da ejecção sistólica também acorre, com a inactividade, uma

diminuição, que pode atingir os 15% após duas semanas de inactividade. Esta

alteração parece estar relacionada com a diminuição do volume de sangue

circulante e da pressão de enchimento cardíaco.

A diminuição do volume sistólico acompanha-se de um rápido declínio do débito

cardíaco em resposta ao exercício sub-máximo, já que o mesmo não é compensado

pelo aumento da frequência cardíaca.

Dá-se também uma diminuição do consumo máximo de O2, isto devido às

alterações a nível do débito cardíaco e da utilização deficiente do O2 periférico.

Após aproximadamente 20 dias de inactividade, o VO2 máximo pode diminuir 27%,

facto que assume primordial importância no caso das pessoas com patologia

cardíaca, cuja isquémia do miocárdio pode agravar-se.

O VO2 máximo é de capital é de capital importância na prescrição da actividade

física na pessoa idosa, bem como na capacidade funcional deste grupo etário

envolvendo diferentes sistemas fisiológicos, pelo que abordaremos o mesmo num

subcapítulo adiante.

A restrição da actividade física também provoca um declínio gradual da

capacidade cardiovascular máxima, visto que a eficácia da resposta cardiovascular

ao músculo depende da frequência com que a capacidade muscular é solicitada.

Os fenómenos tromboembólicos, como a trombose venosa profunda também

estão directamente relacionados com a imobilidade, já que resultam da

hiperviscosidade, associada á estase sanguínea condicionada pela lentificação da

circulação dos membros inferiores. A viscosidade acontece porque há diminuição

progressiva do volume de sangue circulante relacionada com a diminuição da

pressão ortostática e da secreção de hormona anti-diurética (ADH). Assim o volume

Page 21: Imobilidade - Enf

- 20 -

plasmático diminui em maior proporção que a massa de glóbulos rubros dando-se o

aumento da viscosidade sanguínea.

A hipotensão postural é outro efeito nefasto da imobilidade. Traduz-se na na

incapacidade do sistema cardiovascular se ajustar rapidamente á posição ortostática.

A pessoa ao erguer-se após um período longo de repouso cerca de 500ml de

sangue desloca-se do tórax para os membros inferiores e região esplâncnico. Como

consequência, acontece uma diminuição do retorno venoso ao coração, que por sua

vez leva á diminuição do volume sistólico, do débito cardíaco e da pressão sistólica.

Numa pessoa saudável a descida da tensão arterial é rápida contrariada pela

acção do sistema simpático, que de imediato aumenta a frequência cardíaca e

restabelece os valores tensionais através da constrição dos vasos dos membros

inferiores e mesentéricos. No entanto numa pessoa sedentária o sistema circulatório é

incapaz de desencadear uma resposta adequada vasopressora simpática e de

manter a tensão arterial estável. Nas pessoas saudáveis a adaptação à postura

ortostática pode ser perdida após de 3 semanas de inactividade. No caso das pessoas

idosas essa adaptação é perdida antes de 3 semanas e a sua recuperação exige um

maior período tempo.

Efeitos da imobilidade no sistema respiratório

No sistema respiratório, as consequências iniciais da imobilidade traduzem-se

na diminuição dos movimentos torácicos e alterações da perfusão sanguínea nas

diferentes regiões pulmonares induzidas pela gravidade.

Dá-se o aumento da perfusão hidrostática e da pressão venosa nas diferentes

regiões pulmonares pela alteração da gravidade, principalmente nas pessoas

acamadas, alterando também o equilíbrio entre a ventilação e a perfusão.

A mudança da posição supino para a posição de decúbito condiciona uma

diminuição de 2% na capacidade vital, 7% na capacidade pulmonar total, 19% no

volume residual e 30% na capacidade residual funcional. O volume de ar corrente,

volume por minuto, capacidade respiratória máxima, capacidade vital e a

capacidade de reserva funcional sofrem uma redução de 25 a 50%, após um longo

período de repouso. As secreções da mucosa tendem a acumular e a tosse pode ser

ineficaz por causa da piora da mobilidade ciliar e da fraqueza dos músculos

abdominais. Justificando uma das mais temidas complicações, a broncopneumonia,

que acomete 15% das pessoas idosas acamadas.

Efeitos da imobilidade no sistema gastro-intestinal e genito-urinário

As alterações no aparelho intestinal e urinário são frequentes e significativas,

pelo desconforto e alteração na independência da pessoa idosa e são muitas vezes

negligenciados ou minimizados na sua importância.

A anorexia é um sintoma muito frequente e, associada à diminuição da taxa

de absorção, pode contribuir para o aparecimento de uma hipoproteinemia de

causa nutricional.

Acontece também a diminuição do peristaltismo e da função secreção do

tracto gastrointestinal, que contribuem para a obstipação, quase sempre presente na

pessoa idosa.

A imobilidade é também responsável pelo aumento da actividade

adrenérgica, que condiciona uma inibição do peristaltismo e a contracção de

esfíncteres.

No aparelho urinário a imobilidade contribui para o aumento da incidência das

infecções urinários e da litíase urinária, os factores que condicionam o aparecimento

destes problemas são a hipercalciúria, o desequilíbrio entre o ácido cítrico e o cálcio e

a excreção aumentada de fósforo.

Nas pessoas acamadas há que referenciar ainda a dificuldade em iniciar a

micção e o esvaziamento incompleto da bexiga devido á posição de decúbito e

também pela ausência da pressão intra-abdominal secundária à fraqueza da

musculatura abdominal e descondicionamento e ainda devido ás alterações da

musculatura da bexiga e esfíncteres.

Page 22: Imobilidade - Enf

- 21 -

Efeitos da imobilidade no sistema cutâneo

A imobilidade provoca, além da perda hídrica, alterações no vigor e

elasticidade da pele, facilitando as lesões dermatológicas, exemplo a dermatite

amoniacal pelo uso de fralda geriátrica e a úlcera de decúbito. Estas complicações

provocam grande sofrimento á pessoa, ao cuidador e são responsáveis por grandes

gastos económicos, a nível de tratamentos e podem ser no entanto minimizadas.

Efeitos da imobilidade no sistema endócrino

A falta de actividade física pode levar a alterações das respostas hormonais.

Acontece uma significativa intolerância aos hidratos de carbono, que surge

precocemente e está directamente relacionada com a ineficaz captação periférica

de glicose, que pode diminuir cerca de 50% após 15 dias de inactividade. Este facto

acontece devido á resistência à acção da insulina, com consequente aparecimento

de hiperglicémia e hiperinsulinémia. Uma explicação possível desta reacção corporal

consiste no decréscimo do número de receptores da insulina nas células alvo. A

inactividade parece causar uma diminuição dos locais de ligação da insulina,

principalmente a nível da membrana muscular.

Outro efeito hormonal importante advindo da imobilidade é o aumento da

paratormona (PTH) sérica que se está relacionada com a hipercaliémia, mas cujo

mecanismo ainda não está explicado.

Os níveis de colesterol total também aumentam com a imobilidade.

Efeitos da imobilidade no sistema nervoso

Do ponto de vista psicológico a imobilidade prolongada pode provocar

ansiedade, depressão, insónia, agitação, irritabilidade, desorientação no tempo e no

espaço, diminuição da concentração e diminuição da tolerância à dor. O isolamento social em pessoas activas pode causar, por si só, ansiedade,

labilidade emocional, mas geralmente não provoca alterações intelectuais. No

entanto a imobilidade prolongada pode causar alterações das funções intelectuais,

em especial da concentração e da orientação temporal e espacial.

A diminuição da tolerância à dor pode do mesmo modo causar irritabilidade,

hostilidade, insónia e depressão, evidentes após 2 semanas de isolamento e

imobilidade.

A falta de concentração e motivação associadas à diminuição das

capacidades psicomotoras podem afectar a pessoa até um estado de dependência

funcional.

Podem ainda surgir alterações do equilíbrio e da coordenação, que parecem

estar associados a alterações neuronal e menos com a fraqueza muscular.

O quadro I exposto na página seguinte resume as implicações da imobilidade

nos diversos sistemas.

Page 23: Imobilidade - Enf

- 22 -

Quadro I – Efeitos da imobilidade nos diferentes sistemas orgânicos

Os efeitos adversos da imobilidade como vimos podem ser muito graves,

levando á dependência total e até à morte, principalmente na população idosa. Daí

ser fundamental conhecermos e estarmos despertos para detectá-las precocemente,

mas acima de tudo para preveni-las.

Assim é fundamental impedir as implicações da imobilidade através de

medidas de prevenção eficazes, tais como o incentivo á actividade física.

A actividade física dirigida para a especificidade da pessoa idosa traz

vantagens inquestionáveis. A melhoria da condição física, da auto-estima e o

aumento da interacção social são exemplos referidos na literatura. Também a OMS

reconhece que a actividade física é da maior importância para manter uma boa

saúde física, mental e social, assim como bem-estar dos indivíduos e das

comunidades. Vários estudos demonstram que o exercício físico promove mudanças

qualitativas significativas na vida das pessoas.

Os profissionais de saúde devem investir em programas de promoção da

saúde, de forma a incentivar os idosos a manterem-se activos, como enfatizam

inúmeros autores tais como, Loureiro e tal (2006)]. As actividades devem ser

precedidas de uma avaliação da aptidão física do idoso. Os programas devem ser

personalizados e supervisionados.

As pessoas idosas mais independentes terão vantagem em realizar exercício

em grupo num Ginásio, Piscina, Centro de Dia/Convívio ou outros grupos organizados

já que, o que se preconiza, é que deixem a sua casa para conviver, ao mesmo tempo

que praticam exercício. Devem informar-se dos recursos disponíveis da comunidade

onde residem. Os municípios dispõem de inúmeras actividades interessantes e

gratuitas para esta faixa etária. A pessoa idosa dependente, por sua vez deverá ser

foco de especial atenção, nomeadamente de todos os Enfermeiros e concretamente

EFEITOS DA IMOBILIDADE Sistema músculo-esquelético

Atrofia e fraqueza muscular Contracturas Rigidez articular Osteoporose Instabilidade postural e quedas

Sistema cardiovascular

Aumento do trabalho cardíaco Diminuição da reserva cardíaca Hipotensão ortostática Fenómenos tromboembólicos

Sistema respiratório Alteração do padrão ventilatório Inadequada mobilização de secreções

Sistema urinário

Distensão vesical Estase urinária Aumento risco de infecção Incontinência Formação de cálculos renais

Sistema gastrointestinal Anorexia Obstipação Sistema metabólico Aumento da intolerância aos hidratos de carbono Propensão para diabetes Hipercalciúria Hiponatrémia

Tegumento Alterações da circulação periférica Diminuição da capacidade regenerativa

Psicossociais

Isolamento; Diminuição da auto-estima Perturbações do sono Alterações cognitivas; Alterações do humor

Page 24: Imobilidade - Enf

- 23 -

dos Enfermeiros Especialistas em Reabilitação pois, quanto maior for o declínio das

funções e a dependência física, maior é a tendência para acentuar a inactividade.

1.4.3 Actividade física na pessoa idosa

A melhoria da qualidade de vida durante a velhice é um dos principais

desafios do século XXI. A medicina não pode fazer tudo sozinha, a maior fatia de

responsabilidade está na própria pessoa, no seu estilo de vida. Os comportamentos

tipicamente associados às pessoas idosas, referem-se à passividade e imobilidade,

com reduzida actividade física, criando determinado tipo de padrões e estereótipos

que determinam, frequentemente, a forma de agir deste extracto populacional. Este

sedentarismo das pessoas idosas é, geralmente, mais o resultado de imposições sociais

e culturais do que uma incapacidade funcional da sua sustentação, refere Spirduso,

(2005), citado por Carvalho (2006). De facto, a senescência associada ao declínio das

diversas funções e órgãos, não deve ser atribuída exclusivamente ao envelhecimento

por si, mas fundamentalmente à inactividade física e ao desuso, acrescenta o mesmo

autor.

Por outro lado, a literatura é cada vez mais consensual quanto à possível

relação entre estilos de vida menos activos e o incremento de determinadas

patologias características das sociedades mais industrializadas, relatam BRACH et al.,

2004; ABETE et al., (2006), citados por Carvalho (2006). Pelo contrário, o aumento da

actividade física, entendida não apenas no seu aspecto formal e codificado mas

também não formal, tem reflexos determinantes na diminuição dos efeitos deletérios

do envelhecimento dentro dos vários domínios físico, psicológico e social (ACSM, 1998;

DALEY &SPINKS, 2000; ANDREWS, 2001). Adicionalmente, são notórios os efeitos da

actividade física na melhoria da composição corporal e consequentemente na

redução de factores de risco das diferentes patologias características da sociedade

contemporânea (RAGUSO et al., 2005, citado por Carvalho, 2006).

Um estilo de vida mais activo, permite á pessoa idosa manter ou melhorar as

suas capacidades funcionais, a independência e a qualidade de vida.

A actividade física na pessoa idosa encerra vários objectivos aos níveis físicos e

fisiológico, social e psicológico, que se resumem num objectivo principal que é a

melhoria do bem-estar e da qualidade de vida da pessoa idosa.

Mas esta procura do aumento da qualidade de vida mediante a prática de

actividade física só pode ser efectiva num envolvimento em que o sujeito se sinta

plenamente integrado e no qual se possa perspectivar o seu desenvolvimento no seio

de um grupo socialmente relevante, particularmente nos aspectos afectivos.

Dada a sua importância sobre a saúde, condição física e funcionalidade e

logo sobre a qualidade de vida da população, torna-se fundamental criar e promover

a ideia em todos os escalões de um estilo de vida activo. Os programas de actividade

física podem e devem surgir como um interesse especial em todas as etapas da vida.

De facto, actualmente as gerações vivem segmentadas em espaços

exclusivos. A ―compartimentalização‖ de espaços sociais para as diversas gerações é,

infelizmente, cada vez mais aceite como normal nas nossas sociedades onde

facilmente se observa a separação dos diferentes escalões etários. Crianças,

adolescentes, adultos e idosos ocupam áreas reservadas, como creches, escolas,

escritórios, asilos, locais de lazer, etc., compartilhando com cada vez menor

frequência os mesmos lugares e situações.

As regras de conduta estão geralmente bem definidas para as diferentes fases

da vida e são expressas através do desempenho de papéis sociais. Hoje em dia, as

gerações são socialmente construídas e o destaque centra-se fundamentalmente no

adulto, existindo, muitas vezes, uma descontinuidade entre as noções de criança,

adolescente, adulto e do idoso. Trata-se, de certo modo, de um preconceito que vê

no adulto a fase áurea ou plena da vida, desmerecendo quem ainda não chegou a

esse momento e também aqueles que já ultrapassaram determinada faixa etária.

Nessa perspectiva, a velhice é, muitas vezes, tida como sinónimo de

decadência, fraqueza e de improdutividade.

Estas imagens são negativas e não raramente deprimentes, insistindo em

estereótipos que sugerem uma exclusão social.

Page 25: Imobilidade - Enf

- 24 -

Assiste-se a um progressivo esvaziamento de papéis, que leva a pessoa idosa a

um crescente isolamento e inactividade subjacente.

O envelhecimento não pode ser mais encarado como uma doença e um

obstáculo para a prática de exercício físico. A pessoa idosa não é um ser fraco,

incapacitado, isolado e senil. A idade apenas constitui uma inevitabilidade do ponto

de vista biológico. Com efeito, as pessoas idosas de hoje vivem mais tempo, mas é

premente que vivam em qualidade e integrados na sociedade e na família.

Assim, tendo por base a configuração de todos os argumentos anteriormente

referidos, torna-se importante discutir os aspectos pedagógicos envolvidos no processo

de educação de pessoas idosas, crianças e jovens, tendo por referência as

actividades físicas. Carvalho (2006) refere ÁLVAREZ (2003) para sustentar que, entre

outras, nas actividades intergeracionais não se considera mais a velhice como

improdutiva, pelo contrário ―a educação intergeracional rende homenagem à

sabedoria que significa maturidade de pensamento, sentimento, conduta percebida

[...] e lembra que a vida activa não pode ter fronteiras‖.

