a psicologia das crenças paranormais

Upload: virgilio-baltasar

Post on 02-Mar-2016

45 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94622764010

    Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina, el Caribe, Espaa y PortugalSistema de Informacin Cientfica

    Everton de Oliveira Maraldi, Wellington Zangari, Ftima Regina MachadoA Psicologia das crenas paranormais. Uma reviso crtica

    Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. 31, nm. 81, julio-diciembre, 2011, pp. 394-421,Academia Paulista de Psicologia

    Brasil

    Como citar este artigo Fascculo completo Mais informaes do artigo Site da revista

    Boletim Academia Paulista de Psicologia,ISSN (Verso impressa): [email protected] Paulista de PsicologiaBrasil

    www.redalyc.orgProjeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

  • 394

    A Psicologia das crenas paranormais. Uma reviso crticaThe Psychology of paranormal beliefs. A critical review

    Everton de Oliveira Maraldi1Instituto de Psicologia Universidade de So Paulo- USP

    Wellington Zangari2Instituto de Psicologia Universidade de So Paulo- USP

    Ftima Regina Machado3Instituto de Psicologia Universidade de So Paulo- USP

    Resumo: O artigo apresenta uma reviso crtica do estudo psicolgico das crenasparanormais. O conceito de crena paranormal implica assumir que algo que se cr sejainexplicvel em termos da cincia atual; ou que tal explicao seja possvel somente comamplas revises dos limites bsicos dos princpios da cincia; e/ou (c) seja incompatvelcom o quadro de referncia perceptivo e expectativas sobre a realidade. A Psicologiatem se devotado a compreender as crenas paranormais e os pesquisadores tm lanadomo de hipteses na tentativa de compreende-las psicologicamente. As principais hiptesesso a da marginalidade social; da viso de mundo; do dficit cognitivo e das funespsicodinmicas. As principais pesquisas que oferecem base a tais hipteses soapresentadas e seus resultados discutidos no sentido de se avaliar a existncia ou no debase emprica para a aceitao ou rejeio daquelas hipteses.Palavras-chave: crenas paranormais; Psicologia Anomalstica; atribuio de causalidade.

    Abstract: This article presents a critical review of a psychological study on paranormalbeliefs. The concept of a paranormal belief implies assuming that something you believeis unexplainable in terms of the present science; or that the explanation is only possiblewith extense reviews of the basic limits of science principles; and/or (c) is incompatiblewith the frame of perceptual reference and expectations about reality. Psychology hasbeen devoted to comprehend paranormal beliefs and the researchers have resorted tohypotheses trying to understand them psychologically. The main hypotheses are thesocial marginality; the world view; the cognitive deficit and the psychodynamic functions.The main studies that provide a basis for such hypotheses are presented, and theirresults discussed in order to evaluate the existence or absence of an empirical basis forthe acceptance or rejection of those hypotheses.Keywords: Paranormal beliefs; Anomalistic Psychology; attribution of causality.

    1 Psiclogo, Programa de Psicologia Social do IP-USP (FAPESP, agradecimentos) e Pesquisador

    do Inter Psi Laboratrio de Psicologia Anomalstica e Processos Psicossociais do Instituto dePsicologia da USP Contato: Rua Jos de Alcntara Machado Filho, 30, Jardim Guapira, SoPaulo, SP. CEP 02316-220 - Brasil. Tel.: (11) 2242-2417. E-mail: [email protected] Laureado pela Academia Paulista de Psicologia Gesto 2010-2012. Depto. Psicologia Social

    e do Trabalho do IP-USP, Pesquisador do Inter Psi Laboratrio de Psicologia Anomalstica eProcessos Psicossociais e do Laboratrio de Psicologia Social da Religio, ambos do Institutode Psicologia da USP. Contato: Av. Prof. Mello Moraes, 1721, Bloco A, Sala 111 CidadeUniversitria So Paulo, SP CEP 05508-900. Tel.: (11) 9892-9944. E-mail: [email protected] Laureada pela Academia Paulista de Psicologia Gesto 2010-2012. Doutora em Psicologia

    pelo IP-USP e Pesquisadora do Inter Psi Laboratrio de Psicologia Anomalstica e ProcessosPsicossociais e do Laboratrio de Psicologia Social da Religio, ambos do Instituto de Psicologiada USP. Contato: Rua Vicente Jos de Almeida, 228 CEP: 04652-244 So Paulo, SP Brasil.Tel.: (11) 2367-4844. E-mail: [email protected]

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 395

    1. IntroduoAo longo da histria, todas as principais tradies culturais do mundo tm

    relatado experincias envolvendo algum tipo de fenmeno considerado paranormal,como telepatia, clarividncia, premonio ou mediunidade. A autenticidade desseseventos, contudo, permanece ainda um assunto bastante controverso nos meioscientficos e acadmicos. Independentemente do andamento dessas discussese da prpria investigao ontolgica relativa s origens ou ao objeto de taisalegaes (Zangari, 2003), o estudo das funes psicolgicas e sociais das crenase experincias relacionadas a fenmenos supostamente paranormais representa,em si mesmo, um esforo legtimo por parte de qualquer estudioso da Psicologiaou das demais cincias sociais.

    Como diria Tobacyk (1995), o estudo psicolgico dessas crenas eexperincias

    no uma rea incidental, pseudocientfica e superficial da investigaocientfica. As crenas sobre o paranormal constituem a essncia dosgrandes sistemas de crena que dirigem atividades humanas individuaise coletivas frequentemente atravs das geraes [...] A questo maisimportante concernente ao estudo das crenas e experincias paranormaisno deveria ser [exclusivamente] estas crenas e experincias refletemprocessos verdicos?, mas sim o que as crenas e experinciasparanormais revelam sobre a condio humana? (p44).

    Reportem-se ou no a uma possvel realidade supranormal ou metafsica,as vivncias paranormais constituem manifestaes psicolgicas, individuais ecoletivas que, no decorrer dos sculos, tornaram-se centrais, em muitos aspectos, cultura e sociedade. Tais crenas no so resultado, portanto, de meraspreferncias ou valores abstratos; elas tendem a constituir prticas especficaslargamente adotadas pela populao, como a astrologia, as curas espirituais e acomunicao com os mortos, e parecem influenciar de modo significativo a vidadas pessoas, sua identidade e seu comportamento, sobretudo, aquelas quevivenciam experincias nomeadas como paranormais ou adotam alguma prticadessa natureza.

    2. O Conceito de ParanormalComo nos lembra Goode (2000) e Northcote (2007) os proponentes de

    crenas paranormais geralmente no gostam de enxergar suas idias comocrenas, mas como representaes ou descries verbais / conceituais defenmenos autnticos. Esses indivduos afirmam realmente vivenciar uma realidadeparanormal, o que implica uma correspondncia praticamente exata entre aquiloque pensam e sentem sobre o fenmeno e o fenmeno em si. Cientificamente,

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 396

    contudo, e fazendo uso da abstrao, podemo-nos questionar se tais fenmenosso de ordem paranormal ou outra. Conquanto esta no seja nossa preocupaocentral neste trabalho, acabamos por retornar assim ao complexo problema inicialde definir quais tipos de fenmenos poderiam ser classificados como paranormais quer existam ou no.

    Segundo Tobacyk (1995), o fenmeno paranormal definido comumentede acordo com trs critrios:

    [...] (a) inexplicvel em termos da cincia atual; (b) a explicao possvel somente com amplas revises dos limites bsicos dos princpiosda cincia; e / ou (c) incompatvel com o quadro de referncia perceptivo,crenas e expectativas sobre a realidade. (p.28)

    Para os fins deste trabalho, adotamos a definio de Tobacyk (1995) acimaexplicitada, ao menos como definio funcional, sendo uma das mais utilizadasem outros estudos. Contudo, gostaramos de enfatizar nossa prpria perspectivaa respeito da definio adotada, aproximando-a de uma postura mais afeita daPsicologia Social, por entendermos que, ao contrariarem o quadro de refernciaperceptivo, tais crenas, experincias e, talvez, fenmenos opem-se, naverdade, viso de mundo vigente em nossa sociedade ocidental contempornea,no se devendo entender com a citao acima, portanto, que tenha sido ou queseja assim em todos os lugares e todas as pocas. O conceito de normal, emltima instncia, refere-se ao que convencionado desse modo por uma dadasociedade em um dado momento histrico. O conceito de paranormal no podeser entendido como se possusse qualidades intrnsecas e substantivasindependentemente de sua histria e do contexto scio-cultural em que as idiasao seu respeito se desenvolveram. A prpria fluidez e impreciso com que otermo muitas vezes utilizado, seja na linguagem corrente ou em contextosacadmicos, denunciam j seu carter arbitrrio e socialmente formatado, o que,sem dvida, torna ainda mais importante sua discusso num trabalho de naturezapsicossocial.

    Deve-se observar que, mesmo considerando a existncia de elementostrans-culturais e individuais, subjacentes aos relatos de experincias anmalas, osquais permitiriam e subsidiariam a emergncia de certas formas de crenaparanormal (Locke & Kelly, 1985; McClenon, 2000; Laubach, 2004), ou as pesquisasmais recentes no campo da psicologia cognitiva da religio, que defendem a teseda naturalidade (Naturalness) das crenas religiosas (Boyer, 1994), e propemestud-las como resultantes, em parte, de processos cognitivos bsicos(Pyysiinen, 2003), o contedo particular dessas crenas, sua posterior utilizao,institucionalizao e o modo como repercutem, psquica e socialmente, parecem

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 397

    determinados, em ltima instncia, pela cultura (Hughes, 1991; Goode, 2000; Tart,2000; Markovsky & Thye, 2001; Bourguignon, 2004; Northcote, 2007).

    Em determinados pases, a categoria paranormal tende a se restringir aformas especficas de crena ou fenmenos supostamente inexplicveis, enquantoem outras localidades geralmente indistinguvel de crenas msticas, religiosasou folclricas, observando-se, assim, forte sincretismo em sua composio.