Por isso, reitero que as actividades físicas se podem constituir como uma

adequada estratégia de aproximação, fomentando a relação que se estabelece

entre as pessoas idosas e as demais gerações. A actividade física deve surgir como

elemento potenciador das relações intergeracionais, constituindo-se simultaneamente

como um meio determinante para melhorar a saúde, funcionalidade e qualidade de

vida da pessoa idosa.

Em síntese, poderemos afirmar que a essência dos programas de actividade

física para a pessoa idosa devem consubstanciar as particularidades específicas à

população em causa, permitindo, simultaneamente colocar em destaque as relações

intergeracionais.

1.4.3.1 Benefícios da Actividade física na pessoa idosa

A vida é movimento. O movimento é crucial para garantir não somente as

necessidades básicas, tais como alimentar-se, vestir-se e proteger-se, como também

para obter o preenchimento das necessidades psicossociais mais elevadas que

envolvem a qualidade de vida. A manutenção da independência no pensamento e

na mobilidade é um desejo universal.

Ao fazermos exercícios, esperamos aumentar por isso a qualidade de vida,

diminuir o risco de quedas e manter e/ou melhorar a função em diversas actividades.

Os benefícios da actividade física são sistémicos e podem ser vistos como

sendo favoráveis para todos os sistemas e funções corporais, desde que os fenómenos

de desgastes sejam diminuídos antes de provocar lesões irreparáveis no organismo.

Os efeitos positivos da resposta sistémicas aos exercícios aeróbicos pelos

sistemas cardio-pulmonar e cardiovascular, bem como pelo sistema músculo-

esquelético, estão bem documentados.

É importante realçar que a actividade física requer uma participação contínua

e regular para que se verifiquem efeitos positivos, quer a curto quer a longo prazo.

Assim consideramos como benefícios para a pessoa idosa as abaixo

apresentadas, conforme nos indica Ilano et al (2004)

Benefícios físicos:

Ajuda regular os níveis de glucose

Estimula os níveis de adrenalina e noraadrenalina

Melhora o sono, tanto em qualidade como em quantidade

Melhora a resistência cardiovascular/aeróbica

Provoca aumento da força muscular

Ajuda a preservar a flexibilidade

Melhora o equilíbrio e a coordenação (muito importante na prevenção das

quedas)

Controla a velocidade de movimento

Favorece o fortalecimento do coração e vasos

Melhora da velocidade ao andar e do equilíbrio

Melhora os reflexos

Page 26: Imobilidade - Enf

- 25 -

Melhora da mobilidade da pessoa idosa

Melhora da auto-eficácia

Contribuição para a manutenção e/ou o aumento da densidade óssea

Melhora o controlo motor

Atrasa o aparecimento de alterações posturais e de lesões articulares

Aumenta a resistência a problemas pulmonares

Previne a osteoporose

Ajuda a controlar a obesidade

Melhora da ingestão alimentar

Auxílio no controle da diabetes, da artrite, das doenças cardíacas e dos

problemas com colesterol alto e hipertensão

Benefícios psicológicos:

Favorece o relaxamento

Reduz e evita as depressões

Reduz o stress

Melhora o humor

Melhora a função cognitiva

Melhora a confiança e satisfação pela vida

Proporciona novas aprendizagens

Benefícios sociais:

Fomenta a integração e as relações sociais e culturais

Fomenta a participação na comunidade

Fomenta novas amizades

Fomenta o desempenho de novos papéis sociais

Desenvolve a actividade social e o sentimento de satisfação e produtividade

Fomenta o convívio entre diferentes gerações

A actividade física é, portanto, essencial para a promoção das relações sociais, da

saúde física e psicológica, colaborando desse modo para retardar o processo de

envelhecimento e proporcionando uma velhice mais autónoma e independente, com

uma qualidade de vida elevada, além de diminuir a incidência de doenças crónicas

e degenerativas. Shephard (2003) coloca que exercício regular reduz a idade

biológica de 10 a 20 anos.

Além dos referidos ainda podemos referir benefícios da actividade física na pessoa

idosa importantes para a própria sociedade nomeadamente, a diminuição dos custos

de saúde, pois os custos com uma pessoa dependente são 8 vezes maior ao de uma

pessoa que envelhece saudável. Ao fomentar a actividade o exercício físico, estamos

também a promover a actividade profissional ou voluntária. Por último, promove a

imagem positiva e activa da pessoa idosa, ao contrário do que acontecia até agora,

embora já se assista ao inicio da mudança de mentalidades e de atitudes neste

sentido.

1.4.3.2 Programação da actividade física para a pessoa idosa

Antes de prescrever um programa de exercício físico é primordial conhecer a

pessoa ou grupo de pessoas que queremos treinar, concretamente as suas limitações

e capacidades.

Ao prescrevermos o programa de exercícios temos objectivo principal melhorar

o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa idosa e para o atingirmos delineamos

objectivos específicos nos domínios cognitivo, sócio-afectivo e motor, como nos

descreve Ilano et al, (2004). Deste modo queremos que a pessoa seja capaz:

Page 27: Imobilidade - Enf

- 26 -

Na área Cognitiva:

Melhorar os aspectos cognitivos através da estimulação perceptiva

Conhecer a execução correcta de cada exercício

Valorizar os benefícios da actividade física para o seu corpo

Conhecer as técnicas de respiração e relaxamento

Conhecer as posturas incorrectas e como corrigi-las

Conhecer e valorizar as suas próprias possibilidades de movimento

Na área Motora:

Melhorar o desempenho das actividades de vida diária

Melhorar o desempenho das habilidades motoras básicas

Superar pequenas limitações físicas

Manter ou melhorar o tonús muscular

Adquirir a percepção e controlo postural do corpo

Aplicar as técnicas de respiração e de relaxamento

Manter ou aumentar o nível das qualidades físicas

Na área Sócio-Afectiva:

Utilizar adequadamente o tempo livre

Conhecer e aceitar as suas limitações e as do próximo

Aumentar os níveis de auto-estima e auto-confiança

Aumentar os níveis de independência e autonomia

Aumentar a interacção social

1.4.3.2.1 Prescrição de actividade física

A prática de exercício físico deve obedecer a princípios fundamentais da

prescrição de exercícios, que se designam por duração, frequência, quando

prescrevemos um programa de actividade física para a pessoa idosa temos de ter em

conta que estes apresentam inúmeras restrições pela idade, pela doença, e que, um

grupu de idosos raramente é homogéneo, logo pelo seu processo de envelhecimento

que é individual, bem como pelo seu estado de saúde e nível de aptidão física.

Relativamente à frequência, esta varia conforme o tipo de trabalho, dos

objectivos, do programa de actividade física e da intensidade de cada sessão.

São recomendadas 2 a 3 sessões semanais para manutenção e/ou melhoria a

médio ou longo prazo. Se pretendermos benefícios a curto prazo e se o grupo tolerar

podemos aumentar o número de sessões.

No que concerne à duração de cada sessão, esta também varia conforme o

nível físico do grupo de pessoas idosas e dos objectivos que pretendemos atingir. No

entanto de acordo com a bibliografia consultada esta não deverá ultrapassar os 60

minutos. Este tempo é distribuído, pelas fases que compõem a aula, temos:

Aquecimento - 10 a 15 minutos

Parte principal - 30 a 40 minutos

Relaxamento – 10 a 15 minutos

Page 28: Imobilidade - Enf

- 27 -

As características que apresento de seguida, elucidam como deverá ser a

actividade física de modo a conseguir a adesão da pessoa idosa e o alcance dos

objectivos propostos.

O Aquecimento

Cada sessão de actividade física deverá iniciar-se com a explicação de como

decorrerá, nomeadamente em termos de tempo e de exercícios que serão

praticados.

De seguida, segundo Ilano et al (2004) deverá decorrer uma activação geral

com o propósito de elevar a temperatura corporal e a circulação sanguínea para os

músculos, permitindo ao organismo ajustar-se progressivamente à actividade física.

Para tal pode utilizar-se actividades socializantes de baixa intensidade ou actividades

exploratórias com diferentes materiais.

Dever-se iniciar pelo alongamento e exercícios de reduzida complexidade dos

grupos musculares de maior dimensão e só depois para os outros de pequena

dimensão. Deve também acompanhar com exercícios de controlo respiratório.

Parte principal

Nesta fase desenvolvem-se exercícios que venham de encontro aos objectivos

pretendidos. De acordo com Skinner (1987), citado por Ilano et al (2004) estes

exercícios deverão executar-se num nível de intensidade que as pessoas idosas

consigam tolerá-las durante 15 a 20 minutos.

O Relaxamento

O relaxamento é fundamental, já que irá permitir que a pessoa idosa, volte á

sua frequência cardíaca de repouso. Assim é realizada uma diminuição gradual da

intensidade e da repetição dos exercícios. Exercícios de respiração, marcha lenta e

CARACTERÍSTICAS DA ACTIVIDADE FÍSICA

SEGURA Atender à condição individual da pessoa

idosa

AGRADÁVEL

Ir de encontro às preferência da pessoa idosa

e se possível incluir família e amigos

CONVENIENTE

Ser passível de inclusão nas AVD e AIVD

(andar a pé, evitar elevadores, sair uma ou

duas paragens de autocarro antes)

REALISTA Ajustada às capacidades da pessoa idosa

ESTRUTURADA

Obedecer a programas pré estabelecidos,

mas flexíveis, evitando o desinteresse e a não

adesão

REGULAR

Diária ou pelo menos em dias alternados.

Executada durante cerca de 30 minutos por

dia, (este tempo deve ser ajustado à

tolerância de cada pessoa)

INTENSIDADE

Ligeira, Moderada ou Intensa

(De acordo com a condição física e o

grau de dependência do grupo ou pessoa)

Page 29: Imobilidade - Enf

- 28 -

alongamentos são sugestões interessantes para esta fase das sessões de actividade

física.

A Intensidade

Para avaliarmos e prescrevermos o exercício adequado a cada pessoa idosa,

devemos ter elementos objectivos que nos determinem que intensidade aplicar á

actividade física para a pessoa ou grupo de pessoas a treinar. Assim temos a

frequência cardíaca, pode ser medida manual ou mecanicamente através de

aparelhos indicados para tal.

Deverá conhecer-se a FC repouso que se avalia antes de iniciar a actividade

física e após a fase de relaxamento total (após um repouso de 20 minutos), após as

aulas de actividade física.

A frequência cardíaca máxima também é calculada através da fórmula

FC máx = 220- idade actual,

Este cálculo é fundamental, sabendo que a zona segura de treino para a

pessoa idosa na fase aeróbia situa-se entre os 50% e os 75% da FC máxima.

Devemos também conhecer-se a FC de treino que poderá ser calculada

através da fórmula de Karvonen e Skinner,

FC de treino= x% x (FC máx.-FC repouso) + FC repouso

Sabendo que x%, corresponde á intensidade e que esta em pessoas não

atletas deverá situar-se entre (40% a 60%)

No meu projecto utilizei esta fórmula, utilizando 40% de intensidade já que o

grupo em questão é de pessoas idosas e que não estão habituados a praticar

exercício físico regular

Ao conhecer a frequência cardíaca de treino posso adequar o treino

gradualmente á intensidade e consequentemente á percentagem de VO2 que

pretendo, ou seja há capacidade aeróbia que quero atingir para as pessoas que

estou a treinar. Além disso conseguimos controlar a evolução positiva ou não da

frequência cardíaca durante o exercício físico, tomando as medidas necessárias se

algo correr mal.

Para calcular a % de VO2 utilizamos também uma fórmula de Karvonen e

Skinner e que está relacionada com a FC de treino e de repouso,

%VO2 = (FC de treino - FC de repouso) / (FC máx.- FC de repouso)

No quadro que apresento a baixo, citando Pereira (1997), está descrita a

relação entre a intensidade a FC e a % de VO2

Intensidade (watt) FC (bat./min.) VO2 (l/min.)

50 80 0.90

100 116 1.45

150 140 2.10

200 165 2.80

250 185 3.50

Atendendo à correlação existente entre a intensidade e a FC já referida,

Pereira (1997), estabelece também diferentes níveis de intensidade, que apresento de

seguida

Intensidade (watt) FC (bat./min.)

Muito fraca 75-100

Fraca 100-120

Moderada 120-140

Intensa 140-160

Muito intensa 160-170

Exautiva Maior de 175

Page 30: Imobilidade - Enf

- 29 -

De seguida, apresento exemplos de actividades de acordo com a respectiva

intensidade:

Se optarmos por s calcular o VO2 máximo podemos utilizar para a pessoa idosa

sedentária as fórmulas de Bruce, propostas por Barata e Santa Clara (1997),

Para homens sedentários VO2 máx. = 57.8 – (0.445x Idade) ml/Kg/min

Para mulheres sedentárias VO2 máx. = 42.3 – (0.356x Idade) ml/Kg/min

O VO2 máximo é um parâmetro fisiológico mensurável como nos relata Silva

(2006), que define a capacidade individual determinante da aptidão física. Sendo

que espelha a capacidade funcional e a reserva adaptativa de vários sistemas

orgânicos. O O VO2 máx. reflecte assim na autonomia e na longevidade das pessoas.

A capacidade funcional para a pessoa idosa é entendida como a capacidade de

realizar as actividades de vida diária.

O VO2 máx. é a capacidade máxima do corpo humano captar oxigénio da

atmosfera, transportar o oxigénio até os tecidos e utilizar esse oxigénio nos músculos,

dependendo assim da conjugação da actuação do sistema respiratório,

cardiovascular e muscular, bem como das funções reguladoras dos nervos e

hormonas.

Na pessoa idosa o decréscimo do VO2 máx. está relacionado com a perda de

massa muscular e, embora com menos significado, das alterações cardiovasculares e

vegetativas.

A diminuição da capacidade funcional com o envelhecimento tem múltiplas

causas, no entanto é grandemente explicável pela diminuição gradual ao longo dos

INTENSIDADE

CARACTERÍSTICAS

TIPO

DE

ACTIVIDADES

FRACA A

MODERADA

Permitem trabalhos musculares de longa duração; Pouco dispêndio de energia Consideradas actividades físicas aeróbicas Equilíbrio entre consumo e produção de energia Recomendados para a promoção da saúde

Caminhada normal Natação Ciclismo Corridas de resistência Ginástica Golfe (a pé) Varrer Lavagem de janelas Dança lenta

INTENSA

Estímulos de forte intensidade Trabalho muscular de curta duração Grande dispêndio de energia Actividades físicas anaeróbias

Jogging lento Caminhada rápida Ciclismo (longas distâncias) Trabalhos domésticos pesados Jardinagem Desportos de raquete Levantamento de pesos Corridas de curta distância (contra-relógio)

Page 31: Imobilidade - Enf

- 30 -

anos da vida adulta da potência aeróbia máxima ou consumo máximo de Oxigénio

(VO2 máx.), esse decréscimo dá-se a uma taxa de cerca de 1% ao ano, em ambos os

sexos, relata Silva (2006), acrescentando que a capacidade do organismo se adaptar

ao exercício e melhorar a sua capacidade aeróbia, sofre uma diminuição importante

a partir dos 80 anos. No entanto mesmo nas idades mais avançadas a actividade

física é benéfica e melhora a capacidade de captação e consumo de oxigénio e

altera de modo positivo as respostas do organismo aos esforços submáximos. Estes

efeitos da actividade física são essenciais para a prevenção de doenças, para

independência e autonomia da pessoa idosa.

No meu projecto para enriquecer a minha aprendizagem calculei o VO2

máximo e a % de VO2, no entanto considero que esta qualidade da avaliação cardio-

respiratória é complexa e necessita de uma interpretação abrangente, exigindo um

nível de conhecimentos sobre o exercício físico superior ao que possuo no momento.

Estou naturalmente condicionada ao tempo de estudo e experiência. Aliais a

bibliografia que consultei, aponta para o facto das fórmulas e correlações de

interpretação dos componentes do exercício físico serem complexas para os

principiantes.