    3. Incidncia e ContextoConquanto tais crenas e experincias tenham sido desde sempre relatadas,

    as pesquisas de opinio pblica revelam um aumento cada vez maior na incidnciade alegaes envolvendo fenmenos paranormais. Estima-se, com base empesquisas de opinio pblica, que mais de 70% da populao estadunidenseadota algum tipo de crena paranormal (Moore, 2007). A situao norte-americana,contudo, no difere substancialmente da Gr-bretanha que j conta com cerca de60 % da populao acolhendo diversas crenas paranormais. Algo parecido sepode dizer de crenas especficas como a crena na mediunidade. Segundo umapesquisa de opinio norte-americana, mais de 30% da populao afirmou acreditarna existncia de habilidades medinicas genunas Newport & Strausberg(2001).Lewgoy (2008) tambm aponta, nesse sentido, a grande expanso recente doEspiritismo kardecista em territrio estadunidense.

    Tanto a psicologia quanto a sociologia das crenas paranormais sopraticamente desconhecidas no meio cientfico e acadmico brasileiro, sendoescassa a bibliografia geral acerca do tema (Carvalho, 1994; Zangari & Machado,1996; Vasconcellos & Trcoli, 2004; Machado, 2009). Numa das poucas pesquisassobre crena paranormal com estudantes universitrios brasileiros, Zangari eMachado (1996) informaram que 89,5% dos respondentes haviam relatado terpassado por algum tipo de experincia parapsicolgica. Numa ampliao posteriordessa pesquisa, em estudo de Machado (2009) com populao de 306respondentes entre 18 a 66 anos provenientes dos mais variados contextos,constatou-se que 82,7% dos participantes alegaram ter vivenciado pelo menosuma experincia paranormal de tipo extra-sensrio-motora. Noutra pesquisa, ligadas crenas religiosas e realizada entre 2004 e 2005 pelo IBGE, verificou-se queum tero da populao brasileira acredita que Deus criou o mundo na sua formaatual. Para 89% dos entrevistados, o criacionismo deve ser ensinado nas escolas,e para 75%, o criacionismo deve inclusive substituir a teoria da evoluo nocurrculo escolar (IBGE, 2005). Considerando-se a pouca informao cientficadisponvel no Brasil sobre o atual estado de aceitao das crenas e experinciasparanormais, os resultados advindos das pesquisas de opinio pblica englobandoaspectos da religiosidade so as nicas fontes restantes sobre essas crenas,alm de poucos estudos especficos.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 398

    4. O Estudo Psicolgico das Crenas ParanormaisCrenas tais como a existncia de vida extraterrestre, premonies, limpeza

    de aura etc. bem como as experincias peculiares que quase sempre asacompanham - experincias fora-do-corpo, regresso a vidas passadas e abduopor aliengenas, para citar apenas alguns exemplos tm sido objeto de estudopor parte de diferentes disciplinas como a Psicologia Anomalstica, que a reada psicologia concernente ao estudo e compreenso de experincias e crenasanmalas em termos do conhecimento psicolgico e fisiolgico j estabelecido(Zusne & Jones, 1989; Cardea, Lynn & Krippner, 2000), e que compreende, comoramificao sua, o campo da Psicologia das crenas paranormais, dedicadoespecialmente elucidao das crenas que defendem a existncia do paranormale que subsidiam a ocorrncia de vrias experincias anmalas (Marks, 1988;Irwin, 1993 e 2003).

    4.1. Como Explicar Psicologicamente as Crenas ParanormaisDentre as aproximaes tericas vigentes sobre a crena paranormal,

    classificadas por Irwin (1993, 2003), encontramos: a) a Hiptese de marginalidadesocial; b) a Hiptese da viso de mundo; c) a Hiptese de dficit cognitivo e, d) aHiptese das funes psicodinmicas. Ao abordarmos os aspectos scio-culturaisda crena paranormal, tentaremos abarcar explicaes da primeira e da segundahiptese. No tpico sobre as variveis cognitivas e funes psicodinmicas dessascrenas, abordaremos, respectivamente, a terceira e a quarta hipteses.

    4.1.1 Aspectos scio-culturais da crena paranormalConsiderando-se os resultados advindos das pesquisas de opinio pblica,

    pode parecer contraditrio que a paranormalidade seja admitida por alguns comosocialmente marginalizada. Contudo, essa foi uma das primeiras hipteses scio-culturais sugeridas para explicar o fenmeno das crenas paranormais. Tal hipteseest relacionada, basicamente, idia de que, dentre as pessoas que constituema sociedade, as mais suscetveis a adotarem tais crenas so justamente aquelasque fazem parte de grupos menos favorecidos, quais sejam, o grupo das pessoascom baixo nvel educacional ou scio-econmico, pessoas desempregadas,indivduos que sofrem preconceito racial, idosos, mulheres, enfim, todos aquelesque carregam caractersticas ou papis inferiores em relao aos valores sociaisdominantes (Irwin, 2003, p. 288). As crenas paranormais serviriam ainda paraproduzir, mesmo que ilusoriamente, situaes favorveis e desejadas, aplacandoa ansiedade decorrente de privaes constantes. Assim, algum poderia adotar acrena na vida aps a morte considerando as possveis recompensas que teriaaps sua existncia de sofrimentos, ou quem sabe, recorrer a algum ritual mgicoou procedimento paranormal como recurso para obter aquilo que deseja e que de

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 399

    outro modo no lhe seria possvel (Lewis, 1977; Emmons & Sobal, 1981a, 1981b;Owen, 1989; Stark & Bainbridge, 1996). Os feitios e mandingas to comuns nosritos sincrticos afro-brasileiros, servem de timo exemplo.

    A hiptese de marginalidade social tem se mostrado insustentvel quandoabordada isoladamente. Em geral, os dados apresentados falham ao tentarestabelecer um padro de correlaes significativo entre os indicadores demarginalidade social e as vrias dimenses da crena paranormal (Irwin, 1993;2003). Conquanto algumas das evidncias obtidas sejam relevantes como a deque o endosso da maioria das crenas paranormais geralmente bem maisacentuado nas mulheres do que nos homens (Tobacyk & Milford, 1983; Blackmore,1994, 1997; Rice, 2003; Kennedy, 2003, 2005) difcil saber at que pontoesses resultados refletem alguma relao efetiva com a hiptese de marginalidadesocial ou se esto ligados a outros fatores psicolgicos e scio-culturais, comocertas diferenas de gnero construdas socialmente, mas no necessariamentealiceradas em indicadores de marginalidade ex: papis masculinos / femininosestereotipados. Machado (2009) sugere a esse respeito, a partir dos dados desua pesquisa, que as mulheres apresentariam uma maior abertura para relatareme compartilharem suas experincias paranormais, ao contrrio dos homens,comumente mais reticentes.

    Talvez uma exceo a essa tendncia geral quanto hiptese demarginalidade seja o estudo de Mears & Ellison (2000) sobre o consumo deprodutos New Age (livros, revistas, vdeos etc.) em uma amostra de texanos, nosEstados Unidos. Encontrou que: a) pessoas desempregadas ou afastadas porinvalidez ou doena, bem como indivduos que no atingiram a universidade,revelaram-se mais propensas a adquirir produtos New Age, assim como aquelascom ideologias mais liberais; b) similarmente, os mais saudveis e bem educadosno se mostraram mais propensos a comprar materiais New Age; c) as mulheres,neste caso, no apresentaram maior predisposio que os homens ao consumodesses produtos; d) pessoas que nunca se casaram, denotaram maior consumo;e) hispnicos e norte-americanos de ascendncia africana, mostraram-se maispropensos compra de materiais New Age, do que brancos e no-hispnicos; f)pessoas na faixa etria dos vinte anos consumiram mais do que os indivduos nafaixa dos 40 aos 50 anos ou mais; g) por fim, os residentes urbanos no semostraram mais predispostos do que residentes rurais ou suburbanos ao consumodesses produtos.

    Malgrado tenha sustentado empiricamente algumas das principais premissasda hiptese de marginalidade, o estudo de Mears & Ellison (2000) contestourelevantemente outras predies, como a de que mulheres deveriam adotar maiornmero de crenas paranormais do que homens, ou de que idosos, por seremparticularmente mais marginalizados do que outras faixas etrias, deveriam entoacreditar mais na paranormalidade.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 400

    Os autores tm defendido que a correlao demogrfica a melhor maneirade se averiguar a hiptese de marginalidade social (Mears & Ellison, 2000; Irwin,2003). Porm, talvez fosse interessante recorrer igualmente a procedimentosqualitativos, que considerassem a realidade social em sua dimenso ideolgica einterpretativa e no somente descritiva (Northcote, 2007). Estudos sensveis aessa abordagem parecem ter lanado luz sobre algumas das funes sociaisdessas crenas (Lewis, 1977; Owen, 1989; Hess, 1990, 1991; Zingrone, 1994;Bourguignon, 2004).

    ocioso dizer que, dentre as vrias pessoas que cotidianamente adotam acrena no paranormal, muitas delas so bem sucedidas em suas vidas e no seencaixam em nenhum dos grupos marginalizados acima descritos. de se notar,alis, o fato de pesquisas terem demonstrado que a adoo de algumas dessascrenas parece estar mais associada a um nvel scio-econmico e scio-educacional elevado (Rice, 2003) como o caso, por exemplo, dos espritasbrasileiros (Moreira-Almeida, 2004). Quais as razes dessas pessoas paraacreditarem no paranormal? Certamente no se trata apenas de justificativa paraa condio de marginalizados. A partir de pesquisas de opinio conduzidas naFrana, Boy & Michelat (1986) e Boy (2002) constataram, por exemplo, que acrena em fenmenos paranormais era encontrada em praticamente todas ascamadas sociais. Ao contrrio do esperado pela hiptese de marginalidade, osjovens adotaram mais crenas paranormais e as classes populares apresentarammais respostas de no-crena.

    possvel que a questo gire em torno no apenas da discriminao socialvivida por determinados grupos, mas dos argumentos empregados pelas pessoasno sentido de justificarem seu preconceito contra grupos sociais menos favorecidos(Dambrun, 2004).

    Alguns autores acreditam tambm que a marginalidade das crenasparanormais no deriva exatamente de sua impopularidade, mas do fato dessascrenas apesar de populares no constiturem um discurso dominante emnossa sociedade, assim como o discurso cientfico e tecnolgico (Kennedy, 2004;Northcote, 2007). Muitas dessas crenas e prticas no foram ainda plenamenteinstitucionalizadas e permanecem no nvel que Berger e Luckmann (2003) definemcomo subuniversos sociais e simblicos, em constante competio com ascosmovises dominantes. Hansen (2001) sugere que as crenas paranormaistendem a ser desacreditadas conforme as sociedades evoluem rumo a uma maiorcomplexidade, racionalidade e hierarquizao burocrtica.

    Em sua perspectiva histrica da paranormalidade, Northcote (2007) vai maislonge ao revelar como determinadas crenas dentre elas, a magia tm sofridoa discriminao de instituies dominantes na sociedade ocidental desde aantiguidade. O autor apresenta a disputa ideolgica em torno da paranormalidadecomo questo de ordem poltica e discursiva, na qual so colocadas em jogo as

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 401

    fronteiras entre o saber legtimo e ilegtimo no seio da sociedade ocidental. Apartir de uma reviso histrica, Northcote acredita que o debate paranormalrepresentaria uma luta entre discursos j estabelecidos e legitimados pelasociedade e vrios outros discursos emergentes, que surgem como resultado deuma decadncia ou crise dos discursos dominantes em preencher asnecessidades culturais vigentes. As idias paranormais insurgiriam, dessa forma,como tentativas de superao do vcuo entre velhos e novos discursos.

    Sob esse aspecto, possvel dizer que a crena paranormal constitui umaviso de mundo especfica, isto , uma tentativa de conferir sentido realidadetanto quanto a cincia, mas partindo de uma perspectiva predominantementemetafsica e espiritual, como j haviam apontado Zusne & Jones (1989). Estahiptese parece mais promissora do que a hiptese inicial sobre marginalidade,na medida em que reconhece a importncia de outros fatores culturais, como asocializao e a formao da identidade. Para Goode (2000), as crenasparanormais esto fundamentadas numa ontologia e epistemologia prprias,fornecedoras de uma srie de elementos prticos e conceituais que permitem aosindivduos explicarem as diferentes situaes da vida traumas, crises, infortniosou vitrias bem como lidar com tais situaes. Assim, a identidade paranormalpode ser concebida, em parte, como um fenmeno psicossocial construdo dentrode um determinado grupo, em oposio a ideologias e valores distintos daquelegrupo (Hess, 1991; Zangari, 2003; Northcote, 2007; Maraldi, 2008).

    Os estudos iniciais sobre a relao entre identidade e crena paranormalbaseavam-se numa concepo tradicional da psicologia do desenvolvimento emque a identidade era vista como aquisio especfica do jovem, elemento o qualse consolida a partir da crise da adolescncia, mantendo-se, assim que alcanado,como relativamente estvel ao longo da vida, em que pesem certas circunstnciasadversas ou desvios de rota na trajetria biogrfica do indivduo (Tobacyk, 1985;Fitzpatrick & Shook, 1994).

    O trabalho de Laubach (2004) constitui aqui um bom exemplo das poucaspesquisas sobre crenas paranormais em que se verifica uma autntica unificao,tanto de hipteses psicodinmicas e psicossociais, quanto de procedimentosqualitativos e quantitativos. O autor sugere que os estudos etnogrficos, centradoscomo esto no grupo e nas interaes indivduo-grupo, tendem a se equivocarquanto ligao causal entre esses variados elementos, imaginando que a origemdas experincias paranormais seria externa e culturalmente mediada, quando naverdade derivaria da emergncia de contedos intrapsquicos que s depoisadquiririam uma particular roupagem doutrinria. Conquanto essa relao de causae efeito, praticamente unidirecional, seja questionvel, ainda assim o estudo deLaubach representa uma importante abordagem psicossocial das crenas eexperincias paranormais que muito pode contribuir para a compreenso dasrelaes indivduo-grupo e de processos de formao identitria.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 402

    4.1.2. Variveis cognitivas e funes psicodinmicas da crena paranormalAlm dos fatores scio-culturais, as crenas paranormais desempenham

    uma srie de funes psicodinmicas. A essas funes, somam-se certas variveiscognitivas, que indicam os estilos de pensamento especficos por trs da assunode muitas das idias paranormais. Boa parte dos investigadores cticos sustentaa idia de que os indivduos que acreditam em eventos paranormais seriam pessoasirracionais, ilgicas e exageradamente crdulas. Segundo tal perspectiva, essaspessoas apresentariam pouca inteligncia e um funcionamento cognitivo abaixoda mdia, estando suscetveis, portanto, a adotar crenas absurdas, contra asquais elas seriam incapazes de argumentar criticamente (Alcock, 1981; Singer &Benassi, 1981; Randi, 1992; Kurtz, 1996). Embora pesquisas tenham demonstradouma relao negativa entre crena no paranormal e medidas de inteligncia, nofoi possvel determinar, em alguns casos, se os resultados obtidos derivavam deuma possvel deficincia cognitiva dos crentes ou de falhas metodolgicas e outrosfatores no considerados nesses estudos (Irwin, 1993, 2003; Roe, 1999; Smith,Foster & Stovin, 1998). Como veremos a seguir, as pesquisas em torno dessahiptese tambm chamada de hiptese de dficit cognitivo sustentam-na apenasparcialmente e apontam em direo a fatores psicolgicos mais amplos, incluindovariadas motivaes psicodinmicas.

    Testes e medidas de intelignciaO meio mais comum de testar a hiptese de dficit cognitivo consistiu em

    se avaliar a inteligncia dos que acreditam em eventos paranormais, emcomparao com aqueles que no acreditam. Isto se deu, por exemplo, por meiode testes e medidas de Q.I. Curiosamente, poucos estudos foram realizadosnesse sentido e os resultados disponveis so contraditrios. Dentre essaspesquisas, boa parte sugere uma relao negativa entre crena paranormal,inteligncia e raciocnio crtico, oferecendo suporte para a hiptese de dficitcognitivo (Killen, Wildman & Wildman, 1974; Wierzbicki, 1985; Alcock & Otis, 1988;Thalbourne & Nofi, 1997; Roig, Bridges, Renner & Jackson, 1998).

    Contudo, h excees nesse tocante, Jones, Russel e Nickel (1977)evidenciaram uma correlao positiva entre inteligncia e crena paranormal,enquanto McGarry & Newberry (1981) e Rice (2003) encontraram resultados quesugerem a ligao de algumas das crenas paranormais a um nvel de intelignciae educao elevadas. Tam e Shiah (2004) verificaram uma relao negativa entreeducao, habilidades cognitivas e crena paranormal apenas para a categoriade f religiosa, e no para outros domnios da crena paranormal. Similarmente,Kirby (2008) encontrou uma correlao positiva entre baixas demonstraes depensamento crtico e elevados nveis de religiosidade extrnseca. Por seu turno,Irwin (1990), assim como Roe (1999) e Royalty (1995) no encontraram evidncia

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 403

    alguma de relacionamento entre crena / experincia paranormal e inteligncia.Hergovitch e Arendasy (2005) tambm no obtiveram correlao estatstica entrepensamento crtico e crena paranormal, embora indivduos proponentes decrenas religiosas tradicionais e espiritualidade New Age tenham apresentadouma menor habilidade de raciocnio se comparados aos demais integrantes daamostra. Segundo Roe (1999), no parece haver sustentao para o argumentode que a maioria dos crentes inferior em habilidades de raciocnio crtico.

    No que tange relao entre tais crenas e habilidades de raciocnioespecficas, algumas pesquisas tm demonstrado, no entanto, um pior desempenhodos crentes em testes de raciocnio silogstico (French & Wilson, 2007). Aspesquisas mostram que os crentes frequentemente assumem tais silogismos comovlidos (Wierzbicki, 1985; Smith, Foster & Stovin, 1998; Roberts & Seager 1999;Watt & Wiseman 2002). Uma exceo Irwin (1990) que no encontrara correlaoentre crena paranormal e raciocnio silogstico.

    Um dado curioso o de que esses erros geralmente se do com silogismosde contedo paranormal e no com silogismos neutros (Wierzbicki, 1985; Merla-Ramos, 2000), o que nos parece sugerir que, ao invs de necessariamenteapresentarem um dficit generalizado em sua capacidade de raciocnio silogstico,os crentes denotam, quando diante de questes que envolvem suas crenas, umamaior dificuldade em coloc-las de lado para pensar de modo correto erelativamente imparcial. Tomam precipitadamente como certa uma concluso ques vlida caso as condies para tanto tenham sido devidamente estabelecidas.

    Estudos apontam tambm que a adoo das crenas paranormais podeestar associada a uma dificuldade em lidar com conceitos quantitativos e da ordemda probabilidade (French, 1992; Musch & Ehrenberg, 2002; Wiseman & Watt,2006). Thalbourne (2006) observou que algumas pessoas tendem a no considerara ocorrncia de um determinado evento por meio de acaso ou coincidncia,admitindo logo uma explicao paranormal que d conta do mesmo.

    Numa populao de 6238 britnicos, Blackmore (1997) no constatoudiferenas quanto lgica probabilstica entre os que acreditavam no paranormal(59%) e o restante; na verdade, ambos os grupos se saram muito bem. De qualquerforma, alguns autores acreditam que ao invs de negligenciarem a probabilidadepara explicar eventos cotidianos, os crentes no paranormal seriam simplesmentemais aptos a perceberem padres em sequncia ao acaso. Isso explicaria a razodo interesse em horscopos e outras tcnicas de adivinhao Tar, I-Ching etc.(Franz, 1985; Wiseman & Smith, 2002). Na pesquisa de Gianotti, Mohr, Pizzagalli,Lehmann, e Brugger (2001), os autores verificaram que, numa tarefa de associaode palavras, os crentes obtiveram resultados mais originais que os descrentesquando expostos a estmulos no correlacionados semanticamente. Os autoresexplicaram esses resultados em termos de uma possvel criatividade verbal,

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 404

    sugestionabilidade a inferncias infundadas e um critrio mais frouxo de respostapara rudo semntico (caos) por parte dos crentes.