No entanto procurei esclarecer as minhas dúvidas com a Enfermeira licenciada

em educação física que me acompanhou no projecto e pretendo continuar a

aprofundar esta temática, durante a minha vida profissional.

Os autores e estudos consultados realçam com maior assiduidade a frequência

cardíaca como medida para a prescrição e avaliação dos resultados da actividade

física na pessoa idosa, já que é mais fácil e rápida de executar e mais compreensível

para a pessoa idosa. Silva (2006) diz que, de entre as alterações da resposta

cardiovascular ao exercício com a idade, a mais evidente e melhor documentada é a

diminuição progressiva da FCmáx., que por sua vez surge como um dos principais

motivos para a redução VO2 máx. Assim ao avaliarmos a FC máx. podemos deduzir,

como estará o VO2 máx. e analisar como o exercício físico estará afectando ou não, a

qualidade de vida da pessoa idosa.

1.4.3.2.2 Avaliação para a actividade física

A avaliação inicial antes de qualquer actividade é essencial já que é a partir

desta que iremos definir o programa a implementar.

Esta avaliação, segundo Ilano et al (2004) deverá ser composta de um

questionário com assuntos gerais, uma avaliação médica e uma avaliação da

aptidão física funcional.

No questionário geral pretendesse saber os dados biográficos, o que faz a pessoa no

tempo livre, a realização de actividades de vida diária e instrumentais, sem já

realizaram exercício físico e as motivações ou obstáculos para participar de um

programa de actividade física.

Com a avaliação dos antecedentes médicos pretende-se conhecer a história

clínica e as restrições ao exercício físico.

É essencial saber que medicação toma a pessoa que irá iniciar a actividade

física.

A avaliação da aptidão física é conseguida através da utilização de uma

bateria de testes que têm como finalidade avaliar parâmetros físicos relacionados

com a capacidade funcional, tais como (a força/flexibilidade/resistência/velocidade

/agilidade e equilíbrio. Deste modo podemos prescrever exercícios que vão de

encontro ás componentes mais fracas da pessoa, melhorando-as.

No caso do projecto que estou a desenvolver utilizarei a bateria de testes

desenvolvida no âmbito do LifeSpan Project – a Phyfical Assessment Study Benefiting

Older Adults Fullerton Funcional Fitness Test concebida por Rikli, E. E. Jones, C (1999),

adaptada e validada para a população Portuguesa por Sardinha, L. (1999)

Esta bateria é composta por seis testes e um sétimo alternativo, que estão

relacionados com os componentes de aptidão física. Os testes foram seleccionados

tendo em conta que a aptidão funcional específica, a capacidade funcional para o

desempenho independente, com segurança e sem fadiga das actividades de vida

diária, (em anexo apresento os testes que compõem a referida bateria

Page 32: Imobilidade - Enf

- 31 -

1.4.4 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a Recuperação da

pessoa idosa

A actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação junto da pessoa idosa

deve estar centrada na educação para a saúde, ao cuidar com base no

conhecimento do processo de senescência e senilidade e na recuperação da

capacidade funcional para a realização das suas actividades, com objectivo de

atender às suas necessidades básicas e alcançar a sua independência e a felicidade

refere CAMPEDELLI, 1983, citado por Diogo, 2000.

Neste processo, a enfermeira e demais profissionais envolvidos, devem actuar

junto da pessoa idosa e seus familiares, apoiando suas decisões, ajudando-os a aceitar

as alterações na imagem corporal quando existentes, num processo educativo e

congruente às necessidades individuais (DRENCH, 1994, citado por Diogo, 2000). O

diagnóstico da doença da pessoa idosa pode não ter tanta importância quanto as

consequências dele na qualidade de vida do idoso, ou seja, na sua capacidade

funcional ena manutenção da independência para as actividades diárias.

A avaliação funcional da pessoa idosa faz parte do cuidado de enfermagem,

com ênfase na pessoa e nos sistemas de apoio que ela pode contar. Assim a

enfermeira, inserida numa equipa multidisciplinar, deve assistir a pessoa idosa de

maneira individualizada, levando em consideração as suas limitações físicas, psíquicas

e ambientais.

A assistência sistematizada de enfermagem permite-nos identificar os

problemas das pessoas idosas, de modo personalizado, planear, executar e avaliar o

atendimento a cada situação. Direccionando a assistência para o domicílio, a

consulta de enfermagem é uma actividade que atende às questões colocadas, por

meio da qual a enfermeira assume a responsabilidade quanto a acção de

enfermagem a ser determinada frente aos problemas detectados e estabelece a sua

intervenção.

A enfermeira actua partindo de uma avaliação de reabilitação, tendo como

orientação as actividades de vida diária, fazendo a partir dos problemas detectados

um plano de cuidados de enfermagem, posteriormente actua conforme plano e

finalmente faz uma avaliação da pessoa para monitorizar os ganhos em saúde

Assim sendo, durante a consulta de enfermagem, além do levantamento

relativo aos dados pessoais, de saúde e da família, inclui-se a avaliação das

actividades da vida. Cada actividade deve ser avaliada em termos da função e

acção, procurando a identificação de rotinas anteriores, execução actual, problemas

actuais e em potencial do idoso. Após a análise dos dados, os problemas são

identificados e escritos. Para a elaboração do plano de cuidados personalizado

devemos considerar os recursos disponíveis em relação ao ambiente físico, aos

equipamentos como o uso de acessórios e ao recurso pessoal, compreendido como

enfermagem, família, serviços de apoio, entre outros. O plano de enfermagem não é

estático e portanto, requer uma revisão contínua e colheita de dados adicionais a

partir da avaliação inicial.

Os objectivos a serem alcançados são traçados junto da pessoa idosa, em

termos do seu desempenho esperado após a intervenção de enfermagem.

Na fase de Intervenção de enfermagem, a enfermeira selecciona e realiza as

acções de enfermagem, tendo como objectivos a prevenção de problemas, a

promoção de conforto físico e psíquico e a diminuição da dependência do idoso,

tornando-o habilitado a procurar ajuda para atender sua responsabilidade para o

auto-cuidado. As intervenções de enfermagem devem contudo, estar centradas nas

rotinas do idoso, procurando minimizar os problemas relacionados às AVD. Estão

incluídas ainda as acções relativas aos cuidados técnicos como curativos,

medicações e outros procedimentos.

Na última fase, identificada como monitorização dos resultados de

enfermagem ou ganhos em saúde, o critério a ser utilizado é o desempenho da

pessoa idosa em cada actividade frente ao alcance dos objectivos traçados

previamente.

As AVD propostas para a consulta de enfermagem na reabilitação na pessoa

idosa compreendem a manutenção do ambiente seguro (características do edifício

Page 33: Imobilidade - Enf

- 32 -

residencial); locomoção, actividades físicas e esforços; alimentação e hidratação;

eliminação; higiene corporal; acto de vestir-se; actividades realizadas em casa; sono e

repouso; lazer e recreação; expressão da sexualidade; comunicação e uso de

transportes. Estas actividades devem ser avaliadas no sentido do desempenho da

pessoa idosa e na funcionalidade de cada uma, com o objectivo de descobrir rotinas

anteriores, o que ele pode e não pode fazer por si próprio em relação a cada

actividade e ainda quanto a alterações e problemas presentes.

Acrescida a esta avaliação é necessário o exame físico sumário direccionado

para a identificação de problemas que possam interferir no processo de reabilitação

da pessoa idosa. É também avaliado o nível de dependência na realização das AVD,

entendida como a necessidade de ajuda de outra pessoa para o desempenho de

cada actividade, visando facilitar a visualização do grau de dependência para cada

uma delas.

Assim, em cada consulta de enfermagem com a pessoa idosa e seu familiar

(cuidador), conseguimos avaliar seu progresso ou não no desempenho de cada

actividade.

Após a avaliação inicial, esta parte é retomada nos contactos seguintes com o

objectivo de identificar as alterações ocorridas no grau de dependência da pessoa

idosa, permitindo assim uma avaliação contínua para cada actividade.

A última parte da consulta de enfermagem corresponde aos registos de

enfermagem, compreendendo as fases de planeamento, intervenção, reacção da

pessoa e resultados obtidos, possibilitando deste modo dar seguimento aos cuidados.

1.4.4.1 Fases da Reabilitação Geriátrica e a actuação da Enfermeira

Especialista de Reabilitação

Segundo TUCKER (1993), citado por Diogo (2000) as enfermeiras desenvolvem a

sua intervenção com base em quatro estágios na reabilitação da pessoa idosa: O

ajustamento, o progresso, o platô e a alta.

A fase de ajustamento inclui o processo de admissão, orientações quanto a sua

reabilitação e quanto ao protocolo a ser seguido. O objectivo nesta fase é discutir as

expectativas do idoso e a elaboração do plano.

A avaliação é realizada também pelos demais membros da equipa, tendo-se o

cuidado de não colocar a pessoa ansiosa com sobrecarga de informações. Nesta

etapa é importante avaliar a motivação do idoso para participar do processo, assim

como o suporte e envolvimento de familiares e amigos, os quais são factores

fundamentais para o sucesso do programa. Por meio da consulta de enfermagem a

enfermeira de reabilitação avalia estas questões, assim como avalia a realização das

AVD e o grau de dependência para cada uma delas e ainda com base nos

problemas identificados, planeja e executa as acções de enfermagem pertinentes a

cada idoso. Cabe ressaltar a importância de se dar ênfase á capacidade

remanescente da pessoa idosa e ajudá-lo a se ajustar à nova situação.

A fase de progresso é caracterizada pela familiarização do idoso com a

equipa e com o programa participando das sessões terapêuticas. É uma etapa

dinâmica, altamente gratificante para todos os membros da equipa, para a pessoa

idosa e familiares envolvidos. A enfermeira especialista de reabilitação participa

activamente avaliando as respostas do idoso, realizando acções de enfermagem,

promovendo suporte psicossocial e actuando principalmente no processo educativo.

A fase seguinte, ou seja, o platô, ocorre quando o progresso diminui, embora as

mudanças continuem a acontecer. Pode ser uma longa etapa no processo de

reabilitação, na qual a pessoa idosa se capacita para realizar as funções, com

segurança na sua casa. Neste momento, a participação da enfermeira está

direccionada as acções anteriormente descritas, além de estimular o envolvimento da

pessoa idosa, prevenindo desânimo. Para tanto são necessárias habilidades na

comunicação para manter a motivação do idoso e o seu envolvimento e da família

no processo.

A última fase, a alta, é uma fase altamente variado, em dificuldade em se

determinar com precisão o momento da alta, ou seja, em qual ponto e data ele

estará ―pronto‖. Neste aspecto a opinião e a discussão em equipa é importante

Page 34: Imobilidade - Enf

- 33 -

o senso de proteccionismo da equipa tende a prevalecer. A avaliação domiciliar e

dos recursos da comunidade deve ser realizada, assim como a formação de grupos

de orientação para a família e cuidadores, com objectivo de prepará-los para a alta

e ainda promover troca de experiências. Nem sempre a orientação adequada

coincide com a realidade do idoso em seu ambiente domiciliar e comunitário, sendo

necessários arranjos e adaptações.

1.4.4.2 Problemas frequentes na Reabilitação da pessoa idosa e a actuação

da Enfermeira Especialista de Reabilitação

Conforme mencionei anteriormente, a pessoa idosa pode apresentar vários

problemas que levam ao comprometimento da sua reabilitação. TUCKER (1993),

citado por Diogo (2000), chama atenção a alguns deles ainda não apontados:

A pessoa idosa frequentemente apresenta múltiplas afecções, e faz uso de

muitos fármacos, por isso, a enfermeira deve estar atenta fazendo uma

avaliação minuciosa, visando favorecer o progresso da pessoa idosa na

reabilitação e seu estado de saúde;

A adesão da idosa ao programa de reabilitação pode ser outro problema que

requer da enfermeira principalmente habilidade na comunicação;

Dificuldades de transporte para o serviço de saúde ou ainda de

acompanhante, tendo em vista a vida atribulada que as pessoas vivenciam

hoje em dia;

Frustração relacionada à reabilitação, ou seja, a pessoa idosa pode apresentar

uma expectativa muito alta não condizente com o programa.

A pessoa idosa frequentemente abandona o programa, apresentando intensa

frustração; desânimo, depressão e ideia de suicídio, principalmente na fase de

platô, quando diminui ou estaciona seu progresso, podendo ficar claro para

ele que a alta do programa dificilmente será conseguida. Muitas vezes

observamos durante a consulta de enfermagem, reacções da pessoa idosa

como crises de choro e desânimo, desejo de abandonar o programa, ou

ainda, percepções próprias de não conseguir alta ou não atingir o progresso

esperado. Nessas situações é de extrema importância a enfermeira ser sensível

para detectar estes problemas para interagir com a pessoa, família e demais

membros da equipa;

Sistemas de suporte - os familiares também apresentam dificuldades em aceitar

as mudanças na pessoa idosa, a realidade diária (principalmente vinculadas a

dependência da pessoa idosa) e as alterações dos papéis no contexto

familiar. Isto leva-nos a destacar a importância de se investigar as reacções dos

familiares e principalmente das pessoas mais envolvidas, ou seja, os cuidadores,

que em muitas situações, encontram na enfermeira, a possibilidade de

expressar seus sentimentos e dificuldades presentes no cuidado á pessoa idosa

conforme ressalta WEEKS (1995), referenciado por Diogo (2000) para também

poder actuar com essas pessoas;

Necessidade de educação à saúde – algumas pessoas idosas desenvolvem ao

longo da sua vida, hábitos os quais não são facilmente alterados e portanto,

conseguir as mudanças necessárias pode ser um desafio. Além disso, outros

problemas podem estar presentes como factores de risco para acidentes, uso

inadequado de medicações, desconhecimento do processo de senescência e

mitos relacionados à aprendizagem do idoso. Assim estas áreas demandam

orientação e ―negociação‖ por parte da enfermeira, que no seu papel de

educadora necessita utilizar de habilidades para o ensino e formar verdadeiras

―sociedades‖ com os cuidadores;

Page 35: Imobilidade - Enf

- 34 -

Relutância da pessoa idosa à alta - o medo de se desvincular do programa é

um problema do idoso a qual a enfermeira pode ajudá-lo a superar. Esse medo

pode estar relacionado à expectativa de solidão após longo período de

convivência com os membros da equipa, e concretamente com a enfermeira

de reabilitação no quotidiano, além do companheirismo vivenciado, no local

da reabilitação, com outras pessoas. Portanto, estas manifestações requerem

uma abordagem tanto da enfermeira quanto dos demais membros da equipa,

intervenientes no processo de reabilitação demonstrando apoio e

disponibilidade para ouvir seus sentimentos e suas dificuldades. A manutenção

de um vínculo, seja ele esporádico, pode favorecer segurança para o idoso, o

qual pode participar em grupos educativos relatando sua experiência e assim

estimulando-o a se sentir útil e importante no processo de reabilitação de

outros idosos.

A reabilitação geriátrica é uma das faces da Enfermagem geriátrica e

gerontológica. A actuação da enfermeira na equipa multidisciplinar está centrada no

processo educativo com a pessoa idosa e seus familiares, tendo como finalidade a

sua independência funcional, a prevenção de complicações secundárias, sua

adaptação e da família à nova situação.

Por meio dos cuidados de enfermagem de reabilitação sistematizada, a

enfermeira elabora, executa e avalia o plano de cuidados de enfermagem

personalizado, respeitando os diferentes estádios da reabilitação em que a pessoa

idosa pode encontrar-se. No entanto é fundamental o conhecimento sobre o

processo de senescência e senilidade, sobre o contexto familiar e social da pessoa

idosa, respeitando suas limitações e enfatizando seu potencial remanescente e sua

capacidade para o auto-cuidado.

Cada pessoa possui a sua história de vida, diferente de qualquer outra e o que

pode significar qualidade de vida para ela pode ser diferente do que pode significar

para o profissional da saúde. Assim é importante termos cuidado para não pensarmos

e agirmos apenas sobre nossos próprios valores quando assistimos a pessoa idosa (ou

outras pessoas). É uma área que requer ainda grande investimento no ensino, na

pesquisa e na intervenção.