    PsicopatologiaFreud (1927/1978) entendia ainda que as crenas mgicas e religiosas teriam

    se originado da necessidade humana de tornar tolervel seu desamparo edebilidade frente s foras da natureza, tendo sido criadas a partir de lembranasdo desamparo infantil individual e da infncia da raa humana. A associaoestabelecida por Freud entre crena paranormal e psicopatologia controversadiante das pesquisas que revelam uma ligao positiva entre tais crenas,experincias e vrios indicadores de sade mental, desde bem-estar subjetivo aenfrentamento (Moreira-Almeida, 2004) (coping), criatividade e qualidade de vida(Kennedy, Kanthamani & Palmer, 1994; Kennedy & Kanthamani, 1995a e 1995b;Flannely, Koenig, Ellison, Galek, & Krause, 2006; Rogers e outros, 2006; Panzini,2007), ao lado de outros estudos os quais relacionam a crena no paranormal aostranstornos dissociativos (Irwin, 1994; Ferracuti, Sacco & Lazzari, 1996; Scharfetter,1998), aos afetos negativos, desencadeadores de mal-estar (Machado, 2009) oua uma tendncia para escapar da realidade e viver num mundo criadoimaginariamente (Smith & Karmin, 2002). No obstante, a proposta psicanalticade explicar a crena paranormal como uma projeo de aspectos inconscientesdo indivduo ou da coletividade constitui uma abordagem explicativa satisfatriaem muitos casos, e espera por mais estudos. O conceito de psychism propostopor Laubach (2004) encontra aqui uma de suas melhores fundamentaes.

    Outro importante pensador das crenas paranormais e religiosas comoprojees de processos psquicos foi Carl Jung. Basta recordar, por ora, as amplasinvestigaes de Jung (1944/1990) acerca da alquimia e de sua significaopsicolgica; seus estudos sobre psicologia da religio (Jung, 1940/1980); e um deseus ltimos trabalhos, versando sobre os relatos de vises de vnis e abduespor aliengenas, e sobre as variadas formas da crena moderna nos extraterrestres(Jung, 1958/2007). Em resumo, Jung interpreta as experincias de vnis como umproduto espontneo de certas formaes arcaicas da personalidade ousubstratos do inconsciente que tendem a se expressar instintivamente, naconscincia, sob a forma de vises, narrativas, ou mesmo vivncias aparicionaise de abduo completas. A compreenso de Jung sobre as crenas e experinciasparanormais tomando como referencial de nossa discusso aqui o seu estudopsicolgico a respeito dos vnis difere substancialmente da de Freud, no fato deque enquanto este ltimo tende a relacionar o conjunto das crenas discutidas aprocessos de natureza infantil e patolgica, aquele reconhece nelas uma tentativada psique em restabelecer equilbrio e buscar desenvolvimento, individuao. Assim,o pensamento de Jung parece aproxim-lo daqueles estudos mencionadosanteriormente, em que se sugere a possibilidade de as crenas paranormais

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 405

    servirem a propsitos construtivos e saudveis bem-estar subjetivo,enfrentamento, diminuio de ansiedade etc.

    De acordo com Sharps, Matthews & Asten (2006), os sintomas dedeterminadas psicopatologias como depresso ou transtorno de dficit deateno e hiperatividade podem ser encontrados na populao geral, sob aforma de tendncias impulsivas, estresse e tendncias depressivas. Os autoresverificaram, em uma amostra de estudantes universitrios, que as pessoas quepossuem esses sintomas apresentaram maiores nveis de crena no paranormal.Houve correlao estatstica, nesse sentido, entre tendncias depressivas e crenasem fantasmas, e entre sintomas de Transtorno de Dficit de Ateno eHiperatividade (TDAH) para crena em criaturas criptozoolgicas monstro doLago Ness, P-Grande etc. A pesquisa de Sharps, Matthews e Asten (2006) pareceindicar que essas crenas estariam a servio de determinados propsitosevolutivos, embora seu uso num contexto civilizado possa desencadear, por vezes,repercusses indesejadas.

    O estudo de Goulding (2005) refere-se ao bem-estar subjetivo associado esquizotipia e experincias paranormais no caso, experincias fora do corpo. Omodelo utilizado pelo autor abarca os sintomas de esquizotipia, porm, sem osconsiderar indcios necessrios de uma doena mental grave, como aesquizofrenia, embora tambm no negue uma distino entre populaes clnicase no-clnicas, como se no houvesse, em ltima instncia, critrios ou meios dedistingui-las. O modelo recorrido assume que a esquizotipia representaria umasrie de traos distribudos em um continuum, sendo alguns desses traosvariaes saudveis, e outros, predisposies psicose. Apesar das contradiesnos resultados, foi possvel corroborar a noo de uma esquizotipia saudvelpara os relatos de experincias fora do corpo.

    Schofield & Claridge (2007), por seu turno, encontraram que os crentes comuma elevada desorganizao cognitiva apresentaram experincias relacionadas esquizotipia mais negativas e estressantes, ao passo em que os crentesdetentores de maior organizao cognitiva relataram experincias de esquizotipiapositivas e prazerosas. Os autores acreditam que os resultados se devem ao fatode que crentes cognitivamente mais organizados teriam por base uma estruturade crenas mais firme e estabelecida para lidar com essas experincias.Interessantemente, Wilkinson & Coleman (2010) verificaram que a adoo de umforte sistema de crena atia pode ser to benfica quanto s assuno de umforte sistema de crena religiosa, sugerindo assim que o mais fundamental seriapossuir um slido sistema de crenas, e no o tipo de crena.

    Atribuio de causalidadeA teoria da atribuio pressupe, de um modo geral, que todo ser humano

    motivado a descobrir as causas dos eventos e acontecimentos, de forma a

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 406

    compreender seu ambiente e a si mesmo. Os crentes parecem de fato apresentaruma tendncia maior construo de certos eventos e experincias como sendoparanormais, mesmo que isso venha a contrariar, por vezes, a lgica probabilstica(Thalbourne, 2006) ou certos valores ticos e democrticos (Dambrun, 2004).Conferir significado ao mundo quase o mesmo que manipular e exercer podersobre ele, o que aproxima o conceito de atribuio do conceito de lugar de controle(Kennedy, 2005). A causalidade e o controle atribudos aos acontecimentos podemderivar da considerao de foras pessoais ou serem admitidos como provenientesde foras externas pessoa. Muitos dos aspectos da crena paranormal estoassociados a um lugar de controle externo (Tobacyk, Nagot & Miller, 1988; Grof-Marnat & Pegden, 1998). Conseqentemente, as pessoas que acreditam noparanormal tendem a atribuir maior relevncia influncia de fatores ambientaisem suas vidas como instituies sociais, indivduos poderosos, foras mgicas,seres sobrenaturais etc. do que s suas prprias caractersticas de personalidade.Em contrapartida, indivduos descrentes quanto existncia do paranormalapresentaram um estilo de atribuio mais prximo do lugar de controle interno,manifestando a crena de que possuem maior controle sobre os eventos de suavida (Irwin, 1993).

    Dudley e Whisnand (2000) verificaram que os crentes estudados em suaamostra atriburam mais a si prprios as causas de situaes problemticas,supervalorizando a influncia de fatores externos na determinao de eventospositivos, o que revelaria certa distoro em seu auto-conceito. Em um estudocom 350 participantes da Turquia, Dag (1999) enfatiza o papel das crenasparanormais como um sistema de personalidade que ofereceria sensao ilusriade controle sobre os eventos cotidianos, em razo da prpria insuficincia decontrole psicolgico interno. De modo parecido, o estudo de Watt, Watson eWilson (2007) constatou uma correlao negativa entre crena paranormal econtrole psicolgico na infncia, consistente com a hiptese de que, para algumaspessoas, essas crenas poderiam emergir como um mecanismo compensatriode coping contra ansiedade, derivado da insuficincia de experincias de controleemocional quando crianas. Ainda nessa perspectiva, Maher (1992), bem comoLange & Houran (1998) sugerem que a assuno das crenas paranormais pareceadvir de uma incapacidade para encontrar explicaes cientficas ou convencionaisque dem conta de experincias consideradas anmalas e incompreensveis como iluses e alucinaes, por exemplo.

    Mas as pesquisas tambm evidenciaram resultados contraditrios com essesestudos. Tendo por base pesquisas demonstrativas do quanto o medo de situaesambguas pode dificultar a capacidade individual de soluo de problemas e impedira realizao de atividades cotidianas, Lange e Houran (2000) verificaram que ascrenas paranormais, quando utilizadas para explicar as causas desses eventos,podem tanto aumentar quanto diminuir o medo e a ansiedade, dependendo de

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 407

    fatores individuais como a tolerncia ambigidade. Num estudo exploratrioconduzido pelo primeiro autor deste trabalho (Maraldi, 2008), verificou-se que asduas mdiuns espritas estudadas, embora conhecessem relativamente bemalgumas das explicaes mdicas e cientficas para alguns dos sintomas fsicose mentais que apresentavam, preferiam, no obstante, atribuir-lhes uma causaespiritual. Observou-se tambm que tal escolha era bastante apaziguadora de umponto de vista emocional, ao contrrio da explicao mdica, e fornecedora deum sistema interpretativo mais amplo e coerente com suas aspiraes pessoaise seu projeto de vida.

    Os dados concernentes ao processo de atribuio parecem fornecer algumrespaldo hiptese de dficit cognitivo. Entretanto, esses resultados no soconclusivos, e no permitem atestar ainda uma correlao inequvoca entre avarivel de atribuio e a hiptese mais ampla. Uma crtica a ser feita a de queo relacionamento entre crena paranormal e estilos de atribuio / lugar de controlepode ser mais complexo do que essas pesquisas sugerem. Talvez, os crentesno preencham necessariamente uma ou outra categoria particular de atribuioe lugar de controle; mas essas categorias que lhes possibilitariam formas derelacionamento diferenciadas com a crena no paranormal.