1.4.5 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a promoção da

mobilidade da pessoa idosa

O papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação na promoção da

mobilidade da pessoa idosa, acontece aos três níveis de prevenção, estabelecendo-

se sempre objectivos prévios e planeando, após o diagnóstico da situação, os

cuidados a prestar.

Sabemos que a saúde e bem-estar de cada pessoa dependem da sua

capacidade para se mover. A mobilização de todos os segmentos do nosso corpo,

com movimentos coordenados e um bom alinhamento corporal permitem-nos

desempenhar eficazmente todas as suas funções, tais como a respiração, a

circulação, a eliminação, etc.

Se a pessoa não for capaz de se mobilizar a pessoa recorre á enfermeira

especialista de reabilitação, pelos seus conhecimentos científicos e teórico-práticos

nesta área de intervenção. Daí que a enfermeira deverá conhecer todas as

dimensões bio-psico-sociais associadas à necessidade de se mover e manter uma

postura corporal correcta.

A enfermeira especialista de reabilitação ao intervir na promoção da

mobilidade da pessoa idosa, actua no envelhecimento funcional. Recorrendo a uma

metodologia de processo de enfermagem, actua de modo contínuo e sistemático,

iniciando, tal como para qualquer outra intervenção de reabilitação, pela colheita de

dados através de uma avaliação de reabilitação, interpretando os dados colhidos e

formulando diagnósticos de enfermagem de reabilitação de acordo com a

classificação internacional para a prática de enfermagem e elaborando um plano de

Page 36: Imobilidade - Enf

- 35 -

acção. A enfermeira simultaneamente identifica e interpreta as reacções e

receptividade da pessoa idosa e dos seus cuidadores aos seus cuidados que presta.

1.4.5.1 Avaliação de Enfermagem de Reabilitação da mobilidade da pessoa

idosa

Na colheita de dados, a avaliação é composta de múltiplos parâmetros e

factores que podem determinar alterações na mobilidade da pessoa idosa, assim

temos:

I. A função motora

A independência e autonomia de cada pessoa está estreitamente relacionada

com a função motora, como já antes referimos. Na avaliação a enfermeira

especialista de reabilitação, baseia-se na massa muscular respectivamente no tonús

muscular; nas amplitudes articulares e modo como funcionam as articulações; na

postura na marcha (alinhamento corporal e equilíbrio), assim como na coordenação

neuromuscular; a mobilidade na cama e durante os auto-cuidados como erguer-se,

sentar-se, rodar. Para avaliar esta função utilizo no meu projecto a folha de avaliação

de enfermagem elaborada pelos enfermeiros especialistas de reabilitação da RAM,

utilizei ainda a escala de equilíbrio funcional de Berg, onde registo os dados colhidos

inicialmente e as reavaliações seguintes, de modo a monitorizar os ganhos em saúde e

poder actuar em consonância com os mesmos.

II. Qualidade e tipo de actividade física

A enfermeira especialista de reabilitação avalia a capacidade de desempenho

das actividades de vida diária (AVDs) e actividades instrumentais da vida diária

(AIVDs), para isso utiliza escalas para poder avaliar estes itens de modo objectivo,

determinando com exactidão onde deverá incidir os seus cuidados. No projecto que

estou a desenvolver utilizei três instrumentos de colheita de dados nesta área. A nível

dos cuidados prestados no domicílio optei por aplicar a escala de actividades

instrumentais de Lawton, que me permite fazer uma apreciação e monitorização

precisa da autonomia da pessoa idosa; já que, por exemplo ao conseguir sair de casa

sozinha, cozinhar ou gerir o seu dinheiro a pessoa idosa, tem poder de decisão pela

sua vida ou seja conforme o nível de dependência que tiver nas actividades

instrumentais de vida diária a pessoa faz o que quer, quando quer e isso é importante

para a sua auto-estima e para a sua qualidade de vida.

Ainda, para avaliação da capacidade funcional das pessoas idosas no

domicílio, optei por utilizar a escala de medida funcional (MIF), porque permite-me ter

uma noção detalhada da dependência a nível de auto-cuidados e monitorizar com

maior precisão os ganhos em saúde. Por outro lado permite-me a avaliação das

capacidades cognitivas, de memória e de interacção social tão importantes e

relevantes para o sucesso do processo de reabilitação.

Utilizo também o easycare, um instrumento de colheita de dados sobre a

qualidade de vida e bem-estar da pessoa idosa. Optei por este instrumento para

aplicar ao grupo de 6 idosos que estou a implementar um programa de actividade

física no Lar Jardim do Sol, porque estes são independentes ou apresentam um nível

de dependência ligeira, pelo que interessava-me somente saber que incapacidades

possuíam e que ideia tinham da sua saúde e qualidade de vida. O easycare, além de

estar direccionado exclusivamente para a pessoa idosa, é um formulário que nos

permite obter não a nossa percepção mas sim a da pessoa idosa, que nem sempre

coincide com a nossa.

Page 37: Imobilidade - Enf

- 36 -

III. Avaliação das componentes para um programa de actividade física

Se o objectivo da nossa intervenção for implementar um programa de

actividade física então temos de avaliar componentes importantes, para

conseguirmos implementar exercícios adequados á pessoa ou grupo de pessoas

idosas. Como atrás já foi referido temos de avaliar componentes da aptidão física,

cardio-respiratória e de composição corporal. Os parâmetros a avaliar dependem

também dos objectivos da actividade física como já foi referido.

IV. As patologias

As patologias que a pessoa idosa possuí, relata Poirier-Mailloux, (1994), são muitas

vezes responsáveis por alterações da mobilidade. Doenças como as de ordem neuro-

muscular, provocam alterações directas na capacidade para andar, enquanto

doenças respiratórias, ou cardiovasculares ou outras influenciam com os seus sintomas

ou medidas terapêuticas a motricidade, tais como dispneia ou restrições ao exercício

físico para minimizar ou esforço cardíaco. A enfermeira especialista de reabilitação faz

por isso uma monitorização avaliar a situação e estar atenta aos riscos das

complicações da imobilidade versus a conformidade com o tratamento prescrito.

V. Os medicamentos

Tal como em qualquer processo de reabilitação, quando objectivo é a

promoção da mobilidade da pessoa idosa, a enfermeira especialista de reabilitação

deverá estabelecer uma lista da medicação ou prescrições caseiras utilizadas pela

pessoa. Concretamente numa pessoa com desequilíbrio ou coordenação, esta

avaliação assume especial importância, pois pode determinar o plano de cuidados e

a retirada ou não dessa medicação.

VI. A atitude psicológica

Sabemos, por experiência profissional e pessoal que o estado psicológico de

uma pessoa determina todo o seu desempenho e motivação para a mobilidade

correndo-se o risco até da pessoa entrar em depressão e acabar por morrer se não

houver intervenção atempada. Nos idosos esta situação é frequente. Assim, mais uma

vez a enfermeira de reabilitação como promotora da mobilidade, assume um papel

importante e, como nos refere Poirier-Mailloux (1994), deve estar atenta a sinais tais

como: falta de estímulo; dificuldade em lidar com problemas; ausência de rede de

suporte; sobrecarga sensorial; isolamento e privação sensorial.

VII. O ambiente

Avaliar os factores ambientais que influenciam a mobilidade é outro aspecto a

não descurar. Esses factores são o ambiente, arrumação, higiene, o espaço disponível;

a ajuda necessária para o desempenho das actividades e a disponibilidade de

recursos.

VIII. A idade

Tratando-se da mobilidade na pessoa idosa é evidente que a enfermeira de

reabilitação deverá ter conhecimentos das alterações fisiológicas que ocorrem nesta

fase da vida, em todos os sistemas corporais mas especialmente nos que interferem

com maior significado nesta actividade de vida, nomeadamente o sistema músculo-

esquelético, nervoso, cardiovascular e respiratório

IX. Os hábitos

Os hábitos anteriores de actividade física, bem como o desejo para participar

actualmente em actividades físicas, devem ser explorado. Pois tal como nos diz

Page 38: Imobilidade - Enf

- 37 -

Poirier-Mailloux (1994), quem nunca participou em actividades físicas poderá não estar

interessado em fazê-lo neste momento, sobretudo se esse exercício físico for difícil.

X. A necessidade de ajudas técnicas ou cuidador

A pessoa idosa tem muitas vezes necessidade de ajudas técnicas para poder

deslocar-se daí que a enfermeira especialista de reabilitação, com os seus

conhecimentos sobre auxiliares de marcha, é um profissional indicado para ajudar a

seleccionar a ajuda apropriada, bem como para fazer a instrução e treino da

marcha com auxiliares, tais como a cadeira de rodas, bengala, etc. A enfermeira

especialista de reabilitação também é solicitada para instruir e treinar o cuidador

para ajuda na mobilidade da pessoa idosa. Outras vezes é a própria enfermeira que

sugere a necessidade da ajuda de um cuidador para que a pessoa idosa tem a

mobilidade adequada, quer no caso de pessoas muito dependentes ou com

dependência ligeira.

XI. A dor

Um sintoma que a enfermeira deverá estar atenta e que pode condicionar de

forma negativa a mobilidade da pessoa idosa, fazendo muitas vezes com que a

pessoa não queira mexer-se. A intervenção da enfermeira especialista de

reabilitação passa, não só pela identificação das características da dor utilizando as

escalas existentes para o efeito, seleccionando a mais indicada para cada pessoa,

mas também pela identificação

XII. A astenia

Durante as sessões de promoção da mobilidade a pessoa idosa poderá referir

fadiga, ou mesmo quando fica longos períodos na cama ou se recusa a andar. A

enfermeira especialista de reabilitação deve pedir à pessoa que descreva o seu

estado de fadiga ou falta de energia afim de poder detectar alterações como

dispneia, problemas neuromusclares, vertigens, intoxicações medicamentosas, etc.

Estes dados permitem revelar situações graves a que a enfermeira deverá identificar

e actuar ou encaminhar para os profissionais adequados.

1.4.5.2 Formulação de diagnósticos de Enfermagem de Reabilitação

relativamente à mobilidade da pessoa idosa

Após a análise dos dados recolhidos a enfermeira especialista de reabilitação

obtém evidências do pólo independência-dependência da pessoa idosa e também

problemas potenciais da mesma. Descobre também os factores que estão na origem

desses problemas e as interacções da necessidade de mobilidade com outras.

Poderá acontecer alterações da mobilidade associada a alterações dos

membros superiores ou inferiores, levando à evidência de limitações dos movimentos

físicos. Poderão acontecer também intolerância à actividade, ou seja, uma

incapacidade fisiológica e psicológica para suportar ou tolerar um aumento de

actividade. De acordo com Poirier-Mailloux (1994), esta intolerância poderá dever-se a

uma oxigenação insuficiente, devido a um decréscimo do débito cardíaco ou

alteração nas trocas gasosas devido à imobilidade prolongada na cama ou ainda, a

alterações a nível da marcha.

Estes dois diagnósticos de enfermagem podem ser consequência da mesma

fonte patológica, como sejam as patologias do sistema musculo-esquelético e nervoso

e ao desuso prolongado.

Deste modo é justo afirmar que uma pessoa que tem problemas de intolerância

à actividade, tem ou poderá vir a ter problemas de alteração da mobilidade e que

uma pessoa que tem problemas de mobilidade tem ou poderá vir a ter um problema

Page 39: Imobilidade - Enf

- 38 -

de intolerância à actividade devido a uma redução da sua força ou da sua

endurance muscular.

1.4.5.3 Planeamento de cuidados de Enfermagem de Reabilitação

relativamente à mobilidade da pessoa idosa

O papel da enfermeira especialista de reabilitação, ao promover a mobilidade,

selecciona intervenções preventivas que têm por objectivo manter o máximo de

independência das pessoas idosas na actividade de vida mover-se. Da mesma forma,

trabalhando na prevenção secundária e terciária, desenvolve intervenções

terapêuticas que visem reduzir os efeitos ou os problemas de dependência da pessoa

idosa.

I. Intervenções Preventivas

Durante as actividades de prevenção na mobilidade da pessoa idosa a

atitude da enfermeira é importante, já que se esta não acreditar no valor dos

exercícios de prevenção não criará nenhum programa de actividades físicas

alegando como nos diz Ebersole (1981), citado por Poirier-Mailloux (1994), que não

dispõem de tempo para o fazer. Também a motivação da pessoa idosa poderá ser

condicionada pela mentalidade de que não necessitam de actividade física

acreditando que esta necessidade diminui com a idade e que já não tem

capacidade para a prática regular de actividade física. Este facto leva a que, muitas

vezes, se limitem a realizar actividades de intensidade ligeira e esporádica.

Assim sendo, a enfermeira especialista em reabilitação que pretende elaborar

um programa de actividades tem de considerar as necessidades da pessoa idosa

explorando os seus hábitos e desenvolvendo actividades compatíveis com o estilo de

vida do grupo de pessoas ou da pessoa que pretende treinar. Do mesmo, a

enfermeira deverá considerar as capacidades da pessoa idosa. A capacidade

aprendizagem da pessoa, e o seu interesse face ao programa prescrito é também

importante tendo a enfermeira, de modificar o programa de actividades se assim

justificar de forma a responder às necessidades de uma pessoa analfabeta.

A enfermeira especialista de reabilitação como já antes havia referido, tem um

papel determinante também nas seguintes actividades:

Avaliação da capacidade cardio-respiratória e da aptidão física da pessoa

idosa antes de iniciar qualquer programa de actividade física;

Encaminhar para a consulta médica para um check up;

Avaliar as alterações fisiológicas do sistema musculo-esquelético e os

benefícios da actividade física a nível desse sistema e dos sistemas cardiovascular e

respiratório;

Rever os princípios de alinhamento corporal, equilíbrio, amplitude das

articulações, tonús muscular;

Planear o programa de actividades com a pessoa idosa ou grupo de

pessoas idosas.

Qualquer programa que tenha como objectivo manter a força e a endurance

muscular deve compreender duas vertentes: a estimulação do anabolismo das

proteínas através da conservação da energia que se consegue pela diminuição dos

agentes de stress como a ansiedade ou pelo aumento da temperatura corporal. A

conservação das reservas de energia exige um aporte adequado de proteínas e

calorias. O peso constitui por isso um indicador primário na validação do aporte

alimentar da pessoa.

A segunda vertente compreende exercícios isotónicos e isométricos de reforço

muscular. Os exercícios isotónicos devem respeitar certos princípios: mobilizar uma

articulação de cada vez; praticar os exercícios diariamente, de preferência três vezes

Page 40: Imobilidade - Enf

- 39 -

por dia. Exemplos desses exercícios são os que trabalham os músculos anteriores da

articulação do joelho, tais como:

Sentar-se sobre uma cadeira direita com os pés assentes no chão, elevar

lentamente a perna assegurando-se de que a articulação do joelho é a única que

mexe, permanecer durante alguns segundos, relaxar baixando a perna lentamente.

Repetir o exercício três a cinco vezes, fazendo o mesmo com a outra perna, ( Fig 3 )

Estes exercícios deverão ser realizados lentamente intensificando-se o esforço

colocando um peso de 500g a nível do tornozelo ou dorso do pé, (fig. 5). A eficácia do

exercício comprova-se palpando a coxa com o indicador e o polegar cerca 5 a 6 cm

da rótula. Verificar-se-á um aumento gradual do volume do quadricípede, duas a três

semanas após exercícios frequentes.

Um exemplo de exercício isométrico que a enfermeira especialista em

reabilitação poderá treinar a pessoa idosa a realizar, é o dos glúteos: em decúbito

dorsal, a pessoa coloca os joelhos flectidos e unidos, contrai os músculos das nádegas

durante 5-6 segundos e relaxa de seguida. A pessoa poderá repetir o exercício

quantas vezes quiser ao longo do dia desde que tolere. Outro exemplo é o que vemos

na figura 4, em a pessoa na posição de sentado contrai os músculos posterior das

pernas contra o banquinho, onde as apoioa e mantém por 5-6 segundos relaxando de

seguida.