    Fatores emocionais e processos inconscientesAlgumas pesquisas sugerem que as crenas e experincias paranormais

    esto profundamente associadas a necessidades emocionais e se originam bemmais de associaes e experincias intuitivas do que de concluses racionalmentefundamentadas (Epstein, 1994; Vasconcellos & Trcoli, 2004; Aarnio & Lindeman,2005). Em alguns casos, as experincias paranormais podem gerar efeitosemocionais duradouros na histria de um indivduo, o que denota seu carter, porvezes, transformador (Kennedy, 2004). Estudos tambm sugeriram que por detrsdessas crenas estaria uma antiga busca por significado e sentido na vida,independentemente de sua eficcia na manipulao do meio ambiente externo.Enquanto a cincia e a tecnologia so capazes de promover um controleextremamente eficaz sobre o mundo, no so to boas em oferecer umasignificao valorativa / emocional que preencha a busca existencial porenfrentamento e compreenso dos diferentes eventos da vida cotidiana, ao passoem que esse tem sido o propsito da maioria das crenas e sistemas religiosose paranormais ao longo do tempo (Kennedy, 2005).

    Epstein (1994) postula a existncia de duas formas antagnicas depensamento: o racional e o experiencial. Enquanto o primeiro analtico, consciente,mais demorado e destitudo de emoes, o segundo funcionaria num sistemapr-consciente, rpido, automtico, holstico e associado aos afetos e s emoes.Numa das nicas pesquisas brasileiras sobre crenas paranormais, Vasconcellose Trcoli (2004) descobriram que as pessoas com maiores ndices de crena

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 408

    paranormal preferem utilizar-se do pensamento experiencial ao invs do racional.Aarnio & Lindeman (2005) confirmaram esse resultado. Pelo fato de se basearemquase exclusivamente em sua intuio e emoo, tais indivduos costumam atribuiruma importncia afetiva maior a eventos que so tidos normalmente como casuaisou acidentais. Na viso de Thalbourne, Dunbar & Delin (1995) o estilo experiencialseria um dos fatores envolvidos na intolerncia ambigidade, isto , na tendnciaa efetuar interpretaes precipitadas, ancoradas somente na intuio e nos afetos,como meio de controlar psicologicamente situaes ambguas. Hiptesesemelhante foi igualmente levantada no modelo de Irwin (1993). Wolfradt, Oubaid,Straube, Bischoff & Mischo (1999), por sua vez, parecem ter encontrado diferentesmodos de ativao desses estilos de pensamento: 1) racional altamente racionale pouco intuitivo; 2) intuitivo altamente intuitivo e pouco racional; 3) complementar altamente racional e altamente intuitivo; e 4) pobre pouco racional e poucointuitivo. Numa amostra de 374 estudantes universitrios da Alemanha e da ustria,os autores identificaram uma correlao positiva entre o estilo de pensamentocomplementar e uma significativa incidncia de relatos de experincias anmalas.

    Nessa mesma linha de raciocnio, em que processos inconscientes eemocionais so tomados como representativos de mecanismos psquicosfacilitadores da ocorrncia de experincias paranormais, Thalbourne (2000)sustenta uma hiptese assaz importante nesse campo. O autor se refere a umfenmeno o qual designa de transliminaridade (transliminality), uma tendnciapara que contedos de natureza psicolgica atravessem (trans) a fronteira oulimite (limen) entre processos conscientes e inconscientes. De fato, o autor verificouuma forte correlao positiva entre crena paranormal e transliminaridade, dandoalgum suporte tambm para o modelo de estilos de Epstein (1994).

    A distino defendida por Epstein (1994) entre o pensamento experiencial eo racional, assemelha-se muito diferenciao proposta por Piaget (1969/1978)entre o simbolismo primrio (consciente) e o secundrio (inconsciente) na criana,e mesmo aos seus conceitos de inconsciente cognitivo e inconsciente afetivo(Piaget, 1946). As crenas paranormais caberiam perfeitamente no modelopiagetiano, se o comparssemos s concepes de Epstein. Pesquisas sugeriramque a crena paranormal est vinculada a um estilo cognitivo de fantasiar (Powers,1991; Gow, Lang & Chant, 2006), aproximando-se de fatores como criatividade eimaginao. As investigaes mostram que os crentes apresentaram, num todo,caractersticas prprias de indivduos criativos e os artistas demonstraram relatar,em geral, mais crenas e experincias paranormais (Irwin, 1994; Thalbourne &Delin, 1994; Kennedy & Kanthamani, 1995b; Gianotti, Mohr, Pizzagalli, Lehmann,& Brugger, 2001).

    Os resultados dessas pesquisas no parecem sustentar a hiptese de queos indivduos que defendem a existncia do paranormal seriam pessoas menosinteligentes que as demais, e sim, que tais crenas e experincias desempenham

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 409

    funes psicodinmicas e cognitivas especficas na vida de um indivduo. Elastambm no tm justificado a idia de que estes dois aspectos da vida mental,razo e emoo, possam ser compreendidos isoladamente, como elementosirreconciliveis. As pesquisas tm revelado que os dois podem funcionar demaneira complementar e que o fato de um indivduo gozar de um alto nvel intelectual,no o livra da possibilidade de adotar certas crenas paranormais ou mesmovivenciar experincias desse tipo.

    Educao cientficaPesquisas sugerem que a informao cientfica serve apenas parcialmente

    como antdoto aceitao da paranormalidade (Boy & Michelat, 1986; Askevis-Leherpeux, 1990; Broch, 2000; Boy, 2002; Goode, 2002; Farha & Steward, 2006).Inicialmente, a hiptese levantada foi a de que os crentes no paranormalapresentariam um ndice de realizao educacional mais pobre, quandocomparados com aqueles que no possuem tais crenas. Singer e Benassi (1981)chegaram inclusive a propor que a prevalncia de crena paranormal na populaoestadunidense fosse rigorosamente usada como medida para avaliar o grau deinadequao do programa norte-americano de educao cientfica.

    Em concordncia com a hiptese, verificou-se uma correlao negativaentre a mdia das notas obtidas por estudantes universitrios e a assuno devrias crenas paranormais (Messer & Griggs, 1989; Musch & Ehrenberg, 2002).Inversamente, Tobacyk, Miller e Jones (1984) descobriram uma correlao positivaentre a mdia das notas, a crena em fenmenos parapsicolgicos e as crenasreligiosas tradicionais de estudantes colegiais.

    Ainda no que tange medida de educao cientfica, os pesquisadoressugeriram que fosse averiguada a influncia do ensino universitrio na assunoe manuteno das crenas paranormais, sendo esperado que uma exposiomais prolongada e acentuada aos contedos cientficos pudesse reduzir o nmerode crenas paranormais. Novamente, os dados obtidos so contraditrios e domargem a numerosas ressalvas. Em seus estudos, Miller (1987) demonstrarauma forte correlao negativa entre crena paranormal e educao cientfica.Para ele, quanto menor o nvel educacional dos respondentes, maior a probabilidadede aceitao das crenas paranormais. Em apoio a essa viso, algumas pesquisasconcluram que os estudantes universitrios parecem apresentar menos crenasparanormais do que os estudantes colegiais, evidenciando uma possvel influnciado ensino universitrio na diminuio dessas crenas (Tobacyk, Miller & Jones,1984; Fitzpatrick & Shook, 1994; Peltzer, 2003; Aarnio & Lindeman, 2005). Todavia,Boy e Michelat (1986) e Broch (2000) relataram que as pesquisas de opiniopblica na Frana, ao contrrio do que se esperava, indicaram uma correlaopositiva entre crena paranormal e educao. Farha e Steward (2006) avaliaramas respostas de 439 estudantes universitrios norte-americanos e concluram,

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 410

    surpreendentemente, que conforme se passaram os anos na universidade, muitosestudantes se tornaram, na realidade, menos cticos, adotando mais crenasparanormais cf. tambm Askevis-Leherpeux (1990) para pesquisas na Frana eoutros pases. Esses resultados vo, inegavelmente, na contramo da hipteseinicial levantada.

    Goode (2002) obtivera resultados que evidenciam uma diferenciao nomodo com que cada uma das dimenses da crena paranormal afetada porprocessos educacionais. Ele afirma que praticamente todas as pesquisas deopinio pblica tm denotado uma correlao negativa entre educao e formasvariadas de crena religiosa tradicional. Assim, conforme as pessoas adentram oensino superior, elas se tornam mais relutantes em aceitar o criacionismo, aexistncia do cu e do inferno, e a de anjos e demnios como entidades reais.Contudo, o mesmo no se d em relao a outras dimenses da crena paranormal,que permanecem relativamente inclumes, ainda que as pessoas continuemadquirindo cada vez mais informao cientfica. O autor chega a sugerir que acapacidade humana de pensamento suficientemente abrangente para permitirque se admitam crenas contraditrias entre si, sem que haja nisso qualquerproblema, possibilitando, destarte, que a aceitao do paranormal convivapacificamente ao lado de conceitos cientficos (Goode, 2000, 2002).

    De todo modo, boa parte dos que professam crenas paranormais entreeles, vrios estudantes universitrios norte-americanos no rejeita o avanotecnolgico e cientfico, mas favorvel ao mesmo (Rice, 2003). Tendo constatadoresultados semelhantes na Frana, Boy e Michelat (1986, p. 185) concluem que preciso abandonar um modelo linear de acordo com o qual a proximidade aoracionalismo ou ao modo de pensamento cientfico seguiria lado a lado com aelevao do nvel de estudos.

    As pesquisas relataram ainda diferenas no que concerne ao ndice de crenaparanormal verificado entre as disciplinas cientficas. Otis e Alcock (1982), Bhushane Bhushan (1987), Morier e Keeports (1994), dentre outros, encontraram que osestudantes de cincias naturais apresentam uma crena mais baixa no paranormaldo que aqueles que fazem parte das cincias humanas. Essa diferena foi tomadapelos pesquisadores como decorrente do estilo de pensamento empregado emcada uma das respectivas reas; as habilidades de raciocnio crtico e opensamento racional como um todo, seriam mais utilizados nas cincias naturaisdo que nas cincias humanas e nas artes. Aarnio e Lindeman (2005) no encontraramrespaldo para essa viso, tendo evidenciado que o raciocnio analtico nonecessariamente mediava a escolha pelas disciplinas embora a prevalncia depensamento intuitivo tenha sido maior nos crentes e admitiram outra hiptese: adiferena observada entre as disciplinas seria na verdade um reflexo das prpriasescolhas dos estudantes; os mais cticos frente ao paranormal, estariam inclinadosa adentrar o ensino superior como estudantes de cincias naturais. Aarnio e

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 411

    Lindeman (2005) chegam a mencionar pesquisas em que os resultadoscontradiziam essa diferenciao pressuposta entre as disciplinas, mostrando comoos estudantes de cincias naturais pareciam adotar, algumas vezes, considervelnmero de crenas paranormais.

    Traumas de infnciaVrios pesquisadores sugeriram que as crenas e experincias paranormais

    estariam relacionadas a transtornos dissociativos e traumas de infncia. Asinvestigaes parecem ter confirmado, em grande parte, uma ligao significativaentre experincias paranormais e estados dissociativos (Glicksohn, 1990; Wolfradt,1997; Makasovsky & Irwin, 1999). Pekala, Kumar e Marcano (1995) verificaramque a dissociao seria, inclusive, a varivel mais importante na predio dessasexperincias. Mas tal relacionamento ainda objeto de controvrsias. O fenmenoda dissociao interessante hiptese de dficit cognitivo, sobretudo, pelo fatode acompanhar eventuais alteraes na maneira com que o indivduo enxerga a simesmo e ao mundo, havendo desconexo entre sistemas cognitivos e funeshabitualmente integradas conscincia, as quais podem vir a funcionarautonomamente.

    Ainda em relao aos estados dissociativos, estudos encontraramevidncias de que os crentes, bem como indivduos que vivenciam experinciasnomeadas como paranormais so mais propensos fantasia e absoro; estaltima corresponde a uma tendncia geral para focalizar boa parte da atenoconsciente naquilo que est sendo imaginado, em detrimento de outros aspectosda realidade (Powers, 1991; Irwin, 1994; Gow, Lang & Chant, 2006). Alguns dessesindivduos, por sua vez, apresentaram tambm maior susceptibilidade hipntica(Lynn & Rhue, 1988; Atkinson, 1994; Pekala, Kumar & Marcano, 1995) e serevelaram mais auto-reflexivos e mais inclinados a devotarem seu tempo em prolde experincias subjetivas (Glicksohn, 1990). A propenso fantasia e absoro,aliada a vivncia de estados dissociativos, considerada por muitos pesquisadorescomo estando possivelmente relacionada a experincias de abuso sexual e outrostraumas durante a infncia; provvel assim que experincias desse tipo sejamum fator individual considervel na assuno de muitas crenas paranormais.

    Nos casos de traumatismo grave em que so geradas falhas de memria,seguidas da construo de memrias falsas ou imaginrias, as crenasparanormais poderiam desempenhar um papel significativo na elaborao dessasfantasias, de maneira a se ocultar a lembrana original do trauma vivenciado(Irwin, 1994, 2003; Perkins & Allen, 2006).

    Powers (1991) sugeriu a existncia de uma ligao entre amnsia, tendncia fantasia, traumas psicolgicos e alegaes de abduo por aliengenasacompanhadas de relatos de abuso sexual. Porm, necessrio um nmero maior

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 412

    de pesquisas at que se possa sustentar melhor essa hiptese. Deve-se ressaltarque ela s se aplica a casos especficos, no podendo ser generalizada paratodos os casos de crena paranormal; do contrrio, seramos obrigados a concluirque todos os crentes necessariamente vivenciaram traumas sexuais na infnciaou que traumas dessa natureza esto obrigatoriamente vinculados assunodessas crenas. De qualquer forma, tais pesquisas tendem a confirmar as hiptesesde Kennedy (2005), Northcote (2007), Maraldi (2008) entre outros, para os quaisa aceitao das crenas paranormais pode servir como recurso para preencherlacunas entre discursos, necessidades e experincias incoerentes e traumticasda vida de um indivduo, dando sentido sua existncia.

    McClenon (2004) levanta uma ampla e promissora teoria para as relaesentre crena paranormal, experincia anmala e dissociao, sustentada emdiversas contribuies da Psicologia Social, da Gentica e da PsicologiaEvolucionista. Denominada Ritual Healing Theory, ela concebe que as habilidadesdissociativas e as experincias anmalas possuem uma mesma base fisiolgica.Argumenta-se que os primeiros homindeos teriam desenvolvido capacidadesdissociativas para lidar com traumas (coping), a partir de rituais teraputicos queinduziriam esses estados. Os indivduos com melhores capacidades deenfrentamento obtiveram, por conseguinte, maiores vantagens adaptativas, eMcClenon cita o caso dos xams, geralmente destacados em suas comunidades.Tal processo evolutivo teria aumentado a frequncia de genes relacionados dissociao, o que expandira, por sua vez, a prevalncia das experincias anmalase das crenas paranormais a elas associadas. Segundo esse modelo, os gentiposda dissociao e da hipnose teriam continuado a moldar, at hoje, os fundamentosfisiolgicos da experincia anmala, da religio e do ritual teraputico.

    5. ConclusoAs evidncias compiladas e discutidas do pouca guarida hiptese de

    dficit cognitivo, embora tenham elucidado aspectos da cognio e dapsicodinmica possivelmente relacionados s crenas paranormais. Uma crticarecorrente a essa hiptese a de que ela parece referir-se muito mais a umapolmica iniciada por investigadores cticos, no intuito de ridicularizar e inferiorizaros proponentes do paranormal, do que a uma teoria empiricamente confirmada(Radin, 2008; Kennedy, 2003, 2005). A gama de resultados obtida pareceemaranhar-se em outras variveis, de natureza scio-cultural e psicodinmica, ea idia de que todos os crentes seriam pessoas menos inteligentes ou com menoseducao cientfica foi questionada diante de evidncias contrrias e variaessignificativas na maneira com que cada uma das dimenses da crena paranormalrelaciona-se aos fatores estudados. Nesse sentido, talvez fosse mais interessanteaveriguar simplesmente os aspectos cognitivos associados ao envolvimento com

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 413

    a paranormalidade, sem um comprometimento com qualquer hiptese especficaque privilegiasse a verificao de caractersticas positivas ou negativas dessesindivduos, como o caso da hiptese de dficit.

    Os estudos clnicos no resolveram muitos dos dilemas abordadosanteriormente, embora tenham descortinado possveis solues. A abordagemclnica das crenas e experincias paranormais ter de esperar a realizao deum nmero maior de pesquisas, que ajudem a elucidar os fatores efetivamenteenvolvidos quando da ocorrncia de processos anmalos. Nada disso impede,entretanto, a compreenso dos fatores psicodinmicos e psicossociais associadosa essas experincias (Zangari, 2003). Tais experincias esto inegavelmenterelacionadas a crenas, atitudes, emoes, processos cognitivos e diversos fatoresscio-culturais, e mesmo que pesquisas futuras confirmem a realidade de algunsdesses fenmenos, sua associao inegvel com diferentes variveis psicolgicase psicossociais continuar garantindo a realizao de estudos futuros.

    Referncias Aarnio, K. & Lindeman, M. (2005). Paranormal beliefs, education and thinking

    styles. Personality and Individual Differences, 39, 1227-1236. Alcock, J. E. & Otis, L. P. (1980). Critical thinking and belief in the paranormal.

    Psychological Reports, 46, 479-482. Alcock, J. E. (1981). Parapsychology: Science or magic? A psychological

    perspective. Elmsford (New York): Pergamon Press. Askevis-Leherpeux, F. (1990). Croyance au surnaturel et instruction.

    Communications, 52, 161-174. Atkinson, R. P. (1994). Relationships of hypnotic susceptibility to paranormal

    beliefs and claimed experiences: Implications for hypnotic absorption. AmericanJournal of Clinical Hypnosis, 37, 34-40.

    Berger, P. L. & Luckmann, T. (1966). A construo social da realidade. 23 ed.Rio de Janeiro: Vozes.

    Bhushan, R. & Bhushan, L. I. (1987). Superstition among college students.Asian Journal of Psychology and Education, 19 (4), 11-16.

    Blackmore, S. J. (1994). Are women more sheepish? Gender differences inbelief in the paranormal. In: Coly, L. & White, R. A. (Eds.). Women andparapsychology: Proceedings of an international conference (pp. 68-69). NewYork: Parapsychology Foundation.

    Blackmore, S. J. (1997). Probability misjudgment and belief in the paranormal:A newspaper survey. British Journal of Psychology, 88, 683-689.

    Bourguignon, E. (2004). Suffering and healing, subordination and power: womenand possession trance. Ethos, 32 (4).

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 414

    Boy, D. & Michelat, G. (1986). Croyances aux parasciences: dimensions socialeset culturelles. Revue Franaise de Sociologie, 27(2), 175-204.

    Boy, D. (2002). Les franais et les para-sciences: vingt ans de mesures. RevueFranaise de Sociologie, 43(1), 35-45.

    Boyer, P. (1994). The naturalness of religious ideas: a cognitive theory ofreligion. Berkeley: University of California Press.

    Broch, H. (2000). Save our science: the struggle for reason at the university.Skeptical Inquirer, 24 (3), 34-39.

    Cardea, E.; Lynn, S. J. & Krippner, S. (Ed.) (2000). Varieties of anomalousexperience: examining the scientific evidence. Washington: APA.

    Carvalho, A. P. (1994). Fenmenos psi espontaneos en el Brasil: algunasreflexiones sobre sus aspectos psico-socio-culturales. Revista Argentina dePsicologia Paranormal, 5 (3), 137-144.

    Dag, I. (1999). The relationships among paranormal beliefs, locus of controland psychopathology in a Turkish college sample. Personality and IndividualDifferences, 26 (4), 723-737.

    Dambrun, M. (2004). Belief in the paranormal determinism as a source ofprejudice toward disadvantaged groups: the dark side of stars. Social Behaviorand Personality, 32 (7), 627-636.

    Dudley, R. T. & Whisnand, E. A. (2000). Paranormal belief and attributionalstyle. Psychological Reports, 86, 863-864.