Fig 3 Ex. de Exercício isotónico Fig.4 Ex. de Exercício isométrico

Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305

Fig 5 Ex. de Exercício resistido

Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305

As amplitudes articuladas poderão ser alteradas por problemas musculo-

esqueléticos e neurológicos secundários ao envelhecimento, daí resultando a rigidez

articular. Assim se explica a importância dos exercícios de flexibilidade. No início de

cada programa de exercícios estes deverão ser realizados com a ajuda da enfermeira

Page 41: Imobilidade - Enf

- 40 -

especialista em reabilitação, sendo que após a pessoa ser instruída e treinada poderá

realizar o exercício poderá sem ajuda.

São exemplos de exercícios de flexibilidade articulada os exercícios de flexão,

extensão, de adução, abdução, etc. No entanto, é importante ter em conta que se

estes forem realizados de modo exagerado poderão produzir mais prejuízos do que

benefícios. Por exemplo os exercícios de extensão demasiado vigorosos e os exercícios

para as dorsalgias estão muitas vezes contra indicados.

Os exercícios de flexibilidade poderão ser realizados todos os dias, por períodos

da manhã, tarde e noite. A pessoa deverá escolher o momento que se sentir melhor,

por exemplo após o banho. Os exercícios em posição de sentada podem ser

realizados enquanto vê televisão. Os exercícios poderão ser repetidos de duas a dez

vezes sendo a enfermeira a fixar o número de repetições personalizando o programa

para cada pessoa. Se a pessoa sentir mal-estar ou e este persistir durante meia hora a

uma hora os exercícios foram excessivos.

Fig. 6 - Exemplos de exercícios de flexibilidade

Estender os braços e as pernas e Colocar os braços ao longo do

respirar profundamente corpo, fechar os punhos, em seguida flectir os antebraços como que para

salientar os músculos dos braços.

Bater as palmas, acima da cabeça Abrir os braços à altura dos ombros

e descrever pequenos círculos,

primeiro num sentido e depois

noutro.

Com os punhos fechados e

antebraços flectidos, juntar os

cotovelos. Elevar os ombros e rodar, primeiro

para a frente e em seguida para trás, um

ombro de cada vez.

Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305

Page 42: Imobilidade - Enf

- 41 -

Fig. 6 - Exemplos de exercícios de flexibilidade (continuação)

Segurando o espaldar de uma Segurar a perna flectida com as duas

cadeira ou o bordo da cama, dobrar mãos, puxando-a suavemente para o

ligeiramente os joelhos e fazer flexões tórax

A marcha é o exercício por excelência para as pessoas idosas que pretendem

manter a flexibilidade articular, já esta permite melhorar o tonús muscular e é ideal

para o coração e o sistema circulatório.

A marcha deverá ser de 20 minutos por dia, três vezes por semana. No entanto a

enfermeira especialista de reabilitação deverá aconselhar a pessoa idosa consoante

as suas capacidades. Para sabermos se a rápida é demasiado rápida a enfermeira

poderá experimentar manter uma conversa durante a mesma. Se a conversa não for

possível então é necessário ir mais devagar. Do mesmo modo para as pessoas idosas

que não conseguem manter o ritmo durante muito tempo a enfermeira recomendará

que andem até sentir fadiga muscular.

Fig. 7 - Marcha

Adaptado de Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.310

Se acontecer sintomas tais como cansaço excessivo, dor no peito, dores intensas

nas articulações, vertigens, sensação de perda de consciência e/ou palpitações o

exercício deverá ser imediatamente interrompido e a enfermeira especialista em

reabilitação deverá avaliar a situação, provavelmente o organismo ultrapassou os seus

limites.

Refere Poirier-Mailloux (1994), que a enfermeira poderá indicar outros exercícios

para ajudar a manter a mobilidade das articulações da pessoa idosa, tais como a

bicicleta, a ginástica e a jardinagem. A mesma autora descreve alguns conselhos que

a enfermeira deverá indicar ao idoso para a prática de exercício tais como:

Page 43: Imobilidade - Enf

- 42 -

Utilizar o mínimo de roupa possível, especialmente se tiver calor sendo que

estas devem ser amplas e ligeiras para permitir o ar circular. As roupas devem

ser de algodão e preferencialmente brancas pois impede a penetração do

calor. O chapéu é um acessório importante nos dias de calor, bem como

escolher locais com sombra para a prática dos exercícios; Beber entre 200 a 250ml de água de quinze em quinze minutos, para

reposição dos líquidos eliminados. Não utilizar a sede como indicador, isto é,

não aguardar a sede para beber;

Molhar a cabeça, braços e pernas pois permite a evaporação do calor;

Evitar beber álcool. O álcool impede a transpiração;

Evitar ingerir proteínas em excesso Comer frutos e legumes frescos para

contribuir para o equilíbrio electrolítico;

Detectar sintomas de insolação: vertigens, astenia, desorientação, náuseas e

cefaleias. Na presença destes sintomas retirar-se e procurar um lugar fresco e

molhar-se para ajudar a baixar a temperatura do corpo e/ou beber um

pouco de água.

II. Intervenções Terapêuticas

Os cuidados terapêuticos ou de prevenção secundária e terciária no que diz

respeito à pessoa idosa com alterações da mobilidade compreendem a exclusão dos

efeitos adversos da imobilidade, potenciando ao máximo a mobilidade de acordo

com os limites de cada pessoa idosa. Estas intervenções estipulam os mesmos pontos

que as intervenções preventivas.

Os motivos alegados pelos enfermeiros para a não realização dos exercícios

prescritos nos planos de cuidados são geralmente os mesmos. Nomeadamente a falta

de tempo ou que a pessoa idosa merece que os deixem tranquilos, ou ainda que a

mobilização da pessoa idosa é da competência dos fisioterapeutas. Assim sendo a

enfermeira especialista em reabilitação deverá ter como primeiras intervenções: rever

o seu próprio papel e situar-se dentro dos objectivos estabelecidos pelos diversos

profissionais que constituem a equipa multidisciplinar; rever a gestão do seu tempo, e

da pessoa a quem irá prestar cuidados. Nem sempre é necessário elaborar um

programa muito estruturado, como nos diz Poirier-Mailloux (1994) durante o momento

do banho ou enquanto se vestem podem as pessoas executar exercícios activos ou

passivos que muitas vezes são suficientes para dar resultados importantes; debater a

sua visão sobre o processo de envelhecimento, os seus sentimentos face à pessoa

idosa e os cuidados de que estes necessitam.

As pessoas idosas por seu lado são grandemente influenciáveis pela sua

percepção do papel de ―doentes‖, muitas vezes quando a enfermeira quer que a

pessoa realize determinados exercícios terapêuticos esta justifica que deve repousar

para recuperar forças e para se curar.

Cabe à enfermeira especialista em reabilitação conhecer a percepção da

pessoa e da sua família quanto ao papel do idoso no processo de actividade física;

explicar à pessoa e à família/cuidador o que espera dela; de seguida deverá tal

como na intervenção preventiva deverá estabelecer um plano de cuidados

adequado às capacidades da pessoa, envolvendo-o e instruindo sobre os exercícios

propostos, de forma a motivá-lo e prevenindo assim problemas de dependência da

enfermeira e/ou o não cumprimento do programa de exercícios.

A enfermeira especialista em reabilitação recorre a exercícios de força e de

resistência muscular na pessoa idosa sempre que deseja aumentar a força e prevenir

a atrofia muscular.

Os exercícios isométricos dos quadricípedes, dos abdominais e glúteos são

essenciais para a mobilidade vertical, no entanto antes de iniciar a execução destes

exercícios a enfermeira deverá algumas precauções: pedir à pessoa idosa para

realizar os exercícios ao mesmo tempo que expulsa o ar dos pulmões para assim não

correrem o risco de aumentar a pressão intra-torácica e consequentemente provocar

a manobra de valsava, que pode levar à paragem cardíaca na pessoa idosa com

predisposição.

Page 44: Imobilidade - Enf

- 43 -

No caso das pessoas que repousam na cama pode a enfermeira instruir a

execução de exercícios isotónicos simples como empurrar trave de suporte com os

pés; elevar-se utilizando o trapézio ou realizar o exercício da ponte durante os

cuidados.

As pessoas idosas com mobilidade limitada resultante de afecções articulares,

devem ser recomendados pela enfermeira a realizar exercícios de amplitude para

prevenção deformações dolorosas. Esta prescrição da enfermeira especialista em

reabilitação deverá ser efectuada após a selecção personalizada prévia dos

exercícios mais adequados. A Enfermeira deve também explicar a importância da

execução dos referidos exercícios para a manutenção da flexibilidade das

articulações e prevenção de contracturas.

Os exercícios deverão ser realizados pelo menos uma vez por dia, de preferência

à hora do banho pela manhã repetindo-se o mesmo pelo menos três vezes. A

frequência dos exercícios no entanto deverá ser fixada de acordo com o estado de

saúde da pessoa idosa e das suas capacidades.

Se a capacidade cognitiva da pessoa permitir poder-se-á ensinar a

continuidade dos exercícios, o mesmo acontece se existir um cuidador com

capacidades para continuar a realizar os exercícios.

Novamente se evidencia a marcha como um meio de excelência para mobilizar

as articulações, aumentando assim a participação da pessoa idosa nas actividades

de vida diária e nas actividades instrumentais da vida diária.

A enfermeira especialista de reabilitação dá ênfase sempre que possível à

marcha no seu programa de actividades, a fim de manter e melhorar a resistência e

as actividades físicas, tendo sempre em mente o envolvimento da pessoa e o

estabelecimento de objectivos realistas.

A enfermeira especialista de reabilitação poderá, muitas vezes, contribuir para a

prevenção de deformações ou complicações através do posicionamento adequado,

nas pessoas com a mobilidade reduzida, cumprindo quatro princípios básicos: um bom

alinhamento corporal; o alinhamento das regiões e segmentos sustentados por

aparelhos deverá ser adequado; dever-se-á evitar a flexão prolongada dos

segmentos alterando a posição da pessoa a cada duas horas; reduzir a pressão em

toda ou parte do corpo mediante a mudança de posição ou utilização de suportes

suplementares como a utilização de colchão de pressão alterna.

A imobilidade da pessoa idosa é particularmente perigosa pois aumenta o risco

de pneumonia, úlceras de pressão, incontinência, problemas cognitivos, depressão,

osteoporose.

1.4.5.4 Avaliação de cuidados de Enfermagem de Reabilitação

relativamente à mobilidade da pessoa idosa

A avaliação dos cuidados que visam a promoção da mobilidade da pessoa

idosa poderá ser realizada através da reavaliação da função motora, ou seja, de

componentes como o tonús muscular, força e dimensão dos músculos, resistência a

amplitude articular.

O tonús muscular de uma pessoa deve ser avaliado com esta em relaxamento

muscular. Esta reavaliação deverá ser feita pela mesma enfermeira que fez a

avaliação inicial pois assim a avaliação é mais objectiva e mais fiável.

A força muscular deverá ser avaliada através das escalas existentes para tal e

subjectivamente do grau de resistência oferecida pelos diferentes grupos musculares

ou através do aperto de mão.

A autonomia observada durante o desempenho das actividades da vida diária

fornece por seu lado importantes evidências acerca da resistência muscular. Os sinais

de cansaço e lentidão após a realização dos auto-cuidados poderão ser uma

evidência de falta de resistência. Da mesma forma o tempo gasto no desempenho

das tarefas poderá ser outra evidência a considerar, o mesmo acontecendo com a

frequência cardíaca e respiratória. A observação é também importante durante as

AVD, pois permite avaliar a mobilidade das articulações envolvidas.

Page 45: Imobilidade - Enf

- 44 -

A inexistência de úlceras de pressão, contracturas, anquiloses ou outras

complicações são indicadores positivos da promoção da mobilidade adequada.

São múltiplas as causas e factores que podem impedir a mobilidade na pessoa

idosa, esses factores podem ser, como refere Poirier-Mailloux (1994), de origem

biofisiológica, psicológica, sociológica, cultural e/ou espiritual.

A pessoa idosa é frequentemente alvo de alterações dos sistemas musculo-

esquelético e nervoso associadas ao envelhecimento, que lhes posiciona como uma

população de alto risco para os problemas relacionados com a mobilidade, a

enfermeira especialista em reabilitação é pelos seus conhecimentos científicos e

específicos nesta área, uma profissional cujo os cuidados são essenciais na promoção

da mobilidade na pessoa idosa, o mesmo é dizer no envelhecimento funcional.

1.5 Selecção e organização de meios e estratégias

A escolha das actividades a desenvolver através da metodologia de projecto,

dependem da consecução dos objectivos, porque pretende-se com as actividades

atingir os objectivos delineados.

No âmbito deste projecto tive como estratégias:

Pesquisar, reflectir e seleccionar documentação sobre o envelhecimento e

sobre a mobilidade no idoso bem como sobre o papel do enfermeiro de

reabilitação na promoção de boas práticas de actividade física e de

mobilidade do idoso.

Entrevista com Enfermeira coordenadora, Otília Freitas, para discussão do

tema do projecto e viabilidade do mesmo

Fazer diagnóstico da situação da população idosa do caniço e seu grau de

dependência e actividade física

Contactar enfermeira especialista de reabilitação da área, para saber

disponibilidade para orientação do projecto e a sua opinião sobre a

pertinência do mesmo para a população em questão e para a

actuação do enfermeiro especialista em reabilitação

Realizar o ensino clínico III entre 25 de Fevereiro e 14 de Março

Planear idosos a cuidar e aplicar o processo de enfermagem, discutindo o

plano de cuidados com a Enfermeira de referência Mireya Fernandes,

(Especialista de Enfermagem Reabilitação do Centro de Saúde do

Caniço), tendo em atenção:

Avaliação de capacidades (auto-cuidados, capacidade funcional,

cognitiva, psicológica, e de aprendizagem)

Avaliação da mobilidade da pessoa idosa a cuidar

Acessibilidades da pessoa idosa aos recursos da comunidade

Avaliação do edifício residencial

Processo familiar e rede de apoio á pessoa idosa

Diagnóstico de problemas da pessoa idosa relevantes para a prática de

Enfermagem de Reabilitação

Intervenção e resolução de problemas diagnosticados

Elaborar programa de promoção do exercício físico a um grupo de 6 idosos

Page 46: Imobilidade - Enf

- 45 -

do Lar da Santa Casa da Misericórdia, (Lar Jardim do Sol) integrado no

Centro de Saúdo Caniço com um nível de independência moderada a

ligeira, de acordo com escala de MIF

Elaborar ficha individual para cada pessoa idosa a participar nas sessões de

exercício do programa de actividade física para a pessoa idosa

Seleccionar, reunir e apresentar programa às 6 pessoas idosas seleccionados

Proceder à avaliação inicial das pessoas idosas seleccionados para o

programa.

Da avaliação consta de um questionário, o qual é constituído por duas partes:

A primeira parte inclui a identificação da pessoa a avaliar; 4 questões sobre os

antecedentes e motivação para a prática da actividade física e os antecedentes de

saúde. Numa segunda parte é usada a escala EASY CARE para avaliar de forma

precisa a capacidade funcional e bem-estar social e cognitivo do idoso. Esta fase de

avaliação compreende cerca de 45 minutos de intervenção junto do idoso, estando

este tempo condicionado pela compreensão e colaboração da pessoa idosa a

avaliar.

Numa segunda fase, procede-se á avaliação prática pela aplicação de uma

bateria de testes, da postura, do risco de queda e do tipo de marcha da pessoa

idosa, (através da escala de equilíbrio de Berg) assim como da avaliação

cardiovascular, através da monitorização da:

Frequência de repouso; máxima e de treino

Pressão arterial

Consumo Máximo de 02

Resistência cardiovascular;

A avaliação da composição corporal, através da monitorização:

Peso

Estatura

Massa gorda

Medidas antropométricas, (Perímetro pélvico, braquial e do

quadrícipede);

Avaliação da aptidão física funcional

Força muscular dos membros superiores e inferiores

Resistência dos membros superiores e inferiores

Flexibilidade dos membros superiores e inferiores

Velocidade

Agilidade

Equilíbrio

Todos estes componentes de avaliação constam do INSTRUMENTO DE

AVALIAÇÃO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA DA PESSOA IDOSA e na FICHA DE

AVALIAÇÃO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA DA PESSOA IDOSA por mim

elaborado, e que se encontra em anexo.

Leccionar aulas de instrução e treino de exercícios adequados às pessoas

idosas envolvidas no programa

Executar avaliação final das pessoas idosas envolvidas no programa de

exercício físico

Planear e executar sessões de educação para a saúde para as pessoas

idosas seleccionados, sobre as seguintes temáticas:

Page 47: Imobilidade - Enf

- 46 -

Importância da actividade física no idoso e factores de risco

modificáveis

Prevenção de quedas, (dependente do risco de queda avaliado)

Elaborar panfletos de apoio às sessões realizadas

1.6 Descrição da execução das actividades

As actividades realizadas no âmbito do presente projecto estão expressas no

cronograma e programa de actividades no lar de idosos, que se segue.

Page 48: Imobilidade - Enf

- 47 -

1.8 Implementação do projecto e resultados obtidos

A avaliação do projecto pretende a eficácia e das actividades desenvolvidas,

analisar e discutir os resultados obtidos, os obstáculos e justificativas das actividades

realizadas e não realizadas, e apurar se o objectivo delineado foi atingido. Esta é

realizada ao longo de todo o projecto com reformulação de estratégias se assim for

necessário.

Tendo em conta o objectivo principal delineado para o desenvolvimento deste

projecto: Aprofundar competências teóricas e teórica-práticas sobre a promoção da

mobilidade na pessoa idosa implementei actividades junto da pessoa idosa com duas

vertentes de acordo com o nível de dependência das mesmas, e tendo como

finalidade intervir na mobilidade da pessoa idosa aos três níveis de prevenção.

Assim desenvolvi entre 25 de Fevereiro e 14 de Março de 2008, no Ensino Clínico

III – Enfermagem de Reabilitação Opcional, nos cuidados primários, prestei cuidados

de enfermagem de reabilitação na área de promoção da mobilidade a cinco

pessoas idosas no domicílio e simultaneamente implementei um programa de

actividade física para seis pessoas idosas do Lar ―Jardim do Sol‖, na freguesia do

Caniço. No portfólio apresento fotografias que documentam as diferentes actividades

do projecto.

Relativamente à intervenção junto das pessoas idosas no domicílio, actuei junto

de pessoas idosas no sentido de melhorar a sua qualidade de vida e através da

melhoria da sua capacidade funcional. No que concerne à avaliação esta constou

da avaliação da função motora, da capacidade funcional para o desempenho das

actividades de vida diária e actividades instrumentais da vida diária. Realizei também

avaliação do risco de quedas através da escala de equilíbrio funcional de Berg, onde

pude detectar os factores de risco para quedas da pessoa a ser avaliada e a

avaliação do risco de úlcera de pressão através da escala de Braden.

A avaliação da função motora foi feita tendo em conta os componentes de

força, amplitudes articulares e tonús muscular. Cujos dados encontram-se na folha de

avaliação de reabilitação, foram também avaliados outros parâmetros tais como os

sinais vitais, a sensibilidade e a marcha de modo a conseguir uma avaliação mais

completa e uma intervenção mais eficaz.

Para avaliação da capacidade funcional da pessoa idosa no domicílio foi

utilizada a MIF – Medida de Independência Funcional, foi também utilizada a escala

de Lawton para avaliação da capacidade de desempenho das actividades

instrumentais, pelas razões já documentadas no subcapítulo 1.4.5.1.

Da aplicação da escala de Berg e da minha observação pessoal resultou que

as pessoas idosas no domicílio têm na sua maioria o equilíbrio comprometido e

portanto alto risco de cair.

Da aplicação das escalas de capacidade funcional advém que a autonomia

da pessoa idosa está muito limitada senão inexistente e a capacidade de

desempenho das actividades de vida diária é fraco, ou seja, estas pessoas tinham um

nível de dependência moderada. Outro dos problemas que detectei é que a pessoa

idosa frequentemente passa o dia sozinha embora tenha companhia durante a noite.

Este facto influencia não só a ajuda que estas pessoas necessitam mas também a

educação e treino que poderíamos investir no cuidador assegurando assim uma

melhor continuidade de cuidados.

As condições do domicílio mais frequentemente os acessos externos dificultam

na maioria dos casos a promoção da mobilidade. Outros factores que acontecem

frequentemente são a motivação diminuída para a prática da mobilidade, bem

como sintomas como a dor e a dispneia que dificultam também a participação da

pessoa idosa nas actividades propostas.

Perante os problemas detectados e os diagnósticos de enfermagem de

reabilitação formulados foram implementadas intervenções tais como:

Ensino sobre a importância da mobilidade da pessoa idosa;

Instrução e treino de exercícios isotónicos a todos os segmentos articulares dos

membros superiores e inferiores personalizados;

Ensino sobre medidas de protecção de queda relativamente ao ambiente,

vestuário, realização de actividades de mobilidade, medicação e realização de auto-

cuidados;

Page 49: Imobilidade - Enf

- 48 -

Massagem para diminuição de contracturas e edema dos membros inferiores;

Instrução e treino de marcha com e sem auxiliares;

Instrução e treino de exercícios de equilíbrio estático e dinâmico de pé;

Instrução e treino do auto-cuidado erguer-se;

Ensino da importância de participação em tarefas domésticas leves tais como:

dobrar roupa, descascar verdura, fazer a cama, etc.

Considero que foi de extrema importância a intervenção no domicílio pela

necessidade que tive de me documentar e adaptar às situações em que tive de

intervir fomentando assim a qualidade da minha aprendizagem.

No que se refere à implementação do programa de actividade física a seis

idosos do Lar ―Jardim do Sol‖, as actividades desenvolvidas foram para mim

inovadoras e gratificantes já que apliquei conhecimentos teóricos pela primeira vez

aprendendo muito com as diferentes fases do programa.

Deste programa, (para Caspersen et al, 1985 citado por Benedetti,1999,

programa de exercícios físicos é toda a actividade física planeada estruturada e

repetitiva que tem por objectivo a melhoria e a manutenção de um ou mais

componentes da aptidão física), constou uma entrevista individual inicial a cada

participante para apresentação do mesmo e para adquirir dados sobre os

antecedentes clínicos e antecedentes de prática de exercício, bem como para

abordar a desejo ou não da participação na actividade física. Foi ainda aplicado o

easycare de modo a constatar a opinião da pessoa idosa relativamente ao seu bem-

estar de saúde e qualidade de vida. Escolhi este formulário pelas razões já enunciadas

no subcapítulo 1.4.5.1. O easycare e a entrevista, fizeram parte do instrumento de

colheita de dados que criei e que se encontra em anexo.

Criei também uma ficha da pessoa idosa praticante de actividade física para

aplicação pela enfermeira especialista em reabilitação, onde se encontra resumidos

os dados recolhidos sobre: a identificação; os antecedentes de saúde e os resultados

da avaliação cardiorespiratória; da avaliação do equilíbrio; da avaliação da aptidão

física; da avaliação da composição corporal e ainda onde se destacam os problemas

detectados na avaliação do bem-estar e qualidade de vida e por fim os diagnósticos

de enfermagem de reabilitação formulados.

A avaliação cardiorespiratória foi feita através de parâmetros como a F.C.de

repouso, treino e máxima a T.A. (no intuito de detectar alterações significativas e

impeditivas da realização da actividade física); o VO2 máximo e a % de VO2 ; a

resistência cardiovascular, não se observando alterações significativas entre a

avaliação inicial e a reavaliação no final do programa de actividade física.

Da aplicação do easycare e das questões abertas do instrumento de colheita

de dados, saliento a vontade que todos participantes demonstram para a realização

de actividade física e o medo de ficar dependente e sem autonomia para decidir a

sua vida, referido directa ou indirectamente pela maior dos intervenientes.

Saliento também capacidade cognitiva e a qualidade de vida como

principais itens afectados, daqueles de entre os que constam o easycare.

As pessoas incluídas no projecto possuem idades compreendidas entre os 59 e

os 92 anos de idade. Possuem um grau de instrução baixo, o que também afecta a

elaboração e assimilação dos exercícios propostos.

Da avaliação inicial é também detectável que as pessoas idosas possuem

diferentes patologias: 1 oligofrénico; com problemas de mobilidade cervical e lombar

devido a acidentes; problemas visuais e auditivos também estavam presentes entre

outros.

Os diagnósticos mais encontrados tal como nos idosos do domicílio foram o

equilíbrio estático e dinâmico de pé. Assim como o risco de cair, o conhecimento

diminuído sobre a importância da mobilidade e dos exercícios a realizar nesse sentido,

bem como o risco de complicações do desuso.

As seis pessoas idosas participantes no referido programa (2 masculino; 4

feminino), possuem um nível de dependência ligeira ou são independentes.

A segunda fase do programa constou da avaliação da aptidão física, através

da bateria de testes desenvolvida no âmbito do LifeSpan Project – a Phyfical

Assessment Study Benefiting Older Adults Fullerton Funcional Fitness Test concebida por

Page 50: Imobilidade - Enf

- 49 -

Rikli, E. E. Jones, C (1999), adaptada e validada para a população Portuguesa por

Sardinha, L. (1999).

Esta bateria é composta por seis testes e um sétimo alternativo, que estão

relacionados com os componentes de aptidão física.

De seguida descrevo, citando Ilano et al, os testes que constam da bateria

utilizada, pela ordem que deverão ser executados.

Levantar e sentar na cadeira

Objectivo: Avaliar a força e resistência dos membros inferiores.

Material: Cronómetro; Cadeira com encosto e sem braços, com altura do

assento de aproximadamente 43cm.

Desenvolvimento: O teste inicia-se com a pessoa sentada no meio da cadeira,

com as costas direitas e os pés afastados à largura dos ombros e totalmente apoiados

no solo. Um dos pés deve estar ligeiramente avançado em relação ao outro para

ajudar a manter o equilíbrio.

Os braços estão cruzados ao nível dos pulsos e contra o peito. Ao sinal de

―partida‖ a pessoa idosa eleva-se até à extensão máxima (posição vertical) e regressa

à posição inicial sentado. O participante é encorajado a completar o máximo de

repetições num intervalo de tempo de trinta segundos.

A pessoa idosa deve sentar-se completamente entre cada elevação.

Enquanto controla o desempenho da pessoa idosa para assegurar o maior rigor, o

avaliador conta as avaliações correctas. Chamadas de atenção verbais (ou gestuais)

podem ser realizadas para corrigir um desempenho deficiente.

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Flexão do antebraço

Objectivo: Avaliar a força e resistência dos membros superiores.

Material: Cronómetro; cadeira com encosto e sem braços; halteres de mão

(2,27kg para as mulheres e 3,63kg para os homens).

Page 51: Imobilidade - Enf

- 50 -

Desenvolvimento: A pessoa idosa está sentada numa cadeira, com as costas

direitas, com os pés totalmente assentes no solo e com o tronco alinhado. O haltere

deverá estar seguro na mão dominante.

O teste começa com o antebraço em posição inferior, ao lado da cadeira,

perpendicular ao solo. Ao sinal de ―iniciar‖ o participante roda gradualmente a palma

da mão para cima, enquanto a flexão do antebraço no sentido completo do

movimento; depois regressa à posição inicial de extensão do antebraço. Especial

atenção deverá ser dada ao controle da fase final da extensão do antebraço.

O avaliador (enfermeiro especialista de reabilitação) ajoelha-se (ou senta-se

na cadeira) junto da pessoa idosa no lado do braço dominante, colocando os seus

dedos no bicípite do executante, de modo a estabilizar a parte superior do braço, e

assegurar que seja realizada uma flexão completa (o antebraço da pessoa idosa

deve apertar os dedos do avaliador). É importante que a parte superior do braço

permaneça estática durante o teste. O avaliador pode precisar de colocar a sua

outra mão atrás do cotovelo de maneira a que o executante saiba quando atingiu a

extensão total, evitando movimentos de balanço do antebraço.

O participante é encorajado a realizar um maior número possível de flexões no

tempo limite de 30 segundos. Cada flexão correcta é contabilizada com chamadas

de atenção verbais sempre que se verifica um desempenho incorrecto.

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Estatura e Peso

Objectivo: Avaliar o índice de massa corporal (Kg/m2).

Material: Balança; Medidor de estatura;

Desenvolvimento: Para medir a estatura, solicita-se à pessoa idosa que se coloque no

medidor de estatura, de pé com as costas, os calcâneos encostados à parede

olhando para a frente e com correcto alinhamento corporal. A pessoa idosa deverá

participar no teste descalça ou então deverá retirar-se de 1,3 a 2,5 cm do total da

estatura usando o critério mais rigoroso possível.

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- 51 -

Para avaliação do peso a pessoa deverá despir todas as peças do vestuário

pesado, tais como casacos, etc. O peso é medido e registado com aproximação às

100g e ajustamentos relativo ao peso do calçado. Em geral deve ser subtraído 450g

para as mulheres e 910g para os homens.

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Sentado e Alcançar

Objectivo: Avaliar a flexibilidade dos membros inferiores

Material: Cadeira com encosto e altura do assento aproximadamente de

43cm; Régua de 45cm.

Desenvolvimento: Começando numa posição de sentada a pessoa idosa

avança o seu corpo para a frente se encontrar sentado na extremidade do assento

da cadeira. A sobra entre o topo da perna e as nádegas deve estar ao nível da

extremidade do assento. Com uma perna flectida e o pé totalmente assente no solo,

a outra perna (a perna de preferência) estendida na direcção da coxa, com o

calcanhar no chão e o pé flectido (aproximadamente 90º). A pessoa idosa deve ser

encorajada expirar à medida que flecte para a frente, evitando movimentos bruscos e

rápidos e nunca atingindo o limite da dor.

Com a perna estendida (mas não em hiper-extensão), a pessoa idosa flecte

lentamente para a frente ate à articulação com coxo-femural (a coluna deve manter-

se o mais direita possível), deslizando as mãos (uma sobre a outra, com a ponta dos

dedos sobrepostas) ao longo da perna estendida, tentando tocar os dedos dos pés.

Deve tocar nos dedos dos pés durante alguns segundos. Se o joelho da perna

estendida começar a flectir, solicitar à pessoa idosa que se sente lentamente até que

o joelho fique em extensão antes de iniciar a medição.

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- 52 -

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Sentado, caminhar 2,44m e voltar a sentar

Objectivo: Avaliar a velocidade, agilidade e equilíbrio.

Material: Cronómetro; Fita métrica; Cone (ou outro marcador); Cadeira de

encosto com aproximadamente com 43cm de altura.

Desenvolvimento: O teste é iniciado com a pessoa idosa totalmente sentada

na cadeira (postura erecta), mãos nas coxas e pés totalmente assentes no solo (um pé

ligeiramente avançado em relação ao outro). Ao sinal de ―partida‖ a pessoa idosa

eleva-se da cadeira (pode empurrar as coxas ou a cadeira), caminha o mais rápido

possível dando a volta ao cone (por qualquer um dos lados) e regressa a cadeira.

A pessoa idosa deve ser informada de que se trata de um teste cronometrado,

sendo o objectivo caminhar o mais rápido possível (sem correr). O avaliador deve

funcionar como assistente, mantendo-se a meia distância entre a cadeira e o cone,

de maneira a poder dar assistência em caso de desequilíbrio. O avaliador deve iniciar

o cronómetro ao sinal de ―partida‖ quer a pessoa tenha ou não iniciado o movimento,

e Pará-lo no momento exacto em que a pessoa se senta.

Page 54: Imobilidade - Enf

- 53 -

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Dois minutos de step no próprio lugar

Objectivo: Avaliar a resistência aeróbia (teste alternativo ao de andar 6 min).

Material: Cronómetro; Fita métrica (com pelo menos 75cm); Memómetro (se

possível) para assegurar a contagem exacta do número de steps.