    Emmons, C. F. & Sobal, J. (1981a). Paranormal beliefs: Testing the marginalityhypothesis. Sociological Focus, 14, 49-56.

    Emmons, C. F. & Sobal, J. (1981b). Paranormal beliefs: functional alternativesto mainstream religion? Review of religious research, 22 (4).

    Epstein, S. (1994). Integration of the cognitive and the psychodynamicunconscious. American Psychologist, 49, 709-724.

    Farha, B. & Steward, G. (2006). Paranormal beliefs: an analysis of collegestudents. Skeptical Inquirer, 30 (1).

    Ferracuti, S., Sacco, R. & Lazzari, R. (1996). Dissociative trance disorder:clinical and Rorschach findings in ten persons reporting demon possessionand treated by exorcism. Journal of Personality Assessment, 66 (3), 525-539.

    Fitzpatrick, O. D. & Shook, S. L. (1994). Belief in the paranormal: does identitydevelopment during the college years make a difference? An initial investigation.Journal of Parapsychology, 58, 315-329.

    Flannely, K. J., Koenig, H. G., Ellison, C. G., Galek, K., & Krause, N. (2006).Belief in life after death and mental health: findings from a national survey. TheJournal of Nervous and Mental Diseases, 194 (7), 524-529

    Franz, M. L. V. (1985). Adivinhao e sincronicidade: a psicologia daprobabilidade significativa. (Trad. de lvaro Cabral). So Paulo: Cultrix.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 415

    French, C. C. & Wilson, K. (2007) Cognitive factors underlying paranormalbeliefs and experiences. In S. Della Sala (ed.). Tall Tales About the Mind andBrain: Separating Fact From Fiction. Oxford: Oxford University Press. Chapter1, pp. 3-22.

    French, C. C. (1992). Factors underlying belief in the paranormal: Do sheepand goats think differently? The Psychologist, 5, 295-299.

    Freud, S. (1927/1978). O futuro de uma iluso. In: Os pensadores. So Paulo:Abril Cultural (Trad. Jos Octvio de Aguiar Abreu).em 1927.

    Gianotti, L. R. R., Mohr, C., Pizzagalli, D., Lehmann, D. & Brugger, P. (2001).Associative processing and paranormal belief. Psychiatry and ClinicalNeurosciences, 55 (6), 595-603.

    Glicksohn, J. (1990). Belief in the paranormal and subjective paranormalexperience. Personality and Individual Differences, 11, 675-683.

    Goode, E. (2000). Paranormal beliefs: a sociological introduction. Illinois:Waveland Press.

    Goode, E. (2002). Education, scientific knowledge and belief in the paranormal.Skeptical Inquirer, 26 (1), 24-27.

    Goulding, A. (2005). Healthy schizotypy in a population of paranormal believersand experients. Personality and Individual Differences, 38, 1069-1083.

    Gow, K., Lang, T. & Chant, D. (2006). Fantasy proneness, paranormal beliefsand personality features in out-of-body experiences. Contemporary Hypnosis,21 (3), 107-125.

    Grof-Marnat, G. & Pegden, J. A. (1998). Personality correlates of paranormalbeliefs: locus of control and sensation seeking. Social Behavior and Personality,26 (3), 291-296.

    Hansen, G. P. (2001). The trickster and the paranormal. Philadelphia: Xilibris. Hergovitch, A. & Arendasy, M. (2005). Critical thinking ability and belief in the

    paranormal. Personality and Individual Differences, 38(8), 1805-1812. Hess, D. J. (1990). Ghosts and domestic politics in Brazil: some parallels

    between spirit possession and spirit infestation. Ethos, 18 (4), p. 407-438. Hess, D. J. (1991). Spirits and Scientists: Ideology, Spiritism, and Brazilian

    Culture. Pennsyvalnia: The Pennsyvalnia State University Press. Hughes, D. J. (1991). Blending with an other: an analysis of trance channeling

    in the united states. Ethos, 19, 2. IBGE (Brasil). Um tero dos brasileiros acredita que Deus criou o mundo na

    sua forma atual. Pesquisa realizada em 7 de Janeiro de 2005. Disponvel em:.Acesso em: 10.mai.2007.

    Irwin, H. J. (1990). The reasoning skills of paranormal believers. Journal ofParapsychology, 55, 281-300.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 416

    Irwin, H. J. (1993). Belief in the paranormal: a review of the empirical literature.Journal of the American Society for Psychical Research, 87, 1- 39.

    Irwin, H. J. (1994). Paranormal belief and proneness to dissociation.Psychological Reports, 75 (3), 1344-1346.

    Irwin, H. J. (2003). An introduction to Parapsychology, Fourth ed. Jefferson:McFarland.

    Jones, W. H., Russel, D. W. & Nickel, T. W. (1977). Belief in the ParanormalScale: An objective instrument to measure belief in magical phenomena andcauses. Journal Supplement Abstract Service, Catalog of Selected Documentsin Psychology, 7, 100.

    Jung, C. G. (1980). Psicologia e Religio. Rio de Janeiro: Vozes. (ObrasCompletas de Carl Gustav Jung, v. 11) (Original publicado em 1940).

    Jung, C. G. (1990). Psicologia e Alquimia. (Trad. de Maria Luisa Appy). DoraMariano Ribeiro Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Vozes. (Obras Completasde Carl Gustav Jung, v. 12) (Original publicado em 1944).

    Jung, C. G. (2007). Um mito moderno sobre coisas vistas no cu. (Trad. EvaBornemman Abramowitz). Rio de Janeiro: Vozes. (Obras Completas de CarlGustav Jung, v. 10) (Original publicado em 1958).

    Kenndy, J. E., Kanthamani, H. & Palmer, J. (1994). Psychic and spiritualexperiences, health, well-being and meaning in life.Journal of Parapsychology,58, 353-383.

    Kennedy, J. E. & Kanthamani, H. (1995a). An exploratory study of the effect ofparanormal and spiritual experiences on peoples lives and well-being. Journalof the American Society for Psychical Research, 89, 249-265.

    Kennedy, J. E. & Kanthamani, H. (1995b). Association between anomalousexperiences and artistic creativity and spirituality. Journal of the AmericanSociety for Psychical Research, 89, 333-343.

    Kennedy, J. E. (2003). The Polarization of Psi Beliefs: Rational, Controlling,Masculine Skepticism versus Interconnected, Spiritual, Feminine Belief. Journalof the American Society for Psychical Research, 97, 27-42.

    Kennedy, J. E. (2004). What is the purpose of Psi? Journal of the AmericanSociety for Psychical Research, 98, 1-27.

    Kennedy, J. E. (2005). Personality motivations to believe, misbelieve anddisbelieve in paranormal phenomena. Journal of Parapsychology, 69, 263-292.

    Killen, P., Wildman, R. W. & Wildman, R. W. (1974). Superstitiousness andintelligence. Psychological Reports, 34.

    Kirby, M. J. (2008). The impact of religious schema on critical thinking. 59f.Monografia (Especializao Educational Specialist). Departamento dePsicologia, Utah State University.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 417

    Kurtz, P. (1996). Two sources of unreason in democratic society: the paranormaland religion. Annals of the New York Academy of Sciences, 775 (1), 493-504.

    Lange, R. & Houran, J. (1998). Delusion of the paranormal: a haunting questionperception. Journal of Nervous and Mental Disease, 186 (10), 637-645.

    Lange, R. & Houran, J. (2000). Modeling Mahers attribution theory of delusionsas a cusp catastrophe. Nonlinear Dynamics, Psychology and Life Sciences, 4(3).

    Laubach, M. (2004). The social effects of psychism: spiritual experience andthe construction of privatized religion. Sociology of Religion, 65(3).

    Lewgoy, B. (2008). A transnacionalizao do Espiritismo Kardecista brasileiro:uma discusso inicial. Religio e Sociedade, 28(1), 84-104.

    Lewis, I. M. O. (1977). xtase Religioso. So Paulo: Perspectiva. Locke, R. G. & Kelly, E. F. (1985). A preliminary model for the cross-cultural

    analysis of altered states of consciousness. Ethos, 13(1). Lynn, S. J. & Rhue, J. W. (1988). Fantasy proneness: Hypnosis, developmental

    antecedents, and psychopathology. American Psychologist, 43, 35-44. Machado, F. R. (2009). Experincias anmalas na vida cotidiana: Experincias

    extra-sensrio-motoras e sua associao com crenas, atitudes e bem-estarsubjetivo. (Pp.344). Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia: Universidadede So Paulo.

    Maher, B. A. (1992). Delusions: Contemporary etiological hypotheses.Psychiatric Annals, 22, 260-268.

    Makasovski, T. & Irwin, H. J. (1999). Paranormal belief, dissociative tendencies,and parental encouragement of imagination in childhood. Journal of the AmericanSociety for Psychical Research, 93, 233-247.

    Maraldi, E. O. (2008). Um estudo exploratrio sobre os usos e sentidos dascrenas e experincias paranormais na construo da identidade de mdiunsespritas. (Pp. 247). Trabalho de concluso de curso (Graduao). Curso dePsicologia, Universidade Guarulhos, So Paulo, Brasil.

    Markovsky, B. & Thye, S. R. (2001). Social influence on paranormal beliefs.Sociological Perspectives, 44 (1), p. 21-44.

    Marks, D. F. (1988). The psychology of paranormal beliefs. Experientia, 44 (4),332-337.

    McClenon, J. (2000). Content analysis of an anomalous memorate collection:testing hypothesis regarding universal features. Sociology of Religion, 61(2).

    McClenon, J. (2004). What is to be done? Evaluating the ritual healing theory.The Parapsychological Association Convention: Proceedings of PresentedPaper.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 418

    Mcgarry, J. J. & Newberry, B. H. (1981). Beliefs in paranormal phenomena andlocus of control: A field study. Journal of Personality and Social Psychology,41, 725-736.

    Mears, D. P. & Ellison, C. G. (2000). Who buys new age materials? Exploringsociodemographic, religious, network, and contextual correlates of new ageconsumption. Sociology of Religion, 61, 3, 289-313.