Desenvolvimento: Ao sinal de ―partida‖ o participante inicia o step no mesmo

lugar, realizando o maior número possível de steps no período de tempo estipulado (2

minutos) no próprio local. O avaliador conta o número de steps efectuados servindo-se

de apoio em caso de desequilíbrio da corda da fita métrica com 75cm de modo a

assegurar que o participante mantenha a altura adequada. Logo que altura

adequada do joelho não possa ser mantida, o participante é informado para parar ou

apenas descansar até recuperar. O teste poderá ser efectuado com uma mão do

participante sobre a mesa ou na parede para ajudar a manter o equilíbrio. Este teste

de avaliação de cardio-respiratória deverá efectuar-se fora da sequência dos

anteriores.

Page 55: Imobilidade - Enf

- 54 -

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Andar seis minutos (este teste não foi incluído no projecto, tendo-

se optado pelo step de dois minutos).

Objectivo: Avaliar a resistência aeróbia. Distância percorrida durante 6 minutos.

Material: Cronómetro; Fita métrica; Cones; Paus; Giz; Marcadores; Cadeiras

(por razões de segurança devem ser colocadas ao longo do percurso na parte de

fora do circuito).

Desenvolvimento: Para facilitar o processo de contagem das voltas do

percurso, pode ser dado à pessoa idosa um pau ou objecto similar no final de cada

volta, ou então um colega pode marcar numa ficha de registo sempre que uma volta

é terminada. Dois ou mais idosos devem ser avaliados em simultâneo, com tempos de

partida diferentes, dez segundos de diferença, de maneira a que os idosos não

andem em grupos. Quando avaliadas várias pessoas ao mesmo tempo os

participantes devem ter números segundo a ordem de partida e paragem. Ao sinal de

―partida‖ os idosos são instruídos para caminharem o mais rápido possível (sem correr)

na distância marcada à volta dos cones. Se necessário os participantes podem parar

ou descansar, sentando-se em cadeiras ao dispor, e retomando depois o percurso.

O avaliador deve colocar-se dentro da área marcada, após todos os idosos

terem iniciado o teste. No sentido de uma assistência periódica os tempos intermédios

devem ser anunciados a meio do percurso quando faltarem dois minutos e quando

faltar um minuto. No final dos seis minutos, os participantes (em cada dez segundos)

são instruídos para pararem (quando o avaliador olhar para eles e disser ―parar‖),

deslocando-se para a direita, onde um assistente registará a distância percorrida.

Page 56: Imobilidade - Enf

- 55 -

Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer

Estes testes foram seleccionados para fazer parte desta bateria porque referem

os atributos fisiológicos importantes para a consecução de tarefas domésticas,

cuidados de higiene, transporte de compras e outras actividades. Outros aspectos

foram também considerados como critérios de escolha dos mesmos nomeadamente

a facilidade de execução, a aceitabilidade social, a segurança de execução e a

sensibilidade para detectar alterações induzidas pelo exercício ou declínio funcional

associado ao envelhecimento.

Abaixo apresento um quadro com as médias dos diferentes testes segundo o

nível de actividade física, proposto pelos investigadores independentes Miotto,

Chodzko-Zajko, Reich & Supler (1999), citado por Sardinha e Martins (2006):

TESTES NÍVEL DE ACTIVIDADE

Activos (média) Sedentários (média)

Levantar e sentar – nº execuções 17,07 13,35

Flexão do antebraço – nº flexões 22,95 19,22

Sentado e alcançar - cm 16,60 15,31

Sentado, caminhar, 2,44m e voltar a sentar - seg. 4,96 5,71

Alcançar atrás das costas - cm -2,04 -2,77

Andar 6 min – m 1030,6 931,05

2 min de step no próprio lugar – nº de steps 121,38 98,46

A composição corporal foi outro dos componentes avaliado antes da execução

da actividade física. Com a medição do peso e da estatura é calculado o índice de

massa corporal, cuja interpretação deve efectuar-se, como nos alerta Sardinha e

Martins (2006), de uma forma conservadora, já que se constitui na pessoa idosa, como

um indicador impreciso do contributo relativo da massa gorda e da massa magra na

composição corporal. Sabendo isto optei também por avaliar a massa gorda e os

perímetros pélvico, do quadrícipede e braquial.

Page 57: Imobilidade - Enf

- 56 -

A massa gorda, ou seja, o excesso de gordura e o excesso de peso são

conceitos diferentes daí a importância da análise da composição corporal efectuada

neste projecto. A massa gorda segundo Horta (1997) aumenta com a idade. No sexo

feminino torna-se maior após a puberdade. Existem várias tabelas de valores de massa

gorda considerados como máximos aceitáveis ara os vários grupos etários de cada

sexo. O mesmo autor apresenta no livro Actividade física e medicina moderna o

quadro de valores de massa gorda de acordo com a idade que apresento de

seguida:

Idade Homens

Mínimo Médio Máximo

Mulheres

Mínimo Médio Máximo <21 9% 13% 17% 16% 20% 24%

21-30 10% 14% 18% 18% 22% 26%

31-40 11% 15% 19% 19% 23% 27%

41-50 12% 16% 20% 20% 24% 28%

51-60 14% 17% 20% 21% 25% 30%

>60 16% 19% 21% 22% 26% 31%

Com o envelhecimento homens e mulheres tendem a perder massa muscular

magra o que leva ao aumento percentual da massa gorda. Este aumento ainda se

torna mais marcado se a ingestão calórica não for adaptada à actividade física, o

que infelizmente constitui uma regra. Também se acredita que com a idade há uma

progressiva dificuldade de mobilizar a gordura de reserva. Relacionando a perda da

massa magra com a diminuição da absorção de oxigénio pelos músculos, e que a

perda de massa magra está provavelmente mais relacionada com a diminuição dos

actos físicos facilmente se depreende da importância da prática regular de exercício

ao longo dos anos e da importância da avaliação da massa gorda.

De seguida apresento os resultados do índice de massa corporal e de

percentagem de massa gorda onde se pode observar um aumento significativo

relativamente aos valores apresentados na bibliografia.

Índice de massa corporal

Sexo 1ª Avaliação 2ª Avaliação

Fem. 28,2 28,2

Fem. 21 21

Masc. 25,8 25,8

Masc. 20 20

Fem. 28,5 28,5

Fem. 29,9 29,9

% Massa gorda

Sexo 1ª Avaliação 2ª Avaliação

Fem. 37,1 37,1

Fem. 30 30

Masc. 32,5 32,5

Masc. 37,4 37,4

Fem. 31 31

Fem. 41,4 41,4

Outra das componentes avaliadas foi o equilíbrio, através da escala de equilíbrio

funcional de Berg, ao mesmo tempo que avaliávamos os factores de risco para as

quedas na pessoa idosa.

O objectivo de avaliar o equilíbrio é também posteriormente realizar exercícios

que ajudem a prevenir as quedas na população idosa, é interessante disponibilizar

exercícios que contribuam para tal de maneira prática, e de fácil entendimento de

Page 58: Imobilidade - Enf

- 57 -

todos. Foi também, meu objectivo educar o grupo de pessoas idosas para a as

medidas de protecção contra as quedas, realizando para tal uma sessão de

educação sobre este tema e elaborando um panfleto também alusivo ao mesmo.

O grupo de idosos envolvido mostrou-se surpreendentemente interessado,

participando activamente da sessão, expondo as suas dúvidas e receios ao longo das

sessões de exercício que foram efectuadas.

A respeito dos exercícios de equilíbrio, Perracini, no seu site sobre quedas, refere

que cada sessão, deve ser executado um exercício para cada grupo muscular

principal, sendo que as sessões devem ocorrer duas vezes por semana. Cada exercício

deve ser executado em séries, sendo que cada série corresponde a um grupo de

repetições desenvolvidas de forma contínua, sem interrupções, e, neste caso em

particular, devem possuir de 8 a 15 repetições. O número de séries pode variar entre

um e três por sessão de treino. É importante haver um descanso entre cada série,

sendo que a literatura relata que esse tempo deve estar entre 1 min e 3 min (é

importante lembrar que esse tempo de descanso corresponde à recuperação do

músculo, ou seja, o tempo que ele leva para estar metabolicamente preparado para

novamente realizar o exercício; assim, quanto maior a intensidade/ repetições

realizadas, maior deverá ser o descanso entre as séries). Cada repetição deve ser feita

em aproximadamente 6 segundos, que correspondem a: 3 segundos para realizar o

movimento e 3 segundos para retornar à posição inicial (lembrando que é mais válido

realizar um exercício lentamente e de maneira correcta que realizá-lo rapidamente, o

que diminui o controle do movimento, podendo assim não estimular os músculos da

maneira adequada para os objectivos do exercício).

O número de repetições que apresenta um ganho interessante na força das

pessoas idosas está entre 8 e 15. Assim, a carga deve ser escolhida de maneira que,

em cada série, o indivíduo consiga realizar de 8 a 15 repetições. Se não for possível

realizar 8 repetições, a carga está muito alta, e deve ser diminuída. Se mais de 15

repetições forem alcançadas, significa que a carga está muito baixa, e deve ser

aumentada. É importante lembrar que esse número não está relacionado ao

momento em que o músculo não mais consegue realizar o movimento, e sim ao

momento em que ocorre um grande desconforto em realizar o movimento (devido ao

cansaço do músculo). À medida que o treino ocorre, a tendência é que cada vez

fique mais fácil de realizar o número de séries e de repetições estipulados inicialmente.

Após a sessão de educação sobre prevenção de quedas, foram introduzidas

nas sessões de actividade física exercícios de actividade física os exercícios ensinados

durante a sessão.

Nomeadamente:

(Adaptado do site Prevenção e manejo de quedas no idoso — Portal Equilíbrio e Quedas -

PEQUI. URL: hppt.pequi.incubadora.fapesp.br/portal/quedas, de Perracini, M.R.)

1-Flexão Plantar

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- 58 -

Este exercício tem por objectivo fortalecer os músculos do tornozelo e da

região posterior da perna. A pessoa idosa deve estar na posição erecta, com os pés

totalmente apoiados no chão, segurando em um apoio para aumentar o equilíbrio

(por exemplo o encosto de uma cadeira, como exemplificado na figura). O

executante deve ficar nas pontas dos pés, o mais alto que puder. Deve levar 3

segundos para subir, permanecer no alto por 1 segundo, e levar mais 3 segundos para

voltar à posição inicial. A carga deste exercício pode ser aumentada colocando

pesos extras nos tornozelos. À medida que a força e o equilíbrio aumentarem

suficientemente, o executante pode passar a realizar este exercício com uma perna

de cada vez (mas é importante o mesmo número de repetições seja realizado para

cada perna), mas é importante lembrar que neste caso o aumento de carga é muito

grande (só deve ser feito quando realmente a carga estiver muito baixa, mesmo com

pesos extras, ao realizar o exercício com as duas pernas simultaneamente).

Resumo:

1. Mantenha o corpo erecto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;

2. Lentamente fique nas pontas dos pés, o mais alto que conseguir (expirando);

3. Mantenha a posição um pouco;

4. Lentamente desça os calcanhares até o chão (inspirando).

2-Flexão de Joelho

Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região posterior da coxa

e da perna. O idoso deve manter-se na postura erecta, segurando em um apoio para

aumentar o equilíbrio. O executante deve levar 3 segundos para flexionar o joelho,

tirando o pé do chão, de maneira que o tornozelo vá o mais alto possível (como

ilustrado na figura). A coxa deve permanecer imóvel durante a execução do

exercício, apenas o joelho deve ser flexionado. A volta à posição inicial também deve

levar 3 segundos, terminando então uma repetição do exercício. A carga pode ser

aumentada colocando pesos extras nos tornozelos.

Resumo:

1. Mantenha o corpo erecto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;

2. Lentamente flexione o joelho até o limite (expirando);

3. Mantenha a posição um pouco;

Page 60: Imobilidade - Enf

- 59 -

4. Lentamente abaixe a perna, voltando à posição inicial (inspirando);

5. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra.

3-Flexão da anca

Este exercício tem como objectivo fortalecer os músculos da coxa e da coxa. A

pessoa idosa deve se posicionar atrás ou ao lado de uma cadeira (ou outro apoio

qualquer). O movimento de levantar a perna deve levar 3 segundos. A posição deve

ser mantida por 1 segundo, e a descida deve levar mais 3 segundos. A maneira de

aumentar a carga do exercício é adicionando pesos extras nos tornozelos.

Resumo:

1. Mantenha o corpo erecto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;

2. Lentamente erga seu joelho na direcção do peito, sem deixar o tronco descer

em direcção à coxa (expirando);

3. Mantenha a posição um pouco;

4. Lentamente abaixe a perna até o chão (inspirando);

5. Ao terminar as séries com uma perna, repita com a outra.

4- Extensão da anca

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- 60 -

Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região posterior da coxa

e da região glútea. O participante deve ficar de 30 a 45 cm afastado de uma cadeira

ou mesa (ou outro apoio para os membros superiores), com os pés ligeiramente

afastados um do outro. O tronco deve estar inclinado a aproximadamente 45º (na

direcção do apoio). A perna deve ser erguida para trás sem flexão de joelhos, e este

movimento deve levar aproximadamente 3 segundos. Durante a subida é importante

não ficar nas pontas dos pés e nem levar o tronco mais à frente. A posição alcançada

deve ser mantida por 1 segundo, e a volta à posição inicial deve levar 3 segundos,

terminando então uma repetição do exercício. A carga pode ser aumentada

colocando pesos extras nos tornozelos.

Resumo:

1. Posicione-se entre 30 e 45 cm afastado de um apoio para os membros

superiores;

2. Incline o corpo à frente e segure no apoio;

3. Lentamente erga a perna (estendida) para trás (expirando);

4. Mantenha a posição um pouco;

5. Lentamente abaixe a perna, voltando à posição inicial (inspirando);

6. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra.

5-Elevação Lateral do Membro Inferior

Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região lateral da coxa e

do quadril. O executante deve manter-se na postura erecta, segurando em um apoio

para aumentar o equilíbrio, com os pés ligeiramente afastados. O executante deve

levar 3 segundos para elevar lateralmente a perna, sendo que o movimento deve ter

um alcance de 15 a 30 cm. O tronco deve permanecer sempre recto, e as duas

pernas estendidas. Os pés devem estar apontando para a frente. A posição

alcançada deve ser mantida por 1 segundo, e a volta à posição inicial deve levar 3

segundos, terminando então uma repetição do exercício. A carga pode ser

aumentada colocando pesos extras nos tornozelos.

Resumo:

1. Mantenha o corpo erecto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;

2. Lentamente eleve uma perna para o lado, de 15 a 30 cm (expirando);

3. Mantenha a posição um pouco;

4. Lentamente volte à posição inicial (inspirando);

5. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra;

6. O tronco e os dois joelhos devem estar estendidos durante toda a execução

do exercício.

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6-Levantar e sentar sem a utilização das mãos

Este exercício tem por objectivo fortalecer os músculos do abdómen, das

costas, do quadril e da coxa. O executante deve sentar-se na metade anterior do

assento da cadeira e reclinar seu corpo até os ombros tocarem o encosto. As costas

devem estar rectas (apesar de o tronco estar reclinado), o que é facilitado colocando

um apoio para a região lombar (como exemplificado na figura por um travesseiro). Os

joelhos devem estar flexionados, e os pés devem estar com toda a planta em

contacto com o chão. Usando minimamente os membros inferiores (ou até mesmo

sem usá-los, se possível), o executante deve trazer o tronco à frente, desencostando

do encosto da cadeira e do apoio lombar. Para trabalhar adequadamente a

musculatura abdominal, o tronco deve ser trazido à frente com as costas rectas (sem

que os ombros se inclinem à frente durante a subida). Partindo então desta posição

sentada, com os pés totalmente apoiados no chão, o executante deve levar 3

segundos para se erguer até a posição erecta (usando minimamente as mãos), e mais

3 segundos para sentar. Durante a subida e a descida do corpo, é importante

também manter as costas rectas. Neste exercício, uma maneira de aumentar a carga

é utilizar cada vez menos as mãos para auxiliar o movimento do corpo. Após estar

sentado, o corpo deve novamente ser reclinado até o encosto da cadeira,

terminando assim uma repetição do exercício.

Resumo:

1. Coloque um travesseiro no encosto de uma cadeira;

2. Sente na metade anterior do assento da cadeira, com os joelhos flexionados e

com os pés totalmente apoiados no chão;

3. Recline sobre o travesseiro, permanecendo com o tronco inclinado e com as

costas rectas;

4. Leve o tronco à frente até ficar sentado com as costas rectas, usando

minimamente as mãos (inspirando);

5. Levante lentamente, usando minimamente as mãos (expirando);

6. Sente lentamente, usando minimamente as mãos (inspirando);

7. Recline novamente o corpo, apoiando as costas no travesseiro, retornando

assim à posição inicial (expirando);

8. Mantenha as costas e os ombros rectos durante toda a execução do exercício.

Adaptação 1 o exercício também pode ser feito sem a fase de trazer o corpo à frente

(correspondendo apenas à segunda e à terceira imagens na figura), mas isso implica

em um menor ganho de força nos músculos abdominais, que são extremamente

importantes para manter um bom equilíbrio.

Adaptação 2: Como nem todos conseguem realizar muitas repetições desse exercício,

pode ser necessário adaptá-lo da seguinte maneira: ao invés de o idoso levantar por

completo, ele deve somente iniciar o movimento de subida, perdendo assim o

contacto com a cadeira. A posição alcançada deve ser mantida por 1 segundo, e

então o idoso retorna à posição sentada (podendo também reclinar se estiver

Page 63: Imobilidade - Enf

- 62 -

utilizando um apoio lombar). Dessa maneira, o desgaste do exercício fica reduzido

(permitindo assim um maior número de repetições), mas os mesmos músculos são

trabalhados. Conforme o idoso ganha força e resistência muscular, essa adaptação

deve ser deixada de lado para que ocorram maiores ganhos.

Incluído dentro do programa de exercícios esteve ainda uma sessão de

educação sobre a importância da mobilidade na pessoa idosa e 5 sessões de

actividade física das quais uma foi realizada ao ar livre. As sessões foram organizadas

no para terem a duração de uma hora de tempo, tendo sido variados os exercícios

executados, (dentro dos que abaixo se descrevem), em cada sessão alternando-os de

modo a não desmotivar os participantes. Também foram usados diferentes materiais,

como garrafas de água, bolas, etc, com o objectivo de a captar o interesse das

pessoas idosas. Foi também introduzida actividades recreativas e de convívio entre as

pessoas, com propósito de ao mesmo tempo que exercitavam o corpo, aliviar

também a mente e promover a socialização. a música foi outro elemento introduzido

de modo a relaxar ou a transmitir ritmo e alegria consoante as actividades que

estavam a ser executadas.

Em todas as sessões devem e foram praticados exercícios dos diferentes

componentes: resistência cardiovascular, força muscular, flexibilidade, velocidade e

equilíbrio. Para além das actividades abaixo enunciadas, foram também introduzidos

os exercícios de equilíbrio, atrás apresentados, seleccionando por sessão alguns

exercícios e alternando-os na sessão seguinte.

PPllaannoo ddaass sseessssõõeess ddee aaccttiivviiddaaddee ffííssiiccaa

AAQQUUEECCIIMMEENNTTOO :: 5 a 10 MINUTOS (1ª MÚSICA DA OPERAÇÃO TRIUNFO)

Andar por todo o local (para percepção espacial), todos se cumprimentam,

abraçam-se.

Falar das articulações e movê-las, fazer com que todos movimentem todas as

articulações existentes.

FASE PRINCIPAL : 30 MINUTOS

RESISTÊNCIA CARDIOVASCULAR (MÚSICA POPULAR PORTUGUESA)

11ºº.. JJOOGGOO DDAASS MMOOLLAASS

Material: Molas

Cada participante tem duas molas

Em círculo ao parar a música, cada um coloca as molas nos outros participantes

Objectivo: Ficar com o menor número de molas possível

22ºº.. VVEEMM DDAANNÇÇAARR

Em círculo, no centro, um par dança á sua maneira, os outros imita ou marcham e

batem palmas

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33ºº.. TTRROOCCAA DDEE BBAALLÕÕEESS

Material: 4 balões rosa, 3 balões azuis, 1 corda azul

Início, ficam de frente uns para os outros, uma fila com balão rosa e outra com balão

azul;

Ao iniciar a música, jogam os balões á vontade, trocam os balões;

Ao parar a música têm de formar as filas iniciais com as cores correctas

FORÇA MUSCULAR

(MÚSICA PEN PIPES I)

11)) MMEEMMBBRROOSS IINNFFEERRIIOORREESS -- QQuuaaddrriiccííppeeddee

Material: 6 Bolas ou balões, cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas;

Colocar a bola entre os pés;

Flexão/ extensão dos joelhos para a frente, subindo e descendo a bola, 10 vezes

22)) MMEEMMBBRROOSS IINNFFEERRIIOORREESS –– BBíícceeppss ffeemmuurraall

Material: 6 Bolas ou balões, cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas;

Colocar a bola entre os pés;

Flexão/ extensão dos joelhos para trás, subindo e descendo a bola, 10 vezes

33)) AABBDDÓÓMMEENN –– AAbbddoommiinnaall ssuuppeerriioorr

Material: 6 balões, cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas; pés apoiados no chão

Colocar o balão entre as mãos em frente ao abdómen e sobre as pernas

Flectir o ronco para a frente, contrair o abdómen (barriga para dentro), tentar

espremer o balão, 10 vezes

44)) AABBDDÓÓMMEENN –– OObbllííqquuooss

Material: 6 balões, cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas; pés apoiados no chão;

Colocar a balão na mão;

Flexão lateral do tronco, tentar tocar com o balão no chão, alternando para um lado

e para outro, 10 vezes

55)) DDOORRSSAALL

Material: Cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas; pés apoiados no chão

Mãos na cintura, tentar tocar com os cotovelos, atrás na cadeira, 10 vezes

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66)) MMEEMMBBRROOSS SSUUPPEERRIIOORREESS –– BBíícceeppss BBrraaqquuiiaall

Material: Cadeiras e garrafas de água de ½ litro

Sentados na cadeira, costas direitas; pés apoiados no chão;

Executar flexões e extensão dos cotovelos, 10 vezes

77)) MMEEMMBBRROOSS SSUUPPEERRIIOORREESS –– ttrríícceeppss

Material: 6 Bolas ou balões, cadeiras

Sentados na cadeira, costas direitas;

Colocar a bola entre as mãos braços em extensão;

Elevar os braços por cima da cabeça e flectir cotovelos, encostar bola á cabeça,

atrás, 10 vezes

VELOCIDADE/EQUILÍBRIO/ ATENÇÃO/ RELAÇÃO/ COMUNICAÇÃO

88)) JJOOGGOO DDAA RREEAACCÇÇÃÃOO CCOOMM BBOOLLAA

Material: Bola

Sentados, ou de pé, em círculo

Quem tem a bola, lança e o outro tem de agarrar a bola, batendo palmas antes.

99)) JJOOGGOO DDAASS QQUUEENNTTEESS

Sentados, aos pares, frente a frente, postura correcta

Colocar as mãos por cima das do companheiro e evitar que o outro toque, ao bater

com as suas próprias mãos nas costas das mãos do companheiro.

1100)) JJOOGGOO DDOO LLEENNÇÇOOLL

Material: Bola e Lençol

Em pé em círculo, colocar bola no meio do lençol, levantar lençol em conjunto não

deixando a bola estar parada, em cima do lençol, levantando o mais alto possível.

FLEXIBILIDADE ((MMÚÚSSIICCAA PPAANN PPIIPPEE))

1111)) JJOOGGOO DDOO FFUUNNDDOO DDOO MMAARR-- MMeemmbbrrooss ssuuppeerriioorreess ee ttrroonnccoo

De pé, em círculo;

Movimentos em onda, braços elevados em extensão, mãos dadas (como se fossem

algas no fundo do mar ao sabor da corrente);

Repete para o outro lado

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1122)) MMEEMMBBRROOSS IINNFFEERRIIOORREESS -- PPaarrttee ppoosstteerriioorr ddaa ccooxxaa ee ttrroonnccoo

Material: cordas azuis, cadeiras

Sentados, em círculo;

Colocam a corda na extremidade do pé, inclinar o tronco para a frente, puxando a

corda e sem dobrar o joelho, aguentar 20 segundos;

Realizar exercício no outro membro inferior;

RELAXAMENTO : 5 a 10 MINUTOS (MÚSICA PAN PIPE II)

11)) JJOOGGOO DDOO RROOLLAAMMEENNTTOO CCOORRPPOORRAALL CCOOMM BBAALLÃÃOO

Material: 6 BALÕES, 6 BOLAS GRANDES

Sentados, postura correcta;

Rolar o balão entre as mãos;

Rolar o balão entre os braços;

Rolar o balão entre o tronco;

Passar o balão atrás de uma perna e depois de outra;

Descalços massajar a planta dos pés com a bola

22)) JJOOGGOO DDOO RREELLAAXXAAMMEENNTTOO CCOORRPPOORRAALL EEMM CCOOLLCCHHÃÃOO

(MÚSICA SONS DA TERRA)

Material: Colchões

Deitadas em decúbito dorsal ou sentados, olhos fechados;

Imaginar que está no campo, (num local que goste)

Espreguiçar-se, sinta o ambiente calmo e saudável;

Concentre-se no som da natureza os pássaros…;

Instruir para realizar 2 respirações profundas;

Sinta o ar saudável da serra entrar pelo seu nariz até os pulmões;

Sinta o sangue a circular por todo o corpo;

Desde os pés, chegando às pernas;

Da ponta dos dedos das mãos até aos braços, peito e cabeça.

Cabeça está leve, relaxada.

Vamos suavemente regressar aqui ao ginásio, abrir os olhos

Sentar-se no chão, lentamente

Levantar-se quando se sentir preparado

Outra actividade realizada foi a apresentação do projecto á equipa de

Enfermagem do Centro de Saúde do Caniço, local onde decorreu o ensino clínico. As

colegas demonstraram interesse e referiram ter sido proveitoso o conhecimento sobre

o papel do Enfermeiro de Reabilitação nesta área.

Ao implementar o programa de actividade física surgirão algumas dificuldades.

Logo de início ao contactar a directora, esta propôs-me executar o programa

com idosos mais dependentes e que estavam no Lar em regime de internamento o

que não era essa a minha proposta inicial. Desde aí tiver de argumentar após uma

Page 67: Imobilidade - Enf

- 66 -

avaliação das pessoas propostas que estas não estavam dentro dos critérios

pretendidos para o programa de actividades que pretendia realizar.

Na fase das entrevistas também surgiram dificuldades, já que as pessoas idosas

aproveitavam o momento que estavam a receber atenção demorada e

personalizada para contar sua história de vida e a razão de estarem no lar.

Estes factos fizeram com que os testes e entrevistas fossem mais demorados no

entanto serviu também para que conquistasse a confiança das pessoas idosas. Tanto

que ao chegar ao lar outras pessoas vinham falar-me para entrar nas actividades,

pelo que eu tinha de explicar a importância de manter um pequeno grupo para

conseguir manter uma aprendizagem a um nível elevado, já que as pessoas idosas

necessitam de mais tempo do que uma pessoa jovem para aprender algo, tendo

muitas vezes de ser corrigido e demonstrado diversas vezes o mesmo exercício ao

longo das sessões de actividade física.

Todos os testes e exercícios foram, no entanto realizados respeitando o ritmo e

capacidades de cada pessoa idosa.

Os resultados da minha avaliação e reavaliação das pessoas para a

actividade física encontram-se descritos na íntegra nas fichas da actividade física e

em folha anexa com tabelas escritas manualmente.

Sabe-se, como nos alerta Benedetti (1999), que o produto de qualquer

procedimento aplicado ao ser humano depende de um conjunto de factores, alguns

mensuráveis e passíveis de serem determinados com maior ou menor confiança, e

outros de difícil avaliação quantitativa, mas que alteram, em maior ou menor grau e

diferentemente de pessoa para pessoa, a resposta obtida ao procedimento

adequado.

Por outro lado a minha experiência nesta área, que era nula tendo só

conhecimentos teóricos, poderá ter condicionado os resultados obtidos e a

interpretação dos mesmos. No entanto neste momento, com ajuda da bibliografia e

das enfermeiras de referência, e orientadoras, sinto que se hoje fizesse o mesmo

projecto com certeza a segurança e a eficácia seriam outras.

Outro factor muito limitativo tanto para a obtenção de resultados do programa

de actividade física como para a minha aprendizagem e descrição de tudo o que foi

feito com rigor é o tempo, esse inimigo que parece nos sufocar por vezes e impedir o

raciocínio assertivo e completo.

É evidente portanto, que qualquer avaliação de um grupo dificilmente será

global e infalível.

Page 68: Imobilidade - Enf

- 67 -

2. CONCLUSÃO

Com este projecto pretendi adquirir e aprofundar competências na área da

mobilidade da pessoa idosa, a qual enquadra-se no conteúdo funcional do

enfermeiro especialista em reabilitação e é cada vez mais pertinente dado o

crescimento (documentado neste projecto), exponencial da população idosa

com idades cada vez mais elevadas.

Como sugestões gostaria de salientar as seguintes:

A continuidade deste projecto tendo em vista a obtenção de resultados mais

significativos no mesmo local de intervenção ou o recomeço do mesmo noutro

local de intervenção.

A implementação de projectos semelhantes, em locais diferentes também

permitiria a comparação dos dados obtidos e a melhoria na execução dos

mesmos.

Outra sugestão que gostaria de referir era a importância da implementação de

programas sobre esta temática noutros lares de idosos, dado que as pessoas

demonstraram muito interesse em participar, além do que esta é uma forma

da Enfermeira especialista de reabilitação evidenciar a sua intervenção nesta

área, melhorando os seus conhecimentos

A implementação de projectos na área da mobilidade da pessoa idosa por

parte dos Enfermeiros especialistas de reabilitação, para pessoas com um grau

de dependência elevado, de modo a promover esta actividade de vida e a

socialização daqueles que vivem com maior desuso e isolamento. Mais uma

vez também melhorando e dando visibilidade ao papel dos Enfermeiros

especialistas de reabilitação

Promoção por parte dos Enfermeiros especialistas de reabilitação, de debates

e sessões de educação com enfermeiros, outros profissionais de nós

dependentes, pessoas idosas, cuidadores informais e população em geral,

sobre a importância da mobilidade da pessoa idosa e do papel dos

Enfermeiros especialistas de reabilitação, nesta área de intervenção.

Embora haja limitações por tempo ou por não se considerar o conjunto total de

factores que influem em determinada resposta, ainda é bastante preferível fazer uma

avaliação do que não fazê-la. Isto porque, mesmo que limitada, contribuirá para a

melhoria do conhecimento do comportamento humano, no sentido mais amplo da

palavra.

Com esta visão, acredito que este projecto apresenta limitações, mas que não

seja na descrição de toda a pesquisa bibliográfica realizada e da descrição em

portfolio minuciosa de toda a interpretação dos resultados obtidos, dos cuidados

prestados e sentimentos experimentados. Por tudo isto fica um sentimento de

frustação, apesar disso fica também a certeza de que, pelos que os conhecimentos

teóricos, os conhecimentos teório-práticos adquiridos e a oportunidade de conviver

com as pessoas idosas, (da qual resultam sempre em experiências gratificantes), foi

positiva a implementação deste projecto, quer a nível pessoal como a nível

profissional. Consegui assim alcançar os objectivos pretendidos, pelo enriquecimento

que fica sobre o papel da enfermeira especialista de reabilitação na promoção da

mobilidade da pessoa idosa. Porém fica também a sensação que muito ainda tenho

de aprender e experienciar nesta área, bem como a vontade de que tal aconteça,

no meu futuro profissional.

Page 69: Imobilidade - Enf

- 68 -

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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