    Merla-Ramos, M. (2000). Belief and reasoning: the effects of belief on syllogisticreasoning. Dissertation Abstracts International: Section B: The Sciences andEngineering, 61, 558.

    Messer, W. S. & Griggs, R. A. (1989). Student belief and involvement in theparanormal and performance in introductory psychology. Teaching ofPsychology, 16, 187-191.

    Miller, J. D. (1987). The Scientifically Illiterate. American Demographics, 9, 27-31.

    Moore, D. W. (2007). Three in four americans believe in paranormal: littlechange from similar results in 2001. Gallup News Service. Disponvel em:. Acesso em 10 de maio de 2007.

    Moreira-Almeida, A. M. (2004). Fenomenologia das experincias medinicas:perfil e psicopatologia de mdiuns espritas. 205 f. Tese (Doutorado), Faculdadede Medicina, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Morier, D. & Keeports, D. (1994). Normal science and the paranormal: theeffect of a scientific method course on students beliefs. Research in HigherEducation, 35, 443-453.

    Musch, J. & Ehrenberg, K. (2002). Probability misjudgment, cognitive ability,and belief in the paranormal. British Journal of Psychology, 93, 169-177.

    Newport, F. & Strausberg, M. (2001). Americans belief in psychic andparanormal phenomena is up over last decade. Gallup News Service. Disponvelem: . Acesso em 10 de maio de 2007.

    Northcote, J. (2007). The Paranormal and the Politics of Truth: A SociologicalAccount. UK (Exeter): Imprint-Academic.

    Otis, L. P. & Alcock, J. E. (1982). Factors affecting extraordinary belief. Journalof Social Psychology, 118, 77-85.

    Owen, A. (1989). The darkened room: Women, power and spiritualism in lateVictorian England. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1989.

    Panzini, R. G. (2007). Qualidade de vida e espiritualidade. Revista de PsiquiatriaClnica, 34 (1), p.105-115.

    Pekala, R. J., Kumar, V. K. & Marcano, G. (1995). Anomalous/paranormalexperiences, hypnotic susceptibility and dissociation. Journal of the AmericanSociety for Psychical Research, 89, 313-332.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 419

    Peltzer, K. (2003). Magical thinking and paranormal beliefs among secondaryand university students in South Africa. Personality and Individual Differences,35 (6), 1419-1426.

    Perkins, S. L. & Allen, R. (2006). Childhood physical abuse and differentialdevelopment of paranormal belief systems. Journal of Nervous and MentalDiseases, 194 (5), 349-355.

    Piaget, J. (1946). La formation du symbole chez lenfant. Neuchtel: Delachauxet Niestl.Powers, S. M. (1991). Fantasy proneness, amnesia and the UFOabduction phenomenon. Dissociation, 4 (1).

    Piaget, J. (1965). Sagesse et illusions de la philosophie. Paris, PressesUniversitaires de France.

    Pyysiinen, I. (2003). How religion works: towards a new cognitive science ofreligion. Leiden: Brill.

    Radin, D. (2008). Mentes interligadas: evidncias cientficas da telepatia, daclarividncia e de outros fenmenos psquicos. So Paulo: Aleph.

    Randi, J. (1992). Help stamp out absurd beliefs. Time, 139 (15), 80. Rice, T. W. (2003). Believe it or not: religious and other paranormal beliefs in

    the united states. Journal for the Scientific Study of Religion, 42 (3), 95-106 Roberts, M. J. & Seager, P.B. (1999). Predicting belief in paranormal

    phenomena: a comparison of conditional and probabilistic reasoning. AppliedCognitive Psychology, 13, 443-450.

    Roe, C. A. (1999). Critical Thinking and Belief in the Paranormal: A re-evaluation.British Journal of Psychology, 90, 85-98.

    Rogers, P, Qalter, P, Phelps, G & Gardner, K. (2006). Belief in the paranormal,coping and emotional intelligence. Personality and Individual Differences, 41(6), 1089-1105.

    Roig, M., Bridges, K., R., Renner, C. H. & Jackson, C. R. (1998). Belief in theparanormal and its association with irrational thinking controlled for contexteffects. Personality and Individual Differences, 24 (2), 229-236.

    Royalty, J. (1995). The generalizability of critical thinking: paranormal beliefsversus statistical reasoning. Journal of Genetic Psychology, 156 (4), 477-488.

    Scharfetter, C. (1998). Occultism, parapsychology and the esoteric from theperspective of psychopathology. Fortschritte der Neurologie-Psychiatrie, 66(10), 474-482.

    Schofield, K. & Claridge, G. (2007). Paranormal experiences and mental health:schizotypy as an underlyng factor. Personality and Individual Differences, 43(7), 1908-1916.

    Sharps, M. J; Matthews, J. & Asten, J. (2006). Cognition and belief in paranormalphenomena: gestalt/feature-intensive processing theory and tendencies towardADHD, depression and dissociation. Journal of Psychology, 140 (6), 579-590.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 420

    Singer, B. & Benassi, V. A. (1981). Occult beliefs. American Scientist, 69, 49-55.

    Smith, J. C. & Karmin, A. D. (2002). Idiosyncratic reality claims, relaxation,dispositions and ABC relaxation theory: happiness, literal christianity, miraculouspowers, metaphysics and the paranormal. Perceptual and Motor Skills, 95 (3),1119-1128.

    Smith, M. D., Foster, C. L. & Stovin, G. (1998). Intelligence and paranormalbelief: examining the role of context. Journal of Parapsychology, 62, p. 65-77.

    Stark, R. & Bainbridge, W. S. (1996). A theory of religion. New Brunswick:Rutgers University Press.

    Tam, W. C. C. & Shiah, Y. J. (2004). Paranormal belief, religiosity and cognitivecomplexity. Proceedings of The parapsychological Association Convention,423-429.

    Tart, C. T. (2000). States of consciousness. Lincoln: iUniverse.com /Backimprint.com.

    Thalbourne, M. A. & Nofi, O. (1997). Belief in the paranormal, superstitiousnessand intellectual ability. Journal of the Society for Psychical Research, 61, 365-371.

    Thalbourne, M. A. (2000). Transliminality: A review. International Journal ofParapsychology, 11(2), 1-34.

    Thalbourne, M. A. (2006). A Brief Treatise on Coincidences. Disponvel em:. Acesso em: 19/11/2007.

    Thalbourne, M. A. & Delin, P. S. (1994). A common thread underlying belief inthe paranormal, creative personality, mystical experience and psychopathology.Journal of Parapsychology, 58, 3-38.

    Thalbourne, M. A., Dunbar, K. A. & Delin, P. S. (1995). An investigation intocorrelates of belief in the paranormal. Journal of the American Society forPsychical Research, 89, 215-231.

    Tobacyk, J. J. (1985). Paranormal beliefs and identity achievement.Psychological reports, 56 (1), 26.

    Tobacyk, J. J. (1995). What is the correct dimensionality of paranormal beliefs?A reply to Lawrences critique of the paranormal belief scale. Journal ofparapsychology, 59, 27-46.

    Tobacyk, J. J. & Milford, G. (1983). Belief in paranormal phenomena:Assessment instrument development and implications for personalityfunctioning. Journal of Personality and Social Psychology, 44, 1029-1037.

    Tobacyk, J. J., Miller, M. & Jones, G. (1984). Paranormal beliefs of high schoolstudents. Psychological Reports, 55, 255-261.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421

  • 421

    Tobacyk, J. J., Nagot, E. & Miller, M. (1988). Paranormal beliefs and locus ofcontrol: a multidimensional examination. Journal of Personality Assessment,52, 241-246.

    Vasconcellos, T. S. & Trcoli, B. T. (2004). Crenas no paranormal e estilos depensamento racional versus experiencial. Psico-USF, 9 (2), 155-164.

    Watt, C. & Wiseman, R. (2002). Experimenter differences in cognitive correlatesof paranormal belief and in psi. Journal of Parapsychology, 66, 371-385.

    Watt, C., Watson, S. & Wilson, L. (2007). Cognitive and psychological mediatorsof anxiety: evidence from a study of paranormal belief and perceived childhoodcontrol. Personality and Individual Differences, 42 (2), 335-346.

    Wierzbicki, M. (1985). Reasoning errors and belief in the paranormal. Journalof Social Psychology, 125, 489-494.

    Wilkinson, P. J. & Coleman, P. G. (2010) Strong beliefs and coping in old age:a case-based comparison of atheism and religious faith. Ageing and Society,30, (02), 337-361

    Wiseman, R. & Smith, M. D. (2002). Assessing the role of cognitive andmotivational biases in belief in the paranormal. Journal of the Society forPsychical Research, 66, 157-166.

    Wiseman, R. & Watt, C. (2006). Belief in psychic ability and the misattributionhypothesis: a qualitative review. British Journal of Psychology, 97, 323-338.

    Wolfradt, U. (1997). Dissociative experiences, trait anxiety and paranormalbeliefs. Personality and Individual Differences, 23, 15-19.

    Wolfradt, U., Oubaid, V., Straube, E. R., Bischoff, N & Mischo, J. (1999).Thinking styles, schizotypal traits and anomalous experiences. Personality andIndividual Differences, 27, 821-830.

    Zangari, W. & Machado, F. R. (1996). Survey: Incidence and Social Relevanceof Brazilian University Studentss Psychic Experiences. European Journal ofParapsychology, 12, 75-87.

    Zangari, W. (2003). Incorporando papis: Uma leitura psicossocial do fenmenoda mediunidade de incorporao em mdiuns de Umbanda, 350 f. Tese(Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo.

    Zingrone, N. L. (1994). Images of woman as medium: Power, pathology andpassivity in the writings of Frederic Marvin and Cesare Lombroso. In: Coly, L.& White, R. A. (Eds.). Women and parapsychology: Proceedings of aninternational conference (pp. 90-123). New York: Parapsychology Foundation.

    Zusne, L. & Jones, W.H. (1989). Anomalistic Psychology: A Study of MagicalThinking. 2. ed. New York: Lawrence Erlbaum Associates.

    Recebido em: 05/04/2011 / Aceito em: 04/10/2011.

    Bol. Acad. Paulista de Psicologia, So Paulo, Brasil - V. 31, no 81, p. 394-421